02 - Estou de volta...
Conforme a carruagem andava, sentia seu corpo chacoalhar de um canto para o outro, a estrada de terra estava molhada o que fazia vez ou outra a roda se prender em algum buraco ou pular por causa de uma pedra no caminho, não era tão confortável, porém era melhor do que uma carroça e possivelmente lama respingando em seu rosto. Conseguia escutar claramente a conversa do Sr.Carter e seu jovem ajudante, um garoto que deveria ter no máximo 13 anos.
Aproximou-se da pequena janela observando o céu azul e as poucas nuvens com formatos engraçados, se lembrava claramente de quando criança falar que pareciam animais. A grama rasteira com algumas arvores de verde vivo e outras levemente queimadas, indicava que em breve estariam no outono e em breve várias comemorações viriam, ao longe podia observar algumas casas de fazendas com seus telhados vermelhos e os animais circulando pelas propriedades. Realmente era bem melhor que Londres e toda sua ostentação e os níveis sociais escancarados... Oh sim... isso realmente era assustados, não que em Dover as classes eram inexistentes, porém eram bem menos impactantes, afinal nunca tinha visto em sua terra natal um imigrante ser tão maltratado quanto nos bairros ricos, ouvia histórias obvio, mas ao presenciar pela primeira vez quase a fez vomitar seu almoço.
-- Senhorita Campbell! – A voz do Sr.Carter a fez sair de seus devaneios atraindo sua atenção. – Em breve já estaremos na cidade, olhe dá para ver daqui o castelo. – Olhou pela janela novamente, espremendo um pouco os olhos e logo constatou que era verdade, no horizonte conseguia ver os muros do castelo brilhando conforme os raios solares batiam contra o mesmo. Respirou fundo apertando a saia de seu vestido, queria chegar logo em casa e acabar com toda aquela ansiedade que a consumia. Pelas cartas que havia recebido no período que esteve fora sabia brevemente o que tinha acontecido, uma das coisas na qual tinha ciência era do noivado dos seus irmãos, havia ficado surpresa com a notícia, conhecia as noivas e podia dizer que não eram de seu agrado, talvez se fossem pessoas um pouco mais agradáveis não teria tanta relutância a aceitar.
Mas o que mais a deixava ansiosa era o sentimento que guardava dentro de si, estava de volta após dois anos e isso significava que Henry em breve regressaria também após terminar a faculdade em Toronto, há três anos atrás ele e a família haviam ido morar no canada afim de expandir os negócios na América, Henry e seu irmão mais novo Joseph, - que tinha sua idade com diferença de alguns meses. – Acompanharam seus pais, entretanto o mesmo tinha lhe dito que voltaria assim que a mesma voltasse da escola de etiqueta em Londres, na época a jovem estava no penúltimo ano da escola, na flor de seu amadurecimento. Seus pais ainda não sabiam obvio, apenas tinha contado para suas amigas o romance e a promessa que tinha com o filho mais velho Morgan. Em seu pescoço carregava fielmente o símbolo daquela promessa, uma pequena e delicada gargantilha dourada que o mesmo o tinha dado uma semana antes de viajar.
Suspirou enquanto voltava a se acomodar na carruagem, sua vida iria mudar em muito em breve, não sabia quando seu amado voltaria, mas logo deixaria de ser a Senhorita Campbell para se tornar a Senhora Morgan e viver o resto da vida ao lado de Henry, com toda certeza após o casamento iriam voltar para o Canada para que o mesmo terminasse a faculdade de medicina, teriam uma casa adorável com um belo jardim e dois cães...
Não demorou muito para que a carruagem finalmente parasse na frente de sua casa, ainda tinha a mesma aparência com a diferença do jardim que tinha flores diferentes. As paredes marfim e azul claro deixavam a casa única, junto com as grandes janelas e a varanda onde uma mesa redonda com seis cadeiras estava arrumada para em breve ser servido o chá da tarde. A porta da carruagem foi aberta e o senhor Carter lhe estendeu a mão para que a mesma descesse, finalmente estava em casa!
A porta da casa foi aberta e de lá três figuras masculinas surgiram, estavam um pouco diferentes da última vez que os tinha visto, mas ainda eram seus queridos irmãos, os ternos eram parecidos a única diferença eram as gravatas que mudavam. Thomas, seu irmão mais velho foi o primeiro a chegar até Mabel que sorriu brevemente para o irmão, os outros dois iam em direção a carruagem para pegar as malas da mesma.
-- Como foi de viagem? – Seu irmão perguntou enquanto parecia analisar seu rosto.
-- Foi bem, o Sr.Carter é bem gentil e falante, por que não foram me buscar?
-- Tínhamos negócios a tratar, nossos pais viajaram e bom... já estão nos preparando para que assumamos tudo após o casamento.
-- Devo me preocupar com uma futura falência? – Riu enquanto andavam em direção a casa.
-- Sem sombra de dúvidas, arranje um velho rico para que salve nossa família. – A voz de Hector surgiu arrancando risos de Thomas e seu gêmeo Patrick.
-- Céus! Então me deixem assumir as finanças antes de termos que vender a casa. – A jovem provocou o irmão mais velho, sabia que Thomas detestava quando a mesma dizia que iria se envolver nos negócios.
-- Mabel minha cara, se você tivesse assumido na primeira semana já não teríamos mais nada e a senhorita teria um quarto cheio de vestidos caros.
-- Não seja ridículo Thomas. – Hector falou abraçando os ombros da mais nova enquanto a mesma revira os olhos. – Se nossa doce e querida irmã assumisse nem vestidos mais teria, todos estaríamos usando sacos de batatas como roupas.
-- Vocês são horríveis, deixem ela em paz um momento. – Patrick a defendeu. – Ela acabou de chegar e já tem que ouvir vossas asneiras.
-- Fala isso apenas por terem compartilhado o mesmo útero, caso contrário não a defenderia tanto. – Disse Thomas enquanto Hector concordava.
-- Sinceramente... – Murmurou suspirando. – Se já acabaram irei para meu quarto, logo será a hora do chá e eu quero me trocar
-- Como quiser minha irmã, descanse enquanto irei ter com Hector no escritório. - Thomas falou andando até a porta e seu irmão o acompanhava, Patrick se aproximou da jovem e sorriu amigavelmente como sempre fazia.
-- Venha, vou te acompanhar até seu quarto, enquanto isso pode me contar algumas coisas. - Falou enquanto Mabel se deixava ser guiada pelo irmão.
Seu quarto ainda estava como lembrava, como se tivesse parado no tempo a dois anos atrás e fosse intocado, por exceção da limpeza que era feita e seus baús encostado próximo ao roupeiro e que em breve uma criada viria ajeitar. Fechou a porta para que em seguida começasse a se despir, começando por suas luvas e as poucas joias que usava para que em logo suas vestes tomassem o chão e restasse somente a chemise branca no corpo, se sentia bem mais confortável agora sem aquela quantidade de peças sobre si. Ao se sentar na cama retirou os sapatos e as meias igualmente brancas e as deixou de lado para que se deitasse e encarasse o teto levemente manchado enquanto brincava com seu pequeno crucifixo e pensava o quão bom era estar de volta...
Acordou com leves batidas em sua porta enquanto preguiçosamente mandava a pessoa entrar esquecendo completamente como estava inapropriadamente vestida, mas agradeceu aos céus ao ver a criada entrar em seu quarto a cumprimentando respeitosamente como era de costume.
-- Senhorita Campbell, seus irmãos já estão a sua espera para o chá. - Anunciou enquanto a jovem se levantava. - Necessita de ajuda para se aprontar, Senhorita?
-- Sim por favor, quero algo leve. - Falou observando que as coisas que antes estavam ao lado do roupeiro estavam arrumadas, tais como seu antigo traje também. Sentou-se na cama enquanto observava a criada mexer em suas coisas e quando a mesma retornou se levantou para que começasse a ser produzida.
O vestido tinha mangas até os cotovelos e possuía um tom rosado, havia um pouco de renda em suas mangas e decote e o corte era simples, porém não podiam dizer que não era de boa costura, seus sapatos foram calçados enquanto escolhia qual acessório usaria em sua caixa de joias, optou por um colar discreto de pérolas para que não saísse muito da aparência atual e enquanto o colocava sentia seu cabelo novamente ser preso em um coque com alguns fios rebeldes caindo mas não se importou muito com isso.
-- A senhorita prefere luvas de renda? - Perguntou a criada que descobrira que o nome era Rosa.
-- Não irei usar luvas... - Se levantou elegantemente como havia aprendido a fazer e olhou para Rosa. - Já estou pronta?
- Sim senhorita, está perfeita. – Sorriu brevemente. – Se me der licença senhorita irei informar aos seus irmãos que já está pronta. – Falou se retirando do quarto. Mabel suspirou observando a porta fechada por onde a criada havia saído, sentia-se cansada, mesmo após o breve cochilo não havia sido o suficiente para lhe repor as energias, porém não poderia recusar o ajuntamento após tanto tempo fora. Tomando coragem a mesma se olhou no espelho da penteadeira e sorriu como havia aprendido em seu tempo em Londres, aquele era só o inicio de sua volta.
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