💠-10-💠
💚LUDMILLA💚
Corro meus olhos pelas paredes da casa. Havia muitas fotos de Lawrence, Elizabeth e até mesmo eu estava incluída em várias dessas fotos. Eu evitava as olhar, eu estava evitando o sentimento de perda.
Suspiro me levantando do sofá e vou para o banheiro que ficava no andar de baixo. A porta aberta do escritório chama a minha atenção e paro na frente da mesma.
Eu ainda não tinha vindo para essa parte da casa e não notado a porta aberta.
Paro em baixo do portal e acendo a luz vendo o escritório da casa, havia um computador, uma mesa no centro, um sofá e poltronas, algumas estantes com livros que eu deduzia ser de direito e um armário cheio de bebidas como Whisky, vinho e champanhe.
Respiro fundo tomando coragem para entrar no escritório e caminho até a mesa, pouso minha mão sobre a mesa de madeira e um papel perto do teclado do computador me chama a atenção. Dou a volta na mesa e pego a folha em mãos, no mesmo instante consigo ver a letra de Lawrence.
"Ludmilla, essa é minha segunda carta a você.
Provavelmente você tenha a recebido um pouco depois da minha morte — que provavelmente tenha acontecido caso esteja lendo isso — e você tenha ficado com a guarda de David, que eu sei que você ficou.
Há algumas coisas que eu não disse na outra carta; eu quero muito que você realmente crie David como se fosse um filho, quando você se sentir preparada, poderá o chamar de seu filho e ele poderá a chamar de mãe. Mesmo que eu sinta que isso irá demorar bastante por você odiar a ideia de ser mãe.
É só isso. Para você saber o dia que escrevi está carta. Hoje é o dia no qual eu irei levar Elizabeth para comemorar os nossos 10 anos de casados.
Eu te amo, cuide bem de David
Com amor, Lawrence. Sua alma gêmea"
Dessa vez, diferente da outra eu não derramo uma única lágrima. Minha cota de choro havia acabado indefinidamente.
Os destinatários da carta estava para o advogado dele. Provavelmente ele iria entregar em breve para ele mas isso não foi possível.
Solto a carta sobre a mesa e vou em direção a estante de bebidas, coloco a senha para poder abrir a porta, pego a garrafa de whisky, um copo e encho metade do copo com o líquido amarelado. Abro o refrigerador e coloco duas pedras de gelo no copo.
Fecho ambos e me encosto na estante, fico encarando a carta e dou um gole na bebida sentindo seu gosto amargo e solitário. Engulo seco sentindo o álcool descer queimando minha garganta até chegar em meu interior, o esquentando.
Caminho até a mesa e pego a carta novamente, dou mais um longo gole na bebida e engulo com calma.
Eu estava sentindo necessidade de beber, algo que pudesse me deixar um pouco mais animada mas eu sabia que não poderia passar desse copo já que mesmo David estar dormindo, ele poderia acordar a qualquer momento e precisar de mim.
Aperto a folha entre meus dedos e aperto meu maxilar. Continuo bebendo a bebida até que termine por completo, deixo o copo vazio sobre a estante de bebidas e saio do escritório, aquele ambiente estava me sufocando.
Abro a porta da frente, desço os degraus da varanda e me sento, afundo meus dedos em meu cabelo e fico encarando meus pés. Respiro fundo e subo meu olhar para o céu estrelado.
Pressão.
Era isso que eu sentia.
Estava me sentindo pressionada por tudo e todos, mesmo que não houvesse muitas pessoas a minha volta.
Fico em silêncio sentindo o álcool do whisky começar a fazer efeito, solto uma risada sem humor e mudo minha atenção para a rua e vejo uma mulher familiar andando pela rua, ela vira sua cabeça em minha direção, coloca as mãos no bolso da calça e se aproxima até a calçada.
- Ludmilla? - Brunna me chama e eu a olho esboçando um sorriso sem reação.
- Brunna. - ela para na calçada.
- Você está bem? - questiona e eu aperto meus lábios ficando em silêncio - Você quer ficar sozinha? - nego com a cabeça e por fim ela começa a se aproximar até que se senta do meu lado.
Eu realmente não queria ficar sozinha. Antes eu conseguia fazer da solidão algo bom e calmo porém nesse momento ela me sufoca.
- O que faz por aqui? - pergunto subindo meu olhar para seu rosto.
- Senti que devia caminhar um pouco. - da de ombros apoiando as mãos sobre seus joelhos.
- E a Isa?
- Ela foi dormir na casa dos avós. - da de ombros.
A vontade de desabafar com alguém começa a subir por minha garganta e eu tento a engolir, porém quando Brunna pergunta se eu estava bem, eu nego com a cabeça e já percebo sua expressão mudar para curiosa e preocupada.
- Quer conversar sobre? - vira seu corpo para o meu lado e eu suspiro.
- Só estou cansada da pressão. - meu olhar cai para o chão - O David, essa casa... Tudo está me sufocando. - pauso e percebo que Brunna estava me ouvindo com atenção - Eu não pedi por nada disso. Eu só queria a minha vida de volta. - sinto a mão de Brunna pousar sobre o meu antebraço e o acariciar com seu polegar - Não que eu não goste do meu sobrinho, mas é muita pressão. Eu não estava preparada para enfrentar isso sozinha, antes eu tinha o meu irmão para me ajudar e dar apoio mas agora eu estou... Sozinha. - a olho e vejo compaixão em seu olhar - Eu só precisava de um ombro, entende? - e um abraço, completo mentalmente - Eu pensei que teria um ombro amigo mas não, todos os meus amigos simplesmente sumiram e só aparecem para me chamar para beber ou coisa do tipo. Eles não se importam se eu estou bem. Isso machuca, sabe?
- Entendo. - sua voz sai baixa e ela afirma com a cabeça.
Subo meu olhar para seu rosto e a vejo se aproximar um pouco mais de mim, seus braços passam por meu corpo e ela puxa meu corpo contra o seu iniciando um abraço confortante.
- Quando meu marido se foi, eu só precisava de alguém para me ouvir e de um abraço. - Brunna murmura e eu passo os braços por sua cintura para desfrutar do primeiro abraço que recebo depois de um mês - Nós não nos conhecemos muito bem mas saiba que pode contar comigo para o que precisar, seja com David ou para conversar. - respiro fundo segurando o choro e aproximo meu rosto um pouco mais do seu pescoço.
- Obrigada, Brunna. - murmuro sentindo minhas forças serem revigoradas por aquele abraço e aquelas palavras da mulher.
- Você bebeu? - pergunta minutos depois e eu solto uma risada culpada me afastando.
- Um copo de whisky. - aperto meu maxilar e ela leva a mão até meu rosto, coloca uma mecha de cabelo que estava em meu rosto e a coloca atrás da minha orelha. E só então percebo que estava um pouco tonta pelo copo de whisky que havia bebido.
- Que tal beber um pouco de água para passar essa tonteira? - pergunta deslizando seu indicador por meu maxilar até meu queixo e quebra o contato de nossas peles.
- Quer entrar? - pergunto apontando para a porta com o polegar e ela afirma com a cabeça, eu me levanto com cuidado e Brunna faz o mesmo, sigo para dentro de casa e ela vem atrás, fecha a porta e me segue para a cozinha - Desculpe a bagunça, ainda estou me adaptando. - faço careta e Brunna ri brevemente, se aproxima da ilha da cozinha e apoia as mãos na mesma.
- Está tudo bem. - sorri com os olhos atentos em mim.
Pego um copo de vidro dentro do armário, vou até a talha de barro e encho o copo, começo a beber com calma e deixo o copo vazio de lado.
- Está melhor agora? - pergunta e eu afirmo com a cabeça sentindo como se quatro elefantes tivessem saído de cima dos meus ombros.
O poder de um abraço.
- Quer comer algo?
- Não, eu já estou indo. Só queria me certificar que você iria beber água. - da a volta na ilha e para na minha frente, sua mão direita vai até meu ombro e o aperta com delicadeza - Se precisar de algo, qualquer coisa mesmo, não hesite em me ligar.
Brunna fala olhando no fundo dos meus olhos e me dando certeza que ela realmente estava querendo me ajudar.
- Por que você está fazendo isso? - pergunto - Desculpe, mas não é sempre que alguém se disponibiliza para ajudar outro alguém... - mordo meu lábio com medo de soar de forma grosseira mas me tranquilizo quando ela esboça um sorriso sem mostrar os lábios.
- Meu marido era policial, ele morreu em ação. Eu fiquei desolada, com uma criança de quatro anos sem saber o que fazer, sem um emprego e o mundo desabando sobre a minha cabeça. Eu só tive forças para seguir enfrente por ter alguém me dando apoio e um ombro. - da de ombros - Eu não tenho necessidade em saber o que aconteceu para que tudo isso acontecesse com você mas eu realmente estou aqui para o que você precisar. - quando ela termina de dizer, eu passo meus braços por sua cintura e volto a abraçar.
Sinto ela passar os braços por cima de meus braços rodeando meu corpo em um novo abraço apertado e confortante.
- Obrigada. - murmuro e sinto que ela sorri antes de se afastar.
- Mães solo ajudam uma a outra. - quebro o contato entre nós e esboço um sorriso calmo - Se precisa de algo, me ligue. - reforça o que havia dito e eu afirmo com a cabeça - Ou apareça lá em casa, o que você achar melhor.
- Está bem. - solto uma risada sem jeito. Era estranho ver alguém que não era o meu irmão demonstrando estar preocupada comigo.
- Eu já vou indo porque eu acho que você deveria dormir um pouco. - afirmo com a cabeça e sinto meu rosto começar a ficar ruborizado.
Brunna se despede e a acompanho até a porta, ela desce os degraus da varanda e se eu respiro fundo antes de a chamar:
- Brunna...
- Sim?
- Se precisar de algo, pode contar comigo também. - digo encostada na porta e ela sorri acenando com a cabeça, enfia as mãos no bolso da sua calça de moletom e começa a caminhar em direção a esquina.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro