Capítulo 7 - Amizade e um soco bem dado
Essa música é a trilha sonora do final do capítulo, vocês irão entender quando chegar lá...
Anteriormente eu desenvolvi um pouco da instabilidade do Harry e como ele se preocupa com Neville, que consegue sempre fazê-lo voltar a normalidade. Hoje será o contrário, veremos como Neville se sente em relação ao Hazz.
Espero que gostem e me avisem qualquer erro (estou com sono, então provavelmente haverá algum).
Boa leitura!
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Capítulo 7 - Amizade e um soco bem dado
"Neville estava preocupado com Hazz, que não dormia, comia ou tinha tempo livre,
Ele acreditava que era para fugir de alguma coisa, só errou do que era".
Como era sábado, normalmente a maioria dos estudantes teria tomado o café da manhã mais tarde. Rony, Hermione e Ginny, porém, não foram os únicos a se levantarem muito mais cedo do que costumavam nos fins de semana. O próprio Neville já estava na mesa da Grifinória quando chegaram.
- Porque não me acordou com você? - Rony perguntou ao se sentar com o amigo.
Agora que o ruivo também tinha conhecido Harry Potter toda a raiva simplesmente sumiu com a mesma velocidade que chegou. Neville sentiu uma dor no peito ao pensar que talvez fosse apenas pelo fato de que, se ele e Nev estivessem brigados, Rony não poderia conversar com o garoto famoso.
Essa ideia também foi dispensada rápida, antes que doesse mais. Não queria pensar mal do próprio amigo.
- Levantei muito cedo, não queria te incomodar.
- Porque você levantou tão cedo?
- Não sei, só acordei e não tive mais sono.
O trio engatou em uma conversa tranquila, Rony estava animado, assim como vários outros alunos, em supor quais seriam os campeões e os desafios do torneio, enquanto algumas pessoas iam e se inscreviam junto dos aplausos dos presentes. Um assunto muito melhor do que continuar bajulando as celebridades do momento presentes na escola.
Em certo horário, como era de costume, corujas começaram a entrar, mas... eram muito mais do que o normal. Só então os alunos de Hogwarts perceberam algo que estava na frente deles: havia muitos visitantes no castelo.
O Salão deveria ter sido aumentado por magia, o que diminuía um pouco essa percepção, mas as várias penas de animais marrons, brancos, pretos, cinzas, circulando o teto, em busca de seus remetentes, fazia com que finalmente ficasse claro.
Mal se dava para ver a cobertura encantada.
A maioria das corujas veio, deu jornais e algumas correspondências então já saiu, liberando aos poucos a aglomeração no ar. Quando finalmente apenas algumas sobraram Ron e Hermione (assim como Ginny) notaram uma coisa: a coruja branca estava de volta.
Havia uma coruja das neves, totalmente branca e majestosa, que todos os dias 10 e 20 de cada mês vinha dar cartas à Neville. Ele geralmente já tinha o próprio envelope consigo quando ela chegava então, mesmo antes de ler o que recebeu, entregava-lhe e a ave saia. As vezes também aparecia em outros dias, houveram períodos (raros, mas aconteceram) em que ela esteve dia sim, dia não. Muito irritada com isso até que Neville lhe dava alguma comida e finalmente parecia aceitar a realidade e seguir adiante.
Hermione, curiosa como era, perguntou uma vez e Neville explicou que era de uma espécie de amigo por correspondência, que morava longe, mas que havia conhecido quando criança.
Ela não tinha juntado os pontos até aquele momento, mas de repente entendeu. Quando Harry Potter, na mesa da Sonserina, alguns lugares às costas do grupo de ouro, se levantou com a coruja do próprio Neville no braço. Os sussurros nas duas mesas também indicavam que a Granger não era a única a entender.
- Sua avó me mandou uma carta Nev - disse o de olhos verdes, mostrando seu envelope.
- Seu...Tutor? - respondeu tentando evitar revelar muito sobre essa parte de Hazz.
Ele levantando a própria carta que recebera e se virou no banco, para ficar de frente para a mesa de verde e prata.
Harry se aproximou e colocou a coruja do Longbottom ao lado da sua.
- Oi Edwiges - cumprimentou, estendendo o braço o suficiente para fazer um carinho entre as penas do pescoço do animal. - Como vai minha querida? - ela apenas deu uma bicada carinhosa em seu dedo e se aprumou na mesa. - Vamos abrir juntos, Nev?
- Claro.
- Posso me sentar aqui, senhorita Granger? - perguntou, a menina foi um pouco para o lado abrindo espaço e ele sentou-se.
Assim como Neville, preferiu ficar com as pernas para fora do banco mantendo-se de frente para a Sonserina e os amigos da Durmstrang, que o olhavam curiosos.
Os dois garotos abriram suas encomendas e ficaram quietos alguns instantes, até que Harry riu:
- Eu disse mesmo isso?
- Como?
- Sua avó escreveu que quando éramos pequenos eu reclamei que se você arrumasse uma namorada eu azararia ela para não te roubar de mim - comentou sorrindo muitíssimo divertido.
Neville corou fortemente e arregalou os olhos para o amigo.
- E porque raios ela escreveu isso para você?!
- Ela disse que estava feliz por eu estar em Hogwarts, assim eu podia ficar de olho em você. Está conquistando muitos corações, querido Nev? Para sua avó estar tão preocupada...
- C-claro que não! Que absurdo é esse?
- Não sei... eu diria que muitas garotas podem estar interessadas no guerreiro de plantão de Hogwarts. Você está mentindo para que eu não teste os feitiços novos que aprendi em uma pobre coitada?
Neville, impressionantemente, conseguiu ficar ainda mais vermelho.
Se antes ele parecia estar em chamas, agora dava a impressão de que ia explodir ou tornar-se roxo em alguns instantes.
Ele mirou um tapa nas costas do amigo que se levantou a tempo de quase desviar completamente, mas o som ainda foi forte o bastante para se ouvir. Harry gargalhava abertamente.
- Que coisa Hazz! - reclamou abaixando a cabeça, querendo sumir dos olhares que estava recebendo.
Alguns de ódio, diga-se de passagem.
- Não se preocupe Nev, eu sou bom o suficiente com azarações para não ser pego.
- HARRY POTTER! - gritou encarando o amigo, mas se arrependeu ao vislumbrar por tempo o suficiente os rostos das outras pessoas, então cobriu o próprio com as mãos. - Esse não é o problema e você sabe!
- Não é? Entendi... você está preocupado que as pretendentes em potencial fujam depois disso. Elas deveriam, se forem espertas. Que esperem eu voltar para a Durmstrang ano que vem.
- Pare de fazer essas brincadeiras na frente de todos! - murmurou e Harry percebeu um tom realmente desesperado na voz do outro e se sentindo péssimo com a ideia de ter ido longe demais.
- Desculpe, não queria te deixar tão incomodado - respondeu parando inclusive de sorrir.
Neville demorou um tempo para responder.
Por Merlin, seu coração havia acelerado muito com aquilo. Hazz poderia estar acostumado com olhares de desejo ou até cantadas, mas Nev não. O de olhos verdes era lindo. Inteligente, esforçado, poderoso. Era natural que atraísse as pessoas.
Neville não era nada demais, ter alguém como o amigo falando aquele tipo de coisa na frente de todos mexia com partes da sua insegurança que ele mal conseguia descrever.
Mas o de cabelos negros parecia verdadeiramente preocupado agora, então o Longbottom respirou fundo e liberou o rosto de novo.
- Tudo bem... É só que as pessoas olham quando você fala esse tipo de coisa em público.
- Devo continuar falando só na frente da sua avó?
- Hazz!
- Foi mais forte que eu, desculpe.
Harry conseguiu evitar suspirar de alívio quando Neville apenas lhe sorriu, ainda corado, e negou com a cabeça.
- Você sabe que estou sendo apenas um chato.
- Você nunca é chato - murmurou Nev revirando os olhos. - Minha vó disse alguma coisa importante nessa coisa ou só quis me avacalhar mesmo?
- Avacalhar? Quem diz avacalhar?
- Você está definitivamente difícil hoje.
- Só difícil? Pensei que já tinha chegado ao ponto de impossível, igual na primeira noite aqui.
- É seu objetivo, por acaso? - perguntou cruzando os braços emburrado.
- Eu geralmente tento superar meus números, é questão de ser cada dia melhor no que fazemos bem.
- Você oficialmente subiu para impossível, feliz agora?
- Muito. Agora sobre a carta... - o mais alto bufou. - Nada de mais, Augusta só está me perguntando o de sempre. Minhas notas, se estou comendo feito gente, dormindo direito... É feio mentir e dizer que estou tão bem nas duas últimas quanto com as notas?
- Quantas horas você dormiu?
- Hoje ou na semana?
- Agora que você insinuou isso, quero saber na semana inteira.
- Umas doze, talvez quatorze. Hoje mesmo foram duas, talvez?...
- Caramba Harry! Vai dormir! - mandou irritado.
- Segunda eu vou.
- Segunda-feira?!
- É! Hoje à noite tem o banquete de Halloween aqui e Samhain no barco depois, então domingo a escolha de campeões...
Harry ainda estava grato por Mitrica ter conseguido convencer a organização do evento de mudar a tradição do torneio e colocar a escolha do cálice para o dia primeiro de novembro, assim os alunos da Durmstrang poderiam comemorar o Samhain sem problemas e no barco, onde era território internacional e, portanto, as leis não poderiam impedir o ritual, mas também não atrapalharia ninguém em Hogwarts.
- Samhain? Vocês vão fazer o ritual de sabbat, então? Realmente foi permitido?
- Claro que foi. O barco é como um pedaço de terra da embaixada, é território dos ministérios responsáveis pelo instituto Durmstrang, as leis vigentes são as mesmas do castelo, por isso há tantas proteções, como o livro caixa ou...
- Livro caixa? - Hermione perguntou sem se incomodar em entrar na conversa.
- Todo mundo que entra no barco tem seu nome escrito em um livro mágico junto do horário em que chegou, quando a pessoa sai é acrescentado o de partida. Se alguém suficientemente desprovido de racionalidade ficar entrando e saindo por brincadeira, completaria uma página inteira só com seu nome, várias vezes. Assim temos registro do momento em que estávamos no "nosso país", sobre nossas leis, e quando não. Se algo acontecer e o ministério decidir verificar nossas varinhas podemos provar onde estávamos quando fizemos determinado feitiço ilegal em algum dos países.
- Que interessante!
- Não só isso, o livro identifica no mesmo instante pessoas que não foram autorizadas e ativa as seguranças do navio, todos nós saberemos que há um intruso e as proteções vão marca-lo da cabeça aos pés. Para entrar sem ativá-la você teria que passar por vários processos, pois seria a mesma coisa que fazer uma viagem internacional.
- Que tipo de coisas?
- Bem... Você teria primeiro que ter uma autorização, carimbada pelo ministério, para entrar em território internacional sendo menor de idade e desacompanhado. Teria que ter um registro assinado por um juiz bruxo com o período da viagem e quem será seu novo responsável quando chegar no destino. Então há outro questionário para essa pessoa, também a autorização do diretor ou do vice diretor da Durmstrang, para que você possa pisar na escola como visitante, autorização do ministério britânico e dos pais para que você possa fazer o ritual de sangue do livro caixa, que é considerado magia negra, e a última coisa é a assinatura de algum dos ministérios responsáveis pelo instituto igualmente autorizando sua presença.
- O ministério Russo também é um dos responsáveis? - perguntou Neville.
- Sim, por quê?
- Só verificando se todos os documentos estavam certos - respondeu retirando um grupo de folhas do envelope que havia recebido e dando à Harry que o encarou confuso. - Você poderia entregar tudo isso para o Vice Diretor Mitrica? Ele precisa ter as cópias para marcar o horário em que eu farei o ritual do livro caixa.
- O que?! Você... Mas...
- Eu deixei Harry Potter surpreso o bastante para não conseguir terminar uma frase que seja congruente, eu mereço um prêmio - brincou com um sorriso satisfeito.
- Olha, Neville conhece a palavra congruente, acho que já posso abandonar a ideia de dicionário para o Natal.
- Foi bom enquanto durou.
- Estou falando sério, desde quando você estava tentando isso e por quê? Esses documentos demoram para ficarem prontos e você nem sabia do torneio.
- Seu tutor achou que talvez eu fosse querer participar dos feriados bruxos com você este ano. O Samhain já seria o primeiro desde que entrei em Hogwarts. A carta dele estava contando que nossas famílias fizeram isso assim que souberam que o ministério iria reviver o evento tri-bruxo. Você aprendeu aquela coisa de "surpresa!" com ele não foi? Olha isso aqui!
Neville colocou a carta de frente para Harry, muitíssimo indignado. O outro, entretanto, pareceu muito divertido com aquilo. Realmente terminava com:
"Surpresa! E divirtam-se!".
Algo que, decididamente, o Potter faria apenas para desconcertar o amigo.
- Isso é muito bom! - comemorou dando um abraço em Neville..
- Também fiquei feliz.
- Vou levar os papeis agora, só me deixe verificar tudo.
Ele pegou todas as folhas que lhe tinham sido oferecidas e começando a ler.
- Você já comemorou o Samhain, Neville? - perguntou Hermione.
- Claro. É um dos meus feriados favoritos.
- Por que nunca me contou sobre ele? - e o garoto não perdeu o toque acusatório na voz da amiga, além da indignação obvia em sua face.
- Hermione, não éramos amigos no primeiro ano, no segundo fomos comemorar o aniversário de um fantasma...
- Ainda sinto inveja disso - murmurou Harry.
- Não deveria - sussurrou Rony, ainda traumatizado com o evento onde, não só ficou sem o banquete de Hogwarts, como culminou no primeiro ataque de Ginny possuída.
Harry não respondeu a isso, fingindo nem ouvir, ele entendia os pontos do Weasley devido ao que lhe havia sido contado.
- E ano passado eu estava com a cabeça em outro lugar, eu nem fiquei aqui se não se lembra - encerrou Neville.
- Bem... É verdade..., mas você nunca mencionou antes e eu...
- Hermione - Harry chamou. - Fico muito feliz que esteja interessada nas tradições bruxas mais antigas, eu ficaria muitíssimo satisfeito em recomendar-lhe livros, autorizados no seu país é claro, que lhe deem todas as informações que quiser conseguir. Se não pôde descobrir antes vamos aproveitar e aprender agora, a senhorita está cercada de alunos da Durmstrang que também saberiam lhe ajudar com dúvidas sobre cada uma dessas festividades.
Ele encerrou o discurso com aquele seu sorriso característico de quem tenta derreter os corações das garotas, totalmente eficaz em Hermione que ficou toda corada e alegre, mas dessa vez Neville agradeceu imensamente por isso.
Sim, definitivamente Hazz o entendia. Ele sabia o motivo de Neville não estar no dia dos mortos em Hogwarts no ano passado, como a avó decidiu leva-lo para casa e ter um evento calmo de Samhain, para que pudesse honrar a memória de Tracy Davis e ficar sozinho com seus pensamentos, ao menos uma vez.
O grifinório precisava daquilo e definitivamente não precisava de Hermione cutucando aquela ferida.
A escola estava para fechar na época, mas com Neville matando o basilisco, salvando Ginna e mostrando para todos que era obra de Voldemort e de um artefato mágico dele, que caiu sem querer nas mãos de uma criança, o ministério aceitou aquilo como uma fatalidade inevitável.
Alegaram que aquele-que-não-deve-ser-nomeado era muito forte e apenas se dedicaram em fazer uma campanha de conscientização da população para "como magia sombria era perigosa" e totalmente proibida. Aumentaram a segurança na escola, colocando os elfos domésticos do castelo e aurores para verificar os malões dos alunos contra qualquer objeto de procedência negra, mas ainda gastaram muito tempo nos jornais com o tribunal, extremamente complexo e longo, que Hagrid recebeu. Ele estava tentando provar que desde o início tinha sido Voldemort a abrir a câmera.
Mas como se tratava de um meio gigante a justiça estava lerda.
O pior, além da caça à magia das trevas que se seguiu e o ódio que isso gerou entre as famílias que tinham que impedir os filhos de até mesmo levarem livros de assuntos que poderiam ser considerados escuros, foram as mentiras.
Nos tribunais foi dito que havia um aluno na escola, na época da primeira abertura da câmara, que também havia sido afetado por Voldemort, como se ele já tivesse capacidade de possuir um colega para fazer o trabalho sujo. Nunca quiseram revelar que ele era Tom Riddle e não passava de um aluno que quis fazer aquelas coisas.
Foi como se evitassem que as pessoas associassem sua imagem a uma simples criança que estava estudando e era má, mas sim criar ainda mais a figura de alguém que nasceu com cara de monstro e assim para sempre seria.
Infelizmente Neville estava tão mal com tudo que não foi capaz de uma comemoração padrão e correta, ele realmente fez o Samhain do seu próprio jeito e apenas tentou deixar as coisas irem.
Este ano seria diferente, ele teria Hazz e os dois poderiam fazer certo e juntos, como sempre tinha sido.
Um Samhain para deixar fluir e ir, assim como o deus celta que se sacrifica para criar a semente do renascimento.
O Longbottom estava muito grato a sua avó, tanto pelo ano passado como o cuidado em lhe dar essa chance agora. Deveria ter sido muito difícil conseguir todos os documentos em alguns meses e com o ministério ocupado com todos os problemas pré e pós copa mundial, só mostrava como ela tentou de verdade. Ela era incrível, mesmo que fosse rigorosa as vezes, essas eram as provas de amor que recebia e eram tudo.
- Está tudo certo, vou levar ao vice diretor, Neville - disse Harry após uma última olhada nos documentos. - Só terei que acha-lo. Axek, sabe onde o professor Mitrica se encontra?
Mitrica não estava no café da manhã, assim como os demais diretores.
- A última vez que vi ele estava a caminho do escritório de Dumbledore.
Harry se segurou para não rir ao se lembrar da expressão do velho na noite anterior toda vez de Lakroff lhe dirigia a palavra e Neville evitou uma careta ainda imaginando o tipo de desconforto que os dois homens sentiam sendo obrigados a interagir.
- Certo, obrigado. Te vejo depois Nev.
- Espere ai!
- O que foi?
- Você não tomou café da manhã! Estávamos literalmente falando sobre seus hábitos nada saudáveis antes de tudo isso.
- Eu preciso resolver isso a tempo de conseguir que você participe do Samhain. Prometo comer o dobro no almoço, pode ser?
- Certo... E você também vai tirar um cochilo a tarde.
- Em que hora? Tenho duas aulas de reforço em inglês com turmas de outras casas e reunião com os professores da Durmstrang, Hogwarts e Beauxbatons do conselho estudantil, isto de manhã. A tarde reunião do conselho com os monitores de Hogwarts para debater como devem ser feitas as inscrições das eletivas, ajudar na preparação do ritual de Samhain, tenho que fazer uma redação de oclumência em algum momento desse fim de semana, terminar uma poção que venho preparando a um mês e precisa ser concluída hoje, para o depósito da nossa enfermaria, terminar a tradução de pelo menos um dos três livros que devem estar prontos segunda, vir para o jantar aqui e depois o evento principal de Samhain que vai até as cinco da manhã, se tivermos sorte e fizermos tudo direito. Quer que eu durma? Me arrume um vira-tempo. Ou aumente a quantidade de horas no dia. Espere... não faça isso, eu só me entupiria de mais trabalho. Eu almoço e janto direito hoje, podemos fechar assim?
- E amanhã também. Todas as três refeições.
- Que seja. Pensei que sua avó tivesse me pedido para ficar de olho em você, namorador, não o contrário.
- Mas ela deveria! Seu irresponsável.
- Na verdade é o contrário, eu só me arrumo muitas responsabilidades.
- Vai acabar enlouquecendo - disse se lembrando da própria Hermione que tentou fazer coisas demais no ano passado e não aguentou a pressão.
Harry riu.
Ele acabaria enlouquecendo? Desde quando ele era são? Mas obviamente essa não foi a resposta que deu.
- Vou ficar bem, tenho você e todo o conselho estudantil para me ajudar e cuidar de mim. Mas, às vezes, vocês são super protetores demais.
- Não precisaríamos ser super protetores se sentíssemos que você está se cuidando - disse Viktor se intrometendo.
- Exato, obrigado Viktor!
- Eu...
- Você foi dormir muito mais tarde do que devia, acordou antes de todo mundo, e ontem passou o dia trabalhando! - reclamou o búlgaro.
- Sem contar que ficou correndo de um canto do castelo a outro, sem nem conhecer o lugar direito, para conseguir assistir a literalmente todas as aulas de Hogwarts em um único dia! - lembrou Neville.
- Vou sair daqui antes que vocês continuem e acabem me pondo de castigo ou coisa do tipo.
-x-x-x-
- Estou falando, alguém tinha que conversar com ele! A família e o tal tutor estão sendo muito irresponsáveis em não levar em consideração o que os pais dele pensariam sobre isso! - reclamou Simas Finnigan na comunal da grifinória.
- Mas você viu como os Sonserinos parecem gostar dele? - perguntou Dino Thomas.
- Isso não tem na a ver - reclamou Ron. - Conversamos ontem e posso te garantir que Harry é alguém muito legal. Aquelas cobras só estão bajulando ele, assim como fazem com o Krum. Não importa o que eles pedem, parece que tem uma serpente pronta para oferecer. Só gostam de gente famosa.
- Achei muito errado o chapéu colocá-lo lá. Quer dizer, colocou Harry Potter com filhos de comensais! - Parvati sussurrou a última palavra.
- Se ele é uma boa pessoa é ainda pior, quer dizer, ele tinha que estar com pessoas que os pais iriam querer e dar o exemplo! Não comemorar um ritual Sabbat! - acrescentou Dino. - E você ainda vai, Neville?
- Verdade! Você tinha é que impedi-lo de continuar com isso! - exclamou Simas.
Aquela foi a gota d'água.
Impedir Harry de comemorar o Samhain?! Hazz tinha que dar o exemplo? A família estava sendo irresponsável?
Neville estava borbulhando! Ele queria gritar com Ron e Hermione, queria mandar metade da Grifinória se jogar no lago negro e ficar por lá algumas horas ou para sempre, se demorassem muito para criar cérebro.
Que raiva!
Eles não percebiam mesmo o que estavam fazendo?
Desde que voltou para o salão da casa ele foi soterrado de perguntas sobre o Samhain e como ele tinha coragem de fazer artes das trevas.
A coisa só piorava a cada comentário. Teve que ouvir realmente sobre os pais de Harry e como parecia uma vergonha que ele praticasse esse ramo de feitiços.
Neville definitivamente não queria ver um único grifinório na sua frente agora.
Por isso simplesmente se levantou do sofá em que estava e saiu sem olhar para trás.
Assim que chegou as escadarias correu o mais rápido que pode e usou uma das passagens secretas que os gêmeos o haviam ensinado ano passado para sumir da vista.
Agora estava pensando no que fazer. Logo seria o almoço, alguns alunos já estavam se dirigindo para o grande salão, o que raios ele faria? Teria que comer toda a refeição aturando aquele bando de pessoas sendo babacas ignorantes sem intenção?
Por estar distraído com seus pensamentos, ao virar o corredor acabou quase esbarrando com alguém. Primeiro ele notou, ao dar um passo para trás, o uniforme da Durmstrang, depois que a pessoa era muito alta e forte, por fim notou o rosto de Viktor Krum.
- Ah! O-oi Krum!
- Viktor - corrigiu com um sorriso simpático. - Olá Nevi...Ne... - ele parou e fez uma careta, antes de tentar de novo: - Ne-vi-ri-lir?
Neville não conseguiu se segurar com a dificuldade do búlgaro em pronunciar o nome, acabou rindo e desviou o rosto, com medo do jogador pensar que estava debochando de si.
- Desculpe. Pode me chamar só de Nev, que tal?
- Mais fácil, agradeço - disse rindo também, um som gostoso e profundo na voz grave de Krum. - E então? O que o amigo inglês do presidente está fazendo que não foi almoçar?
- Eu... Acho que estava indo para lá agora.
- Você acha? - perguntou levantando uma sobrancelha.
Krum percebeu que o outro não estava confortável, mas ele mesmo não parecia ser o motivo, havia alguma coisa incomodando aquele garoto baixo e de cabelos claros, que o fazia muitíssimo interessado no chão, como se fosse lhe oferecer as respostas para um problema gigantesco.
- Hazz está em reunião agora, talvez queira ir até o corredor onde está acontecendo para espera-lo sair? - ofereceu tentando encontrar uma forma de ajudar o menino, afinal Harry gostava dele, por mais que isso deixasse o búlgaro enciumado na maior parte do tempo.
- Não quero incomodá-lo.
- Não acho que sua companhia o incomoda. Na verdade, ele que parece te incomodar as vezes.
- É a forma de brincadeira dele. Tem outras piores, acredite.
- Eu acredito.
Neville finalmente voltou a olhar Viktor, quando encontrou seus olhos escuros acabou sorrindo.
Mas é claro que Viktor entendia!
Os dois eram os respectivos amigos mais próximos de Harry, o búlgaro, por vê-lo praticamente todos os dias durante três anos escolares já devia conhecer o Potter assim como Longbottom fazia. Ele estava perto de uma das únicas pessoas no mundo que entenderia porque estava tão bravo com a Grifinória...
- Sendo sincero... - começou e Viktor permaneceu com uma expressão amistosa, para que o outro não se sentisse intimidado em falar. - Eu... Não quero almoçar.
- Não almoce. Está sem fome?
- Não é isso. É que eu não quero... - ele olhou em volta, para ter certeza de que estavam sozinhos no corredor. Por um segundo se perguntou porque Krum estava justo ali e desacompanhado, mas deixou passar, ele poderia só ter se perdido e não seria Neville a perguntar. - Não quero ficar perto da minha casa.
- Mesmo? Você brigou com algum amigo seu?
- Pior.
- O que?
- Quero gritar com quase todos lá.
- Ah... - murmurou e ficou alguns instantes pensando naquilo, antes de balançar a cabeça. - Eu consigo simpatizar com isso, já quis acertar socos em metade da Haus Feuer algumas vezes, principalmente quando foram babacas com o Hazz.
- Então, com certeza, você sabe o que estou sentindo - murmurou revirando os olhos.
- Eles estão sendo babacas? Com o Hazz?
- Não de propósito, eles só estão sendo absurdamente indelicados. Não é tão estranho, a Grifinória não é conhecida por delicadeza...
- Nem a Haus Feuer.
- Mas é que está me irritando e não é como se eu pudesse fazer alguma coisa. Devo ir lá e dizer que só porque o ministério é "covarde", como o Harry diria, e decidiu tirar toda magia obscura por culpa de um único homem e seu exército mal intencionado, eu agora tenho que desconsiderar tudo que ela pode oferecer de bom? Ou pior, devo dizer para enfiarem a religião trouxa na garganta e defecarem a tarde bem longe de mim?
Viktor riu alto e Neville concluiu que sim, aquela risada era muito boa de se ouvir, dava vontade de sorrir junto, era sincera e acolhedora.
- Olha, tive uma impressão mal formada de você, não imaginei algo assim saindo de sua boca.
- Ainda bem que não falei isso na frente do Hazz, ele me zoaria pelo resto do dia. Ou do ano.
- É algo que ele faria - concordou, ainda sorrindo.
- Eu geralmente não digo coisas assim, nem posso...
- Por que não pode?
- Minha avó desaprovaria o herdeiro Longbottom dizendo algo como isso, e tem o pessoal da escola que me chama de "garoto de ouro". Se me vissem sendo minimamente nocivo nas palavras já me julgariam o suficiente para preferir ser sempre o dócil e gentil Neville.
- Então o garoto de ouro nem sempre é dócil, só finge?
- Eu não finjo, eu só omito meus pensamentos mais repreensíveis.
- Como se todas as pessoas não tivessem que fazer isso.
- Exato. Eu só tenho que tomar mais cuidado.
- Então devo me sentir lisonjeado de ver seu lado mais sombrio?
- Eu agradeceria se não insinuasse que tenho tanta coisa assim escondida, mas... é que eu realmente achei que você compreenderia.
- Eu faço. Hazz sempre deixou claro como detesta que as pessoas ajam como se soubessem o que é melhor para ele e o que os pais iriam querer, mas... Ele não teve os pais, não é? Nunca pode. Não importa mais o que eles queriam, mas sim o que está sendo melhor, o que o faz feliz agora.
- Exato! E... será que eles não se tocam como é idiota ficar falando disso justo hoje? E se ele ouvir?!
- Acho que ele aguenta.
- Mas ele não devia ter que aguentar! As pessoas deveriam...
- O que eu quis dizer - interrompeu o búlgaro. - É que ele sabia que esse tipo de coisa ia acontecer quando decidiu vir para esse torneio, todas essas coisas já foram ditas pelo menos uma vez antes, ele está preparado para ouvir de novo. Não podemos impedir ninguém de dizer alguma coisa, nem podemos impedir Hazz de se machucar com elas, se for o caso, só nos resta ajudar a distraí-lo.
Neville suspirou.
- Você tem razão.
- Hazz é forte.
- Demais. Só que eu queria que ele não precisasse ser.
- De acordo com o que eu sei, você também teve que ser mais forte que a maioria. - Neville corou e voltou a olhar para baixo. - O mundo nem sempre é fácil e algumas pessoas sempre terão que carregar mais coisas nas costas. Os amigos servem para dividir isso as vezes e você parece ser um bom amigo, Nev.
- Obrigado. Você também.
- Obrigado.
- Isso que você disse... sobre ajudar a carregar o peso nas costas do outro... Harry sempre foi assim comigo. Não só me ajudando, as vezes parecia que ele surgia nos piores momentos e me levantava sozinho. Eu simplesmente precisava sorrir e acenar que tudo estava bem de novo.
- Ele é incrível e se gastou tempo te ajudando, é porque pensa o mesmo de você.
- Eu faria qualquer coisa por ele, por isso estou tão irritado, não sei como ajudar! Mas eu quero! Se Hazz me pedisse para esconder um corpo eu faria!
- Mais um comentário da parte sombria de Nev, estou começando a me achar especial.
- Você entendeu.
- Claro que sim. Inclusive, Hazz me disse uma coisa parecida uma vez, só que bem mais macabro.
- Ele é macabro. Você já ouviu as piadas sobre morte dele?
- Eu acho as de lordes das trevas bem mais perturbadoras.
- Ah sim, elas também são horríveis.
Os dois riram.
- O que ele te disse afinal? - perguntou Neville.
- Que ele tinha gostado de mim, que se um dia eu precisasse ele escondia um corpo enquanto eu limpava as provas. Mas se, por acaso, eu o traísse era para lembrar que ele sabia como esconder um corpo, tinha provas contra mim e era bom com álibis.
- Isso soa como ele - murmurou sorrindo.
- É normal se preocupar, Nev, mas logo a novidade passa e vão parar de falar tanto do Harry Potter. Olhe eu, por exemplo, hoje só fui parado três vezes por gente pedindo autógrafo e quatro com garotas se insinuando.
Neville soltou um risinho estrangulado.
- Quatro garotas se insinuaram para você só do café até aqui?
- Estava fugindo das mais empenhadas agora pouco.
- Deve ser difícil - disse rindo.
- O que está insinuando?
- Nada, só fiquei imaginando o que uma bando de fãs malucas pode fazer para alguém do seu tamanho precisar fugir.
- Você ficaria impressionado.
- Algumas pessoas diriam que você tem sorte.
- Você é uma delas, namorador? - perguntou se referindo a carta naquela manhã e Neville no mesmo instante corou severamente.
- N-não f-fale uma coisa dessas! Por isso detesto essas brincadeiras do Hazz! Eu nunca nem.... - E corou mais, colocando as mãos em frente ao rosto.
De repente uma luz se acendeu em Krum.
Então era daí que Harry tinha tirado aquela personalidade.
No primeiro ano do Potter na Durmstrang ele parecia um garotinho pequeno e tímido, apesar de simpático, dava a impressão que quebraria com um simples empurrão e Krum imediatamente sentiu um desejo de protege-lo. É claro que isto foi antes de descobrir que não passava de uma fachada, uma pele de cordeiro para esconder um dragão faminto e terrível que adorava ver suas presas se assustarem e tremerem quando decidia atacar. Que sorria quando elas choravam e se arrependiam de ter mexido com a pessoa errada. Um líder com máscara de porcelana perfeita.
Antes de Krum decidir segui-lo fielmente, havia tentado acolher.
Era dali que Harry tinha tirado aquela fachada perfeita. Era Neville. A mesma sensação de querer pular na frente dos perigos estava o atingindo. Ele se perguntou se para o Longbottom também era uma fachada, ou se desde o começo Harry tivesse se sentido compilado a resguardar aquele garotinho e decidiu usá-lo como exemplo, para quando fingia ser mais fraco do que era. Talvez tivesse visto o efeito que isso causa nas pessoas ao sentir em si mesmo.
Outra coisa também o atingiu. Neville acabou de dizer que nunca fez o que?
- Você nunca beijou?
E Krum decidiu que Nev era o melhor ator do mundo, melhor que Hazz, por conseguir fazer todas as partes do corpo corarem (incluso até mesmo suas mãos), ou aquela definitivamente não era uma fachada.
Era ele de verdade. Gentil, tímido e sincero além da conta.
- Não.
- Hazz também não, até onde sei.
- O que? - perguntou voltando a mostrar o rosto, se esquecendo de sua vergonha e sentindo a pele esfriar aos poucos.
- Se eu não me engano foi a Natasha que perguntou para ele, ano passado, como tinha sido seu primeiro beijo. Hazz disse que nunca tinha acontecido, mas contava para nós quando finalmente desse. Não é nada de mais, se está incomodado com isso...
- Não... eu só... bem... Acho que a brincadeira dele fez eu pensar sobre isso, mas saber que nem ele teve a chance ainda...
- Eu não diria que ele não teve chance. Ele só não quis.
- Faz mais sentido, com a quantidade de pessoas que se jogam aos pés dele...
- Sim - concordou o búlgaro com uma careta e um tom irritado que não teve como fugir da percepção de Neville.
Krum decididamente tinha ciúmes de Harry, era notável.
- Hazz me disse que vocês sempre foram como irmãos, você o ajuda a fugir das pretendentes dele também? - perguntou sorrindo.
Mas o sorriso sumiu quando viu a luz quase desaparecer do olhar de Krum ao respondeu:
- Sim... como irmãos.
Droga Harry! Olha a situação em que tinha metido Neville agora!
Para alguém tão brilhante ele era tão burro as vezes!
Não tinha como não notar como aquela frase feria Viktor, tinha que ser totalmente incapaz de entender um relacionamento. E, para a desgraça de Neville, Hazz era exatamente assim!
Os dois ficaram em silêncio por algum tempo e o mais baixo quase se amaldiçoou quando sua boca abriu em um impulso ansioso para começar a falar:
- O Harry é muito ruim com pessoas e sentimentos.
- Como? - Krum perguntou encarando o Longbottom, que corou fortemente.
Draga Neville! Fica quieto, só vai piorar!
Mas ele continuou:
- E-eu... quer dizer... Vocês já se conhecem a anos, então já deve ter percebido, ele não gosta de interagir com pessoas, dificilmente se abre com elas, quem tem que dar o primeiro passo sempre é o outro. Eu acho que, por mais forte que ele sempre pareça, é insegurança - tagarelou muito mais rápido do que o normal, mas por sorte ainda parecia ter sido entendido.
- Insegurança?
- A família dele... - Nev finalmente parou, hesitando em relação aquele assunto. - Você sabe sobre a família dele?
- Eu já vi as cicatrizes.
O mais baixo suspirou aliviado. Certo, não iria se aprofundar naquilo então, era um assunto sombrio demais.
- Então fica mais fácil explicar. Eu acho que eles colocaram na cabeça do Hazz que as pessoas não vão gostar dele, é o que acontece quando sua família não parece gostar de quem você é. Você se sente incapaz de atrair os outros, fraco e indesejado. Eu era assim, foi Hazz que me fez tentar me aceitar. Só que ele... ele nunca toma a iniciativa, parece que tudo marcou em um ponto como uma mancha. Por melhor que seja em tudo, nunca é o bastante para que alguém se interesse. Só se a pessoa decide dar atenção primeiro que a coisa pode acontecer. É quando ele tenta te conhecer e, se gosta, viram amigos.
- Sim... eu concordo, mas o que...
- Eu diria, se conhecesse alguém que gosta dele... - interrompeu, muito corado e querendo fugir, mas... incapaz disso depois de ouvir a dor na voz de Viktor. Maldita necessidade de se intrometer e ajudar quem nem pediu por isso! - Que essa pessoa teria que dizer, se não nunca vai conseguir nada. Hazz parece tão bom em tudo que não conseguimos imaginar falhando em algo, mas ele nunca nota quando alguém está interessado. Nunca! Principalmente de forma romântica, ele não entende os sentimentos alheios.
Encerrou abaixando a cabeça, esperando a reação negativa do outro e torcendo para que não fosse física. Mas o búlgaro apenas suspirou e voltou a falar:
- Ele realmente não entende os sentimentos dos outros, mas você acha que ele não entende os próprios sentimentos?
- Como?
- Se eu conhecesse alguém que gosta do Hazz, eu diria para essa pessoa se manter próxima, mas não recomendaria se declarar, não adianta para nada além de ouvir da própria boca dele a recusa. Hazz é totalmente ciente de si mesmo em muitos sentidos, se ele quisesse alguém não há nada que o pararia até conseguir, não faz sentido tomar a iniciativa nesse sentido, porque se ele tivesse interesse já teria feito algo.
- Eu entendo o que você quer dizer... - começou, ainda inseguro, mas já que teve a abertura iria até o final. - Porém não acho que seja assim. Eu acredito que ele ainda demoraria para sentir que merece a pessoa. Ele poderia pensar que está lhe fazendo mal em se aproximar, estará sendo incomodo. Se a pessoa se declarar, entretanto, vai liberar o caminho para Hazz chegar ao objetivo.
- Não acha que ele mesmo forçaria o caminho se estivesse amando a pessoa?
- Ele tem quatorze anos, como ele vai saber que está amando?
Krum se calou e deixou que sua expressão mostrasse como aquela declaração o abalou. Ele realmente não tinha pensado por esse ângulo. Neville deixou que o silencio ficasse pelo tempo que o outro desejasse para pensar.
- Mesmo assim, não seria fácil para essa pessoa.
- Eu sei que não. Desculpe, por tocar no assunto, de toda forma...
- Desculpe? Mas que assunto? Só estamos conversando sobre como o Harry é uma porta as vezes.
Neville sorriu se sentindo bem mais leve.
Krum era muito legal. Não era à toa que Harry havia gostado dele. Era fácil de conversar e aberto a isso de um jeito que poucas pessoas se permitiriam.
- Gostei da nossa conversa, Nev. Já que você está evitando seus amigos gatinhos que tal se sentar com os répteis hoje?
- O que?! - perguntou em choque. - Não dá!
- Por que não? - perguntou rindo da reação do outro.
- A Sonserina me odeia! Eles vão me rasgar com os dentes e cuspir fora! Nunca me deixariam sentar lá.
- O problema é eles, não você?
- Como?
- Se eu os convencesse a isso, você sentaria?
- Bem... - o garoto engoliu ar, fazendo suas bochechas incharem e desviou os olhos, por fim soltou tudo em um bufo. - Eu não me importo de sentar na mesa deles, definitivamente parecem menos incômodos agora do que a Grifinória. Pelo menos nenhum trata o Harry como se fosse algum tipo de traidor da causa.
- É assim que estão falando dele por lá?
- Disso para baixo, é horrível! Sem contar quando não estão fofocando sobre como ele é bonito, interessante, inteligente, e sei lá mais o que, como um bando de garotinhas apaixonadas!
- Com ciúmes das pretendentes do Hazz, Nev?
- Estou falando dos meus companheiros de quarto!
- Dos pretendentes então - disse rindo. - Igualmente perigosos, se quer saber.
- V-você... acha que Harry gosta de... - e deixou a frase no ar.
Krum viu como ele o encarou antes de voltar a desviar o olhar, como trocava o peso nas pernas e encava diversas coisas pelas paredes esfregando as mãos.
- Eu não acho que para ele faça diferença. Você se incomoda com isso, por acaso?
- Não! Claro que não!
- Ótimo - disse satisfeito e se aproximou do mais baixo, que voltou a corar e deu um passo falho para trás. Aquela reação foi interessante. - Vai se sentar comigo então? - perguntou estendendo o braço, apenas para ver qual seria o comportamento do garoto àquilo também.
Neville pareceu bem nervoso com a ideia de simplesmente dar o braço com Viktor.
O Krum começou a entender a graça que Hazz via em provocar Longbottom, se aquelas eram suas reações sempre.
Apenas por isso se abaixou ao nível do rosto do outro e murmurou:
- Prometo que te protejo das cobras tão bem quanto protegi Harry dos dragões.
E aquilo foi o bastante para o búlgaro perceber: Neville era muito fofo quando provocado, por falta de palavra melhor.
- E-eu...
- Te garanto que posso ser bem insistente, com eles e com você.
E, sem olha-lo um único segundo, tamanha a vergonha, Neville concordou e aceito o braço do colega mais velho.
-x-x-x-
Assim que o conselho estudantil entrou no grande salão perceberam algumas coisas. Primeiro, os diretores e alguns professores devem ter continuado na reunião, uma vez que não estavam presentes para o almoço.
Segundo o salão inteiro estava agitado.
A mesa da Sonserina, por si próprios não estavam com uma expressão boa e pareciam prestes a abandonar todos os modos para xingar alguém, isso se não atacassem com magia.
A terceira e mais importante de todas, que surpreendeu Harry, foi ver Heinz Horváth (que por ser monitor da Haus Feuer tinha o costume de manter o exemplo) sendo barrado por Viktor Krum e Neville Longbottom enquanto tentava avançar em Luka Dimitrika, também segurado por dois alunos, mas da Land.
- Perdemos alguma coisa interessante - Ivan brincou finalmente parecendo acordado e sorrindo animado com a briga em andamento.
O conselho teve que tirá-lo a força da cama para que estivesse presente na reunião.
- Lá vamos nós... - reclamou Rusev já pensando em como resolver o problema, afinal eram dois alunos, um deles monitor de casa, brigando na frente de toda Hogwarts.
Foi quando todo o salão escutou um grito:
- DURMSTRANG! - era Harry Potter.
Ainda das portas abertas do salão, cercado por todo o conselho e parecendo ainda mais poderoso entre eles, sua voz ecoou levemente aumentada por magia, totalmente firme e implacável. Fez todos os colegas, independente da escola em que estavam, pararem onde estavam e lhe darem completa atenção. A Durmstrang, ao perceberem a presença da Corte, em sua maioria baixou as cabeças ou se sentou apressadamente em seus lugares.
O restante se calou completamente. Harry tinha a palavra ali.
- Dimitrika - chamou Yorlov, como vice presidente e membro da mesma casa sentiu que conseguiria mais do colega se fosse ele a falar. - Porque não responde ao conselho o motivo que você e o senhor Horváth levaram em conta para entrarem em uma briga tão indecorosamente enquanto estamos de visitantes neste castelo?
- É complicado - respondeu se curvando um pouco, mas estava com uma expressão irritada.
- Descomplique! - ordenou Harry e todos os presentes, mesmo os poucos professores, sentiram toda a coluna vertebral se arrepiar com o tom sombrio que pareceu sair dele, totalmente diferente da voz geralmente simpatia, mas confiante.
Agora ele não pareia simplesmente um líder, mas uma força a ser obedecida sem questionamentos.
Na mesa da Sonserina o senso de auto preservação apitou, como se diante de um inimigo muito superior, implorando para que se subjugassem antes que fosse tarde.
- Sinto muito - começou Heinz se curvando para Hazz e o conselho. - Vocês chegaram assim que a briga começou, a culpa é minha. Fiquei irritado com uma coisa que Dimitrika insinuou e o insultei, o resto veio em consequência, Viktor tentou me impedir de fazer alguma coisa, então nenhum de nós dois...
- Nenhum de nós chegou a se bater - disse Dimitrika finalmente sendo solto pelos amigos. - Mas eu só estava reagindo, nem sei o que afinal o incomodou tanto.
Krum e Heinz reagiram aquilo, ambos se virando com olhares assassinos para o garoto, mas não se moveram mais que isso.
- Certo, Neville, poderia me dizer? Você parecia estar presente e seria totalmente imparcial - pediu Harry.
Neville pareceu se assustar com aquela ideia, ele olhou para Dimitrika, depois para o amigo e baixou a cabeça.
- São várias coisas, na verdade...
- Várias coisas?
Neville começou com seus tiques nervosos, todo o salão os estava observando! Que droga, ele não queria ter que falar aquilo! Ainda mais nessa situação.
- Eu... - Krum começou, mas se calou imediatamente quando o Potter levantou uma mão.
- Neville, por favor - tornou a pedir.
O de cabelos castanhos claros inspirou profundamente e deixou que toda a sua coragem Grifinória o levasse. Inferno, ele tinha dito na cara de Viktor Krum, um búlgaro de quase dois metros e nariz torto de quem já tinha quebrado mais de uma vez, para declarar seu amor a um amigo, ele conseguia falar algumas verdades para mais algumas pessoas.
Ele ia fazer isso.
Eles precisavam ouvir.
- Tem vários alunos de Hogwarts que vem sendo babacas com você pelas suas costas e seus amigos estavam bravos com isso, então esse menino da Haus Land acabou falando uma coisa que só piorou o estresse deles e Heinz avançou. Provavelmente por não se sentir na liberdade de fazer isso com alguém daqui, mas alguém da própria escola, que deveria ter percebido a merda que era dizer aquilo, sim.
- Você acabou de dizer babaca e merda? - perguntou Harry e Neville corou de irritação.
- É sério? Você vai implicar com isso agora?
- Desculpe. Eu só não estava esperando. Então o que as pessoas estão fazendo que gerou toda essa confusão? - perguntou indicando os colegas.
O salão continuava em silêncio e muitíssimo curioso, as cabeças acompanhavam a conversa como se assistissem uma partida de ping pong, de Harry Potter para Neville Longbottom.
- Estão falando coisas cruéis, insensíveis e muito... nojentas!
- Que tipo de coisas?
Neville olhou para Krum pedindo apoio. Certo, ele precisava mostrar que o que estavam dizendo era errado, mas ele tinha que fazer isso assim?
Viktor o olhou de volta, se sentindo igualmente de mãos atadas.
- Certo, Dimitrika, o que raios você disse?
- O que espera que eu responda, presidente? Eu realmente não entendi o que irritou essas lagartixas.
- Fale com ele direito! - exigiram praticamente todos os homens do conselho, ao mesmo tempo e muito sombrios, suas magias interagindo com suas vontades e causando arrepios em todos que estavam próximos e no garoto a quem se dirigiam.
- Desculpe! - pediu recuando um pouco.
- Qual foi a última coisa que você falou, Dimitrika? A última da qual se lembra - pediu Hazz, ainda paciente.
- Deixe-me ver... - ele pensou um pouco e por fim disse: - Eu estava conversando com alguns alunos da Grifinória e eles disseram algo sobre você praticar artes das trevas e que isso era errado. Eu disse que então você tinha que ser preso porque era o melhor aluno de magia sombria em gerações. Que seria capaz de arrepiar os cabelos dos mais corajosos com o tipo de maldição que é versado. Aí, talvez o que tenha irritado eles, é que eu brinquei com a Haus Feuer dizendo que você, no primeiro ano, já tinha colocado todos os dragões na coleira só com esse tipo de feitiço.
- Por todos os bruxos das trevas, eu mesmo vou ter que dar na cara dele depois dessa - reclamou Ivan, muitíssimo irado.
Todos os três homens do conselho além de Harry tiveram de correr e se esforçar para segurar o russo Tshkows, que tremia tamanha sua raiva.
- Ivan! - Rusev alertou, muito bem ciente do temperamento do amigo. - Você vai levar uma detenção também!
- Ele merece pelo menos um tapa bem dado e uma maldita detenção, também. Fala sério, ninguém é tão burro! - gritou, o sotaque muito marcado e os olhos em chamas de raiva.
- Ivan! - Harry chamou com uma frieza assustadora na voz, o mais velho parou no mesmo instante e todos puderam soltá-lo.
- Eu realmente não entendi o que tem de tão errado nisso! - reclamou o homem Dimitrika.
- É insensível! - gritou Neville, já sem paciência também.
- Seu cérebro de gato atrofiado, é por nem tentar entender a droga toda que queremos te bater! - reclamou Krum. - Não é como se não estivessem desde ontem falando sobre esse assunto por toda a escola! Já era para ter sacado.
- Olha, eu até percebi que é chato ficarem falando como se o presidente fosse bom demais para nós ou que magia sombria é automaticamente ruim, mas isso não é algo cruel. Eu realmente...
- Lara, bate no seu irmão! - pediu Ivan, fazendo mais uma tentativa de avanço para a mesa vermelha e sendo empurrado pelo meio irmão.
Lara, por sua vez, sentada junto da equipe de quadribol da Grifinória, entre as meninas e bem próxima da confusão se levantou e obedeceu, já bem irritada com a falta de senso do gêmeo e acertando a mão com força em sua nuca.
- Que merda, Lara! O que é?
- Eles têm razão, você está sendo idiota e insensível. É cruel!
- Sobre o que, inferno?!
Angelina e Alícia, que estavam do lado da menina Dimitrika até então, também estavam bem confusas, sem ver onde ficava o problema tão terrível.
Para ser completamente sincero toda a escola estava se perguntando o mesmo, o que fazia aos poucos o salão voltar a se encher de murmúrios nas mesas.
Era verdade, não era?
Todos pensaram isso desde a primeira noite, como Harry Potter não deveria estudar na Durmstrang, que seus pais eram contra o que era ensinado lá e havia o próprio Karkaroff para piorar tudo. Só que de repente todos se calaram.
Harry começou a se aproximar, passando pelo corredor entre Sonserina e Grifinória, cada passo deixando todos mais ansiosos.
- Deixa que eu explico, Luka.
- Alteza, você não precisa, esse idiota tinha que ser capaz de perceber a coisa toda sozinho! - reclamou Ivan.
- Presidente, - corrigiu - mas se ele não viu até agora não custa nada ajudar.
Sua voz parecia seda, gentil saindo pelos lábios rosados e bem desenhados. Mas havia algo por trás, uma amargura sutil que incomodava e deixava os ouvintes cautelosos.
- Hazz... - Neville murmurou, colocando a mão no ombro do amigo que já etsva abem próximo.
- Está tudo bem Nev. Dimitrika, veja bem - e seda sumiu, sendo trocada por trevas.
Todos os alunos que eram do sexto ano da Grifinória e Sonserina se lembraram imediatamente daquele tom de voz. O modo sombrio que as palavras tornavam na raiva de Potter, fazendo os pelos se arrepiarem.
O tom de voz que havia assustado todos no dia anterior ao insinuarem a fraqueza de um nascido trouxa.
Aqueles que nunca tinham escutado Harry falando daquela forma só conseguiam pensar em uma coisa: era horrível! O desejo de correr os atingia como um tiro, um aviso dos instintos mais profundos da mente, que viam o garoto como um predador prestes a atacar da pior forma.
Conforme saiam as frases pareciam cortar, pesar e te sufocar numa onda de pressão avassaladora.
- O problema em dizer que eu não deveria praticar magia das trevas não está na lei britânica, eu nem moro aqui, nem tenho cidadania inglesa. O que está irritando Krum, Tshkows ou qualquer um que parou para perceber, é o que as pessoas estão insinuando com isso. Elas não estão reclamando de eu não cumprir uma lei, afinal ela não se refere a mim. Elas estão insinuando que eu, como filho de Lilian e James Potter, não tenho o direito de fazer isso se eles lutaram contra o movimento do lorde das trevas. Você incentivou as fofocas que os alunos de Hogwarts vêm dizendo sobre mim, sobre como eu deveria honrar a memória dos meus pais e ser um bruxo da luz. Você só piorou os comentários, que Neville chamou de nojentos, de que eu estou traindo o sacrifício deles.
"Você, ao invés de perceber que estão assumindo que tenho alguma obrigação moral de agir como meus pais e corrigi-los, insinuou que eu sou praticamente um bruxo das trevas que subjugou meus colegas de casa. Agora veja, bem, a coisa só piora...
Uma das meninas na mesa vermelha tremeu. Fred e George sentiram um impulso de se desculpar, mesmo que nada tivessem a ver com aquilo tudo, algo muito parecido com o que uma criança tem ao ver a mãe lhe dando bronca.
- Estão todos falando essas coisas abertamente, sobre memória dos meus pais e a luta contra Voldemort - ele deu um tempo para que o choque causado pelo nome passasse. - No dia do aniversário de morte. Estão falando sobre o assassinato que aconteceu na minha frente e me deixou órfão. É isso que Neville acha tão cruel. O fato de que eles se lembram do que aconteceu, só quando é útil para seus próprios preconceitos políticos, mas quando se trata de evitar fofocar pelos corredores em que estou sobre o massacre da minha família, o cérebro atrofia e eles se esquecem.
"É insensível o fato de que, enquanto eu ando por aí tenho que escutar pessoas dizendo que é errado comemorar o Samhain, ao invés de pensarem em porque eu quero realizar o ritual bruxo, legalizado, que permite honrar os mortos e, se bem feito, comunicar-se com suas energias e memórias, portanto a única chance que tenho, em toda a vida, de ter algum contato com os tais pais.
"Estão me colocando como responsável em manter a imagem da luz e julgando que estou falhando. É insensível me ver como salvador do mundo bruxo acima de qualquer sentimento humano normal. Me ver como traidor por não agir como esperavam de mim, sendo que foi a guerra que divide magia em dois que matou meus pais para começo de conversa e ninguém aqui me conhece para se sentir no direito de falar alguma coisa.
"Nem por um segundo estão pensando em respeitar a minha vontade em não tocar no assunto, além de questionarem descaradamente as escolhas feitas por mim e o que sobrou da minha família, no dia em que a merda toda aconteceu, e quando já deixei explícito ser favorável das tradições bruxas. Diga-se de passagem, comemoradas pelos Potter a gerações, uma vez que somos uma família antiga e nobre pagã".
- Bem... eu sou - se corrigiu. - Só resta a mim nesta lista de herdeiros. Entende, Dimitrika, onde está o problema?
- E-eu... - o garoto gaguejou, envergonhado e baixando a cabeça.
- Sem contar todo o resto, como ficar mencionando pelos corredores os comensais da morte na copa mundial, o que por si só não é o tipo de assunto que deveria ser tratado tão levianamente e jogado nas minhas costas.
Neville viu como a cada palavra de Harry ele perdia a raiva.
Era substituía por tristeza, incomodo, frustração...
Viu como ele apenas estava... cansado. Cansado em precisar falar tudo aquilo, que deveria ser óbvio, e justo naquele dia.
Inferno, Nev só suspeitava, mas agora ele tinha certeza que todas aquelas coisas horríveis que ouvira nos últimos dias tinham chegado à Harry e ele teve que carregar esse peso nas costas. Esteve aturando os olhares e dedos apontados quando só precisava de um pouco de empatia e paz.
Harry Potter não gostava de ir à Inglaterra, por tudo que diziam dele, mas estar lá justo na época do atentado em Godric's Hollow, sem poder simplesmente aparatar para longe como normalmente fazia, deveria estar sendo enlouquecedor. Não é à toa que mal estava dormindo.
Ou comendo.
Ou se entupindo de todo tipo de trabalho extra que distraia a mente.
- E a cereja do bolo, sinceramente, é ainda reclamarem que estou na Sonserina, não na Grifinória, sendo que eu nem pude ser criado por quem se importaria com essa porcaria toda - reclamou Hazz. - O argumento que usam é de que eu não deveria estar andando com "filhos de comensais", mas justamente essas pessoas tiveram o senso de nunca me comparar com um casal que não tive a chance de conhecer, e sempre me perguntaram sobre a minha opinião, o que eu acho.
- Não é de se surpreender que Nev estivesse sentado com a gente na Sonserina - disse Krum. - Ele não queria se estressar com essas conversas tortas na hora de comer!
- Você estava na mesa da Sonserina? - perguntou Harry, toda a parte sombria de sua voz sumindo, assim como de seu rosto.
- De novo, é nisso que você decide focar? - reclamou Nev.
- Enfim... - disse voltando-se ao gêmeo Dimitrika. - Não estão apenas me insultando, mas desrespeitando os alunos que nunca nem mesmo olharam estranho para mim quando me sentei com eles, que vem escutando até minhas opiniões sobre nascidos entre trouxas e mudanças políticas que nos unam como bruxos. Entende, agora, todo o problema?
- Sinto muito, eu nem pensei... - começou Dimitrika.
- Claro que não pensou titica de gato! - Reclamou Heinz e Neville levantou os braços apenas por garantia, sentindo-se imensamente fraco de repente.
- Tudo bem, eu esperava esse tipo de coisa quando decidi vir para o torneio aqui em Hogwarts - descartou Harry, aquele sorriso educado já começando a aparecer. - Já me acostumei com as pessoas me vendo como o menino-que-sobreviveu sem considerar que isso significa não ter pais e odiar Halloween - encerrou gerando um silêncio sepulcral e totalmente anti climático por todo o salão.
A culpa atingiu a mesa da Grifinória com força. Eles eram pessoas que falaram coisas assim nos últimos dias o tempo todo, pela comunal e pelo castelo, sabiam disso.
Angelina estava se sentindo arrasada.
Ela mesma fez alguns comentários que só agora percebeu o quão indelicados eram, até para o próprio Neville. Como o bom amigo que o garotinho era, ele deve ter se sentido muito mal com cada um. Longbottom não disse nada, mas a Jones conseguia entender que era por não se sentir confortável em falar abertamente sobre os sentimentos de Harry ou dar uma bronca em alunos mais velhos da sua casa.
Neville iria fazer o que também?
Gritar com todos até enfiar a informação em suas cabeças?
Alguns provavelmente nem perceberam como atingia uma pessoa escutar sobre os pais tão perto do aniversário de morte, ainda deviam achar que era uma honra ser aquele que derrotou você-sabe-quem, não um sacrifício. Um que ele não teve nenhuma escolha, mas que servia para colocarem regras na forma dele de agir.
O silêncio contemplativo e respeitoso foi cortado pelo próprio Harry.
- Nev, Viktor, vocês se importam? Eu vim aqui apenas para avisar que estava com dor de cabeça, provavelmente por não ter dormido, e queria passar na enfermaria, não sei se vou voltar para cumprir minha promessa sobre almoçar bem. Mas juro que vou precisar sair rolando daqui no jantar, pode ser?
Nenhum dos dois teve coragem de discordar daquilo, nem eles tinham mais apetite.
- Claro. Nos vemos a noite? - perguntou Nev.
- Sim. Tchau - se despediu com um aceno, um sorriso simpático e saiu, ainda no silêncio do salão.
Assim que ele cruzou as portas e estas se fecharam, entretanto, todos conseguirem pelo menos escutar o som do que se seguiu:
Viktor Krum se virou para Luka Dimitrika e lhe acertou um soco muito forte no braço que o derrubou no chão.
O som, tanto do golpe, quanto do baque do corpo no chão, fez uma das garotas da Sonserina pular no seu lugar e uma grifinória dar um gritinho.
- Krum! - gritou Rusev se aproximando junto dos outros do conselho, caso tivessem que parar o grão duque em mais uma de suas demonstrações de afeto à Harry Potter.
- Pode tirar quantos pontos quiser da Haus Feuer, Rusev. Por sorte eu acabei errando, estava mirando a cara - disse sombriamente e Neville teve medo de Krum pela primeira vez, também começou a vê-lo ainda maior do que já era.
Ele também duvidou que o búlgaro tivesse errado o alvo, mas sim focado em acertar um lugar onde Harry ficaria menos bravo, tinha muita convicção disso.
- Menos cem pontos. Você ainda terá que fazer quatrocentas horas de serviço comunitário para o conselho e terá que cumprir duas semanas de detenção limpando os banheiros da Haus Land. Yorlov, como monitor da casa Land você concorda com isso?
- Sim - respondeu o vice presidente com um suspiro resignado.
- Tudo bem. Vou cumprir - resmungou.
- Peça desculpas ao senhor Dimitrika, também - disse Yorlov, apesar de achar que foi bem merecido, por ter de dar o exemplo na ausência de Harry.
Krum se virou para o garoto no chão, que gemia segurando o braço, e estendeu a mão:
- Eu sinto muito, Dimitrika. Posso te levar para a enfermaria agora mesmo.
- Não, tudo bem. Eu... te perdoo - "eu merecei" acrescentou mentalmente.
Afinal aquelas palavras seriam inúteis, todos entendiam que se alguém irritasse o presidente Potter teria de aguentar as consequências nas mãos de Krum. Sempre foi assim. Nenhum aluno da Durmstrang julgava o que tinha acontecido, era natural para eles e até gentil, se estivessem no castelo Dimitrika teria que aguentar Ivan e suas maldições também.
Ou o próprio Harry. Então estaria acabado.
O que estava no chão aceitou a mão para se levantar, não sem antes gemer tentando esticar o braço ferido e usando o outro no lugar. Após uma última bronca de Rusev, que tinha que manter a imagem de chefe do comitê de disciplina, todos voltaram para seus lugares.
Krum e Neville voltaram à mesa da Sonserina, mas dessa vez Ivan se sentou ao lado do Longbottom, já murmurando:
- Eu acho que tínhamos que leva-lo na enfermaria de qualquer jeito, pode ter quebrado um osso.
- Não exagere - reclamou Krum.
- Eu sei como um soco seu dói e como consegue machucar feio. E olha que só experimentei no primeiro ano.
- Você não sabe - corrigiu Axek, já pegando um lugar do outro lado da mesa, à esquerda de Malfoy. - Você, coincidentemente, caiu feio da escada depois de ter dito algo que entendemos errado sobre Hazz ser uma "cria de sangue podre trouxa". Por isso nem você, nem Krum foram punidos. Lembra-se?
- Desculpe, a queda deve ter confundido meus sentidos, era isso mesmo - concordou e logo trocaram o assunto diante dos olhares chocados de Nev e dos Sonserinos.
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Olá queridos.
Após perceber que já tinha feito um capítulo com mais de vinte mil palavras decidi, novamente, cortá-lo em partes. Então amanhã (se tudo correr bem) já postarei outro, que é a continuação. Essa primeira parte tive que mudar muitas vezes, pois nunca ficava feliz, agora eu finalmente senti que acertei, mas existe a possibilidade de terem passados muitos erros já que não aguentava mais ler isso hoje kkkk desculpe por isso.
Obrigada por lerem, votarem, comentarem e serem tão incríveis!
Espero que tenham gostado do início da amizade KrumxNeville e até logo!
Uma boa noite!
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