Capítulo 49 - Algo guardado e visita a Hogsmeade
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Votem, comentem e principalmente aproveitem!
E lembrem-se que se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited. O prólogo está disponível para leitura nesse perfil, dê uma chance e leia ao menos ele!
Boa leitura!
Talvez fosse o anúncio da visita para Hosgmead, a agitação por uma novidade. Os alunos correndo para fazer convites àquela pessoa especial e garantir um encontro, talvez com um dos estrangeiros interessantes? Ou mesmo para aqueles que apenas planejavam um passeio com os amigos. Todos estavam agitados, de uma forma ou de outra. Mas também podia ser a lua, que naquela noite estava em sua fase nova. O céu escuro com a ausência total da luz do sol e do reflexo de seu satélite. Os astros, para quem neles procurava respostas, sussurravam as mais diversas coisas.
Lakroff Mitrica, entretanto, estava procurando-as em um pobre cervo que esfaqueava na floresta proibida.
Caçar após a meia noite no último dia da lua nova, com um punhal de prata e um frasco de veneno de Maledictus fornecido por Nagini, era reconhecidamente algo que podia soar extremo para alguns. Ainda mais porque a atitude que envolvia um ritual complexo e bem sangrento, tinha sido movida apenas por Tom Riddle, a maldita Horcrux que não saia de sua cabeça, agir de forma estranha e omissa no último momento que conversaram.
Toda essa comoção era um pouco tresloucada de sua parte?
[N/A: Tresloucado. Adjetivo, Que ou aquele que é desprovido de juízo; desvairado, maluco].
Por isso seus relacionamentos nunca davam certo?
Mas um Grindelwald sempre sabe, portanto não saber sobre alguém que se dizia tão sincero, o que surpreendentemente vinha se mostrando, rudemente franco e apenas um tanto manipulativo enquanto aos fatos para evitar a verdade... Isso parecia um caso de sacrifício a meia noite com o punhal da família.
O fato de que a criatura ainda estava chorando de dor apenas o lembrava de que tinha que arrancar os órgãos logo se queria ter uma visão clara. Ainda teria que preparar a bacia com sua oferenda e os ingredientes certos se queria que dona Morte realmente o ajudasse nessa empreitada.
Usar de um sacrifício agonizante pela dor de ainda estar vivo, apesar de tudo, não o fazia se sentir culpado de forma alguma.
Aquilo era a natureza. Seres morrem, alguns com mais dor que outros. Um tigre teria a mesma piedade que o animal agora, mesmo que não houvesse tigres na floresta proibida, mas quem se importa?
Lakroff enfiou a mão por entre as vísceras do bicho e, vejam só, tirou a sorte grande! Era uma fêmea! E estava prenha!
Arrancar o filhote e usá-lo ainda como feto lhe daria maiores chances de sucesso em sua missão. O sangue da mãe serviu para os últimos ajustes e quando terminou já deviam ser cerca de três da manhã.
E ele estava encharcado de sangue, sujo de terra, gravetos grudados por todas as partes, um feto num saco dentro do bolso junto com uma cabeça de corsa para queimar.
Produtivo.
A cabeça estava aliviada, sem o canalizador e bloqueador de visões normalmente estaria com enxaqueca, mas já faziam horas que estava sem a coisa, então a própria pressão que suas garras geravam ao perfurar o cérebro tinha sumido e as feridas curadas agradavelmente. Os sussurros e flashes não existiam, afinal tinha feito um ritual para ver algo específico, então conseguia enxergar com clareza seus dons.
Aquele, aquele momento, era o seu momento.
Onde estava mais aliviado, confortável e relaxado.
Mais até do que com música alta abafando tudo, o momento após um bom sacrifício era esplêndido e incomparável.
Mas sua mente traiçoeira o lembrou de algumas noites atrás. Duas ou três músicas específicas, seu gabinete, o cheiro de cigarro, vinho e Tom Riddle em seus braços dançando pelo tapete.
Certo... Para seu desgosto tinha de admitir que era comparável sim.
Mas ao menos os sacrifícios não terminavam deixando-o inquieto, com mil perguntas na mente ao ponto de não conseguir dormir de tanto som que a cabeça fazia.
Era o contrário.
Riddle era seu caos.
Matar era sua paz.
Considerando que não matava com mais frequência do que vinha vendo Riddle, estava decididamente na merda.
Mas que novidade, não é mesmo? Sua vida estava cheia disso. O bastante para Augusta talvez repensar sua escolha de zombar-lhe por sua idade, chamando-o de dinossauro e talvez optar por um novo apelido que condizia mais com sua vida, como pasto, por exemplo.
Lakroff Mitrica sentia que sua vida era como um pasto. Seus filhos eram algum tipo de animal selvagem que tentava controlar para não saírem por aí causando caos com os animais ou matando suas vacas. Havia uma vantagem de uma vista bonita, mas que enganava. Era incrível ter uma vida como um pasto, um grande e com muitas cabeças de gado.
Até tentar andar um pouco e só pisar em merda.
Diferentes tipos, gosmenta daquela que afunda suas botas até os joelhos e te deixa preso, aquelas cheias com moscas e fedendo o dobro, ou aquelas bolinhas velhas que você chuta para longe sem querer.
Ao menos podia aproveitar o dinheiro e comprar um cavalo, para passar por tudo isso e evitar um acidente.
Lakroff queria o cavalo premiado com seu ritual necromante e havia pagado bem.
Apenas para ter certeza, faltava queimar os restos e cheirar as cinzas.
Faria em casa, sua lareira era melhor para isso e era uma parte opcional do ritual, de toda forma.
Seguiu até o barco com um feitiço de desilusão para não assustar nenhuma criança ou criar a lenda do segundo fantasma ensanguentado do castelo. Agora um nos jardins, ele pode querer sua cabeça, bu!
Quando chegou no barco pensou seriamente em se jogar no lago para limpar alguma coisa de toda aquela nojeira que teria que arrancar dos carpetes, mas ficou com preguiça. Seguiu para seu quarto, entrando pelo Gabinete. Não queria encontrar Riddle/Harry na cama com aquela aparência ou teria que responder perguntas.
E, por todos os rituais necromantes, estava inclinado a acreditar que mentir para Riddle o frustraria amargamente.
Essa era boa. Lakroff Mitrica, não queria mentir para outra pessoa.
- Alguém enfia uma estaca de madeira no meu peito, vai ser menos irritante de se lidar e... – ele deixou a frase morrer no meio quando coçou a cabeça frustrado. O chifre da corça o cutucando antes de afastá-la. – O que faz no meu gabinete?
Ao menos não era Riddle, com suas perguntas.
Era Igor Karkaroff.
Mas pensando bem? Riddle era melhor. Muito melhor.
- O que você fez?! – indignou-se o diretor apontando para, antes albino, agora exclusivamente definido como homem cheio de sangue. – Meu Rasputin, você matou quem?!
- Pessoas só tem cinco litros de sangue no corpo, não faria tudo isso uma única vítima – resmungou, jogando a cabeça na poltrona ao lado da que Karkaroff havia escolhido.
O diretor levou um susto com isso, ainda mais porque o animal parecia estar olhando-o diretamente e isso o deixou mais desconfortável do que já ficava falando com o herdeiro Grindelwald.
Aquela coisa que Gellert, sem dúvidas, deve ter tido como sua maior arma na guerra, se sua forma de agir dizia alguma coisa a Igor.
- Se ficar encarando nossa amiga desse jeito ela pode se sentir assediada e terei de denunciá-lo – Karkaroff também detestava o humor do Grindelwald. – Vamos! Diz porquê está aqui, não viu ainda que estou ocupado?
Ele cruzou os braços frustrado e apoiou a bunda em sua escrivaninha, para conversar com o outro.
Que estava brilhantemente eloquente:
- Eu... bem... – sempre olhando dos pés a cabeça para a figura de cabelo bagunçado e sangue, muito sangue, à sua frente. A única coisa que não era vermelha eram as pontas brancas do cabelo despenteado e os olhos azuis. Muito azuis. – Você está deixando o cabelo crescer?
- Estou.
- Por quê?
- Dumbledore.
Igor ficou tão confuso que realmente parecia um idiota. Ou como diria seu pai, pensou Lakroff, "um retardado". Depois ainda perguntam porque não gostava do velho.
- O que tem Albus?
- Me comparou com meu pai, não se lembra? Até o jornal ficou sabendo.
Houve uma pausa onde apenas comunicação visual foi oferecida.
Igor levantou as sobrancelhas e torceu o nariz, como se disse "E ele errou?" e ainda encarou dos pés a cabeça cada detalhe digno de uma obra gore no outro. "Errou?"
Lakroff respondeu com uma única sobrancelha e um sorriso "Diga-me você".
Igor negou com a cabeça e se afastou, recostando-se mais na poltrona "Não sou idiota a este ponto".
A parte de, a este ponto, acrescida especialmente pela mente do Mitrica.
Ao menos, era esperto o bastante para desistir dessa parte:
- Acha que deixar o cabelo crescer vai mudar a semelhança o bastante? Física, é claro.
- Existe outra? – Lakroff provocou e viu o outro tremer.
- Nunca disse isso.
O Grindelwald riu. Igor Karkaroff era, depois de seus filhos mais velhos, a única pessoa que realmente via Lakroff. Muitos sabiam o que ele fazia, do que era capaz, mas deixar que Harry, por exemplo, o assistisse fazendo um ritual? Não.
Isso era demais.
Por enquanto.
Mas Karkaroff era tão... irrelevante, sabe? Os outros professores precisavam de uma imagem pacífica, controlada e capaz de dar boas ideias para uma escola e para o bem estar dos alunos.
Igor não usava o cérebro vezes o suficiente para esconder o monstro por baixo do pelo de cordeiro.
Por isso ele o temia. Mesmo que em pequenas quantidades, nunca em público, pois sabia que Lakroff prezava sua imagem, mas no particular entendia a instabilidade da mente alheia para atiçar demais o fogo e acabar engolido.
Ele também já fora servo de um lorde das trevas. Lakroff não era a primeira coisa assustadora que já tinha visto.
Mas achava que aos poucos tomava o lugar de monstro embaixo da cama, bicho papão, de Igor, e isso o entretinha o suficiente para suportá-lo por perto como diretor.
- Mas seu cabelo... – continuava, tentando se livrar.
Lakroff decidiu que não precisava brincar com isso hoje. Já teve vítimas que sofreram o bastante para livrar aquele:
- Nem tente, vai se afundar mais – Igor pareceu devidamente agradecido pela piedade. – O importante é que não quero que mais alguém fique me associando a Gellert Grindelwald com tanta facilidade, então sim, cabelo grande é minha primeira tentativa.
- Primeira?
- Arrancar um membro nunca esteve fora das possibilidades, só é a última.
- Credo!
- Vai me dizer o motivo de sua visita ou queria apenas que eu lhe desejasse uma boa noite de sonhos? – ironizou.
- Quero sua ajuda.
- Tem a ver com a escola?
- Não, mas me escute – Lakroff não quis.
- Pode ir saindo ou te transformo no meu próximo ritual – avisou, já indo abrir a porta.
- É sobre Voldemort!
Lakroff fechou a porta.
- Articule.
- O que é isso.
- Nem você pode ser tão burro – sussurrou – Quer dizer, fale!
- Então porque não disse apenas "fale"?
- Porque quero que você pare de me enrolar e diga o importante de uma vez, antes que eu decida ver qual a cor do seu metacarpo, que é uma coisa que tem dentro de você. Anda!
Ao invés de falar, Igor levou a mão ao seu pulso e puxou a manga cumprida de sua blusa, revelando uma marca negra.
Muito bem escurecida.
Bem mais do que devia se comparada a anos atrás.
- Quando?
- Tem começado esse ano.
- Demorou para me falar porque, pedaço de lixo?
- Eu só não sabia se você iria me ajudar...
- Te ajudar? – e soltou uma risada seca. – Nunca disse que faria.
- Então para que te contar?
- Para eu não te dar pessoalmente a Voldemort para livrar o meu rabo, que tal?
Igor se encolheu. Não sabia o que era pior, um Lakroff Mitrica sujo de sangue falando de forma fria e distante, como uma nevasca, ou um herdeiro Grindelwald com ódio no olhar que deixava de ser azul céu, mas azul de fogo a gás e estava pronto para te tornar pó por aborrecê-lo.
- Você não... – Igor começou, muito hesitante.
- Ainda não pensei nisso. Ainda – se aproximou. – Mas me teste e veja se não te acho, mesmo que tente fugir, em qualquer buraco que um traidor como você se esconda, então levo sua cabeça como levei esta corça direto para os pés do seu antigo senhor, seu rato estúpido!
Igor Karkaroff, para a surpresa completa de Lakroff, tomou aquele momento para se jogar da poltrona em que estava direto ao chão, praticamente cortando a pouca distância que faltava entre os dois ao colocar sua cabeça no chão.
- Mas que merda é essa?
"Olha só, a merda seca" pensou Lakroff olhando para o cabelo escorrido e desleixado do outro, "se eu chutar se espatifa igual?".
- Eu te imploro, me deixe ser seu servo, milorde.
Lakroff riu seco, de novo e olhou para o lado debochado:
- Agora essa porra. O que te faz acreditar que quero um traidor inútil como você?
Isso surpreendeu o diretor da Durmstrang, que jurava que seu vice faria outro tipo de pergunta e não insinuar que sim, aceitaria um servo, Karkaroff apenas não era adequado.
Por algum motivo acreditou que Lakroff jamais aceitaria, nem mesmo os antigos servos de seu pai, para algo como uma jura de lorde das trevas.
Pelo visto, estava muito enganado.
- Eu posso ser útil.
- Não quero.
- Por favor, milorde.
- Prefiro "meu senhor", milorde é com seu antigo chefe, do qual você covardemente está querendo proteção usando uma nova jura para enganar sua magia com alguém a qual seria mais leal e esquecer o antigo, dando menos poder a Voldemort para te encontrar. Eu errei? – perguntou de forma incrivelmente cínica e fria.
- Não, meu senhor – respondeu, a cabeça ainda no chão.
- Então? Como acha que poderia me convencer a uma tolice dessas?
- Eu posso ser útil, meu senhor, jurarei por isso.
- Você um dia jurou a Voldemort e foi menos que miserável entregando os seus.
- Eu faço um voto perpétuo de que nunca trairia os seus, meu senhor.
- Vou querer nome e sobrenome de todos neste voto, e acrescentar que qualquer um que tenha sido jurado a mim, ao meu pai ou aos meus herdeiros também não pode ser traído, se pensar em fazê-lo, o voto perpétuo já deverá matá-lo. Se concordar com isso, posso concordar com seu pedido miserável.
- Se eu pensar, meu senhor? Não controlo tão bem meus pensamentos...
- Vou ser mais claro.
Lakroff se agachou, levantando a cabeça de Igor Karkaroff pelos cabelos para que pudesse olhá-lo, com apenas um pouco de força para não ficar resmungando, mas o bastante para fazer careta:
- Se seu pensamento for lido por alguém e você trair um dos meus, você morre, se você piscar e isso servir de dica para trair um dos meus, você morre, se respirar diferente, dançar, escrever, vibrar, dormir, gozar, chorar, cantar, sorrir, ecoar ou qualquer verbo da face da terra, envolvendo sua ação, ser, estar ou possuir, de alguma forma servir para começar a revelar o nome, localização ou semelhantes dos que me são jurados e a minha família. Aí. Você. Morre. Entendeu agora? – perguntou com um sorriso, olhando nos olhos do homem.
Igor duvidava que existia um sorriso pior.
E havia sangue nesse.
Foi terrível, talvez mais do que com Voldemort.
Mas... não tinha escolha.
Se trocar um mestre por um pior o salvaria:
- Sim, meu senhor.
- Então jure – aceitou, jogando sua cabeça de qualquer jeito e limpando sua mão nos pelos da corça.
Tinha mais nojo do cabelo de Igor.
Qualquer parte de Igor, na verdade.
- Que nome uso, meu senhor? – perguntou, se ajoelhando da forma correta.
- Lakroff Mitrica mesmo, não fará diferença desde que acrescente as duas casas.
Capítulo 49 - Algo guardado e visita a Hogsmeade
"Seja falando a verdade ou a mentira, deve-se falar que não quer oprimir as pessoas e sim libertá-las, a política é um jogo intrinsecamente de aparências
E não se pode chegar ao poder com a verdade"
Pansy estava saltitante, naquele ponto em que geralmente os meninos, seus amigos, começavam a se irritar.
Theodore Nott, principalmente, não estava com cabeça para isso:
– Mas o que raios?! – reclamou segurando os braços da menina enquanto seguiam para a comunal.
Draco, por sua vez, não sabia ao certo porque seguiu seus amigos. A voz de todos eles o estava irritando por algum motivo. Devia ter ido direto e sozinho para algum canto, talvez a biblioteca ou o campo de quadribol.
Mas daí poderia correr o risco de encontrar e ficar sozinho com outra pessoa, que vinha evitando.
Mesmo contra as indicações de seu pai.
- Theo, querido – disse Pansy calmamente. – Ou você solta meus braços ou eu arranco os seus.
O garoto não pareceu nem levemente afetado:
- Eu solto se você parar de se agitar como um maldito hipogrifo no cio!
Ele levou imediatamente um tapa.
Todos acharam que foi merecido.
Até Theo, de certa forma:
– Desculpe, fui desrespeitoso – pediu com um bufo e Blaise riu, recebendo um olhar mortal, mas que foi prontamente ignorado.
Theodore estava a uma semana (exatos oito dias) tentando se aproximar de Harrison Peverell-Potter. Harry. Ele insistira que podiam continuar chamando-o pelo apelido, apesar da maioria ter escolhido usar o que os alunos da Durmstrang tomavam para si. Hazz.
Sua alteza, irritante e escorregadia, real.
Theodore, só para começar, não sabia se era piada e isso o incomodava. Os Sonserinos que usavam "alteza" geralmente o faziam em tom de brincadeira, só quando falavam diretamente com Harry e vinha acompanhado de um negar com a cabeça, como se tivessem errado sem querer, então a correção "Quer dizer, Potter", mas os Nott sabiam como palavras e a sugestão era importante. Poderosa por si mesma. Mais importante, eles falavam para tentar agradar o garoto.
Agora todos o queriam agradar
Era o maldito futuro lorde mais importante de toda a Grã-Bretanha do dia para a noite!
E agia como se nada!
Bem... mais ou menos. Ele claramente estava ciente da nova atenção e a usava só para dispensar qualquer um novo em seu círculo íntimo que não fosse chamado com nobreza, delicadeza, mas uma velocidade impressionante.
Aquele...
Harrison não era apenas o herdeiro mais importante e bajulado, era um mistério e um desafio e os sonserinos giravam ao seu redor como predadores tentando identificar uma presa...
Ou um predador mais forte.
Theomore Nott foi claro com seu filho. Theo tinha não só o dever, como a missão obrigatória e sem espaço para falhas de descobrir tudo que pudesse sobre essa nova figura política, mas exceto o que já sabia ou coisas que o próprio garoto soltava aqui e ali, não colhera nenhum fruto!
Estava sendo insuportável se aproximar e seus amigos podiam continuar acreditando que estava atrás daquela aposta tola, mas era mais. Muito mais.
Estava se tornando pessoal além da ordem do pai ou de possivelmente ganhar uma aposta contra Blaize, mas Theodore nunca achou tão difícil conseguir informações como agora!
E tinha uma MALDITA ESCOLA para perguntar sobre Potter.
O que conseguira?
"Pergunte a sua alteza", diziam.... TODOS! Que inferno! Que lavagem cerebral aquele maluco tinha feito na Durmstrang que até falar sobre ele os deixava cautelosos às vezes!
Os Nott sempre sabem e Theodore era o único próximo o suficiente para garantir isto e estava falhando! Ele NÃO SABIA!
Harrison parecia um desafio maior a cada dia! Não só os colegas de casa atrapalham com suas tentativas tolas de se aproximar, mas a maldita corte dele.
Claro que a este ponto Theo já sabia tudo sobre ela em si. Seus membros, suas posições, as dinâmicas entre cada um. A Durmstrang era difícil de dobrar, mas não impossível e a corte estava atenta. Perceberam que depois que seu líder expusesse seus nomes a coisa se agitaria e estavam garantindo que ninguém pudesse incomodá-lo. De repente, havia uma barreira de carne humana formada por armários mal encarados em torno do garoto.
Quando ingressaram em Hogwarts não pareciam tão próximo, agora? Eram como sombras ou gêmeos siameses!
Harrison ainda sentava-se no mesmo lugar, conversava com as mesmas pessoas, apesar de aparentemente ter acrescentado ao círculo de conversa os gêmeos Weasley, que vez ou outra o acompanhavam para a saída, falando-se sobre (prepare-se para a surpresa) finanças.
Blaise foi inteligente o bastante para fazer um movimento em um desses dias e conseguiu entrar no debate sobre o cálculo adequado para precificação de produtos no varejo em um local como o beco diagonal. Depois a comparação com produtos manufaturados em negócios "caseiros" e o que deveriam oferecer para competir com empresas pré-estabelecidas. Theodore estava batendo com a cabeça até agora para entender de onde veio o interesse dos demônios Weasley nisso.
Como se tivessem dinheiro para abrir um negócio!
Ou a capacidade...
Mas isso os colocou no seu radar. Por que Harrison Peverell-Potter tinha interesse nos Weasley?
Porque parecia que, mesmo que estivessem conversando com Blaise (e depois até Felix Rosier) sobre isso... se quer saber, eventualmente toda a sonserina que tinha qualquer ligação com comércio e não o ministério estava falando sobre isso. Lojas, seus princípios de lucro e ações da bolsa goblin. Até sobre as lojas que pareciam poder fechar no beco e que negócios soavam mais lucrativos para se estabelecer no lugar e atingir o mercado do futuro.
Dor de cabeça. Completa dor de cabeça.
Theo queria se afogar na banheira do que prestar atenção nisso, mas tinha escolha?
Claro que não!
Nem todos os comentários eram pertinentes, mas Theo ao menos pôde rir das expressões de espanto do salão principal, quando os gêmeos ruivos estavam sentados na mesa verde, junto do monitor da casa, falando até o fim do jantar e um pouco mais além.
Duas refeições. Dois jantares nisso.
O Nott quase se juntou à Draco na reclamação de que sua mesa havia se tornado comunitária!
Notou, ainda na época, que não era apenas Harrison. Durmstrang como um todo, mesmo com a óbvia rivalidade que as casas tinham, pareciam trocar de assentos e falar com outros amigos com frequência. Ele chegara a se perguntar porque não haviam símbolos de suas casas em seus uniformes, mas aos poucos começou a acreditar que mal eles sentiam necessidade de se diferenciar tanto.
Enquanto Hogwarts, as casas eram lei, Durmstrang era sugestão. Uma ideia boba de rivalidade que servia-os para desafio e entretenimento apenas.
"Hei! Aqui tem outros como você" dizia a casa, mas cabia a você se prender apenas a isto ou explorar as possibilidades "no fim, somos todos bruxos estudando as mesmas coisas" foi o que ouviu em um dos dias que se dedicou a seguir os búlgaros e encontrou um grupo conversando com lufanos.
Eles brigavam. Muito. Não era um sistema perfeito e pacífico, mas eram mais unidos do que Hogwarts jamais seria, na opinião de Theodore.
E tinham um líder em comum.
Um líder forte e bem estabelecido.
Como a Sonserina, que procura seus príncipes.
Mas agora para uma escola toda.
Alguns o respeitavam, outros realmente gostavam dele, poucos (contabilizáveis nos dedos, mas ainda existiam) o odiavam, porém o temiam demais para dizer algo, provavelmente. Harrison de alguma forma tinha a escola. Na verdade, o único que parecia ter uma palavra mais forte entre os alunos do que ele, era Lakroff Mitrica, o vice-diretor.
Esse era amado.
Os alunos tinham orgulho do lorde Mitrica como tinham de sua escola (e eram muito orgulhosos em relação à escola).
Eles trabalhavam por isso. Até demais. O fluxo de papelada que às vezes Harrison tinha que preencher na mesa era tão grande que cansava só de olhar, o conselho com frequência tinha reuniões (na semana passada foram cinco) e o vice-diretor sumia em muitos almoços ou jantares para ir até o castelo sede cuidar dos demais alunos. Theo estava formando um plano de ataque, mas era difícil.
"Harry Potter" não tinha tempo livre.
Justamente por todas as coisas que se enfiava, sempre parecia estar fazendo ao menos três coisas ao mesmo tempo. Enquanto comia? Estava trabalhando com o conselho, terminando alguma redação, debatendo algo importante, a tarde estava nas aulas, Theo não o alcançava lá e ele se retirava cedo para o barco, porque acordava absurdamente cedo para fazer aquela caminhada ridícula que Nott tinha plena noção de que não poderia participar nem que quisesse.
Se tinha intenção de se aproximar, teria que conseguir outra abordagem.
E logo.
Na velocidade de... para ontem, que tal?
As abordagens que mais conhecia como herdeiro Nott? Sendo útil ou ameaçando.
Ele precisava de algo que Harry queria, ou algo que precisasse, como fazia com seus colegas. Nunca precisou ir atrás deles, apenas esperar que viessem sozinhos pedir o que estava em suas mãos primeiro.
"Nott... eu odeio ter que pedir, mas..." era sempre assim. Um Nott sempre sabia, então se tornava útil ou uma ameaça.
Subornar ou pressionar Potter com um segredo parecia quase impossível.
De novo, aquilo era seu inferno pessoal.
Não que fosse tão difícil conseguir algo para usar contra ele, provavelmente teria, mas antagonizar alguém com tanta influência sem ter completa noção das consequência parecia apenas uma burrice sem tamanho.
A coisa que receberia de retaliação poderia ser forte demais.
Tinha, portanto, que dar um jeito de ser útil.
Haveria uma forma, só precisava descobrir o que Potter queria, pessoas como ele sempre querem coisas, por isso tem tantos outros em volta para conseguir.
Que tipo de pessoa o lorde Peverell-Potter queria ao seu lado? Porque era óbvio que queria ter mais pessoas. Não podia ser tão abertamente simpático e amistoso de graça. Estava conhecendo os sonserinos e descobrindo quem tinha o que precisava.
Theo tinha que descobrir antes, então oferecer de bandeja.
Outra ideia era ser útil à Harry, ameaçando outra pessoa que fosse um alvo menos perigoso. Depois era só enganá-lo, se aproximar e conseguir o máximo que pudesse. Estava, portanto, notando os padrões que podia.
Ou tentando.
De quem Harrison se aproximou em Hogwarts? Por quê? O que tinham a oferecer? Quem poderia chantagear para alcançar a mesma estima?
O que! O que! O que!
Estava louco. Seus pesadelos eram sobre isso!
O que Neville Longbottom, Luna Lovegood, os gêmeos Weasley e Cedrico Diggory tinham em comum afinal?! Além de que eram todos sangue puros (o que para o mestiço que dizia "nascido entre trouxas" parecia irrisório) a coisa toda não parecia estar mais distante.
Queria um de cada casa? Nott estava disposto a ser o de verdade e odiava essa sensação de querer gritar um "olhe aqui, olhe pra mim!" ridículo. Nunca se sentiu assim antes.
Prestando atenção novamente em Pansy, Theo tentou se esquecer por um segundo de sua inquietação e agir feito gente normal que não queria arrancar os próprios miolos:
- Estou com a cabeça meio cheia, querida.
- Você e Draco andam muito irritadiços, isso sim – ela reclamou.
Era verdade. Draco também estava mais emburrado ultimamente.
Provavelmente era culpa de Theodore.
Mas o que podia fazer? Deixar um Malfoy ganhar dele tão facilmente? Nunca!
Ele teve certeza de ferrar com Draco o máximo que podia desde que tomou isso por objetivo, para que o menino odiasse Harrison Peverell-Potter.
"Aquele que te roubou o título de Black".
Vinha dando indiretas para irritar o Malfoy, furando onde sabia que o outro era mais frágil. Jogou sujo e foi desprezível, mas estava louco, louquinho, conseguir que Dray, amigo seu ou não, fosse incapaz de notar e usar a clara vantagem que tinha naquela guerra, se tornou prioridade. Se Nott tinha uma barreira para atravessar até chegar Potter.
Theodore criaria uma barreira em Draco para afastá-lo.
Por que, infernos, Potter parecia só olhar para Draco?!
Não sabia explicar bem, mas enquanto Harrison conversava com qualquer Sonserino que tentasse (nem sempre as cobras podiam tentar por conta dos dragões raivosos que o acompanhavam), ele era educado, mas não muito... profundo. Não haviam conversas que demonstrassem mais do que o que se veria em um chá de negócios entre cavalheiros.
Não havia favoritismo.
Exceto por Draco Malfoy! (leia isso com a certeza de que quase todos os pontos de insanidade de Theodore Nott foram parte do coro).
De novo, não que ele tenha notado, Theo garantiu isso.
Mas!
Na mesa da Sonserina, desde o anúncio de que Harrison era quem era, sempre havia alguém para tentar lhe trocar uma palavra e seus amigos estavam sempre prontos para matar quem o incomodasse.
"Harry, posso falar com você?" alguém perguntaria e Viktor olharia com tamanho ódio para a pessoa que, mesmo quando Hazz dissesse "claro, o que foi?" a pessoa desistiria, inventaria uma desculpa e sairia. Era o mesmo com toda a corte, em todos os momentos. Theo tinha visto Harry andar sozinho por Hogwarts várias vezes, mas desde que virou Peverell foi como se sua corte soubesse que os britânicos o cercariam como abelhas atrás de mel e tivessem se tornado um inseticida ambulante.
Mas Draco não... Teve um dia, por exemplo, que Harry sentou diretamente ao lado do Malfoy e fez outra brincadeira sobre os bottons que agora diziam (em alguns casos) "Potter Fede".
"Não gosta do meu perfume, Draco? Quer que eu troque? Tem alguma recomendação?" foi o comentário de Potter, enquanto brincava com um botton que tinha conseguido.
E Theo quis se bater por Malfoy ser tão idiota!
Ele tentou disfarçar, mas o amigo o conhecia o bastante para perceber que corou.
Bem... agora nem tão amigo.
Se tornaram, ao ver de Theo, oficialmente rivais desde que essa palhaçada começara!
Ao menos, o Malfoy conseguiu ser menos estúpido em responder à altura. "Recomendo uma perfumaria, Peverell, não me lembro de nenhuma com o nome Malfoy estampado para achar que eu lhe resolveria o problema" e os dois falaram até serem interrompidos por Graham, Adriano Pucey e Cassius Warrington, que também chegavam da aula que dividiam com Hazz e puxaram uma conversa justamente sobre isso.
Uma jogada óbvia para tirar os mais novos da chance de monopolizar a conversa com o herdeiro Peverell.
Potter era um deles. Estava na sala deles. "Fiquem no seu lugar pirralhos", era o que diziam com aquela jogada. Da qual usaram muito na última semana.
Theo normalmente odiaria como foram irritantes com isto e teria ajudado Draco, mas seu pai deixou claro que os Malfoys estavam tão interessados quanto os Nott (seja lá para qual motivo específico) então teve que deixar Pucey tomar essa liderança.
Não era bom para a ideia da corte Sonserina, se começassem a achar erroneamente que o lorde Peverell estava do lado de Pucey, mas Theo ainda era alguém que não dependia tanto disto (sua lealdade continuava sendo a si mesmo) e algo muito mais importante do que a liderança da casa estava acontecendo se seu pai estava envolvido.
Potter também não seria fácil para Adrian desvendar, então não tinha com o que se preocupar tanto.
Apesar de ter dado alguma atenção aos colegas, logo voltou a falar com Viktor sobre um treino que fariam, o que tornou o assunto difícil de se enfiar para qualquer sonserino. Uma dispensa clara.
Se aulas eram o melhor que Pucey conseguia, poderia morrer sem subir de cargo, isso não impressionaria alguém como Harrison.
Draco era, no fim, seu maior desafio ali.
Por isso, os planos para dificultar sua vida tanto quanto a de Nott!
Se eram amigos, que se ferrassem juntos, nada de um com vantagem, não é mesmo?
Descontraído e despretensioso, saindo do banho em uma noite de terça, (ainda pelado, pois isso fazia as pessoas acreditarem que estava desprotegido e as constrangia) Theodore puxou a temática:
"Seu pai também pediu para se aproximar de Peverell?" evitou usar Potter, assim torná-lo-ia maior.
Aumentando seu pedestal, deixava-o ainda mais longe de um simples Malfoy.
"Difícil, não? Eles acham que vamos simplesmente passar a vergonha que Pucey passou e falar de coisas banais com Harrison, como se fosse servir para algo, não é? E para você é pior, não? Todos ainda ficam comentando como Peverell te roubou o posto Black..."
"Todos quem?!" Draco ficou furioso e Theodore sabia que tinha dado certo.
"Não sei ao certo. Ouvi fofocas. Claro que ninguém na minha frente, mas para pessoas de outras casas? A fofoca já está correndo, sabe? Então ficar falando com Peverell como se nada tivesse acontecido, só te faz parecer fraco e derrotado. Assim, até o título de príncipe da Sonserina pode acabar perdendo".
Como disse, ele foi muito baixo.
Aquela nem foi a única.
Precisou de mais tentativas, porque por mais que instigasse Draco Malfoy a odiar Harrison Peverell-Potter, quando se dava conta, os dois estavam trocando animosidades que mais pareciam... Que inferno, paquera!
Eles pareciam estar se paquerando!
Descaradamente!
Ou melhor... a coisa era bem sutil, mas para bom entendedor como Theodore, os dois só pareciam fazer questão de se entender de novo. Ou Harrison fazia! Draco podia fazer a cara de emburrado mais óbvia do mundo e Hazz a destruía com alguns sorrisos e brincadeiras que instigavam o loiro até cair nelas.
Ódio!
Mil vezes ódio!
Depois de seis dias avaliando constantemente o "príncipe da Durmstrang" a única "fraqueza" que parecia potencialmente próxima do alcance de Theodore era Neville Longbottom.
Algo estranho estava acontecendo. Neville e Harrison eram muito próximos desde que o Instituto chegou, mesmo quando não comiam juntos, pareciam conscientes da presença um do outro e interagiam entre si aqui e ali. Além de que faziam aquelas caminhadas pelas manhãs.
Mas Longbottom não estava mais fazendo. Pansy lhe contou, já que a garota esperava junto com outras meninas para ver Harry Potter em seu uniforme (seguem-se as exatas palavras dela) "deliciosamente colado" de ginástica e alguns minutos (às vezes uma hora inteira, pelo que também contou) pelos outros. "Igualmente uma delícia" (e, de novo, essas eram as palavras da garota).
Não que em seu interior Theodore não ficasse curioso.
Decididamente muito curioso.
Chegou a sentir-se mordendo o interior da boca só de imaginar, mas seus hormônios deveriam ficar quietos e discretos, ainda mais quando tinha coisas mais importantes a ver do que homens búlgaros suados.
...
Enfim!
Longbottom. As conversas entre eles pareciam acabar mais rápido e não tinham nada de relevante (as que Nott conseguiu vigiar), geralmente eram mais incentivadas por aqueles que os acompanhavam do que os dois em si e Harry, decididamente, procurava muito mais o amigo com os olhos.
Neville não olhava mais de volta.
Não cumprimentava com aquele sorriso tonto como fazia antes.
Era um sorriso diferente. De quem está escondendo algo.
Harry Potter era um mistério, mas Neville Longbottom? Esse era um livro aberto e um tolo. Poderia conseguir algo dele. Só tinha que pensar como.
E continuar insinuando a Draco que ele parecia, para todos que olhavam, atraído por Potter.
Com um lorde Black agora assumidamente em um relacionamento gay, isso foi o bastante para deixá-lo tão maluco que chegou a evitar sentar perto do Peverell pelo fim de semana todo.
Pansy, novamente, foi quem o trouxe à realidade.
Com sua ladainha despreocupada.
Ah! Como Theo queria ser uma lady agora! Se preocupar apenas se o pai fez uma escolha menos do que péssima em escolher um marido e ter que parir um dia.
Uma perspectiva horrível, mas tinha bem menos política e deveres do que seu estado atual.
Todos ferrados, um menos que outros.
A prova? Como a menina estava animada com tolices:
- Vocês dois tinham que estar empolgados também! Esse fim de semana vamos para Hogsmeade!
Theodore não poderia estar mais indiferente a isto. Praticamente outro fim de semana perdido onde poderia conseguir mais informações, mas de certo Harrison será tomado pela Durmstrang e seus afazeres, como tinha sido nos dois dias anteriores.
Draco, ao que parece, também não estava muito disposto para as trivialidades da amiga:
- Por que está tão feliz com isso? Você já foi ano passado inteiro. O que tem de novo por lá além da sua idade?
A expressão da menina, entretanto, pareceu bem indignada:
- O que tem? Alunos da Durmstrang e da Beauxbatons! Isso que tem de novo!
- Não entendi o ponto – disseram os três garotos, juntos, com o mesmo nível de tédio.
Ela bufou, uma lady não deveria fazer, mas desde quando Pansy se lembrava dessas coisas?
- Vocês são os idiotas. Eu vou com Luna e – Blasio a interrompeu agora.
- Ata, esse é o motivo da animação. Boa sorte no encontro.
Uma Pansy muito corada bateu com o pé no chão e parou de frente aos meninos, a fim de impedir sua caminhada:
- Não! Olha, vocês são três cabeças ocas que não conseguem ver uma oportunidade diante de vocês, então minha vontade é de mandá-los ir pastar com os hipogrifos, mas como sou uma ótima amiga, podem deixar que fui inteligente o bastante pelo grupo – e sorriu vitoriosa após o discurso.
Draco e Theodore se entreolharam, Blaise fechou os olhos coçando a cabeça. Malfoy foi o que se deu ao trabalho:
- Fale logo, Pansy.
- Vou dizer só porque pediu com jeitinho, Draquinho – a Chanel aceitou, em um tom mais cínico que conseguiu. – Vou com Luna e Harrison Peverell-Potter! – diante dos rostos surpresos dos colegas, a menina revirou os olhos. – Parece que só eu tento aqui...
- Como é? – perguntou Theodore piscando.
Aquilo era... incrível! Ele podia beijar Pansy agora se não gostasse muito menos da ideia de beijar uma mulher pelo fato de que talvez tivesse de fazer isso pelo resto da vida em alguns anos.
A menina, pareceu até mesmo notar e se afastou dele discretamente:
- Enquanto vocês, bando de idiotas, perdiam tempo, chamei Luna para irmos juntas aproveitar o fim de semana, ela perguntou sobre meus amigos e se não ficariam chateados de me perder, foi quando ofereci chamá-los e ela devia chamar Harrison! Vamos deixar você sozinhos, se meu plano correr bem, é claro, mas mesmo assim – Theodore sentiu que devia interrompê-la antes que a menina começasse com alguma divagação tola bem característica.
Precisava de informações:
- Mas ele não aceitou ainda, é isso?
- Ele vai. Eu disse como Harrison é novo aqui e precisa de alguém para devidamente lhe mostrar a cidade e, já que o clima parece estranho com o Longbottom, podíamos animá-lo com doces da dedos de mel e cerveja amanteigada juntos!
Nott ficou realmente surpreso, e um tanto impressionado, que Pansy havia notado o clima diferente entre os amigos. Não é como se eles tivessem parado de se ver ou conversar, a coisa só não parecia mais... natural. Como se tivesse um Seminviso na sala. A Parkinson oficialmente tinha subido em sua escala de mentes funcionais.
Ou talvez Luna que tenha conversado com a amiga.
As duas pareciam mais próximas a cada dia, mas saber usar a informação ainda contava. Draco não pareceu pensar o mesmo:
– Você realmente pensou nisso ou chamou Luna e depois se acovardou e usou Harry para não chamar seu convite de encontro?
- Draco! – ela reclamou. – Não seja assim comigo! De toda forma temos a maneira perfeita para mostrar a todos que nós fomos a escolha do lorde Peverell-Potter!
Aquela foi uma observação muito certeira.
Para enfurecer o interior em brasas que foram atiçadas em Malfoy por Theodore:
- Você então está simplesmente supondo que ninguém mais convidou o tão desejado "príncipe" para sair? Mesmo que ele concorde, o que está pensando? Que aproveitemos isso para o que? Estreitar laços com o Potter?
Draco era um dos únicos que realmente conseguia fazer o nome Potter parecer irrisório atualmente. Seu tom de voz parecia querer não só tirar sua importância, mas torná-lo... chacota. E conseguia. Isso era assustador.
Um Malfoy em sua arte: tornar as pessoas insetos.
- Que sejamos vistos pela Sonserina, você diz. Como se fosse nos ajudar! Acha que Potter não notará se o usarmos tão descaradamente? Que irá conosco sabendo que estará hasteando uma bandeira de favoritismo? Ou é mais provável que recuse o convite e fique trabalhando como tem feito em todos os fins de semana?
- Luna disse que ele – mas a morena sequer conseguiu terminar a frase.
- Outra dúvida é: e depois? Mesmo que ele vá para Hogsmeade conosco, vamos tomar cerveja e ficar conversando coisas tolas? Lembrá-lo como ele já é bem diferente de todos nós? Ele é um Lorde, Pansy! Além de Luna, alguém que às vezes parece mais um pet que a Durmstrang adotou, todos os seus amigos são mais velhos que nós, tem mais compromissos que nós, um deles já está literalmente com uma carreira tão formada que estava como jogador titular e o escolhido para apanhador de seu país. O que temos a oferecer a ele? Uma visita a uma loja de doces? Contar as histórias tolas sobre a casa dos gritos? Isso nos jogaria na lama tão rápido quanto dizer a palavra "infantil"! Não adianta que pareça termos o favoritismo e nem essa coisa toda de príncipe da Sonserina. Não na vida real. Ele, de novo, é um lorde e estar perto dele é arriscar o nome das nossas casas ao ostracismo se não lembrarmos disso!
- Draco, calma, ela só está querendo ajudar – Blaise interveio, se aproximando do amigo.
Theodore se afastou estrategicamente.
- Nós conversamos com Hazz faz semanas, o que tem de diferente agora?
- Um título, que tal?! – o loiro estourou. – Pior, Pansy, agora sabemos como e quem ele é e achar que estamos no mesmo patamar só mostra que você não tem olhado à nossa volta!
A garota não se deu por vencida:
- Ele ainda tem títulos de um país que nem mora, não conhece quase nada sobre nossa política e nossas famílias, ele precisa de laços e alianças tanto quanto nós! Ainda temos alguma vantagem com que trabalhar!
Ela não estava errada, mas Draco era uma fogueira e precisava de mais do que soprar para apagar.
Furioso, ele deu as costas para os amigos (e Theodore) e se foi.
- Achei sua ideia brilhante, Pansy – o garoto disse depois que estavam sozinhos. – Não ligue para ele, você foi incrível.
- Eu não ligo! – ela resmungou, jogando os cabelos e voltando a andar. – Draco precisa sair da TPM.
- Ele precisa dar, porque é o que ele quer – murmurou Blaise, o que chocou Theodore e fez Pansy sorrir abertamente.
- Não deveria rir disso, você é uma dama. Brigue com ele!
- Você também está precisando de uma saidinha. Está chato como Dray!
- Se quiser, estou disponível – sugeriu Zabine.
- Credo, Blaise!
- O que tem? Você gosta da fruta.
- Não da sua! Que inferno, vamos falar disso na frente de Pansy?
- Blaise levou um fora! – a menina provocava, sem dúvidas não ligando para o assunto. – Do Theo, ainda por cima.
- Eu levei. Sabia que é meu primeiro fora, Theo?
- E porque isso me importa?
- Porque posso decidir revertê-lo em um sim para voltar a ser invicto – disse se aproximando mais.
Theodore tremeu:
- Vê se me esquece.
- Te garanto que seria sua melhor experiência – então, talvez porque Theodore não realmente pensasse que o amigo iria tão longe, conseguiu agarrar-lhe a cintura e puchá-lo para mais perto com um sorriso vitorioso.
O Nott se viu preso, surpreso e (para seu inferno pessoal) corado.
- Blaise! – gritou.
- Theodore – piscou Zabine.
-x-x-x-
"Como Lucius reagiria se soubesse que seu filho parece atraído pelo lorde que o humilhou em seus objetivos?"
Esse pensamento, estranhamente vindo com uma voz que parecia de Theodore, brevemente passou pela cabeça de Draco antes dele reprimi-lo até a quase inexistência em sua mente, sobrando apenas sua própria consciência o insultando por chegar a cogitar algo como aquilo.
Ele não estava atraído por Harrison!
Ele apenas...
Sentia seu peito doer e pesar sempre que ele sorria e tentava, mesmo quando Draco o afastava, brincar sobre coisas aleatórias que puxavam a competitividade de Draco, até os dois estarem bem de novo.
Sentia-se feliz com como ele sempre o chamava de Dray quando estavam sozinhos, como sorria ao dizer aquilo, tal qual se fosse uma brincadeira apenas para os momentos deles.
Ficava confortável sabendo que mesmo com todos querendo sua atenção, ele ainda puxava assunto com Draco na maioria das vezes e sorria de todas as suas tentativas de cortar isso, como se nunca fosse permitir que elas funcionassem. Não se tinha alguma coisa a dizer sobre isso.
Como, normalmente ao ser o último a chegar, tomava a cadeira ao seu lado, ou na sua frente e sorria provocando-o, sabendo que Draco não queria aquilo, mas ao mesmo tempo gostava tanto de ter e...
- Que inferno!
O garoto praguejou enquanto chutava uma das paredes de Hogwarts com força o bastante para fazer seu pé doer e, com sorte, devolvê-lo à realidade.
Porque agora, igual a merda de um brinquedo quebrado, sua cabeça só passava imagens dos sorrisos e dos olhos verdes de Harrison Peverell-Potter!
O maldito lorde!
Theodore lhe acertou um soco no estômago que ainda causava dor quando evidenciou que as pessoas vinham notando a forma com que Draco olhava para ele.
Que forma?!
Nem ele sabia afinal!
Estava tão perdido...
Era isso o que percebiam de si? Que estava quebrado? Que por mais que tentasse criar uma máscara de indiferença e uma muralha de frieza, Harrison a derretia como um próprio dragão soltando fogo.
Sorrindo.
Sempre sorrindo.
Sempre vindo.
Nunca desistindo de Draco.
- O que ele quer de mim, afinal?!
"O que eu quero dele?" outro pensamento ladino, que deveria ter morrido na base.
Mas este dançou e girou por sua mente.
O que Draco queria de Harry Potter, o príncipe da Durmstrang?
Queria esmagá-lo! Mostrar-lhe que não era especial, que Draco não estava abaixo dele!
Queria vê-lo sorrindo todos os dias...
Ele urrou de raiva e correu para mais longe, porque agora haviam pessoas naquele corredor e não queria que ninguém o visse assim. Não queria ninguém por perto!
Mesmo assim, como se Lady Magic ou Destiny estivessem decididas a atormentá-lo ainda mais, quando Malfoy deu por si, estava ouvindo a voz de Moody, ou seja lá quem fosse e, isso o fez se mover mais rápido por instinto, Hazz.
- Então você já sabe? – disse Moody, um possível comensal, mesmo que seu pai não tivesse tido a chance de confirmar nada a Draco.
- Sim, eu e os demais campeões. Estamos trabalhando nisso. Mas o que o senhor deseja me perguntando coisas do tipo?
- Eu estive pensando, Potter, ouvi algumas coisas sobre o senhor.
- Peverell-Potter – corrigiu.
- Sim, claro – respondeu em um resmungo característico de olho tonto, mas aquele não era olho tonto, não se Harry tinha alguma razão.
E isso assustava Draco.
Quando chegou finalmente ao fim do corredor, finalmente conseguiu ver as pessoas dos dois. Se embrenhou entre uma parede e uma pilastra, na passagem para uma das áreas de jardins do castelo, aquela onde no centro havia uma enorme árvore e que muitos Lufanos frequentavam.
Agora a mesma estava bem vazia, apesar de que era fim do período e mesmo que alguns alunos passassem em seus dormitórios antes do jantar, a maioria vagava por Hogwarts e estes ambientes para aguardar a refeição. Mesmo assim, o corredor onde estavam Potter e Moody criava um bom eco e onde Draco se escondera era um tanto discreto, conseguia ver bem todo o espaço enquanto ficava levemente ocultado.
- Soube que é um ótimo apanhador.
- Não vejo como isso possa interessá-lo, professor.
Deveria fazer alguma coisa, não? Os dois começaram a se afastar. Deveria segui-los? Chamar Harrison e tirá-lo dali? Sua dúvida o fez perder tempo precioso, quando percebeu os dois tinham sumido e o menino correu desesperadamente para encontrá-los novamente..
Depois de percorrer três corredores e subir três lances de escada, se deu por vencido e voltou ao mesmo canto escondido de antes. Escorado a parede. Derrotado.
"Ele não é estúpido" pensava, "Não correria o risco de ficar sozinho com alguém que pode ter chances de mata-lo, não é? E se fosse o caso..." ele mordeu o lábio nervosamente, tanto que sentia que logo estaria com gosto de sangue na boca "Deve saber alguns feitiços das trevas para ao menos fazer barulho antes de deixar um comensal derrubá-lo, eu não ouvi nada, então... deve estar tudo bem".
Mas ainda estava preocupado, ainda estava escondido atrás de uma pilastra.
E ainda estava furioso consigo mesmo por tantos motivos que mal podia contar!
Ele baixou a cabeça e cruzou os braços com força contra o corpo se sentindo um tanto miserável.
Seus pais sempre lhe deram tudo. Absolutamente tudo. Sua vida girou em torno de uma imagem de perfeição e poder.
Os Malfoy tudo tem.
Um Malfoy tudo pode.
Ele só tinha que usar seu dinheiro, sua influência, algumas conversas de seu pai com quem fosse e as portas se abriam.
Draco tinha que aprender a ter as mesmas conversas, tinha que criar sua própria teia de pessoas que fariam o que pedia, seu pai lhe deu os filhos dos amigos mais próximos para começar.
E o que ele fez?
O que conquistou?
Pansy, Blaise, Theodore e talvez meia dúzia da Sonserina que pensavam que ele era uma escolha melhor porque tinha um nome mais forte.
Mas o que isso significava?
Theodore claramente não via Draco como alguém que conseguiria ser príncipe sozinho. Um líder. O via como igual e olhe lá! O desafiava constantemente, ria de si e... e tinham os comentários.
Lembrando-o como era patético.
"Não é engraçado como chamam ele de príncipe pela Durmstrang e ele foi selecionado para a Sonserina? Só é uma bosta quando alguém comenta que se ele estivesse em Hogwarts já seria o príncipe. Acho que você teria chance, Dray, mas o pessoal está muito focado no nome Black agora que ele o tomou".
Nunca ouviu nada disso, além do próprio Theodore e, sinceramente? Nem sabia se podia mais confiar. Seu pai alertou como Nott pode ter feito um pedido para seu filho e Theodore se tornava outra pessoa quando se tratava de seu pai e seus pedidos.
Se tornava um Nott.
Esqueça Theo.
Ele era capaz de qualquer coisa para conseguir o que queria e ele claramente devia estar querendo as cadeiras na câmara dos lordes que eram oferecidas a Potter agora.
Nott se focaria nisso, pegaria as informações, andaria por entre as linhas colhendo tudo que conseguisse, enquanto Blaise pegava o que escapava pelas sombras como a boa dupla que eram.
Mas Draco não era um príncipe, eles não eram leais a Malfoy, eram seus amigos e leais a si mesmos, sabia disso. Era assim que a casa das cobras funcionava se você não fizesse seu trabalho direito e...
Draco não fez o seu.
Insignificância.
Derrota.
Derrota.
Derrota...
O que um príncipe deveria ser!
Era isso, não?
Draco só estava tentando entender como.... poderia estar falhando tanto? Como ele sabia tão bem como agir, como sorrir, como falar com as pessoas certas, da forma certa? Postura, educação, dicção, discurso, influência, manipulação de ambiente, liderança.
Ele tinha tudo.
Tudo que Draco deveria ter sido ensinado mas, ao que tudo mostrava, jogou no lixo!
Agora não era mais um Malfoy, não tinha mais que fazer sua rede e se manter no poder.
Era sobre como poderia se aproximar do garoto para conseguir seu apoio.
Foi o que seu pai pediu, era o que sua casa esperava para nomear um príncipe enquanto agiam tal qual se já tivessem nomeado um e seu nome era Harrison Peverell-Potter!
Theodore estava certo!
Qualquer boato estava!
Era o que pensavam de si? Que tinha perdido para Harrison?
Claro que não!
Claro que sim...
Fora esmagado.
O título Black foi roubado? Não. Harry nasceu para ter os títulos, mesmo o de Black, Sirius praticamente o nomeara no nascimento como seu herdeiro, era amigo de Remus Lupin desde a guerra e provavelmente já namoravam lá. Já devia saber que não queria um herdeiro (ou era infértil como sua mãe disse que alguns Black nasceram), mas ao fazer aquele tipo de batismo mágico (um apadrinhamento de adoção mágica era coisa séria e oficial), já tinha sido decidido o futuro Lord Black.
A guerra apenas impediu todos os lados de terem essa informação, provavelmente.
O título nunca foi de Draco, não tinha como ser roubado.
Sem contar que Potter era neto de uma Black, tão herdeiro de sangue quanto o próprio Draco! Sirius, então? Foi praticamente adotado pelos Potter, o que fazia James Fleamont seu irmão.
Harrison era também sobrinho em muitos sentidos.
Tudo era de Hazz por direito, por mais que não fosse o tipo de arranjo adequado e tradicional para os lordes. Era oficial e legítimo.
Além de esperado.
Então porque sentia que tinha perdido?
Derrota.
Em tudo.
A mãe de Harrison ainda era uma nascida entre trouxas...
Mas esse era o novo nome. Nascido entre. Todos estavam aos poucos aderindo. Porque fazia sentido, porque um líder disse e os induziu a pensar sobre. Queria que os nascidos entre trouxas fossem trouxas e, portanto, trouxas são permitidos a ter magia, ou todos podemos concordar que só bruxos tem magia?
Simples assim ou era quem dizia, como dizia, como convencia com as palavras, encantava com a face, distraia com os gestos e arrebatava como pessoa?
Um sangue ruim na casa Black e como lorde... Ainda falavam isso, mas estavam com tanto medo do nome Peverell que parecia... uma troca justa, sabe? O sangue trouxa pelo sangue Peverell. O acréscimo de uma casa tão grande a outra enorme, tornando-se a maior.
E a avó era uma Black adequada, reafirmou.
Hazz podia ser mestiço. Um mestiço entre os Black.
Mas era sua posição.
Aquele que derrubaria isso de uma vez por todas. O Peverell que haveria de lembrar aos Black que casamento entre famílias sempre foi a forma de ganhar. O primeiro, logo depois do Lorde que se casaria com um lobisomem.
Uma nova história. Nunca algo velho. Harrison era um príncipe, mas era novidade, surpresa. Era pensar em possibilidades.
Era a própria ideia das trevas.
Onde nada se pode dizer, pois nada se vê com clareza e, portanto, se prevenindo ou não qualquer coisa dali pode sair.
Os nomes sempre estiveram esperando por ele, para que fossem enfim reivindicados. Potter, Black, Peverell.
Mas ele não precisou do nome para conquistar a posição de príncipe.
...
...
Ele era príncipe antes de anunciar seus nomes. Antes do título que Draco aprendeu que abriria portas.
...
...
"Você conseguiria qualquer coisa sem o nome Malfoy?"
O loiro sentiu o peito doer um pouco mais e, em conjunto, apertou mais seus braços, e se encolheu mais em si mesmo. Olhos bem fechados.
Harrison Black Peverell-Potter era, antes de tudo, Harry Potter. O menino que sobreviveu. Aquele que venceu um lorde. Então era, antes disso, um mestiço e um que fora para Durmstrang. Alguém que conquistou o que tem, muito além de esperar pelo que nasceu para receber.
"Harrison é um líder de verdade, você é uma decepção" pensou.
"Você nunca fez nada" reiterou.
Ele conquistara uma escola e Draco conquistara a aversão da maioria daqueles na sua.
Ele é o menino que sobreviveu...
"Aqui, na Grã-bretanha" comentara Theodore antes de dormir um dia desses. "Algumas famílias poderiam até ter pensado que ele era um novo lorde das trevas em formação, lembra-se disso? Mas nem todos mantinham esse pensamento. É meio absurdo mesmo, você sabe. Mas acho que era um jeito de consolar as trevas quando nosso mestre foi derrotado por um bebê. Um bebê da luz, ainda por cima".
Harry era para ser o campeão da luz, todos os livros de história e de certo tudo que outros países escutaram, dizia que este era fato consumado.
Então ele foi contra tudo, sozinho, e se tornou o líder das trevas em três anos no único Instituto para conhecimento das artes sombrias da Europa.
O que não fará agora que têm todos os títulos sombrios nas mãos?
"Muito mais que você, sem dúvida, porque ele sabe o que está fazendo" seus pensamentos o lembravam.
Era assim que um príncipe tinha que parecer... Como Harrison? O príncipe da Durmstrang!
Os dois pareciam tão distantes...
Mesmo com a idade, com as brincadeiras de Harrison, se sentando juntos na mesa e até com a recém liberdade do uso do apelido...
Era como se houvesse sido criada uma rachadura gigante que os separava em outro patamar. Uma rachadura que elevou Hazz e abaixou Draco para sua verdadeira...
Insignificância.
Harrison tinha uma escola nas mãos, seus títulos, sua sabedoria, seu poder latente, a atitude, carisma e dezenas de dotes invejáveis e... Draco tinha o quê?
Insignificância.
Os dois não pareciam distantes, eles estavam.
Eram.
Um abismo de distância.
Draco ouviu alguém passar pelo corredor bem próximo de si, mas estava tão miserável que se lembrou de ser insignificante e quem quer que fosse podia passar e seguir com sua vida sem nem notá-lo ali, entre as sombras que começavam a surgir com o fim do sol e as tochas se acendendo pelas paredes.
Menos ali, ali estava escuro.
A pessoa, entretanto, não pareceu achar Draco insignificante o bastante para ignorar. Pelo contrário, o loiro teve a impressão de que estava parada, se não no mesmo local, ainda muito próximo.
Sua impressão estava errada, pelo que percebeu ao levantar a cabeça para brigar com seja lá quem fosse.
A pessoa parada à sua frente.
Era Harrison.
O que lhe rendeu um susto que o fez pular no lugar.
Para piorar, ele não sorria agora ao olhá-lo. Nem riu dessa vez do susto do outro, como fizera em todas as outras que aparecera sorrateiramente.
E, por todos os deuses, Draco não queria a piedade de Harry Potter agora!
Nem nunca:
- Que está fazendo aqui? Não lembro de ter te chamado e ainda vem me assustar assim!
- Me desculpe.
- Não é a primeira vez que faz isso!
- Eu sei, realmente me desculpe. Não foi minha intenção.
- Então não chegue sorrateiramente por trás dos outros!
- Como eu poderia chegar na sua tocaia aqui – e olhou em volta, para o local mais reservado. – Sem te revelar, que não fosse de forma sorrateira?
O argumento de Harrison pareceu ser válido demais para Draco contrariá-lo, mas isso também pareceu deixar o menino um tanto emburrado.
Harry achou a expressão que isso gerou bem fofa.
- E então? Posso fazer alguma coisa?
- Como é? – a pergunta foi tão repentina que confundiu os sentidos do loiro, que ainda não tinham tido tempo de fugir do afogamento de sua melancolia para a superfície da realidade.
- Luna me disse que quando as pessoas não estão bem devemos perguntar o que podemos fazer e não o óbvio de sempre. Você sabe, não é? Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Claro que não está e se é o caso, então provavelmente aconteceu algo para nos deixar assim. É mais fácil ir direto ao ponto. O que posso fazer por você, Dray?
Mas Draco não queria nada de Harry e, oficialmente, tinha saído do miserável para o irritado:
- Pode ir circulando, Potter. Não o chamei aqui.
Sabia que era idiota, não devia antagonizar o Lorde Potter-Peverell, pelo contrário, seu pai lhe disse para tê-lo como aliança próxima, mas lá estava. Sendo rude.
- Certo, circulando... e se eu não quiser? Vai fazer o que para me forçar, Malfoy?
A provocação, acompanhada de um real sorriso de desafio, indignou o já irritado sonserino:
- Vá arrumar o que fazer, Potter!
- Já arrumei. Pelo jeito, lhe tirar do sério.
- Não preciso de você para isso, Pansy pode atestar. Já estou fora de sério e você deveria cuidar da sua vida! – foi uma ameaça, ele apontou para o corredor para dar efeito.
Harry inclinou a cabeça para o lado e riu:
- Cuidar da sua parece que está mais divertido agora.
Draco quis, pela primeira vez, acertar um soco naquele sorriso.
- Quem sabe? – questionou cruzando os braços. – Você não estava com o falso Moody?
- Estava me espionando? – provocou novamente.
Ah sim, Draco queria muito acertar alguma coisa naquele garoto abusado!
- Vocês estavam em um corredor público, se não queriam ser vistos, fossem para outro lugar.
- Ah, então foi até aí que você ouviu. Quer saber do resto?
O fato do outro lê-lo tão facilmente com tão pouca informação, coisa que Draco não se lembrava de já ter feito com tanta maestria, só piorou seu estado de humor.
- Não quero saber da sua vida, Potter. Queria que se retirasse da minha!
- Vai te deixar mais feliz?
- Infinitamente!
Houve um tempo de pausa, onde o moreno parece ter considerado seus próximos passos. Draco não esperava uma pergunta direta:
- Eu te fiz alguma coisa?
- Alguém deveria se achar menos o centro do mundo. O que foi? Os títulos lhe subiram à cabeça? Ou o comensal em Moody te ensinou a ser louco como ele?
Harrison olhou em volta, para ter certeza de que ninguém os ouvira ali:
- Cuidado.
- Que seja – resmungou.
Isso fez o Potter estreitar os olhos e depois de uma boa encarada em Malfoy, questionou:
- Você manteve a palavra, não é? Não contou para ninguém sobre essa minha suspeita?
- Não! – afirmou como se fosse óbvio.
O que não era.
Draco pensou tantas vezes nos últimos dias em contar e questionar sobre isso para o seu pai, tantas vezes quanto tinha de correspondência com o lorde, mas não importava o quanto estivesse decidido a compartilhar essa informação, ele simplesmente desistia na hora que pegava a pena e começava a frase!
Era irritante, como se algo o impedisse, mas sabia que não tinha nada, então porque uma simples promessa com Potter parecia mais importante do que falar com seu pai algo do tipo?!
Aquilo era ridículo!
Mesmo assim, ele ocultou sua irritação com um desafio:
- O que acha que eu sou?!
- Um homem de palavra.
- Então não precisava perguntar – retrucou mais aborrecido.
Considerando os níveis de aborrecimento anteriores, logo ele ficaria vermelho, julgou Harry.
Ele vinha notando que, com muita frequência, Malfoy estava ficando aborrecido consigo e por muito pouco.
Tinha a impressão de que algo acontecera dentro da Sonserina desde que anunciou que era o Lorde Peverell-Potter, algo que fizera Draco menos aberto à sua aproximação.
Não tinha conseguido comprovar nada ainda, apesar de seus instintos murmurarem coisas... engraçadas.
- Desculpe sugerir o contrário.
- Que seja – Malfoy dispensou, virando-se de costas para Harry e seguindo caminho em outra direção.
Harry nem percebeu quando seus pés o levaram a seguir o colega de forma imediata.
- Desistimos de ficar escondidos.
- A coisa da qual eu estava me escondendo me achou.
- Coisa? – alarmou-se, um tom dramático cobrindo cada palavra. – Pelas barbas de Merlin, o que fiz para o herdeiro Malfoy me considerar tão pequeno assim? – e, agora sem o mesmo tom condescendente, mas ainda estranho aos ouvidos alheios, acrescentou: - Desculpe, seja lá o que.
- Acho que tem passado muito tempo com os Weasley. Está pegando suas manias irritantes.
- Se refere aos gêmeos ou ao geral?
- Eu lá conheço aquela família de traidores para saber do geral?
- Sabia que, se eu tiver feito alguma coisa para você, basta me dizer e eu juro que posso me desculpar adequadamente?
Draco, entretanto, pareceu afetado por isso mais do que devia e parou de repente.
Harry bateu contra seu peito, na sua busca por segui-lo e não percebendo o movimento a tempo. Quase perdeu o equilíbrio, mas Malfoy teve a decência de segurá-lo no lugar.
Abriu os braços e agarrou Harrison a si.
Tão próximos que quase parecia um abraço.
O cheiro do sonserino invadiu as narinas do presidente do conselho estudantil. O mesmo de antes, maçãs verdes, perfumaria cara, pergaminho novo, tinta e carvão.
Ainda não tinha descoberto o porquê do carvão, mas estava bem curioso.
Hazz olhou para cima, porque é claro que Malfoy era mais um na lista de pessoas maiores do que Harry Potter, o menino que não cresceu direito, e assistiu com diversão aqueles olhos cinzentos parecidos com os de Sirius, mas ainda bem únicos, o tom de azul mais proeminente e chamativo nos olhos do garoto a sua frente.
Mesmo assim...
- Olhos Black – sussurrou sem perceber.
Entretanto, o que pôde perceber e assistir desenrolando-se na sua frente foi a forma como aqueles olhos mudaram de um céu nublado para uma tempestade.
Harry se lembrou de quando estiveram tão próximos assim antes, quando notou que Draco Malfoy tinha olhos de tempestade e sua mente divagou sobre como sua magia era uma tempestade.
Mesmo assim, uma era azul, a outra tinha raios verdes.
Eram diferentes e, por algum motivo e se a alma de Draco era alguma prova, pareciam prestes a entrar em atrito.
- Você percebeu que vêm pedindo desculpas sem parar? – o loiro questionou, o mesmo tom impaciente.
Ele, entretanto, não largou os braços de Harry, pelo contrário, os apertou mais.
Nada que fosse machucar, de toda forma.
- Eu pareço o estar incomodando, sem parar. E realmente não sei o motivo.
- Se está me incomodando, porque não se afasta?
Harry pensou por meio segundo que o fato de Draco o estar literalmente segurando parecia um motivo, mas não foi nem de longe o que se viu respondendo:
- Não quero me afastar de você.
A forma calma e sincera com que aquilo foi dito pareceu finalmente acalmar os nervos de Malfoy, que afrouxou o aperto.
Mas seus olhos... continuavam tempestuosos. Furiosos como um tufão.
- Poderia, por favor, só não agir assim?
- Assim como?
- Como se fossemos amigos.
- E não somos?
- Eu...
Ele não conseguiu responder.
- Realmente você deveria apenas me dizer o que há, Dray, e eu.
- Não me chame assim!
- Achei que eu podia.
- Não pode mais!
- Por quê?
- Não quero!
- Por quê?
- Não te interessa!
- Porque está me tratando assim quando eu não fiz nada para merecer?!
- Para de perguntar porquê! – mandou, em sua raiva, aproximou-se ainda mais o rosto do outro. – Só me obedeça e saia de perto.
- Me dê um bom motivo – Harry continuava a desafiar, a puxar naquela direção.
Agora Draco poderia confirmar que tinha enlouquecido de vez, ele empurrou Potter até a parede e o segurou ali, seus rostos a centímetros um do outro e ficou maravilhado como, enfim, o menino se calou.
Reagiu com algo além daquele maldito sorriso.
Pelo contrário, ele se calou de vez, seus olhos um pouco mais abertos que o normal e encarando Draco com o que parecia receio.
Finalmente! Ele estava com alguma vantagem!
Isso continuou enebriando seu bom senso, que apenas se inclinou e murmurou de forma intensa:
- O motivo é que eu mandei, Potter.
- Você não manda em mim, Malfoy.
Draco queria tanto, tanto, acertar alguma coisa em Harry Potter.
- Você não sabe se por no seu lugar, a fama realmente subiu à cabeça...
- Agora essa.
Isso irritou Harry. Ficou óbvio quando seus olhos verdes pareceram brilhar um pouco mais e não de uma forma saudável.
Na verdade, Harrison estava começando a se cansar daquilo.
Draco aparecera com a alma em estado de choro, desespero e parecia muito confusa, quando o encontrou, acalmou seus próprios nervos agitados por um tempo para tentar ajudá-lo se pudesse, mas ele mesmo estava tendo um dia ruim.
Outro.
Ou melhor, estava em sua segunda semana consecutiva ruim!
Nesta, teve um fim de semana infrutífero (novamente) em suas tentativas de falar com Neville, os olhares obviamente começaram por conta do artigo de Skeeter e, por mais que precisasse daquilo, ser visto com pena por todos e constantemente perguntado aos sussurros nos corredores se precisava de um abraço o fizera querer arrancar os próprios dentes fora, Severo o perturbando na segunda, Neville fugindo dele desde seu plano no laboratório, Moody buscando-o para "ter uma palavra" a três dias seguidos, apenas para lhe dar uma maldita dica de vassoura ou sei lá porque Voldemort queria agora que Harry tivesse outra dica, de certo para tentar cobrar, mas estava longe de conseguir, então a própria carta de Voldemort que...
Certo, essa foi uma das poucas partes boas em sua semana. A surpresa de recebê-la, a expectativa de lê-la e relê-la várias vezes para pensar em uma resposta adequada, um plano para impressioná-lo! Se sentia uma criança tola querendo que o pai a visse fazer algo e toda a situação era tão distorcida que Tom estava o chamando de biruta, mas veja só, algo tinha que distraí-lo ou ia acabar matando alguém!
Mas de resto?
Harrison estava realmente, verdadeiramente, pirando!
Nunca imaginou que seria tão dependente de um contato com Neville, mas o garoto agora estava a alguns passos de distância sempre e, ao mesmo tempo, parecia a quilômetros de si!
Tinha suas aulas, o trabalho como presidente e, sinceramente, estava contando os dias para a primeira tarefa desde que se embrenhou junto dos outros campeões pela floresta e conseguiram por os olhos nas malditas coisas!
Quatro!
Um para cada!
Ele tinha seu próprio Dragão cuspidor de maldito e sangrento FOGO!
Sua vida estava um caos e lidar com seja lá o que estava deixando Draco Malfoy um caos, com Harry, era necessário, porém não aguentaria, além de tudo, ouvir algo que poderia ter saído da memória de Sirius de como Snape trata seus alunos.
Tinha seus limites e Draco alcançara um:
- Acha isso? Que eu tenho alguma maldita fama que subiu a cabeça? Você gosta dos seus pais, Draco?
- Como é? – o loiro estranho, se afastando um pouco.
- Eu gostaria de ter! Pois é! Que fama incrível!
- Não estou falando disso – Draco tentou se explicar.
Nunca usaria a condição de Harry como órfão para afetá-lo, foi mal interpretado. Sabia e tinha visto como o assunto era delicado, tinha sido um desastre ao levantarem na época do Samhain.
Talvez todos em Hogwarts se lembrassem do medo que sentiram do garoto naquele instante.
- Ah, não? Que fama me levou, então? Esclareça-me.
A arrogância em seu tom reativou as faíscas em Draco:
- Você acha mesmo que é tudo isso só porque ganhou o nome Peverell?
- É sobre isso?
- Parece-me, é o que te faz acreditar que pode ignorar alguém claramente o dispensando! – e apertou mais suas mãos na jaqueta do mais baixo.
- E o que te faz então, acreditar que pode tratar assim um Lorde?
- Você pode ser Lorde, Potter, mas não pense que é melhor apenas por isso. Você e todos que acreditam nisso são tolos!
A luz se acendeu.
E Harrison mal podia acreditar:
- Você está com inveja?!
- Inveja? De você?! – indignou-se o loiro. – Caso tenha se esquecido eu também sou um Lorde. Lorde Malfoy! E você é apenas aquele que Sirius Black, a vergonha da família, decidiu nomear como herdeiro, ou sequer teríamos uma diferença a se considerar em votos no parlamento.
- Você está! Está com inveja, por isso ficou a semana toda me tratando como um idiota!
- O idiota aqui é você! Me perseguindo como um... cachorro! Igual seu Padrinho, ridículo!
- Eu sou cachorro? Você que está bravo como se tivessem lhe tirado um brinquedinho! É isso, não é? Está inventando na sua cabeça que o título Black seria seu se Sirius não me nomeasse.
- E não seria?
- Ele está noivo! Nem para mim o título é certo! Eles podem ter um filho e, sinceramente, os conhecendo? Eles vão querer! Deixe de ser criança, eu sou só o estepe!
- Eu não sou criança e não tenho ideia do que é estepe! Mas sei que você não é burro, sabe o que todos estão pensando!
- O que os outros pensam tem validade para que?!
- Para tudo! – e se afastou apenas para fazer um gesto amplo, antes de voltar...
E quase tocar seu nariz com o do moreno.
- A sociedade bruxa é feita de aparência, opinião externa vale para cada passo ou não conseguimos nada!
- Está bravo porque estão gostando mais de me bajular do que você ou é porque acham que meu título vale mais? De qual das opções sente mais inveja?
- Eu não tenho inveja de ninguém Potter!
- Então – Harry levantou seus braços e agarrou a cabeça de Malfoy, encarando-o, como vinha fazendo, diretamente, porém impedindo-o de fugir.
Notou como a pele de Malfoy, até no rosto, era fria, mas macia.
- Olhe nos meus olhos e diga isso. Diga que não liga para meus títulos. Jure que não liga e eu juro o que desejar de volta.
- Eu juro.
- Você está mentindo – sussurrou Harry, tão intensamente como a acusação deveria parecer.
A tempestade em Draco estava soltando trovões agora e a magia de Harry, por algum motivo, achou prudente acompanhar. No corredor, o ar ficou denso, havia uma tensão tão palpável que todos que se aproximavam se afastaram como se sentissem o corpo ser empurrado contra uma superfície opaca e inebriante, ao mesmo tempo assustadora como mergulhar num lago escuro.
Malfoy, não estava sendo afetado, entretanto. Mantinha-se segurando Harrison, o braço esquerdo apoiado na parede, acima da cabeça do outro, o direito preenchido pelo tecido do uniforme. Seus corpos tão próximos que o movimento do peito ao respirar, o som de batimentos cardíacos acelerados, o material do tecido da capa ou da jaqueta, podiam sentir tudo menos o ar, o vento da noite que se formava. Isso não sentiam. Não ouviam, passando pelas janelas.
Na mesma proporção sentiam em seus rostos a fúria emanada em espirações grossas e compassadas em seus rostos.
Podiam sentir o hálito um do outro.
Draco tinha cheiro de maçãs até ali.
Harry, de uvas.
As mãos deste, Malfoy notou, estavam cobertas por luvas e isso de alguma forma foi bom. Não sentir mais de Harrison, porque já havia dele por toda parte.
E isso o fez pensar em coisas estranhas.
- Eu juro – disse mais baixo, outro sussurro, como se devesse responder assim agora. Mas seu sussurro foi bem menos agressivo.
- Ainda está mentindo – desta vez foi apenas uma observação.
- Você está sendo irritante.
Ainda sussurro, os dois apenas sussurravam agora. Seus hálitos ainda mais evidentes.
Olho com olhos.
Tensão no ar.
Estava barulhento entre eles, mas por motivos próprios. Não eram suas vozes ou qualquer som externo, mas seus pensamentos.
Harry puxou muito ar e segurou, sem notar:
- Geralmente me acham irritante.
- Você poderia ter pego seu título e nunca mais olhado na minha cara, depois de como te tratei.
- Eu já disse que não queria – houve a tentativa de um sorriso, mas foi tão fraco, tão facilmente abafado por um tremor nos lábios.
- Por quê? O que você quer, então? O que quer de mim?
Aquela pergunta soou um alarme, um som alto e constante na cabeça de Harrison que o fez tremer sem resposta. Piorou quando Draco Malfoy olhou para baixo.
Para o que Harry tinha certeza ser sua boca.
Agora, oficialmente, tinha perdido as palavras. Sua mente estava bagunçada demais para pensar.
E, por Merlin, podia recorrer a Tom, mas não queria ele ali.
Não ali.
O que isso indicava?
- Vamos – chamou Draco.
A mão que estivera acima da cabeça de Harry soltando-se da parede e indo para seu queixo, segurando-o para cima:
- Olhe nos meus olhos – que estavam bem menos tempestuosos, bem mais azuis como céu de chuva. – E diga o que quer tanto em mim, lorde Potter.
A respiração de Harry não funcionava e seus olhos estavam arregalados. Estava perdido, completamente perdido. Draco, intencionalmente ou não, havia conseguido vencê-lo tão profundamente que não havia um pedaço do presidente do conselho estudantil, príncipe das trevas da Durmstrang.
Sinceramente, nem sabia o que havia ali, mas era bem menos racional e eloquente.
- Eu...
Houve aproximação, Harrison fechou os olhos e então ambos escutaram uma voz:
- Sua alteza?! Está tudo bem? Está aqui?
Harry abriu os olhos a tempo de ver Draco crispar os lábios e movê-los em um insulto, "droga", antes de se afastar.
Finalmente liberto, Harry praticamente jogou todo seu corpo contra a parede para conseguir se manter de pé e tentou contar as respirações antes que desmaiasse, porque de certo faltava ar na sua cabeça. Ele levou a mão ao peito e tentou controlar sua magia que, só agora, tinha percebido ter se exposto muito mais do que devia e assistiu com os olhos meio turvos quando Draco lhe deu uma última olhada e correu pelo lado oposto do corredor de onde vinha a voz de Natasha Sidorov.
- Alteza – ela tornou a chamar, quando enfim o viu.
Estava claramente preocupada, se a forma com que correu até ele com os olhos assustados indicava algo.
- Senti sua magia pelo corredor e fiquei assustada, não estava ouvindo nada. Você está bem, parece...
- Estou ótimo, Nat, eu juro. Só preciso de ar.
O menino notou, ainda por cima, que Natasha não estava sozinha, mas acompanhada de Luna Lovegood, que olhava para onde Draco fugira com olhos sonhadores:
- As tempestades quase se chocaram – comentou sonhadora.
- Eu diria que se chocaram sim – murmurou o garoto, tomando outra dose de inspirações e expirações controladas e longas.
Por sorte, com as duas meninas ali, conseguiu tomar o controle de seu próprio corpo logo e, assim, acalmar a amiga mais velha:
- O que aconteceu?
- Estava brigando com Malfoy, já passou.
- Malfoy? A briga foi tão ruim que decaíram aos sobrenomes?
- Não sei. Talvez.
- Vocês lutaram, mas... vossa majestade é...
- Não lutamos. Foi verbal.
- Isso faz mais sentido – a garota ainda parecia desconfiada de algo e curiosa, mas era gentil o bastante para ficar quieta se o dono da informação queria mantê-la para si.
Agora, totalmente recomposto, desamassada a jaqueta com um feitiço silencioso sem varinha, Harrison pôde falar com as amigas normalmente:
- Vamos para o jantar?
- Na verdade... – Nat olhou para Luna, mordendo a boca acanhada.
Aquilo era estranho. Depois de Ivan, Natasha era provavelmente o membro mais seguro da corte. O que haveria acontecido agora?
- Estávamos indo para o banheiro – explicou Luna.
- Certo, posso esperá-las.
- Venha conosco. É um banheiro abandonado. Tem um fantasma de uma garota triste que afasta as meninas de lá. Acho cruel abandonarem Isabel assim, ela apenas queria ter amigos, tenho certeza de que vai gostar de você alteza.
- Não acho que seja boa ideia eu entrar em um banheiro feminino.
- Garanto que ninguém o usa, e faremos Murta, ao menos um pouco, mais feliz.
- E eu insisto! – acrescentou Natasha, na mesma hora.
Harrison olhou para a amiga de cima a baixo e depois de uma boa análise, que Nat sabia ser o bastante para sua alteza entender com seus dons, ele franziu o cenho irritado:
- Alguém te disse algo?
- Não! Eu, ninguém... descobriu ainda, sabe? Mas vão. Eu sou quem sou e as pessoas devem aceitar isso, eventualmente a informação sempre chega. Venho, mesmo assim, usando apenas o banheiro no barco, para evitar que me encham a paciência com isso de novo. Você deveria estar no outro banheiro e essas coisas que os intolerantes amam esfregar na minha cara. Tenho doses constantes disso sempre que saio da Durmstrang e já tive até mesmo por lá, estou acostumada mas não quer dizer que eu não queira evitar dar uma ou duas armas a eles. Mas hoje estava bem apertada e Luna...
- Eu contei sobre o banheiro abandonado de Murta! Ninguém vai lá, por que ela morreu no lugar e está sempre tristonha, isso parece incomodar a maioria.
- Uma garota que incomoda todos só por existir e por ter sido forçada a uma condição pela própria vida da qual não se sente feliz? Parece uma ótima nova amiga e o banheiro perfeito para mim!
Harry sorriu junto com Natasha e Luna. Um sorriso um tanto deprimido, queria que o mundo fosse mais fácil para a amiga (e lutava por isso junto de seu grupo), mas ter de viver lutando era cansativo. Não julgava a garota, nunca!
Pelo contrário, ele se inclinou e estendeu a mão:
- Milady, me dá a honra de me acompanhar para esta ida ao banheiro?
- Seria uma honra, milorde.
Juntando-se ombro a ombro, os dois seguiram como se para uma dança, aos passos de Luna, que contava uma história sobre o jornal de seu pai.
Como estava feliz com os alunos da Sonserina tendo comprado tantas edições quando viram Harrison e os outros campeões lendo. Felix Rodier chegou a elogiar a escrita de seu pai na matéria e a riqueza de detalhes sobre os campeões. Não foi o único, parece que Xenofílio Lovegood teve de republicar a matéria em mais 3 edições e vários jornais internacionais pediram autorização para republicar, o que lhe rendeu uma ótima divulgação, novos assinantes e, é claro, o dinheiro pelos direitos da matéria.
Tudo graças à ideia de Harrison.
Estava muito feliz com isso e ansioso para conhecer o menino que sobreviveu. Era a primeira pessoa que se referia assim a Harry e não o incomodava, pois sentia que Xeno não tinha qualquer interesse em tornar Harry mais uma manchete. Apenas era tão curioso quanto a filha e a sobrevivência de Harry, portanto, era fonte de seus pensamentos intrusivos.
Era, na opinião de Harrison, melhor ser um experimento do que o santo que esse título carregava.
Seguindo pelo corredor, virando aqui e ali, não demorou muito para alcançarem o local. Infelizmente não puderam ser devidamente apresentados a Murta, que pulou em uma das privadas e sumiu no instante que Harry passou pela entrada.
É claro, o medo que fantasmas tinham dos chacais Mitrica.
Mas, ao menos, Natasha pôde se sentir aliviada.
Enquanto ela e Luna conversavam através da porta, Harrison achou mais educado ficar ao longe, junto às pias e ficou encostado nelas, distraído, pensando no que tinha acontecido com Draco.
Para seu alívio, Tom estava completamente ausente, como deveria ser. Na verdade, outra parte boa da semana de Harrison, foi acordar vários dias sentindo magicamente mais indisposto que o normal, entretanto com uma horcrux muito mais alegre e um Lakroff Mitrica usando luvas para esconder um anel que estava sempre em seu dedo.
O menino não disse nada, e evitou com todas as suas barreiras oclumentes qualquer observação de que a horcrux parecia diferente sempre que Lakroff estava por perto. Também não falou nada ao tio-avô, que estava fazendo ainda mais perguntas sobre Tom do que jamais fez.
Em respeito a ambos, fingiu não estar entendendo nada e que aquilo não era de sua conta.
O assunto surgia e morria numa velocidade recorde.
Tom apenas, depois de alguns dias disso, o agradeceu. Nada mais.
Assim, criaram uma espécie de acordo de privacidade em determinados assuntos, que foi muito bem aceito e adaptado a sua rotina. Sem palavras, questionamentos ou qualquer constrangimento. Apenas aja como se fossem pessoas diferentes e o que era de Tom, pertencia a Tom apenas. A menos que quisesse compartilhar.
Seja lá o que tinha com Lakroff, não foi compartilhado.
A curiosidade de Hazz não era maior do que seu desejo de vê-los felizes, então desde que não estivessem se matando, estava certo.
Dito isso, Tom deve ter tomado a mesma iniciativa com seja lá o que aconteceu com Draco no corredor, pois estava tão encolhido que mal sentia sua presença.
- Obrigado – sussurrou, para estarem oficialmente na mesma.
A Horcrux continuou quieta, mas deve ter ouvido, e isso importava.
Esperou mais um tempo, lavou o rosto, se arrumou no espelho. Viu quando Natasha se aproximou para lavar suas mãos e teve a conversa das meninas como um agradável ruído branco para lhe organizar as ideias. Achou a cobra entalhada na torneira muito bonita e estava para se virar e iniciar o processo de sair quando percebeu uma coisa estranha: porque havia uma cobra ali?
Não havia um leão, texugo ou águia em nenhum dos banheiros que tinha ido. Salazar era arrogante, mas torneiras?
Torneiras...
Salazar...
- Não tinha torneiras naquela época.
- Como é alteza? – perguntou Natasha.
- Um minuto, meninas – pediu, voltando para a pia porque não lembrava de ter visto uma cobra entalhada na torneira que usou para lavar o rosto.
Realmente não tinha. Apenas na torneira de Natasha. Não estavam próximos das masmorras. Era o segundo andar. Havia uma única cobra. E a Horcrux continuava silenciosa.
O menino encarou a coisa, juntando pontos que já deveriam ter sido comentados a tempos por Riddle:
- Está de brincadeira.
-x-x-x-
Ivan inclinou-se para tentar encontrar um ângulo, no local que estavam se escondendo, que permitisse ter uma visão decente.
Não obteve muito sucesso, ainda mais com Axek o empurrando aqui e ali e Heinz aproveitando para lhe roubar espaço.
Viktor já estava impaciente com os irmãos patetas:
- Parem com isso – sussurrou.
- O que estamos esperando, afinal? – Heinz sussurrou de volta.
Krum olhava ao entorno, para ter certeza de que ninguém os escutara com aquela atitude infantil deles:
- Uma oportunidade.
Estavam atrás de um corredor de livros, as cabeças enfileiradas encarando uma mesa onde Neville Longbottom, Hermione Granger e Ron Weasley tomavam e conversavam baixinho sobre algo no pergaminho que os três tinham.
- Ele está bem ali – Ivan apontou. – Apenas vá lá e mande-o parar de ser um filho da-
Axek tentou acertar outro golpe, desta vez um tapa, que Ivan não só desviou mas tentou desferir um ele mesmo algum.
Viktor estava, oficialmente, considerando um soco em cada.
- Fiquem quietos! – pediu puxando ambos para trás da parede e os encarando de frente, furioso – Sabem como isso é importante! Não venham aqui apenas para me atrapalhar!
- Mas é você que está enrolando, duque – reclamou Ivan.
- De certa forma – comentou Heinz, ao lado – ele está certo. Apenas vá lá e fale com Neville. Não era essa a ideia?
Era. Viktor tinha decidido que não suportava mais ver Harry sofrendo naquele surto constante entre silêncio contido e resignado, ou ansiedade furiosa e frustrada, enquanto esperava que Neville Longbottom tomasse iniciativa de falar consigo sobre toda aquela história de Dumbledore. Aquilo estava se tornando ridículo.
E perigoso.
Natasha disse que em uma simples briga com Malfoy no dia anterior, sua alteza perdera parte do controle de sua essência e preencheu um corredor inteiro com o peso de sua magia sem nem perceber.
Estava claramente cada dia mais fora de si e tentar negar a influência emocional que Longbottom detinha sobre seu príncipe era apenas idiota.
Ele sentia que precisava de Neville, então teria, como seu brat, que dar um jeito de devolver a amizade deles aos trilhos e logo! Ou como o defenderia no futuro de provações maiores?
O grifinório estava evitando Hazz, aquilo ficava claro e a mágoa gerada no olhar do outro sempre que isso acontecia estava deixando toda a corte com raiva do amigo de infância com uma intensidade tão preocupante que logo não haveria retorno.
Quando o odiassem...
Não era boa coisa.
Todo esse desenrolar não era.
Ter a aversão daquele grupo para você já seria ruim para uma pessoa, mas Neville, acima de tudo era algo que sua alteza queria, o problema é que a corte logo se uniria ao sentimento, porém o desejariam morto. Harrison não só desaprovaria, como se decepcionaria por completo se machucassem seu amigo.
Amigo.
Viktor teve raiva até daquela palavra.
Ivan e Luna garantiram que sua alteza agiria da mesma forma com qualquer um deles. Qualquer membro da corte que o evitasse, o deixaria insano, mas Viktor era "o irmão", e tinha suas dúvidas se era exatamente a mesma coisa que estava acontecendo ali.
Entretanto, quanto mais via a forma como Hazz se desdobrava por aquele garoto, menos a palavra "amigo" parecia caber. Era seus ciúmes falando mais alto? Provavelmente. Só que não estava encontrando reciprocidade no tratamento intenso por parte daquele grifinório covarde.
Tomando coragem, Viktor passou por seus amigos e seguiu até a mesa dos três leões. Foi imediatamente notado, Ron Weasley parecia pular no lugar enquanto sussurrava de forma nem tão discreta "É Krum", Granger, por sua vez, lhe acertou um chute que foi visto de seu ângulo por baixo da mesa "Pare com isso" ela disse e Neville...
Neville sorriu se levantando as pressas:
- Preciso falar com você – sem nem dar chance para Viktor, ele segurou seu braço e o puxou para outro canto da biblioteca no fim de alguns corredores.
Aquilo foi tão inesperado que o búlgaro apenas seguiu e quando estavam sozinhos e isolados já nem sabia mais como dizer o que tinha vindo fazer.
Estava a mercê do mais novo, que puxou um livro de dentro de sua bolsa e mostrou a Viktor:
- Preciso de um feitiço bom, tipo o melhor, para esconder isso aqui.
Viktor se abaixou um pouco e leu o título na capa:
Equilíbrio Mágico: Compreendendo as Dualidades da Magia, por...
- Isso é do primeiro ano da Durmstrang. Da aula de artes – Neville teve um pulo de susto e o calou em um movimento agitado que tinha como objetivo tapar com as duas mãos sua boca.
O problema é que isso foi tão repentino e tão apressado que empurrou o búlgaro, em sua posição e mesmo com os reflexos de apanhador, acabou tropeçando em uma pilha de livros que estavam próximos de seu pé. Neville, que tinha colocado força em sua ação, perdeu o equilíbrio junto. Para não caírem de forma tão barulhenta no chão, porque era o que os reflexos de Viktor diziam, ele agarrou a cintura do mais novo e usou as prateleiras mais próximas para diminuir sua velocidade contra o chão.
No fim, os livros que caíram por cima também serviram para abafar o som e os dois estavam sentados.
Neville praticamente no colo de Viktor.
- O livro! – sussurrou inquieto Longbottom, se jogando, agora decididamente no colo alheio, para alcançar seu próprio livro na pilha que tinha se espalhado por baixo e a volta do búlgaro.
Quando, enfim, tinha seu exemplar seguro e protegido por entre os braços no peito, Neville conseguiu dar atenção para como os dois estavam, olhando de Viktor, para baixo e para si mesmo, fez uma careta e seu rosto se preencheu de vermelho.
Sem fazer nenhum outro movimento, apenas disse:
- Você acreditaria que eu previ isso?
- Como é? – Viktor perguntou surpreso e sentindo uma coceira na barriga.
- Eu já quase cai em você antes. Naquela hora pensei "Parabéns Neville, na próxima pode cair direto no colo dele", algo assim.
Viktor entendeu naquele momento o que era a coceira na barriga. Era sua risada.
Ele não se aguentou mais e começou a rir, tentando ao máximo para não gargalhar tão alto que chamaria de vez a atenção da bibliotecária, que já havia gritado ao fundo "quem derrubou, pode arrumar" não fazia tanto tempo.
Neville escondeu seu rosto por trás de seu livro, mas Viktor ainda podia ver como o menino estava completamente vermelho e, sinceramente, isso só tornava toda a coisa ainda mais engraçada.
- Pare de rir – pediu acanhado.
Viktor levou a mão a boca e mordeu o punho, mas nem isso estava ajudando:
- Juro que estou tentando.
Nev baixou o livro apenas o suficiente para descobrir os olhos e viu o estado de Krum, de alguma forma isso enfim o fez sorrir também e se juntar aos risos.
De repente, o que deveria ser uma bronca em Neville Longbottom, havia se tornado um garoto no colo e os dois se segurando como idiotas para não rir ao ponto de serem expulsos da biblioteca na situação comprometedora que estavam.
Depois de um tempo e de ninguém aparecer, graças a uma sorte que nenhum deles acreditaria ter, enfim Nev murmurou:
- Me desculpe.
- Por qual das partes?
- Todas.
- Todas é muito abrangente.
- Quer que eu seja específico?
- Sim – e levou sua mão para o rosto do mais jovem, segurando a base de seu nariz. – Por que já vim aqui te pedir um pedido de desculpas, só para começar.
Neville fez uma careta enquanto tinha seu nariz segurado com uma certa pressão e aquilo o estava fazendo corar de novo.
Para iniciar a conversa ele ainda estava no colo de Krum! As pernas abertas em uma posição desconfortável com os joelhos virados para o chão, mas não sabia como mudar aqui. Se mover parecia errado, seja para conseguir uma posição mais confortável (credo, só de pensar nessas palavras já quase enlouquecia de novo) ou para tentar se levantar. Ia acabar caindo de novo se tentasse da forma que estava e Viktor... Viktor segurava seu nariz!
Onde foi parar tudo aquilo?
- Como assim veio me pedir um pedido de desculpas? – enfim conseguiu calcular as palavras alheias.
Viktor, enfim, soltou seu nariz e pareceu procurar algum conforto ao espalhar mais os livros atrás de si e colocar as mãos para apoiá-lo atrás do corpo:
- Você está evitando Harrison e sabe disso. Mas sabe como isso o está deixando chateado? – Neville arregalou os olhos e virou o rosto. – Também estou chateado, é claro. Não gosto quando magoam meus amigos.
- Não foi minha intenção magoá-lo.
- Então por quê? Por que o evitar?
- Não estou evitando.
Viktor nem se dignou a responder, apenas estreitou os olhos e inclinou de forma julgadora a cabeça:
- Tente de novo.
Neville suspirou e, se Viktor tinha procurado conforto, ele também podia. Nem pensou que deveria priorizar sair, apenas se moveu como pôde para levantar os joelhos. Krum, para seu próprio elogio, conseguiu se segurar e não ter qualquer reação mesmo com os movimentos que ocorreram bem em cima de... bem. Todos sabem.
- Eu só não quis falar sobre um assunto específico, mas de resto sempre converso com ele e venho apresentando meus amigos para ele, assim como fez comigo – ele foi interrompido de continuar com Viktor agarrando seu nariz de novo, agora com mais força..
- Sem ofensas, ou você é bem burro ou está mentindo.
- Eu queria estudar antes de falar qualquer coisa para ele para não o magoar ou não parecer burro – ele suspirou quando foi solto de novo e massageou a área que foi Vitima daquela montanha que era Krum.
- Estudar?
- Sim. Você se lembra do que eu disse? Do que Dumbledore sugeriu quando fez o que fez?
- Muitas coisas, seja mais específico, por favor?
- Artes das trevas podiam ser maléficas para Harry.
- Certo e você decidiu... – Viktor parou a frase no meio, se lembrando do exemplar de um livro que era parte do material do primeiro ano de artes das trevas na Durmstrang.
Equilíbrio Mágico: Compreendendo as Dualidades da Magia, falava bastante sobre os preconceitos que existiam sobre as artes das trevas, seu verdadeiro objetivo, seus malefícios e benefícios. Era um ótimo exemplar para começar a entender que não era uma arte para todos e deveria ser levada a sério, mas não um estigma.
- Desculpe, estou sentindo que você quer me levar para uma conclusão que não consegui alcançar ainda. Pode continuar?
- Olhe, eu cresci com Harry, entende? Eu sou um dos poucos que ainda pode chamá-lo de Harry sem ele querer acertar um soco na boca – isso, novamente, fez Viktor rir e sua risada rápida fez Nev sorrir.
Nenhum dos dois lembrava-se de sair daquela posição ou ajeitar a bagunça que fizeram.
- Hazz mora numa casa com um bruxo das trevas, ele sempre me ensinou sobre rituais bruxos antigos e os costumes do nosso povo, participei com ele de tudo que podia e até seus irmãos trouxas estiveram conosco em cada um.
Viktor se segurou para não sentir inveja de que Neville já conhecia os tais irmãos:
- Sim, continue?
- Eu deveria saber mais, entende? São anos com eles e eu não sei... – houve uma pausa, a frase nunca foi terminada, o menino de repente se encolheu, abraçando seu livro de novo, como se fosse a única âncora para protegê-lo de seus pensamentos. – Eu não sei porquê. Deveria ter perguntado mais, ou incentivado mais que me falassem. Talvez fosse minha criação, minha avó também não perguntava muito e eles respeitavam que éramos bruxos da luz e nunca ultrapassaram uma linha, sabe? Eu sempre vi aquela linha. Sempre foi bem clara onde estava a luz e onde estavam as trevas, até onde eles podiam me levar e eu nunca pedi para me levarem através dela. Eu sou um bruxo da luz, Hazz é um das trevas. Isso estava claro e não havia motivo para questionar. Não havia motivo para eu olhar para o outro lado. Eu aprendi que trevas eram errado e podiam fazer muito mal, mas aprendi também que dependiam, mas isso que vou falar agora foi uma conclusão própria, ninguém me disse eu que tomei por verdade: dependiam do bruxo. O que quero dizer é que sempre achei que Lakroff era um bruxo esperto e usava artes das trevas, Hazz quis aprender a magia dele porque era a magia de quem conseguiu salvá-lo e estava tudo bem, porque ele tinha esse direito, desde que não fizesse coisas ruins com ela. Entende até aqui?
- Sim...
- Bem, talvez não muito, mas acho que o suficiente. O que quero dizer é que ninguém, em todos esses anos, me ensinou nada sobre artes das trevas em si. Porque eu sou um bruxo da luz e eles respeitavam isso. Entendeu?
- Claro.
- Agora vem Dumbledore e me ensina algo sobre as trevas: elas podem controlar as ações de Hazz sem que ele perceba. Podem influenciá-lo pois se trata de uma magia instável que busca consumir e ir mais longe. Ele me faz acreditar que é uma magia com vida e que pode tirar a noção de um bruxo de seus limites. Acha que eu deveria correr para Harry e perguntar?
- Sim?
- Não!
- Por quê?
- Porque é estupido! – e pensando um pouco, acrescentou apressado e corado. – Desculpe.
- Não ligue, apenas me explique.
- Eu vivi anos visitando a casa de bruxos das trevas e, vamos lá, primeiro nem sei dizer o que um bruxo da luz diz ser verdade sobre elas. Simplesmente é a primeira vez que ouço isso.
- Porque havia aquela linha, não é?
- Sim! E agora eu não quero só chegar no Harry estourando essa linha, porque... e se for verdade? Ele vai admitir? Admitir que quis se arriscar a perder o controle, quando já tem uma magia instável, você sabe. Ele decidiu isso e preferiu não me contar? Ou, pior, eu vou chegar num especialista em bananas e dizer que alguém me contou que elas causam sarampo? Ele vai me achar um idiota e pode ficar ofendido, já que ele gosta tanto de bananas e seu melhor amigo nunca quis saber o mínimo para entender isso? Quer dizer, isso me parece o mínimo. Eu achava que era e quis... averiguar! Por isso arrumei esse livro, por isso estava estudando. Para entender se Dumbledore falou a verdade e se não falou? Ai eu estou ferrado, porque ele se tornou uma pessoa importante para mim, assim como Lakroff é o tio Lakroff, Dumbledore era como um avô e mentiu para mim? Ou Harry que escondeu de mim algo muito importante e que eu deveria saber porque sua própria segurança depende disso?! Eu estava no meio de um impasse gigantesco onde ficaria bravo com alguma pessoa da qual gosto muito e tudo por culpa dessa dualidade entre suas magias que eu sabia, sabia que um dia daria problema, mas fui jogado nisso muito rápido e todo mundo está me tratando com pena por causa da história do "leu seus pensamentos" quando eu nem ligo para isso e estou bem mais preocupado com o Harrison do que qualquer coisa, porque se ele está se arriscando eu tenho que fazer algo e é culpa minha nunca ter pesquisado antes e – Viktor agarrou os ombros do menino.
- Respira! – pediu.
Neville fez o que foi mandado e inspirou fundo, seu exemplar sempre tão agarrado que se não fosse grosso logo iria amassar. Seu corpo tremeu durante todo o gesto e ele ficou lá, olhando para Viktor, que só depois de algum tempo se tocou:
- Agora pode expirar.
O menino soltou.
- Eu disse para Respirar, não inspirar.
- Eu sei, mas não sabia mais como fazer direito.
Viktor, de novo, estava rindo.
Não dava, aquele garoto era muito fofo.
- Certo, enquanto você respira, deixa eu ver se entendi, está bem? – Neville apenas firmou com a cabeça pois estava concentrado em respirar. – Você está evitando falar sobre o assunto com Harry porque queria estudar o suficiente para não sentir que estava tomando decisões baseadas em quem você gosta mais ou quem conviveu mais? Queria uma opinião própria? – novamente uma afirmação com a cabeça. – Está cheio de bruxos das trevas para perguntar, mas preferiu um livro? O que foi? Achou que isso seria o mais neutro?
- O irmão do Hazz também me lembrou de ter senso crítico e procurar minhas próprias fontes. Aí pedi para minha vó me mandar um livro, sem fazer perguntas. Peguei um catálogo por coruja de uma loja que vendia uns livros mais duvidosos e escolhi o que mais parecia servir. Foi esse... – e baixou a cabeça, deixando a frase morrer no ar.
- É um bom começo – garantiu Viktor e sentiu outra coceira estranha na barriga quando o menino pareceu se iluminar com isso.
- É? Que bom... – e sorria, encarando o livro escondido nos braços. – Sei que Harry quer falar sobre Dumbledore ter lido minha mente, mas eu... eu não, sabe? Sei que ele está furioso e vai querer que eu faça alguma coisa, mas isso não é a minha decisão e não queria brigar com ele por causa de Dumbledore. Sei que ele vai aceitar minha escolha, independente de qual for, mas vai ficar furioso com Dumbledore e não quero aumentar essa fúria dizendo: Ei! Você! Sabia que ele disse que você pode ficar maluco igual sua família porque artes das trevas controlam a mente ou coisa parecida? Não. Decididamente não. Quero ter uma conversa decente com ele, mas para isso eu preciso saber do que estou falando. Então sim, estou atrasando a conversa e sei que isso está deixando ele inquieto, mas eu amo o Hazz e só estou querendo ter certeza de que ele está bem.
- Estudando artes das trevas?
- Esse livro também diz isso. Que artes das trevas podem levar um bruxo a instabilidade. Que essa magia interfere com o natural e também com o próprio núcleo do bruxo para que possa atravessar a linha do que é natural. Por isso, a magia fica instável e o bruxo que não sabe controlá-la pode ser consumido pela magia crescendo sem rumo ou forma e... – Viktor o interrompeu.
- Acha que Harrison Peverell-Potter é o tipo de bruxo que não aprenderia a controlar? Que deixaria sua magia ficar sem forma? Você acha que eu sou instável? – perguntou abrindo os braços. – Estudo isso a mais tempo, teria um núcleo pior que o dele.
- Você é diferente dele e sabe disso. Não passou pelo que ele passou quando o núcleo estava se formando.
Viktor olhou em volta, realmente estavam sozinhos, então se aproximou ainda mais de Neville e sussurrou em seu ouvido:
- Também não consigo ver a alma e a magia para, com uma visita ao espelho, saber se meu núcleo não está estranho depois de uma aula de artes das trevas.
Neville tremeu e rezou para que Viktor não comentasse isso (afinal era impossível que ele não tivesse ao menos sentido) e esperou que voltasse a posição anterior para responder:
- Mesmo assim, será que o melhor para Harry é estudar uma magia que vai constantemente incentivar seu núcleo a ignorar limites, depois de tudo que já teve que fazer para sobreviver? – e levantando a mão na frente de Viktor, o interrompeu de responder. – Não responda, esse é o ponto. Eu quero saber. Eu quero ler primeiro e fazer minhas perguntas diretamente a ele. Confio no julgamento de Hazz, só quero ter certeza que ele está bem. Confio que ele nunca mentiria para mim e quero olhá-lo nos olhos quando tiver reunido todas as perguntas certeiras para ter certeza. Você está viciado, por exemplo, porque pelo que venho lendo, sim, o núcleo corrompido procura continuar sendo estimulado.
- É como um músculo – disse Viktor. – Você exercitou, se parar fica flácido, perde seu potencial.
- É isso ou vocês precisam continuar porque sentem esse músculo mais forte e querem deixá-lo assim? Qual o problema de mantê-lo flácido se mesmo a este modo cumpre com funções que já estão boas? Acredita que sou um bruxo tão ruim em comparação a vocês por ter um músculo flácido?
- Você não tem um músculo flácido, tem um forte, porém menor do que seu potencial poderia oferecer porque não recebeu doses de proteína.
- Que vocês adicionaram a força. Não de comida natural, vocês tomaram aquele pó que trouxas usam para malhar e que é proibido em algumas competições.
- Vou ter que estudar sobre isso primeiro para me defender. Não tenho ideia do que está falando.
- Desculpe.
- Tudo bem – e suspirou pensativo. O que Neville estava fazendo não era exatamente errado. Na verdade, não sabia nem se podia repreendê-lo por algo como isso. Estava tentando ter senso crítico e não acreditar em ninguém antes de criar sua própria base...
O que fazer?
- Olha, nós dois sabemos que Harrison é diferente e sabemos que a magia que estudam é diferente. Mas se ela apresenta algum risco, seja qual for, mesmo que um... e abro aspas nisso, "simples risco" de se viciar, eu fico preocupado. Se eu começasse a tomar muito whisky de fogo ele me impediria.
- Mas isso ia prejudicar seu corpo.
- E eu estou estudando para ter certeza de que não vai prejudicar ainda mais o corpo dele, depois de tudo. É como se alguém que teve exposição à fumaça de um incêndio e tem o pulmão prejudicado, começasse a fumar ou não? É isso que quero descobrir e não quero que ele me responda, nem Lakroff ou Dumbledore. Quero descobrir, assim ninguém vai poder me enganar dizendo que estou sendo levado a acreditar nas coisas pelas pessoas que conheço e sou um idiota sem senso crítico.
Viktor ficou um longo tempo em silêncio, apenas olhando para Neville.
Seus pensamentos iam e vinham, então giravam e voltavam.
Sem resposta.
O menino em seu colo foi ficando claramente impaciente e corado, olhando para outras direções que não o homem que estava sentado.
Aquilo era uma situação tão engraçada e idiota que o búlgaro não quis consertar, porque era divertido:
- Certo, então explique isso para ele.
- Como assim?
- Diga tudo o que disse para mim para Harrison e tudo ficará bem. Faz sentido e você tem seu direito de querer estudar antes de ouvir os outros. Ele não vai te julgar e vai parar de ficar correndo por Hogwarts como um cachorrinho que perdeu o dono.
- Harry não parece um – Viktor o interrompeu, também levantando a mão.
- Ele parece. Você que não deve ter notado, porque é o dono.
- Não sou dono do Hazz – fez bico.
Viktor teve uma imagem muito estranha dele tocando aquele bico com seus lábios, da qual se sentiu completamente confuso e precisou negar com a cabeça. Neville achou que estava negando sua afirmação e a reiterou:
- Ninguém pode ser dono de Hazz. Ele faz o que quer!
- Nisso você tem razão – mas sua voz saiu um pouco grossa e o búlgaro tossiu para disfarçar. Provavelmente era a posição, sua cabeça já estava ficando estranha. – Bem, de toda forma. Não pode dizer a ele?
- Não queria que ele me recomendasse nenhum livro. Quero tentar ser o menos influenciado possível. E eu já disse que não o estou evitando totalmente! – acrescentou a última parte quando viu que a mão de Viktor estava buscando seu nariz. – Sozinho, realmente eu evito, mas converso com ele com outros amigos por perto para que ele não tenha chance de tocar nesse assunto. Achei que ele já teria entendido a indireta.
- Você ia gostar que ele fizesse o mesmo?
- Eu teria entendido a indireta e daria o espaço que ele quer até vir falar comigo. Eu conheço Hazz e sei que ele viria uma hora ou outra, então melhor ser na hora dele. É assim que amigos funcionam, não?
Viktor se sentiu muito emburrado quando, novamente, não sabia como rebater Neville. Não agora sem tornar Harrison um tolo que não entendia seu próprio amigo.
Ou melhor. Um estava esperando do outro que fizesse o que teria feito.
Neville teria deixado Harrison em paz e esperado que viesse.
Harrison teria ido direto a Neville para não deixá-lo pensando nisso.
Ou não, já que Harrison tinha muito o costume de fingir que estava tudo bem e não contar a nenhum dos amigos um problema até resolvê-lo para não preocupá-lo.
Por mil infernos!
Teria que brigar com Harrison!
Mandá-lo parar de exigir de Neville o que ele próprio não fazia! E respeitar o tempo do amigo sentir que tinha resolvido a coisa para falar.
Só que... era o que Harrison estava fazendo também. Ele não pressionou Neville até agora porque entendia isso.
- Olha – disse, depois de quase explodir os neurônios. – Hazz está tentando respeitar seu tempo, mas ele quer seu amigo de volta. Evitar falar com ele pessoalmente não resolve o problema, só o faz parecer distante de você. Vá falar com Hazz pessoalmente e sozinho, se ele tocar nesse assunto, o que duvido porque ele entendeu a indireta assim como você disse, você apenas o corta e deixa claro que não quer falar disso e que se são amigos ele deve respeitar. Mas então fale de qualquer outra coisa e voltem a agir como os dois meninos que vivem procurando contato físico que eu conheci, porque essa distância está estranha para todos!
Novamente, Neville corou, mas continuou olhando para Viktor, pensando em suas palavras antes de afirmar com a cabeça.
- Vai fazer isso?
- Vou.
- Então que tal chamá-lo para a visita em Hogsmeade?
- Estou de detenção aos sábados por cinco meses.
Viktor se espantou:
- Isso é quase o fim do período escolar! O que você fez?
Neville não parecia o tipo que se metia em encrencas tão sérias.
- Chamei um professor de fascista ou algo assim. Também respondi de forma petulante. Não lembro direito, ele estava sendo maldoso com meus amigos e minha boca se mexeu sozinha.
Viktor estava de boca aberta. Completamente pego de surpresa. Então foi absorvendo as palavras e entendeu:
- Então essa é a garra dos leões de que ouvi falar.
Neville, pela sei lá qual vez, corou e virou o rosto:
- Qualquer um faria isso pelos amigos.
- Não faria – afirmou Viktor, que era exatamente o tipo de pessoa que faria e valorizava os que tinham coragem para tal.
Ele puxou o rosto de Nev para que o olhasse e, por um segundo, se perdeu nos olhos castanhos do mais jovem, notando como tinham um curioso tom azul nas bordas. Agora, pensando bem, talvez seus olhos fossem azuis e a luz os tornou mais castanhos que o normal. Eram olhos diferentes, não como os de Harrison que tinham uma cor tão vívida que seria visto brilhando até no escuro. Eram olhos de duas cores e de diferentes tons com luz. Azul, sem dúvidas agora, azul que escurecia e tornava-se castanho até alcançar as pupilas que, agora um tanto dilatadas (provavelmente pela má iluminação da biblioteca e o canto escondido deles) escondiam essa característica deixando que o azul escuro prevalecesse.
Diferente. Mutável. Um olho que muda dependendo de quando, como e quem olha. Uma pessoa que mudou tão rápido aos olhos de Viktor que tudo só fez sentido.
Aqueles eram os olhos de Neville Longbottom. Assim como seu nariz era arrebitado do tipo batata, porém ainda pequeno, como uma bolinha fofa, assim como sua pele não era só branca, havia cor ali, melanina o bastante para não contrastar com Viktor, que vivia no sol em treinos.
Assim como seu cheiro era incomum, mas o nariz de Viktor não saberia definir claramente as essências, como Harrison por exemplo. Ou Nat que entendia bem de perfumes e tinha uma enorme coleção.
Ele segurou as bochechas do rosto com maçãs proeminentes e olhando bem para aqueles detalhes que formavam uma pessoa nova em sua mente, deixou claro:
- Não são todos que se arriscam e enfrentam os mais fortes sem pensar, igual você disse. Que deixam a boca falar tão rápido que não precisou pensar antes de defender um amigo. Isso mostra caráter.
"Mostra que você é um bom amigo" pensou, certo agora de que estava errado no começo daquele dia quando acordou decidido a enfrentar Neville Longbottom por ser um péssimo amigo com Harrison.
Um muito corado Neville evitou se mover, porque estava paralisado no colo e nas mãos de um jogador de quadribol famoso, o sonho de muitas das meninas que viviam aos gritinhos atrás de si por Hogwarts, apenas tentou não tremer ao responder:
- Obrigado.
- A detenção é quando?
- A tarde, este fim de semana. Snape quer ter certeza de arruinar meu fim de semana.
- Vou comprar algo em Hogsmeade. Seus chocolates preferidos, quais são?
- Por que você faria isso?! – perguntou tão vermelho agora que sentia que podia explodir.
Viktor sorriu para isso e deu o desconto de soltar o rosto do menino.
Mesmo que lá no fundo não quisesse;
- Porque domingo você pode chamar Hazz para comê-los com você e lembrá-lo que ainda o ama, só não quer falar de Dumbledore. Que ele faz parte daquela linha clara. Você não invadia as artes das trevas, Hazz não precisa entrar na Luz. Tudo como sempre foi. Vocês dois juntos e ele te provocando.
Neville sorriu para isso.
Um sorriso brilhante e muito bonito, enquanto afirmava com a cabeça:
- Amei a ideia. Vou te passar o nome que quero que me compre. Posso te dar o dinheiro – Viktor negou.
- Eu insisto em pagar. Por sua atitude.
- Como assim?
- O que você fez, buscar ter senso crítico. É válido. Eu acho que merece uma recompensa. E também um pedido de desculpas.
- Pelo que?
- Achei que você era um merda que não merecia a amizade de Harrison.
- Nossa, você é direto, não?
- Dragões geralmente são, lembra-se? Sem papas na língua – e apontou para a sua, mostrando-a a Neville.
Neville olhou para a boca do jogador e seu cérebro congelou quando imaginou como seria beijá-lo.
Finalmente viu que era a hora de levantar, porque aquela situação o estava começando a fazer alucinar.
Tomou impulso nos pés e joelhos e subiu, correndo para afastar-se porque nem queria pensar se sua virilha tinha estado muito perto da... Enfim, Viktor também notou e virou o rosto, fechando os olhos. O mais velho garantiu que nada parecesse constrangedor, apenas se levantou também, batendo para espalhar a poeira, então se agachou olhando para cima:
- Eu vou te dando os livros e você guarda, pode ser?
- Perfeito! – confirmou sentindo-se muito grato.
Os dois começaram o trabalho e logo estava tudo certo de novo.
- A propósito, você me trouxe aqui porque queria conversar comigo, o que era mesmo?
Neville mostrou seu livro, aquele que estava usando para pesquisar:
- Um feitiço. Para esconder a capa até dos meus professores. Sabe um?
- Sim, mas tenho uma ideia melhor que um feitiço.
- Qual?
Viktor pegou a própria mochila que tinha caído ao canto, tirou o livro de história da magia e arrancou num movimento as páginas de sua capa.
Neville arregalou os olhos assustado e impressionado com a força dos músculos alheios. Lembrou-se como eram, quando estavam correndo, fortes e suados...
"Credo! Para!" pensou, irado com seus hormônios. Ele já gostava de um menino, e sabia que isso não o impedia de olhar, mas mesmo assim...
Viktor pediu o livro de Neville.
- Você estragou seu livro... – murmurou baixinho.
- É só a capa, e eu conheço um homem que sabe restaurar livros muito bem e já ensinou alguns feitiços a seus alunos.
Neville soube que estavam falando de Lakroff.
Entregou então sua cópia de "Equilíbrio Mágico: Compreendendo as Dualidades da Magia" e assistiu o búlgaro dar o mesmo tratamento a capa, arrancando com um único golpe. Quando terminou, pegou a capa do livro de história e usou-a para cobrir as páginas do livro de Neville. Por fim, pediu para que o mais novo segurasse a coisa com firmeza e pegou sua varinha.
- Paginae haereant in tegumento quod illos tegit – recitou e Neville sentiu a magia começando a sair da varinha e circular pelas páginas em seus braços. – Reparatione operimentum – com o feitiço entoado, baixou a varinha.
Neville não entendia latim e sabia que aquilo foi mais que um feitiço. A última parte era um encantamento, o começo parecia ser o caminho. Como um ritual. Poderia ser artes das trevas ou não, não sabia porque não lembrava de um feitiço precisar de tantas palavras de encantamento, mas quem sabe apenas não conhecia?
O importante é que quando abriu seu livro, as páginas tinham sido colocadas na capa do livro de história e estava perfeito. Como se sempre fosse assim.
Enquanto Neville observava o trabalho, Viktor estava pegando a antiga capa do livro da magia, juntando e entoando um feitiço diferente para as páginas de seu livro de história.
- Redi ad id quod semper erat. Reparare librum (De volta ao que sempre foi. Para consertar o livro).
Ao invés de apenas se colar, até mesmo apagou o título de Equilíbrio Mágico: Compreendendo as Dualidades da Magia, substituindo-o por um de História Mágica Contemporânea: as últimas mudanças que afetaram o mundo mágico a qual se conhece. Era como se Viktor nunca tivesse machucado seu livro ou trocado a capa.
- O primeiro ritual pede "As páginas devem aderir à capa que as cobre" – traduziu o que tinha ouvido, fazendo aspas com as mãos. – Capa de reparo é o encantamento final. Muitos alunos soltam as capas dos livros com algum acidente ou uso contínuo quando a coisa é muito grande e muito usada, então especialmente nas aulas de história com Mitrica, não é um feitiço que pede tempo, você só tem que colocar uma capa nova e ele vai colar as páginas da melhor forma que pode. O segundo é diferente. Você usa para restaurar do zero uma obra e o encanto não pede nada se você usar nos primeiros segundos que estragou seu livro. Como, sei lá, derramei água em cima. Agora, se o estrago foi feito a um tempo, por ser artes das trevas vai ser preciso um "sacrifício" em troca. O encanto agora vai levar um dia inteiro para reparar tudo e exige muita magia. Um sacrifício de tempo e energia. Já aprendeu sobre os princípios das artes sombrias? Emoção, desejo intenso e sacrifício ou oferenda?
- Não.
- Eu posso te recomendar um livro. Mesmo que não seja a visão mais neutra do mundo, eu ainda sou um aluno do último ano com o referente a NOM's muito altos. Só me dizer qual assunto quer e lhe trago o livro, já que posso achar até na biblioteca do barco. Você tem acesso a ele, pode sempre estudar por lá, se está com tanto medo de ser pego – por fim apontou de novo sua varinha para o livro na mão de Neville. – Esconda seus segredos de olhos indesejados, occultatio! – o livro brilhou por um instante, depois Neville o abriu, estava normal. – Ninguém que você não queira conseguirá ler algo aí. Diga que é uma coisa que Ivan te deu. Um livro falso para enganar curiosos. Desenhe por cima, sem usar muita força ao ponto de apagar as palavras, mas o bastante para que o curioso veja na página como um caderno escondido. Você pode querer criar sua opinião própria, mas essa jornada não tem que ser tão solitária. Entendo seus pontos e não te julgo. Apenas gostaria que pensasse comigo, sou amigo de Harrison, não?
- Sim, você é.
- Então acha que eu também não pensaria nas implicações das artes das trevas nele?
- Mas você as apoia.
- Não quer dizer que eu não saiba que muitos dos meus colegas não são tão bons em aprender e, portanto, são mais instáveis do que eu. O seu melhor aluno é o que tira as melhores notas. O melhor aluno da Durmstrang é o que domina melhor sua magia. Geralmente ele também é aquele que nomeamos de presidente do conselho estudantil.
Neville baixou a cabeça, sem dizer nada. Krum continuou:
- Não estou dizendo nada para influenciá-lo a pensar diferente. Sua ideia de como resolver essa questão é boa. Continue assim. E também lhe será útil como bruxo da luz, não? Você tem aulas de defesa contra as artes das trevas, mas sem conhecer sobre elas em si até agora. Conhecimento é poder, mas também é entender seu mundo e sua participação nele.
Pela primeira vez em sua vida, Neville não se sentiu acuado com aquela ideia de conhecimento é poder.
Neville não era o tipo que buscava poder.
Mas queria entender.
- Obrigado.
- Não por isso, garoto – e Krum levou a mão aos cabelos de Neville, assim como vinha fazendo com Harry, sentindo como os fios loiro escuro do menino eram mais firmes, mas bem cheirosos. – Já disse para sermos amigos. Você só não pode deixar meus outros amigos tristes, ai eu que falo sem pensar.
Nev riu e sorriu de novo, acenando com a cabeça:
- Obrigado por sempre cuidar do Hazz.
- Obrigado por pensar nos sentimentos dele antes de agir, mas tente não tomar as decisões por ele. Você tem seu direito de espaço, apenas diga a ele, não o deixe confuso. Às vezes a comunicação é a chave.
E se lembrou de como tudo estava melhor e mais certo na corte depois que todos conversaram e começaram a por cada ponto em jogo, sem medo.
- Não vou me esquecer disso. Domingo.
- Domingo.
Concordaram, pois já era sexta-feira e Harrison estava mesmo bem ocupado.
Além de que, Neville tinha sua detenção amanhã e Krum um plano envolvendo chocolates e um tempo de conversa, assim como tiveram no barco a duas semanas.
- Você promete não falar nada ao Hazz? Eu mesmo quero esclarecer tudo, está bem?
Viktor crispou os lábios, mas aceitou que aqueles dois já se conheciam a mais anos do que ele e Hazz, e mereciam sua chance de resolver as coisas do seu próprio jeito. Já tinha feito o que podia.
- Não vou mentir se ele me perguntar – avisou.
- Mas se não perguntar?
- Fico quieto.
- Obrigado.
- Não por isso.
- E Viktor?
- Sim?
- Pode me recomendar um livro?
-x-x-x-
É uma coisa estranha, mas quando se está com medo de alguma coisa, e se daria tudo para retardar o tempo, ele tem o mau hábito de correr. Os dias que faltavam para a primeira tarefa pareciam passar como se alguém tivesse ajustado os relógios para trabalharem em velocidade dobrada.
A sensação de enjoo mal controlado que Harry tinha no peito e na boca do estômago, por ter de enfrentar um dragão cospe fogo, estava piorando a cada dia. De certo, estaria arruinando seus pesadelos se Tom e as poções não estivessem ajudando.
Mas logo chegaria o fim de seus dias com elas. Eram problemáticas se usadas tanto, de forma seguida e ininterrupta. Podiam viciar, causar danos à saúde, etc. Teria de lidar com o mundo dos sonhos.
Ou dos pesadelos.
Com sorte ele e Tom poderiam se divertir em sua Hogwarts mental, com a boa e velha aparência adolescente da qual já estava com saudades, então agir como antes de tudo, do torneio e das outras horcruxes, de ouvir Tom sempre que quisesse ou vê-lo com um pouco mais de magia, quando eram apenas os dois no mundo de suas mentes e só. Talvez houvesse poder ali para distraí-lo do que Alice chamaria de uma barata que voa e atira com um lança-chamas.
O problema era o lança-chamas.
No sábado que antecedeu a primeira tarefa, todos os estudantes do terceiro ano, e acima, tiveram permissão para visitar o povoado de Hogsmeade, assim como estava previsto e claro, isso incluía Durmstrang e Beauxbatons.
Harrison fora com uma roupa que Anastassia sugeriu, porque a baronesa e monitora da Haus Feuer simplesmente não aceitou deixar sua alteza sair como estava.
"Parece com você, mas eles não sabem disso ainda, tem que ser mais discreto!".
Ela permitiu que mantivesse as calças cheias de bolsos e os cintos de correntes, mas a camisa que havia ganhado direto do armário de Regulus Black foi trocada por uma verde de mangas cumpridas, uma corrente de ouro e uma jaqueta jeans verde forrada que seus irmãos haviam presenteado.
No dedos, estava o anel feito com o diadema de Rowena Ravenclaw no dedo médio, ocultado por luvas pretas, Lakroff ficaria com o medalhão dessa vez.
E com Tom.
Que ficou minutos, quase uma hora inteira, encarando a si mesmo no espelho até conseguir controlar a magia e encontrar roupas no armário de Lakroff que fossem, "adequadas" para seu gosto e corpo mais esguio.
O mais preocupante era seu cheiro e o fato de que não deveria soltar calor pela boca, o que no frio, seria suspeito já que se ergue neblina.
Ele estaria, portanto, mais uma vez com cigarros.
- Ótimo, sou oficialmente um viciado – ele resmungou, mas mesmo assim seguiu com a ideia.
Harrison se separou deles logo no barco e encontrou com Luna e Pansy no salão de entrada. Theodore, Blaise e Draco vieram logo depois.
Draco. Que maldosamente havia notado que sua ação no corredor desconcertara completamente Harry e, agora, usava isso contra ele. Insinuando coisas aos sussurros, se aproximando apenas um milímetro a mais do que devia.
Nunca nada para constranger, mas sempre para confundir seus sentidos e levar vantagem.
Ao menos tinha a câmara para pensar agora para não se deixar levar pelo caos da semana.
No fim, o sábado foi bem divertido, mesmo com tudo. Na verdade foi outra coisa que conseguiu tirá-lo de toda aquela tensão (mesmo com Draco pegando em sua mão para levá-lo aqui e ali nos lugares).
Quando Luna fazia isso não o deixava tão ansioso, mas ele também não tinha nenhuma lembrança... intensa no corredor com ela.
Saíram da Dedosdemel comendo uma grande quantidade de bombons recheados de creme, passaram pelo Três Vassouras, onde notaram que muitos repórteres e fotógrafos estavam hospedados para assistir a primeira tarefa e, como todos ali sabiam o que Harry teria de enfrentar, pareceram preferir outros lugares para se divertir, mas não antes de lhe buscarem uma cerveja amanteigada para viagem sem precisar forçá-lo a entrar na cova de leões que era a mídia atrás de um famoso.
Enquanto esperava pela bebida, ficou observando as pessoas pela vila. Haviam alunos que aproveitavam a tarde livre, mas também uma variedade de gente mágica que imaginava, sendo Hogsmeade o único povoado inteiramente mágico da Grã-Bretanha, era um tipo de refúgio comum para quem não queria ter de disfarçar.
Como a cidade de baba Yaga onde morava.
Percebeu alguns dos distintivos de Apoie CEDRICO DIGGORY nas capas e olhou para Draco, que ficou como um dos sorteados a esperar junto do lado de fora (não exatamente a posição mais desejada devido ao frio intenso).
- Você está sem o seu.
- O meu o que? – Draco perguntou, muito surpreso aparentemente que Harry tivesse puxado assunto enquanto estavam sozinhos.
Os dois não estavam se evitando, mesmo assim Hazz teve a impressão que entraram no mesmo barco que ele e Neville estiveram nos últimos dias. Procurando orbitar em torno de um assunto, sem nunca realmente tocá-lo, nem mesmo com os pés.
Isso fazia com que conversas em particular (que já eram raras uma vez que o sonserino vivia acompanhado de seu grupo) se tornassem inexistentes.
Até agora.
Harry baixou a cabeça, um tanto mais acanhado do que sentia que deveria estar, mas sua cabeça estava tão confusa sobre tudo o que aconteceu.
Ou deixou de acontecer.
Com a forma que foi olhado por Draco, que ter seus olhos em si e apenas em si de novo foi desconcertante.
- O botton de "Potter Fede" – explicou indicando o entorno deles, deixando que Malfoy encontrasse algum por si próprio e entendesse a que se referia. – Ou de apoio a Cedrico. Você não está usando.
Draco ficou um tempo olhando as pessoas em silêncio, pensando o que deveria dizer.
Para começar não via motivos para usar aquela coisa e estragar sua tentativa de encontrar roupas decentes essa manhã, mas mais importante que isso: não acreditava em suas palavras.
Ele sabia, de forma tão real quanto fora na primeira vez que ficaram muito próximos, que Harrison Potter cheirava muito bem:
- Lembrei que, mesmo que devesse torcer por Hogwarts, gosto mais de torcer para quem eu sei que vai vencer – ao menos isso conseguia admitir em voz alta.
A frase também fez Harry corar, mas ele disfarçou com o frio que já havia avermelhado suas bochechas, além de juntar as mãos ao rosto para soprar ar quente, mas notou pelo canto dos olhos que Malfoy também havia desviado sua atenção. Brincando com o próprio pé nas pedrinhas do chão.
Voltaram ao silêncio, aquela órbita de incertezas. Draco com os pensamentos mais em parafuso do que já julgara capaz no começo do ano, mas vinha sendo assim desde que quisera algo de Harry que nunca imaginou desejar tanto.
Para sua sorte, entretanto, o grupo maluco que chamava de amigos apareceu saindo do três vassoura e pôde se focar em questioná-los como o bando estranho que tinham se formado:
- O que vocês estão fazendo?
Eles seguravam uma caneca comum de cerveja amanteigada, como se não houvesse problema algum em assaltar o lugar.
- Acho que não podemos levar isso por aí - comentou Hazz rindo baixo, com a mão na boca.
- Conversamos com Rosmerta – explicou Luna, para alívio dos nervos de outro loiro. – Disse que Harry Potter queria experimentar mas haviam jornais demais ali para entrar. Ela lhe deixou ficar com a caneca como lembrancinha.
- Nada que um nome não faça – brincou Theodore também rindo.
Ele estava assim desde que a mulher realmente deixou uma coisa daquelas.
Gostou especialmente da ideia rápida da loira enquanto Pansy fingia uma briga com Blaise para abafar a conversa para o resto do bar.
Formaram um bom grupo, surpreendentemente.
Depois disto, o grupo seguiu para mostrar tudo o que podiam para o Lorde Peverell-Potter, semi-disfarçado com roupas menos formais que seu habitual, e os óculos redondos que o grupo o vira usar pouquíssimas vezes e que, na opinião de Draco, não combinavam nada com ele.
Harrison de óculos era muito mais... apenas um provável James Potter estranho. Algo que seria apenas Harry Potter e não o lorde que conheciam.
O menino, por sua vez alheio, imaginava vez ou outra o que estariam fazendo seus outros amigos. Sua corte.
E Tom.
Tom merecia receber um primeiro encontro, um que não fosse político, como todos um dia foram.
-x-x-x-
Sirius estava no céu.
Ou no inferno, não sabia ao certo considerando a quantidade de pensamentos pecaminosos que passavam por sua cabeça enquanto olhava para um noivo muito, muito, muito atraente que tinha.
Lakroff parecia notar, pois sempre que olhava para Sirius começava a rir, mesmo que Thomas lhe acertasse tapas questionando o que o palhaço tinha achado de tão engraçado agora, ou coisas do tipo.
Estavam em um lugar mais afastado do restante do vilarejo, depois de uma escadaria e uma trilha de pedras, sentados junto a uma árvore em um piquenique que Sirius tinha montado.
Levou até umas almofadas, porque não conseguia imaginar Thomas Harris, o meio sangue mais classudo que conhecera na vida, ou rebuscado como sua mãe teria preferido que apontasse, sentado em uma mísera toalha quadriculada.
Ele estava certo, o homem pareceu imensamente mais confortável depois que tinha onde sentar-se e de que isso fora considerado.
Por sorte, ao menos não teve nenhum comentário sobre comer no chão junto dos insetos, uma vez que também trouxera uma mesinha onde colocou todos os petiscos que levara.
Queijos, salames, chocolates, uvas, morangos entre outros.
Estava orgulhoso de si mesmo, ainda mais quando Remus disse que gostou, afinal, por mais que quisesse agradar todos os convidados, sua corte era prioridade.
Todos estavam conversando a boas horas e de forma muito agradável. Primeiro sobre Hogwarts e como estava sendo para Sirius dar aulas, depois para Lakroff reclamando dos professores de história e adivinhação da escola, de como eram péssimos e tinha pena do que formariam de lá.
Claro que falaram de Rita e chegaram a rir de várias das coisas ditas com gosto.
Em determinado ponto, Lakroff chegou a cantar uma música para todos e foi aplaudido por Sirius e Remus, que não sabiam que o bruxo cantava tão bem.
Prefeririam evitar comentar como Thomas sorriu enquanto assistia a apresentação do outro.
Não queriam invocar seu lado ruim.
Remus foi quem comentou da aparência de Lakroff e foi Sirius quem contou que ele estava usando o tônico que antes era seu para fazer o cabelo crescer mais rápido porque estava furioso com Dumbledore.
- Por isso seu cabelo continua curto? Não está usando as poções? – Remus questionou, levando suas mãos para a cabeça do noivo e esfregando-se pelos fios, agora muito macios de novo, do Black.
- Decidi deixar que crescesse naturalmente, vai ser melhor para recuperá-lo de Azkaban.
Remus não deixou que o clima pesasse com a lembrança daqueles tempos:
- Você fica lindo com qualquer corte, então não me importo.
- Obrigado amor – e os dois se beijaram.
Longamente.
Sem se importar com os outros que estavam presentes.
Tom, claro, teve de comentar de forma fria:
- Por coisas assim sempre odiei sair com pessoas, pior ainda casais.
- É só fazer também que não incomoda, sabe?
Tom apontou o dedo para Lakroff, olhos estreitos e venenosos:
- Você nem comece, coisinha irritante.
- Desta vez eu queria ir além de começar, se pudermos – foi interrompido com Tom lhe jogando uma uva.
Que habilmente pegou com a boca ainda no ar.
Sirius e Remus aplaudiram o desempenho.
Riddle inspirou em tom de ódio puro, olhos fechados e dedos massageando o vão entre as sobrancelhas.
- Porque está furioso com Dumbledore? Aquela história de ele inventar boatos sobre você? – Remus estava curioso. – O que ele disse afinal?
- Nada – Lakroff suspirou, pegando a garrafa de vinho que tinha trago e se servindo de mais uma taça. – Ficou insinuando que eu sou Gellert Grindelwald.
- E não é?
A pergunta do lobisomem fez Lakroff cuspir o vinho, mas não pela boca, ele entrou e subiu para sair pelo nariz.
Isso, surpreendentemente ou não, fez Tom rir com gosto, uma mão na boca e outra na barriga enquanto o Mitrica corria para conseguir pegar o lenço que guardava no bolso do casaco e se limpar, antes que manchasse todo seu conjunto de vestes azuis.
- Como é?! – perguntou, claramente irritado.
Tom riu mais ainda:
- Et tu, Brute? (Até tu, brutus) – recitou por entre as risadas.
- O que ele disse? – perguntou Sirius.
Remus traduziu.
Lakroff levou as mãos ao rosto de forma frustrada:
- Pare de rir disso.
- Olhe, tem de admitir que foi engraçado – então, olhando para Lupin, ainda um resquício de seu sorriso. – Você acha, sinceramente, que ele seja Gellert Grindelwald em pessoa?
- Não. Quis zombar da cara dele.
Isso reiniciou a crise de risos de Tom e agora Remus e Sirius juntaram-se a ele.
Lakroff, pela primeira vez em suas presenças, teve que se contentar em ser o alvo de chacota, enquanto esperava todos se sentirem satisfeitos.
- Sabem, é por isso. Esse tipo de coisa que decidi deixar o cabelo crescer. E Olha que já não deixo a bagunça que ele usou por anos – pegou um dos morangos, para comer a frustração. – O velho preso por sei lá quantas mil proteções e muito bem vivo, ainda me confundem com ele. Imagine quando morrer?! Às vezes quase agradeço Dumbledore por ter barrado o meu pedido.
- Como assim?
- Depois que ele fugiu a primeira vez, fiz um pedido formal para execução dele, mas Dumbledore barrou. Só aumentaram a segurança e estão torcendo para que o psicopata não dê um jeito de matar outra leva de guardas e fazer um massacre para escorregar de lá.
- Foi assim que ele fugiu? – Sirius espantou-se.
- Somos videntes do apocalipse, já contei como isso funciona. Meu pai achou que era genial e prudente tornar sua fuga um massacre, a partir do ponto que teve a ideia e matou o primeiro guarda, as visões do que fazer a seguir eram dadas a ele. Cada nova morte, como vidente necromante, um sacrifício para garantir sempre as visões na hora certa, do próximo passo. Foi nojento.
- Astuto – comentou Tom, sem se importar com como os outros reagiriam ao fato de que estava sim, impressionado de maneira positiva ao plano.
Que fora brilhante, tinha que dar o braço a torcer.
Um vidente em sua melhor forma.
- Enfim! – Lakroff tentou mudar de assunto. – Não quero saber de Gellert e nem de ser chamado assim de novo. Albus pode ficar com sua insanidade para ele.
- E você? – questionou Remus.
- O que tem eu?
- Quando vai nos dizer a verdade, porque ninguém aqui cai no seu papo de irmão do Garden, sabe disso, não?
- Eu – Sirius levantou o braço. – Acho que ele é filho, mas mais velho. Ele claramente é velho de guerra. Você era o herdeiro e queria ser como seu pai.
- Estou mais tentado a acreditar que ele é irmão do próprio Gellert – continuou Remus. – Gêmeos, é claro.
Lakroff cruzou os braços:
- E o fato de isso não aparecer em nenhum livro de história é detalhe, não?
- Detalhe. Você e "seu irmão" – fez aspas com as mãos. – Não aparecem. O que é mais uma falha dos historiadores depois de esquecerem ao menos um herdeiro.
O Grindelwald deu uma risada forçada:
- Vocês são hilários, parabéns pelas teorias.
- Também já pensei que ele fosse o próprio Gellert – Sirius continuou. – Mas depois dos professores da Durmstrang quase matarem Albus, consegui uma chance de perguntar se ele não se deu ao trabalho de visitar o que está na prisão e não sei se ele conseguiria dar um jeito de colocar alguém no seu lugar que o ex namorado não notasse, sabe?
- Mas Gellert estaria bem mais velho e acabado, entende? Será mesmo que o fator natural do tempo não poderia fazer confundir as diferenças entre o real não visto mais e a cópia aprisionada? – Remus cogitou.
Tom, o traidor, se juntou a eles:
- Talvez ele tenha matado todos os antigos guardas exatamente porque eles notariam as diferenças entre ele e um sósia, com novos e depois que de uns anos de envelhecimento acelerado com o novo tratamento mais rigoroso, que ele mesmo pediu, Dumbledore não poderia mais ter certeza que era apenas um homem muito parecido.
- Mas teria que achar outro vidente, não é? – questionou Sirius. – Torna tudo mais difícil?
- Para que um vidente, se as novas correntes bloqueiam magia? Poderia alegar que estão bloqueando visões.
Lakroff se jogou no chão coberto pela toalha:
- Parem com isso! Eu não sou Gellert, que inferno!
- Mas é filho dele? – perguntou Sirius.
- Ou irmão? – questionou Remus.
- Eu oficialmente odeio todos aqui. Estão na minha lista de possíveis alvos. Deveriam temer, se sou um lorde das trevas.
- Eles não temiam nem o último – riu Tom.
E os marotos o seguiram enquanto Lakroff resmungava derrotado no chão.
Depois de um tempo, Remus se levantou e estendeu a mão para o noivo, que aceitou confuso:
- É ótimo desconcertar um amigo, podem sempre contar comigo para isso – sorriu. – Mas agora nós dois vamos sair um pouco.
- Vão onde?
- É ótimo estar entre amigos, mas meu noivo está me encarando como um pedaço de carne a um tempo achando que eu não notei, então precisamos de alguns minutos sozinhos para eu me entender com ele. Podem nos aguardar – encerrou puxando o animago.
Que olhou para trás e sussurrou:
"Por favor, não esperem" antes de sair saltitante como uma lebre para sabe se lá onde, descendo mais a trilha.
Lakroff se sentou de novo, observando a dupla se afastar, pensando em várias coisas que poderia dizer para tentar convencer Riddle a continuar ali ao invés de apenas sumir como da outra vez, nem mesmo precisavam falar sobre o que raios o incomodava, estava satisfeito com sua companhia.
Por mais assustador que fosse notar isso.
Não conseguiu pensar nada antes que Tom Marvolo Riddle agir. Num movimento rápido com a mão, ele arremessou o cigarro longe, então levantou-se e tomou outro lugar.
Diretamente no colo do Grindelwald, as mãos por cima de seus ombros.
Isso chocou Lakroff o bastante para que não conseguisse segurar um comentário idiota e fora de hora:
- Você está bem? O que está fazendo?
- Quarta-feira.
- O que tem? – hoje era sábado.
- Eu estava do outro lado da porta quando você falou com Igor.
- Estava? – espantou-se, finalmente entendendo melhor a mudança de assunto. – Então você ia conversar comigo? Porque não fez depois? Pelo menos depois que eu tomei banho e tirei todo aquele sangue e sujeira, eu – mas de novo, e graças a todos os rituais das trevas, Lakroff foi interrompido pelos lábios de Tom Riddle.
Não era tão burro e já estava começando a se acostumar com o fator surpresa desses momentos, então gastou seu tempo para agarrar a cintura esguia de Riddle com força e mantê-lo exatamente ali. Onde podia tomar-lhe cada pedaço que pudesse alcançar.
Uma voz na cabeça de Lakroff ordenou-lhe que parasse. Ele queria Tom Riddle beijando-o, sem dúvidas alguma, em seu colo e agarrado aos seus cabelos? Isso não poderia descrever melhor uma tarde maravilhosa, mas também sabia que precisava falar com o homem.
Infelizmente isso era impossível, já que sua língua estava ocupada descobrindo a do mais jovem.
Precisava esclarecer as coisas de uma vez e o plano. Ter certeza do que Riddle queria, porque, pelos sete infernos, ele queria que Riddle tivesse certeza. Estava tão louco já que concordaria com Harrison nessa, Tom não merecia morrer porque era uma parte de Voldemort, se assim não desejasse.
Era uma vida que Lakroff declinava em tirar e, em seu estado atual e depois de tantos anos de guerra, isso significava muito.
Poucas vidas significavam qualquer coisa para Lakroff Mitrica do que gente ocupando espaço e recursos no planeta.
A voz que dizia isso, entretanto, foi abafada pelo contato com a pele e a sensação do toque de dedos finos e esguios de Tom passando por seu pescoço, nuca, entrando por de trás de suas vestes.
Estava perdido.
Aquela horcrux o rendia tão fácil que só poderia estar perdido.
E louco.
Sentia seu corpo pedir por mais e suas mãos tremerem para alcançar mais, mesmo assim respeitava demais o homem que beijava para ultrapassar qualquer limite sem autorização, permitiu-se, apenas porque o outro gelava o início de suas costas com a palma de sua mão, arranhando-a com força de unhas que o fizeram gemer ao contato; permitiu-se explorar mais aquela cintura, subindo com as mãos por baixo da camisa de Riddle.
Era incrível o que magia conseguia fazer.
Uma pena seus limites.
Riddle era liso, sem a sensação do toque de pelos, gordura, uma pele com veias funcionais. Não era viva de verdade. Os dedos de Lakroff ansiavam pela carne real que sabia que jamais teria e, para o bem de sua sanidade, tentou não pensar o quanto perderia por ser apenas magia diante de si. Se focou no que ganhava.
Voltou suas mãos para onde estavam, focou suas sensações na boca, nos arranhados deliciosos nas costas, em lábios carnudos e macios, mais do que se imaginava.
O beijo, que já não começara suave, tornava-se mais violento, profundo, faminto. Imploravam por mais, mais e mais e quando Lakroff percebeu que simplesmente não era mais humanamente possível segurar o ar, ainda tentou dois instantes a mais, separando-se num jorro de inspirações e expirações descompassadas.
A horcrux em seu colo, aquele diabo maligno, sorria de forma falsamente inocente, como se não conseguisse sentir bem abaixo de si tudo o que tinha feito com os nervos do mais velho.
Como se não visse em seu rosto, na forma como precisou de tempo para se recuperar, em como seu lábio sangrava da mordida intensa que levou em sua primeira tentativa de se afastar, como se não estivesse em cada parte de seu cabelo despenteado o fato de que Riddle o destruira.
E mesmo assim, pediu:
- Mais.
Marvolo, o sádico, sorriu e levou a mão ao pescoço alheio, não segurando como Lakroff esperava, mas arranhando com força o bastante para marcar. Ele gemia enquanto o mais novo dizia:
- Primeiro o que eu quero, depois a recompensa, lembra cachorrinho?
- Sim, milorde – respondeu obediente.
- Parabéns, você aprende rápido – Riddle teve de acrescentar de forma cínica, mas o fez no ouvido do mais velho, dando uma mordida ali que fez Lakroff tremer e suspirar.
Outra coisa que o Mitrica se acostumou com Tom: da mesma forma que vinha rápido, esfriava tanto quanto se um balde de gelo fosse jogado em cima dele.
- Para que o ritual?
- O de quarta? Para tentar descobrir sobre você.
- Esclareça.
- Você sumiu da última vez – e como se estivesse com medo de uma repetição (o que estava) firmou o aperto na cintura alheia. – Em um momento importante, quando estávamos para discutir os planos.
- O que viu?
Lakroff não respondeu, apenas estreitou os olhos para o mais novo. Tom entendeu e revirou os olhos:
- Algo que eu poderia tomar nota?
- Muitas coisas estão iguais, o torneio não. Voldemort está diferente.
- Como?
- Lembra-se da horcrux que me pediu para procurar, não? O anel está com Harry e não tem nada, então faltava a taça.
- Conseguiu? Já?
- Aí que está. Invadi o cofre que pediu. Nada. Não está lá.
- Ele já pegou, então – sussurrou irritado. – Isso o deixa com uma destruída, três conosco, a taça e sejá lá onde colocou a alma do anel Peverell. Duas horcrux.
- Uma quantidade significativa.
- Você não vai poder matá-lo antes de garantir que sabe a localização das outras e ele não vai falar, não importa o quanto o torture. Matá-lo mesmo assim só atrasa... Mas podemos pensar em uma forma de descobrir as outras localizações primeiro. Harrison tem sonhos quando ele está acordado, se não estiver com as barreiras oclumentes tão fortes durante os sonhos por minha causa. Talvez conseguimos entrar, talvez eu conseguisse ver - Lakroff interrompeu imediatamente.
- Não vou te levar para o seu assassinato.
- Se não tivermos outra escolha - foi interrompido de novo.
Lakroff deitou sua cabeça no peito sem batimentos cardíacos de Tom.
Sofrendo com a ausência de um coração, sofrendo que ele não pudesse ter esse luxo.
Uma vida.
- Não sei nem se quero te matar – admitiu em um sussurro.
Lakroff esperava uma recusa. Esperava que Tom gritasse com ele. Esperava até ser julgado por ser um maldito sentimental além da conta. "Alguns beijos e você já quer pôr tudo a perder?" era a sua cara. Sempre foi tolo no coração. Um idiota. Lakroff era tão entregue que poderia, sim, destruir tudo por sua tendência autodestrutiva histórica. Sua submissão àqueles que conquistavam um espaço em seu coração.
Depois o chamavam de frio.
Se não visse o mundo o máximo que conseguia como ocupantes de espaço, a que ponto já teria chegado com isso?
Mas, no fim, Tom agiu diferente. Lakroff sentiu a mão do mais novo se agarrar ao seu braço, com tanta força que se não fosse bem mais resistente à dor, estaria doendo e poderia deixar marca.
Lakroff não se moveu, continuou com a cabeça no peito de Riddle e sentiu quando ele precisou tomar ar para falar:
- Não faça isso.
- A que se refere exatamente?
Mais aperto.
Um pouco de silêncio, então um sussurro:
- Não torne mais difícil do que já é. Era para você me ajudar.
Aquilo doeu.
O peito de Lakroff ardeu e se comprimiu tanto que deitou o rosto no do outro, bem próximo à clavícula, sentindo o tecido das roupas que havia emprestado para a horcrux e seu próprio cheiro vindo delas, misturado ao cigarro forte.
Tom tinha esse cheiro agora.
Bergamota, pergaminhos, tinta e cigarro. Algumas coisas a mais, mas aquelas eram as que lhe vinham com mais clareza e para sua tristeza, sentia que logo começaria a gostar do cheiro de cigarros.
Mas não era real. Nada era, exatamente.
Mesmo assim havia um sentimento que o incomodava bastante:
- Harrison vai ficar desolado, nunca aprendeu a viver sem você lá no – Tom o agarrou agora para empurrá-lo para frente.
- Não faça isso! Acha que é fácil para mim? Consegue se imaginar matando seus filhos? Matando Harry?
- Não! – alarmou-se, mas também entendeu logo que o primeiro impulso se foi.
- Eu nunca consegui me imaginar fazendo meu próprio maior medo real. Agora eu sou a causa. Eu vou pegar meu maior medo. Vou pegar meu bicho papão e torná-lo real na minha frente! E não tem mais feitiço para isso! Não vai haver Ridiculous ou Horcrux para me salvar! Eu... eu... – ele se abaixou, abraçando a si mesmo, parecendo tão pequeno e frágil que piorou a sensação ruim de Lakroff. – Vou perder tudo.
- Tom...
- Eu não tinha nada e já temia... Eu não tinha nada nessa merda de vida para me agarrar e fiz o que fiz! Me agarrei a cada esperança como um louco! Me destruí para ter o mínimo. Para viver! Agora que tenho tudo! Agora que... eu vou ter que tirar das minhas mãos por minha própria culpa. Meu próprio apego – havia tanta dor em suas palavras que Lakroff imaginou se Tom Riddle não chorava apenas porque não podia.
Ou talvez alguém como Tom Riddle nunca chorasse, nem em seu maior pesadelo, nem em seu último minuto.
Talvez estivesse se agarrando ao pouco que tinha enquanto ainda estava em suas mãos, assim como fazia com seu corpo agora.
A horcrux ficou um pouco translúcida antes de voltar ao normal e houve mais dor na forma como se segurou e fechou os olhos:
- Eu me odeio por hesitar. Eu me odeio por só conseguir pensar nisso. Por ter feito o que fiz, por não ter escolha, por só ter vivido nos últimos minutos. Eu sempre me achei tão inteligente, tão melhor que todo mundo, então me odeio porque no fim eu fui um idiota que só causou todo o mal que tem! Eu me odeio porque agora é tarde para tornar isso difícil, ou achar impossível, porque vai acontecer. Tem que acontecer! Então eu quero que seja do meu jeito, quero que não fira Harry e quero que seja pelas suas mãos. Eu...
Mas não teve força para continuar.
Lakroff assistiu a tudo, ouviu tudo quieto, como se não tivesse direito de interromper as últimas palavras de um homem na beira do precipício. Ele ficou quieto.
- Eu me odeio – Tom reiterou. – Isso é novo.
- Se odiar? – Lakroff enfim tomou-se a liberdade para estar presente. – Eu faço isso a anos. Você se acostuma.
Tom, ao menos, abriu os olhos com isso e deu um sorriso venenoso:
- Não vou ter tempo – quando o platinado ia voltar a falar, Tom o impediu. – Não pode piorar isso para mim. Por favor, Grindelwald. Por favor, Lakroff. Não torne isso pior. Não diga que não quer. É como eu quero, só faça. Garanta que aconteça antes que eu não aguente mais.
A Horcrux tremeu e, novamente, sua imagem estava menos viva, antes de voltar ao normal.
- Você está lutando contra – não era uma pergunta.
- Eu fui feito pra isso, sabe que é a função de uma horcrux. Por melhor e maior que Harrison tenha me tornado, eu sou só isso. Sirvo para deixar meu mestre e dono vivo. Não para matá-lo.
Lakroff segurou com ambas as mãos o rosto de Tom:
- Você não tem mestre, você é Tom Riddle.
- Eu sou. E sou miserável porque me parti igual uma maldita torta.
- Viu? Já está se acostumando a se odiar, começa assim, falando com frequência.
- Não é engraçado.
- Não era para ser.
- Eu não quero morrer – admitiu e só então, só então Lakroff sentiu o medalhão em seu pescoço puxar tanta magia que lhe faltou ar.
Mas isso permitiu uma única lágrima.
Uma única gota de lágrima puramente mágica.
Pela exaustão que isso rendeu a Lakroff, duvidava que um dia veria algo assim de novo. Aquilo era algo totalmente novo e único. Algo que deveria ser guardado para estudo. Algo que sumiria em segundos como Tom poderia sumir, porque não tinha vida além de sua própria consciência.
"Penso, logo existo" foi tudo que veio à mente do homem. A única prova da existência de alguém. A capacidade de tomar decisões.
Lakroff não permitiu que aquela magia toda se perdesse.
Nenhuma delas.
Beijou a lágrima de Tom que espantou-se com o gesto, olhos arregalados, se afastando um pouco.
Tendo aquela coisa, sem sabor salgado como uma lágrima deveria ter, mas tão cheia de significado como uma, deu forças ao vidente para ter a sua própria certeza:
- Você não vai morrer.
- Não falhe agora, Grindelwald!
- Eu não vou – Tom bateu nele, em seu braço.
- Não ouse! Você tem que fazer! Ou eu mato todos! Todos os Mitrica morrem nas mãos de Voldemort é o que suas visões sempre disseram! Pare de tornar isso impossível!
Lakroff segurou as mãos da horcrux antes que apanhasse de novo:
- Lembra-se quando disse que sou péssimo evitando visões, mas sei como concretizá-las?
- Sim, eu tenho uma memória perfeita.
- Incrível, uma arrogância perfeita também.
- Sou inteiramente perfeito.
"Por isso estou me apaixonando por você" Lakroff pensou, mas matou o pensamento rápido e fatal.
Como não o faria com Tom.
- Se eu tiver uma visão onde você vive, você me permite tentar?
Houve uma longa pausa onde os olhos castanhos de Tom encararam os azuis de Lakroff, primeiro surpreso, depois desacreditado, então furioso, decepcionado... Fraco:
- O que você quer com isso?
- Eu posso tentar.
- Não gosto disso. Não quero isso.
- Você disse que não conseguia pensar numa solução, mas talvez eu consiga.
- Não.
- Por quê? Eu posso te jurar. Juro que só vou cometer esse risco se tiver uma visão que me favoreça. Você é do tipo que não confia em ninguém, do tipo que acha que sempre será o melhor para fazer uma tarefa, mas ainda confia em mim a vida de Harrison depois que não tiver mais você. Ele terá a mim. Você confia isso, disse isso quando me garantiu que posso usar minhas visões. Certo ou errado?
- É diferente...
- Certo ou errado?
- Certo, mas – Lakroff o beijou para interrompê-lo.
Riddle ficou bravo e isso fez o Mitrica sorrir. Tom bravo era o verdadeiro Tom, não aquele deprimido.
- Se pode me confiar a vida de Harrison, então sabe que ele é minha prioridade junto com meus filhos. Todos que carregam o sobrenome Mitrica, mesmo contra as minhas indicações. Sabe que nunca vou arriscar machucá-los ou pior. Isso está certo ou errado?
- Certo.
- Eu nunca, nunca Tom, vou arriscar a vida dos outros pela sua.
- Obrigada.
Ao menos havia humor o bastante naquela frase para os dois sorrirem deprimidos.
- Mas eu juro pela minha que posso, se achar uma visão onde você e todos ficam vivos, torná-la real.
- Não jure. Não quero.
- Por que não? Se há uma chance.
- Eu pensei em tudo.
- É seu orgulho? Você acha que porque não pensou nisso não vai dar certo?
- Quase.
- Então o que mais?
- Eu não posso confiar. Não posso confiar na jura de ninguém.
- Por quê?
- Não quero acreditar nisso.
- Por quê?
- E se não tiver visão, Lakroff!? – gritou, furioso, soltando seus braços à força. – Você está sendo cruel e desprezível porque está me dando o mesmo que me fez cair tão fundo! Está me dando aquela coisa nojenta que me destruiu de todas as formas! – as mãos no rosto, apertando os cabelos. – Pare com isso! Não abra a caixa de Pandora!
A última coisa que ficou na caixa de Pandora foi a esperança. O que ele fazia ali? Se escondendo no único lugar onde nunca seria ferida, porque os males não conseguiam quebrar? Mostrando o mal humano de ter esperança e se deixar levar por ela?
Seria a esperança realmente o único mal que não fugiu e apenas isso?
Um mal.
- Se eu não te matar não tem mais quem pedir isso.
- Posso pedir a Black ou Lupin, basta lhes contar toda a verdade. Eu só pedi para que fosse você. Não pode fazer isso, inferno?
- Não consegue confiar em mim? De que posso te salvar – mas a palavra nem foi terminada.
- Não! Não! Não vou continuar me agarrando à vida como o mesmo louco! Só vai me destruir e vai levar o que mais me importa agora!
- Eu posso fazer diferente.
- E se não fizer?! – então, inspirando fundo como se para recuperar-se da última explosão, mas ainda fraco demais para estar em sua total forma, continuou. A voz trêmula. – O quão cruel é matar um homem depois de lhe dar esperança da fuga? Eu sei que você é tão podre quanto eu e sei que talvez mereçamos a crueldade, mas estou implorando a você.
- Você disse que nunca imploraria.
- Eu sei o que disse! Agora por favor!
O platinado encarou a horcrux a sua frente, depois abriu os braços para avisar o que faria. Podia impedi-lo, se quisesse. Mas Riddle deixou-se abraçar. Ser acolhido nos braços de Lakroff Mitrica.
Ser consolado.
Mais uma coisa nova que apenas viver de verdade oferecia.
Ele não chorou mais, nem gritou ou teve qualquer reação além de ficar deitado no ombro de Lakroff sentindo o cheiro de seus pescoço. Observando o sangue correndo pelas veias mais proeminentes. Sentir o movimento de sua respiração.
Do seu estado de vida.
- Você está vivo. Eu já morri a muito tempo, só estou retardando o inevitável e colocando todos em risco.
- Espere até eu descobrir onde estão as outras horcruxes e prometo te matar. Até lá viva. O máximo que puder, tudo que quiser. Vai doer mais assim, mas você tem que fazer um dia.
- Certo.
E eles ficaram em silêncio. Lakroff mentindo que havia aceitado aquela realidade.
Tom sabendo que era mentira, pois o conhecia exatamente quem ele era.
Mas Riddle já havia confiado na salvação de um Grindelwald antes, no passado, quando lhe dizia que pararia todos os trouxas, tiraria as bombas de sua cabeça à noite.
Sua esperança foi tola e só perdeu tempo.
Mesmo quando tomou as próprias medidas antes do fim da guerra, sabia que confiar nos outros não levaria a nada em sua vida.
Confiar que um Grindelwald poderia salvá-lo? Tom só poderia confiar em sua capacidade de proteger Harry, nada mais.
Nunca mais.
-x-x-x-
- Harry, meu garoto.
Harrison teve um impulso quase instantâneo a mandar o velho a merda.
A pouco tempo tinha sentido uma angústia, dor e sofrimento imensos e, considerando que seu dia ia ótimo, só podia acreditar que vinha da ligação com as horcruxes. Correu para o barco na esperança de encontrar Tom por lá, mas como imaginava, a resposta era não. Tom não respondia pela ligação, as barreiras de oclumência completamente levantadas e inacessíveis por mais que tentasse.
Inferno, se tentasse mais, logo estaria em Voldemort!
O menino encontrava-se em pânico e não sabia onde raios seu amigo estava para verificar o que tinha acontecido. Passou por toda Hogsmeade e não viu nenhuma vez Lakroff, Tom, Sirius ou Remus. Outra que Lakroff disse preferir evitar a vila, caso alguém reconhecesse qualquer um dos dois seria ruim.
Podiam, literalmente, estar em qualquer lugar do mundo agora e Harrison não conseguiria rastreá-los tão facilmente, afinal, era Lakroff!
Seu desespero o fez voltar por onde veio, para a entrada de Hogwarts e o enorme caminho que levava até os portões e depois Hogsmeade, mas não conseguia ficar apenas parado e não estava pensando claramente.
Ser parado por Albus Dumbledore no processo, não estava nos planos.
- Professor, Dumbledore – cumprimentou de forma automática, afinal haviam pessoas indo e vindo o tempo todo.
Tentou passar direto, mas o homem teve a ousadia de levantar o braço para impedi-lo.
Harrison olhou-o com uma fúria não contida nos olhos que, para seu prazer, ao menos fez o velho perder o sorriso idiota.
Albus precisou tossir para se recompor:
- Meu menino, queria muito lhe trocar algumas palavras.
Inferno sangrento! Quantos malditos professores queriam trocar palavras naquela semana? Que tal todos se enfilerarem e intercalarem um por hora para falar tudo o que queriam de uma vez!
- Estou ocupado, professor. Outro momento, seria possível?
- Certo, terei de dizer ao senhor Longbottom que não nos acompanhará.
Aquilo ativou uma nova onda, somada à anterior, Harrison não ouvia pensamentos.
Havia apenas um chiado.
- Perdão?
- Neville, meu garoto. Estou indo me encontrar com ele em minha sala.
- Talvez eu possa ir. Meu amigos vão entender.
- Ótimo, venha – chamou o diretor e ambos seguiram juntos para dentro de Hogwarts, bem mais vazia que o normal a esta hora de sábado.
- Sabe, meu garoto – Hazz estava para mandá-lo escrever meu garoto em uma tora e enfiá-la onde o sol nunca toca. – Estive conversando com o senhor Longbottom sobre isso. Como vão as aulas na Durmstrang, para você pessoalmente?
- Vão ótimas, senhor.
- Eu vejo. Seus amigos o ajudam bastante? Ou ajudaram, no passado, a lidar com as diferenças culturais?
- Sim, eles foram muito receptivos.
- Imagino que não desde o começo. Há a questão da política de sangue.
- Nada que o tempo não seja capaz de fazê-los ver com clareza.
- Isso é ótimo, nem sempre é assim. Você sabe, ou o mundo não seria como o vemos hoje.
- Com certeza. As pessoas são difíceis de mudar, mas aquele que faz o esforço na direção correta sempre consegue.
Harrison esperava que o velho tivesse sentido a indireta.
- Sim, mas às vezes até o maior dos esforços pode ser recompensado com mais resistência. O que é uma pena para a evolução. Um líder poderia fazer muito mais em terras férteis de ideias abertas.
- Um líder de verdade pode arar a terra.
Agora sabia que tinha sentido, pois o velho limpou a garganta:
- Nem toda terra é restaurada, mesmo com os devidos cuidados. Devemos aprender a usar o que podemos, mesmo que não seja uma plantação.
- Sim, mas daí corremos o risco de tirar os vegetais necessários da nossa dieta e prejudicar o desenvolvimento não só do corpo, como do bioma prejudicado se desistimos de tentar cuidá-lo.
- Se passarmos muito tempo concentrados na terra, podemos perder a chance de fazer muito mais por aqueles que não dependem apenas dela.
- Então os que dependem são largados às traças?
- Você é um garoto de opiniões fortes. Por isso é um líder nato.
- Sou líder também porque faço de minhas opiniões parte do meu propósito.
- Com isso podemos concordar.
- Podemos?
Harrison mal conseguiu ver como chegaram àquele assunto, como de repente estava questionando Dumbledore abertamente sobre suas ações e como, na mesma velocidade, se calaram e seguiram quietos até chegar a estátua que abria passagem para sua sala.
- Diabinhos de pimenta – entoou o diretor.
Ambos aguardam as escadas se formarem para subir até o gabinete e, a este ponto, Harrison não quis nem saber porque Neville não estava ali.
Se Albus foi tão sujo para usá-lo apenas para atrair Harry, era bom que ao menos oferecesse um bom entretenimento.
VOTEM NO CAPÍTULO!
Espero que tenham gostado, o próximo capítulo eu consideraria o final do primeiro livro, se eu fosse dividir essa fanfic em livros, então estou tentando torná-lo bom.
Me desejem sorte.
Uma beta chorou enquanto lia em call comigo, acreditem? Lendo este. Fiquei com dó, nem tinha pensado que alguém ficaria tão abalado com a cena do Lakroff e Tom. O que vocês pensaram sobre ela?
Uma boa semana e até mais!
(Ps: Meu engajamento caiu muito por causa do hiatus, se vocês conhecem alguém que lê fanfic, recomendem a minha, vamos lutar para voltar ao que era comigo! Obrigada a quem não achou um pedido tosco e boa noite!)
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