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Capítulo bônus 2 - Longbottom-Mitrica

Olá pessoas! Será que vocês ainda estão aqui ou desistiram de mim?

Espero muito que não tenham desistido.

ESSE É UM CAPÍTULO CANÔNICO e oficial, mas também um comeback especial que explicará alguns pontos do passado e ajudará os mais esquecidos a se lembrarem de muita coisa enquanto descobrem outras tantas novas para que possamos voltar ao andamento normal! Ele fazia parte do capítulo 41, mas eu decidi separar para criar um fluxo de leitura mais agradável e achei que seria uma ótima forma de reintroduzi-los na história, mas também ajudar aqueles mais atentos a descobrirem muitos detalhes interessantes que servirão para suas teorias. Assim poderemos continuar tudo de acordo logo mais. 

Então espero que leiam e que gostem, porque foi feito cheio de carinho e dedicação para o melhor proveito que consegui pensar!

Aguardo seus comentários e espero que me perdoem pelo atraso. Realmente vou tentar me cobrar menos (mais detalhes no final para os curiosos) e lembrar que isso é para que todos nos divertimos juntos!

Então divirtam-se!

"Vocês vão processar Albus?" Augusta perguntara certa vez, sentando-se na mesa redonda e mais discreta que havia em sua cozinha (se comparada com a imensa de mogno na sala de jantar ao lado) e encarando o homem do outro lado desta.

Mas este nem pareceu ouvi-la.

O ano era 1988, Lakroff estava distraído, sua cadeira virada de forma a ter uma boa visão das janelas e da porta aberta que saia para o quintal dos fundos da mansão Longbottom. Daquela forma, ele conseguia assistir Harrison e Neville brincarem pelo gramado com suas vassouras. Nev ganhou a sua naquele dia dos Mitrica e tinha, ao que parecia, zero conhecimento de como utilizar uma, mas como queria tentar e se divertir com o amigo Hazz se mostrou mais do que disposto a lhe dar algumas instruções. O que era de certa forma irônico já que Harrison não voava a mais do que algumas semanas pela primeira vez.

Mas era Harrison, "um pequeno prodígio" pensou Lakroff percebendo que estava para surgir algo que o garoto precisasse mais do que algumas tentativas antes que pudesse dar uma aula sobre.

Ter um adulto na própria cabeça era um ponto a parte que o platinado preferiu ignorar, porque ainda o deixava tenso e inseguro. Tanto que Augusta sentiu a tensão e ela própria apertou a xícara que segurava insegura, olhando para as crianças rapidamente antes de voltar-se para o homem, incerta.

Incerteza, na verdade, era uma palavra que a acompanhava há meses. Nunca parecia voltar ao normal desde que descobrira a verdade sobre aquela figura que estava a poucos metros de distância. Era como estar dividindo espaço com um bicho papão, esperando o momento que ele assumirá a forma de seu maior medo.

Nunca se sentiria confortável perto dele, tinha certeza.

Mas era aceitá-lo, ou correr o risco de perder Harrison e ela devia muito ao garotinho, depois de deixar que aquelas coisas terríveis acontecessem sem interferir. Ele teria morrido se não fosse pelo Grindelwald, independente das escolhas de Gellert, ou Lakroff, ela precisava compensar Harry Potter por não ter visto nada, não ter ajudado antes que o pior chegasse, quando teve tempo e centenas de oportunidades mas deixou de agir, ser mais incisiva. Tudo estava bem diante de seus olhos, haviam vários sinais. Ela falhou e um lorde das trevas precisou fugir da cadeia, matar centenas, para que Harrison estivesse ali.

Ele não tinha culpa disso. Era uma vítima daquele mundo.

Augusta não tiraria mais os olhos dele e não permitiria que outro mal morasse consigo debaixo do mesmo teto, pronto para ferí-lo.

Não importa o quão monstruoso fosse o novo, por algum motivo o menino escolheu viver com ele e a Longbottom então garantiria que no menor passo em falso, estaria lá para resgatar a criança.

Teria certeza de que estava seguro.

- Você me ouviu? - questionou mais firmemente que antes. Também mais mau humorada, constatou Lakroff e acabou fazendo uma careta.

A viúva afastou o corpo, um gesto involuntário mas captado pelo homem, que agora revirou os olhos. Como se soubesse exatamente o que a bruxa vinha pensando, ainda soltou um bufo debochado e junto de um sorriso de escárnio que dizia claramente "Fique de olho o quanto quiser, no fim, você não teria poder para fazer nada", enfim disse algo. Mas não foi a resposta para a pergunta.

- É um belo dia, não? – havia tanta falsidade naqueles lábios, tanto veneno no sorriso, que a mulher se viu prendendo os punhos, tremendo diante do desejo de alcançar sua varinha e atacá-lo enquanto podia.

Ela tremeu, Lakroff tossiu, virando-se na cadeira para que pudesse voltar a olhar as crianças e Augusta quis perguntar porquê ele insistia tanto em não tirar os olhos de Harry.

"Tem receio que ele fuja?" Foi o que sua mente gritou, cheia de desconfiança, receio, raiva, mas ser antipática não ia ajudar agora.

Não com aquele homem.

Se é que alguém como ele ainda podia ser chamado de homem.

Precisava mantê-lo próximo o bastante para que visse o ataque chegando ou, melhor ainda, a oportunidade para fazer o mesmo na hora certa. Era o melhor que podia no momento e o que seus instintos diziam ser o certo. Enfrentar o perigo, mesmo que o assustasse, por aqueles aos quais se importa e precisam de você. Tal qual uma boa grifinória.

- Sobre Albus... – começou o loiro fazendo a barriga da mulher dar um salto incômodo. Não estava esperando que ele falasse algo e já estava achando que deliberadamente ignorou sua pergunta. Lakroff riu, de novo parecendo entender seus pensamentos. – Harrison queria processá-lo – contou. – Depois de tudo não é apenas esperado como, de certa forma, necessário para que uma luz seja jogada na questão e a justiça seja feita.

- Uma luz seja... que questão?

- O sistema de guardiões mágicos, só para começar – e apontou para uma das xícaras vazia na mesa.

- Fique à vontade – dispensou a mulher.

- O chá tem açúcar?

- Não, mas ali naquele pote...

- Tudo bem, eu prefiro amargo – interrompeu, pegando a porcelana e se abastecendo de uma boa dose da bebida. Ele soprou calmamente, mexendo o nariz quando a fumaça aqueceu a cartilagem e tomou um gole antes de suspirar satisfeito. – Eu fiz uma jura mágica de que não causaria mal à você, nem sua família ou mesmo Harrison – comentou baixando a xícara e colocando-a delicadamente em cima de um pires. – Eu não posso, nem vou fazer nada, mas se ficar me encarando assim qualquer um suspeitaria. Qual seu ponto?

- Você não espera que eu trate toda essa situação como se fosse normal! – reclamou com os braços abertos. – Ou espera?

- Harrison escolheu confiar na senhora, por isso nós lhe contamos a verdade – sorriu. Um sorriso gélido que atingia os ossos e os endureceu, não tinha nada de verdadeiro nele, mas esbanjava simpatia.

Augusta imaginou se aquele sorriso podia ser ensinado, ou se nascia com aquela capacidade de mentir tão bem com o corpo, enquanto se ameaçava com a alma.

- Vindo de mim isso é alguma coisa. Ser sincero, eu quero dizer. Você poderia me oferecer o benefício da dúvida em troca – brincou, soprando a bebida e dando outro gole.

- Eu o fiz, por isso ainda não o denunciei.

- Você não seria capaz. Assinou o contrato. Teria perdido a memória mesmo que chegasse perto de tentar.

- Eu daria um jeito. Eu teria que dar um jeito, jamais permitiria que... – deixou a frase no ar, olhando para seu próprio colo de forma tensa.

- Alguém como eu ficasse solto pelo mundo? – ofereceu. – O que é isso, parece até que eu não sou o jovem incrível que prendeu um lorde das trevas e o ofereceu novamente à justiça na maior boa vontade! Mesmo sendo meu pai, olha como sou...

Lakroff não aguentou mais aquilo, nem a expressão horrível que Augusta lhe fazia de julgamento, então começou a rir.

- Eu lhe dei uma chance, isso é fato. Se não o fizesse, lutaria com todas as minhas forças para prendê-lo. Você e Gellert deviam estar na mesma cela, apodrecendo para sempre – comentou com acidez e desprezo.

O Mitrica, entretanto, apenas sacudiu a cabeça com descaso.

Qualquer um que visse aqueles dois juntos poderia ter uma certeza: não havia uma única parte que um gostava no outro. A simples companhia parecia incomodar.

- Dito isso, que certeza eu tenho, milady, que neste momento você não está fazendo exatamente isso? Caçando uma fraqueza, uma falha, uma forma de me parar? - questionou o homem, levantando uma única sobrancelha, sua expressão muito parecida com uma que já viu tantas vezes em Hazz.

Augusta ficava caçando coisas assim desde o teste de sangue que comprovou a linhagem de Lilian. Semelhanças, quaisquer que fossem. Eles pareciam tão diferentes, mas Harry puxou claramente aos Potter e Black, nem por isso ela não via a cada visita alguma coisa a mais.

Os olhos claros de cílios grossos e marcados foram a primeira coisa, mas tantas outras vieram depois e a faziam se impressionar que mesmo convivendo a pouco tempo, tinham trejeitos que pareciam ter sido aprendidos com anos juntos. Talvez a tia do menino tivesse alguns também? Assumidos de Garden, o filho de Gellert?

O sangue Potter matara muito do que poderia aparecer em Harry daquela parte em especial de sua família, mas ainda havia sobras notáveis. Um brilho reconhecível para um olhar atento.

Um brilho Grindelwald.

Harry Potter era um herdeiro da linhagem Grindelwald.

O legítimo e próximo da sucessão para lorde... Aquilo era insano por diversos motivos.

- O que quer dizer com isso? – perguntou Augusta.

- Tem algo que, e você de certo deve recordar pois estará associado para sempre à ele, Gellert sempre dizia – Lakroff disse e o nome fez Augusta fazer uma careta, que na mesma proporção fez o loiro tornar a rir dela. Já estava se cansando do deboche constante daquele bruxo. – "Por um bem maior", todos sabem – a mulher foi abrir a boca, mas ele a impediu de interrompê-lo com um olhar de gelar a espinha. - Se me permite usar das mesmas palavras: "por um bem maior" eu fiz o que fiz, por Harrison eu estou aqui e farei o que for necessário, pois não existe algo que soe maior que ele na minha vida neste momento.

Augusta mordeu o lábio para não perguntar naquele instante sobre os filhos que aquele homem havia adotado. Se eles não deveriam estar nessa lista se havia se disposto a lhes ser um pai. Ela sentia que sabia a resposta e a temia.

- Por um bem maior – continuava ele. – Você decidiu que assinar o contrato e me vigiar, tentar achar uma brecha nele e eventualmente me destruir, é o melhor a ser feito. Você quer "salvar Harrison" e, ouso dizer diante da tão conhecida nobreza grifinória, meus filhos adotivos também – Augusta estreitou os olhos. – Nenhum de nós dois realmente confia no outro, nem está totalmente confortável com isso, mas estamos aqui por algo que acreditamos, então podemos continuar fingindo. Podemos interpretar essa peça muito bem, tão bem que o outro nem desconfie, nem as crianças que não precisam saber das lâminas que escondemos nas costas para apunhalar um ao outro, se necessário, e nem ninguém. Podemos enganar o mundo e assim continuar em uma distância perfeitamente segura do outro, enquanto aqueles que queremos ver bem, estejam sorrindo e brincando no jardim.

Naquele instante, um dos meninos adotados por Lakroff quase foi atropelado pela vassoura de Harrison, que corria uma distância e voltava apenas para mostrar a Neville que "era fácil" e que ele deveria ter mais confiança, que o amigo o resgataria se caísse apesar de tudo, pois era rápido.

- Mantenha os amigos próximos – murmurou Augusta baixinho e Lakroff acenou.

- Os inimigos mais ainda – concordou. – Fique à vontade para tentar ser mais inteligente que eu, minha querida, mas gostaria de lembrar o lado que eu estive na guerra "pelo bem maior", as coisas que fui capaz de fazer por isso, e perguntar se tem certeza de que quer comprar essa briga. Ainda tem chance de baixar a cabeça e fingir que nunca quis me ter como inimigo.

- Eu não abaixo a cabeça para alguém como você.

- E eu destruí outros maiores que você, com a mesma arrogante tolice.

- Seu tipo não me assusta. Seu lado perdeu a guerra e continua perdendo sempre que tenta nos enfrentar. Um grifinório nunca deixa de comprar uma briga na promoção, lembre-se disso, não importa minha probabilidade de vitória.

"Assim seu filho virou um vegetal" pensou Lakroff, maldosamente, mas apenas deu outro gole em seu chá. Já tinha decidido que sua nova identidade não seria o mesmo merda de sempre e segurar a vontade de destruir as pessoas com palavras fazia parte.

No lugar da maldade, ele apenas sorriu o mais dócil que conseguiu e acrescentou:

- Respeito isso. Os princípios de sua casa, quero dizer. Sabe, Durmstrang não dá tanta importância a isso fora da escola. Fora dos muros da fortaleza, somos a mesma coisa, alunos do Instituto de Artes das Trevas, uma unidade de elite e força.

- Pensei que você não teria estudado na Durmstrang, porque não sabiam que você era sangue-puro - comentou acidamente, lembrando da mentira que era contratualmente forçada a contar. Ainda acrescentou lentamente: – "Lakroff Mitrica".

O loiro riu:

- Oh sim, claro, falei o nome errado. Que confusão da minha parte! - brincou, nem se esforçando com aquela mentira. Depois que o sorriso foi se desfazendo, entretanto, voltou ao clima sério. – Acha que é uma bruxa melhor que eu para escapar de um contrato feito por mim? Mesmo? – questionou com uma expressão debochada, quase de pena.

Outra atitude que irritou muitíssimo Augusta.

- Já disse que daria um jeito. Eu preciso dar se você acabar falhando com Harry, o que acho que vai. Porque eu, eu jamais falharei com ele novamente. Não me perdoaria – a última parte saiu em um sussurro dolorido que quase fez o homem simpatizar consigo.

- Oh, com isso podemos concordar – seus olhos azuis brilharam muitíssimo, sua voz ficando mais grave. Ele se inclinou na mesa para se aproximar mais de Augusta e cada sílaba para a bruxa foi como sentir-se caminhando um passo mais adiante num deserto de tundra nevada. – Eu nunca mais vou falhar com Harrison. Nunca vou me afastar dele, deixar que o mundo o machuque, deixar que minhas escolhas o afastem. Eu me colocarei a sua frente como um escudo, serei por ele tudo que jamais fui por qualquer um. Até por mim mesmo.

- Já me jurou isso, Grindelwald, agora foi você que esqueceu?

- Mitrica – corrigiu, pois nem queria chegar perto de ser associado com Gellert. – Mas pelo jeito a senhora ainda não acreditou nas minhas palavras, uma vez que estou tendo que reafirmar. Entretanto, estarei repetindo enquanto a mensagem não for fixada. Eu sou tudo que Harrison precisar, quiser ou ordenar. Eu fiz e continuarei fazendo tudo por ele, passando por qualquer coisa...

- Como se você não fosse o tipo capaz de passar por qualquer coisa desde sempre – revirou os olhos, tentando esconder o medo que sentia em cada junta, cada músculo tenso com a voz intensa do loiro.

Com a magia dele, que parecia deixar o ar denso e rarefeito.

- Aí que você se engana, milady – riu, só que dessa vez foi muito diferente de todas as outras.

Quase a fez sentir falta da atitude zombeteira de antes. Era uma risada baixa e agoniante para os ouvidos, o som de uma ameaça bem mais do que uma diversão contida.

E seus olhos eram uma faca apontada que deixou a bruxa ainda mais rígida.

– Sempre houveram coisas pelas quais eu nunca passaria – cada sílaba cortou o ar. – Você acreditando ou não, mesmo na guerra eu tinha meus limites, claro que... Limites podem ser ultrapassados diante de inimigos que precisam ser eliminados. É parte de ser um dragão, já que gosta de se colocar tanto como leoa. Mas Harrison? Ele tem minha total devoção e nada mais forte que a devoção de um dragão, isso lhe garanto.

- Ele tem meu amor.

O lorde Mitrica piscou diante daquilo. Ficou um tempo parado, encarando aqueles olhinhos cheios de medo que não se desviavam dele em desafio, cheia de uma força própria. Coragem. Não era um adjetivo que definia ausência de medo ou temor, mas enfrentar aquilo que te assusta de frente, exatamente como estava acontecendo.

Ele poderia se sentir satisfeito de ser temido. Houve um tempo que era algo que almejava, mas agora estava mais interessado naquele olhar de bravura.

Nobreza, coragem, determinação, ousadia. Os princípios da casa vermelha de Hogwarts e os sentimentos que rondavam aquela mulher.

"Grifinórios são tão irritantes" pensou, ainda se lembrando de James e Lily, que tinham aquele exato olhar e que se achavam capaz de enfrentar o mundo pelo que acreditavam "Se vocês só parassem de arriscar suas vidas como um bando de tolos..." suspirou, uma dor latente no peito atingindo o vazio deixado pela ausência dos parentes.

"Para pessoas que insistem tanto em prezar por toda e qualquer vida, vocês tinham que parar de arriscar a própria e valorizá-la na mesma intensidade que estão dispostas a jogá-la fora pelos outros".

Teve que piscar para conter as lágrimas e se focar no presente. Não na gentileza, sagacidade e firmeza de Lilian ou na atitude travessa de quem amava enfrentar um novo desafio e na coragem latente de James. O incomodava ver algo deles naquela mulher irritante na sua frente.

Toda vida era igual e valia a pena ser vivida.

Mas um grifinório que se julga numa posição mais forte que alguém que precisa de ajuda oferece a sua em troca à morte. Era insano. Eles não estavam vendo que aquela conta não batia? Se todos eram iguais, eles tinham que se dar a chance de viver a própria, parar de se arriscar para salvar o mundo de uma guerra, se esconder e viver a própria. Deixe que cada um enfrente a própria batalha!

Síndrome do herói insuportável!

Lhe tirou tudo...

- Que bom então – murmurou, desviando o rosto para o jardim. – Mais alguém que se importe com ele seria bom, mas saiba que devoção nada mais é que minha forma de demonstrá-lo. James e Lily não o receberam o bastante, uma pena, eu estava em uma fase péssima – Augusta estava pronta para fazer algum comentário ácido sobre isso, mas ele já continuava. – Também não falharei com essa família novamente – isso a calou. – Só me restou Harrison e meu amor à ele sempre estará lá, com minha completa devoção não deixando que nada mais o machuque. Não importa o que tenha que ser feito para garantir isso.

- Devoção não é uma forma saudável ou adequada de amor. Ainda mais para uma criança.

- É a que eu conheço. Já garanto ser melhor do que a que me ofereceram na maior parte da vida.

- Vai justificar suas ações do passado por falta de amor na infância?

- Talvez?

- Você não pod-

- Podemos os dois oferecer amor a esse garoto, Lady Longbottom! – reclamou firme, já impaciente. – Impedi-lo de se tornar tão ruim quanto eu ou os demais membros de sua família já se mostraram bem capazes quando não possuem vidas boas. Ele já não teve um começo bom, que tal nos dedicarmos a ele? Verá com o tempo que estou sendo sincero. Talvez também perceba na mesma eventualidade como pode confiar nas minhas palavras e virá para o meu lado.

Augusta quem riu agora, uma risada sem animação e com ar saindo pelas narinas totalmente incrédula.

- Claro – concordou sem verdade alguma.

- Ambos não precisamos ser amigos. Estamos protegidos pela magia, limitados por ela. Não pretendo fazer nada diferente do que jurei, então não estou preocupado. A senhora deveria considerar sua idade e fazer o mesmo.

- Considerar minha idade?! – ralhou irritada, a voz aguda ou ponto de incomodar os tímpanos e fazer o loiro se encolher com o som. – Que quer dizer com isso?!

- Suas chances de me vencer quase caem para zero considerando os limites de seu corpo.

- Você é mais velho que eu! – reclamou se levantando.

- Mas não pareço – caçoou. – Você parece ter pelo menos três vezes a minha agora - ainda acrescentou, marcando bem cada sílaba. - Velha.

- Moleque mal educado! – gritou Augusta. – Ninguém te ensinou modos, não?

- Meu pai pode ter tentado em algum ponto da encruzilhada entre ser um merda, com a rua do psicopata, com a avenida babaca, mas daí não ouvi enquanto o amaldiçoava mentalmente e torcia por sua morte – sorriu com todos os dentes, transformou o gesto em algo travesso em seguida, tal como uma criança prestes a fazer algo que sabia que não devia. – Na verdade, eu pareço ter idade para ser seu filho.

- Grande coisa – revirou os olhos – Você trapaceou!

Dessa vez a risada que Lakroff tentou engasgar foi sincera, mas ele falhou e logo estava rindo abertamente.

Era tão diferente do outro som, tão mais acolhedor, simpática de verdade, quente como o abraço de um urso em comparação com a tempestade de neve que seu dono podia oferecer.

Ainda era tão mortal quanto um urso, então podia ser uma boa comparação, pensou Augusta, já associando o Grindelwald com a imagem de um urso polar bem mais que à uma mariposa como o resto da família.

- Sim. Eu trapaceei – disse Lakroff. – Entretanto, nas artes das trevas chamamos isso de "saber usar os recursos".

- Artes das trevas? Isso não era... Você usou uma– mas ela fechou a boca de repente em um pulo assustado, crispando os lábios em seguida.

O bruxo sorriu com o canto dos lábios, inclinando a cabeça com conhecimento de causa. O contrato estava funcionando bem e Augusta não conseguia dizer coisas que denunciavam muito a verdade por trás dele. Dizer como ele trapaceou a própria idade e a morte decididamente era informação sigilosa.

- Oh, com inveja querida? Se é assim, posso tentar fazer uma nova para você e trapaceamos juntos, cuidando dos nossos netos, bisnetos e os que vierem depois. Nesse caso poderemos ser amigos? – a zombaria que vinha com a oferta era tão latente que Augusta realmente tremeu tentando se impedir de arremessar a xícara na cabeça daquele homem.

- Vocês vão ou não vão processar Albus Dumbledore? – perguntou cruzando os braços e desviando daquele assunto que já estava lhe dando dores por causa do maldito papel que a fizeram assinar.

Também porque talvez algo mais sério o fizesse parar de ser tão malditamente irritante.

O lorde Mitrica manteve seu olhar nela, seu sorriso sumindo aos poucos, realmente tomando uma postura mais concentrada agora e tomando um último gole antes de decidir entrar naquilo.

- Harrison acha que a autorização para que Albus seja o guardião mágico de uma criança bruxa deveria ser caçada.

- Eu entendo o menino – Augusta murmurou, agora também olhando as crianças brincando. Harry estava de ponta cabeça pendurado em sua vassoura, Neville tentava levantar a sua. – Aquilo é perigoso... –e já foi se levantando preocupada.

- Eu coloquei um feitiço de aterrissagem suave neles. Mesmo que caiam, vão apenas ignorar a gravidade nos últimos centímetros de proximidade com o chão e então cair suavemente.

- Nunca ouvi falar desse feitiço...

- Artes das trevas não são de todo ruim, não acha? – questionou, astuto.

- Como ele se encaixa nas artes das trevas? Não parece ser algo que um de vocês desejaria ou teria uma emoção por trás que-

- Eu não quero que meu neto se machuque. Eu desejo isso com intensidade, eu o amo e isso é uma emoção forte – Augusta encarou Lakroff totalmente descrente e ele bufou, revirando os olhos. Daqui a pouco eles alugaram espaço em sua nuca, de tanto que estavam visitando aquela área. – Já que insiste em ter uma visão antiquada das artes sombrias, para lançar um feitiço desses é preciso magia de sangue. Cortei minha mão e fiz uma runa na nuca de cada um com meu próprio sangue. Funciona enquanto a runa estiver lá. Então também fiz um feitiço para deixar duradouro. Eu sinto, sempre que eles caem e sou avisado do perigo. Para uma mãe, é o suficiente para entrar em pânico se a sensação de queda durar um pouco mais do que devia. Você já sonhou que estava caindo de uma grande altura? Teve aquela impressão de gelo na barriga?

- Sim.

- O mesmo. E eles podem detestar se forem descer uma escada, encontrarão certa... dificuldade em fazer no tempo normal. Crianças na idade deles no geral detestam esse feitiço e que suas mães continuem usando, porque é feito principalmente para bebês.

Augusta cobriu a boca com seu próprio chá, para que o outro não visse seu sorriso. Aquele feitiço era muito útil e decididamente era engraçado imaginar-se colocando em um filho já bem mais velho e assistí-lo ralhando sobre tratá-lo como criança. O lorde Mitrica, entretanto, notou nos olhos da mulher e sorriu de volta.

Aquele foi o momento mais agradável e simpático que ambos tiveram em semanas. Augusta notou e pigarreou, voltando a expressão antipática de antes:

- Eu entendo o desejo de Harry...

- Harrison – corrigiu Lakroff. – É como ele quer ser chamado agora.

Augusta insistindo em chamar o menino de Harry já o estava incomodando, como uma coceirinha na perna quando se está com uma calça de tecido muito rígido. Ainda mais se estavam justamente falando sobre respeitar os desejos do garoto!

- O nome que a mãe deu a ele é Harry e ele não me corrigiu – contestou.

- Porque não quer incomodar a senhora ou que o julgue! Mas não acha que você deveria respeitar a escolha dele ao ser renomeado?

- Perguntarei diretamente a Harry.

- Faça como desejar.

Os dois bufaram e lá estava. A tensão voltara. Augusta sabia, sua vida nunca mais seria a mesma. Estaria sempre tensa. Jamais se acostumaria com aquele homem, repetia mentalmente, mas talvez não precisasse se encontrasse uma falha naquilo tudo. Então estaria bem longe e ele onde não podia machucar ninguém.

- Você consegue não me interromper de novo? – questionou, cruzando os braços.

- Talvez? – provocou o bruxo.

- Na próxima, não lhe ofereço chá.

- Já é uma espécie de gentileza. A maioria teria pensado em oferecer, mas envenenado era mais adequado.

- Gostei da ideia, obrigada.

Ambos se encararam, então riram, por trás de suas próprias xícaras e Lakroff mais ainda ao se lembrar que a sua estava vazia.

Ele precisava de mais.

- Nós vamos processá-lo. Mas não agora – enfim ele respondeu.

- Quando então? E por que não agora que as provas estão cicatrizando em sua pele?

- Exatamente por elas ainda estarem cicatrizando. Processar Albus só fará com que joguem álcool em cima, ou pior, as rasguem de forma irreversível.

Augusta entendeu bem que Lakroff não estava falando do que era físico e visível em Harry naquele momento e se sentiu mal. Afinal, desta vez, teve que dar razão ao outro.

- Também acho que faremos melhor esperando quando as pessoas estiverem mais próximas da verdade sobre ele. Quando não tivermos de lutar contra o "campeão da luz", mas um bruxo qualquer.

- Verdade sobre ele? Bruxo qualquer? – questionou intrigada. – Albus é um símbolo para a nossa sociedade, ele nunca seria colocado como bruxo qualquer. O que quer dizer com isso?

- Albus é, sem dúvidas, uma figura importante – comentou o loiro, mais uma vez colocando seu copo no pires. – Denunciá-lo por negligência implica que Harrison teria que revelar muito de seu passado, seria uma experiência invasiva e dificilmente acreditariam nele, ainda mais com o meu nome envolvido logo de cara. Eu desacredito a história de que o lorde da luz deixou o menino que sobreviveu quase morrer.

- Como desacredita? Eu acreditei.

- Porque você conhece Harrison. Porque viu, mesmo que pouco, o que estava acontecendo e sofreu por todos os dias que ele desapareceu sem saber como encontrá-lo, se martirizou quando viu as novas e terríveis cicatrizes. Tem uma visão enviesada, Lady Longbottom. Suas emoções estão afetando a lógica, porque nós sabemos como o tribunal de denúncia é difícil. Ainda mais contra um lorde da importância de Albus.

[N/A: Enviesada. adjetivo 1. Torto; que está retorcido; que não é reto; que se encontra de modo inclinado. 2. Afetado por um viés, influenciado, não parcial e possivelmente incorreto. [Figurado] Entortado; direcionado de modo errado ou inadequado: contrato enviesado. [Figurado] Virado do lado contrário; do avesso].

- Tenho certeza de que ele próprio assumirá a culpa quando perceber o que suas ações causaram...

"Puta merda" praguejou Lakroff mentalmente enquanto usava de todas as suas forças para não transformar o bufo que saiu incontrolavelmente se tornasse um grito indignado "Alguém me mata. A burrice das pessoas é tão grande ou Albus é realmente muito bom adestrando ovelhas?" e também evitou que sua cara de nojo e descrença ficasse tão marcada.

Não adiantou muito, pela expressão que veio de Augusta.

- Albus é uma boa pessoa! – ela reclamou. – Não forçaria Harry a um tribunal horrível e invasivo se contássemos o que suas ações causaram. Ele-

- Ele pode perder o cargo de diretor por isso! Seu prestígio, seus apoiadores, sua influência política e tanta coisa! Albus poderia ser o responsável pelo herdeiro da família que salvou o mundo mágico ter morrido na mão de trouxas! Isso poderia revitalizar a guerra por parte dos políticos que se livraram e ainda estão no ministério escondendo a marca negra com um terno de linho chique. Todos ainda estão sensíveis, essa história jogaria uma bomba nos salões e votações que poderia destruir tudo que Albus Dumbledore vem tentando construir... do jeito preguiçoso dele – acrescentou a última parte baixinho. – Entende como não é simplesmente um pedido de desculpas que vai resolver?

- Mas ele entenderá que errou! Só porque você jamais assumiu a culpa por seus crimes sem ser forçado a isso, não quer dizer-

- Quer dizer que você acredita mesmo que ele voluntariamente se entregará? Me poupe! Ele não vai querer arcar com as consequências, pois não julgará que compensam o perigo que podem gerar! Seja menos ingênua, por favor! Acha que Albus acreditará que fazer justiça por Harrison é mais importante do que sua posição como lorde da luz no tempo pós guerra em que estamos vivendo? "Onde as pessoas precisam que sua esperança seja mantida, seus pilares continuem firmes, para que não desistam da luz e da reconstrução do mundo como o conhecíamos", coisas assim?

Augusta desviou os olhos, incomodada demais em como aquelas frases pareciam tanto com coisas que Albus diria. Como ela o via perfeitamente defendendo esse ponto de vista, com aquele olhar de bom velhinho.

Mas ele estaria sendo sincero. Pensando no que era melhor para todos e como ajudar o máximo de pessoas, não apenas querendo tirar vantagem para não ser acusado de algo. Estaria lutando por Harry também, de certa forma, afinal era seu mundo e...

- Se acredita tanto nisso – disse Lakroff frustrado. – Vá lá. Diga a ele tudo pelo que Harrison passou e mande que entregue sua autorização para ser guardião mágico. Diga que é tudo que Hazz quer pelo que passou. Pelas tentativas de assassinato da própria família. Diga para anunciar ao ministério que esse é o motivo que está se retirando, assim não insistiriam mais para que ele assuma uma criança e veja sua resposta. Se for qualquer discurso eu vou te resumir a ideia: Harrison, apenas, não vale tudo que se poderá vir depois disso. Manter esse segredo é por um bem maior.

- Albus não diz isso! – reclamou a mulher vermelha de raiva. – Você s-

- Ele diz! Ele sempre diz isso, nem que seja apenas para ele! - reclamou mais irritado ainda e, pela primeira vez, disse alto.

A lâmina de gelo que era sua voz crescendo de tamanho, intensidade, sua magia fazendo Augusta sentar-se assustada.

- E se não usa as palavras, usa as ideias! Albus sempre está fazendo "escolhas difíceis", fazendo "sacrifícios" pelo que acha certo, mas envolve o que ele pensa do mundo e vocês que o seguem apenas continuam ouvindo como verdades universais e sacrificando outras coisas que para outras pessoas são importantes, mas daí não importa, porque não é pelo bem maior!

- Não é assim – disse, porém mais receosa, temendo muito mais a raiva daquele homem, do que qualquer coisa até então, mas finalmente entendendo parte do que incomodava tanto nele: apatia.

Ele era apático na maior parte do tempo. Por isso frio. Vazio. Mas agora havia calor em sua voz, o calor gerado pela pele sendo queimada pelo gelo que saia dele.

- Não? A vida de Lilian e James não foi por um maldito bem maior?!

- Essa é uma comparação ridícula! – ela aumentou o tom de voz. – Dumbledore não pediu para que eles- ela se calou, olhou para fora de repente lembrando que as crianças podiam ouvi-los e que, decididamente não deviam. Por sorte, estavam longe demais para ouvir, não haviam notado o rumo da conversa ou a agitação dos mais velhos, mas mesmo assim sussurrou, tentando se acalmar. – Ele não pediu pelo sacrifício deles.

- Dumbledore pediu para que entrassem na ordem aos dezessete anos. Eram crianças e foram coagidas por seu diretor a entrar na guerra contra adultos com o dobro ou mais de experiência porque "era certo"? Certo usar pessoas tão jovens? Não as autoridades ou qualquer um que não fosse sacrificar sim sua vida, afinal que vida qualquer um que entrou jovem naquela organização dele teve? Todos perderam suas vidas de um jeito ou de outro, seja para a morte ou para as circunstâncias. Nenhum viveu de verdade, nunca, não depois de passar por uma guerra tão jovem, ver o que viram, aguentar quem conheciam morrer nas suas frentes um por um.

- Dumbledore não tinha escolha! Estávamos em número menor, precisávamos de apoio, a resistência estava perdendo.

- Não teve escolha senão pedir para pessoas que não estavam preparadas?

- Ninguém estava. Era isso ou deixar Voldemort ganhar.

- Entende como "bem maior" é abrangente então? Vocês morrendo na guerra era um bem maior que a vitória de Voldemort.

- Claro que era! Mas você não entende! Seus princípios não são os nossos, você-

- Claro que não são, eu nunca vou achar que sacrificar Harrison é melhor que qualquer coisa!

- Ninguém está falando de sacrificá-lo!

"Ainda" pensou Lakroff muitíssimo irritado, mas apenas respondeu:

- Já fizeram isso quando lhe tiraram os pais e boa parte da infância com aqueles tios! – bufou, se jogando em seu assento.

Augusta também bufou. Irritada, frustrada. Aquele homem nunca entenderia. Ele tinha uma lógica torta e apenas odiava Dumbledore, então parecia uma discussão tão inútil. Já estava pronta para mudar de assunto quando ele murmurou:

- Você já viu como um tribunal de abuso doméstico ou de assédio é terrível?

A frase a assustou um pouco.

- Já - sussurrou.

Claro que já. E tão carregada como saiu sua voz, ficou claro que sabia o que ele diria, mas ainda quis reforçar:

- Para a vítima bem mais do que o filho da p- Lakroff se interrompeu, então tossiu e continuou mais calmo. – Aquilo é tortura. Uma das piores e ainda por cima assistida. O mundo é cruel e injusto a maior parte do tempo, mas nada parece mais frustrante do que ver uma pessoa querendo desacreditar outra em um tribunal e usando justamente a fraqueza que você colocou nela após anos de abuso psicológico e físico para desmontá-la e impedi-la de continuar a lutar. Mas é isso que acontece. É feio e terrível.

"A justiça funciona com a teoria de que todos são inocentes até que se prove o contrário, assim a vítima é forçada a uma experiência traumática de reviver, reviver e reviver o que passou para tentar fazer com que as pessoas punam o culpado, mas nisso ela está sendo punida. Várias pessoas, vendo aquilo que muitas vezes você tem vergonha. Então sendo desacreditada, desencorajada e cruelmente julgada até a exaustão porque a justiça, de novo, prioriza dizer que o culpado é inocente até que se prove, várias, várias e exaustivas vezes que ele é realmente condenável. Afinal, além da própria lógica de como funciona o direito, ainda existe a natureza humana em acreditar que ninguém seria capaz de causar um mal como o que se está julgando, mas alguém é capaz de inventar. A natureza humana de evitar o que o assusta: ela mesma em sua pior forma.

"Então, depois de toda a dor que você será submetido em um local como esse... A penitência pode não ser nada. Pode não bastar por toda a dor que se passou. O culpado pode receber uma advertência, alguns anos presos, enquanto você receberá uma vida na terapia com pessoas te lembrando daquilo tudo, afinal nunca deixarão alguém famoso como Harrison esquecer. Não deixam esquecer nem a morte dos pais, tratam como algo bom! Você quer que Hazz deixe o profeta diário mostrar para o mundo fotos do corpo queimado dele? O mesmo que fez eu destruir todos os espelhos da casa porque não suporto o olhar que ele dá para aquelas coisas, ou como desvia deles? Ou pior: quer que as memórias dele sejam mostradas para o mundo? Porque vão mostrar para o mundo todo, é a luta jurídica do lorde da luz contra o menino que sobreviveu. Será um circo. Então mostrarão a todos ele apanhando, sendo chamado de coisas horríveis pelos tios e assim não terá uma pessoa nesse planeta que não saberá as palavras que mais o atingem? Mais o machucam?

- Eu não podia deixar de me envolver, ele literalmente ia morrer, mas agora sou um problema além de todo o show de horrores que sempre é uma acusação infantil contra um adulto. É cruel e difícil. Advogados, eu repito, irão tentar destruir Harrison por dentro, usar o trauma contra ele para fazê-lo desistir ou falhar porque é a forma mais fácil de ganhar e é isso que estão pensando. Não em justiça, mas ganhar. Um bom advogado não quer saber se seu cliente está certo ou errado, apenas como provar que está sim certo. Você sabe que é assim e se não, talvez devesse ir atrás de pesquisar um pouco. Só não recomendo se quiser ter uma boa noite de sono.

- Eu sei – respondeu a mulher séria. – Eu... sei que é assim.

- Então me entendeu. Harrison é forte, o menino mais forte que já tive o prazer de conhecer, mas não quero que ele precise ser forte. Quero que faça parte de sua personalidade, não que seja uma necessidade. Harrison merece uma infância adequada, longe de tudo isso, ter o que não teve, superar esses traumas. Não estou falando de esquecer, mas ficar revivendo isso em um tribunal de não sei quantos anos? Sendo desacreditado por advogados babacas que ninguém nunca apontará o dedo e dirá "você está sendo mal", porque todos vão ser influenciados a acreditar que eles são os mocinhos, que são os bruxos da luz enfrentando uma criança que foi influenciada pelas trevas?

"A vida de Harrison já virou um show para essas pessoas que o parabenizam por algo terrível como ter sobrevivido a um massacre orquestrado na sua frente, elas perderam há muito o senso. O quanto estão machucando o menino não importa, não para os jornais, não para o tribunal. E você pode alegar que então eu devia tê-lo deixado com outro, se sabia que o nome Grindelwald podia atrapalhar tudo isso, mas eu não posso. Não posso perder a minha família de novo. Eu já a perdi três vezes! Essa dor eu simplesmente me recuso a carregar! Não posso deixar que eles vivam distantes porque penso que sou um problema e que seriam melhor sem mim, porque não foram. Garden morreu, Lilian morreu, Harrison foi torturado por anos!

"Eu deixei Garden, mesmo que não totalmente intencional, pois foi a consequência das minhas ações, eu o afastei, então depois ignorei tudo que queria dizer para Lilian porque estava cansado de lutar contra o inevitável, eu não fui atrás de Harrison no primeiro instante, deixei as rodas do destino girarem. Fiquei parado, quando mais do que nunca devia ter persistido. Minha presença pode não ser perfeita, mas minha ausência fez o que fez e eu podia ter impedido. Tudo isso, eu podia.

- Tenho certeza ou não, eu aprendi e esse é um corte profundo e eterno no meu coração, aprendi que me arrependo bem mais de ter deixado de tentar, do que de toda a merda, sangue e destruição que fiz quando tentava. Quando estava vivo de verdade e não apenas existindo, eu falhava, mas a dor foi muito menor. Eu prefiro me arrepender pelo resto da vida das decisões tortas e das consequências das tentativas fracassadas, do que continuar sentado no canto de um quarto escuro esperando a morte! Não vou sair de perto de Harrison e não quero que ele tenha menos do que a vida perfeita que eu possa oferecer. Se o ditado está certo, ninguém melhor para fazer algo perfeito, do que você mesmo.

Augusta ficou em silêncio, ouvindo aquele discurso, sentindo seu coração acelerar, julgando a si mesma e sendo condenado por sua tolice em... acreditar.

Mas ele parecia tão sincero agora. Tão apaixonado em cada palavra de forma que viajava nelas, nem parecia mais que estava dizendo aquilo para a Longbottom, era como se tivesse se perdido em sua própria verdade, em seus próprios pensamentos e os recitasse apenas para lembrá-lo de sua própria convicção. A qual estava mais do que firme. Ele parecia se agarrar àquelas palavras, no arrependimento latente, na promessa para si mesmo de que não teria sensação semelhante de novo e na certeza de que estaria com Harry.

Parecia tão real que Augusta quase aceitou que sim, aquele monstro podia se importar com algo que fosse tão puro quanto um amor fraternal, e que estava disposto a dar isso ao pequeno Potter. Mas ela negou com a cabeça, afastando a ideia. O movimento pode ter sido interpretado errado, porque Lakroff a encarou com mais intensidade ainda ao acrescentar:

- Escute. Vou fazer da vida desse menino tudo que a minha ainda puder oferecer. Não importa o que eu tenho que sacrificar ou conseguir, e você sabe disso! Você teme, o que sou capaz pelos meus objetivos, então saiba que eu nunca estive tão motivado. É melhor temer mesmo. Albus falhou com Harrison, deve ter falhado com mais pessoas e nós vamos achá-las, sei que eventualmente outras falhas começaram a escorrer por debaixo daquelas capas coloridas e as pessoas verão. Pode demorar, mas ele eventualmente vai mostrar para todos do que é capaz, ou do que não é, até lá eu e Harrison ficaremos de olho. Não deixarei outra criança se machucar se for possível, mas não vamos arriscar o pouco de paz que meu neto conseguiu depois de tudo por vingança rápida. Não só isso, eu sei como a mídia e pessoas em um lugar como o ministério funcionam, eles nunca admitirão que estão errados ou mudarão sua forma de pensar e ver o mundo, eu sou filho de Gellert, serei a escapatória perfeita sempre para arruinar a imagem de Harrison que "foi influenciado", "controlado", "está mentindo por causa das trevas", ou pior ainda: quem o feriu fui eu. Posso ser preso e ele...

- Eu cuidaria dele – garantiu Augusta.

- Sério? Precisamos ir tão longe?! – reclamou levando a mão à têmpora – Ferir o coração, a imagem e a alma de Harrison tanto quanto destruíram o corpo e a mente por todos esses anos? Tudo isso para me tirar a guarda? É até aí que a sua lealdade de leoa vai com meu neto, até uma oportunidade de jogá-lo na cova de sangue sugas que é o ministério para uma justiça falha e cruel? – seu rosto demonstrando algo muito parecido com o fim de qualquer luz, sua voz, o fim de qualquer calor. Ele era o negativo, o zero absoluto ou... oco.

Como uma boneca de porcelana. Era uma arma bonita de se ver, vantajosa de ter, mas tenebroso para outros. O que tinha dentro era tão ruim quanto a premissa prometia. Uma Invernia, tempestade não de granizo, pois era algo muito mais sutil. Lakroff tinha apenas flocos, mas que pela quantidade e intensidade dos ventos arrancava a pele do corpo, queimavam as próprias feridas abertas por ela, arrebentavam os músculos congelados quando se tentava movê-los e cerravam cada parte do corpo descoberta.

Seu olhar era uma promessa de um túmulo branco.

Ele levou a mão ao cabelo, puxando os fios mais compridos para cima, revelando aqueles menores por baixo e criando um topete por alguns segundos.

Augusta arfou, tensa com a presença à sua frente. Um bruxo, um homem sim, mas também um perfeito lorde das trevas.

As pessoas o chamando assim ou não.

- Harrison é meu. - proclamou.

A Longbottom reconheceu aquele tom de voz característico de Gellert Grindelwald naquele momento. Se lembrava dele melhor do que esperava, mas não era de se estranhar. Enquanto a nova geração temia Voldemort, Augusta temia Gellert muito mais, pois foi com ele e sua guerra que teve suas primeiras e terríveis experiências de sobrevivente. Lembrava-se dos seus discursos, televisionados para o mundo nas eleições, como ele convencia e assustava ao mesmo tempo, mas principalmente como a cada discurso que acabava assistindo em um fascínio macabro, as mãos de Augusta tremiam e ela se via assoprando-as, porque haviam perdido o calor só de ouvir.

Detestava Voldemort, pois representava uma dor muito forte em sua vida. Só que ódio era algo até fácil de lidar. Gellert? Augusta temia como seu bicho papão da adolescência. Um monstro por dentro, escondido por trás de palavras cativantes e rosto humano que atraia multidões que se diziam pessoas de bem. Que só queriam evitar as consequências das guerras trouxas, mas não percebiam a própria hipocrisia ao criar uma contra eles.

Mesmo assim, e isso tornava a coisa mais impressionante... Lakroff fazia pior que seu antecessor. Talvez por estar pessoalmente na cozinha de Augusta, perto o bastante para tornar as ameaças veladas, escondidas em cada vocábulo, mais reais, por sentir sua magia acompanhando sua intenção ou por todo o resto. A presença de pessoas que podiam igualmente serem prejudicadas por seu mal.

- Harrison é meu – ele repetiu em sua aterradora convicção. – Eu cuidarei do meu neto. Terão de me matar para me tirar dele e me matar nunca foi, nem nunca será, uma tarefa fácil – garantiu sombrio. – E ainda sobre sua pergunta tola... - ele soltou os cabelos e arrastou a cadeira para ficar mais próxima de Augusta.

Ela quis muito fugir, pegar Neville e Harry então correr dali, mas não podia por sua própria magia e a incapacidade paralizante de fazer qualquer coisa que fosse, lhe deu a sensação de ter sido pega numa armadilha de um dos mais experientes caçadores.

Só que tão pouco era alguém que fugiria do perigo quando estava diante de si. Preferia cair lutando, arranhar seu caçador se viesse para perto demais. Então o encarou de frente, por pior que fosse enquanto ele falava:

- Se Harrison quiser se vingar de Albus e for essa sua dúvida desde o início, não um tribunal de julgamento, mas vingança pura e simples da forma que pudéssemos encontrar, bem... Eu mantenho a ideia de que irei dar ao meu neto o que ele desejar. Entretanto eu não recomendaria - aquela última frase a deixou confusa.

Também um tanto muda por alguns segundos antes de se recuperar em uma expressão descrente:

- Não recomenda se vingar?

- Não exatamente.

- Por que não? Achei que seria o primeiro a querer algo assim. Não me diga que você ainda...

- Tanto judicialmente falando, como uma vingança, acredito que agora não seria o momento para atacar Albus Dumbledore. É um risco e um desafio grande demais para um período muito curto de paz e seria preciso pensar com mais cautela em se tratando desse inimigo. Há um tempo para tudo nesse mundo e esse não é o certo.

- Então você se vingaria. Apenas quer ter tempo para pensar como?

- Eu? Não. Pelo menos, não dessa situação. Haverão outras mais produtivas para minha movimentação, até lá a raiva é passageira tanto quanto outros sentimentos humanos menos complexos.

- O que quer dizer? – sua voz estava levemente irritadiça, causada por uma impaciência pela forma como o outro lhe dava a informação.

- Que paciência é uma virtude e vingança é um prato que se come frio.

- Você está jogando um monte de ditados populares aleatórios e não está fazendo sentido!

- Vou ser mais claro então, cara Augusta: Eu sei quando e como vamos fazer as coisas. De um jeito ou de outro eu descubro. O que usaremos contra ele, o que devemos pensar ao nos vingarmos e como Albus Dumbledore deve cair para que sinta mais dor. Não apenas ele, mas que o mundo como um todo sinta o golpe, assim tornando a vingança mais do que um sentimento infantil de justiça tardia, mas sim algo útil. Não é agora, não é nesse prédio que devemos gastar nosso tempo construindo e subindo ao topo, não um tribunal, a visão não será perfeita e estará impedida por outras construções. Não. Precisamos de mais material. Você tem alguns anos para nos convencer do contrário, ele tem outros tantos para fazer o mesmo, até lá aguardamos, projetamos, garantimos que as cordas se movam o bastante para o empurrãozinho correto. Da torre certa. Te faz feliz uma resposta assim?

Augusta se inclinou para trás, encarando o lado esquerdo da cabeça do homem, onde estava a trança que escondia o aparelho que impedia suas visões do futuro enquanto sentia que a ênfase em algumas palavras e toda aquela analogia tinha um significado muito maior do que ela conseguia perceber.

- Isso não funciona sempre. Imagino...

- Só bloqueia algumas coisas - explicou, tocando o aparelho. - As naturais, que consequentemente são as piores para o meu tipo de vidência, então é mais do que eu poderia pedir quando era mais novo. Aguardar e ver diante de mim não é a única forma de ativar meus dons, entretanto e mesmo com isso na cabeça ainda posso invocar outros métodos mais complexos e efetivos para ter uma ou outra informação.

- Você viu?

- O que exatamente?

- Sua vingança.

Lakroff ficou um tempo em silêncio antes de sorrir negando com a cabeça:

- Eu tive uma linda visão, de uma noite agradavelmente fechada de nuvens, uma brisa gélida, mas sem garoa ou chuva, apenas um céu cinza perfeito para leitura em um quarto com café ou chocolate quente, próximo do verão, então um dos últimos dias assim, mais frescos – comentou em tom imaginativo. Sua voz sedosa viajava, mas era marcada no presente por sua intensidade, grave, fazia os pelos da bruxa a sua frente se arrepiarem em sentimentos que nem ela teria certeza dizer quantos foram ativados. – Então Albus. Ele estava a vista dessa bela noite, vislumbrando tudo direto de uma torre alta, seus longos cabelos grisalhos sacudidos pelo vento da noite e da gravidade de seu corpo caindo do topo até o chão de pedra de Hogwarts após... – ele riu, uma risada baixinha e muito bem humorada. – "Cair de um prédio". Ou dois, se souber do que estou falando.

Ela não sabia, mas mesmo assim arregalou os olhos e levou as mãos em choque para segurar o peito, tremendo. Como alguém podia dizer aquelas coisas de forma tão calma?

Ou pior.

Com tamanho gosto.

Pensou se deveria dizer algo à Albus. Para mudar a sala de seu escritório para o térreo, para parar de subir nas torres de Hogwarts, mas aquilo era ridículo. Tão difícil quanto uma briga perdida. Muito se falava sobre como tentar evitar um destino, sempre acabava por concretizá-lo. Talvez o medo de Dumbledore o faria cair, no fim. Tropeçando em algo na pressa para sair do topo. Não compensava mencionar o fato.

- Quando?

- Não sei - deu de ombros. - Mas não se preocupe, já impedi que esta visão se realize.

- Como é?

- Albus teria que tomar um acúmulo muito específico de decisões erradas para torná-la realidade mais uma vez.

- Como assim? Por que você impediu a morte dele? O que ganharia com isso?

- Harrison.

Augusta piscou. Em choque, confusa. Lakroff suspirou:

- Esta visão era apenas uma da sucessão de visões que tinha sobre o futuro de Harrison. O futuro onde eu não existia em sua vida, onde não o encontrava e as consequências em sua vida continuavam as mesmas. A este ponto, tudo deve ter mudado muito, mas não me preocupei em olhar novamente. Afinal agora também me diz respeito e, sobre meu futuro, prefiro saber o mínimo.

"Ou não" pensou consigo mesmo. "Mas eu não te diria".

O Mitrica ainda assistia um ou outro momento de seu próprio destino, apenas para traçar algumas rotas, saber possibilidades, mas não as tomava como verdades para exigirem mais do que isso.

Quando estava em um local alto em uma noite como aquela, a visão agradável de Albus sendo traído e caindo de um maldito prédio ainda aparecia e ele sorria, pensando que poderia sim vir a acontecer, mesmo com tudo. Sua interferência a deixava menos frequente, mas Dumbledore só precisaria continuar fazendo o que sempre fazia e usando as pessoas, que eventualmente isso se viraria contra ele. A torre de astronomia como palco não deixaria de ser uma possibilidade, mesmo que distante.

Bons sonhos. Pensamentos flutuantes.

- O destino tem um jeito único de manter sua pintura da mesma forma que idealizou desde o começo – comentou em voz alta sem nem perceber e quando aconteceu, observou pelo canto dos olhos Augusta. A bruxa parecia apenas curiosa e isso o motivou a terminar o pensamento. – É como se destino pintasse exatamente o que quer para nossas histórias, mas ainda nos deixasse viver, então nossa personalidade não funciona mais com a mesma paleta cores, o mesmo fundo, a mesma tela, ele precisa mudar um traço aqui, umas linhas ali. O contexto por trás do que o espectador veria se torna outro, mas o produto final que sempre foi o que mais queria, geralmente permanece.

"Aquele que morreria em um acidente de barco após virar marinheiro e estar do lado de fora na tempestade por brigar com o capitão, agora fica rico e morre assassinado por seu filho que quer a herança, na piscina de casa. Ainda morre afogado, ainda morre pelas ações dele próprio e daqueles que era próximo, mas não fez com que gostassem dele os tornando produto de sua morte. Tudo mudou radicalmente, mas Destiny ainda conseguiu o que mais queria.

- É isso que você usa?

- Agora sim. Tento ver mais de um destino, pensar por diferentes ângulos, entender o que deve acontecer, para descobrir o que pode ser mudado. Mas admito que esse pensamento é fruto do tempo e amadurecimento. Houve um tempo em que tentava fazer das obras do destino, o meu próprio desenho e forçar a ele que o pintasse na vida. Não funciona assim. Faça o que fizer, o destino ainda é o mesmo, ele só se adapta a suas novas vontades e eu tento fazê-lo desejar o mesmo que eu, ou ao menos não ser totalmente contra. Não passa de um artista apaixonado por sua obra, que odeia que tentem mudá-la, uma mesma beleza mórbida das linhas programadas para os mortais e marcadas em suas peles como regras a serem seguidas, mas linhas curvas que se encontram com outras, se enroscam e formam novas.

- Então está dizendo que pequenas coisas, sejam pessoas que conhecemos ou atitudes que tomamos, podem mudar a ideia do destino, o que não o torna absoluto, mas ele é inflexível em alguma proporção e sempre tentará manter algo especialmente importante que havia programado? - questionou a viúva, olhando para sua xícara, o que quase a fez perder o sorriso muito surpreso de Lakroff.

- Exatamente!

A forma como ele pareceu brilhar, rejuvenescer e perder bruscamente todo o terror que emanava normalmente de si, deixava claro o sentimento de satisfação que usufruiu ao ter alguém que o entendeu.

"As pessoas normalmente não o entendem" essa foi a impressão que a reação passou. Parecia sincero demais para dizer que foi uma forjada, ainda mais porque não havia necessidade para mentir naquele momento, mas ainda era Lakroff, então ela não colocaria sua mão no fogo.

Nunca por alguém como ele.

- Mas e se o destino mostrar algo que você não concorda em parte alguma?

- Terei de trabalhar com isso.

- Como?

Lakroff sorriu. Ele sabia que não iria mais tentar fazer os próprios quadros, nem questionar os movimentos do pincel de Destiny. A vida era o que era. Trabalharia a completar aqueles que gostava assim que os visse, mesmo que apenas um vislumbre, um rascunho das vontades da entidade, mas garantiria que fossem aqueles que ela desenvolveria.

Os demais?

- Eu destruiria se fosse preciso.

- Como?

- Eu destruo o próprio destino se for preciso. Nem que isso me leve junto.

- Parece arrogância pensar que você conseguiria.

- Eu sei. Mas nós mariposas somos assim. Não tente racionalizar.

Eles entraram em outro breve momento de silêncio contemplativo, perdidos em seus próprios pensamentos sobre tudo aquilo.

Augusta foi quem tornou a quebrá-lo com indagações. Não sabia ao certo porque, uma vez que não gostava do som da voz do outro, mas talvez fosse melhor mantê-lo distraído, assim pensaria menos em outras coisas que pudessem prejudicá-la de alguma forma. Também permitia entender melhor como ele funcionava e para vencer um vidente, talvez o melhor fosse conhecê-lo o quanto possível.

- Então você viu a morte de Albus - disse e Lakroff apenas acenou distraído. - Mas já mudou coisas demais – continuou e desta vez ele não se preocupou em reagir ao óbvio. – Você viu ele morrer de alguma outra forma sem ser aquela?

- Não.

- Isso te frustra? - perguntou em óbvia provocação, o que de certa forma divertiu o outro também.

- Harrison não é do tipo que deixa para lá - contou, ao invés de responder. - Talvez quando trata de si mesmo ele deixe as coisas para lá. Seus tios o irritaram, muito, mas todos nós ainda estamos bem desde que longe. Não importa o quão ruim tenham sido para ele, não há necessidade de retaliar o que foi feito, apenas impedir que se repita, entende? Então Albus. O fato de que ele era, acima de tudo, guardião mágico de Harrison. Não se trata apenas de Harry Potter, mas sim qualquer criança que poderá sofrer algo do tipo ao longo dos anos. Lutar pelo julgamento de Albus Dumbledore também é dar visibilidade para um problema real da sociedade. Se mesmo o lorde da luz, o maior bruxo desde Merlin e seja lá quais palhaçadas vocês usam para se referir à Albus, é capaz de falhar tanto como guardião mágico e mesmo uma família de sangue é capaz de desprezar uma criança por ser bruxo, como ficam todas as outras crianças nascidas trouxas ou órfãs?

"Elas não estão correndo os mesmos riscos? Não deviam ter algum acompanhamento decente na infância? As leis não deveriam mudar? O sistema não tinha que ser mais rigoroso e presente se tratando do lar de crianças com necessidades especiais e únicas que representam nosso mundo? Lutar por essa causa é buscar uma mudança estrutural e, se você já teve uma conversa mais profunda que seja com meu neto, sabe que esse é exatamente o tipo de coisa pela qual se levantaria.

- Não por si mesmo, mas por uma causa - sorriu. - De certa forma, é uma característica que puxou da família.

- Você não pode estar comparando os dois casos! - ralhou. - Ele estaria lutando por algumas leis para proteger crianças! Uma coisa boa, não segregação racial e-

- Gellert queria proteger crianças também". Vocês só escolheram esquecer isso ou fingir que não era. Mas eu não estava me referindo a minha guerra. Estava falando de James e Lilian!

Augusta corou e baixou a cabeça, envergonhada de sua pequena explosão.

- Você podia sair um pouco da defensiva - suspirou o outro, mas deixou para lá. - Enfim, é um traço de personalidade louvável, desde que virado para o lado certo, como você mesma colocou. Entretanto, não sei se ele irá querer desenvolvê-lo, ao invés de sufocá-lo até destruir. Afinal, agora vem dizendo coisas como-

- Que cansou de ser o bonzinho - completou Augusta, com conhecimento de causa e muito pesar. - Que está na hora de pensar apenas nele mesmo e que as pessoas não merecem que continue se sacrificando. Que o mundo pode se explodir... Achei que você tinha colocado isso em sua cabeça.

- Achou? Não pensa mais assim?

Ela mordeu seu lábio inferior, pensativa. Não queria admitir, mas não. Não via mais o Grindelwald como causador daquilo. A forma como falava dos Grindelwald, de lutar até o fim, defender o que se pensa e como parecia orgulhoso de Lilian por fazer o mesmo apesar de estarem em causas totalmente opostas.... Não era a primeira vez que um comentário parecido saia de sua boca. A frequência e a naturalidade ocasional com que aconteciam dizia que não era o caso, também apoiavam a ideia de ser verdade.

Bufou, pois não queria cair na lábia daquele mentiroso, seria só mais uma atraída pelos discursos de um Grindelwald., mas se via concordando aos poucos com uma coisa perturbadora: aquele realmente se importava com a família Potter. Sua família.

- Ele contou isso a você? - Lakroff decidiu mudar a pergunta. - Sobre estar cansado de fazer as coisas certas, quero dizer.

- Ele contou a você? Eu o conheço há mais tempo, claro que me diria.

- Mas eu obviamente não o julgaria por não se importar com os outros, já você poderia reprovar.

- Eu entendo pelo que o menino passou. Também ficaria frustrada e ele sabe que se fosse algo reprovável, eu o ajudaria a se acalmar e pensar melhor.

- Mas ele poderia não querer se acalmar. Que dirá ouvir discursos moralistas.

- Eu não os faria!

- Eu também sou mais politizado que você, então debater questões de luta, causas sociais parece mais adequado comigo e-

- Vamos mesmo competir para ver quem Harrison escolheria para falar sobre algo do tipo?

Os dois se encararam em silêncio, olhos semicerrados, avaliando o outro em silêncio.

Foi um pequeno suspiro, poucos segundos onde não tinham mais diferenças políticas gritantes ou morais opostas beirando ao absurdo. Estavam discutindo por algo muito mais tolo e passifico. A proximidade de uma criança.

Aquele instante tudo fora deixado de lado, restando apenas duas pessoas de idades suficientemente próximas e que passaram por duas guerras, tinham vivências parecidas e perceberam isso, tal qual um carinho pela mesma pessoa e por outras em seu passado.

Puderam assim apenas ter um humor perfeitamente quebrado para sorrirem e dizerem ao mesmo tempo, de forma bem infantil:

- Obviamente seria eu.

Então mostraram suas línguas um para o outro, pela coincidência do pensamento espelhado, rindo tal qual duas crianças que eram no fundo da alma, bem mais do que nos rostos ou em suas experiências.

- Mas Harrison se contentará? – perguntou Augusta após um tempo.

Ela se levantou e foi até seu fogão, pois precisava de mais chá.

- Com a espera, quero dizer. Para fazer alguma coisa, mostrar à Albus uma consequência por sua negligência.

- Concordamos então que ele foi negligente?

- Só porque ele é meu amigo, não vou negar algo óbvio. Harry também é importante demais para ficar em negação. Apenas estou tentando ver os dois lados. Ele encontrará paz esperando ou vai ficar remoendo isso até que sua raiva se torne amargura?

- Ele é esperto. Por hora, sabe que é o melhor a se fazer. Além de tudo, Hazz entende que provavelmente teríamos que envolver os parentes dele em toda essa história e isso o prejudicaria.

- Como prejudicaria?

Lakroff sorriu, mas o sorriso não chegou aos olhos:

- Vamos dizer que o garoto perdeu a paciência e existem mais detalhes do que apenas... concordarem em manter distância.

- Mas ele só estaria se defendendo, mesmo que tenha reagido de alguma forma mais agressiva. E natural, ainda mais com a magia das crianças!

- Sim. Entretanto, o que acha que um tribunal que quer a qualquer custo manter a imagem do perfeito do lorde da luz em prol da manutenção social, diria sobre o que Harrison fez na estação de trem?

Agusta tremeu e quase derrubou o pote de chá. Lakorff se levantou e foi até ela, mas a mulher se afastou quando ele se aproximou.

- Desculpe, eu... – começou, visivelmente transtornada, olhando para fora. Neville estava na vassoura de Harry agora, o amigo pelo jeito decidiu tentar outra técnica e ambos voavam juntos, Hazz praticamente abraçando o amigo por trás, o mantendo seguro e guiando o objeto mágico.

Ambos riam felizes.

Eram tão lindos juntos.

Já vinha pensando nisso há um tempo. Não era uma tola. Como a mídia trataria tudo o que sabia agora. Estavam a anos vivendo uma mentira e quando isso fosse divulgado, cairia como uma bomba que os jornais usariam para lucrar, sem pensar nas consequências.

O mundo não foi salvo por um mestiço, filho de uma linhagem da luz (de "sangue puro", mas progressista e igualitária), com uma nascida trouxa. Não foi uma luta política entre um lorde das trevas, contra uma família de luz, e a doçura e pureza de um bebê que nasceu para enfrentar a escuridão com uma luz de esperança, iluminando uma sociedade em guerra, combinada nas sombras da magia dos lordes.

O discurso perfeito para usar a morte do líder das trevas como o fim das grandes batalhas, exterminar em alguns meses a resistência, tornar o mundo a ser controlado pelas regras da luz, estampar os corações da grã-bretanha de segurança após anos. Uma história bela que incluía as minorias, os nascidos trouxas, tornava eles parte do mundo bruxo de novo e regressando em peso para Hogwarts, tudo contado em repetição, como uma canção épica de bardo, à todas as crianças antes de dormir. Uma causa.

Harry Potter virou o símbolo de uma causa, ele era (acima de tudo) uma figura política, uma manobra para eleições e leis a anos! Mas... No fim os sombrios estavam certos em negar tudo isso.

Harry não era o reerguer da luz.

Era filho de uma família que escondia seu lado sombrio e sabia disfarçar muito bem, se ocultando à luz do dia, para que ninguém desconfiasse do que eram capazes, sangues puros que sempre se casavam com famílias sombrias e mantinham a força deste lado intacta. Então uma mestiça, herdeira de uma das maiores linhagens das trevas que já se viu.

E assim como o esperado de uma origem escura como essa, o que salvou o menino foram as artes das trevas.

Seus pais a conheceram ao ponto de enganar o próprio lorde delas. Não foi um lorde das trevas contra um bebê da luz, mas um lorde contra um herdeiro cujo os pais se mostraram ainda melhores. Ou seja... uma briga de linhagem.

A queda de Voldemort foi causada por um ritual de sangue e sacrifício, que se usava de todos os quatro princípios sombrios. Todo o discurso perfeito para levantar a causa, as massas e as minorias desprezadas por Voldemort, o que declarava uma nova era de paz diante da liderança da magia da luz... era uma farsa que se usava de um símbolo das trevas e muita ignorância.

Uma mentira muito perfeita para ser apenas coincidência...

"Mas deve ser!" pensou Augusta "Albus não teria como saber aquelas coisas". Ele não mentiria de propósito para o mundo, mas além de tudo aquilo foi necessário. Não foi? Harry deu esperança às pessoas novamente, então... a verdade era tão importante? Tanto quanto a causa que a mentira pôde defender?

Mas pensar daquela forma não parecia absurdamente hipócrita? Algo muito parecido com o "bem maior" que Gellert Grindelwald tanto defendia e que havia sido discutido a não muito tempo ali mesmo? Usar uma criança e o assassinato para conseguir o que se queria acima das próprias vontades do menino era justificavel por... uma causa?

Era perturbador e quanto mais pensava sobre isso, pior ficava.

A verdade era que um tribunal faria de tudo, absolutamente tudo, para manter aquela mentira e destruir o psicológico de Harry, depois colocar a culpa nos Grindelwald parecia a solução que o ministério iria escolher. Ela conhecia seu governo. Corrupto, quebrado, mentiroso e covarde. A Longbottom era parte do que o formava e sabia que podia ser uma causa perdida em muitas ocasiões. Aqueles que estavam eleitos por discursos que precisavam de Harry e Dumbledore como figuras heróicas da luz prefeririam matar o Potter por dentro antes de fazê-lo apoiar seus rivais dizendo suas falhas.

Um tribunal era a última coisa que precisavam.

- Você está certo - admitiu.

- Obrigada, achei que nunca ouviria isso de você - zombou o loiro.

- Calado - reclamou, coçando o braço e baixando o olhar. - E não fale mais disso.

- Que parte exatamente?

- A estação. Nunca fale isso em voz alta. Ninguém deve saber. Harrison não merece essa sombra.

- Entretanto ele vai carregá-la o resto da vida, não há como evitar.

- Ele não merecia. Ninguém...

- Eu sei.

- As pessoas não vão entendê-lo – suspirou exausta, se apoiando no armário com o peito se apertando dolorosamente.

Ela tinha que ter evitado. Podia ter evitado.

Falhou nas piores horas possíveis e aquele homem ajudou mais seu netinho de coração, do que ela própria. Sentia que nunca se perdoaria totalmente. O peso que estava nas costas do Potter também devia estar nas suas. Talvez mais, pois era a adulta que tinha que ter percebido antes o pior vindo.

- Dificilmente entenderiam – concordou Lakroff com pesar – Eu diria que nunca, mas prefiro ser otimista e acreditar que Hazz será capaz de achar, nem que seja meia dúzia de pessoas, capazes de aceitar o que aconteceu naquele dia.

- Bem... Comigo já são um. Faltam cinco.

- E eu? – perguntou cruzando os braços.

- Faltam quatro.

- Os irmãos dele?

- Um.

Lakroff riu, negando com a cabeça:

- Acho que ele já tem sua meia dúzia, então – sussurrou com um sorriso, levantando o olhar para as crianças.

Augusta se permitiu sorrir e em conjunto observar os netos.

Com a morte de seu Frank e da doce Alice, se perguntou por dias em um pesar avassalador, se haveria de se sentir bem novamente um dia. Criou uma barreira fria e adequada para um lady de sua idade e se esforçou para ser forte, viver seu luto em silêncio, sem permitir que houvesse esperanças de uma cura para cegá-la com sua luz viciante, mas artificial.

Concentrou-se em ensinar Neville. A ser forte, honrado, poderoso. Alguém capaz de seguir os passos de Lorde Longbottom, seguir seu pai, mas sem cair no mesmo destino cruel. Teria, portanto, que ser melhor do que alguém que Augusta considerava um sucesso como mãe, então foi mais exigente ainda.

Não suportaria perder Neville também.

O menino tinha que ser mais forte que Frank porque Augusta era fraca demais para aquela dor.

Então o afastou sem que percebesse. Seu luto e sua necessidade de fazer as coisas darem certo, acima de demonstrar seu amor e carinho, sua própria fraqueza em não querer demonstrar esse amor que poderia ser tirado dela a qualquer segundo novamente.

Ela via Frank em Neville e isso a machucava, criar um filho novamente a fazia lembrar de como encontrou o seu e como aquilo doeu, então seu peito se tornava frio e ela era apenas adequada. Não amorosa ou cuidadosa. A máscara sangue puro uma perfeitamente rápida e lapidada para que soubesse ocultar o sofrimento e as lágrimas toda vez que Neville a chamava de...

Mamãe.

Quando era pequeno demais para entender que ele não tinha mãe.

"Sou sua avó, fale corretamente menino, você não deve falhar em coisas básicas" ela respondia. "Ou o mundo te destruirá como seu pai, que nunca falhava em nada, a menos que fosse destruído..." acrescentava em pensamentos e assim se seguia.

Criando uma barreira gélida que a separava de seus traumas e cicatrizes de ter perdido coisas muito importantes, mas mesmo com essa barreira ela se apegou a Harry. Ele fazia seu netinho feliz como ninguém mais fazia e era muitíssimo grata por isso. As coisas que dizia davam confiança à Neville, seu menino estava sendo amado e crescia forte por causa de uma amizade tão cheia de um amor puro e genuíno de criança, que ela com seu pesar nunca conseguiu dar em plenitude. Amou Hazz por oferecer isso.

"Obrigada por ser aquilo que eu falho em dar ao meu netinho".

Amou Harry e queria lhe dar tanto quanto ele deu àquela família e ver como ele reagia bem ao pouco que conseguia, a fazia se sentir suficiente. Também preocupada e cautelosa com o pequeno. Só que Hazz não era só "o menino que sobreviveu" para aquela casa, alguém que os livrou da guerra e dos monstros capazes de fazer o que fizeram com Frank, mas quem os lembrava o que era amor natural. Era um menininho quebrado, frio como o luto que Augusta via nos próprios olhos dela, distante sempre que falavam da família, misterioso e quieto quando começavam a tentar invadir sua privacidade, na mesma proporção que falava mais do que qualquer um no mundo quando estava em uma zona segura. Educado demais para alguém de sua idade. E mesmo assim foi quem os fez mais próximos, comendo com eles na mesa, contando animado do que haviam feito durante a tarde e fazendo Neville começar a tomar coragem para também falar mais do que a obrigação com sua avó.

Era cauteloso demais ao falar ou agir perto de um adulto, pulava quando alguém estendia a mão em sua direção ou quando fazia "uma arte", mas era quem sempre abraçava Neville, se inclinava no seu ombro, ou lhe segurava a mão até que ele próprio também começasse a procurar contato.

E abraçasse a avó antes de sair para brincar, ao invés de apenas se inclinar respeitosamente.

Olhou para o Grindelwald ao seu lado:

- Sim. Ele tem conosco sua meia dúzia, mas sei que será capaz de conseguir tantos outros. É alguém incrível demais para que não o faça. Mesmo assim... - Lakroff esperou que a mulher continuasse, o que levou algum tempo. - Neville é um menino doce, mas... por favor, esperem para contar isso. Ele pode não reagir da forma adequada, reagir como Harrison precisa agora. Com apoio total independente do pior da situação. Harrison não merece a dor da repressão nos olhos de uma criança e Neville não irá segurá-la em sua inocência. Então apenas aguardem que cresça. Sei que ficará do lado do seu amigo quando entender, agora acho que ele só faria Hazz se sentir culpado por algo que não esteve em seu poder.

"Eu não estava me referindo à Neville" pensou Lakroff levemente incomodado, mas não o verbalizou. Estava pensando na horcrux, que estranhamente (ou não) o incomodava menos que o próprio garotinho Longbottom em se tratando de que aceitaria Harrison como era. A Horcrux não o renegaria, afinal era tudo que tinha, os demais o conheceram bem o bastante, sem contar que se a alma de Voldemort fizesse algo poderia ser destruída e Lakroff nunca foi contrário a matar ninguém... Mas Neville.

Se ele fosse destruído não parecia tão fácil.

Só de imaginar uma situação parecida todos os sentidos de Lakroff apitavam em alerta. Era só olhar para aquele garoto que seu estômago revirava em preocupação, uma intuição de algo que poderia dar incrivelmente errado, mas não sabia ao certo o que. Suas visões nunca lhe davam a resposta, mas o que Augusta disse só fez aquele gosto ruim retornar à boca.

Queria que Harrison não fosse tão apegado ao menino para que pudesse ser descartado como o restante.

Mas ao invés de comentar qualquer uma dessas coisas, apenas disse:

- Você o chamou de Harrison – e o som saiu quase que uma melodia cantada por uma criança para provocar. – La la la la la la – encerrou com uma dancinha.

Augusta viu aquele homem agindo novamente como uma criança e apenas permaneceu quieta, se questionando se havia sido derrubado do berço ou se ele estava usando aquela personalidade como fachada para baixar suas defesas. Se fosse isso, nunca funcionaria, era ridícula demais.

Daí a ideia de que Gellert poderia tê-lo derrubado ou batido sua cabeça em algum momento em sua criação voltou.

Era Gellert...

Chance realmente muito grande.

Ou os anos presos talvez causasse aquilo? Uma sequela por isolação social?

Voltou a realidade negando com a cabeça:

- Harry poderia fazer um proveito maior se afastarmos essa situação toda dele, do que o forçando a sentir demais o peso. Então eu peço que realmente espere em relação ao meu neto. Neville deve amadurecer e entenderá o amigo quando entender melhor o mundo, pois posso não ter o ensinado bem nesse sentido para que reaja corretamente agora. Eu quis fazê-lo de uma forma, mas não sei se entendi o equilíbrio correto de valores - encerrou com pesar.

- Eu entendo - Lakroff deu de ombros. Ele inclusive preferia que fosse assim, mas não acrescentou esse detalhe, no lugar continuou em algo melhor do que suas incertezas acerca do herdeiro Longbottom. - Temos a tendência de querer poupar nossas crianças de algumas coisas e isso afeta seu julgamento, nem sempre como esperávamos. É uma brincadeira delicada essa, a criação. Nós formamos a personalidade deles, então temos que escolher qual personalidade queremos para um filho, mas sempre falhamos em saber a medida que esse controle deve ir ou como será aplicado, então ainda há nossas falhas mais severas que podem cair em seu colo ou serem jogadas em seus rostos, se tornarem traumas que os formarão bem mais do que cada aula que tentamos oferecer e tudo se torna uma bola de neve onde algo único e totalmente diferente do que queríamos aparece, com apenas alguns traços da... ideia original.

- Brincar de destino?

Ele riu muito empolgado, como uma criança que ganha um presente sem motivo, que alguém não só o ouvisse, entendesse, como ainda usasse seus pensamentos confusos para ver o mundo.

- Brincamos de Destiny e falhamos, pois somos mortais e se até uma deidade é suscetível a mudar, como conseguimos um resultado perfeito com nossas crianças?

- Quantos anos tinha seu filho? - perguntou de repente.

E o clima agradável sumiu.

Augusta esperou alguns segundos pela resposta, quando não a obteve, voltou a olhar para o Grindelwald enquanto acrescentava:

- O biológico, quero dizer - mas sua voz quase morreu completamente até o fim, pois o olhar que recebia dele a assustou. - Desculpe. Não devia ter tocado no assunto.

- Imaginei que seria ele - comentou tão grave, ríspido e objetivo, como um cubo de gelo, fez Augusta se afastar automaticamente. Ele fechou os olhos e levou uma mão ao pescoço, o inclinando para o outro lado e estalando tão alto que parecia que um osso havia se rompido antes de perguntar. - Por que quer saber?

- Curiosidade. Você parece saber os desafios de criar uma criança, o que te coloca no passado como alguém presente, não só um lorde que fez seu trabalho de procriar e sumiu, então eu... Realmente me desculpe. Não precisa responder se não quiser, eu fui apenas enxerida.

- Cinco - respondeu juntando as mãos, como se sentisse o frio vindo de sua própria voz, apertando os dedos com o pesar de seu próprio luto. - Meu filho tinha cinco quando eu o perdi. Quando minhas decisões na guerra o levaram para... - ele não terminou. Augusta não soube se era intencional, ou se a dor era grande demais para dizer em voz alta as palavras.

A dor do luto por seu filho.

Ambos tinham aquilo. Ela reconhecia demais em cada grama daquele homem e, pela primeira vez, simpatizou o bastante para se aproximar e até rir do que saiu de sua boca:

- Olhando pelo lado positivo, eu tive pouco tempo para traumatizá-lo como meu pai fez comigo.

- Credo, as piadas macabras. Lilian e James as faziam, eu...

- Eu sei - comentou com um risinho baixo e nasalado. - Espero que Harrison ache alguém que tenha o mesmo humor quebrado um dia, para que não precise se segurar. Lilian teve sorte que James tinha dois ou três parafusos a menos para acompanhá-la.

- Eu diria que James Potter tinha cerca de sete a menos.

- E fez uns cinco ele mesmo para tentar colocar no lugar, mas não ficaram tão bons.

- Não mesmo - concordou rindo e ambos ficaram ali, sorrindo, pensando nas coisas boas do passado.

Então no luto, que matou os sorrisos aos poucos, mas não levou o pequeno momento agradável de companheirismo na dor.

Augusta pegou a chaleira que começou a apitar e se virou para procurar seu bule, mesmo que hesitante aceitou quando o Grindelwald apareceu já o segurando diante de si , começando a encher.

- Se você derramar água fervendo em mim de propósito, não passa de birra - comentou o loiro.

- Você não para de me dar boas ideias - respondeu rindo "maleficamente" e Lakroff riu. - Eu tive muitos anos para destruir Frank antes que o mundo o fizesse - continuou em seguida e a risada do outro foi engolida com rapidez enquanto olhava a loira, que suspirou pesadamente, antes de crispar os lábios. - E não sei quanto tempo tenho com Neville. Já estou bem velha, sei disso.

- Eu só estava sendo implicante quando a chamei assim, a senhora é uma lady muitíssimo conservada para a idade.

- Não tente consertar ou te jogo a água na cara e digo que escorreguei.

- Estou oficialmente em silêncio sobre o assunto de quantas rugas os anos já lhe - mas não terminou, fechando os olhos e se abaixando quando foi ameaçado com a chaleira, mas ela estava vazia e Augusta apenas riu de sua cara.

Se virou para colocá-la no fogão, o Grindelwald também rindo, o clima amenizando mais um pouco naturalmente sem que vissem ou sentisse, mas estava lá, mas tranquilo e passífico.

- Eu só quero que Neville não precise... ser forte como o pai. Assim como você quer para Harry. Queria que ele fosse forte por ser, mas que não precisasse tanto dessa força. Queria uma vida tranquila para ele e adequada. E não sei quanto tempo estarei aqui para vigiá-lo, nem o quanto ainda sou capaz de protegê-lo ou quanto estão super protegendo, o quanto estou praticamente ordenando que ela faça as coisas de uma forma apenas porque quero que ele... tenha mais medo que o pai e assim se arrisque menos! Não quero que Neville seja ousado e desafie os poderosos como Frank... quero que seja um garotinho para sempre e não... seja levado - se pegou admitindo.

De início estranhou que estivesse se abrindo para alguém como o Grindelwald e quase se repreendeu por isso, até que ele respondeu:

- O mundo pode ser o mais cruel dos pais. Ele ensina, traumatiza, derruba, então leva. Das piores formas onde mais atinge aqueles que ficam. Tentamos ensinar antes que o mundo precise, mas... nem sempre conseguimos - e apontou para Harrison no jardim. - O que o mundo ensina, ninguém tira. O que o mundo derruba, entretanto, muitas vezes ainda há conserto. Leva tempo e muito cuidado, mas ainda não passa de um pai que criou de forma muito severa e assim como existe terapia para os traumas dos pais, há para o mundo. Entendo que esteja com medo que Neville se arrisque, mas ele vai afinal é inevitável. Entendo seu medo de como fazer para deixá-lo forte para essas provações, mas no que falhar haverá o mundo e principalmente entendo seu medo de perdê-lo, mas... a morte ainda é a única certeza, devemos temer as incertezas mais do que o que é claro, pois é o que podemos evitar.

- Eu só não quero que ele sofra.

Lakroff indicou Harrison:

- Quero que sofra menos. Sofrer eles sempre vão. Vou apenas ajudar a evitar o pior daqui em diante.

- E se não conseguirmos?

- Então continuamos apenas humanos. Você está querendo ser mais que isso?

- Estou querendo ser uma avó, uma mãe, um pai e uma família. Sozinha.

- Um grupo de humanos então - sorriu. - Ainda incrivelmente suscetível à falha. Somos dois. Mas eu também sou o médico e o advogado - Augusta riu de novo, dessa vez sem sentir a necessidade de cobrir, de esconder mesmo que o fizesse inconscientemente. - Mas pense pelo lado positivo - continuou se aproximando da porta e se encostando lá, a bruxa foi atrás em seguida e juntos assistiram os meninos darem uma cambalhota perigosa com a vassoura quando Neville tentou controlá-la um pouco, então outra e acabaram caindo.

Harry agarrou o braço de Nev, mas logo percebeu: ambos estavam caindo suavemente.

Ele fez uma careta confusa, enquanto Nev se agarrava a Hazz de olhos fechados, mas percebeu que o vento estava mais fraco do que devia e os abriu. Ambos desceram calmamente até alguns metros do solo, com expressões bem confusas, não estavam tão alto então logo pararam. E, por fim, foram colocados no chão.

Ambos se encararam surpresos por alguns segundos até que começaram a gargalhar muitíssimo.

- Você não precisa ser os amigos também - encerrou Lakroff.

Augusta sorriu, e riu, fechando os olhos que se encheram de lágrimas.

Fechou os olhos.

Isso, nenhum dos dois estava tenso como no começo da conversa para perceber, pois era a maior prova de como o clima vinha mudando. Augusta teve coragem de fazê-lo enquanto antes não desviava a atenção dos menores movimentos do outro. Só aconteceu e foi natural, passou-se tão rápido como deveria, algo natural.

- Nem todo amigo é perfeito - continuou Lakroff. - É claro, mas se nos focarmos nas memórias boas e no aprendizado, sempre podemos tirar algo até do inferno.

- Você usa muitos termos trouxas para alguém que os odiava.

- Eu? Eu não os odeio! Tenho até filhos que são!

- Esse discurso pareceu tanto com "não sou homofóbica, tenho até amigos que são gays e são melhores que gente normal".

Lakroff não se aguentou, ele realmente estava brincando com aquela sua frase, mas "melhores até que gente normal" acabou com ele. Começou a gargalhar enquanto voltava para a cozinha e era seguido pela Longbottom.

- Não sou gente normal então? - perguntou.

- Você nem gente é, ser gay é o menor dos seus problemas.

Ele riu mais, ao ponto de quase perder totalmente o ar.

Até que a Lady Longbottom não era tão insuportável quanto pensara a princípio. Ainda tinha algum humor naquela velha que Harrison o arrastou para conviver? Se fosse sempre assim não se incomodaria.

Talvez até gostasse dela um dia.

- Se eu não sou gente eu fui diminuído a que?! Bicho?

- Cãozinho do Harry parece adequado, mas estava pensando em outra coisa ainda mais inferior - respondeu no ato, ainda bem humorada e mostrando o bule.

Lakroff seguiu até a mesa, se sentando no antigo acento e pegando sua xícara, enquanto Augusta se servia e esperava que ele lhe desse a própria para poder abastecer. Uma lady e anfitriã, sempre serviria seus convidados, seus modos eram impecáveis mesmo que não gostasse do convidado, é claro. Ao menos foi o que o bruxo pensou, mas na verdade Augusta nem percebeu sua própria ação antes que já estivesse na metade e parar seria muita indelicadeza para seus modos, então foi fácil continuar dali.

- Já que estamos falando de criação... e você? - perguntou Lakroff soprando o ar quente.

- O que tem a mim?

- O que faria na minha situação?

- Sobre Albus?

- Sim. Você talvez tenha uma visão mais neutra.

- Não sei... Legalmente falando, Albus não fez nada tão condenável, não descumpriu o que é exigido de um guardião mágico qualquer de criança nascida trouxa.

- Entretanto Harrison não é um nascido entre trouxas. Ele é órfão.

- Sim, mas qual a diferença afinal?

- Que um órfão quando é adotado, pelas leis trouxas da grã-bretanha e de quase todo o mundo recebe acompanhamento para ver se o novo lar é adequado. Albus não fez isso e a sociedade mágica como um todo falhou nesse sentido - respondeu tomando seu chá, deu logo de cara uma longa golada.

Augusta arregalou os olhos e piscou, depois baixou a cabeça para a própria bebida e sussurrou:

- Eu nunca tinha pensado por esse lado.

- Claro, porque eu levantei o questionamento de onde Harrison era diferente de um nascido entre trouxas e você já partiu para a defensiva achando que estava sendo racista e separatista, mas deixe-me lembrar que Voldemort era o lorde racista. Eu estava do lado que dizia que toda a sociedade mágica, fossem quem fossem, desde bruxos até criaturas e independente de sua origem, deveriam lutar contra os trouxas que destruiriam o planeta, seus recursos, uns aos outros e a nós eventualmente.

- Eu não vou me desculpar por errar qual causa facista você defendia! - reclamou a mulher irritada.

- Mas devia ao menos estudar a causa facista! Vocês focaram tanto em dizer que meu lado estava errado e menos no que meu lado estava tentando dizer e porque tantas pessoas estavam preocupadas, que poucas décadas depois tiveram outro lorde das trevas ainda pior, porque os mesmos problemas persistiram e ele acreditou que precisava ser ainda pior para conseguir seus resultados, uma vez que a primeira tentativa "mais branda" fracassou. Eu digo para prestar atenção nos trouxas, mas vejam só, no fim nós replicamos as malditas primeira e segunda guerra mundiais deles como tolos! Eu sei que muitos movimentos extremistas vieram com motivações vazias, criando uma ideia quase de seita ou sei lá, e eu admito que meu lado bebeu muito dessa fonte para conseguir apoiadores, mas no fim só queríamos que o máximo de pessoas enxergasse o que nós estávamos enxergando.

- E o que estavam enxergando?

- Você está disposta a ouvir de verdade? Ou só vai negar tudo e me chamar de louco?

- Depende do nível de absurdo - cruzou os braços.

- Certo - suspirou. - Na próxima eu tento te explicar.

- Por que na próxima?

- Não tenho todos os livros aqui e duvido que você tenha.

- Livros?

- Claro, para provar os eventos que vou usar – respondeu como se fosse óbvio que precisava de provas para seus argumentos.

- Tenho uma boa coleção de livros de história bruxa.

- Não é a bruxa que uso. É a trouxa. História, sociologia, filosofia e ciência trouxa - enquanto deixava Augusta ter seu tempo para reagir àquilo, Lakroff terminou sua segunda xícara de chá e começou a sacudi-la, girando os pulsos, bem lentamente e parecendo perdido em pensamentos enquanto encarava seu interior. – Você não me respondeu.

- Como assim?

Ele não respondeu logo no mesmo instante, parecia realmente concentrado em sua xícara.

- Você julgou a forma como estou lidando com tudo isso... Mas e se fosse seu neto? Tudo que lhe resta do seu filho, destruído pela negligência da lei e de um homem? Se fosse Neville?

- Albus é meu amigo – murmurou negando com a cabeça.

- Essa frase é para justificar tudo pelo que Harrison passou e dizer que ele não merece justiça?

- Não! Claro que não! – quase gritou, se levantando.

- Então é para dizer que se fosse Neville ele nunca teria sido tão relapso porque vocês são amigos? Isso é bem elitista.

- Você está colocando palavras na minha boca! – irritou-se.

- Então o que é?

- Eu... não consigo pensar nisso, porque eu amo Harry como a um neto, mas também eu conheço Albus a anos, sei que ele nunca teria deixado acontecer se soubesse...

- Mas ele podia saber. Ele só nunca tentou de verdade e quem sofreu foi o meu neto. Se fosse seu neto, como se sentiria? Se fosse ele usando blusas fechadas até o pescoço em um dia de calor com esse sol, porque a pele dele fica tão sensível que nem poderia sair sem que eu colocasse feitiços para ajudá-lo, você faria o que com Albus?

- Eu...

- Se nunca fosse culpa direta dele, mas Albus fosse relapso. Repetidas e repetidas vezes, Albus deixasse de ver o perigo, se preocupar o bastante ou prevenir o que estava a seu alcance e era sua responsabilidade como guardião e quem fosse atingido fosse seu neto? Se a vida dele fosse muito mais difícil porque continua sofrendo com perigos que podiam ser evitados com um pouco mais de atenção daquele que se dispôs a isso? Se seu neto passasse anos disso... o que faria?

Augusta notou algo estranho nos olhos de Lakroff enquanto ele falava. Enquanto sua voz parecia ficar mais grave e madura a cada instante, diferente do despojado e jovial que o lorde Mitrica geralmente esbanjava, seus olhos também pareciam ter algo incomum, mas ela não soube dizer.

- Você quer se vingar dele, então?

O Mitrica fez uma careta e continuou girando sua xícara vazia:

- Você também não iria?

- Vingança é tolice e uma faca de dois gumes. Mata a alma e não vai oferecer nada além de talvez uma breve satisfação vazia.

Dessa vez o sorriso que saiu por seus lábios era estranho, parecia até curvado em direções que não devia ou em demasia, ela não saberia dizer. Ele fechou os olhos e soltou, junto daquela voz gélida tenebrosa:

- Sei vários truques com almas, venho pesquisando muito o assunto recentemente... - então, quando abriu as pálpebras novamente. Augusta se viu arfando, perdendo em uma expiração todo o ar dos pulmões.

Parecia até que seus olhos trocaram de cor, aquele azul royal de sempre estava se desfazendo, sendo coberto por nuvens carregadas que trariam a nevasca da voz:

- Te garanto que vingança não é uma das coisas que usamos para ferí-las, mas talvez a cor mude um pouco? - perguntou mais para si mesmo, uma risadinha macabra escapando em seguida.

As íris do homem estavam cada segundo mais diferentes, tanto que pareciam de outra pessoa.

Pareciam Gellert.

O mesmo tom turquesa claro (talvez Mediterrâneo?) que o lorde das trevas tinha em um dos olhos. Um azul muito mais claro, incomum e chamativo que parecia te atrair, hipnotizar, tanto quanto o doce cheiro de uma planta carnívora atraindo moscas antes de fechar a boca as levando para a morte.

A boca de um Grindelwald, a mais perigosa das armas, mas poucos olhavam para ela primeiro, para o que diziam e como o som te levava em uma dança, então eram devorados.

Augusta pulou de susto, já hipnotizada demais para sequer ver Lakroff se movendo e deixando sua xícara vazia bem diante de si.

Bem.

Vazia era uma palavra forte.

Estava com algumas gotas no fundo, junto com folhas do chá.

- Eu quero que as consequências cheguem apenas – e com soltando a xícara, acrescentou cheio de convicção: – Elas vão.

A bruxa olhou para a xícara colocada diante de si e observou algo muito estranho. As folhas de chá pareciam formar um punhal. Ou uma espada, algo do gênero. Augusta encarou o vidente.

- Essa é uma das leis do mundo. Sempre há consequências.

- Albus não é um bruxo das trevas... – ela comentou baixinho.

- Não estou me referindo aos princípios das artes das trevas, apesar de que gostaria de pontuar que você sabe quais são e bruxos da luz geralmente nem chegam a adquirir esse conhecimento...

- Fui casada com o filho de uma Black.

- Entendo... Bem, eu estava me referindo à ciência trouxa – Augusta franziu o cenho. – "Toda ação tem uma reação igual e oposta", terceira lei de Isaac Newton – contou Lakroff, assumindo sem que percebesse sua faceta de professor. – Era um matemático, físico, astrônomo, teólogo e autor inglês, ficou amplamente reconhecido como um dos cientistas mais influentes de todos os tempos e como uma figura-chave na Revolução Científica. A terceira lei que recebeu seu nome é conhecida como lei da ação e reação, mas em suma: Tudo tem consequência, será aplicado na mesma intensidade e direção, porém em sentido oposto, voltando à origem. Como quando socamos uma parede e sentimos dor, é porque a força que aplicamos se voltou contra nós na mesma intensidade e direção que o soco, pelo impacto com a parede, mas contra nós, o sentido oposto. Ela nos bateu com nossa própria força. O mundo funciona assim, tão simples quanto a ciência trouxa, tão exato quanto muitas vezes".

- Magia não é uma ciência. Que dirá exata.

- Você tem razão. É tão imprevisível quanto olhar o futuro – comentou dando de ombros e pegando sua xícara. – Eu posso estar enganado.

- Enganado sobre o que?

Ele apenas riu, não respondeu, ficou girando sua xícara de chá, então se abasteceu de mais, sumindo com o punhal.

- Você ainda não disse, sabe? O que faria se fosse seu neto? Ou será... que sua lealdade e história para com Albus te impede de conseguir pensar claramente? - ele de repente fez uma expressão séria, depois uma careta e inclinou a cabeça, como se tivesse pensado em algo e não soubesse ao certo se fazia sentido. - Albus não salvou sua vida nenhuma vez, salvou?

- Por que dessa pergunta?

- Nada não. E a minha pergunta?

- Eu... - a bruxa começou incerta.

- Não vai me dizer que...


"Realmente não sabe responder?"



Capítulo bônus 2 - Mitrica-Longbottom 

"Não somos os mesmos que nascemos, isso comprova a existência do destino ou o refuta? Somos a cada dia alguém novo, a cada ano mais longe do que já fomos e (no tempo certo) todas as nossas células originais já morreram, foram trocadas por novas em sua reprodução. Decididamente nos tornamos apenas uma cópia da versão original.

Nós mudamos de corpo, o que permanece é a mente, também em transição e evolução. Se fizermos certo. Deixá-la estagnada nos mesmos pensamentos, crenças e ideologias porque são as primeiras que se ouviu é apenas tolice. Ou ingenuidade, se quiser defender os tolos..."

Não. Augusta não sabia.

Augusta não sabia dizer na época, nem no primeiro ano de Neville, quando foi chamada para vê-lo em coma na enfermaria da escola após enfrentar Lorde Voldemort porque Albus decidiu que era boa ideia deixar a pedra filosofal (uma das coisas que bruxos matariam para ter) em uma escola.

Então deixou a escola um dia.

Também porque um professor que ele contratou e tinha responsabilidades com, estava possuído e matando unicórnios na sua escola e ele nunca avisou o Ministério sobre isso, querendo resolver ele mesmo tudo.

E não fazendo nada.

Neville teve que salvar o mundo e acabou ferido pelo bruxo das trevas. Quando ela o alcançou... ele estava com marcas de dedos no pescoço porque o professor tentara enforcá-lo. Ron Weasley, filho de conhecidos bem próximos dela, tinha levado uma espada de pedra gigante contra o corpo, de uma peça de xadrez humana(?!), todos estavam feridos e tudo podia ser evitado...

"Se fosse seu neto?" a frase a atingiu no instante que viu aquela cena na enfermaria e Hermione, doce menina, veio lhe contar o que aconteceu, antes de Albus aparecer e interrompê-las mandando a Granger deixá-los a sós e começar seu próprio relato.

Bem mais brando do que o da criança, mas crianças exageram, não? Veem o mundo de forma própria e fantástica e Hermione estava em seu primeiro ano no mundo da magia. Devia ser isso que transformava tudo em tão épico, um jogo não podia ser tão terrível quanto narrava... mesmo que as peças tentassem matá-los pois foram feitas para o lorde das trevas.

Isso estava, no fim, numa escola. Albus não...

Nem conseguiu terminar o raciocínio. Apenas acenou ao fim do relato do diretor. 

"Se nunca fosse culpa direta dele, mas Albus fosse relapso"...

Augusta apenas aceitou. 

Não brigou, não gritou, não levou Neville para um médico melhor porque confiava em Poppy Pomfrey. Apenas foi visitar seu netinho o máximo que pôde, lhe fez carinho, acalmou Harrison (que acabou descobrindo e ficou louco de raiva e preocupação), explodindo objetos por toda a casa, entre outras coisas.

Não teve coragem de olhar nos olhos de Lakroff, mas ele se aproximou calmamente e quando não fugiu, abriu os braços e a abraçou. Ela sentiu o cheiro de tangerinas, rosas, capim e seja lá mais o que havia, porque seu nariz começou a entupir. O Mitrica perguntou como Augusta estava primeiro, depois lhe garantiu que olharia Neville quando chegasse das férias, faria alguns exames e (se ela permitisse) algumas perguntas, para verificar se na situação não houve algo que tivesse afetado a mente do menino, qualquer coisa que Voldemort pudesse ter deixado. A Longbottom se sentiu tão aliviada com aquilo que não aguentou mais e chorou.

Se tinha alguém para dizer que Neville estava bem após enfrentar um lorde das trevas, era Lakroff Grindelwald/Mitrica, outra que era claramente um ótimo médico (Hazz estava cada dia melhor e servia como uma das provas principais), além de todos os livros que vivia consigo, mesmo sendo tão ocupado agora que trabalhava como professor, tanto de medicina bruxa quanto principalmente da trouxa, que usava para fazer experimentos e fundir os conhecimentos no laboratório da mansão Mitrica.

Ele, é claro, não foi o único Grindelwald a dar exatamente o que Augusta nem sabia que precisava para enfim entender como estava se sentindo e como agiria dali em diante.

Estava brava com Albus. Orgulhosa de Neville, mas preocupada. Não o parabenizou por aquilo, afinal ele arriscou sua vida e era muito novo para algo assim, tinha que aprender a pedir ajuda das pessoas, afinal ninguém era de ferro, ninguém podia fazer tudo sozinho.

Frank achava que podia enfrentar os comensais com apenas um distintivo de auror e alguns amigos.

Entretanto, deixaria claro que estava impressionada e que ele merecia os parabéns, se tivesse a idade adequada para um risco daqueles.

Os filhos de Lakroff, ainda brincaram de jogar ameaças para Dumbledore e para todos os professores de Hogwarts, por ninguém ter notado nada e por não terem contado sobre o trasgo ou a própria pedra à responsável por Neville, podendo evitar o perigo bem antes, mas eles transformaram tudo em uma história divertida: Agora tinham dois garotos que sobreviveram.

Crianças 2, Voldemort 0.

- A família Longbottom/Grindelwald! Não tem para ninguém! – disse Diego, o filho do meio.

Um menino que Augusta já ouvira sobre nas cartas de Harrison, mas que jamais imaginou que era um órfão vivendo consigo. Alto, pele negra, forte como poucos em sua idade e com uma altura intimidante, se não fosse pelos modos e trejeitos incrivelmente gentis que o tornavam naturalmente agradável a qualquer um que trocasse algumas palavras consigo.

Um trouxa, mas já não parecia mais algo a se considerar naquela casa a menos que para alguma piada, já que viviam fazendo comentários sarcásticos para tudo, assim como naquele instante.

- Você excluiu os Potter nessa frase, que também deram uma coça no cara de cobra – comentou Heris, que estava a um canto com uma calculadora, uma máquina de escrever e uma pilha de cartas.

Heris era diferente de seu irmão adotivo e antigo colega de quarto do orfanato. Em personalidade de certa forma, mas principalmente aparência e até em como ocupava seu tempo. Ele jurou, mesmo que Augusta achasse muito estranho, que a barulheira de todos ali ajudava a se concentrar e passou a trabalhar como fazia quase sempre que o via. Estudando as empresas, o que os elfos tinham feito e o que ele próprio poderia fazer.

Depois de alguns comentários da mulher, o loiro de olhos azuis amendoados explicou que, pelo tempo no orfanato e na fábrica que trabalhava, não estava acostumado ao silêncio total e que ele, na verdade, o deixava muito inquieto. No primeiro porque crianças eram barulhentas e se ficavam quietas geralmente algo ruim estava acontecendo e tinha que correr para ajudar. Na fábrica era uma máquina quebrada ou um horário onde tudo estava desligado e ele só estava lá... porque tinha que fazer "outros serviços menos legais" que levavam a madrugada e que decididamente não gostava.

Silêncio era decididamente algo que foi condicionado a não gostar.

Harrison, já sabendo disso e entretido com os comentários da família riu do que o mais velho disse e este enfim tirou os olhos do trabalha, o encarando aparentemente entendendo exatamente o que tinha causado a reação em seu caçula, por isso continuou provocativo:

- Cara de cobra, sem nariz, purpurina, pózinho, perdeu para um bebê – disse seguidamente, então, com um sorriso tão sacana que iluminou seus olhos, ainda cantarolou tal qual seu pai adotivo fazia: - Penadinho la la la la.

Todos imediatamente começaram a rir.

Augusta também, mas principalmente porque enquanto pessoas comuns em seu mundo pulavam de medo só de ouvir o nome Voldemort, aquele grupo de trouxas debochava livremente, mas sabia que provavelmente havia mais piadas internas do que ela própria conhecia naqueles apelidos, os Mitrica tinham gosto por debochar de lordes das trevas...

Da luz também.

Lordes... Talvez qualquer figura de autoridade do mundo, seja mágico ou trouxa. Deboche era parte da essência deles, sejam Grindelwalds de nascença ou não.

Até Gellert era um alvo frequente, apesar de que este, os parentes tinham mais piedade. Entretanto, só depois de anos o conhecendo e se apegando, nem por isso fugia às piadas por suas decisões de guerra e os filhos de Lakroff jogavam constantemente seus comentários ácidos na cara do homem, para vê-lo se contorcendo de vergonha.

Augusta chegou a pensar como o lorde das trevas ainda gostava dos pestinhas, sendo eles trouxas e agindo assim, mas então via como Harrison era feliz com os irmãos e como o homem era apaixonado pelo bisneto, sendo capaz de fazer tudo por ele e as coisas se somavam. Eles podiam ser o que fossem, desde que Hazz estivesse bem. Lakroff o mesmo, é claro.

Heris, principalmente. Vinha fazendo muito mais do que o próprio lorde das trevas esperava quando comprou as indústrias e ações antes de ser preso. Não havia apenas uma dedicação notável, mas o que servia para dar algum apoio e sustento à família, vinha se tornando um império (ou ao menos estava cada dia mais próximo disso) que colocava a família no topo do mundo trouxa tanto quanto bruxo e oferecia cada dia mais luxos e vantagens para seus objetivos. Seu empenho na área dos negócios acabou liberando até mesmo o próprio Lakroff para perseguir coisas de que gostava mais, como conseguir um cargo de professor na Durmstrang, pois só precisava ajudá-lo vez ou outra com algumas negociações quando ele e Diego discordavam, o que era raro. Ele deixava a maior parte para seu irmão enquanto se dedicava à parte médica dos negócios e se alistou no exército como profissional de saúde. Apesar de Augusta não saber porque quis isso, acreditava que o menino gostava de como sua posição lá ainda ajudava o irmão em alguns momentos com informações privilegiadas da União Soviética recém desfeita, mas também auxiliava pessoas nas missões altruístas do estado e em toda a questão pós guerra.

A Longbottom acabou assumindo que o talento daqueles meninos foi o que conquistou Gellert. Não só para os negócios em suas áreas, mas para ajudar Harrison, fazê-lo se sentir bem na mansão Mitrica e com Lakroff, mesmo depois de todas as experiências que o tornaram avesso à confiar nas pessoas, ele já estava acostumado com aquelas pessoas e, não só isso, aqueles órfãos faziam da casa um lar quente e vivo.

Então, assim como devia ser, fizeram Augusta mais leve depois de todo o estresse.

- Família Longbottom-Grindelwald-Potter? – sugeriu Diego, ainda sobre como nomear aquele grupo.

- Garoto, pense um pouco – reclamou seu irmão mais velho, revirando os olhos. – James virou lorde Mitrica antes de morrer, todos aqui têm o sobrenome Mitrica, é tão simples quanto Longbottom-Mitrica!

-Ah... - murmurou Diego afirmando com a cabeça. – É que eu pensei que guardaríamos esse para o casamento do Hazz, afinal vai se chamar assim quando admitir que gosta do Nev, não é?

E pela primeira vez quem foi atacado com uma bola gigante de água foi Diego, não sua irmã. O garoto acabou sendo arremessado da cadeira e caindo no chão com o impacto, enquanto Harrison revirava os olhos e a garota dos Mitrica zombava dizendo que, ao menos, Nev não estava ali para ter um ataque.

Aquilo. Aquela pequena dose de caos que apenas os Mitrica sabiam dar na medida certa, foi perfeito.

Foram barulhentos, debochados, amistosos, atenciosos e gentis durante todo o período de férias. Como sempre, ainda respeitando os limites da viúva e opiniões pessoais sobre o mundo, política e sociedade mágica em geral. Sabiam que divergiam em opiniões, mas todos entendiam o que fazia cada lado tomar as escolhas que tomava e respeitavam. Estavam sempre abertos a debate, mas o importante era entender que haviam opiniões válidas e diferentes.

Assim como fontes de magia válidas e diferentes, como já bem vinha aceitando conforme, na influência deles, voltava a comemorar todos os feriados pagãos como tinha de ser e gostava antes de todo o estigma que as guerras causaram em seu coração.

- Você ainda pode mandá-lo para outra escola, não é covardia ou vergonha - comentou Lakroff cautelosamente em outro dos dias daquele verão, em mais um daqueles momentos em que ficaram sozinhos enquanto todos os jovens iam para fora brincar.

Daquela vez, uma brincadeira trouxa: de briga de galo.

Em cima de vassouras.

A Longbottom acharia um jogo injusto e perigoso, se Harrison não fosse um prodígio voando e ele não tivesse ficado com um trouxa, tendo assim que controlar seu "veículo" sozinho com um peso vivo a mais. Também se sua irmã não fosse ótima nocauteando pessoas com socos e tê-la na equipe de Neville dava uma vantagem gigantesca ao menino, mesmo que fosse o pior voador do mundo.

Heris estava numa toalha de mesa na grama, com Long e Bibi debatendo ideias, já que eram os elfos que mais ficaram responsáveis pelas empresas antes de Lakroff e ele próprio.

- Eu não acho que seja covardia tirar Neville de lá – respondeu a bruxa. – Mas Hogwarts ainda é a minha escola, é a escola de Frank e...

- Você não está juntando os dois novamente, está? – questionou preocupado.

- Não. Não vou cometer esse erro de novo – garantiu.

Ela já falhou na criação do seu menino. Dos dois que teve que criar provavelmente, mas talvez um pouco mais com Neville.

Por já estar em uma idade avançada e com sua força se esvaindo após a guerra tomou decisões tolas. A maior falha sem dúvidas foi quando quis criá-los exatamente iguais. Porque, "se deu certo com um, poderia dar certo com o outro". Porque era "a educação adequada para o futuro lorde". Porque Neville deveria se orgulhar de Frank e seria um bom garoto se fosse como ele, mas principalmente e acima de tudo:

Porque estava em luto.

Queria seu filho de volta e o viu no neto um pouco disso, uma chance de tê-lo consigo, por isso em alguns momentos quis colocá-lo numa caixa, num molde e fazer dele uma extensão do que foi Frank. Em outros se afastou e foi fria demais pelo mesmo motivo, ver um reflexo parecido demais. Se arrependia muito de como deixou aquele luto eterno controlá-la.

Às vezes pensava que teria sido melhor Frank ter morrido de vez. Assim ela e Neville não precisariam viver nessa sombra, alimentada por uma luz de esperança que não passava de doentia e maldosa com seus corações, afinal jamais fariam nada além de escurecer seus corações com aquela dor.

Por essas e outras, sabia que ainda era falha, mas Lakroff esteve lá com sua visão diferente do mundo para lembrá-la como eram pessoas diferentes, que ela poderia ser rigorosa o quanto achasse necessário, mas Neville era uma pessoa única e só floresceria se entendesse que era uma espécie própria e que precisava do adubo certo, do próprio vaso (não o mesmo que o do pai, usando sua varinha velha), de novas medidas de água, terra... Tinha sim partes de Frank, mas era uma espécie nova que ela ainda tinha que conhecer.

- Você gosta de analogias, não é? – perguntou ao homem, que riu.

- Meus alunos entendem melhor assim, muitas vezes. Desculpe se a estou tratando como aluna - pediu o platinado.

- Eu só quero que ele seja melhor que seu pai. Neville tem potencial para isso, mas às vezes ele-

- Ele é diferente. Compará-lo ao pai só o fará podar suas próprias folhas... Desculpe. Sem analogias. Obrigá-lo a seguir o que funcionou para o pai dele o fará interpretar pelo resto da vida um papel e isso o tornará uma cópia e cópia nenhuma será tão valiosa quanto a obra original. Faça uma nova pintura e... eu fiz uma analogia de novo.

- Fez – riu a mulher. – Mas eu gostei, então vou deixar passar.

Mas, pessoa diferente ou não, Augusta ainda era responsável por seu neto e queria ensiná-lo da forma que achava melhor.

- Hogwarts é parte da história da minha família. Não é porque Neville é filho de Frank, mas porque é um Longbottom e sempre estivemos lá. Seria triste tirar isso dele.

- Como estudioso de sociologia, entendo a força das tradições e do passado das linhagens, como isso influencia o mundo e as pessoas que nos tornamos, entretanto também como professor de história, acredito que ela serve para aprendermos e não errar novamente. Nos permitir evoluir e criar o futuro. Repetir o que vimos antes nos torna estagnados no tempo e não apenas falhos, mas totalmente tolos. Olhar demais para frente é ruim, mas se prender ao passado é tão terrível quanto. Se não pior, pois envolve estagnação mesmo que contraproducente.

- Não estou presa ao passado. Nunca foi um erro estudar em Hogwarts.

- Espero apenas que nunca seja – respondeu baixando a cabeça.

As conclusões de Augusta até o fim daqueles meses foram que estava brava com Albus e que devia falar com ele e, por isso, marcou uma reunião antes de primeiro de setembro.

Nela, deixou claro que exigia mais cuidado para com os alunos e insistiu que ficasse mais atento com a escolha de professores dali em diante. Que não importava Quirrell já ser do corpo discente, Albus deveria vigiar as aulas ou verificar a segurança perguntando às crianças, tomar cuidado para que a influência de algo tão perigoso como um lorde das trevas não os atingisse mais.

Assim Neville foi para seu segundo ano em Hogwarts. Diante de um bico gigantesco de Harrison, maior ainda do que no primeiro, mas Augusta preferiu assim.

"Se repetidas e repetidas vezes, Albus deixasse de ver o perigo, se preocupar o bastante ou prevenir o que estava a seu alcance e era sua responsabilidade como guardião e quem fosse atingido fosse seu neto?"

O segundo ano foi pior.

Não esperava que Albus contrataria Gilderoy Lockhart e que permitiria o diário de Tom Marvolo Riddle e a câmara secreta. Alunos petrificados, mas aquilo não era novidade. Todos ainda falavam da câmara quando Augusta estudou em Hogwarts, não era culpa de Albus e ele estava tentando.

Mesmo assim Harrison conseguiu um resultado melhor na descoberta com simples cartas.

Claro, ainda era uma família de videntes e um deles... Via desastres.

Ginevra foi levada, Lockhart atacou seu neto e o amigo, por sorte falhando e perdendo a memória apenas porque a varinha de Ron estava quebrada.

Neville enfrentou um basilisco centenário com uma espada ganhando uma cicatriz de sua presa no braço.

Tracy Davis morreu.

Não parecia tão desastroso como a maioria das visões de Lakroff, mas ainda era horrível o bastante, aparentemente. Augusta precisou de outro abraço do amigo e dessa vez chorou como nunca, porque não suportava que seu neto tivesse visto a morte tão cedo.

Não conseguiu repreendê-lo, se recusou a parabenizá-lo como muitos faziam e nem mesmo teve a capacidade de tocar no assunto, porque via a dor e a culpa nos olhos dele. Salvar Ginevra era bom, mas ele ainda se sentia falho e ninguém poderia mudar isso porque uma pessoa ainda morreu. Infelizmente, ainda era alguém que queria salvar a todos, como seu pai.

"Por favor, não vá por esse caminho" Augusta pensava, julgando a si mesma por talvez ter incentivado isso no começo. "Você não tem que ser um herói como ele. Heróis morrem..."

O pensamento era ruim e ia contra muito do que acreditava, mas com o coração na mão e nos braços de um Grindelwald para se acalmar, ela tinha coragem de aceitar que sim, pensava daquela forma.

Porém por fora apenas inspirou fundo, foi até o neto, mandou que parasse de se curvar tanto no tribunal que liberou Hagrid e oficializou a morte da colega. O seguiu para cumprimentar os pais de Tracy, falou com o casal, porque sabia que seria doloroso demais para Neville abrir a boca, mas quando ele se escondeu atrás dela o empurrou para frente, porque não havia do que se envergonhar.

Para o bem ou para o mal, foi um herói (mais uma vez). Deveria erguer a cabeça, sem seus esforços outros poderiam ter morrido. Ginevra principalmente seria a próxima. Neville Longbottom era um garoto incrível.

Quem tinha que se envergonhar era Albus.

De novo.

- Ele pode estudar na Durmstrang, eu e Harrison ficaríamos de olho – ofereceu Lakroff, enquanto ele e Augusta cortavam algumas ervas da estufa onde guardava as flores mais sensíveis.

- Não vai ser pior? Ele está passando por algo realmente difícil e novo, eu não queria tirá-lo de onde já conhece. Perder todos os amigos que já tem. Harrison é incrível, mas talvez ele precise de Ron, que esteve consigo a maior parte do tempo e pode estar sentindo culpa parecida, que o convidou para passar as últimas semanas juntos ou Hermione, que quase perdeu. Eu só...

- Acho que sei o que quer dizer. Já passei por uma situação assim. Não ter certeza se a forma como tudo está agora é segura, mas ele está apegado demais e tirá-lo esse vínculo tão preciso poderia ferir seus sentimentos mais do que já estão. Talvez seja melhor esperar cicatrizar e apenas ficar de olho para evitar que lhe cause mal.

- Exato – e suspirou, feliz que Lakroff entendeu. Ele sempre entendia. Ambos sempre o faziam e era por isso que funcionavam, diferentes em essência e até opostos, mas se atraiam e respeitavam. – Outra que – o loiro a encarou, esperando que continuasse. – Neville está frágil mentalmente agora. Não acho que colocá-lo diante da magia das trevas seria o melhor.

Nenhum dos dois perdeu como aquilo era importante, a mensagem que guardava. O problema de Augusta não era mais a Durmstrang ou as artes das trevas em si, mas apenas se seu neto seria capaz de aguentá-la sem ser prejudicado. Aos poucos... ela estava mudando. Aceitando.

- Eu o deixaria seguro – garantiu o Mitrica. – Sei como fazer isso da forma certa. Tenho anos de experiência, treinei dezenas e talvez até centenas de bruxos de todas as idades, não-

- Sei que você tem anos de experiência, é um velho dinossauro – interrompeu a mulher e o amigo lhe jogou terra como vingança.

- Olha quem fala, um pé na cova e outro no sabonete, sua bruxa velha caquética! – ralhou.

- Você só não virou purpurina ainda porque é um trapaceiro! – respondeu.

Os dois continuaram se provocando por um tempo, mas quando se cansaram, a mulher voltou a pesar de preocupação. Sentindo aquilo, Lakroff se aproximou, agachou-se ao lado da amiga e pôs uma gardênia em seu cabelo.

Enquanto esta fechava os olhos aceitando o gesto, ele comentou:

- Existia uma lenda – Augusta imediatamente sorriu. Lakroff e suas histórias de contos bruxos antigos. – Que um bruxo das trevas realmente forte, seria capaz de matar todas as flores que se aproximasse, pois sua pureza não sobreviveria a magia maligna em si.

- Você não poderia ter esse jardim se fosse verdade.

- O mundo está cheio de mentiras, Augusta. Geralmente, feitas por alguém, para enganar e manipular um grupo específico. A tal lenda dizia que se isso acontece, para descobrir a tendência e a força de um bruxo você só precisaria carregar uma flor e, se ela murchasse, era sinal de perigo. Por isso os trouxas começaram a carregar flores nas lapelas dos paletós e isso os fazia se sentir seguros o bastante.

Augusta riu baixinho:

- É sério?

- Bem, eles obviamente inventaram outras desculpas para isso, principalmente no mundo da moda, mas sim. Começou assim.

A mulher continuou rindo, dessa vez com mais vontade, achando muito divertido imaginar que homens guardavam flores nos bolsos e mulheres até coroas de flores para descobrir algo que, ao arrancar a flor, eventualmente ela murcharia e sem dúvidas isso condenou mais de uma pessoa por bruxaria em algum ponto. Era terrível como uma mentirinha inocente podia causar um mal gigante.

E perceber isso lhe causou um arrepio.

Que só piorou conforme Lakroff continuava:

- A humanidade precisa da mentira para ser humana. Seja mentindo por empatia, para não magoar ninguém, com a literatura que conta histórias fantásticas para ver a realidade e debatê-la, mas de forma lúdica para alcançar todo público e para nosso deleite porque precisamos da arte, então ainda mais longe, seja com a religião, para justificar os males e o acaso do mundo e nos fazer sentir melhor com a realidade cruel e ociosa. O mundo se abastece da mentira, porém se emaranha com a verdade e nos deixa confusos. Por isso algumas coisas ainda são vistas como verdade mesmo claramente não sendo. Pessoas acreditando que um homem amar outro homem é uma doença a ser tratada com choque e crueldade, mas a depressão é apenas um drama e uma fase ruim que não precisa de tratamento.

"Ouvimos mentiras desde pequenos e começamos a, inconscientemente, ser manipulados por elas e é tão difícil tirar essas raízes quanto foi colocá-las. Uma história de cada vez. Um... bruxo das trevas por vez para arrancar as ervas daninhas e plantar coisas boas no lugar e você ver que podemos plantar de tudo".

A viúva suspirou e pegou uma margarida que estava próxima dela, colocando-a no avental de jardineiro do amigo.

- Você está dizendo isso tudo para defender que eu posso estar tão preocupada com as artes das trevas apenas porque essa é uma ideia enraizada na minha cabeça e mesmo que eu ache que já superei, você sabe que ainda tenho medo de deixar Neville aos seus cuidados? – perguntou, baixando a cabeça.

Outro momento que demonstrava o entendimento mútuo da dupla. Poucos conseguiam acompanhar o fluxo estranho e "aleatório" que os pensamentos do platinado tomavam às vezes. Só que acertara em cheio.

- Sim – concordou o Mitrica. – E talvez porque ouviu por tantos anos todos falando bem de Dumbledore e mal do nome Grindelwald que ainda lhe custa trocar isso em seu coração, mesmo que a mente já o faça. Mas tudo bem. Leve o tempo que precisar para mudar suas raízes querida. Isso... – ele levantou o rosto da mulher com delicadeza, o que sujou seu queixo de terra, mas ela não se importou. – É puramente uma decisão sua e não me importa. Sou seu amigo mesmo quando me odeia.

Ambos sorriram um para o outro e, naquela noite enquanto todos os mais jovens jogavam Monolopy aos gritos na biblioteca, beberam e cantaram ao som de uma estação de rádio do mundo trouxa.

Os Grindelwald foram mais uma vez, tudo o que precisaram. Ela e o pobre Neville, tão quebrado pelo trauma e o choque, mas que pareceu se reconstruir tijolo por tijolo a cada dia, sentiram-se acolhidos e protegidos no lar de um lorde das trevas e ela simplesmente aceitou que era sua nova vida.

E gostava assim.

A segurança, confiança, a força e o sorriso dos Longbottom foi aos poucos restaurados.

"Se a vida dele fosse muito mais difícil porque continua sofrendo com perigos que podiam ser evitados com um pouco mais de atenção daquele que se dispôs a isso?"

Quando Sirius Black escapou Augusta estava uma pilha de nervos tão grande que foi de polidamente apática (como uma lady devia), para um bloco de gelo.

Tudo porque não queria que Neville e, dessa vez nem Harrison, descobrissem como estava mal com o traidor em fuga. Perdeu as contas de quantas vezes Lakroff ofereceu para ela e Nev dormirem na mansão Mitrica e quantas vezes seu filho mais velho ofereceu uma arma.

- Bruxos ainda não tem um feitiço contra uma bala. Te garanto que as minhas são as melhores do mercado, eu te ensino a atirar.

Era uma piada.

Do tipo macabra e mórbida que os Grindelwald amavam. Mas Augusta apenas torceu para que seu neto estivesse livre dessa vez.

Então recebeu a informação (apenas a informação, nada de ao menos uma reunião antes) de que Hogwarts teria Dementadores em seus arredores. Justamente alguns meses depois de Neville passar por uma experiência traumática! Ficou tão furiosa que sentia que poderia aceitar a proposta da arma, mas não para Black, sim para qualquer idiota que teve aa ideia de colocar monstros cruéis como aqueles perto de adolescentes! Queria gritar com o ministério por fazer algo como aquilo, com Dumbledore por não dar um maldito jeito de impedir já que ele não conseguia impedir nada!

Então Sirius Black invadiu o dormitório da Grifinória.

Pior, só descobriu por intermédio dos Weasley, porque Percy teve a decência de contar aos pais! Estava pronta para tomar alguma atitude, mas algo ainda a segurava...

Foi perto dessa época que fora chamada para um tribunal, aberto por Albus Dumbledore para inocentar Sirius Black depois de Neville Longbottom ter prendido o traidor Pedro Pettigrew (um bruxo adulto e verdadeiro culpado do assassinato dos Potter, comensal da morte nunca julgado) e o fugitivo de Azkaban... tudo nos terrenos de Hogwarts.

Ela simplesmente vomitou.

Seu corpo incapaz de continuar segurando tudo aquilo e precisando liberar de alguma forma o descontentamento latente. Lakroff segurou seu cabelo e deu risada durante todo o processo, dizendo que sempre quis ser o amigo que segurava o cabelo da amiga na balada e de alguma forma aquela palhaçada tão... trouxa saindo da boca do Grindelwald a fez ter forças para pôr um vestido adequado, passar uma maquiagem, pegar sua bolsa vermelha "de batalha" (como o lorde Mitrica chamava), colocar sua máscara e ir de braços dados com seu herói mirim para aquele salão no ministério.

Quando viu Albus em pessoa, percebeu que o carinho que tinha por ele tinha ido embora, sem que sequer notasse como ou quando exatamente. Apenas entendia que foi causado por uma sucessão de eventos e aceitou. Não só isso, se vestiu disso para tomar força na raiva.

Tudo que um dia pensou daquele homem, substituído por algo que não sabia nomear, mas julgava que havia muita decepção envolvida.

Foi quando pensou mais seriamente em transferir Neville para a Durmstrang.

- Eu ensino o suficiente para que ele não seja prejudicado e garanto que temos um sistema muito bom para adaptação de alunos novos no instituto – garantiu Lakroff quando ela comentou isso. – Mas ano que vem estaremos em Hogwarts. Os quintos anos em diante apenas. Claro que posso tentar levar os quartos anos também...

Só que Augusta percebeu que seria muito mais difícil para Lakroff e Harrison conseguirem que tantas pessoas assim do instituto fossem para a Inglaterra. Pais que não gostariam, ensino prejudicado, questões legais de muitos países. Ela atrapalharia os planos deles com algo bem desnecessário, afinal ambos estariam com Neville em 1994. Precisava aguentar só dois meses até que os Grindelwald estivessem com seu menino e depois poderia relaxar. Confia neles para cuidar de Neville com a sua vida. Mesmo que fossem sonserinos (eles afirmando isso ou não), ainda eram mais do que tudo dragões Feuer e dragões tinham um fogo de leão grifinório reconhecível.

E uma arrogância capaz de destruir qualquer um que entrasse no caminho deles para ajudar seu neto.

"Sei que é pedir muito" ela escreveu para Lakroff e Harrison numa carta, um dia antes do previsto para partir à Hogwarts "Mas cuidem do Neville. Sei que não tenho muito a oferecer, nem que é dever de vocês, só que acredito que neste ponto já somos uma família, então oferecer meu amor é o que posso. Cuidem dele, como eu cuidaria de vocês".

Recebeu a resposta deles junto com a volta de Abigail, a coruja de Neville. Algo pequeno demais para sequer ser chamado de carta:

"Pedir muito é querer que eu não te xingue por uma coisa que já estava mais que óbvia. A velhice parece estar afetando sua razão, eu tomaria cuidado".

Harrison nem se dignou a escrever algo, mas a mensagem foi dada. Eles sempre estariam lá uns pelos outros, ela não precisava sentir que seu neto acabaria em mais uma situação de vida ou morte de novo. Não precisaria passar por todo o estresse e preocupação.

A negligência de Albus não o afetaria mais.

Aliviada, respondeu ao seu amigo com outro bilhete provocativo: "Pelo menos a minha consciência é afetada pela idade, você já nasceu sem uma, dinossauro".

Não pensou mais nisso.

Até aquela tarde.

Até que sua lareira se iluminasse em verde e de dentro saísse uma carta de Hogwarts.

Receber uma encomenda pela rede de flú era incomum. As pessoas só faziam isso quando estavam com muita pressa, desesperadas por uma resposta, mas quando encarou a letra já conhecida em tinta verde de Minerva McGonagall junto do brasão de Hogwarts, Augusta tremeu tanto que deixou a coisa cair. Era como se estivesse em brasas e acabasse por queimar os dedos se continuasse a tocar por muito tempo.

Que outro motivo teria Minerva para mandar aquilo se não fosse Neville?

E com os Grindelwald o resguardando, o que poderia tê-lo acometido que nem eles pudessem evitar?

Ou avisar eles mesmos...

Augusta realmente esperou o pior, mas nem isso a preparou para aquilo. Ou à sua magia, que pareceu rugir de dentro dela e explodir para fora, quebrando vasos de planta pela sala.

"Cara Augusta,

Mando esta carta, não como Professora de transfiguração de seu neto, mas amiga. Estou passando por uma situação complicada e urgente, que achei que a única pessoa que tinha direito de decidir como prosseguir é você. Peço minhas desculpas por ter demorado tanto para lhe escrever e espero que entenda minha fraqueza, tentei dar uma chance para que o próprio Albus lhe contasse, mas como um covarde ele não lhe escreveu e preferiu chamar diretamente Neville para sua sala esta tarde, o que achei uma afronta gigantesca e foi imediatamente interrompida assim que me chegou ao conhecimento, mas o evento me fez perceber que não poderia mais postergar essa situação, nem deixar nas mãos de Albus.

Ele parece não entender a gravidade de suas próprias ações e eu poderia tentar justificar com vários argumentos, desde sua criação em outros tempos, onde esse tipo de atitude poderia ser aceita (hora, haviam masmorras para prender alunos em castigos!), mas não acho que alguém que se disponha a ser diretor de uma escola deva se prender a conceitos aos quais já evoluímos e abandonamos. Cabe a ele, se está nessa posição, nunca deixar de aprender e melhorar de acordo com sua própria sociedade e seguir suas regras, ou jamais será um bom exemplo ou bom educador.

Acho que estou me estendendo em demasia e admito que provavelmente é causa de minha própria covardia. A situação é complexa, mas deixo em suas mãos as consequências. Para Albus.

Para mim.

Eu tenho uma confissão dele, então garanto que é verdade, mas sem mais devaneios, vou direto ao ponto: Albus leu a mente de Neville neste sábado.

Eu [...]"

"Se seu neto passasse anos disso... o que faria?"

Ela ia desejar destruí-lo.

Isso é o que aconteceria.

Eu disse que voltaria em janeiro e hoje é primeiro de fevereiro. Desculpem. Em minha defesa fui diagnosticada com TDAH, minha mãe está internada por sabe se lá quantos meses, tenho que achar terapia urgente para minha irmã e eu tive que ir tanto no hospital que decorei o nome de uma pessoa (eu ainda erro nome de pessoas que trabalham comigo, então isso é preocupante). Isso é o básico. Tem muito mais.

Vida pessoal caótica de lado, eu voltei com um capítulo bônus por dois motivos:

1. Eu estava me cobrando tanto para voltar com algo incrível, perfeito e marcante que nada saia. Eu tenho que aceitar o que tenho a oferecer e lembrar que se estão aqui, é porque alguma coisa ainda presta hahah

Decidi postar o que já estava pronto (porque eu obviamente fiz 5 versões desse capítulo) e meu leitor beta sugeriu que depois usamos o que sobrou para o próximo capítulo.

2. Parando aqui, eu já tenho metade do capítulo 41 pronto, olha só! Então logo já estou de volta.

Mesmo que esse capítulo não seja o monstro gigante que estão acostumados, capítulos menores pode ser que eu demore menos para postar, então no fim estou tentando algo que ajude vocês a me verem com mais frequência mesmo que minha vida esteja me testando a paciência. Vamos ver como funcionará, mas agradeço à minha querida beta que vem me ajudando muito com meus surtos.

Espero muito que tenham gostado e até a próxima!

PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited

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