Capítulo 45 - Me prometa e me perdoe (se puder) - Parte 2
Boa noite!
Em minha defesa, não saiu quarta porque a revisão demorou mais que o esperado.
Espero que gostem!
E obrigada a todos os fofos que se dedicarão a comentar qualquer coisa no capítulo passado só para me ajudar a recuperar o engajamento da história <3
PS: podem avisar se verem erros, eu estou naquele estado semi-morto de zumbi do sono já.
Minerva entrou no bar de Aberforth pálida.
O homem imediatamente notou sua presença, como se fosse capaz de senti-la metros antes de realmente estar em seu campo de visão. Aquela noite, estava com um jeito incomumente afoito, mas nem por isso perdia sua presença feminina e implacável, uma energia rígida e perfeccionista, polidez centrada e inteligência nata, olhos astutos e desafiadores.
Era uma esmeralda polida em um lugar de peças de carvão sujas.
O Dumbledore do meio quase agradeceu que havia tomado banho naquele dia. O cabelo estava ajeitado, sua barba ainda cuidadosamente alinhada e cortada pela própria Minerva alguns dias antes, e suas roupas não tinham o aspecto de sujeira de sempre (já que um bêbado havia vomitado nelas no dia anterior e TEVE de lavá-las, mesmo que a preguiça implorasse para que apenas jogasse uma água, um feitiço e um perfume).
O bar estava apenas com alguns clientes, por isso já foi puxando uma cadeira no balcão para a colega de seu irmão, procurando um copo bem limpo que pudesse lhe oferecer.
Talvez devesse lavar um naquele momento? Transfigurar um novo do zero? Assim teria mais certeza de que era merecedor de encostar nos lábios da dama? Negou com a cabeça, irritado com sua linha de pensamento. Onde já se viu?
Transfigurar algo na frente da melhor professora de transfiguração que Hogwarts já teve?
Ele estaria pagando um vexame!
Resignou-se a enxaguar na pia ao canto uma de suas canecas de vidro e deixou de frente para o assento que havia puxado, esperando. Minerva parecia precisar de uma bebida urgente.
Seguindo a dica, a McGonagall foi até o banquinho e aguardou o homem averiguar sua coleção de bebidas, tamborilando a mesa com suas "garrinhas", como Aberforth provocava as vezes.
Ele achava estranhamente fofo que uma animago de gato deixasse as unhas crescerem daquele tamanho e depois lixasse no formato em V que a colega as mantinha. Ficava, é claro, ótimo nela. Tanto quanto cada escolha bem pensada e perfeita que fazia. Diferente do próprio Aberforth, que se distraía com pensamentos como as unhas daquela mulher, mas era sua sina. A cada ano seus pensamentos sobre Minerva Mcgonagall ficavam mais tolos e detalhistas.
Além de frequentes.
Então como conhecia a mulher a muitos anos... a coisa tinha ficado realmente vergonhosa a certo ponto. Preferia evitar um legilimente tal qual um demônio evita um padre. Afinal, o que ele encontraria? Só naquele momento, alguns devaneios sobre se essas unhas sempre foram preparadas daquela forma ou se a bruxa adotou o costume após a transformação em animago.
Também qual a sensação de tê-las passando pela pele e-
Ele precisava urgentemente se livrar daquele feitiço anormal que o deixou tão aficionado na mulher!
- Aberforth? – chamou Minerva e isso (graças a Merlin) o acordou para a realidade.
Se levantando rapidamente, pois havia se ajoelhado para pegar uma bebida na prateleira mais baixa, acabou acertando com a cabeça em uma porta aberta de um dos armários.
Xingou alto, Minerva o repreendeu, mas ele ouviu uma risadinha no fundo de sua fala e isso compensou a dor e a vontade de arrancar aquela porta das dobradiças, jogando na cabeça do bêbado que estava rindo descaradamente.
Ia cuspir no próximo copo daquele imbecil, estava decidido.
Fechou o armário e virou-se para a mulher, a tempo de ver resquícios daquela risada em seus olhos brilhantes, então serviu-a com uma bebida suave que ainda tinha.
- Obrigada – ela agradeceu.
- De nada – dispensou, puxando para si mesmo um banquinho e ficando de frente para sua visita. – O que a trás aqui em uma segunda-feira, professora? Isso é meio deprimente, alguém já te contou?
- Mais deprimente do que trabalhar em um bar do lado do serviço do irmão mais velho?
- Touché, mal humorada – respondeu surpreso e sorriu no final. – Algo bem ruim aconteceu, não foi? Pode jogar. O que meu irmão fez dessa vez?
Minerva não respondeu, apenas fez uma careta e encarou o copo, provavelmente pensando se devia ou não beber.
"Não é que foi aquele idiota do Albus mesmo?" pensou irritado.
- Dessa vez, não é? – ela sussurrou, após um tempo.
- Como foi? Não te ouvi bem.
Mais uma vez silêncio. Aberforth observou enquanto a bruxa apertava com força a própria mão o que intensificou uma preocupação. Para começar, Minerva McGonagall não rumoreja, em que momento de sua vida fizera algo assim? Aquela forma incerta de se comunicar não lhe cabia, de forma alguma.
[N/A: Rumorejar. Verbo 1. transitivo direto e intransitivo: Produzir rumor; sussurrar ou fazer sussurrar brandamente; rugir, ruidar, rumorar.
2. transitivo direto e intransitivo: dizer segredos, falar baixinho; segredar, cochichar. Ex. "comadres que rumorejam coisas sem importância"
Sinônimo de resmungar, murmurar, rumorar, grunhir, etc.]
- Minnie? – o homem chamou, se inclinando levemente na direção da mulher, tentando ver seus olhos, que pareciam tão desfocados encarando o balcão.
- Tanta coisa aconteceu, Aberforth... Hoje, nos últimos anos. Eu comecei a pensar sobre isso. Imaginar se não venho sendo tão cega quanto parece.
- Cega? O que quer dizer?
Suspiro.
Que som incomum saído daqueles lábios. Um bufo e um revirar de olhos eram bem mais frequentes. Ainda mais se estava conversando com Aberforth.
- O tutor de... – ela começou, mas se interrompeu e olhou envolta antes de dizer baixinho. – Harry Potter esteve no castelo hoje. Ou Harrison Potter – se corrigiu. – Aparentemente.
- E o que tem o homem? Por que ele-
- Foi para gritar com seu irmão.
- Como é?! – se surpreendeu.
- Expôs tudo que o deixou incerto sobre deixar o seu tutelando estudar na Grã-Bretanha. Ele não quis que Harrison estudasse aqui. Não foi apenas uma questão de esconder o garoto, ou qualquer coisa que poderíamos supor anteriormente. Foi uma escolha pessoal contra a escola de Hogwarts. E... acho que ele tem razão – esta parte foi dita de forma muito deprimida. – Harry Potter estava melhor longe de Hogwarts.
- Daí ele escolheu a Durmstrang? Um Instituto de artes das trevas? Por que não outra-
- É disso que estou falando! Aberforth! A Durmstrang e... tudo!
- Eu não estou conseguindo acompanhar seu raciocínio, Minnie, poderia explicar melhor? Sei que seu dom de professora será capaz disso.
Mas a brincadeira e a provocação, desta vez, não funcionaram.
Minerva continuou encarando o líquido de sua bebida e, para a surpresa do bartender (que jurava que ela não tomaria mais do que um gole, por pior que parecesse), acabou por virar todo o conteúdo de uma vez.
- Minerva?!
- Eu acho que não venho notando algumas falhas do seu irmão e... eu sou a melhor amiga dele! Sou a vice-diretora! É minha função notá-las também e apoiá-lo na medida do possível, mas apontá-las para que possa mudar! Só que eu não fiz! Estou me sentindo horrível e inútil!
- Não diga isso...
- Você sempre insistiu em falar como seu irmão é falho e por muito tempo pensei que estivesse preso ao passado, à toda história de sua família. O que é uma falha tenebrosa por parte de Albus, mas ainda sim uma. Por pior que seja, uma falha merece ser carregada pela eternidade como uma sombra? Da qual anos de serviço pelo povo, arrependimento e realmente mudanças não seriam capazes tê-lo redimido? Eu te via como alguém que não perdoava e seguia em frente, mas eu sinto muito! Agora eu penso que você não está preso a uma falha do passado, mas ao fato de que continuou falhando e você sabe. Você notou. Que todos esses anos não serviram para redimi-lo, porque sempre seu irmão precisava se redimir por uma falha nova.
- Não é bem assim...
- Agora eu sei! Ou eu imagino... o quanto você sabe mais do que eu e nunca devia ter julgado sem ter as peças necessárias! Você sabe muito mais e preferiu ficar quieto, porque achou que ainda era melhor do que bater de frente diante da imagem que ele construiu e do que podia oferecer, apesar de tudo. Só que nem por isso aceitaria sempre tudo que Albus dizia como se pudesse mandar em você! Você, Aberforth, está perto dele para vigiá-lo e agora entendo que Albus precisa ser vigiado! Ou ele... Ou Albus pode... - a frase morreu no ar. Minerva apertou com força a caneca, tanta que o outro achou que poderia quebrá-la e, por isso, cuidadosamente teve a coragem de lhe tocar as mãos.
Delicadamente.
Como o toque suave de um tecido de seda na pele, ou o máximo que aquele "brutamontes" conseguia, e mesmo com tão ameno toque sua respiração engatou com as ondas de choque que sentiu.
Minerva cheirava a camomila.
Camomila, pergaminho novo e óleo de girassol. Se fechasse os olhos perto dela, podia se imaginar lendo um bom livro que acabara de chegar pelo correio coruja, junto de uma boa caneca de chá em um dia chuvoso. O problema é que se fechasse os olhos perto de Minerva, Aberforth começaria a imaginá-la passando o tal óleo de girassol pelo corpo, para hidratar a pele após um banho relaxante, então imaginaria o banho e isso faria seu corpo reagir aos pensamentos, que ficariam mais claros, detalhistas e impuros.
Por isso, evitava tocá-la.
Quando teve sua barba feita, por sorte estavam em uma conversa que conseguiu distraí-lo bem do fato de que ela estava de pijama, mas ainda era algo que o afetava. Minerva o afetava.
Mesmo assim, não imaginou que sentir sua mão contra a dela fosse tão desconcertante e tão tentador.
Ele queria tocar mais partes dela.
Minerva suspirou novamente, o som fez cada pelo do homem nas pernas e braços se arrepiar, tal qual a coluna do Dumbledore, mas lembrar que os suspiram vinham de um óbvio desconforto, fortalecido pelo olhar perdido que mantinha no chão, isso o manteve lúcido diante da névoa de seus próprios sentimentos confusos.
- Eu sinto muito por ter te julgado e não ter escutado os avisos por trás de suas palavras.
Aberforth grunhiu. A professora quase riu de como ele era brusco ao ponto de que aquele som a fazia lembrar de um animal.
- Não se desculpe por achar que sou um rabugento rancoroso. Eu sou. Mesmo quando tenho razão.
- Mesmo assim, se eu tivesse escutado melhor, Albus não... – ela levou a mão ao pescoço, como se tentasse aplacar a dor presa em sua garganta.
- O que... – começou Aberforth, a voz grave, profunda, saída entre trancos pelas cordas vocais, Minerva sentiu-se estranha com aquele tom e com o olhar do amigo. – Meu irmão fez dessa vez? – ele parecia ameaçador.
Muito mais do que já o vira antes.
A professora de transfiguração não respondeu, perdeu-se um pouco na intensidade e na ira dos olhos azuis do outro.
Ele tinha olhos bonitos, não é? Normalmente não percebia por trás da provocação e zombaria que os adornava, mas agora pareciam tão profundos, banhados por sentimentos tão expressivos.
- Acredito que essa seja justamente a questão. O que ele fez? O que vem fazendo? E... o que deveria tê-lo realizado durante todo esse tempo, mas não foi capaz? Ou sequer tentou? Como – ela soltou sua mão da caneca, consequentemente afastando-a da de Aberforth, o que o frustrou muito mais do que gostaria. – Como eu não notei essas coisas e lutei para fazer algo?
- Minerva, eu fico muito honrado que tenha vindo aqui conversar comigo, mostra que aparentemente acredita que eu possa ajudá-la, ser a pessoa certa para te entender quando você parece desconfortável com algo, mas lamento dizer que falhei miseravelmente. Não estou entendendo nada! – resmungou se inclinando para trás, mais um de seus bufos incomodados ressoando pelo local.
Agora ele também precisava de uma bebida.
E de outro banho, porque mesmo tendo quase certeza que era imaginação sua, sentia que sua mão estava com cheiro de Minerva e isso era terrível para sua mente nojenta e criativa.
Ele podia ir lavar a louça enquanto ela falava, não é? Resolveria dois problemas em um.
- O tutor de Harrison abriu meus olhos e estou preocupada com tudo que perdi enquanto os mantinha fechados.
- Continuo sem entender. O que o homem disse afinal? E... como ele se parecia? – perguntou curioso.
- Bem jovem. Muito mais do que teria se passado na minha cabeça. E considerando o passado e como ele se escondeu do ministério já imaginávamos isso, mas é um bruxo poderoso para um rosto tão...
- Comum?
- Ele não é comum. Decididamente não. Acho que ficarei apenas com isso: a capa não condiz com tudo que fez. Esconde bem sua presença mágica, mesmo que sua atitude o torne uma figura suficientemente imponente. Não teve medo de ameaçar seu irmão, Fawkes estava quase para voar nele se Augusta não ameaçasse a coitada da fênix com uma bolsa e a chamasse de galinha.
- Como é? Repete isso – pediu com um sorriso.
Minerva, enfim, soltou algo como uma risada, apesar de muito singela.
- Você vai amar quando eu contar tudo. Se tivesse uma penseira, sei que me pediria a memória, mas tentarei te dar todos os detalhes de como Albus foi ameaçado de levar uns socos, algumas bolsadas e insultado desde velho inapto à até... bem.. tudo que se pode pensar que sairia da boca de um lorde e mais.
- Bolsada! – riu alto, realmente levantando a cabeça para o ar e deixando o corpo sacudir – Augusta Longbottom é um dos melhores seres humanos deste mundo e ninguém me convence o contrário. Mas... – acrescentou quando parou de rir, bem mais sério. – Isso quer dizer que você contou a ela? Sobre Neville Longbottom e o que meu irmão supostamente fez?
- Ele confessou Aberforth.
- Entendo – murmurou.
- Eu lhe dei um ultimato. Lhe ofereci uma chance de resolver, assim... – ela bufou fazendo uma estranha careta para seu copo vazio. – Mas ele tomou as piores decisões possíveis – encerrou, mostrando sua caneca.
O Dumbledore achou estranho e não se moveu, apenas a encarou confuso, Minerva revirou seus olhos e indicou a garrafa, depois seu copo.
- Você quer mais?! – questionou espantado.
A bruxa não respondeu, apenas estreitou os olhos irritada que ele a estivesse julgando, no lugar de servindo. Foi o bastante para o homem coçar a garganta e obedientemente servi-la.
- Então, meu irmão? – tentou voltar ao assunto. – Augusta então o comeu vivo...
- Você não tem ideia. Saiu entrando como uma banshee e saiu de lá...
- O que o tutor de Potter estava fazendo lá?
- Ela o chamou. Disse que se referia a ele também. Fica claro que possuem uma relação muito próxima. O homem chama Augusta de "vovó".
- Mesmo? – estranhou.
- Comecei a pensar que pode ser um amigo de Frank, de outra escola. Não é impossível considerando que Harrison também mora em outro lugar e ficou amigo de Neville Longbottom. Explicaria como se conheceram, por seus responsáveis, e lhes daria uma história para serem tão próximos. Até coloca o tutor próximo de James Potter, se era conhecido de Frank podem ter se visto durante a guerra, e podemos ir ligando os pontos até que estivesse adotando o filho dos Potter quando seus tios o deram para adoção.
- Daí ela não seria "mamãe" ou madrinha? Ao invés de avó? Se o homem tem a idade de Frank...
- É só uma teoria. Eu sequer estou com cabeça para fazer uma realmente válida depois de tudo que – novamente a frase deixou de ser terminada.
A bruxa deu um gole em sua bebida, um pouco maior do que Minerva geralmente se permitia, menor do que o último. Manteve os olhos fechados um tempo, concentrada em sua respiração.
O bartender abriu a boca e tornou a se inclinar para mais próximo dela, sem saber ao certo o que falaria. Não precisou, entretanto, pensar nisso mais a fundo. Minerva voltou a comentar:
- Quer saber o pior? Adivinha quem já estava na sala com Albus e ouviu tudo?
- Snero?
- Snape – corrigiu. – Ou severo, já nem sei mais o nome que decidiu debochar dele, mas não. Não era ele. Antes fosse, tenho certeza que Albus usaria um vira tempo para colocar Severo lá ao invés de Lakroff Mitrica.
- O filho do Gellert?! – perguntou espantado e desconfiado. – Mas o que raios ele estava fazendo na sala do meu irmão?
- Estavam conversando. Assuntos da escola, ou do torneio, não lembro ao certo – mas Aberforth notou (até porque Minerva foi péssima em mentir naquele instante) que não era aquilo. Ela sabia o que os levara para o mesmo cômodo e não quis dizer.
Ele a pressionaria no futuro para descobrir.
Ou Albus, que decididamente se importava bem menos em questionar sobre uma burrice dessas.
Lhe dava uma desculpa para visitar a escola e talvez... quem sabe, pudesse bater os olhos no tal filhinho do amante de Albus.
- Não importa tanto. Eu só... – a bruxa tornou a falar, incerta. Bagunçando levemente os fios sempre tão perfeitamente alinhados no coque que parecia capaz de rasgar o couro cabeludo de tão apertado. – Você poderia me dizer?
- Como é? – questionou diante do pedido repentino.
- Poderia me dizer... sobre seu irmão.
- Meu irmão? O que exatamente? – sua expressão estava muito desnorteada. – Do que está falando?
- Que quero saber. Saber de tudo que você sabe. Tudo que seu irmão fez, por todo esse tempo. As coisas que te fizeram olhar para ele como o faz. Cansei de ficar no escuro – sussurrou.
- Minnie, eu-
- Eu preciso saber, Aberforth! Você não entende! Se não me disser, eu acabarei imaginando o pior! Eu simplesmente não consigo dormir porque não paro de repensar todos os meus anos como professora! Não estou apenas duvidando da minha amizade, mas minha capacidade para avaliar as pessoas, entender o mundo, meus dons como professora, minha inteligência, tudo! Minha vida, Aberforth! Sei que apesar dos poréns você ama seu irmão e não quer falar demais sobre suas falhas, mas tudo que peço é que abra meus olhos, como fez no fim de semana, como sempre tentou fazer e eu ignorava por julgar ser apenas mau humor.
- Eu não vejo a utilidade disso... Como as coisas se relacionam... estou tentando-
- Por favor! – ela implorou. – Eu só quero entender como ele foi do amigo que eu confiaria em qualquer decisão e de olhos fechados para um homem que acha plausível ler a mente de uma criança e dar como resposta para sua avó que se ela "confiou nele um dia, terá de confiar nisso também" ou qualquer coisa do tipo. Foi tão absurdo que eu nem lembro os detalhes! Está tudo tão confuso... Por favor – pediu novamente.
Aberforth nunca vira Minerva implorar, ainda mais daquela forma, com aqueles olhos marejados
- Eu só quero saber tudo e entender se realmente errei em confiar nele em tudo ou se eu devia ter feito como fiz, se tomei as decisões certas. Se entre todas as opções, ajudar Albus foi o certo. Só quero poder acreditar em mim de novo! Porque agora não estou! Continuo pensando que se falhei uma vez, posso tê-lo feito em todas! Só quero entender a extensão do meu erro e-
- Você não errou em acreditar em Albus. Ele é uma merda, mas ainda é-
- Então me prove! Me prove que não sou um fracasso! – desta vez falou tão alto, ainda se levantando e acertando as mãos no balcão que os bêbados olharam na direção da dupla.
Um deles, saindo do banheiro, se assustou e caiu.
- Se acalme, Minnie...
- Aberforth, eu confio em você, não faça eu pensar que até nisso eu errei! Eu acreditei que você me ajudaria, vim até aqui e acreditei que não só somos próximos o bastante, mas você sabe que pode confiar em mim. Eu daria minha vida por seu irmãos e... – ela demorou um pouco mais para acrescentar, seu olhar suavizando apenas um pouco e seu corpo se encolhendo de volta para seu lugar no banquinho. – Por você. Por vocês dois. Vocês... são minha família.
Ver aquela mulher implorando foi chocante, mas mais impressionante foi isso. Minerva nunca havia dito algo como aquilo.
Chamado Aberforth e Albus de família? Amigos sim, mas...
- Querem parar de prestar atenção aqui antes que eu expulse todos?! – gritou com os bêbados, que voltaram a fazer seja lá o que estavam se ocupando antes.
- Quando eu desisti de me casar –sussurrou Minerva, os braços cruzados. Parecia ainda menor que o normal. – Quando eu desisti da vida e da família que podia ter por uma carreira. Quando eu me vi sozinha... uma bruxa, empregada, mas completamente sozinha, eu pensei tanto se não havia tomado a escolha errada. Só que então houve Albus. Depois você. Eu os amo – Aberforth tremeu. – Até você e seu jeito grosso insuportável. Eu só não quero... que minhas inseguranças destruam isso. Só quero saber. Para entender, superar... Não quero imaginar coisas que não existem, ou duvidar. Tudo que quero é que me dê certezas. Me dê a verdade. Por favor... Eu sei que você não quer contar, mas-
- Eu nunca disse que não te contaria – resmungou.
- Você vai?! – perguntou, de repente se ajeitando no lugar. Aberforth pôde imaginar claramente uma cauda de gato balançando às suas costas enquanto os olhos brilhavam em expectativa.
- Você só não quer ser pega desprevenida por mais nenhum segredo do meu irmão? É isso?
- Eu quero ter certeza que posso continuar com os mesmos sentimentos por vocês. E sim, para isso, não quero mais segredos.
O mais alto acenou com a cabeça pensativo.
Ele não gostaria de gastar seu tempo com Minerva espalhando todos os podres de Albus. Na verdade, sua paciência com seu irmão era tamanha que ele preferia só guardá-los na memória para usar contra ele quando precisava. Mas...
Minerva disse que o amava.
Os amava.
Isso o estava o destruindo por dentro e qualquer pingo de racionalidade.
Inferno, não era para ele se importar tanto com isso! Ela só o chamou de irmão do melhor amigo gay ou algo assim! E ele nem queria nada além disso!
- Ta! – disse antes que sua cabeça entrasse ainda mais em parafuso. – Mas também vou querer saber tudo que o tal tutor disse que te deixou assim!
- Não me importo. Desde que não me esconda mais nada sobre Albus Dumbledore. E não só sobre... coisas que ele possa ter feito.
- Como assim?
- Sua opinião pessoal sobre tudo! Assim como foi no fim de semana. Quero saber exatamente com o que venho lidando e ignorando todos esses anos.
- E depois?
- Como assim?
- Depois que souber? O que pretende fazer?
- Dependeria do que vou ouvir, não? Mas de forma geral, acho que vou tentar resolver o problema. É o mais óbvio.
- Não tem o que resolver, Minnie – suspirou. – Não se tratando do cabeça dura do meu irmão. Ele pegou a pior parte que existe na Grifinória. Ele não gosta de admitir os próprios erros, não vê outros pontos de vista quando acredita que está do lado certo e demora para mudar. Além de que estamos falando de um velho de mais de cem anos! Não se muda mais alguém assim! É impossível.
- Mesmo? Para mim não.
- Acho que nem você conseguiria resolver algo como Albus.
- Desde quando eu sou do tipo que desiste de algo? Ainda mais um aluno só porque dizem ser impossível?
- Meu irmão não é um aluno seu.
- Nas próprias palavras dele hoje: "Com os vivos sempre há redenção se as pessoas dão uma chance a isto. Posso fazer o que for possível para tentar acertar e não cometer a mesma falha de novo. Aprender". Se ele quer aprender, então o tratarei como aluno.
- É... Isso é bem a cara do meu irmão – outro bufo. Se Minerva ganhasse uma moeda a cada vez que ouvia aquele som, criaria um costume ainda maior de aparecer ali. Riqueza fácil. – Certo, você vai começar. Me conta o que aconteceu. Está livre para, na minha vez, para me interromper e defender o idiota se sentir que deve. Não vou te julgar. Isso tudo que vou falar é a minha visão distorcida de alguém que já não gosto, não é neutro de forma alguma.
- Tudo bem.
Aberforth acenou com a cabeça e puxou uma caneca bem grande para si, enchendo com um líquido que Minerva sabia que não era fraco como o seu.
- Nada de ficar bêbado até terminar de falar comigo! – repreendeu.
- Precisa de muito mais que isso para me derrubar – deu de ombros, bebendo outro longo gole antes de encarar a colega. – E você? Não tem aulas amanhã?
- Precisa de muito mais do que uma noite em claro para me derrubar.
- Certo – riu. – E sua bebida?
- Essa bebida trouxa não derrubaria um dos meus adolescentes.
- E como você identificou a bebida só pelo sabor, Minnie querida? —provocou.
- Vamos ao ponto, por favor? Tudo começou no fim da tarde.
Aberforth riu da fuga de McGonagall, mas não interrompeu. Concentrou-se em ouvi-la narrar os últimos fatos. Totalmente atenta a cada expressão e reação de Aberforth, principalmente ao que foi dito sobre seu irmão. Tentou não deixar nada importante para trás e, vez ou outra, se permitia encarar a janela ou a porta, esperando que Albus viesse para o mesmo lugar procurar conselhos.
Ele não veio.
Permitindo todo o tempo e foco para a bruxa, que contou quantos copos o Aberforth tomava conforme avançava a noite. Ele demoraria a ficar ruim, mas quando estaria bêbado o bastante para não conseguir discernir mais nada do que deveria ou não ser segredo?
Mentalmente agradeceu Sirius Black, por realmente ter conseguido distrair o mais velho dos Dumbledore enquanto fazia aquilo.
Capítulo 45 - Me prometa e me perdoe (se puder) - Parte 2
"O líder estático que deseja manter todos os grãos de areia no exato lugar, preso por muros de ideais, ignora a força implacável da natureza e da mudança;
A maior falha do próprio líder, então, abrirá caminho para que outro possa colher mesmo seus antigos grãos, quando escaparem pelas rachaduras que surgem a cada tremor gerado por suas atitudes. Eles vão escapar e procurarão outro que ofereça a liberdade que perderam".
- Senhor Peverell-Potter – chamou Lakroff. – Comigo, por favor – então virou-se à Heris para acrescentar: – Logo ele estará liberado e indo para casa.
O filho mais velho fez seu papel e concordou, agradecendo ao diretor enquanto ambos inventaram simultaneamente uma desculpa para justificar que Heris não fosse até o barco da Durmstrang .
Afinal, nenhum trouxa podia pisar no território da Durmstrang.
Algo que Diego já havia reclamado muito ao pensar: "nunca vamos poder ver uma apresentação de escola do Hazz ou coisa parecida?" e Alice concordou dizendo que queria constranger o irmão mais novo vez ou outra e aquilo lhes tirava a oportunidade.
Alice foi a mais fácil de superar, mas Diego insistiu que "é claro que ela não se importa, ela é um aborto! Pode entrar!" Levaram bastante tempo para realmente convencer o menino que escolas mágicas não tinham essas coisas e que não perderia uma apresentação.
Só que ele continuava pensando que a família estava mentindo apenas para consolá-lo. Coisa que fariam, mas não era o caso da vez.
De toda forma, pai e filho conseguiram garantir que não fosse suspeito o tutor seguir sem a criança, escolhendo acompanhar a dama que tinha ido fazer companhia desde o início até sua saída, enquanto Long ia com Lakroff e Hazz para o barco, a fim de levá-lo para casa assim que fosse devidamente dispensado.
Seguiram, portanto, Neville, Heris, Augusta, Minerva...
E Dumbledore.
Neville ficou muitíssimo ansioso com isto. Provavelmente por sua avó ter mantido uma expressão nada agradável quando o diretor insistiu por isso, como se fosse aproveitar a própria iniciativa do diretor em sair dos portões de proteção, para lhe derrubar e jogar seu corpo na mata. Até mesmo com alguma sorte ter uma das criaturas para devorá-lo.
Se alguém tivesse a capacidade de ver esses pensamentos agora, atestaria que eram bem precisos.
O menino também não tinha ficado nada feliz que Hazz não estava ali. Tinha que lembrar sozinho de não começar com um de seus tiques nervosos na frente da avó mau humorado no máximo e não se sentia confortável olhando para nenhum dos adultos ali.
Admitia que tinha evitado Hazz o dia inteiro, assim como evitaria um basilisco, mas o fez apenas porque era um péssimo mentiroso (como Heris atestou) e esconder coisas de Grindelwalds sempre era um desafio.
Ele apenas não queria preocupar Hazz, realmente podia lidar com Dumbledore, mesmo que não tivesse conseguido passar sua certeza acerca disto ao falar com o mais velho dos Mitrica. Era apenas a verdade. Era Dumbledore! Assim que tivesse as respostas certas, poderia acalmar toda a situação e contar ao amigo sem que ele explodisse.
Agora já era.
Augusta podia ter acalmado de alguma forma Harrison Potter, mas Neville ainda sentiu a reação da magia do amigo quando ouviram por de trás da porta e Dumbledore admitiu o que fez.
O pior era que Neville nunca foi do tipo sensível à magia. Se foi capaz de perceber a coisa se agitando, não era bom sinal. Agora teria que pensar em uma forma de aplacar o humor terrível do amigo e sua magia.
Então ainda tinha aquilo...
Ainda tinha que falar sobre magia e artes das trevas com Hazz e com a raiva que, de certo, estava de Dumbledore ele não ignoraria tudo mesmo que fosse Neville dizendo?!
Mal viu o percurso passar e só voltou a realidade quando percebeu que estavam conversando.
Sobre si.
- Podemos contar com Neville amanhã ou a professora Minerva terá que avisar os demais sobre sua ausência? – questionou Albus.
- Cale a boca antes que eu faça questão de calá-la, já alcancei meu limite com o som de sua voz por hoje, Albus.
Neville arregalou os olhos e encarou a avó completamente espantado, viu rapidamente Heris cobrindo a boca e tossindo para "disfarçar" a risada, mas se desviou novamente para o chão quando a atenção de sua avó lhe cruzou. A fúria dela praticamente brilhava aos olhos e o desconcertou em demasia.
Retornaram a um silêncio sepulcral em seguida, cortado apenas pelos ventos e animais noturnos e depois, quando chegaram aos portões, onde o diretor passou a entoar alguns feitiços para liberá-los das proteções e suaves despedidas se seguiram entre os adultos.
Albus ainda acrescentou um pedido, para que Augusta "pensasse no que foi dito entre eles com cuidado".
A bruxa apenas o encarou friamente e, com uma certeza e ameaça velada, respondeu:
- Encoste nos meus netos de novo e eu afogo você e aquela sua galinha em ácido, por quanto tempo qualquer um de vocês conseguir se regenerar – então aparatou, agarrando-se ao ombro do neto sem que ele pudesse ver mais do que a expressão decepcionada de Dumbledore.
Quando deu por si, estava em um enorme salão branco onde até mesmo o teto era rico em detalhes, pintura renascentista com esculturas e adereços em ouro, um enorme carpete sob os pés e quadros pelas paredes de lordes com cabelos e olhos claros.
- Obrigada pela carona – agradeceu Heris, com a mão no peito e na barriga.
Aparatar era um lixo.
Sentia como se todas as suas células tivessem sido comprimidas, entrado por um buraco de minhoca, viajado no espaço amassando toda a realidade e se expandindo de volta ali.
Péssimo!
Porém, ainda melhor do que as teorias trouxas para teletransporte onde suas células originais eram copiadas, destruídas e refeitas em um novo lugar.
Neste duelo, a magia ganhava.
- Tudo certo, querido? – Perguntou Augusta, certamente preocupada com a reação do trouxa à aparatação lado a lado com dois bruxos.
Long de certo sabia transformar a experiência bem menos desagradável para seu mestre não mágico, com a magia dos elfos a seu favor e o tempo trabalhando consigo, mas Heris já foi tranquilizando-a:
- Perfeitamente, vovó. Uma boa-noite para vocês – se despediu.
Chegou a pensar em perguntar qual era o assunto que Neville ainda queria tratar quando foram interrompidos, mas vendo como ambos os Longbottom pareciam precisar urgentemente de uma conversa, os deixou partir.
Assim que ambos desapareceram em um borrão disforme à sua frente, chamou:
- Lala!
A elfa apareceu à sua frente de imediato:
- Mestre Heris está em casa! Lala está muito satisfeita em ver o mestre Heris – disse, puxando com cada mão uma parte de seu vestido floral de cores pastéis e se inclinando formalmente. – Como Lala pode ajudar o herdeiro mais velho?
- Lala... – murmurou longamente e com uma careta. – Que jeito estranho foi esse de agir?
Estava mais acostumado com a elfa absurdamente elétrica pulando a sua volta e oferecendo mil coisas que não precisava.
Talvez até derrubando algo.
- Lala pede desculpas se fez algo que não seja do agrado do herdeiro, Lala está tendo aulas com mestre Monstro, o – Heris assistiu a elfa crispar os lábios e encarar o chão muito contrariada antes de continuar. – Elfo Doméstico do mestre Peverell-Potter.
- Você também é elfa dele, meu pai a designou pessoalmente ao meu irmão.
- Mas Lala trabalha para mestre Harrison, não é elfa dele! – reclamou, de repente perdendo toda a pose formal que estava tentando manter. Como um controle sem bateria que de repente ganha novas, ela estava de volta, andando de um lado para o outro e falando. – Não está presa pelo juramento de lealdade élfica! Isso é muito injusto com Lala, Lala sabe que Monstro é mais velho que Lala e é elfo "da nobre e muito antiga casa dos Black" – e fez aspas com as mãos, em tom de desdém. – Mas Lala é elfa da mais antiga e incrível casa Mitrica! Antiga elfa de Gellert Grindelwald! Sou muito mais adequada para ser elfa do próximo lorde das trevas!
Heris riu. Ele praticamente pode ouvir a voz de Hazz gritando "Eu não sou um lorde das trevas"!
- Mas o ponto não é que Monstro é elfo dos Black, não do meu irmão? – perguntou ainda aos risos, quase perdendo o ar, ainda mais como a pequena criatura inflou as bochechas e bateu o pé para reclamar.
- Monstro não é mais leal a casa do que ao jovem mestre Hazz! Ah! – tapou a boca com as mãos. – Eu o chamei pelo apelido, Lala é uma elfa má.
- Não, Lala, você não é uma elfa má. Você é uma elfa tão boa que o mestre Harry quer que você use seu apelido, pois só você pode. É uma honra conferida à você.
- O que é conferida?
O loiro riu ainda mais daquilo e teve que dar longas inspirações antes de responder, porque sabia que o próximo passo poderia matá-lo por falta de oxigênio:
- Concedida, dada à você – explicou.
Lala, no mesmo instante, invocou um caderninho e anotou a nova palavra.
Heris amava aquela elfa, não tinha como.
- Mestre Heris quer um copo de água, parece estar ficando vermelho?
- N-não e-eu... – "Você só é muito fofa" pensou, mas não diria isso quando ela estava tendo uma crise sobre ser boa. – Escute, Lala... – inspirou, tentando se recompor. – Monstro, como você mesmo disse, é mais velho que você, mas Lala ainda é a elfa de Harrison. Monstro é o elfo dos Black.
- Mas Harrison é o futuro Lorde Black!
- Ou seja, querendo ou não, Monstro é o elfo de Sirius Black e você já é elfa de Harrison Potter desde que ele era pequeno. Desde que era um bebê, se considerar que já servia seus pais ainda antes deste tempo. Monstro nunca serviu à James Potter, muito menos Lilian. Tudo que ele tem é experiência numa casa que um dia meu irmão irá tomar e Harrison é precavido... precavido quer dizer que ele pensa muito antes de agir e bem a frente, para ter um bom plano de como reagir – já foi explicando.
Lala, entretanto, abriu outra página de seu caderninho e mostrou, em uma caligrafia que parecia de uma criança de sete anos (ainda bem que Heris sempre lia as redações de crianças do orfanato que precisavam de ajuda e não falharia na missão de entender garranchos de qualquer idade) a mesma palavra, ainda conhecia uma data (05/02/1989) o contexto em que ouviu e alguns desenhos de borboletas.
- Os desenhos Lala fez depois – contou animada. – Sempre que repetem uma palavra que Lala já conheceu e se lembra, devo desenhar um ponto para Lala! Será que posso desenhar dessa vez? Mestre Heris disse o significado para Lala, então não precisei lembrar... – murmurou desanimada, encarando a página.
- Você se lembrava antes de eu já ir supondo que você não conheceria?
- Acho que sim.
- Então deve desenhar, eu que subestimei a Lala. Sabe o que é subestimar?
- Sim! – e mostrou outra página, lendo o significado.
"Ela surta se eu apertar suas bochechas?" ponderou enquanto isso, mas ignorou esse pensamento, apenas acariciando a cabeça da elfa:
- Então terá que desenhar duas borboletas hoje. Foi muito bem, Lala – ela pareceu radiante com o elogio e apertou o caderninho junto ao peito. – Por isso Harrison pediu para você aprender com Monstro, sabe? Lala é muito esperta e gosta de aprender, Hazz não tem muito tempo para aprender tudo que quer sobre a família Black, ainda mais com os últimos compromissos em que se enfiou – e preferiu ignorar o fato de que, com certeza, aquela elfa sabia e não lhe contou, mas daria a bronca no próprio irmão por isso, não na coitadinha que só obedecia. – Por isso, ele colocou você lá. Para aprender com Monstro tudo que um elfo precisa saber sobre aquela casa e então, quando ele assumir, poder continuar contando com você. Entende, Lala? Harrison quer que Monstro te ensine, porque não o quer como seu elfo, mesmo que o mantenha como elfo da casa Black, Lala ainda deve continuar sendo a elfa pessoal.
- Mesmo?! – seus grandes olhos pareceram crescer ainda mais em expectativa com aquelas palavras.
- Sim Lala, tenho certeza. Hazz gosta muito de você, mesmo que trate todos igualmente, afinal sente carinho por cada um e não quer diferenciá-los, você ainda foi a primeira amiga dele nessa casa.
- Amiga?! – ela esganiçou, tão alto que o jovem adulto levou as mãos às orelhas. – Lala jamais poderia receber uma honra tão grande como ser chamada de amiga, é... um disparate!
- Tem essa palavra aí também?
- Foi o senhor Lakroff que me ensinou! O quadro, não o mestre-
- Entendo. Enfim, você ainda é a mais próxima do meu irmão. Assim como Long acaba sendo mais próximo de mim, Poo com Alice e Bibi com Diego. Não ache que Monstro vai roubar seu lugar ou que Harry acredite que seja melhor que alguém. Hazz apenas te acha tão boa, que poderá aprender tudo que Monstro tem a ensinar e se tornar melhor, afinal terá os conhecimentos de elfo Black e de elfo Grindelwald.
A criaturinha pareceu como uma criança que acaba de descobrir que terá dois natais seguidos, porque não parava de sorrir, pular e estava ainda mais agitada que o comum dizendo coisas como o quão perfeita ela seria.
Heris ainda ficava levemente incomodado com o nível de serventia que os elfos tinham, ele mesmo teve seus traumas com ter que seguir regras de mestres muito mais fortes e que o forçaram a coisas terríveis, mas o que podia estava fazendo. Lhes estabeleceu salário, férias, um dia de descanso na semana (quando não os pegava trabalhando nesse dia também) e tentava ao máximo explicar-lhes que não eram diferentes dos bruxos, não deviam se colocar abaixo.
Não funcionava.
Mas diria que tinham uma vida agradável, então um passo de cada vez.
- Lala, pode preparar o chá preferido do meu irmão? Mas um dos mais relaxantes, sim? Nada de cafeína. E se Harrison aparecer por aqui diga que estarei no meu escritório.
- Sim, senhor Heris! Q-quer dizer, mestre e herdeiro Heris – se corrigiu, assumindo de novo aquela pose para se inclinar.
Heris deu um sorriso de canto, sozinho, achando o esforço da elfa muito fofo e se dirigiu para a sala no segundo andar.
Harrison não demorou muito, Long o aparatou diretamente em frente a sua mesa e se retirou, deixando os irmãos sozinhos. Heris tinha pego o computador e estava terminando de enviar um e-mail, portanto deixou o mais novo esperando um pouco. Como o menino entende a situação facilmente, não fez nenhum som e aguardou em pé que o outro lhe dissesse:
- Que tal se sentar? Seu chá também irá esfriar, Lala fez com carinho, com certeza.
- Eu-
- Ou está se sentindo culpado demais para isso? – ele, nem por um instante, olhou o menino nos olhos para dizer aquelas palavras, mas viu em seu campo periférico a expressão deprimida do adolescente.
Hazz estava, realmente, se sentindo péssimo. Detestava quando decepcionava o irmão.
Sendo sincero era consciente de si mesmo o bastante para saber que detestava decepcionar qualquer pessoa a qual tivesse apego, mas seu irmão mais velho entrava para uma lista especial, perdendo apenas para Tom no topo.
Depois Lakroff.
Não que já tivesse decepcionado Tom ou Lakroff, mas podia jurar que caso o fizesse se sentiria terrível. Dito isto, aquele se tornava um ótimo ponto: o que de tão ruim poderia fazer para decepcionar justo um daqueles dois?
Grindelwald sempre aceitaria suas falhas, tinha muita convicção disso, tão pouco importava conseguir alcançar grandes coisas ou não, era quase impossível decepcioná-lo desde que estivesse feliz. Era tudo que Lakroff desejava, a felicidade de seu neto.
Tom, por sua vez, não tinha grande moral para se chatear de qualquer coisa que alguém fizesse, então sua linha de caráter e expectativas era simplesmente única e irregular.
"Talvez Grindelwald ficasse decepcionado se você se tornasse como ele foi. Se acabar seguindo pelos caminhos que acredita, hoje em dia, serem os errados" sugeriu Tom em sua mente, ignorando a parte que lhe tocava já que era bem verdade que nada vindo daquele pirralho poderia chateá-lo ao ponto da decepção.
Se fizesse algo assim tão terrível, provavelmente a horcrux estaria diretamente relacionada e seria a grande culpada, mais do que o menino.
"Se eu tomasse as atitudes de Lakroff" considerou Hazz "Eu acabaria me condenando a infelicidade, então meu raciocínio permanece o mesmo. Ele não me quer triste e arrependido".
Tom pensou sobre aquilo e quase sentiu a necessidade de alertar a criança para um dos maiores motivos de amargura do velho Lakroff, mas aquilo lhe deu uma sensação ruim e imediatamente o forçou a reprimir os pensamentos, antes que fossem lidos.
Igualmente, já foi estendendo a conversa:
"Então talvez Lakroff se chatearia se ficar como eu?".
"Uma alma penada?"
"Voldemort, pirralho! Ficar como Voldemort, em pedaços! Mas acho que estar reduzido a uma horcrux na cabeça de um lorde das trevas mirim conta".
"Não sou um lorde das trevas mirim!" reclamou.
"Lorde das trevas em formação? Adolescente? Ou prefere 'quase-um-adulto'?"
Hazz bufou baixinho revirando os olhos para o chão.
"Continua sendo redundante".
"Como haveria?"
"Está dizendo que consegue ser feliz nesta situação?"
"Dificilmente posso pensar em memórias mais felizes do que passei em sua cabeça, então, sim" aquilo fez o menino levemente desconcertado, um elogio repentino, vindo junto de uma onda de ternura da alma alheia. "Dito isto, eu também me divertia muito durante a guerra, gosto de batalhas e me sentir superior, vê-los se rastejando para mim, então..."
"Você é louco".
"Você também, está falando comigo! Quem vê e fala com mortos não bate bem não".
Um pigarrear acordou o menino para seu irmão, que o encarava com um sorriso travesso:
- Conversando sozinho?
- Talvez – respondeu levemente envergonhado.
"A culpa é sua" reclamou para Tom.
"Você que é distraído, eu só faço questão de atrapalhar mais".
O menino escolheu ignorar, para que se focasse em Heris:
- Vem aqui – o mais velho chamou, levantando-se.
Ele atravessou a mesa e Hazz o seguiu, ambos alcançando um sofá no começo do cômodo, onde o loiro indicou que se sentasse. Obedientemente, tomou um lugar, assistindo o irmão ficar à sua frente e se abaixar, para estar na sua altura.
Então lhe acertar um peteleco no meio da testa.
Hazz levou a mão até o local e massageou enquanto o mais velho ainda o encarava de cima.
- Você se considera um adulto?
- Como é?
- A pergunta é simples, responda.
- Legalmente sim.
- Ademais? Ou melhor – interrompeu antes que o menino continuasse. – Se eu estivesse com um problema muito grande de alguém me ameaçando de morte, mandando bilhetes de ameaça e coisa parecida, mas não dissesse nem a você, muito menos a Lakroff, você gostaria?
- É diferente...
- Diferente como? Você não é e nunca deveria ser obrigado a fazer as coisas sozinho. Tão pouco tem que resolver alguma coisa que não seja uma fórmula matemática na aula! Você é a criança aqui!
- Bruxos não tem aula de matemática, você sabe não é?
- Por isso são tão burros em raciocínio lógico? – Harry riu, mas logo fechou a expressão com a forma como foi chamado. – Hadrian – Heris às vezes ainda recorria àquele nome, principalmente quando estava sério ou irritado. Hadrian... O nome do orfanato. – Achou que ia esconder até quando?
- Não sei. O máximo para que eu pudesse resolver?
O loiro revirou os olhos e se sentou ao lado do irmão, puxando as pernas do menor para cima de seu colo e o mantendo em um abraço. Também puxou a xícara do menino, que aceitou a bebida, mas deu apenas alguns goles antes de devolver.
- Você não entende nunca não é? – perguntou enquanto devolvia a porcelana na mesinha de centro.
- Entendo o que?
- Por que quis nos esconder?
- Eu não queria preocupar vocês com algo que não podia ser mudado.
- O torneio?
- Isso.
- Entretanto, olhe só, já estou devidamente preocupado. Augusta me explicou do que se trata e eu sei que foi Albus Dumbledore o responsável por impedir menores de idade de entrar, mas Lakroff está envolvido no evento e não deixaria nada te acontecer. Então como justo você, com meu pai de olho ainda por cima, foi parar nisso?
Harrison corou e escondeu o rosto no peito do mais velho. Heris estava começando a ter um cheiro cítrico como Lakroff, porém o dele parecia mais com capim e limão, além de que era tão sútil que mais parecia que o vento tinha trago aquele cheiro das estufas. Se manteve quieto, pois não sabia como explicar para o loiro a situação sem que fosse absurda.
- Você tem dedo nisso, não é? Não foi uma coincidência.
- Não foi...
- Garoto – bufou frustrado. – Você é o maior motivo do meu pai ter cabelos brancos, sabia? – brincou e o moreno riu baixinho. – Por que cargas d'água você se meteu nisso?
- Ajudar Neville.
- Como é?
- Eu estava com um mau pressentimento – e se afastou, para olhar nos olhos do outro antes que levasse a bronca, cruzando as pernas de frente próximo ao próprio corpo, foi falando – Sabia, desde que anunciaram o torneio, que tinha algo de muito estranho cercando a coisa toda. Tive sonhos, quando bati o olho no cálice quis queimá-lo e-
- Por que não fez isso no lugar de botar o próprio nome?
- Não ia adiantar. O problema era maior do que ele, ainda é só uma ferramenta.
- Qual o problema então? Que Neville não poderia lidar sozinho se você sente que pode?
- Não é que eu sinto que posso...
- Você sente. Do contrário teria deixado que o cálice o escolhesse e o ajudaria de longe, como tem feito em todos esses anos. Por cartas! Agora você estava frente a frente, o que mudou?
- Eu...
- Vamos, Harrison, diga. Vai ser pior se me esconder mais uma coisa. E, neste ponto, meu pai já deve ter tirado aquela coisa da cabeça, posso só perguntar a ele o que viu.
- Lakroff nunca conta suas visões.
- Basta saber perguntar – dispensou, levantando os ombros.
"Nos ensine a técnica então, óh grande sábio" zombou Tom "O insuportável não abre o bico! Sei disso, eu mesmo tentei".
"E se você, Tom Riddle, tentou e não conseguiu, então é tarefa impossível?
"Exatamente, garoto esperto".
Se não fossem anos lidando com as brincadeiras fora de hora da horcrux, Hazz provavelmente não teria conseguido se manter tão completamente sério.
- Então? – insistiu o irmão.
- Voldemort é o problema.
- Como é? O lorde das trevas? Vai me dizer que o maluco imbecíl do Dumbledore está certo em algum ponto?!
- Dumbledore? Como assim?
- Aquele diretor maluco insistiu no "perigo iminente" e Voldemort como parte do motivo para estar "cauteloso além dos limites em sua escola e com a segurança de seus alunos", algo assim, a velocidade e o tom que aquele homem assume para falar é tão irritante que dava para contar os segundos entre as sílabas, anotar todos os números que descobri em um papel e fazê-lo engolir. Olha, nada contra chamá-lo de gagá, mas prefiro ser o que tem razão ao fazer isso!
Heris deixou que Hazz risse dessa vez, gostava mais de ver o irmãozinho sorrindo de toda forma. Claro que ficou irritado pelo adolescente ter escondido a coisa toda do torneio, mas... que novidade tinha nisso? Hazz sempre foi muito escondido dentro de si. Nem por isso queria dizer que não confiava neles ou coisa parecida.
Só estava tão acostumado com ser apenas ele e seus poderes contra o mundo (sim, Heris incluía a coisa em sua cabeça como parte de "seus poderes"), que naturalmente se mantinha naquele lugar comum, onde resolvia as coisas e lutava com sua própria força.
Era ali que sua família tinha que trabalhar. Mesmo com essa característica, havia uma verdade intrínseca na equação: estavam ali, como parte de uma rede de apoio escolhida a dedo. Algo com uma força própria.
Diego, Alice, Heris e o próprio Harry, todos com o mesmo sobrenome e com Lakroff. Todos porque Hazz desejou mantê-los assim, marcados com um nome em comum, com um símbolo para se unirem e orgulharem-se a cada acerto conjunto. Chacais. Não bruxos, trouxas, mestiços ou abortos. Apenas eles, fortes separados, mas pertencentes a um bando maior ainda.
E Heris queria honrar aquilo. O voto, o nome, a família que pela primeira vez se sentia parte.
Beatrice e Christine, por exemplo, não eram Mitricas. Mesmo que todos tenham as procurado quando estiveram juntos, para averiguar o estado das antigas amigas e mesmo que Hazz ainda não fosse muito com a cara da família que as adotou, por lá elas ficaram.
Os Mitrica nunca perderam a amizade com as irmãs depois disso, Heris as visitava com certa frequência, já que era o com "mais tempo livre" no emprego, que tinha barreiras menos rígidas de horário e localização (como o Ministério ou o Exército) e, no começo, se questionava se o fato de terem sido adotadas alguns meses antes foi o que as tornou diferentes de Diego e Heris, por exemplo. Afinal os quatro conheceram Hadrian na mesma época no orfanato. Tornaram-se próximos todos juntos.
Deixou de se importar tanto com o porquê ter sido assim, para lembrar-se do que deveria significar agora. Harrison podia ser um Deus, se comparada a força de um dos irmãos ou até de muitos bruxos medíocres por aí, mas ainda era um adolescente de quatorze anos que precisava da sua casa vez ou outra e, mesmo que Lakroff pudesse parecer o mais próximo, ou quem mais ganhou essa confiança, era apenas isso: uma impressão. Gerada por limitações de tempo, espaço e poderes. O velho podia estar mais tempo com Hazz e era um bruxo, mas ele ainda recorria aos irmãos na mesma intensidade e frequência.
Ou seja, quase nunca, o individualista em formação.
- Se quiser e tiver como – continuou, percebendo que o irmão estava menos tenso, o puxando novamente para perto, mas deixando que mantivesse as pernas cruzadas e fazendo o mesmo.
Reajustado, Heris colocou uma mãos em cada joelho do menino, com as palmas viradas para cima, Hazz deu uma risada nasalada com aquilo, mas colocou uma de suas mãos embaixo da do irmão, e a outra em cima.
O mais velho não demorou a tentar acertar um tapa na mão exposta de Harry, mas ele foi rápido e conseguiu puxar a sua a tempo, fazendo ele mesmo sua própria tentativa logo depois (também falhou).
- Seus reflexos estão em dia – brincou.
- São as armas, você nunca me vencerá se não usar magia. Talvez perca mesmo assim.
Outra tentativa. Ambos tornaram a falhar.
- O fato de termos pego a mania de jogar isso mostra que passamos muito tempo de férias no Brasil na sua infância. Tem certeza de que não devia ter ido para Castelo bruxo?
- Absoluta, eu nunca trocaria a corte por nada.
Heris deu um largo sorriso vitorioso, que Harrison não notou por estar concentrado. "Menino competitivo..." pensou o mais velho.
- Se não for absurdamente incômodo também, deixo você pegar minha memória, mas você também pode esperar Lakroff, bem que eu queria ver sua reação enquanto assiste Augusta gritando com o velho, só que posso deixar esse prazer para meu pai. Depois ele me recompensa. Quero um carro novo.
Harry riu e, assim como Heris queria, a distração o fez ficar mais lento. Mesmo assim, não conseguiu acertar mais que a ponta dos dedos do menino.
- Um ponto para mim! – comemorou Heris.
- Não, não! Não acertou minha mão! – contestou. – A sua levou mais dano que a minha!
- Meio então e não se fala mais nisso.
- Isso não é uma negociação! Não aja como se estivesse vendendo algo!
- Então é um ponto inteiro. Já é mais do que você conseguiu, não é mesmo? – provocou.
- Ta, meio!
- Meio ponto para os trouxas, zero para os bruxos, que vergonha – debochou, negando com a cabeça.
Sempre com a mão bem longe do menino, para que não se aproveitasse disso. Os dois acabaram rindo, obviamente e logo estavam prontos para a próxima rodada.
- Ah, mas guarde a memória. seja de quem for tirar, para enviar à Alice. Ela vai querer em um embrulho de presente dourado.
- Pode deixar – garantiu aos risos. – Vou esperar meu avô, se não se importa.
- Ah, não. Eu me importo bem mais com a parte do Lorde das trevas, pode me explicar agora ou vou ter que esperar você enrolar mais um pouco?
Hazz mordeu o interior da boca, um tanto envergonhado, mas provocou:
- Foi você que começou a jogar...
- Quer parar?
- E deixar você ganhando por meio ponto chocho? De jeito nenhum.
Heris precisou retirar suas mãos e levar a cabeça, de tanto que riu daquilo.
- Certo... – murmurou ao se acalmar. – Vamos voltar à taça e como ela se relaciona com o lorde das trevas?
- Voldemort mandou que colocassem o nome de Neville no cálice, ele tem um comensal disfarçado em Hogwarts-
- Você contou para Lakroff essa parte?
- Sim. Foi ele que terminou de lidar com o espião depois que Ivan retirou as informações mais importantes dele... – o fim da frase saiu um pouco menos seguro, como se tivesse incerto sobre falar de algo como a tortura que fez a um comensal, ainda mais uma que a leitura de mente estava envolvida. Lhe deixou com um gosto amargo.
Se sentindo hipócrita.
Heris, entretanto, conseguiu impedi-lo de se prender a este marasmo.
- Bem, olho por olho. Um comensal junto com um bando de crianças e tentando colocar Neville em perigo para seu mestre, mesmo que fosse preso era provável que o governo usasse isso para conseguir informações. Tem certeza que Ivan não deixou nada passar?
- Ivan é o melhor nisso, posso garantir.
- E o que meu pai fez com ele depois?
- Crouch está sob nosso controle, mais do que de Voldemort, isso posso garantir.
- Não existe uma discussão bem grande sobre quem é mais forte, meu pai ou Voldemort? – questionou franzindo o cenho.
- Voldemort pode ter voltado, mas ainda está fraco. É inegavelmente fraco com tão pouco de sua alma, mesmo que consiga ser superior a muitos bruxos com tão pouco, não tem também a experiência do Lakroff. Sei que não deve ter notado os feitiços que foram colocados. Nem eu conheço todos.
- Me surpreenderia se conhecesse, você ainda não é um lorde das trevas, tem que ir com calma.
- Que história é essa de ainda?
- Não acredito, o senhor já oficializou o posto? – fingiu surpresa. – Quem já são jurados a você?! Meu irmão já é um lorde das trevas oficial?! Imagino que seja o mais novo até hoje!
- Heris! – e a indignação lhe rendeu um tapa.
- Ha! Um ponto e meio – riu.
- Trapaceiro!
- Eu jogo com o que tenho, se distraia menos milorde, como pretende desviar de seus inimigos assim?
Harry bufou, mas não sucumbiu à provocação, pelo contrário voltou ao foco.
- Não sou um lorde das trevas, ou eu faria isso – e acertou a mão do mais velho.
- Você paralisou meu braço.
- Lorde das trevas usam o que tem, não?
- Um ponto para o senhor, então, milorde.
- Pare com essa brincadeira!
- Qual delas?
- Você sabe! – levantou as mãos. Heris riu e lhe acertou um hi-five para provocar, agarrando-se ao menino logo em seguida quando ele abriu a boca para falar mais e o abraçando.
Depois fazendo cócegas.
Eles ficaram naquilo por um tempo, Hazz tentando escapar das mãos do outro e este se divertindo com o som das risadas e com o fato de que um dos bruxos mais fortes já nascidos estava se debatendo em seu colo totalmente rendido.
Quando ambos se cansaram, Harry se sentou normalmente no sofá e Heris se levantou, tomando lugar na mesinha de centro para ficar bem à frente do outro, mostrando que as brincadeiras deviam parar.
Por hora. Ambos sabiam que Hazz iria querer a revanche.
- Crouch, porque sinto que já ouvi esse nome?
- Bartolomeu Crouch é Diretor no Departamento de Execução das Leis da Magia, é um dos envolvidos na reativação do torneio tri bruxo.
- E ele colocou o nome de Neville? Que plano complicado, não? Reativar isso só para ter uma desculpa para-
- Não foi ele, foi seu filho. Bartô Crouch Jr. um comensal da morte.
- Espera... minha memória pode não ser das melhores, mas... esse cara não foi um dos que-
- Atacou os Longbottom? Sim. Em teoria, ele tinha até morrido na cadeia.
- Sim! É daí que lembro dele, Augusta dizia que era o único ao qual ela não tinha certeza se estava envolvido, pois foi o único que renegou Voldemort.
- Ele só é um ótimo mentiroso, aparentemente, já que enganou Augusta e todos os professores de Hogwarts agora, para acreditarem que é um amigo deles, ainda por cima. Um ator nato.
- Você fez ele pagar?
Hazz não respondeu, mas o irmão viu no sorriso sutil do menino, nos olhos verdes brilhosos que absurdamente giraram como uma fumaça escura dentro das íris, na forma como a sala pareceu, de repente, com pouco ar mesmo para ele. Precisou inspirar propositalmente com força para puxar o ar e sorrir de volta:
- Que bom. Mas... se sabia dele, porque não o impediu apenas? De envolver Neville, eu quero dizer, assim nem você teria que-
- Eu conheço Tom, Heris. Sei como funciona tanto quanto seria possível. Ele não para até que sinta que ganhou e não deixa que mudem seus planos, mas se pensa que foi ideia sua... é possível. Voldemort queria atrair Neville para o torneio para matá-lo, destruir a taça não tiraria sua mira, mas-
- Mas colocar você nela resolve o problema de Neville?
- É – respondeu envergonhado.
- Eu preciso mesmo dizer o que estou pensando ou será que as minhas vozes na cabeça já gritaram o bastante para a sua escute daí?
- Eu não podia deixar-
- Não podia deixar Neville ir desavisado para um plano de Voldemort, mas e você?
- Eu conheço Tom.
- Como isso ajuda?
- Sei o que estou enfrentando, não estou desavisado. Como fazer, quando fazer, e o que. Tom não é um desafio tão grande para mim, porque-
- Está dizendo que confia em sua própria força o bastante para enfrentar um lorde das trevas que rivaliza com o próprio... Lakroff? Sério?
- Eu não vou ter que enfrentá-lo. Não de frente. Eu só tenho que saber como jogar e manipulá-lo para estar exatamente onde e como quero. Eu posso ser poderoso, mas não sou tolo e isso é tão ou mais importante quanto. Eu poderia alcançar os céus com poder, mas para conquistar a terra é preciso astúcia, sabedoria. Não vou sair correndo na direção dele e brigar, vou usar exatamente o fato dele confiar demais na própria força para desafiar sua inteligência. É um dos lugares onde mais me garanto.
- Se julga mais inteligente que um homem que quase tomou a grã-bretanha?
- Ele não sabe o que está enfrentando, eu sei exatamente onde piso e penso muito bem em cada passo. Não só isso, tenho o seu conhecimento e o meu próprio. Se ele se julga um mestre, eu sou o discípulo que já o ultrapassou, pois sei tudo que tem a ensinar e meus próprios conhecimentos.
- Falando nisso, não tem um adulto aí dentro da sua cabeça? Ele não te impediu? Achou mesmo que era uma boa ideia?
"Claro que não!" reclamou Tom "Diga a ele que eu tentei te parar, pirralho".
- Ele não conseguiria.
- Mas tentou?
- Sim.
- Esse é o ponto – e o loiro tornou a bufar, escondendo o rosto com as mãos e esfregando frustrado. – Por que você não escuta nem o que uma voz duvidosa te diz?
Hazz riu e Heris soube que provavelmente a voz tinha feito algum comentário maldoso ou reagido mal ao seu comentário.
- Eu não queria que Neville passasse por mais um caos em mais um ano. Eu só quis ajuda-lo e eu sabia que se o meu nome saísse no lugar dele.. Voldemort veria como um sinal. Ele ainda me escolheu, anos atrás. Eu fui sua queda, antes de Nev se tornar a pedra no sapato. Eu o matei. Fiz se lembrar disso, marquei na sua cabeça meu nome.
- Isso fará com que esqueça de Neville, por acaso?
- Só isso não... mas eu... – olhou para os lados. – Eu garanti que chamaria atenção o bastante depois disso também.
- Como assim chamou atenção?
- Posso ter roubado seu título de lorde Slytherin e colocado em cheque toda a lealdade de seu exército para que ele não tenha tempo de se preocupar com Neville ou eu posso literalmente terminar de deixá-lo sem nada – e enquanto os olhos de Heris arregalaram diante das palavras, o menino ainda acrescentou, se encolhendo: – Também posso tê-lo insultado e chamado de fraco, tenho quase certeza que idiota também e insano, tudo enquanto o desafiava para uma briga onde "Tente não nos envergonhar tanto, ao menos dê algum trabalho", algo assim...
Heris ficou calado. Todo o tempo em que seus olhos azuis, escurecidos levemente para castanhos próximo às pupilas, encaravam o irmão diretamente deixou Potter muito incomodado. Ainda mais porque o rosto continuava neutro, avaliador. Sua boca falou, antes que notasse:
- "Meus cumprimentos. Aquele com o poder de vencê-lo" – e, para a sorte de seus nervos, isso fez o mais velho rir.
- Você encerrou assim?
- Sim.
- Eu falo para as pessoas que você é absurdamente debochado e elas nunca acreditam! Isso que dá fazer tanto o papel de santinho – brincou, voltando ao silêncio, mas logo sua risada voltou a aparecer, incapaz de segurá-la. – "Aquele com poder de vencê-lo" o homem deve estar tendo crises de raiva com essa frase.
Harry preferiu não falar nada para não estragar o bom humor do outro, apenas sorriu em concordância e esperou que voltassem ao tema de antes.
- E por que não nos deixa ajudar também?
- Como assim? – Questionou-se, pensando em como seus irmãos se envolviam com a história.
- Você pediu ajuda para o velho? Quando se enfiou nisso? Contou tudo para ele antes de, para começar, colocar seu nome no cálice?
- Lakroff não podia me ajudar.
- Por quê?
- Eu fiz um plano onde eu tinha a chance de não precisar participar, se os adultos fossem minimamente racionais. Jurei na frente de todos: "Eu, conhecido pela alcunha de Harry Potter, filho de Lilian e James Potter e nascido em 31 de julho de 1980, juro aqui por minha magia diante da Morte, que nunca coloquei meu nome no cálice de fogo, nunca desejei participar do torneio tri bruxo, nunca pedi que um aluno mais velho, de qualquer escola, me inscrevesse ou mesmo um professor, funcionário ou ainda qualquer habitante desse castelo, seja vivo ou morto. Que assim seja..." Ainda insisti bastante para, já que não fui eu que coloquei meu nome, o contrato mágico não devia ser válido e eu não precisas- Não me olhe com essa cara.
- Você pediu a quem, afinal?
- Nagini.
- Sequer usou o nome verdadeiro... – suspirou, negando com a cabeça e massageando a ponta do nariz. – Funciona mesmo assim?
- Eu fui específico o bastante para que mesmo que descobrissem que não era meu nome, a jura não podia ser questionada. Eu ainda sou conhecido como Harry Potter na Grã-Bretanha e todo o resto condiz.
- Não perde a força? Considerando que você não se reconhece tanto neste nome?
- Um pouco... mas ninguém precisa saber. Não havia corrigido ninguém em Hogwarts até então para o nome certo... Sirius e só alguns dias depois.
- Sirius, é? Já está usando o primeiro nome? Gostou dele?
- Isso é relevante?
A risada do empresário agora saiu tão debochada quanto possível, pela forma como Hazz não parecia tentado a entrar em assuntos mais emocionais.
- Na próxima pede para "Tom" colocar seu nome, ele parece se encaixar na jura como um todo – brincou.
- Ele não aceitaria.
- Porque sabe que é uma ideia péssima! Harrison, eu entendi não pedir ajuda ao Lakoff, nem a ninguém mais próximo para colocar seu nome, entendo que avisar antes os colocaria em risco de serem acusados de tentativa de homicídio ou sei lá, pela forma que jurou e manipulou a situação depois. Mas você mete muito os pés pelas mãos! E agora? Como vai ser? Uma coisa é enfrentar alguém que já sabe as forças e fraquezas, como Voldemort, mas e o torneio em si? Aquilo era feito para matar gente!
- Eu consigo.
- Mas vai aceitar ajuda?
- Não posso ter ajuda no torneio.
Heris acertou com a mão na própria testa.
- Você é tão burro as vezes. Será que eu também era assim com quator- eu era – se interrompeu, negando com a cabeça. – Pior que eu era. Adolescentes são um poço de estupidez, com todo o respeito.
- Ei! São as regras! Eu não...
- Estou falando de tudo, Harrison! Não do torneio! Você enfiou na sua cabeça desde que nos conhecemos que devia fazer tudo sozinho e eu entendo. Nós dois somos assim. Você não é o único órfão que os pais foram assassinados na sua frente e que teve que aprender a se virar. Adivinha, sequer nós somos os únicos dois no mundo a passar por isso, tenho certeza. Claro, houve um tempo em que não podíamos confiar em ninguém. Houve um tempo em que não tínhamos ninguém, mas quando é que esse tempo deixou de existir para você? Quando conheceu os Longbottom? Quando nos conhecemos, eu espero que esse tempo pudesse ser considerado. Ou ainda antes quando ganhou isso e ela começou a te ajudar? – e apontou para a cicatriz de raio. – Foi-se o tempo em que era só você contra o mundo, e já passou também aquele em que é só você e mais um ou dois órfãos. Você não é mais a criança que precisa fazer tudo sozinho! Você pode e deve pedir ajuda! Você não tem que carregar o mundo nas costas só porque pode! Só vai te dar dor na lombar!
Harry não sabia agora se sua risada foi genuinamente sua ou de Tom. A horcrux sempre teve alguma simpatia maior a Heris do que a maioria dos outros trouxas, sua forma de agir em relação ao Potter só ajudava nisso.
E eles tinham um humor quebrado parecido.
O loiro estendeu a mão e acariciou os cabelos negros:
- Para que sentir dor? Agora que podemos evitá-la? Deixe sua família te ajudar e, principalmente, seus amigos te ajudarem. Eu sei que você ainda conta comigo, Lakroff, Alice e Diego quando precisa, mas parece que só faz isso quando acha que não terá tempo para fazer sozinho. Ou paciência. E está tudo bem, nós ainda ficamos de olho para oferecermos ainda mais que isso. Só que seus amigos, eles precisam que você mostre que está disposto a receber essa ajuda. Não é problema, nem estará dependendo dos outros se o fizer, só aceitou auxílio para não viver andando na metade da velocidade de que era capaz! Ou com o dobro de exaustão. Porque estar sozinho é carregar coisas demais. Você está fazendo toda essa coisa para ajudar Neville, para tirar um perigo a mais dele, um ano a menos de situações difíceis, mas não quer receber o mesmo dos outros? Dos seus amigos que igualmente gostaria de te livrar? Neville passou por todas essas coisas porque aceitava ajuda, mesmo sendo pequeno e inexperiente, conseguiu se tornar uma figura de herói porque tinha os amigos para brigarem com ele e você ensinando onde falta! Entende que você foi importante para a jornada dele? Então aceite alguns importantes na sua!
- Eu aceito...
- Mesmo? Sempre? – Harry não respondeu, mordendo o interior do lábio e baixando a cabeça. – Várias pessoas estiveram envolvidas, assim como na vida de Neville, na sua também, para te dar alguma paz e facilitar os desafios que teve que enfrentar. Os seus próprios. Nada de monstros gigantes, mas barreiras sociais, mudanças estruturais. Você conquistou a terra, como disse antes, com sabedoria e aliados. Você tem uma corte, pelo amor de Yaga! Você pode ser o auxílio de Neville, então porque raios você não pode ter seus próprios Harry's para ajudar?! Você já tem, mas insiste em esconder as coisas e tentar sozinho.
- Viktor vai me ajudar a treinar para os desafios – murmurou, ainda sem voltar a olhar para o mais velho. – Também estou tentando me aproximar dos outros competidores.
- Como se você fosse confiar nos seus adversários – o loiro debochou.
- Talvez nesses sim. Tive uma boa sensação.
- Bem... Já é alguma coisa. E sua corte?
- O que tem eles?
- Contou a eles o motivo de você não estar querendo encostar as costas no sofá e ter evitado meu abraço?
Harry arregalou os olhos e Heris sorriu astuto, se inclinando mais para frente:
- Você é um bom mentiroso, mas eu ainda sou mais experiente nisso que você menino. Já não te disse antes? Você ganha de mim na magia, mas eu tenho armas o bastante para me fazer lembrar – brincou. – E sei reconhecer uma atadura mal feita por trás de quantas camadas de tecido quiser usar, senhor presidente do conselho estudantil. – E voltando a antiga posição, mas agora com os braços cruzados e uma expressão convencida, perguntou: – E suas poções? Por que uma atadura?
- Acabaram.
- Lakroff?
- Vai ficar furioso comigo se souber que não contei que estavam acabando e me enfiei em tantos projetos que não consegui fazer mais antes de precisar.
- Você sabe que vou contar, não é?
- Não, por favor! Ele já está... eu... – o menino se embolou com as palavras, bem diferente do que sempre foi em qualquer dia da sua vida na Durmstrang.
Ou em qualquer lugar que não fosse sua casa.
Era sobre isso, ali... Hazz era apenas Hazz. mesmo com as brincadeiras, não era lorde das trevas, presidente, alteza. Apenas o caçula impulsivo e levemente inseguro que detestava mentir para a família, mas também sentir que era de alguma forma incômodo para eles.
Heris se moveu para ficar mais na ponta da mesa e mais perto do menino, segurando seu rosto e o fazendo encará-lo:
- Me explica e eu penso no seu caso.
- O torneio, a carta para Voldemort, que eu não tinha contado, o plano que fiz para pegar o anel de lorde Slytherin sem que ele pudesse me impedir, as... as horcrux. Eu achei algumas e Lakroff descobriu por acaso. Na última semana eu escondi tanta coisa dele, eu menti, enganei, eu... fiz tanta coisa que o deixou... ele pode não ter reclamado e acho que nem se magoou, mas eu não quero que ele pense que...
- Você não confia nele, nem quer sua ajuda?
- Eu mandei uma carta para Gellert.
- Como é?
- Gellert Grindelwald, na... cadeia. Eu também não contei isso para ele. Para o Lakroff. Pedi para os guardas mentirem até.
- Por que fez isso?
- Eu nem lembro!
- Como assim?
- Eu... – o menino fechou os olhos, muito envergonhado. – Acho que apaguei minha própria memória.
- Como é que é?! – perguntou Heris, num misto confuso, surpreso, indignado e irritado.
- Lakroff me fez jurar que não iria esconder mais nada dele. Quer dizer... ele só pediu, eu mesmo fiz a jura mágica porque não queria ver ele com aquela cara chateada de novo. Ele está chateado! Por eu estar fazendo essas coisas, igual você e eu entendo. Então eu achei que poderia cumprir, eu quis cumprir com isso. Só que alguma coisa aconteceu. E de repente eu estava mandando essa carta e não sei o que afinal quero descobrir, mas sei que Gellert é o único que pode me ajudar, porque aparentemente Lakroff também está escondendo algo de mim e-
- Lakroff escondendo algo? Nossa que surpresa. Eu nunca poderia imaginar um homem sincero como ele escondendo algo, é realmente um choque-
- Não brinca com isso!
- Prefere que eu brinque com você? Preciso mesmo comentar o quão absurdamente psicopata você parece ao apagar a própria mente para não descumprir uma promessa?
- Não ri! – pediu diante das gargalhadas que o irmão dava.
- Por favor, Harrison, não tem como! – bateu com a mão no joelho. – Vem cá – ria. – Custava tanto assim só confrontá-lo com o que raios ele está escondendo dessa vez? Da última foi bem efetivo, você conseguiu aquela carta de Nurmengard em, o que? Dez minutos irritando ele? Meia hora? E na anterior a essa? Você levou só uma semana ou duas para descobrir todo o passado do velho com o tal do Creedence e a Nagini. Que está, vejam só, provavelmente no seu quarto dormindo confortável na sua cama seminova, considerando o quanto você faz questão de dormir. Precisava ir tão longe?
- Eu não sei. Como disse, apaguei minha mente. Acho que se eu o confrontar ele só ia mentir e sumir com a coisa antes que eu pudesse achar, ou algo assim. Eu realmente não lembro o que é! – reclamou, ainda mais frustrado porque o irmão parecia estar tendo um ataque de tanto rir.
- Ai meu credo, eu amo essa família! – comentou entre as gargalhadas, totalmente vermelho e quase sem ar. – Vocês nem ousem me julgar de novo por colocar pedaço de pizza de chocolate por cima das de cinco queijos quando vamos ao Brasil, eu sou oficialmente o normal do grupo!
Harry não respondeu, apenas bufou e esperou que o outro voltasse à realidade.
- É disso que estou falando, sabe? Você achou que era mais válido usar magia em si mesmo para esconder algo do que ser aberto.
- Mas Lakroff-
- Não estou falando só dele e você sabe. Neville está ciente de que era ele para estar no torneio?
- Por que eu faria isso?!
- Para que ele soubesse que existe um risco? Para que se preparasse e estivesse mais atento? A ameaça lorde das trevas o envolve também, mas você escondeu, não?
- Sim, mas-
- Assim como Lakroff te esconde coisas para te proteger? – o Potter imediatamente fechou a boca. – Incrível como colocar as coisas em outra perspectiva pega, não é? Já é a segunda hoje, estou com tudo.
- É diferente – sussurrou.
- Em que ponto?
- Se Neville souber agora não vai mudar o que acontece e se eu me machucar no torneio ele vai se sentir culpado e-
- Olha só, existe o risco de se machucar.
- Nem eu sou tão convencido.
- Tenho minhas dúvidas, mas e no caso do meu pai? Se você se machucasse por algo do seu passado? Algo que ele quer esconder, mas você acaba descobrindo. Ele acabaria sentindo-se igualmente culpado. Não é por isso que tinha guardado a carta, por exemplo? Esse não é literalmente o maior arrependimento dele? De Gellert? Como as ações tomadas no passado causaram consequências para sua família?
- Mas... eu só... não sei – suspirou, se encolhendo, parecendo muito triste. – Eu nunca quero envolver vocês...
- Não confia na gente?
- Claro que sim.
- Eu sei, mas e então?
- Pelo mesmo motivo do vovô... Não quero que se machuquem! Da última vez com você... acabou sendo preso.
- Por favor, Harrison, eu fui preso porque não deixei Helena apagar o maldito fogo quando começou a alastrar e ainda o estimulei para apagar as provas do que você fez caso você voltasse. E fui eu que disse um monte de asneira para a polícia levar nós dois. Não tem mais a ver com você, do que comigo mesmo. Só queria me livrar do lugar e do diretor de merda, sabia que todos seriam designados para outros e mesmo que perdessem uma amizade ou outra, era preferível a opção de estar lá. Eu tinha um ótimo plano para o meu futuro, achar um policial decente para vender o que eu sabia da máfia em troca de proteção ou ser morto na tentativa por alguns corruptos e envolvidos. Claro, foi muito melhor ser resgatado por você, obrigada, gosto bem mais dos meus quatro quartos espalhados pelo mundo do que de uma cela ou uma cova comunitária.
- De nada? – questionou.
- Escuta, Hadrian. Lakroff é um velho centenário, tem o direito de escolher o que acha que devemos ou não saber, isso se chama experiência e maturidade, por mais que ele não demonstre a maior parte do tempo por causa das suas piadinhas, ainda é mais capaz que nós. Você, por outro lado, acha que tem esse mesmo direito? Sinto dizer, mas vivemos ainda sob o teto e proteção dele, o velho fez por merecer um pouco de respeito.
- Eu sei disso! – contestou. – Mas... eu não sei explicar, justamente porque não lembro. Eu... desculpe, juro que vou me desculpar com ele depois, só preciso de respostas e-
- Harrison – interrompeu de forma repreensiva. – Você não está entendendo o ponto. Adolescentes dracônicos – revirou os olhos. – Tente enfiar algo em suas cabeças, eu desafio.
- Ei!
- Hazz, somos todos órfãos. Eu, você, Alice, Diego e até o Lakroff. Não tínhamos os pais quando ou como precisávamos, nem grande apoio vindo de qualquer lugar. Sabe o que isso significa?
O menino pensou por um tempo, tentando achar qual resposta seu irmão queria para aquilo, mas não encontrou.
- Tivemos que perder pessoas que nos davam valor e todos convivemos com gente que nos desprezava. Tornavam-nos dispensáveis. Nos acostumamos com a ideia de que éramos só. Essa solidão cria três problemas. Gosto de chamar de: a síndrome da mosca invisível, o medo do apego e o efeito da independência exacerbada, sabe o que cada um significa?
- Não?
- Você, por mais coisas que faça, sempre pensa em si mesmo como incômodo e dispensável. Uma mosca invisível. Acredita que está constantemente irritando ou atrapalhando as pessoas com sua presença, até quando tenta passar despercebido. O engraçado é alguém como você ainda ser assim, considerando como é... bem... sua alteza, o príncipe da Durmstrang!
- Presidente.
- Você é uma figura de valor na sua "comunidade", na sua escola, entre seus amigos, você faz diferença em suas vidas e principalmente: só incomoda, quem não te entende. Quem tem inveja, ou medo, ou qualquer sentimento do qual você não tem a menor responsabilidade, mas jogam em você por inseguranças próprias. Só que você não percebe. É um sério problema que não necessariamente só órfãos tem. Muitas crianças que os pais não deram a atenção e valorização adequada sempre tem a impressão de que ninguém gosta delas, fizeram algo de errado, e até diante dos amigos precisam se esforçar para agradar. Não é assim. Família e amigos nós temos que ser nós mesmos e nos sentir bem e acolhidos, do contrário, apenas se afaste.
- Não sei onde quer chegar.
- Você tem valor e ele é medido pelo espaço que ganha na vida e memória das pessoas. Não pela quantidade de pessoas, mas o quão importante é para elas. É nisso que quero chegar. Você é importante para mim e nunca será incômodo, mas justamente por isto, será absurdamente doloroso se algo te acontecer, entendeu? – perguntou e Hazz desviou o olhar envergonhado.
- Entendi – respondeu, mesmo assim.
- Finalmente conseguimos, Hazz! Nós temos isso! Casa, família, nome e sobrenome que tem algum valor! Nossa lápide vai ter uma data de nascimento e nada de frases genéricas, vamos ser enterrados num cemitério ao lado de outros aos quais podemos sentir fazer parte e isso tem valor, não em um cantinho do cemitério público na mesma cova que outros foram igualmente deixados pelo mundo. Ou seremos cremados e levados a um lugar que amamos, por alguém que nos ama e seremos lembrados. Nós conseguimos! Temos alguém. Diferentes de outros cuja a família de sangue em nada o representa e eles continuam mesmo em uma casa carentes de carinho, afeto e pertencimento, nós tivemos o luxo conquistado de escolher uma família para chamar de nossa. Ganhamos um lugar para buscar apoio. Você se sente assim, concorda com o que digo?
- Sim.
- Dito isso: não tenha medo do apego. Você tem muito valor. Para cada um de nós e depois para cada um de seus amigos. Mas foi incapaz de pedir por nosso apoio na hora certa. Por quê?
- Eu não podia envolver Lakroff e não é como se voc- quer dizer, eu não... Vocês podem me ajudar com muita coisa, mas são trouxas...
- Primeiramente, não trate essa palavra como um tabu. É triste, eu sei, imagina como eu seria ainda mais incrível se fosse um bruxo? Mas não é o caso. Sou trouxa, não precisa agir como se fosse ofensivo. Eu entendo minhas limitações diante disso. Segundamente, você está limitando sua família apenas aos que moraram nessa casa um dia ou percebe que dividir um sobrenome é a única coisa que me faz diferente de, não sei, Viktor por exemplo. Você confia em Viktor?
- Sim.
- Contaria com ele na mesma proporção que conta comigo?
- Talvez.
- Qual a diferença?
- Você não parece que quer me beijar quando olha para mim.
Heris tremeu, parecendo enojado com isso e depois caiu na risada junto com Hazz, que divertiu-se muito da reação do outro.
- Se tirarmos o fator "interesse romântico" do coeficiente Viktor, a equação seria quase a mesma, não? Sei bem que Krum te chama de brat e você o trata como seu irmão mais velho da mesma forma. Você gosta e se sente acolhido junto dele, mesmo sendo mais poderoso, consegue se sentir seguro do seu lado apenas por ter ele ali, não é mesmo?
- Sim.
- E mesmo que alguns da corte tenham esse sentimento diferente por você, do que nutre por eles, isso afeta sua vontade em estar com eles e conforto que partilha na sua presença? Isso os impede de te ajudar e tornar sua vida na escola mais fácil e... feliz?
- Não.
- Você não deve desperdiçar isso, Harry. Não por medo. Eu tinha muito medo da minha amizade com Diego porque sentia que morreria a qualquer instante, ou que ele me deixasse, mesmo que eu implorasse que Diego tivesse alguma chance de sair de lá. Era difícil, mas eu escolhi tê-lo como meu amigo e sofrer a perda, do que não ter amigo nenhum para não ter a mesma sensação. É uma escolha. A questão é que privar sua vida por medo é uma escolha covarde e ridícula, pois que sentido tem a vida assim? Ela é vazia se não escolhemos nos apegar, cruel se não temos ninguém, a dor da perda não existe mas as alegrias das conquistas tão pouco. Seremos frios e incompletos, buscando outras fontes para ajustar a falta que o simples lugar de pertencimento nos daria. Consegue entender isso?
Hazz conseguia. Ele levou uma das mãos à testa, tocando sua cicatriz e outra ao medalhão, sentindo ambos se aquecerem.
Era exatamente como Tom se sentia.
"Eu sempre disse que gostava desse" acrescentou a horcrux.
"Você disse que ele era o mais suportável e um 'espécime digno'".
"Não vi como uma frase se diferencia da outra".
Heris continuava e, por isso, Hazz já foi encerrando mais uma vez o diálogo aleatório com a horcrux.
- Eu sei que o mundo é uma merda, mas você não pode deixar de valorizar o que está bem na sua frente. Apenas porque pode não ser eterno? Então nunca será real! Tudo é eterno enquanto durar e enquanto aproveitá-lo de verdade, pois mesmo que algo mude, as memórias e o passado ficarão sempre gravados e servem para os mesmos objetivos: formar quem você é. É seu eterno, nosso eterno, então aproveite a viva. Parafraseando a velha carta, porque ela ainda tem muita verdade em cada palavra: "A vida é um recurso finito". Pare de achar que tem que fazer tudo sozinho, pois não vai conseguir, o mais forte sempre é aquilo com mais aliados para sustentá-lo no topo. Pare de esconder as coisas ou querer ser o mais forte de todos. Mesmo que seja, não precisa mais. Está na hora de aproveitar que você tem alguém e não carregar o mundo até machucar as costas com esse peso! De verdade, com o que você se machucou?!
- Tinha um hipogrifo...
- Minhas deidades, você foi cortado por uma criatura cavalo águia?!
- Ele não me atingiu! – garantiu, antes que o irmão enlouquecesse. – Mas eu... me machuquei, é uma longa história, eu estava lento, instável, tinha estourado na noite anterior e-
- Você comeu?
- Mas de novo isso?! É o segundo que muda para esse assunto do nada!
- Comeu ou não?
- Não jantei.
- Long! – chamou.
Hazz acertou um tapa na própria testa e deixou que o irmão lhe pedisse uma comida leve em silêncio. Tinha prometido para a vó Augusta, de toda forma.
- Por que leve?
- Para não vomitar. Você está machucado, aposto que tomou todas as últimas doses de poções que tinha e está instável. Melhor não pressionar muito seu estômago, mas até a hora de dormir vou te fazer comer mais um lanche.
- Você vai controlar minha hora de dormir?
- Não vou. Você vai – Harry franziu o cenho, mas Heris apenas sorriu. – E seus amigos.
- Meus amigos?
- Sim, vou fazer Long contar para eles assim que te deixar lá que você precisa de ajuda.
- Por quê? Eu-
- "Não quero preocupar meus amigos e blá blá blá" – zombou, com uma voz propositalmente aguda. – Já sei. Mas nem eu, nem metade da sua família estamos lá o tempo todo. Sabe quem está? Sua corte, formada por pessoas fieis também escolhidas a dedo em uma escola inteira de opções. Você confia em Viktor, ele é seu irmão, não? Aja como tal. É minha condição para manter seu segredinho sujo do papai.
- Como assim?
- Você quer que Lakroff fique longe e não descubra que está tentando passar por cima dele e ir direto no Gellert conseguir informações? Tudo bem, essa eu vou deixar passar. É normal que um de nós fique chateado quando outro esconde algo e entendi que você já está bravo consigo mesmo por estar traindo a confiança dele tão descaradamente – e, como se para confirmar as palavras de Heris, Harry corou fortemente. – Conte você mesmo a ele, se quiser, ou continue com isso. Tenho certeza que não será nada demais e vai deixar o velho Gellert feliz, faz tempo que ele não recebe visitas, dê esse prazer a ele. Depois de tudo que vem fazendo por nós? É o mínimo. Mas quando chegar no barco da Durmstrang você terá que dar o primeiro passo.
- Primeiro passo do que?
- Se lembrar que você não está mais sozinho. Mostrar aos seus amigos que confia neles. Lhes dar a chance de te ajudar.
- Eu tenho uma dúvida.
- Manda.
- Por quê? Eles já sabem que eu confio neles.
- Mesmo? Que prova você deu disso?
- Como assim?
- Ter pessoas do seu lado não conta. Eu não confio em 99% dos acionistas que vejo e convivo todo dia! Faço Long assumir uma forma humana para jogar golfe conosco porque sinto que um dia um deles poderia pensar em me matar, por algum motivo econômico. Mantenha os amigos próximos, os inimigos mais ainda.
- Eu sempre deixei claro o que penso deles!
- Será? Bem, vamos testar, então. Quantos já perguntaram sobre mim?
- Sobre você?
- Sim. Sobre seu irmão mais velho, o trouxa adotado pelo filho de Gellert Grindelwald. Parece uma curiosidade muito interessante, quantos já perguntaram?
- Nenhum... mas-
- Para quantos deles você disse que tinha um irmão? – silêncio. – Agora, Hazz querido, se Viktor nunca te dissesse sobre sua própria vida, você, desconfiado como ninguém, confiaria nele? Ou ficaria sempre pensando que tem algo a esconder?
Houve uma longa pausa, onde o mais velho deixou que o mais novo pensasse. Quebrada, enfim, com uma pergunta:
- Você acha que eles não confiam em mim?
- Pelo contrário, acho que eles te amam – e antes que a cara confusa do outro se tornasse uma pergunta, já foi respondendo: – Acho que eles se importam muito com você e entendem que você merece espaço e tem direito aos seus segredos, te amam do jeito que é, fechado e distante, mas de certo esperam um momento para se aproximar, descobrir o que está acontecendo e finalmente se sentir seguros com a ideia de que estão verdadeiramente te ajudando. Sabe porque acho isso? - Hazz negou com a cabeça. – É como eu me sentia.
- Até o dia que você me pegou sujo de sangue, tinha algo contra mim e me senti confiante o bastante para tentar. Depois a cada vez que te dava algo. Eu sentia que você não me odiava e podia até gostar, mas estava longe. Talvez, se fosse adotado, nem lembraria de mim dois anos depois. Eu só entendi que era valioso para você quando me tirou da cela e me deu um nome – então, esticando sua mão para a cabeça do menino, moveu seus cabelos. – Eu só entendi que você confiava, quando me mostrou que queria minha ajuda para algo maior.
- Eu sempre peço ajuda deles, não sou nada sem eles... Eu só...
- Não quer ser um estorvo?
- É...
- Olha a mosca invisível – provocou, enquanto o menino coçava a cabeça. – Você não é um estorvo. Se um deles te pedisse qualquer coisa, você não faria?
- Claro.
- Então faça o mesmo e peça ajuda. Faça como Neville em todas as cartas e peça.
- Mas-
- Não com uma coisa do conselho estudantil, que já seria função deles, ou com planos de lorde das trevas, estou falando de uma coisa muito maior até que dominação mundial.
- Que é?
- Seu íntimo. Você mesmo. Pare de ser o mais forte e independente e diga a eles como você depende deles. Não é fazê-los se sentir pressionados a estar ali, mas realmente torná-los cientes do quão valiosos são para você. Necessários. Nem que não estejam fazendo nada, mas cientes de que podem fazer sem que você esteja internamente pensando que não precisava e nem queria, pois é isso que acontece. É isso que aconteceu comigo. E, por isso, quero que você pense: acha seus amigos valiosos? De verdade? Então deixe que saibam disso.
Long apareceu com a comida naquele momento, o que fez Heris se levantar e voltar para o sofá e Hazz se sentou no chão, para poder ficar na altura adequada e se alimentar. Depois de dar algumas mordidas, Heris ainda acrescentou:
- Acha que consegue falar para seus amigos?
- Eu...
- Quero que pense bem na resposta, porque se for não: quer dizer que você não tem amigos. Você tem alguns aliados, mas não pessoas que realmente confia e que sente que deve oferecer o mesmo de volta.
- Como meu silêncio provaria a eles que não podem confiar em mim, se apenas estou escondendo para mantê-los calmos? Para que não se agitem diante de um problema que não podem resolver como meu estado atual de saúde?
- Precisa mesmo da resposta?
- Sim.
- Hazz... Porque se você esconde deles que está mal, não pode esperar que Neville nunca repita o gesto. Não te conte nada. Nem poderá se chatear se escolher não falar sobre Dumbledore – o menino se virou imediatamente para encarar o loiro. – Ele te contou?
- Neville?
- Sim. Que teve a mente lida?
- Não.
- Você gostou? Foi melhor para você? Descobrir como a coisa estava ruim depois que já estava feita? Por terceiros? Gostou de sentir que ele não quer sua ajuda? Ou que, por algum motivo, não confia em você para contar em uma situação assim?
- Eu...
- Não, não gostou. Eu sei que não. Sei como dói. Porque eu vi os sinais, mas você me escondeu o tempo todo o quão ruim estava a situação, até que teve um homem morto e você quebrado, chorando em um canto do porão ferido e sozinho. Eu não pude fazer nada. Acredite, Hadrian Blake, nunca minha dor será tão grande quanto a sua, mas a culpa sempre será imensa na pessoa que sente que podia ter feito algo, mas não fez porque quis te dar espaço e não esteve lá na hora certa. Não faça isso com seus amigos, não se realmente se importa com eles. Vai ferir as duas partes.
- Mas você não tem culpa. Você me protegeu o máximo que pôde.
Heris se inclinou e abraçou o irmão por cima, apoiando sua testa no topo da cabeça do Potter, sentindo o cheiro de cacau, morangos e uvas tão agradável. Deixou que Hazz sentisse suas mãos geladas, sua força e o ar passar pelos fios de cabelo, em toda a intensidade e peso que as próximas palavras tinham ao serem libertadas uma a uma da boca do Mitrica mais velho ali:
- Mas você nunca me convencerá disso.
-x-x-x-
Quando Augusta deixou Heris na mansão Mitrica e aparatou a si e Neville, o menino se viu rapidamente no hall de aparatação na entrada da casa Longbottom.
Tremendo.
Augusta se afastou dele, por isto não percebeu a reação do neto, mas tão pouco o deixou notar as suas. Como ela mesma estava tremendo e seus olhos marejados.
Enquanto a Lady se regurgitava de fúria com Albus, em sua ousadia em acreditar que poderia continuar mantendo-a sob seu domínio ridículo, e se martirizava de culpa diante de tudo, Nev estava indignado.
"Por que você disse aquilo? A senhora enlouqueceu?!" pensou ansiosamente, tentando regularizar a respiração. O sorrisinho de Heris ainda gravado na mente. A ameaça se repetindo.
"Você ameaçou o diretor de Hogwarts de morte, a senhora entende o que é isso?!"
Mas, assim como pedia a situação, logo estava como devia. Por fora se manteve limpo, coluna ereta, rosto impassível na medida de seus limites individuais. Contou quatro segundos a cada respiração. Olhando para as costas da avó enquanto ela se despia de seu chapéu, guardava a bolsa com cuidado num armário no hall e retirava de lá sua caixinha de cigarros.
Aguardou ordens.
- Sala – disse Augusta objetivamente, quando enfim se virou para ele.
Neville acenou com a cabeça e silenciosamente seguiu para o cômodo indicado.
Aguardou de pé na entrada, tal qual ditavam as regras de etiqueta. Augusta se acomodou em uma poltrona e passou os dedos compridos e finos pelos cigarros da caixa, as unhas pintadas de preto arranhando muito suavemente a superfície e escolheu um.
Neville assistia em silêncio, ainda entre a porta e a área dos sofás. Braços ao lado do corpo, mil dúvidas na cabeça.
- Minha frente – enfim Augusta se pronunciou, apontando o cigarro ainda apagado para um assento no sofá e Neville, mais uma vez, acenou antes de seguir a instrução.
Teve que esperar um pouco sentado observando a mulher, enquanto trazia para si um isqueiro e acendia seu cigarro com o artefato trouxa, um presente dado por Diego no primeiro natal com os Mitrica.
Foi algo muito julgado pelos outros irmãos. Heris disse o óbvio: "ela é uma bruxa! Sabe fazer a própria chama com o pensamento!", já Alice julgou que era de mau gosto com Harrison. A garota era com certeza a pessoa mais sensível ao tema, às vezes até mais que o irmão, que naquela situação apenas garantiu que se não jogassem o fluido nele depois o isqueiro, estaria bem.
A garota ralhou muito com todos. Pela piada e pelos que riram dela. Neville concordava que aquilo não era piada, que dirá uma engraçada, mas o humor de todos naquela família era quebrado e cruel.
O Longbottom sabia que Alice ainda se arrependia muito pelo incêndio, ao que ficou sabendo depois, aparentemente ela sentia que podia evitá-lo. Nunca lhe deram os detalhes da história, a garota se limitou aos dizeres: "se tivesse ficado não aconteceria".
Da sua parte, Hazz não parecia culpá-la e quando Neville teve coragem de perguntar, foi bem claro em afirmar que naquela situação poderia ter tomado as mesmas atitudes da irmã sem perceber, ele apenas "teria achado a vaca" e a coisa deixou o Longbottom ainda mais confuso.
Só que como aquele era provavelmente o único assunto realmente tabu na casa, deixou morrer com eles. Os Grindelwald também não gostavam de se prender aos "e se", ao passado.
"Olhar muito para o passado machuca tanto quanto se prender demais ao futuro", era o que sempre diziam. O presente é o que valia. Todos aceitaram o gesto pelo que era: Augusta gostava de fumar e Diego pensou como trouxa ao presenteá-la.
Dito isto, a Longbottom pareceu bem apegada ao presente. Já que raramente usava magia para acender seu fumo após aquilo.
Nev admitia que era uma peça muito bonita, de prata entalhada, havia um grande leão de um dos lados e do outro o símbolo dos Mitrica, um chacal majestoso e, enroscado a tudo, uma pequena corrente com um pingente de mariposa.
Sua avó só usava magia para reabastecer o fluido de isqueiro quando acabava, pois nunca aprendeu como fazer, apenas pedia para alguém da família comprar mais com os trouxas e com um feitiço tirava da embalagem grande que guardava na cozinha.
A lady Longbottom acendeu seu cigarro e deu uma tragada, mantendo a fumaça um pouco em seu interior e então soprando para cima.
O gás rodopiou no ar e se tornou uma bola. Como uma bolha de sabão, mas macabra, o ar tóxico da nicotina girando em seu interior sem poder sair, até que apontou a varinha (enrolada entre os dedos da outra mão) para uma janela que se abriu. A bolha de fumaça seguiu obediente a direção, sumindo para os jardins. Eventualmente estouraria e se dissiparia no ar, bem longe do neto.
Do próprio cigarro o mesmo acontecia. A fumaça que subia do tabaco era sugada para uma bolha que crescia com o tempo e eventualmente (quando atingisse o tamanho do feitiço) voaria para fora.
Neville só segurou o sorriso dessa vez por causa da situação.
Achava aquele feitiço muito engraçado.
E talvez somasse a isso o fato de que foi Lakroff quem fez.
Artes das trevas, provavelmente, mas Nev não entendia muito bem as bases da magia sombria para compreender se o feitiço era ou não escuro. Sabia apenas porque, para que e o que ele fazia.
Diego, um dia, acabou revelando à Augusta sobre fumantes passivos, ao pedir para a avó fumar só em lugares abertos. A mulher ficou totalmente em choque e se perguntou como nunca ouvira falar disso. Lakroff explicou que não acontecia com bruxos pois ao se machucarem ou adoecerem, usavam poções de cura que nem sempre eram pomadas para feridas localizadas, mas algo consumível que curaria qualquer enfermidade dentro do corpo e o atrofiamento dos pulmões de um fumante passivo muitas vezes entrava nessa cura, igualmente passiva, Além da própria magia do bruxo que o curava naturalmente e por ser uma exposição eventual e em pequenas doses, teria tempo para resolver antes mesmo que o efeito fosse notado.
A Longbottom, entretanto, ficou horrorizada e nunca mais fumou perto de Neville.
À sua própria maneira, era seu jeito de desejar que ele não precisasse de poções de cura mais e, portanto, a exposição podia ser prejudicial. Não que ela tenha verbalizado essa sutil mensagem ao neto.
Não que Neville tenha pegado a mensagem.
Lakroff fez o feitiço das bolhas um pouco depois, para ajudá-la. Disse que também era útil para outras situações, mas que os melhores feitiços muitas vezes vinham de ideias que pareciam bobas. Neville ainda tentava pensar em qualquer outra situação onde aquilo fosse útil que não fosse jogar bolhas de gás envenenado em algum lugar.
Augusta puxou umas quatro doses bem grandes de fumaça antes de enfim se sentir mais calma.
Quantos cigarros já tinham ido naquela noite?
Riu baixinho, lembrando-se de quando fez Albus engolir sua fumaça e do barulho esquisito que Lakroff soltou naquele momento.
Ele sabia, eles se entendiam melhor que ninguém, sabia que se o símbolo do cuidado de Augusta nos mínimos detalhes com seu neto era não fumar mais de forma a prejudicá-lo, mesmo que como bruxo ele tivesse resistência, era um sinal muito grande propositalmente jogar o gás em alguém.
O fim do respeito.
Olhou para Neville:
- E então?
- Então? – questionou ele baixinho.
- Tem algo para me dizer? Estou esperando sua versão e seus motivos para não ter me contado.
- Sobre o que exatamente a senhora se refere? – sua cabeça baixou.
- Olhe para mim – ordenou e o menino imediatamente levantou o rosto. – Não se encolha, você não deve se encolher. É um guerreiro – afirmou com igual firmeza e Neville estufou o peito.
Os seus dois netos, definitivamente, eram iguais.
O menino, por sua vez, nem havia percebido que estava fazendo aquilo. Se curvando por cima de si mesmo, mas parecia que era sempre assim.
Com sua avó, ele sempre estava errado de alguma forma. Ou incorreto.
Olhou à sua volta, a mansão Longbottom nunca foi uma das maiores da Grã Bretanha. Diferente de algumas logo no centro que eram gigantes, usando magia para deixá-las maiores por dentro, ou mesmo aquelas em florestas mais isoladas, tal qual a mansão Malfoy, a casa de Nev sempre foi apenas na média. Atingia aos padrões sociais em que se encaixavam, sem exagerar ou se exibir, mas era maior do que qualquer casa comum da classe média. Provavelmente não atingia nem mesmo um quinto da mansão de Draco.
Mas era monstruosamente imensa para uma criança.
Tanto quanto fria.
Por anos Nev nunca sentiu aquele lugar com vida, não até conhecer Harry. Era, antes disso, como se houvesse apenas ele e, depois de uma longa distância invisível, sua avó. Andando por corredores escuros, gélidos e silenciosos, sua infância parecia um borrão um tanto escuro e sem cores. Se perdia aqui e ali, tentava invadir o escritório da sua avó e ter alguma companhia, brincar com seu brinquedo novo, mas sempre recebia uma bronca que o mandava se contentar com o que tinha.
Augusta achava que o menino estava pedindo outro brinquedo. Neville nunca foi muito bom em se explicar para a avó. Gaguejava muito na infância e isso parecia irritá-la, já que também lhe gerava brancas e até aulas muito chatas de dicção com uma professora monstruosa. Quando a viúva entendia que não era o caso da criança estar cansada do brinquedo, mas sim querer sua companhia para brincar, geralmente oferecendo também um jogo entre os dois, de esconde esconde ou qualquer coisa ainda mais simples... Ela ordenava que fosse brincar sozinho pois estava ocupada, ou velha demais para se abaixar, correr... Depois mandava uma carta para algum dos primos mais distantes irem visitá-los.
Primos que Neville não gostava, mas fingia que sim para não chatear ninguém.
O menino gostou bem mais da casa Mitrica. Até de sua própria casa, depois que eles estavam presentes.
A Mansão Mitrica, entretanto, tinha seu charme único. Aquele lugar que mais parecia um castelo que uma casa, lugar que sem dúvidas vencia em tamanho e magnitude até os maiores lares de lorde da Grã-Bretanha dos quais não passavam de um cisco perto dos terrenos da União Soviética.
Mesmo gigante, com excessos de branco para todos os lados, lustres caros o bastante para abastecer um país, artefatos dignos de um museu... era um lugar quente.
Barulhento.
Todo o espaço era uma possibilidade, não um desperdício ou uma prova de riqueza.
Era parte da família, o seu posto e teto. Cada objeto guardando a história ou representando um pouco de cada membro que já havia passado por lá e que quis deixar um pedacinho de si. O legado dos chacais, seu pedacinho de mundo.
Todo espaço amplo era uma oportunidade; para rolar nos carpetes que um tataravô comprara e que ria em seu quadro vendo as crianças se divertirem; para jogar paintball nos corredores com os comentários ao vivo dos bruxos antigos que nunca viram algo como aquilo, lugares repletos de cortinas grossas capazes de te esconder do inimigo, tecido dado por algum tio que ficava aliviado com as bolas de tinta mágicas que só pintavam se atingissem pessoas.
Usavam colchões para descer escadas, colocavam uma tirolesa entre o quarto andar do salão principal ao térreo. Faziam corrida de kart contra vassoura no jardim. Apresentações musicais no salão de bailes.
Até andar por lá era interessante, pois sempre poderia ter um quadro interessante para conversar. Nev chegou a ter conversas mesmo com Gellert e tinha que admitir que o lorde das trevas era simpático, com aquele ar misterioso, perigoso, mas cativante. Te distraia e atraia de forma assustadora. Não à toa ficava no lugar da casa que mais usavam (uma das bibliotecas) e onde podiam sempre falar.
Ou brigar, no caso de Heris.
Neville também gostava da casa dos Weasley, que era apertada, quente, com cheiro de comida caseira e com um clima familiar barulhento onde todos falavam o tempo todo e você não podia abrir muito os braços ou acertaria alguém ou alguma coisa.
Sua casa era apenas... tijolos e madeira empilhados e muitos móveis.
Ironicamente Augusta também sentia que quando estavam apenas os dois ali a casa era mais quieta, mas... não percebia sua própria "culpa" pela forma de seu neto, tão mais contida sem a presença de amigos. Ela apenas não se sentia confortável em sair do lar ancestral dos Longbottom, mas tão pouco tinha o mesmo gosto pelo lugar que encontrou seu filho praticamente morto.
Igualmente, quando o neto era muito pequeno e a dor ainda era tão recente, estava mais focada em como manter tudo no lugar, apesar dos pesares. Parecia que tinha voltado para algumas das piores épocas de sua vida. Quando casou-se sendo forçada a manter uma postura perfeita de sangue por que sua sogra exigia, uma perfeita mulher nos moldes das antigas leis Black. Como precisou se esforçar para agradar, se mostrar digna...
Quando Callidora jamais consideraria ninguém para seu filho.
Mas também tinha que ser o lorde. Cuidar das finanças, tal qual seu marido fazia, ou como ela mesma quando este morreu e a deixou sozinha com Frank. Então a coisa havia se repetido, bem quando pensou que teria uma família maior, enfim. Ir para o ministério, se fazer ouvir no meio daquele bando de homens machistas e velhos que a tratavam como tapa buraco manipulável, que só estava ali até o homem e lorde de verdade assumir. Tendo que ameaçá-los, se tornar o deboche ou a maluca, ou então a velha assustadora, pois só aí tinha algum respeito e mínimo de atenção. Ameaçando-os com sua bolsa ou a pisoteá-los com uma bengala.
E no meio disso criar um neto de acordo com o que Callidora gostaria em seu bisneto, o que Frank gostaria, o que Alice gostaria, o que Francysk queria, o que a sociedade pedia...
Ela não percebia as necessidades de companhia de Neville no meio de contas, cartas do hospital perguntando se ela não queria autorizar uma eutanásia no próprio filho, então as contas do hospital para mantê-lo vivo e sendo cuidado, já que se recusou a terminar de matá-lo.
Só percebia que Neville queria atenção após muitas vezes dele a perturbando no escritório, então chamava seus primos, que (como dito) não percebia que Nev desgostava. Que eram cruéis.
Ela tentou, ainda comia todas as refeições com ele e o colocava para dormir todas as noites. Não importava o quão ocupada estivesse ou que reunião tinha no ministério. Lhe fazia pessoalmente o café da manhã, sabia exatamente quais suas comidas prediletas desde sempre e quando apareceu com um menino misterioso em casa esteve lá para entender a situação e fazê-lo confortável, pois via como o neto estava feliz com sua presença (mesmo que achasse muito estranha a aparição). Tentou deixar Harry seguro e acolhido para que visse mais, por Neville, nunca por ser Harry Potter ou coisa parecida.
Porque sempre pensou e fez tudo que fez apenas para isso: tornar Neville feliz. Assim tivesse um futuro e fosse um bom garoto.
Ele era. Um bom menino. Um dos melhores. O problema seria se fosse bom demais para perceber o mal nas pessoas. Ainda mais as ditas como de confiança.
Isso também era mais uma de suas falhas, pensou Augusta.
- Albus Dumbledore usou artes das trevas em você para tentar tirar informações sigilosas sobre seu melhor amigo e alguém que confia em nós, para proteger seus segredos; Você não pretendia me contar dessa afronta? – as palavras saíram como lâminas pelos lábios da mulher mais velha.
Neville tremeu diante delas e ficou em silêncio, olhando atentamente ao chão, mãos firmes em punhos.
Um minuto inteiro se passou.
Depois dois.
- Vai ficar em silêncio? – questionou ríspida.
- Não achei que precisava lhe contar, vovó...
- Não achou?! – ele não sabia se a avó estava irritada ou indignada naquela frase.
- Sinto muito, senhora – sussurrou.
- Articule para falar, Neville Longbottom!
- Sinto muito, senhora – repetiu, com firmeza agora, ao que Augusta acenou satisfeita (não que ele tenha notado). – Entretanto a senhora deve entender que eu – hesitou. Teve que se segurar muito para não se encolher com o olhar que recebeu. A continuação foi bem mais baixa do que queria. – Eu podia lidar com a situação e não vi necessidade de piorar... algo que... não levaria a nada.
- Não levaria a nada?
- Bem, eu acreditei que não – respondeu, lembrando-se das ameaças proferidas por Augusta. – Entendi que a senhora ficaria brava com o diretor de Hogwarts, mas isto pareceu-me apenas um enorme aborrecimento desnecessário. A senhora vive ocupada, não devia precisar-
- E me diga, como é que você lidaria com algo assim sozinho?! É uma criança! Que sofreu um ataque mental! Um adulto não lida sozinho com um caso desses.
- O diretor admitiu seu erro e se desculpou – no mesmo instante que aquilo foi dito, uma janela arrebentou e Neville se encolheu.
- Aquele verme insolente e inconsequente ridículo! Achou que estava tratando um caso criminal de acordo com uma reles desculpa? Inferno sangrento, Neville! Você nem devia ter acabado na mesma sala que ele, a menos que acompanhado de aurores!
- Não era necessário – insistiu.
- Como não?!
- Ele é Dumbledore...
- Que tem isso?! As leis se aplicam a ele da mesma forma!
- É claro, ele entende. Por isso ainda fez o favor de se desculpar.
- FAVOR?! – o grito dado naquele momento seria capaz de arrebentar uma janela. – Como isso se aplica na palavra favor?
- Bem, não há como comprovar legalmente que alguém tenha lido sua mente. Um Legilimente na mente de outra pessoa é uma atividade mental e sutil, que não deixa evidências físicas tangíveis como prova direta. Hermione procurou, existem alguns indícios que podem sugerir que a legilimência ocorreu, mas obter provas concretas e irrefutáveis de uma invasão de legilimência-
- Neville – interrompeu. – Sua mão – avisou.
O menino imediatamente parou de coçar a própria perna. E balançá-la ansiosamente também, corado e chateado que estava irritando ainda mais sua avó e isso não seria bom.
Não era o caso, Augusta estava apenas evitando ouvir um discurso acelerado sobre coisas que já sabia apenas porque o neto estava nervoso e não ia direto ao ponto.
"Ele e Harrison, os dois em uma vassoura, qual fala mais palavras por minuto quando está ansioso?" ponderou, dando mais algumas tragadas longas. "Eu juro, se eles não forem ótimos duelistas é um desperdício no talento para rogar feitiços em sequência".
- Poderia me fazer o favor de esclarecer seu ponto de forma mais sucinta?
- Dumbledore descobriu que eu estava desconfiado e apenas veio até mim, admitiu sua culpa, esclareceu o que aconteceu-
- Esclareceu, é? – a fúria de Augusta estava atingindo novos patamares.
Sua expressão estava tão terrível que Neville tremeu e desviou o olhar.
- Foi apenas um erro – sussurrou, mesmo que não quisesse.
Sua avó se levantou naquele instante:
- Erro foi quando eu mirei minha bolsa naquele estúpido e ele conseguiu desviar! – gritou. – Erro foi ter te matriculado na escola onde Dumbledore controla!
- Como é?! – Neville questionou alarmado.
De repente, a ideia de sua avó o tirando de Hogwarts por causa de algo pequeno como aquilo o atingiu e o apavorou.
- Erro quer dizer cometer um deslize, ele COMETEU UM CRIME! – e os móveis tremeram. – Mas que bom que nos fez o favor de confessar, não é mesmo? Assim temos a maldita prova para denunciá-lo!
Neville arregalou os olhos diante da forma chula de falar, Augusta nunca xingava, mas sua mente imediatamente fez uma ligação mais importante:
- Denunciá-lo?
- Mas é claro! Acha que vou deixá-lo sair impune?! – reclamou, sem notar a expressão do neto, perdida em suas próprias emoções.
Não viu o desconforto.
- Vovó a senhora... – deixou a frase morrer no ar.
- O que tem eu? Termine suas frases.
A raiva era tanta na velha senhora que nem percebia mais a forma a cada instante mais ríspida que agia.
Merlin, ela queria voltar agora naquela escola e esganar aquela galinha caipira velha (Dumbledore, não a fênix, vale ressaltar).
- Desculpe – foi tudo que o menino se dignou a dizer, mantendo-se completamente ciente da posição de suas mãos uma vez que estavam tremendo.
- Pelo que está se desculpando?! Dumbledore que devia estar o fazendo e diante de um tribunal, não para você em sua sala, escondendo seu crime como um segredo simples! – reclamou gesticulando fortemente.
Neville, por sua vez, não mexia mais do que para respirar.
- Eu dispenso.
- Dispensa?
- O.... o tribunal. Denunciar Dumbledore. Não é preciso tudo isso, obrigada.
- Neville Longbottom! Como pode dizer isso?!
"Dizendo" pensou Nev, mas sua resposta foi:
- Eu apenas... me sinto assim.
- Você está sendo displicente e me recuso a acreditar que agirá assim!
- Displicente, vovó? Em que sentido?
- Ora, ainda pergunta? Depois de tudo que Albus fez com Harrison-
- Mas não foi ele que fez aquelas coisas – respondeu na mesma hora. Se lembrando de tudo que ele e o diretor haviam conversado, de tudo que Dumbledore teve coragem de lhe confidencializar.
Muitos erros de um homem que constantemente era colocado em situações onde precisava acertar, pelo bem de tantas pessoas quanto um homem pode se responsabilizar, mas acabava falhando e usava suas experiências para novas tentativas, funcionando ou não, nunca desistiu de fazer o que achava certo e isso não podia ser tão questionável, se o foco era garantir a segurança da maioria.
Aquela conversa abriu os olhos de Neville em muitos pontos e só por isso não recuou imediatamente com o grito que sua avó deu em seguida:
- Não?! – indignou-se. – A quem acha que devemos atribuir a culpa, então?
- Voldemort? Por arruinar as nossas vidas? Os tios de Harry, que nunca o trataram bem? A matrona no orfanato? Dumbledore não este-
- Não esteve lá, mas devia! Tinha que ter protegido o menino!
- Não era função dele! – Neville contestou, se lembrando das palavras de Hermione. – Claro que Harry precisava de mais atenção, mas no fim Dumbledore não agiu diferente do que qualquer guardião mágico faz com qualquer nascido trouxa.
- Harry não era um nascido entre trouxas!
- E o que fazia ele merecedor de mais direitos do que um terço da população mágica?
- Ele era órfão! Os pais dele foram assassinados na sua frente! O assassino ainda podia estar a solta e o perseguindo! Nascidos entre trouxas estão com seus pais, Harry não tinha mais pais, todo órfão tem que ter acompanhamento quando é designado a uma nova família porque é normal haver dificuldade de adaptação, mas ele o largou lá!
- Com outras pessoas da família...
- O que deu em você, Neville?! Depois de tudo que Harrison lhe fez, todo o tempo que te apoiou, você vai ficar do lado de Dumbledore nessa história?! – Neville negou com a cabeça. - Então o que-
- Que história exatamente? Ele deixou onde achou que ele teria isso e se afastou antes que sua presença pudesse atrair o perigo. Vários comensais estavam caçando Dumbledore e Harry viver como um trouxa era a última coisa que pensavam que "condenariam" Harry Potter, o herói. Eles tinham certeza de que seria mantido onde podia colher os louros da vitória, isso deixou Harry-
- Neville Longbottom!
- A senhora sequer o deixou se explicar ou apenas gritou com ele, como está fazendo comigo?! – perguntou num sopro.
Sentindo vontade de correr imediatamente depois.
Talvez implorar para Voldemort matá-lo antes que sua avó o alcançasse? Parecia uma morte menos cruel.
Que tal se furar no basilisco de novo? O veneno dele não era tão agonizante quanto o olhar da Lady Longbottom naquele momento.
- O que, afinal, Albus Dumbledore teria para explicar? – o som saiu sibilante, grave e como um sussurro sombrio.
Devia ser por isso que alguns pareciam ter medo de Harry, porque nunca viram Augusta Longbottom furiosa.
- Se a senhora tivesse... – ele pensou bem se devia continuar, decididamente estava assinando seu atestado de óbito, mas... Dumbledore confiou nele. – Escutado o que ele tinha a dizer, entenderia que não era tão simples.
- O que não é simples, conte-me querido?
Neville arrepiou-se por completo com a última palavra.
- Dumbledore, como diretor de Hogwarts e líder da Ordem da Fênix, mesma ordem que meu pai esteve, têm a responsabilidade de proteger a comunidade mágica e garantir a segurança de todos os alunos. – Augusta quis interromper, reclamar de onde raios o neto havia tirado um discurso tão... fabricado, mas preferiu deixar que terminasse, tentar dar uma chance, apenas tentou controlar o canto de seu lábio que estava tremendo nervosa e capciosamente. Acreditava realmente nunca ter ficado furiosa a esse ponto – Quando Harry apareceu na escola depois de todos esses anos se escondendo e com Lakroff como vice-diretor, ele obviamente começou a ficar preocupado! Nós sabemos a verdade! Ele não! Para o diretor, Harry é uma criança que sumiu, que precisava de ajuda e volta um bruxo das trevas, junto com o filho de um lorde delas e... é Harry. Você sabe como ele parece... Dumbledore está desconfiado.
- Desconfiado de que? – cada palavra saiu muito lenta, mas Nev tentou tomar coragem para continuar.
- Dumbledore acha que... Harry possa estar indo por um mal caminho.
- Ah, é? Ele acha? – a tremedeira estava ficando pior, Augusta teve que segurar a boca com as mãos.
- Ele pensa que... poderia estar se envolvendo com as artes das trevas de uma forma realmente negativa... o que eu quero dizer é que Hazz para ele é um mistério e o Lakroff também. Dumbledore está com medo do tipo de bruxo que "pegou Harry Potter" e desesperado para fazer alguma coisa.
- Como isso é da conta dele, eu me pergunto?
- Ele era o guardião mágico de Harry! O que Lakroff fez é absurdo! Simplesmente sumir com o menino! Faz parecer ainda mais que ele sequestrou Harry!
- Neville, mas o que raios-
- Eu sei, você sabe, Dumbledore não! Ele teve sua primeira oportunidade de saber se Harry realmente está bem, mas acha mesmo que Harry deu alguma chance dele se aproximar e fazer algumas perguntas?
"Ele tentou?" pensou a mulher, mas pareceu bem irrelevante. Tentando ou não, ele tinha era que ir para o inferno.
- Ter alguma resposta? Mas eu sou amigo do Harry e nós somos aliados de Dumbledore a anos! Ele confiou em mim para atestar se Harry realmente estava seguro e-
- Confiou?! Onde ler sua mente é algo que atesta confiança?
- Ele ficou com medo de estarmos presos em algum contrato de sigilo que nos forçasse a mentir! O que, diga-se de passagem, a senhora está!
Maldita língua impulsiva Grifinória, ele pensou, maldito senso de lealdade que o fazia defender todo mundo sempre. A forma como Augusta o encarou... o dividiu entre o medo e a tristeza.
- Foi essa a desculpa que ele lhe deu? Que estava averiguando controle externo?
- Sim...
- E que pergunta ele fez para isso?
- Como?
- Que pergunta ele fez na hora que te violou?
- Não use essa palavra...
- Eu vou, é a verdade.
- Olha, eu entendo que a senhora está brava, entendo até se Harry estiver furioso comigo por estar o defendendo, eu... eu sei! Venho evitando ele o dia inteiro, porque sei que se a senhora está tendo uma reação dessas a dele vai ser mil vezes pior! Mas com tudo que esconderam de Dumbledore, que era o responsável legal por Harry até literalmente perdê-lo para um bruxo qualquer que conseguiu confundir e destruir todos os esforços do ministério por anos a fio, é normal que tenha partido logo de cara para uma medida mais extrema quando teve alguma oportunidade depois de meia década no escuro! Mas foi apenas para garantir que até o próprio Harry não estivesse se colocando em perigo e não estivesse se envolvendo em atividades que pudessem prejudicá-lo ou a outras pessoas!
- Você não pode ser tão ingênuo para acreditar nisso. Eu não criei um garoto tão fraco.
Augusta se arrependeu imediatamente de suas próprias palavras, assim que percebeu que as disse em voz alta, assim que viu o peso delas no rosto do neto. Neville ficou alguns instantes parado a encarando em silêncio até, enfim, crispar os lábios e responder, balançando a cabeça:
- Desculpe se não sou capaz de usar oclumência.
- Não é isso que quis dizer – acrescentou imediatamente, certa de que tinha ido longe demais e jogando o cigarro fora, inspirando fundo ar puro para se acalmar.
Ela fez de novo, fez um de seus netos acreditar que estava brava com ele, sendo que sua fúria era para outro e... até consigo mesma.
- Neville, eu... Eu sinto muito, olhe para olhe para mim, eu-
- E se eu for fraco?! – gritou de repente, frustrado e irritado, levantando-se com tudo.
Augusta levou um susto e se afastou.
- Quer que eu a olhe enquanto conversamos? Eu olho, sim senhora. Como desejar. Mas não pode esperar que eu faça o que quer em relação a minha opinião pessoal a outra pessoa!
- Sua opinião? – perguntou obedientemente recuando e tornando a se sentar. Seu neto merecia gritar com ela depois da última, acalmar os nervos, assim poderiam conversar melhor.
Claramente estavam ambos tensos e na defensiva. Uma conversa nunca se saia bem em uma situação dessas.
- Eu sei que a senhora quer me proteger. A senhora sempre quer, sei que acha que eu sou fraco e que não consigo fazer as coisas sozinho, talvez eu nem consiga mesmo! Sempre preciso de ajuda! Sem Hermione não tiro as mesmas notas, sem Ron não consigo enfrentar os monstros, sem Harry não consigo saber onde ir para enfrentá-los! Sei que não sou meu pai e que a senhora precisa ficar constantemente de olho em mim porque caio da vassoura na primeira aula, explodo os caldeirões nas salas de poção quando Snape me encara e quase deixo os malditos diabretes da cornualha me pegarem, mas pelo menos eu aprendi a ser gentil e entender as pessoas. Obrigada por se importar e estar brava com alguém sendo invasivo comigo, mas ele literalmente fez só duas perguntas em duas conversas inteiras e ambas para tentar ter certeza de que eu era eu, que nenhuma magia estava me influenciando e todo o resto do tempo ele se abriu comigo, foi sincero e não me tratou como uma criança inútil e burra!
- Como é? – perguntou chocada.
- Eu agradeço que esteja defendendo minha honra, ou coisa parecida – disse, desviando o olhar, tentando evitar que sua avó percebesse as lágrimas ali. – Mas apenas se for isso.
- Claro que é. Mas-
- Ótimo, honra defendida. Mas eu não vou denunciá-lo, a legilimencia sequer é totalmente um crime, apenas as circunstâncias em que é utilizado.
- Acha que não há problema em usar nas pessoas, então?
- Claro que há!
- Então porque não em você?
- É diferente. Um contexto diferente.
- Albus é a diferença?
- Dumbledore precisa estar sempre atento e garantir a segurança das pessoas-
- Mesmo passando por cima de uma?
- Ele não... – Neville inspirou profundamente. – A senhora não confiava em Lakroff. O que mudou?
- Eu o conheci.
- Exatamemente. Dumbledore não é obrigado a confiar em ninguém que não conheça quando uma guerra pode estar batendo nna porta e Harry correndo perigo. Ele confia em nós, apenas queria ter certeza de que nós estávamos bem o bastante para ser essa fonte segura.
Neville esperou que a avó dissesse algo sobre suas últimas afirmações, encarou-a com a respiração descompassada e ofegante, mas se surpreendeu com o que a bruxa acabou soltando:
- Eu não te acho inútil, nem burro. Sinto muito se te fiz sentir assim. Se alguma das minhas atitudes tenham te feito chegar a essa conclusão tão cruel sobre si mesmo. Na verdade eu tenho muito orgulho de você, Neville. Tenho orgulho de tê-lo como neto e morro de medo que alguém se aproveite da pessoa incrível que é, ou pior, te machuque ao ponto de que também me abandone.
O adolescente, quase como se tivesse levado um tiro, de repente desabou. Toda a força e agressividade que o havia tomado, simplesmente caíram por terra e ele apenas se encolheu em seu assento no sofá.
Os dois ficaram em silêncio por um longo tempo, nenhum se olhou propriamente, apenas deixaram um tempo para organizar suas ideias.
Augusta foi a primeira a quebrar:
- Foi o que te disse antes ou alguma atitude minha passada o fez acreditar que penso menos de você?
- Eu...
"Foi tudo" pensou. O distanciamento, a frieza, as cobranças o fazendo sempre pensar que não era o bastante, as broncas por coisas tão pequenas que não via o problema de mantê-las só porque "um lorde não deve ser assim" e...
Como ela tratava Harry diferente.
Neville se odiou, assim que seus pensamentos chegaram a isso, mas era inevitável. Sempre sentiu que sua avó gostava muito mais de Harry do que dele. Que Harry era um lorde melhor, um bruxo melhor, um neto melhor e... um escolhido melhor. Ele nasceu para ser melhor e Neville se odiava por isso.
Esse sentimento de inveja em cima do seu melhor amigo!
Alguém que lhe daria o mundo!
Odiava se comparar com as pessoas, mas Harry... era o pior.
Hazz, que sempre esteve ali, fazendo as coisas exatamente como Augusta queria e muitas vezes sem sequer ela pedir, sendo um lorde perfeito antes mesmo de ter aulas sobre isso! Neville era só um fracasso se comparado a ele, por mais que o amigo dissesse o contrário e, até como se soubesse exatamente o que Neville pensava, sempre fazendo de tudo para exaltar cada pequena vitória e lhe dizer como era incrível.
Ele não era.
Era uma péssima pessoa e invejosa.
Sequer merecia todos os elogios e pessoas o chamando de "garoto de ouro". Se sentia apenas um idiota, olhando incomodado para a avó abraçando e beijando o amigo quando ele merecia sim afeto! Augusta tinha mais que tratá-lo como neto mesmo, mas...
Porque Neville não se sentia sendo tratado da mesma forma?
Ele não tinha coragem de admitir aquilo. Aquele monstro feio em seu peito.
Então... já que já estava sendo uma pessoa ruim, então cairia para seus piores lados. Seria um covarde e fugiria:
- Eu posso voltar para a escola agora?
Queria voltar para a sua cama, voltar para a Grifinória, onde não o tratavam como um elo fraco, que precisa de bronca ou de maciez demais, como sua avó estava fazendo, como Harry fazia sempre escondendo coisas e protegendo Neville sendo que... eram da mesma idade! Queria voltar para Ron, que se escondia atrás dele sempre que via uma aranha, ou para Hermione, que agarrava seu braço quando um lobisomem aparecia. Onde sentia que era capaz de enfrentar monstros gigantes e lorde das trevas. Onde...
- Sobre Dumbledore, eu espero que possa entender que a escolha é minha. E eu não vou levar isso adiante, estou satisfeito como as coisas acabaram.
Para onde havia um adulto que o tratava como alguém capaz de enfrentar o mundo, que sempre acreditou em seu potencial, mas não precisava cobrá-lo por mais do que já tinha oferecer. Que o parabenizava pelos acertos e o consolava numa falha sem precisar lembrá-lo delas. Com um que o encontrou quase morto, o salvou, mas nem por um segundo disse algo diferente de: "você foi incrível lá" ou "raríssimos bruxos da sua idade teriam coragem de enfrentá-lo, menos ainda sobreviveriam".
Ao invés de lhe repreender por ter tentado salvar as pessoas, lhe deu pontos e fez sua casa ganhar.
Lhe parabenizou de verdade.
- Neville, não, obviamente temos que conversar.
- Eu quero voltar para a escola.
- Pare de fugir.
- Eu vou, já sou fraco mesmo.
- Você não é fraco! Não diga isso de si mesmo! Você é uma pessoa excepcional e-
- Então porque a senhora nunca parece satisfeita com meus esforços?!
- Mesmo?
- Se eu tiro EE, sempre me lembra para estudar mais na próxima, para conseguir um O! Quando eu lutei com o trasgo e te contei... me deu uma bronca por ter ido sem poder mágico para isso e disse que eu podia ter matado Ronald junto, que não queria mais saber de eu colocando meu amigo em risco assim e quando... quando ajudei Sirius, por exemplo, brigou comigo por não ter chamado os Aurores e ter feito Remus perder o emprego!
- Eu fiz isso?
- A senhora não se lembra? Remus viu no mapa do maroto que estávamos andando pela floresta, procurando Pettigrew, ele se esqueceu de tomar a poção porque foi correndo nos tirar de lá, foi quando se transformou e quase nos atacou, se não fosse por Snape... Nós achamos perebas no dia seguinte com Hagrid e levamos para Dumbledore, mas... Harry também tinha avisado para não procurar na lua cheia e achamos que era coisa dos bichos da floresta proibida. Não íamos para ela, por nossa causa Remus foi descoberto e os pais quiseram tirá-lo.
- Eu disse, especificamente, que era sua culpa?
- Não com essas palavras... mas disse que nunca se deve sair na lua cheia e comentou "pobre Remus" então eu...
- Colocou palavras na minha boca? – estreitou os olhos.
O menino ficou envergonhado com as implicações daquilo, tecnicamente se não foi o que sua avó queria dizer, sim ele havia feito exatamente aquilo, mas não era o caso ali. Ele só não sabia como chegar no ponto!
E talvez nem quisesse.
- É só isso?
"Só?" pensou irritado, mas não disse nada, apenas trancou a mandíbula de forma tensa, ao que Augusta notou.
- Você disse que lhe trato como criança, normalmente eu diria para agir feito adulto e me encarar de frente para conquistar algo assim, mas fica claro que meus métodos têm lhe passado uma impressão errada e cruel acerca de sua avó. Pois bem, como quer que eu o trate?
- Como é?
- Me diga como quer ser tratado e eu farei meu máximo.
- Não quero isso...
- Por que não? Se minha maneira de agir o chateia, por que não mudá-la?
- É diferente.
- Como?
- A senhora está fazendo isso porque gritei e estará fingindo. Não sendo você mesma.
- "Eu mesma" parece ser desagradável a você.
Era, mas... o menino nunca jamais gostaria de forçar sua própria avó a ser diferente, isso não era natural e o incomodava em tantos sentidos.
- Não é.
- Então o que o incomoda?
- Nada.
- Se não houvesse nada, não estaria chateado.
- É apenas.... estou apenas estressado com tudo isso.
- Como posso ajudar a aplacar isso?
- Não aja assim!
- Assim como?
- Assim! – e gesticulou com as mãos para a mulher. – Esta fingindo, sendo o que não é!
- Mas eu estou sendo eu mesma.
- Não está! Você nunca me trata assim! Você nunca é... complacente assim!
- Porque sou sua avó.
- Como assim?
- Desde quando uma avó obedece de cabeça baixa o neto?
- Não estou pedindo para me obedecer, é justamente o que está me incomodando nesse exato instante!
- O que está pedindo, então? Porque até agora não tem sido direto em relação a isso.
- Não quero ser.
- Por que não?
- A senhora não entende.
- Me faça entender.
- Eu só quero que aja como se eu não fosse uma decepção para você! – e cobriu o rosto, apertando a cabeça, claramente com dor.
Augusta acenou e se levantou, atravessou a sala e foi até o sofá, ao lado do menino, ainda mantendo alguns centímetros de distância. Pela visão periférica, Neville observou a postura perfeita, as pernas cruzadas e as mãos delicadamente repousadas no colo.
A lady perfeita...
Ele provavelmente sequer seria capaz de se casar com uma assim, seja lá quem fosse a tola que se apaixonasse por Neville, não seria adequada para os padrões de Augusta. Não porque Neville a escolheu e Neville nunca-
- Quando você tira excede as expectativas – Augusta começou a falar, o fazendo cortar seus próprios pensamentos. – Eu sei que você teve capacidade de ser melhor do que seus professores esperavam, por isso excedeu ao que tinham de expectativa, e se foi capaz de fazer isso, então me provou que é capaz de mais. Você se excedeu, porque não fazer de novo? Tenho certeza de que meu netinho pode, ele sempre consegue tantas coisas. Então estude mais na próxima e sei que alcançará seu merecido O. Pois, para mim, você não é nada menos do que um O – então, por fim, olhou para Neville. – É isso que penso, quando você me mostra suas notas. Talvez eu tivesse que ter dito tudo?
O menino não respondeu, ficou encarando a mulher, piscando e respirando, tentando entender o que estava acontecendo.
- Quando eu recebi sua carta, muito empolgado com a ideia de ter enfrentado um monstro, eu só pensei no tipo de perigo que você estava se metendo em seu primeiro ano e achando que aquilo era uma virtude. Só porque somos grifinórios, não quer dizer que precisamos morrer tentando salvar alguém. Se vocês não tivessem sido tão habilidosos, o pior podia ter acontecido, eu teria que ver nos olhos de Molly a dor de perder um filho e eu não suportaria isso. Não suportaria ver essa dor nos olhos de outra mãe, mas principalmente, eu estaria morta. Sem você, eu morro. Não consigo imaginar aguentando a dor de perder mais um filho, mais um marido, mais um neto, mais um da minha família eu só... não suporto. "Então não se arrisque mais". Foi isso que quis dizer na minha carta, mas fiquei com medo de te desincentivar a ser uma pessoa nobre, a lutar por quem está em perigo e precisa de ajuda. Eu, feliz ou infelizmente ainda acho nobreza uma virtude. Mas ela me tirou muita gente e eu... não quero que te tire também. Eu quero que seja corajoso, mas não quero que arrisque sua vida, é contraditório e difícil para mim, por isso não consigo explicar. Por isso... apenas te dei uma bronca e torci para que te ensinasse a pensar bem antes de só pular na aventura. Devia bastar... mas eu fiz mal.
- Vovó...
- Quando você prendeu Pedro e ajudou Sirius eu fiquei louca, porque já era o terceiro ano que te encontrava ferido, quase morto ou fragilizado, era o segundo ano que fui para um tribunal em que você estava envolvido e era um momento terrível para mim – ela levou a mão aos olhos e esfregou, sentindo os dedos molharem com algo que sequer notou que escorria por seu rosto, que embargava suas palavras e destruía seu interior. – Fiquei pensando em todos os anos que o pobre Sirius ficou preso injustamente, na dor que foi para ele sentir que todos o abandonamos e pensei em Remus, que perdeu o emprego e mesmo que recuperasse Sirius, poderia nunca mais ser o mesmo. Eu fiquei com medo e triste pelo meu passado e só consegui pensar por um segundo em você e a mensagem foi: Não ande na lua cheia! Eu não te ensinei isso? Não foi porque estava te culpando de qualquer coisa, estava me culpando. De não ter te avisado sobre Remus, de que ele poderia ter te machucado, você poderia ter se tornado um lobisomem e eu estava julgando indiretamente Remus por ser um tratando isso como se fosse algo ruim. De todas as formas, eu estava apenas... mal. Então te deixei mal. Eu sinto muito.
- Vovó, eu-
- Eu sinto muito se não digo mais vezes que te amo, se te dou tantas broncas, é que você é tão... perfeito.
- Como é? – aquilo não fez o menor sentido para o menino, como ele podia ser perfeito e levar bronca?
- Você sempre foi gentil, sorridente, sempre positivo e tão puro, você me fazia lembrar do seu pai, mas conforme crescia eu tive certeza que de alguma forma, você foi o melhor do que todos nós podíamos oferecer, eu, seu avô, seu pai, sua mãe, você era um pouco de tudo que tínhamos lutado para ser em uma fusão perfeita. Era forte, mas humilde, gentil, mas nem por isso deixava que pisasse em você, eu te via enfrentando o filho dos Malfoy quando ele o provocava e percebia como tinha força no meio de toda aquela luz pura. Eu tinha tanto medo de estragar você no começo, que te quis criar como seu pai, se deu certo com ele, poderia com você, mas tive que ter os olhos abertos para ver que você... era melhor que isso. Melhor que uma cópia de Frank. Então eu o desafiei. Infelizmente, com você falando agora... vejo que fui como Callidora foi comigo e nossa, como eu odiava aquela mulher! Nunca quis pegar nada dela, infelizmente não foi o caso, me tornei a mesma megera.
- A senhora não é megera.
- Não, eu sou sim! – fungou. Neville se viu quase desesperado. Foram muito pouco as vezes que realmente viu a avó chorar. – Eu te fiz sentir-se insuficiente de tanto que te cobrei... – a mulher se levantou, desviando o rosto, virando-se de costas para o neto.
Ela sempre fugia. Desde que ele era pequeno e ela tinha crises de choro por se sentir sozinha, fraca e velha, ela fugia e chorava bem longe de onde o menino pudesse ver. Porque queria que ele tivesse uma base sólida para crescer. Uma mulher em seu estado não ofereceria isso a menos que pudesse se cobrir com a atitude que aprendeu ser a mais poderosa naquela sociedade.
Mas justamente isso... machucou seu neto?
- Eu não consigo fazer nada direito – sussurrou tremendo.
- Vó! – chamou Neville, correndo até a mulher, seus instintos gritavam muito mais para consolar alguém, do que ficar chateado, não suportava ver pessoas tristes, ainda mais por sua causa.
Mas ele não tocou na avó, quase como se tivesse receio ou mesmo desconforto. Não era seu aniversário, nenhuma data comemorativa, não parecia um evento como os outros em que se abraçavam. Era só mais um dia.
Augusta, por outro lado, sentia a mão gelada e seu peito doendo, se agarrando a ele, tentando recuperar alguma força, ao menos para parar de tremer. Ouvir todas aqueles coisas foi simplesmente... duro.
- Eu fui rigorosa com você porque sentia que isso te incentivaria a ser ainda melhor – sua voz estava tão afetada, que Neville quase não ouviu, quase não entendeu. E quem estava falando era uma mulher que sempre insistia que um interlocutor devia se fazer claro. – Sinto muito, muito mesmo. Desculpe por me fazer passar por isso e se sentir incapaz de dizer antes, suportando isso eu... me perdoe, se puder. Apenas, não pense que agi como agi porque eu não gosto de você, meu filho!
- Filho? – perguntou dando um passo desconfiado para trás.
O som de sua voz fez a bruxa notar que o neto estava bem mais próximo dela agora, mesmo se sentindo péssima, ela sempre exigiu isso de suas crianças, não deixaria de fazer agora. Levantou o rosto, inchado vermelho e molhado e olhou diretamente para o menino, que instintivamente se aproximou mais quando viu o estado da avó
- Eu te criei. Ou se esqueceu? Acredite, a diferença que vejo entre você e seu pai é que, talvez, eu te ame ainda mais do que amei Frank e, não, não acho que ele ficaria bravo comigo por dizer isso: porque você veio dele. É a última coisa que tenho dele e a mais valiosa. Você é meu bem mais valioso. Você tinha, ou melhor, tem tanto potencial, tanto potencial quanto possível e não para ser igual ao seu pai, para ser melhor que ele. Eu tinha certeza que depois do que fui capaz... bom, agora eu não tenho mais essa certeza. Começo a pensar que me superestimei, antes eu acreditava que se fiz alguém tão incrível quanto o seu pai você seria mais, afinal eu tinha mais experiência, poderia ir tão longe entende? Com o legado dele servindo de inspiração, mas não como um objetivo, e um pouco de direcionamento... Mas, eu...
Estavam lhe faltando palavras.
Ouvir todas as coisas que Neville tinha guardado a deixou arrasada, é claro. Primeiro, porque ela sentiu que já ouviu isso antes. Nunca dito em voz alta por uma boca, mas sim pensado.
Por anos a fio.
Por ela mesma.
- Eu achei que com você eu não poderia falhar! Você não merecia isso! Você tinha só a mim para te passar tudo! E eu... tinha que provar que ainda conseguia, por você, ser uma mãe, capaz de construir um caráter tão belo quanto Alice teria feito, uma força de justiça tão intensa quanto a que Frank lhe daria, uma inteligência e paciência como seu avô tinha e um lorde adequado, quanto meus sogros me pediam. Mas no fim... Eu sou só mais uma Callidora!
- A senhora-
- Eu sou sim! – interrompeu, mesmo não sabendo se o menino de novo falaria contra isso, mas era óbvia a verdade. Seu menino apenas era gentil demais para não consolar alguém em seu estado. – Se eu te fiz sentir insuficiente. Se eu fiz sentir que as coisas que fazia não eram o bastante. Então eu sou uma megera! Eu te sugo, eu te machuco, eu te torno fraco, roubando sua energia vital! Te faço sentir incapaz ou menor do que realmente é. Isso é uma megera!
- A senhora não rouba minha energia vital – contestou deprimido.
- Não? Porque, com callidora, eu podia ir mais longe, mas eu nunca seria o bastante. Meus esforços sempre podiam ter sido maiores, minhas vitórias eram minha obrigação e o básico... eu não aprendia. Senta direito, coma direito, "como alguém chega na fase adulta sendo tão ridículo", eu posso nunca ter dito essas coisas para você, mas se te fiz sentir ao menos dez por cento tão ruim quanto eu me sentia na presença daquela mulher... Nessa casa! Então eu sou – o menino não respondeu, aquilo o atingiu, parecia muito com como se sentia para mentir na cara da avó, que imediatamente cobriu a boca. – Ótimo. Já é o segundo neto que dou conta de ferir hoje... mas obviamente você merece meus sinceros arrependimentos bem mais. Eu nunca quis fazer você se sentir como eu nos anos em que Callidora Black me ensinou a ser a Lady Longbottom. Eu quis te ensinar sim, a ser um lorde Longbottom e o que eu sabia sobre isso? Eu fui obrigada a ser o Lord quando todos me deixaram, mas era seu avô, era seu pai que deviam te ensinar isso! Não eu... Sinto muito. Ao que parece eu me apeguei e aprendi o pior de Callidora, que era o mais próximo que eu tinha de uma voz me indicando o que fazer para conseguir passar por aquelas reuniões infernais, aqueles lordes estúpidos, arrogantes e manipuladores, aquelas votações onde ninguém quer saber sua opinião, a menos que grite mais alto da forma certa para se fazer ouvir, mas não parecer louco. Talvez eu não possa me justificar, talvez nunca haja uma real justificativa para isso. Mas... eu acho que pensei que você, que era o fruto do esforço de todos nós, era obviamente melhor e mais forte que todos, então apenas... Eu nem sei o que dizer. Eu-
A frase foi cortada. Augusta nem viu o menino se aproximar, estava chorando demais e seus olhos pesavam, constantemente se fechando, quando deu por si, estava sendo abraçada.
Neville tinha sua altura.
Mas seus braços eram muito mais fortes. Seus ombros um pouco mais largos e... era absurdamente quente.
- Não chora. Eu... não estou bravo com a senhora.
Mas aquela frase, dita com tanto carinho nos braços de seu neto, que cresceu tanto... serviu apenas para que sentisse mais vontade.
Mesmo acreditando que não haviam mais barreiras de sua antiga eu, Augusta notou que sim, uma restará, mas Neville terminou de quebrá-la, quando ela se viu o abraçando, escondendo o rosto em seu ombro e chorando copiosamente. Aceitando algo que ela nunca se permitiria antes, e não era demonstrar fraqueza para outra pessoa, ou mesmo em sua casa, mas ser consolada por alguém que ela deveria proteger.
Ela aceitou sua própria fraqueza de novo e por completo.
Uma que nunca pode dar ouvidos enquanto Lady. Uma que abandonara talvez até antes, em Hogwarts, quando era a mais responsável de sua turma. A monitora, a "mãe" do grupo.
Mas Neville tinha um abraço tão forte quanto gentil, acariciando as costas da avó, ela se deixou acalmar ali até que voltasse à terra.
- Por muito tempo eu acreditei que tinha que te fazer o herdeiro perfeito, sabe? – sussurrou após um tempo, Neville não respondeu, apenas continuou acariciando suas costas. – Seu pai era muito bom, não apenas um herdeiro bom, mas um homem excepcional, agora eu era mais experiente, mas te devia também tudo que você não teria. Seu avô, seus pais, eu não estava sozinha com o seu pai, ainda tive ajuda para criá-lo. Você dependia só de mim. Como eu poderia fazer isso e fazer direito? Mas tinha que provar a mim mesma e a você que era possível. Seu pai tinha que saber que estava tudo bem, Alice tinha que notar, quando fossemos visitá-la e se ainda existisse alguma parte dela lá, que você estava bem. Que eu tinha conseguido.
- A senhora sempre me pede para lembrar que eles não estão mais lá...
- Não é mais doloroso assim?
- Como?
- Pensar que eles estão lá? Que ficarão presos, olhando de longe, sabendo que não conseguem mais sair ou tentando desesperadamente, mas no fim seus corpos são outras pessoas, seus espíritos apenas... não servem mais? Isso é tão doloroso de pensar, não gosto que tenha essa impressão deles.
- É a impressão que a senhora tem?
- Você vai mantê-la se eu disser que sim? Vai mesmo querer passar por essa dor quando olhar em seus olhos e pensar onde está a alma?
Neville inspirou fundo e, desta vez, teve que se agarrar à avó porque ele mesmo estava quase chorando.
Talvez ela nem tivesse notado, mas havia uma coisa naquela frase, algo que o atingiu bem mais do que apenas finalmente estar falando dos pais consigo: ele não se sentia uma criança naquela conversa. A bruxa não estava dizendo como ele tinha que ver o mundo, tal qual se faz com alguém que ainda não sabe nada sobre ele. Não o tratava como frágil demais para ouvir algo triste e doloroso, estava apenas... falando sobre o mundo exatamente como ele era.
Triste, horrível e imutável. Um choque de realidade. Algo que só alguém maduro pode entender o verdadeiro peso e, finalmente, ela o tratou como maduro para ouvir. Conversar.
Deixar que a consolasse.
Seu neto, mas não seu bebê.
- Eu sempre achei que eles... haveriam de acordar um dia.
- A esperança não machuca mais? A cada ano te ferindo?
- Não acha irônico? Que minha mãe e Alice tenham o mesmo nome?
- Como assim?
- Alice Pandora Mitrica. O último dos males da humanidade, preso à caixa de Pandora, era a esperança – Augusta se afastou, para olhar nos olhos do neto, que aproveitou a deixa para ele mesmo limpar os olhos. Não que as lágrimas tivessem saídos, mas era um garoto emotivo e sabia que elas estavam lá. – A esperança é controversa assim mesmo. É um mal que te destrói lentamente, por dentro da caixa onde você a guarda, porque ela será a última a morrer, a última a sair, a última que continuamos querendo manter por perto como se fosse nos salvar guardar só aquele mal. Não faz diferença mais um ou outro, o mundo já está péssimo, todos os outros já saíram. Acho mais fácil só lidar com ela de uma vez.
- E o que quer dizer com isso?
- Eu tenho esperança de que estejam lá, mas já não aguardo pela volta. Apenas torço para que, se estiverem, não sintam dor por essa condição e, se for o caso... quero que se vão. – Nev viu a surpresa no rosto da avó e já foi se adiantando. – Eu sei, mas sinceramente? Torço que eles mesmos parem de manter essa esperança na caixa, aceitem o mundo como é e sigam em frente antes que se machuquem mais – ele abriu a boca, para continuar a sentença, mas foi atingido por uma ideia, uma luz. Percebeu algo nas coisas que a avó disse e um ensinamento que ele mesmo não havia percebido até então que veio justamente de suas broncas. De repente, parecia até tolice da sua parte ter brigado com sua avó por isso – Nem toda briga vale a pena. Mesmo que seja por nós, ou por qualquer pessoa, se todos estão saindo feridos. Talvez fosse melhor só não brigar mais. Temos que ser um pouco egoístas também ao escolher nossas batalhas.
Augusta encarou Neville por um longo tempo, diretamente nos olhos dele, entendendo exatamente o que o menino quis dizer.
Orgulhosa de como era sim mais inteligente do que ela pensava.
Talvez eles só precisassem conversar mais, ser mais abertos e isso não teria ido tão longe.
Só porque ela estava na mansão Longbottom, ela não era mais obrigada a ser a matriarca Longbottom, a Lady da casa. Aquela casa, agora, era dela. E de Neville. Eles só tinham que ser Augusta e Neville se queriam assim.
Então ela acenou e acariciou o cabelo loiro escuro do menino:
- Você tem razão... Mas nunca diga isso a eles.
- Não é?
- Seus pais eram guerreiros que nunca desistião de uma luta por mais difícil e perigosa que fosse, vão ficar chateados se o filho disser para desistirem.
- É por isso que a senhora não queria que eu me enfiasse em tantas lutas?
- Não quero que sinta que deve ser um guerreiro. – e depois de anos, segurando aquela frase, enfim tomou força para dizê-la. – Isso te fará um herói, assim como é, mas heróis morrem e eu não quero mais heróis mortos nesta família. Quero apenas um neto vivo, por favor. Sei que é egoísta da minha parte, mas poderia apenas ser meu neto por enquanto?
- O problema, vovó... – comentou se inclinando para a mão da mulher e se enchendo de felicidade que ela apenas aceitou aquilo como um sinal para lhe dar mais carinho. – É que a senhora se meteu, ao que tudo indica, em uma família que só gera heróis. Mas prometo que vou escolher bem minhas batalhas, podemos ficar assim?
Augusta riu, outra lágrima fujona lhe escapou, mas ela não se importou, apenas puxou o menino para outro abraço:
- Prometa que não morre antes de mim.
- A senhora tem apenas trinta anos, isso vai ser um desafio considerando meu histórico, mas-
- Neville Longbottom! Acho que está passando tempo demais com os Mitrica! – e lhe deu um tapinha no braço, se afastando.
- A senhora que mandou uma carta para Harry ficar de olho em mim. Culpe a si mesma – sorriu.
- Neville...
- Sim?
- Você tem muito mais a oferecer, sabe? A falha de você achar que não acredito nisso é toda minha, fui eu não quis lhe dizer isso tudo, aparentemente eu não soube como lidar com você. Só que quero que saiba que tudo foi porque acreditei no seu potencial desde o primeiro minuto. Você era uma criança incrível, era digno de grandes coisas, nasceu para possivelmente alcançar o que ninguém mais poderia e eu te amo exatamente como é. Eu apenas acho que o mundo é muito cruel e era minha responsabilidade te preparar para ele. Falhando ou não... – ela acariciou sua bochecha com ternura. – Eu o vejo e sei que você conseguiu. Sozinho. Se tornou incrível.
Neville ficou estático, olhando para sua avó.
O menino sempre se sentiu fraco, não era apenas como a avó tratava, mas como todos sempre o trataram. Seus tios, que o achavam um aborto, ou quando entrou em Hogwarts, com Malfoy e seus amigos lhe zombando. Até algumas vezes no beco diagonal com a avó antes mesmo de Hogwarts, quando acabavam trombando em si, passando direto, derrubando suas coisas. Sua avó gritava com as pessoas por serem mal educadas, mas ele apenas se abaixava e pegava de volta em silêncio.
"Não deixe pisarem em você assim, Neville. Reaja", a Longbottom dizia, mas o mais novo não reagia.
Até que ele conheceu Harry.
Foi quando sentiu-se mais amado, foi quando reagiu. Quando tentou tirar a cobra do menino. Conhecer aquela criança, que ficou tão feliz em tê-lo como amigo pareceu....
Diferente?
Ele precisava daquilo. Aquele sentimento nos olhos daquela pessoa, dizendo que ele era incrível e comemorando suas vitórias, cada uma delas. Não esperando que as tivesse, apenas feliz que existiam. Até mesmo a sua avó parecia um pouco diferente desde que Harry apareceu em suas vidas, estava mais paciente, aberta e atenta.
"Incrível", era a palavra de Harry, era a palavra de Neville desde então. Sua avó sabia e estava, naquele instante, lhe dizendo que acreditava nele como Harry?
De certo, o estava olhando com tanta admiração e carinho quanto possível.
E estava lhe acariciando.
No fim, era tudo que sempre quis. A coisa que sempre faltava. Aquele contato físico, aquelas palavras...
Ele precisava mesmo ter machucado sua avó para conseguir isso? Não podia ter notado antes? Como ela o amava sim, mas de seu jeito? Teria pedido demais? Talvez a sua avó realmente não fosse dada a contato físico (mesmo que sempre abraçasse Harrison), palavras de afirmação constantes (que dizia frequentemente ao Harry) ou mesmo passar tempo apenas fazendo algo com alguém que goste.
Ela não precisava dizer o tempo todo que amava Neville, ainda era uma senhora idosa que fazia questão de... levar ele e Harry para passear quando eram pequenos, levando Hazz em seu primeiro Halloween no Beco Diagonal.
Fazendo cookies para os dois sempre que se reuniam.
E mesmo para Neville sempre que tinha coragem de pedir.
Seus pratos preferidos toda refeição, doces em formatos de bichinhos porque dizia que eram mais gostosos (mesmo que tivesse dado uma bronca sobre uma coisa não ter nenhum envolvimento com a outra).
Ela ficou mais do que feliz em aceitar a companhia de um novo amigo para o neto. Sempre presenteou Neville com tudo o que pedia. Quando pedia ou até sem pedir, quando ele apenas encarava na vitrine em silêncio. Aparentemente só era parte da sua personalidade, antes de dar um presente, lhe dar uma longa aula sobre como deveria valorizar cada coisa que recebia e ter consciência do privilégio detê-las à mão por sua família.
Sua avó tinha preocupação em ensiná-lo? Para que fosse alguém forte e íntegro?
Ela ainda tinha... seus momentos de avó amável, e Nev sabia que ela o amava, porque no fim ainda estava lá por ele toda vez. Por mais que ele quisesse... mais. Ele apenas não estava dizendo que Augusta não era o bastante sendo como era?
Os presentes. Os atos de serviço puramente para ele, ficando sem dormir para vigiar o monstro debaixo de sua cama (mesmo que já tivesse insistido que se tivesse um bicho papão ela já o teria expulsado) ou os momentos que tentou oferecer em todos os aniversários, em todas as viagens, mesmo quando ela não podia ser quem ia com ele. Trabalhando por horas no escritório, mas para que ele tivesse um futuro melhor? Afinal, por mais que todos a chamasse de Lady, ela não era mais. O título passa para a mulher do Lorde, era de Alice. E seria da esposa de Neville. Augusta não tinha mais do que um direito dado por consenso entre os outros. Apenas social. Economicamente falando, nada do que fazia pela casa Longbottom seria Seul, mas de... seu neto.
E o neto tinha sido mesmo tão ingrato que não aceitava a forma dela de amá-lo e insistia no que não... lhe era dada?
Ele queria ter ouvido mais. Queria ter recebido mais abraços, mas tempo com ela, nem que tivesse que dar todos os seus presentes. Ele queria que quando derrotou o basilisco, ela não tivesse simplesmente ido buscá-lo, dito "parabéns, você é um herói" e se recolhido a um silêncio esmagador que guardava uma bronca nunca dita. Augusta esteve em cada um dos momentos, no tribunal junto de Neville, e ele entendia. A frieza de sua avó como parte de quem era, de como ela sabia agir, e sua presença constante falando por si sempre que estava se sentindo fraco demais para si, mesmo assim...
Eles eram bem diferentes.
Augusta gostava desse distanciamento, aparentemente sentia que ações diziam mais que palavras. Ele podia ter sido mais compreensivo.
- Você pode me perdoar – ela disse, de repente.
- Eu também – seus instintos responderam.
- Você?
- Desculpe se te fiz sentir uma megera como Callidora. Eu só estou estressado.
Augusta acabou rindo daquilo também:
- Está tudo bem, eu mereci.
- A senhora é uma avó incrível, merece o mundo, por cada vez que foi no meu quarto no meio da noite e costurou meus ursinhos de pelúcia, mesmo achando que eu não deveria tê-los.
- Desculpe, fui criada em outros tempos, lordes não deviam manter ursinhos-
- Nem nesse tempo, se não quiserem sofrer bullying na escola, obrigada por me impedir de levar um. Já estava na hora de eu crescer e não depender deles para dormir, mas obrigada por não jogá-los fora e ainda mandar lavá-los sempre que estou para voltar das férias. E por ter continuado comprando, mesmo com tudo.
- Você percebia que eu ia no quarto à noite para costurá-los?
- Eu achava que era a fada dos ursinhos, um dia fiquei acordado para pegá-la. É um prazer conhecê-la, dona fada – brincou e Augusta achou aquilo tão fofo que se pegou com o rosto ardendo novamente.
Chegou a se soltar do menino, apenas para abanar-se:
- Certo. É um prazer, querido. Eu... – inspirou fundo. – Posso acreditar que estamos bem? Você tem mais algo a dizer?
Neville ficou muito tempo em silêncio, obviamente estava pensando em algo, mas no fim respondeu apenas:
- Não.
Augusta não conseguiu se dar por satisfeita, é claro, mas.... eles estavam no começo. Ela estava no começo para ser uma nova eu. Não adiantava apressar aquilo:
- Vou ser menos rigorosa com você e te dizer mais vezes, como é especial para mim, para que não duvide mais, nem se esqueça. Está bem?
- Não precisa...
- Mas eu vou. Eu sempre faço com os filhos do Lakroff, é claro que é porque minhas palavras e um ou outro abraço são tudo que posso oferecer aqueles meninos, Lakroff que se vire para lhes dar a vida que merecem, mas você é meu netinho, eu posso te dar um pouco de tudo. Só não fique um mimado, sim? Vou lhe dar menos broncas, mas é como pensei hoje com Harrison, ele podia até estar a beira do choro, mas se eu não puxar sua orelha quando está errado vai ser uma pessoa péssima.
- Espero, um minuto, volta. Explica isso melhor.
- Como assim, querido?
- Sobre... Harry. Os... Você.
- Desculpe, Neville – crispou os lábios. – Realmente não entendi.
Neville riu:
- Olhe sua cara. Não precisa se segurar tanto para me dar uma bronca, só não seja cruel. Já entendi, eu não posso ficar balbuciando, ou as pessoas não irão me entender. A senhora vai ficar muito estranha se nunca mais me chamar atenção, não faça isso. Eu posso lidar com suas exigências, está bem?
- Eu sei que pode, é um homem forte.
- Só gostaria... que tal continuar como... com é com Harry? – no instante que a pergunta saiu de sua boca, o menino corou, sentindo-se muito tolo.
Ele tinha dito.
Ah, Merlin. Será que a avó percebeu? Seu grande problema, seu maior pecado?
Mas, aparentemente, não foi o caso:
- Em que sentido?
- Bem... eu não sei. A senhora... hoje mesmo estava o abraçando e beijando.
- Ah, isso? Quer beijos? – e como se quisesse provocar o menino, ela fez biquinho e um som engraçado que fez Nev recuar.
- Não, agora eu passo.
Os dois riram.
- Mas se quiser, não vejo problema. Se sente que fui desafetuosa como os tios do-
- Não! De onde tirou isso? A senhora é ótima, ninguém pode ser tão ruim quanto eles!
- Bem, é que com Hazz eu apenas tento imitar o que vejo Lakroff fazendo, Hazz desvia muito de contato físico.
- O Hazz? Desviando de contato? Estamos falando da mesma pessoa?!
Augusta riu alto e puxou o neto, ele seguiu para onde ela os levou, até o sofá, e se sentou ao seu lado, sua mão sendo segurada pela da senhora, que começou a acariciar enquanto explicava:
- Nev, você e Harrison são especiais. A amizade de vocês é especial. Ele não tem medo de você, pelo contrário, ele se apoia em você ao ponto de que busca seu contato, a proteção que você oferece.
- Como é? Que proteção, Harry-
- Não me interrompa.
- Desculpe.
- Ai, querido! Desculpe, eu não-
- Pode me repreender! Não precisa me tratar como se fosse papel.
- Isso vai confundir a mente dessa velha senhora...
- Que tal um acordo? Você age como acha que deve agir e se eu ficar incomodado, não vou mais guardar para mim, vou só te dizer.
Augusta o encarou, muito feliz e satisfeita:
- Quando é que você ficou tão maduro?
- Sei lá, talvez a senhora não tenha notado no meio dos bichinhos de pelúcia.
- Podemos doá-los.
- De jeito nenhum, deixe-os lá – a resposta foi tão rápida e ríspida que gerou outra risada da mulher.
- Certo. Vamos fazer como você quer. Voltando ao que eu dizia... Harry é um bruxo talentoso, nós dois sabemos, mas ele é tão fraco em outros aspectos.
- Harry fraco? Olha, desculpe, mas achou mesmo que eu não ia interromper essa? Ele é... o Hazz! Ele-
- Pode ser magicamente forte, mas você sabe o quão quebrado ele é. Acha mesmo que pode chamar aquilo de força? É apenas poder. Por dentro ele é um menino assustado e irritado. Você sabe disso – Neville murchou, baixando a cabeça em silêncio. A avó tinha razão. – Ele pode nos enganar com aquelas brincadeiras, sorrisos e a forma despreocupada que age, mas nós sabemos a verdade, a triste verdade e... ela o consome. Todos os dias. Mata um pouco dele a cada dia junto com a insegurança, o medo de não ser aceito, você pode até acreditar que não é o caso, mas se pensa assim é porque é ingênuo, sinto muito por apontar o fato, mas é. Ingênuo e cruel, esquecer-se da verdade no passado de seu amigo. Esquecer-se das cicatrizes em seu corpo, no-
- No sorriso falso.
- Exatamente – concordou com um aceno deprimido e apertando suas mãos no colo, continuou. – Acha que ele está tão feliz quanto quer que pensem? Ninguém está quando tem a bagagem que ele carrega. Então sim, ele pode querer seus abraços, mas é porque ele confia em você. Não existe essa mesma confiança natural em mim. Eu sempre tenho que tomar cuidado, hoje mesmo ele se apavorou quando me viu levantar a mão.
- Apavorou?
- Não estou exagerando. Você pode achar muito do seu amigo, ele é realmente absurdamente poderoso e isso engana, achamos que alguém tão capaz magicamente não teria porque temer quem é mais fraco, mas Harrison é fraco num lugar que atrapalha todo o resto: em sua própria mente. Você não vê, porque perto de você ele se sente seguro e isso é lindo, mas perto de mim? Não existe a mesma segurança. Eu preciso lembrá-lo dela. Preciso abraçá-lo bem devagar, para que ele se acostume, se sinta seguro e retribua. Preciso repetir gestos que Lakroff faz, não coisas que eu normalmente faria, porque isso para ele é um sinal bom e seguro. Preciso lhe dizer constantemente que está tudo bem, que ele é valioso, que ele é bom, ou ele se esquece porque eu posso estar a oito anos dizendo essas coisas, mas os tios passaram seis dizendo outras em uma força muito maior, gravando com força física cada uma das crueldades que ele não consegue esquecer. Que ele vê quando se olha no espelho ou que gritam em sua cabeça quando falha. Eu acredito que, por mais cruel que eu seja, nunca te fiz sentir como outros fizeram a Harry, então eu... não tenho coragem de ser "eu" com ele.
- Como assim?
- Antes, você me disse para ser eu mesma, bem com Hazz eu não posso. Normalmente já não somos exatamente capazes disso em qualquer lugar que não seja nossa casa. Aqui é onde nos sentimos mais seguros para fugir de expectativas e obrigações sociais e nos tornamos os mais sinceros. Isso, por sua vez, pode machucar ou agradar aqueles que moram juntos, afinal estão todos querendo deixar para trás a figura ideal do lado de fora e nos tornamos menos pacientes ou agradáveis de se conviver. É triste, já que fazemos isso justamente por nos sentirmos à vontade com aquelas pessoas e lugar...
- A senhora se sente confortável comigo para ser você mesma?
- Sim. É claro.
- Mas não com os Mitrica?
- Claro que não. Bem... isso muda com o tempo, nossas famílias estão cada dia mais próximas, faltaria apenas você se casar com um deles.
- Vovó! – reclamou corado. – Que história é essa?!
- É só uma brincadeira, meu querido – e riu. – O que quero dizer é que, mesmo que isso possa vir a mudar, por enquanto eu não tenho coragem de gritar com Harrison, por se enfiar em uma aventura e pôr um amigo em risco de vida, por exemplo, não só porque mesmo que ele me chame assim, ainda não sou sua avó. Ainda tenho menos direito de lhe censurar do que um professor, por exemplo. Um mentor. Lakroff sempre terá mais desse direito. Não só isso, também tenho uma enorme dificuldade, e talvez esta seja a maior e mais significativa, porque sei o quão sensível aquele menino é.
- Sensível?
- Sim. Diferente de você, não acho que ele aguente. Basicamente? Eu sempre tive a impressão que você era mais forte que Harrison, desde que o conheci e o via ansioso, mesmo claramente gostando de mim, para ficar sozinho com você, onde ele realmente era aberto. Comigo ele parecia mais um dos filhos plastificados dos Black, educado e silencioso, com você ele era uma criança. Depois, que vocês me contaram sobre como não tinha coragem de me contar sobre os próprios ferimentos e você pegava poções escondidas, só confirmou que ele acreditava em você para protegê-lo... e eu não – suspirou, levando as mãos as bochechas e massageando. – Foi terrível, sabe? Pensar que não consegui fazê-lo confiar em mim a tempo de salvá-lo de tudo aquilo. Poderíamos tê-lo adotado, mas enfim. É passado. Eu só decidi que tentaria demonstrar a confiança que faltou. O porto seguro que não consegui antes, para caso acontecesse algo de novo... caso Lakroff fizesse algo.
- Mas ele não fez.
- Ainda bem. No fim, acabei repetindo os gestos dele, afinal Hazz parecia absurdamente confiante com ele. Então é isso. hazz só é mais magicamente intenso, mas grande coisa. Nada que você não poderia aprender. Assim como todo o resto, postura, modos à mesa. Ela já tinha e era até útil tê-lo em casa, como eu sempre dizia, para aprender com ele. Harrison tem sua idade, achava que ele teria mais facilidade em te ensinar do que eu, saberia como tornar a coisa simples, assim como foi com voar. Eu não consegui te ensinar de jeito nenhum, mas Hazz fez isso em duas tardes?
Neville arregalou os olhos, a voz de sua avó dizendo coisas como: "porque não tenta fazer como Harrison?" se repetindo. Anos se comparando e achando que a avó preferia o outro...
Ela só queria que ele o imitasse para ficar mais fácil de aprender? Não era um exemplo de vida, só...
- Eu sou um idiota.
- Não se insulte! Que coisa tola de se fazer! Quer dizer... me desculpe, eu não o quis-
- Não se desculpe por me repreender! – pediu exasperado.
- Já parei.
Os dois se encararam em silêncio como se esperando quem seria o próximo a dizer algo, então riram.
- Isso está muito estranho – reclamou o menino.
- Um pouco.
- É impressão minha ou a senhora disse mesmo que acha que sou capaz de ser tão poderoso quanto o Harry?
- Por que não? Vocês dois enfrentaram Voldemort, os dois fazem parte da profecia, se é que acredita nisso, nem Lakroff parece gostar de profetas e vive dizendo que são ridículos. De toda forma, os dois são bruxos talentosos e que cresceram juntos. Apenas usam tipos de magia diferentes – a mulher notou como o neto pareceu, de repente, tenso, se mexendo um pouco, mas continuou falando mesmo assim.
Apenas registrou o fato.
- Também querem coisas diferentes, mas eu plenamente acredito no meu neto.
- Eu não. É bom acabar com essas expectativas, a senhora se lembra que o prodígio lá já está no sexto ano, não é? Eu passo essa pressão aí. Não vou alcançá-lo.
- Você tem seus próprios talentos, não é para ser igual a ele, garoto. Isso é tolice. Não devemos nos comparar com as pessoas, só nos deixa loucos. Você tem a capacidade de ser tão excepcional quanto ele, mas naquilo que quer ser excepcional. Harrison nunca conseguiu tirar suas notas em herbologia, mesmo sendo estudioso como é e caso tenha deixado passar em branco, meu neto, ele não pediu sua ajuda nos últimos exames?
- Sim, mas eu sempre peço a dele também.
- Garoto tolo – Negou com a cabeça, apertando a têmpora. - Quais foram os últimos exames de Harrison?
- Como assim?
- Ele estava fazendo seus NOM adiantados! E você o ajudou! Entende que você tinha a mesma capacidade que ele, portanto, para passar em Herbologia nesses mesmos NOMs também estando no terceiro ano? E você nem sabia que era esse o objetivo! Apenas recebeu a matéria dele, achou que Durmstrang estava adiantada, leu um pouco e conseguiu lhe explicar?
Neville piscou atônito.
Ele... ele tinha nível NOM em herbologia?! Sério?! Tinha mesmo ajudado Hazz a passar nas provas do ano passado, então... realmente tinha feito algo assim e não notou?!
- Inclusive, se foi tão fácil que você não achou nada demais, de duas opções, uma terá que aceitar: ou você é um ótimo amigo e não nota o esforço que faz por Hazz, lendo livros avançados apenas para lhe esclarecer dúvidas, ou os livros avançados nem são tão difíceis para você. Qualquer uma que aceite, parabéns. Você é um bruxo incrível. Na sua área e decididamente não precisa ser mais que isso. O excepcional é interessante, mas não se prenda a ele.
Aquilo decididamente tirou as palavras do adolescente. O fez reavaliar muita coisa. Se sentiu um idiota e orgulhoso, na mesma proporção. Levou um tempo assim, apenas pensando, até que sua avó tornasse a falar:
- Sabe... não era por isso que te trouxe aqui. Decididamente precisávamos ter essa conversa, mas não era o esperado. Amanhã você faltará na escola, vou escrever à Minerva.
- O que, vó, espera!
- Acho melhor não voltarmos a falar de Albus por hoje. Conversamos melhor amanhã, quando nossos nervos não estiverem tão intensos.
Por mais difícil que fosse pensar em dormir com aquele desgosto, sabia bem quais tinham que ser suas prioridades. Seu neto sempre seria uma delas. Sua raiva ou desejo por atitudes, justiça, vingança, não podiam se sobrepor a fragilidade que sua relação com o neto parecia estar passando. Para resolver aquilo precisava pensar, pois sabia que suas próximas decisões eram muito importantes para serem feitas no impulso ou levando em consideração apenas os próprios sentimentos e moralidade.
Neville, por outro lado, pareceu questionar a espera.
- Tem algo contra permanecer em casa?
- Vou perder aulas?
- Está reclamando mesmo disso? Ter uma desculpa para faltar? Que tipo de adolescente você é?
- Não é isso.
- O que é então? Por que quer voltar tanto para a escola?
- Não sei...
Augusta ponderou por um tempo, olhando para a expressão incomodada do neto, até enfim ter uma ideia.
Um ideia perturbadora:
- Você não quer voltar a discutir sobre Dumbledore, não é?
- Não quero.
Ela acenou, pensando bem antes de continuar:
- Por quê? Por que parece incomodado com a ideia de denunciarmos seu crime?
- Não é exatamente um crime...
- Legilimência realmente não é, usar em alguém contra sua vontade? Sim.
"Usar algo que foi uma das ferramentas para destruir seus próprios pais por dentro? Isso é. O pior dos crimes".
- Eu realmente não quero falar disso – pediu o mais novo.
- Está tudo bem – garantiu, segurando com força a mão do menino. – Estou mais calma. Obviamente eu também já te feri, não posso ficar tão brava com Albus – mentiu. – Mas posso entender o seus pensamentos? O que te faz acreditar que não devemos levá-lo à justiça e deixar que os responsáveis legais por decidir o certo e errado tomem o devido partido? Entende que ele pode fazer isso com outros alunos.
- Ele não faria! É diferente, tinha um motivo eu já-
- Eu entendi o que me disse, se acalme – garantiu.
Augusta estreitou os olhos. A raiva não estava permitindo que visse, mas... havia algo tão estranho em seu neto. A ideia perturbadora estava ficando mais forte, mas estava torcendo para que não fosse o caso.
- Mas – comentou.
- Mas nada, vovó – pediu. – é Dumbledore!
- E o que tem isso?
- Eu entendo, está bem? As ações dele foram muito questionáveis, mas a senhora mesmo disse que estava preocupada.
- Com o que?
- A guerra! Voldemort! Dumbledore também está. É óbvio que coisas estão acontecendo e desta vez até Harry está envolvido... não é normal que seu nome apareça no cálice.
"É, foi de propósito" pensou Augusta mas considerando que o Potter fez aquilo porque o nome de Neville podia ser tirado, não importava muito. Os dois obviamente estavam com uma mira nas costas e esse era o ponto de Nev, não tinha para que questionar neste sentido.
- O diretor, ao menos, já está agindo antes que a coisa possa ir longe demais e eu-
- Com você?
- A senhora entende o que isso pode significar? Expor Dumbledore publicamente quando os jornais, lordes e vários partidos querem diminuí-lo e retirá-lo do poder a anos? Com tudo que Dumbledore prestou à comunidade bruxa, destruir a reputação dele é destruir uma base do que mantém as coisas calmas. A cada dia, antigos comensais da morte voltam a ter a mesma influência de antes, há mais cadeiras de famílias das trevas na câmara do que da luz, eu sei disso. Eu estudei, assim como a senhora pediu. Eu olho os diários oficiais do ministério, as assinaturas, as leis. A estabilidade do mundo mágico pode estar em cheque, se não por Voldemort, por outro A senhora quer que eu arme um escândalo que poderia abalar as estruturas já frágeis. Dumbledore pode ter cometido um erro, mas as consequências de expor essa informação poderiam ser mais prejudiciais do que benéficas e para quem? Para mim?
- Fico feliz que esteja prestando atenção no meio político Nev, fico orgulhosa de você, na verdade. A maioria na sua idade não faria isso, você será um bom lorde. Mas... foi Dumbledore que te disse todas essas coisas?
- Não sei, importa? Se é verdade?
- A verdade é que as famílias das trevas estão sendo a maioria. Isso é um problema?
- Como não seria?
- Bem, somos muito amigos de uma família das trevas e nunca vi problema em concordar com alguns pontos deles... – mas a frase perdeu a força até o final.
Mesmo? Nunca viram problemas em concordar com algumas de suas considerações? Quais, afinal? Augusta pensou muito sobre isso nas últimas horas (e anos). Ficou claro que os Mitrica decidiram tratar como tabu mencionar e expor diretamente as artes das trevas para os Longbottom.
Sabendo que eram uma família da luz, de seu passado com bruxos das trevas e como o choque cultural poderia ser maior ainda se fosse aprofundado em questões mais óbvias da relação entre as trevas contra luz... eles não falavam sobre magia das trevas. Augusta teve uma exposição maior porque ela conversava com Lakroff diretamente. O questionava e o pressionava, contestando seus princípios e ideais. Ao qual ele calmamente explicava e garantia que Augusta tivesse um período de adaptação e esclarecimento sutil, mas eficiente.
Neville não teve isso... teve?
Lakroff respeitosamente evitava, os trouxas muito menos tinham um motivo para expor o menino a isto e Harrison? Tinha... medo dos Longbottons o julgarem por sua escolha considerando o fator do que houve com seus pais e para que lutavam.
O quanto Neville realmente entendia que as trevas representavam além do que era ensinado numa escola da luz completamente tendenciosa?
Os costumes antigos da bruxaria? Algumas coisas sobre magia elemental, bestial, e outras fontes não modernas? Todas coisas que os Mitrica sabiam que não eram propriamente sombrias, apenas culturalmente abandonadas e que, por isso, não confrontariam os ideais originais Longbottom?
Neville... não sabia de verdade o que era magia das trevas. Sabia?
- Além de tudo – Augusta acrescentou, esta pulga atrás da orelha a inquietando, o problema crescendo mais e mais a cada instante na conversa, comprovando o quão enganada estava nos últimos anos. – Nunca os vi impondo nada de seu ponto de vista, pelo contrário, eles são bem abertos ao nosso e não veem motivo para nos impor suas verdades. Sem mencionar que todas as mudanças políticas que vem tentando implementar são incrivelmente bonitas e justamente alguns dos projetos de leis mais inspiradores que já vi.
- Bem, sim. Lakroff é um filantropo, mas não podemos dizer o mesmo de todos os lordes de famílias antigas e das trevas. No fim, mesmo que não nos "imponham verdades"... Só existe uma.
- Não. Isto está completamente errado. O mundo não é certo e errado. Verdade ou mentira.
- Mas é verdade que as famílias das trevas que estão no poder no nosso país eram comensais! Eles juraram apoio a um homem que destruiria metade da nossa população por ser diferente, por não obedecê-lo, por não atender às expectativas que ele criou de forma egoísta e irracional!
- Para a justiça, esses mesmos comensais a que se referem, foram inocentados. A verdade, então, não está com nosso governo? Até onde vejo, eles continuam sendo pessoas absurdamente monótonas votando nas mesmas leis sem sentido que os demais. Não é uma diferença tanto da luz e das trevas, mas de pessoas inspiradas a fazer a diferença. Como Lakroff.
"Totalmente diferente de Dumbledore" acrescentou mentalmente, mas soube que o neto não entendeu a mensagem sutil.
- Então obviamente o sistema é falho – reclamou o menino.
- E se ele é, de onde podemos tirar o que é verdade, se não de nossas próprias vivências? Da junção de todas as fontes, da conclusão que o choque de ideias gera, contestando uma a outra, comprovando ou jogando por terra?
- Eu não estou entendendo onde a senhora quer chegar.
Augusta suspirou, sentindo-se ainda mais exausto.
Que dia péssimo.
- Esqueça. Me desculpe, não vou saber te fazer entender. Eu... obviamente falhei. Desculpe.
- Falhou no que?
- Com você. Em todos os aspectos possíveis.
- Vovó! Do que está falando? Achei que tínhamos nos acertado.
- Posso te questionar uma coisa? E você será totalmente sincero?
- Claro...
Nem por um único minuto, em todos os anos com a família Mitrica qualquer um deles tentou afetar a imagem que a bruxa tinha de qualquer pessoa. Mesmo politicamente falando, mesmo com o próprio Dumbledore, a quem tinham todos os motivos para odiar. Mas Albus justamente fez isso. Mais cedo Augusta teve o pensamento que o lorde da luz destruiu a própria imagem com a mulher, mas enquanto fazia isso, teve tempo de reafirmar a sua com uma criança. Talvez com várias e por gerações que, assim como Augusta, não viam que indiretamente esta imagem de Albus afetava o julgamento individual de cada um acerca dos outros. Puramente baseado no que este falava.
Os Mitrica não quiseram mudar a opinião dos Longbottom sobre alguém, mas os Mitrica eram dragões.
Harry era um dragão. E um Slytherin.
Como ela mesma disse a ele mais cedo, sonserinos são leais às pessoas.
Dumbledore era um leão.
Leal à causas.
"Eles nunca tentaram mudar minha opinião sobre um amigo, apenas me pediam para ter um olhar aberto", pensou com pesar, encarando seu neto.
Dumbledore estava disposto a tornar um grupo inimigo, se sua causa fosse contra a qual defendia e mudaria a opinião de todos que ainda estivessem dispostos a ouvi-lo.
- Você confia em Dumbledore?
- Sim.
- Por quê?
- Por todos os motivos?
- Isso foi uma pergunta ou uma afirmação? Quais os tais motivos? Se sua resposta for basicamente um bando de frases que eu poderia ler na cartinha dos sapos de chocolate dele, eu dispenso.
- Meu pai confiava nele – respondeu firme e aquele realmente parecia ser um motivo forte para o garoto.
- Achei que já tínhamos estabelecido que você não é seu pai.
- Ele é o diretor de Hogwarts, ele nos salvou de duas guerras já.
- Não sozinho, tão pouco foi diretamente responsável pelo que aconteceu com Voldemort. Os Potter foram. Harry foi, portanto o menino é tão digno desta confiança. O que Dumbledore tem de diferente para que deseje tanto protegê-lo?
- Ele salvou minha vida. Claro que também vou protegê-lo.
"Mas que merda!" pensou Augusta imediatamente fechando os olhos.
Rogando todas as pragas possível para uma cabra velha ridícula!
A forma como Neville estava imediatamente na defensiva sempre que Augusta atacava Dumbledore lhe gerou a suspeita, mas agora não tinha mais como fugir da verdade.
"O maior acumulador de dívidas da vida, o infeliz maluco" Augusta se lembrava claramente daquelas palavras porque foi Gellert que as disse e ouvir Gellert falando de Dumbledore a incomodava. principalmente porque a frase foi encarada com: "Eu falo que o destino nos separou porque juntos éramos imbatíveis" .
Também porque logo em seguida Lakroff começou a ameaçar vomitar e mandou o quadro calar a maldita boca antes que decidisse queimar aquele e encomendar outro.
Aparentemente Gellert fez de propósito para irritar Lakroff, porque começou a rir e só saiu de perto.
Provavelmente pela forma como levaram a situação despreocupadamente, Augusta fez o mesmo quando devia ter percebido os sinais. Visto o grande problema. O perigo.
Devia ter confiado menos (Frank a perdoasse) no julgamento de seu filho. Ou de um maldito animal que se curvou.
Dumbledore podia ter nascido para ser um líder, de acordo com o bicho, mas que tipo de líder?
- Ele tentou te mudar por dentro – sussurrou, tão baixo que o neto apenas viu seus lábios se mexerem, mas não entendeu nada.
"Te manipulou, meu pequeno anjinho inocente..."
- A senhora disse algo?
- Só estou pensando.
- Em que?
- Eu falhei – sussurrou Augusta indignada. Arrasada.
- Como é? – questionou Neville.
- Eu falhei tanto – repetiu, agora mais alto, para que ele pudesse ouvir. Negando com a cabeça. – Sinto muito. Como que eu falhei com você!
- Do que está falando vovó? Você não-
- Não me defenda! Você sequer sabe onde eu falhei para me dizer se a frase está certa ou errada. Parte desse erro, entretanto, me impede de te dizer agora do que se trata, pois você não aceitará. Você descartará. Mesmo que escute, não verá o defeito de minhas ações enquanto responsável por sua criação e a onde isso te levou. Você não entendera e houve um tempo que eu pensaria que essa dócil ingenuidade em você seria uma virtude, parte de caráter. Agora vejo que é apenas uma fraqueza que podem e vão usar contra você.
- Vó, eu não estou entendendo nada do que a senhora está dizendo.... E acho que fui ofendido.
- Não foi. Desculpe. estou me ofendendo, por não ter te feito mais... aberto? Ou questionador. A diferença é tão tênue. Não precisa entender agora, de qualquer forma. Você o fará no futuro. Tenho fé que sim.
"Eu preciso que sim" pensou. porque uma maldita dívida de vida era péssima de se lidar.
- O que quis dizer é que... talvez você seja ingênuo e bondoso demais para ver as ações ruins de pessoas boas. Isso é adorável, mas não é prático e estou com medo de ter falhado tanto que não lhe ensinei a se defender disso.
- Mas eu não-
- Como, por exemplo, aceitar as ações ruins de Dumbledore apenas por ser um homem bom.
- É muito mais do que isso, vó.
- Eu entendo o que te faz pensar assim, mas vamos apenas... concordar em discordar. Eu sou sua avó, priorizo a sua integridade acima até do mundo, não adianta debatermos.
"Porque você vai defendê-lo" pensou, exasperada, desolada.
Esperançosa.
Ah, cruel e terrível esperança. A última que morre, a que engana os homens enquanto os destrói na caixa.
Dívidas de vida ainda não eram votos perpétuos, nem juras. Ela podia ser destruída.
Augusta, entretanto, não seria capaz disso. Não tinha poder ou a influência necessária em Neville para isso.
- A falha é só minha. Não sinta que seu caráter não é belo, por ser tão puro.
- A senhora não-
- Eu falhei sim – ela o calou com um simples olhar antes que pudesse contestar mais e suspirou, porque calar um adolescente com um olhar não indicava que você estava fazendo a coisa certa. Adolescentes estão aprendendo a se conhecerem, descobrirem quem são, o que querem, seus limites, do mundo e das pessoas. Eles não obedecem assim. A menos que algo dentro deles tenha sido podado de formas que uma alma viva de verdade não deveria. – Posso não ter errado com seu pai, talvez. Mas porque o mundo tinha me dado outras verdades e eu fiz o que pude com elas. Fomos felizes e nós dois Nev, também somos. Acredito nisso.
- Claro que somos.
- Mas eu falhei com você a partir do momento em que o mundo havia me dado novas verdades, tornou as antigas apenas teorias e com o tempo, as teorias caíram apenas para suposições. Eu, como cientista, não deveria ter descartado verdades novas baseadas em uma antiga, não antes de fazer todos os testes necessários, não devia virar as costas para nenhum fato por mais difícil e doloroso que fosse ter que encará-lo. Eu não quis aceitar que algumas verdades podiam ser mentiras, não quis porque faria com que eu tivesse perdido tudo que mais amava por mentiras ou suposições fracas que sim, tinham sentido, mas não eram nem nunca seriam a verdade porque não existe uma verdade universal.
- Vovó? – perguntou baixinho. – Está me deixando mais confuso.
-Infelizmente, você não será capaz de entender agora. Porque eu não sou capaz de explicar. Eu, com minha idade, levei o tempo que precisei para perceber e é provável que outros, mais esclarecidos que nós, que tenham aprendido sobre o mundo já com todas as informações, jamais possam nos entender. Sempre nos verão como tolos cegos, quando apenas estivemos de um lado que contava histórias diferentes. Abrir meus olhos não foi fácil, olhar para o outro lado pior ainda, e não estava na situação que você está agora. Mas eu sei... eu confio em Harrison. Eu devia ter confiado em todos eles bem antes, mas tudo bem, confiarei agora.
"Eles saberão como me ajudar" pensou.
- A senhora podia tentar me explicar melhor.
- Eu não.
A velha esperança. Augusta torcia para que não fosse matá-la por dentro de novo, havia muito mais em jogo do que antes, mas... suas chances eram maiores agora. Só teria que agir com cautela.
- Harrison fará você entender. Eu sei que vai. Se tem alguém capaz é ele. Eu só quero que me prometa uma coisa, será que pode?
- O que? – perguntou confuso.
- Prometa que vai amar Harrison.
- Como é?! – o menino recuou, corando, a voz ficando esganiçada.
- Harrison te ama. Como poucos vão amar você um dia. Do próprio jeito, ele lhe daria a vida, porque sente que você faria o mesmo.
- Eu faria o mesmo por ele também.
- Então ótimo, prometa. Jure para mim que amara Harrison tanto quanto ele te ama.
- Vovó... a senhora tomou alguma coisa estranha?
Augusta riu do pensamento do neto de que estaria sob o efeito de algo, mas tudo bem. Não estava mais sob seu controle, ela não saberia como reverter aquela situação e poderia só piorar tudo.
Mas Harry saberia.
Ele jurou que teria paciência com Neville e lutaria por ele, agora só precisava fazer o mesmo do outro lado e sabia que poderia confiar nos netos. Os dois juntos. Ambos iriam se proteger, não deixariam que as coisas se tornassem piores.
- Quero que prometa amar Harrison como ele ama você. Cuidar dele, como ele cuidaria de você e fazer de tudo, absolutamente tudo, entrar na frente de qualquer coisa e qualquer... cobra, leão ou o que for, assim como ele faria por você. Assim como fez quando se conheceram.
- Por que isso de repente?
- Meu netinho, doce Neville – murmurou estendendo a mão e lhe tocando o rosto. – Você é único e terá que passar por coisas únicas, mas não precisa passar por elas sozinho. Você teve amigos durante toda a sua jornada. Agora quero ter certeza de que valorizará um dos mais importantes, acima do que os outros te disserem.
- Vovó, eu valorizo o Hazz! Mas não entendo porque está querendo que eu diga uma coisa dessas assim de repente.
- Eu considero Harrison meu neto também, você sabe, não é? – Neville acenou apra ela, ignorando sua confusão, assumindo uma postura mais séria, pois sentiu que aquilo era o mais importante, viu nos olhos de sua avó. – O amo como se fosse seu irmão. Jamais poderei suportar a ideia de que algo dito por uma pessoa que não faz parte dessa família haveria de influenciar sua opinião sobre ele. Jamais poderia perdoar se você o ver de forma diferente por algo que lhe disseram sobre suas escolhas na magia. Por que fizeram isso, não foi? Te fizeram incerto sobre Hazz?
O menino novamente se encolheu, sentindo-se fraco e temeroso, além de envergonhado, mas respondeu, mesmo assim, porque percebeu que Augusta já havia notado. De um jeito ou de outro, ela sempre sabia lê-lo muito bem:
- Dumbledore só está preocupado que a própria magia de Hazz o machuque e eu também.
- Não cabe a você decidir isso. Decidir sobre a magia dele.
- Mas se ela pode feri-lo você quer que eu simplesmente esqueça isso? Esqueça que as artes das trevas são, inegavelmente, uma magia que procura o desenvolvimento do poder do bruxo? E essa busca por poder levou centenas à loucura? Eu sei que não são todos, Lakroff é uma pessoa incrível, eu vejo isso, mas... ela vicia! É uma droga! Eu não posso ficar preocupado se meu amigo ficar viciado? Se ferir? Você mesma lembrou como Harry é fraco psicologicamente e quer que eu aceite que ele tem força para lutar contra algo que promete lhe dar força para se proteger sozinho?!
- Não, eu quero exatamente que você o lembre que não precisa se proteger sozinho – disse, imediatamente calando o neto, que já estava se exaltando e voltou a postura de antes.
- Como é?
- Já lhe disse, quero que me prometa. Prometa que vai amar Harrison. Vai amá-lo como ele te ama. Protegê-lo como ele te protege. Guardá-lo, respeitá-lo como ele o faz com você. Quero que seja leal na mesma proporção e intensidade que ele é a você. Isso é um pedido ruim?
- Não...
- Prometa então – sussurrou, fechando os olhos, segurando as mãos do menino.
- Eu já sou assim – ele murmurou, muito hesitantemente, tocando o rosto de sua avó. – Vovó, eu faria de tudo por Harrison, assim como sei que ele faria por mim. Sempre foi assim!
"Eu que comecei assim" acrescentou mentalmente.
Como alguém ainda duvidava disso, se ele que desde o começo começou aquela amizade salvando Hazz?
Mas Augusta via que seu neto ainda não tinha entendido. O mundo era muito maior e pior do que uma cobra numa floresta e Neville poderia ver as artes das trevas como um perigo, assim como viu a cobra anos atrás, mas Hazz era um ofidioglota.
A cobra nunca representou o menor perigo com alguém que falava com elas. Que governava elas e era o lorde delas. Neville nunca precisou salvar Hazz, mas Potter apreciou o gesto e fez dele um pilar para algo maior.
Mas um único pilar não podia se sustentar diante dos ventos cruéis do destino.
Talvez ela estivesse mesmo passando muito tempo com Lakroff, pensou Augusta, pois lá estava pensando em metáforas.
Bem. Neville agora estava vendo outra cobra em volta de Harry, mais emaranhada que a última, feita de uma fumaça escura e entorpecente que já matou tantos antes, que já tornou tantos desejosos por poder atrás de poder. Sem mesmo saber, ele deu o exemplo de Lakroff, que enlouqueceu sim e se condenou à morte, se não tivesse tido a luz de Lilian para resgatá-lo, então sim, era um perigo. Mas Lakroff já tinha visto o vale da sombra da morte e podia impedir que o neto se afundasse, Augusta tinha plena certeza disso. Ele cuidaria de Harrison.
Neville tinha que ficar com ela.
Tinha de fazê-lo perceber que, até podia sacudir o graveto o quanto quisesse, mas tal qual Potter governava cobras: ele era um lorde das trevas.
As trevas não eram um risco e não precisava ser salvo delas. Eram parte do que o formavam por dentro. Em sua magia, em sua alma.
Precisava de um amigo para lhe dar a mão e dizer que era incrível quando ele se esqueceu.
Se Neville, desta vez, não aceitasse aquele dom do amigo como era (mesmo que com ressalvas, tremendo com o som vez ou outra, ou o tamanho de Nagini na cama), se ele terminasse por desprezar essa parte de Harrison...
Seria um golpe forte demais para o menino.
- Eu sei, mas quero ter certeza. Quero ouvir de sua boca, assim como quis ouvir da minha como lhe amo e sinto orgulho. Quero ter certeza, porque Harrison é um garotinho quebrado que merece uma amizade real e eu acho que você oferece isso a ele, mas eu-
- Eu prometo.
- Entende o que promete?
- Sim.
- Só quero ter certeza de que as ações do mundo jamais vão deixar vocês lutando um contra o outro, meu filho. Obrigada por considerar as loucuras dessa velha senhora – e acariciou o rosto alheio.
Neville desviou do gesto:
- Lutando? Como assim? E não se chame de velha.
- Não quero que essa briga tola entre luz e trevas os faça ficar em lados opostos na guerra.
- Guerra?! Vovó!
- Não me trate como tola – disse firme, se levantando. Neville instintivamente arrumou a postura, fechou os olhos e aguardou, mas a forma como ela continuou foi calma e paciente, tal qual... ele pediu. – Albus me mostrou a memória da "reunião" de vocês, sabe? Ao menos isto, mas... Achei aquilo um absurdo Neville. As coisas que Albus disse a você... não tome todas como verdade, por favor.
- Se ele mostrou a senhora, quer dizer que acredita no que disse, não vejo-
- Só porque acreditamos em nossas ações, não quer dizer que são as corretas, me escute! Você acredita que pode sim haver outra guerra, ele te convenceu com isso, te convenceu que Harrison seria parte das trevas.... Bem... – seu tom de voz abaixou e Neville encarou os olhos da mulher, brilhando para si ao continuar: - E se ele estiver mesmo?
- Então eu tenho que trazê-lo para o nosso lado – disse convicto.
- Tem? – perguntou lentamente.
A intensidade naquele única palavra quase fez o menino hesitar.
- É claro! Ora, vovó. Quer deixar Harry ser... o que? Um comensal? Voldemort matou seus pais, os comensais destruíram nossa família, Harry é uma pessoa ótima. O lado das trevas não tem nada para ele.
- Neville, Harrison é um bruxo das trevas, ele é feliz assim, suas crenças, convicções, sua magia, tudo está lá. O lado das trevas tem o que ele é.
- Não é disso que quero dizer. Costumes bruxos sequer deveriam ser vistos como das trevas. Me refiro apenas à magia, ao princípio das artes das trevas da busca por poder. Estou me referindo a como historicamente as artes sombrias mostraram que quando são praticadas sem restrições, podem facilmente se desviar para a opressão, o preconceito e a segregação, como Voldemort ou mesmo Gellert! Lakroff pode ser diferente e estar querendo mostrar novos pontos de vista, mas quantos desses já ouvimos falar em milhares de anos de história bruxa?
- Suas notas em "História da magia" são medíocres e olhe que Lakroff estaria mais do que feliz em lhe ensinar.
- Vovó! Esse não é o ponto! A magia das trevas, e eu excluo aqui seus costumes que vem da origem bruxa, ela têm sido associadas a ideologias que promovem a superioridade dos sangue-puros e a supressão dos nascidos trouxas e mestiços, tudo porque muitos de seus praticantes só pensam em poder! Ela abre espaço para que, ao ser aceita e debatida sem restrições, as ideias mais cruéis que carregam com ela sejam banalizadas ou descartadas.
- Acha que Harry só pensa nisso? Apenas em poder? Que não pensa em como essas ideologias precisam ser desfeitas?
- Ele pensa, mas e os outros? De forma alguma Hazz quer lutar por poder desenfreado, mas a própria magia dele pode fazê-lo cair para isto. Harry ainda é ambicioso, ainda quer ser o melhor e o melhor, na sua escola, na sua arte é perigoso. É um caminho que pode levá-lo antes que perceba e machucá-lo de forma irreversível por dentro e por fora.
- Ele só precisa saber como usá-la. Não se deixar levar por ela. Daí a escola, sua família.
- Então eu tenho que confiar que o pior não vai acontecer sem poder fazer nada?
- Você pode. Pode e vai, jurando para mim. Jurando ser leal e amar Harrison. Pode continuar se preocupando com ele, mas sempre, sempre, procure ter certeza de que suas escolhas o farão feliz e seja feliz junto dele nelas.
- Eu já o faço! – reclamou, exasperado.
- Então me diga!
- Eu, Neville Longbottom, juro à Augusta Longbottom, que jamais deixarei uma guerra mudar o que sinto por Harrison... Peverell-Potter, eu não vou dizer aquele discurso completo que ele chama de nome! – e cruzou os braços.
Augusta suspirou aliviada quando sentiu a magia do neto reagindo. Também não conseguiu se impedir de rir. Se aproximou de seu neto e tocou seus braços, ele hesitantemente foi os abrindo e se assustou quando ela se colocou entre eles.
Sua avó sempre foi tão pequena assim?
Logo ele ficaria muito maior que ela.
- Tudo bem. Prometa que amará Harrison tal qual ele é, como pessoa e bruxo, acima de tudo e todos. Pois é como ele o ama.
- Eu-
- Prometa, nem que seja apenas para deixar essa velha mais calma.
- A senhora não é velha.
- Neville!
- Prometo.
- Que assim seja.
Era feio fazer seu próprio neto fazer uma jura a algo sem perceber?
Sim. Provavelmente.
Os fins justificavam os meios? Com certeza não.
Ela se importava de ter feito aquilo? Nem um pouco.
Nem com uma mínima célula de seu corpo.
Se Dumbledore usaria uma dívida de vida contra seu neto (indiretamente ou não), ela usaria seu amor pelo amigo na direção contrária. Afinal, existiam duas formas de resolver o problema de uma dívida de vida.
Seja aquele que porta a dívida causando uma decepção tão grande que você não se sente mais obrigado a obedecê-lo a retribuir porque não é mais a mesma pessoa a quem você devia a vida um dia.
Ou se fosse confrontado com algo que, para você, é muito mais importante do que aquela dívida. Algo ou alguém tão valioso para si, que vale mais do que a sua própria vida. Alguém pelo qual você se sacrificaria e merece a sua lealdade tanto quanto quem o salvou e permitiu viver, mas justamente por um ser uma dívida e o outro ser algo puro e sincero, um sentimento seu e sem influência alguma externa, parte de quem você é, o sentimento ganhará.
Porque a vida não tem sentido sem ele.
Porque você daria a sua vida e mais além. Tanto morreria por este sentimento, quando viveria por ele. Sem esperar nada em troca, sem um objetivo, era apenas uma lealdade sincera a algo seu.
Poderia liberar qualquer um de uma obrigação forjada.
Augusta tinha a impressão de que Neville poderia ter isso. Não havia uma certeza, Nev ainda era um grifinório estúpido que se sacrificaria por qualquer pessoa que julgasse merecedora, mas volocaria suas esperanças em Harrison.
- Jura que vai amá-lo e respeitar suas decisões? Que pode dar sua opinião, mas assim como eles fizeram conosco, não vai forçá-los a mudar.
- Mas e se-
- Jure para mim, Neville. Amá-los como eles nos amaram.
O garoto suspirou e apertou sua avó antes de responder:
- Eu juro. Vovó, eu faria tudo pelo Hazz, só quero ele bem!
- Mas para isso você não deve apenas decidir por ele o que é certo, mas também respeitar suas decisões meu neto.
- Mesmo as ruins?
- Um bom amigo está lá para curar a ferida da queda, não apenas te impedir de cair. Às vezes o erro é o melhor professor.
- Não quero ver meu amigo cair.
- Às vezes nós temos. Às vezes... a forma como fomos criados nos impede de ver qualquer coisa diferente até que toda a nossa verdade seja destruída.
Infelizmente, Neville não pensava na interpretação daquela frase da mesma forma e intenção que Augusta dissera.
- Precisamos de muitas tentativas e dor para perceber que o que apoiamos pode estar errado. Cabe aos nossos amigos estarem lá para nos dar a força para continuar e criar uma nova verdade – ela continuou, ainda falando sobre si mesma, sobre a luz e os Grindelwald.
- Quanto tempo eu tenho que esperar? Quanto ele terá que se machucar até lá? – perguntou Neville, ainda achando que falavam de Harrison e as artes das trevas.
Augusta sorriu, pois sabia que seu neto estava interpretando daquela forma, se afastou e lhe acariciou os cabelos.
Talvez, um dia, ele se lembraria dessa conversa e a veria com o olhar correto, por hora, poderia entender errado. Augusta o fez por muito mais décadas do que ele conhecia do mundo ainda, acreditando em um um líder com boa face e boas intenções, mas atitudes erradas escondidas, que se mostrou falho, mas sabia se disfarçar entre outros piores. Seria uma jornada longa e árdua, que ocorreria da noite para o dia e muito menos poderia forçar a informação em seu neto.
Infelizmente, ela o impediu. Fez parte dessa alienação. Seus ideias e a superproteção dos Mitrica, que tiveram a chance de lhes ensinar, mas o fizeram de uma distância tão segura que... acabou não atingindo como devia.
Se sua conversa serviu para algo, foi para abrir seus olhos onde exatamente vinha falhando e, por mais doloroso que fosse, tinha que aceitar: teria que ficar parada.
Não poderia fazer nada à Albus (ainda).
Queria que fosse mais fácil, que tivesse certeza daquela decisão, mas talvez fosse impossível. Estava diante de uma situação delicada onde seu neto iria sofrer de alguma forma, mas... não queria que fosse ela a causadora disso novamente.
Não poderia tomar as escolhas das mãos de Neville.
Mesmo que soubesse que ele escolheria as piores.
Ir contra isto só faria com que seu relacionamento se tornasse mais instável, quebrando-o em um ponto de confiança talvez irreversível, tocando nas marcas de sua mente já insegura.
Não poderia denunciar Albus, porque Neville não iria querer e um tribunal poderia destruí-lo. Algo imposto, depois de tudo? Algo que já seria naturalmente cruel. Em um mundo onde Rita Skeeter ainda se aproveitaria de cada instante, cada machucado, para enfeitar seu jornal.
Neville, infelizmente, não era como Augusta. Assim como a maioria dos que vissem de fora também não seriam. Ninguém entendia o pecado de Albus. Muitos ficariam do lado do homem que apenas estava averiguando se um aluno estava sendo mentalmente influenciado, até Lakroff poderia sofrer as consequências se soubessem que Augusta tinha o mesmo controle que o diretor procurava em Neville.
Ninguém entenderia como ela, pois ninguém teve que achar a própria nora e o próprio filho em estado catatônico e vegetativo. Sangrando, tremendo, babando. Ninguém sentiu o cheiro terrível da sala ou viu seus olhos vidrados e lacrimejados. Ninguém tinha que aguentar aquela imagem em seus pesadelos.
Lembrar como o crucio era sempre lembrado na tortura pelo qual passaram, mas nunca a legilimência, que arrebentou suas mentes, enquanto a dor destruía a consciência. As pessoas não entendiam o peso de cortar a resistência intelectual de outro, violar uma mente e tudo que ela guarda de mais íntimo. Como isso fere, como é cruel. Como era pior ainda ser relativamente legalizado, uma ferramenta, mesmo que controversa.
Augusta via as coisas muito mais como pessoal, íntimo, um ataque não somente a sua família, mas a honra de seu filho, invalidando toda a dor que sentiu por anos ao usar em seu neto parte daquilo que tinha lhe tirado Frank e Alice. Neville por outro lado, não, sua visão era muito mais política e parcial. Augusta conseguiu, ao que tudo indicava, protegê-lo da dor do que o que aconteceu com seus pais significava, mas esse era apenas outro caso de superproteção que o impedia de ver o peso das coisas. Discernir que usar a mesma ferramenta era apenas demonstrar a semelhança na falta de escrúpulos para um objetivo.
Falhas e mais falhas.
Da mesma forma, com muito pesar, não poderia mudar Nev de escola, não se optasse permanecer em Hogwarts. Pois era sua escolha e um porto seguro em sua mente, tirá-lo disso era tratá-lo exatamente como não queria. Era tirar sua voz, vontade e individualidade.
Era ser como Albus foi e impor seus próprios objetivos.
Mesmo que pensando que eram a melhor coisa a se fazer pelo menino.
Teria que se submeter e ser paciente, em prol de fortalecer sua união com o neto e garantir que se sentisse bem. Sabia com toda certeza que Durmstrang não era uma opção, as ideologias da luz estavam enraizadas em sua mente e ele era um bruxo da luz. Neville Longbottom era um bruxo da luz porque escolheu ser e se sentia confortável ali. Sempre houve outra opção ao alcance de sua mão, mas não quis. Não poderia forçar o neto a inverter isso, da mesma forma que seria impossível forçar a luz à Harry.
É claro, isso não significava que sentaria e cruzaria as pernas observando enquanto seu neto, uma das poucas famílias restantes que sobrava, destruía a si mesmo lutando por um velho tolo que não sabia o que estava fazendo e não se importava (ou não via) os que feria no caminho, mas estava sim de mãos atadas.
Teria que ser cautelosa. Por mais que lhe doesse admitir, podia ver o porquê da fé inabalável em Dumbledore e na luz. Criado em um país onde as artes das trevas eram sinônimo de mal, com todos os seus praticantes sendo pessoas nada admiráveis e tendo somente uma boa representação, que poder tinha de julgar se cometera o mesmo ato de ingenuidade? Acreditar em tudo que via, não olhar para onde todos estavam escondendo.
No final, o mais importante seria garantir que Neville se mantivesse perto das pessoas que o deixariam seguro e firme quando tudo desabasse. Quando o mundo ganhasse nova cor e seu eu tivesse de ser questionado e destruído de vez. Porque ela daria um jeito de fazê-lo ver. Por trás da luz cegante, além do escuro.
Bastava que as pessoas certas estivessem lá para insultar e gritar com quem lhe causou mal pelo caminho, e ficaria bem.
- Talvez... você tenha que esperar muito – respondeu afetuosamente. – E mesmo que se machuque, alguma dor pode ser ruim, mas é um professor efetivo. Daí é curar cada ferida como conseguir. Tudo apenas parte das funções de amar alguém como parte da família – então, percebendo que tinha uma oportunidade de ouro para provocar seu neto, Augusta teve que conter o sorriso de cobra ao acrescentar. – Uma última vez, apenas para deixar essa velha tranquila.
- A senhora não é velha! – reclamou pela (provável) terceira vez só naquela noite e Augusta ignorou.
- Promete amar e respeitar, Harry? – questionou ignorando o menino, com um sorriso travesso que ele não notou, pois estava revirando seus olhos por ser ignorado.
Depois evitando olhar na direção da mulher, pois sabia que "lordes não reviram os olhos".
No lugar, se ajustou e confirmou o que ela queria ouvir:
- Eu prometo. Se vai deixar a senhora tranquila.
- Na alegria ou na tristeza?
- O que?
- Você vai estar lá para ajudá-lo quando estiver triste, assim como está lá pelos bons momentos?
- Claro que sim.
- Então está prometido?
- Sim.
Augusta começou a rir.
- Do que a senhora está rindo? – questionou o menino.
- Nada, é que se eu dissesse "até que a morte vos separe" você estaria basicamente prometendo se casar com Harrison, mas achei que você perceberia que estava te zombando se fosse tão longe.
Neville arregalou os olhos e ficou lá parado enquanto sua avó ria dele e o garoto ficava indignado pois nunca a lady na sua frente tinha feito uma brincadeira como aquela.
O que raios estava acontecendo com Augusta?!
- Eu disse apenas para amá-lo na mesma proporção, não precisa ir tão longe, ou será que vocês...
- VOVÓ! – gritou, afastando-se muitíssimo corado com a provocação da mais velha.
- Querido, eu te garanto que Harrison se interessa pela fruta, basta que você tente um pouco, você tem chance...
- VOVÓ EU NÃO GOSTO ASSIM DELE!
E ela riu. Torcendo para que aquele pingo de esperança não fosse tolice. Harrison precisava disso e ela também.
Não suportaria perder seus netos.
Pior ainda se fosse um para o outro em uma maldita guerra.
Neville jamais a perdoaria, mas ela já tinha um lado.
-x-x-x-
Sirius estava andando pelos corredores novamente.
Era madrugada e ainda preparava seu mapa, um tanto curioso com os motivos que levaram tanto Lakroff, Albus e Minerva não parecerem no jantar.
Sempre odiou ser deixado de fora e sabia que isso era um pensamento infantil, que estava tentando ser mais maduro, mas entendia que era um processo e não ia se martirizar por ser absurdamente curioso ainda mais depois que Harrison e Neville também saíram.
O Black, então, fazia anotações com cautela para que não deixasse nada passar acerca do castelo, ao mesmo tempo que criava teorias e torcia para que algum dos Grindelwald tivesse a decência de lhe contar no dia seguinte, mesmo assim, para quem olhasse teria certeza de que estava sim fazendo seu trabalho sem que isso o atrapalhasse tanto. Avaliando as passagens secretas que conhecia e quais as chances de Dumbledore ou os quadros perceberem cada uma, quando ouviu o som sutil de passos.
Virou-se para sua origem, varinha levantada para iluminar quem se aproximava e sorriu simpaticamente para a colega:
- Professora McGonagall – cumprimentou, um pouco mais animado do que pretendia pois, olhe só, talvez tivesse suas respostas antes!
- Já lhe disse para me chamar de Minerva – foi a resposta que respondeu, de forma bem séria.
O que imediatamente fez Sirius rir:
- Desculpe, mas o hábito haverá de demorar a morrer.
- Você não me chamava de professora na guerra.
- Não estávamos em Hogwarts e tão pouco você vestia-se tal qual uma professora.
- E como raios seria me vestir como uma professora nesta situação? Estou de pijamas!
- Bem... a senhor- ele pigarreou quando ela o encarou com os olhos semicerrados. – Você não usava pijamas na guerra – brincou.
Minerva riu, mas foi uma risada tão fraca e seu olhar tão significativo que Sirius não pôde deixar passar.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntou.
- Na verdade... Sim. Eu queria falar com você, mas... talvez fosse melhor ir para meu quarto ou o seu. É algo pessoal.
- O meu está mais próximo, vamos?
Ela concordou com a cabeça e seguiu ao lado do mais novo, sem dizer uma única palavra.
Sirius nunca foi... paciente. Na verdade, se dizia bem ansioso e muitíssimo curioso. Por isso, não conseguiu seguir todo o caminho em silêncio:
- Você parece preocupada com algo.
- E estou.
- O que aconteceu?
Minerva apenas o encarou, mas não disse nada.
- Entendi. Só no meu quarto – suspirou. – Mas então... Vamos falar de outra coisa. Você, Albus e o vice-diretor da Durmstrang não apareceram no jantar.
- Você acabou indo justamente para o mesmo assunto que estou evitando.
- Puxe você conversa então.
Minerva deu outra risadinha baixa e pensou.
Ela queria ter ido ver Aberforth. Conversado sobre tudo que escutou, mas não foi. Depois de tantos anos, ela não se sentiu confortável em conversar com um Dumbledore. Seja qual fosse.
- Posso fazer uma pergunta pessoal e ruim? Se não quiser responder, fique à vontade.
- Claro.
- Você nos culpa? Por Azkaban.
- Como assim? – questionou, surpreso.
- Não termos lutado por um julgamento. Quer dizer... mesmo que todas as provas dissessem que você era o culpado, nunca nem quisemos te perguntar o porquê fez aquilo. Te largamos lá como qualquer outro comensal. Se tivéssemos te questionado, poderíamos ter tido a verdade antes. Você nos culpa?
- Não – deu de ombros. – Me magoou, é claro, mas me conheço o bastante para saber que faria o mesmo se achasse que um dos nossos nos traiu. Eu joguei Pedro naquele lugar e nunca fui atrás de lhe perguntar porquê.
- É diferente, você sabe que ele é culpado.
- Vocês tinham certeza de que eu era. Não precisa se sentir culpada por isso, pro... Minerva – a tranquilizou.
- Mas e o restante?
- Restante?
- Você não nos julga por Azkaban, mas eu sei que julga por Harrison – comentou baixinho, abraçando a si mesma, como se de repente sentisse frio.
- Que quer dizer?
- Eu sabia. Vigiei os tios do menino o dia inteiro após o ataque no Halloween. Enquanto o mundo bruxo comemorava, enquanto Albus armava um plano e Hagrid escondia o menino sabe Merlin onde... – ela bufou colocando a mão na testa. – Mesmo isso, quando eu descobri não questionei o quanto devia.
- Como assim?
- Hagrid foi até os Potter assim que conseguiu, você se lembra, você emprestou a moto para ele, mas Harrison não foi levado direto para os tios dali. Rúbio ia trazer para Hogwarts, mas Albus disse que muitos imaginariam que esse seria o próximo passo, que ele estaria com a criança, então estar consigo era ainda menos seguro. Pediu que ele achasse um bom lugar e aguardasse uma localização. Eu não estava na escola, soube de tudo por boatos e sabia por Lilian de sua família então fui até lá para conseguir alguma pista. Se tudo era verdade, Albus poderia aparecer e foi o que aconteceu. Lembro-me muito bem daquele dia primeiro, das palavras que disse ao diretor, porque venho pensando nisso desde que gritou conosco na reunião de professores.
- Eu não – tentou Sirius, mas Minerva o calou com o levantar de sua mão.
- "Você não poderia encontrar duas pessoas menos parecidas conosco" foi o que disse na época. O primo parecia péssimo, tudo neles era... ruim. De alguma forma, não confiei que seriam bons para o menino, não pareciam em nada com Lilian e James e o que iriam querer para seu filho! "Essas pessoas jamais vão entendê-lo" eu deixei claro para Albus. Mesmo assim eu ignorei todos os meus instintos, tudo que observei por causa de algumas simples palavras dele. Não insisti, não questionei o tanto que devia. Aceitei como se... o que dissesse fosse uma verdade universal e incontestável. Quando soube que era Hagrid que estava resguardando e trazendo o menino durante o dia todo... um dia após a queda de Voldemort por todos os bruxos! Era o dia mais perigoso possível! Tinha um exército atrás do menino e o deixaram com... que me perdoe por essas palavras, mas com o meio-gigante que nunca se formou no ensino básico! Tudo deu certo, ninguém foi atrás de Hagrid e Harry, mas ele mesmo me disse depois que o bebê desmaiou. Na metade do voo da noite do assassinato, para a noite em que voltaram a voar até os Dursleys, Harry Potter ficou dormindo. Ele disse que o menino devia estar exausto depois de receber uma maldição da morte e chegou a contactar Dumbledore, falar sobre a cicatriz, perguntar o que devia fazer, mas ele ainda estava respirando e se mexendo, então assumiram que era só cansaço.
Minerva de repente fez um barulho estranho e Sirius arregalou os olhos surpreso ao reconhecer um fungo de choro.
- Minerva...
- Eu fiquei furiosa quando soube disso! No dia achei que tinham levado Harry para um médico, mas descobrir que não alguns meses depois foi simplesmente... – ela deixou a frase no ar, mas parecia furiosa e aquilo foi o bastante para Sirius entender a mensagem. – Albus falou por uma fogueira improvisada com Hagrid, Potter ficou dormindo o dia inteiro após levar uma maldição da morte e não viu um médico bruxo! Albus não se dignou a ir até ele! Eu devia ter duvidado aí! Devia ter me preocupado e feito eu mesma o trabalho! Se... se nem no primeiro dia após tudo aquilo ele olhou para Harrison...
- Professora McGonagall? – chamou o Black, quando a colega parou no corredor, apertando os próprios braços com tanta força que ele se perguntou se não estaria doendo. Ela tremia.
- Albus me disse – ela continuou, baixinho, havia dor em suas palavras. – "Se eu fosse ver o menino, poderia estar sendo vigiado pelos comensais e ele seria pego". Consegue acreditar nisso? Parece algo tão fraco para mim hoje em dia. Por que não mandar Poppy? Mandar qualquer um? Só que antes eu aceitei! Aceitei essa desculpa tal qual tantas outras ao longo dos anos! Assim como aceitei os Dursleys quando o deixaram na madrugada do dia um para dois de novembro naquela porta! Com uma única maldita carta!
- Professora! – Sirius chamou de novo, se aproximando dela, mas parecia que nem o ouvia.
Talvez não conseguisse mesmo.
Seus óculos estavam borrados e ele assistiu apavorado quando uma lágrima escorreu pela bochecha alheia.
- Eu também questionei a carta, questionei os tios, questionei o quão cuidadoso Albus realmente estava com Harry Potter. Eu questionei! Mas de novo e de novo, de novo, de novo e mais quantas vezes acontecesse as palavras de Albus me fizeram aceitar! E... que pagou foi uma criança! – ela gritou. Ou tentou. O som de sua voz estava tão fraco quanto Sirius sentiu que a própria mulher estava ao puxá-la.
Seu corpo simplesmente seguiu o comando do lorde e se repousou entre os braços, onde se agarrou as vestes, à jaqueta de couro, ao cheiro sutil de colônia.
- Que tipo de pessoa eu sou, Sirius?! – questionou quase aos prantos e o mais novo apenas levou uma das mãos aos cabelos sempre bem presos da bruxa, acariciando na direção em que eram puxados no coque perfeito. – Como posso deixar que alguém, mesmo um amigo, me faça deixar para lá todas as minhas desconfianças? Até que ponto estou sendo leal e confiando em seu julgamento e até que ponto estou sendo servil?!
- Que palavras foram? – perguntou após um tempo de silêncio.
- Como?
- O que Albus disse para te convencer de que era boa ideia deixar Harry Potter, alguém que seria uma lenda no nosso mundo, com simples trouxas e algumas proteções?
Minerva se lembrava, infelizmente, de cada palavra.
O problema é que, hoje em dia, olhando para trás... pareciam palavras tão irrisórias para tomar como absolutas naquela situação.
"Vim trazer Harry para o tio e a tia. Eles são a única família que lhe resta" foi como começou, quando Minerva questionou veementemente a decisão, recebeu apenas "É o melhor lugar para ele. Os tios poderão lhe explicar tudo quando ele for mais velho, escrevi-lhes uma carta" e sim. Ela se indignou com a carta.
Ficou fraca, se sentou (Minerva se lembrava até mesmo do que fez!)
"Francamente, Dumbledore, você acha que pode explicar tudo isso em uma carta? Essas pessoas jamais vão entendê-lo! Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!"
Foram as palavras de Minerva. As palavras... talvez mais erradas possíveis. No momento errado. O frenesi do fim da guerra, maior do que sua racionalidade. Abrindo espaço para convencê-la com um argumento tão fajuto.
- Ele disse – contou, sem olhar para Sirius enquanto o fazia. – Que a fama de Harry seria o bastante para virar a cabeça de qualquer menino. "Famoso antes mesmo de saber andar e falar!", "Famoso por alguma coisa que ele nem vai se lembrar!". Albus me convenceu de que a fama poderia prejudicar o tipo de pessoa que Harry era, que isso o impediria de ter amigos de verdade, de discernir o certo e errado, o interesse e o sincero. Desculpe.
- Desculpe?
- Por ter sido levada por... isso! Ignorado todos os outros sinais por um medo irracional de criarmos o filho de Lilian e James como um garoto arrogante que os pais nunca aprovariam? Que... merda! Eles aprovariam qualquer coisa se Harry fosse feliz! E – ela inspirou fundo, apertando os braços desolada. – Ao que tudo indica ele não chegou perto de ser feliz naquele lugar e eu sabia que podia acontecer. Eu falhei com eles. Depois de todas as vezes que James lutou por nós, todos os momentos que Lily ficou ao meu lado e de todos, nos consolando e levantando sempre que o pior acontecia. Nunca nos deixando desistir por maior que fosse o desafio. Como... uma estrela que iluminava todo dia aquela escuridão pós batalha! Eu falhei.
- Então... quer uma bebida?
- Não. Eu só quero saber.
- O que exatamente?
- O que você pensa de Albus? De verdade.
- O que penso?
- Sim. E não se faça de tolo ou minta para mim, por favor Sirius. Você sabe bem mais do que eu sobre tudo que Harrison deve ter passado. Não vá me dizer que isso não te atingiu, então-
- Claro que me afetou, mas o que posso fazer? Albus estava apenas seguindo o que achava que era o melhor.
- E você acredita mesmo nisso?
- Sim.
- Eu pedi para não mentir.
- Não estou-
- Está! Porque se nem eu acredito, que dirá você Sirius Black!
- O que você acredita então?
- Que Albus está velho! – admitiu irritada. – Que está sendo relapso. Que sua mania de não dar respostas às pessoas, fazer o que acha que deve, passar por cima de tudo, nos dar apenas pistas e esperar que nós mesmos cheguemos às respostas certas e se não conseguimos é falha nossa. Esse costume "místico" dele, de nunca ir até as pessoas, mas esperar que elas venham até ele! Eu cansei! Isso está prejudicando! Ele pode dizer que não pode influenciar tanto os outros sem se sentir culpado, que o mundo coloca muita responsabilidade em suas palavras e que o melhor é limitá-las para que as pessoas pensem por si mesmas... Eu cansei! Harrison pagou por isso! Por esse distanciamento! Agora Neville teve a mente invadida e tudo que ele pôde dizer é nos "perigos que nos cercam", "influência de Voldemort", "o perigo das artes das trevas" e que "o mundo segue o próprio ritmo e jamais podemos impedir, o que está ao alcance é ficar preparados para que os menores sacrifícios sejam feitos". Não! Eu não vou aceitar isso! Não vou aceitar "se um dia confiaram em mim, haverão de confiar de novo e caso o contrário, saibam que sempre estarei aqui quando for preciso". Não!
- Onde pretende chegar, Minerva?
- Onde? – ela tomou ar, como se precisasse daquilo para verbalizar as próximas palavras. – Que eu pretendo provar a inaptidão e derrubar Albus Dumbledore como diretor de Hogwarts.
Sirius foi tomado, mesmo com tudo que foi dito, totalmente desprevenido. Tanto que lhe faltaram palavras, racionalidade e até mesmo uma reação mais digna do que simplesmente seu arregalar de olhos.
Todo seu corpo vibrou. De alguma forma, não estava entendendo mais nada, nem sabia o que pensar diante da explosão interna que teve. Dúvidas, desconfianças.
- E você vai me ajudar – acrescentou a bruxa.
Esperança.
Sirius inclinou a cabeça, cruzando os braços de forma séria.
Ele não era mais o mesmo. Lidaria com aquilo com calma. Não confiaria assim tão fácil:
- Eu vou é?
- Vai. Você vai – garantiu incisiva e, quando Sirius tentou falar, já se antecipou. – Não confio em mais ninguém, Sirius! Não sobre isso e não... mais. As coisas estão de cabeça para baixo mas eu ainda tenho uma certeza: eu faço o que acho certo. Ninguém mais sabe o quão ruim as ações de Albus estão sendo. Você foi diretamente afetado e mesmo que esteja sendo louvável sua tentativa de perdoar e continuar leal aos velhos amigos, já chega dessa lealdade cega. Estamos apenas acomodados em um mundo que nos favorece. É nossa função proteger os alunos e Dumbledore é um perigo. Por favor, se quer continuar sendo leal, seja ao que vale a pena. Seja à Harry, seja à memória de James que sempre quis as respostas que Albus não dava e socava a mesa no fim de cada reunião por não ter recebido, leal a essa escola, às crianças, a...
- Você? – perguntou.
- Você conseguiria ser leal ao que estou dizendo mais do que a Albus?
- Eu seria leal a qualquer causa que queira lutar para uma mudança diante de um problema e uma figura de autoridade que representa algum risco.
- Você vai ficar do meu lado?
- Vou ficar do de Harry. Você está disposta a fazer o mesmo? Nesse caso, sim, eu te ajudo.
- O que quer dizer com isso?
- Quero que jure que não contará nada a Albus, nem deixará que ele desconfie de nós e que garantirá que ele continue achando que estamos consigo, mesmo que insatisfeitos com algumas ações. Quero que me jure mentir se for preciso, mas não para mim. Para mim você será totalmente sincera e não me traíra ou ao que eu posso vir a te contar. Quero que faça um voto perpétuo.
- Como?!
- Se quiser minha ajuda. Se quiser que eu traia um amigo, então eu preciso de uma garantia de que não serei traído.
- Mas-
- Minerva, eu a amo. Tenho uma consideração por você maior do que tive por quase todos da minha família, mas eu confiava em Pedro e isso me levou ao inferno. Eu não confio. Ponto final. Não me importa o que pensem sobre isso, minha lealdade vem com um preço agora e é de um juramento. Quer minha ajuda para desbancar Dumbledore? Um dos maiores bruxos de todos os tempos, senhor da luz? Eu sou um Black, não vou mover um dedo contra o senhor da luz e alguém que já lutou ao meu lado sem uma proteção mágica. Mas se fizer, você sabe: eu serei o perfeito cão e você não encontrará um aliado mais dedicado. Como você mesma disse: ele feriu Harry. Eu sou leal a ele e a James. Não fiz e nem vou fazer nada contra Albus porque não vejo motivo para vingança mais na minha vida – mentiu, cruzando os braços. Minerva não suspeitou nem por um segundo. – Mas se você está dizendo que ele precisa ser parado, então não é vingança, é fazer o que é certo e estou disposto a lutar, porque confio mais em você do que no homem que permitiu que meu afilhado sofresse. Escolha.
Minerva estendeu a mão:
- Quem será nossa testemunha?
- Vou chamar Moony pela lareira. Você libera sua entrada em Hogwarts?
- Sim.
Sirius acenou e foi até o fogo, para ligar ao seu noivo. Enquanto esperava que Remus respondesse, voltou-se para Minerva.
- Depois que jurarmos... Se quisermos mesmo tirar Albus como diretor de Hogwarts, a única forma que consigo pensar é levantar provas contra ele no ministério. Está disposta a isso?
- Sim. Eu preciso dessas provas. Por mim também.
- Sabe por onde começar?
- Sei... Mas estarei traindo mais que um amigo para começar.
- E vai deixar de fazer por causa disso?
- Não. Me dói mais trair a mim mesma, meus princípios em relação aos alunos e minhas convicções. É uma causa importante demais para deixar que opiniões pessoais acerca de uma pessoa atrapalhem meu julgamento.
- Ótimo – concordou se levantando. – Libere a lareira e...
- Saindo daqui vou no meu amigo. Preciso que você faça algo por mim.
- O que?
- Distraia Albus. Ele pode querer ir para o mesmo lugar, por isso tenho que chegar primeiro, além de ter o máximo de tempo sozinha. Posso até convencê-lo a não deixar Albus entrar depois, se o deixar bem irritado e bêbado, mas tenho que ser a primeira. Pode fazer isso?
Sirius sorriu, pois estava começando a entender a ideia de Minerva, ao mesmo tempo que... estava bem surpreso que ela tivesse coragem de usar aquilo a seu favor e se achasse capaz de manter no seu controle.
- Depois da jura, com certeza posso – e apenas para não deixar dúvidas. – Mas para onde vai?
- Conseguir uma lista.
- Uma lista? – a resposta o surpreendeu.
- De falhas. Coisas que Albus já fez e que podem ser usadas para provar para o Ministério que ele deve ser retirado.
- Mas só o Ministério? Você sabe que eles já não gostam muito dele. Para que Albus perca o poder... sinto dizer, mas o público também deverá pensar contra sua imagem.
- Bem, é por isso que tenho que descobrir o máximo, para saber o que posso usar sem causar tantos problemas para ele como pessoa. Ainda é meu amigo. Só quero que se aposente.
- Certo... E onde vai conseguir isso?
- Com alguém que sabe tudo que ele já fez de errado e ama falar mal dele.
Sirius acenou, é como estava pensando:
- Você vai...
- Vou ver Aberforth – concordou sorrindo, no mesmo instante que Remus Lupin passou pela lareira.
Tenho uma consideração final para vocês: Já perceberam que muitas vezes tratamos bem melhor as pessoas fora da nossa casa do que dentro? Temos mais paciência e empatia, ou mesmo consideração básica com pessoas que não conhecemos por medo de sermos julgados, mas em casa, somos nosso pior porque tiramos nossas máscaras sociais e enfim podemos estar confortáveis.
Até que bom isso é ruim ou não?
Vocês conseguem ser tão bons com sua família quanto com as pessoas na rua? Eu sei que eu não, não a maior parte do tempo, mas é porque eu não posso fazer igual faço com os outros e ser cuzona até se afastarem quando perceberem que estou PUT@ com as atitudes da pessoa. Em casa em to brava eles continuam lá e me irritam mais a cada dia. Complicado, pessoas, complicado...
Espero que tenham gostado, me deem suas considerações e até logo!
PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited
(Obs. O anime do gif é Hyouka, um anime levinho de investigação, comédia, romance e muita vida cotidiana monótona e simples para se sentir apenas leve enquanto assiste).
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