Novo Capítulo 3: Vida De Pobre. Vida Difícil - Evelyn
"Onde estão as esperanças? Onde estão os sonhos?
Minha cena da história da Cinderela?
Quando você acha que eles finalmente verão?"
The Best Damn Thing - Avril Lavigne
Acordar cedo, quase morrer sufocada no transporte, xingar a Deus por não tê-la colocado como ganhadora da megasena do final de semana anterior e desviar das mãos bobas dos homens no lugar, era algo que fazia parte do dia a dia de Evelyn.
Claro que no caminho escutava música e andava com alfinetes para afastar caras babacas de perto, o que acabava sendo um tanto divertido, mas nada que anulasse o estresse que viria a seguir vivendo seu dia como sempre fazia.
Com a ida de seus pais para África, Evelyn, que havia perdido sua visão no acidente de carro, nunca mais teve uma vida de luxo.
Toda fortuna da família, que vinha da joalheria da família, empresa na qual sua irmã Nadija estava a frente, foi vendida. E todo dinheiro empregado em causas sociais, como parte da mudança de vida dos seus pais. Uma vez que na noite que Evelyn deixou de enxergar, sua irmã e o marido dela haviam morrido.
Somente restando dos ocupantes do veículo, os bebês que Nadija carregava no ventre e Evelyn, naquela noite ajudando sua gêmea em trabalho de parto. O que deixou Evy uma universitária cega e pobre da noite para o dia.
O restaurante onde cozinhava havia fechado e agora, prestes a defender sua tese, que finalizava seu curso de cinema e artes visuais, precisava arrumar algum lugar onde pudesse trabalhar pra sustentar a si.
Não ia mentir, tava foda viver daquele jeito. Mais um pouco e ia se jogar de uma ponte.
— Na pior das hipóteses pode fazer o que a Jessie faz, ela conhece ótimas boates... — Samantha, sua colega de apartamento, sugere deixando Evelyn surpresa.
Não poderia apenas se prostituir. Nada contra quem fazia, mas de se fuder, só pela vida que tinha já bastava.
Cursar faculdade de cinema na terra do Mickey era muito caro, sendo cega era bem mais difícil pois estava em desvantagem com relação a sensibilidade dos demais alunos, ainda sim, pretendia ir até o final. Mais complicado que isso era o quão caro se tornou manter-se lá.
Flórida tinha praias, boates vida diversificada para quem quisesse ver, exceto para pessoas como ela que não enxergava nada. Apenas ouvia, sentia e inspirava aromas e cheiros.
Devido a um anúncio de “contrata-se recepcionista” na Internet, a moça foi numa clínica de barriga de aluguel, que foi indicada pelo GPS do seu celular, que apita, a instruindo pelo fone a entrar na porta a esquerda, desligando a ligação automaticamente.
— Boa tarde. Ainda estão contratando? — Evelyn pergunta curiosa a mulher na recepção, guardando sua bengala retrátil.
Após um período de silêncio incômodo, a recepcionista pareceu pensar um pouco antes de negar e dizer:
— Já foi preenchida, mas acho que temos vaga para faxineira, se a interessar...
Pensando que em alguns anos viraria uma escritora de sucesso, faria roteiros de filmes com todos os atores mais famosos no seu elenco e teria seu ídolo Chris Rogers em todos seus projetos, Evelyn decidiu que valeria tudo pra não ir morar na rua.
Até mesmo virar faxineira, o que não valia de nada por todos os cursos de idioma que possuía. Seis idiomas, vários cursos de áreas de audiovisual e tudo para quê?
Jogar no lixo, porque seu cunhado insistiu que dava pra ultrapassar, o que custou a vida dele, de sua irmã gêmea e a visão de Evy num acidente estúpido.
O que a lembrou que provavelmente o emprego que a ofereciam não daria em nada, mas precisava insistir. Dinheiro não cairia apenas do céu.
— Posso deixar meu currículo? — sugerindo desanimada a moça é instruída a aguardar do outro lado da recepção, se guiando pela direção dita pela mulher, que usava uma colônia muito enjoativa, contrastando com o cheiro do lugar.
A clínica não possuía nada além de uma música de fundo irritante, cheiro de éter e um frio bem incômodo causado pelo ar condicionado potente, que fazia uns estalos uma vez ou outra, chamando a atenção da mulher para algum ponto a suas costas, onde o maldito aparelho deveria estar.
Uma clínica cara daquelas não fazer a droga da manutenção do dispositivo era muita falta de respeito com os outros.
“Quando eu estiver rica, casada e trabalhando com aquele Deus Grego chamado de Chris Rogers dirigindo, produzindo esse homem e tendo ele como amigo, vou rir muito de tudo isso...” — Evelyn pensou ao se sentar na cadeira incômoda e colocar seu capuz, ajeitando seus óculos escuros.
Estava com sono e ia aproveitar o chá de cadeira para dormir um pouco.
Antes de perder sua visão, amava os filmes que via na TV e nos cinemas. Chris Rogers era seu ator preferido por motivos de sua atuação ser incrível e, mesmo após perder sua visão, conseguir fazer Evelyn sentir na fala dele as expressões que seus personagens possuíam.
— Nós não vendemos crianças aqui. Nenhuma das nossas barrigas de aluguel irá gerar um filho para satisfazer seus caprichos! — a voz feminina fala séria para sabe-se lá quem com raiva contida.
Os passos eram típicos de alguém que usava saltos e dava pra ouvir outros passos, de pessoas que usavam tênis.
De primeira quando a mulher se aproximou sentiu um cheiro bem forte de perfume doce, mas logo que a voz masculina se fez presente o perfume dele alcançou o olfato da moça que instintivamente se virou na direção da voz que muito conhecia.
— Todo mundo vive pulando etapas! Qual o problema de pular algumas e ir direto ao que eu preciso? — Chris Rogers, seu ídolo, o melhor ator do mundo, pediu com seu tom de voz um tanto quanto nervoso, andando a passos largos atrás da mulher de saltos, provavelmente.
Ele e a mulher pareciam vir de longe, mas como ambos estavam já alterados, suas vozes tinham timbres bem altos e era notável a frustração em ambos os lados.
— Arrume então alguma mulher por sua conta, mas não iremos colocar a cheque nossa reputação — a voz feminina usa seu tom mais formal, tentando impor a sua opinião.
Suas passadas eram firmes e mostravam que ela resistia firmemente, embora parecesse vacilar um pouco em alguns momentos que falava.
Deveria ser uma boa quantia que Chris estava a oferecer. Com toda certeza seria.
— Se for dinheiro, eu pago! Três, quatro, cinco! Melhor, dez vezes mais! Dou uma pensão para toda vida da mulher! Por favor, só preciso de uma barriga de aluguel! Não é tão difícil! Mulheres tem filhos sozinhas todos os dias! Por que não posso ser pai solo?
Achando graça do que ele disse, só relaxou ao escutar o lance do dinheiro que automaticamente deixa a Evy mais desperta. Transar com seu ídolo, ter um filho com ele e conseguir uma grana maravilhosa?
Não poderia perder aquela oportunidade.
Antes que pudesse quebrar o seu silêncio, Evellyn escuta a mesma reclamona de antes calar o homem, que ainda falava todos os benefícios da mulher escolhida para tentar a convencer.
— Barriga solidária é liberado para casais que queiram ter filhos. O senhor é um homem só. Não estamos vendendo crianças aqui! Tornamos possível, sonhos! Agora, fora, não quero que você continue a tornar o ambiente estressante para nossas futuras barrigas solidárias... — falou para o homem deixando Ivy surpresa.
Ela achava que a mulher estava lá para se oferecer pra botar o bebê de qualquer um na sua barriga?
Não mesmo. Iria ser mãe do filho de Chris Rogers, ele se apaixonaria por ela e viveriam felizes para sempre como nos filmes. Com toda certeza que ia. Deus estava a dando um ticket de loteria premiado.
Escutando as vozes ficarem mais longes, Evy se colocou de pé, agradeceu a Deus pela oportunidade que havia sido jogada em seu colo e sentindo o perfume amadeirado ainda por perto, discou o número de Samantha, que atendeu ao primeiro toque.
— Como foi? — falando animada a moça a faz suspirar.
Ao fundo se escutava o barulho do ar condicionado do carro de Samantha, que deveria estar dirigindo para o apartamento delas, ou para casa de seu namorado.
— Nada, bebê... Ao menos por enquanto — Evelyn responde sentindo o perfume amadeirado a suas costas, logo que saiu da clínica.
Os passos dele eram vagarosos e um tanto quanto leves, o que a levava a pensar que talvez não fosse a mesma pessoa da clínica.
Ou talvez tivesse se confundido pelo som das pessoas andando ao seu redor. Na rua era bem mais difícil saber quem era quem. Seus sentidos a traíam um pouco ainda...
Visto que, fazia apenas um ano que havia perdido sua visão. Os que ainda existiam estavam se aguçando, pois sua visão era uma falta muito sentida pelos outros.
— Mana. Quer que eu te busque? Fico com um medo enorme de te machucarem, pretinha. Andando nessas ruas cheias de gente — Sam sugeriu prestativa a levando a sorrir.
O perfume pareceu se aproximar mais, o que a causou certa preocupação. Estaria o homem planejando fazer algo de ruim a ela?
— Sei me virar. Relaxa, gata. Te ligo depois — despede-se da amiga, antes de tirar um dos fones que usava, rindo e desligando.
Se guiando pelo cheiro, deu play numa música que já tocava antes, da banda Evanenescence, virou de surpresa e usou sua bengala para acertar quem é que seguir.
— Jesus! Qual é o seu problema? — a voz horrorizada de Chris Rogers a questionando em choque faz a moça depressa largar sua bengala para tentar ajudá-lo.
O que a fez cair por cima dele, por não enxergar. Detalhe que Evelyn vivia a esquecer.
Para sua felicidade o homem a segurou e ajudou a levantar, embora reclamasse sobre sua cabeça estar doendo. As mãos dele eram grandes, macias e, pelo que sentia ao cair sobre o mesmo, Chris usava camisa social.
Além de ter feito sua barba recentemente, pois o cheiro da loção era bem fácil de perceber quando com seu rosto perto do dele.
— Então... Acho que você notou que observando você — falou com um tom de voz fofo, que ela acreditou ser constrangimento.
Escutando ele pigarrear, sentiu as mãos macias e grandes de Chris envolverem as dela, para a entregar sua bengala, o que fez sua fangirl interior gritar como se não houvesse amanhã. Ia surtar muito quando estivesse sozinha.
— Posso não ver, mas consigo ouvir e sentir, senhor — replicando calma recebe um suspiro.
Ela honestamente odiava a quando a tratavam como imbecil por não enxergar.
— Como você pode ficar grávida sem ver? — comenta indiscreto a leva a perder a paciência.
Melhor continuar a procurar um emprego. Não queria acabar com o pouco carinho que tinha por ele.
O cara não tinha senso para sequer falar algo que não soasse imbecil. Preferia continuar com a ideia de que ele era uma pessoa legal que não dizia merdas como a que havia acabado de dizer. E assim acabava um crush de anos e uma idolatria quase que religiosa ao homem mais bonito que ela havia visto em toda sua vida.
— Pois para ter crianças basta um útero, agora se me der licença. Passar bem — Evy se despediu um tanto seca virando para direção aonde ia.
Escutando novamente o som de passos, continua a ignorá-lo antes do homem a tocar, fazendo ela se virar furiosa.
Nada a tirava mais do sério que ouvir pessoas a dizer o que deveria fazer, não fazer e do que era ou não capaz.
Sim, havia perdido a sua visão, mas poderia dar um jeito para o que bem entendesse. Um detalhe como aquele não ia tornar de Evelyn uma pessoa inválida tal como todos ao seu redor pensavam.
— Posso pagá-la muito bem. Estou hospedado no...
— Não quero saber. Tenha um ótimo dia — o interrompe ríspida antes de sentir algo ser colocado em sua mão livre.
Sorte a dele que não enxergava uma lixeira, ou jogaria o papel fora. Não precisava de mais ninguém a duvidando dela. Evelyn Evergreen sozinha já duvidava o suficiente por todos.
— O meu número está aqui. Pense no seu futuro. Posso te dar tudo que você quiser, quanto dinheiro você precisar, em troca só que preciso que me ajude com isso. Por favor — usando seu tom mais doce, Chris tentou a fazer mudar de ideia.
Amassando o papel, a mulher se vira para o lugar de onde veio e continua a caminhar com sua expressão fechada.
Aquela altura esbarrar nas pessoas era o de menos.
Movida pelo seu ódio, pegou o transporte e tentou não pensar em como seria ter a oportunidade de ser a mãe do filho daquele imbecil. Eram muitos prós, mas lidar com perguntas que duvidavam da sua incapacidade de fazer algo por não enxergar era revoltante.
Sim, às vezes a realidade tendia a ser frustrante, alguém a disse certa vez, mas ainda sim, onde estava sua cena de contos de fada? Cadê a droga do seu príncipe encantado? E aquele clichê de “ídolo que se apaixona por fã”? Teria o Wattpad a iludido demais?
— Não vou ligar porra nenhuma! Nunca! Jamais! Em hipótese alguma! Nem fudendo! — Evelyn grita ao chegar em casa para calar a sua mente que inventava formas de como seria aceitar a maldita proposta.
Fechando a porta, largou sua bengala num canto qualquer e foi até a geladeira, que abriu e encontrou nada além de meia garrafa de água.
A quem iria enganar? Estava na merda.
Sem emprego, nem previsão de arrumar algum lugar, pois ser cega era um grande impecilho, além de estar faminta, logo não tinha outras opções.
— Que se foda... Orgulho não paga conta nem me alimenta — Evelyn conclui pegando seu celular.
Saindo para pedir a vizinha para lhe dizer os números, Evelyn discou e ao primeiro toque logo disse:
— Senhor Chris Rogers? A proposta ainda está de pé?
Não havia nada que pudesse ser feito por sua vida. Aquele dinheiro valeria a pena. E de quebra, faria aquele homem ficar aos seus pés. Ah se não iria.
Notas finais:
Quando você não vota nem comenta, sonhos morrem e atualizações não acontecem. Não seja vacilão, deixe seu voto e pelo menos um "amei, continua". ^_^
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro