VII - Confia teus sentimentos em minhas mãos
ASSIM QUE ME APROXIMEI mais um pouco, pude então ter a certeza de que não era a mim que Thomas esperava ali, pois seu rosto surpreso, quase como se mirasse a um fantasma, me davam todas as pistas das quais precisava para chegar a conclusão de que talvez o mesmo esperava mesmo que eu cumprisse com minha palavra de não querer mais o ver.
O que me deixava também um tanto quanto decepcionada, fazendo-me pensar que obviamente quem ele esperava ali era Izabele.
— Trouxe suas cartas, alteza — minha voz se fez presente enquanto colocava a pilha de cartas que carregava em mãos na mesa, logo à sua frente. — Creio que agora que recebeu sua alta e encontra-se melhor, não precisará mais de minha ajuda.
Momentos se passaram e não houve uma resposta vinda do homem à minha frente, nenhuma palavra sequer. Thomas ainda encarava-me como se encarasse um fantasma.
Seus cabelos, como sempre, encontravam-se muito bem penteados, com seus cachos loiros bem arrumados. Sua vestimenta era de um azul claro, parecido com a cor do meu vestido, o que me fez soltar um pequeno sorriso quando reparei nisso.
— A doença foi embora e levou sua fala junto? — perguntei faceira enquanto sentava-me em frente a ele.
O homem à minha frente piscou algumas vezes e soltou uma pequena, rápida e baixa risada.
— Não, ela não levou — informou, finalmente falando algo. Ele se ajeitou em sua cadeira, tocou os papéis das cartas com seus dedos esguios e brancos e voltou a sorrir em minha direção. — Não para de me surpreender, princesa Anne.
Também me ajeitei no meu assento, e não consegui segurar o sorriso por muito tempo.
É claro que está surpreso, eu tenho feito tudo e um pouco mais justamente para isso.
Iria abrir a boca para dizer algo a mais, porém, o mesmo foi mais rápido quando ergueu uma de suas mãos, chamando a atenção de um servo apostos logo atrás de nós. O príncipe Thomas então o pediu que trouxesse mais uma xícara do mesmo chá que o mesmo bebia, só que para a minha pessoa.
— Em lugar algum de meus sórdidos pensamentos, cheguei a ao menos cogitar a ideia de que vossa alteza viesse me visitar depois de tudo aquilo — falou colocando os papéis ao lado e me encarando finalmente nos olhos. — Me perdoe, sinto-me extremamente constrangido quando lembro-me do que lhe disse naquele dia, vossa alteza não merecia escutar nada daquilo. Estou profundamente arrependido e não consigo pensar numa forma melhor de me desculpar, do que sendo sincero com vossa alteza — falou tudo somente em um fôlego, enquanto me olhava sem nem ao menos piscar.
Aquilo me fez arregalar um tanto os olhos e me sentir genuinamente surpresa. Não esperava mesmo que o mesmo fosse trazer a tona esse assunto, achei que iríamos conversar banalidades e talvez os assuntos políticos tratados nas cartas, apenas.
Os olhos extremamente azuis, apesar de encontrarem-se agora um tanto quanto opacos, ainda assim, chamavam muito a atenção. Talvez por passarem o ar de autoridade, suavidade e delicadeza, tudo ao mesmo tempo.
Conseguia ver através de seus olhos, também, que o mesmo estava tentando ser genuinamente verdadeiro comigo.
As olheiras arroxeadas ao redor de seus olhos, sua pele pálida, o deixando mais branco do que o normal e os lábios ressecados me mostravam que ele estava realmente bem por agora conseguir encontrar-se de pé e fora de seus aposentos, porém, ainda não estava no auge de sua saúde.
— Se você fingir nunca ter dito, eu posso fingir nunca ter escutado — respondi e então, Thomas me mostrou seu sorriso aberto, com dentes brancos e bem enfileirados. — É claro que isso também quer dizer que o erro não deve voltar a se repetir — deixei claro e o mesmo prontamente afirmou com a cabeça em entendimento, balançando-a para cima e para baixo rapidamente, em uma forma infantil, quase como se fosse uma criança.
Aquele ar infantil ao redor dele me fez o achar engraçado por alguns segundos.
— O erro não se repetirá — deu sua palavra e eu quis muito acreditar na mesma. No instante seguinte, o chá foi posto a minha frente, quente, soltando uma curta e fina fumaça em direção ao meu rosto, levando em direção ao meu olfato o doce e delicado cheiro do chá, que logo fiz questão de sorver, sentindo sua quentura quase que instantâneamente acalmar-me. — Como pensei que não fosse lhe ver hoje, ainda pensei em mandar-lhe mais uma dessas — falou enquanto retirava um pequeno papel dobrado de um dos bolsos de sua vestimenta e o colocava na mesa, arrastando-o em minha direção com os dedos.
Coloquei a xícara em seu lugar e, ainda sentindo o gosto doce do mesmo em minha língua, coloquei-me a abrir o pequeno papel, já sabendo bem do que o mesmo se tratava.
Purifica o teu coração antes de permitires que o amor entre nele, pois até o mel mais doce azeda num recipiente sujo.
Mirava o pequeno papel por entre meus dedos com a respiração entrecortada, não sabia o que dizer. Aquilo realmente não era algo do qual eu estava esperando, não mesmo.
Retirei meus olhos do pequeno papel e os voltei para Thomas, que encarava-me como se aguardasse ansioso por uma resposta.
Dobrei o papel nos meus dedos, deixando-os como estavam antes.
— Acabei de informar que te perdoo — falei enquanto soltava o pequeno papel com sua escrita à minha frente e levava as duas mãos juntas em direção ao meu colo, abaixo da mesa, onde o mesmo não tinha visão do quanto eu as espremia nervosamente. — Está flertando comigo?
Depois que as palavras saíram por entre meus lábios em dúvida, foi que fechei meus olhos com força em descrença. Mas é claro que ele estava!
Porém, era tão inacreditável.
Thomas estava me pedindo para que eu o deixasse me amar? Aquilo havia me deixado tão surpresa que eu nem ao menos sabia o que pensar ou dizer.
— Estou sim, vossa alteza, Anne de Cavendish — ele afirmou e a única ação que consegui fazer no momento foi baixar minha cabeça e encarar meus dedos entrelaçados uns aos outros no meu colo, para logo em seguida, escutar uma risada baixa vinda de Thomas. — Afinal, vamos nos casar, então tenho que tomar o coração de minha noiva para mim logo.
Suas últimas palavras me fizeram erguer o rosto, voltando imediatamente a encará-lo.
— E quanto a mim? — perguntei baixo. — Posso tomar o seu para mim também? — apesar de já esperar possíveis respostas para a minha pergunta, me senti na obrigação de perguntar aquilo à ele, ou então, sentia que me arrependeria quando mais tarde estivesse em meu quarto sozinha pensando no que poderia ter dito.
— Sinta-se a vontade, princesa Anne — quis perguntar sobre Izabele, quis saber o por que de parecer que o mesmo a esperava, porém, parecia que se a escolha de palavras fosse a errada, tudo se dissiparia bem diante dos meus olhos. — O passado é uma roupa que não nos serve mais — falou mirando nos meus olhos.
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