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Capítulo 48 - Cicatrizes e fragilidades

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E boa leitura!


Sirius não tinha costume de descer para as masmorras.

Na verdade, desde suas próprias aulas com o professor Slughorn, aquela era uma área que já estava criando teias em suas memórias.

Mesmo assim, quando começou a sentir o cheiro forte dos ingredientes sendo cozidos na sala mais ao fundo, foi como se a nostalgia o atingisse por completo. As aulas com James do lado sussurrando ideias malucas para novas pegadinhas, Remus esperando o professor se distrair para lhes dar uma livrada na cabeça e ordenar que os dois idiotas ficassem quietos.

Até Lily revirando os olhos para o grupo, com Severus sempre ao lado igualmente desgostoso.

Ao menos, é claro, até o sonserino falar "aquelas palavras" e perder a amizade que ambos tinham mantido tão fortemente, mesmo com os anos em que suas casas desincentivavam a união.

Na época, Black achou mais que bem feito.

Odiava Severus e acreditava que solução para fascista era agressão.

Ele e James não deram um minuto de paz ao ranhoso.

Mas hoje se arrependia.

Mesmo que o homem fosse um comensal, não cabia a Sirius e James decidirem a forma de agir. Nunca. Escolher a agressão era pior ainda.

Sirius foi ensinado, entretanto, que um Crucio era a melhor forma de educar para um pai que quer que seu filho tome jeito, o que fazia com Severus em forma de bullying era piedoso comparado com o que tinha em casa se não se curvasse da forma correta.

Ele não era mais aquela pessoa, tão pouco queria ser como os pais. Aprender, crescer e evoluir. Ser um bom exemplo e um padrinho para Harrison.

Esse era o objetivo.

Snape era uma parte do passado de Almofadinhas do qual estava querendo consertar, para provar a si mesmo que era capaz desse amadurecimento, que sua adolescência e seus anos em Azkaban não o definiam como pessoa.

Não podia mudar o que foi, mas como seria daqui em diante, assim como com o afilhado.

E talvez, só talvez, a... "amizade" que estava conseguindo criar com o morcego da Sonserina, se devesse a esse fator em comum.

Snape com certeza tinha seus arrependimentos do passado.

Em relação às suas ações e palavras, mesmo que as tivesse dito diante do caos, e como estas foram contra tudo que sua melhor amiga esperava. Era um peso grande, falhar com alguém que sempre confiou em você e o defendeu, mesmo daqueles que lhe apontavam o dedo e diziam seus piores aspectos.

Snape tinha uma marca negra no braço e uma amiga que morreu sem desculpá-lo.

Sirius tinha um código de prisioneiro no pescoço e um afilhado que não o havia perdoado completamente.

E, com certeza, um amigo morto decepcionado.

James lhe confiou seu maior bem. Lily confiou anos a Severus.

Dois falhos miseráveis.

É, eles tinham uma chance de serem amigos.

Snape ficou anos trabalhando como professor para criar uma nova imagem de si mesmo e Sirius, de alguma forma, parecia ter ganhado a oportunidade de trilhar esse mesmo caminho.

Não podia ter certeza de como eram os sentimentos do colega de trabalho, mas seu instinto (se é que podia confiar nele) dizia que esse fator era parte da chave que os fazia cada dia menos ansiosos ou avessos à companhia um do outro.

Minerva tinha notado e chegou a falar com Sirius sobre isso.

Se ela notou... Sirius imaginava que outros professores também e isso devia incluir Dumbledore.

Por algum motivo isso o incomodava.

Como se Dumbledore fosse um tipo de mau agouro que poderia arruinar qualquer coisa que se aproximasse demais.

E aquela situação já era delicada sem ele.

Sirius negou com a cabeça. Não era hora daqueles pensamentos. Viera apenas com um objetivo. Minerva pediu, ele entraria e já sairia. Ele e o morcego mal teriam que conversar de toda forma.

Parado em frente a porta da sala de aula, deu duas batidas e entrou sem esperar uma resposta.

Era mais frio ali do que na parte social do castelo? Com certeza vinha sendo corredores antes deste, mas Sirius teve a impressão de que seu colega havia feito questão de piorar essa impressão ao acrescentar na decoração animais embalsamados flutuando em frascos de vidro nas paredes à volta.

Snape olhou em sua direção, a expressão limpa e apenas um sinal leve de cabeça em questionamento.

"O que faz aqui?"

Sirius, enquanto se aproximava para se explicar, notou que tudo ali combinava com os olhos do professor. Snape tinha olhos frios e vazios, lembrando túneis escuros.

Aquilo deu pena.

Não que esses sentimentos no Black tornassem Severus inferior de alguma forma, pelo contrário, os tornava mais próximos.

Sirius tinha os mesmos olhos o encarando no espelho desde que estivera em Azkaban.

Túneis nebulosos, como o ar gélido cortante que os dementadores garantiam.

Os dois eram dignos de pena.

Na mesma velocidade que este pensamento lhe chegou, outro apareceu como um vulto cruel: Sirius, ao menos, tinha Remus. Que dava luz naquele corredor escuro.

O que Severus tinha?

Aparentemente ele próprio e sua antipatia.

Só.

- Tire essa cara distraída e vá direto ao ponto, estou em aula.

Risinhos da Sonserina.

- Nossa, juro que não notei que estava em aula, mesmo com todos esses alunos – Sirius ironizou cruzando os braços em resposta, a cara de nojo que seu irmão sempre dava quando dizia algo estúpido tentando ser replicada.

Régulos era melhor nela.

Ao menos Sirius também ganhou risinhos de seus alunos na Grifinória.

Notou que não haviam alunos da Durmstrang, e pela idade aproximada, deveriam ser os terceiros ou quartos anos ali, o Black voltou a viajar, dando uma boa olhada na sala em ainda mais detalhes.

Seu instinto natural de desafiar qualquer um que ordenasse a ele.

Logo confirmou que era o quarto ano ali.

Snape estreitou os olhos para o colega de forma bem irritada e os dois souberam que o Sonserino percebeu exatamente o que Sirius fez.

- Espero que seu motivo seja ótimo, ou terá que se preocupar com poções em suas bebidas a partir de hoje, cão Black.

- Todos aqui são testemunhas, se eu morrer envenenado vocês entregam o professor morcego para o ministério – brincou Sirius, olhando na direção onde a maioria das mesas eram ocupadas por grifinórios. – Assim aproveitam e arrumam um professor novo.

- Black!

Em prol de evitar mais atrito, Sirius se deu por vencido (por hora) e apenas riu:

- Minerva me pediu para lhe trazer isso e quer uma resposta urgente, se possível.

Quando estendeu a papelada, o animago esperava que o outro homem a pegasse apenas para lhe acertar direto na cabeça, dado pela careta furiosa que recebeu. Algo como "Interrompendo por uma papelada?". Como se fosse culpa de Sirius, só para começar.

Mas Snape pareceu notar algo entre os papéis e imediatamente mudou sua feição, emitindo para a sala:

- O professor Black – careta.

Sirius riu baixinho.

Nenhum dos dois conseguia juntar aquelas duas palavras de forma séria ainda.

– Ficará de olho em vocês. Não façam nada que eu não aprovaria, haverá consequências.

Com esta última ameaça e sem mais explicações, girou sua capa tão forte que quase bateu em Sirius, então se escondendo em sua sala aos fundos.

Um momento de silêncio caiu sobre todos. Os alunos olhando para Sirius confusos, talvez apenas um pouco mais que o próprio professor de Trato das Criaturas Mágicas.

Agora ele estava sob comando da aula de poções de Severus?

Essa é ótima.

A chance de fazer algo terrivelmente errado era tão grande que o fez tremer um pouco (esperançosamente em uma intensidade em que os alunos não notassem).

Apenas respirou fundo e se voltou para a turma.

Talvez fosse o fato de que todos estavam falando de repente, ou que alguns da Sonserina ainda tinham a coragem de apontar o dedo e, por Merlin, Goyle chegou a se espreguiçar.

Mas de repente Sirius não era mais Pads.

- O que estão fazendo? – perguntou com o máximo de firmeza que sua educação um dia lhe deu, escorregando para "Lorde Black" tão rápido que teve outro tremelique, esse contido pelos fantasmas obsessores de sua mãe e pai do passado ordenando a imagem perfeita. – Não recordo do professor Snape ter ordenado que eu fosse o vigiado aqui para estarem dando mais atenção a mim do que ao seu trabalho. Retornem aos caldeirões, agora! Ou reportarei a Severus e retirarei os devidos pontos de cada casa – com uma última olhada intensa sobre ambas as casas, encerrou com um olhar gélido – Vamos!

O efeito foi impressionante. Todos pularam em suas cadeiras, olhos bem abertos e chocados, seus alunos já tinham visto Sirius com as roupas de lorde Black, mas nunca tinham visto a face do lorde. Isso os surpreendeu e os moveu tão rápido às poções quanto uma ordem do próprio Snape.

- O que é isso? – sussurrou Ron para Neville. – Snape deixou Sirius de olho em nós ou se dividiu e possuiu nosso amigo sem percebermos?

Neville segurou a risada e sussurrou de volta:

- Acho que Snape usou um império para controlar Sirius sem notarmos.

- Isso é possível, como tiramos Pads dessa?

Ambos, entretanto, pularam ao ouvirem uma voz logo ao lado:

- Vocês dois, espero que estejam debatendo o preparo de poções, ou serão menos 5 pontos para a Grifinória agora mesmo!

A sala se comportou bem dali em diante. Sirius notou alguns olhares e outras fofocas aqui e ali, nada que merecesse sua repreensão novamente.

Eram interrompidos assim que levantava uma sobrancelha.

Ninguém parecia querer desafiá-lo e novamente o Black se lembrou das aulas da mãe. Aquela coisa toda funcionava, mesmo que estivesse com calças jeans rasgadas e uma jaqueta de couro.

"Um olhar de um lorde pode mover multidões se ele souber o que está fazendo".

A demora de Severus espantou um pouco Sirius, mas como ele mesmo não tinha aulas naquele período não se importou muito, apenas esticou o pescoço curiosamente para a salinha onde o outro havia se enfiado, mas obviamente sem respostas, uma vez que a porta estava fechada, foi quando escutou alguns sons e voltando-se para os alunos percebeu Draco Malfoy murmurando algo de forma bem irritada para Crabbe.

Que sequer era sua dupla.

- O que foi aí? – questionou fazendo o loiro se afastar mais que depressa do colega. – Então? – perguntou de novo, quando não obteve resposta alguma.

- Crabbe estava tendo dificuldades, professor. Só quis...

- O que foi Crabbe?

- Draco já me ajudou professor – o menino respondeu baixinho.

- Tem certeza?

Sem esperar uma resposta Sirius se aproximou da mesa do menino, notou como os alunos da Grifinória encaravam a interação com expectativa. Provavelmente esperando uma vingança. Todos na escola sabiam do histórico do Snape em tirar pontos de todos menos de sua própria casa nas aulas de poções. Se Crabbe e Draco estivessem mentindo...

- Qual era a dúvida?

Para a leve surpresa de Sirius, o garoto realmente estava bem confuso e o professor quase riu ao perceber que Draco havia impedido que o colega explodisse a sala ao colocar alguns ingredientes que não só eram completamente alheios a receita original, como levariam a poção a uma reação desagradável. Por sorte, Sirius não era o melhor em poções (nem de longe, podia citar ao menos sete alunos em sua turma que faziam trabalhos melhores), mesmo assim nunca falhou na matéria e fazia parte do "clube do Slog" (claro que ser um Black era o principal fator, mesmo assim).

- Senhor Crabbe, tente começar a aula sempre separando apenas os materiais que usará naquele dia, assim não corre o mesmo risco. Se tem dúvidas entre um ingrediente ou outro, não pegue os dois, nunca. Peça ajuda.

- O professor Snape...

- Não para ele. Peça ao senhor Malfoy, por exemplo, ele parece saber o que está fazendo.

- Mas...

- O barulho de todos os alunos pegando ingredientes ao mesmo tempo nas prateleiras é alto o bastante para nem mesmo Severus conseguir ouvir se você perguntar qual a diferença entre uma raiz e outra. A maioria está conversando neste momento, não? – o menino confirmou com a cabeça. – Viu? Acha mesmo que sua conversa com Malfoy fará diferença? Não, acredite. Depois pegue seu livro e escreva com tintas de cores diferentes, se não tiver arrume e coloque números na lista de ingredientes. A receita da poção normalmente vem assim, não? Lista de ingredientes, depois modo de preparo, isso quando temos o modo de preparo. Certo?

- Sim.

- Pois bem, a lista de ingredientes está em ordem alfabética, ou seja, não bate com o modo de preparo e se você se distrai por um minuto pode colocar as coisas na ordem da lista porque estava consultando ela para entender o que são as coisas em cima da mesa. Quando o professor estiver explicando o modo de preparo, pegue a tinta colorida e marque na lista de ingredientes a ordem. Daí a única coisa que você vai precisar prestar atenção de verdade é no caldeirão. Temperatura e quando girar no sentido horário ou anti horário. Faça um círculo vermelho nisso quando tiver no livro, assim seus olhos acham mais fácil. Se não tiver no livro aí te desejo sorte, mas acho que se ficar com as outras dicas, já vai se perder menos. Sim?

Durante toda a explicação, Sirius fez questão de se abaixar na altura do aluno e olhá-lo com consideração, gostava naquela idade quando Fleamont fazia isso, fazia Sirius se sentir realmente ouvido e mesmo quando ele que precisava ser o ouvinte, a sensação era de que estava sendo tratado como uma pessoa, não uma criança levando bronca de um adulto que "não entendia nada", por isso quando terminou e se endireitou achou muito engraçado perceber como os alunos o encaravam e como alguns estavam claramente fazendo as anotações em seus livros, pegando a dica.

Era o que James lhe recomendou em seu primeiro ano.

Sirius detestou na época, um Lorde não devia precisar de truques baratos para preparar corretamente uma poção, um lorde não se confundiria com algo tão ridículo.

Até o fim do ano ele teve certeza que sim: um lorde podia se confundir várias vezes, ainda mais se este em questão fosse Sirius.

Olhando para Malfoy, com a sensação estranha de lembrar que aquele era o filho de sua prima, acrescentou em voz alta:

- Cinco pontos para a Sonserina – e conseguiu milagrosamente segurar sua careta por dizer isso. Nem mesmo tremeu de repulsa. Um sucesso! – Por ajudar um colega a não destruir a sala toda.

Enquanto voltava para a frente da sala, apenas para aplacar o olhar frustrado dos Grifinórios, acrescentou:

- Severus iria me matar se voltasse e encontrasse isso em caos, os cinco pontos foram por ter salvado a minha pele, não a de vocês.

E os alunos riram, muito mais relaxados agora que puderam sentir a presença de Sirius Black de novo, não do Lorde Black.

O próprio almofadinhas teve esse alívio. Seu estilo de professor devia ser sempre aquele, não outro.

A atmosfera da sala de poções havia mudado até ele mesmo.

Talvez se levasse Snape para tomar sol o morcego relaxaria um pouco?

Tentaria um dia.

O clima agradável, porém, foi roubado de todos tão rápido e substituído por um gélido gosto azedo assim que Severus voltou.

Não necessariamente por sua chegada, que transcorreu bem normalmente, mas o que aconteceu em sucessão logo em seguida.

Snape devolveu os papéis à Sirius, que os enfeitiçou para guardar em uma pequena caixa que carregava no bolso da jaqueta, assim não correndo o risco de amassar documentos da escola.

Simas espirrou, sua mão bateu e acabou derrubando uma semente bem grande do tamanho de um pombo de ouro, que rolou por baixo de sua mesa.

Neville se abaixou para pegar, mas quando levantou acertou a cabeça na quina da mesa, com tanta força que fez um barulho chamativo e moveu a mesa.

Ron, que estava no processo de cortar a própria semente, cortou o dedo e reclamou de dor, colocando o ferimento na boca para segurar o sangue.

Hermione gritou para tentar impedi-lo, pulando por cima de sua própria mesa.

Todos olharam naquela direção.

Enquanto Neville massageava sua cabeça dolorida, seus olhos se arregalaram quando Ron começou a ficar roxo.

- Ron! – gritou preocupado.

- Menino idiota! – vociferou Snape, se aproximando com a fúria de sua própria voz. – Quem com cérebro coloca a mão suja de poções na boca?!

Ele ergueu sua varinha para levantar os ingredientes e utensílios que tinham se espalhado pela masmorra com a última sucessão de eventos, enquanto encarava o Weasley:

- E onde estão suas luvas, ou a estupidez do senhor é tão grande que também as esquecera, junto com a lógica básica?

Ron o encarou claramente irritado, mas conseguiu se segurar para não dizer nada, mesmo que estivesse começando a inchar.

Neville não teve a mesma força de vontade:

- O senhor o mandou jogar as luvas dele fora na aula passada, ou se esqueceu? Estavam – e fez aspas com as mãos – "Tão pobres quanto..." e não terminou a frase, mas deixou Malfoy sair sem perder nenhum ponto ao dizer "a própria família Weasley".

- Vou descontar um ponto da Grifinória por sua impertinência, Longbottom.

Sirius estava prestes a ele mesmo intervir, sua impulsividade quase ganhando a briga, mas a de Neville superando a sua:

- Retire, então, mas posso levar Ron a enfermaria agora?!

- O senhor Weasley deve ser perfeitamente capaz de ir sozinho, apesar de não ter tido a mesma capacidade para encontrar novas luvas a tempo desta aula.

- E como é que ele faria isso?! – Neville protestou ficando visualmente mais alto, o rosto desafiador encarando sem medo o professor.

- Informando a seus pais.

- Ele fez... – a voz de Neville saiu cortante, enquanto seus punhos se fecharam. Ele tremia pela ousadia de Snape de os estar empurrando para isso.

- Então onde estão as luvas? – o professor forçou.

Neville apertou com tanta força a mandíbula que não duvidaria da possibilidade de seus dentes quebrarem.

Se recusava a responder àquilo. Dizer que não puderam comprar nem mesmo de segunda mão por hora.

Não daria esse gostinho ao morcego seboso.

E Sirius estava chocado.

Ainda próximo da mesa dos professores, estava ouvindo tudo quase sem acreditar que alguém, um professor, estivesse provocando uma situação tão constrangedora a um aluno.

Ao mesmo tempo... se lembrou de seus pais.

De como acreditavam que aquilo era educação, como uma criança poderia aprender muito melhor. Bastava destruí-la que não esqueceria mais as coisas.

Lhe deu a mesma sensação fria na espinha, o mesmo gosto ácido escorrendo pela garganta, tanto que o paralisou.

O medo da infância engatilhado, o cheiro de seu sangue no chão quando era cabeça dura, quando não aprendia, quando errava. A mesma humilhação e principalmente frieza nas palavras de sua mãe, as lembranças que nem mesmo os igualmente frios dementadores podiam levar porque não eram felizes.

Nenhuma de suas memórias era.

Apenas paralisantes.

Não fez nada para defender Ron, nem punir Malfoy quando o mesmo achou prudente responder as perguntas horrorosas de Severus:

- Os pais dele devem estar vendendo alguns móveis para conseguir comprar algumas de segunda mão, mas vão demorar para achar compradores para aquelas velharias.

Os alunos da Sonserina deram risadas.

- Que seja, para a ala Hospitalar, Weasley.

A injustiça foi tão grande que Neville abriu a boca para voltar a argumentar, mas Rony deu-lhe um pontapé por trás do caldeirão antes de levantar, negando levemente com a cabeça que já estava maior do que devia.

Entretanto o amigo viu algo nos olhos do ruivo, algo que ninguém mais notou e isso pareceu explodir uma coisa dentro de Neville.

A situação toda, a humilhação que o amigo sofreu, a falta de punição para os alunos que riam dele enquanto saia pela porta, tudo o movendo.

Sirius também se sentia miserável. Ele devia ter feito algo, devia ter protegido Ron e, agora, se sentia inclinado a correr na direção do menino e acompanhá-lo até Poppy Pomfrey para que pudesse transmitir os seus arrependimentos e garantir que estivesse bem.

Não teve tempo.

Enquanto Snape ordenava que todos voltassem ao trabalho e se virava para Sirius, perdeu o momento onde o Longbottom pegou um pedaço de pergaminho, o encheu com alguns condimentos aleatórios e o fechou em uma bolinha. Em tão poucos segundos, que apenas alguns alunos da Grifinória mais próximos pareceram notar a movimentação para olhar naquela direção, Nev se levantou, mirou e atirou a bolinha no ar; caiu dentro do caldeirão de Malfoy e Goyle.

A poção explodiu tão rápido que Sirius pulou, mas não conseguiu impedir a chuva que percorreu a classe inteira. Os alunos gritaram quando os borrifos da Poção de Ampliação de Orelhas caíram neles. Draco ficou com a cara coberta de poção e seu nariz começou a inchar tanto quanto um tomate, mas suas orelhas se tornaram pratos presos à cabeça; Goyle saiu esbarrando nas coisas, as mãos tentando segurar a massa elefanta que se tornara a sua orelha esquerda,

Snape tentava restaurar a calma e descobrir o que estava acontecendo.

Na confusão, Sirius viu Neville cobrindo com sua capa de Hogwarts (que o garoto havia arrancado) a cabeça de Hermione sem se preocupar em fazer o mesmo consigo. A menina estava protegida entre seus braços enquanto o menino segurava o sorriso de satisfação muito bem, mesmo enquanto via o caos nas mesas da Sonserina.

– Silêncio! SILÊNCIO! – rugiu Snape. – Os que receberam borrifos, venham até o professor Black tomar uma Poção para Fazer Desinchar, quando eu descobrir quem foi o autor disso...

Neville procurou não rir ao ver Draco correr para a frente da sala, a cabeça pendurada por causa do peso de uma orelha do tamanho de uma abóbora. Enquanto metade da classe se arrastava até a mesa de Snape, onde um muito atordoado Sirius pegava o que se lembrava ser a solução desejada da prateleira.

Alguns alunos sobrecarregados com orelhas grossas como bastões, outros com o membro tão inchado que não conseguiam ouvir nada pois tampara o canal dos ouvidos; o Black ficou feliz e satisfeito quando o primeiro a tomar o que lhe deu começou a tomar uma forma comum novamente.

Enquanto este fazia seu máximo, Snape foi até o caldeirão de Goyle e fez alguns feitiços, pescando os restos retorcidos e negros de um pergaminho.

Fez-se um silêncio repentino.

Sirius só conseguia pensar como a coisa sobrevivera na poção ou se havia um feitiço específico para identificar corpos estranhos em poções e reconstruí-los para o professor (ambas as opções pareciam estranhas e um pouco improváveis).

- Se eu um dia descobrir quem jogou isso – sussurrou Snape – vou garantir que esse aluno seja expulso!

Sirius tomou cuidado para não olhar na direção de Longbottom pois, por mais atordoado que estivesse, no fundo ele sabia que teria feito algo muito parecido se alguém humilhasse qualquer um de seus amigos na época de escola. De James a Rabicho, ele teria tornado a vida dessa pessoa um inferno, mas Neville se vingou dos colegas de sala e Snape ao mesmo tempo com aquela. Seria obra de um gênio se fosse planejado e não um simples impulso.

Ainda sim, um exemplo de grifinório defendendo um dos seus.

Severus, entretanto, pareceu pensar o mesmo, pois encarou diretamente o Longbottom:

- Tem algo a dizer em sua defesa?

- Como é?! – questionou Neville, as orelhas ainda inchadas o suficiente para se incomodar com seu próprio grito e tapá-las em seguida.

- O senhor...

O aluno interrompeu o mestre de poções:

- O senhor não tem nada para argumentar que isto possa ser culpa minha! Eu fui afetado como todos!

- Todos menos sua amiguinha, não é mesmo?

- Desculpe se não sou uma cobra como o senhor deseja, mas a nobreza escrita na bandeira da Grifinória não está lá de enfeite, nem é sobre uma maldita descendência!

- Como ousa falar assim com um professor?!

- A nobreza – continuou Neville – É o ato de ajudar, então não posso ser julgado por ter como primeiro pensamento proteger uma donzela e minha amiga.

Snape levantou uma sobrancelha e achou prudente questionar de forma zombeteira:

- Donzela, ela?

Novamente os alunos da Sonserina riram.

Neville Longbottom pareceu chegar em seu limite de paciência.

Ele avançou, mas Simas e Hermione o agarraram um em cada braço, o impedindo de fazer seja lá o que pretendia.

- Professor Black? – uma das alunas, Daphne Greengrass, chamou e Sirius se forçou a voltar a cuidar dos alunos e ignorar a comoção.

Estava até impressionado que um dos alunos não estivesse mais interessado em assistir do que se curar, mas já vinha notando como Daphne era o tipo de herdeira que sua mãe chamaria de Lady perfeita. Claro que ela não se importaria com "infantilidades" ou "assuntos que não são seus".

Diferente de Pansy Parkinson que também ria e murmurava:

- Nem no tártaro aquela dentuça é uma "donzela".

Snape encarava Neville, segurado pelos colegas, e estreitava os olhos se aproximando bem para falar:

- Com isso, são menos cinquenta pontos para a Grifinória.

- O Senhor não tem como provar que fui eu que fiz alguma coisa!

- Não é por isso. Já disse que o culpado será expulso. É por todo o restante.

- E para Malfoy que insultou Ron? Você não fará nada?

- "O senhor não fará nada" – corrigiu.

- Não é preciso me chamar de "senhor", professor.

As palavras escaparam de sua boca antes que soubesse o que estava dizendo. Vários alunos ofegaram, inclusive Hermione. Às costas de Snape, no entanto, Dino e Simas riram aprovadoramente.

Sirius estava em choque.

Nem ele tinha ido tão longe, até onde se lembrava.

- Detenção, sábado à noite, meu escritório – disse Snape. – E também pelos próximos sábados por três meses. Não admito o atrevimento de ninguém, Longbottom. Principalmente de um petulante cuja um pouco de fama subiu à cabeça.

- Eu não – mas nem conseguiu terminar a frase.

- Todo mundo, do ministro da Magia para baixo, está acreditando e ressaltando como o famoso Neville Longbottom é um herói em ascensão, tudo por desobedecer um bando de regras impostas a todos os alunos, mas fazer o que quer, entrar em assuntos que não são seus e ser recompensado por isso! Levar a taça das casas por invadir um corredor que os alunos estavam proibidos de visitar!

- Eu levei a taça por salvar todos de Volde-

Snape interrompeu antes que o menino terminasse o nome:

- Claro! O famoso Neville Longbottom faz as suas próprias leis! Tudo em nome dessa tal nobreza que defende! Que as pessoas comuns se preocupem com a sua segurança ou com normas! O famoso Neville Longbottom vai aonde quer, sem medir as consequências. Se enfia em qualquer buraco para salvar uma donzela, mesmo que não todas...

Aquele comentário foi tão nojento e absurdo que Neville recuou. Hermione levou as mãos à boca em descrença, Simas xingou baixinho, mas não foi ouvido porque muitos estavam murmurando ao mesmo tempo.

A sombra do nome de Tracy Davis passou pelas mentes de todos.

Aquilo foi baixo.

Subterrâneo.

Se o mesmo comentário fosse feito no ano passado, Neville teria desmontado e se encolhido. Snape teria vencido em seu objetivo de calá-lo.

Mas este ano era diferente.

Neste ano Neville era uma pessoa diferente.

Ele tinha passado por um Samhain bruxo legítimo. Um Ritual de Sabbah no território do Instituto de Artes das Trevas. Ele tinha invocado o espírito de sua colega, pedido seu perdão, se livrado do peso daquela falha e tornado sua força.

Este ano, ele tinha Harry.

Aquele que sempre lhe ensinou sobre sua própria força.

E Severus Snape não conseguiria vencer disso.

Jamais venceria de Harrison Potter.

- Alguém tinha que se enfiar no buraco, já que o professor que diz saber "engarrafar fama e cozinhar glórias" não foi capaz de fazer nada disso quando suas alunas foram sequestradas e a escola seria fechada. Alguém tinha que pegar essa fama, já que o tal professor continua sendo um nada, dando aulas num canto escuro onde se acha mestre, mesmo que só esteja ali porque ninguém ainda teve pena o suficiente dele para finalmente o deixarem tentar dar a aula que vem pedindo a anos!

Agora não havia uma alma viva que não estivesse olhando completamente em choque.

O silêncio mortal que se estendeu, durou apenas o segundo permitido por Neville, que achou que seu discurso não fora o bastante até então:

- Alguém tinha que tentar salvar pessoas, não se inscrever num culto para matá-las como o se-n-h-o-r, professor.

Neville ganhou cinco meses de detenção, no lugar dos três anteriores.

O caos só não foi pior porque o sinal tocou naquele instante e ninguém era louco de tentar piorar a situação e o humor de Severus depois de tudo.

Nem Sirius, que fugiu de lá na velocidade da luz.

Mas não importa quanto tempo se passasse da tarde onde a aula aconteceu, até a noite daquela sexta feira. O animago não conseguiu tirar toda aquela situação da cabeça.

O que viu e ouviu deixou aquele gosto rançoso de quem engole um sapo e fica com ele preso na garganta durante um dia, soltando muco e prendendo as vias aéreas.

Sirius odiava essa sensação. Brigou com sua mãe e foi torturado muitas vezes apenas porque preferia dor a ter aquele maldito sapo ali.

Provavelmente era sua natureza impulsiva, sua bravura Grifinória e sua vontade de ser alguém novo, mas sem perder sua essência, tudo isto o fez praticamente deixar de existir, movendo-se no automático e sem consciência de um lado para o outro durante as horas que se seguiram.

Até que cerca de meia noite estava na frente da porta da sala de poções, nas masmorras.

"Acordar" ali não foi apenas espantoso e confuso, mas um tanto assustador.

Sirius estava prestes a se retirar diretamente para seus aposentos na torre, quando a porta se abriu, o fazendo pular no lugar:

- Que susto! Não faça isso no meio da noite!

Severus cruzou os braços com a sobrancelha levantada e cenho franzido:

- Você que apareceu na minha porta no meio da madrugada.

- Eu não... – mas nem se deu ao trabalho de continuar a frase.

Tecnicamente, sim, tinha aparecido na frente da porta do outro. Mas aquela também era a porta de uma sala de aula! Não tinha culpa se aquele morcego era tão louco por poções que decidiu que seria uma boa ideia montar seu gabinete e quarto em uma sala anexa a de poções, ao invés de ficar com a maioria dos demais professores na ala sudoeste das torres.

Claro, Minerva também tinha um gabinete e dormitório próximo a entrada do dormitório da Grifinória, mas não na maldita sala de transfiguração! Então sequer tinha a desculpa de ser chefe da casa da Sonserina.

Que deveria não estar muito longe.

- Boa noite – falou, se afastando.

Quase pulou de susto quando sentiu uma mão gelada lhe segurar o braço:

- Você realmente quer me dar um infarto, ou o que?

O sonserino revirou os olhos:

- Você que está muito sensível, Black – dispensou. – Você veio aqui e já desistiu? Cadê a tal coragem Grifinória? Isso não é do seu feitio.

Era verdade, mas para começar Sirius nem sabia o que o tinha movido até ali. Ele fechou os olhos e tentou pensar racionalmente e Snape, por algum motivo, achou que aquela era uma oportunidade para terminar de abrir a porta e convidar com um gesto o outro homem para dentro.

Sirius achou que a sala de poções estava ainda mais gélida naquela hora, ainda mais porque estava apenas de calças jeans, uma blusa e jaqueta do mesmo material. Ele tremeu, segurando os braços junto ao peito e Snape passou por ele, sem dizer nada, direto para sua sala e para o Black aquilo pareceu ser convite o bastante para entrar.

O lugar era exatamente o tipo de coisa que Sirius descreveria para Severus, mas nem por isso foi menos incômodo entrar.

Iluminação escassa projetando sombras dançantes que acrescentam um ar de intriga ao local.

No centro da sala, uma lareira de pedra emanava um poder e autoridade, cercada por um móvel de madeira escura, uma estante de prateleiras com uma vasta coleção de frascos e recipientes contendo ingredientes e materiais de poções cuidadosamente dispostos, cada um etiquetado com letras nítidas e precisas.

Todas coisas horríveis e viscosas conservadas.

O ambiente exala o aroma característico de ervas e substâncias mágicas, inebriante e opressivo.

Severus andou até a parede onde estava a sua enorme escrivaninha e se sentou. Só então o grifinório percebeu que o colega da Sonserina não estava com vestes de quem ia dormir em breve, nem mesmo uma expressão. Na verdade, o pocionista ficou debruçado sobre uma papelada que parecia ser o motivo de estar acordado àquelas horas, até Sirius o interromper.

Nem por isso Black parecia disposto a começar a falar.

Deu uma segunda longa olhada no ambiente se perguntando onde raios estava a entrada do quarto e imaginando se ao tirar um dos fracos do lugar aquela parede não giraria como nos filmes antigos que Lily lhe contara uma vez.

Severus era amigo de Lily e um meio-sangue, poderia conhecer bem mais sobre aquelas entradas secretas em bibliotecas e...

- Vai ficar a noite toda? Então, ao menos, pegue uma cadeira.

Sirius estava prestes a apontar que não havia outra cadeira, a menos que Snape estivesse oferecendo seu próprio colo quando o dono do quarto jogou algo no chão que se expandiu até virar um assento mais adequado do que colocar a bunda nas pernas do outro.

O porquê a cadeira estava encolhida, para começo de conversa, nem se dignou a pensar muito sobre.

Levou um tempo, com Severos lendo seus papéis, o som de pergaminho aqui e ali, do fogo crepitando na lareira e, às vezes, da respiração de ambos, até que Sirius jogasse:

- Lembra de quando lhe pedi desculpas?

- Recordo, sim – ele ao menos se dignou a parar seus movimentos, mas não olhou para o outro.

- Acho que preciso reiterar.

Longa pausa, Snape voltou a se mexer, sempre com seus pergaminhos:

- Não vejo motivos.

- Depois de hoje? Eu sim.

- O que houve hoje?

Longa pausa.

Sirius agora podia ouvir o som de seu coração, pois Snape voltara a ficar imóvel e não havia mais papel para abafar isso:

- O que você disse...

- Tenho certeza de que minha boca abriu para dizer muitas coisas durante o dia.

- Na aula de poções, quando eu estava presente.

- Você está quase sendo específico, continue assim que talvez um dia chegue lá.

- Você foi... rude... – Sirius balançou a perna nervosamente, tentando escolher as melhores palavras.

Talvez alguma palavra que fosse.

O fato de que parecia mais um aluno levando bronca de um professor naquela posição tornava tudo pior.

Snape, enfim, deixou todos os papéis caírem e o encarou diretamente, ambas as mãos juntas no colo:

- Você veio até aqui a essa hora da noite, para apontar um lapso de comportamento?

- Não.

- Então?

- Vim dizer que a forma como... você agiu...

- Black, não tenho tempo para isso, se for uma maldita pegadinha...

- Você acha correto agir daquela forma com crianças?

Aquilo pareceu fazer sentido para Snape, uma vez que seu olhar se tornou tão frio e mortal que seria capaz de cortar o ar.

- Não venha questionar minha forma de lidar com uma sala de aula, tenho muito mais experiência que você Black, que está aqui a apenas alguns meses.

"Que argumento idiota" pensou Sirius.

- Não se trata de experiência, mas de bom senso.

"Merda" pensou, não era assim que devia falar. Sabia que com Snape as coisas seriam mais difíceis, havia um orgulho sonserino ali e outras milhões de implicações em cada passo, um rancor antigo, tudo para tornar o clima mais tenso do que precisava.

Como esperado, Severos já entrou na defensiva:

- Bom senso? – seu tom era rude e o olhar estreito. – E você veio me falar de bom senso?

- Não é isso, me desculpe.

- Black, isso já está se tornando irritante além da conta.

"Ele usou o sobrenome, ótimo, é exatamente assim que vamos avançar" pensou ironicamente.

- Eu só vim perguntar sobre aquela situação, se ela é comum. Você disse que tem mais experiência, então me explique como e o que te fez acreditar que aquela era a melhor forma de lidar com a situação e talvez assim eu aprenda mais alguma coisa que me tornará um professor melhor.

Certo, agora tinha conseguido ser mais eloquente e acreditava fielmente não ter atacado ninguém.

- É isso mesmo ou você só veio defender um de seus grifinórios petulantes?

"Eu vim defender Hermione, sim, e muito mais, mas como isso tem a ver?"

- Se refere a Neville?

- Não diminuirei a detenção dele, pode sair.

- Não vim pedir isso.

- Nem deveria só porque acha que tem uma dívida pelo garoto ter te livrado de Azkaban.

Sirius inspirou fundo. Precisou.

Aquilo tinha sido tão desnecessário quanto o que fez Neville extrapolar os limites.

Mas ele seria maduro, aquele não era o ponto:

- Está certo em impor limites a Neville e colocá-lo em detenção. Estou falando de como tratou Ronald e Hermione.

- Saia da minha sala – ordenou já voltando para os seus papéis.

- É assim? Só vai me dispensar?

- Não quero saber de um professor vindo na minha sala para pedir favoritismo a alguns alunos. Você deveria aprender a não fazê-lo.

- Eu?! – indignou-se o Black.

Sem perceber que estava começando a não pensar antes de falar.

- Aquele trio de arrogantes acha que pode fazer as coisas sem ter uma consequência desde que enfrentaram aquele Trasgo Montanhês e Minerva achou prudente dar mais pontos do que retirar.

- E você acha prudente descaradamente defender alunos da Sonserina insultando outra aluna, ao invés de puni-los com igualdade.

- Como se houvesse igualdade nessa escola – murmurou Snape.

- Nós deveríamos garantir que tivesse!

- Dito isso, você está aqui para defender os grifinórios...

- Estou aqui porque você deixou que uma aluna fosse insultada, além de ter chamado outro de idiota na frente de todos!

- Não cabe a mim lidar com o que os alunos pensam uns dos outros e-

- Você só pode estar brincando!

- Se você sequer vai admitir o que está tentando fazer, apenas saia, tenho trabalho a fazer.

- Quer saber? Eu vou mesmo! Antes que isso se torne uma briga – resmungou se levantando, tão furioso que estava tremendo.

Snape estava sendo tão...

Inferno!

Nem sabia definir!

Tudo aquilo foi tão errado! A forma como mandou Ron sozinho para a enfermaria e o insultou, como tratou Hermione e Neville precisando defender os amigos até ser punido.

- Por algum motivo eu esperava mais de você – reclamou passando pela porta.

Enquanto atravessava a sala de poções, as imagens de todo o evento voltavam a rondar sua mente, recriando aquele maldito sapo mucoso em sua garganta e uma coceira chata na mão.

Antes de chegar a saída, entretanto, ouviu o som atrás de si da porta se abrindo e fechando com força o bastante para ressaltar a raiva de Snape:

- Que merda é essa, Black? Você esperava mais? Eu esperava que você estivesse tentando agir como adulto!

Sirius deu uma volta no lugar e seguiu novamente para perto do colega:

- Eu estou! Mas você poderia ser capaz de ter um diálogo decente comigo, não acha? Já que é tão mais experiente e maduro!

- Eu estaria tendo um diálogo se você não viesse aqui tarde da noite com um pedido tão tolo!

- O horário é tão relevante? Então eu posso me retirar e falamos amanhã, mas eu não fiz pedido algum! Quis apenas que me esclarecesse sua escolha de palavras ao zombar de Hermione Granger, uma aluna sua, e diante de vários colegas lhe causando um constrangimento desnecessário! Além de acusar um aluno sem nenhuma prova!

- Neville Longbottom com certeza foi o responsável, aquela poção foi adulterada e mais ninguém tinha motivação além do grifinório querendo defender os seus, você sabe disso!

- Daí você só conclui e acusa uma pessoa, de novo, em público, sem provas e o antagoniza?

- Eu tinha uma prova.

- Circunstancial.

- Foi o bastante para mandar homens a Azkaban, não é mesmo?

Sirius trancou a mandíbula e por isso sua voz saiu mais grossa:

- Foi o bastante para mandar homens inocentes.

- Está dizendo que Longbottom é inocente, é esse seu objetivo?

- Meu objetivo é saber qual o seu em humilhar crianças!

- E você sabe bem de humilhação, não é Black? Não acha isso uma hipocrisia?

- Por isso cheguei aqui já me desculpando, inferno sangrento! Eu sei que errei antes, mas isso não justifica o que está fazendo com crianças. O oprimido está se tornando o opressor, é essa a sua justificativa?

- Escute aqui Black, você não tem nada que supor sobre a minha vida e como eu posso ou não ter sido afetado pelos joguinhos ridículos que você e sua gangue faziam na escola!

- E você não tem que insinuar que uma garota de quatorze anos não pode ser chamada de donzela!

- É isso, a maldita atitude dos Grifinórios! – reclamou abrindo os braços. – É como Dumbledore jogando pontos ridículos para vocês por cada coisa apenas para lhes dar a taça no final. Ou ignorando cada norma que descumpriram como se nada fosse, mesmo quando cometem um crime, vocês se protegem, não é mesmo?

- Do que raios está falando, o que Dumbledore tem a ver?

- Estou falando que um grupo de grifinórios pode mandar um aluno para ser atacado por um maldito lobisomem e tudo que seu diretor faz é dar uma bronca e agradecer que nada deu errado! Vocês têm que aprender que o mundo não gira em torno de vocês e que não merecem tratamento especial!

- Vai jogar isso na minha cara mesmo? Eu errei, mas eu era um adolescente idiota e já pedi desculpas.

- Desculpas não mudam o mundo! Não curam tudo! Não iriam me curar se aquele psicopata do seu noivo me matasse!

- Psicopata?! Remus não tinha consciência do que estava fazendo!

- Eu sei, ele é um maldito lobisomem! Um perigo para todos que estão próximos, mas Dumbledore não o vê assim e deixa habitar o mesmo espaço com um bando de crianças que podem ser seu próximo jantar

- Remus nunca-

- Você não disse que ele não sabia o que fazia?

- Só porque você ficou com medo dele, não quer dizer que pode agir como quiser ou supor coisas – sussurrou.

Snape, para seu azar, interpretou errado a mudança de tom em Sirius.

- Ah, não? Não posso supor que um lobisomem é um perigo para a sociedade? Que deixá-lo aprender magia e se armar é um risco maior ainda? Que é uma coisa que até o lorde das trevas achava ser útil para sua causa.

- A causa que você defendeu?

- Veja só quem está jogando coisas agora? Eu mudei Black, bem antes que você.

- Você não estava preso, Dumbledore livrou o seu rabo.

- E você não teve quem livrar o seu porque ninguém confiou que você não fosse capaz de matar seus-

- Você matou Lilian e quer falar de mim?!

- Saia daqui! – ordenou apontando para a porta, o rosto vermelho de fúria.

- Não! Você vai me ouvir! Você está insultando meu noivo!

- Não quero ouvir seus discursos grifinórios de lealdade cega!

- Lealdade cega é melhor que lealdade nenhuma!

- Não ouse! Eu sempre fui leal a Lilian e se disser alguma coisa sobre aquele dia onde você e seus amigos me arriaram as calças diante de todos...

- Eu estou falando de quando Remus tentou de todas as formas se desculpar com você, ser seu colega, assim como eu estou tentando, como te pediu desculpas e confiou em você a sua própria sobrevivência, dependeu de você e confiou por meses na sua capacidade de fazer uma poção para ajudá-lo e confiou em você para dar aulas, enquanto você usou a oportunidade do momento mais frágil e desesperado dele para ensinar os alunos que lobisomens eram monstros e como identificá-los para destruí-los!

- Alguém tinha que fazer, ou aquele monstro poderia não ensinar as crianças e elas poderiam ser sua próxima vítima!

- Você nem foi uma vítima – Sirius agora estava de cabeça inclinada para o chão, falando tão baixo que se não estivessem em uma sala vazia e tão próximos, não seria possível ouvir. – James te salvou.

- Salvou? Ele salvou a própria pele porque quando aquela coisa me matasse nem Dumbledore os livraria da prisão!

- Aquela coisa?

- Pare de tentar defender os seus de forma automática e cega, Remus Lupin é um monstro perigoso e instável, ele não confiou em mim, eu tive que me matar para garantir o mínimo da segurança de todos enquanto ele achava que podia fazer um papel tão importante quanto dar aulas, quando deveria estar isolado ou em uma gaiola – esta última palavra sequer foi terminada.

Severo Snape levou um soco tão forte que morrera no ar e também com o som do baque forte que seu corpo deu contra uma das mesas, depois contra o chão.

- James tinha razão em querer tornar sua vida um inferno. Fascista é mesmo podre por dentro.

Foi tudo que disse antes de sair.

Ouviu Snape xingá-lo também, mas uma vez que estivera sangrando e atordoado demais para pegar a varinha e começar um duelo, o Black mal se importava.

Saiu de lá com o rosto limpo, os olhos acinzentados tão gélidos que pareciam um tufão trazendo uma tempestade de neve iminente. A mão vermelha pelo aperto, o rosto em uma fúria controlada assustadora.

Se qualquer um além dos quadros tivesse o visse naquele momento entenderia seu 'apelido de guerra'.

Não que os quadros já não se assustassem ao vê-lo assim e pulassem ou fugissem conforme passava pelo corredor.


Capítulo 48 - Cicatrizes e fragilidades


"Podemos crescer e as cicatrizes podem clarear até nem notarmos mais

Até que levamos uma pancada e a dor é muito maior do que se tivesse atingido qualquer outro lugar"


- É, esse é o cão louco – murmurou Tom antes de serem jogados para fora da penseira.

- Como é? – perguntou Lakroff assim que se viu novamente em seu gabinete, Tom ria ao seu lado.

- "O cão louco Black" – recitou. – É assim que alguns comensais chamavam Sirius durante a guerra.

Sirius cobriu o rosto, envergonhado.

Lakroff, como sempre, escolheu brincar com aquilo:

- Bem, Sirius, primeiro gostaria de pedir que afastasse suas mãozinhas de mim e de Thomas. Estamos bem sem um "soco anti fascista".

As bochechas de Sirius agora coraram e ele se encolheu mais, junto de um gemido estrangulado e meio desesperado.

Tom avisou:

- Se tentar acertar um em mim, eu te mato um dia, estou falando sério.

- Eu não vou bater em vocês! – Sirius gritou.

- Sabemos, não foi um de nós que falou do seu lobo favorito – Lakroff provocou.

- Pare com isso... – pediu choroso.

- É ruim quando ele se vira contra você, não é mesmo? – agora Tom que provocou, um sorriso no canto dos lábios e braços cruzados com uma delicadeza que só um homem como ele conseguiria.

Como aquele cara conseguia ser tão perfeitinho fugia a noção de Sirius. Ele nem teve uma mãe maluca para tortura-lo até aprender!

Ao menos... não que soubesse.

Lakroff, por sua vez, achou que essa era uma deixa para retomar suas atenções em Riddle:

- Com ciúmes, querido?

- Nem um pouco, você me cansa.

- Mesmo? Isso é uma pena, queria fazer muitas outras coisas antes de começarmos a nos cansar.

- Eu já disse para se paquerarem depois! – lembrou Sirius e só então deu uma boa olhada nos dois.

Lakroff estava com a gravata mais apertada do que devia e solta do paletó, este que já passara do ponto de apenas amassado. Além disso seu cabelo estava ridiculamente bagunçado, ao ponto de até a trança lateral embutida estar despenteada. Seus lábios estavam claramente inchados e mais vermelhos que o bom e velho róseo que tinham, e estavam sangrando. Alguns pontinhos aqui e ali estavam claramente com sangue seco. Apenas Thomas Harris mantinha a mesma aparência bem cuidada e refinada de sempre.

Entretanto, claramente Sirius tinha interrompido algo bom ali:

- Caramba, desculpem, espero que consigam voltar ao clima quando eu sair.

- Você não seria capaz de interromper aquele ali de me encher, nem que tentasse muito – Tom garantiu.

- Que fofo, querido, achei que brigaria ou negaria com Sirius o que estávamos fazendo.

- Olhe para sua cara, Grindelwald, nem minha lábia é tão boa. Para bom entendedor basta meia palavra e você tem quase um dicionário nessa sua cara. Que tal tentar colocar-se em ordem, a propósito?

Lakroff tinha tentado, mas claramente não fez um trabalho que Riddle achasse digno, por isso seguiu até sua adega e tentou usar o vidro como espelho para deixar a aparência melhor.

- Posso sair se quiserem – ofereceu Sirius.

- Nem precisa, com você aqui ou não, para convencer o Tommy aí a continuar eu já levaria um trabalho e ainda sim acho que nem conseguiria.

- Desculpe mesmo – o Black insistiu, se sentindo muito mal.

- Não o faça, essa memória valeu muito a interrupção – Tom garantiu rindo de novo, aquela risada venenosa e sem muitas emoções além de uma nobre diversão.

Lakroff, por outro lado deu um risinho sem alegria:

- Coisas que sairiam apenas da boca de um assexual, parte um.

- Você é assexual? – perguntou Sirius para Tom.

- Desde quando dei a intimidade para esse tema ser pertinente?

- Desculpe meus modos – Black recuou na mesma hora, com o mesmo constrangimento e medo que teria se um colega de seu pai o estivesse corrigindo quando tentava e falhava em agir como herdeiro adequado.

- Estou ciente de sua falha de delicadeza, Black, não haja como se isso fosse o fim do mundo. Eu sou. Apenas não vejo motivo para falar desse assunto.

- Desculpe mesmo assim – insistiu, mesmo que estivesse evidentemente mais relaxado. – Só fiquei curioso e achei que já tínhamos um laço válido para questioná-lo, mas se isso o deixa desconfortável...

- Não me deixa.

- Mas não é certo da minha parte querer me intrometer e pedir mais detalhes quando é claramente algo íntimo e não fui convidado a isso? – perguntou com um olhar de quem testa para ver se deu a resposta correta ao professor.

- Isso mesmo.

Com a afirmação de Tom, Sirius sorriu satisfeito consigo mesmo. Tinha aprendido um pouco mais. Lakroff e Tom se entreolharam: Black parecia muito um cachorrinho alegre com seu sucesso.

O Grindelwald achou melhor voltar ao ponto:

- Enfim, você tinha dito que fez uma "grande merda", ou algo assim.

- Sim, eu soquei Snape.

- Não vi, onde está o problema? – questionou Tom girando o pulso em descaso.

- Eu não devia!

- Ele mereceu, foi ridículo, assim como você apontou. Devia ter sido sucinto assim: ridículo. Não optado por tantos rodeios e meias palavras.

- Eu estava tentando evitar que tudo se tornasse uma briga.

- Parabéns pelo sucesso.

Sirius gemeu de novo:

- Merda! Eu sei que agressão não é nunca a resposta e mesmo assim eu fui o mesmo idiota, impulsivo e infantil de sempre, deixei minhas ações falarem antes de qualquer racionalidade! Quanto tudo que eu queria era tentar resolver uma situação. Eu sou uma merda nessa coisa de ser um adulto maduro! – choramingou, praticamente se jogando em uma das poltronas no canto da sala, em derrota melancólica.

Lakroff aproveitou que já estava na adega, serviu um pouco de vinho em uma nova taça e se virou em direção ao Black, oferecendo a bebida, o que fez o animago voltar a levantar a cabeça:

- Obrigada – aceitou um pouco desnorteado, mas ainda deu um gole relutante.

- Sabe, Sirius – disse o platinado com a mão no queixo, pensativo. – Você tem razão, agressão nunca é a resposta. Mas é uma pergunta, entende?

- Uma pergunta?

- Sim – Tom respondeu. – Uma pergunta onde a resposta é sempre sim.

E o casal riu juntos da cara surpresa do mais novo.

- Vocês estão debochando disso?

- Agora que notou? – a voz de Tom saiu tão sarcástica que ele quase era a definição da palavra com seu sorriso torto.

Torto, mas absurdamente elegante.

Aquele homem usava algum tipo de trapaça para ser daquele jeito, não era possível!

Lakroff continuou:

- Sirius, esperava que nossa reação fosse qual?

- Chorássemos pelo pobre morcego folgado? Por favor!

Sirius se irritou um pouco e apontou para a dupla:

- Agora deram de terminar a frase um do outro? Uma semana e o relacionamento já avançou tanto sem sequer me deixar ver?

- Se tinha intenção de nos provocar como vingança por estar se sentindo provocado, saiba que essa técnica não funcionará em nós – Tom garantiu.

- Thomas aqui é bem difícil de atingir, Sirius, se não souber onde bater.

- Que quer dizer com isso?

- Viu? Enfim, não fique na defensiva, estamos apenas brincando. Não sei, entretanto, porque você está levando isso tão a sério.

- Se está com medo de ser despedido garanto que Dumbledore relevará isso como sempre faz.

- Eu também não acho que os outros professores vão fazer algo mais do que lhe repreender, mas assim que se explicar para eles ou mostrar essa memória...

Sirius, entretanto, abriu os braços frustrado:

- Não é isso que me preocupa! Eu nem preciso de um emprego se as pilhas e montanhas no cofre Black servem de alguma coisa além de enfeita brilhoso.

Tom revirou os olhos:

- Malditos ricos de berço de ouro.

- Então o que há? – perguntou Lakroff.

- Snape!

Novamente a dupla de antes se encarou, desta vez Lakroff abriu os braços, como se indicasse confusão além de seus olhos parecerem passar uma mensagem a qual o moreno apenas negou com a cabeça sussurrou:

- Estou na mesma.

Agora estavam conseguindo até se comunicar pelo olhar? Sirius estava impressionado.

- Certo, não pegamos, Sirius. O que tem Snape?

- Eu o soquei.

- Sim, e?

- Por favor – começou Tom exasperado. – Se for falar em giros como fez na masmorra com o homem nos livre deste tormento, apenas vá direto ao ponto.

- Isso, igual um soco – Lakroff não conseguiu se segurar.

Sirius encarou bem Lakroff antes de resmungar:

- Estou começando a entender porque algumas pessoas não me suportam. Olhem, depois disso Snape nunca mais vai querer me ver nem pintado de ouro! Eu acabei com todas as minhas chances com ele!

- Desculpe, chances para que exatamente? Devo avisar Remus para se preocupar ou coisa parecida?

- Não! Credo, Lakroff! – apesar de que notou que não tinha a mesma repulsa que teria sentido na adolescência à frase.

Apenas era ridícula. Quase engraçada.

Aparentemente, mesmo que estivesse furioso com Severo não tinha conseguido voltar a ter nojo dele. Entretanto, se o morcego continuasse se dedicando tanto, era uma questão de tempo.

- Mas então? – insistiu o mais velho.

- Snape é útil!

Houve uma pausa, outra em que a dupla se olhou antes de responder qualquer coisa e, desta vez, falaram ao mesmo tempo:

- Útil para que?

- Vocês já se pediram em namoro também ou é só isso aí? – Black perguntou fazendo um gesto estranho com as mãos indicando ambos, tudo ficou ainda mais difícil de entender porque ainda segurava a taça de vinho.

- Eu acredito ter pedido, sim – comentou Lakroff olhando para Tom – Mas não recordo bem.

- Vindo de você? É provável, mas eu com certeza não dei atenção qualquer para confirmar e olha que tenho uma memória tão exemplar que nunca esqueci coisa alguma que tivesse relevância real.

- Quer me namorar?

- Conhece um acidente de moto? Prefiro passar por um.

- Casamento então? Posso cortejá-lo com tudo que tenho.

- O acidente de moto ainda parece mais atrativo e, a propósito, agora lembrei que já me pediu em casamento. Tornou a proposta interessante quando me lembrou que posso matá-lo e ficar com todos os seus bens.

- Sim, sim, já aconteceu agora que você...

- Vocês dois, olá! – chamou Sirius. – De verdade, eu estou começando a achar que não interrompi nada, um segundo e já voltaram a ficar sozinhos no próprio mundo.

- Você que provocou a cabeça desse avoado – Tom apontou para Lakroff de forma acusatória. – Se quer que ele fique focado, não dê brecha para mudar de assunto, ou ele fará.

- E você, qual sua desculpa?

- Cansei de lutar contra e apenas o sigo, uma hora ele volta e eu sou até bem paciente.

- Uma fofura sua consideração pela forma dele de pensar – agora Sirius notou que sua provocação funcionou.

Tom pareceu bem irritado com aquilo, se sua expressão dizia algo.

Enquanto Sirius se encolhia de medo com o olhar venenoso que recebera, Lakroff achou uma boa oportunidade para levá-lo mais além:

- Sabia que fim de semana que vem haverá visita para Hogsmeade?

Sirius assistiu enquanto a mão de Thomas, lembrando o gesto de um majestoso cisne, inclinou seu pulso e levou os dedos à testa, uma frustração, mas ainda exalando aquele tom de nobreza que acompanhava cada movimento do homem que reclamava:

- Por que isso seria pertinente?

- É que estávamos falando em pedidos.

Agora as pessoas que se entreolharam foram Sirius e Tom. O segundo tornando a falar:

- Desenvolva mais.

- Quer ir comigo?

A pausa de espanto que se seguiu ao pedido foi até bem curta, para surpresa dos dois sangue-puros o sonserino sorriu para responder:

- Vou averiguar meus compromissos para a data em questão, então retornarei com minha resposta.

Apesar de Sirius ter achado uma resposta até gentil, mas Lakroff sabia como aquilo era um enorme não. Afinal que compromissos a horcrux tinha?

- Não seja chato. Será divertido! E você está precisando sair um pouco mais da sua fortaleza da solidão.

- Isso não é uma referência a quadrinhos trouxas? – perguntou Sirius.

- Estou muito confortável nela – respondeu Riddle.

- Por favor, não vai fazer mal!

Depois de outra pausa, estava claro que Thomas não estava parecendo inclinado a mudar de ideia. Por alguns tantos motivos, Sirius se viu intrometendo-se

- Provavelmente Remus virá, podemos sair os quatro, o que acha?

O Black olhou para Lakroff para confirmar se não havia sido apenas um enxerido, mas o platinado parecia satisfeito com a ideia. Thomas talvez não quisesse um encontro, mas um simples compromisso entre amigos?

- Agora ambos vão me importunar sobre isso?

- Sim! – disseram os dois e Riddle se virou suspirando.

- Que seja.

Lakroff, desta vez, se deu por satisfeito com a pequena vitória e achou mais prudente voltar ao assunto a puxar mais esta corda:

- Snape seria útil para que?

Sirius entendeu a deixa e cauteloso com o que via nos olhos de Tom, se explicou:

- Olha. Eu e Remus conversamos. Sabemos o que Harry pensa e o que quer, ele não nos vê como nada além de possíveis pessoas próximas e tudo depende daí para frente de nós mesmos. Entretanto nós queremos ser úteis para ele. Queremos garantir que tudo dê certo para si e não só compensá-lo pelo tempo que não estivemos por perto, mas realmente oferecer ajuda agora que estamos. A ajuda que não demos para cada passo que deu em sua vida como pessoa até então e contou com outras pessoas, já que nós não fomos uma opção.

- Snape está em que ponto disto?

- Falamos muito sobre a guerra. Não apenas a armada, mas as causas, os motivos pelos quais as pessoas lutam e a mudança que querem. Principalmente sobre você, Lakroff, e Harrison, a mudança que vocês já fazem e que claramente querem continuar. Entendemos que há muito mais que não sabemos, mas que podemos e queremos fazer parte, daí... bem... começamos a tentar. Descobrir onde podíamos ser úteis. Remus está com suas pesquisas e eu... estou tentando conseguir pessoas e armas.

- Como é? – Lakroff se chocou.

Tom não.

Sirius e Remus tinham, no dia que fizeram aquela conversa, chegado a conclusão bizarra porém bem plausível de que Harrison era o Lorde da Sonserina e um Potter, ou seja, ele era a pessoa mais sagaz e manipuladora de todas. Que ele tornara Sirius Lorde, Remus um futuro consorte de uma casa importante como a Black, que os encaminhou para que vissem cada falha de Dumbledore e cada acerto de Lakroff. Um vislumbre de tudo que poderia ser, mas não era por causa das pessoas no poder e lhes indicou como usar seu próprio novo poder adquirido.

Eles brincaram com o quanto daquilo foi intencional do menino e o quão capaz ele era de observar e mover todos nas direções que queria, mas sem nunca ultrapassar os limites da individualidade e livre arbítrio, de como ele poderia levá-los diretamente onde queria mas sem nunca escolher por eles. Isso tinha que partir de si e, por isso, deviam tentar da melhor forma que podiam.

"- Então é isso? Está dizendo que só precisamos... só continuar? Aprender e que, se fizermos direito, Harrison já estará esperando?

- Talvez? - e Remus riu mais um pouco, porque sabia que era absurdo, mas ao mesmo tempo parecia tão plausível que tornava-se apenas assustador".

Foi a conclusão que chegaram na época.

E não erraram, apesar de não saberem disso ainda.

Harrison estava observando-os. Com a desculpa de querer saber mais e ter certeza de que valia a pena se aproximar daquelas pessoas, mas enquanto isso Tom via possibilidades e os movimentos do casal.

Como estavam agindo e como poderiam ser úteis na guerra.

De novo, Harrison podia se recusar a usar as pessoas, elas deveriam agir porque queriam e fazer o que queriam, se isso o ajudasse de alguma forma era apenas lucro natural.

Tom era outra coisa.

E habitava sua cabeça.

- Como assim conseguindo armas? – questionou Lakroff.

- Não físicas – Tom o acalmou.

- Ah, certo! – e realmente o albino relaxou, pois havia entendido de outra forma. – Então quais?

- Contra Dumbledore – Sirius explicou. – Coisas úteis que podem ser usadas depois, mas ainda estou tendo certeza. Informações sobre ele, sobre o castelo, os quadros, como podemos trabalhar com isso e como... tirar Dumbledore do poder.

- É isso que você pensa que eu quero? – questionou Lakroff.

- Não necessariamente.

- Como assim?

- Eu...

Sirius pensou bastante, sem saber ao certo como colocar seus pensamentos em palavras e, no fim, sinceramente percebeu que não precisava:

- Quer saber? Eu acho. Acho que você quer o fim de Dumbledore, só não quis admitir porque você pode negar por ter medo da minha reação e de como vou agir depois, se vou te atrapalhar, mas eu realmente não quero atrapalhar. Se de alguma forma o que estou fazendo puder estar entre você e a queda de Albus Dumbledore, então eu imediatamente me arrependerei e mudarei. Por isso estou tão frustrado por ter socado Snape! Porque sei que isso pode atrapalhar!

- Não que eu esteja concordando com essa coisa de que quero derrubar Dumbledore.

- Claro, claro, Grindelwald, continue sem essa garantia anti danos – pediu Tom impaciente. – Todos sabemos que você é um anjo que não pensa em nada além dos alunos e o ambicioso da família era apenas seu pai. Sem essa ladainha, vamos fingir com você, não se preocupe.

Sirius concordou com a cabeça. Lakroff revirou os olhos, mas continuou:

- Mas como Snape pode ajudar e ou atrapalhar?

- Ele é muito próximo de Dumbledore. Pelas minhas informações, ele é o principal confidente de Albus, mais até do que Minerva McGonagall. Ele tem um juramento, eu acredito, ou qualquer coisa que o incentive a proteger Harrison. Ele faz perguntas demais, em motivos quaisquer porque provavelmente pensa que eu não noto seu interesse assim. Tenho a impressão que Dumbledore o forçou a aceitar um voto em troca de ajudá-lo a se livrar de Azkaban depois que Lilian morreu e para, aparentemente, respeitar e honrar seu sacrifício em seu legado. Ao menos, um voto é o que parece fazer mais sentido para Dumbledore confiar até demais em Severo Snape e usá-lo o tempo todo para conseguir as coisas, exatamente como o espião que fora na guerra. Dumbledore não parece ser diferente de Voldemort nesse sentido – Tom não se deu ao trabalho de confirmar. – Eu estava tentando me dar bem com ele, para tentar conseguir alguma coisa. Seja tirar ele de Dumbledore, já que sua ligação maior é com Harry, não com o diretor, mas sem precisar forçar nada diretamente para que não fosse notado, ou ter certeza, através dele, do que Albus está tentando com Harrison. Só para começar.

- É, realmente útil – Riddle concordou, o cigarro que estivera fumando quase no fim e, por isso mostrando-o a Lakroff.

O bruxo fingiu tirar casualmente outro de dentro das vestes onde o havia transfigurado através de um galeão, dando já aceso a Tom, que jogou o outro em um copo próximo, transfigurado em cinzeiro por Lakroff sem varinha e não verbal, parecendo então uma demonstração da magia do próprio Tom.

Sirius sequer deu atenção ao fato de que Lakroff oferecera o cigarro, tudo pareceu exatamente tão mundano como queriam que parecesse.

- Mas como o soco atrapalha diretamente Harrison?

- Não vou mais conseguir informações de Snape, não tenho mais chance alguma de conseguir que me conte alguma coisa.

- Ele já havia deixado algo escapar?

- Não, mas eu estava apenas começando a me aproximar dele.

- Certo, então a perda é de algo que você pensava que conseguiria, não de algo que realmente já estava se mostrando uma fonte segura e recorrente.

Sirius murchou e respondeu, mesmo que não fosse uma pergunta:

- Sim.

- Então você está preocupado ou apenas frustrado com sua própria falha em conseguir algo que achou que lhe renderia alguns pontos?

- Não seja tão cruel com ele – pediu Lakroff, mas sorria quando o fez.

- Quero apenas que tudo esteja na mesa. Então, Black?

- Acho que um pouco dos dois – bufou, então tomou todo o resto do vinho em uma golada. – Estou frustrado com a minha falta de autocontrole!

- Entendo. Realmente é algo que precisa ser trabalhado se deseja mesmo ser útil e requisitado para qualquer "suposto" plano. Dito isto, você demonstrou sim potencial, não adianta se martirizar por isso. Apenas mostre agora que sabe lidar com as consequências que encontrar, pois muito valem acertos, mas ninguém é feito apenas deles. Todo homem, até o melhor, cometia seus erros, então mais vale o homem real que sabe lidar com os seus e torná-los menos destrutivos para a causa, do que o ficcional e utópico homem perfeito. Pense como vai lidar agora com a situação e apenas pense em novas possibilidades, esqueça Severus, ele realmente não vai perdoá-lo.

Com o fim de suas palavras, Tom tragou seu cigarro e soprou tudo para cima.

Sirius teve duas imagens mentais: o homem trouxa que derruba seu microfone após uma apresentação incrível que destruía qualquer um, e a segunda de um pensador contemporâneo e cachimbo.

Lakroff, não estava muito diferente, mas reagiu a sua forma, rindo e se aproximando sorrateiro de Riddle:

- Hoje você está com tudo, meu querido.

- Não sou seu coisa alguma – rebateu.

- Um conselho bom atrás do outro, sua sabedoria está radiante. Realmente ninguém poderia fazer menos do que exaltá-lo hoje. Não é à toa que Harrison aprecia tanto seus conselhos.

- Isso, continue me bajulando, talvez consiga o que quer algum dia.

- Ah, eu o bajularia com prazer, Tomtom, mas desta vez são apenas fatos – e desta vez, de forma menos teatral e já mais próximo do outro, sorriu caloroso, olhando-o nos olhos: - Sempre soube que era um exemplo de inteligência e astúcia, mas é sempre bom ver de perto como é capaz de entender as pessoas. Melhor ainda quando usa esse talento prodigioso para alguém melhor que Voldemort.

Tom ficou um pouco distraído com aquele olhar e com todas as implicações nas palavras do mais velho, mas optou por descartar por enquanto tudo, antes que ficasse novamente ridiculamente mexido com aquele homem.

Sirius, por sua vez, quase se assustou com o nome. Não por não dizer Voldemort, longe disso, sempre achou o medo de um simples título (uma vez que sequer era um nome verdadeiro e útil já que ninguém podia usá-lo) algo ridículo; o que o assustou foi ter esquecido completamente e tão rápido que Thomas era um ex comensal.

Ser lembrado de forma tão natural também o lembrou de todas as outras coisas e o peso da mudança do mundo. Como ele queria derrubar Albus Dumbledore, a quem já foi totalmente leal um dia, como era Lorde, um professor e estava conversando sobre planos políticos com o herdeiro de um lorde das trevas e um ex comensal. Tudo em prol de um futuro que ele queria estar diretamente pensando sobre e um afilhado que queria orgulhar.

Ouviu brevemente uma música trouxa em sua mente, uma da qual mal lembrava a origem e as palavras, mas parte dela foi o bastante: "Tudo permanece, onde você deixou, tudo permanece, mas ainda muda".

O mundo ainda estava lá, exatamente onde Sirius deixou ao ser preso.

Mas a cada instante que olhava para o lado, estava mudado, ao menos um pouco e, de repente, até ele e seus pensamentos, ideias, eram outros. Quando sempre pensou que se manteria firme e eterno ao que acreditava.

Bem...

Tudo permanece, ele ainda era firme em suas crenças.

Mas elas mudaram.

- Obrigado – disse, interrompendo seja lá o que o casal estava falando desta vez, e conseguindo que ambos encarassem-no. – Pelo conselho. Vou segui-lo, Thomas. Lakroff tem razão em dizer que foi muito inteligente. Parece óbvio depois que já foi dito, mas muitas vezes não pensamos tão claramente na vida e algumas coisas podem ser esquecidas. Agora que já fiz o que fiz, minha parte como alguém que está tentando ser mais madura e, principalmente útil, é apenas mostrar que posso lidar perfeitamente com as consequências daquilo que faço. Impulsivo ou não, se isso é parte da minha personalidade, tenho que provar que não é algo que vai atrapalhar e que poderia ser um motivo para não me ver como de confiança para coisas importantes.

- Exato – concordou Tom, focado em seu cigarro.

- Realmente obrigada. Vocês ajudaram muito – disse se levantando, colocando a taça em um aparador próximo e batendo na roupa, como se para desamassar.

- Apesar das brincadeiras – Lakroff apontou rindo.

- Gosto assim, eu não faria diferente – garantiu o moreno. – Enfim, podem voltar a sua pegação, finjam que não estive aqui.

Ele não foi impedido de sair, nem nenhum dos dois ali se dignou a dizer qualquer coisa sobre o seu comentário.

Riddle apenas aproveitou a oportunidade para se livrar do segundo cigarro sem que precisasse terminá-lo. Lakroff pegou o cinzeiro transfigurado e guardou em uma das prateleiras do lugar:

- Para uma próxima.

Tom entendeu as implicações daquilo. Talvez estivesse ali em outro momento, onde seriam vistos juntos e Tom precisava parecer... vivo.

Mas aquilo também passava mais a ideia de que esteve ali.

Colocava uma prova material de sua presença na vida de Lakroff.

Lhe causou um arrepio na espinha muito sombrio e desconfortável.

O albino, entretanto, estava bem tranquilo em relação a isso e após de voltar para o mais novo já perguntou esperançoso:

- Então? Continuamos de onde paramos?

Mesmo que soubesse que levaria um balde de água fria:

- De forma alguma. Precisamos tratar de coisas mais importantes.

- Mais importante do que você?

- Sim, Harry!

- Achei fofo – sorriu.

- Não me provoque - ameaçou.

- Mas esta é a coisa que mais faço, milorde.

Tom empurrou Lakroff, que se deixou ser derrubado numa das cadeiras de sua sala. Ficou alegremente surpreso quando as mãos do mais novo foram para as costas da cadeira, segurando ali e "impedindo" Lakroff.

Era ótimo ser olhado daquele ângulo por Riddle.

Por aquele olhar.

- Escute aqui, seu poço de desatenção.

- Eu juro que agora estou completamente focado.

- Disso eu sei. Você fica bonzinho rapidinho quando se aprende o jeito de mandar.

- Sim senhor – sorriu brincalhão.

Afinal, não havia por que discordar de fatos.

- Então presta atenção em mim agora, que depois vem a recompensa, simples até para você, não é? Meu cachorrinho.

- O que quer de mim, meu senhor?

"Tudo" o pensamento fugaz veio à Tom e foi esmagado como a barata mais nojenta e indesejada que já vira.

- O plano. Precisamos ter certeza de que está tudo certo – e olhando um instante fugaz para o chão, corrigiu. - Eu preciso.

- Eu...

- Eu sei que se tratando do Harry você deve estar fazendo de tudo, pensando em tudo e que não há limite que você não ultrapasse, mas eu preciso saber. Cada detalhe. Cada coisa. Eu preciso ter certeza, entender o que está pensando e...

- Ter o controle? - ofereceu Lakroff.

- Eu só quero ter certeza.

A frase, por mais simples que fosse quando saiu da boca de Tom, pareceu conter um milhão de informações para Lakroff, que o encarou por longos momentos, aqueles olhos azuis brilhando e lendo coisas que apenas ele podia, até que enfim, sem nenhum pesar na voz, ou qualquer sentimento:

- Você quer ter certeza de qual parte?

- Como assim?

- Você quer ter controle e saber sobre seu próprio assassinato como algum tipo de maníaco que tem poder até sobre seu último suspiro, um maldito roteirista de filme que quer escrever cada passo da própria história da forma mais dramática.

- Talvez? - Tom dispensou, dando de ombros.

A coisa em si já o entregou.

Tom Riddle não era o tipo de pessoa que fazia um gesto tão mundano.

A menos que quisesse enganar alguém ou convencer alguém com aquilo.

O peito de Lakroff sentiu uma picada, mas continuou sem qualquer emoção ao continuar:

- Ou você só quer ter certeza de que vai valer a pena?

Tom ficou em silêncio, mas Lakroff não tomou aquilo por resposta, apenas aguardou.

- O que quer dizer com valer a pena?

- Morrer. Se vale a pena dar sua vida.

- Pelo Harry? Eu nem tinha vida antes dele – descartou, mas havia tanta melancolia em sua voz que para um anjo como Tom, aquilo era quase chorar.

- Não é isso que quis dizer.

- Então o que?

- Se vale a pena morrer. Não por ele, não por ninguém. Por você. Se vale a pena cometer suicídio. Chamar alguém para matar a si próprio. Você quer ouvir cada detalhe para ter certeza de que não vai ter como escapar porque sabe que se tiver uma brecha você vai achar, vai se arrastar por ela, vai se destruir mais e mais igual sempre tem feito tudo para – ele foi interrompido.

Tom o estava beijando de novo.

Lakroff o afastou e foi bizarro como desta vez foi fácil.

- Não vai conseguir me distrair assim. Não assim...

- Eu não estava tentando – sussurrou, a cabeça baixa, os braços bem menos firmes no apoio da cadeira, como se estivessem perdendo as forças.

Lakroff o tocou ali, segurando-o e Tom aparentemente estava fraco o bastante para aceitar:

- Eu nunca faria algo assim com ninguém.

- Assim?

O sonserino suspirou, se o outro não havia entendido não pretendia explicar.

- Eu só não quero ouvir isso.

- Que parte?

- Tudo.

Eles falavam calmamente. Lakroff ainda tinha aquela expressão neutra de quem está avaliando a situação. Tom, só tinha perdido parte de sua própria força, quase dava para descrevê-lo como triste, mas ainda era Tom. Ainda havia a essência dele ali o bastante para que se mantivesse acima de tudo.

Inclusive de suas próprias emoções.

Mas elas o estavam afetando, claramente o prendendo a uma melancolia enraizada no fundo da garganta e que passava pelas palavras pintando-as em vermelho e azul.

- Sua cor é verde.

Tom nem tentou entender:

- E prata – respondeu com indiferença, ajeitando a postura.

- Mas você não parece assim agora.

- Obrigada pela observação, foi muito útil.

- Agora se parece mais com você.

- Quando sou ácido?

- Venenoso – corrigiu. – Você é uma cobra.

- E você dragão. Para onde estamos indo com isso?

- O que está te incomodando?

Após uma longa pausa para pensar, Riddle enfim falou:

- Podemos fingir que você não notou?

- Não.

- Por favor?

- É fofo você pedindo por favor, quase me convenceu. Se implorar...

- Nunca.

- Você nunca imploraria ou nunca o faria para mim?

Tom odiou como sua mente criou uma imagem, mesmo que fugaz de si mesmo ajoelhado, o rosto corado, implorando por Lakroff.

Se fosse possível matar um pensamento ele faria.

Primeiro o torturaria, depois morte.

Para nunca mais ter qualquer coisa parecida em sua cabeça de novo.

- Os dois. Eu não imploro, as pessoas que imploram para mim.

- Eu te imploro que me conte?

- Você já foi melhor nisso – mas ele deu um sorriso (mesmo que mínimo) e aquilo foi um sucesso para Lakroff.

- Se eu fizer direito você conta?

- Não, mas gostaria de vê-lo tentar.

- Prefiro guardar-me então para uma próxima ocasião, uma mais próxima de coisas que...

- Dependendo de suas próximas palavras pode se abster delas. Já consigo imaginar o que sua mente pervertida está pensando.

- Querido, você não seria capaz de imaginar nem a metade do que eu o faço com você.

- Não me chame de querido.

- Sim, milorde.

{- Assim não melhorou} – Tom reclamou em língua das cobras, tamanha sua frustração.

Lakroff, entretanto, tinha sua dose de aulas de ofidioglossia:

{- Então apenas me diga como quer e eu farei}.

E aquilo destruiu Tom.

De verdade, foi a gota d'água. Não havia uma única partícula mágica em seu corpo falso que não gritasse desejo por Lakroff Mitrica e tê-lo. Controlá-lo. Subjugá-lo. Vencê-lo. Tomá-lo para si, de cada forma possível e imaginável. Foi tão intenso que ele apenas agarrou o pescoço do outro homem e suspirou com o gemido que recebeu com o ato e com o baque do outro contra a poltrona.

- Devo tomar isso como uma indicação para falar mais em língua das cobras ou menos, milorde?

- Deve tomar como uma indicação para calar a boca! – ordenou, os olhos vermelhos de uma fúria banhada em desejo e insanidade pura.

Lakroff percebeu isso, sentiu as consequências em cada célula sua de estar recebendo diretamente os olhos vermelhos de Voldemort sobre si.

O fato de que isso o deixava duro era quase ridículo.

Ele mal conseguiu respirar, pois o aperto no pescoço ficou mais forte, mas ao mesmo tempo não se importou. Apenas pensou como era assustador o tanto que já estava disposto a confiar em Tom Riddle, uma vez que não sentia medo.

Não o via como alguém capaz de matá-lo.

Riddle era, decididamente e em todos os aspectos, Tom para ele agora.

Tom, uma pessoa.

Que estava lhe escondendo algo.

Com o pouco que ainda tinha de ar, conseguiu proferir:

- Eu adoraria seguir por esse caminho, mas realmente não consigo ignorar...

- Você é esperto, descubra sozinho! – Riddle reclamou, ainda furioso, ainda com aquele olhar intenso de vermelho sangue que se aproximava mais e mais de Lakroff, até estar em seu ouvido para sussurrar – Mas agora estou irritado, não vai ganhar mais petisco.

- Não me importo. Estou preocupado.

Aquilo pareceu funcionar, enfim.

Os olhos de Tom voltaram a ficar castanhos, a força que estava pressionando contra o pescoço do platinado sumiu, ele se afastou e seu olhar... sua expressão...

Havia tanta coisa gritando ali que Lakroff sentiu a necessidade de proteger Tom daquilo. Seja lá do que o estivesse torturando tanto, porque era isso que parecia, que algo nele e em suas ideias o torturava e o jogava contra uma parede dolorosa.

Lakroff tentou alcançar aquela parede, para que talvez impedisse Riddle de se chocar contra ela, tentou chamá-lo.

Mas de repente estava sozinho no seu gabinete.

Tom Riddle sumiu no ar.

A horcrux havia voltado para de onde vinha, não havia mais corpo feito de magia.

Tão pouco.... Lakroff sequer sentiu o diadema em seu dedo tentando tirar as suas energias.

O que tinha acontecido afinal?

-x-x-x-

Dumbledore saiu da penseira na segunda-feira logo pela manhã e, assim como Severo esperava, tinha uma expressão condescendente que dizia: "Mas, meu garoto, nem foi algo tão sério assim..." Naquele ar de quem julgava os sentimentos de Snape com tão pouca relevância que eram de certo, nulos.

"Você é o sonserino racional, deve perdoar os impulsos de um Grifinório protegendo seu noivo" ou algo assim.

Não.

Não estava nem um pouco disposto a ouvir aquela ladainha:

- Nem tente.

- Não disse nada ainda – o velho comentou com um sorriso que dava vontade ao outro de arrancá-lo com uma maldição.

- Nem precisa, sei o que está pensando.

- Fico feliz que tenha desenvolvido habilidades mágicas novas tão interessantes. Saber o que os outros estão pensando...

- Pare de zombar disso.

- Não nego que tem razão em estar bravo com Sirius.

- Se disser "mas", porém, todavia, entretanto ou qualquer outra palavra do gênero, eu me retiro.

- Eu não o faria.

- Ótimo, então sabe que se quer alguém para se aproximar de Black, peça a Minerva, ou qualquer outro!

- Não posso.

- Porque não poderia?

Dumbledore suspirou e se afastou, girando pela sala, como normalmente fazia ao pensar. Snape tinha vontade de acorrentá-lo ao chão apenas para deixá-lo tão desconcertado quanto se sentia sempre que era levado ali.

- Minerva está incomodada com os rumos que tomaram minhas ações nos últimos dias...

- Aquela história de ler a mente de Longbottom para descobrir mais do paradeiro de Potter? O que tem isso? Ela sabe como ficamos anos procurando aquele peste sem saber se estava vivo por qualquer indicação além daquela carta medíocre! Todo o ministério ficou louco e até mesmo a imagem pública dos nossos departamentos foi para o ralo em um acidente quase histórico! Agora vem reclamar de não darmos espaço para futuros erros?

- Eu sei, tanto que, mesmo sabendo o quão errado poderia parecer, fiz o que estava a meu alcance. Mesmo assim, estou com problemas agora.

- Parece-me, diretor, que o problema em questão é seu, não meu.

- Está tão envolvido nisto quanto eu, Severo, ou se esqueceu que tudo começou lá atrás, pelas consequências de suas próprias atitudes?

- Não pode usar isso contra mim para sempre!

- Não se engane tentando me tornar o vilão de sua história, você mesmo mantém esse peso em suas costas e ambos sabemos disso. Prefere ignorá-lo ou enfrentá-lo? Pois bem, há uma chance. No passado, você confiou sozinho nas pessoas e na causa errada, eu apenas lhe indiquei uma forma de se proteger mesmo depois de tudo. Se arrepende?

"Muito" pensou Snape.

- Se sim, ou não, a escolha é sua em relação ao presente. O que sente em relação a me deixar resolver tudo sozinho?

- Péssimo.

- É, meu histórico não me protege... - murmurou o velho, como se comentasse sobre um clima agradável. – Você vai me ajudar – não foi exatamente uma pergunta.

Mesmo assim, Snape confirmou:

- Não posso apenas confiar em você. Quando sinto que o menino que Lilian deu a vida esteve e ainda pode não estar devidamente protegido por sua negligência em não vigiá-lo...

Dumbledore sorriu e este sorriso era muito, muito pior. Parecia o sorriso de um leão pronto para engolir sua caça:

- Meu garoto, eu coloquei uma espiã para vigiá-lo. E quanto a você? O que fez para garantir e honrar o sacrifício de sua amada, se dependia tanto do bem estar do menino?

Severo se irritou:

- Escolhi confiar em você! De que não falharia em algo tão simples quanto vigiar uma criança e ter certeza de que estava, abro aspas, sendo muito bem cuidada!

- Certo, decidiu confiar nos outros. Pensei que eu já tinha insinuado antes que não sou boa pessoa para apenas confiar, mas se preferiu assim, agora vejamos. Temos Harry bem aqui, praticamente debaixo do nosso teto, podemos protegê-lo. Mas precisamos saber como. Como manter as coisas assim, quem é que tem o poder de sumir com ele com tanta facilidade e o quanto ele pode estar se ferindo com o mesmo que o atraiu e feriu no passado, as artes das trevas. E você está se recusando a me ajudar?

- Não estou me recusando a ajudar, mas como Black se relaciona?

- Pelas barbas de Merlin, meu garoto!

"Não sou seu garoto" pensou Snape muito furioso.

- Sirius Black é padrinho de Harry Potter! É o único que pode exigir-lhe a guarda e tirar o poder de seja lá quem o levou da Inglaterra!

- O menino foi emancipado.

- Decisão que pode ser questionada diante da suprema corte se for provado que Sirius é capaz de lhe cuidar e que o antigo tutor fez parte da necessidade de uma emancipação.

- Mas a decisão foi tomada na presença do Black!

- Que diremos estar apenas tentando descobrir quem era a pessoa que tomara seu afilhado de forma tão ilegal e querendo garantir que, com essa nova liberdade, o garoto não se arriscaria apenas por uma curiosidade infantil que não deveria ser incentivada. Com Black do nosso lado, conseguir a guarda de Harry Potter é uma possibilidade real! E derrubar, seja lá quem ignorou o direito de Sirius a guarda, mais ainda. Esse bruxo é perigoso, Severo. Nós dois procuramos Harry por anos, sabe disso, sabe que para ter nos escapado assim estamos falando de um exímio bruxo das trevas e você sabe na pele como tal magia pode destruir a mente de um homem e levá-lo às piores decisões, como entregar...

- Não cite Lilian de novo!

- É a ela que estamos tentando ajudar. Protegendo seu legado e seu bem mais precioso! Eu vi o homem, Severo. Me deu apenas o primeiro nome e estou em busca de descobrir quem é Heris, e mesmo com o nome, o rosto e tudo que temos desse bruxo, mesmo assim não achamos mais nada! Nenhum sobrenome! Entende o absurdo da situação? Estava aqui e mesmo assim não fui capaz de sentir nada nele, nenhuma magia, um bruxo das sombras tão poderoso! As artes das trevas não podem ser escondidas, elas fedem, deixam rastro por onde pisam e o homem conseguiu ocultar até mesmo seu envolvimento de alguma forma. Se não usarmos tudo que temos até o torneio acabar, Harry Potter estará perdido de novo!

- Vá você atrás de Black! Use como deu escola e emprego para aquele lobo que ele chama de noivo para amaciá-lo! Lembre-os que lhe devem e – o suspiro resignado de Dumbledore o silenciou.

- Não vai funcionar.

- Porque não?

- Sirius acha que é minha culpa o que aconteceu com Harry.

- E não é?

- Não me interrompa. Ademais, Sirius se já não o faz, logo me culpará por sua acusação errônea e prisão. Esperar estar em seu lado bom, tempo o bastante para o que precisamos, não funcionaria.

- Ninguém tinha muito poder para solicitar um julgamento naquela época, além de Crouch. Black é tolo, mas não pode jogar isso em suas costas para sempre.

A forma, entretanto, como Albus escolheu ficar um tempo em silêncio deixou Snape intrigado. Quando tornou a falar, já estava claramente na defensiva.

- Outra que, novamente, eu fiz o que podia. Pode dizer o que há em seu próprio favor? O que você fez além de deixar tudo em minhas mãos? Se Harry era uma preocupação real sua, como pela segunda vez, você deposita toda a sua expectativa em um homem falho.

Snape não teve como refutar aquilo, mas estava tão irritado com a cabra velha que agora nem mesmo queria usar uma maldição nele. Queria envenená-lo. Dar-lhe a pior opção que conhecia, a que causaria mais dor e destruiria o corpo de tal forma que nem sua preciosa fênix conseguiria protegê-lo.

Fawkes pareceu perceber esse pensamento e moveu-se em seu poleiro, balançando as asas com intensidade sem soltar voo.

"Não vou fazer nada, bicho estúpido. Do que adianta levar minha vida em Azkaban por matar esse velho? Sofrer meus últimos dias com dementadores antes de morrer por conta daquele adolescente?"

- Porque Black te culparia pela sua prisão?

- Você já deve imaginar.

- Imagino, ele disse algumas coisas sobre isso em uma das reuniões, mesmo assim parece ter algo a mais. O que é?

- Você que parece ter criado essa impressão Severo – Snape já ia contestar, mas o velho teve um daqueles seus momentos, encarou diretamente o mais jovem e seus olhos brilharam de uma forma estranha. – Posso lhe contar algo novo, se assim desejar, mas terá que concordar em ser mais suscetível a me ajudar. Nada demais, não acha? Mas ainda há um acordo para você, que parece se dar tão bem com eles.

- Diga logo.

Odiava os floreios do velho. Ele claramente ia contar a Severo desde o início, Todos que o conheciam o bastante sabiam que Snape era como um túmulo e, por isso, Dumbledore o considerava um perfeito ouvinte para seus dias de pensamentos em voz alta.

As coisas que Severo descobriu...

Mesmo assim, aquela o espantou um pouco:

- Sirius Black poderia ter tido uma chance melhor se eu não tivesse contado que ele era o fiel do segredo.

- Como assim? Todos já não sabiam disso?

- Não. James Potter, você gostando do homem ou não, era um bruxo com alguma astúcia no sangue e na mente. Ele não quis contar a ninguém a pessoa a qual pediria para ser seu fiel. Eu me ofereci, sabe disso, mas ele negou e disse que já não aceitaria por eu tê-lo dito na frente de todos da ordem, que queria que fosse um segredo que ninguém ali haveria de se arriscar para guardar. Mesmo assim, um dia após uma reunião da ordem, acabei voltando para averiguar uma coisa e o peguei pedindo a Sirius. Mantive o segredo, afinal concordava de que não valia de nada que o alvo de Voldemort fosse exposto, mas quando recebi a notícia do ataque aos Potters, estava no ministério e acabei dizendo que deveriam ir atrás de Black, depois que tive ainda mais detalhes, corri para Hagrid. Esperançosamente ele poderia pegar Harry antes que Sirius o tomasse para seu lorde. Se eu nunca tivesse ouvido nada, haveria uma investigação acerca do caso, para descobrir quem era afinal o fiel. Sirius, é claro, já poderia ter sido preso por ter atacado Pedro e caído em sua armadilha, sendo acusado por estourar uma rua com trouxas e possivelmente todos julgariam ser culpa dele, assim como foi. O melhor amigo de James, um Black, matou Pedro, que gritou aos sete ventos ser culpa de Sirius, tudo apontava para ele. Mesmo assim...

- Mesmo assim você fez parte.

- Mesmo que minha parte possa nunca ter causado mudança alguma, ela está lá e quando Sirius descobrir, ele ficará furioso. Sabemos disso.

- Ótimo, você está ferrado.

E como se lembrasse do soco que o atingira a alguns dias atrás, levou a mão ao rosto, onde fora acertado.

- Isso não importa, não agora e não o bastante. Você acha mesmo que Harry Potter está seguro na Durmstrang?

- Não...

- Então sabe que, pelo seu próprio bem, temos que tê-lo aqui. Sirius é nossa melhor e, sinto dizer, talvez a única chance.

- Ele me deu um soco!

- Você insultou o alvo de cortejo de um Black, teve sorte de Sirius não ser como o resto da família ou teria sido amaldiçoado.

- Ele me chamou de fascista!

- Seu passado...

- É passado! Ele não tem o direito de me julgar contando tudo que ele mesmo fez no passado!

- Quando era adolescente.

- Isso não muda o fato de que ele poderia ter sido um assassino naquela época! Tanto que ninguém, nem o precioso noivo, duvidou de que ele seria culpado mesmo pela morte dos Potter.

"Há muito mais nessa história" pensou Dumbledore, que ainda se culpava por não ter pensado que Sirius não seria capaz de trair James, mas eram tantas pessoas se virando umas contra as outras naquela época...

- James o salvou.

Snape fez uma careta tão grande que foi impressionante.

- Você deve a ele – foi interrompido.

- Nunca! – o sonserino gritou odioso.

- Tanto quanto deve a Lilian – continuou o mais velho, como se nem tivesse sido interrompido. – A segurança daquela criança. Do único sobrevivente daquele fiasco a que se culpa.

Aquilo pareceu acalmar Severo, que ao menos se virou e foi até a janela, refletir.

- As coisas estão muito complicadas. Durmstrang. O guardião de Harry. Sua posição e influência naquela escola, as artes das trevas e Grindelwald.

- Que história é essa de filho de Grindelwald afinal?

- Sei tanto quanto você, talvez menos...

Os professores da Durmstrang vinham evitando ou diretamente antagonizando Albus desde que descobriram que ele havia acusado Lakroff Mitrica de ser seu pai.

Uma das professores, Katharina, chegou a enfrentá-lo de forma direta em um momento que encontraram-se sozinhos em um corredor:

"Ninguém pode ser julgado pelo passado que não lhe cabe. Ninguém pode ser comparado a uma pessoa de que se tem nojo. Ninguém merece ser lembrado do rosto de um homem que se odeia e ninguém, jamais, deve insinuar que Lakroff seja qualquer coisa, mais ou menos, que ele próprio. Gellert Grindelwald é uma sombra cruel e tenebrosa. Um homem que merece o que lhe foi dado. Lakroff nunca fez nada que merecesse coisa parecida, muito menos que um homem velho como você leve-o sozinho para bombardear com mentiras, suposições e um julgamento nojento sem fundamentos. Se eu souber que está espalhando essa história ridícula por aí e piorando o que só pode ser dito como os traumas de uma pessoa tão gentil e querida, eu pessoalmente vou revirar sua mente e garantir que todos os seus traumas sejam tão expostos como a face de Lakroff".

Tudo foi dito em sua língua materna, sequer se dignou a tentar usar inglês, o que fez foi um feitiço de tradução que furou os ouvidos de Dumbledore com duas informações cruzadas, lembrando-o porque bruxos evitavam aquele feitiço e preferiam até mesmo a mímica. A ruiva era bem intensa e, mesmo quando mal entendia o que estava sendo dito, Dumbledore soube que estava sendo ameaçado.

E por uma bruxa poderosa.

O olhar? Totalmente impiedoso.

"Se é capaz de ler a mente de uma criança, não imagina o que posso fazer com a sua. Tenha uma péssima noite".

E se foi.

Então Grindelwald tinha contado o que ouviu na sala para seus colegas. Dumbledore só podia imaginar até onde iriam as consequências por aquilo, mas agora não podia se perder naquela parte sombria.

Seu foco tinha que ser puramente Harry Potter.

Precisava garantir que o menino ficasse em Hogwarts. Ficasse na Grã-Bretanha e ao alcance do olhar. Precisava tirá-lo do caminho tenebroso e destrutivo das trevas e garantir que a luz que seus pais lhe deram ao nascer, florescesse até atingir o potencial máximo.

Até se tornar O Eleito novamente e destruir de uma vez por todas Tom Riddle.

Além de tudo, Dumbledore tinha que garantir isso logo ou não haveria tempo para descobrir com certeza o que, afinal, Tom fizera para se tornar tão próximo do imortal e garantir que essa fonte não o ajudaria novamente.

Era muita coisa e muitas vidas em risco se falhasse. Como líder escolhido por elas, ele devia isso. A certeza de que estariam seguras. De que não precisavam sofrer com mais uma guerra.

Albus já era falho demais, mas não podia se permitir errar nisso. Em ser, ao menos, um soldado e um general para seu povo. Mantê-los a salvo.

Harry Potter era a chave para isso. Nasceu para isso. Foi marcado por Tom de uma forma tão intensa que Neville nunca teria conseguido se igualar, mesmo que tivesse se mostrado muito capaz.

Harry precisava destruir Voldemort e, com isso, a si mesmo ou jamais teriam uma chance de paz.

Ou teriam que matá-lo pela causa de qualquer forma.

Seria melhor que o menino desempenhasse seu papel na história e fosse como um herói, não uma consequência. Voldemort lhe tirara tudo, não podia lhe tirar até mesmo o direito a ser reconhecido pelo sacrifício que lhe foi imposto desde que existiu aquela profecia.

E agora Snape.

Ele era parte de tudo isso.

A causa de tudo isso de forma direta.

Não podia fugir de sua responsabilidade:

- Não me interessa como vai fazer, mas você deve e precisa se aproximar de Sirius Black e convencê-lo a ficar do nosso lado. Trazer Harry Potter para Hogwarts e tirá-lo da influência das trevas. Lembrar Black do que ele próprio fugiu na adolescência e fazê-lo acreditar que precisa fazer o mesmo por Harry.

- E você faz o que?

- Eu tento ajeitar outras coisas. Não vou fugir do que é meu dever. Não fuja do seu. Harry Potter pode ser tanto nossa salvação, quanto destruição, pode não gostar disso, Severo, mas se não me ajudar agora, as consequências no futuro serão catastróficas e não acho que você seja um homem que aguentará essa culpa também.

- É apenas porque acha que ele seja O eleito? É tudo por uma visão? Não acha muito absurdo me colocar tanta pressão ou levar tão acima um simples garoto por causa de uma visão ridícula?

- Seu mestre não pensou assim quando decidiu pessoalmente matar uma família pela mesma visão ridícula. Você não pensou assim quando decidiu passar a mesma previsão a ele sem pensar nas consequências.

Snape odiava como Albus usava tudo contra ele. Cada podridão, cada arrependimento. O velho jogava muito sujo quando queria algo e ele sempre queria algo.

Mesmo assim, esse era um lugar que Severo conhecia. Esse lado podre era o que mais aturava do velho, porque sabia como lidar com pessoas podres melhor do que com as puras.

A podridão tem objetivo e é previsível. A pureza leva as pessoas à total imprevisibilidade.

Por mais que pudesse doer ficar com Albus Dumbledore, era uma dor conhecida e que, portanto, tornava mais fácil do que o mundo onde as pessoas se escondiam por máscaras e diziam coisas diferentes do que pensavam. Tentavam manipulá-lo de forma discreta e tinha que pensar muito antes de agir.

Aqui Albus era direto como um grifinório e o ataque era de frente.

Snape estava cansado de olhar por cima do ombro para ver se não havia uma cobra. Por isso estava em Hogwarts, por isso ainda o ouvia e trabalhava com ele. Ali só olhava para frente e isso era mais leve.

- Mesmo assim, não achei que fosse tão crente em algo do tipo. Pensei que achasse adivinhação tolice.

- Antes, sim.

- Apenas isso o mudou?

- Há muito mais que você não sabe.

- Então conte-me.

- Se aceitar me ajudar, lhe darei todos os meus segredos, mas então terá tanto medo quanto eu.

- Não vou aceitar assim.

- Então faça pelo que sabe, não pelo que eu guardo. Precisamos de Harry Potter.

O resto da conversa não foi em uma direção muito diferente e Severo saiu daquela reunião logo em uma segunda-feira de aulas muito frustrado.

Tinha o dia todo de aulas para aturar crianças tolas mexendo caldeirões que podiam matá-las e suas vidas dependiam dos olhos atentos de Severo.

Ótimo.

Sempre ele e sua vida muito relaxante.

Albus estava escondendo algo. O que era péssimo. Os segredos daquele velho geralmente não eram coisa fácil de se lidar, como a tal invasão à mente do Longbottom.

O garoto mimado que não conseguia achar prudente contar o que sabia desde o princípio ao chefe da suprema corte que sabia o paradeiro e o estado de saúde de uma criança dada como desaparecida a anos.

Deixe todo o ministério procurar como baratas tontas, Neville Longbottom não se importa com o tempo e preocupação dos adultos, ele faz o que quer, fala o que quer...

Aquele garoto o tirava dos nervos! Como podia ser tão diferente dos pais? Tão insípidos no passado em Hogwarts na mente de Snape, tão conscientes e bravos na guerra. O menino era apenas arrogante e espalhafatoso, achava que todos deveriam glorificá-lo pelas boas ações que fizera, mas também fingia falsa modéstia dizendo que era natural fazer o bem. Um hipócrita arruaceiro já naquela ideia.

O lembrava pessoas das quais Severo odiava.

E uma delas, Dumbledore queria que Snape perdoasse pela ousadia e simplesmente fizesse uma relação próxima o bastante para convencê-lo a algo!

Muito mais fácil pedir do que fazer, não é mesmo?

Tentaria tirar ele mesmo alguma coisa do arrogantezinho do Longbottom durante as detenções. Tinha muitas delas pela frente para algum sucesso.

Mesmo assim, imaginar que cinco meses para conseguir, talvez, alguma informação que poderia nem ser útil o bastante era inválido. Depender apenas de Longbottom não seria seu melhor plano.

Se queria garantir que Lilian o perdoasse, tinha que proteger seu filho.

Lilian era sua melhor amiga e o amor de sua vida. Severo não tinha escolha... ou melhor, tinha, mas não se permitiria nenhuma outra que não, depois de todas as suas falhas que a afastaram e depois a colocaram em perigo, respeitar sua escolha final.

A escolha de morrer a viver em um mundo onde seu filho teria partido.

Lilian escolheu a morte. Voldemort, mesmo que Snape duvidasse, sempre se dizia um homem de palavra. Se houvesse uma opção e Severo acreditava que sim, dado ao sucesso do menino em sobreviver e a teoria de Albus de como isso ocorreu, foi dada uma escolha a mulher.

Ela recusou porque seu filho valia mais que ela própria.

Snape não podia desrespeitá-la mais do que já havia feito, portanto, tinha de levar seu último pedido ao túmulo se quisesse ao menos seu perdão no pós-vida. Para ir embora sem esse arrependimento tão dolorido.

Tinha que proteger Harry Potter.

Não sabia se seria capaz de fazê-lo com a própria vida, como ela, mas se foi capaz de pedir pela vida de uma sangue ruim ao próprio Voldemort, teria que ter a mesma coragem para lutar pelo menino que ela deixara com tudo que um dia foi seu. Tinha que dar seu máximo, assim como devia ter dado para conseguir o perdão em vida.

E talvez, apenas talvez, as entidades da magia um dia o permitiriam dormir sem esse arrependimento.

Foi com esses pensamentos que aguentou a primeira aula e as seguintes depois do almoço, quando os alunos já estavam em polvorosa demais com a notícia que teriam uma visita a Hogsmead naquele fim de semana antes da primeira tarefa.

Em nenhum momento conseguiu uma desculpa boa o bastante para falar com Black. Tanto porque, mesmo achando o homem um idiota sem cérebro, ainda era um grifinório e eles desconfiavam o suficiente de sonserinos para não acreditar que um aceitaria perdoar facilmente um soco dado sem motivo.

Pior ainda era o fato de que o próprio Black não veio pedir desculpas ou tentar aquela sua ladainha de antes de que queria ser melhor e não se sabe mais o que, achando que possuía algum charme em sua forma de agir que pudesse convencer as pessoas tolas com que convivia.

Severo estava se vendo um tanto sem opções óbvias e seus níveis de estresse estavam alarmantes após um dia como aquele (até aguentar outra aula com o incapaz em poções, Longbottom e outro igualmente ridículo Creevey) quando a turma dos sextos anos entrou para a última aula do período.

Isso incluía Sonserinos (bom), Grifinórios (péssimo, já que dois deles eram infames gêmeos Weasley) e duas das casas da Durmstrang.

Ao menos, sextos e sétimos anos só possuíam bons alunos, uma vez que tinham que passar por sua nota de corte e, ao que tudo indicava, o professor de poções na Durmstrang não era menos exigente do que ele próprio.

O mais interessante, entretanto, era a presença de Potter entre as fileiras.

- Estou falando, sete gotas é o bastante – disse Fred Weasley para Potter.

O moreno negou com a cabeça:

- Com seis a quantidade fica muito rala, uma única gota a mais não permitirá que os ingredientes consigam ter a reação necessária, mas dez gotas realmente podem ser muito se quer adicionar a raiz de zinco para fortalecer o efeito do dente de Iéti.

Severo, mesmo sendo um pocionista de mão cheia, não identificou de que poção estavam discutindo, mas guardou a informação depois que todos arrumaram lugares, Potter indo para o balcão mais próximo de Adrian Pucey e começaram a aula.

Nesta, tudo transcorreu com tanta perfeição que quase foi um sopro de alívio no homem que se sentiu seguro em tentar um plano diferente dos oferecidos por Albus.

Quando estavam para acabar o período, Severo se aproximou do balcão de Potter, como se para conferir seu desempenho (como vinha mostrando, sempre mais do que ideal.... o que lembrava muito Lilian) e acrescentou:

- Se puder tomar um tempo após a aula, Potter. Será rápido.

- Sim, professor.

Alguns minutos depois o sinal liberou o grupo e Pucey juntou sua mochila nas costas indo até Harry:

- Vai fazer alguma coisa agora? Estava indo para a biblioteca continuar o trabalho de feitiços com os outros.

- Eu adoraria, Adrian, mas tenho – nem precisou continuar, o mais velho rio e deu um soquinho leve no ombro do colega.

- Já sei, senhor presidente do conselho estudantil. Está sempre ocupado, já nos acostumamos – e riu.

- É, me desculpe por isso.

- Nem de longe peça desculpas por algo assim. É realmente impressionante o que vocês fazem na Durmstrang. Mostra que você vai ser ótimo no que for fazer no futuro, só espero não esquecer dos amigos aqui – e piscou.

A forma tão descarada com que o garoto estava querendo mostrar um possível favoritismo do herdeiro Black e Lorde Peverell para seu lado na competição por líder da casa chegou a incomodar Severo, mas Potter não devia estar ciente dos movimentos e costumes de nomeação para rei da Sonserina, por isso também deve ter visto o gesto apenas como amistoso ao responder.

- Pode deixar. Só não me esquecer também – riu. – Se quiser podemos nos juntar amanhã, estarei mais livre acredito.

- Combinado então, presidente.

Com isso, os alunos foram se dispersando e Potter foi ficando para trás conforme guardava com mais lentidão do que o necessário suas coisas para ficar, enfim, sozinho com o professor.

- O que deseja de mim, professor?

Severo percebeu que o menino não fez questão de sair de sua mesa para falar e, como seria um assunto delicado, Snape que se aproximou da bancada onde estava o menino.

O que ele não notou, mas seus instintos sim, é que diferente do que sempre fazia ao estar atrás de sua imponente mesa de carvalho escuro, mais alta e que exibia o título de superioridade hierárquica de professor, agora ele que estava em pé na frente da mesa de Harrison.

Deveria ter notado.

Então teria percebido como estivera, desde o princípio, fora do controle da situação.

- Eu estive pensando muito se deveria comentar isso com você, Potter – começou, tentando parecer afável, mas sem nunca perder sua frieza costumeira. Algo como abrir uma trilha numa floresta densa, mas apenas isso. Uma pequena e falha trilha por onde podiam seguir.

- Comentar o que, mesmo?

Snape deu uma pausa, deixando que o aluno pensasse o que quisesse, uma técnica de manipulação de conversa. Deixe-o pensar muito, talvez o pior, então o próximo será mais doce.

Harrison apenas encarou-o, entretanto, olhando como a alma do homem dizia muito mais do que ele próprio.

Lembrando como aquela alma parecia presa, de alguma forma ligada a Harry, procurando-o, cercando-o sem sua permissão, mas dizendo que aquilo era uma necessidade. Como se tivesse um voto que o obrigava a estar ali, mas Harrison vinha a semanas tentando entender o que exatamente era.

A intensidade de um voto perpétuo tinha, mas não a marca de um.

Só havia a magia do próprio Severo ali.

Deixava-o desconfortável.

- Eu... desculpe tocar no assunto, mas achei que me entenderia. Eu era um grande amigo de sua mãe, entende?

- Mesmo?

- Sim – e deixou a afirmação morrer aos poucos no ar, como se estivesse pensando naqueles tempos.

Isso, normalmente, era outra técnica pois fazia a pessoa, no mínimo, inclinada a permanecer na conversa por uma questão de educação.

- Eu sei que o jornal de Skeeter é pura mentira, então não suponho nada do que possa sentir acerca de sua mãe além de carinho. Minhas sinceras condolências, nunca tive a oportunidade de dizê-lo. Entretanto, fiquei feliz quando soube que não passou muito tempo com Petúnia, do que a conheci na nossa infância, a mulher não era das mais agradáveis. Espero que tenha tido tempos melhores com o novo guardião.

- Sim, eu tive.

Harry não demonstrou qualquer reação e isso fez Snape pensar mais. Poderia estar seguindo pelo caminho errado.

- Fico satisfeito – pensou em dizer "como velho amigo" mas optou por deixar isso de lado. – Fiquei preocupado quando sumiu, é claro, mas a mensagem de que estava bem e sob mãos mais capazes deu algum norte, mesmo que não muito.

- Sim, sei que acabei assustando muita gente. Principalmente os amigos dos meus pais.

- Mas acredito que tenha sido pelo seu bem. Foi como se sentiu?

- Sim.

- Então não há quem o possa julgar. E parece ter se saído muito bem na Durmstrang também. Isso é ótimo. Mas será que me permite uma ousadia?

- Qual seria?

Aqueles olhos verdes como os de Lilian o encaravam curiosos e fizeram Snape um pouco mais mole, lembrando-se do passado.

- Posso saber o nome do bruxo que o criou?

- Por que deseja tal coisa, professor?

- Lilian. A memória de sua mãe é muito forte para mim. É algo que penso há anos, que martela em minha cabeça e sei que é um pedido egoísta, mas queria ter certeza de que alguém que realmente aprovaria está ao seu lado.

- O nome lhe dará isso?

- Não preciso do nome. Já sei que está em boas mãos. Preciso sentir que não deixei de tentar buscar essa informação. De que deixei que as coisas aconteçam sem que eu saiba de nada. O escuro, você é um sonserino, sabe como é, nos incomoda. Queria ter a informação, apenas pela certeza de tê-la, não... pensar que apenas deixei seu filho com uma confiança cega de que aquele que foi sábio o bastante de afastá-lo desses fantasmas da guerra já é adequado o bastante. É uma necessidade de controle natural.

- Sim, isso eu entendo – então, jogando sua mochila nas costas o menino se levantou. – Entendo sua motivação para a pergunta professor e não a julgo, pelo contrário, provavelmente eu estaria com a mesma necessidade por uma resposta. Então, agora estarei me retirando.

E caminhou em direção à porta.

Snape arregalou os olhos totalmente confuso com o rumo que aquilo levou e chamou:

- Espere, Potter!

- Peverell-Potter, senhor. Este é meu nome – corrigiu, ainda educado, mas infinitamente mais frio.

O que havia dito que causou aquela reação? Snape se orgulhava de sua habilidade de ler pessoas, mas... se viu diante de uma parede rochosa tão rápido que perdeu sua noção de norte e sul.

- Eu... – tentou, as palavras fugindo, mas de certo tinha mais controle que isto. – O ofendi de alguma forma, senhor Peverell-Potter?

- Não, como eu havia dito, entendo sua pergunta.

- Então porque está indo?

- Entender é diferente de estar inclinado a respondê-la. O que não estou. Então acredito que não temos mais nada a falar?

- Potter... Peverell-Potter, desculpe-me se pareceu que quero invadir sua privacidade. Apenas, por favor, venha aqui, tenho algo importante a dizer.

Harrison pensou um instante e suspirou, retornando a seu assento.

Severo obviamente precisava de uma nova abordagem:

- Eu sei que agora está oficialmente emancipado, mas há pessoas no ministério que estão tentando reverter essa decisão usando de desculpas a procedência de seu guardião.

Estava, Snape tinha que lembrar, lidando com um sonserino selecionado. Então a nova técnica: uma informação por outra. Aquilo, ao menos pareceu interessar Potter que enfim teve uma reação, por mínima que fosse:

- É possível?

- Com seu padrinho sendo Sirius Black, um lorde que o nomeou herdeiro? Sim. Claro, ouvi apenas rumores, ninguém está muito feliz com seu sumiço, com como seu guardião foi capaz de tão descaradamente vencer os esforços do governo. Isso virá à tona, ainda mais agora com o fiasco que os tornara piada novamente no final da copa mundial de quadribol.

Snape notou como aquilo estava claramente funcionando. Tratá-lo como adulto, ser mais direto, isso interessava Harry muito mais que uma ladainha sobre memórias do passado. Certo, estava conseguindo ganhar aquilo.

Ele acreditou.

- O governo britânico já foi muito feito de piada e irá querer punir alguém. Seu guardião pode ser um alvo fácil e Sirius Black? Ele é outra prova da falha do governo britânico que obviamente não foi suficientemente ressarcida. Conseguir que tudo seja como deveria se as coisas tivessem sido devidamente comandadas? Dar sua guarda a quem tinha direito? Torná-lo parte da família Black nomeando-o como seu guardião? Alegar que a decisão de sua emancipação deveria e foi temporária para o torneio, tudo isso está bem próximo a realidade.

- Entendo – Harry murmurou, o olhar na mesa pensativo.

- Manter o segredo sobre seu guardião não o ajudará. Pelo contrário, pode ser exposto logo e servir para separá-los. Eu gostaria de saber se este é mesmo o caso ou se você está livre dessas jogadas políticas da suprema corte e do ministério, assim como seu guardião sempre pareceu desejar para você. Uma vida livre desse ninho de manipulação. A escolha de me contar, é claro, é apenas sua. Queria apenas deixar claro que se desejar minha ajuda, estou aqui.

Aquilo pareceu pegar Potter mais do que qualquer outra coisa até então. Aqueles olhos de Lilian o encararam diretamente e até sua voz ganhou alguma emoção:

- Como é?

Mesmo que Snape não tivesse identificado a emoção.

- Sou professor e minha função é ajudar meus alunos em aula, mas também sou chefe da casa da Sonserina, onde você foi selecionado e, portanto, faz parte. Minha função também é lhes resguardar como puder. Enquanto estiver na minha frente, estarei lutando por meus Sonserinos e isso o inclui. O passado, obviamente me moveu para ser mais incisivo com o senhor em particular, mas o sentimento ainda é o mesmo. Sempre que um sonserino precisar da minha ajuda, estarei lá. Tome minha sala e a mim como uma fonte a qual pode recorrer, sempre e não hesite nisso.

- Eu posso lhe pedir ajuda quando quiser?

- O senhor deve. Eu realmente sinto que devo ajudá-lo com isso, mas sabe que não serei capaz de fazer nada se não me permitir. Se não me der a mínima informação. A decisão é apenas sua, mas ainda me preocupo – e aquela palavra, por algum motivo, foi o bastante para ser interrompido.

- Se preocupa? – questionou o adolescente estreitando os olhos e se inclinando mais.

Snape, pobre Snape, entendera tudo erroneamente.

Sua visão distorcida que enxergava apenas um adolescente à sua frente, apenas o filho de sua amiga e um jovem tolo por sua idade, acreditou que aquela atitude vinha de uma necessidade. Acreditou que Harrison estava testando "o senhor se preocupa mesmo"? Como ele próprio em sua época de escola questionaria um professor. Se preocupa? Será que eu posso mesmo contar com o senhor?

- Sim, me preocupo muito com o senhor. Pode contar comigo para a ajuda que for.

"Posso lhe contar mesmo?" Dizia o passado de Severo em suas maneiras errôneas de interpretar a situação.

- Eu o ajudarei com o que for e quando for, se permitir a abertura, basta que o faça. Lembre-se disso.

"Será que posso te dizer tudo que estou passando? Quem é o desgraçado do meu pai?" diziam suas memórias, de quando tudo que queria era alguém como Lily. Que ouvia seu problema, que sabia pelo que passava e o acolhia. De seu tempo, onde precisava de ajuda e, será? Será que Potter precisava? Será que, diferente do julgamento de Dumbledore, o herdeiro Grindelwald tinha levantado a possibilidade de emancipação de Potter porque sabia de algo em sua educação em casa que pudesse proteger o menino com o afastamento?

Será que...

- O senhor vai me ajudar desde que haja abertura? – perguntou Potter.

- Claro. Com tudo que estiver ao meu alcance.

Se Harrison assim desejasse, naquele ponto já poderia tornar tudo em uma jura, um voto de palavra. "Que assim seja" bastava dizer, mas não era o que queria no momento.

A risada que o garoto soltou foi tão repentina e fora de lugar que assustou Severo e limpou todos os seus pensamentos deixando-o vazio.

Não só isso, ele tremeu com o som dela. Que parecia tão...

Errado.

Não parecia ser o que uma risada deveria significar. Não indicava felicidade ou qualquer sentimento positivo.

Era... macabro. Cruel. Debochado e desprezível.

- Que provas o senhor deu dessas palavras?

A pergunta deixou o já confuso professor de poções, ainda mais sem chão:

- Como é?

- Você disse ser amigo da minha mãe...

"Eu sei, e você foi um péssimo amigo, posso me retirar agora?" Foi o que o menino pensou no instante em que ouvira aquilo, mas quis ver onde o morcego queria chegar com sua história.

Agora, teria que sofrer as consequências por tentar.

- O senhor disse que queria saber de seu filho, que quer me proteger. Que me oferece ajuda. Como posso querer sua ajuda? Disse que ficou feliz quando soube que eu não vivia mais com Petúnia então como posso querer sua ajuda afinal? – a voz do garoto estava ficando mais alta, mais firme, mais cínica. – Você conhecia a megera e tinha todas as aberturas na época para questionar minha vida, meus guardiões, tinha uma casa trouxa de distância para me ajudar com, e abro aspas, tudo que estiver ao alcance, mas o que o senhor fez? Nada! Quando tudo estava bem diante de sua cara, o senhor sentou sua bunda em Hogwarts e deixou aquela maluca fazer o que quisesse de mim! Quando ela já chamava a própria irmã de aberração por ter magia no sangue! O que achou que ela faria comigo? Daria carinho?! – gritou batendo com a mão no balcão.

O som do soco, de sua voz, de sua fúria ecoou pela sala vazia nas masmorras.

- Você tinha motivação, se hoje acha que o tem, para questionar meu guardião e o fez? Não!

- Potter, eu...

- CALA A BOCA!

Snape se assustou.

Pela primeira vez desde que tivera mais contato e convivência com o menino, viu muito mais de James no garoto do que da mãe.

- EU SOFRI NUMA CASA TROUXA, como o senhor, POR ANOS! Mas O SENHOR não fez NADA para ajudar! Como espera que eu confie no senhor qualquer coisa envolvendo minha segurança agora? – Severo não soube o que o assustava mais, os gritos ou...

Ou o sussurro serpentino de quando abaixava o tom de voz.

A forma venenosa com que isso saía.

O fazia se lembrar, e isso tornava tudo ainda mais assustador, do homem que o marcou com uma serpente no braço.

- Eu não – nem houve chance para terminar.

- Eu não pensei, eu não achei, eu não sei mais o que CARALHOS você ia dizer, mas acredite já ouvi muito desse discursinho podre para querer de novo. VOCÊ ESCOLHEU ISSO! Você ser amigo da minha mãe não te ajuda, só piora tudo! Sirius estava preso, ele não podia me ajudar, Remus é um lobisomem, os amigos do meu pai eram inúteis, mas o senhor? Não basta humilhar minha mãe chamando-a de sangue ruim, se alistar a seita que quer matar pessoas como ela, você ainda OUSA vir aqui e dizer que se preocupa?

- Potter!

- Se exigir respeito agora eu juro que o senhor só pode estar louco. Estou me fudendo para o que pensa das minhas palavras agora, me fez ouvir seu discurso hipócrita, então agora vai me escutar. Aquela vagabunda ATIROU EM MIM!

- Como?!

- Ela pegou uma MALDITA ARMA e ATIROU! Porque é isso que um trouxa pensa de um bruxo quando a própria irmã não passa de aberração. Você podia ter me ajudado quando dei espaço, quando eu implorava para alguém ajudar. Podia ter suspeitado de Petúnia como fez agora, mas escolheu não mover um músculo e agora quer que eu diga o nome do meu guardião para que? Dar a Dumbledore? Mande-o segurar sua mão e os dois juntos podem ir para a casa do caralho com sua hipocrisia.

Severo estava tão impressionado com a forma chula com que aquele garoto sempre tão educado estava falando que até mesmo perdera as palavras.

- Quer dar uma informação para aquela cabra nojenta? Eu nunca, NUNCA, vou perdoar ninguém que se julga "amigo dos meus pais" e não teve a decência de fazer-me UMA ÚNICA visita para averiguar o que faziam comigo. Não enquanto eu tiver isso no corpo! – e com um movimento rápido, o garoto arrancou a parte de cima de seu uniforme.

Snape nunca, jamais, acharia que estava preparado para ter aquela visão.

Os braços, peito, pescoço, tronco e qualquer área visível mostrava uma rede de marcas irregulares, algumas mais proeminentes do que outras. Cicatrizes que variam em tamanho e forma, algumas finas e longas, enquanto outras mais largas e irregulares, mas sempre deixando uma sensação cruel de repulsa pela destruição da carne.

Os braços exibiam linhas onduladas que serpenteavam ao redor dos músculos em uma cor mais escura e opaca, que gerava flacidez e rigidez distorcida simultânea a depender do ponto que se observava.

As juntas, agora eram contorcidas por cicatrizes que rasgavam com movimento, interrompiam a que a pele deveria ter suavidade e que as mangas sempre cumpridas do uniforme e da jaqueta do garoto jamais permitiam mostrar.

Seu peito era uma tela de áreas enrugadas e endurecidas, queimaduras antigas, espalhadas como uma rede irregular pelas costelas, descendo até sumirem no cós da calça ou nas costas, tudo testemunha de um calor intenso que o atingira.

O corpo de Harry Potter, para horror de Severo Snape, eram traços irregulares e descoloridos que se estendiam por todas as partes.

Apesar das imperfeições visíveis, havia uma beleza na maneira como ele carregava suas marcas, uma força silenciosa que emanava de cada cicatriz.

Cada uma muito maior do que aquela tão famosa em sua testa.

Muito mais pesadas.

- É isso que sua ajuda e de todos os amigos dos meus pais me conferiu. Então podem enfiar a ajuda pela boca e engolir como uma bola de parafusos, espero que desça rasgando – com essas últimas palavras ele se virou e correu decidido para a saída.

Ao menos seu corpo se moveu, porque mais nada, nem seus pensamentos vinham a Severo, ele apenas correu atrás daquela criança destruída e tentou alcançá-la antes que saísse pela porta.

Quando Potter abriu, entretanto, ambos se depararam com uma pessoa parada logo à frente dela.

Era Neville Longbottom.

- Já viu se o livro está aí? – uma voz diferente, mais ao longe, questionou. Parecia ser do Weasley.

Harry e Neville trocaram olhares. Longbottom encarou o amigo de cima a baixo, vendo seu estado e, tão rápido como uma águia dando bote, arrancou sua capa de Hogwarts e enfiou-a pela cabeça de Harry, o abraçando e gritando por cima do ombro, para fora:

- Não está aqui, Ron! Vamos procurar em outro lugar!

Então, sem mais nada a dizer, empurrou Potter para dentro novamente e fechou a porta com força pela rapidez.

- O que está fazendo, porque está sem capa? – Ron perguntou ao se aproximar.

- Eu não coloquei capa hoje o dia inteiro, Rony – Neville mentiu.

- O que? Está brincando, não é?

- Não.

- Eu juro que te vi de capa!

- Juro que não usei.

- Que droga. Estou muito avoado hoje. Primeiro perco meu livro, agora isso.

- Não ligue para isso, vamos sair – e começou a encaminhar o amigo para longe da sala de poções.

- Snape estava aí? Devia ter me deixado procurar...

- Está tudo bem. Já tenho cinco meses de detenção, se ele quisesse me dar mais nem faria diferença. E você foi procurar na aula de Adivinhação. Veio rápido da torre até as masmorras, não acha?

A conversa, neste ponto, já estava tão longe que Harry não conseguiu ouvir mais.

Neville o empurrou tão rápido e forte que teria tido dificuldades para não cair, se Snape não estivesse logo atrás e o tivesse segurado. Harrison estava tão focado em outras coisas que só o deixou apanhá-lo.

Neville...

Harrison sabia que ele estava ali.

Sabia a um bom tempo.

Sentiu sua magia se aproximando, como alguém que sente o cheiro de um bolo gostoso quando se abre o forno. Ou de qualquer comida que se gosta quando está sendo preparada. Emanando pela casa até suas narinas e o deixando atento.

Ele sabia que Neville estava lá e se o amigo ia continuar evitando o assunto do que tinha acontecido consigo na sala de Dumbledore...

Se ia continuar entrando na sala de Dumbledore, então Harrison ia puxar o assunto de outra forma.

Ia lembrá-lo como ambos estavam presos aquilo.

Lembrá-lo de porque Dumbledore era odiado por Harry e como mais algumas atitudes não iam piorar isso. Que Nev podia ficar tranquilo se gostava do velho, Hazz não ia julgá-lo assim como nunca o fez.

Lembrá-lo de como Harry...

Como Harry estava quebrado e precisava da ajuda daqueles que efetivamente sempre estiveram lá e o distanciamento com Neville só o matava mais aos poucos.

Queria seu amigo de sempre de volta.

O protegendo, assim como foi com a cobra, com a comida quando criança nos Dursleys, ou o escondendo sempre que alguém poderia ver as cicatrizes de que sabia, Harry tinha vergonha.

Assim como agora.

Não só levando Ron para longe, mas cobrindo-o até de Snape antes de devolvê-lo à sala. Agindo como impulso imediato ajudá-lo ao máximo de tudo e todos.

Harry estava com saudades dessa pessoa...

- Potter – ouvir seu nome chamado por Severo o tirou do transe e o irritou, pois mesmo que Neville tenha sido a maior motivação para ir tão longe com Snape, ainda sim suas emoções eram sinceras.

Queria que aquele homem explodisse.

Como dizia Ivan e Tom odiava, por ser "muito vulgar": "Quero que ele se exploda e meu pau cresça".

Que se ferrasse Severo Snape e que coisas boas venham a Harry apenas.

- Estou indo – e tentou se soltar do homem, mas o adulto teve a indecência de segurá-lo à força.

- Espere um instante.

- Eu exijo que me solte agora.

Ele esperava que o homem fosse tolo o bastante para fazer algum comentário sobre como Harrison estava sendo muito rude com um professor e mal educado, ou algo assim, mas no lugar foi surpreendido com realmente sendo obedecido.

- Adeus.

Mas o outro ainda tinha algo a dizer que o fez parar:

- Poppy Pomfrey é possivelmente a melhor enfermeira de que tenho conhecimento.

O menino teve realmente que olhar para o homem diante daquele absurdo:

- Você está de brincadeira comigo, não está? Acha que uma enfermeira, de escola ou não, seria capaz de fazer o que com essa merda? Isso já aconteceu a anos e os bruxos não podem fazer muito com cicatrizes antigas. Quase nada se meu corpo retorcido é alguma prova. Você está querendo apenas me irritar ou o que?

- Eu confio muito em Pomfrey.

"E eu quero que você se exploda e o meu..."

- Não poderia me importar menos! – indignou-se.

- O torneio pode não pensar igual.

E aquilo calou o menino por um instante.

- Por favor, por favor, eu lhe imploro, vá até a ala hospitalar. Independente do que pensa de mim, deixe Poppy Pomfrey fazer uma avaliação do seu caso, deixe-a avisada, garanta que ela saiba de sua condição. Ela manterá como o maior dos segredos, assim como eu, ninguém jamais precisará saber, mas você precisa de uma revisão, ainda mais antes do torneio.

- Ninguém confundiria essas cicatrizes com cicatrizes novas se eu me queimasse por algum motivo durante as tarefas. Seu ponto não é nem válido. Se fosse necessário que os competidores tivessem uma avaliação médica, ela já teria sido feita.

- Por favor, mesmo assim, eu lhe imploro. Mesmo que por qualquer motivo, apenas permita que ela o veja. Mesmo que seja impossível fazer algo agora, é apenas um pedido e não o afetará em nada, então – ele não conseguiu terminar.

Harrison apenas se virou e foi embora. Usou um feitiço para trocar suas próprias vestes em sua mão de lugar com a capa de Neville.

Lakroff era melhor que ele em feitiços domésticos e ainda teve que ajustar a roupa e, decididamente, precisava averiguar seu estado no banheiro mais próximo.

Estava frustrado, muito irritado e pronto para xingar qualquer idiota que decidisse que era uma boa ideia irritá-lo agora.

Foi com esse humor que, andando pelos corredores mais desertos pelo horário, se deparou com "Alastor Moody" querendo lhe tirar uma palavrinha...

-x-x-x-

Marvolo estava com uma mão em frente aos lábios, o dedo indicador os segurando, o dedão apoiado no queixo, cotovelo na mesa, a mente por algum motivo cantando uma música trouxa.

Segurando a risada.

Lucius Malfoy e Theomore Nott estavam brigando.

Bartolomeu assistia horrorizado ao seu lado, como se fosse um absurdo agirem de forma tão infantil na frente do lorde.

Era.

Antes, Voldemort já teria os calado com uma maldição cruciatos.

Hoje em dia? Ele estava aproveitando como as pessoas eram tolas enquanto esfregava discretamente os pés descalços no tapete novo que tinha comprado.

O profeta diário no centro da escrivaninha atraindo a maior parte de seus pensamentos.

"Harry Potter, O menino que sobreviveu, aparece em Hogwarts apenas para ser morto?

Albus Dumbledore é um perigo para todos os alunos e ainda instaura um jogo sádico que pode ter como próximo alvo o seu filho!"

O garoto fizera uma jogada ainda mais interessante do que Marvolo previra, mas estava curioso agora. Quanto de sua influência havia nas palavras de Skeeter? Claramente ele deve ter usado a dica que Marvolo lhe mandara em correspondência sobre a forma animaga ilegal da repórter (esperançosamente sim), mas a forma como sua imagem foi diminuída, sua personalidade intensa alterada e como o alvo tornara-se um antigo inimigo de Rita, Albus, isso o intrigava.

Harrison Potter havia o desafiado e, principalmente, o havia feito como o atual lorde Slytherin. Isso exigia muita, muita cautela de Marvolo. Afinal, se o garoto quisesse, boa parte do exército de Voldemort seria seu. Isso, é claro, se ele também soubesse jogar com as nuances, coisa que Riddle sabia que sim, afinal o garoto já se mostrara tão inteligente quanto o próprio naquela idade. Tom Riddle, em sua juventude, seria capaz de pensar em como roubar a lealdade forçada daqueles homens a casa da Sonserina, não pensaria em Harrison como alguém diferente disso.

Portanto, ali estava a grande questão: havia um exército na corda bamba sem nem mesmo saber.

O que fariam com ele?

Harrison, claramente, tinha suas dificuldades enquanto aluno e alguém preso a Hogwarts e horários, de certa forma. Sua idade era um empecilho, mesmo que tenha sido emancipado. Sua experiência no geral não podia ser ignorada. Ele obviamente tinha uma desvantagem contra um inimigo muito mais velho e com muito mais bagagem em todos os ramos, mágico, estudos, vivências, desempenho em lutas, a guerra.

Potter seria um tolo se não soubesse calcular isto como uma desvantagem gritante que um simples título não o protegeria.

E claramente não estava-se falando de um tolo.

Potter tinha, portanto, que jogar bem com o que tinha e aquela era uma carta muito valiosa sua para apenas usar de uma vez e perder toda sua vantagem.

Era ali que estavam.

Uma guerra fria pela tomada de um exército formado.

Eles sequer tinham total controle sobre até que ponto os comensais haveriam de seguir apenas a linhagem ou Voldemort em si, lutando contra as juras antigas, ainda mais considerando que por ser um herdeiro poderiam nem ter consequências tão gritantes para tal atitude.

Era toda uma situação complicada, mas se havia uma verdade é que Marvolo estava em desvantagem, por isso precisava arrumar suas próprias jogadas.

A primeira? Conseguir um favor de seu "primo".

Dar uma informação útil para Harrison na sua última correspondência, uma que pudesse efetivamente usar para seus planos e ganhar benefícios, dava a Harrison o dever de realizar a próxima jogada.

Ele havia recebido um favor, se usasse, deveria Voldemort. Como pagaria por isso?

Um passo de cada vez e Marvolo poderia conseguir entender mais de seu inimigo, fazer uma avaliação completa e ter conhecimento o bastante para realmente enfrentá-lo sem cair em armadilhas.

Harrison usou o favor, o artigo dizia isso, mas ao mesmo tempo parecia tão pouco para realmente cobrar o garoto... teria que pensar bem na próxima carta que o enviaria.

"Mas fiquei um tanto intrigado, está pensando em anunciar-se como nosso lord já com a besoura, parece tão pouco... excepcional. Bem, talvez não queira nada além de um jornal expondo-o como novo prêmio no mercado casamenteiro, mas não me parece ser algo que o agrada".

Estas tinham sido suas palavras na última carta e, bem, Harrison realmente não havia usado Rita para expor sua posição de lorde da casa. Ele estava aguardando, como esperado.

"Fico apenas decepcionado que sua maior jogada venha logo tão cedo.

Um cheque no começo da partida, mostra apenas que falhei, não que tenha realmente uma capacidade melhor. E você demonstrou tanto potencial, que pareceria apenas desperdício."

Harrison não era, de forma alguma, alguém que desperdiçava expectativas. Ele as superava. Todos os planos que Voldemort formulara durante a semana anterior foram jogados no lixo tão rápido que seria frustrante.

Se também não fosse tão interessante.

"A propósito, é minha vez de fazer uma jogada?

Guarde seus exércitos, rei do inferno, já tive exemplos bons o bastante para conhecer seu poder e considerá-lo digno. Agora, mostrarei um pouco do que sou capaz. Espero que aprecie o show".

Tinha se sujeitado a pedir diretamente que Harrison não usasse o exército ainda. Que esperasse. Sua dica sobre a besoura pagou por ter tido seu pedido atendido? Ao que parecia sim, pois teve uma resposta, não só no jornal, mas em correspondência, que chegara um pouco antes de seus convidados barulhentos.

A carta, trazida por uma coruja das neves branca majestosa, que se retirou no instante que deixou o pacote na mesa, apareceu na quarta-feira. Um tempo maior do que Voldemort esperava para uma resposta curta, pequena para o que estava calculando.

Como dito, Harrison jogava suas ideias e planos pela janela, por isso precisava conhecê-lo mais antes de criar mais suposições inúteis.

Para: Clavance Amaymon Raaz.

De: Alvah Samael Raaz

Dizia o envelope.

Clavance, o príncipe demônio enigmático. Alvah, o rei do inferno. As alcunhas que usaram desde o Gringotts. A própria escolha de Harrison para sua alcunha, uma prova de como pensava parecido com Riddle e portanto, devia ser visto com a mesma cautela que seus inimigos deviam ter olhado para Tom em Hogwarts.

Na carta, Marvolo foi recebido com uma letra que pensara tanto nos últimos tempos que não conseguiria confundir

"Caro Clavance, aquele cujo o nome nem sempre é dito".

Garoto atrevido, pensara Marvolo.

"Quatorze anos são, realmente, um marco digno de nota, assim como disse.

O que as pessoas não são capazes de fazer nesse tempo?

Tenho certeza de que tentei aproveitá-lo ao máximo para conquistar o que venho lutando. E você? Soube que não obteve muitas chances, sinto muito por isso. Às vezes tomamos decisões erradas que nos levam a consequências irritantes.

Concordo que o retorno de nossa casa deve ser feito de forma adequada, como isto ocorrerá, entretanto, cabe a mim como lorde pensar. Espero que possa aceitar minha escolha como ela vier, não quero que nossa casa volte a ter rixas como a anterior tão cedo. Sabemos como acabou mal para todos os envolvidos, vamos tentar nos entender!

Claro que ainda precisarei me livrar de qualquer um que acredite estar acima do lorde, mas não acho que seja seu caso, sim?

Espero que nosso encontro realmente ocorra, assim que tivermos a melhor oportunidade para ambos, até lá acredito que nossa correspondência seja o bastante, se assim desejar. Porém, entendo se optar por ficar mais calado. Todos somos bruxos ocupados por aqui.

Acredito que alguém como você não necessite de uma resposta, caro primo, mas sim é sua vez de fazer uma jogada. Aguardo que seja ao menos interessante o bastante para me motivar a levar este jogo mais a sério, seu show no Gringotes não pareceu nada além de birra e sabemos disso.

Como eu sempre digo: espero grandes feitos de você, não se sujeite a nada menos que a excelência que nossa linhagem pede e não quero ser repetitivo, portanto, o resto fica implícito. Sem ideias tão idiotas quanto a taça, Et ceteras.

Não se preocupe com a besoura, já sabia como lidar com ela desde o princípio. Bastou um olhar para entender seu tipo, não foi sequer um desafio, apenas um incômodo.

Portanto, mesmo que seja sua vez, espero que não se incomode que eu faça mais uma pequena jogada antes de encerrar meu turno.

Nesta sexta teremos a publicação do jornal. Não diria que estou ansioso para saber o que aquele pedaço de papel tem a dizer sobre mim, mas você entende, não é mesmo? Há uma competição vindo e faz tempo que não apareço na mídia. Ao menos tem de valer meu tempo.

Do seu caro primo

Aquele que certamente odeia entrevistas".

Foi uma carta muito mais leve, talvez para combinar com a própria mandada por Voldemort. As coisas eram mais sutis e havia quase um clima amistoso ali.

A mensagem era clara.

Harrison estava disposto a responder Voldemort diretamente, seja como ele o instigasse a isso, mas não seria tolo e pouco mostraria nesses momentos. Se quisesse descobrir algo, teria que cavar bem fundo.

"Não se preocupe com a besoura, já sabia como lidar com ela desde o princípio."

Aquilo o preocupava, se Harrison tivesse muita influência sobre o possível vidente e herdeiro Grindelwald, ele poderia já ter tal informação e a tentativa de Voldemort teria sido inútil.

Mesmo assim, ali estava, madrugada no início de segunda-feira, e Harrison não havia revelado nada. O segredo de quem era o Lorde Slytherin ainda era exatamente o mesmo.

Porque, então? A informação foi um pagamento adequado por seu pedido claramente egoísta? O garoto realmente concordou que não era a hora de usar seu trunfo?

Era terrível ter um adversário digno, pois nada era certo.

Era interessante e estimulante pelo mesmo motivo.

Afinal, no fim, Marvolo nunca perderia, sabia disso. Profecia ou não. Voldemort triunfaria sobre o mundo mágico. Agora, todavia, estava diante do que era sua vez de jogar e precisava de um bom show. Garantiu isto ao garoto e falhar em algo tão insípido era degradante e, portanto, não podia acontecer.

Só que para fazer as coisas sem correr um risco muito grande dependia de um grupo de humanos bem menos sagazes.

- Vocês.

Foi um simples chamado, porém imediatamente Lucius, Theomore e Barty pararam com a barulheira que estavam fazendo para lhe dar total atenção. Um coro de "sim milorde" acompanhando.

- Se terminaram com a troca de rivalidades, ou se não, quero continuar com os relatórios.

Outro coro, claro milorde, disseram e reiniciaram a antiga conversa.

O que Voldemort sabia era na mesma proporção pouco e muito.

Entendia como o garoto Potter, ou Peverell-Potter, vinha agindo diante de sua nova posição e como isso afetava os alunos em si.

Estava indo com calma e cautelosamente, quase como se isto não fosse importante por hora. Os alunos da Sonserina, entretanto e como esperado, estavam mais do que nunca loucos pela oportunidade de se juntar a seu círculo íntimo e fizeram diversas jogadas.

Pouco ou nenhum sucesso foi percebido por Crouch.

O mais interessante, entretanto, era em relação aos mesmos que estavam próximos desde o princípio.

Ao que tudo indica, sua "corte", como eram chamados pela Durmstrang, estava mais próxima e intensa do que nunca, o que poderia indicar que foram jurados. Um problema para Voldemort, mas controlável.

Lovegood continuava parecendo gerar muito interesse e dedicação do menino, então Bartô foi instruído a ficar de olho.

Marvolo, como sempre vinha notando pelos detalhes, estava mais diferente, atento ao redor e consciente como não estivera com tantas Horcruxes. Conseguiu perceber que ao apontar seu interesse na senhorita Lovegood, Bartolomeu pareceu incomodado, mesmo que não tivesse hesitado em concordar com a ordem.

Lembrou-se que o garoto era amigo, em seu tempo de escola, com a mãe da garota e decidiu que seria melhor tirar qualquer problema que essa ligação emocional pudesse causar, garantindo ao comensal que a menina não deveria ser envolvida mais que o necessário e jamais machucada.

Funcionou e seu comensal pareceu notar o que seu lorde fez por si, pois ficou ainda mais enfático em sua bajulação e adoração depois disso.

Theodore Nott, que estava desde o princípio sentado e acompanhando de perto Harrison, tinha sido obviamente instruído a estreitar mais seus laços e descobrir o máximo que conseguisse.

Foi um fracasso, na visão de Voldemort.

O garoto foi confrontado com uma barreira gélida de indiferença constante. Não que seu pai tenha admitido, mas Marvolo ordenou que fornecesse diretamente as correspondências com o herdeiro e percebeu a realidade de seu fracasso.

Harrison não parecia nem um pouco interessado em Nott, por mais que este tentasse, e apesar de não o negligenciar de forma ativa, apenas desviava habilmente de seu avanço exatamente como se soubesse o que o outro estava tentando.

Enquanto isso, Malfoy tinha sua total atenção. Draco parecia atrair cada olhar de Harrison na mesa da Sonserina, mesmo que conversasse de forma ativa cada dia com mais dos herdeiros, Malfoy era claramente o preferido, ainda mais quando estavam em grupos menores.

E, de novo, Marvolo teve que ressaltar a inteligência do garoto. Afinal, mesmo dando clara vantagem a Draco Malfoy, não havia dito ou feito nada que o mesmo pudesse reportar ao pai, e no processo estava conseguindo inverter o jogo a seu favor. Afinal, agora, tinha dado atenção para um Malfoy, assim como aqueles arrogantes gostariam que sempre o fosse, deixando-os muito mais maleáveis por se sentirem superiores ou especiais, e por consequência irritava um Nott, que em sua rivalidade centenária não conseguia aceitar estar perdendo tão descaradamente para um Malfoy. Portanto, também estava maleável, pois poderia fazer quase qualquer coisa por uma vitória.

E isso também significava errar.

Harrison sabia exatamente com quem estava lidando e como lidar, os tolos apenas não o haviam notado ainda e isso era muito engraçado.

Decididamente algo que teria feito se fosse o menino.

Ademais, não havia o que pudesse usar diretamente contra o garoto, então focou em seus planos para Lakroff Mitrica, a família Grindelwald, a profecia e para o baile que estava planejando.

Ao fim dos relatórios, quis apenas confirmar:

- Lucius – chamou e o homem pareceu ao mesmo tempo com medo e ansioso.

Isso foi estranho, queria dizer que havia algo que o homem achava que merecia algum tipo de mérito e que ainda não tinha levantado.

- Minha entrada em Hogwarts para assistir a primeira tarefa?

- Já foi confirmada, milorde. Como antigo presidente do Conselho de Governadores de Hogwarts, mesmo que Dumbledore tenha dado uma forma de retirar-me do cargo, ainda faço parte e tenho muita influência sobre alguns dos outros onze membros.

Voldemort ainda queria cruciar o idiota por ter perdido um cargo tão valioso apenas por algo tão estúpido como ameaçar amaldiçoar as famílias dos os outros onze governadores se não suspendessem Alvo Dumbledore do cargo de Diretor de Hogwarts.

Para que algo tão ridículo, quando se tinha os malditos cofres dos Malfoy repletos do dinheiro que os faziam acreditar-se superiores a tudo e a todos.

O dinheiro ocupou todo o espaço naquelas cabeças ocas ou era o cloro para descolorir cabelo?!

Vamos usar ameaça ao invés do bom e silenciador suborno, quando não passamos de um bruxo medíocre? Claro que foi denunciado e quase expulso!

O loiro continuava alheio ao ódio e escárnio de seu mestre:

- Todos estão convidados, é claro, para assistir as tarefas e ter certeza de que está tudo bem para segurança, bem estar e estudo dos alunos mesmo com o evento, mas alguns não poderão comparecer. É aí que o senhor poderá me acompanhar, milorde, como um conhecido de confiança. Convenci um dos membros a ceder o assento nas arquibancadas e – foi interrompido.

A arrogância de que tinha feito um bom trabalho irritando Marvolo além da conta, quando não passada de medíocre:

- Pague-o.

- Como, milorde?

- Este bruxo a quem convenceu a não ir. Pague-o. De forma generosa. Diga para fazer uma viagem com a família ou coisa parecida.

Lucius quis perguntar, mas o olhar do lorde das trevas foi o bastante para calar sua curiosidade e garantir que se curvasse em concordância:

- Como desejar, milorde.

- E a mídia?

- Está confirmado. A votação na suprema corte aconteceu, como o senhor nos comandou e o direcionamento de Bartolomeu, na segunda-feira passada, quando Augusta Longbottom estava ocupando Albus Dumbledore. Ele não conseguiu comparecer ao chamado de emergência e ir contra ao pedido de abrir o evento para a mídia local e exterior. A favor de começar um trabalho de melhorar a imagem da Grã-Bretanha mágica acerca do "fiasco do final da copa". A maioria dos nossos concordou, obviamente, com minha ideia de que mostrar o novo evento sediado por nós e a segurança que estamos querendo garantir ao evento e aos envolvidos seria bom para nossa imagem pública.

Neste momento, Theomore praticamente empurrou Lucius, mesmo que disfarçando isso com um mal jeito no joelho ao andar para mais próximo de seu senhor, iniciando ele mesmo uma conversa que tinha muito menos aquele tom de arrogância que Lucius cuspia:

- Meu senhor, se me permite, venho conversando com as pessoas certas no ministério e mesmo os mais receosos antes estão acreditando que este foi o melhor movimento que poderia ter sido feito. Com a reportagem de Rita Skeeter sugerindo que a falha por Harrison Peverell-Potter ser um participante do torneio é erro puramente de Dumbledore, a população em peso está com os olhos no diretor e sua má administração em um momento tão delicado. É quase certo entre as rodas de conversa no governo que Albus não deveria ter ficado responsável, e nem deve estar, diante de mais nenhum outro aspecto do torneio. Essa decisão também não parece estar sendo rejeitada pelas massas, isso nos dá mais força para fazer com que a população concorde com interferência mais direta do ministério na educação a partir do próximo ano, o que nos fornece uma vantagem maior e nova, que substitui aquilo perdido pela expulsão do cargo de presidente por Lucius do Conselho de Governadores.

- Escute aqui, Nott – começou Lucius e Marvolo viu outra briga pronta para se iniciar.

Uma que não estava mais disposto a suportar:

- Quietos.

- Sim, milorde.

Com isso, pensava Marvolo, todos terão a chance de ver Harry Potter bem e em sua melhor forma, se assim tudo correr bem na primeira tarefa.

Ele e seus comensais escorregadios, que poderiam ainda acreditar naquela teoria absurda de que o garoto era o futuro e melhor lorde das trevas, por tê-lo "derrotado" no passado.

Os pegaria nesse momento.

Tudo ia de acordo com o que queria.

- Barty, quero que faça uma coisa em Hogwarts para mim.

Quando o amanhecer da terça-feira era escondido por cortinas grossas em seus aposentos privados, Marvolo não pensava em seus planos. Estes já tinham um lugar em seu palácio mental, muito bem organizado. Talvez fosse a hora de dormir, a humanidade recém adquirida ou o sono, mas sua mente decidiu perseguir e viajar por ramos mais fantasiosos.

Se viu pensando em uma teoria interessante, porém perigosa, enquanto se deitava.

Talvez, e isso era apenas um talvez, Harrison Peverell-Potter, o Lorde Slytherin...

Não apoiasse Albus Dumbledore.

Era de se esperar que "o menino que sobreviveu" apoiasse o homem e a causa de seus pais, como dizia o jornal de sexta, entretanto... Além de um passado que não o pertencia, mas sim aos pais, e um apego humano, mas ainda tão tolo na visão de Marvolo, nada mais parecia mover a ideia de que Harrison Peverell-Potter, futuro lorde de quatro casas, três das quais completamente embutidas nas sombras em sua história e essência, um aluno da Durmstrang que fugira da Inglaterra sem dar qualquer satisfação à velha cabra e eu estado britânico da luz...

Nada.

Nada o levava para um cenário onde fosse, mesmo que não uma de suas cabras, alguém que apoiasse politicamente Albus Dumbledore.

E se isto fosse uma verdade, se o garoto não estava naquele lado do tabuleiro, e então?

De que lado estaria?

"Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês"

Poder para vencer...

Mas havia desejo?

Claramente não eram amigos e Marvolo já tinha tudo pronto para pôr as mãos na profecia inteira em breve, mesmo assim aquilo martelava em sua cabeça.

A possibilidade de que, no fim, talvez não fossem obrigatoriamente inimigos.

A primeira tarefa estava chegando, faltavam apenas oito dias e poderia ver pessoalmente o que o garoto tinha a oferecer, as ideias errantes podiam ficar apenas no ramo da imaginação.

Mas...

Que interessante seria, não? Se aquele com poder para vencê-lo fosse parte de seu exército?

Ele riu, do absurdo disso, de como Dumbledore cairia fácil e de forma humilhante.

-x-x-x-

"Vossa majestade,

Aquele preso aos 'fantasmas do passado' (ou assim diriam seus tão odiados jornalistas);

Achei a leitura do profeta essa sexta-feira muitíssimo intrigante, sem dúvidas nada comparado a qualquer outra edição da semana e mesmo a edição dominical. Sem dúvidas o senhor realmente soube reviver aquela revista de fofoca para algo valioso.

Soube que Harry Potter, o menino que sobreviveu, está em Hogwarts? Empolgante, não é? O que diriam os que se fascinam por isso se soubessem tudo que se guarda atrás desse nome velho...

Dito isso, a quem pretende enganar, milorde? Porque o faz?

Claro, não precisa responder, afinal nós dois sabemos da maior parte.

Ah! As doces e cegas massas! Dê-lhes algum pão e acreditarão em todo o circo! Dê-lhes uma boa combinação, e veja-os virando sua atenção e seus forcados ao líder!

Então, Albus Dumbledore pode ter colocado seu nome no torneio para desviar a atenção de suas próprias atitudes? Que atitudes são essas, precisamos saber Skeeter! A dona da verdade! Como nos tortura com o mistério, que mulher impiedosa!

Mesmo que, a meu ver, seja muito curioso como esse discurso vai e vem para distrair o leitor desatento. Quem colocou o nome do quarto participante? Ele próprio em busca de se provar ao seu país de origem? Ou o diretor cheio de segredos que podem destruí-lo e a todos.

Uma grande besteira, circo em toda essência, mas devo dizer que, desta vez, até eu me vi cativo.

Divertido, divertido.

Ainda mais, imaginar até onde esta história poderá nos levar, se achou pertinente convencer a besoura a esta perspectiva. Dumbledore é um alvo antigo, mas, portanto, também parece tão desinteressante diante de um novo e tão ilustre. Para ser dissuadida com tanta facilidade ao descarte...

"Mas dos grandes que sejam hostis" me peguei pensando "deve não só temer ser por eles abandonado, como ainda que o ataquem".

[N/A: Essa é uma citação de Nicolau Maquiavel. Refere-se a ideia de que aqueles no poder, querem estar, permanecer e o povo deve-se lembrar que para isso, eles sempre serão hostis em essência e você deveria ser em igual intensidade, pois devemos temê-los como pessoas que vão nos abandonar pelo seu próprio ganho, mas não só isso, se encontrarem uma vantagem em nos atacar, o farão para continuar no topo. Exatamente o que Tom usava a seu favor para convencer os Comensais a atacar pessoas mais fracas, como trouxas, para garantir não só continuarem no poder conforme seus números diminuem, como para ganhar mais. Essa proposta que os moveu a favor de Voldemort. Ele cita isso com Rita, parte do povo, atacando alguém no poder, Dumbledore e o risco que atacar alguém assim cria].

Foi um bom movimento, caro primo, sem dúvidas.

Quase dificulta minha tarefa em superá-lo, mas...

Apenas quase.

Como sempre, você reativa meu interesse em enfrentá-lo e observar seu desempenho nesta partida.

Mas falemos de outras coisas que não os jornais, parece-me muito uma conversa para ocupar espaço entre desconhecidos. Somos bem mais que isso, merecemos contos mais profundos. Ou pessoais.

Estou pesquisando sobre outras culturas, sem querer parecer apenas um escritor sem objetivo, mas acredito que uma correspondência amigável entre familiares jamais fornecerá os devidos laços se não gastarmos ao menos um pouco de nosso papel com trivialidades. O que pensas sobre isso? Me alerte se não for de seu agrado.

Mesmo assim, como ia dizendo, venho querendo conhecer mais bruxos. Sabe que já viajei muito e tive acesso a muitas culturas, mas o mundo é tão vasto que parece que há sempre algo novo para se ver. Já teve a oportunidade de conhecer mais países além do que foi criado? Sei que ao menos teve a Grã-Bretanha, mas o outro segue uma incógnita, apesar de ter minha pista ao ter se matriculado na Durmstrang.

A menos que a tenha escolhido apenas pelo ensino único de uma arte específica?

Ah, essa também me interessa por demasia, se tivesse tido a opção de escolha em minha época teria ficado muito dividido entre o lar do legado de nossa família, ou aquela onde podemos avançar na arte mais complexa e fascinante da magia. Onde realmente podemos ser artistas, descobrir e criar, indo contra o que já está estabelecido, rumando para o sombrio e infinito "quem pode dizer?", aquilo que nunca se viu e sempre se pode tentar ir mais e mais além.

A magia da luz tem um limite muito inconveniente para seres tão cheios de potencial quanto bruxos, não concorda?

As trevas possuem incerteza e isso as torna belas. Qualquer luz ali pode ser acesa, mas apenas os melhores não a deixam apagar. Acendem novas e novas e vagam por todo o breu incessantemente deixando que sua mente seja preenchida por esse conhecimento novo e infinito.

O quanto conseguiu aprender até agora, caro primo? Ou os jornais estão certos e sua mente é apenas fraca demais para acreditar na beleza dessa noite sem estrelas? Aprende a arte apenas como um espectador passivo? Que desonra para a nossa família seria um lorde tão brando.

Uma pena.

Ao menos, agora que tem a chance de pisar onde nosso ancestral tanto batalhou para construir, mesmo que emprestado companhias nem sempre exemplares, o que achou do lugar? Descobriu coisas interessantes? Você terá pouco tempo, será que poderá ver tudo?

Como seus colegas de casa o receberam?

Realmente estou escorregando para trivialidades hoje. Desculpe-me meu jeito, parece que estou apenas curioso com um primo que a muito não vejo. Um tanto imaturo de minha parte, mas se me permite a ousadia.

Você também não está curioso sobre mim?

Deu-me, devo dizer, a impressão de que sim em sua primeira carta. Ou apenas queria saber sobre minha saúde?

Também estou curioso sobre suas perspectivas sobre o torneio. Ansioso para a primeira prova?

Você encerrou sua jogada com uma última carta, iniciarei a minha com um rebate. Soube da última notícia? Você será assistido por olhos internacionais. Se me disse antes para não fazer feio diante do peso de nosso nome, agora digo para não só honrar o nome, mas lembrá-lo a todos! Faça o melhor, mostre porque é o lorde!

Todos estarão vendo e o senhor não deveria esquecer-se da importância da opinião pública, e principalmente da alta classe, para a notabilidade de nosso título. Se sair por aí como um lorde incapaz de ganhar de três outros bruxos em um simples desafio, poderá arruinar o valor de nossos antecedentes.

Sim, sim, estou parafraseando-o, mas se me permite ser um pouco jocoso.

[N/A: Jocoso. adjetivo. Que provoca o riso; engraçado, divertido, cômico. Alguém que brinca].

O Ministério estava com muitas dificuldades para melhorar sua imagem internacional depois de sediar um evento como a final de uma copa que, não só durou pouco tempo, mas encerrada de forma desastrosa. Os culpados, além de tudo, sequer foram reconhecidos e punidos, sem dúvidas isso piora muito o estado da Grã-Bretanha que só tem a dizer uma palavra sobre uma simples elfa doméstica. Triste, sem dúvidas. Entretanto, mostrar outro evento esportivo para saciar a sede da população e mostrar aos jornalistas nossa capacidade e dos nossos aurores em garantir a completa segurança de todos os alunos. Mostrar que o erro jamais se repetiria e foi cometido apenas pelo clima inebriante de festividades antes e que, agora, tudo ocorrerá em perfeição, parece ser uma ótima oportunidade para o ministério. Não acha?

A câmara dos lordes na Suprema Corte Bruxa achou.

Seu padrinho parece que foi um dos que perdeu o chamado, o que será que aconteceu? Que bom que não se tratava de nenhuma votação tão importante. Ocorreu às pressas, entende? Para ter certeza de que haveria tempo para divulgar, convidar representantes adequados das mídias mundiais que estivessem interessados em acompanhar o evento e se comprometer com o tempo que este levará, além de se preparar com a quantidade correta de aurores. Claro, também garantir mais auxílio a Hogwarts para que tudo esteja nos conformes e adaptado ao público estrangeiro convidado.

Nada de falhas.

Ao que parece Lucius Malfoy foi quem tomou a frente do projeto, deve vê-lo em Hogwarts se tiver tempo. Como foi algo muito em cima da hora, há muito trabalho a fazer, mas meus colegas estão como você deve ter notado, se movendo com eficiência para garantir que novos rumos sejam dados ao seu torneio.

Afinal, o que é a glória eterna se apenas um pequeno grupo de uma geração de bruxos pode assisti-la?

Veremos mais disso em breve, acredito. A semana será agitada.

Espero, caro rei do inferno, que não fique acanhado com tal notícia.

Estou ansioso para vê-lo enfrentar a primeira tarefa.

Tente sair vivo, é claro. E quebre a perna!

Do seu primo.

Aquele que ainda tem a vez na jogada".

[N/A: Quebre a perna é uma frase usada no teatro para desejar sorte e uma ótima apresentação].

VOTEM NO CAPÍTULO!

Gostaram? Espero que sim. Deem suas opiniões do que acham que tem no próximo capítulo (ele já está quase pronto!)

Torçam para os betas me ajudarem e lerem o 49 rápido, para poder terminar a edição e postar.

Sendo assim, até sabe se lá quando! Beijos!

PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited

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