Capítulo 50 - A primeira tarefa e seu maior medo
É pessoal, chegamos.
O fim da primeira parte da fanfic. Tecnicamente o primeiro livro. Foi grande a tragetória e espero muito que tenham gostado até aqui.
Tenho que avisar que este capítulo possui alguns gatilhos, principalmente sobre crises, estresse pós traumático e até asssédio moral, então leiam com cuidado.
Comentem tudo que acharem, essa é uma etapa importante e quero saber tudo que estiverem pensando, VOTEM e boa leitura!
PS: Esse capítulo representa bem boa parte do que foi feito em toda a fanfic, é realmente um encerramento do livro um e início dos próximos, então leiam com cuidado, pois como a fic, ele não é linear e tem várias mensagens subjetivas por trás que serão importantes depois. Agora sim, boa leitura!
DOMINGO. 22/11/1994. Uma hora da manhã. Torre da Grifinória.
Neville ficara muitas horas se revirando na cama aquela noite.
Tinha girado incessantemente para todos os lados, seu peito estava comprimido e as mãos suadas. Nada funcionava para acalmá-lo, mesmo que tivesse tentado recorrer até a meditação. Era praticamente certo que não conseguiria pregar os olhos.
A expressão de Harry era gravada em sua mente sempre que encontrava a escuridão das pálpebras.
E a destruição na sala de Dumbledore.
Seu coração ainda palpitava ao recordar incessantemente o momento onde Gina apareceu no corredor logo após sua detenção com Snape:
"Ele está lá! Dumbledore levou Harry para sua sala!"
A amiga não o julgou por como havia corrido feito louco deixando-a para trás, mas provavelmente acreditava que o motivo de sua agitação era outro do qual nem queria pensar muito sobre.
Dumbledore nunca seria capaz de ler a mente de Harrison.
O problema seriam as consequências se tentasse.
"Ele não pode, não tem esse direito, não com Hazz. Não pode fazer isso" pensava enquanto corria e o pensamento não era nada comparado ao que sua imaginação fértil criava. Os piores cenários possíveis, Hazz arcando com as consequências do que seria uma explosão contra o chefe da suprema corte bruxa.
Se virou na cama, pela milésima vez ou algo parecido.
Lembrando. Sempre lembrando.
Respiração acelerada.
Ele ainda podia ouvir o estrondo do que só poderia ser descrito como deslizamento de terra, mas não era, isso bem quando ainda tentava desesperadamente acertar qual o maldito doce era a senha da vez, detestando com todas as forças esse sistema.
Sentiu o coração parar quando, depois daquele barulho imenso, acabou encontrando apenas silêncio.
Não, não, não...
Harry não podia.
Dumbledore não tinha o direito.
A cabeça de Neville parecia prestes a explodir quando enfim pôde subir as escadas e obviamente entrou sem bater.
Havia uma enorme e logicamente mágica cratera no chão da sala, como se a pedra tivesse sido rachada no meio, mas o castelo não quisesse destruir a sala, deixando-a onde estava por pura insistência, tentando preencher as lacunas com mais rocha.
Neville olhou para aquilo, depois Harry, que o encarava com a expressão mais perdida que o Longbottom já o vira.
Ele tentou falar, aparentemente explicar-se, mas o de cabelos loiros não quis ouvir. Lhe agarrou o pulso e o puxou de forma agressiva, o colocando atrás de si de forma protetora, então encarou Dumbledore em uma fúria cega:
"Você pediu para que eu cuidasse dele. Agora olha o que fez?! Disse para que eu falasse com ele. Então espere e não interfira de novo se não quiser que ele termine de destruir esse lugar ou o senhor!"
Foi tudo que conseguiu dizer antes de arrastar Harrison de lá.
Seu amigo tremia, mas na hora, na adrenalina e sangue quente, Neville não deu a devida atenção porque podiam ser tantas coisas.
Ainda podiam.
— Chega – sussurrou para si mesmo e abriu as cortinas de sua cama, vendo como os amigos estavam com as próprias fechadas ou dormindo abertamente, como Ron.
A torre da Grifinória estava silenciosa, mas isso só piorava tudo, pois havia tanto barulho na cabeça de Neville que era como se tivesse uma festa muito incômoda por lá.
Ele levantou-se silenciosamente e pegou sua coberta, decidido a não voltar mais àquela cama e ao caos de uma tentativa fútil de adormecer.
Seguiu até seu malão, encontrando o livro modificado por Viktor e mesmo que soubesse que não conseguia fazer nada, ao menos isso podia tentar.
Hazz merecia.
Ainda mais depois de como Neville o tratou logo após uma crise que, provavelmente, nem foi sua culpa.
"O que você fez lá?" ele tinha perguntado assim que saíram da sala. A fúria ainda no olhar, ainda não aplacada para descer o sangue de sua cabeça e sumir de seu peito.
"Ele me chamou, desculpe, eu" mas Neville não ouviu.
"E você veio? Está pensando direito, Harrison? Por Merlin! O que você fez lá?"
"Eu só.... você está bravo comigo?"
"Você pergunta?!" não, ele não estava. Mas estava. Estava bravo com algo, uma coisa queimando dentro dele que o deixava um tanto cego. "Porque foi?!"
"Ele falou sobre você e eu não pensei muito além de que se você estivesse aqui".
"Você sabia que eu tinha detenção" mas é claro que o amigo não seria obrigado a saber o horário, nem se Dumbledore não foi o responsável por aplicá-la por algum motivo que fosse.
O ponto era que Neville estava tão agitado que não via as coisas na sua frente com clareza. Ele deveria proteger Hazz, é tudo que sabia, mas estava brigando com ele e as coisas se embaralhavam.
"Eu sei, mas mesmo assim ele me disse isso".
Neville se enfureceu mais. Dumbledore mentiu em seu nome? Mesmo assim, quem estava na sua frente era Hazz e algo idiota passou por sua cabeça:
"E o que tem se eu estivesse na sala dele?"
O amigo se calou e baixou os olhos, como se fosse pego com algo que não devia.
Claro. Neville estava descaradamente evitando o assunto e acreditava que o amigo não o forçaria a revisitar uma situação que, sinceramente, já o estava deixando louco por si só.
Mas mais importante que isso:
"Que risco idiota, você veio porque achou o que? Que ele faria de novo alguma coisa?" e, sem que percebesse, suas antigas mágoas, as mesmas que conseguiu soltar para sua avó, saíram de sua boca como se fossem forçadas para fora. "Você não consegue acreditar que dou conta da minha própria vida por um minuto?! Você tinha que... Você acha que eu sou uma criança ou o que? Temos a mesma idade e mesmo assim você não consegue confiar que eu posso me virar e sei com quem ando antes de correr um risco idiota entrando na sala de Dumbledore, de todas as pessoas! Eu diria que para alguém inteligente como você, essa foi uma decisão estúpida, mas não foi! Você apenas estava me tratando como incapaz de proteger a mim mesmo! Você me acha fraco comparado a você!"
"Eu não!" o menino se apressou em dizer, mas a cabeça de Neville já fazia um chiado e ele não ouvia de verdade.
Algo estava acontecendo dentro dele, uma sensação na boca do estômago.
Piorou quando Harrison escolheu as próximas palavras erradas:
"Eu sei que você veio aqui outras vezes depois de tudo e sei que pode se virar, mas ele disse seu nome e eu só não pensei. Achei que devia averiguar".
Harrison também não estava em suas melhores condições intelectuais, Neville sabia disso mais do que ninguém, mas tudo se misturava em sua cabeça agora.
"Você estourou a sala de Dumbledore como uma placa de isopor e agora acha que ele vai pensar o que? Ele está muito preocupado com como as artes das trevas podem te tornar instável. Como hoje. E se ele... espere, como assim sabe que estive outras vezes? Estava me vigiando?"
"Te procurando. Para conversar".
"Pensei que não precisaria ser forçado a falar uma coisa que não queria com o meu melhor amigo, sabia? Eu achei que tinha deixado claro que não queria tocar nesse assunto, mas acho que te mandei muitas cartas nos últimos anos para você achar que tenho obrigação de fazer um relatório da minha vida. Não se preocupe, não vou cometer o mesmo erro quando você for embora!" e saiu.
Ele saiu!
Ele nem sabia porque tinha brigado com Hazz e simplesmente o deixou lá depois de uma crise!
O que tinha em sua cabeça afinal? O que estava acontecendo consigo mesmo? Esse não era o Neville que sentia ser, mas de repente estava deixando suas inseguranças falarem mais alto e atingirem o menino que não tinha culpa pela forma como Neville se comparava. Mesmo assim era madrugada e não conseguiu pensar em como encontrar Harrison e lhe falar.
Para começar não sabia o que dizer.
Nem o que pensar.
Bufou, sentando-se em um sofá de frente a lareira que agora era apenas brasa e se cobriu até a cabeça.
Perdido e ainda bravo com algo que estava na ponta de sua língua e não só evitava sair, como o incomodava amargamente.
Capítulo 50 – A primeira tarefa e seu maior medo
"Harrison Potter tinha de enfrentar seu medo de fogo e de perder algo que amava,
Tom Riddle estava olhando para sua morte".
"Cheguei a incrível conclusão de que prefiro enfrentar um dragão a pedir os conselhos de Pedro Pettigrew, mesmo assim, graças a Dumbledore, sua incapacidade de deixar a própria escola segura e sua necessidade em atrapalhar cada aspecto da minha vida (até minha amizade mais antiga) amanhã até o fim do dia estarei oficialmente tendo feito os dois.
Rato e Dragão.
Ao menos, até Viktor está tão em choque depois de ficarmos cara a cara com as coisas que convenientemente se esqueceu de me importunar com o fato de que este é apenas um dos meus bichos-papões e o menos favorito.
Me livrou de perguntas e preocupações desnecessárias.
Enfrentar seus maiores medos. Os trouxas sempre dizem que te torna mais forte, então o que me tornarei amanhã?
Mas quem sou eu para reclamar de fogo, não é mesmo? No fim todos os campeões estão com medo de serem queimados vivos, eu sou só aquele com experiência no assunto".
Diário de Harrison James Mitrica Black Peverell-Potter. Segunda-feira, 23/11/1994, única anotação do dia.
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TERÇA-FEIRA. 24/11/1994. Dia da primeira tarefa.
Acordar no dia da primeira tarefa foi inebriante. Em um momento estava no seu quarto, Viktor se sentando junto com ele na cama parecendo igualmente aéreo, Ivan tentando animá-los. Então estava no grande salão de Hogwarts para o café.
Tinha certeza de que não fizera sua corrida matinal e se não estivesse com elas, nem se lembraria se tinha ou não colocado suas roupas.
A atmosfera na escola era de grande tensão e excitação. As aulas iam ser interrompidas ao meio-dia, dando a todos os estudantes tempo para descer até o cercado dos dragões – embora, é claro, eles ainda não soubessem o que encontrariam lá.
Hazz se sentiu estranhamente isolado de todos à sua volta, mesmo de Viktor e principalmente quando teve que se separar dele para as aulas.
Pessoas passavam lhe desejando sorte, ou o contrário "estou torcendo por Krum, alteza, desculpe" um chegou a comentar e era tão irreal que apenas acenava e sua voz dizia alguma coisa.
Naquele ponto tinha mais chance de que Tom estivesse o possuindo e controlando seus movimentos do que ele próprio tomando as decisões.
Viktor, em sua cabeça, sentia que o tempo estava mais esquisito que nunca, transcorria em grandes lapsos, de modo que num momento estava sentado assistindo à primeira aula, e, no seguinte saindo para almoçar, procurando Hazz o tempo todo com os olhos. Como se fosse acontecer alguma coisa.
E ia.
Só não sabia as consequências ainda.
Não sabia se estava mais preocupado com Harrison ou com ele mesmo, apenas sentia culpa. Merda, não deveria ficar assim tão transtornado. Ele próprio era um dragão, não era? Era o grão-duque da Durmstrang, tinha que ser melhor do que isso.
Mas suas últimas horas sem a criatura foram tão completamente esquecidas que, de repente, tinha uma Professor Katharina ao seu lado e um montão de gente estava olhando enquanto ela chamava:
— Potter, Krum, os campeões têm que descer para os jardins agora. Vocês têm que se preparar para a primeira tarefa.
— Ok – disse Harrison, se levantando e deixando cair o garfo no prato, com estrépito.
Viktor nem conseguiu abrir a boca para falar e nem tinha tocado em seu próprio prato.
Hazz teve Luna para fazer o seu, imaginou (porque ver e registrar as coisas era algo inalcançável agora).
— Boa sorte – disseram os amigos. – Vocês vão se sair bem!
— A se vamos! – exclamou Harry, com uma voz que nem parecia a dele, não para seus próprios ouvidos, mas disfarçou bem.
Sorriu, como sempre.
O sorriso falso que Neville odiava.
O grifinório tentou dizer algo, mas estavam muito longe e o lugar muito barulhento, o que lhe rendeu um ataque de pânico enquanto assistia o amigo deixando o Salão Principal sem que pudesse fazer nada para impedir.
Olhos para frente, passos calmos para não tropeçarem, os meninos seguiam a, sempre tão forte, professora Katharina. Com seus escudos de oclumência e sorriso confiante, ela era vista por todos como uma das rochas sólidas da escola, mesmo que fosse uma das professoras novas contratadas por Lakroff.
Dito isto, até mesmo ela parecia quase tão ansiosa quanto os campeões.
Ao conduzi-los pelos degraus de pedra para a fria tarde de novembro, pôs a mão no ombro do mais alto e começou a falar:
— Tudo vai correr bem, meninos – garantiu –, mantenham a cabeça fria... temos bruxos à mão, o dobro do esperado, o ministério britânico está apavorado com a ideia de fazer feio em outro evento. Há muitos jornalistas, nunca vão deixá-los realmente em... Vejam, lembrem-se que há quem resolva a situação se ela se descontrolar, então não se preocupem em impressionar, apenas façam o melhor e saiam de lá o quanto antes.
Nenhum dos meninos respondeu e a mulher suspirou, mas sem mais comentários.
Haviam armado barracas. Uma, a qual foram levados, tinha a entrada voltada para quem chegava, o que impedia a visão dos dragões.
— O Sr. Bagman está aí dentro, ele lhe dirá como proceder.
Hazz acenou, Viktor fez um resmungo e estavam para continuar sem a mulher quando, o que os teria surpreendido normalmente, ela os puxou e deu um abraço for em cada:
— Boa sorte.
Então saiu.
Eles se entreolharam e Harry, ao menos, sorriu para aquilo:
— Não se preocupe tanto em impressionar, campeão.
Viktor brincou de volta, o mesmo sorriso estranho no rosto:
— Lembre-se que ninguém, nem nenhum bichinho, é capaz contra você alteza.
Então entram.
Sentindo-se completamente despreparados, mesmo com tudo.
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Lakroff Mitrica estava ao lado de Ludovico "Ludo" Bagman, o antigo jogador de quadribol estrela da Grã-Bretanha, em uma mesa com vista bem privilegiada ao centro da mesa dos jurados.
Ambos seriam os apresentadores do evento.
"O que uma vida longa pode oferecer, não é mesmo?" pensava o platinado, que nunca se imaginou na posição de locutor de um evento esportivo. Era tão aleatório que chegava a ser por si só mais engraçado que a expressão assustada de Igor Karkaroff quando percebeu que sentaria ao lado de, e isso merecia ênfase, seu senhor.
Útil ou não, Igor ao menos era engraçado como seu servo e não havia cometido nenhuma gafe desde que recebera a ordem de não comentar o ocorrido da semana passada com ninguém.
Um burro, mas um burro funcional, vejam só!
— Lorde Mitrica – Ludo cumprimentou quando saiu da barraca dos campeões. – Uma boa sorte a nós e a todos os campeões.
— Uma boa sorte – respondeu, com ainda mais esperança naquelas palavras.
"Harrison vai precisar" pensou encarando a arena e as pessoas que teriam sua atenção na voz do vice-diretor.
Originalmente seria apenas Ludo o comentarista, mas quando alguns professores apontaram que, caso Viktor ou Harrison usassem artes das trevas o homem não saberia o que estava acontecendo, de alguma forma Lakroff foi colocado nisso.
Nunca tinha feito nada do tipo e sua cabeça estava bem cheia com suas preocupações, mesmo que praticamente inúteis, sobre seu neto.
Sabia que Harrison venceria a coisa.
Nunca, em nenhuma de suas visões mesmo as mais detalhadas e feitas sobre rituais, tinha visto o menino mais do que simplesmente superficialmente ferido. Havia mais segurança agora, Lakroff garantiu e o ministério estava ansioso para se mostrar efetivo. No movimento mais falho, estariam dentro e ele perderia a tarefa, mas quem se importava?
Ele estava tendo que enfrentar seu maior medo hoje, merecia bem mais do que alguns pontos e tudo que o mais velho podia esperar era que Tom, a horcrux estivesse com o menino quando ele não podia.
Se podia confiar em alguém para proteger Hazz, era Tom e isso o tranquilizava de uma forma impressionante.
"Incrível" ironizou. "Por coisas assim não conseguimos imaginar nossas vidas sem você, idiota" e queria dizer aquilo a horcrux, mas Harrison tinha parado com os remédios de sonho sem sonhos e isso tornara Tom apenas a vinha no fundo da cabeça novamente. Longe do alcance de Lakroff.
— Não se preocupe – Ludo garantiu, confundindo o nervosismo de Lakroff com outra coisa bem mais irrelevante. – Eu assumirei a liderança, basta me acompanhar e comentar o que achar pertinente.
O Mitrica ouviu Karkaroff engasgando e se segurou para não revirar os olhos para o tonto do Bagman. Ele deixando outra pessoa assumir a liderança?
Essa era boa.
Mesmo que nunca tivesse feito a coisa, o único lugar que deixaria outro bruxo achar que pode assumir a liderança dos movimentos de Lakroff seria a cama e nunca com um homem fraco como Ludo.
Assim que viu o primeiro aluno entrando, Cedrico, sua boca falou por si mesma, antes de qualquer aviso:
— Senhoras e senhores, bruxos presentes nesta tarde. Entrando na arena para representar a escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, nosso primeiro campeão, dezessete anos, da casa da lufa-lufa, Cedrico Diggory!
A multidão gritou empolgada, aplausos, sapatos contra a estrutura de ferro em formato de coliseu onde estavam, torcida empolgada uivante.
Para todos os espectadores era apenas um show.
E Lakroff daria um show a eles. Para o bem de seus próprios nervos.
De alguma forma, conforme a tarefa passava, o Mitrica e Bagman conseguiriam criar uma boa sincronia, para a surpresa do mais velho, porém de aparência mais jovem e refinada.
Lakroff era mais técnico e mencionava por cima os feitiços usados, para não dar pistas aos outros campeões como fora instruído, e Ludo comentava a "apresentação", reagia junto da plateia, animando-os.
Cedrico enfeitiçava uma pedra.
— Transfiguração, hein? – dizia Lakroff.
— Uma tentativa curiosa, mas funcionará? Lá vai o garoto, mostre-nos o que tem Diggory! – seguia Ludo.
Um pouco depois:
— Essa foi perto, não acha, Mitrica? Por um triz...
— Com certeza, Ludo, o campeão terá de tentar algo diferente ou será que ainda tem chance com essa técnica? O Focinho-Curto não parece ter gostado.
— Mas Cedrico parece disposto a persistir. Bem confiante, o lufano.
— Prestem atenção grifinórios, a coragem não é exclusividade!
— Lá vai ele de novo! Está se arriscando, o campeão!
— Cedrico Diggory pessoal!
A plateia gritava e urrava, exclamava como uma entidade única de muitas cabeças, enquanto Lakroff, com toda sinceridade, se divertia.
Por mais ansioso que estivesse pelo neto, aquilo era surpreendentemente divertido.
A primeira vez que era recebido de bom grado com seu humor mórbido e comentários sarcásticos, pior, incentivado pelo colega ao lado. Isso enquanto aproveitava a vista de uma criaturinha lutando por sua vida direto da ala VIP.
Sentia-se leve, se seu sorriso era alguma prova.
Ludo também sorria, era apenas menos insano e ninguém os estava olhando, para começo de conversa. Eram apenas vozes naquele dia.
Quinze minutos depois, Cedrico conseguira passar pelo dragão e pegar com certo sucesso o ovo.
— Um ótimo desempenho de varinha, corpo e mente persistente, senhoras e senhores! – incentivou. – Mas alguns deslizes que podem lhe diminuir a nota. O que me diz, Ludo?
— Realmente muito bom, Mitrica! Mas a queimadura é uma questão a ser considerada – concordou Bagman. – E agora as notas dos juízes!
Eles não falaram as notas que foram erguidas pelos cinco, deveria ser surpresa para não dar ainda mais tensão aos próximos campeões, o que estava feliz que todos concordavam.
Não sabia como o coração competitivo de seus dragões da Haus Feuer lidaria com a expectativa de ganhar uma nota maior. O desejo de vencer prevaleceria?
Nesta edição, porém, a prioridade era a sobrevivência dos participantes apesar do desafio.
— Um a menos, faltam três! – berrou Bagman quando todos já poderiam fazer por conta própria a conta da soma dos pontos.
Com Cedrico fora e os dragões trocados aos suspiros dos presentes, afinal Dragões ainda eram criaturas magníficas e imponentes, um apito tocou anunciando que era a próxima vez. Lakroff tornou a colocar sua varinha no pescoço, para garantir o feitiço de ampliação sonora, e anunciou:
— Da Academia de Magia Beauxbatons, representando a França, também aos dezessete, Le Mademoiselle, a senhorita Fleur Isabelle Delacour!
Desta vez haviam claramente mais gritos masculinos e isso foi engraçado. Lakroff sempre curtia com como a beleza de uma herança veela levava certos homens, ele mesmo teve que chutar Ludo de baixo da mesa para que voltasse ao foco.
O germânico nunca foi afetado, nem mesmo pelas criaturas em pessoa.
Depois de sua entrada e de um comentário um tanto sexista de Ludo sobre como Fleur representava a força feminina diante do desafio, o que não foi tão ruim quanto poderia ser uma vez que ouvintes menos maldosos haveriam de interpretar apenas como "todos são bruxos independente de gênero".
As coisas dali em diante se seguiram como com o primeiro campeão.
Surpreendentemente amigáveis e em sincronia.
Intelecto e acidez por parte de um, empolgação e esporte do outro, humor de ambos, as pessoas pareciam rir e realmente serem afetadas por seus comentaristas, tanto que mesmo nos momentos de pausa onde o campeão poderia estar pensando, havia reação do público.
Começou a entender a necessidade de locutores em alguns eventos.
Fleur tentou, isso surpreendeu muito Lakroff, fazer o dragão dormir com um feitiço:
— Uma jogada ambiciosa, da competidora! Usando uma vantagem de nascença única para amplificar os efeitos de um feitiço que poderia não ter qualquer resultado nas mãos de outros bruxos! Será impressionante se funcionar, não acha Ludo?
— Sem dúvidas, Mitrica, mas não tenho muita certeza se isto foi sensato. Se fosse tão fácil, treinadores de dragões não teriam tantas cicatrizes, não é mesmo – e riu. – O que me diz, ela está indo!
— A grande desvantagem que a campeã encontra agora é manter de pé um feitiço contra uma criatura tão forte, estamos falando de uma das áureas mais intensas do mundo da magia, algo provavelmente muito mais intenso que ela já possa ter enfrentado. Magia contra vontade e dragões têm vontade de sobra, pelo que sabemos – e houve gritos dos seus Feuer, Lakroff sabia distingui-los.
Também sabia que provavelmente os colegas de outras casas os estavam insultando agora por serem tão arrogantes.
— A arena é grande e o desafio maior ainda, Fleur Delacour segue cautelosa! Deve estar sendo exaustivo, senhores!
– Ah... quase! – disse Ludo quando houve fogo, então todos pararam quando a garota avançou novamente.
"Cuidado agora..." dizia em outro momento.
— A competidora é astuta e atenta aos detalhes, mas o Verde-Galês de Mademoiselle Delacour, mesmo que seja um dos dragões que causam menos problemas, comumente caçando carneiros e evitando humanos, ainda é um espécime de criatura classificada em XXXXX que não gosta de ser provocada! Não será fácil para nenhum dos nossos campeões – Lakroff acrescentou enquanto todos assistiam Fleur se esconder atrás de uma pedra, a varinha firme na mão. – Ela está precisando usar muito de sua magia para continuar com esse plano.
— Professor Mitrica, porque não esclarece àqueles que não entendem de classificação o que querem dizer esses termos?
— Claro, Ludo – Lakroff suspeitou que o homem referisse a si próprio, mas vá que. – A classificação de cinco X para a magiologia e o ministério da magia quer dizer uma criatura do tipo "mata bruxos", isto é, impossível de treinar ou domesticar! Os Departamentos para Regulamentação e Controle das criaturas mágicas em todo o mundo buscam classificar os animais, seres e espíritos conhecidos para seu nível de periculosidade conhecido, assim tornando mais fácil entender seu poder, estudá-lo e lidar consigo nos momentos de necessidade.
— Muito instrutivo, obrigada por esclarecer, Professor Mitrica.
— Sempre um prazer Ludo. Mas olhe só, a Mademoiselle parece estar prestes a fazer sua investida!
Uivos assustados, o dragão estava acordando e apesar de seus urros caracteristicamente melódicos, ainda era capaz de soltar jorros de chamas finos, mas potentes.
— Meu bom Deus, pensei que já tinha apanhado! – gritava Ludo.
Dentro da barraca, Harry e Viktor queriam mandar os dois homens calarem a boca.
— Olhem só! – chamou Ludo.
— Ela foi rápida! Acho que não atingiu em cheio!
— Não mesmo professor! Ela está apagando!
Dez minutos em desafio, a multidão prorrompeu em aplausos mais uma vez, pois Fleur foi bem-sucedida.
Mais uma pausa, enquanto os juízes mostravam as notas.
— Lembrando a todos que a velocidade não é tudo, há muito mais que os juízes estão avaliando.
— E esta foi nossa senhorita Delacour! – despediu-se Ludo enquanto realizavam todo o processo de captura e troca das criaturas, tristemente usadas para entretenimento bruxo.
Mas quem era Lakroff para dizer algo?
— Mais uma vez, um grande espetáculo, não é mesmo, Mitrica?
— Ludo, logo estaremos sem palavras!
— Fale por você, eu sempre tenho algo a dizer, se quer saber! – brincou.
— Deve ser cansativo passar um dia com você então, Ludo – retrucou e os dois riram.
Então, depois de tudo pronto o apito tocou por sua terceira vez. Lakroff manteve o padrão:
— Pelo Instituto de Aprendizagem Mágica Durmstrang, o terceiro campeão do nosso dia, dezessete anos e apanhador titular da liga da Bulgária, Viktor Krum!
E a multidão entrou em polvorosa, a maior agitação até então, com os alunos da Durmstrang loucos para mostrar apoio ao colega e se levantando para se jogar contra a estrutura fazendo barulho. As fãs de Krum em todas as escolas igualmente gritando por ele.
Lakroff notou o dobro de flashes na direção do menino que acenou para a multidão acostumado, mostrando confiança e firmeza com socos no ar, mesmo que seu professor soubesse que não estava tão bem assim.
— O Meteoro Chinês, senhoras e senhores – contou Lakroff. – Também conhecido como dragão Leonino, já está soltando suas famosas labaredas em forma de cogumelo. Sabe o que isso significa Ludo?
— Não tenho certeza, professor, mas não parece ser bom!
— E não é! Ele está irritado! E lembre-se, esse é um dos dragões que gosta especialmente da carne dos humanos!
— Cuidado Viktor! – provocou Ludo rindo.
Nem parecia que estavam falando da vida de uma criança.
A forma como as pessoas podiam se esquecer o quão ruim eram as coisas...
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DOMINGO. Três horas da manhã. Torre da Grifinória.
Depois de tanto tempo debaixo da coberta naquele sofá e encarando as brasas se apagarem cada instante mais, era de se esperar que Neville tivesse conseguido organizar a mente.
Não tinha.
Era como se batesse repentinamente contra uma barreira sempre que pensava muito a fundo sobre as coisas e voltasse para o início, agitado e com o coração palpitando.
Viktor ficaria bravo com ele, não é? Tinha dito que compraria os chocolates que Neville pediu para conversar com Hazz e agora já era domingo e provavelmente nem saberia o que dizer para o amigo perdoá-lo.
Nem sabia porque deveria se desculpar e o que realmente sentia para manter seus limites.
Ele riu depreciativamente. Limites. Ele tinha?
Nunca imaginou que pensaria sobre alguns com Harrison e sinceramente? Não conseguia, mas tinha brigado com o amigo, então algo o estava incomodando mais do que suas próprias inseguranças, algo que não conseguia ver e o fazia agir daquela forma. Ele não gostava de sentir que todos o viam como incapaz as vezes enquanto Harrison já era mesmo emancipado? Sim, mas...
— Você fez isso? – pensou em voz alta.
Foi naquele momento que tão de repente a sala escura foi tomada por luz, a lareira antes quase apagada brilhava com um fogo intenso e verde que não era quente e que tão logo que apareceu, sumiu.
Deixando apenas Harry Potter ali.
— Hazz!
— Neville! – o mais baixo saiu da lareira e Neville correu em sua direção, quase tropeçando na coberta em seu desespero para alcançar o amigo.
— Que merda você está fazendo?
— Não sei, mas ela foi das grandes – tremeu.
— Você usou a rede de flú! – assustou-se.
— Não consegui passar pelo quadro da mulher.
A resposta sincera e simplista, como se não tivesse nada demais, surpreendeu o Longbottom:
— Então você queria invadir a minha casa de qualquer jeito?! Por que foi isso que você fez, invadiu a torre da Grifinória!
— Com sucesso, ainda bem.
O fato de que, apesar de tremer, o menino parecia bem, começou a incomodar Neville que sentiu que podia deixar de se preocupar e questioná-lo dos motivos que o levaram a fazer algo do gênero:
— Para que isso?
— Precisamos conversar.
Algo nisso mexeu com os mesmos nervos aflorados de Neville:
— Você está brincando, não é? Você acabou de usar a maldita rede de flú, de forma com certeza ilegal...
— Entrei pelo quarto de Sirius.
— E para conversar?! E se eu estivesse dormindo?
— Eu te acordaria, azar o seu.
Aquilo também pegou o Longbottom, como se Hazz estivesse atirando e ele recebesse as balas sem vê-las:
— É assim?
— Sim. Enquanto você me evitar. Eu invado o que for até você sentar e me ouvir!
O loiro arregalou os olhos.
E entrou na defensiva.
Como se não quisesse receber ordens de alguém que tinha acabado de ser ridiculamente invasivo:
— Ótimo! Agora é autoritário – revirou os olhos. – Primeiro vai falar com Dumbledore e quase põe tudo a perder, então eu que preciso ouvir? Você realmente não consegue respeitar meu espaço?! Eu grito com você e sua reação é ignorar tudo que eu possa ter dito e simplesmente exigir que eu ouça você, quando você o quiser?
— Sim, para parar de ser um idiota logo.
— Idiota?!
— Sim, um grande idiota que ainda está me achando palhaço.
— Do que raios está falando? Eu já te disse que não quero falar sobre essa merda com Dumbledore, será que você não consegue ouvir um não e respeitar, vossa alteza? – e as últimas palavras eram muito ácidas.
— E quem disse que eu quero falar da merda daquele velho?! Eu quero falar de você, seu idiota.
— Pare de me chamar de idiota!
— Pare de ser um!
E abriu os braços, como se dissesse algo óbvio.
Neville ficou vermelho de fúria e estava com a boca aberta pronto para brigar quando Hazz foi mais rápido:
— Eu vim aqui pedir desculpas e passei pela merda de um fogo por isso, você podia ao menos me ouvir para compensar a merda desse sacrifício, porque que porra, eu nunca mais quero fazer isso, mas eu faço mil vezes por você, idiota, se continuar me odiando!
— Como é? – ele recuou.
Suas defesas desmontando de forma cômica.
Houve um tempo de pausa, onde Hazz olhou para trás, para onde estava a lareira e tremeu, como se aquilo fosse um tipo de monstro embaixo da cama.
E era.
Neville entendia isso e por isso tinha corrido para o amigo, para começo de conversa, mas como sempre Harrison não precisava de proteção. Ele era forte e enfrentava tudo sozinho, de cabeça erguida. Como a cobra na infância.
Ele não precisava de Neville.
— Desculpa, Neville. De verdade. Me desculpa por ter sido uma droga na sua vida nesses últimos tempos e você tem razão em estar bravo comigo. Eu sei que não devia fazer você se sentir desconfortável e pelo jeito foi só o que causei esse tempo todo, sem perceber. Eu sou um idiota, não você.
— Do que você está falando? – perguntou o grifinório, muito confuso. – Do que está se desculpando?
Hazz não tinha que estar se desculpando! Por mais que tivesse invadido a torre, Neville... Neville só estava bravo porque o amigo era mais inteligente que ele, tinha mais atitude que ele e mais uma vez se mostrou melhor. Só estava bravo pela forma como foi chamado de idiota, mas estava sendo, se Hazz achava que era quem devia desculpas ali.
Pior.
Como Hazz tornara sua vida pior ou uma "droga"? O mundo sempre era melhor com Harrison e Neville nunca duvidou disso!
Houve uma breve pausa, de novo onde o Potter não olhou para o amigo, mas dessa vez parecia claramente estar evitando seu olhar.
O Longbottom estranhou.
Não só essa hesitação depois de uma entrada tão confiante, mas porque de repente Hazz parecia pequeno. Notou como sua respiração estava descompassada e como ainda tremia, ele fechou os olhos e Neville assistiu com horror quando Harrison Potter, o bruxo mais forte que conhecia de sua idade e talvez de todos...
Simplesmente derramou uma lágrima.
Neville não teve reação além de assistir aquilo esquecendo-se por um instante como respirava ou se fechava a boca.
Então o moreno sussurrou, parecendo tão fraco e miserável que nem era mais a mesma pessoa:
— Me desculpe, se eu não existisse Dumbledore nunca teria lido sua mente, é claro que você não quer falar comigo. Eu sou o culpado dessa merda e só te causei chateação.
O coração de Neville pesou e toda a dor que podia sentir o atingiu como um caminhão trouxa. Ele pisou em falso, tentando se aproximar de Harrison, então houve outra lágrima e ele correu para agarrar os braços do menino.
A mente, finalmente, em silêncio e organizada:
— Hazz, por favor, não chora.
O amigo negou com a cabeça, os olhos ainda fechados:
— Você pode me odiar o quanto quiser amanhã ou daqui cinco minutos, mas se quer gritar comigo, então grite tudo. Me xingue, insulte minha família, minha burrice e me odeie. Mas diga. Fale comigo. Continue falando e não pare mais porque seu silêncio, quando você não fala é muito pior! Eu não sei como fazer as coisas sem sua ajuda e tem fogo em todos os cantos que olho! Se continuar me evitando então ao menos grite comigo até que eu consiga pensar em um jeito de não morrer para uma maldita lagartixa gigante que vai tentar me queimar vivo pela segunda vez! Você fugiu! Eu sou um idiota, mas você também é, não está me ajudando e você prometeu que faria isso! Desculpe usar isso contra você, mas... Você prometeu que nunca mais me deixaria e eu estou prestes a enlouquecer em chamas! Então... só me perdoa, por favor. Me perdoa por ser um problema e me deixa ser só mais uma vez...
-x-x-x-
TERÇA-FEIRA. Arena da primeira tarefa.
Marvolo estava, ao menos, muito satisfeito naquele dia.
O plano de Lucius para colocá-lo em Hogwarts tinha sido um sucesso e mesmo com a revista do ministério antes de entrarem (realmente os aurores estavam fazendo o máximo para deixar a segurança exemplar para os jornalistas), estavam em seus assentos prontos para o show em pouco tempo.
Tinha, enfim, a chance de deslumbrar-se ou decepcionar-se pessoalmente com a promessa grande de glória eterna oferecida aos competidores naquele torneio ressuscitado por políticos mais interessados em cargos do que nas crianças que seriam oferecidas a eles como sacrifício.
Seu tipo de evento.
A diversão de que veria enfim como seu adversário adolescente se saía em batalha, tornava tudo ainda mais interessante.
Do contrário, aquelas pessoas não teriam a honra de sua presença.
Uma pena que não tivessem consciência deste prazer.
Os desempenhos iniciais foram... adequados, para ser gentil. A habilidade da senhorita Delacour ao menos foi interessante de se ver como um entusiasta da magia. Havia, se não, uma vantagem em ser um mestiço quando se referíamos a sangue mágico em outras formas.
Mas sua atenção foi mais proeminentemente levantada no momento em que Viktor Krum entrou na arena.
Aquele nomeado, de acordo com as observações de Barty, como o "grão-duque" da Durmstrang e da corte do Lorde Potter. E o que era um Slytherin sem uma corte adequada, não é mesmo?
Uma batalha contra uma criatura, por mais limitante que fosse, seria um bom meio de avaliar como se saía a pequena e irritante coisinha que se achou digna de lhe roubar o título e anel de Lorde.
"Então rapazes, me impressionem, tornem isso real", pois logo Voldemort teria seu exército de novo.
Daqueles que valiam seu tempo.
Harrison precisava do mesmo se queria ter uma chance de continuar com toda aquela prepotência.
Suas expectativas estavam altas, precisariam de muito para atingi-las e Viktor Krum, para a surpresa ou não (já que ele próprio jamais escolheria um elo fraco mesmo em Hogwarts para seus cavaleiros) era um achado mágico.
Bruto.
Mas mesmo pedras preciosas são brutas antes de lapidadas.
O búlgaro usara feitiços sombrios para evitar as chamas, escolhendo por redirecioná-las diretamente ao seu inimigo. Inimigo este, é claro, com uma resistência considerável em sua carapaça firme. Mesmo assim mostrava a atitude de um bruxo que não aceitava menos do que devolver o que seus inimigos tinham a lhe oferecer. Poderia parecer gasto inútil de tempo e magia, entretanto serviam ao propósito de cegar o dragão em pontos específicos onde, levitando rochas pesadas podia atacar com danos contundentes muito mais eficazes.
Um bruxo que usa a força do inimigo contra ele. Algo a se almejar em um dito braço direito do rei. Muito adequado, diria Marvolo.
As labaredas que não iam para distrair o dragão, Krum deixava que atingissem e incandecessem rochas que com velocidade e precisão atingiam a cabeça da criatura, atordoando-a, mas deixando-a mais furiosa.
Uma corrente no pescoço a impedia de levantar-se completamente e isso também foi usado por Krum que incentivava o bicho a erguer as enormes patas para se defender de seu ataque implacável, afastando aos poucos a criatura de seus ovos.
Mas apenas um pouco.
Claro que uma mãe atacada focaria em sua ninhada e por mais que abrisse as asas e tentasse avançar, ela não o fazia, pois sabia que o inimigo poderia decidir destruí-los.
— É impressão minha ou o dragão que precisa de ajuda contra Krum? – perguntou Ludo ao narrar.
Marvolo sorriu, cruzando as pernas satisfeito com a primeira apresentação de seus referidos adversários. Não estaria se rebaixando para atacar um bando de crianças despreparadas.
Claro, Krum tinha já seus dezessete anos, um adulto aos olhos das autoridades bruxas, mas isso se referia apenas a formação do núcleo mágico, não seu intelecto e real capacidade enquanto pessoa. Dando créditos aos jovens, dizia-se que para enfrentar um dragão eram precisos dez bruxos. Isto é, para contê-los.
"Para matar, talvez seja preciso apenas um Viktor Krum motivado?" pensou divertido.
Agora a coisinha do Potter teria que realmente lhe dar algo grande, ao menos para provar que sua corte era apenas suas ligações, não um apoio necessário ou uma barreira com o verdadeiro poder.
Mesmo que fosse inteligente, decairia muito na visão de Voldemort se não tivesse o poder. Poder para se achar digno de se levantar contra ele. Para dar a cara ao nome Slytherin. Para ousar tomar-lhe seus comensais, que de nada serviriam e sequer obedeceriam (mesmo com a ajuda da magia) se não houvesse a força para controlá-los.
A carcaça do bicho era realmente muito forte e mesmo com suas investidas, Krum não estava conseguindo alcançar o objetivo da tarefa mais do que conseguia se mostrar como bruxo. Isso não o levaria a vitória e neste momento teria que mostrar mais. As pessoas precisam ter sempre mais. A maioria era indigna pois só tinha uma coisa a oferecer. Marvolo sempre fez de tudo para ter todas as habilidades possíveis e elevadas ao máximo de seu potencial. Isso o tornou grande.
O que Krum tinha a oferecer para alcançar a taça do torneio?
O Meteoro-Chinês soltou um poderoso e terrível urro, enquanto a multidão prendia a respiração em uníssono à sua volta.
Como previsto pelos cálculos de Marvolo, aquela pedra bruta alcançou seu sucesso, entretanto os prejudicados foram os ovos de dragão, pisoteados por uma mãe em ataque e atordoada por um feitiço certeiro.
– Que sangue-frio ele está demonstrando... e sim, senhores, ele apanhou o ovo! – anunciara Ludo.
Os aplausos romperam o ar invernal como se estilhaçassem uma vidraça e Tom, educadamente convencido do potencial da nova geração de adversários, aplaudiu educadamente.
— Gostando do show, Lucius? – Theomore provocou ao seu lado direito.
— Calado, Nott! – o loiro brigou, do lado esquerdo.
Estavam a tarde toda se provocando da forma mais contida que conseguiam arrumar. Theomore, de alguma forma, havia conseguido por conta própria uma entrada para o evento e sem contar a Lucius. Marvolo sabia, é claro, e achou uma boa jogada. Sinceramente não se importava com nenhum dos dois ali e suas rivalidades. Serviam apenas para quando queria usar algo além de uma simples ameaça.
E nada como uma rivalidade de gerações para mover dois lordes como bonecos.
As notas dos juízes eram levantadas e Theomore escolheu aquele momento para se inclinar mais próximo:
— Milorde? – Riddle não se deu ao trabalho de responder, apenas acenou para que continuasse. – Igor Karkaroff.
O Nott não precisava usar palavras demais, sabia disso, contava com a sagacidade de seu mestre e isso agradava os ouvidos de Marvolo:
— Encaminhando.
— Posso ser útil de alguma forma? Depois do evento provavelmente haverá alguma conversa entre os membros do ministério e do conselho.
— Descubra o que puder, como sempre. Aguardo uma novidade.
— Sim, milorde.
E não falaram mais.
Havia certa tensão no ar, todos sabiam o que significava a próxima entrada na arena. Quem era o quarto e último campeão e estavam em expectativa.
Marvolo usou o tempo da troca de dragões para observar seus arredores. Sentir a magia de uma inteira nova geração de bruxos entupindo seus sentidos, observar seus alvos.
Albus Dumbledore, que sequer lhe dera uma olhada, estava na mesa dos jurados, conversando com a diretora francesa. Não suspeitava de Riddle bem debaixo de seu nariz torto.
Como Marvolo queria. Podia, agora mesmo, sacar sua varinha e lhe acertar um feitiço pungente. Uma maldição da morte. Conseguiria lidar com os dez aurores presentes, talvez um pouco mais espalhados por trás da arena, mas dentro era este o número que conseguiu contar. Os professores de Hogwarts e a quantidade de presentes eram seu maior problema, porque não conseguiria prever quantos haveriam de ser tolos o bastante para se juntar à defesa do diretor morto.
Aparatar em Hogwarts não era possível, então a opção de uma saída estratégica era impossível. Acreditar que sairia sem ser visto tão pouco.
Era uma pena, mas Dumbledore viveria mais um dia.
Uma questão de tempo, de toda forma.
Lakroff Mitrica.
Este ganhou sua atenção depois que os pensamentos intrusivos foram contidos e aceitos. O homem de cabelos loiros, pontas tão claras que tornavam-se brancas, invisíveis contra a luz do sol, estava sentado mais ao centro da mesa de jurados, mesmo não sendo um. Parecia em casa comentando o desempenho de crianças lutando contra a morte, um Grindelwald sem dúvidas, e sorria. Um sorriso brilhante que Marvolo se distraiu observando por alguns instantes.
Ah, tolas pessoas.
Ludo conversava com o homem sem entender o que havia de especial naquele sorriso, mas Marvolo podia lê-lo como se fosse o próprio.
Havia sangue.
Um bruxo das trevas, uma visão direta para o desconhecido, escondido por trás de trejeitos mundanos para se encaixar. Conhecia bem o tipo, sem dúvidas.
Queria estar mais próximo. Para conseguir sentir a sua magia com clareza. Saber mais. O quanto fosse possível daquele homem e fator tão interessante.
Talvez depois.
Agora a prioridade se tornou outra.
O apito, enfim, tocou uma quarta vez.
A doce voz de Mitrica anunciou:
— E por último, mas não menos aguardado, representando o grupo do conselho estudantil do Instituto de Aprendizagem Mágica Durmstrang.
Ludo continuou, mesmo sem ser chamado:
— Aquele que salvou o mundo mágico e se tornou um mistério nos últimos seis anos ou mais!
Marvolo irritava-se com aquele jogador burro. Já o usara antes para conseguir informações de dentro do ministério à seus objetivos, era tão idiota que não percebia o que dizia. E foi esse tipo de pessoa que escolheram para decidir as palavras de um evento que seria transmitido para o mundo.
Depois não podiam culpar apenas seus comensais pelo estado da imagem pública do país. Mostrava muito sobre como estava seu governo mágico e como implorava pela atenção de Marvolo, que podia tirá-lo da lama.
Desde que limpasse o lixo primeiro.
Ludo era um deles, mesmo que fosse sangue puro. Era apenas inútil para uma sociedade funcional. Desde a entrada do primeiro campeão, Riddle se perguntara porque não chamaram apenas Grindelwald para narrar. Ele fazia um trabalho bem menos obtuso e boçal.
Além de que tinha a voz mais agradável de se ouvir:
— O presidente do conselho estudantil e aluno prodígio – mas Ludo interrompera Lakroff, anunciando por cima com o que só poderia ser um grito.
– Harry Potter!
Marvolo viu mesmo na distância, graças aos feitiços que havia preparado em uma lente que trouxera consigo, Lakroff revirando os olhos com Ludo Bagman descaradamente ignorando o nome correto de Harrison.
Conhecia a sensação e simpatizava com ela.
Dumbledore ainda insistia em chamá-lo de Tom sempre que se viam e Marvolo tinha vontade de estourar os próprios tímpanos ou arrancar-lhe a língua.
A segunda opção sendo sua favorita, obviamente.
Estas observações, entretanto, foram abafadas em sua totalidade pelo maior barulho que aquela arena já havia feito até então.
A Durmstrang urrou tão forte que até mesmo o dragão ficou inquieto olhando a sua volta, a arena era o rugido de uma criatura própria e tinha centenas ali.
Saudando o "herói".
O lorde Slytherin...
"Tinha de ser o último, não é mesmo?" pensou Marvolo. Afinal o que seria para um Slytherin se rebaixar ao entretenimento de outros bruxos, se não uma oportunidade para mostrar-se como nada além do que o ouro.
Ou a prata.
Aquele que encerra e que supera.
Ao menos com sua torcida já havia tomado vantagem triunfante. Por entre os sons disformes dos espectadores, era possível ouvir uma palavra ecoando. "Alteza", diziam na língua oficial da Durmstrang. Um zumbido sutil de abelhas, mas ainda presente o bastante para se fazer presente àqueles que prestavam atenção.
Ali, havia uma colmeia, era o que o som evidenciava.
"Alteza! Alteza! Alteza!" continuavam.
"Mostre-me garoto, porquê é a abelha rainha que ousou me desafiar" inclinou-se, o binóculo mágico pronto para não lhe deixar escapar detalhe algum.
— Harrison entra na arena, senhoras e senhores!
Grindelwald falava, agora com o nome correto, conforme a criança entrava de cabeça erguida, tudo naquela sua voz clara e objetiva, apesar de melódica, que combinava muito com o homem se Riddle podia dar sua opinião.
E o faria.
Em sua mente.
— Ele deverá enfrentar aquele que possui a fama de ser a mais perigosa raça de dragão, o Rabo-Córneo Húngaro!
— O que sabemos sobre o espécime, professor? – perguntava Ludo os olhos vidrados em Potter como todos.
— A criatura tem de alcance incríveis quinze metros em suas labaredas! E para seus inimigos, um aviso, sempre que possível se alimenta de humanos!
— Poderá o menino que sobreviveu, sobreviver novamente?! – instigou Ludo para sua plateia.
Ou melhor, a plateia de Peverell-Potter.
Eles eram seus, a forma como a torcida estava se tornando ansiosa, se esticando para observar "melhor", como flashes de câmeras de todos os repórteres ascendiam o local como uma espécie de boate trouxa se não fosse a própria luz do sol competindo com suas simples máquinas.
Havia expectativa, curiosidade, uma necessidade de captar cada milímetro do famoso "garoto que sobreviveu".
Tolice. Como se o menino tivesse tido o feito por si próprio. Sua mãe, ah sim, a nascida-trouxa tão habilidosa que mesmo Voldemort tinha de admitir o potencial e almejar em suas linhas. Esta o enganara e derrotara, com armas que Riddle não estava acostumado a lidar.
Auto sacrifício.
Nada que estudaria e, portanto, se permitiu a falha de não prever. Mas daria créditos a sangue ruim por isso.
E de certa forma, Voldemort não poderia julgar a curiosidade do público pelo mesmo motivo. Aquele era o filho daquela mulher.
E seu rival declarado pelo destino.
Estava, ele próprio, ávido. Faminto por seu desempenho.
"Vamos garoto, mostre-me seu potencial máximo, quando vai ter chance parecida que não seja contra eu próprio?"
Que outro inimigo, que não um majestoso dragão, poderia se equiparar a um ataque de Lorde Voldemort em pessoa?
Harrison Peverell-Potter de um lado, O Rabo-Córneo do outro no cercado. A criatura pairava sobre sua ninhada de ovos, usada para atraí-la para a arena, as asas meio abertas, os olhos amarelos e intensos fixos no pequeno alvo que acabara de lhe vir de bandeja. Tão pequeno. Parecia mesmo com uma criança, Riddle já havia crescido mais nesta idade e vivera em um orfanato. Os Potter não eram tão baixos, seria uma característica da sangue-ruim?
— Vai Harrison! – Sirius Black gritou não muito longe de onde Marvolo se encontrava e foi absurdamente claro em sua preocupação.
"Não confia na capacidade de seu herdeiro, Black?" debochou.
O lagarto negro coberto de escamas, sacudiu com força o rabo de chifres e acertou o chão, deixando uma ameaça física para provar sua força, um rastro de um metro de comprimento escavado na rocha como se nada fosse. O estrondo que acompanhara o gesto fazendo a plateia suspirar em choque.
— A multidão perde o fôlego – dizia Bagman. – com a força do rabo de nosso dragão. O que fica é a sensação de medo, afinal o pior não seria sua cabeça?
O rabo córneo não deu tempo para que questionassem o título de dragão mais perigoso, rugiu com força em direção a Harrison, como se mesmo em seu tamanho diminuto entendesse a presença de um bruxo e, portanto, ameaça.
Ou comida.
Suas presas enormes rasgaram o ar, então tomou fôlego, a plateia em conjunto.
Então soprou.
Era fogo tão infernalmente forte, labaredas tão altas e intensas que se Marvolo não estivesse no meio da arena não teria conseguido ver o que se seguiu.
— O que aconteceu ali?! – exclamou Ludo em choque, levantando-se.
Pessoas de todos os lados arfavam conforme a informação diante deles era compreendida e digerida.
Lakroff Mitrica o primeiro a lhes dar uma chance de entender:
— Potter fez uma muralha de fogo para enfrentar o próprio sopro de um rabo córneo! E ganhou, senhoras e senhores!
Gritaria.
Era como se um time de futebol trouxa tivesse marcado ponto.
Os cordeiros gritavam de animação enquanto a verdade pairava sobre Marvolo, devidamente intrigado.
Fogo maldito. Reconheceria de longe.
O Fogomaldito, artes das trevas avançadas, chamas capazes de consumir tudo, até o bruxo que as lança.
Até o fogo de um dragão.
"Dragão contra Dragão" pensou, Voldemort imediatamente lembrando-se das casas da Durmstrang e a qual a pequena chateação pertencia.
A casa dos ousados e ambiciosos, mas quanta ambição e coragem era necessário para se colocar de frente com um dragão e acreditar que venceria em seu próprio jogo?
— Potter nem mesmo hesitou, senhoras e senhores! – gritava Ludo desacreditado, prejudicando o humor de Marvolo a cada palavra do homem desagradável.
Mataria esse homem assim que possível.
Apenas por capricho.
Ele podia.
— Não moveu mais do que o músculo para fazer seu feitiço!
— Foi um feitiço não verbal, senhores! – Mitrica claramente animava-se com tal perspectiva. – Mesmo que fosse um feitiço bem complexo de artes das trevas, para aqueles que não sabem do que se trata. Fogomaldito.
Marvolo se pegou dando um sorriso.
Um feitiço de arte das trevas avançado, sem quase nenhum movimento, e não verbal. Uma atitude ainda mais ousada que seu colega de casa mais velho. Uma confiança inabalável. Não havia arrogância, apenas a certeza, Harrison não daria ao dragão mais do que merecia.
Uma derrota.
Não precisavam dançar, nem lutar, como a pedra bruta de Krum.
Precisava mostrar a superioridade de um bruxo a uma criatura tola que o atacara.
E consumir sua ousadia.
"Mais" se pegou torcendo. Pela criatura. Queria que o dragão mostrasse mais, desafiasse o lorde Slytherin de verdade e o fizesse mover-se. Um dragão não podia ser tão insípido. "Faça mais!"
Pessoas se levantavam, desacreditadas ou animadas demais para conter seus instintos tolos. Marvolo manteve-se onde estava, as lentes encantadas oferecendo-lhe toda a visão de que precisava.
Não daria esse gostinho ao pirralho, como aqueles insetos nervosos.
Por isso pessoas eram dominadas, destruídas e mortas, se todos os seres humanos deixassem de ser ridículos, não haveriam aqueles que precisam derrubá-los para seus devidos lugares, como babás de crianças sem cérebro.
O dragão desferiu uma segunda tentativa de labaredas. O fogo dele atingiu com força a barreira de fogo infernal que Potter reerguera na mesma velocidade das lufadas da criatura, mostrando não só sua capacidade mágica, como destreza.
Conseguia controlar as chamas, diminuí-las se necessário para ver seu inimigo escamoso, aumentá-las para derrotá-lo.
As chamas de diferentes fontes se misturaram em uma luta própria e foi quando a de Harrison adquiriu cor. Um verde vibrante, que permitiu a todos assistirem quando e como tudo se emaranhou e dançou em direção aos céus. Queimando o próprio ar a sua volta, uma fogueira serpentina aquecendo todos do vento frio de outono com um calor de um verão completo.
Havia agora um silêncio cativo, os tolos estavam arrebatados e Marvolo assistia às imagens que o feitiço de Fogomaldito de Harrison formava, de diferentes criaturas engolindo o laranja do rabo córneo até que perdesse o fôlego.
Um prodígio, sem dúvida alguma.
Aquela sensação de antes retornou, de que Harrison não parecia ter o lado de Dumbledore nesta história toda, pois se houvesse alguma luz naquele menino, então as chamas do fogomaldito encontraram-na, buscaram em seu coração como a criatura viva mais próxima para alimentá-lo, então consumiram-na por inteiro, a mais tempo do que seus olhos se faziam revelar.
Havia apenas a ausência de calor ali agora, em sua essência, na forma como seus olhos estavam vazios vistos pelas lentes de Marvolo.
Não era um bruxo da luz, era um herdeiro das trevas. Um lorde Slytherin sem nada no olhar além de seus objetivos.
Não era o tipo de aliado que a velha cabra almejava.
E estava longe do tipo de pessoa que o seguia.
Depois de girar como um parafuso, formando novas cores com a combustão, o verde prevaleceu, então reduziu-se até sumir quando a fera parou de cuspir.
A respiração do ser mágico clara para todos os presentes com sua barriga e peito se mexendo regularmente, fumaça saindo pelas narinas, as pupilas tão finas que eram apenas dois riscos.
Consumido.
As presas e a forma defensiva, mas ainda pronta para o ataque com a qual baixou-se em direção ao ninho mostravam isso.
A criatura sabia que tinha perdido.
Mas não iria cair sem lutar, era o que tudo ali indicava.
A plateia insistia em seus barulhos irritantemente altos, enquanto Harrison mantinha a varinha levantada e apenas isso.
Sua expressão vazia impenetrável aguardava seu inimigo tentar mais uma vez.
Se achasse prudente desafiar aquilo que, por enquanto, estava apenas se defendendo.
"Ataque garoto, mostre-nos o que faz quando é sua vez" e Voldemort já tinha um gosto de como eram as jogadas do menino.
Mas queria a refeição completa.
— O que ele acabou de fazer, professor? – perguntou Ludo em choque, enfim voltando a se sentar. Não que Marvolo estivesse olhando muito naquela direção. – O que é o Fogo maldito que acabara de nos contar?
— Fogomaldito, senhoras e senhores, é a infusão de magia sombria em chamas para torná-las maiores e mais quentes. Como aluno consagrado que é, Harrison tem um conhecimento muito bom das artes das trevas ensinadas em sua escola e este feitiço é conhecido por ser capaz de criar as chamas potentes capazes de consumir qualquer coisa. Acabamos de ver o senhor Potter, literalmente, usar o fogo de seu inimigo como barreira, infundindo sua própria magia nas chamas e criando uma versão do feitiço com a força de um dragão! Tudo para consumir a si mesmo ao comando de Harrison!
Durmstrang tornou a torcer, dessa vez em inglês, para que todos ali pudessem ouvir:
— Alteza! Alteza!
Como uma onda crescente, o rugido se tornava mais frequente e evidente. Impossível de se ignorar, mesmo com o estardalhaço de outros alunos.
— Alteza? – perguntou Ludo.
— Este é um apelido que deram ao senhor Potter na Durmstrang, Ludo. Alteza. O presidente do conselho, ou príncipe do Instituto!
"Príncipe das trevas" corrigiu Marvolo por trás de seus binóculos.
Aquele era o lorde da casa Slytherin e aquilo sim, era usar o seu inimigo contra ele mesmo, apesar de que Marvolo nunca teria coragem para testar algo tão arriscado.
Um passo em falso, ou se não conseguisse infundir a quantidade certa de magia, no tempo correto, tudo seria posto a perder.
Confiava em suas habilidades, mas não daria chance ao azar.
O lorde da casa Slytherin, um empata chapéu.
"Então ele realmente não é propenso à autopreservação" suspeitava disso, mas aquilo confirmava em muito.
Se continuar assim, teria o que veio buscar de sua pequena coisinha: informações. Um perfil.
Sentiu algo estranho. Uma tontura no fundo da cabeça, uma vibração, mas a ignorou torcendo um pouco o pescoço.
Assistiu o menino inclinando a própria cabeça no mesmo instante e estreitou os olhos.
Uma ligação estranha que pareceram compartilhar por um instante.
Não conseguiu pensar muito afundo sobre isto, os tolos na plateia voltaram ao que poderia ser um "roer de unhas" pois Rabo Córneo começou a se mover.
Ele girou a calda por um instante, passando a centímetros da parede mágica que o separava da plateia, cortando o ar com um som forte e tirando gritos de vários que estavam naquela direção.
Então arremessou o membro contra Harrison.
Mas, vindo de onde mesmo Marvolo mal havia notado até já invadir a arena, de repente Harrison tinha uma vassoura.
A qual em um salto tomou lugar e alçou no ar desviando bem em tempo do ataque de espinhos. Um movimento tão rápido que deixava para trás apenas a promessa do que lhe teria acontecido, quando o rabo do dragão se prendeu ao chão que rompera em um barulho firme.
Outro movimento de sua vassoura e o menino estava disparando em direção ao ovo de ouro, aproveitando o tempo mais lento que a criatura imensa levava para reagir, principalmente com a cauda.
Barty havia dito a Voldemort que não conseguira dar a dica do quadribol à Harrison. O menino havia insistido que sabia exatamente o que fazer e que não queria ajuda de um professor de Hogwarts que não via motivo para acreditar que devia confiar.
Então ele já tinha pensado nisso?
Potter teve a mesma ideia que Riddle teria para enfrentar aquela prova sem muitos danos e em pouco tempo. Usou o Fogomaldito só até sua vassoura chegar? Um Accio também lançado sem palavras, como se quisesse surpreender alguém. Mas o que?
A criatura não saberia que feitiço estava vindo se o falasse.
Ou era apenas... exibição?
Harrison não parecia ser exibicionista.
A outra opção era apenas que estava querendo mostrar do que era capaz porque podia, mas era para os jurados?
Voldemort, por mais prepotente que fosse, sentiu e sabia que era verdade. Aquilo era para surpreender a ele.
Para que Marvolo não pudesse prever seus movimentos.
"Você não vai me ler tão fácil, nem minha magia" algo assim.
— Muito interessante mesmo – sussurrou, mas claramente não foi ouvido, nem pelos colegas ao lado.
Estaria impressionado se (ele notou) já não estivesse acostumado.
Harrison queria impressioná-lo tanto quanto Voldemort queria ser impressionado? Então que continuasse, ainda faltava mais para realmente atingi-lo.
— Me dê mais – de novo, torcia.
Mas agora não sabia se era para o dragão ou Harrison.
A criatura notou a aproximação do bruxo e usou seu fogo, Harrison desviou com maestria, as chamas acertaram o exato lugar onde estaria se não mudasse tão fácil de rota, como se a vassoura fosse uma extensão de si mesmo.
– Nossa, como ele sabe voar! – berrou Bagman, enquanto a multidão gritava e exclamava. – O senhor está assistindo a isso, Sr. Krum?
— Oh, ele não precisa! – afirmou Lakroff – Este é seu colega de casa e rival de posição a alguns bons anos, senhor Bagman. O mais jovem apanhador do século! Aceito como titular em sua equipe desde o primeiro ano!
Marvolo não se importava com Quadribol, o jogo era uma perda de tempo para si, mas não desmereceria a conquista de seu pestinha aqui.
Era realmente um exímio piloto em sua Firebolt.
E havia seus méritos em alcançar uma posição logo no primeiro ano em uma escola preconceituosa como a Durmstrang. Não que Marvolo pudesse julgar.
Harrison girou pelo ar, então fez um mergulho extremamente vertiginoso, o garoto sabia muito bem o que estava fazendo, se recuperou bem na hora de atingir o chão e repetiu o processo.
Para irritar a criatura.
Ah, mas o dragão tinha sentido seu fogo ser levado de si por aquela mosca, não a subestimaria. Marvolo conhecia a sensação. Entendeu quando o dragão não se afastou do ninho muito mais que o necessário para tentar atingi-lo.
O menino notou a mesma coisa e de forma rápida colocou ambas as pernas do mesmo lado da vassoura, pulando dela ao chão com uma corrida que impedia a inércia de o derrubar. Um movimento tão preciso que não era menos que completamente calculado. A vassoura parando obedientemente bem atrás de seu mestre como que movida por pensamentos.
O dragão, que já tinha recuperado o fôlego, abriu a boca.
Mesmo o som que saiu não foi o bastante para encobrir a fala do bruxo, que levantava sua varinha e em um grito de poder, alto o bastante para ecoar na arena calada em expectativa, entoou:
— Protego Diabolica!
Então, como se estivesse esperando esse tempo todo, um círculo de fogo preto surgiu dos seus pés e se ergueu até alcançar o topo de sua cabeça.
Era como se houvesse gasolina, em um segundo foi acesa, o encantamento de proteção das trevas mais forte de que se tinha registro, fora conjurado.
Quando as chamas vermelhas do dragão o alcançaram, o que era negro tornou-se verde mais uma vez e sumiu.
Desta vez não houve dança.
Não havia magia de bruxo competindo com a de dragão.
Era um massacre, uma derrota completa, pois em contato com as chamas calmas do protego diabolica, as que deviam atingir quinze metros num instante apenas não existiam mais. Tudo que a força de um dragão adulto podia fazer era tremer com as inabaladas de Harrison, perfeitamente executando a proteção de seu mestre.
A fera parou novamente, assistindo seu inimigo completamente de pé, as chamas de Harrison exatamente onde estavam desde o começo, sua varinha junto ao corpo, e o rosto firme encarando seu desafio. Os ovos.
Apenas eles.
Não o dragão que os protegia.
Não havia medo, Marvolo não enxergava algo parecido naquele menino obtuso. A morte, o fogo, nada existia tamanha a certeza que detinha em suas próprias habilidades, que o protego conquistaria seu objetivo e mantê-lo-ia longe de qualquer ser que o quisesse fazer mal.
Ele só tinha que focar-se agora no que o faria vencer a prova e tirar aquela coisa grande que o atrapalhava do caminho.
— Professor? O que estamos vendo é tão irreal quanto me sinto inclinado a pensar? – perguntava Ludo, enquanto o Dragão levantava imponente sua cabeça cheia de chifres, encarando Harrison de volta.
Competindo por tamanho como um animal. Vendo Harrison como um maldito igual.
Dois predadores decidindo qual deles era maior e mais forte.
— O Protego Diabolica – Grindelwald se deu ao trabalho de responder, como sempre o único que parecia saber o que estava fazendo. – É o que vemos agora. Um encantamento de proteção. Considerado por muitos o mais forte das trevas.
— Não sabia que magia sombria tinha feitiços de proteção – comentou, como um idiota.
Se já não tivesse decidido matar o homem antes, estas seriam as palavras que confirmariam a sua lápide próxima.
Ignorante insuportável.
— Temos vários. Mas este, cria o círculo de fogo negro que estamos vendo e – foi interrompido.
— Mas as chamas estão verdes agora. O que isso quer dizer, professor?
— Acredita-se que apenas os bruxos mais poderosos são capazes disso, mas o feitiço permite ao feiticeiro mudar até mesmo sua forma. O único registro que temos disso é de outros tempos, quando – a frase morreu no ar, houve uma pausa de expectativa.
Harrisson Potter levantou a varinha.
As chamas de Harrison ergueram-se, moveram-se, giraram acima de sua cabeça e formaram diante dos olhos de uma plateia, primeiro uma enorme de cabeça criatura cheia de presas.
O dragão reagiu aquela movimentação, cuspindo contra a cabeça, mas que apenas "engoliu" as chamas alheias para si em um rugido indescritível.
O ruído de fogo era crepitante. O calor era menor agora e Marvolo sabia porquê. Protego Diabolica funcionava diferente.
A menos que estivesse diante das chamas para permitir-lhes queimá-lo até as cinzas, se suas intenções fossem contra o mestre que as levanta, elas não eram senão belas.
Não machucavam. Não tinham calor.
Ver as chamas adquirirem a cor de seu mestre era intenso.
Vê-las criar forma?
Era perfeição.
E destruição.
"Aquele com o poder de vencer o lorde das trevas se aproxima"...
A destruição de Voldemort.
Diante de seus olhos, como se crescesse alimentado pela chama do Rabo Córneo, o feitiço de Harrison foi ganhando corpo, expandindo seu cumprimento, e do círculo de fogo disforme que existiu a sua volta, agora erguia-se um corpo esguio enorme, rivalizando com o tamanho do Dragão.
Diante de todos da arena, havia uma enorme cobra de fogo verde protegendo Harry Potter.
Haviam arfares chocados por toda a parte, urros de comemoração dos alunos das trevas, cientes do sucesso que era aquela demonstração de poder.
Lakroff Mitrica terminava de explicar, a voz mais grave, curvado pelo espetáculo ou lendo o ambiente, mantendo-o tenso em suas palavras:
— O único registro que temos de uma mudança de forma tão clara é de quando um feiticeiro foi capaz de engolir um mausoléu inteiro e então uma área de metros após criar um dragão azul capaz de voar nos ares. O que vemos aqui é o segundo registro confirmado deste feito histórico.
— Quem foi o primeiro feiticeiro?
A pergunta de Ludo ecoava pela multidão, seu queixo caído enquanto assistia maravilhado, mas devidamente assustado, a enorme serpente.
Antes da resposta ser dita, a mesma na ponta da língua de Marvolo, a mesma que o fazia querer Lakroff Mitrica para si, outra movimentação aconteceu.
O dragão se levantou e deu um passo para o lado, uma posição de ataque, a cauda levantada, puxou a cabeça para baixo então gritou para os seus.
Um rugido territorial.
Em sua força mágica, o feitiço de Harrison emitiu um som vindo direto do inferno para os ouvintes assustados daquela tarde, algo que superava o Rabo Córneo em um grito gutural. A cobra...
Não.
O basilisco.
Porque era isso que estava diante das pessoas. Não uma simples serpente, mas o rei delas.
Um basilisco, para o lorde Slytherin.
Encarou seu inimigo de cima, e o dragão claramente recuou.
Então já estava feito.
Em segundos, Harrison pulou na vassoura tão rápido quanto era capaz, seu basilisco atacou o dragão que tentou desviar do ataque, imaginando, os instintos gritando que aquele era um predador a se temer, ele não viu o bruxo.
O verdadeiro predador no ar.
Quando a criatura abriu as asas e se empinou para uma última tentativa de superar o inimigo serpentino que tinha toda a atenção de seus olhos, foi o momento da ação.
— Há um ditado na Durmstrang de que apenas um dragão pode enfrentar outro dragão – comentou Grindelwald, o único que ainda tinha palavras na mesa de jurados.
E em boa parte da arena.
Enquanto o basilisco gritava, o dragão rugia, o evocador do monstro de Salazar Slytherin estava a toda velocidade em direção aos ovos.
Harrison soltou as mãos da Firebolt, agarrou o ovo de ouro e com um grande arranco, tornou a subir, parando no ar sobre as arquibancadas.
O pesado ovo bem preso sob o braço.
Um breve momento então o barulho emitido pela multidão foi ensurdecedor.
Tanto estardalhaço quanto os torcedores em uma copa mundial de Quadribol, quando Marvolo julgaria que acontecera na final daquele ano. O que era impressionante, afinal havia uma enorme diferença de espectadores entre os dois eventos, mas a emoção se espelhava. Pessoas de pé, alguns se abraçando e outros até soltando faíscas para cima com suas varinhas em uma verdadeira festa, torcedores.
Ovelhas para um rei que se erguia diante deles.
– Olhem só para isso! – berrava Ludo Bagman, seus cabelos arrepiados pela forma que os bagunçou em sua incredulidade. – Por favor olhem para isso! Nosso campeão mais jovem foi o mais rápido a apanhar o ovo! Isto vai diminuir a voz de quem achava que o Sr. Potter estava em desvantagem!
— Isso vai calar essas vozes, Ludo! – corrigiu Lakroff que aplaudia junto com os demais, mas de forma bem mais contida e educada, como se disse a um aluno: "bom trabalho".
"Por mil infernos trouxas..." praguejou em meio aquele som tão louco que faria um homem se sentir debaixo da água.
Mas talvez estivesse se sentindo assim sozinho.
Marvolo encarava a criança voando acima de sua cabeça com uma expectativa ansiosa, seu coração, que mal sentia a anos atrás bater, movia-se tanto quanto a multidão.
Ele ouvira por anos sobre a batalha entre Gellert Grindelwald e Albus Dumbledore. Esteve presente em diversos bares onde as pessoas declaravam com orgulho terem assistido a maior batalha de suas vidas.
Harrison tornara um Protego Diabólica em uma forma, algo feito antes apenas pelo próprio Gellert Grindelwald.
A porcaria do pai de seu vice diretor, que o aplaudia como se tivesse realizado bem uma tarefa de escola.
Isso provava duas coisas e a primeira é que eles tinham mais contato do que Marvolo desejava.
Grindelwald estava ensinando pessoalmente a Harrison alguns truques. O garoto já estava se aproximando dos segredos e dos poderes da família do antigo lorde das trevas. Antes de Voldemort ter a chance de reivindicar seu herdeiro apenas para si.
Tão importante quanto, ele invocara com essa capacidade dada por seu professor, não um dragão como Gellert, mas um basilisco exatamente igual ao que vira e usara na câmara secreta.
Tinha ressuscitado com a ajuda da maldita coisa, podia reconhecê-lo, mas devia estar morto depois dos dois golpes dados por Neville Longbottom, mesmo assim, mesmo morto... não seria majestoso?
O maldito havia estado em Hogwarts em pouco menos que um mês e sabia. A menos que houvessem registros em algum cofre que Marvolo não tivera acesso, o que duvidava, era quase certo que aquele pirralho tivesse achado a câmara secreta.
Um mês.
Marvolo levou anos.
Mesmo que não soubesse a princípio que tinha que procurar, que tinha um nome e um legado no castelo, ainda precisou de tempo depois de que começou sua busca para provar de onde vinha seu sangue.
Aquele com o poder de vencê-lo o tinha feito em um sangrento mês...
A fúria que isso lhe causou foi quase tão parecida com o que teve no banco dos goblins. Ele sentiu-se tremer da cabeça aos pés e precisou inspirar várias vezes para manter a magia contida, suas mãos ainda sacudiam em punhos.
E havia um sorriso insano em seu rosto.
É claro que seria assim.
Marvolo era o melhor.
O maior em tudo que se dispôs a fazer e seria o maior bruxo da história. Sua batalha contra um inimigo devia superar aquela que todos diziam ser a mais inigualável.
Ele e Potter seriam maiores do que aqueles dois velhos.
Mas, desta vez, o lorde das trevas venceria. Disso tinha certeza.
Enquanto regulava a respiração, ignorou os olhares assustados de Theomore e Lucius para seu mestre, eles nunca entenderiam. Não entendiam o suficiente a grandeza para algo além de reverenciá-la.
Não viam o potencial de superar o mundo em cada maldita coisa que precisasse e ele faria como vinha sendo desde que era criança em um maldito orfanato onde era desprezado. Continuaria lutando, ficando mais forte e conquistando.
Era tudo o que sabia fazer e fazia bem.
As chamas e o basilisco sumiram, os guardadores de dragões se adiantaram para dominar o bicho em fúria que Harrison deixou enquanto sobrevoava as arquibancadas, a algazarra da multidão batucando os tímpanos de Voldemort ao mesmo tempo que seu cérebro abafava o som com tudo que se passava em sua mente. Os planos, as promessas e os desafios novos para sua jornada implacável.
Olhou novamente para Dumbledore, apenas para verificar, mas o velho aplaudia, enquanto parecia ter uma expressão de nada além de chateação.
Ele não sabia a aparência do basilisco. Não sabia o que aquela criança era.
Ninguém ali sabia...
Exceto Marvolo.
E, talvez, Neville Longbottom.
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"Durmstrang tem uma águia de duas cabeças sob o crânio de um servo morto como seu brasão.
Estou começando a entender porque Hogwarts, por sua vez, tem um dragão preso ao seu lema mesmo que não apareça em seu brasão, acho que é para que eu deteste esse lugar tanto quanto a criatura em si".
Diário de Harrison James Mitrica Black Peverell-Potter, o dia da primeira tarefa do torneio tribruxo, em letras corridas e quase inelegíveis. Ele tremia muito ao escrever.
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Opinião de Harrison sobre Severo Snape à parte, seguir seu pedido de visitar Poppy Pomfrey, a enfermeira de Hogwarts, teve seus frutos.
A começar agora, no momento logo após a primeira tarefa quando a professora Minerva McGonagall junto de Jaminke Drist o recebera de forma apressada na entrada da arena.
Seu professor de Magia Marcial com um largo sorriso satisfeito:
— Aquele dragão nunca vai esquecer de não rugir para dragões mais fortes, Potter. Não importa o tamanho – e lhe deu um tapa afetuoso nas costas que Harry respondeu com um olhar estreito.
— Tenho a impressão de que o senhor acabou de zombar da minha altura.
— Só a impressão, alteza?
— Certo então, Potter, para a barraca de primeiros socorros, por favor... – disse a professora de Hogwarts que, para surpresa de Hazz, parecia muito feliz com sua vitória.
Como se estivesse genuinamente aliviada que havia conseguido passar com aquela provação. Só não podia confirmar a teoria porque estava com os óculos bloqueadores de visão.
Não precisava da alma de centenas de bruxos distraindo seus olhos e mente do Dragão.
Mesmo assim, como tendia a confiar em seus instintos, a felicidade da professora de outra escola por seu sucesso rendeu mais pontos de estima. Era uma ótima professora, com didática exemplar e Sirius gostava dela. Entendia cada dia mais o porquê.
Harry foi guiado pelos professores para fora do cercado e viu Madame Pomfrey parada à entrada de uma segunda barraca com ar preocupado.
Assim que o viu ela fez uma cara feliz e gritou:
– Dragões! – estava com a voz desgostosa e já foi puxando o garoto para dentro.
O lugar era dividido em cubículos por lona e Harrison viu a silhueta de Viktor através do tecido à esquerda e ficou aliviado que seu amigo não parecesse machucado; pelo menos era o que indicava já que estava lutando com seu enfermeiro, que tentava segurá-lo com certa dificuldade.
— Eu tenho que ver se ele está bem! – reclamava Viktor e Harry riu disso um pouco.
A risada foi tão sem emoção que ignorou logo que saíra.
O enfermeiro tentava ganhar do búlgaro em argumentos, já que em força física estava levando a pior:
— Você pode se encontrar com Potter assim que terminar de ser examinado, então mantenha-se quieto!
Pomfrey olhou, junto de Hazz para a cena encoberta pelo tecido, depois para o menino e sorriu:
— Você realmente tem ótimas pessoas cuidando de você.
Hazz apenas acenou e deixou que a mulher o examinasse. Notou, com muita satisfação, como ela se preocupara em colocar vários feitiços de privacidade que impediriam qualquer um de entrar naquele cubículo ou olhar para o que estavam fazendo.
Apenas quando estava satisfeita com seu próprio trabalho, se virou para o menino com um sorriso:
— Posso ver se tem alguma uma cicatriz nova entre essas velharias?
O humor em uma situação tão delicada para a maioria, o fato da mulher ser atenciosa aos detalhes ao ponto de notar que Harrison e Lakroff usavam as piadas para tornar aquilo menos doloroso, os momentos onde tinham de lidar com as cicatrizes, isso sinceramente acariciou um canto de sua mente.
Ele começou a retirar a parte de cima de suas vestes esportivas e a mulher cruzou os braços esperando, sem ter nenhum problema ou desconforto em sua expressão ao olhar para a pele retorcida, como muitos tinham:
— Às vezes odeio meu trabalho, sabia? No ano passado foram dementadores, este ano são dragões, que é mais que vão trazer para a escola?!
— Ainda temos duas tarefas do torneio.
— Nem me lembre disso! – exclamou com as mãos para o alto, tirando um sorriso sincero do menino.
Ao menos não eram os únicos sofrendo, os campeões.
Sentou-se em uma das macas e aguardou passar a varinha por seu corpo, avaliativa:
— Você teve muita sorte... Ou habilidade, não sei. Não entendo o bastante de artes das trevas, mas encarar a coisa de frente? Parece absurdo para mim.
— Foi o melhor que consegui.
— Usar a vassoura desde o começo e desviar não pareceu opção? Talvez o dragão tivesse ido atrás e – ela não terminou.
Hazz admitia:
— Me deu pânico.
— Como é? – ela piscou.
— Não consegui sair do chão no começo, quando vi a coisa, e tremi muito na primeira tentativa com a vassoura e fiquei com mais medo ainda de não conseguir voar direito. Me deu pânico – admitiu. – E desequilíbrio.
— Desequilíbrio? – perguntou confusa.
Eles estiveram no mesmo lugar? Porque não pareceu nada como o menino disse. Mas havia tanta naturalidade e sinceridade misturadas as palavras que diziam sobre seu medo congelante, que Poppy apenas o encarou por um tempo, diretamente para os olhos do menino.
— Aquela foi sua tentativa de voo com tremedeiras e desequilíbrio?
— Sim. Achei que ia escorregar. Na verdade acho que se não tivesse luvas teria escorregado. Eu me vi escorregando, minhas mãos suaram muito.
Não havia qualquer emoção nas palavras.
Eram apenas fatos.
Pomfrey se permitiu um suspiro e se segurou para não abraçar o menino, que de repente era apenas isso. Um menino. Não aquele bruxo que vira competindo:
— Garoto, você é muito forte.
Alguém com tantas cicatrizes de guerra, que por pior que fosse o comentário de Ludo, era senão outro o título que recebera por merecer: "o menino que sobreviveu". Aquele que lutava, guerreava, se machucava, quebrava, mas segurava os cacos e seguia tentando.
Seguia sobrevivendo.
Harrison não respondeu, o olhar vago para o chão, as imagens do dragão e de suas ações passando pela cabeça como se a adrenalina não permitisse fugir por completo daquele momento.
Ao menos, estava assim na frente de Poppy. Com ela podia se dar esse luxo, Lakroff a havia aprovado quando foram, na segunda-feira do dia anterior à ala hospitalar.
"O que uma simples enfermeira de Hogwarts pode oferecer?" o mais velho perguntava bem emburrado para alguém de sua idade. "Eu entendo os gêmeos para fazerem as poções e tudo mais. Seus servos precisam aumentar..."
"Não os chame de servos" Harrison reclamou pela milionésima vez. Provavelmente mais.
"Mas porque contar tudo a uma rata do Dumbledore, com todo o respeito a senhora e sua profissão, mas que risco todo por um pedido de um morcego que igualmente não parece ser de confiança?"
"Alguma visão sua diz para não fazer isso?"
"Não, mas também não há dizendo para fazer"
"Vou me arriscar, então".
Encontrá-la a princípio já aumentou a careta de Lakroff, por mais que estivesse ocultada pelo velho sorriso charmoso de cumprimentos.
Ela explicou que já tinha sido avisada por Severo que poderia receber uma visita e que deveria cumprir com seu juramento, mesmo que nem precisasse pedir. Ser o mais sigilosa possível e dar sua palavra, de especialista em saúde, de que jamais deixaria nada sair daquela sala ou seus próprios ouvidos.
Lakroff não foi questionado em estar ali, como diretor de sua casa e responsável por ele na escola, por isso já iniciou os pormenores.
Havia um contrato, como sempre. Não dizia nada além de garantir o cumprimento do juramento médico, Pomfrey assinou sem problemas, então veio surpresa inicial, a mesma de sempre. Choque, horror, indignação... Houveram muitas explicações, histórias tristes, nada do que Harrison não estivesse acostumado, mas o que surpreendeu ambos os Mitrica foi a inteligência de Pomfrey sobre aspectos da medicina trouxa.
Suas observações foram bem perspicazes sobre as receitas de poções curativas e cicatrizantes de Lakroff.
"Já tentou usar babosa, senhor Mitrica? A planta brasileira? É bem usada contra queimaduras por trouxas e bruxos adeptos a herbologia curativa".
O homem pareceu indignado de que nunca havia pensado em usar algo que estava tão acessível, considerando suas idas ao Brasil. Os dois imediatamente começaram a debater como a planta poderia reagir aos demais compostos da pomada e em determinado ponto, Harrison simplesmente sabia que a enfermeira havia sido aprovada no julgamento de seu avô.
Isso se confirmou, mesmo assim, quando Lakroff sorriu diferente e se aproximou da mulher. Daquele seu jeito galante, o sorriso matador no rosto:
"Arrependo-me, senhorita Pomfrey" e nisto, a mulher já estava claramente surpresa. "De ter julgado tão erroneamente e não pensado que havia tal diamante escondido em Hogwarts" o homem, claro, finalizou pedindo a mão da mulher, que o deixou tomá-la aos lábios de forma cavalheiresca.
Harry ignorou todas as dores estranhas em sua cicatriz e fingiu demência completa enquanto assistia Poppy sorrir e dispensar educadamente Lakroff com um simples:
"Me lisonjeia, milorde, mas cabe aquele que se quer considerar um profissional estar sempre aprendendo sua arte. É o mínimo. Entende-me, imagino?"
"É claro, milady. Agora, se possível, poderíamos debater mais algumas questões? Adoraria saber sua opinião em uma ou duas teorias mais recentes".
"Seria um prazer".
Tornaram-se amigos. Ao menos foi o que as horas tomando chá indicaram, onde Harry só permaneceu porque pensou que sua cicatriz ficaria mais irritante se os deixasse sozinhos.
A voz da mulher o fez retornar da memória, seu sorriso sempre muito acolhedor:
— Tudo certo, menino corajoso. Nada te pegou. Só sua roupa – e mostrou à Harry suas botas.
Estavam chamuscadas.
— Isso me pegou?! – espantou-se.
— Não, acho que foram as cinzas – e para provar seu ponto bateu uma na outra, fazendo voar uma fumaça preta que ambos abanaram para longe. – Viu? Você também não tem nenhuma queimadura nova no pé, cada cicatriz é a mesma que vi na última vez, tenho certeza.
— O que faço agora, então?
— Vista-se. Quer deixar Viktor invadir ou peço para ele te dar um minuto?
— Um minuto, por favor – e considerando suas opções, corrigiu. – Talvez cinco.
Poppy acenou:
— Vou lhe dar dez, agora se sente quieto um minuto, vá receber sua nota, então volte e evite quantos amigos quiser.
— Obrigada – ele estava realmente muito grato.
A mulher, de toda forma, não se dignou a responder. Desfez os feitiços de antes e saiu para entrar no cubículo a esquerda, onde resmungou:
— Quieto, senhor Krum, ou vou injetar uma dose de poção do morto vivo em você e só verá o senhor Potter pela manhã de amanhã!
Silêncio. Mais alguns segundos depois e sua voz perguntava em outra direção:
— Como é que você está se sentindo agora, Diggory?
É, aquela mulher era boa.
Harry não sabia bem o que queria. Talvez ver as notas logo e se livrar do seu coração saltitante?
Como o seu pai o tinha chamado a um tempo?
Vara de tremeliques?
Ou fora o mapa de marotos todo? Sabia que tinham indicado chá de maracujá para os nervos.
Mas se tentasse tomar chá agora derrubaria em si mesmo.
Quando julgou que havia dado o equivalente a um minuto, assim como foi orientado (provavelmente foram vinte segundos, mas ninguém lhe deu um relógio e ele esqueceu que podia apenas usar magia), levantou-se e foi para trás da tenda, procurando por onde poderia ver suas notas, mas antes que chegasse a sair completamente duas pessoas se aproximaram em disparada.
E uma delas o abraçou.
Quando o cheiro de maçãs verdes entupiu seus sentidos, soube que deveria ter corado, por mais anestesiado que estivesse, mas retribuiu o gesto.
Luna estava atrás e sorria daquela forma sonhadora e brilhante:
— Você foi excepcional, alteza. Como sempre.
— Obrigada, minha lua.
— Você foi insano! – acusou Draco, sem soltá-lo.
— No bom ou mal sentido?
— Nos dois.
Houve um breve momento de silêncio, mas bem profundo onde ambos não disseram nada, Draco apenas sentiu como Harry ainda tremia.
— Obrigada.
— Pelo que? – perguntou Malfoy.
— Me ajudar. Me preparar bem antes, não sei como seria sem sua ajuda.
Fez questão de manter o abraço com mais empenho, enterrando sua cabeça entre o ombro do mais alto, sentindo mais daqueles perfumes caros que lhe confundiam os sentidos, mas eram tão Draco Malfoy que na mesma proporção só faziam sentido.
E maçãs verdes.
Essas não eram confusas.
— Pode fazer o mesmo agradecimento ao Weasley. Admito, mas de mau gosto, que fique claro – murmurou irritado.
Afinal foi pedir um favor aquele idiota do Longbottom para conseguir a informação. Aos Weasley indiretamente.
Weasleys de todas as pessoas!
Não sabia nem dizer se era melhor ou pior do que se tivesse pedido a um Nott. Sem dúvidas mais degradante, mas Theodore sabia tornar um pedido de alguém algo suficientemente humilhante para rivalizar.
— Vou evitar te causar aborrecimento igual no futuro – o mais baixo respondeu, como se pudesse ler os pensamentos de Draco.
E a este ponto?
Poderia até achar que sim.
Se não fossem os piores que lhe corriam ultimamente e que, sem dúvidas, deixariam Harrison tão ou mais constrangido que Draco por mantê-los.
— Assim espero – pediu.
Luna bateu palmas atrás dos meninos, fazendo-os lembrar do mundo a volta:
— Temos que ir ver sua nota.
Só então se separaram, um tanto corados e evitando o olhar um do outro.
— Meninos – a loira comentou ao vento, indo pegar a mão de cada um e levá-los.
Levados pela mais jovem, seguiram caminho e logo Harry se viu cercado por outros amigos de sua Corte. Natasha, Anastasia, Yorlov, Elizaveta, Ivan e Axek, todos falando muito rápido e uns por cima dos outros, fazendo com que Hazz apenas conseguisse coletar algumas informações aqui e ali:
— Você foi o melhor! – disse Elizaveta. – Ninguém foi páreo para você, sua alteza!
Ivan aparentemente achou que narrar o evento com mais detalhes do que Ludo era mais interessante, então começou contando como Cedrico tentou uma transfiguração em uma pedra para distrair o Dragão, queimando-o depois de pegar o ovo porque o dragão mudara de ideia sobre o que queria perseguir.
— Cedrico escapou por um triz – contou. – Mais um pouquinho e tinha virado churrasco à la carte.
Harry conseguiu não esboçar reação.
Yorlov também parecia bem empolgado:
— Delacour tentou deixar o dragão em transe, o verde galês ficou sonolento, mas, acredite, soltou um ronco que cuspiu um grande jorro das suas chamas. A saia dela pegou fogo e lhe tiraram pontos por isso.
Harry ouvia tudo de forma meio distante:
— Onde estão Lara, Heinz e Rusev?
— Com Viktor – nem soube ao certo qual das meninas respondera, só sabia que foi uma de suas amigas.
— Krum, como previsto, provavelmente foi o melhor depois de você, alteza – garantiu Natasha. – Atacou o dragão com um feitiço bem no olho depois de ter acabado com a criatura.
Ivan saltou com o braço no ar:
— O grão-duque, senhores e senhores! Um dragão não é nada para o braço direito do rei!
Luna riu:
— Achei que eu fosse o braço direito. Ou a mão do rei é o esquerdo? Ou o rei tem dois braços direitos e nenhum esquerdo? Deve ser difícil não ter um braço esquerdo...
Ao menos todos respeitaram-na para deixar que fizesse suas perguntas antes de respondê-la com algo que Harrison nem deu atenção. Sinceramente não se importava com quem era esquerdo ou direito. Agora não.
— Viktor está bem, não é?
— Perfeito – garantiu Axek. – Perdeu pontos por culpa do dragão.
— Como assim?
— O bicho estúpido saiu andando agoniado e amassou metade dos ovos de verdade e a ninhada não devia ter sido danificado.
— Isso não foi passado para nós, tirar pontos de uma regra que não existia é injusto! – reclamou.
Mas depois percebeu que não ouviu nada do que tinham lhe dito na primeira barraca antes de começarem a enfrentar os bichos, então quem sabe tinha sido avisado sim.
Que droga, ele prejudicou a ninhada na sua vez?
Já estava até esquecendo o que fizera.
Só lembrava que tinha muito fogo.
Os amigos, entretanto, não pareceram notar qualquer gafe e continuavam na conversa animada, Hazz sempre em silêncio, o que não era incomum, então não lhes motivou a parar.
Em algum ponto Draco os deixou, foi algo que conseguiu notar na situação inebriante onde uma arena toda fazia barulho.
"Alteza! Alteza!" conseguia distinguir ao fundo.
Agora que o Rabo-Córneo fora levado, Harry pôde notar uma mesa com cinco juízes e seu tio-avô sentados, em assentos altos cobertos de tecido dourado.
Luna se aproximou por trás e o abraçou, falando em seu ouvido para que fosse escutada mesmo com o barulho da Durmstrang ou dos fotógrafos chamando seu nome:
– Cada um dá notas de um à dez. Viktor tirou quarenta.
– Vejamos então como os juízes considerarão o desempenho do senhor Potter! – anunciou Bagman e, por alguns instantes, houve alguma espécie de silêncio.
O primeiro juiz era Madame Maxime, que ergueu a varinha no ar e dela uma fita prateada desenhou um grande 9 no ar.
Ivan foi claramente ficou indignado com a nota:
– Você nem foi pego, ela tirou ponto porquê? Maldita alpinista de nuvem!
O Sr. Crouch foi o seguinte e lançou outro nove, que foi igualmente repelido por seus amigos.
– Estão te julgando pelo quê? Usar artes das trevas?
Dumbledore pareceu hesitante, mas a nota que apareceu acima dele foi dez. Harry encarou aquilo como uma afronta maior do que se ele tivesse dado zero.
Os dois sabiam que Dumbledore não gostava de si. Ainda mais depois da última.
Albus tinha enganado Harrison em um momento tenso para atraí-lo à sua sala e "conversarem".
Claro que não tinha acabado bem.
A enorme rachadura no chão da sala fora sua prova.
Seus amigos comemoravam a sua volta o fazendo ignorar isso por hora. Ludo Bagman ergueu um 10 no ar gerando mais alvoroço.
Então seria Karkaroff.
Hazz fechou os olhos, pronto para um três daquele idiota, ou menos se tivesse a coragem, não seria surpresa Igor não era alguém justo e odiava abertamente Harrison.
Perdeu o momento que Lakroff estralou seu pescoço próximo o bastante para o diretor ver e se adiantar para levantar um poderoso 10.
Hazz olhou para os amigos enquanto comemoravam. Tirara o primeiro lugar.
Luna o abraçou e, novamente, usou a proximidade para falar:
– Volte para a enfermaria, eu os distraio.
Sorriu em agradecimento e sem dizer mais nada, correu de volta para onde Poppy o deixou.
Sentou-se na maca e ficou um tempo parado, ouvindo alguns murmúrios aqui e ali dos outros competidores e, sinceramente? Podiam estar gritando tanto quanto as pessoas lá fora que não estaria conseguindo decifrar uma vírgula.
Olhou para as próprias mãos e notou que sua visão estava turva. Fechou os olhos, contou até três e abriu.
Estava pior.
Sentia uma tontura também e não entendia o que estava acontecendo.
Virou de costas e estava prestes a chamar Pomfrey para averiguá-lo novamente, quando sentiu uma mão tocar-lhe a sua.
Quando olhou para o dono da mão a sua frente, seus olhos borrados encontraram um borrão inconfundível.
Neville.
Os dois garotos ficaram em silêncio por um tempo. O loiro parecia estar focado em algo no rosto de Harry, que o menino enfim entendeu quando foi puxado para um abraço muito apertado.
Eram lágrimas.
Ele estava com a visão turva porque estava chorando.
Saber disso pareceu enfim fazê-lo capaz de soltar um soluço estrangulado.
– Hazz, pelo amor de tudo que existe no mundo, por favor, por favor, nunca mais chegue perto de fogo de novo, ou eu vou morrer. Posso jurar que morro.
Harrison sentiu como os batimentos cardíacos de Neville também estavam acelerados. Fazia um barulho comparado à força que o amigo o abraçava naquele momento.
Então ele chorou.
Nos braços de Neville chorou tudo o que tinha para chorar, porque tinha acabado de enfrentar seu maior medo e não tinha superado, de forma alguma. Parecia até pior. Estava apavorado e sentia como se o calor das chamas não desgrudasse de sua pele. Seu corpo formigando como se estivesse queimando de novo e tudo continuava vermelho por trás das suas pálpebras.
Vermelho, laranja, amarelo e verde.
Mas Neville notou. Quando todos os outros comemoraram seu sucesso, Neville se assombrava com ele, pois sabia a troco de que o tinha conquistado.
Percebeu em sua expressão vazia o desespero do amigo. Assistiu com o coração na boca e segurando as próprias lágrimas como se fosse a morte momentânea de seu melhor amigo diante de si. Aquilo assombraria os pesadelos de Neville e não duvidava que pudesse ser seu novo bicho papão.
Mas os dois estavam juntos de novo.
Abraçados para lembrar que nada tinha acontecido.
Para proteger Harry de qualquer fogo ou cobra que fosse.
Lembrar Neville que seu amigo era forte, na mesma proporção que fraco como qualquer humano e que precisavam um do outro na mesma intensidade.
Harrison chorou em seus ombros até não ver mais nada, não sentir mais aquele pânico, nem nada além do seu cheiro tão incomum de castanhas, terra e capim cidreira (hoje). Afinal Neville estava sempre brincando e explorando novas plantas com sua paixão por herbologia. Assim como sua alma era ouro mutável, seu cheiro acompanhava sua última descoberta e paixão.
Mutável.
Mas era perfeito assim.
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Lakroff, como de costume envolvido o máximo que podia, fez parte da comitiva que ficou para organizar as coisas após o evento. Junto de alguns professores e seguindo os comandos dos membros do ministério e especialistas responsáveis pelo torneio, isso lhe permitiu fugir um pouco do bate-boca desnecessário com os jornalistas.
Haviam muitos, para seu descontentamento, mas nesta tinha que admitir que Voldemort levara a melhor, conseguiu tornar o evento completamente assistido por aquelas sanguessugas.
O que ia ganhar com isso? Ainda estava nebuloso.
Nada que não pudesse lidar, isto sabia.
O arrogante, se Tom estivesse certo, havia retornado com menos de dois por cento do que um homem podia ser e não tinha pretensão de mudar o fato. Sua alma completamente destruída, tinha danos a sua sanidade que eram quase irreparáveis. Não haviam grandes sinais para pensar que as coisas estavam muito diferentes dessa previsão antiga e podia lidar com um homem louco por poder.
E pela vida.
Lakroff fechou os olhos e tremeu, sua mente traiçoeira o levando para aquele momento em Hogsmead, com Tom em seus braços.
"Eu não quero morrer".
O Mitrica apertou suas mãos com força, sentindo-se mais indisposto e irritado.
Nada ainda.
Não teve uma visão que pudesse ajudá-lo.
Por mais que tivesse passado um bom tempo sem os bloqueadores de visões. Teria que tentar outro ritual e torcer para que conseguisse ver algo que não envolvesse um massacre.
Pois aí já era tarde demais para se trabalhar.
Tom aparentemente estava começando a se ver apenas como objeto, uma horcrux que servia a um propósito de um mestre e tinha perdido o seu, por isso só devia ser descartada. Odiava que ele fizesse isso porque sabia que não tinha como alguém como Tom Riddle acreditar naquelas palavras. Ele as dizia para tentar se convencer de que não havia outra solução.
Lakroff era obtuso demais para apenas aceitar.
Por algum motivo, Riddle sabia e temia essa característica nesse momento. A insistência de uma mariposa. Temia a esperança da luz, mas um Grindelwald nunca conseguia olhar mais para o medo de queimar do que para a possibilidade de agarrar aquela luzinha.
Ele só continuaria tentando, a horcrux do seu lado nisso ou não. Riddle podia desistir quando quisesse, mas Lakroff não podia.
Por diferentes e complicados motivos.
Por Harrison, que precisava do apoio da alma que sempre esteve consigo, tanto que Lakroff simplesmente sabia, assim como um Grindelwald sempre sabe, que foi graças a ela que o menino conseguiu se manter de pé na primeira tarefa, saber que havia o apoio e a magia da horcrux para salvá-lo no pior dos casos, se ele por algum motivo errasse, isso o impedia de deixar que o pânico o levasse mais do que a racionalidade, pois dava uma certeza.
Não podia simplesmente tirar aquilo do neto.
E por si mesmo também, não podia simplesmente vê-lo como algo a ser descartado.
Se tivesse de matar Tom, sabia que nunca se sentiria bem com essa decisão, por mais que a faria. Se não houvesse outra escolha, estava acostumado a odiar suas decisões de vida e pagar por elas. O importante era manter seu neto vivo e o melhor que podia.
A vida tinha seus próprios jeitos de nos derrubar.
– Lorde Mitrica? – chamou um dos treinadores de dragões, Charles Weasley, ao qual Lakroff conseguira ter uma boa conversa há pouco tempo, quando os ajudou a agarrar uma corrente de um dragão especialmente escorregadio.
– Sim, Weasley? Posso ajudar em algo?
– O senhor está girando uma corda por um tempo, mesmo que já tenha terminado de juntá-la. Gostaria de parar por hoje? Talvez devesse descansar.
Lakroff não teve como não rir de sua própria estupidez. Dê um trabalho repetitivo a um distraído nato como ele e espere, claro que ele fará algo estranho e meio absurdo.
Ao menos Charlie era uma pessoa bem humorada, uma vez que se juntou ao lorde para rir de sua apresentação de cabeça cheia. Gostava de humor em uma pessoa:
– Vocês Weasley são simpáticos de família ou é uma característica sua e de George?
– Eu diria que alguns são mais que outros, mas agradeço o elogio. O senhor também é divertido de se conversar, mas agora terei de agir como minha mãe e insistir que vá fazer outra coisa. Por que não se junta ao diretor de sua escola?
– Com aquele idiota? Prefiro voltar a amarrar corda sem fim. Podemos achar outra?
– Vá passear, tome um ar, se quiser mesmo assim, prometo que te dou outras dez cordas – e lhe deu tapinhas nas costas.
Tapas fortes e firmes de alguém que estava acostumado a lidar com dragões mais do que pessoas. Lakroff era um bruxo forte, fazia exercícios e tinha um porte naturalmente maior e rijo que a maioria dos bruxos "nobres", apenas por isso os tapinhas permaneceram como leves. Do contrário, sabia que uma pessoa podia ser empurrada por um desses.
Isso também lhe deu a impressão de que o Weasley era tão distraído quanto ele próprio. Talvez por isso conseguiram se dar bem rapidamente, mais do que por conhecer um membro de sua família e ter sido apresentado.
– Vou aceitar tomar um ar, mas não duvide que eu volte.
– Deixarei umas cordas prontas.
Lakroff seguiu para fora de onde estava, debaixo da estrutura da arena improvisada, e olhou em volta. O sol parecia prestes a se pôr, mas ainda estava no céu, então não era muito tarde. Notou que os abutres dos jornalistas, infelizmente, ainda estavam presentes, vagando como os carniceiros que eram em busca de alguma vítima que podiam bombardear atrás de mais coisas para preencher as edições menos populares da semana.
O fundador de uma cidade bruxa, filho de um lorde das trevas e professor de escola? Lakroff se sentiu imediatamente uma vítima fácil e não estava com cabeça para isso. Tentou, portanto, passar sorrateiramente pelo local e, com sorte, chegar até a escola. Estava dando um tempo para seu neto lidar com tudo da forma que se sentia mais confortável, o que geralmente era sozinho e em silêncio (em outras palavras, com Tom), mas talvez já fosse a hora de averiguar como estava e se precisava de alguma coisa.
Não teve muito sucesso em sua missão, percebeu, quando viu Vladimir Romanov.
Era um jornalista russo muito arrogante por vir de uma família de bruxos antiga, juravam ter ligação com os próprios Czares da Rússia antes de serem exterminados pelos trouxas. O homem tinha uma fixação por Lakroff porque escrevia para um jornal e uma revista de fofoca, o lugar perfeito para falar de "um homem tão emblemático como o lorde Mitrica" como sempre dizia.
O platinado fechou os olhos praticamente rezando para que algo o livrasse de mais uma de suas entrevistas porque, por raios, ele precisava manter o mínimo de sua imagem com os Russos, diferente de Dumbledore que tinha a imagem jogada no lixo constantemente e conseguia continuar no poder por uma histórico barato de derrotar um lorde das trevas.
Um que nem tentou de verdade naquela maldita batalha.
Escutou Vladimir chamá-lo, então uma voz que não conhecia o cumprimentou primeiro e quando Lakroff abriu seus olhos naquela direção Romanov estava falando com algum britânico que, neste instante, era seu salvador.
Garantiu sair dali o quanto antes e correu para o grupo de professores de Hogwarts mais próximo, torcendo para que ali fosse um assunto menos interessante. Ainda mais porque estavam conversando com os membros do ministério e da associação de pais.
Achou surpreendente que Karkaroff tivesse coragem de estar ali, mesmo que a professora Olympe Maxime também estivesse fazendo seu papel em socializar com as figuras de autoridade estrangeiras. Normalmente ele evitaria seus antigos colegas Comensais além de tudo.
Uma jura de lealdade para Lakroff e já estava agindo como um maldito confiante de novo?
Como se fosse salvar seu rabo de qualquer coisa, o idiota. Era bom que tirasse alguma coisa útil dali ao invés de apenas sujar o nome da Durmstrang para aqueles políticos, ou o faria se lembrar porque tinha medo da família Grindelwald.
– Lorde Mitrica, não é mesmo?
A voz repentina fez o homem se virar e encarar de frente um Lucius Malfoy, isso o deixou um tanto confuso e espantado. Não esperava que alguém, ainda mais este alguém, viesse propositalmente lhe puxar para uma conversa.
– Gospodin... Lorde Lucius Malfoy, se não estiver enganado?
– Não, milorde, não está enganado. É um prazer.
O loiro de cabelos cumpridos e muito bem penteados, com vestes formais refinadas, carregava uma bengala com adorno de cobra prateada em uma das mãos, a qual se apoiava quando ofereceu a mão para Lakroff que cumprimentou educadamente:
— O prazer é meu.
Ele notou que o grupo de professores que havia tentado usar de escudo tinham se dispersado em outro núcleo de conversa, então Malfoy não queria juntá-lo aos demais. Queria sua própria atenção.
Curioso.
— Grande desempenho como locutor, percebe-se que é um ótimo professor. História da magia, se não me falha a informação?
— Está correto, milorde.
Lucius não estava sozinho, haviam dois homens acompanhando-o e um imediatamente atraiu a atenção de Lakroff.
Quando seus olhos se encararam, o Mitrica sentiu uma bomba ser jogada contra sua cabeça, de forma que exigiu muita força de vontade para não cair ou mesmo se mover de qualquer forma.
Sua expressão era a mesma de sempre, a máscara de quando cumprimentava novos lordes, mas sua mente estava gritando com visões enquanto seu bloqueador o machucava tentando conter a maioria.
A esmagadora e visceral que gerava uma dor absurda do lado esquerdo da cabeça.
Seus sentidos se aguçaram e seu corpo arrepiou-se por completo, cada parte em alerta lutando contra sua magia, contra sua mente, contra seu bloqueador.
Sua cabeça era uma bagunça agora, mas cresceu com ela e sabia disfarçar.
Seu pai fez questão que aprendesse, não importa o quão dolorosas fossem as lições para garantir isso:
– E os senhores? Se me permitem a pergunta?
Um dos homens, o mais baixo e mais velho, com cabelos castanhos claros curtos e uma barba bem alinhada avançou para se apresentar. Quase empurrando Malfoy no processo que o olhou bem irritado.
– Sou o Lorde Theomore Nott, é um prazer. Soube que o senhor tem um bom conhecimento e ligação com negócios da bolsa Goblin de investimentos, seria maravilhoso conversar com um intelectual em um encontro ou outro, se estivesse disponível. Estava pensando em expandir meus investimentos para a Rússia e parece-me, pela forma que chamou Lucius antes, que o senhor é de lá. Como um erudito, acredito que poderia me beneficiar de seus conhecimentos.
– Obviamente que eu não negaria, milorde, uma chance de conquistar mais contatos úteis. Sejam sinceros, estar aqui também me causou interesse em investir no mercado britânico. Podemos marcar quando for melhor para ambas as partes, é claro.
Theomore sorriu, um daqueles sorrisos educados entre Lordes. Não dizia que tinha sido engraçado, apenas que identificara humor e como um lorde buscando estreitar laços reconhecia a necessidade do gesto.
Lakroff sempre teve a sensação naqueles momentos de quando um parente inconveniente faz o que acredita ser engraçado e olha para você esperando confirmação, mas era apenas uma pessoa sem noção e você uma criança. Então acabava rindo.
Sinceramente, não se importava com nenhum daqueles dois. Não seriam úteis a longo prazo, seus filhos herdeiros eram adesões melhores e Harrison cuidaria disso, qualquer tempo que gastasse com Theomore Nott ou Lucius Malfoy era apenas desperdício.
Mas ele queria o terceiro.
Precisava dar uma boa olhada e se aproximar.
Precisava falar com ele.
Tom Marvolo Riddle. Em carne e osso.
O maldito tinha um corpo. Voldemort não estava apenas de volta como aquele espectro de que tinham conhecimento. Era uma pessoa e uma pessoa saudável.
Poderia pensar que se tratava de uma ilusão, mas Lakroff era uma pessoa insana, se lembraria de um corpo que desejou por dias e o reconheceria, mesmo que diferente. Voldemort estava um pouco mais baixo do que Riddle e sinceramente? Nada ali lembrava o Tom que conhecia, mas não podia negar ser ele, apenas com alguns feitiços muito bons para disfarçar e sumir com algumas de suas características mais proeminentes.
Haviam os olhos castanhos, mas tinham um tom esverdeado diferente, como se estivesse usando lentes de contato por cima que tinham uma cor muito fraca para se sobrepor a original. O queixo era mais proeminente, havia um formato estranho na mandíbula, meio irregular, a pele era cheia de marquinhas como pintas e sardas de quem passa muito tempo no sol e seu nariz era diferente de um jeito que não conseguia explicar, mas não combinava com todo o resto.
Era um homem comum. Uma máscara para tornar sem graça e mundano um Deus.
Não estava funcionando.
Não com quem tinha olhado diretamente para a divindade por tempo o bastante para se adaptar à luz.
Tom Riddle não estava apenas vivo e bem, como tinha um corpo e estava magicamente muito mais poderoso do que seu Tom, a horcrux, havia previsto. Conseguia sentir, mesmo com o homem tentando esconder, como uma presença mágica era intensa.
As coisas eram diferentes agora.
Muito.
Principalmente se pensasse em suas visões mais antigas. Isso mudava tudo.
Tornava aquela ameaça mais perigosa.
Teria que repensar seus próximos passos e ser ainda mais esperto, pois os olhos diante de si não eram os olhos de um insano.
O pior era que sabia. Sentia em cada parte de si, que precisava de uma vez por todas tomar uma atitude.
Teria que fazer sua escolha sobre matar ou não Tom ou tudo seria posto a perder e alguém morreria no fim daquela história.
Estendeu sua mão para a coisa:
– E o senhor?
Quando Voldemort mostrou a sua, uma frase piscou na mente do Mitrica:
"Todos os Mitricas morrem na mão de Voldemort".
Mas ele não permitiria. Tinha muito a perder que não estava disposto a deixar nenhuma alma ridícula tirar. Destruiria o mundo antes disso em sangue. Aquele homem veria seu fim antes disso, não importa o quão recuperado estivesse.
– Clavance Raaz – apresentou-se.
"O mesmo nome das cartas. Do gringotes" Lakroff se lembrou. O pseudônimo comum de Voldemort.
Então aquele deveria ser Clavance?
A voz do homem tornou tudo mais real e, portanto, brutal. Por algum motivo, ainda precisava disso. Uma última prova. Nunca, jamais, deixaria de reconhecer essa voz, mesmo agora que parecia mais aguda, como se fosse mais jovem.
O disfarce que Voldemort usava como um todo era de um homem jovem. Um corpo parecia de um recém formado bruxo. Nada além dos seus dezoito anos.
Mas era a voz.
Era Tom e ao mesmo tempo... não.
Isso lhe tirou o ar dos pulmões. Como uma bigorna caindo em seu estômago.
"Você existe e, por isso, ele existe. Mas ele não pode ser uma pessoa, nunca, porque é apenas uma pequena parte do que você sequer merece ter..."
Lucius, por sorte, interveio, pois só agora Lakroff notou que estavam a muito tempo segurando a mão e encarando Voldemort.
De certo já deviam o estar achando estranho.
Nada de novo sob o sol.
Sem saber, Marvolo estava igualmente surpreso que tenha se distraído e deixado o momento durar tanto além do que era considerado correto.
Não era de seu feitio se distrair, ainda mais quando estava sendo apresentado a alguém.
– Clavance esteve me acompanhando, faz alguns anos que não nos víamos e não quisemos perder a oportunidade de conversar e assistir um evento tão impressionante quanto a retomada do torneio tribruxo.
Lakroff tentou olhar para Lucius enquanto falava, realmente tentou, mas logo estava de novo encarando Voldemort. Tentando absorver cada detalhe. Evitando seus olhos, que eram a parte que mais sentia falta:
– Esteve fora do país, Clavence?
– Sim, gosto de viajar.
"Eu sei" pensou, "Eu sei tudo sobre você".
O Mitrica não queria, definitivamente tinha ódio daquele homem. Ele representava tudo que Lakroff mais odiava na sua vida nos últimos anos. Talvez até nas últimas décadas. Queria a morte de Voldemort tanto quanto qualquer um.
Mas mesmo assim...
Ainda se via encarando diretamente seus olhos castanhos e tendo dificuldade em fugir dali.
Ainda tinha a respiração engatada e sua voz soava rouca para seus próprios ouvidos.
Podia sentir, mesmo agora afastados, era como se tivesse impregnado em sua pele. A força, a vida, as veias e o calor real o tocando.
Um pulso.
Lakroff podia ver a fumaça causada pela respiração de Voldemort e assistia como seu rosto corava com o vento.
Aquele homem tinha tudo que Tom não conseguia.
Era tão injusto que o enlouquecia:
– O senhor está bem?
Voldemort inclinou muito pouco a cabeça, uma pergunta muda, tanta classe e nobreza em cada gesto quanto Tom sempre se mostrou ter:
– Me encontro bem sim. Por que da pergunta, milorde?
– Impressão, eu acredito. Um instinto. O senhor pareceu-me doente por um instante – e para ter certeza que pegaria em cheio, acresceu – Fraco, entende?
Touche.
[N/A: Touche, palavra em francês. Toque. No Esporte, ato de confirmação que, em esgrima, comprova que o toque no adversário foi alcançado].
Lakroff viu.
Na forma como os olhos alheios brilharam em fúria, desafio e determinação que tinha conseguido.
O rosto continuava impassível, mas de novo, Grindelwald conhecia aquele homem.
Essa seria sua desvantagem final. Os planos estavam oficialmente mudados.
Lakroff Mitrica podia ser forte, mas Tom Marvolo Riddle era um ponto fora da curva. Destiny criara uma criança apenas para derrotá-lo, tamanho seu poder. Lilian Rose Evans, a única "nascida trouxa" de toda a história da guerra bruxa a ser oferecido um lugar no exército como comensal da morte, esta era a mãe dessa criança. A mulher tão forte que mesmo achando que não havia descendência mágica, fora a exceção de Lorde Voldemort. O pai era James Potter, o leão, o cervo, o espólio, aquele que todos conheciam, mas ninguém podia afirmar que sim. Não sem estar mentindo ou enganado.
Lakroff não era páreo para Voldemort, como Harrison nasceu para ser. Era apenas uma parte de toda aquela história. Um coadjuvante. Enfrentar Voldemort, mesmo com um plano feito por ele mesmo, mas sem ter certeza de que estaria em uma fase ruim poderia arruinar tudo.
E Voldemort teria que morrer. Se ele era um problema, um ponto fora da curva, Lakroff tinha que arrancá-lo como uma erva-daninha que não precisava existir no caminho de seu neto. Mas ao menos agora, olhando para ele, conseguia entender o que lhe faltava até então em suas visões.
Bastava trabalhar com isto.
Tom o perdoaria, mas se não conseguisse convencer Harrison a tomar mais um dia da poção do morto vivo, ou de noite sem sonhos, estaria ele mesmo terminando seus planos de matar aquele homem. Ao menos, se este fosse o caso, seria apenas como tirar um band aid de uma só vez, não o torturaria mais o forçando a olhar para sua morte.
Tudo aconteceria de forma limpa e rápida, bastava jogar bem:
– Sinto muito se fui indelicado comentando algo tão pessoal.
– Não se preocupe, milorde – garantiu Clavance.
Lakroff ouviu claramente a chateação no fundo de sua voz, algo que apenas aqueles que já estavam acostumados com as nuances do homem veriam:
– Tive complicações de saúde recentes.
– Então lamento lembrá-lo de tal coisa. Espero que consiga voltar e se recuperar da melhor forma, apesar de tudo.
Voldemort sorriu, achando que podia esconder como o comentário de Lakroff tornou-se desagradável para si:
– Não se incomode com isso. Logo estarei perfeito.
– Logo? Algum tratamento médico marcado? Encontrou uma solução mais rápida para o problema?
– Um pouco dos dois, eu diria.
– Lhe desejo muita sorte e que tenha bons resultados.
– Muito gentil de sua parte.
– Não me elogie por isso. Tendo a ser gentil com aqueles que me atraem a atenção – e acrescentou seu sorriso charmoso.
Saiu sem que nem mesmo notasse.
Como se já tivesse se tornado natural provocar Riddle apenas por ser ele.
Mas não era Tom ali, tinha que se lembrar disso.
Marvolo, por sua vez, não era do tipo que se deixava reagir de forma impensada, mesmo assim o avanço foi repentino o bastante para que piscasse. Depois riu, uma risada muito sutil, mas sincera o que fez Lakroff arrepiar-se:
– É uma honra chamar a atenção de um lorde. Não vejo como poderia ser interessante a este ponto. Precisei ser um amigo de longa data da família Malfoy para conquistar Lucius.
– Se precisou de tanto para que o lorde Malfoy o olhasse, com todo respeito, Lucius tem péssimos instintos.
– Os seus, então, estão afiados? – sorriu, os olhos estreitos de cobra, o sorriso de víbora, tudo, infelizmente, gritava Tom. – O que os instintos dizem sobre mim, milorde?
– Ah, revelam muitas coisas, mas receio que não posso dizer.
Marvolo sorriu com a mão no peito:
– Por que não? Agora que atiçou minha curiosidade, me deixará no escuro?
– A ignorância pode ser uma benção.
– Me orgulho da maldição de fugir de qualquer tipo de ignorância.
– O que o torna oficialmente um homem ainda mais interessante. Alguém que assume a responsabilidade de acumular saber, tem de estar disposto a acordar com a dor de um novo dia, onde o mundo não compensa aqueles que realmente valem seus recursos.
– Gosto demais da vida para me lamentar por um novo dia, apesar de lamentar aqueles que gastam este recurso de forma impensada, sim.
"Olha quem fala" pensou Lakroff.
— Ouso dizer que eu mesmo já fui um destes, em minha busca – continuava Voldemort. – Mas saber também é entender seus próprios erros.
– Isto que lhe causou a doença?
– Exatamente. Busquei conhecimento onde minha saúde precisou ser sacrificada. Ao menos, a vida é o melhor dos professores, se conseguir sobreviver às suas aulas.
— Em algumas palavras, senhor Raaz, e não consigo pensar o que faria alguém não lhe dar mais uma olhada. Não há necessidade de instintos, apenas ouvir-lhe e alguém seria encantado.
– Diz-me então que o encantei, milorde?
– Em demasia.
Voldemort, novamente, se viu espantado por aquele homem. Se não estivesse louco apenas por cogitar, ou se sua aparência fosse a correta, não seu disfarce comum, juraria que o herdeiro Grindelwald estava...
Flertando.
Mas descartou a ideia:
— O senhor teve a oportunidade de falar comigo, isso geralmente funciona melhor que minha aparência.
— Mesmo?
Lakroff demonstrou tanta dúvida naquela palavra, que Marvolo duvidou por um instante se seu disfarce havia funcionado. Havia tanta coisa escondida naquele tom de voz que não conseguia decifrar, Grindelwald era, se já não tivesse pensado nisso antes, um homem difícil de ler, mas muito interessante para não tentar:
— Não sou um homem de aparência, milorde.
— Os olhos não bastam para aqueles que sabem encarar diretamente para a alma.
— E pode julgar minha alma com tão pouco?
— O senhor não imaginaria – e de novo, havia um sorriso que escondia um mundo.
Marvolo queria tanto descobrir. Ler cada linha de texto daquele sorriso como a um livro, entender porque parecia tão bonito, mas tão ameaçador ao mesmo tempo. Não para si, para todos.
O sorriso de um bruxo forte com uma história a ser descoberta, mas que estava guardado a mil chaves.
Voldemort curvou e leu homens de todos os tipos, mas sabia que aquele precisaria de muito mais que algumas maldições para falar.
Era o tipo que morreria com cada segredo, mas isso...
Seria desperdício.
— Sinto dizer, mas não acredito que minha alma possa oferecer muito mais do que minhas palavras já fazem tão bem.
— Sua alma estaria marcada com a mesma história que suas palavras buscam traduzir ou esconder. Isso a torna sua e bela.
— Impressão minha, ou acaba de chamar minhas palavras de belas?
— Chamei o senhor.
Voldemort não soube como responder.
Para sua desgraça, Lakroff Mitrica o havia desconcertado completamente.
Theomore pareceu prudente lembrar que estava ali naquele instante:
— Como é?
Lakroff nem sequer lhe deu uma olhada ao responder:
— A aparência externa é apenas um ponto irrelevante comparado ao mero passageiro da beleza de uma mente.
Voldemort riu:
— A mente também pode ser destruída pelo tempo tal qual a imagem externa.
— A destruição mais cruel que o Lorde do Tempo pode causar a um ser, com certeza. Mas uma boa mente deixará uma marca eterna que nem o tempo poderá destruir tão fácil.
— Apenas os humanos, se assim o fizerem.
— A humanidade é capaz de destruir tudo na mesma proporção que cria desde o início de sua evolução. O trabalho, se não for além de uma ação consciente e transformadora que o diferencia dos outros animais, é também o que cria a arrogância que leva o homem ao caos.
— E o caos torna qualquer trabalho em desastre. Até o mais empenhado, pode tornar-se o maior transtorno se não souber medir bem suas ações.
— Viu? Grande mente – sorriu Lakroff. – Nem é preciso tanto para perceber. Levamos quantos minutos?
— Digo o mesmo, milorde. Parafraseando meu colega, o senhor deve ser um ótimo professor. Tem observações sobre a vida muito dignas.
— Geralmente os alunos me colocam como querido, mas tento apenas fazer meu trabalho em transformá-los – então, olhando para os três, continuou. – Milordes, senhor Clavance Raaz – uma reverência, para Voldemort, os outros podiam ir pastar como as ovelhas que eram. – Tenho que me despedir. Meu correio está aberto para negociações, Lorde Nott. Espero não ter sido tão enfadonho, mas tenho que averiguar meus alunos enquanto meu diretor termina as relações por aqui.
— Estarei me correspondendo, se tiver sua autorização – garantiu Theomore e não parecia mais tão amigável quanto na primeira interação.
Marvolo não podia entender o porquê, estava bem mais interessado agora.
Lucius Malfoy parecia mais abalado do que qualquer coisa:
— Foi um prazer – afinal, no fim ele apenas serviu para iniciar a conversa e tão logo foi esquecido.
Voldemort olhou diretamente para os olhos mais azuis de que tinha conhecimento, mais intensos que um céu no dia logo após a chuva e respondeu à Lakroff:
— Espero nos encontrarmos de novo.
— Igualmente.
Grindelwald saiu. Antes que se tornasse impossível conter os gemidos de dor vindos de suas visões, para onde poderia arrancar seu bloqueador e sofrer deitado até que passassem de vez.
Para sua surpresa, ao menos parte da conversa com Voldemort o fizeram esquecer a dor.
Voldemort, por sua vez, foi deixado para questionar a atitude estranha de seus comensais, mas não tinha tempo para isto agora:
— Theomore, encontre com Bartô assim que possível. Diga-o para me entregar meu pacote o quanto antes.
— Milorde? – Lucius falou, mas levou uma bengalada na perna de Theomore. – Senhor Clavence – se corrigiu, apesar de olhar com ódio para o Nott.
— Eu pareço doente?
A pergunta chocou os dois homens que arregalaram os olhos. Lucius, como sempre, foi o tolo que achou que deveria responder. A resposta errada:
— De forma alguma.
— Mas ele notou – então, com um sinal de cabeça, dispensou Theomore. – Estamos nos retirando, Malfoy.
Esperava até o fim daquele dia já ter o diadema de Ravenclaw de volta.
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— O que deseja, professor? – Neville perguntou ao entrar na sala de Dumbledore na noite de terça.
Após a tarefa com os dragões houve muita farra no castelo. Os alunos da Durmstrang estavam em polvorosa uma vez que seus dois campeões eram os primeiros colocados e não paravam de cantar.
Sim.
Cantar.
Neville assistiu maravilhado quando um grupo no corredor começou uma música que parecia ter origens marítimas, como uma canção que se associa a um grupo de marinheiros ou piratas em seu barco. Estava em outra língua e não conseguiu entender as palavras, mas sentiu conforme a música avançava a força que os trazia. Então o grupo foi ficando maior, maior e de repente havia membros da Durmstrang até nas janelas acompanhando a canção em alto e bom som.
A energia comemorativa deles era cativante e não pareciam se importar em constranger os alunos de Hogwarts, cujo campeão perdera em desempenho desta vez.
"Tudo bem" disse George a ele e Harrison quando o menino também começou a cantar, encarando diretamente o gêmeo "Cedrico pode virar essa e vocês vão ter que cantar em inglês na próxima".
"Pensei que estivesse torcendo por Harry?" questionou Neville.
"Estou" e Fred encerrou "Mas é divertido provocar, sua alteza".
"Obrigada, a propósito. Ganhamos uma bolada com a aposta" lembrou George.
Até Lakroff foi convencido pelos alunos a cantar uma das melodias e mesmo que já a tivesse escutado em vários momentos, Neville ainda se permitiu encantar, assim como todos os britânicos ou franceses próximos, com a voz melodiosa de barítono do vice-diretor. Seu alcance vocal grave, muito intenso, era ainda absurdamente controlado, atingindo tons suaves nos momentos corretos.
Além da paixão com que cantava cada letra que tornava a coisa ainda melhor.
Foi devidamente aplaudido por sua plateia antes de voltar para seu caminho e trocar algumas palavras com Harrison.
Neville garantiu ao tio-avô de seu amigo, que Hazz estava em ótimas mãos. Claro que o homem ainda ficou desconfiado, o sobrinho tinha passado por uma daquelas naquele dia, mas pareceu satisfeito com um "o vejo a noite" e saiu.
A festa decorreu até a noite e também se estendia para aqueles que entendiam que era um sucesso e tanto para todos conseguir sair vivos do ataque de um dragão.
Neville esteve presente com Harrison o máximo que pôde, para o caso de precisar extravasar de novo e não queria tirar os olhos dele.
Mas o tempo passava.
E com isso sempre vinham empecilhos.
Até a hora do jantar, mal soltava a mão do Potter, ao ponto que foi novamente à mesa da Sonserina para ter sua refeição.
"Já fazia um tempo, Longbottom" comentou Theodore assim que se sentou ao seu lado "Se perdeu no caminho da sua mesa até aqui?"
Blaise riu e Pansy lhe acertou um tapa, mas Neville não se importava:
"Tinha perdido outra coisa, mas já achei" respondeu acariciando o anel que Harrison o havia dado anos atrás.
Que decidiu desenterrar de sua caixa protegida no malão e vinha usando desde domingo.
Hazz notou isso e sorriu para o amigo enquanto Luna enchia seu prato.
"Se eu só colocar comida direto isso te faz comer?"
Neville apontou, muito irritado que com a menina Harrison obedecia.
"Acho que só funciona com ela, desculpe" o de olhos verdes provocou.
As coisas estavam como sempre. Hazz provocando até Nev se embaralhar todo, um do lado do outro. Havia apenas uma intensidade nova, como a falta de estarem ali a um tempo, em seu mundinho mesmo que cercados de gente.
E o anel.
Porém, tudo que é bom acaba. Depois de poucas horas, veio o toque de recolher.
Neville quase estranhou quando Hazz não veio consigo à torre da Grifinória, com aquela sua capa de invisibilidade ou com a vassoura, assim como Ron, que lá pelas onze horas veio se sentar em sua cama:
— Acho que ele não vai dormir aqui hoje.
Os dois foram os primeiros a subir para o quarto, caso Harrison invadisse a torre da Grifinória de novo, assim poderiam abrir a janela e recebê-lo por onde era melhor.
Porque é claro que Neville proibiu Harry de usar a rede de flú de novo.
— Ele deve estar comemorando com a Durmstrang.
Comentou se levantando, mas assim que deu um passo naquela direção, percebeu que não queria fechar a janela. Mesmo com o frio. Era como se encerrasse o convite.
E queria que Hazz soubesse que era sempre um convidado bem-vindo:
— Ontem ele apareceu tarde. Vou esperar mais um pouco.
— Não vejo problema, acho que o pessoal vai demorar para subir mesmo.
Lá embaixo, até a Grifinória ainda estava em festa. Os gêmeos Weasley conseguiram roubar mais comida e chamaram aquilo de pós torneio. Como ninguém precisava de um grande motivo para uma barulheira naquela casa, logo já havia muita música, dança e bebida, então estavam todos levantados até tarde.
Bem... talvez todos exceto Hermione, que já havia se despedido para ler um pouco e adormecer antes que perdesse a primeira aula no dia seguinte.
Neville voltou e se jogou na cama, Ron espreguiçou-se, como se não desejasse nada e caiu sobre os cobertores, olhando para o teto de tecido da cama ao lado do amigo:
— Você pode ir lá, sabe disso, não é?
— Na Durmstrang? Não sei se é boa ideia.
— Harry duvidaria disso, tenho certeza – houve um momento de pausa, onde Ron brincou com os travesseiros de Neville. Por fim, com um minuto completo, bufou irritado: — Cara vai lá logo.
— Como eu vou conseguir chegar sem ser apanhado pelos corredores fora do horário de recolher?
— Neville, você já tem detenção para quase o ano todo, mais alguma não é um risco válido depois do que Harry fez?
— Claro que é! Mas daí não vão me deixar chegar ao destino?
— Peça aos gêmeos – e se levantou. – Sei que vão ter uma solução.
E aquilo era genial.
Certeza que os meninos podiam conhecer uma passagem que pudesse levá-lo até próximo do barco.
Nev se levantou num pulo, e se despediu de qualquer forma de Ron, antes de sair pelo corredor.
Desceu as escadas correndo e conseguiu alcançar George no meio da multidão sem muita dificuldade.
Ou Fred, ele não sabia, mas era o que não estava dançando com Angelina e por isso podia ser interrompido.
— Oi, pequeno leão. Por que está correndo? – a forma mais gentil da pergunta o fez realmente acreditar que era realmente George.
— Eu preciso de um favor. Urgente. Preciso chegar ao barco da Durmstrang.
O mais velho não pareceu precisar de mais explicações, sorriu e segurou Neville pelo braço, puxando-o para um canto.
— Existem algumas horas que são mais vigiadas no corredor, as primeiras principalmente, para pegar os atrasados, entende? Você acha que consegue esperar ou quer ir agora?
George não precisou de resposta, o simples brilho no olhar de Neville lhe bastou para apontar à saída:
— Vamos.
O menino sorriu com todos os dentes e deu um pulinho para seguir o mais velho. Quando estavam do lado de fora do retrato, a mulher gorda já abriu sua boca indignada:
— O que estão fazendo? Já passou do horário, vão perder mais pontos para a casa, senhor Weasley?
— Você me conhece, Bela Soprano, eu não consigo viver sem um pouco de emoção – e piscou para o retrato que pareceu bem afetada.
Sua voz, imediatamente, mudou de tom:
— Ah, Fred, você não tem jeito. E ainda arrastando o senhor, Longbottom! Ao menos tente não ser pego, querido!
— Pode deixar, ninguém nem vai me ver – e indicando o corredor para Neville, os dois saíram, descendo as escadas.
Neville não conseguiu se conter por muito tempo:
— Você não é o Fred, é?
— Não. Mas a mulher gorda geralmente gosta mais dele, por algum motivo. Fred que começou a chamá-la assim, Bela Soprano. Parece que gosta, então esse com certeza é parte do motivo de dar mais bola para aquele tonto.
— O que quer dizer Bela Soprano?
— Tem a ver com ópera. Forge foi atrás de alguns livros do assunto depois que ela mostrou gostar, para tentar conquistá-la de vez. Como pôde assistir de primeira mão, funcionou muito bem.
— Achei que você era o que geralmente pesquisava as coisas.
— Eu posso ser o Fred e estar te enganando até agora. No fim, somos uma entidade, então sou o Forge. Ou o Gred e tanto faz.
— Não é tanto faz – afirmou com convicção. – Não sempre – Neville se lembrava com clareza da conversa que teve antes com os gêmeos, sobre como George queria se apaixonar por alguém que soubesse diferenciá-los como pessoas.
Como isso era importante para ele, mesmo que amasse estar com o irmão.
Ser uma pessoa por si próprio.
George sorriu, aparentemente satisfeito que o amigo tivesse dado atenção a esse detalhe, e se explicou:
— Cada um de nós pesquisa aquilo pelo que se interessa. Fred se interessou em conquistar a mulher do quadro, então foi atrás. Eu sei que ela nunca nos deduraria de qualquer jeito e achei perda de tempo, por isso li outras coisas. Essa é a diferença, pegou leãozinho?
Os dois estavam seguindo de forma completamente anormal, pegando corredores para ir, subindo, então outro corredor para descer. Era como andar por um labirinto complexo de camadas, parecia mais uma forma de despistar qualquer pessoa do que chegar a um lugar em especial e em determinado ponto usaram uma passagem. George tinha parado de falar e Neville achou prudente fazer o mesmo silêncio, afinal tudo tinha ouvido em Hogwarts.
Infelizmente, por mais astutos que fossem, em uma das passagem que dava para uma sala vazia, quase como se estivesse esperando por eles lá, assim que abriram a porta para sair se depararam com Albus Dumbledore.
Houve um momento de silêncio onde todos se encaravam com a certeza de que estavam fazendo algo que não deviam e não sabiam o que seria a partir dali.
O primeiro a falar foi o diretor:
— Boa noite meninos, uma noite agradável esta, não?
— Não vai nos dedurar, vai? – George foi direto ao ponto.
— Não os vi aqui, como poderia?
— Vamos seguir então. Sabe onde estão os outros professores?
— Não tenho ideia, senhor Weasley. Receio não poder ajudar na empreitada. Estão em busca das cozinhas? Posso acompanhá-los, já que eu mesmo estava atrás de um lanche às escondidas.
Neville ia corrigir, mas George balançou a mão às costas para impedi-lo:
— Claro. Seria ótimo, professor, se o senhor não estivesse mentindo sobre isso.
— Como é?
Não era apenas Dumbledore surpreso com o quão direto e desafiador George se fez naquele instante.
Neville quase se perguntou se o menino não conhecia a definição de filtro na língua.
— Nós precisaríamos pegar esse caminho porque estamos nos escondendo – continuava o Weasley. – O senhor só precisaria pedir a um elfo e ele levaria direto na sua sala qualquer comida. Eles respondem a Hogwarts e você é a voz de Hogwarts enquanto diretor, tanto que, muitas vezes eles só servem o jantar depois de uma ordem sua. E isso é só um exemplo, claro.
Neville nunca tinha notado de verdade, mas podia se lembrar de vários momentos onde a comida era servida após um discurso de Dumbledore.
— Se quisesse comida não precisaria ir às cozinhas.
O diretor esperou um tempo, antes de sorrir daquela forma misteriosa, encarando-o por trás dos óculos de meia lua George com intensidade:
— O senhor está certo.
— Vai nos dar a informação correta ou podemos apenas seguir?
— Vão me dizer qual o destino de vocês?
— Não temos intenção, a menos que o senhor obrigue.
— E se for o caso?
George estreitou os olhos, depois bufou derrotado:
— Estava acompanhando Neville até o Barco da Durmstrang. Ele quer comemorar com seu amigo a vitória de hoje e acho bem justo.
— Com certeza é justo. Entretanto, receio que terei de pedir que ambos me acompanhem à minha sala.
George levantou uma sobrancelha agora:
— Posso perguntar o motivo? Se for detenção pode nos dar e voltaremos à Grifinória.
— Não pretendo puni-los por querer ver um amigo.
— Então o que?
— Direi quando chegarmos lá. Venham comigo.
Sem muitas alternativas, os meninos seguiram-no, resignados.
Neville não teve como não recordar da última vez que esteve naquela sala.
Aquela memória doía no peito do menino, pois vinha acompanhando de algo que chegou a ter pesadelos. Um arrependimento enorme que passava apenas quando sentia o cheiro do cabelo de Hazz ao seu lado e sabia que não tinha simplesmente estragado tudo.
"Você não consegue acreditar que eu dou conta da minha própria vida por um minuto?!"
Tinha sido muito idiota com Hazz, agora admitia sem medo, e o deixou praticamente sozinho depois de gritar com ele dois dias antes de ter de enfrentar um de seus maiores medos.
Idiota.
Hazz o chamou assim.
Incrível.
Idiota.
Essas eram as opiniões de Harrison Potter sobre Neville agora.
Não sabia se merecia, mas de alguma forma fez ambas saírem de sua boca.
Queria poder voltar a ser apenas incrível.
George olhava para todos os lados durante o caminho e estava com seus próprios pensamentos, julgando onde raios aquele velho estúpido queria chegar.
Seja lá o que fosse, estava tentado a apenas ignorá-lo e arrastar Neville para a sala de Minerva McGonagall.
Passaram pela gárgula e estavam subindo as escadas quando Neville chegou a tropeçar, de tão distraído.
George sentia que aquilo não acabaria bem.
Para si.
A sala era a mesma de sempre, mas havia uma única coisa nova, um tapete.
Um enorme tapete vermelho e marrom quadrado que cobria boa parte do lugar como um carpete da loja de Madame Malkin no beco diagonal. Não que George já tivesse estado naquele lugar, mas já vira algumas vezes.
Cobria o exato lugar que Harry havia rachado em sua fúria, Neville pôde notar com certo receio. Dumbledore, entretanto, passou por cima como se a rachadura tivesse sido devidamente concertada.
— Achei que precisava de uma nova decoração nesse lugar – o diretor comentou ao vento;
"Nova decoração?" George pensou olhando para aquele bando de bugigangas coloridas que haviam na sala e duvidando muito daquela afirmação pois se lembrava de cada uma.
Para sua sorte, um dos quadros, aquele que sabia ser de um diretor Black antigo, esclareceu aos risos de deboche:
— O todo poderoso aí consertou o chão depois que um Potter destruiu para lhe mostrar como se lava roupa suja direito, mas não conseguiu tirar a marca que ficou da magia.
George espantou-se, porque sua alteza não chegou a contar que tinha feito algo parecido e também se irou ainda mais contra aquele velho bastardo por ter ousado chamá-lo para sua sala de forma tão covarde.
E ainda se dizia um Grifinório.
Que merda, sabia apenas que foi para aquela sala, mas chegar a quebrar um chão de rocha sólida? Aquilo foi uma crise e devia ter avisado os gêmeos.
Eles precisavam preparar logo aquelas poções.
Dumbledore também não estava muito satisfeito, mas pela intromissão do quadro, apesar de não demonstrar:
— Obrigada, senhor Phineas, por esclarecer a todos. Deseja nos contar mais algo que seja de seu interesse?
— Você está tão ferrado.
— Estou vendo. Vamos meninos, entrem. Gotas de limão?
Neville se lembrava de ver a travessa de cristal das balinhas espatifada no chão da última vez.
Não havia uma nova, então Hazz não tinha destruído de propósito a coisa em si, imaginou.
As janelas também não estavam mais em pedaços. Tudo normal.
Menos o tapete.
Aquela foi a extensão de sua crise, então.
— Sentem-se meninos – o diretor instruiu, apontando para as cadeiras à frente de sua mesa.
George praticamente se jogou no assento e Neville encontrou-o com certo receio. Não tinha saído da sala com uma boa impressão de si.
— Neville, meu garoto?
O menino tremeu e decidiu que era melhor apenas retirar o elefante da sala:
— Eu sinto muito por gritar com o senhor na última vez, professor. E Hazz disse que sente muito ter destruído o chão.
— Duvido! – exclamou o mesmo quadro de antes e George riu concordando.
Neville continuou, mais tímido agora:
— O senhor apenas fez Harrison se sentir incomodado e um pouco pressionando – Albus o interrompeu, com um levantar de mão e um aceno.
Neville calou-se, cabeça baixa e mãos no joelho, sentindo-se abalado.
— Não o chamei para brigar por isso, querido.
— Chamou a gente aqui para que então?
— George! – Neville repreendeu, sabendo que era inútil.
Era um dos demônios Weasley. Um fogo barulhento, explosivo, bonito mas imprevisível, apenas parcialmente controlável.
E estava bravo com o diretor.
— O que o senhor deseja, professor? – Neville decidiu que o melhor era apenas tentar tomar as rédeas e torcer para o leão louco ao seu lado não conseguir se soltar.
— Primeiramente, meu garoto – ninguém percebeu como George se segurou amargamente para não revirar os olhos.
Ou vomitar.
Ou ameaçar aquela cabra velha com sua própria mesa até que decidisse mostrar porque afinal era conhecido por ser tão poderoso.
Do contrário, não pararia.
Nem se Neville tentasse impedir.
Por mil marotos, Neville. Isso era parte do que deixava George tão no fio de sua paciência. O pobre amigo, vítima de toda a manipulação daquele velho sociopata.
Nev sofrera com a quebra de confiança e um abuso psicológico que não só era antigo, como tinha escalonado ao ponto da violação através da legilimência.
Longbottom não conseguia odiar Albus, por mais que ficasse bravo com sua atitude, mas havia ódio o bastante por parte dos Weasley, isso podia atestar.
Por mais que soubessem que Neville não conseguia se virar contra Albus e ver seu erro como algo tão prejudicial, seja porque estava em um estado de negação ou por uma conformação tão forte como uma dívida de vida, isso só tornava tudo pior porque podiam tornar-se antagonizados por Neville se agissem.
O menino se sentiria ainda mais violado, ignorado por seu desejo de esquecer o caso e por amigos que confiou a informação.
Colocou uma corrente doentia nos tornozelos de quatro adolescentes, mas ainda adolescentes Weasley, que já poderiam estar há dias tornando a vida daquele velho um inferno, mas tinham de se contentar. Era como segurar um bando de animais selvagens acorrentados a uma distância segura de uma carne apetitosa e os deixar lá, com fome.
Logo começariam a arranhar os próprios tornozelos e George tinha medo que Neville fosse mal interpretado. Que Ron, Gina ou mesmo Fred, que eram menos empáticos e por vezes desatentos, verdadeiros leões impulsivos, pensassem por um segundo que fosse em ficar com raiva de Neville pela forma com que estava levando tudo aquilo.
Não era uma forma saudável, mas era como lidou com a verdade sem machucá-lo.
Tinha o direito de esquecer se assim seu subconsciente achasse que lidaria melhor e não merecia ser visto como fraco ou detestado por sua falta de atitude.
Dumbledore devia ser seu único alvo de fúria, sempre.
Era tudo sua culpa, de todos aqueles problemas e de forma direta, mesmo que alguém pudesse dizer que indiretamente também, George ignoraria.
As falhas daquele homem eram muitas para justificar.
Estava bravo por Neville, afinal ele já "havia perdoado" aquela coisa. Entendia a problemática da ação, mas não via mais como problema porque aconteceu com ele e Dumbledore "era bom", era "seu amigo". E alguém bom não fazia coisas ruins.
Ingenuidade.
Mas ignorância era uma benção e George preferia ver o amigo feliz do que sábio e triste. Pelo menos se falasse de um sol gentil como Neville, que não merecia o mundo que vivia.
Um mundo que o tratava como se um pedido de desculpas resolvesse.
Que fazia o que fazia, como se não tivesse entrado em choque o bastante para se abrir até mesmo com a Sonserina, mas apagava tudo em prol de um histórico e algumas palavras gentis.
Um simples erro, podia perdoar, não?
Dependia do erro.
George nunca julgaria a vítima, se Neville preferia nem mesmo tocar no assunto, assim faria. Mas doía. Doía não o ajudar a perceber, abrir seus olhos, o tirar daquela dívida de vida ou da crença problemática de que Albus continuava sendo um homem bom como um dia poderia ter sido.
Pessoas mudam.
Lakroff Mitrica era uma ótima pessoa agora.
George teria votado por sua execução anos atrás.
Albus agora merecia ainda mais sua ira, por toda a hipocrisia. Tinha que ser posto em seu lugar.
Por todos os bruxos, estava tão irritado que o menino ainda pedisse desculpas a cabra velha, depois de tudo! O defendesse! Era de se enlouquecer um homem!
O quão longe uma dívida de vida podia ir?
O quão longe precisariam chegar para fazer Neville considerar pago ou irrelevante ter sido salvo do próprio lorde das trevas no começo de sua vida acadêmica?
Era agonizante pensar a fundo sobre isso e ver a luta que havia pela frente para tirá-lo da corda. Era lutar contra a corrente.
Mas era obtuso e haviam muitos nessa luta.
A luta contra a merda do lorde da luz que enganara mais do que uma geração inteira com suas palavras e ações.
— Ele não é seu garoto. O senhor não acha estranho chamar alunos assim?
— George!
Ele deu de ombros.
Pararia, por hora, apenas porque Neville estava ali.
— Desculpe por isso, professor.
— Não se incomode, meu garoto.
George riu de forma azeda, mas se limitou a olhar para o lado, ou queimaria algo naquela sala.
Preferencialmente a barba de um velho.
— O senhor Weasley deve estar nervoso porque não sabe o motivo de estar aqui. Não é o tipo que gosta de mistérios?
— Nem um pouco.
— Mais objetivo que seu irmão, eu vejo. Os dois formam uma ótima dupla por essas diferenças.
— Eu sei, eu faço parte da dupla.
— Eu ainda queria dizer – disse Neville, tentando impedir que Albus falasse qualquer outra coisa para George, – eu realmente peço desculpas, mas sei que um dia poderá falar com Harrison, sem que tudo isso aconteça. Só que terá que, por favor, esperar. O senhor disse que confiava em mim, então espere e não tente forçá-lo ou encontrará a mesma resistência. Harrison é uma pessoa incrível, mas muitas vezes entra na defensiva.
Dumbledore acenou de forma distraída antes de sorrir e ele mesmo pegar uma bala de limão:
— Uma pessoa incrível, você diz.
— Sim. O melhor. Eu garanto. Mesmo quando estoura, ele sabe se arrepender e não se deixa levar com frequência, mas gosta de estar sozinho em sua própria cabeça e quando atrapalhamos isso deve ser do jeito certo, ou reagirá mal...
Neville não conseguiu continuar. Albus sorria para si o tempo todo, as mãos abaixo do queixo e atento de uma forma desconcertante. Quando percebeu que o menino não falaria mais nada, se reclinou mais para sua poltrona e suspirou:
— O senhor Potter, você sabe, tentou ser bem compreensivo no começo de nossa conversa. Não sei qual impressão deixamos quando nos encontrou, senhor Longbottom, mas tivemos um debate interessante e muito cordial sobre a posição de um líder em relação ao povo e que o colocara no poder. É, como já havia notado antes, um garoto muito brilhante.
Nenhum dos adolescentes soube como responder àquilo.
Dumbledore moveu-se para ficar ainda mais confortável e pareceu pensar por um tempo, sussurrando como se para si próprio: "muito brilhante".
Neville não pareceu muito paciente para deixar o homem em suas viagens mentais e o ligou:
— Senhor?
— Longbottom, meu menino – George queria gritar e mandar que o homem fosse a merda com aquele "meu garoto" se ainda não havia notado.
Inferno sangrento!
Realmente valiam tanto assim os pontos que perderia para sua casa, ou eram melhor utilizados se os trocasse por um soco no diretor?
Respirou fundo.
Não, aquele homem não valia nem o berrador que sua mãe enviaria para acabar com George. Por mais tentado que ficasse com a possibilidade, Molly Weasley irritada ainda era assustadora demais para passar do ponto.
O diretor continuava:
— Como disse antes, confio em seu julgamento e posso ter me precipitado em tentar conversar com Harry antes de seu aval, mas foi uma coincidência o encontrar, pensei que seria parte do destino e algo que não precisava desperdiçar. Obviamente estava enganado e reconheço meu erro. Não repetirei. Mesmo assim, pude dar uma boa olhada em que tipo de pessoa é seu amigo. Uma pessoa muito boa.
Neville não segurou o espanto:
— Mesmo? O senhor o achou bom?
— O que o faz questionar essa visão? – perguntou com um sorriso.
— A cratera na sala.
— A culpa foi toda minha.
— Hazz ainda foi quem a fez e pensei que poderia alterar seu julgamento, ao menos de alguma forma considerando tudo que me disse sobre suas escolhas. O que o senhor tomou para dizer que Hazz é, se não, nada além de uma pessoa boa?
— Sua curiosidade me intriga.
— É que, do meu ponto de vista, Harrison se enfureceu e descontou no senhor. Além de que, provavelmente mesmo que tenha tentado, o senhor não conseguiu nem mesmo tirar a marca de sua magia do chão. O que quer dizer que Hazz usou artes das trevas que nem mesmo estão sob seus conhecimentos, e na primeira situação de confronto que tiveram. Se começaram de forma amigável, isso o torna ainda pior na visão de alguém que realmente acredita que um bruxo das trevas pode se tornar instável mentalmente. Algumas pessoas, eu diria que a maioria, julgariam a atitude de forma bem diferente do que está fazendo agora e o condenariam. Isso me intriga.
George encarou Neville e, para sua sorte, Dumbledore achou que era por um motivo diferente. Que era pelo que disse, não como disse.
Isso provava como o velho não conhecia de verdade Longbottom. Não notou a nuance por trás de suas palavras e continuou com aquela cara feliz de sábio sonhador:
— Harry, como eu disse, manteve-se muito simpático durante boa parte da conversa. Foi um bom ouvinte e até aceitou uma das minhas balas de limão.
Isso tirou completamente qualquer foco dos grifinórios mais novos.
Ambos pularam de choque em seus lugares e encararam as balas de limão tão confusos como se Dumbledore dissesse que eram um cachorro, não doces.
O mais velho riu:
— Eu juro que são boas, as troco com frequência meninos, não sei porque a maioria não aceita.
"Porque acham que estão enfeitiçadas" pensou George ainda olhando para a travessa como se tivesse latido para si.
Sua alteza não comia nem a comida de Hogwarts, que nem estava tão à disposição ou próxima daquele diretor, eram oferecidas a todos juntos e outros comiam antes para atestar a qualidade. Tudo porque não confiava nas coisas que lhe davam para comer.
George questionaria aquelas balas e se não estavam embutidas em alguma poção ou feitiço que pudesse ter afetado propositalmente o julgamento de alguém, como sua alteza se permitiria?
A menos que Luna estivesse junto, o que não estava, como aceitaria um doce de Dumbledore?
Provavelmente ele só fingiu e sumiu com a coisa assim que "enfiou" na boca.
Tudo para enganá-lo, talvez? Fazer com que Dumbledore não achasse que estava o antagonizando? Parecer simpático.
Porque queria ficar com uma boa imagem com aquela cabra ridícula mesmo depois de tudo?
George olhou para Neville, agora ainda mais preocupado e entendendo um pouco melhor tudo.
Neville Longbottom não era tão importante para Harrison como havia julgado anteriormente.
Era ainda mais.
O risco que estava disposto a correr era o maior e ainda além.
Aquilo era assustador e preocupante, realmente.
Ao menos, o Longbottom podia se orgulhar de conhecer o amigo o bastante para ter chegado à mesma conclusão que Neville e estava corado. Levou descaradamente as mãos ao rosto e massageou as bochechas enquanto Albus tornava a falar, rindo dos meninos:
— Perguntem o sabor a Harry depois e garanto que irão querer experimentar mais. Mas como ia dizendo, conversamos sobre algumas trivialidades antes que eu me desse a liberdade de realmente falar à Harrison o que lhe devia a alguns anos já. Ofereci-lhe meus mais sinceros pedidos de perdão, por todo e qualquer transtorno que possa tê-lo causado com minhas visitas mais impessoais a sua família. Que podia ter feito mais que o papel de guardião mágico, mas achei que este bastaria junto dos pequenos esforços, mesmo que para alguém que merecia toda a atenção. Um garoto brilhante como ele, mas ainda um garoto. Expliquei-me e a minha decisão de não atrapalhar sua vida trazendo à tona a responsabilidade tão grande de "salvador" logo em sua formação, na mais pura esperança de lhe dar uma vida tranquila antes de que tudo lhe fosse jogado às costas. Assim como havia lhe dito, senhor Longbottom. Mas achei que Harry merecia ouvir de minha própria boca.
— Eu vejo – murmurou Neville baixinho, encarando o homem com olhos vidrados.
George quis se levantar e correr dali quando notou aquele olhar.
Que merda, o que era aquele olhar?
— Transmiti os mesmos pesares pessoalmente a você, Neville, bem antes.
"Não o chame de Neville, você não deveria se dar essa intimidade, ou qualquer uma velho nojento!" pensou George, os pelos eriçados e atento.
— Apenas Harry pode dizer o que poderia fazê-lo entender como me sinto arrependido e apenas eu posso demonstrá-lo.
"Também não pode chamar sua alteza de Harry!" o ruivo segurou sua raiva em punhos.
— E devo dizer – o velho pegou outra bala, – com toda a sua razão, Harry também me questionou sobre algumas de minhas escolhas na época, permitindo que entendêssemos o que aconteceu naqueles tempos e que eu pudesse aprender ainda mais. Ah, sei hoje que não sou o mesmo homem que era antes de trocarmos aquela conversa. Outro menino jamais precisaria duvidar de que seria capaz de lhe oferecer um guardião ainda mais adequado.
"Que nunca exista outro que precise de seus cuidados" e o Weasley estava se sentindo quente, tonto de raiva.
— Harry me garantiu que, apesar de qualquer coisa com os tios, não me julgava por fazer o que estava previsto na lei, mas concordamos que existem aspectos no papel de um guardião mágico que mereciam mais atenção dos termos legais e estávamos tendo uma boa conversa no geral.
Aquilo era mentira. Todos sabiam. O porquê Dumbledore escolhia mentir era a grande questão.
Hazz havia destruído sua sala.
Ele não se descontrolaria na frente do velho por motivo algum tolo, pensava George. Ele sabia como estava a saúde de sua alteza, a menos que a mental estivesse muito pior do que da última vez que atestara.
Agora, também não duvidava que ele tentou.
Via agora como e quanto de sua força ele colocou para isso.
Tentar agradar Neville.
O garoto, que por sua vez, estava quieto, encarando os próprios sapatos, as mãos em cima do colo:
— Mesmo? Isso é ótimo.
Não havia emoção em sua voz.
— Meu menino, lhe garanto sobre minhas palavras – Albus apaziguou, sorrindo, sempre sorrindo. – Harry é gentil e entende os deveres de um homem em minha posição, mas também é curioso, devo dizer – riu. – Isso é bom se vier na medida certa. Perguntou sobre como era ser diretor em Hogwarts e chefe da suprema corte em conjunto, se isso já não me distraia o bastante para achar que afetava minha visão das outras coisas. Se isso era o que não me fazia ser tão odiado pelos jornais. Veja, o menino teve um deslize e não vou julgá-lo por isso. Posso pensar que é sua curiosidade, mas também podia ser sua tentativa de fugir de memórias delicadas. Seus tios lhe levaram a um orfanato, é claro que tiveram problemas. E apesar de não acreditar em Rita na maior parte do tempo, se houver alguma verdade em seu artigo sobre Harry, o menino foi levado por memórias que não eram agradáveis e diante de alguém que era indiretamente responsável por elas. É natural que ele se sentisse afetado.
"Diretamente" corrigiu George sentindo sua própria magia começando a se descontrolar de fúria.
— Um bruxo como Harry? – ao menos isso conseguiu falar sem soar como uma maldição que nem conhecia no meio da testa daquele esdrúxulo babaca.
Será que valia a pena ouvir Ron ou seus próprios instintos? Sua razão? Respeitar os sentimentos de Neville tornava-se cada instante mais difícil.
Não podia ele mesmo estourar com a cara daquele diretor pelo resto do ano de todas as formas que conseguisse pensar?
Tentador.
Muito tentador.
E Harrison havia tentado aguentar aquilo.
George podia falhar miseravelmente agora e provar que não eram a droga das artes das trevas que o fizeram reagir e que foi muito contido em descontar no chão, não no alvo certo.
Ninguém podia ser tão ridiculamente tolo. Dumbledore era apenas um velho manipulador como qualquer outro político e George só queria acelerar o tempo, correr para o momento que mostraria isso ao mundo, porque não havia muito mais em seu coração que lhe causaria tamanha felicidade. Que o moveria mais para os próximos dias. A certeza, a necessidade de destruir aquele homem.
Como político, sim, mas como homem.
Queria ele morto.
Albus, por sua vez, se levantou e começou a andar pela sala, deixando os meninos por um segundo em prol de seus próprios devaneios.
Ah, como lidar com tudo aquilo?
Estava conversando com dois, se suas fontes estavam certas e normalmente estavam, amigos próximos de Harrison e eles não ficariam satisfeitos.
Sabia que estava em uma situação delicada uma vez que mentiu usando o nome de Neville para atrair a atenção de Harry e, portanto, tinha de se desculpar com seus amigos também para garantir que tudo continuasse em seu devido lugar.
Para garantir que Harry continuaria sendo aberto o bastante a sua ideia para não escapar de suas mãos antes que fosse tarde.
Agora, mais do que nunca, tinha certeza.
Uma conversa bastava para Albus, que se orgulhava de já ter lido muitos bruxos e de todos os tipos. Aprendera com alguns, sabia identificar maçãs como Tom Riddle, que criavam o risco de apodrecer e levar um campo de macieiras inteiro consigo.
Harry Potter era como seu pai.
E tinha a doçura de sua mãe.
Uma ótima notícia. O garoto tinha esperança. Não era um bruto e descontrolado bruxo das trevas, apesar do deslize. Não queria o mal das pessoas, como Riddle, que com o tanto que Albus puxou, teria feito pior.
Porque Albus tentou.
Foi propositalmente nos pontos onde notava que Harrison tentava escapar e o provocou com cada arma que tinha, para seu próprio demérito. Mostrou seu pior ao menino e testou.
Não havia mal.
Havia a tentativa de ser melhor que aquela magia. Calá-la, era um sentimental e impulsivo grifinório, que tentava ser racional e astuto como uma pequena cobra. Um dragão de coração quente que amolecia ao som do nome de Neville e se lembrava do que era importante.
O amor.
A amizade.
Sabia ouvir e debater, mas Dumbledore não era tolo, entendia que boa parte fora interpretação, mas era muito diferente do que via em Riddle ou Gellert.
Não estava tentando agradar, nem ser apenas civilizado.
Estava tentando ser ele mesmo.
Sua briga não era contra Albus, mas contra si mesmo.
Um bruxo das trevas que entendia o mal em sua própria magia e, portanto, bastava ser liberto dela. Vir para a luz.
Harry escolhera aquela face para lhe mostrar, se forçou a simpatia por conta de Neville, mas mesmo com anos de exposição às artes das trevas e um Guardião tão poderoso, entendia que as artes das trevas tinham de ser contidas, não incentivadas por suas emoções.
E era sincero.
Dizia, mesmo que por trás de floreios e exemplos que poderiam parecer distantes, o que acreditava que Albus tinha de ouvir. Gellert mentia, Riddle nunca falava para não ter provas contra si.
Harrison era uma criança como qualquer outra e boa, dizia o que estava em seu alcance e não via Albus como alguém do qual precisava se envergonhar além do limite do respeito de ser o bom orador que era. O pensador que era.
Não deixou que Dumbledore descobrisse tudo o que queria, mas teve um vislumbre muito positivo.
Seu descontrole não foi nem próximo de Dumbledore, mesmo que fosse aquele que o irritava. Sua magia era um problema, não sua cabeça.
O fato de não repelir imediatamente os ideais de Albus e concordar com alguns, aceitar sentar-se. Falar. Era uma pessoa racional e podia ser convencido por isso e apenas isso, racionalidade.
Não havia sido desacreditado completamente Albus pelas trevas a ponto de confiar em tudo que diziam sobre si e sobre a luz.
Não apenas sua amizade com Neville, que era claramente algo que podia ser usado de forma definitiva, haviam também sinais de que podia ser parte da causa de forma efetiva. Lutar contra Voldemort era uma certeza, o assassino dos seus pais não podia ser perdoado de sua culpa, como Albus que tinha culpa em sua criação. Provavelmente nunca veria Dumbledore com os melhores olhos, mas podia vê-lo como um líder desde que provasse seu valor para tanto.
Desde que Neville se mantivesse de seu lado.
Sabia, por experiência própria, que algum conhecimento e um passado com as trevas não arruinavam um homem disposto. Se quisesse olhar melhor para o mundo, para a necessidade da ordem, da paz que a luz podia garantir a todos, ouviria esse chamado.
Um menino esperto e reservado, mas conquistável com lógica e a verdade. Não gostava que tentassem enganá-lo ou tratá-lo como menos do que era.
Se lhe fosse devidamente apresentada uma proposta digna, seguiria aqueles que queriam a queda de Voldemort e ficaria em Hogwarts, aprenderia a ver por trás da névoa das trevas rapidamente.
Largaria qualquer coisa que estivesse fazendo, por mais preocupada que fosse sua expressão, apenas pela menção de Neville e não deixaria o amigo correr por uma causa sozinho.
O que não faria pelo seu bem maior se o entendesse de verdade?
No fim, Albus não estava errado quando pensou que Neville Longbottom pudesse ser o escolhido da profecia. Neville era, se não, parte dela tanto quanto Harry. Ambos tinham o poder de vencer Voldemort. Sabiam algo que o lorde das trevas desconhece. A força e a valia do amor sincero. Um lutaria pelo outro e por si mesmo.
Os dois seriam precisos para ganhar aquela guerra.
Olhou para Fawkes em seu poleiro, dormindo tranquilamente, não sentindo ameaça alguma, virou-se para Neville, ainda sentado na cadeira e sorriu.
Os dias brilhariam novamente, em breve.
— Deixarei o resto com você, meu menino. Verdadeiramente, sou eu que lhe devo desculpas por apressar as coisas. Você conhece seu amigo como ninguém e consegui ver com meus próprios olhos que se trata de uma pessoa de esperança e bondade no coração. Sei que o levará à clareza e que poderão ser fortes juntos a favor do bem da nossa nação.
George levantou-se, assustando Fawkes:
— Do que raios está falando?
— Senhor Weasley?
— Me desculpe, diretor, mas do meu ponto de vista parece que está recrutando Neville para alguma coisa que definitivamente não é da conta de uma criança.
— George, para – mandou Neville e agora havia emoção em suas palavras.
Havia raiva.
George, muito frustradamente, concordou e se sentou:
— Desculpe.
— Neville sabe a que me refiro, senhor Weasley. Precisamos apenas estar atentos, pois ventos preocupantes sopram no horizonte e os bons são aqueles que os sentem e não ignoram.
— Claro, mas poderia me esclarecer também, professor?
— George, por favor – Neville insistiu, agora olhando para o ruivo, que teve que desviar.
Surpreso como nunca tinha visto tanta raiva naqueles olhos.
Mas isso só o deixou com vontade de chorar ou gritar, porque era pior.
Olhos vazios eram menos preocupantes do que raiva.
Dumbledore não podia se safar de fazer isso com uma criança.
— Acredito que seja um pouco delicado falar sobre isso com o senhor, senhor Weasley – o velho voltou para sua mesa, para se sentar diante deles e encarava George com olhos estreitos. Ouviram Fawkes piar. – Uma vez que não sei qual seu nível de intimidade com o senhor Potter.
— O bastante para lembrar que seu nome é Harrison, não Harry – foi o máximo de rebeldia que se permitiu porque estava quase pondo tudo a perder e tornando Neville exatamente o que não pretendia.
Averso a si.
Sua alteza não aprovaria.
Não por tão pouco.
Neville, para sua sorte, ao menos notou a exasperação do amigo o bastante para decidir que era melhor saírem:
— Podemos ir professor? Agora que estamos resolvidos?
Ou, ao menos, foi o que George achou.
Dumbledore negou com a cabeça:
— Antes de tudo, Neville, gostaria de lhe pedir mais um favor. Ou melhor, um favor e um conselho.
— O que seriam?
— Tome cuidado com o que lê – sussurrou.
Os olhos do menino se arregalaram e arfou ao perceber que de alguma forma tinha sido descoberto.
Imediatamente começou a tentar se explicar e George ficou muito curioso com aquilo, mas o diretor o interrompeu:
— Eu entendo, meu garoto. Seu amigo estuda sobre isso e você pode ter ficado curioso, mas deve-se sempre lembrar que a curiosidade é tanto uma característica a se validar, como também perigosa a quem não sabe mediá-la. Já levou muitos homens a lugares que não foram capazes de voltar.
"Nem era nada demais" Neville pensou em dizer, mas sabia que não era a coisa certa.
Se tinha alguma certeza após ler aquele livro era que Dumbledore estava certo em dizer que artes das trevas eram viciantes.
Eram uma droga em sua totalidade.
Não havia como desvencilhar essa certeza de seu nome.
Uma droga farmacêutica artificial e potente.
Se seria medicinal ou se você tornaria-se vítima de um vício, além de porta de entrada para outras drogas sempre piores, dependia apenas do usuário e da dose.
Albus, obviamente, não queria saber de Neville perto de qualquer dose. Não importava que fosse mínima e que apenas estivera lendo a bula do remédio.
Dumbledore não via necessidade em ter uma caixa daquelas pílulas nas mãos de seus alunos:
— Tomarei cuidado e não vai se repetir.
— Fico feliz em ouvir isso – bateu uma palma, alegre. – As artes das trevas... como eu disse antes, podem levar um bruxo a lugares horríveis e não queremos isso para você. Devo dizer, nem para Harry... Harrison – corrigiu-se ao olhar para George com um sorriso que o adolescente nem se dignou a corresponder. – Já é muito triste pensar na luta que o menino terá de passar um dia.
— A qual luta se refere?
O diretor levou um longo tempo para responder, encarando o teto e pensando bem em suas palavras. De novo, precisava garantir o lado bom dos amigos de Harrison, que eram o que tanto prezava. A quem depositava seu amor. Mas para abandonar aqueles na Durmstrang em prazer dos de Hogwarts, eles teriam que ser convencidos dessa necessidade primeiro.
Suas palavras teriam que ser gentis, apaziguadoras, mas também devia ter certeza de como colocá-las na mente de Neville para que ficassem. Para que entendesse o perigo da situação onde estavam:
— Sabem meninos, o professor Mitrica é um bom locutor.
Os garotos se encararam confusos. Desconfiança pairava no olhar do Weasley.
Receio em Longbottom.
— O que tem isso? – perguntou o mais velho, um tanto impaciente com os rodeios do diretor, é claro. Não estava bem a noite toda.
Deveria prestar mais atenção nos Weasley, imaginou.
— Lakroff Mitrica realmente faz as coisas parecerem interessantes e emocionantes, escondendo a crueldade e o mal que há por trás de suas palavras. Enfrentar dragões, para a maioria dos alunos, pareceu um esporte e fez isso muito bem considerando a posição que lhe deram esta tarde. Seus colegas estavam correndo risco de vida, lutando pela própria sobrevivência e ele conseguia fazer o público rir e vibrar. O ponto é que, não podemos esquecer, mesmo diante de boas palavras, dos riscos para não deixar que sejam cometidos em vão. Isso levaria um de nós, sem dúvida.
— A mesma culpa pode cair sobre Ludo Bagman – George rangeu os dentes.
— Sim, entretanto Ludo vê o mundo como um esporte e mal sabe se preocupar com os males, na maior parte do tempo é um homem bom demais para as maldades que encontra no caminho. Enquanto isso, Lakroff Mitrica sabia exatamente sobre o que falava e como dizer. Não só isso, conseguiu fazer com que tantos simplesmente ignorassem a coisa terrível que Harry fez na arena.
— Coisa terrível que ele fez?
George estava tremendo, suas mãos tremiam tanto que agradecia que a mesa de Dumbledore fosse tão grande e cheia de coisas irritantes para distrair atenção e fazer barulho.
O diretor se inclinou para ele:
— Visualmente tudo pareceu ótimo, veja, ele venceu o desafio com uma capacidade ímpar. Eu lhe dei um dez, ou não? Mas estou pensando nas consequências de suas ações para ele próprio. Entendam meninos, os feitiços que Harry usou naquela arena não eram qualquer arte sombria em ação. Eram parte dos piores encantamentos que se tem conhecimento. Os mais terríveis e algo altamente destrutível para o mundo e o próprio bruxo que as lança. Entendo que na arena, com o sangue tampando os ouvidos e a razão, tendemos a usar apenas o melhor que conhecemos e fugir do perigo, mas havia tanto risco em tentar aquilo que não posso ignorar. O primeiro feitiço, fogomaldito, é conhecido por ter levado a vida de muitos feiticeiros que se achavam capazes de controlá-lo e se enganaram terrivelmente. A sorte do senhor Potter – foi interrompido.
— Sorte? – George estava indignado.
— Sorte, sim. Uma criança não é capaz de controlar as chamas do fogo maldito daquela forma a menos que sua vida dependa disso. Assim como foi. A sorte de Potter foi que fogo é conhecido por conseguir abafar fogo, pois seu primeiro feitiço engole tudo à sua frente e procura alvos vivos, a chama de um dragão é magicamente viva por si só. Parte dele. Isso o salvou de tudo se virar contra o próprio Harry. A combinação de fatores. Não à toa outros jurados lhe deram notas mais baixas, aquilo foi tolice e altamente perigoso. Eu acreditei em sua capacidade intelectual de que sabia das características únicas do fogo e, por isso, foi movido a tentar algo assim, mas concordei com quem lhe tirou pontos por se arriscar tanto por uma chance pífia.
"Ele poderia ter matado todos naquela arena se permitisse se descontrolar por um segundo, se colocasse um pouco mais de artes das trevas dentro do fogo de um dragão daquela capacidade. É praticamente impossível parar o fogo infernal de consumir tudo que vê pela frente, seu nome não mente, é maldito. Uma magia maligna e proibida. É muito errado que alguém naquela idade se acredite capaz de usá-la. Harry, se não for melhor direcionado, está correndo um risco grave de destruir a própria vida com a sua própria magia se continuar por um caminho de arrogância desmedida que a Durmstrang, infelizmente, incentiva.
— Neville – chamou, agora olhando para o mais novo. – Você deve alertá-lo e, principalmente, tomar muito cuidado. Como eu disse, Harry é um menino bom e brilhante, sei que nunca tentaria machucá-lo, mas o que houve em minha sala é uma prova de como as artes das trevas podem agir contra a própria razão de um bruxo como uma maldição. E ele julga válido usar duas maldições fortes em um único dia sob o efeito de adrenalina. Isso pode ser seu maior pesadelo, um dia.
— O que aconteceu aqui prova isso? – perguntou Neville e só agora George voltou a olhar para ele.
Estava tão indignado com Dumbledore e seus absurdos que quase se esquecera do amigo. Apenas via sua raiva.
E nem era um maldito bruxo das trevas.
Neville estava com a cabeça baixa, seus cabelos cobriam-lhe parte dos olhos naquela posição e George só conseguia enxergar como crispava seus lábios com força. Parecia muito chateado e o Weasley temeu como aquelas palavras nojentas afetaram e convenceram o mais novo de alguma coisa.
Sua voz também estava falha, como quando trememos de medo, ou de tristeza quando falou de novo:
— Harrison quebrar sua sala mostra que as artes das trevas o estão levando? O deixando instável, é o que quer dizer? Como usar uma maldição?
— Lamento dizer, meu menino, mas a situação é preocupante. Eu nunca julgaria uma boa pessoa, levada pelas pessoas erradas a acreditar nas artes sombrias por se descontrolar, mesmo assim não posso ignorar o sinal alarmante que isso me dá. A perspectiva terrível para o seu futuro, se não fizermos nada e logo. Vocês talvez não saibam, mas assim como Lakroff dissera, só um bruxo tem um ato registrado de conseguir mudar a forma de seu feitiço protego diabólica. O que ele convenientemente deixou passar é que esse bruxo era Gellert Grindelwald em pessoa.
— Grindelwald? – perguntou Neville. – Ninguém mais?
— Não. Não com provas do feito. Com testemunhas – agora, olhando apenas para Neville, suspirou. – Gellert o fez logo no começo de sua ascensão ao auge da guerra, para matar dezenas de pessoas que não confiavam em suas promessas. Harrison ter a capacidade de realizar tal magia da mesma forma mostra que é prodigioso e isso é ótimo para ele como bruxo, mas uma péssima notícia como pessoa. Mostra um avanço terrível numa magia que pode e quer matá-lo. Há esperança, sempre há, e sei que seu amor por seu amigo não o deixaria ir tão longe, mas é preciso ação. Magia sombria quer prejudicá-lo, maldições tem esse nome por diversos motivos e representam tanto para quem as lança quanto para quem recebe. Não medirá esforços para consumi-lo se não ficarmos atentos a ele e garantirmos sua segurança mais do que nunca. A integridade de Harry Potter depende de nossos olhos atentos agora.
Neville se levantou.
Foi tão brusco e repentino que até George se assustou.
Ele sorriu, um sorriso sem dentes e muito estranho, então se virou para o amigo:
— Vamos – chamou. – Estamos voltando para a torre da Grifinória, professor.
— Não ia visitar o senhor Potter, meu menino? – entendendo que a criança precisava de tempo para pensar em tudo que foi dito.
Rever as ações do melhor amigo naquele dia com o olhar devido.
Levou um susto com a resposta do garoto:
— Pelo próprio bem do senhor, diretor, não vou hoje.
A resposta também chocou George, que estreitou os olhos completamente confusos com o que ouvira.
Parecia tão estranho saindo de Neville como a voz que foi usada para isso;
Quase como se fosse outra pessoa.
Neville não se importou, apenas indicou a saída com a cabeça para George e começou a se retirar.
Dumbledore se levantou, ainda atrás da mesa:
— Neville! O que houve, criança? Tudo que disse é a verdade, se está preocupado com seu amigo, não deve levar levianamente o que eu disse, mas outros percorreram o mesmo caminho e souberam como voltar, a inteligência de Harry – o homem não conseguiu continuar.
Neville Longbottom se virou e os dois outros bruxos se afastaram quando viram que tinha sua varinha em mãos:
— Accio jarra de balas – entoou e como lhe foi ordenada, a jarra onde estavam as gotas de limão avançaram para as mãos de Neville. – Sabia que o professor Snape me deu cinco meses de detenção, professor?
— Cinco meses?
Dumbledore olhava diretamente para jarra, muito confuso:
— Não... isso é muito tempo, quer que eu tente falar com ele, minha criança? Você não parece bem...
Neville negou com a cabeça, parecendo bem indiferente:
— Quero que termine de me dar detenção, entende? Até o fim do ano. Ou pode me expulsar de vez.
— Como é? – foi Dumbledore a dizer, mas poderia ter saído do próprio George, muito perdido, Weasley.
— Sim.
— Por que eu haveria de expulsá-lo?
— Por isso aqui – e sem mais avisos arremessou a tigela de balas contra o diretor.
Albus tinha bons reflexos, teve que abaixar-se por trás da mesa para não ser acertado e conseguiu a tempo.
O vidro entrou em contato com um pilar um pouco mais atrás e foi espatifado em milhares de pequenos pedaços.
Fawkes piou e tentou sair de seu poleiro quando Neville apontou a varinha para ela.
George estava tão em choque que só conseguiu pensar em como Neville daria um ótimo batedor com aquela força ridícula que tinha no braço.
Seu arremesso tinha feito o negócio atravessar bons doze metros antes de arrebentar. Outra que o vidro voou em tantas direções diferentes que George sentiu algo bater em sua mão.
Não sabia se era caco ou bala.
Mas eram provas de força física.
Neville respirou descompassado, mas ainda achou que devia falar. O sorriso estranho de antes substituído por um olhar vazio:
— Espero sua resposta até amanhã. Mas se optar pela expulsão pode avisar diretamente minha avó. Ela vai ficar feliz com a notícia – e saiu da sala, sem nem esperar mais por George.
O Weasley olhou para a porta fechada, ouviu a risada de alguns quadros e as reclamações de outros com ouvidos abafados e distraídos, por fim, virou-se para Dumbledore, que estava em pé tirando algo das vestes em tapinhas, o rosto lívido de terror.
Ao menos isso fez George rir.
E nada melhor que uma risada para trazê-lo ao de sempre.
Se levantou, mas antes de sair os dois ruivos foram surpreendidos pela voz de um chapéu numa prateleira mais ao canto:
— Eu lhe disse antes, diretor. Não deveria interferir na amizade desses meninos. Um sonserino e um Grifinório não ficam amigos de forma leviana, sempre é intenso, seja duradouro ou efêmero, é a amizade mais intensa.
George riu mais uma vez:
— Eu acho que não preciso de nenhum aviso, certo? Não fiz nada para irritar minha mãe. Um boa noite, diretor!
E saiu.
Naquele instante, chocado, perdido, cheio de cacos de vidro e sob o olhar e comentários de dezenas de antigos diretores, Albus se lembrou de algo ruim.
Algo que lhe deu calafrios.
A Voz de Gellert Grindelwald em sua cela:
"Fique longe de Harry Potter ou você vai se arrepender como nunca. É um aviso..."
"Neville Longbottom também".
"...Se arrastar Neville Longbottom para uma guerra, se fizer outra criança um leal, você vai ver o que é um demônio de verdade..."
-x-x-x-
DOMINGO. Três da manhã. Torre da Grifinória.
— Eu não te odeio – foi o que Neville conseguiu dizer, depois de um tempo, sentindo Harrison, aquele bruxo tão forte, tremendo e chorando em seus braços.
Ele estendeu uma das mãos para aquele rosto delicado e macio, então enxugou uma de suas lágrimas, deixando sua mão por lá, apenas na esperança de que isso mostrasse ao menino que podia parar de chorar. Estava tudo bem:
— Está tudo bem Hazz.
— Não está tudo bem! Você estava me evitando!
— Evitando um assunto, não você.
Harry fungou:
— Então me desculpe se eu não entendi e te pressionei. Desculpe se – Neville o apertou mais em seus braços, o calando.
— Pare de pedir desculpas.
— Eu não consigo – e deitou sua cabeça no ombro do mais alto, respirando fundo, sentindo seu cheiro para se acalmar, as lágrimas ainda lentas, mas cada uma era uma facada no peito de Neville. – Não até ter certeza de que você não está bravo comigo.
— Não estou. Desculpe ter gritado por você.
— Está tudo bem.
— Não está. Eu não devia ter brigado com você e não devia ter só evitado o assunto com você assim. Nós sempre contamos tudo um para o outro e você deve ter se sentido mal comigo quase escondendo algo de você. Eu me sentiria mal se você escondesse... isso – e cutucou suas costas, ainda o abraçando. – De mim.
— Eu prometo nunca mais falar com Dumbledore, se isso te incomodou.
— Não é isso – Neville se afastou, mas ainda estava a um passo do outro. – Eu nem sei porque fiquei daquele jeito.
Harrison baixou a cabeça, limpando o rosto que já não tinha mais lágrimas.
Neville teve uma sensação horrorosa, uma lembrança de quando eram pequenos, um dia que Hazz se machucou enquanto brincavam e ele não chorou, como a maioria. Quando Neville perguntou se não tinha doído, ele sacudiu os ombros.
"Muito" e tratou como se não fosse realmente nada, mesmo que as palavras dissessem o contrário.
"É que você não chorou..." murmurou o Longbottom.
"Meus tios não gostam quando eu choro, então eu só tento não chorar".
Neville preferia que Hazz continuasse chorando, se ainda estivesse triste:
— Você está bem?
O moreno inclinou a cabeça:
— Eu que pergunto. Estamos bem?
— Claro! Nunca deveríamos estar ruins!
— Então porque não sinto que isso é tudo?
— Como assim?
O moreno sacudiu os ombros, algo bem incomum em sua forma educada de agir, mas que não era tão novidade para o melhor amigo, que o via sem aquele peso com mais frequência.
— Nev, você pode me dizer porque ficou bravo?
— Como?
— Para eu não fazer de novo. Me diz, o que te deixou bravo.
— Eu não estou bravo com você.
— Você estava.
— Não, eu só... Você só invadiu a Grifinória e eu estava sem dormir, foi – mas foi interrompido.
— Você não sabe mentir.
— Não estou mentindo.
— Está tentando, mas não de propósito, então.
— Eu estou confuso, está bem? – murmurou abaixando a cabeça.
— Isso é verdade. Confuso sobre o que? Eu?
— Não!
— Sobre minha invasão?
— Não! Obrigado por fazer isso, precisávamos conversar para que você não pensasse que eu estava bravo.
— Então? Confuso sobre o que? Tem que ser algo que o fizesse ter como primeira reação brigar comigo de novo agora pouco.
— Você me chamou de idiota!
— Você já estava nervoso antes disso.
— Eu não... – e deixou a frase morrer, encarando seus pés.
— Neville?
— O que?
— Tem certeza de que você não estava bravo comigo? Por ter sido autoritário e por invadir a torre?
— Tenho!
— Você parecia incomodado...
— Não estava.
— Então porquê?
— Eu não sei! – admitiu bufando, mas foi até Hazz e o abraçou de novo, apenas para que o menino soubesse que não precisava temer a pequena explosão. Eles ainda estavam bem.
— Posso falar uma teoria?
— Claro.
— Não pode ficar bravo.
— Eu não ia ficar!
— Esse seu tom é de bravo.
— É porque você está sendo um irritante de propósito, sabe disso.
Hazz riu e isso fez Neville rir, então os dois entraram em uma zona de silêncio confortável onde podiam se sentir bem e seguros.
— Minha teoria – começou o moreno, depois de um tempo. – É que você não queria que eu invadisse sua privacidade. Eu estava te perseguindo a uma semana com um assunto que você não queria falar, fui para a sala desse assunto, o que pode ter te feito acreditar que foi para enfrentar Dumbledore por isso ou algo assim – ele foi interrompido, Neville se afastou de novo, para olhá-lo nos olhos.
— Não foi?
— Como? Claro que não! Acha que o que? Eu invadi aquela sala e... – deixou a frase morrer.
— Pode falar.
— Não quero.
— Por favor.
Harrison bufou:
— Está bem. Acha que eu invadi a sala do Dumbledore exigindo que ele se explicasse e o mandando para o inferno por ter lido sua mente?
— Não foi isso?
— Não! Eu estava voltando para Hogsmeade depois de ter ido buscar uma coisa no barco, estava com pressa porque o pessoal estava me esperando e ele estava na estrada para o vilarejo. Ele me chamou e quando disse que tinha que correr ele... – Harrison hesitou, crispou os lábios, olhou para o lado e antes que Neville pudesse insistir, bufou e tornou a falar – Você que pergunte a ele depois para confirmar, mas Dumbledore disse para eu ir para sua sala porque você estava lá.
— Como é?! – Neville se afastou mais e Harrison não gostou daquilo.
— Nev...
— Ele fez o quê?
— Não fica bravo.
— Hazz, me responde.
— Para conversarmos na sua sala que você estava lá e eu fui porque não queria pensar em te deixar sozinho, me desculpe. Desculpe mesmo.
— Para de pedir desculpas! – pediu colocando as mãos na cabeça.
— Você está ficando bravo de novo.
— Não estou bravo com você!
— Está com o que então?
— Você ainda pergunta?!
— Sim... eu só... Nev, eu não quis te deixar – foi interrompido.
Neville deu um gritinho.
— Que inferno! Pare com isso, para de se colocar como o culpado! Dumbledore te chamou na sala dele e te enganou para isso! Eu estou bravo com ele, que caralhos!
Harry arregalou os olhos, espantado com o amigo usando um palavrão. Era algo bem raro.
— Não comigo?
— Claro que não! O que mais? O que ele usou para justificar ter te enganado?
— Ele não usou nada. A gente conversou. Eu tentei ser o mais simpático que consegui, porque sei que você gosta dele...
— Como é?!
— Você realmente parece bravo agora... – e abraçou seu próprio corpo, parecendo bem pequeno e com medo.
Ele estava com medo de Neville.
Medo da raiva de seu amigo.
Isso mexeu muito com o menino, que negou com a cabeça, muito triste:
— Ele foi parte de tudo que... que você passou.
— O que tem?
— E você tentou ser simpático por mim?
— Sim, é claro. Você foi simpático com Gellert Grindelwald por mim! Mesmo que fosse um quadro...
Isso, ao menos, tirou uma risada mórbida de Neville:
— Ele tem um bom papo.
— Não é?
— Não faz mais isso.
— O que?
— Ir para a sala de Dumbledore. Nunca mais.
— Por quê? Posso saber? – e parecia com medo de fazer a pergunta.
— Eu – começou, mas não conseguiu terminar.
Neville sentiu uma dor de cabeça tremenda e encarou o chão mal iluminado da torre, sentindo de repente muito frio. Ele juntou suas mãos e soprou, viu quando Hazz correu para o sofá que estava antes, então voltou com a coberta, cobrindo-o para aquecê-lo. Precisou rir disso, porque a situação era impensável para o Neville de pouco tempo atrás, tudo era impensável, mesmo assim ali estava ele.
Sua cabeça doía.
— Nev – chamou o amigo.
— O que foi?
— Você está bravo com Dumbledore?
A dor piorou. Como uma pontada bem no topo do cérebro. Ele tremeu e fechou os olhos com força, sentindo-se fraco e abalado, Harry notou, pediu desculpas, o levou para se sentar e se agachou a sua frente, esperando que o amigo tivesse seu tempo. Mil coisas se passavam em sua cabeça, mas a única certeza que o menino tinha era que não queria explodir com seu amigo. Não de novo. Hazz não merecia isso.
Mas ele queria explodir.
Tinha algo queimando dentro dele e não sabia por onde devia vazar.
E estava doendo.
— Nev – Hazz ligou novamente.
— Oi – sussurrou, porque foi o máximo que conseguiu enquanto se segurava as cobertas com toda a força e mesmo assim tremia de frio.
Mesmo com o calor da explosão interna.
— Você ficou bravo conosco porque invadimos sua privacidade?
Houve uma longa pausa. Tão longa que Harry se sentou no chão e Neville abriu espaço no sofá e abriu os braços, o convidando a se juntar debaixo da coberta. O amigo aceitou e os dois ficaram abraçados e aquecidos, até enfim Neville se acalmar:
— Hazz?
— Sim?
— Podemos não falar disso?
— É claro, Nev. Quer falar do que?
E o Longbottom teve que rir, Potter ficou confuso vendo o amigo rindo, mas sorria, feliz que estivesse o fazendo. Por fim, o loiro respondeu a dúvida silenciosa:
— Desculpa não ter feito isso desde o começo. Nos teria poupado muito, não acha?
— Com certeza – e riu também agora.
Os dois rindo juntos, a risada se tornando uma gargalhada, pois sempre que um olhava para a cara do outro parecia ficar engraçado de novo, assim até quase perderem o ar.
Como tinha que ser.
-x-x-x-
— O que foi aquilo?
George não conseguiu se impedir de perguntar enquanto ele e Neville seguiam por um caminho habitual e visível direto para a torre da Grifinória.
O mais novo na frente, com passos firmes e expressão muito irritada.
Weasley ainda estava muito espantado, mas principalmente feliz e orgulhoso, seja lá qual tenha sido a motivação do seu amigo, porém sua curiosidade não deixava aquela informação apenas escapar.
Nev ficou um tempo naquela caminhada silenciosa antes de bufar alto, parar e chutar uma das paredes de Hogwarts com força ao ponto de George ficar com medo de ter se machucado.
Não pareceu o caso, já que o menino andou normalmente depois:
— Você ouviu o que ele disse?
— Como?
— Dumbledore! Ouviu o que aquele... aquele velho disse!
Apesar da hesitação e de que aquilo não era mais que um fato, George não deixou de se surpreender com o fato de que Neville havia tentado falar de forma pejorativa sobre Albus.
Isso era bom.
Um ótimo sinal!
— Ouvi tudo, todos os absurdos, mas qual te fez jogar uma coisa na cabeça do seu diretor?
— Tipo, tudo? – bufou e esfregou a cabeça, bagunçando totalmente seus cabelos. – A começar que ele não parava de chamar Harrison de Harry e ele odeia que quem não tenha sua intimidade faça isso! Você corrigiu, que inferno!
— Bem, sim, mas daí jogar uma coisa na cabeça dele?
— George!
— O que?
— Caramba, você estava lá!
Neville tremia de fúria, não tinha conseguido descontá-la apenas arremessando aquelas malditas balas no idiota.
— Hazz comeu uma daquelas coisas! Ele tentou tanto, tanto, ser legal e por minha causa! Tudo para aquele homem simplesmente mentir e distorcer tudo! – reclamou, arrancando sua gravata que estava o irritando.
"...mas foi uma coincidência o encontrar, pensei que seria parte do destino e algo que não precisava desperdiçar..."
— Você tem noção do quão terrível foi isso?! Ele chamou Harrison, impediu ele de continuar até seus amigos, entrou na sua frente! Então o atraiu com o meu nome para a sua sala, num dia que quase a escola toda estaria fora, que Minerva, a única outra pessoa a saber da senha da sala, estava fora. Levou-o para uma sala fechada e sozinho. O distraiu falando de assuntos que Harry gosta e tudo para que? Ficar sozinho com ele? Isso é tão nojento e perturbador! Ele pegou um dia onde até eu estaria ocupado! Onde Lakroff estaria! Não pode ser coincidência! Não parece coincidência, para uma maldita oportunidade que ele não quis desperdiçar, como bem disse, mas para que?! – Neville tremeu, sentindo-se de repente enojado.
A situação era perturbadora de um jeito que não gostou nem um pouco.
Por isso correu para a sala assim que Gina lhe contou, por isso estava tão bravo, por isso descontou sua raiva até em Harry, porque achou que ele tinha ido por conta própria no pior dia do mundo, tinha ido enfrentar Albus num momento tão fácil para ser atacado e teve que reagir! Teve que quebrar a sala do idiota! Mas...
Ele não foi por escolha própria.
Ele foi atraído. Como uma maldita presa numa armadilha.
Dumbledore era o único problema.
Neville estivera bravo com a estupidez de Hazz em se arriscar tanto e com Dumbledore por deixá-lo entrar.
Agora sabia que seu amigo foi enganado.
Sua fúria era toda para o homem idoso que atraiu seu amigo e o forçou a uma situação desconfortável e sozinho, tudo em nome de Neville, para...
— Que inferno!
— Você está praguejando muito, leãozinho.
— Vou fazer isso mil vezes, se for preciso!
"...achei que Harry merecia ouvir de minha própria boca" as palavras de Dumbledore se repetiam na cabeça do menino.
"Harry me garantiu que, apesar de qualquer coisa com os tios, não me julgava por fazer o que estava previsto na lei, mas concordamos que existem aspectos no papel de um guardião mágico que mereciam mais atenção dos termos legais e estávamos tendo uma boa conversa no geral"
Era mentira! Hazz odiava aquele homem, lhe disse enquanto estavam juntos na torre. Ele só era bom demais. Ele só fez de tudo por Neville. Foi atraído por causa de Neville, foi machucado até estourar por causa de Neville!
Tudo para deixar Neville feliz!
"Me desculpe, se eu não existisse Dumbledore nunca teria lido sua mente, é claro que você não quer falar comigo. Eu sou o culpado dessa merda e só te causei chateação"
— Mas que ódio! – gritou, o que fez eco no corredor vazio e fez os quadros pularem de susto, sendo acordados.
Eles começaram a reclamar e Neville sentiu vontade de mandar todos a merda, mas continuou seu caminho:
— Harrison me pediu desculpas ainda por cima! Como se fosse culpa dele! Disso que por causa dele Dumbledore tinha lido minha mente! Agora com que cara eu fico? Por minha causa ele foi atraído até Dumbledore e pressionado até ter uma explosão, então agora é o mal bruxo das trevas com sinais de descontrole! Ele nem estaria naquela sala se não fosse por mim! Estaria aproveitando o passeio com Luna e o idiota do Malfoy, mas estaria se divertindo! Ao invés de comendo gotas de limão e conversando com o homem que o deixou quase morrer por negligência e um homem que ainda quer se justificar! Para uma criança! Através de uma mentira! E que já espera o pior dele, isso é tão errado!
George concordava, mas sentia que era melhor não falar nada. Neville não parecia necessariamente estar falando com o Weasley, mas consigo próprio.
Estava furioso. Em como Harry tinha se forçado a ser alguém que não era apenas para agradá-lo. Apenas para que Nev não ficasse bravo e, no fim, o amigo ainda descontou nele. Ainda o deixou sozinho. Ainda se sentiu coagido a entrar no fogo tudo para que ficassem bem.
Aquilo era ridículo, Neville não podia ser tão importante para Hazz, mas... ao mesmo tempo lá estava Nev disposto a perder sua vida, seus amigos e tudo que conhecia apenas para arremessar um objeto na cabeça de seu diretor para defendê-lo.
Harrison pensou que se enfrentasse diretamente Dumbledore, mesmo quando tinha todo o direito de fazê-lo, era melhor que irritar Neville.
O amigo do meu amigo, deve ser amigo.
Hazz não tinha que fazer aquilo, mas Neville confiava em Dumbledore e isso bastava para que o menino não ultrapassasse nenhuma linha.
— É tudo culpa minha agora – pensou em voz alta.
Sentindo-se miserável.
— De uma coisa eu sei, pelo menos.
— O que? – desta vez George achou que era consigo.
— Eu posso usar a biblioteca da Durmstrang na próxima.
George se lembrou do momento em que Albus avisara Neville para tomar cuidado com o que lia e entendeu imediatamente o que o menino queria dizer.
Seja lá o que Albus não queria que o menino lesse, ele continuaria fazendo.
Onde o velho não podia alcançá-lo.
— O pior foi o final, sabe? Quando não aguentei mais e tentei sair, mas não, Albus Dumbledore não aceita uma pessoa ter seu tempo, ele tem que insistir. Te forçar ao seu pior! "A integridade de Harry Potter depende de nossos olhos atentos agora". Agora?! O desgraçado diz que agora a integridade do Hazz depende dos seus olhos atentos quando ele precisava dessa maldita atenção há anos e não teve, o velho filho da – mas não terminou. Ele socou a parede com força e George pulou no lugar, vendo que o menino chegou a se machucar com isso.
Sua mão sangrava.
Nunca, mesmo com os quatro anos convivendo com o menino em Hogwarts, ou com suas visitas à casa Weasley nas férias, imaginara que Longbottom fosse tão agressivo.
Estava conhecendo uma nova face do menino.
Uma que arremessava coisas, chutava paredes e batia nelas quando estava irritado. Daí, percebeu algo interessante.
Talvez nunca tenha visto Neville Longbottom irritado.
Podia ser impressão sua, mas Neville era alguém tão pacífico que não se permitia irritar-se, muito menos aquele ponto. Ele era uma pessoa apaziguadora que evitava conflitos diretos e mesmo quando enfrentava o que acreditava ser o mal, o fazia com uma certeza que não exigia uma briga psicológica.
Neville estava em uma briga psicológica naquele momento.
Ele venerava Dumbledore devido a, principalmente, uma dívida de vida, mas estava o questionando e se irritando com o homem por algo que parecia ainda mais importante e intocado: Harry.
Isso devia estar o destruindo por dentro de forma que nunca precisou antes. Tomar partido de algo que não parecia ter uma resposta clara, não para um bruxo da luz.
Pela primeira vez, tudo que um dia pode tê-lo irritado, estava saindo. Vazando por entre seus poros. Neville Longbottom era uma pessoa pacífica, mas estourava e quando o fazia, era agressivo e nocivo com quem poderia ser seu alvo, ou consigo mesmo.
Essa agora era a nova imagem que George tinha do menino e isso o intrigava:
— Vamos, temos que curar sua mão antes que infeccione – e começou a andar mais rápido para a torre da Grifinória. – Tenho uma poção que pode servir.
Neville concordou, mas estava muito distraído com seus pensamentos para falar algo diferente.
Sua cabeça estava zumbindo, seu peito queimava de raiva, sua mandíbula estava tão firme que rangia, pior do que quando enfrentou Snape na semana anterior.
Estava ciente de que tinha feito algo tão ou mais absurdo quanto naquele dia, mas não conseguia se importar o suficiente em nenhuma das duas situações.
Mas agora era pior.
Não esperava nada de Severo Snape. Aquele homem podia ir para o inferno.
Mas Albus Dumbledore? O homem que o tratava como neto? Que o incentivava e o lembrava de ser forte quando Hazz estava muito longe para fazê-lo? Que o aconselhava e ensinava desde seu primeiro ano? Que o salvou e salvara centenas, talvez milhares de pessoas antes?
Deste esperava mais.
"...Como eu disse, Harry é um menino bom e brilhante, sei que nunca tentaria machucá-lo, mas o que houve em minha sala é uma prova de como as artes das trevas podem agir contra a própria razão de um bruxo como uma maldição. E ele julga válido usar duas maldições fortes em um único dia sob o efeito de adrenalina. Isso pode ser seu maior pesadelo, um dia..."
O maior pesadelo de Harrison? Sempre seria fogo.
Enquanto seu corpo insistisse em manter aquelas cicatrizes, enquanto se olhasse no espelho e procurasse por elas até enxergar apenas isso, enquanto tivesse que pensar em diferentes formas (até criar um feitiço novo) para enfrentar o fogo, treinasse com ele até a exaustão para ter certeza de que sempre seria uma arma incapaz de machucá-lo de novo.
Enquanto chorasse de estresse pós-traumático depois de enfrentar um dragão ao ponto de gritar e soluçar agarrado a seu melhor amigo, seu maior pesadelo nunca seria a merda de uma maldição.
Seria uma simples mulher trouxa, com gasolina e um isqueiro.
Seria sua tia com uma arma, seria uma estação de trem em Moscou e seu corpo queimando.
Neville era um garoto impulsivo, mas sua impulsividade nunca foi um problema para si. Suas atitudes podiam ser questionáveis, mas tinha convicção na necessidade delas. Mesmo quando perdia pontos ou se metia em encrenca, preferia errar impulsivamente, do que se arrepender de não ter feito nada. Mesmo quando Lorde Voldemort estava consigo nas mãos e pronto para matá-lo, não se arrependia de ter entrado no corredor do terceiro andar e enfrentado os desafios até a pedra filosofal.
Se morresse, teria morrido tentando impedir o retorno de Voldemort e isso valia uma vida. Valeu a de bruxos melhores que ele.
Valeu a de seus pais.
E dos de Harry.
Valeu a própria vida que Harry merecia ter e perdeu por ser órfão.
Se pensava assim com onze anos, o que seria de sua cabeça aos quatorze? A morte não era um problema, a expulsão? Não poderia se importar menos.
Talvez devesse ter arremessado mais uma coisa.
"...Harrison ter a capacidade de realizar tal magia da mesma forma mostra um avanço terrível numa magia que pode e quer matá-lo. Há esperança, sempre há, e sei que seu amor por seu amigo não o deixaria ir tão longe, mas é preciso ação. Magia sombria quer prejudicá-lo, maldições tem esse nome por diversos motivos e representam tanto para quem as lança quanto para quem recebe..."
Dumbledore não sabia de nada, ele não viu como Harry tremeu.
Como estava abalado desde domingo, sentindo-se miserável só de se imaginar enfrentando fogo sozinho.
Então usou uma maldição? O que tinha? Ele aprendeu tudo o que podia e claro que teria aprendido com Lakroff como usar cada coisa que pudesse. Podia prejudicá-lo? Provavelmente! Era assim que funcionavam as artes das trevas, agora Neville sabia e era porque ele buscou aprender! Porque Neville foi atrás de um livro, porque Krum lhe ensinou sobre os três princípios das artes das trevas, emoção, desejo intenso e sacrifício.
Se Harrison precisasse se sacrificar para não ser queimado vivo de novo ou mostrar a uma maldita arena que o assistia como a merda de um esporte seu maior medo se desenrolando na sua frente, ele o faria. Porque era fogo! Porque ele tinha medo e precisava sobreviver além disso! E sozinho!
Porque Dumbledore, de novo, não foi capaz de fazer o mínimo e protegê-lo da taça!
Ele estava sozinho e fez o que podia!
Sim, Harrison era instável, mas isso se deve pelo fato de que aquele velho nojento deixou uma família torturarem-no psicologicamente por anos, até atirarem nele, o jogarem num orfanato que provavelmente sabiam que o odiaria e então ganhar o maior trauma de sua vida!
Agora que era um bruxo das trevas e não via solução melhor do que um feitiço ensinado pelo próprio homem que o salvou de morrer em uma maldita fogueira de caça às bruxas, era muito valioso prestar atenção nele? Porque usava feitiços das trevas para se proteger?! Se nunca machucou ninguém com eles?! Mesmo tendo a cabeça completamente arruinada, ainda se manter íntegro e mesmo assim ser julgado por alguém que deveria protegê-lo de tudo isso?
Dumbledore queria o que?!
Que usasse um Expelliarmus contra o maldito dragão?!
Para o inferno com isso!
No dia que tivesse que enfrentar seu maior bicho papão, sozinho e assistido por centenas de bruxos, aí poderia julgar a escolha de uma criança em como se salvar.
Ou não!
Dumbledore não podia dizer que o Fogomaldito ou qualquer coisa do tipo era muito perigoso e arriscado, não quando pensava em um adolescente contra um dragão!
O importante sempre seria sobreviver! Ainda mais para um sonserino!
— Aquele velho estupido!
— Eu concordo – George riu e Neville ficou feliz que ao menos um deles ainda conseguia ter humor naquela situação.
Também ficou feliz quando chegaram à Grifinória, com sua adrenalina começando a se dissipar e sua mão mostrando os sinais de dor, o gêmeo se mostrou realmente preparado com um kit de primeiros socorros e curando sua mão.
-x-x-x-
DOMINGO. Quatro da manhã. Torre da Grifinória.
— Na próxima só me avisa que você está querendo estudar sozinho, está bem? – resmungou Harry, brincando com a palma da mão de Neville, contornando as linhas que via por ela, causando arrepios no outro. – Eu juro que deixo você em paz e nem falo nada.
Neville negou com a cabeça. Tinha contado ao amigo o que vinha fazendo nas últimas semanas:
— Desculpe, eu queria poder fazer isso sem nenhuma interferência, mas realmente acabei te machucando. Nunca foi minha intenção.
— Eu sei, você não machucaria nem uma mosca de propósito.
— Ei! Eu matei um basilisco centenário.
Harrison riu:
— É, você deu um jeito naquela coisa. Cegou ela e deu umas boas espadadas. É realmente incrível para uma criança de doze anos.
— A fênix cegou, mas obrigado.
— De toda forma, eu não errei. Se o basilisco não tivesse machucando ninguém você não o teria atacado. Você é um bichinho pacífico, só ataca se sentir-se ameaçado.
— Ei, não me chame de bichinho!
— Mas você é um leão, não é? – perguntou piscando os olhinhos para Neville que lhe empurrou o rosto na outra direção, fazendo o amigo rir.
— Essa sua cara não funciona comigo, vai usar em outro.
— Cadê o Ron?
— Hazz! – reclamou, enciumado.
— Desculpe, parei.
— Harry?
O menino apenas murmurou um "hum" enquanto voltava a agarrar a mão do amigo e brincar, agora abrindo e fechando os dedos um por um.
Era muito fofo, pensou o mais alto:
— Desculpe por achar que você ficaria furioso e surtaria com Dumbledore. Eu tinha que ter lembrado que você é mais controlado que isso. E que não me forçaria a falar de algo que não quero. Se eu fosse mais aberto desde o princípio...
— Está tudo bem. Eu podia ter invadido esse lugar a dias também, mas fiquei enrolando esperando você.
— Você não está errado em esperar.
— Eu estava a partir do momento que eu não queria e somos amigos. Você ia querer que eu ficasse te escondendo que estou morto de medo de enfrentar fogo e prestes a chorar só de pensar que você não estaria lá torcendo por mim?
— Não, claro que não!
— Pois bem. Eu podia ter te falado antes. Podia ter falado para todos, mas estou até agora tentando evitar que Viktor se lembre disso. Mas sei que ele vai e isso pode distraí-lo e aí ele vai ficar em perigo. Não quero isso.
— Posso falar com Viktor.
— Se você achar um jeito de ele não tocar nesse assunto de jeito nenhum? Eu seria muito grato.
— É, parece que todos temos coisas que não queremos falar.
— Não.
— Como foi com Dumbledore? Quer falar disso? Ele fez alguma coisa? Bem... fez, se não você não tinha estourado, mas o que foi?
— Nada demais.
— Não precisa defendê-lo por minha causa. Pode odiá-lo em paz.
— Ah, sobre isso eu o odeio. Estou furioso e quero que aquele velho morra no tártaro, mas isso não quer dizer que você tem que concordar.
— Hazz!
— O que foi? Você ama Hermione e não concorda com o F.A.L.E, não é mesmo? Está sempre tentando evitar que ela puxe esse assunto em especial comigo. Amigos podem sempre discordar, mas também sempre vou estar do seu lado. Se você gosta daquele velho por algum motivo, eu sei que não é diferente de tantos outros que gostam e acreditam nele, porque tem potencial, tem ideias pelos quais luta, é poderoso e um acadêmico renomado. Fiz perguntas o bastante para ele para entender um pouco melhor esse fato. Ele é inteligente, mas é... é um acadêmico burro.
— Como é?
— Acadêmico burro. É como Lakroff chama pessoas que tem conhecimento, mas não sabem usar. Dito isso, queria lembrar o que estava falando. Não precisamos concordar em tudo. Eu só vou tentar suportá-lo sempre que me chamar para falar na sala dele, assim como você é tesoureiro do F.A.L.E e suporta Hermione falando sobre isso. Não te torna menos especial para mim e você é forte e decidido, é um leão! Pode decidir o que fazer com quem mexe com você sozinho. Eu empurro os meus da escada, se quer uma dica.
— Hazz!
— O que eu fiz agora?
— Suas brincadeiras macabras...
— Ainda não se acostumou, já estamos nisso há quase uma década, Nev.
— Acho que nunca vou me acostumar – suspirou.
Harrison riu e inclinou-se, para colocar a cabeça no ombro do amigo:
— Ele quis saber mais sobre Heris. Se meu irmão era um bom tutor, se cuidava bem de mim, se não havia problema entre nós. Tentou saber mais do meu passado com meus tios, eu ficava trocando de assunto e fazia perguntas sobre ele. O que me fez estourar foi uma insinuação chata sobre bruxos das trevas, mas eu já estava bem frustrado até lá. Desculpe. Realmente foi uma péssima ideia tentar me dar bem com ele, mesmo que por você.
— Não se julgue por tentar. Você fez isso por mim, eu agradeço... Mas não repita.
— Como mandar, senhor. Nunca mais.
E os dois riram juntos. Hazz bocejou:
— Só não queria te decepcionar, ou te deixar bravo. Nunca quis brigar com você – e fechou os olhos, claramente com sono.
Neville suspirou.
Hazz tinha tentado.
— De verdade – dizia o de olhos verdes. – Você me desculpa por isso, não é? Se não fossemos amigos nada disso teria acontecido na sua vida, eu te envolvi em um problema quando me tornei uma espécie de segredo de estado e te deixei com a responsabilidade de guardar a coisa. Você deve ter me odiado uma parte do tempo.
— Nunca! Hazz, eu nunca gostaria que fosse diferente disso! Você e Ron são meus melhores amigos e quero que possam me contar tudo! Nunca, nunca pense que eu seria melhor sem essa certeza. Você teria que ter me tirado da sua vida para que isso tudo não acontecesse um dia e eu não poderia viver com isso!
— Mesmo? Mas e se isso não fosse o melhor para você? Você estaria mais seguro comigo longe. Eu sou um imã de problemas e eles foram para você agora e eu... achei que era por isso que estava se afastando. Porque percebeu e não queria mais isso na sua vida...
Hazz um imã de problemas? Neville estaria melhor sem ele?
— Por favor, para.
— Desculpe.
— E pare de pedir desculpas! Hazz! Você já olhou para a minha vida? Eu que só atraio loucuras, menino que sobreviveu, já estou mais invicto que você! Tenho quase certeza, pelo menos em enfrentar Voldemort de frente.
Aquilo ao menos fez Hazz rir novamente, seu corpo tremendo e fazendo cócegas em Neville, que também sorriu. Odiava ver Harrison deprimido. Esse era seu amigo, aquele que ria. Faltava apenas voltar para as piadas:
— Eu preciso de você, Hazz, nunca duvide disso. Sempre precisei ou já teria sido pior a anos. Sem você minha vida não gira. Nunca pense diferente disso!
— Mas gira para o lado certo?
— Sempre. Eu faço sua vida pior?
— Nunca!
— Então – e pegou agora ele mesmo a mão do amigo, enroscando seus dedos mindinhos. – Me promete nunca mais pensar diferente disso?
— Disso o que?
— Que somos melhores juntos. Que somos amigos. Que o mundo gira para o lado certo quando estamos nessa um com o outro, sempre.
— Eu prometo se você prometer também.
— Eu juro por tudo, Hazz.
— Então eu juro também – encarando os dois dedos juntos, sussurrou. – Sempre.
— Sempre – sussurrou também.
Hazz continuou encarando os dedos por um tempo com aqueles olhos verdes brilhantes, como se pudesse ver um mundo ali. O futuro onde estariam sempre juntos. Nev permitiu que ficasse assim até enfim ser o primeiro a separá-los quando ouviu o menino bocejar de novo.
— Vamos para minha cama, vamos dormir.
— Posso dormir aqui?
— Claro. Você sabe um feitiço de privacidade? Podemos conversar até você dormir.
— Vamos! – e se levantou, muito feliz.
Enquanto subiam as escadas em silêncio, Neville se sentia mal.
Ele tinha brigado com os dois.
No fim, tentando não magoar ninguém, abandonar ninguém ou sentir que tinha descartado as coisas que um ou outro lhe diziam, Neville havia gritado com as duas pessoas que tentou proteger.
Tinha seguido o conselho de Heris, ido atrás de senso crítico e opinião própria, mas tinha feito da forma errada.
Deixou Hazz no escuro e preocupado que fosse culpado de algo que não fez.
Brigou com Dumbledore porque mesmo que tivesse perdoado, entrou em pânico pensando que ele poderia fazer o mesmo com Harry.
Tentar ler sua mente.
E não conseguia conceber que seu amigo passasse por aquilo com aquele homem que o magoara tanto. Seria demais. Neville confiava em Dumbledore, Hazz não.
Seria uma violação total de sua privacidade intelectual.
Falhou em tudo. Com os dois. Porque era fraco e não conseguia enfrentar a situação de frente desde o princípio. Porque precisava estudar, porque não conseguia formas de dizer que não concordava com alguém.
Quando podia!
Ele tinha o direito de discordar de um amigo! Assim como Harry tinha o direito de achar um acadêmico burro, por mais irônico que fosse! Porque pessoas têm opiniões!
Podia pensar que Dumbledore tinha sua razão em achar artes das trevas uma droga viciante que Hazz devia se afastar, mas Hazz tinha o direito de pensar que era o melhor remédio para sua condição e garantir que não estava viciado.
Por fim, Neville tinha o direito de pensar que, mesmo não estando viciado, se não era melhor se afastar daquilo antes que ficasse.
Eram opiniões.
Ficou tão preocupado em brigar, em causar um confronto com qualquer uma das partes, que se escondeu de ambos e tornou tudo uma imensa bola de neve que jogou em cima dos outros.
Era tudo culpa sua.
Era um idiota, um péssimo amigo e não era à toa que ninguém além de Dumbledore confiava nele para qualquer coisa.
Neville era uma criança burra que não conseguia tomar uma atitude a menos que fosse no impulso.
Dumbledore não era nem de longe o mais são dos homens e Hazz o achava um idiota.
Por isso que era tão inseguro e depositava tanta comparação de si próprio em Harry, que sempre tinha tudo sobre controle e sabia exatamente o que dizer ou pensar sobre as coisas. Neville não passava de uma criança, enquanto Hazz era o presidente do conselho estudantil e sua alteza!
Longbottom sentiu-se muito pouco para qualquer coisa. Para a confiança de Dumbledore, para o tempo de Viktor Krum e, principalmente, ser amigo de Harry.
No meio de sua dor e autodepreciação, ouviu um sussurro:
— Nev?
— Oi, Hazz.
— Eu te amo, sabia?
E aquilo socou seu peito e empurrou lágrimas quentes para seu rosto, que precisou de muita força para mantê-las presas nos olhos e não escapar.
— Eu também te amo. E nunca mais me deixe ser tão idiota de novo. Pode invadir qualquer lugar e me dar um tapa para me acordar.
— Eu prefiro dar um abraço, mas tudo bem.
Eles se deitaram na cama de Neville, Hazz parecendo muito animado e explicando depois que era sua vez de ir para a festa do pijama, já que já tinha convidado Nev uma vez para o próprio quarto.
Parecia uma criança de novo e fez o Longbottom se lembrar que era.
Os dois eram.
Tinham a mesma idade, apesar de tudo que Hazz fez.
Neville abraçou o amigo e quis dormir assim, não queria abandonar Harrison nunca mais.
Ron os pegou no dia seguinte e quase teve um ataque com Harry Potter no dormitório deles.
Mas ajudou a escondê-lo na saída e o convidou para dormir no dia antes da primeira tarefa por lá também.
Hazz disse que provavelmente fosse querer ficar com Viktor, mas lá pelas duas apareceu e foi entrando pela janela com sua vassoura, se aconchegando debaixo das cobertas de Neville de novo. O loiro achou impressionante que isso tenha sido o bastante para que Harrison conseguisse dormir considerando o tanto que parecia assustado para o dia seguinte.
Mas estava funcionando, então tudo corria bem.
Como sempre, quando estavam juntos.
-x-x-x-
QUARTA-FEIRA. Duas da manhã. Torre da Grifinória.
Neville sentou-se em uma das mesas do salão comunal, escutando a música e vendo como muitos ainda festejavam.
Teriam problemas no dia seguinte, certeza. George terminava de lhe fazer o curativo;
E sorria:
– Ao menos vocês fizeram as pazes.
– O que?
– Você e Harrison. Pelo jeito fizeram as pazes e isso é ótimo. Ele estava sentindo sua falta.
– Nós não brigamos, para começar.
– Não? E seu surto depois de arrancá-lo da sala de Dumbledore? Como se fosse culpa dele ter sido enganado.
Neville corou fortemente:
– Eu não sabia que ele tinha sido enganado e levado para lá. Agora até você sabe disso?
– Ron me contou.
– Ótimo, aquele traidor.
– Não ligue para isso, eu e meus irmãos estamos mais próximos esse ano. Achamos que é a ausência de Percy – mentiu.
— Eu achei que Hazz tinha ido tirar satisfação por mim.
– E o que tinha de tão errado se fosse isso?
Neville baixou a cabeça:
– Eu não... queria. Estava tentando evitar um confronto de todas as partes.
– Às vezes o confronto direto é melhor. Lavar a roupa de uma vez e usar um conjunto limpo, ao invés de se arrastar na sujeira por dias;
– Agora eu percebo isso. Mas sabe? Hazz me falou uma coisa que me fez ver que não tinha problema.
– Diga-me.
– Que se fosse com ele, se alguém amigo ou não, lesse sua mente, eu provavelmente teria ido até a pessoa e jogado alguma coisa na cabeça dela, no mínimo – George riu e Neville corou, mas sorria também, constrangido. – Eu disse que não era verdade e ele insistiu que eu teria feito alguma coisa, mas que entendeu desde o princípio que eu não queria que ele se envolvesse e respeitou isso. E é verdade. Ele não fez nada que eu não pedisse e esperou por mim pacientemente até quase o fim. Até não aguentar mais. Ele só queria que eu tivesse dito diretamente meus sentimentos, não esperado que ele interpretasse. Hazz é muito lerdo, sabe? Principalmente sobre sentimentos.
– Mesmo?
– O pior. Uma enorme porta. Com os mais óbvios ele entende, mas ele nunca vê as entrelinhas. Se está bravo, ele sabe que está e consegue adivinhar o motivo, mas não vê que você ficou quieto porque precisava de tempo para se acalmar e pode te deixar ainda mais furioso e isso é só um exemplo. Eu conheço uma pessoa que é apaixonada nele e tenho quase certeza que ele ainda não notou e olha que ela dá muitos sinais.
– Mesmo? Quem gosta dele?
– Não vou dizer! – suspirou. – O importante é que eu tinha que ter pensado no meu amigo antes de ficar olhando só para o meu umbigo. Devia ter notado como estava ansioso e apenas falado, para não deixar ele pensando que era sua culpa.
– Como assim?
– Acredita que ele se culpava e achava que eu também associei o que Dumbledore fez com o fato de que foi para descobrir sobre Hazz? Ele pensou que eu estava bravo porque a culpa era dele e que eu tinha decidido me afastar de propósito. Que não queria espalhar seus segredos, ou não queria que acontecesse de novo e se fosse seu amigo essa seria a consequência. Ele pensou que eu não queria mais ser seu amigo! Porque eu não falei nada! Tornei tudo pior do que precisaria ser...
– A culpa não é sua – George sabia que não era. De novo, havia uma dívida de vida que falaria pelo menino mais alto às vezes. – Você fez o que achou que devia fazer e merece respeito aos seus sentimentos, ao tempo para lidar com as coisas.
– Eu fiz Hazz se culpar por duas semanas por algo que Dumbledore me fez.
– Bem, o que sabemos é que vocês dois são dois idiotas, mas são felizes juntos. Como eu e Fred.
– Dois idiotas?! – indignou-se.
George acenou com a cabeça, rindo, uma risada gostosa evidente mesmo com a música da festa dos colegas:
— Os dois por ficarem orbitando esperando o outro tomar atitude primeiro tudo por medo de magoar um amigo, e piorando tudo. Como você mesmo disse. Eu teria invadido aquela torre do Dumbledore a tempos se não soubesse que ia te irritar, mas você achou que seu melhor amigo não saberia disso?
– Eu sei, entendi! – reclamou em um sussurro tão sôfrego que o fez encolher. – Precisei que ele invadisse a torre da Grifinória no meio da madrugada, mas entendi.
George riu:
– Atitude bem Grifinória da parte dele.
– Ele é um dragão. Não é à toa que o chapéu demorou tanto para decidir pela Sonserina. Tenho certeza que ficou pensando em qual dessas casas era melhor.
Neville preferia não comentar como, além de simplesmente invadir, Hazz tinha usado a lareira. A rede de flú.
Fogo.
Harry nunca tinha usado aquilo antes e por causa de Neville ter entendido suas ações erradas, se sentiu forçado a isso.
Neville dificilmente se perdoaria por colocá-lo nessa situação, quando Hazz merecia apenas apoio.
Hazz merecia o mundo!
Seu coração era grande demais, se não fosse uma pessoa astuta, a vida poderia ser ainda pior, mas já estava com cicatrizes o suficiente para aprender a duvidar das pessoas. Neville devia a ele uma amizade que não duvidasse ou o afastasse.
Jamais falharia de novo. Os cacos de vidro nas roupas de Dumbledore e todos os quadros em sua sala eram provas dessa decisão.
George sorriu, vendo a determinação no olhar do menino.
Era uma droga parafrasear Dumbledore, mas estava feliz que havia esperança ali.
Tinha de haver.
Um dia, Neville Longbottom não teria mais aquela dívida de vida e aquele parecia ser o primeiro passo.
Levantou-se e se espreguiçou:
– Realmente, dois idiotas. E Harry achando que você não gostava mais dele! Por favor, né? Você acaba de atacar o diretor de Hogwarts por insinuar coisas sobre ele. Nem eu teria feito isso e gosto muito de sua alteza.
Neville corou muito e se despediu do gêmeo quando este disse que voltaria a encontrar seu irmão e aproveitar o resto que tinham de festa antes de precisarem dormir:
– Tenho duas de defesa contra as artes das trevas e depois de poções nos primeiros horários. Nenhum tempo livre! Vou quebrar até o fim da tarde desta quarta – e estalou as costas, saindo.
Neville também não poderia se permitir ficar até tarde e, por isso, se levantou para seguir até seu quarto.
Mas a noite ainda tinha algo reservado para si.
Quase já na entrada do corredor para o dormitório masculino, foi puxado por uma mão e um borrão ruivo para outro canto.
Gina foi direta, assim que sentiu que conseguiam alguma privacidade ali. Sussurrou no ouvido de Neville:
– Precisamos falar e tem que ser particular, seu quarto ou o meu?
Neville corou muito, espantado com aquilo.
Suas aulas sobre como ser um lorde correto apitando sobre como nunca deveria levar uma donzela para seu quarto, mas sabia que a amiga não estava pensando em nada demais quando disse aquelas palavras, então apenas se focou em respondê-la.
Deu seu braço para que se segurasse e sorrateiramente a levou até o quarto.
Por sorte Ron não estava mais lá e nem nenhum de seus amigos.
Sentou-se em sua cama e quando a menina tomou o lugar a sua frente, fechou as cortinas, colocando o único feitiço que conhecia de privacidade.
Houve um longo tempo de silêncio entre os dois que foi fazendo Nev perceber algumas coisas.
Primeiro que o assunto era muito sério, uma vez que a expressão de Ginevra mostrava muita preocupação.
Segundo que a menina nem sabia como abordar aquilo e estava inquieta de forma que só, anos atrás, a viu igual.
No ano que foi uma vítima da câmara secreta.
Isso ativou todos os instintos de alerta do menino:
– Ginny? O que aconteceu?
– Harry.
Neville evitou reagir demais, ao menos tinha de esperar que a menina explicasse e se focar em não tomar decisões precipitadas. O garoto estava na defensiva depois de tudo e não sabia o que em Harry poderia fazer para deixar a mais forte dos Weasley daquela forma.
Porque sim, era assim que Neville a via. Os outros que normalmente não notavam.
Uma ideia estranha lhe veio e fechou os olhos incomodado com a possibilidade de ser verdade:
– O que tem Harry?
"Por favor, não fale que está apaixonada nele. Por favor" torcia mentalmente.
Depois do que pareceu um minuto inteiro de ansiedade onde a menina mexia no próprio cabelo nervosamente e o menino torcia por uma realidade onde seu amigo não era tão desejável pela maioria, enfim Gina admitiu:
– Ele fez o basilisco hoje no torneio.
Neville não precisou de mais palavras.
De certa forma, mesmo com os óbvios erros aqui e ali, era bom em entender os sentimentos das pessoas. Viu nos olhos da amiga a verdade, o que a atingira.
Havia percebido seu medo de uma realidade cruel, as memórias um passado de sangue.
A única mulher Weasley entre os sete filhos ainda tinha cicatrizes e traumas fortes do dia que sentiu-se culpada e responsável pela morte de uma pessoa.
Assim como Neville.
Até Hazz ajudá-lo a trabalhar e começar a superar.
O incidente da câmara fora tão, senão mais traumatizante para Ginevra, do que para o Longbottom, que já tinha um ano de desastres para levar aquilo nas costas.
Gina tinha algumas certezas em sua vida depois de seu primeiro ano numa escola de bruxaria.
Mesmo que estivesse inconsciente no final, teve todo o tempo com seu corpo sendo possuído e usado por Riddle e claro que não conseguia simplesmente apagar essa sensação cruel.
Nunca mais queria ser enganada por palavras bonitas e que pareciam querer ajudá-la.
Nunca mais queria ser enganada por um bruxo e isso quer dizer qualquer um que seja.
Harry Potter incluso.
Potter que tinha invocado com suas chamas, dado forma a elas e escolhido esta forma. Uma enorme cobra que a menina vira apenas de relance, apenas agonizando e fugindo em seus últimos suspiros de vida. Algo que evitou olhar para não morrer para seus olhos cruéis, mas que ainda tinha uma imagem vívida na mente do pouco que conhecia.
Das imagens em livros que pegou na biblioteca no ano seguinte.
Sabia dizer o que era um basilisco.
Gina acordou no fim de seu primeiro ano em Hogwarts na câmara, com Neville totalmente ferido, chorando diante do corpo de Tracy Davis, a enorme serpente se enfiando em um dos canos, onde morreu longe do olhar de qualquer pessoa que ainda pudesse ser sua vítima. Isso era seu maior trauma, sua cicatriz de guerra e certeza de que seria a melhor bruxa que pudesse para honrar a memória de uma colega que não teve a mesma sorte.
Para ter certeza de que nunca mais a usariam de novo, seria forte, destemida e desconfiaria.
Por menor que fosse sua visão do bicho, sua memória a fazia desconfiar.
Por que um basilisco?
Já tinha feito a correlação antes. Já tinha comparado a forma de agir, de falar, de conquistar de Harrison com Tom Riddle. Ver o basilisco piorou aquela sensação até se sentir enjoada.
Precisava de respostas, de algo que tirasse isso de sua cabeça antes que enlouquecesse e, pior, acreditasse estar certa em compará-los.
Neville era o único que podia lhe dar essas respostas, pois sabia de todas as partes:
– Eu juro que aquela coisa que Harry fez parecia tanto com ele. Mas porque Harry faria o basilisco?
Quase lhe doía dizer aquelas palavras.
Por isso estava ali.
Neville. Aquele que realmente viu a coisa, a enfrentou e derrotou com uma espada bem dada em sua boca e em seu olho. Ele podia garantir, como quem a vira de muitas formas desde o instante que foi cegada pela fênix, conhecia o monstro da Sonserina.
Ele podia dizer que não era a mesma coisa e ela acreditaria.
Só nesse instante.
Ou não saberia o que fazer.
Porque Harry Potter usaria o basilisco da câmara para seu feitiço? Porque saberia a forma do bicho? Porque foi para a Sonserina depois de tanto tempo do chapéu pensando quando não era preconceituoso como eles, nem se importava com sangue, uma das marcas da casa?
Havia um mistério ali e a assustava estar diante dele.
Neville suspirou:
– Ginny, eu posso te confiar um segredo? O maior deles? Você juraria nunca dizer a ninguém?
– Claro.
– Eu quero uma jura de verdade e juro, da minha parte, que lhe darei sua resposta. Mas não sem ela. Não posso.
Gina estranhou a forma séria com que o amigo disse aquelas palavras. Como seus olhos ficaram frios.
Mas ela precisava de respostas e se aquela era uma condição? Confiaria sua vida a Neville quantas vezes fosse preciso e de olhos fechados.
Para a surpresa do Longbottom, mas não de Gina, ela levantou sua varinha para o alto e tentou se lembrar das palavras de Harry quando seu nome saiu do cálice-de-fogo:
– Eu, Ginevra Weasley, filha de Molly e Arthur Weasley, juro pela minha magia que estarei guardando os segredos de Neville Longbottom se assim ele desejar. Que assim seja.
– Obrigada – e estava mesmo muito agradecido e tocado pela confiança da amiga.
– Então?
Neville inspirou fundo e ajeitou sua postura, olhando nos olhos da menina para soltar a bomba:
– Harry foi queimado vivo quando era criança por trouxas que odiavam bruxaria e o viram fazer magia acidental.
Houve choque.
Claro.
A menina não esperava aquilo e levou um susto tão grande com a informação que realmente gritou, cobrindo a boca com as mãos, os olhos arregalados.
Cheios de espanto primeiro, mas tão rapidamente cheios de água, levada ali por um pesar intenso que logo fez uma lágrima fujona escorrer por seus olhos:
– Não... – sussurrou, como se torcesse para ter ouvido errado, porque sabia que se Neville dizia era verdade.
E aquela era uma verdade terrível demais.
Neville acenou positivamente, para sua completa desolação.
– Ele morre de medo de fogo, desde então. Hazz estava em pânico hoje, ele odeia dragões, são criaturas muito fortes e podem queimá-lo vivo assim como na infância. Ele não deve ter pensado em nada além de que queria sobreviver. Ele ainda é um sonserino, mesmo que tenha coragem para entrar na arena, ele só queria continuar vivo. Não morrer como em seus maiores pesadelos, para a mesma coisa de sempre. Fogo. Ele queria que aquele bicho morresse. Que fosse tão fácil quanto olhar para ele e então paralisar, como Harry estava paralisado. Harry voa muito bem, mas mesmo assim só conseguiu voar por pequenos espaços de tempo, porque estava paralisado. Por mais que ninguém pareça ter notado, eu sei quem é meu amigo e ele estava duro como uma rocha. Não por confiança. Ele só não conseguia se mover e fez o que conseguiu pensar na hora. Torceu para dar certo e ponto final. Ninguém pode julgar os feitiços que usou ou como fez, porque ele só pensava que estava diante do seu bicho papão e não tinha feitiço Riddiculus para protegê-lo ali.
"Isso que ele sabia com antecedência. Seu irmão Charlie nos contou a tempo e ainda bem. Eu não sei o que poderia ser do Hazz se tivesse visto na hora que seria um dragão o que teria que enfrentar. Não, Gina, ele não fez o basilisco. Ele fez um basilisco. Porque esse bicho mata só de olhar, porque paralisa, no mínimo, porque é grande e podia protegê-lo porque era uma coisa tão assustadora quanto um dragão e podia assustar um, assim como aconteceu. Ou acha que se ele tivesse feito um leão a reação instintiva do dragão seria recuar, como fez?
– Foi Hazz que me disse que esse podia ser o bicho na câmara, graças a ele consegui enfrentar a coisa, porque eles estudam esse tipo de coisa na Durmstrang e não duvido que tenha em seus livros. Ele fez um bicho que pudesse rivalizar com um dragão, um que pudesse protegê-lo e que faria uma criatura temer, tinha que ser pior que um dragão para seu plano funcionar. E sim, ele pode ter se lembrado do que lhe contei da câmara, o tamanho daquela cobra, mas no fim foi ele tentando desesperadamente só se livrar logo de um bicho cospe fogo e sair de lá o mais rápido que podia antes de ganhar uma cicatriz nova. Porque ele tem várias Gina. Várias. Eles colocaram gasolina e fogo nele, sabe o que isso faz?
– Explode – sussurrou trêmula.
– Exatamente. Não é à toa que ele foi o mais rápido. Aquilo foi uma prova da força de Hazz contra seu maior medo, mas também de sua maior fraqueza em não suportar estar perto de fogo por muito tempo sem sentir que está queimando. Eu tive que consolá-lo depois daquilo e você não pode, não vai contar para ninguém. Nunca!
– Nunca! Eu... – começou, mas negou com a cabeça ainda completamente destruída.
Porque era assim que se sentia.
Destruída.
Ela se recordava da prova, do olhar vazio em Harrison, de como seus olhos refletiam as chamas ficando vermelhos e verdes. De como teve medo dele.
Quando devia ter medo por ele.
Quando ele estava escondendo sua dor como um louco até poder sair de seu maior pesadelo.
Um que... que nunca quis participar.
– Me desculpe, Neville! Foi um medo irracional. A câmara foi perdida e não teria porque Harry fazer aquela coisa. Eu entendi agora... foi só minha impressão... Eu... – a menina fungou, limpando outra lágrima fujona e inspirando fundo para conseguir se acalmar. – Eu nem vi o rosto do bicho e associei o corpo. Me desculpe. Mil perdões ao Harry, ele não merecia que eu sugerisse algo sobre ele assim. São meus próprios traumas falando mais alto.
– Não se desculpe por isso. É um basilisco mesmo – sorriu. – Você só apontou um fato.
– Não, você sabe disso. Mas me arrependo. Quase acusei Harry de algo que nem sei o que seria.
– Você tem direito de ter medo. De lembrar daquele dia. Associar as coisas.
– Mesmo assim.... – ela bufou. – Esquece. Obrigada por tirar isso de mim, e eu juro, de novo e de novo, que jamais deixaria essa informação sair de mim. O segredo de Hazz está seguro comigo, não precisa se preocupar em trair a confiança dele.
– Eu sei que posso confiar em você Ginny. Se não, nunca teria dito nada;
– Obrigada por se dar ao trabalho, não era sua obrigação.
– Somos amigos, não queria que você se enganasse sobre a verdade.
– É mais do que fiz para merecer, depois dessas coisas que se passaram na minha cabeça.
– O que está na sua cabeça não quer dizer que não seja real. Não se preocupe com isso, mas lembre-se que passou. Nós sobrevivemos e não podemos ter medo. Por Tracy, devemos seguir em frente e sair daquela câmara. Ela não gostaria que ficássemos para sempre entrando e revisitando essa coisa péssima. Ela não ficou. Ela seguiu em frente, não é um fantasma, nós não precisamos ser fantasmas daquela época. E você não tem culpa. Lucius tem, Voldemort tem...
"Dumbledore tem" acrescentou Gina afirmando com a cabeça.
Neville continuava:
– Nem eu tenho. Fizemos o que podíamos. Você tentou destruir e esconder o diário e eu terminei o serviço. Fizemos nosso máximo.
A mais jovem acenou com a cabeça e abraçou o amigo, feliz ao ver que ele também estava conseguindo arrumar força naquelas memórias e estava superando. Até poucos meses não podia dizer o mesmo. Sentia que uma parte de Neville tinha se despedaçado e ficado para sempre naquele lugar, com o corpo de uma colega que não pudera salvar.
Vê-lo do lado de fora terminou de jogar seus medos pelo ralo.
Como ele disse, não seria um fantasma daquele tempo:
– Fizemos nosso máximo.
Ela se levantou, não sem antes dar ao amigo um último abraço e um último pedido de desculpas.
Esse por um novo motivo pelo qual ele não sabia, mas Neville teria de perdoá-la por não conseguir se conter.
Ela retalharia assim que e como pudesse.
Faria de tudo para garantir que nada, absolutamente nada do que aquele velho horrível fizera a seus amigos saísse impune.
Só desejava ter a força e poder para tanto, mas que se dane o inimigo, ela enfrentaria de frente como uma boa grifinória.
Dumbledore. Ele era o culpado de tudo! Harry, Gina, a escola, Neville.
Porque Dumbledore, o adulto, não fez nada e uma criança se achou na obrigação.
Duas crianças se culparam por anos.
Ela retalharia.
Com certeza.
A este ponto não duvidava que fosse culpado até por Riddle, que já no diário admitia que não gostava do homem.
Longbottom não demorou muito para levar a Weasley de volta até a ala comum, onde poderia ir para seu próprio quarto. Então voltou para sua cama, olhando para o teto com uma sensação estranha, mas não necessariamente ruim.
Percebendo apenas como foi fácil mudar de assunto e garantir que Gina não pensasse em como o monstro da câmara e o que Harrison fez eram praticamente cópias.
Basiliscos eram parecidos, mas não existia registro de um que tivesse vivido por tanto tempo como o da câmara. O próprio Hazz lhe dissera. Era uma criatura à parte, um caso único. Estava certo que em alguma proporção mentiu para Gina, mas não se sentia nem um pouco culpado.
Isso era estranho.
Hazz sim, provavelmente pensou no monstro da câmara para seu feitiço, mas o motivo que o levava a ser tão preciso?
Não se importava.
Harrison Potter podia trazer o próprio bicho de volta à vida hoje, que Neville não se importaria. Dumbledore merecia seja lá o que Harrison acabasse fazendo depois do destino de merda que fora colocado.
Teria justificado e mentido da mesma forma que fez.
Bufou, cobrindo a cara com um travesseiro e rolando na cama frustrado.
Haviam ainda duas provas no maldito torneio.
-x-x-x-
Marvolo encarou o Diadema por horas pensando bem no que pretendia – ou não – fazer.
O belo adereço ficara em sua mesa do escritório, como uma lembrança constante de dores que teria de passar para recuperar mais um pedaço de sua alma.
Se assim desejasse.
"Você está bem?"
Voldemort se lembrava. Como uma martelada constante.
Esta tinha se tornado a primeira impressão do lorde Mitrica, herdeiro do lorde das trevas Gellert Grindelwald, à Voldemort. Mesmo que sob alguns disfarces, mas apenas alguns que mudaram o mínimo e não seriam pegos na inspeção do ministério.
A maioria, recursos trouxas como maquiagem, lentes de contato, próteses.
Um homem doente.
Para um vidente.
"O senhor está bem?"
"Impressão, eu acredito. Um instinto. O senhor pareceu-me doente por um instante. Fraco, entende?"
Riddle nunca foi muito ligado a adivinhações. Não foi uma de suas matérias eletivas escolhidas em Hogwarts. Mesmo assim, viajou o mundo e conheceu pessoas diferentes, culturas novas e experimentou o que faria um homem descrente pensar duas vezes.
Quando uma profecia lhe disse sobre sua queda, preferiu não arriscar sua sorte e, no fim, suas ações precipitadas tornaram as palavras reais.
A criança nascida no fim do sétimo mês lhe causou a queda, mesmo que com ajuda da mãe. Não duvidava mais de visões, apenas de alguns tipos de videntes.
Afinal, há mentirosos e charlatões em cada esquina, bastava que se acreditasse no que lhe tinham a dizer.
Não tinha motivos, entretanto, para desacreditar nas visões que presenciou enquanto caiam por sua cabeça, das quais Gellert Grindelwald tanto falou. A guerra foi avisada muito antes, os bruxos que não quiseram ouvir. Como seria, então, o herdeiro daquele poder?
O quanto podia levar suas palavras como casuais ou não?
O que um vidente vê é diferente das outras pessoas, se as viagens de Marvolo diziam algo. O que pensam, o que dizem, nem sempre faz sentido para aqueles que só ficam presos ao passado, lutam no presente e tentam criar um futuro.
Esse era seu conhecimento. Seu passado era uma memória dolorosa. Seu futuro gritava pela iminência de outra queda.
Harry Potter... o menino que sobreviveu. Harrison, o lorde Slytherin Peverell.
Naquela tarde, a criança havia lançado dois feitiços muito famosos, mas que poucos bruxos tinham capacidade para usar.
Ele conseguira mudar a cor e o formato tanto do Fogomaldito, quanto do Protego Diabólica. Harrison se provara realmente um prodígio, assim como as informações de seus comensais diziam.
Mas o garoto tinha a vantagem de ter estudado em uma escola (diferente de Tom em Hogwarts) que lhe permitia usar todo o seu potencial nas trevas logo no começo de sua formação.
Abrindo seu núcleo mágico, expandindo-o e tirando-lhe os limites mundanos.
Uma criança que teve as oportunidades corretas. Na hora correta.
"Maldito sortudo" pensou Marvolo mordendo o lábio inferior.
Nunca teve essa ajuda.
Mas Harrison era mundano. Uma criança com potencial sim, porém e de novo, nada muito diferente do que Marvolo já tinha de conhecimento. Nada que um lorde Slytherin não devesse ser por natureza também.
Excepcional para os mundanos.
Marvolo tinha horcruxes. Não haviam mais limites para ele. Exceto...
Sua própria alma.
A alma partida lhe permitia ser mais que humano, ser um imortal, mas o impedia de ser um bruxo em sua totalidade. O que lhe valia mais? Qual garantiria seu sucesso?
Bruxo ou imortal?
Não podia ter os dois. As artes das trevas funcionavam assim. Para um ritual, há sempre um sacrifício.
Uma horcrux tinha dois.
A morte de alguém, a morte do bruxo.
Em sua época de escola, se tivesse sido ensinado como Harrison fora, provavelmente lançaria os mesmos feitiços com a mesma idade e a mesma destreza. Se não melhor ainda. Não julgava que o menino o havia superado por completo. Ninguém nunca seria capaz disso.
Mas tinha poder.
E potencial o suficiente para ser perigoso se não fosse parado. O próprio destino o avisara.
Marvolo foi até o centro da sala e apontou a varinha para o chão:
– Protego diabólica – entoou.
Houve o círculo de fogo e houveram chamas negras.
Mas apenas isso.
Ele encerrou a maldição sentindo-se frustrado.
Lhe faltava algo primordial para enfrentar um inimigo: o seu próprio poder.
A forma como havia voltado a vida era incomum e nunca registrada, provavelmente com tudo que fizera era o bruxo que mais entendia e tinha conhecimento sobre Horcruxes no mundo. Poderia escrever um livro sobre isso, se fosse lhe servir para algo. Mas com isso, vieram as consequências.
O quarto e secreto princípio das artes das trevas.
Sua própria horcrux, o diário, foi capaz de criar consciência em sua forma de ser, então tirar a energia vital de alguém e se materializar. Uma vida por outra, uma alma por um corpo. Princípio de troca equivalente comum. Mas era um corpo que precisava de muito mais cuidados até chegar aos pés do antigo. Exercício físico, alimentação. Magia. Era limitado, porque a troca não bastava para lhe dar tudo. Sua antiga glória.
Precisou de tempo.
Desde 1992 vinha fazendo de tudo para se recuperar como podia, de formas naturais, porque era o que seu corpo pedia. Estava fisicamente mais forte do que nunca antes, apesar da aparência igualmente esguia e cumprida, o que era bom. Gostava de sua aparência. Manteve os efeitos dos rituais que já havia feito e que lhe prejudicaram a face e o corpo, tudo em algo totalmente novo.
Mas que precisava de trabalho e paciência para refinar.
A magia era mesmo linda, não?
Depois da Câmara, precisou ser fortalecido. É claro. Para suportar a fraqueza nas mãos, nas pernas, o momento de lançar seus feitiços, as reações incomuns e imprevisíveis em seu núcleo. O núcleo de um lorde das trevas quase centenário. Tão grande para algo tão jovem como o corpo de dezesseis anos de Tom Riddle, somado a simples alma de uma primeirista como oferenda.
Tão pouco.
Para tentar conquistar tudo que Marvolo um dia fora.
Teve que aceitar a realidade de que seria fraco para sempre se não fizesse mais, então aguentou a dor de um ritual de recuperação de sua alma. O arrependimento, os gritos, o sangue, vômitos, desmaios, lágrimas.
O pesar de mil mortes.
E ele havia partido sua alma várias vezes.
Teria que sobreviver a algo que muitos morreram tentando e teria de fazê-lo mais e mais.
Porque sempre foi assim. Sua vida sempre foi uma provação onde lutava constantemente com os limites do corpo, da alma, da magia e do mundo.
E superava.
Porque não havia outra escolha.
Não ia desistir. Nunca. Ia tentar. Ia viver. E viver de verdade, não sobreviver como quando era criança. Ou quando estava louco.
Tinha que viver. Compensar todas aquelas dores pelas quais apenas ele poderia ter passado. Apenas o mais forte.
Mas estava fraco.
Harrison era capaz de enfrentar um dragão com feitiçaria pura. Vencendo a energia mágica de uma criatura tão conhecida justamente por sua essência, cada veia de sangue correndo pelo corpo, cada osso ou escama. Suas células eram mágicas ao ponto de cada parte de si servir para uma poção, o núcleo de uma varinha, ou mesmo um ritual.
Dragões, um dos símbolos de poder e magia mundial, os mitos acerca dessas criaturas corriam por séculos e pelo globo, sua força em sua simples existência.
Tinha sido derrotado em seu próprio jogo. Vencido por fogo.
Isso lembrou a Marvolo que sua magia estava danificada, pois sua alma o estava.
Anos atrás perdera em seu próprio jogo, não conseguiu matar um bebê em seu berço, pois uma nascida trouxa soube mais de magia do que ele próprio.
Magia das trevas, um maldito ritual de sangue e sacrifício.
Então estava aqui, diante de um dilema.
"Eu absorvo ou não..." perguntava-se, encarando a horcrux.
Houve um tempo onde a resposta era clara. Mais magia sempre seria uma afirmativa, mas não podia se dar ao luxo de falhar. Não mais. Havia muito em risco, sua vida estava mais frágil, ligada a esse mundo apenas por duas peças, ele mesmo uma delas, porém ter dois de si era um problema por si próprio, que o impedia de atingir seu potencial máximo.
Ainda não estava completamente estável desde sua última absorção, existia uma grande probabilidade de que devesse esperar, mas então estaria em uma situação delicada de novo em pouco tempo. Não haveria uma pausa onde poderia agir com seus planos.
Teria que depender demais de comensais e isso o infernizava, pois nunca precisou depender de ninguém.
Nunca teve alguém para depender.
Se fosse absorver, teria de ser agora. Para estar pronto na hora que estivesse diante do próximo desafio. Se não fosse, teria uma garantia, mas já tinha sua confirmação de que o pirralho lhe venceria se não fosse puramente pela experiência e isso não conseguia conceber.
Ele tomou a tiara nas mãos.
Estava doente. Aquele era mais um passo para sua saúde e de sua magia. Mesmo assim tinha decidido, em um momento mais calmo, dar a seu tempo a oportunidade de se recuperar.
Havia uma decisão certa naquele momento?
Sentiu sua alma o chamando, como outras o fizeram antes. Como o anel, a taça o diadema pedia para se reconectar, ter o que era seu por completo, viver e lutar. Precisava de sua magia e o diadema precisava de seu mestre quebrado.
Se arriscaria.
Estava decidido quando saiu do escritório e foi até o porão, para o ritual mais doloroso que conhecia. A resposta para se deveria dividir a alma era não, para a pergunta se deveria continuar dividido deveria ser não também em todos os aspectos e ainda tinha seus servos leais que agora estavam de volta. Teria ajuda, se precisasse.
Foi quando parou.
Ajuda...
Marvolo nunca precisou de ajuda, mas a última vez que mexeu com algo tão delicado para seu destino sozinho, acabou em corpos de cobras na floresta.
Era alguém individualista, mas uma carta não faria mal.
Voltou e correspondeu rapidamente a Theomore para que fosse visitá-lo no dia seguinte logo pela tarde. A este ponto já deveria ter acordado do desmaio causado pela exaustão.
Depois de mandar que sua elfa entregasse e ordená-la que se punisse por ousar sugerir que repensasse sua decisão, seguiu para a absorção do diadema.
Para seu próprio crédito, mesmo desmaiado conseguiu manter todos os feitiços levantados de proteção na casa.
E levou apenas quatro dias vomitando e se sentindo como se fosse repartido ao meio, precisando se alimentar de coisas puramente líquidas.
Também conseguiu levantar e sentir seu próprio corpo contra a grama e o sol do lado de fora em cinco.
No sexto dia, estava novamente praticando exercícios. Com o referente ao que conseguia no primeiro mês do primeiro ano de seu retorno, mesmo assim era um retorno gradativo e sabia disso.
Pesadelos.
Isso o intrigou. Estava tendo pesadelos.
Faziam tantos anos que não tinha um que achou divertido quando acordou do primeiro, como se tivesse acabado de assistir um bom filme de terror.
Barty não vinha fazer um relatório a tanto tempo quanto estava nessa fase frágil. Não queria nenhum, nem o mais leal dos seus consigo enquanto absorvia a dor do arrependimento e da amargura de morrer.
Ao menos, ele sempre voltava.
Sua insistência em permanecer vivo não o deixaria ser levado por algo como o ritual de reversão, seu histórico de sempre matar aqueles que tentavam que percebesse: estava diante de um inimigo superior. Alguém preso à vida.
Cada dia, mais do que no anterior.
Comeu suas comidas preferidas no mesmo dia que voltou para os exercícios, decidido a voltar a dieta apenas no dia seguinte, afinal tinha que aproveitar o que reconquistara.
Estava tentado a fazer algo novo depois que se recuperasse. Novo para aquele corpo, para sua recém adquirida sensibilidade ao mundo, mas de que já tinha apreciado antes, mesmo dopado com a falta de alma.
A sensação deveria soar como nova.
Foi no sétimo dia que tudo aconteceu.
No último dia de novembro.
Estava em seu escritório quando sentiu uma perturbação bastante forte de seus feitiços anti-intrusos que o alarmou. Imediatamente pegou sua varinha e se levantando, tentou localizar a fonte do problema.
Foi quando sua elfa apareceu:
– Milorde, há um homem no jardim, é nosso convidado?
Marvolo nem se preocupou em responder a criatura, apenas aparatou diretamente para os jardins ignorando como sentiu uma imensa dor de estômago com o feito e apontou sua varinha diretamente para o intruso.
Lakroff Mitrica.
Parado bem ali, como se pertencesse ao lugar, encarando as flores mortas.
Voldemort não disse nada, apenas lançou um feitiço:
– Estupefaça!
Mas Lakroff o desviou com uma barreira, "Protego!" entoou, criando um escudo invisível que levou o feitiço que o desmaiaria para o lado, onde uma árvore próxima explodiu em uma chuva de lascas de madeira.
Ele sorria, segurando a varinha de forma firme.
Poucos teriam a mesma firmeza enfrentando o lorde das trevas.
– Estou impressionado. Ou deveria ficar magoado? Nenhum feitiço da morte, para começar? Lorde Voldemort me quer vivo ou não ofereço risco o bastante para matar assim que visto, mesmo depois de invadir sua casa?
Voldemort não perdeu tempo:
– Expelliarmus!
Mas era uma armadilha, a palavra não correspondia a maldição de cortar os pulsos que saiu pela varinha. Grindelwald foi atingido, mas Voldemort teve que conter seu espanto quando viu-a criar dois cortes no ar, apenas próximo do homem com o movimento de sua varinha.
Não conhecia aquele contrafeitiço.
— Desculpe a invasão, milorde, mas vim tirar sua vida – comentou com tranquilidade. – Se não se importar.
VOTEM NO CAPÍTULO!
Espero que tenham gostado do fim do primeiro livro! Vou continuar postando normalmente por aqui, este é um aviso mais para que saibam que vamos começar uma nova fase a partir do próximo capítulo e estou ansiosa para mostrar a vocês.
Não se esqueçam que temos um link para um grupo no Discord onde podem comentar todas as suas teorias e falar com outros leitores, estamos sempre ativos por lá.
Tenham um bom Domingo e até a próxima!
PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited. O prólogo está disponível para leitura nesse mesmo perfil e adoraria que me desse a chance de ler ao menos ele!
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