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Quem Tem Medo do Lobo Mau?

 Eles dizem que nós temos sorte. O resto do mundo queria estar no nosso lugar, nos vê como a geração de ouro. Até nossos professores nos chamam assim. Os amigos que você faz na faculdade são os que ficarão com você para sempre, são os contatos profissionais que você vai usar, são seu futuro. E o nosso é o Príncipe Wolfgang. Conseguiria imaginar sorte maior?

Só de pensar no nome dele, sinto o desgosto entalar na minha garganta. Já está difícil o suficiente conseguir respirar aqui, quando preciso ficar o mais imóvel e em silêncio possível, agora me sinto prestes a sufocar de raiva dele.

Não posso culpar os outros, não quando eu também me deixei enganar pela mesma ilusão. Passei minha vida inteira achando ser o máximo ter a mesma idade que ele e tinha total consciência de que, ao focar todos os meus esforços em entrar para essa universidade, parte de mim torcia para que ele fizesse o mesmo. Eu também fui cegada pelo seu título, sua fama e o que um dia cheguei a considerar beleza. Mas agora eu posso ver a verdade.

Ele é podre, tão podre quanto um ser humano pode ser. Enquanto o resto do mundo achava que ele estava vindo para cá para amadurecer e talvez encontrar uma esposa, ele veio para transformar o campus em seu sádico e repulsivo playground e usar nós pobres mortais como brinquedo.

Não posso culpar as pessoas que estão em casa, lendo fofocas sobre ele em revistas baratas e sonhando com a mesma ilusão que eu sonhava, mas posso e culpo a universidade completamente. Sem contar com a família dele, que antes eu colocava em um pedestal. Eles sabem. O reitor sabe. Até mesmo os seguranças do campus sabem. E eles não fazem nada.

Não foi só uma menina que o denunciou. Foram várias. Uma, duas, cinco, oito. Quando eu mesma sentei na cadeira do outro lado da mesa de um dos seguranças e forcei meu cérebro a lembrar do máximo possível de detalhes para explicar algo que ainda nem conseguia mesmo entender, pude ver de relance os nomes no seu bloco de papel. Eu era a nona. E tive que escutar a mesma coisa.

"É a sua palavra contra a dele," me disseram, mesmo depois de eu declarar que tinha feito questão de ir a um hospital logo antes dali para fazerem exames completos, mesmo depois de eu mostrar os resultados deles. "Poderia ser interpretado de várias formas. Nós vamos investigar, mas não podemos prometer nada."

Não podiam prometer nada. Não fariam nada.

Eu chorava, de frustração mais do que tristeza, repetindo mil vezes minha história. Ele tinha me convidado para uma festa em uma casa de campo com seus amigos, tinha prometido me mostrar o palácio, me apresentar aos seus pais, disse que eu era a garota mais bonita que já tinha visto. A verdade é que eu era idiota. Passei a vida inteira sendo considerada masculina demais, tentando ser mais parecida com meu pai, que era agente federal, e menos com minha irmã, que passa o tempo inteiro preocupada com sua maquiagem. Mal sabia eu que minha fraqueza era que alguém me visse como ela.

O segurança - que está mais para analista qualquer, - disse que isso tudo não me ajudava em nada. Eu que tinha ido para o meio da floresta com eles, sem conhecer o lugar. Não importava se eu achava que o conhecia, se eu pensava que receber um elogio de um herdeiro do trono fosse lisonjeiro demais para duvidar de suas intenções. Não importava que a imagem que sua família sempre faz questão de passar é de honra e eu confiei nisso. Pela minha história, ele percebia que eu estava interessada também no príncipe. Minha escolha, meu desejo, minha palavra. Nenhum deles valia alguma coisa.

Fecho meus olhos, tentando não sentir a mesma quantidade de raiva efervescente que senti naquele dia. E daí, quis gritar e jogar a mesa dele para o alto, já irritada o suficiente para nem conseguir mais chorar. Desde quando ter interesse por algum cara significa que ele pode me drogar e me estuprar desacordada? Ele poderia ser o amor da minha vida, caramba, ele poderia ser meu marido, mas o corpo ainda seria meu e o direito de consentir ou não, também.

"Nós não podemos prometer nada," o cara repetiu, e eu ouvi outra vez que eles não fariam nada.

Ao invés de gritar, eu assenti. E me levantei, dando uma última olhada na lista de nomes que ele tinha anotado, o meu, Scarlet Ridder, por último.

Como lendo minha mente, Brittany faz meu celular vibrar com uma mensagem. Ele está no silencioso, mas eu não tinha tirado os olhos dele, esperando seu aviso.

"Lobo entrando na toca."

Nosso código é até um pouco ridículo, mas consegue fazer meu coração acelerar. É agora, penso, e, como por mágica, ouço a porta se abrir ao mesmo tempo.

O duto de ar em que estou é bem pequeno, bem estreito, e eu mal consigo me mexer dentro dele. Mesmo assim, sinto como se agora toda vez que eu inspiro se reflita por ele inteiro. Tento escutar e identificar os passos dos guarda-costas do príncipe vasculhando sua enorme suíte por possíveis ameaças, mas é impossível saber onde estão e aonde vão. Até me faço parar de pensar nisso e relaxar, respirar - devagar em silêncio, - mas sem tentar ouvir mais nada.

Eu preciso de calma. Ainda que todo o plano me deixe nervosa, agora é o momento de manter a calma. Como meu pai mesmo dizia, às vezes o desespero de acabar logo e ter sucesso na missão é o que te faz falhar miseravelmente. Preciso de calma e sangue frio.

Até fecho meus olhos outra vez, respirando bem devagar e forçando meus ombros a relaxarem no pouco de espaço que têm.

Mas então eu os ouço abrindo a entrada do duto e todo o ar à minha volta fica rarefeito. Eles não podem me ver, não se não quiserem entrar eles mesmos e, pelo tamanho deles, não imagino que terão muito sucesso. O que faz meu coração parecer entorpecer no meu peito é o quão perto eu cheguei de ser descoberta.

Quando vim me esconder, pensei em ficar logo na frente da entrada do duto, para poder observar lá dentro do quarto quando eles estivessem inspecionando. No último segundo, resolvi ficar mais para trás, logo antes da última curva que ele fazia. E, por uma sorte absurda, essa decisão me salvou.

Os guarda-costas fecham o duto outra vez, e eu me ponho a respirar tão profundamente e tantas vezes seguidas, que fico até um pouco tonta.

Vamos lá, Scarlet, penso comigo mesma. Poderia ter dado errado, mas não deu. E tem outras oito garotas te esperando lá fora e cuidando de todos os outros detalhes para que você consiga levar esse plano até o final. A universidade e a família real falharam com elas, mas você não pode falhar.

Depois de mais alguns minutos em silêncio, eu ouço o chuveiro do quarto ligar. É a minha deixa para me arrastar devagar até o final do duto e sair dele.

Brittany teria encaixado bem melhor aqui. Na verdade, praticamente qualquer uma das meninas se sentiria menos claustrofóbica de estar em um lugar tão apertado. Mas eu sou a única que fiz artes marciais desde pequena por influência do meu pai. Eu sou a única que sei completar o final do plano.

Assim que chego ao final do duto e tiro a tampa devagar, como Ashlee me ensinou, o barulho do chuveiro fica bem mais alto, bem mais real. A porta do banheiro está aberta e, apesar de ficar a uns dez metros de onde eu estou, o espelho está virado para mim.

Se o príncipe me ver, tudo está perdido, completamente perdido. Não vai demorar mais de dois segundos até os guardas dele entrarem aqui e aí é adeus à minha vida, meu diploma e até meu nome. Eu vou virar a louca que entrou no quarto do príncipe e nada que eu falar vai ter qualquer valor. Aí, sim, que minha história vai perder toda a credibilidade e, infelizmente, levar as das outras meninas comigo.

Sei que preciso parar de olhar na direção do banheiro, mas não consigo, não quando estou arriscando tanto só de sair do duto. Ele fica no alto, mas perto de uma escrivaninha o suficiente para me dar certo apoio. O problema é conseguir encostar a tampa dele nela sem que eu escorregue desastradamente para a frente.

Qualquer ar que antes eu tentava inspirar devagar para de importar. Minha barriga está apertada no limite do duto, enquanto eu estico meus braços o máximo possível, tentando sentir a tampa encostar na escrivaninha devagar e mantendo um olho no banheiro.

Eu consigo vê-lo, e talvez essa seja a pior parte. Consigo ver sua silhueta no reflexo do espelho que está começando a embaçar. Ela por si só me traz tanta lembrança nojenta e aflitiva, que acabo soltando da tampa e ela cai da escrivaninha fora de meu controle.

Ainda que esteja de ponta cabeça, sinto o sangue fugindo do meu rosto e apostaria que estava branca como um fantasma. Não, não, não, é tudo que eu consigo pensar ao fechar os olhos e esperar ouvir alguém abrindo a porta com tudo para me encontrar em flagrante.

Mas ninguém entra. E o barulho da tampa do duto é amortecido pelo carpete, uma vez que ela não chega a bater em mais nada de madeira no caminho.

Nem tem por que tentar respirar fundo, quando sei que não vou conseguir. Mas, mesmo assim, me deixo parar por mais um único segundo, me obrigando a esquecer tudo que aconteceu de errado até então para não colocar o resto a perder por estar abalada demais.

É como se eu entrasse em um personagem. Sempre foi assim quando treinava com meu pai, fingia que era sua parceira e sentia como se virasse outra pessoa. Mais adulta, mais esperta, mais ágil. Menos vulnerável.

Abro meus olhos, mas eles não focam em nada, só me dão o equilíbrio necessário para eu deslizar o resto do meu corpo e apoiar minhas mãos na escrivaninha. Nunca fui muito boa em ginástica olímpica e, nessa parte, Ashlee teria sido ótima. Mas só preciso de alguns segundos, só o suficiente para apoiar meus pés na parede, enquanto dou pequenos passos com minhas mãos, e descê-los até que pudesse me colocar de pé.

Assim que estou segura, desço devagar da escrivaninha e vou até a porta, colocar na fechadura o negócio que Elena criou para não deixar que os guardas entrem. É bastante útil ter uma engenheira no nosso time, principalmente por ela ter criado outras travas para eu colocar nos demais vãos da porta.

Ainda posso ouvir o barulho do chuveiro, mas pelo menos estou fora do campo de visão do espelho. E não demoro até vestir a máscara que Elena também criou para mudar minha voz, colocando logo em cima a touca vermelha do meu agasalho e indo me esconder atrás da porta do banheiro.

Agora é só uma questão de espera. Pegá-lo saindo do banho parece ainda melhor em questão de vingança, mas tenho que me lembrar que a questão aqui não é só humilhá-lo, apesar da ideia ser maravilhosa. É conseguir justiça.

Quando ouço o chuveiro sendo desligado, preciso segurar minha respiração. Praticamente conto os passos dele dentro do banheiro, que demora mais tempo do que eu esperava para sair. Deve estar se enchendo de creme pretensioso ou se admirando igual um idiota na frente do espelho. Minha raiva borbulha dentro de mim, conforme vou ficando mais perto de confrontá-lo, raiva que eu venho cultivando e alimentando nos últimos dois meses.

Demorou um pouco para eu conseguir descobrir quem eram as outras meninas e convencê-las de que, apesar da universidade não querer fazer nada e a família real o proteger, nós podíamos tomar uma atitude. Ele não conseguirá fugir da verdade, não quando ela sair de sua boca.

Sinto meu corpo ficar inteiro imóvel quando percebo que ele está mais perto do que imaginava. Sua sessão de admiração do próprio ego na frente do espelho acabou e, quando ele apaga a luz do banheiro, é uma questão de milésimos de segundos até ele sair de lá.

O plano era atacá-lo de primeira. Assim que ele estivesse à vista, simplesmente o golpear nas costas, lhe deixar imóvel e dolorido. Mas, assim que ele passa por mim, fico paralisada.

Por alguns segundos, um pânico profundo e pesado se apodera de mim, cheio de dúvidas ensurdecedoras. O que eu estava pensando? Quem eu acho que eu sou? Por que acho que posso mesmo lutar contra um dos herdeiros reais do país? Por que achava que isso era uma boa ideia? Por que criei um plano em que eu preciso tocá-lo, quando a coisa que eu mais quero no mundo é nunca ter que vê-lo outra vez na minha frente?

Tinha sido tão fácil falar e discursar sobre vingança e justiça para as meninas, como eu explicaria que, uma vez que cheguei a encará-lo, simplesmente fiquei paralisada? Que sou fraca demais para tomar uma atitude?

Eu me odeio, por criar esperança e vendê-la para garotas que sentiram na pele o que eu senti, que entendem o que é te roubarem sua essência e te transformaram em vítima fragilizada. Talvez eu seja ainda pior que ele, por fazê-las acreditar que é possível conseguir uma vingança. E se não for? E se eu não for forte o suficiente?

É incrível a quantidade de questionamentos e insegurança que consegue tomar conta de você em tão pouco tempo. Ele vai até a cama, só isso. Já veste calça e deixa sua camiseta em cima da cama. Só. Isso. Mas é tempo o suficiente para eu querer desistir, querer me render.

Se antes eu achava que força era nunca ter medo de nada, não se deixar tomar por inseguranças, ainda que só durante alguns segundos, na hora em que ele se vira para mim, descubro que é exatamente o contrário.

É sentir suas mãos tremerem e seu peito se apertar sem ar, e, mesmo assim, partir para cima dele.

Seus olhos se arregalam, mas eu não espero mais nem um instante para lhe dar um golpe na lateral do corpo, pegar sua mão, lhe passar uma rasteira e virar tanto seu braço, que, se ele reagir minimamente, eu desloco seu ombro.

"O que você tá fazendo, seu idiota?" Ele grita, sem conseguir entender o que está acontecendo e presumindo que eu sou homem. "Guardas!" Grita em seguida, apesar de eles já estarem tentando entrar no quarto, mexendo na maçaneta sem parar.

Ao perceber que vai ter que se virar sozinho, Wolfie, como é carinhosamente chamado por todos aqueles que nunca tiveram que sentir seu toque asqueroso, tenta me puxar pela perna e eu aproveito para dar uma joelhada na sua cara.

A primeiro instante, tenho a impressão de que vai doer até mim realmente bater em alguém. Mas isso passa logo, quando eu vejo em seu rosto que ele não entende. Ele simplesmente não entende o que está acontecendo. Depois de tudo que já fez e tudo que tenho certeza que ainda planeja fazer, ele não consegue encontrar em seu cérebro minúsculo uma explicação de por que alguém o atacaria. Ele ainda acha que não fez nada de errado. E essa falta de remorso me faz chutá-lo, quase soltando de sua mão e deixando ele fugir de minha imobilização.

Ainda que ele grite de dor, posso ouvir o barulho de seu nariz quebrando, como um alarme me avisando que eu estou indo longe demais. Não é violência que eu estou procurando, apesar de descobrir que é praticamente do que preciso. É de uma confissão.

Então, enquanto ele tenta me derrubar ou se livrar da imobilização várias vezes, só para descobrir que o golpe que lhe dei no rim dói mais do que ele conseguiria aguentar para revidar, puxo sua mão o máximo que consigo para prendê-la à sua outra no aquecedor da parede.

Na hora, ele tenta sair de lá, murmurando reclamações, mas acaba grunhindo de dor e quase desloca seu braço sozinho.

Eu lhe dou as costas, tirando do meu agasalho vermelho a última das invenções de Elena, a mais simples e mais cruel: a palavra ESTUPRADOR escrita em aço, pronta para ser esquentada e marcada na testa dele.

A imagem passa pela minha cabeça com um calafrio que quase me faz tremer. Ainda assim, eu tiro o maçarico do bolso e começo a esquentá-la.

Posso sentir os olhos do príncipe no que o aguarda, ainda que não o foque, e ouço seus pés deslizarem pelo chão, tentando chegar mais perto do aquecedor, mais longe de mim, em um impulso de quem tenta sobreviver, mas está encurralado.

O calafrio ainda está mim, só pela mera possibilidade de talvez eu ter que levar aquilo até o final.

Eu não quero. Nunca quis. Nem a máscara e a touca conseguem me esconder tanto assim de mim mesma. Nem elas conseguem me fazer esquecer o quanto aquilo é repulsivo até para mim, que adoraria vê-lo sofrer.

"Sabe," começo a falar, para me distrair mais do que a ele, "é engraçado. Eles disseram que você era intocável, inalcançável." Minha voz sai estranha, mas eu sei que preciso falar tudo aquilo mais do que preciso que ele me ouça. "Eles dizem que você é perfeito, a quem todo mundo deveria aspirar. Eu vou adorar ver a cara de todos quando descobrirem o quanto o principezinho deles é podre por dentro."

Pela primeira vez desde que comecei a esquentar o marcador, deixo meus olhos encontrarem os dele. Tive até que engolir a seco para não fraquejar.

Ele abre a boca, de medo ou com a intenção de tentar gritar outra vez, mas desiste. Os guardas também já abandonaram a porta, o que me faz estimar que eu tenha mais alguns poucos minutos só até que eles tragam reforço.

Mas poucos minutos é tudo de que eu preciso.

"E você concorda, não é?" Pergunto, me aproximando, mas deixando uma distância segura de mim. Até o cabo do marcador está quente, mas a luva protege meus dedos de provas. "Você se acha perfeito. Se acha intocável, impecável. E nem sabe que cometeu tantos deslizes pelo caminho."

Suas sobrancelhas franzem, mas ele quase parece já não me enxergar mais, como se todos os seus esforços estivessem concentrados em repassar suas lembranças e procurar por erros.

Ele sabe. Ele sabe exatamente do que eu estou falando. Ainda que seja só por conseguir ler a palavra que acredita logo ir parar na sua testa, ele sabe.

"Quem será, príncipe Wolfie? Quem será que o lobo engravidou agora?" A mentira faz meu coração acelerar mais ainda do que já estava até então, junto do medo de não conseguir convencê-lo.

Mas consegui. O pânico deixa seu rosto branco de uma vez, e eu aproveito para tirar o celular do bolso e começar a gravar.

"Eu não sei do que você tá falando, você é louco," ele diz, mas não parece conseguir convencer nem a si mesmo.

"Príncipe Wolfgang," falo, mirando a câmera em seu rosto. "Você drogou e estuprou nove meninas nos últimos quatorze meses, mas nunca chegou a responder pelos seus atos ou ao menos ser julgado."

"Eu nunca fiz nada! Eu juro, eu não fiz nada!" A expressão de segurança em sua impunidade desaparece por alguns segundos, enquanto seus olhos revezam entre a câmera do celular e o marcador. "Você sabe quem eu sou?! Meus pais vão te matar!"

"Elena Rivers, outubro de 2015-"

"Não, não, não," ele murmura baixinho.

Mas eu continuo: "Hannah Bowman, novembro, 2015. Kathryn Maynard, janeiro de 2016. Lois Cooper, março de 2016. Ashlee Morris, abril 2016. Brittany Edwards, julho de 2016. Lara Han-"

"Não!" Ele dá um berro, já não aguentando não me interromper. "Eu não fiz nada! Você não pode fazer isso comigo! Eu sou o príncipe desse país!"

"Lara Hanson, agosto de 2016," não me deixo parar, nem quando tenho vontade de esganá-lo e mostrar absolutamente todas as provas verdadeiras que tenho contra ele, além da que tinha usado só para torturá-lo. "Megan Cooke e Scarlet Ridder, setembro de 2016."

"Eu sou inocente! Eu juro!"

"Desista," falo, saindo um pouco do roteiro. "A Coroa não consegue te proteger agora, não contra a verdade." Me aproximo mais dele, segurando o ferro quente na direção da sua cabeça, mas fora do enquadramento da câmera. "Você confessa o estupro de nove alunas da sua universidade?"

"Não!" Apesar de sua intenção de ter bravejado aquela palavra, ela sai como um choro, e posso ver as lágrimas escorrendo pelo seu rosto.

Lágrimas dele não valem nada. Não valem as milhares que nós tivemos que derramar de frustração, ao sentir nosso direito de sermos seres humanos e termos o mínimo de escolha sobre nosso corpo roubado. Seu medo é vaidade, é arrogância, e eu não me deixo abalar, chegando o ferro mais perto dele.

Não devo ter mais do que trinta segundos para sair dali, mas não consigo concentrar em mais nada, só nele.

"Você confessa o estupro de Elena Rivers, Hannah Bowman, Kathryn Maynard, Lois Cooper, Ashlee Morris, Brittany Edwards," enquanto falo os nomes de novo, piso com força na lateral de seu corpo, onde o tinha golpeado antes. Sei que estou me deixando vulnerável para ele revidar, mas a dor o faz gritar e parecer prestes a desmaiar. "Lara Hanson, Megan Cooke e Scarlet Ridder?"

Ele balança a cabeça, seus olhos já fechados e lacrimejando sem parar. Não consigo evitar ter certa dó e uma vontade mínima de parar. Mas então, quando eu afundo meu pé só mais um pouco e chego o ferro ao limite do que apareceria na câmera, ele fala, como se implorasse por ar:

"Tá,! Tudo bem."

"Você confessa que drogou e estuprou nove garo-"

"SIM!" Ele berra, junto com a sua dor. "Eu confesso, sim!"

"O que?" Exijo. "Vamos, não seja tímido agora. O que Vossa Alteza confessa?"

Ele aperta os dentes, em uma tentativa falha de não sentir meu calcanhar em seu rim. "Eu as droguei!"

"Como?"

Ele chora, balançando a cabeça, desesperado. "Na bebida. Eu as droguei e esperei que estivessem desacordadas."

Sinto minha raiva subindo até meus olhos e, por alguns instantes, embaçando minha visão. "E então?" Falo, mas dá para ver até nesse treco de modificar minha voz que minha determinação também levou uma porrada com suas palavras.

"E eu as estuprei, tá legal? Eu confesso," ele continua chorando, cada vez mais desesperado, e os guardas mexendo na fechadura chamam minha atenção.

Me viro uma última vez para o príncipe. "Quem tem medo do lobo mau agora?"

Um segundo. É o tempo que demoro para desligar o vídeo e usar o cabo do ferro quente para bater em seu queixo e finalmente fazê-lo desmaiar.

Colocando tudo de volta no bolso, eu abro a janela, onde uma corda já me espera. Enrolo ela em volta de mim e dou dois puxões para começarem a me subir. As meninas já estavam me esperando, cada uma vestida também com seu agasalho vermelho, e não demoram para me puxarem até o telhado. O idiota do príncipe se acha tão superior que fez questão de ter o apartamento da cobertura. Mais fácil para a gente.

"Como foi?" Lara pergunta.

"Ele admitiu?" Hannah quer saber.

Mas não temos tempo para isso agora. Temos que correr pelo terraço até o outro lado, onde Elena nos espera com uma espécie de ponte para atravessarmos para o prédio vizinho.

A adrenalina de tudo que acabou de acontecer ainda corre por mim com tamanha intensidade, que praticamente pulo para atravessar sua ponte improvisada, sem nem pensar na distância que estava do chão e no que poderia acontecer se caíssemos.

Mas não caímos. Já tivemos azar o suficiente para uma vida inteira, agora as coisas parecem estar do nosso lado.

"E aí?" Elena pergunta para mim, enquanto corremos para dentro do prédio e descemos as escadas. "Deu certo?"

"Vamos ver," falo, tirando o celular do bolso e mandando uma mensagem para Kathryn, que tinha cuidado das câmeras de segurança do prédio e entendia bem mais de computadores do que nós.

Ela me respondeu com um link.

O link do vídeo postado na internet. Príncipe ou Lobo Mau?

Quero ver ele ficar impune agora.

[4083 palavras]

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