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Capítulo 47 - Dê-me sua mão e mostre-me um sorriso


ATENÇÃO! 

Esse é o SEGUNDO capítulo APÓS O HIATUS. 

Fique atento para ter certeza de que foi aqui que parou, os dois capítulos foram lançados com menos de vinte e quatro horas de intervalo. 

Espero que gostem e comentem MUITO que esse foi um dos meus capítulos preferidos da fic e se vocês não gostarem tanto quanto eu, vou quebrar.

(brincadeiras a parte)

Lembre-se que se está gostando do trabalho dessa autora tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited. O prólogo está disponível nesse mesmo perfil, dê uma chance e leia ao menos ele!

Uma boa leitra!

VOTEM!


Capítulo 47 - Dê-me sua mão e mostre-me seu sorriso


"Harry estava aprendendo. Percebia, aos poucos, como guardar o peso do mundo apenas para si não pouparia ninguém, pelo contrário, ele ficaria com dor nas costas e machucaria aqueles que se importavam consigo. Os que veriam seu sofrimento, sentindo que não foram capazes de protegê-lo disso.

Neville tinha a capacidade de perceber o mesmo, além do poder e liberdade para tirar aquele estorvo, aliviando a dor de seu amigo. Ele só não fez".


Harrison encontrava-se tão distraído e inquieto que até seus olhos estavam um tanto perdidos. Não que alguém além da coisa no fundo de sua mente notasse, é claro, por fora o adolescente era apenas o bom e velho presidente do conselho estudantil da Durmstrang.

A imagem da perfeição, pensavam alguns que encaravam-no quase que hipnotizados, como se não fosse possível ficar no mesmo salão sem olhá-lo ao menos alguns instantes, pelos mais breves segundos que fossem. Insetos atraídos pela luz. Mortais atraídos pelo divino.

E o pirulito que tingia de vermelho seus lábios sempre que o garoto girava o doce desatentamente dentro da boca.

Alguns eram bem mais indiscretos com isso. Ivan tinha um sorriso estranho estampado no rosto, enquanto repousava o queixo no punho fechado e não tirava os olhos da boca de sua alteza. Axek deu um soco no meio irmão quando escutou alguém murmurando (quase gemendo) quando Harrison tirou o doce e lambeu os lábios para controlar a saliva. Como se o russo tivesse culpa de quem fora ainda mais indiscreto que ele! Mas nem isso tirou sua atenção. Se quer teve o trabalho de responder grosseiramente o irmão, como normalmente faria, apenas deu uma risada curta e continuou apreciando o "show".

Na verdade, ele tinha que falar com sua alteza, pedir uma informação sobre o projeto que estava escrevendo para o conselho (foi para isso que direcionou sua atenção naquela direção para começo de tudo, mas a visão toda o parou), não quis interromper a linha de raciocínio do garoto que encarava fixamente as folhas à sua frente na mesa, totalmente alheio às pessoas...

Sejamos sinceras, apaixonadas na visão do Lorde Peverell-Potter e seu pirulito de cereja (talvez morango, mas quem se importava com o sabor do doce?). As pessoas estavam curiosas com o sabor dos lábios.

"Já pensou em só ir lá e falar diretamente com ele?" questionou Tom, tão alheio aos hormônios adolescentes na mesa quando o seu adolescente era tão indiferente aos próprios.

Harrison percebeu, com a voz em sua cabeça, que já deveria estar em sua décima tentativa de ler o mesmo maldito parágrafo. Falha, é claro.

"Se te serve de consolo" continuou a horcrux, o medalhão esquentando confortavelmente por baixo das vestes de forma a deixar sua presença mais perceptível "Eu li o documento inteiro enquanto você tinha suas crises adolescentes, te explico depois o que fazer".

"Obrigada pela ajuda, ó grande sábio" ironizou o garoto frustrado, enfiando o pirulito irritado na boca e mordendo um pouco para segurar qualquer expressão que demonstrasse que estava conversando com as vozes de sua cabeça.

Considerou morder forte o bastante para quebrar a esfera de açúcar e engolir de uma vez, mas não sabia se Lakroff não viria depois com uma explicação detalhada sobre biologia e como o consumo de glicose não só era importante para alguém que já estava a quase uma semana inteira tomando regularmente a poção de sono sem sonhos, como deveria ser feita de forma moderada após o desjejum para não causar efeitos colaterais mais extremos no organismo e no sistema imunológico.

Ou qualquer coisa do tipo.

Com todo o respeito, Harrison nem se preocupou em entender tudo que o tio-avô usou de motivação para lhe enfiar um pirulito na mão logo pela manhã, entendeu apenas o básico: consuma açúcar. Você não está comendo direito em Hogwarts, precisa regular seus carboidratos se quiser continuar fazendo corridas pela manhã e aguentar até o fim do dia. A conversa também teve uma pequena troca de pilhérias quando Hazz apontou provocativamente que ele estava dormindo bem mais que o costume, então seu corpo deveria estar tendo mais energia que o normal, então alimentação era opcional.

Se Lakroff fosse do tipo de bater, sua expressão deixava claro que ele teria acertado uma no pestinha. Tom, por outro lado, não tinha os mesmos limites. Ele fez a cicatriz do garoto doer o bastante para que se curvasse, mas ainda estava rindo quando o fez.

Tudo isso, é claro, foi assim que estava saindo do barco para sua corrida matinal e só agora, a caminho do salão principal para o café da manhã que se lembrou da coisa e a desembrulhou. O gosto não era ruim e não o atrapalhava enquanto separava seus documentos diante de si. Estava praticamente acabando a parte mais densa da papelada e poderia ficar mais tranquilo até a primeira tarefa, apesar de que lembrar dela lhe deu uma sensação muito esquisita de vazio na boca do estômago, Hazz apenas ignorou e começou seu trabalho.

Até ouvir a voz de Neville.

Esse era o motivo da sua semana de merda.

Ao menos, o motivo que mais o deixava louco.

Naquela hora da manhã de uma sexta-feira não se pode dizer que a movimentação era a mesma de sempre. Claro, já era maior que um fim de semana, por exemplo, mas as pessoas já estavam começando a relaxar diante dos próximos dias de folga. Quando o trio de ouro entrou no salão, Harrison pôde ouvir claramente (talvez porque já estava prestando uma atenção redobrada especialmente nisso).

Neville estava descaradamente o evitando.

Por mais que fosse melhor em disfarçar a atitude do que Harrison julgaria que o amigo seria capaz, ainda era uma perceptível. Pelos deuses, o Potter tinha um – infernalmente preciso – mapa de todos no castelo para ajudá-lo a localizar o Longbottom e mesmo assim o menino deu conta de lhe escapar durante todos os dias desde segunda a noite quando Augusta e Heris invadiram aos berros a sala de Dumbledore.

Se não fosse pela sua Corte, Hazz teria explodido, ele sabia disso. Nem mesmo aquela cratera em suas costas tinha se curado ainda de tanto estresse que sentia sempre que conseguia achar o pontinho escrito "Neville Longbottom" no mapa dos marotos e quando se aproximava, ele já estava cercado de outros pontinhos (impedindo que conversassem de assuntos mais sérios).

"Hazz! Hermione está me esperando, quer que eu faça algumas perguntas da matéria antes de começar a aula para ter certeza de que está em dia. Tem alguma dica para os NOMs que eu possa lhe dar? Ela anda muito ansiosa com isso e só estamos apenas no quarto ano" disse na terça, quando o interceptou no caminho para o café da manhã e, como se fosse invocada, a garota apareceu empolgada fazendo todo o tipo de questionamentos a Harrison que tinha feito a prova ainda no ano anterior.

O resto do dia o assunto sempre voltava, Neville não desgrudou do restante de seu trio e Hermione parecia uma arma semiautomática de perguntas. "Mas e se nossas provas forem muito diferentes por causa do país?", "Mas elas não deveriam ser, certo? A educação mágica deveria ser unificada, será que é?", "Mas vocês estudam magia sombria, isso não deveria cair na prova, substitui que matéria nossa? Ou vocês têm mais? Devem ter, não? Vocês já têm mais eletivas! Ah, eu tenho tanta inveja disso..."

Hazz desistiu de tentar se Hermione estivesse a poucos metros no mapa de onde o Longbottom estivesse.

"Oi Hazz, Dino estava me contando sobre um jogo trouxa que assistiu com Simas nas férias" ainda sim Neville disse na quarta quando o pegou depois da última aula. Hermione não estava perto, mas não havia reparado em outros colegas de casa (obviamente, porque iria se importar?!).

Na quinta ele tentou em 4 momentos diferentes e, no fim, teve que conversar mais com Ron Weasley, Granger e até Ginevra Weasley do que com o alvo correto!

Com todo o respeito aos alunos da Grifinória, tinha até amigos que eram, mas estava querendo botar fogo na casa para ver se isso os dispersava um pouco.

Lembrar disso o fez arranhar o pirulito entre os dentes antes de tornar a engoli-lo ao ponto de só deixar o cabo a mostra (cabo este que também deu um jeito de morder). Mesmo que Nev estivesse sempre acompanhado, puxar um assunto sempre que Harrison se aproximava era apenas um truque. Fingia tentar fazer seus amigos se conhecerem, mas...

Que droga!

Ele devia saber que o Potter queria falar sobre tudo que aconteceu na segunda-feira. Normalmente Nev seria atencioso aos sentimentos do amigo, dispensaria os outros e chamaria Hazz para um canto, o que devia ser um sinal de que não era uma ação totalmente consciente. O leão era muito empático para estender a agonia de um amigo por tanto tempo e não tinha traços manipulativos para pensar em uma desculpa tão sutil...

Certo?

Provavelmente ele estava sim fugindo do assunto, pois não se sentia confortável para falar agora, Hazz tinha que respeitá-lo e sua forma tímida de demonstrar isso. Faria isso, claro, o que Neville não lhe pedia que não fizesse correndo?

Mesmo assim não quer dizer que o deixava menos transtornado!

"Dumbledore o atacou, o violou, depois de fazer Nev confiar no desgraçado! Depois de usá-lo tantas vezes!" pensava, fervilhando de fúria e encarando o maldito pirulito agora, como se aquela fosse a própria cabeça do diretor de Hogwarts "Eu podia te queimar. Podia. Você sentiria toda a minha raiva enquanto eu vejo sua pele derreter e escuto seus gritos. Com sorte você pode ser como eu e sobreviver, desgraçado".

Quando notou que o doce começou a tremer em sua mão, mostrando como seu corpo estava o traindo pela raiva, tentou devolver à sua antiga função e lambeu devagar, controlando cada movimento, disfarçando sua crise de ódio. Pareceu uma tentativa bem pífia, por isso olhou para Viktor à sua frente. Apenas uma averiguação silenciosa de se ele parecia tão louco quanto...

Bem, quanto era.

Mas a expressão de Viktor serviu mais para deixá-lo confuso do que dar alguma resposta.

- O que foi? – perguntou, o olhar também correndo pelos outros na mesa (que tinham expressões igualmente estranhas).

Ele tinha feito algo tão bizarro que ficaram paralisados?

Viktor sacudiu a cabeça, Ivan sorriu torto, Axek revirou os olhos, o trio de apanhadores da Sonserina sincronizadamente raspou as gargantas e desviou o olhar, quando virou-se para Draco e Nott ambos estavam com as bochechas vermelhas. Por outro lado, Heinz riu, assim como Pansy e Blaise.

- Ok – Hazz decidiu sorrir também, para disfarçar toda a situação. – O que eu fiz de tão estranho? Estava tão focado que fui para outro mundo – admitiu se virando para a Parkinson sentada bem ao seu lado com o herdeiro Zabine.

Pansy pareceu achar a pergunta ainda mais engraçada, pois se curvou, segurando uma risada ainda mais intensa. Blaise que fez o favor de responder.

Ou melhor, falar algo:

- Gostoso o pirulito? Onde arrumou? – seu tom parecia jocoso e Harrison se pegou em uma daquelas situações "estão rindo de mim ou comigo?".

Por sorte, tinha confiança o suficiente em sua corte (e laços ainda mais estreitados durante a semana) para saber que se a piada fosse ele, aqueles que riram estariam correndo por suas vidas, não mantidos sentados na mesa.

Outra que, com o comentário de Zabine, alguns deles próprios estavam rindo agora (desviando o olhar, entretanto).

"Alguma ideia?" Hazz perguntou em sua cabeça para o adulto mais próximo.

"Nenhuma, adolescentes são tolos, como haveria de saber?" resmungou a horcrux.

"Ótimo! Quando você poderia ser útil, seus conhecimentos se resumem a insultar as pessoas?" tentou provocar.

"É a arte que me especializei, insulto, difamação e desprezo velado. É um prazer ser útil com meu dom, agora seja você útil e lide com sua espécie, pestinha" respondeu, a voz demonstrando que estava se divertindo.

O Potter mordeu disfarçadamente o interior da boca antes de responder, mas não foi capaz de dizer uma palavra inteira antes que Luna (que chegava saltitante às suas costas) colocasse a mão em seu ombro e ordenasse com todas as letras:

- Guarde esses papeis, você vai comer comigo.

Hazz nem mesmo cogitou um de seus comentários sarcásticos costumeiros, quase como se ouvisse a voz de Deus, de repente estava movimento sua varinha e as folhas voavam para sua mochila.

Agora sua corte estava realmente gargalhando.

Ótimo, pelo menos sabia o motivo da vez.

- Obrigada – a águia com voz de naja acrescentou alegremente tomando o espaço entre Pansy e Hazz.

Sorrindo da própria conformidade submissa, o garoto puxou um prato que havia dispensado:

- De nada, minha lua.

Ivan aproveitou e também ofereceu uma caneca, que Harrison aceitou já procurando onde estava o café. Um comentário saindo sugestivo pelos lábios:

- Me ensine esse truque, Chanceler Luna, parece divertido conseguir que sua alteza obedeça assim.

Axek não perdeu a chance para acertar com um caderno na nuca do outro:

- Você é um mero marquês, como ousa sugerir mandar no rei?

"O mais incrível é que o garoto fala com tanto ódio que é impossível dizer que ele não lhe vê realmente como seu rei" Tom, a horcrux de um maldito e arrogante lorde das trevas, se deliciou com a constatação. "Ah, o som de um servo lunaticamente leal" Hazz quase conseguia ver claramente a vinha em sua cicatriz se derretendo de apreciação.

Hazz apenas negou com a cabeça e sorriu igualmente provocativo para Ivan Tshkows:

- É verdade, Ivan. Está querendo dar ordens para mim? – e inclinando a cabeça com um sorriso lânguido: - Isso é algum tipo de levante?

- De forma alguma, sua majestade! – Ivan abriu os braços espalhafatosamente, entrando na brincadeira de seu rei e entendendo a vontade de tornar tudo aquilo apenas uma brincadeira a todos os espectadores de fora. Uma brincadeira leve e totalmente sem fundamento de verdade. Teatro apenas, portanto faria um personagem caricato como o exigido – Eu jamais ousaria! Oh, não! Fui mal interpretado, cortem minha cabeça!

Assim como pretendido, sua apresentação gerou risadas na mesa de verde.

O Russo ainda deu um tempo para que todos voltassem "às suas vidas" antes de acrescentar baixinho:

- Estava apenas querendo aprender para conseguir uma chupada do pirulito de sua alt-

O caderno de Axek agora acertou a cara de Ivan, com tanta força que ele teve que se segurar na mesa para não cair do banco.

- Seu filho da-

- Minha mãe é a mesma que a sua agora, seu idiota e, por todos os bruxos das trevas! Ele tem quatorze anos, depravado de merda!

- Eu estava falando do doce, se você pensou em outra coisa, o depravado é...

Axek tenta acertar outro golpe, Ivan agarrou ambos os braços do irmão e se empurrou em sua direção, Viktor teve que segurar o colega. O caos só não começou entre os dois, prontos para se engalfinharem ali mesmo, porque Harrison interviu:

- O suficiente! – quando ambos se afastaram obedientes, mas ainda com caras emburradas um para o outro, Harrison acrescentou um revirar de olhos. – Se quer um doce é só pedir, Ivan, não precisa aprender a mandar em mim igual a Luna.

- Admitiu que eu mando em você? – Luna retrucou na mesma hora, espontânea e cheia de doçura o bastante para imediatamente aliviar o clima.

Hazz sorriu grato por isso:

- Claro, minha Lua, achei que estava evidente.

- Apenas para confirmar – ela riu, colocando um grande pedaço de pão que havia cortado e recheado com geleia de blueberry no prato do mais velho e virando-se para o marquês, lembrou. – Eu tenho um na minha mochila, se quiser Ivan.

- Obrigada, Chanceler querida, mas eu queria o pirulito do-

- Se terminar essa frase você morre hoje – Axek avisou – Só espera eu decidir como – finalizou com um olhar mortal.

- Você é um chato, sabia?

A frase seguinte veio pausada:

- Ele tem quatorze.

- Eu...

- O que você fazia ou deixava de fazer na mesma idade não está em questão, cale a boca!

- Não era isso que eu ia dizer! – reclamou fazendo beiço e o grupo claramente já menos alarmado (uma vez que Ivan não parecia mais disposto a ir no soco com o irmão e, portanto, não haveria uma luta ali) voltou às suas próprias refeições.

O loiro ainda sentiu necessidade de acrescentar um pedido de desculpas formal. Mas Harry, como esperado, já dispensou:

- Não ligue para isso, Axek. Conheço Ivan a três anos, essa não é a primeira, e provavelmente não é a última, brincadeira do gênero que qualquer um aqui vai ouvir vindo dele.

- Mas sua alteza com certeza recebe as mais especiais – Ivan piscou desviando de um tapa que não veio de Axek, limitado ao olhar de ódio (afinal sua alteza já havia mandado que parassem, não iria começar de novo).

- Obrigado pela honra então – o mais novo ironizou, uma expressão de exasperação passando pelo seu olhar junto de um sorriso evidenciando como as brincadeiras naquela direção nunca o incomodaram e assim continuavam.

Harrison via na alma do amigo a verdade e o interesse de Ivan, seu amor e paixão, não ardiam pelo Potter. Na verdade, era irônico que Ivan dizia coisas do tipo para todos.

Exceto aquele que amava.

Mas enfim, cada um com sua demonstração de afeto.

Hazz usou magia e sumiu com a coisa que causara aquela discussão infrutífera e começou seu café (com uma longa golada de cafeína, do jeito que gostava), bastante açúcar para agradar o avô já que não terminou a outra missão – mas ele haveria de o perdoar agora que estava tendo uma refeição.

O restante dos próximos minutos foi tão tranquilo que nem parecia ter começado daquela forma caótica e, mesmo que Harrison não percebesse, a horcrux notou claramente como Luna Lovegood era realmente um tesouro, conseguiu tirar totalmente o foco do Potter em Neville. O fazendo comer e o acalmando, realmente aquela era a própria vida segurando a mão da morte e criando um equilíbrio.

Por isso gostava da garota.

Era uma boa serva, assim como Axek. Bom, toda a corte era.

Mesmo assim, o próprio Riddle ainda estava inquieto. Claro que Harrison nem por um segundo pensou nas implicações do que estava acontecendo, quando se tratava do Longbottom ele não era mais que um simples garoto... às vezes quase um cachorrinho querendo atenção.

Não que Neville fosse superior, os dois normalmente eram dois animais brincando despreocupadamente e felizes juntos.

Harrison era apenas perfeito demais para que Tom o diminuísse. Ridículo. Estava apenas gerando uma comparação. A grande questão, porém, Hazz era um dragão, não um cachorro dócil. E Neville... deveria ser um leão, mas estava querendo o que com aquela atitude? Aquilo estava preocupando Tom, principalmente por causa do machucado que não curava. Harrison tenso era um mago com uma magia absurdamente forte que se sentia atacada, se retraía e, acuada, podia reagir de formas... complicadas.

Desta vez, se recusando a aceitar o efeito de poções externas.

Seu corpo não estava rejeitando completamente, a coisa toda estava mais instável com a ajuda da corte e curou bem desde que abriu, mas era um processo mais lento que o normal já que a magia de Harrison teve seus traumas na infância, quando estava se formando.

Principalmente com confiança.

Confiar que as poções, que colocavam corpos estranhos em seu organismo (anticorpos feitos para ajudá-lo, mas ainda algo novo e externo), não eram na verdade o motivo da tensão? Algo que o prejudicaria como outras coisas já o fizeram? Sua magia preferia lutar contra. Antes prevenir...

Um bruxo normalmente tinha um sistema imunológico muito mais forte que um trouxa, justamente porque sua magia lutava por sua sobrevivência junto com o corpo. A magia de Harry lutava contra qualquer coisa, boa ou má porque não conseguia ver mais a diferença tão claramente. Não nessas situações.

Mesmo a poção de sonho sem sonhos falhou em alguns momentos, mas era o próprio Harrison a administrá-la, e seu efeito era relaxante e calmante. Uma combinação boa o bastante para ainda apagá-lo por algumas horas.

Tom era uma horcrux presa a Harrison, parte dele, ligado a ele cada dia mais, o medalhão, o diadema, fortalecendo o vínculo. Sempre pôde sentir as emoções de Hazz, agora eram como suas o tempo todo, mas tinha as próprias.

E suas emoções gritavam de preocupação com seu garoto machucado e irritadiço.

Ainda mais... Por Neville.

Hazz podia dispensar aquela informação o quanto quisesse, de forma tão certeira que nem procurando em seu subconsciente Tom era capaz de achá-la em qualquer aspecto que não fosse irrisório, como uma pluma flutuando sem rumo.

Mas ele não via a coisa com a mesma displicência.

Lakroff Mitrica, o maior vidente que Tom conhecera...

Não gostava de Neville Longbottom.

Não do garoto em si, mas ao que tudo dizia: do apego emocional de Hazz sob ele.

Podia ser algo tolo, apenas um avô preocupado que o neto crie algum tipo de dependência em um mundo cruel onde todos vêm e vão, mas os instintos de Tom diziam o contrário. Mesmo que o tivessem feito cair, esses mesmos sentidos o fizeram chegar ao topo que sempre quis um dia. Não descartaria.

Ele tinha que falar com Lakroff, isso era certo.

O pio de uma coruja chamou a atenção de alguns alunos, depois mais e mais corujas até o céu de nuvens mágicas de Hogwarts estar cheio delas, procurando seus donos. Aos montes, como uma cascata de pedrinhas, eram ouvidos os som de pacotes e, principalmente, jornais.

Um caiu em frente a Luna, limpou a boca e as mãos com um guardanapo na mesma hora, para pegar o pacote preso por uma fita, desamarrar e ler, em seu sempre delicado tom de fada, mas ainda alto e claro para o grupo mais próximo, por cima do barulho:

- Harry Potter, O menino que sobreviveu, aparece em Hogwarts apenas para ser morto?

O salão principal, agora como uma onda, foi sendo tomado por vozes. Por trás delas, Hazz ainda teve a chance de ler o subtítulo abaixo da manchete:

"Albus Dumbledore é um perigo para todos os alunos e ainda instaura um jogo sádico que pode ter como próximo alvo o seu filho!"

Harrison não segurou a risada que saiu gostosa e sincera.

Por sorte, o local estava ainda em polvorosa com a leitura das manchetes e burburinhos causados por isso para notarem.

-x-x-x-

Sirius ficou igualmente grato pelo barulho, porque sua tentativa de segurar sua própria risada foi tão ridícula que chegou a cuspir por cima de seu prato, os olhos esbugalhados relendo o subtítulo da reportagem.

Sempre odiou Rita Skeeter e a queria bem no olho do inferno.

Mas parece que até o capeta tem seus dias de glória!

- Mas o que raios é isso?! – indignou-se Minerva algumas cadeiras ao seu lado.

O Black notou que a professora segurava uma cópia própria do jornal matinal.

Entre os demais funcionários ela não era a única a reagir, mas havia um deles sem nada além de um bom prato de café da manhã à frente. Justamente aquele ao qual a matéria falava. Ainda tranquilo e inabalável, Dumbledore sorriu:

- O que foi, professora Minerva? Nossa querida Skeeter conseguiu fazer uma manchete tão boa assim?

- Albus... Você precisa ler isso – respondeu a mulher, mordendo o lábio ansiosamente enquanto os olhos corriam pelas linhas.

Procurando algo que temia muito estar exposto.

Teria que ser, é claro, mas... como? Agora?! Rita Skeeter não teria como... não é?

- Tenho certeza de que será empolgante, se está assim tão agitada, minha cara – continuou o diretor. – Mas agora estou aproveitando minha refeição, não faz bem para o estômago atrapalhar com as leituras sensacionalistas de nossa antiga aluna.

Foi quando todos ouviram Igor Karkaroff bufando:

- Aquela peste!

Albus estranhou a atitude:

- Não sabia que tinha algo contra a senhorita Skeeter, Karkaroff.

- Não é ela a peste! Apesar de que Rita sempre foi irritante, desde Hogwarts, mas estava falando de outro – e encarou o salão, especialmente seus olhos foram para um certo garoto de olhos verdes na mesa da Sonserina. – Não sei como ele fez isso, mas parece que você é o novo alvo, Dumbledore. Boa sorte. Vai precisar.

Lakroff deu um chute no homem por baixo da mesa e os outros professores da Durmstrang se entreolharam confusos e, agora, oficialmente curiosos. Se espremendo junto dos professores britânicos para ter uma cópia da publicação, aos poucos se juntavam ao burburinho de surpresa.

Sirius ouviu um sussurro por cima de seu ombro:

- "O diretor de Hogwarts aceitou receber alunos de outros países, mas apenas para envergonhar internacionalmente a imagem da Grã-Bretanha" – um dos professores búlgaros lia. Jaminke Drist, professor de magia marcial, se não estivesse muito enganado. – "Colocando o salvador do mundo bruxo em risco na sua primeira semana – contra a sua vontade e de sua família – por falta de capacidade em realizar um feitiço, que para sua fama deveria ser fácil, além de perder tempo inventando boatos sobre o vice-diretor da Durmstrang no lugar de ajudar a descobrir os culpados que passaram por suas próprias proteções apenas para inscrever um aluno que sequer podia, pelas regras, par-..." – ele parou sua leitura (para desgosto de Sirius, que achou que a coisa estava diabolicamente interessante) e voltou-se para seu vice-diretor. – Como assim inventando boatos sobre o senhor, lorde Mitrica?

Lakroff deu um sorriso amarelo, ausente de qualquer felicidade, quando todos os seus colegas o encararam espantados.

E completamente odiosos para Albus Dumbledore.

Sua lealdade ao vice-diretor e colega se mostrando de forma clara e, portanto, avessos à ideia de alguém que pretendia prejudicá-lo.

O platinado não parecia disposto a responder, tão pouco defender o diretor da escola rival, apenas esperou que Albus fizesse seus próprios movimentos. Finalmente este pareceu interessado na matéria e pediu para Minerva lhe emprestar sua cópia.

Ela sequer ouviu.

Lakroff suspirou e ofereceu sua própria edição:

- Achei que o senhor tinha proteções mais fortes na sua sala, diretor. Ou estava propositalmente querendo me difamar?

Sirius Black não sabia qual era o jogo de seu afilhado e de seu tutor, mas sabia de uma coisa. Aquela matéria era a prova de que, por mais próximo que achasse ter se tornado de Harrison ou Lakroff, ainda não era totalmente parte de seus planos e, de certo, nem precisava.

Pois estava diante de mestres.

Tornou-se quase envergonhado de suas próprias tentativas até agora. Lakroff Mitrica e Harrison Peverell-Potter estavam metros à sua frente e tinham feito o impossível: usado Rita Skeeter para atacar seu inimigo.

A peça mais imprevisível daquele xadrez! A repórter mais sensacionalista e interesseira, ao qual além de tudo só tinham visto e interagido um dia.

Mesmo com a dificuldade que aquela missão tinha, frase após frase, tudo ficava mais claro.

Mesmo Rita não era um desafio.

Era um meio.

Não precisavam enfrentá-la. Assim como Lakroff havia comentado em algum dia naquela semana...

"Skeeter?" debochou quando Sirius puxou o assunto "Não se incomode com aquele besouro".

Ele, tão tolo, não levou a sério. Pelo contrário, achou que Lakroff não estava dando a devida importância ao assunto e insistira naquela época.

"Você não entende... Só de saber que ela puxou Harrison para falar sem ninguém por perto" tremeu "A vaca vai fazer alguma coisa, sei disso! Ela vive da desgraça alheia! Tem prazer em jogar merda em qualquer imagem pública que lhe pareça limpa demais! Nunca mais a deixe sozinha com ele, por favor! Eu digo por experiência própria, você não tem noção das coisas que já disse sobre mim!".

"Vou manter isso em mente, Sirius. Obrigada pela preocupação. Se seu julgamento assim acredita, pode ter certeza que tomarei ainda mais cuidado nas próximas vezes... isso se não impedir que haja uma próxima. Venho conseguindo tirar Harrison do radar de jornais até hoje, posso lutar para manter assim por mais alguns anos, mesmo que não tenha mais sua guarda".

"Por favor, faça assim!" implorou.

Que ingênuo fora...

Correndo os olhos pela matéria, a última linha fez imagens se formarem claras pela imaginação do animago, a rainha sendo movida bem a esquerda, prendendo o rei, um grito claro vindo de Harrison:

"Cheque".

Negou com a cabeça, completamente impressionado enquanto Albus agarrava as folhas do jornal apressadamente.

Seu afilhado não queria que Sirius fosse apenas alguém útil, mas...

Talvez só não via qualquer utilidade no Black. Ainda assim, esperava. Claramente o menino era, sozinho, um jogador experiente e poderoso. Teria que fazer muito se queria participar ao seu lado.

Karkaroff estava certo, por mais absurdo que fosse dizer aquilo, mas Albus era o novo alvo de Harrison e precisaria de sorte.

Muita.

Harry era filho de James, que um dia Sirius pensou se tratar de um mestre da enganação e da conquista. Estava absurdamente enganado.

Sirius era medíocre na mesma intensidade, tendo sido útil a James, precisaria crescer para alcançar Harry.

"Diante de novas informações e denúncias, esta repórter não descansará enquanto não levantar tudo que pode para manter vocês, caros leitores, atentos à verdade! Mesmo que diante de boatos, podemos sim começar a considerar a possibilidade de que o próprio diretor de Hogwarts inscreveu Harry Potter no torneio tribruxo para desviar nossa atenção ao pobre menino que sobreviveu, escapando assim das consequências de suas próprias decisões questionáveis! O ministério deve reagir imediatamente, antes que todas as nossas crianças sejam prejudicadas!".

James Potter era um aprendiz contra seu próprio filho, pensou Sirius Black.

-x-x-x-

- Você está passando dos limites.

Ivan encarou o irmão com uma expressão que misturava cansaço, nojo, desinteresse e leve confusão, cruzou os braços e nem se deu ao trabalho de questionar, apenas incentivou para que desse mais detalhes.

Axek odiou aquela expressão e seu humor piorou enquanto esclarecia:

- Aquela brincadeira ridícula com sua majestade!

- O que tem ela? – Ivan revirou os olhos e continuou seu caminho rumo ao banheiro antes que ficasse muito para trás e não alcançasse os amigos até a próxima aula.

- Você sabe, não deveria submeter sua majestade aquele tipo de constrangimento!

- Ele não acha constrangedor! E sua majestade foi clara em dizer que deveríamos tratá-lo de forma o menos formal possível para... – ele deu um instante para garantir que estavam só os dois ouvindo. – Garantir que vão subestimá-lo.

- Tratá-lo como igual, você quer dizer.

- Ou seja: subestimá-lo, como se sua majestade fosse igual a qualquer um daqueles insetos – dispensou.

Axek teve que concordar com o irmão, para seu desgosto.

- Mesmo assim, aquilo pode deixá-lo desconfortável, são brincadeiras muito... impróprias!

- Você nasceu com noventa anos, não foi?

- E você não passou dos cinco?! – irritou-se mais ainda.

- Sua majestade também tem tentado manter a relação com a corte mais próxima – lembrou o russo. – Pergunte a Nat quantas dessas mesmas brincadeiras ela não escuta minhas por dia.

- Natasha é mais velha e nasceu...

- Se você ousar colocar em pauta qualquer coisa biológica envolvendo Natasha eu juro que quem morre no fim do dia é você – ameaçou, muito irritado.

Axek revirou os olhos bufando, mas não disse mais nada. Às vezes se esquecia como Ivan era sensível sobre como as pessoas falavam do gênero de Natasha. O Miller não via mal em comentar como a amiga havia nascido, mas o meio-irmão era bem incisivo em dizer que aquilo era desrespeitoso e nunca queria ouvir (ou ler nos pensamentos de alguém) que Natasha era menos que uma mulher desde que nasceu.

Era melhor respeitar, afinal nunca poderia dizer que entendia tudo pelo qual a amiga passou, mas Ivan era muito mais empático, principalmente por causa de sua própria condição de legilimente natural. Se ele dizia que aquilo não devia ser dito, Axek só se calava.

É que às vezes escapava, afinal conheceu Natasha antes da cirurgia e antes de Harrison aparecer juntando todos.

- Nat tem apenas um ano de diferença de sua alteza – Ivan continuou o antigo assunto depois de um tempo. – E, sim, ele só tem quatorze, mas pergunte a qualquer menino nessa idade se não ouviu, fez ou participou de brincadeiras sexuais nessa idade. Duvido que ache um que não. Você mesmo as fazia antes de ter se tornado um chato.

- Eu não-

- Se vai mentir para si mesmo, não me envolva nisso ou mijo no seu pé, já que está querendo me seguir até o banheiro.

Axek imediatamente deu um passo (quase um pulo) mais para longe:

- Seu nojento!

- Não sou eu que está querendo assistir o irmão fazer as necessidades.

- Não é isso que estou tentando fazer! Estou tentando por juízo nessa sua cabeça de vento! Uma coisa é sua majestade querer estreitar as relações com sua corte, isso é necessário para que possa ter certeza de nossa lealdade e se permita nos confiar missões mais pessoais, mas você está tomando isso como... como...

- Amizade? É o que somos: amigos. Ele disse.

- Devemos ser leais! – reclamou se virando de costas quando Ivan abaixou as calças em frente ao penico.

O outro achou a coisa engraçada, mas não trocou de assunto por isso.

- Uma coisa não anula a outra. Prefiro ser um servo leal de um amigo. E olhe só, é assim que trato todos os meus amigos!

- Você não é assim comigo! Então o que custa controlar-se da mesma forma com ele?

- Você não é meu amigo.

Ivan conseguiu ver claramente quando as costas do loiro ficaram mais tensas que o normal e se surpreendeu quando Axek se virou para ele.

Sua expressão estava tão afetada que o russo sentiu seu coração despencar;

- Você não me considera seu amigo?

Muito diferente de sua personalidade, Axek sussurrou aquilo tão fraco que mal podia ser escutado. Ele parecia confuso, mas também carregou a frase com tantas outras emoções e pensamentos que mesmo Ivan não conseguiu ler tudo.

Olhar para aquilo lhe doeu a cabeça tanto quanto o peito.

Ouvir a pergunta e se forçar a dizer as próximas palavras foi como morder vidro e engolir:

- Você é meu melhor amigo, idiota – e empurrou gentilmente o outro antes de seguir para a pia. – Mas também é meu irmão. Seria estranho fazer piadas assim com você...

Ele acenou para a porta, para sua felicidade Axek pareceu satisfeito com a resposta e o acompanhou para a saída, mas Ivan ainda se sentia corroendo por dentro, segurando algo na garganta que queria muito sair.

Antes que segurasse comentou:

- Eu fazia antes.

- Como?

- Essas brincadeiras. Não lembra? Também... fazia com você.

Axek franziu o cenho, o irmão parecia tenso, mas não identificou o porquê.

- Eu as odiava – bufou.

- Repito: é mais forte que eu.

- Mas se conseguiu parar quando nossos pais se casaram também pode fazer um esforço em respeito à sua majestade!

Ivan demorou a responder, Axek chegou a pensar em perguntar o que estava de errado, mas quando estavam chegando no corredor da sala, enfim teve uma afirmativa:

- Sim senhor, vou fazer como quiser antes que seu coração de velho decida parar.

- Ótimo.

Não falaram mais sobre o assunto.

-x-x-x-

- Neville! – chamou Hermione (pela quinta vez).

Finalmente o Longbottom pareceu notar a amiga e se voltou para ela:

- Sim, Mione?

A garota estreitou os olhos e bufou ofendida, se levantando. Neville ficou muito confuso com aquilo, se virando para Ron, que ria:

- Não ligue para ela, sabe como Mione odeia ser ignorada.

- Eu estava a ignorando?

- Descaradamente, parceiro! – riu. – Não notou até agora, mas a aula já acabou – e apontou para a mesa do Longbottom que ainda estava intocada, desde que tirou os materiais no começo da aula.

Nev arregalou os olhos e se levantou, finalmente percebendo como a sala já estava vazia.

Certo que aquela tinha sido uma aula do professor Bins e o fantasma não convencia uma mosca a prestar atenção nele nem que estivesse coberto de bosta, mesmo assim...

Ele não viu nada a sua volta a este ponto?!

Nem mesmo quando os colegas começaram a marcha para sair?

- Um galeão por seus pensamentos – Ron tentou lhe chamar para a realidade novamente.

- Eu... estou preocupado com Hazz.

- Com Harry?! – indignou-se Ron – Por quê?

- A reportagem, Rita Skeeter. Aquela mulher é uma megera.

Ron abriu a boca, mas fechou-a imediatamente, aproveitando que Neville estava guardando os seus materiais e não vira sua hesitação.

Era impressão sua ou ele e o Longbottom tinham lido matérias completamente diferentes naquela manhã? Porque, do seu ponto de vista, quem deveria precisar de alguma compaixão agora era Dumbledore!

Não que Ron tivesse compaixão da velha cabra agora, ele merecia aquela matéria e mais dez iguais depois do que tinha feito à Neville! E... se quer saber? O próprio garoto tinha que estar preocupado, Rita aparentemente podia estar muito próxima de descobrir coisas que não devia e o nome Longbottom logo poderia cair naquele monte de lixo que era seu jornal.

Mas o amigo já estava bastante ansioso nos últimos dias com isso para que o Weasley decidisse levantar o assunto para os rumos mais óbvios, por sorte sua cabeça não precisou fritar para entender melhor a situação, uma vez que Hermione (aparentemente já satisfeita com o pequeno tratamento de silêncio) decidiu voltar a se intrometer:

- Eu sei como se sente.

- Sabe, é? – Ron perguntou agora ainda mais confuso.

Ele leu algo errado, não era possível!

- Ron, você viu! Aquela mulher nojenta! Tornou o torneio Tribruxo em uma chance de expor Harrison, que claramente nunca gostou de tal coisa! Provavelmente inventou um bando de coisas sobre ele, como se alguém que fugiu por anos de jornalistas tivesse se aberto com uma como se fossem velhos amigos!

Naquele momento a cacheada puxou seu exemplar da bolsa e leu em voz alta um bom trecho:

"Estudante em uma escola de magia das trevas, as lágrimas marejaram seus olhos verdes, vindos de uma mãe querida a qual menciona diversas vezes quando a conversa se volta para o passado. Ele tenta se refugiar nos braços de outros parentes e se reconhecer ali, mas a possibilidade de desonrar a memória dos seus pais com atitudes questionáveis o destroi ao ponto de quase não conseguir terminar nossa entrevista. Por sorte, esta repórter insistiu, afinal todos estavam preocupados com seu desaparecimento anos atrás!

'Meu passado afeta muito minhas decisões' disse ao ser questionado diante de tal atitude extrema, e afirma que não via outra escolha para evitar a perseguição que sua fama gerava. 'Mesmo quando minha família quis mudar meu nome ao sairmos do país, para não sermos assediados com essas memórias dolorosas, não aguentei a ideia e tivemos que adaptar para que tudo funcionasse', o novo nome algo cogitado pela família enquanto ainda não havia nascido, uma homenagem às origens e uma chance de recomeçar 'eu tento não ignorar de onde vim quando avalio aonde quero chegar'. Ele ainda assume um cargo de liderança na nova escola, presidente do conselho estudantil, onde pode respeitar os princípios do pai e até sugerir mudanças na escola.

'Parece que ele ajudou a adaptar todo o currículo da Durmstrang antes de vir para Hogwarts. Mostra como, mesmo estudando numa escola como aquela, sabe exatamente o que os pais preferiam que estudasse e deve fazer isso à sua maneira, agora tentando levar até os colegas para o caminho certo!" nos conta Lilá Brown, uma aluna da Grifinória que, mesmo após Harrison ter sido selecionado para a Sonserina, afirma ter tido várias interações com este, ao que tudo indica ainda muito parecido com os pais, mantém amizades com outras casas, principalmente a dos leões, não à toa mais de um dos membros dela afirmar conhecer o menino de forma próxima".

- Certo! – Ron interrompeu frustrado. – Eu também li tudo isso, só não entendi ainda onde querem chegar com... Ela está falando bem de Harry, por favor! É a primeira vez que vejo isso!

- Ela o está tornando um pobre coitado fraco e choroso! – Reclama mostrando o jornal como se fosse óbvio.

"Algumas perguntas parecem trazê-lo a momentos muito dolorosos, uma vez que o garoto se lembra da fatídica noite. 'Às vezes à noite eu ainda choro a perda deles, não tenho vergonha de admitir' Sim, leitores, é terrível, mas o menino jura que ainda tem pesadelos com o momento onde sua mãe foi tirada de si! Ele sensivelmente ainda se desculpa quando as emoções falam por cima das ações e reintegra como nunca quis ser um fardo para ninguém; como foi difícil deixar as origens que seus pais tão bravamente defenderam, mas a dor de ser recordado constantemente de suas mortes ao ponto de criar memórias vívidas disso, enquanto ele próprio saíra vitorioso contra o Lorde das Trevas mais temido trazendo apenas uma cicatriz, o fazia imaginar que as pessoas estavam jogando às sombras o nome daqueles que lhe deram a vida. Claramente traumatizado, o menino viu no estudo uma chance de conhecer aquilo que lhe tirou tudo: 'Prefiro conhecer meu inimigo' afirma bravamente sobre a magia sombria, junto com a certeza de que precisava se esforçar para forjar seu próprio nome e honrar os rostos que só pode ver em seus sonhos de infância em um contexto terrível para qualquer um em sua idade. O torneio tribruxo seria uma ótima oportunidade para mostrar que a dor criou um bruxo capaz?".

Naquele momento Hermione e Neville resmungaram juntos e a garota amassou o jornal irritada:

- Aquela insuportável deu a entender que Harry colocou o próprio nome no torneio! Ela nem menciona como ele jurou pela própria vida que não fez isso!

Ron arrancou o jornal amassado da mão da amiga da melhor forma para não o rasgar e procurou o que ele mesmo queria, enquanto Neville praguejava:

- Por isso Hazz sempre odiou jornais! Tudo mentira, com certeza! Como se ele fosse começar a falar de pesadelos para Rita Skeeter entre todos! Você viu como ele parecia querer matá-la quando escreveu da minha família no começo do mês, não viu, Mione?

- Claro! Ele deve ter mandado a mulher para longe e ela preencheu as páginas com o que quis para ganhar leitores!

- Aqui! – achou Ron e começou ele mesmo uma leitura.

"Depois que o diretor de Hogwarts não foi capaz de manter encantamentos fortes o bastante para proteger a taça que escolheria os campeões, garantindo que o mínimo, que são as regras de inscrição, fossem mantidas e uma criança acabasse incluída contra as recomendações do ministério, além da memória ainda vívida da falha do governo britânico em manter ordem na copa mundial de quadribol, fica a desconfiança na capacidade desse torneio de não matar alguém, o que também é uma preocupação do próprio Harry Potter. 'Nem que seja sem intenção, por negligência profissional, mas estou muito nervoso com as provas' depois de ouvir tanto sobre um antigo líder do movimento da luz, Harrison parece decepcionado e preocupado 'sempre escutei como Dumbledore era um dos maiores bruxos de nossa geração' e mesmo diante dessa expectativa, Albus Dumbledore o frustra, 'um descaso' diz já que o diretor não parece mover um único músculo para ajudar o garoto em clara desvantagem. Pelo contrário, gasta seu tempo criando fofocas e teorias estranhas, dignas de um velho caduco, sobre o vice-diretor Mitrica que não só tentou impedir a entrada do menino na competição desde o começo, como foi responsável por apaziguar os nervos da sua família e tutores, que claramente não ficou feliz com o desenrolar dos fatos. Parece que tinham razão em tirar o menino de nós? Ele corre risco em Hogwarts ou será que não é apenas Harrison que precisa de sua atenção?".

- É tão nojento como ela usa essa crueldade que fizeram com Harrison para colocar palavras na boca dele e até mesmo atacar Dumbledore! – concordou Hermione.

Ron, por outro lado, fez uma careta indignada e negou com a cabeça:

- Espera aí, ela atacou Dumbledore aqui, mas... não o Harry!

- Como não, Ronald?! – indignou-se a bruxa. – Por favor.

- Por favor, digo eu! Me explique o que está acontecendo, porque já estou achando que fiquei louco!

- Rita odeia Dumbledore, isso é óbvio – Neville tentou ajudar. – Mas ele já sabe lidar com ela, ignorar as tentativas idiotas de diminuí-lo. Essa parte não é importante – dispensou.

Ron levantou a sobrancelha, a boca em um formato estranho meio aberto e encarou as páginas de novo.

Na sua opinião, aquela era justamente a parte mais importante, mas seus amigos não pareciam pensar o mesmo.

- E Lilá! Aquela garota egocêntrica e horrorosa! Como ela se acha no direito de falar com um jornal sobre alguém que mal fala!

- Eu não acho que isso seja tão relevante, muitos da Grifinória tem dito as mesmas coisas...

- Como aquela repórter conseguiu falar com algum dos alunos, para começo de conversa?! Dumbledore não deve ter deixado ela sair perambulando por aí! – a garota foi andando para fora da sala em direção à próxima aula falando sem parar e mal dando atenção ao amigos, mesmo que Neville às vezes concordasse com ela e insistisse que Harrison devia estar furioso com todas aquelas mentiras sobre si e que aquilo deve ter "acabado com seu dia" ou algo assim.

Ron realmente estava se sentindo louco.

Tudo que seus dois melhores amigos diziam era apenas... estranho para seus ouvidos. Como uma peça de um quebra cabeça que não encaixava. Pior, era como se eles estivessem olhando o desenho errado na tampa da caixa e estivessem tentando montar algo que não existia.

Pegou o jornal e tentou ler de novo.

-x-x-x-

- Se quer saber – comentou sentado em cima de uma bancada a noite um pouco antes do jantar. – Estou impressionado, ela escreveu mais verdades do que eu imaginava que faria.

Hazz olhou para os gêmeos que estavam concentrados imaginando se algum deles o ouvira, mas sua resposta logo veio quando George lhe sorriu:

- Ela deve ter pego suas iscas como um bom e treinado peixinho, alteza.

O mais novo sorriu de volta, lisonjeado com o elogio velado a sua astúcia.

Nada melhor para elogiar um réptil, não?

- Bem, ela ainda disse muita coisa estranha.

Rita Skeeter, a sério, pusera em sua boca uma porção de coisas que ele sequer lembrava ter dito na vida, muito menos no armário de vassouras e para ela.

"'Acho que herdei a minha força dos meus pais, sei que eles teriam muito orgulho de mim e do que vejo fazendo para me manter fiel a tudo mesmo na Durmstrang'".

Hazz faz uma careta para o papel.

"'Se me vissem agora, sei que me diriam para continuar por esse caminho'".

Aquilo ainda estava dando náuseas.

Se tinha uma mentira grande o bastante nesse mundo (uma que não viesse da boca de Lakroff Mitrica) para preencher o espaço que tinha faltando na cabeça daquela mulher, aquela lorota era ainda maior e de certo a faria sair flutuando como um balão.

Harrison achava a tempos que seus pais teriam vergonha do que ele parecia se tornar, mesmo que... tentasse seu máximo para fazer algumas coisas certas.

Ele só tinha uma visão diferente do que era certo e errado para o mundo.

- "Sei que nada me acontecerá de mal durante o torneio, porque eles estarão me protegendo" – entoou Fred de repente, brilhantemente tirando Harry de seus próprios pensamentos corrosivos. – Essa foi minha favorita, tão piegas – debochou enquanto mudava a temperatura de um dos vidros e enfim olhava para o Potter. – Sua alteza é tão sensível – comentou com um tom falso de tristeza na voz, a mão no peito "desolado". – E passou por tanta coisa. Não se preocupe, nós vamos protegê-lo do mal que esse mundo é para uma criança de 12 anos e tão frágil como você! – encerrou abraçando Harrison por trás do balcão e fingindo choro em seu ombro.

Hazz apenas riu alto da brincadeira e nem se deu o trabalho de ficar surpreso com a facilidade que encontrou em aceitar o contato do gêmeo. Durante toda a semana os garotos vinham tratando o menino como um amigo íntimo, de longa data, e claramente tinham uma tendência ao contato para demonstrar simpatia e afeto (Fred principalmente). Hazz gostava de contato físico, apenas é claro com aqueles que confiava e conhecia a muito tempo, de resto procurava evitá-lo e até Lakroff já foi repelido em seus dias mais tensos.

Mesmo assim os gêmeos invadiram seu espaço pessoal como se o amassem e o menino o aceitou tão natural quanto.

Os gêmeos Weasley eram almas animadas, caóticas, mas muito acolhedoras, tão imprevisíveis como seus donos, eram fogos de artifício que mudavam de forma, direção e cor de acordo com suas vontades e sequer se preocupavam em mostrar seus sentimentos, apenas sua essência mais profunda. Era bonito e tão divertido de olhar quanto era interagir com ambos. Hazz confiara neles para lhe contar seu maior segredo e deixar em suas mãos parte de sua saúde, lhes dando como missão a produção de algumas de suas poções de cura.

Não se arrependia.

No pouco que os viu trabalhando durante a semana percebeu que era absurdamente bem feito e todo o caos em suas almas sumia para uma presença concentrada e dedicada ao extremo. Eram delicados aos detalhes, atentos ao processo, abertos a possibilidades, dedicados e, principalmente, não usaram aquela fraqueza de Harry para vê-lo como alguém que precisava de proteção.

Serviu para que o vissem como humano e, portanto, alguém que precisava de amigos que o fizessem sorrir mais e se preocupar menos com a poção que estava em ótimas mãos (nas próprias palavras dos ruivos).

Viktor pareceu muito enciumado (e não foi o único, mas foi o mais verbal sobre a coisa) quando descobriu que Hazz confiou isso a outras pessoas que não eram da corte, mas depois apontou que com certeza os gêmeos já eram parte da corte depois disso e que também os havia escolhido porque precisava da corte para coisas que exigiam ainda mais confiança do que uma poção que:

1.Poderia testar antes de consumir,

2.Seu avô estaria fazendo algumas próprias,

3. Exigia tempo que o conselho mal estava tendo

4. Servia em partes como desculpas para testar e recrutar novos talentos.

Além de tudo ele tinha um pressentimento sobre os meninos. Até Luna tinha! E não estava arrependido até o momento. Deixá-los não só com algo que provaria um talento, mas um segredo que garantiria se seriam capazes de guardar coisas maiores, era muito útil. Mesmo que tudo aquilo vazasse, Hazz podia lidar com as consequências, mas as coisas que sua corte mais próxima tinha? Aquilo o destruiria.

Não conseguiam entender a diferença?

Dito isso, sim, o processo de se aproximar dos gêmeos foi absurdamente mais rápido do que o esperado e quase lhe levantou uma desconfiança, mas ele tinha o contrato e outras formas de se proteger.

Conhecer pessoas era assim mesmo, um risco, que se não tomasse não teria ninguém para se apoiar, como Heris insistiu que Hazz visse e valorizasse.

Era exatamente o que estava fazendo.

Seu irmão devia parabenizá-lo na próxima, considerando que a última visita foi para lhe dar um puxão de orelha.

- Não aperte demais – avisou George – Vai acabar quebrando nosso menino-que-é-feito-de-vidro.

Fred e Harrison riram da piada.

- Merlin, como pude me esquecer! – dramatizou Fred se afastando e voltando para a poção.

Talvez porque agora quem se aproximava do Potter era o irmão. Pegando suas mãos, George fez uma reverência sutil e beijou o local:

- Parabéns, sua majestade.

Um pouco corado, Hazz apenas riu e inclinou a cabeça:

- Pelo que exatamente?

- Eu jurava que Skeeter falaria apenas de você em cada linha, mas conseguiu que ela tornasse tudo sobre a incompetência de Dumbledore e te tornasse uma vítima para a sociedade proteger do velho gagá.

- Isso também é mérito do meu avô.

- O professor Mitrica é realmente muito astuto, nota-se o bom exemplo que teve – seguiu para o caderno de anotações de Lakroff, aparentemente para consultar algo das poções. – Mesmo assim, com certeza absoluta, sua alteza era tudo que aquele jornalzinho queria. Um furo sobre o menino que sobreviveu e voltou, entretanto você manipulou a conversa o bastante para ela ficar curiosa sobre o que poderia ter. As manchetes a mais que poderia alcançar se não o colocasse em antipatia e te fizessem fugir dela como os outros fazem. Bastava em te manter como herói bruxo, um possível novo nome para a luz, alguém que ilumina até a mais sombria das escolas por dentro, mas mantendo o sensacionalismo ao escolher Dumbledore como alvo mais fácil. Dizer que estava aterrorizado com o que o antigo lorde da luz estava fazendo e ainda dar a Rita um gostinho do passado do diretor que promete muito mais? Incrível. Claro que ela poderia destruir os dois ao mesmo tempo, então o que foi? Usou o lado sonserino dela? A ambição. Você jogou na cara de Skeeter que tem poder para afastá-la se quiser, lembrou que já fez antes, por anos, mas que além de ela perder sua credibilidade se for aquela que conseguiu uma única conversa e já te perdeu, você ainda tem muitas informações úteis e deliciosas que pode usar? Claro, se quiser se aproximar o bastante para encher aquele jornal mixuruca, não poderia arruiná-lo ou colocaria tudo a perder. Ou talvez tenha usado aquela lealdade estranha e velada que os sonserinos têm entre si e lembrado que você está na mesma casa que ela e não é alguém que se desafie sem ter todas as cartas para isso? Por isso a velha ainda falou algumas coisas contra você, mas nada que o prejudique em qualquer plano que possa ter?

Fred estava encarando o irmão quando este acabou seu discurso, assim como Harrison, mas o segundo no lugar de confuso parecia bem satisfeito:

- Bem astuto da sua parte notar tudo isso.

George tirou a atenção do caderno e só então percebeu os olhares dos outros dois, foi quando riu e negou com a cabeça:

- Você mesmo disse que eu parecia observador. Às vezes, acho que sou mesmo.

- Está se subestimando.

- Estou sendo sincero, não espere o mesmo sempre de mim, na maior parte do tempo eu e Fred estamos muito ocupados com brincadeiras para ir tão longe.

- Eu nem com muito esforço iria tão longe – apontou o outro aos risos.

Hazz deixou por isso mesmo, mas ainda teve a impressão de que, já que George achava que estava sendo sincero, o menino não havia notado o próprio potencial.

Tudo bem, Harrison poderia torná-lo mais evidente com o tempo.

Estava realmente feliz com as novas aquisições à corte. Os gêmeos Weasley e Luna. Hogwarts já estava sendo muito produtivo e estava apenas no começo.

Além de que tinha outros alvos a explorar.

- Mas – Fred começou após um tempo, a mão no queixo pensativo. – Porque Rita defendeu Lakroff? Isso está me deixando confuso, ela não ouviu sobre a linhagem dele? Anunciar que o vice-diretor da Durmstrang é um Grindelwald não ajudaria a deixar a coisa toda ainda mais chamativa?

- Daí ela teria que se colocar diretamente antagônica a família de um lorde das trevas, acho que a autopreservação de Sonserino nenhum permite isso sem saber exatamente onde está pisando – sugeriu o irmão, também colocando a mão no queixo para imitá-lo. – Sem contar que ela seguiu e ouviu escondido uma conversa do herdeiro do lorde das trevas, isso dependendo da personalidade de Lakroff, seria motivo para uma ameaça de morte no mínimo, mas colocá-lo como a vítima apazigua a história e abre espaço para negociação.

- Então Skeeter ainda vai querer negociar com Lakroff?! – surpreende-se o primeiro.

Hazz sorriu satisfeito:

- Se tudo correr como desejamos, sim. É isso mesmo.

- Uh! – murmuraram os dois, batendo palminhas impressionados.

O mais novo fez uma reverência como um mágico agradecendo seu público após um bom truque.

- Será em uma dessas conversas que o professor Mitrica poderá soltar algumas pistas de onde achar os podres que podem arruinar Albus?

O sorriso do aluno estrangeiro foi resposta o suficiente. George acenou satisfeito consigo mesmo e voltou para seus tubos de ensaio, eles tinham pouco tempo para terminar o processo em que estavam. Lakroff Mitrica queria conhecê-los e direcioná-los a partir da semana que vem.

Bem... George já o tinha conhecido e conversado algumas vezes na biblioteca desde que Durmstrang chegou, mas desta vez falariam sobre as poções que o homem tinha o conhecimento original e provavelmente queria ter certeza que os gêmeos eram mesmo qualificados para o trabalho. Sua alteza disse que não havia o que se preocupar, que se ele os escolheu, o avô aprovaria, tinha convicção no trabalho dos meninos. Mas justamente por isso queriam dar o seu melhor. Para destruir qualquer dúvida. O lorde Mitrica até estava conseguindo uma autorização provisória para os meninos entrarem no barco, se deu ao trabalho de conversar com Arthur Weasley (mesmo que por cartas), pois isso havia se tornado mais do que pessoal.

Se mostrariam capazes.

Possivelmente até melhores do que o esperado.

Hazz, que via a dedicação e a cobiça pela vitória nas almas da dupla, estava mais do que confiante com tudo, mas talvez fosse melhor deixá-los se concentrar:

- Bem, preciso ir. Boa sorte com a poção, meninos.

- Cuidado, essa escola é muito perigosa para um menininho frágil – lembrou Fred.

- Olhe para os dois lados antes de atravessar o corredor – encerrou George.

O Potter saiu da sala precisa, como de costume, rindo das brincadeiras dos meninos e esperou um pouco, para ter certeza de que a porta da sala se fecharia antes de alguém passar pelo corredor e notá-la.

A noite estava sombria e gélida do lado de fora, graças ao outono e a lua minguante, Hazz ouvia o vento ao longe mesmo com a espessura das paredes de Hogwarts, além de poucos alunos aqui e ali. Um grupo se aproximava, aparentemente, e conforme o faziam , suas vozes ficando mais altas ecoando pelos corredores vazios, ficando mais claras e reconhecíveis, Hazz percebeu que vinham de uma passagem paralela onde estava e pertenciam a Ron Weasley e Hermione Granger, em meio a uma discussão.

Coincidentemente sobre Harrison.

Hazz imaginou se os gêmeos haviam passado sua mensagem à garota sobre os elfos e se aquela era uma boa oportunidade para levantar o assunto, mas imaginou que os meninos haviam se esquecido, uma vez que Granger parecia bem interessada ao que todos diziam em seu projeto do F.A.L.E. e nenhum dia da semana puxou o assunto.

Nem Neville tentou usar isso para prender Harry e escapar de conversarem sozinhos.

...

...

"Neville" Hazz se inclinou, tentando ouvir o garoto entre os amigos. Seus passos, sua voz, sua presença.

- Você é ridículo, Ron Weasley – Hermione resmungou.

- Agora sou ridículo? Por favor Hermione, você não pode dizer que não concorda ao menos um pouco comigo! A matéria é vantajosa para Harry mais do que prejudicial!

- Ela pode até mesmo colocar Harrison em perigo! – reclamou. – O que acha que os inimigos dos seus pais vão pensar depois de lerem que o menino e a família fugiram com o rabo entre as pernas daqui, que quando voltou quis chamar atenção, que vive chorando pelos pais e está apavorado com uma competição feita para adolescentes e adaptada para ser mais segura?

- Hermione! Não foi adaptada coisa nenhuma, senão Fred e George poderiam participar assim como qualquer menor de idade!

Os dois passaram sem ver Hazz e ele pôde confirmar que estavam sozinhos.

Neville não estava com eles.

Onde então?

Ele poderia finalmente interceptar o menino sozinho e sem desculpas? Seu coração acelerou desconfiado.

Não era assim que a sorte Potter funcionava...

Achar o mapa do maroto às pressas nas vestes foi fácil, abri-lo, entretanto, exigiu mais do que seu estado de espírito podia oferecer.

Foi então que, antes de conjurar as palavras para fazer o mapa funcionar, letras começaram a aparecer no pergaminho.

"Os senhores Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas dão seus cumprimentos à vara de tremeliques e pedem encarecidamente que considere um chá de maracujá para esta noite".

Harry parou com o que estava fazendo e encarou a frase, emburrado.

Não era uma vara de tremeliques, estava apenas com pressa, podia ser a única oportunidade que teve a semana toda!

"O senhor almofadinhas quer saber: o que foi? Está correndo para ir atrás de uma garota?"

Harry revirou os olhos. Uma garota? Que pergunta era aquela? Agora teria que lidar não só com Sirius mais jovem, como Sirius hétero? Aquilo era algum tipo de pegadinha estranha?

- Não – resmungou para o mapa.

"Um menino então?" a resposta veio rápido.

Agora as coisas pareciam normais de novo.

"O senhor Rabicho lembra que ignorar almofadinhas não é apenas uma sugestão, mas uma necessidade para manter a sanidade em dia. Apenas nos diga o que foi, Reptile".

A careta que se seguiu ao nome foi inevitável e, rangendo os dentes:

- Nada – disse.

"Estamos sentindo sua ansiedade daqui ,filho" a letra de James o saudou.

E a preocupação era quase palpável.

Quer dizer, o alter ego não havia usado a tradicional forma de se comunicar quase em terceira pessoa o tempo todo e não usou o apelido de Harrison... Apenas o tratou como filho...

Aquilo atingiu o coração do garoto. Não era pontas preocupado com a situação de um pregador de pegadinhas, mas um James mesmo que ainda jovem, querendo realmente saber de seu filho.

Suspirou.

Hazz ainda se impressionava com o quão complexo era aquela coisa.

Sentir sua presença mágica e identificá-la era um caso (o objetivo do mapa se baseava nisso no fim) e a senciência deles já era fato aceito. Se Tom Riddle podia criar um pedaço consciente de si em um diário (mesmo que juntamente embutido com sua própria alma), James podia pensar em criar uma inteligência artificial mágica programada para replicar suas respectivas personalidades.

Complexo, impressionante e fascinante, mas ali estava. Prova da capacidade daqueles bruxos.

Mesmo assim, o quão longe foi algo feito por um grupo de adolescentes?

"Gostando ou não" agora foi a Horcrux a falar com o menino "Seu pai é um Slytherin e, portanto, destinado à excelência. Por isso o queria entre os meus. E se linhagem ainda serve para algo aqui, sem dúvidas sua inventividade tem traços nossos".

As palavras no mapa, enquanto isso, voltavam a sumir, então se reorganizar e formar algo novo.

"O senhor Pontas gostaria de lembrar que, se minha versão física não pôde te ajudar, talvez a versão que tem a mentalidade adequada para nossos problemas adolescentes possa? Não tenha medo, eu quero dizer" houve uma pausa "Talvez Prongs possa dar conselhos que te sirvam melhor e sejam mais fáceis de lidar do que o, provavelmente chato depois da fase adulta, Lorde Potter".

Lorde Potter.

"Esse sou eu, pai" pensou, mas não teria coragem de dizer. Não agora e talvez nunca.

A alegria inocente de Prongs não precisava ser quebrada com a realidade que James Potter teve, mas os olhos do filho arderam quando respondeu da melhor forma que pôde:

- Estou bem. Só preciso ver uma coisa.

Outra longa pausa.

Até que: "O senhor Aluado diz que nem Padfoot mente tão mal".

"Padfoot gostaria de ressaltar que não mente mal, Moony que tem um olfato estranho para mentira e, gostaria de lembrar, isso é trapaça!".

"Aluado terá de lembrar todas as vezes que Almofadinhas e Pontas foram pegos e levados para detenção porque são dois patetas incapazes de escapar de algumas perguntas da professora Minerva?"

"Rabicho aponta que vocês, três patetas, estão se perdendo no assunto de novo. O foco tem que ser Reptile. Aproveitem que, bizarramente, o argumento de Pontas fez sentido uma vez na vida".

"Pontas concorda! Vamos logo Reptile, se abra ou nós não vamos abrir o mapa. Que tal?"

"Chantageador traiçoeiro" pensou e bufou:

- É Neville! – e desatou a falar. Sentou-se no chão e tagarelou olhando para o mapa.

Os marotos "ouviram" praticamente sem interrompê-lo nenhuma vez, apenas algumas perguntas para se contextualizarem vez ou outra, quando Hazz acabou todo seu discurso, depois de soltar para fora coisas que vinha guardando nesses últimos dias como uma cachoeira, enfim ficou em silêncio, arfando, como se tivesse corrido uma maratona.

E ele tinha. Uma mental.

Depois que os marotos não pareceram dispostos a continuar dando palpites, se perguntou o quão útil realmente tinha sido aquilo. O que um pedaço de papel, mesmo com tudo, poderia lhe oferecer? Mesmo assim, uma parte pequena, mas forte o bastante de si, ficou decepcionado porque queria um conselho de seu pai...

Tom, aparentemente, não achou que aquele era um mau momento para falar, na verdade estava claro que não queria deixar o menino triste com a falta daquele homem, afinal Harrison ainda... bem, era feliz. Perdas e ganhos, quem sabe.

"Não sei para que pedir conselhos a seu pai, você já tem um adulto capaz bem aqui. Se o mapa não pode ajudar, deixe disso".

"É que eu já tenho conselhos do vovô Tom. Agora queria do meu pai, se me der a licença" provou.

"Eu juro que se me chamar de vovô de novo, lhe dou dor de cabeça pelo resto do mês!" ameaçou, imediatamente sumindo de novo para o fundo de seu consciente.

Olhando para o mapa, decidiu testar:

- E então? Algum conselho?

"Apenas um", a letra de almofadinhas rabiscou. "Admita que gosta desse garoto e lhe dê um beijo que jamais vai esquecer".

- Vai a merda – bufou Hazz frustrado.

Certo, havia falado um monte a toa.

"Ignore-o!" disse Moony. "Esse idiota não sabe como lidar com pessoas!"

"Reptile, sinceramente? Eu sei que você quer respeitar os sentimentos desse seu amigo e isso é louvável, mas tive a impressão de que ele se parece muito comigo então vou ter que dar minha opinião" disse rabicho e Harry quase sentiu uma ânsia de vômito subir pela garganta, tamanho seu enjoo por aquele homem se comprar à Neville! "Se algo assim acontecesse comigo eu não contaria aos outros" admitiu.

"COMO É?!" Os outros três marotos rabiscaram no papel, junto com várias outras frases nem um pouco gentis, de inconformidade e ameaça a "se alguém tivesse feito isso com você..." que a folha toda ficou preta tão rápido que era como se tivesse derrubado seu tinteiro ali.

"Viu?" disse o rato quando todos se acalmaram. "Exatamente por isso".

- Você está dizendo para eu não me importar? – perguntou Harry indignado.

Tinha que ser um conselho daquele podre, não?

"Está dizendo para não nos importarmos?!" reclamava James no papel ao mesmo tempo e ao menos isso fez o menino sorrir para o pai.

"O senhor rabicho está dizendo..." as letras retornavam. "Que sou o mais fraco aqui e NÃO ME INTERROMPAM!"

As letras que já começavam a aparecer diminuíram e foram sumindo, o que tirou outro sorriso de Harrison. Podia ver os amigos se encolhendo a contragosto pelo pedido do outro.

"Eu sou o mais fraco. É como eu me sinto. Não importa nem que conseguissem me provar o contrário, não importa que eu salvasse várias pessoas, eu sempre olharia para qualquer um aqui e pensaria: ainda não é o bastante, eles ainda tem que me proteger. Porque eles tinham. Eles me protegeram sempre..."

"Então porque os traiu?" pensou Harry azedo.

"Eu os amo, mas existe uma sombra quando as pessoas envolta de você brilham tanto ou são tão grandes que tapam o sol. E você pode ser o cara que escala o arranha-céu, o ratinho em cima de um grande e forte cervo, mas você ainda é um rato, ainda é uma pessoa que escalou o prédio. Você morre se cair de lá. Seu amigo... ele quer provar que consegue fazer algo. Você sempre esteve lá por ele? Aí que está, Neville não quer que você esteja agora. Talvez só... queira resolver ele mesmo".

- Mas Neville já é incrível! Não precisa provar isso, já fez tantas coisas, mesmo sem minha ajuda ou a de qualquer um! Ele enfrentou o lorde das trevas e venceu, por Morgana!

"Você não está entendendo. Não importa o que ele já fez sem você, mas o que ele faz quando está com você ou em comparação a você. Você provavelmente é muito mais popular que ele, a maioria sempre procurava você primeiro que ele, e talvez conversem com ele primeiro apenas para tentar chegar em você. É o que acontecia comigo. Ele é, na cabeça dele; veja bem, nas inseguranças que criou para si mesmo, às vezes até por alguém tão incrível como você colocando expectativas que não acredita que poderá alcançar em si, que Neville se sente pequeno. Diminui suas próprias conquistas. Ele quem perdeu para o lorde das trevas. Deixou uma menina morrer, desmaiou na luta contra o homem quando os amigos não estavam mais lá, e precisou do resgate de Dumbledore, só salvou Sirius seja lá do quê, já que não quis nos contar, porque você lhe ajudou e contou como. Ele nunca fez nada sozinho. Sempre teve amigos por perto. Ele tem os próprios marotos, então não... consegue. Se você estivesse falando com Dumbledore não teria tido a mente lida, se você estivesse em qualquer situação não teria feito melhor? Você tentou ensinar oclumência, ele não aprendeu, o errado não é ele?

"Eu sou o rato pequeno perto de criaturas fortes e mortais. Já viu um cervo brigando? Dá medo! Moony tem medo de brigar com ele na lua cheia às vezes, mas por favor, estamos falando de Aluado! Padfoot é um cão tão grande que poderia ser confundido com um Sinistro. Meu ponto é, você é maior e ele passou por algo que o deixou inseguro, você sabe. Talvez só não queira que você o olhe com pena. Porque isso vai destruí-lo, assim como me doía sempre que meus amigos tinham que me resgatar de mais um idiota da Sonserina que me chamava de gordo ou me batia.

"Ele teve coragem de contar para tanta gente, mas porque você acaba evitando? Porque é o seu olhar de pena que vai doer mais. Porque é o que você daria. Não por maldade, você o ama, eu sei e ele sabe, mas por amar... Talvez você o esteja superprotegendo demais. Ou criando expectativas. Você diz que tenta atender ao que esperam de você, ele também. Mas da mesma forma que você está vendo de fora e achando seu amigo incrível e forte por enfrentar tudo isso, ele olha de fora e acha que é fácil para você porque se você for metade do que James é: você torna fácil. Faz sorrindo e parece que só não foi melhor porque não quis. Mas teria capacidade.".

Ele não sabe o quão fraco você é, não importa que já tenha sido salvo por você, ele não sabe que está te machucando assim".

- Qual sua sugestão? – ele não podia acreditar que estava tão ansioso pelo conselho daquele homem.

"Vai parecer contraditório, mas acho que você vai entender, se eu começar a ficar muito confuso você me interrompe, certo?"

- Certo.

"Bem, se fossem os meninos, eles se foderiam para minha privacidade e me encurralariam em um corredor, me impedindo de fugir. Me fariam ouvir e contar tudo, nem que fosse a força, para me ajudarem. Não é?"

As concordâncias, mesmo escritas, pareceram tímidas e culpadas.

"Faça o mesmo".

- Como? Pensei que você discordasse de como eles agiam.

"Sim, mas é a forma deles de agir. Se eles fossem menos do que eles mesmos, isso só iria me irritar da mesma forma. Agir como se eu fosse de vidro, ao invés de serem os marotos? Os marotos não são gentis, são brutamontes idiotas e sou amigo deles assim. Respeitar e ficar quietos, mostraria que estavam se obrigando a mudar para proteger meus 'sensíveis sentimentos'. Não. Você vai ser o mesmo Potter de sempre e se o sobrenome faz jus, um brutamontes que pega o que quer, quando quer e da forma que quiser, os outros que saiam do caminho! Você quer uma conversa: tenha! Mas eu sei onde essa conversa acabaria me machucando, então posso te ensinar a como cuidar desses temas sem parecer que está tratando Neville como fraco que precisa de resgate, nem com indiferença aos sentimentos dele. Entendeu?"

- Sim, estou entendendo.

"Ótimo, então..."

"Atenção marotos, o mestre Rabicho está mostrando seus dons de manipulação! Isso é raro, aprendam com o artista!" brincou Sirius.

"Quieto!" reclamaram James e Remus.

"Você vai começar assim..." continuou rabicho como se nem tivesse sido interrompido.

Mas o estrago estava feito. "O mestre Rabicho está mostrando seus dons de manipulação" aquilo trouxe o menino a realidade. Trouxe Harry para o mundo real onde Rabicho tinha justamente usado aquilo para arruinar com a vida de todos os amigos, sem remorso!

Agora foi ele a interromper o homem, que já começava a escrever:

- Não!

Rabicho teve que parar. Todos tiveram.

O menino se levantou irritado, sem querer olhar para o mapa, como se de repente fosse nojento todo o tempo que deu para ele. Era nojento e ele só perdeu tempo!

Como se fosse levar a sério os conselhos de rabicho sobre amizade! De todas as pessoas no mundo!

Tom seria melhor que isso. Um lobisomem transformado em lua cheia seria menos traiçoeiro!

Neville podia estar sozinho esse tempo todo e Harry perdeu sua oportunidade para falar com um mapa onde aquele desgraçado estava para...

Que merda!

Estragar tudo!

Sua vida! Sua família! Suas poucas memórias e lembranças do pai!

Inferno ardente!

Conselhos de como lidar com seu amigo vindos de Pedro Pettigrew? Quanto mais pensava nisso, mais irritado ficava. O rato responsável por trair os melhores amigos e os entregar para a morte de forma fria e covarde? Culpar e aceitar toda a dor psicológica que causaria à Sirius? Abandonar Remus por todos aqueles anos?

Não.

Nunca!

Ele jamais cairia tanto!

Se não fosse por suas atitudes, até mesmo os pais de Neville não estariam no hospital para sempre!

Pedro podia sumir do mapa e da mente de Harrison para sempre.

Ele tremeu de fúria apenas com a ideia de continuar com aquilo e repetiu:

- Não! – o som não saiu como grito apenas porque tremia ao ponto que estava com medo de rasgar o pergaminho e precisava se acalmar ou destruir um artefato valioso de seu pai.

Pettigrew não lhe tiraria até isso com sua simples presença. Não se permitiria chegar a este ponto.

- Não precisa me dizer... – rangeu os dentes.

Infelizmente sabia ao menos um pouco sobre os marotos, eles não aceitariam apenas um não. Teria que engolir, por mais doloroso que fosse. Foi o que fez. Com sorte sua oportunidade não estaria perdida:

- Eu agradeço que tenham me ouvido, de verdade, foi útil e... Com todo o respeito, rabicho – se forçou a dizer, cada sílaba descendo como um veneno corrosivo, ácido puro. – Mas quero tentar sozinho. Eu sei que vocês quatro – foi difícil engolir até mesmo sua saliva, mas ele o fez, com muito esforço – Eram os melhores amigos e posso... voltar depois se não conseguir nada.

Prefiro a morte, pensou.

- Mas agora eu realmente preciso verificar Neville. Por favor, me mostrem o mapa e... me deixem tentar mais um pouco. Ele é meu amigo, quero tentar sozinho. Se não der certo então eu volto. Só me mostrem o mapa, por favor.

Houve um tempo de hesitação.

Era coisa de sua cabeça, sabia disso, mas Harrison quase conseguiu sentir (ou ver diante de seus olhos) o grupo de marotos se entreolhando, os braços cruzados, as expressões preocupadas, então se voltando para Hazz.

- Por favor, eu juro solenemente não fazer nada de bom.

Talvez, o desespero de sua voz tenha passado para sua essência. Talvez até isso o mapa notasse ou foi a presença das palavras de ativação que (tal qual um estúpido) Harry não havia dito até então, mas finalmente o mapa começou a se mostrar como deveria ser.

Os pontos de cada bruxo pelo castelo aparecendo com seus nomes em cima.

Imediatamente a atenção de Hazz, como se chamado por ele, encontrou o pontinho de Neville Longbottom e quase pulou de alegria quando viu que estava sozinho.

Só para essa alegria ser substituída por raiva.

Raiva pura e explosiva.

O ódio que borbulhou por ele foi tão intenso que ouviu quando os vitrais das janelas começaram a chiar. Ele ia se descontrolar, acabaria quebrando alguma coisa, os quadros dedurariam para Dumbledore e depois descobrir que ele andou estourando raios nos últimos dias seria simples.

Estava ferrado, não podia lidar com aquilo agora.

Não podia pensar em um motivo bom o bastante para que Neville estivesse lá!

Na sala do desgraçado!

Então, em meio a seu desespero, apenas se virou para a sala precisa desejando (implorando) por um lugar onde pudesse estourar, um que não ruiria com o primeiro feitiço que soltasse, onde pudesse descarregar aquela fúria e se acalmar sem prejudicar ninguém.

Sem destruir nada valioso.

Quando abriu as portas e deu de cara com a mesma sala onde os gêmeos ainda preparavam as poções, não se deu tempo para ficar mais frustrado do que já estava.

A vida era frustrante, não havia o que fazer, apenas levou as mãos à cabeça, se abaixou e começou a contar.

"Estou usando dois sapatos fechados, são botas e são minhas, novas, parte do uniforme da Durmstrang. Estou com o uniforme marrom por baixo de uma jaqueta branca. A jaqueta é símbolo do presidente do conselho".

Estava em uma possível crise. Pânico? Ansiedade? Uma crise mágica?! Merda, nem sabia mais que laudo deveria usar agora, estava enlouquecendo com aquele lugar!

Aquela situação!

Estava difícil respirar e sua cabeça estava doendo e chiando de um jeito irritante, sua mandíbula ficou tão tão travada que podia sentir os dentes doendo pela pressão.

"Se controle" pensava enquanto mantinha a contagem de informações.

"Estou na sala precisa, em Hogwarts, aqui tem dois balcões, uma pia..."

- Qual é a função de um patinho de borracha? - perguntou um dos gêmeos e, pela primeira vez desde que os conheceu, não conseguiu reconhecer qual.

Mas sabia que seja qual fosse estava absurdamente perto, provavelmente sentado na sua frente, ou algo assim.

"Uma das pessoas da sala está a poucos metros de mim, ele usa um uniforme preto..." continuava.

- Não entendi a pergunta - disse depois de inspirar fundo, surpreso que conseguisse abrir a boca, mas talvez fosse movido pelo absurdo da pergunta.

- A função, o objetivo... sabe?

- Pra que existe um patinho de borracha afinal?

As vozes vieram de direções diferentes e, agora comparadas, Hazz percebeu que os dois gêmeos estavam próximos dele.

Agora mesmo que não podia se descontrolar, não podia machucá-los.

Aquela maldita sala precisa não funcionava duas vezes ao mesmo tempo?!

- Eu não sei, os trouxas usam no banho...

- É um sabonete? - perguntou e ele achava que era Fred, não tinha certeza.

- Não.

- Então como usam no banho? Enfiam isso onde?

Harry riu, porque imaginou imediatamente seu professor Leandro ali e esta não era o tipo de pergunta que se fazia na sua presença se não quisesse uma resposta grosseira que envolvia a parte onde o sol nunca bate.

- Por que está rindo?

- Lembrei de um professor?

- Ele usa patinhos de borracha?

- Não, não tem esse costume no país dele.

- Então é algo cultural? Merlin, trouxas são estranhos.

- Não é cultural - Hazz riu mais. - É que no Brasil eles não têm banheiras na maioria das casas, eles usam mais chuveiro, também porque é caro por lá.

- Precisa de uma banheira para ter um pato de borracha?

- Não, mas fica difícil dar um uso para ele sem uma.

- Mas eu ainda não sei qual o uso! - a indignação pingava da voz desse gêmeo e Harry riu alto agora, o corpo tremendo enquanto tentava abrir os olhos e encará-los para responder.

- É um enfeite para as crianças brincarem enquanto tomam banho. Algumas crianças pequenas não gostam de banho, tornar um jeito delas brincarem com coisas diferentes, que boiam na água, é uma solução que alguns pais tomam. Essa é a função do pato! - explicou lentamente, a garganta meio dolorida, mas estava sorrindo quando ambos se encararam e sorriam em uníssono.

- A - e estenderam a sílaba como quem diz "então era isso!" - Papai vai gostar de saber - mantiveram juntos.

- Seu pai?

- Ele sempre ficou confuso com isso - explicou Fred.

- Ele tem um, ficou um dia inteiro com um em cima da mesa encarando como se fosse falar com ele em algum momento - continuou George. - Você sabe com o que ele trabalha, não?

- Mal uso dos artefatos trouxas.

- Isso mesmo. Ele gosta dessas coisas. As invenções trouxas. Tem uma garagem cheia delas.

- Temos um carro que voa!

Hazz riu de novo.

- Eu sei - Fred já foi dizendo. - É literalmente fazer o que se deveria lutar contra, mas...

Harry negou com a cabeça o interrompendo:

- Eu não acho um carro voador um mau uso. Mau uso é ter magia para fazê-los voar e mesmo assim se submeter a ficar preso no trânsito. Se contasse isso para meu irmão, acho que ele só não vendia a alma para vocês encantarem os deles, porque trouxas inventaram uma coisa chamada: helicóptero.

- O que é um heli...heliporto?

- Helicóptero - corrigiu. - Mas engraçado, você chegou perto, heliporto é onde eles devem aterrissar. O Helicóptero é um tipo de carro com um conjunto de asas mecânicas no topo que permite ele voar.

- Como funciona isso? Asas mecânicas? - questionou George, parecendo bem impressionado. - É parecido com o pombo de ouro?

- Não muito. Funciona pelo movimento acelerado delas... deixa eu mostrar - e se levantou.

- Vai nos mostrar um heli...alguma coisa? - perguntou Fred empolgado.

- Desculpe, não, essa coisa nem caberia aqui, é muito grande e precisa de um espaço ainda maior vazio para decolar ou pode causar um acidente grave.

- Então como vai nos mostrar?

Hazz, que tinha pego um dos tubos de ensaio vazios, transfigurou a coisa em um brinquedo trouxa que tinha visto uma vez no Brasil, tinha um cano cilíndrico na base e no topo uma hélice longa que junto da base formavam um T.

Ele mostrou a coisa para os gêmeos que ficaram bem confusos.

- A hélice - apontou para a coisa de formato estranho no topo. - É como se chama a asa. Um helicóptero tem três dessas coisas conectadas entre si a mesma distância e quando ligadas, elas giram na mesma direção, então... - ele colocou ambas as mãos na base e raspou uma em cada direção, fazendo o cilindro girar e então sair voando para cima, antes de cair suavemente, sempre girando.

Fred e George pareciam duas crianças maravilhadas com a coisinha:

- Isso não usa magia?!

- Não, usa o equivalente trouxa para isso: ciência. Querem tentar?

- Sim! - Fred se animou, buscando o brinquedo.

Eles passaram alguns minutos nisso, com Hazz ensinando como fazer funcionar e ambos procurando formas de fazer ir mais longe, mais rápido, mais alto.

Harry, em algum momento olhou para a porta da sala-precisa e perguntou se ela realmente não funcionava duas vezes ao mesmo tempo.

Ou se havia lhe dado exatamente o que precisava.

-x-x-x-

Riddle nunca foi dado a paciência. Decididamente a sua tinha um limite tão curto que era de surpreender que se desse tão bem com uma criança dada a perturbação, se não fosse todo o contexto em que viviam.

Sua paciência agora estava sendo novamente testada com a demora para Lakroff Mitrica aparecer, diante das dúvidas que tinha e da necessidade de esclarecer-se com o homem. Ao menos a conversa com Nagini estava interessante. A Maledictus era encantadora e o Riddle já lhe gostava muito apenas por conhecê-la atrás de Harrison, mas ter a chance de falarem abertamente só aumentou sua estima por ela.

Quando Lakroff enfim entrou no quarto, após cerca de uma hora desde o momento que Tom o aguardava, ficou surpreso ao ver em sua mão um violino. O que afinal o Grindelwald estava fazendo.

Lakroff, por outro lado, ficou de certa forma surpreso com a presença da Horcrux ali.

Claro, Harrison vinha a dias usando poção de sono sem sonhos, então tê-lo deitado em sua cama com Nagini cuidadosamente enrolada à ele para protegê-lo, não era uma questão.

Mas o fato de que, no lugar de um adolescente de olhos vermelhos segurando um livro, enquanto esperava pacientemente o dono do corpo retornar de seu descanso, estava em sua cama um adulto, o fez parar.

O homem, um tanto jovem e muito bem-apessoado, simplesmente um dos mais extraordinariamente lindos que se tinha conhecimento, sentava-se com as costas na cabeceira da cama e tinha em seu colo a cabeça de Harry, repousada e sonolenta. Tom Riddle ainda tomara a iniciativa de acariciar os cabelos negros do menino e dizia alguma coisa em língua de cobra baixinho, mesmo sabendo que não o acordaria, mas de alguma forma achando o mais adequado.

O platinado não tinha certeza se estava falando com o adolesecente ou com a cobra. Quando Lakroff retirou seu casaco e colocou no cabideiro, viu a horcrux pegar um travesseiro e cuidadosamente encaixar o menino de forma que conseguisse se levantar.

O albino assistia a cena sem emitir nenhum som além do farfalhar de algumas peças de roupa que retirava e do eventual toque que dava sem querer nas cordas de seu instrumento. Tom continuou falando em língua de cobras, desta vez claramente com Nagini, já que a serpente gigantesca movia-se o encarando diretamente, balançando sua língua e chiando de volta.

Seguiu para seu escritório sorrindo para o grupo de ofidioglotas, entendendo apenas algumas das coisas que saíam pela boca do humano, mas deveras o suficiente para que formulasse uma frase completa.

Humanos comuns, mesmo que ensinados em ofidioglossia não podiam entender cobras e o "sotaque", será que podemos chamar assim, de Riddle era tão forte e acentuado para se parecer absurdamente com uma cobra, tão naturalmente igual ao chiado do animal, que ficava quase impronunciável por alguém que não era magicamente apto ao dom.

Harry tinha uma linguagem muito mais entendível ao ouvido dos humanos, Tom parecia fazer questão que os humanos não o vissem como um igual, enquanto as cobras sim.

"Bem... com aquela aparência, definitivamente não é de um humano", pensava Lakroff. Não sobre a forma "Voldemort" esquisita e deformada, mas o próprio Riddle, que estava mais para um Deus (e apenas por ser o panteão mais comum para se referir a beleza) um vindo direto da Grécia, capaz de chamar Afrodite de megera desarrumada.

"Eu preciso de vinho" decidiu assim que já estava em seu escritório e constatou que seus pensamentos estavam muito focados em Tom Riddle e nos elogios dignos a ele.

De novo. Colocou seu violino na caixa aberta em uma de suas mesas e seguiu para a adega.

"Inferno, ele tinha que parecer tão gost...."

- Você não consegue ficar sem prejudicar o próprio corpo com veneno? – perguntou Tom.

Lakroff quase se assustou. Quase. Ele ainda tinha a breve sensação de que a horcrux estava se aproximando quando seguia para sua estante de bebidas, mas ainda sim estava pensando em adjetivos nem um pouco...

Qual era a palavra?

Adequados?

Qual seria o inverso de completamente promíscuo e obsceno?

- Você está me ouvindo ou está pensando em qualquer coisa aleatória que sua mente estranha e dispersa criou? – Riddle questionou, cruzando os braços.

- Em minha defesa, eu estava viajando, mas era sobre você. Então...

- Então a culpa é minha?

- Totalmente sua.

- Você estava pensando o que sobre mim?

Lakroff mordeu o interior da boca e trocou a taça pequena que tinha pego por uma maior:

- O quanto você ia reclamar quando visse a quantidade de bebida que vou tomar – mentiu, tão naturalmente como sempre era. – Ou porque você está aqui e não dentro do meu neto como um bom espírito obsessor. Que tal: o motivo para você estar se aproximando?

Ele se virou, já estava sentindo Tom praticamente atrás de si. A horcrux encarou a taça cheia com julgamento, mas nada disse sobre isso, no lugar ordenou:

- Me dê sua mão. – Lakroff não perguntou e apenas estendeu a palma vazia, enquanto com a outra tomava uma golada. – Você obedece fácil quando quer – Marvolo não se segurou em pontuar.

- Querido, você não tem ideia do quanto eu posso obedecer ordens no contexto certo, mas você fica tão bonito com o brilho de raiva no rosto que não resisto a desobedecer na maior parte do tempo.

- Acha que eu fico bonito, é? – provocou. – Eu garanto que quando fico feliz fico deslumbrante. Que tal ser bonzinho hoje e não me levar a loucura?

- Posso te levar à loucura de outras formas e garanto que achará muito "bonzinho" da minha parte.

Tom revirou os olhos e bufou, ignorando qualquer comentário que queria fazer sobre aquilo, puxou a mão do outro homem, segurou um de seus dedos e despreocupadamente colocou um anel nele.

O mais novo continuou encarando a mão onde depositara o anel, Lakroff agradeceu esta breve distração (mesmo sem saber o motivo dela) e também foi grato por estar de mangas compridas.

Porque irritantemente se arrepiou inteiro.

O "anel" era a horcrux do diadema de Rowena Ravenclaw, o platinado quase pensou sobre onde estaria o colar de Salazar, mas estava distraído demais com as mãos de Tom neste momento. E com a voz do homem, quase tão perfeita quanto ele mesmo.

Riddle comentou:

- Suas mãos são grossas e seus dedos são curtos para um pianista. Até para um violinista. Eu tive essa impressão quando nos conhecemos.

Levantando os olhos para Lakroff, lhe presenteando com aqueles castanhos avermelhados que lembraram um pôr do sol deslumbrante, porém sombrio, daqueles que raramente alguém dava a devida importância, sem todas aquelas cores vivas rosa, laranja e roxo. Não, era apenas o sol perdendo sua força para a escuridão.

Completamente alheio a viagem do homem à sua frente, continuou:

- Piano não é muito barulhento.

- Não é – concordou, quase que em transe. – O que tem?

- Você aprendia música para abafar os ruídos. Foi o que disse a Harry, pelo menos. Piano não é muito barulhento.

- É quando se está em uma sala vazia na mansão, uma com bastante eco – brincou. – Também era mais fácil convencer o idiota do meu pai a praticá-lo. Você sabe como é. Piano é apreciado entre os círculos nobres e meu pai precisava garantir as alianças dele. Quanto melhor eu fosse nessa coisa de herdeiro, melhor para os negócios.

- E o violino fica próximo a orelha... – recitou, já sabendo esta parte. – Porque estava com ele?

- Curioso comigo, Riddle? Assim vou começar a acreditar mesmo que está interessado.

- Você me deixou esperando, é só. Gosto de saber o motivo.

- Desculpe por isso, mas não sabia que teria sua ilustre presença essa noite.

- Você a teve durante a semana toda.

- Desta vez é diferente.

- Como?

Lakroff não respondeu, apenas encarou o homem diretamente e tão intenso que Tom imaginou que aquele devia ser o olhar que Harrison dava às pessoas para ler suas almas. Por fim, o homem deu outro gole longo em sua bebida e explicou em um sussurro grave:

- Desta vez posso olhar para você.

Marvolo sentiu que se fosse humano, se todo seu corpo agisse como devia... então talvez, apenas talvez e nunca admitiria isso, estaria arrepiado.

Algo na forma como foi olhado, na intensidade da voz do homem à sua frente, a certeza de que aquela frase tinha ainda mais do que parecia.

A única coisa que pensou para lidar com a situação, foi puxá-la:

- Gosta de olhar para mim? – provocou, a cabeça inclinada.

- Quem não o faria?

Tom riu:

- Posso te dar uma lista grande, geralmente dos meus inimigos.

- Eles não tiveram o prazer de vê-lo em sua glória.

- Errado, eles tiveram. Você está falando apenas de algo superficial.

- Estou? Ou considero-o muito mais em glória agora, do que quando era apenas um lorde das trevas? – questionou, seguindo para um balcão onde guardava mais bebidas.

Decidiu ligar sua vitrola trouxa, uma das poucas tecnologias (por ser tão robusta) que funcionava em Hogwarts e no barco da Durmstrang, e colocar alguma música. Talvez os sons o ajudassem a acalmar aqueles em sua própria cabeça. Depois voltou-se para baixo, onde estavam outras garrafas.

Aquela noite tinha a impressão de que seria longa, precisava de algo mais.

- Apenas um lorde das trevas?! – o outro indignou-se, seguindo-o. – O que te faz dizer isso em minha condição atual, tão decadente?

- Aquele que atinge o fundo do poço, mas se ergue em orgulho e aprendizagem, ganha uma beleza sábia que poucos poderão conquistar um dia.

- Credo, você soou como Dumbledore agora, naqueles seus discursos etéreos.

Lakroff riu, apesar do desgosto da comparação:

- Estou apenas dizendo que você pode não estar em seu máximo agora em poder, mas é a melhor versão de Tom Riddle que existe, com certeza. Por dentro e por fora. Ser uma horcrux não te tira o mérito. Você ainda... está vivo. Está aqui.

Marvolo mordeu o interior de sua boca, decidindo que não queria seguir por esse rumo. Entrar naquela conversa. Sentou-se em cima da mesa descaradamente e Lakroff percebeu, é claro, um Grindelwald sempre nota, e apenas mudou para o começo de tudo:

- Nós dois sabemos que bebida trouxa não é tão efetiva em bruxos e o sabor é bom, sabe? Não é veneno.

- Mas-

- Um dia, Riddle! – interrompeu levantando uma mão e calando o outro que o encarou mortalmente, mas o platinado nem viu em sua posição, avaliando suas bebidas. - Eu vou comprar um vinho maravilhoso – continuou. – Da melhor safra, dez anos de fermentação ou mais, bem conservado, algo absurdamente caro. Será um deleite-

- Gastará uma fortuna por alguns goles de algo como um suco forte – reclamou revirando os olhos.

- Não é o suco forte. É a experiência.

- Que experiência? – uma de suas perfeitamente desenhadas sobrancelhas estava levantada em deboche, junto com os braços cruzados.

Lakroff enfim se virou novamente para Tom e sorriu, mostrando a garrafa e a taça que pegara:

- Beber com você.

- Como é? – perguntou surpreso.

- Um bom vinho é muito bom, é claro, mas não é nada se comparado a um bom vinho na companhia certa.

Tom soltou um muxoxo desdenhoso:

- E eu sou uma companhia certa?

O moreno teve que ir mais para o lado, para abrir espaço ao loiro que se sentou ao seu lado, abrindo a rolha com as mãos e enchendo outra taça para si mesmo, enquanto falava:

- Beberemos juntos. Por isso o vinho tem que ser caro. Você é do tipo que merece algo desnecessariamente extravagante – Tom bufou, desviando o rosto que sabia controlar, mas não tinha certeza se seus olhos não denunciaram como gostou daquele comentário. – Algo menor que mil euros não é para seus lábios.

- Como é?! Mil euros? Numa bebida trouxa que nem tem efeito?!

- A experiência, Riddle. Acompanhe meu raciocínio – dispensou em falsa irritação, mas depois tornou a sorrir para o moreno. Ele fechou a garrafa novamente e repousou atrás de si, ao virar o corpo para frente, girou o conteúdo escuro pelo cristal, movendo o pulso lentamente. – Farei uma bela mesa de acompanhamentos, é claro. Você iria preferir um local chique? Ou um piquenique?

- Por que não os dois? – questionou com um suspiro, decidindo entrar na brincadeira, não conseguiria trazer o foco de Lakroff para o que queria, se não o deixasse terminar a viagem primeiro. – Um piquenique num iate.

Lakroff riu alto, levantando a cabeça:

- Um iate. Decididamente você nasceu para a nobreza.

- Você ainda tinha dúvidas?

- Nem em um único fio de cabelo meu – respondeu olhando diretamente para as orbes castanhas.

Os mais belos olhos castanhos, no mais belo rosto que já vira. Era quase injusto que alguém nascesse tão perfeito. Cada traço tão incrivelmente desenhado que era quase como observar uma pintura, ou uma escultura de mármore do mais talentoso dos artistas, no momento mais inspirado de sua vida.

Uma musa.

A mão de Lakroff coçou, uma vontade absurda de tocar aquela pele de porcelana novamente. Não totalmente real, fruto de magia.

Seria ainda mais bonito ao vivo? Se estivesse com um verdadeiro?

Ou era a magia que o transformava em uma imagem etérea?

O Grindelwald se sentia quase hipnotizado, ao mesmo tempo que fascinado. Distraído com pensamentos de quantas pessoas haviam tocado o Riddle sem serem dignas disso, porque ele, mesmo em toda a sua arrogância, nunca deu a devida importância ao seu próprio corpo tanto quanto ao poder. A estar no topo.

De um jeito ou de outro, isso acabou se refletindo externamente e agora, diante de si, estava apenas um reflexo do que um dia foi.

E era lindo assim, se um dia fosse mais, o mundo ruiria diante de si.

Como já o havia feito antes.

- Conseguirei o iate então – comentou com um sorriso brincalhão que fez Tom rir.

Ele tinha uma risada fria e singela, era nobreza em cada poro, mas ao mesmo tempo aquele gelo era refrescante e agradável, como hortelã. Uma luz quase se acendeu na cabeça de Lakroff: hortelã.

Esse era um aroma que combinava com Tom Riddle.

Tudo que era verde combinava com aquele homem?

Hortelã, livros, pergaminhos com certeza, esse podia ser seu cheiro. O que mais? Talvez café? Alguma loção de limpeza de frascos? Harrison disse que Tom gostava muitíssimo de poções e era um pocionista exímio, vivia reclamando dos métodos de Lakroff mesmo que o próprio Grindelwald fosse incrível. Carvão? Para poções que precisavam ser aquecidas por muito tempo sem magia, a fim de não afetar o resultado final...

- Você está viajando, não está? – perguntou Tom e Lakroff sacudiu a cabeça. – Dá para ver nos seus olhos quando você faz isso.

- Dá?

- Sim. Suas pupilas ficam menores e a cor... o azul parece até que fica mais claro, então ainda tem o fato de que você para em um ponto e não sai dali.

- Você deve ter razão...

- Eu normalmente tenho.

- Convencido.

- Avoado.

- Implicante.

- Infantil.

- Nós dois somos.

- Você é pior.

- Essa sua frase foi pior, Riddle – e riu, tomando outro gole do seu vinho.

- No que estava pensando?

- Em que mar iriamos viajar com o Iate.

- Você está mentindo.

- Estava pensando qual seu cheiro – admitiu.

Tom, de alguma forma, soube que esta era a resposta correta.

- Ainda com essa história?

- Você gosta de café?

- Gosto. Acha que eu teria cheiro de café?

- Só nos dias mais atarefados, quando você está trabalhando demais no escritório, naqueles em que Long tentaria te convencer a sair e tomar um ar e você, com sua incrível personalidade, usaria um feitiço para expulsá-lo e trancá-lo para fora, ainda gritaria com ele que se tentasse entrar mesmo assim, lhe daria férias forçadas - Tom engasgou uma risadinha. - Então ele viria resmungando para mim e Harrison, sobre como você não sai de lá e eu tentaria te tirar. Iria invadir, porque conseguiria, iria te irritar e no fim, você daria o braço a torcer. Nesse dia, você teria cheiro de café.

- Primeiro: Onde raios você acha que conseguiria desfazer um feitiço que eu coloquei para entrar?

- Não vamos entrar nessa discussão de quem é mais forte, sim? No fim, se eu não conseguisse mandaria Harrison e sabemos quem ganha quando ele está envolvido.

- Certo, então me explica porque sua imaginação é tão específica.

- Como é?

- Porque você pensou em toda uma situação cheia de detalhes como essa apenas para imaginar sobre meu cheiro?

- Pessoas normalmente não são assim?

- Não! – exclamou indignado, mas entendeu que Lakroff estava brincando consigo quando riu. – Você está zombando de mim?

- Não. Eu sempre fui assim. É como a história do vinho. Eu tinha viajado pensando no seu cheiro, mas antes disso já tinha viajado no iate no... pacífico?

- Atlântico, no pior dos casos. E porque na sua imaginação eu pareço viver na mansão Mitrica?

Lakroff ignorou a última pergunta descaradamente:

- Nosso passeio seria um piquenique, mas você é Tom Marvolo Riddle, eu não o faria sentar no chão, mesmo de um iate. Então uma toalha de seda, ou veludo. Almofadas e o vinho. Uma tábua de aperitivos, uvas, queijos, morangos e cacau, verá como formam uma mistura incrível com a escolha correta.

Marvolo realmente considerou insistir na outra pergunta, mas sinceramente? O que de tão ruim o faria se seguisse o rumo dos pensamentos de Lakroff? Talvez conseguisse entendê-lo melhor assim:

- Você descreve como se eu nunca tivesse bebido antes.

- Entretanto, nunca teve a experiência correta, isso tenho certeza.

- Já...

- Estou falando de tudo. Não só o vinho caro, ou o iate.

- Nunca andei de Iate.

- Estou falando de sentar lá, então fechar os olhos e deixar que eu te vendasse.

- Como é?! Acha que eu deixaria você me vendar?

- Você deixaria – afirmou com tanta certeza que não parecia certo... negar. – Porque sabe que quando um sentido é coberto os outros são aflorados. Eu lhe vendaria os olhos, com um tecido de seda, preto ou verde esmeralda.

- Precisa mesmo ser tão específico?

- Sim, porque a seda é perfeita. Ela acariciará seu rosto, manterá sua visão longe, afagará seu tato e eu pedirei que se concentre no paladar.

- Mas e a cor?

- Você fica lindo nessas cores.

Tom agarrou a borda da mesa com firmeza. Não havia como descrever o favor que não ter um corpo de verdade lhe estava fazendo, porque sabia que teria sido afetado por aquilo se tivesse. Não era tolo de ficar negando tanto assim algo dentro de si mesmo. Seu coração teria pulado, seus sentidos teriam sumido, se aguçado, se bagunçado de formas inexplicáveis e mesmo que tivesse conseguido se conter, seus dedos teriam ficado brancos de tanto se agarrar àquela mesa.

Ele teria enlouquecido.

O dobro ou mais do que já enlouquecera naquele momento. Onde preferiu ficar em silêncio pois mal sabia como sua voz sairia, se entenderia como era puxar ar e soltar para falar.

"Por que ele te afeta tanto?" pensou encarando os olhos absurdamente azuis do Grindelwald, emoldurados pelos cabelos loiros com pontas brancas, os cílios tão claros que quase sumiam.

- Eu fico lindo em qualquer cor. Eu sou lindo – respondeu com uma confiança que estava longe de sentir naquele instante, revirando os olhos e bufando com indiferença.

"Não o deixe te afetar tanto..." pensava quando Lakroff sorriu e Tom se pegou olhando por meio segundo para seus lábios. Não eram nada demais, um bom formato, uma cor simples, comuns.

Mas o beijo que tiveram há uma semana foi longe de comum.

"Por que você permite que ele te afete tanto?" foi a próxima pergunta. Porque tinha a resposta para a primeira, porque não conseguia controlar a segunda. Ele sabia exatamente o que havia no Grindelwald para deixar Tom como um idiota que ninguém nunca foi capaz...

Talvez Harrison quando ficava bravo ou chateado, mas daí era uma emoção bem diferente.

- Vou te mostrar como se aprecia um bom vinho – Lakroff continuou e pegou a mão do Riddle, colocando a taça em sua mão de forma delicada enquanto ainda estava distraído demais com os próprios pensamentos para reagir de maneira diferente do que apenas se permitir ser guiado. – Enquanto você bebe, eu não poderei ver seus olhos, nem saber o que está pensando – o loiro se aproximou de Tom, olhando-o diretamente com intensidade, sua mão, ainda segurando a do outro e a taça. – Mas eu verei seus lábios, escurecidos e umedecidos por cada nova gota de vinho, talvez até pintados de roxo, e no instante que eles se curvarem em um sorriso, eu saberei que você entendeu enfim. Imagino que você só me daria uma taça de chance?

- Imaginou certo – sussurrou Tom, porque não teve mente para conseguir fazer o som sair mais firme.

Tanta coisa estava se passando ali, havia um turbilhão gigantesco e meio confuso de sentimentos e emoções.

Emoções antigas, que Tom nunca se permitiu dar atenção ou que estivesse quebrado demais para notá-las como eram, mas que agora faziam sentido e criavam um caos próprio. Sua cabeça chiou levemente e algumas coisas estavam mais claras que outras.

- Escute – sussurrou Lakroff de volta após alguns segundos e acordando Tom para o presente. A vitrola tocava uma nova música, Tom deu alguns segundos de atenção para reconhecê-la. – Você gosta dessa, não?

- Como sabe?

- Harrison comentou uma vez, não se lembra? Estava ensinando ele a tocar, então eu mesmo comecei essa e ele fechou os olhinhos, ficou se balançando, disse que você gostava dela e entendeu o porquê.

- Não me lembrava... – murmurou ainda relativamente perdido.

"Como você lembra? Por que prestou atenção no que a horcrux do seu neto pensava?" se questionou internamente quando, de repente, Lakoff lhe tocou as mãos novamente, tirando a taça de lá e se levantando calmamente.

O Slytherin ficou confuso com a movimentação e ao sentir um pequeno puxão:

- O que está fazendo?

- Não sei ao certo – respondeu baixinho e puxou novamente, bem sutil, apenas um pedido silencioso.

Tom não sabia porque concordara com aquilo, mas quando percebeu tinha descido da mesa e era guiado por Lakroff até o centro do escritório. A música suave tocando ao fundo.

Eles se encaram, perguntas silenciosas acontecendo, mas sem uma única palavra as mãos direitas se juntaram abaixo da cintura e lentamente levantaram-se se unindo até a altura dos ombros quase na mesma linha. Tom tocou a cintura de Lakroff com a palma livre e o platinado segurou o braço do mais novo, um pouco acima do cotovelo.

E os dois giraram.

Tom guiou, é claro, mas ficou surpreso quando Lakroff não irritantemente lutou para ter o controle. O Grindelwald soube exatamente o que seu parceiro de dança estava pensando e riu com isso, sussurrando:

- Prefere quando eu não obedeço, milorde?

Tom precisou de toda sua força para que, naquela distância, Lakroff não o notasse vacilar. Foi por pouco, ou talvez tivesse até falhado, mas por todos os bruxos das trevas, quando o homem dizia aquela palavra era tão diferente.

Intenso.

O pior é que, ele não sabia a resposta. Marvolo realmente não sabia e no seu caso, não entender algo sobre si mesmo era irritante e frustrante.

Mas Lakroff não ousou estragar o momento, continuou deixando que Tom guiasse a dança, apesar de, em dados momentos, ele mesmo oferecer algo que o mais novo poderia não estar esperando, mas tão exímio dançarino como era em tudo, Marvolo soube como contornar a situação e acrescentá-la a seus passos.

Depois de um tempo, Lakroff se permitiu acrescentar suas vozes àquele momento, talvez apenas porque olhar para Riddle naquela distância e com suas mãos o tocando o estivesse começando a deixá-lo em parafuso:

- Porque estava me esperando?

- Como?

- Você disse antes, que eu lhe fiz esperar. O que queria tratar comigo? É sobre Voldemort.

- Não, mas depois também gostaria de tocar no assunto.

- Então o que o motiva agora?

- Neville.

A expressão de Lakroff não mudou de forma aparente. Pelo contrário, a reação foi tão sutil que se Marvolo não fosse tão astuto e estivesse um pouco mais distante de seu rosto, acabaria sem notar. Entretanto, o platinado não pareceu disposto àquele tema no momento.

Fechou os olhos e guiado por Tom na dança, cantarolou a música. Seu timbre aveludado, fala mansa e penetrante ecoou pelos ouvidos de Riddle junto com as palavras:

"Suddenly/ De repente

I'm not half the man I used to be/ Eu não sou metade do homem que costumava ser

"There's a shadow hanging over me/ Há uma sombra pairando sobre mim"

"Oh, yesterday came suddenly/ Oh, o ontem veio de repente"

Então o homem riu, uma risada vacilante e profunda.

Riddle o encarou confuso:

- Do que está rindo agora?

A mão de Lakroff o apertou:

- Acho que não esperava que você gostasse de uma música trouxa, sabe?

- Geralmente? Não mesmo, mas não é como se tivéssemos grandes exemplos entre os bruxos.

- Aí te imaginei...

- É claro, imaginou muitas coisas específicas?

- Só algumas – sorriu, olhando diretamente naqueles castanhos tão belos. Deixando que Tom se distraísse com o céu azul nos próprios – Te vi andando pela Londres de 1965, depois de muitos anos fora estudando magia obscura. É noite e a cada loja que passa pelas avenidas tem um rádio ligado, músicas diferentes, mas com as mesmas vozes. A mesma banda. Aparentemente a nova queridinha dos trouxas. Você não gosta disso, os ruídos da cidade grande, mas só a princípio. Nota como algumas são calmas e a letra é bonita. Você está de volta em casa, mesmo que nunca tenha sentido que era sua casa. Então eles continuam cantando quando você chega no seu destino.

- É, bem específico .

Tom nem se preocupou com aquilo, quando a música acabou, um breve momento de silêncio antecedeu uma nova voz eclodir pela caixinha de som trouxa. A banda da vez era "The Smiths", se Marvolo não estivesse enganado dos momentos que tocaram pelos corredores da mansão Mitrica. Eram menos famosos que Os Beatles, mas aquele disco parecia juntar melodias diversas das últimas décadas. Coincidentemente aquela música era outra que o agradou e acabava lembrando-se vagamente.

Eu Sei Que Acabou/ I Know It's Over.

Riddle pensou que haviam terminado com aquilo, mas Lakroff não o soltou e até se inclinou, deixando claro como queria permanecer dançando. Levou a mão que estava no braço, para a cintura de Tom e puxou o mais novo para um giro. Quando Riddle voltou à posição inicial, foi igualmente puxando Lakroff em outra direção, assumindo o controle com um sorriso de desafio escapando pelos lábios.

A música menciona: "E se você é tão esperto, então por que está sozinho esta noite?" e Lakroff está diretamente sorrindo para Tom, como se lhe fizesse a pergunta.

"If you're so very entertaining/Se você é tão divertido

Then why are you on your own tonight?/Então por que está sozinho esta noite?

If you're so very good-looking/Se você é tão bonito

Why do you sleep alone tonight?/Por que dorme sozinho esta noite?"

- Mas não estamos sozinhos esta noite – comenta.

Não parecia estar falando com Tom, por isso nem tentou responder àquilo.

Ele e o platinado pensando ao mesmo tempo, se afastando e, no mesmo passo, a mão esquerda de Tom segura a direita de Lakroff, depois o inverso em dois giros seguidos para acompanhar o ritmo da guitarra e da bateria.

O Mitrica ri, a alegria sincera pingando com aquele som e canta, agora um pouco mais motivado:

"I know/ Eu sei

'Cause tonight is just like any other night/Porque essa noite é como qualquer outra noite

That's why you're on your own tonight/É por isso que você está sozinho esta noite

With your triumphs and your charms/ Com suas conquistas e seus encantos

While they're in each other's arms/Enquanto eles estão nos braços um do outro".

Tom gostava da música, mas nunca a apreciou.

De repente, toda aquela baboseira de "experiência" de antes pareceu fazer sentido. Quando estava escutando pelos ouvidos de Harrison, a música pareceu melhor, uma recordação bem mais especial do que quando era apenas Riddle caminhando e sendo forçado a escutar os trouxas tocando aquilo em qualquer oportunidade.

Agora...

Marvolo realmente estava aproveitando cada trecho como se fosse algo que que durante toda a vida fez parte de seu gosto.

De repente, todo o gosto que os Mitricas pareciam ter por música, as horas que Harrison gastou no piano, que Diego aprendeu com bateria, ou Heris no violino. Elas valiam a pena, porque música, pela primeira vez, parecia boa.

Não perca de tempo.

Pela primeira vez, na vida, se lembrou de cada palavra.

E cantou junto:

"It's so easy to laugh, it's so easy to hate / É tão fácil rir, é tão fácil odiar

"It takes strength to be gentle and kind /É preciso ter força para ser gentil e bondoso

"Over, over, over, over / Acabou, acabou, acabou, acabou"

O trecho se repetia até o fim da música e a cada giro ou passo dos dois pelo escritório, suas vozes se acompanhavam ao vocalista Morrissey.

Quando as últimas notas terminaram de ser tocadas e aquele chiado da agulha no disco antecedeu a nova música, Lakroff estava um pouco ofegante, suas bochechas haviam se avermelhado com o movimento, mas sorria. Sempre sorrindo.

Riddle não precisou arrumar palavras, deixar que o momento simplesmente sumisse por sua frieza usual, pois Hey Jude dos The Beatles se iniciou e Grindelwald voltou a contar sua história:

- Você não gosta dos trouxas e o que eles fazem é tão banal, mas as músicas ficam na sua cabeça. Você já se sente mais que um simples humano, já aprendeu tanto, nem dá atenção a "contaminação". Depois de tudo, se sente mais realizado, então se assim for, aquela poderá se tornar a trilha sonora que acompanha seu momento. Talvez a trilha sonora final deles – e ri de novo. – Na época você não sabia como tudo ia acabar, mas já está longe da pessoa que sentia raiva por tudo que vinha deles. Não sente mais nada. Perdeu muito da alma para isso, mas não sabe.

- Só que eu lembro das músicas?

- Fica na cabeça. "Na, na-na-na-na-na-na-na-na, hey, Jude!"

Tom nega com a cabeça, percebendo que, desta vez, os dois estão no mesmo lugar repetindo um movimento de vai e vem que seguia a batida da música, sem realmente valsar.

Mas não se afastaram.

Sem se dar conta, sua boca se abre em uma pergunta completamente estranha:

- O que te fez gostar de música trouxa?

Normalmente não se interessava pelas pessoas. Muito menos sobre questões tão banais como esta, que nem poderia usar a seu favor depois. Isso o fez pensar em como aquela informação poderia ser útil de alguma forma, mas mesmo que não encontrasse grandes ganhos nela, apenas...

Queria saber.

Queria conversar com Lakoff Mitrica.

Como uma pessoa normal.

Ele conhecia tanto do homem, como alguém que ouvia tudo por Harrison... mas tão pouco por si mesmo.

- Consegue imaginar a sensação de ouvir música depois de anos preso se arrependendo da sua vida inteira?

A pergunta pegou Riddle de surpresa, ainda mais com a intensidade nela. Assistiu os olhos azuis de Lakroff escurecerem e sentiu a dor da solidão ali, do cárcere e do arrependimento. Do peso que carregava em seus ombros.

- Sim, consigo – respondeu com sinceridade.

Harrison não era, nem de longe, uma punição. Harrison era a chance de viver.

Mas Voldemort era uma prisão.

Um corpo frio, desconectado da vida, que perdia tudo à sua volta em prol de força para conquistar algo que provavelmente nunca seria o bastante para preencher o vazio que causou a si mesmo.

"Acabei de sentir" pensou, incapaz de admitir, mas talvez aquele tinha acabado de ser o seu momento de ouvir música pela primeira vez após anos longe do mundo, com seus ouvidos, seu corpo.

Mesmo que feito de magia.

- Então já sabe porque gosto de música trouxa.

Tom se viu cantando a poucos minutos atrás em voz alta uma música enquanto rodopiava em uma sala. Sim, ele sabia exatamente porque Lakroff apreciava música.

Para sua surpresa, quando Come Together começou, finalmente Grindelwald achou de bom tom parar com o que estavam fazendo e, com uma educada reverência, encerrou a dança.

Sempre muito bem treinado com os trejeitos da alta sociedade, Marvolo retribuiu a reverência, então assistiu o outro homem seguir até a mesa de seu escritório, sentando na cadeira de couro giratória e suspirando:

- O que tem Neville?

Ao menos ele não estava me ignorando, pensou a horcrux, seguindo até o mesmo local. Tomou um lugar na cadeira que havia imediatamente a frente da mesa, mas detestou.

O contexto, a porta mais ao canto que dava diretamente para o corredor, onde os alunos podiam recorrer ao vice-diretor, fez Tom se sentir como se estivesse na escola falando com Dipped.

Péssimo.

Levantou-se e encarou a mesa.

Lakroff franziu o cenho:

- O que foi?

Tom avaliou suas opções e nada parecia diminuir a ideia de que Lakroff era a figura de autoridade ali, imagem que queria fugir com certeza. Ele era superior naquela dinâmica. Então, foi para o outro lado da mesa, junto do platinado, e se sentou novamente bem em cima da madeira, próximo ao mais velho e com a cabeça a centímetros mais alta. Olhando-o de cima com um sorriso satisfeito.

Certo, agora também não estava perfeito, mas era melhor que a outra opção.

Lakroff viu a ação como muitíssimo divertida, lhe oferecendo um de seus sorrisos ladinos. Absurdamente lascivo visto daquele ângulo.

Onde seus olhos se estreitaram, enquanto os cílios loiros eram acentuados, piscando lentamente, as pupilas pareciam maiores e... necessitadas. A boca levemente aberta pelo ato de levantar o queixo, a cabeça inclinada.

Lembrou Marvolo de quando alguém se ajoelhava diante de si.

E implorava.

- Algumas pessoas ficam feias se vistas de baixo para cima, já ouviu falar?

Tom apenas arqueou sua sobrancelha em desafio. Como se ele fosse ficar feio!

- Não é seu caso.

- Eu sei.

- Se eu não conhecesse seu passado, poderia até acreditar que não tem como deixá-lo feio, mas você mesmo fez isso, então...

Tom chutou Lakroff, que riu enquanto agarrava o pé atacante.

- Acho que já passamos por isso.

- Se tentar me derrubar de novo... – reclamou.

- O que? Desta vez você cairia direitinho no meu colo.

- Descarado.

O mais velho apenas sorriu, mas da mesma forma que não rebateu, também não soltou o pé do Slytherin. No lugar, puxou o outro e colocou ambas as pernas de Marvolo por cima de suas pernas, puxando conversa:

- Sabe o que estou pensando agora?

- Acredito que nem se vivesse para sempre conseguiria acompanhar o rumo dos seus pensamentos vacilantes, Grindelwald. Esclareça-me.

- Você está descalço – comentou acariciando aquela parte da pele exposta, vendo como era gelada, como era inumano.

Não haviam veias aparentes, afinal não tinha sangue correndo por elas, sem pelos, ou marcas de tempo e vida, como cicatrizes. Realmente era porcelana, magia pura.

Uma pessoa de mentira.

Esse pensamento gerou ao loiro um arrepio.

Uma horcrux era apenas meia pessoa. Nem isso, se tratando de Tom. Mas aquela pequena parcela de ser humano foi capaz de criar a própria história, a própria vida. Alguém que praticamente criou uma criança, da forma que pôde. Que ganhou um amigo, muito mais jovem e lhe levava para vários lugares em um mundo só deles.

Alguém totalmente diferente do que um dia foi, mas principalmente, único da pessoa e do corpo que alguém afirmaria ser "o original". Quanto aquela parcela de alma de Tom valia? Aquilo que viveu na mente de Harrison? O que vivia agora?

Tudo podia sumir um dia? Como se nunca tivesse estado lá, apenas porque era uma horcrux...

Um recurso. Um feitiço. Um objeto.

Um nada para quem o fez.

Tom era falso, mas estava ali! Pensar dessa forma, que o homem à sua frente e que segurava de forma sólida, não existia... que Voldemort era a pessoa real e aquilo era só um espectro passageiro...

Foi tão doloroso para Lakroff que sentiu o ar lhe faltando.

- O que tem eu estar descalço?

Como poderia aquela voz, aquele que deu tantas memórias à Harrison, não existir?

Era "apenas uma horcrux".

Que queria de Lakroff a força para encontrar o corpo e matá-lo, levando junto consigo tudo que foi, como se nunca estivesse ali antes. Nem um corpo sobraria, não o de Tom ao menos. Apenas Voldemort.

Não eram a mesma pessoa. Nunca.

- Está se distraindo de novo? – perguntou Tom, quando um dos toques de Lakroff foi especialmente diferente, lhe causando um arrepio.

Provavelmente porque sua pele era fria e a do Mitrica muitíssimo quente, pensou.

- Apenas um pouco desta vez.

- Não acredito em você.

Ao menos isso fez o loiro sorrir de novo:

- Sabe, você se materializa com roupas, quando assume uma forma física. Então porque não ganha sapatos? Está descalço de novo, assim como na mansão Black.

A resposta da horcrux surpreendeu Lakroff:

- Gosto de andar descalço.

- Como é?

- O que foi? – cruzou os braços, as sobrancelhas levantadas.

- O grande Lord Voldemort não se importa de sujar os pés de lorde dele com o chão imundo onde pisam os mortais e-Ai ai! – gemeu quando o moreno lhe chutou no abdômen. Não que tenha doído. Ele tinha músculos o bastante e reflexos melhores ainda para segurar o pé antes que o atingisse com a força necessária para gerar estrago, mas ainda reclamou, fazendo drama. – Você diz que quer conversar comigo e vem com essa agressão toda?

- Você estava debochando de mim.

- Não estou.

Quando a expressão do Riddle endureceu complemente, o Grindelwald não se aguentou e riu:

- Te garanto que não! Eu só achei estranho que alguém como você gostasse de sentir os pés no chão ao ponto de sua horcrux se materializar assim. Na verdade, o fato de eu achar estranho deveria ser elogio.

- Por que seria elogio?

- Porque te vejo como alguém tão especial diante dos demais, que te imaginar em situações mundanas sempre é a última coisa na minha cabeça – murmurou com uma voz grave, cada sílaba bem pronunciada, saindo por seus lábios como seda.

Porque aquilo acontecia? Porque os momentos entre os dois podiam estar seguindo por um ritmo e tão rápido se tornarem densos, carregados, como se algo invisível porém quente preenchesse o ambiente?

Uma névoa que sussurrava coisas estranhas, mas que os fazia se olhar e se perder ali. Tom via o céu, mesmo sentindo a terra e o chão, Lakroff encarava o pôr do sol e a noite, mesmo que estivesse completamente perdido no tempo.

Talvez nada fosse muito diferente, visto de fora, mas entre eles tudo se tornava. A voz de Lakroff não era a mesma, tranquila, despojada e sábia. O coração de Tom não era o mesmo, estático.

De repente, eles se sentiam pessoas de novo. Aqueles que sempre foram.

Lakroff não era mais Lakroff, mas o homem que nasceu e escondia por trás do rosto do professor. Sua entonação, seu verdadeiro rosto, o olhar ardiloso, sorrateiro e inteligente. Era como um cântico de veela macabro.

Alguém capaz de manipular e enganar como se fosse parte de sua natureza, e era. Um bruxo capaz de derrubar estruturas e convencê-las a continuar em cinzas. Muito próximo do tom que usava para dar aulas, mas com um brilho a mais.

O brilho do homem perigoso de verdade que se encolhia a exaustão para passar despercebido.

Talvez fosse o toque sutil em suas canelas ou enfim a presença do rosto verdadeiro de seu algoz. Marvolo não soube dizer o que o desconcertou mais. O que causou os arrepios no fundo de sua alma.

- Achei que já tínhamos estabelecido isso, entende? Com o piquenique no iate e tudo mais.

- Eu sou um homem de grandezas.

- As maiores.

- Andar descalço não é grande o bastante – foi uma afirmação, não uma pergunta, mas Lakroff rebateu mesmo assim.

- Se você o faz, então acredito que torna-se.

Tom se viu de novo com aquela sensação desconcertante de estar fora de um ambiente conhecido, uma situação que pudesse controlar como desejava e com a maestria de que se vangloriava, por isso tornou a usar a fuga mais fácil, porém não covarde:

- Isso é outra tentativa de me paquerar, Grindelwald? – e aproximando seu rosto do homem, continuou – Porque você já conseguiu mais que isso. Até homens num bar foram menos previsíveis.

- Você já foi a um bar? – sorriu, ainda completamente provocativo.

- Mais uma situação mundana onde não me imagina?

- Você é demais para um bar.

- Eu sou demais para qualquer lugar – corrigiu inclinando a cabeça de forma convencida.

Lakroff aumentou seu sorriso, sem questionar a afirmação, apenas puxando naquela direção, os olhos nunca perdendo o outro quando enfim soltou Riddle e se levantou.

Tom assistiu imóvel enquanto o platinado se aproximava dele e inclinava-se, colocando as mãos na mesa, uma de cada lado de seu corpo.

Ficaram parados, aguardando, imaginando até onde...

Até onde iriam desta vez?

- Evidente – sussurrou Lakroff. – O senhor é demais para qualquer lugar, Milorde...

Tom cerrou os dentes, porque quase arfou.

Mas odiava perder e sentia aquilo como uma derrota, um ponto à seu inimigo. Não entregaria assim tão fácil. Levou a mão até a gravata de Lakroff e o puxou, garantindo controle.

Estava em sua mão, do jeito que gostava:

- Nós dois sabemos o que você está querendo, Grindelwald...

- Por favor, milorde, porque não diz o que seria? – ele tentou se aproximar mais, Tom manteve-o exatamente onde queria, segurando com força.

Claro que, da mesma força que Riddle gostava de estar no controle, ele se esquecia do que Lakroff mais gostava: perder o seu para alguém que conseguisse. Ele suspirou quando teve a gravata mais apertada contra o pescoço e Tom mordeu o lábio inferior com tanta força dentro da boca, que se tivesse sangue ali, teria saído.

O Mitrica estava distraído demais com os olhos para notar a boca, mas viu o pequeno deslize por lá também. Como Riddle estava perdendo o controle interno.

A quanto tempo não recebia um desafio tão excitante?

- Mas também sabemos – continuou Tom. – Que eu nunca ofereceria algo assim tão fácil.

- Basta me dizer o que quer em troca, milorde.

"Que pare me chamar assim antes que me enlouqueça!" pensou, mas a boca emitiu algo diferente:

- Me dê as respostas que quero.

- Então serei recompensado, como um bom serviçal?

- Como um bom cachorro – corrigiu e tremeu de satisfação quando Lakroff ficou claramente tão afetado quanto ele próprio estava. – E então, quer seu petisco?

- Qual a pergunta?

- Porque você nunca gostou de Neville Longbottom?

Para a surpresa de Tom, que imaginou que aquilo seria o bastante para arruinar o momento e livrá-lo de toda aquela tensão, Lakroff respondeu rapidamente, sem mover um músculo, apenas... obediente. Isso causava tanto efeito quanto sua rebeldia, como era possível?!

- Não gosto que Harry pareça depender tanto emocionalmente do menino.

- Mas não se importa que dependa de outros? Parece que você está mentindo de novo...

- Outros quem?

- Os irmãos, a corte, você?

- Ele não depende de nós, apenas é mais forte conosco. Conseguiria continuar mesmo na nossa ausência. Nos substituir. Nada substitui o que ele sente por você ou Neville e você jamais faria mal a ele.

Riddle fechou os olhos, acertado por uma dor intensa:

- Não de novo. Não da mesma forma, mas ainda... – suas pálpebras cerraram ainda mais, confrontado com a realidade, confrontado com seu maior medo. – Ainda pretendo deixá-lo.

Lakroff tocou a mão que Riddle usava para segurá-lo e sussurrou:

- Você pretende protegê-lo.

E mesmo diante do medo, da insegurança e dor que era lembrar que queria matar Voldemort, mesmo sabendo que isso o destruiria, enfim entendeu a parte mais importante da resposta de Lakroff. Enfim teve sua resposta verdadeira.

- Neville não? – perguntou, abrindo os olhos, completamente surpreso.

Ele viu, viu quando os olhos de Lakroff escureceram, então giraram como fumaça, como se o céu tivesse ganhado nuvens densas, que por fim se dissiparam em dor:

- Neville Longbottom é um grifinório.

- O que isso quer dizer?

- Ele é leal a uma causa, não a uma pessoa.

- O que você viu?

- Não posso dizer.

- Não quer seu petisco? – e puxou mais a gravata, recebendo um arfar do outro em resposta.

- Neville Longbottom sempre apunhala, qualquer um de nós, com a espada de Godric Gryffindor. Não importa quantas vezes eu olhe para o futuro, Nagini, você, até mesmo eu. Nunca o Harrison, diretamente, mas ele sempre está do outro lado e, às vezes, Harry está morto. Ele diz isso. As visões não são claras e isso é uma guerra. Não quer dizer que haverá uma guerra, nada disso pode acontecer. Eu só vejo desastres, sabe disso.

- Não vê assassinatos – lembrou Tom.

- Não.

- Então se Neville matar Harrison antes de uma guerra eclodir você jamais veria.

- Não...

- Se ele decidir, ou for convencido, que essa é a forma de parar a guerra...

- Então eu não veria – confirmou Lakroff.

- Nem se você fizer um ritual? Matar alguém? Usar o sangue e a magia necromante?

- Acha que eu não tentei? Eu não consigo, é como se tivesse algo me impedindo.

- Como uma magia ou um bruxo que soubesse exatamente como enfrentar um vidente e garantisse que ele não pudesse ver a coisa?

- Sim.

- Alguém como Dumbledore?

- É.

Tom precisou de um tempo. As informações se juntando e formando combinações em sua mente. Lakroff não tinha tudo e nem uma confirmação direta de que Neville faria alguma coisa, por isso sempre se manteve cauteloso, mas nunca fez nada diretamente, como se livrar da ameaça. Tão pouco seria simples considerando os sentimentos intensos que Harrison nutria por ele. Era uma situação realmente muito delicada e antigamente Tom optaria apenas por arrancar o mal pela raiz, sabia que Lakroff também, mas ambos não eram mais os mesmos e se importam demais com os sentimentos de um menino para apenas destruir algo que o deixava feliz.

Mesmo que aquilo pudesse destruí-lo.

Tinham que encontrar outra maneira.

Ele olhava para o lado enquanto meditava diante das novas informações, mas sentiu o momento que Mitrica apertou com um pouco mais de força sua mão. Ao olhá-lo, notou que não foi algo intencional, o homem estava claramente perdido em sua própria cabeça e seu olhar tinha tanta dor que parecia até algo físico.

Marvolo percebeu, um pouco surpreso por sua parte, que realmente tinha mudado muito convivendo aqueles anos com Harrison, lhe dividindo a alma e a vida. Ele, descartando todos os momentos com o adolescente cujas emoções eram ligadas em uma, conseguiu entender alguém. Realmente compreender o que lhe afligia e simpatizar com aquilo.

Foi novo, interessante como aprender algo novo em uma matéria que se tinha muita dificuldade e finalmente se aliviar que havia avançado, ao mesmo tempo que foi triste e assustador.

Estava se encaminhando para perder aqueles momentos.

Era tão contraditório.

Precisou morrer para entender o valor da vida. Precisou viver de longe para entender o que sempre esteve perto, mas não notava. E precisou se apegar para... bem... se desapegar e estender a mão à morte.

- Vai ficar tudo bem – consolou.

Tom Marvolo Riddle, lorde das trevas Voldemort, consolando alguém.

Ha! O mundo realmente estava de cabeça para baixo.

Como se um Slytherin querendo se sacrificar já não fosse prova o bastante.

- Como?

- Você vai conseguir impedir isso, sei que vai.

- Eu nunca fui bom em impedir minhas visões, você sabe.

Lakroff nem mesmo o olhou ao dizer aquilo, apenas o apertou mais. Não haviam lágrimas em seus olhos, realmente apenas dor e amargura. Ele não era um homem de chorar, não foi ensinado assim. Como tinha dito antes, foi treinado para mais:

- Você é um Grindelwald. É ótimo em perseguir o que quer.

- E me queimar.

- Você pode ser terrível em impedir visões, mas não teve nenhuma visão com Neville matando Harrison, certo?

Enfim o mais velho tornou a olhar para Marvolo:

- No que isso ajuda, considerando tudo?

- Ajuda que você foi perfeito sempre que tentou fazer uma visão acontecer – diante do franzir de sobrancelhas do outro, Tom continuou. – Mesmo que tivesse interpretado tudo errado, quando queria que uma visão acontecesse, você a viu diante dos olhos. Quando quis ver Harrison envolto de chamas na mansão Mitrica destruída, conseguiu exatamente isso. Foi atrás dele e levou-o para sua casa apenas porque usou suas visões para mantê-las como eram.

- Qual o objetivo, neste caso?

- Ache uma visão e faça com que aconteça. Uma que vá ajudar Harry. Pare de lutar contra o destino, ele não gosta quando você faz isso. Lily era boa nisso, não você. No lugar: use-o. Faça com que o que ele quer aconteça, mas da sua forma. Manipule o jogo, não mude-o. Se sabe que Dumbledore tem um plano, não o evite. Crie o contra ataque. Se não sabe como impedir o dia que Harry vai ser queimado, então esteja na estação todos os dias com os remédios de que ele precisa. O pior vai acontecer? Que assim seja! Faça seu papel de médico que jurou a ele, e conserte as feridas depois.

Lakroff ficou completamente boquiaberto.

Embasbacado, surpreso.

Impressionado.

Aquilo...

- Há uma semana atrás, te ouvi dizer a Harrison que você era aquele que cuidava da contenção de danos. Porque está tentando se atribuir mais funções, se já é o melhor no que faz? Eu também não quero que Harry sofra, mas na vida não há modo de evitar isso, então apenas...

- Você é extraordinário.

Tom piscou diante da interrupção e do olhar que vinha com ela. Levou um tempo para que se recuperasse daquele alento, mas quando o fez, sua resposta foi óbvia:

- Eu sei que sou.

- Eu o desejo – admitiu sem rodeios.

Assim como soube entender antes, agora tinha conhecimento que as palavras do Mitrica não vinham de questões puramente físicas ou pela sua aparência de Riddle, como tantos outros antes. Lakroff se sentia daquela forma por admiração a Tom e até um tipo de companheirismo único que fundiram do acaso. Por seu intelecto, tanto quanto pela personalidade e as futilidades sutis, mas significativas que os levaram até ali. Pelos momentos daquela noite e de outras. Por admiração a sua evolução, a pessoa que se tornará e a capacidade de ser e agir diferente de quem já foi.

Ele desejava aquele Tom, que acabara de assistir e conviver nas últimas horas, em todas as suas facetas. Este fato era o único que podia realmente atingir seu alvo.

– Eu o desejo ardentemente – repetiu logo em seguida.

- Não é o primeiro.

- Não preciso ser. A ordem não importa, apenas a intensidade.

- O quão intenso é isso?

- Mais do que eu jamais podia esperar.

– De mim ou qualquer outro?

– Na vida.

- Você não mede palavras.

- E você me tortura...

- Ouvi dizer que sou bom com isso.

- É terrível – chorou.

Tom, por outro lado, sorriu. Um sorriso que fez as pernas de Lakroff balançarem.

E suas estruturas ruíram, quando a horcrux ainda sussurrou, bem próxima de seu rosto, bem lentamente como o sopro de uma brisa, mesmo que a intensidade do golpe fosse de um tufão:

- Pois pensei que você fosse um masoquista.

O gemido que o platinado emitiu só não se estendeu mais porque foi sufocado antes de sair da boca pelos lábios de Riddle contra os seus.

A forma como aquilo fez suas células gritarem era mais uma comprovação de que Lakroff estava acabado. Não importava o que dissesse para si mesmo ou o quão rápido aqueles sentimentos pareceram surgir para atingir um pico tão intenso (ele sempre foi um homem chamado de "emocionado" mesmo), tudo se resumia a como ele ardia por dentro, de como ansiava por mais e como enlouquecia por completo.

Riddle era gélido, mas Mitrica estava queimando, aquilo era errado, mas estava tão certo de seus desejos que a palavra era apagada em seu vocabulário, a falta de cheiro acentuava os outros sentidos, de olhos fechados ele apenas sentia a maciez, a suavidade.

A felicidade.

Ele se inclinou para mais, Marvolo puxou-o para baixo com seu controle no tecido do pescoço, sua boca se abriu com o movimento e foi invadida rendendo-o tão avassaladoramente que derretia e endureceu ao mesmo tempo.

Quando suas línguas se juntaram e chocaram grosseiramente em um beijo necessitado, apressado e confrontante.

Nada era simples com os dois, não podiam simplesmente deixar que o outro ganhasse, ficasse por cima. Lakroff não pararia de ser um desafio, movendo a cabeça como podia para escolher novas posições onde pudesse saborear mais e mais daquilo, do momento, daquele pequeno mas infinito pedaço de Riddle.

Tom não parava de mandar, de ser rude, mordendo, puxando, ditando as regras, se irritando quando o outro não obedecia, gostando da mistura de emoções, de sentir tão intensamente algo. Ele punia Lakroff com o distanciamento, apenas para vê-lo implorar e então grudá-los novamente, se chocando, se machucando, sentindo o sangue dele conforme machucava mais e mais seus lábios. Mordidas fortes, chupões por cima de feridas que se formavam.

Um gostava de machucar e o outro de sentir dor.

Era errado ou completamente certo?

Nenhum dos dois sequer cogitou pensar nisso. Suas mentes estavam na emoção, nos sentidos. O gosto de ferro no sangue Grindelwald, o gosto de beijar Riddle.

Lakroff não aguentava a euforia, agarrou com força a cintura mais fina do seu objeto de desejo e, para seu deleite, este permitiu, mas não foi barato. Tom puxou com força os fios do cabelo claro em uma direção, a gravata em outra, sufocando levemente, ardendo, não permitindo que Lakroff tomasse mais. Se aproximasse mais. Como alguém que dá um copo de água para um sedento que acabara de sair do deserto e logo em seguida mostrasse um oásis. Mas apenas mostrasse.

E isso só aumentava mais o desejo do Mitrica.

Sedento.

O coração estava tão disparado, mas era completamente ofuscado por gemidos e quando sua mente estava turva ao ponto crítico, tudo lhe foi tirado. Como antes, abrupto e frio, tal qual o responsável por tudo aquilo.

Lhe dando um simples petisco.

Acabava.

O deixava desesperado por mais.

Fácil de controlar.

Exatamente como Tom queria e Lakroff sabia, mas por todas as artes sombrias, ele amava estar exatamente assim.

O sorriso insano em seu rosto o denunciava enquanto encara Riddle, ofegante, bagunçado, destruído.

E Marvolo estava satisfeito em vê-lo assim, não escondeu o fato:

- Eu disse que se fosse um bom menino ia gostar.

- Se eu sempre fosse bonzinho, não lhe agradaria, milorde. Então tenho que ser os dois para atendê-lo.

E, de forma inédita, Tom permitiu que Lakroff assistisse como aquilo não só era uma verdade, mas o afetava. Marvolo fechou os olhos e girou a cabeça satisfeito. O mais velho assistiu fascinado.

Não houve mais tempo para palavras. Nem ações, infelizmente.

Ambos escutaram o som do bater da porta e se encararam.

- Aluno? – perguntou Tom, baixo para não ser ouvido.

- Não.

O mago pegou sua varinha e apontou para um de seus descansos de papel, a coisa se transfigurou e tornou-se uma caixa que Riddle identificou como sendo de cigarros trouxas.

- Aceita estes ou prefere charutos?

- Tanto faz! – reclamou, pegando a caixa e saindo da mesa.

Ele correu até a vitrola e levantou o pino, para parar com as músicas, enquanto Lakroff tentava se deixar minimamente ajeitado.

Não teve muito sucesso, mas não conseguiu ver e nem se importava. Seguiu até a porta e olhou para Tom, para confirmar se estava tudo certo. A horcrux apontou para o cigarro e com outro feitiço rápido, o Mitrica o acendeu, deixando dar o tempo de duas tragadas e a fumaça se espalhar antes de abrir a porta.

Sirius Black estava do outro lado.

E parecia bem ansioso.

- Sirius, a que devo a visita esta hora?

- Preciso de... ajuda.

- Venha, entre – convidou, abrindo espaço.

Mesmo que os sentidos, principalmente o olfato de Sirius não fossem fortes como Remus Lupin para notar algo tão mundano como a ausência de cheiro de Riddle, Lakroff era alemão. Já lera o clássico de Patrick Süskind, "O Perfume", o início do romance onde as pessoas notavam sempre que havia algo errado com o protagonista, tinham aversão por si, repúdio, até perceberem pela ausência de cheiro e o temerem como algo tão anormal que podia ser fruto do diabo? Não iria se arriscar com Riddle.

Outra que a simples ação mundana de fumar, a presença de algo humano como um vício para a mente e memória do Black, seriam o bastante para tornar Tom tão comum e real quanto qualquer outro, o que poderia anular detalhes suspeitos aqui e ali.

Sirius entrou no escritório e olhou envolta, como um aluno desconfortavelmente pego fazendo algo que não devia. Quando seus olhos bateram em Tom, sentado em uma poltrona mais ao canto (diferente do que Lakroff imaginaria), ele não fez qualquer comentário de deboche por sua presença àquelas horas. Do contrário, sorriu e acenou:

- Thomas, boa noite. Fico feliz que está aqui.

Marvolo tossiu, mas o ato de fumar já disfarçava a reação àquela frase.

Sirius Black tinha dito que estava feliz com a presença de Voldemort.

O mundo era uma piada extremamente longa.

- Boa noite, Lorde Black – cumprimentou, sempre com os bons modos. – O que o trouxe aqui?

- Eu fiz merda, eu fiz muita merda, eu... – houve uma pausa, onde negou com a cabeça, mas então tornou a repetir: – Foi uma merda das grandes.

- Sente-se aqui e nos explique – convidou, apontando para uma poltrona ao lado da sua.

Lakroff não pôde segurar a provocação que correu por sua boca tão rápido quanto tinha a impressão de que seu beijo tinha sido. Mesmo que soubesse que passou um tempo demasiado:

- Que bom, meu amor. Você já se sente em casa para ir convidando as pessoas?

Riddle se dignou apenas a tragar o cigarro e cuspir para o alto a fumaça, enquanto seu dedo do meio o cumprimentava.

Focando no que mais o interessava, sua curiosidade, questionou:

- O que você fez Black?

A resposta foi simples e direta, para sua felicidade:

- Eu dei um soco na cara de Severo Snape.

Tom imediatamente tossiu de novo, mas dessa vez porque a risada foi tão intensa que fez seu tórax se contrair.

Enquanto Lakroff arregalava os olhos, surpreso, Riddle ria com gosto, a voz projetada para fora de forma sincera e desinibida.

- Como é? – perguntou Lakroff.

- Por favor, me deixe ver a memória disso! – pediu Tom aos risos, o corpo se agitando em gosto com a simples ideia de que aquilo havia mesmo acontecido.

Severus Snape levou um soco. Bem na face.

"Toma essa espião duas caras" , comemorou.

Por mais infantil que fosse, ou que suas convicções não permanecessem as mesmas.

Não importava.

Se sentiu bem e vingado.

- Você tem uma penseira, não tem Grindelwald? Pegue-a – ordenou, tragando seu cigarro agora como se fosse um ato de comemoração e contemplação.

O Mitrica, é claro, não podia deixar o momento bom como estava:

- Como desejar amor, só me dê um beijinho e eu faço correndo.

- Se eu te chutar você faz devagar? Acho que compensa a espera.

- Vocês podem se paquerar quando eu for embora, agora me ajudem! – pediu Sirius.

O Black notou, mesmo que estivesse desesperado, como nenhum dos dois corrigiu aquela fala. Apenas voltaram a focar:

- Certo. Conte-nos toda a história, sim? – pediu Lakroff, de volta a posição de velho sábio professor.

Gentil e passivo.

Tom estreitou os olhos para aquilo, mas não disse nada, enquanto fumava apenas pensou que aquele decididamente não era o homem em suas mãos até pouco tempo atrás.

Sirius começava:

- Hoje mais cedo, precisei levar uma coisa que Minerva queria que fosse deixada no laboratório de poções...



VOTEM

Como eu disse antes, mas apenas para ressaltar, ESSE É MEU FAVORITO DESDE O CAP 23! 

Junto com "Tom e Marvolo Riddle" e o capítulo 10 "Lilian e James Potter" formamos meu top 3 da fanfic toda! Quero deixar claro que esse top é formado pelos capítulos que mais gostei de escrever, então existem outros bons ou até melhores como enredo, etc, o arco do fim de semana é meu xodó, por exemplo, mas foi mais difícil escrever. Esse veio natural, os personagens apenas criaram vida e foram. Uma delicia.

Espero que tenham gostado (e comentado, to de olho hein, eu escrevo e vocês tem que surtar comigo, se não acaba a graça) e nos vemos de novo em breve.

Não vou prometer dias porque pretendo não ignorar minha saúde, então tudo dependerá do meu rítimo, espero que compreendam.

Uma boa semana e tchau!

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