💠-3-💠
💚LUDMILLA💚
Desde que eu me entendo por gente, sempre foi Ludmilla e Lawrence ou Lawrence e Ludmilla. Nunca foi só o Lawrence ou só a Ludmilla. Nós dois éramos uma dupla inseparável e cúmplice. Lawrence era tudo para mim.
Eu ainda me lembrava que na formatura do ensino médio, meu par havia me dado bolo e Lawrence havia feito questão de dispensar o seu par para me acompanhar. Naquela noite nós dançamos, fizemos pegadinhas e brincamos um com os outros.
Na maioria dos momentos mais importantes da minha vida, Lawrence estava presente. Me dando apoio e sendo um ombro para eu chorar caso fosse necessária.
Mas tudo isso acabou e tudo desmoronou na minha cabeça quando eu recebi uma ligação às sete e vinte da manhã de uma quinta feira. O policial do outro lado da linha informou que meu irmão e a esposa dele haviam sofrido um acidente grave, os dois haviam falecido no local.
Meu irmão morreu.
Segundos após a notícia, eu já estava correndo para o banheiro e vomitei tudo o que eu tinha comido na noite anterior, depois eu chorei. Chorei como não chorava desde a morte dos meus pais. Posso arriscar a dizer que eu chorei até um pouco mais.
Meu peito queimava como fogo, minha cabeça doía e eu só conseguia chorar desesperada. Eu sentia que havia sido dilacerada sem dó ou piedade. Parecia que uma parte de mim havia sido arrancada, e de fato isso havia acontecido.
Um bêbado maldito arrancou do meu irmão.
Lawrence e Elizabeth tinham ido comemorar seu aniversário de dez anos de casados. Na volta, uma picape ano 2016 se chocou de frente com o carro do meu irmão, a força foi tão forte do impacto que o carro ficou irreconhecível após o acidente. Os três morreram na mesma hora.
O enterro de Lawrence Oliveira da Silva aconteceu dois dias depois. Não houve muitos familiares no velório e sim muitos conhecidos. Eu nem pude me debruçar sobre o caixão e chorar a sua morte por seu corpo ter sido desfigurado e o caixão ter sido fechado.
Nesse mesmo dia eu chorei mais uma vez vendo o caixão do meu irmão sendo colocado na cova. E pela primeira vez, eu não tive um ombro amigo para poder chorar e deixar a dor tomar conta.
Fiquei inconsolável por exatas duas semanas até que me lembrei das palavras de Lawrence dizendo: "se um dia eu morrer primeiro que você, não quero que fique chorando. Quero que você erga a cabeça e siga enfrente. Sinta a dor do luto porém não permita que ela te consuma novamente e seja forte. Eu te amo até o fim do universo." E assim eu diz, eu ergui a cabeça e me forcei a voltar a minha rotina de trabalho, mesmo sentindo vontade de me afundar na cama e nunca mais sair.
[…]
Seguro a foto onde Lawrence me erguia sobre seu ombro. Ele estava usando sua jaqueta do time de futebol e eu usando minhas roupas despojadas que eu costumava usar. Nós tínhamos um sorriso no rosto e quando menos percebo, as lágrimas voltavam a escorrer por minha bochecha.
Eu estava me sentindo sozinha. Minhas amigas não apareceram para tentar me ajudar ou perguntar se eu tava bem. Gina havia me mandado mensagem me convidando para beber e quando eu disse que não estava no clima, ela apenas disse: "que pena, na próxima te chamo. Se precisar de algo, eu estou aqui" e desligou.
Agora eu estava deitada no chão do meu apartamento, com a foto em mãos e uma garrafa de refrigerante ao meu lado. Eu sabia que Lawrence não iria gostar de saber que eu estava me embebedando e por esse motivo, optei por uma bomba de açúcar.
Não sei em qual momento eu chorei até dormir abraçando aquela foto mas ao acordar, me sinto pior que antes por ter dormido naquele chão duro e gelado.
Todo o meu corpo doía, a minha cabeça latejava pelo choro de horas atrás, meus olhos estavam inchados e com enorme bolsas escuras abaixo deles.
Desde a sua partida a minha vida parecia ter perdido a cor.
Pelas próximas duas semanas, minha vida andava no automático. Sessões de fotos passam voando, interações sociais passam despercebidas por mim. Respostas curtas e rápidas.
Minha rotina se baseava em acordar, trabalhar e ficar encarando o teto até cair no sono ou tentar chorar. Depois da segunda semana eu já não consegui derramar nenhuma única lágrima, parecia que eu havia esgotado o reservatório de lágrimas.
Em uma manhã de segunda feira, eu acordo com meu celular tocando e sou obrigada a atender pensando que poderia ser algum cliente me procurando.
- Alô?
- Bom dia, é Ludmilla Oliveira que está falando?
- Sim, sou eu mesma.
Franzo o cenho me sentando na cama e passo a mão pelo meu rosto para me ajudar a acordar.
- Sou um advogado da parte de seu irmão, Lawrence Oliveira. Ele tem um testamento que pede que seja aberto apenas sua presença.
- Testamento?
- Sim. Podemos marcar uma reunião no meu escritório para hoje à tarde? Cheguei na sua cidade a algumas horas.
- Oh... Claro.
Procuro um papel para anotar o seu endereço. O advogado me da algumas coordenadas e explica algumas coisas até que diz antes de encerrarmos a ligação:
- Eu sinto muito pela a sua perda, Lawrence era um grande homem.
O que Lawrence havia escrito no testamento? Na verdade, eu nem sabia que meu irmão tinha feito um testamento.
Provavelmente ele havia deixado algum bem como a casa que ele morava para mim ou coisa do tipo.
[…]
- É um prazer te conhecer, Ludmilla. - um homem de terno escuro fala ao me ver e aperta minha mão - Sou o advogado de Lawrence responsável pelo testamento.
- É um prazer te conhecer...
- Ian.
- Ian. - repito forçando um sorriso.
- Bom, me acompanhe.
Ian me guia até o elevador para sairmos do salão, subimos para o décimo andar e vamos até uma sala de vídeo, ele abre a porta para mim e em seguida a fecha ao passar por ela.
- Lawrence me entregou e oficializou esse testamento antes de começar as viagens. - o advogado diz por fim após se sentar na cadeira atrás da mesa e soltar um botão do seu blazer.
- Ele não havia comentado nada comigo. - confesso apertando meus lábios.
- Ele era imprevisível. - suspira pegando um envelope da cor amarela - Podemos começar?
- Sim. - falo afirmando com a cabeça e aperto o braço da poltrona na qual eu estava sentada.
O advogado Ian começa a ler o testamento. Eu não soube dizer se era a forma rápida que ele lia ou meu cérebro cansado a ponto de não conseguir traduzir as palavras para que eu entendesse. Meu rosto se formou um enorme ponto de interrogação e Ian pareceu perceber pois ele pausa e diz:
- Lawrence tinha quase um milhão na conta bancária. Você ficara com quatrocentos e cinquenta mil de todo esse dinheiro. - Ian explica e eu prendo a respiração - E a casa que ele tem aqui em Luisiana.
- Oh meu Deus... - murmuro.
Ian prossegue com a leitura e o olho com atenção.
- Seu irmão deseja que o filho dele fique com você. - explica e ao me olhar, se levanta rapidamente para pegar um copo de água.
Minhas mãos começam a tremer e eu começo a suar frio. A ideia de cuidar de um ser humano que depende de mim me fazia entrar em pânico.
- Se acalme, você não precisa necessariamente ficar com ele... - me entrega um copo de água e eu seguro rapidamente.
- O que aconteceria caso eu não aceitasse a guarda? - pergunto segundos depois de beber toda a água do recipiente de vidro.
- Como Elizabeth não tem nenhum familiar e a única familiar mais próxima de Lawrence é você. Seu sobrinho provavelmente iria para um orfanato.
Minha cabeça começa a rodar e uma vontade de chorar me atinge, engulo o choro sentindo-o formar um nó em minha garganta.
- Seu irmão também te deixou uma carta. - Ian volta para trás da mesa e abre o envelope novamente, puxa um outro papel branco e estende em minha direção.
Coloco o copo que eu tinha em mãos sobre a mesa do escritório e pego a carta. Minhas mãos estavam trêmulas e eu temia o que estava escrito naquela carta. Eu não me sentia preparada para ler algo dele mas eu precisava pois algo ali poderia me dar uma ideia sobre o que eu poderia fazer.
Respiro fundo diversas vezes até que desdobro o papel e começo a ler. Meus olhos enchem de lágrimas assim que vejo a ortográfico perfeita de meu irmão.
"Querida irmã e alma gêmea,
Você pode estar me odiando profundamente por ter partido. Eu sentia que algo iria acontecer nessa viagem e se você está lendo essa carta, significa que eu estava certo.
Provavelmente David está bem e em segurança.
Por favor, cuide bem do meu menino. Ele é pequeno e não vai entender nada caso seja levado para um orfanato. Você é a única pessoa que Elizabeth e eu confiamos para dar amor, educação e carinho que for necessário para ele.
Eu quero que você crie o meu pequeno como se fosse um filho seu, sangue do seu sangue. De certa forma ele é sangue do seu sangue, afinal, somos gêmeos.
Você irá ter todo o suporte necessário. Uma casa e dinheiro o suficiente para criar David.
Faça dele o seu porto seguro e seja o porto seguro dele. Você precisa ser forte nesse momento.
Eu sei que você é capaz e que vai o amar tanto quanto eu o amo. Você é forte o suficiente para isso e eu acredito em você.
Eu não quero que você fique pelos cantos chorando a minha morte, quero que você erga a cabeça e siga com a sua vida corra atrás do seu sonho de ser uma fotógrafa famosa. Eu sou muito orgulhoso e grato por te ter como irmã.
Não permita que meu filho se esqueça de Elizabeth nem de mim. Algo que eu sei que você não irá permitir que isso aconteça.
De um beijo no meu menino por mim.
Te amo até o fim do universo
Sua alma gêmea, LO"
Enquanto eu lia, minhas lágrimas escorriam por minha bochecha e chegavam até o papel. Um soluço sai de minha garganta quando vejo alguns borrões na carta que mostravam que eu não fui a única a chorar sobre a carta.
Respiro fundo diversas vezes sabendo que quando eu começava a chorar, eu não parava tão cedo. Sinto uma mão em meu ombro e em seguida um novo copo de água em minha frente, subo meu olhar para o advogado que me olhava com pena e agradeço o copo de água.
- Onde está o meu sobrinho? - pergunto com um fio de voz.
- Com uma assistente social.
- Eu quero a guarda de David. - digo e o advogado afirma com a cabeça.
- Irei lhe deixar um tempo a sós, você precisa disso. - Ian diz dando um sorriso calmo antes de se retirar da sala e me deixar sozinha.
Aperto a carta entre meus dedos e meus olhos caem para a mesa. Mordo meu lábio e minha vista fica embaçada pelas lágrimas que voltavam a se formar em meus olhos.
Eu tinha experiências com bebês? Não. Sabia como cuidar de um? Não. Iria lutar para ficar com David? Sim. As outras coisas eu aprendo na prática.
Eu tinha que realizar o último desejo de Lawrence. Era o mínimo que eu podia fazer por ele depois de tudo o que ele fez por mim a minha vida toda.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro