Meu maior erro...

  Depois daquela noite, encontros com Harry e seus amigos estavam se tornando cada vez mais comuns. Nós não falávamos sobre nada além de filmes e séries. Confesso que julguei antes de conhecê-lo, o rapaz tinha seus atrativos. Pude perceber que ele era bastante querido entre os amigos, estava sempre fazendo piadas e dancinhas malucas. Tudo aos poucos parecia se encaixar, continuei com a minha busca por mais cartas mas por alguma razão, o livro do Pequeno Príncipe estava emprestado e a única coisa que restara se chamava "paciência".

Então, foi em uma dessas noites de tédio extremo que recebi o convite de meu novo amigo Harry Styles, sim, somos amigos, quase "brothers".

— O que este bombom está fazendo fora da caixa? Loulouzinho, está um pouco tarde para sair. — tia Emma anunciou, puxando o óculos para baixo, fitando meu visual. — Tem um encontro, querido?

  Sorri tímido e passei a mão no cabelo. Harry mencionou uma festa na casa de um amigo dele. Usei meu moletom mais simples, all star preto e uma calça jeans.

— Harry me chamou para sair e... — antes que eu pudesse responder, ela assentiu.

— Bem, se for com o Harry, sei que estará em boas mãos. — Ela sorriu e por segundos fiquei questionando se havia malícia em seu tom de voz.

  Antes que pudéssemos falar algo mais, ouvi uma buzina e sabia que era ele no carro de sua mãe. Nos despedimos e Tia Emma insistiu para que eu não voltasse tão tarde. Desci as escadas e vi Harry fitar o próprio reflexo no espelho enquanto arrumava o cabelo.

— Olá, Loulouzinho. — saudou sem tirar sua atenção do espelho.

— Oi Harry, cadê a Lola? — Adentrei no veículo e coloquei o cinto de segurança.

— Já está na festa. Eu falei que iria vir te buscar. Lola resolveu ir na frente. — Harry sorriu e deu partida no carro. Observei suas roupas, como sempre ele estava usando preto. Odiava admitir, mas essa cor o favorecia.

  Continuamos em silêncio durante o trajeto e entrelacei os dedos, balançando os pés e torcendo para chegar logo. Harry parecia distante e quando estacionou, sorriu para mim.

— Hoje vai ser bem divertido, Loulouzinho. — ele sorriu  novamente e seguimos em silêncio.

  A casa parecia mais uma daquelas de filmes americanos. Piscina, bóias infláveis, bebidas, copos descartáveis e adolescentes bêbados. Harry dançava com Lola e me sobrara apenas sentar e beber refrigerante. Após alguns minutos e perceber que estava tocando Britney Spears, limitei minha atenção a "Womanizer" enquanto Harry Styles dançava com sua namorada e lançava um olhar ambíguo para mim.

  Suspirei fundo e mal notei quando ele veio em minha direção e puxou meu corpo para a pista de dança. Franzi o cenho sem entender e tentei me desvencilhar de Harry e seus passos desengonçados. Senti a mão dele em meus quadris e por segundos fiquei estático. Será que era normal fazer isso aqui? Meus pais eram conservadores demais, assim como meus poucos amigos.

— Dança um pouco, Loulouzinho. — Ele revirou os olhos e sorriu, tirando as mãos do meu quadril. O que porra estava fazendo?!

— Vamos brincar de "verdade ou consequência" — Lola surgiu levemente alterada e no meio de nós dois. — Vocês são tão lindos, eu beijaria os dois.

  Franzi o cenho com a confissão, Harry apenas sorriu e não sei tinha alguma droga no meu refrigerante mas acho que de forma inaudível, ele disparou um "eu também".

  Sentei-me junto aos outros em uma rodinha mal feita e esperei pacientemente a vez de cada um. Harry sentou à minha direita, Lola estava à esquerda com sua melhor amiga. Bebi mais um pouco de refrigerante e torci que eu não fosse o próximo. 

— Eu tenho um desafio em grupo. Todos topam? — anunciou uma garota ruiva. Eles concordaram, então fiz o mesmo. — Desafio todos a beijarem o colega na lateral, assim, seremos um círculo de beijo. Que tal?

  Todos concordaram, inclusive, Harry e Lola que pareciam ter um relacionamento diferente dos demais. A ruiva começou e a brincadeira  de "passar o beijo" havia começado. Minha ansiedade aumentava cada vez mais, assim como a vontade de fugir dali. Sinto uma sensação estranha na boca do estômago e balanço meus pés freneticamente quando vejo Harry beijar a garota ao lado dele e depois virar na minha direção.

  Então, foi nesse momento. Ele trouxe suas mãos para a lateral do meu rosto e lentamente aproximou os lábios dos meus. Não sei se o tempo havia congelado ou estávamos em câmera lenta. Fechei os olhos e senti os lábios macios dele, como se fosse mágica, como se fôssemos apenas nós dois ali. Meu coração pulsava como se dependesse de cada batida frenética, desse jeito eu poderia até explodir. Nos separamos e Harry sorriu e apontou para que eu fizesse o mesmo com Lola, que nos olhava com atenção. Depositei um breve selinho em seus lábios e ela prosseguiu com a brincadeira até chegar na ruiva novamente.

  Bebi um pouco de vodka pela primeira na vida, precisava esquecer desse beijo que fez milkshake das minhas emoções. Harry e Lola sumiram da festa, suponho que estavam festejando de um jeito particular. Os pais do anfitrião acabaram chegando em casa e pondo todos para fora.

  Internamente, agradeci aos céus e esperei Harry, Lola e sua amiga finalmente caminharem até o carro. Prossegui em silêncio enquanto eles conversavam sobre quaisquer assunto aleatório. A loira ficaria na casa de sua amiga, restando apenas eu e o ex troglodita da cidade. Somente nós dois no carro.

— Está tudo bem, Louis? — pela primeira vez, ele tinha usado o meu nome e de alguma forma isso tinha me desapontado um pouco.

— Estou sim, Harry. Obrigado por perguntar. — sorri minimamente e tornei a olhar na direção oposta.

Prosseguimos em silêncio durante todo o trajeto, encostei minha cabeça no vidro e suspirei fundo. Finalmente paramos e minha primeira atitude foi tirar o cinto que por alguma razão, não veio. Ele sorriu e se dispôs a ajudar-me, bufei frustrado e Harry sorriu com a situação.

— Calma, Loulouzinho. Do que você está fugindo? — e lá estava aquele maldito apelido novamente.

  Harry se inclina um pouco mais e tira o cinto. Noto que estamos numa distância perigosa, ele segura o volante com firmeza e eu observo seus traços iluminados pelo painel do carro.

— Loulouzinho, eu... — ele se pronunciou mas logo parou de falar.

Continuei observando e torcendo para que Harry fosse direto ao ponto. Mas, nada veio. Então, abri a porta do carro e antes que pudesse sair, senti uma mão tocar a minha.

— Não vai se despedir? — Ele sorriu fofo e virou o rosto, indicando sua bochecha. Estiquei meu corpo e encostei meus lábios na mesma.

— Até mais, Harry. — Um sorriso bobo cresce em meus lábios, então, sinto sua mão tocar meu ombro e quando percebo, ele já está encostando seus lábios nos meus. Pegando-me de surpresa.

  Suspiro fundo antes de corresponder, Harry aprofunda o beijo e consigo sentir sua língua explorar a minha boca. Um misto de cerveja barata e chiclete de menta. Sinto suas mãos tocarem meu rosto e entrego-me completamente aquele gesto. Fecho os olhos e busco por mais contato, mais Harry, que se prontifica a me beijar com fervor. Saindo do êxtase de seus lábios, lembro que ele tem namorada e então, afasto-me bruscamente e desço do carro de uma vez. Não deveríamos ter feito isso. Corro em direção a casa de minha tia e prossigo sem olhar para trás.  Aquele seria apenas o início, de uma sucessão de erros.

Foi acreditar em você...