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Capítulo 43 - Lealdade para ficar e coragem para desertar

Olá!

O bom filho à casa torna!

Este capítulo é corrido, apenas uma cena, então pega aquele copo de água, ajeite-se de forma confortável e vamos lá!

Não se esqueçam de VOTAR e comentem sempre o que estão achando para ajudar no engajamento da história (e mais importante) na minha autoestima quebrada, em frangalhos.

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Uma boa noite e boa leitura caros bruxinhos, bruxinhas, bruxinhes, abortos e trouxas de todas as idades <3

Anteriormente...

- E então, vocês dois... - Heris se virou para Ginevra e Ron, na sala de Dumbledore. - Vieram até aqui para avisar minha avó do que aconteceu à Neville? Sinto dizer que foram superados, mas podem se consolar no fato de que o responsável pela vitória foi sua professora, então imagino que estejam no caminho certo aprendendo com ela... Diferente de outros – encerrou encarando o diretor.

Ron olhou surpreso para Minerva:

- A senhora contou para a avó de Neville?

- É claro, senhor Weasley! – reclamou a bruxa. – Um aluno acusou um colega de trabalho de um crime, eu tinha que averiguar com seus parentes.

[...]

- Certo, agora que já fizeram o que queriam – começou Dumbledore tentando manter alguma sanidade mental. – Poderiam se retirar, meus caros? Estamos ocupados.

- Não, não estamos – Augusta retrucou, se levantando e apertando sua bolsa de batalha próxima ao corpo. – Estamos de saída.

- Como? Mas nós ainda não-

- Como eu disse, vim aqui apenas para gritar com você e lhe contar, pelos velhos tempos, querido, para que não descubra por meios alheios. Vou abrir um boletim de ocorrência diante do ministério contra você – sorriu, batendo as mãos no vestido e estendendo a mão para Ron – Ronald, por favor, uma ajuda, querido?

- Como?! – gritava Albus indignado, enquanto o ruivo corria para atender Augusta.

Uma das mulheres mais assustadoras junto de sua mãe.

- Exatamente o que ouviu. Apenas decidi fazer a gentileza de informá-lo antes que os aurores o façam depois.

- Mas Augusta! Você não.... Por favor, vamos apenas falar sobre isso!

- Para que? Não é como se fosse mudar minha opinião.

- Me deixe me explicar!

- Garanto que não há coisa no mundo que poderia fazê-lo se justificar diante de seu crime, não vejo o porquê.

- Eu imploro que veja sua consciência e me dê ao menos uma chance, garanto que entenderá se me ouvir até o fim!

- Duvido – murmurou cruzando os braços.

[...] ela queria sair. Já tinha cometido um possível deslize. Sua dependência dos Grindelwald sendo uma falha que revelou pistas para Albus por menor que fossem, sobre a família de Harrison. Não queria dar mais chances ao homem de descobrir o que não devia. Albus era astuto e Augusta estava transtornada, melhor apenas sair.

- Por favor, Augusta. Uma conversa, é só o que lhe peço – insistiu o homem, em voz apaziguadora.

Ela olhou para Heris, como se pedindo sua opinião. O garoto deu de ombros:

- Imagino qual deve ser a motivação que ele achou adequada para algo assim.

- Certo então – bufou derrotada. – Ronald, querido. [...] Avise meu neto que o quero na entrada de Hogwarts em dez minutos e que quero encontrá-lo, sim? Harrison... – ela olhou para Heris, que afirmou com a cabeça. – Avise-o que seu tutor quer lhe falar no mesmo tempo e lugar. Você tem esse tempo, Albus. Não desperdice.

- Perdoe-me a curiosidade. O que quer dizer? – perguntou estreitando as sobrancelhas. – Por que deseja que se chamem Neville e Harrison?

- Harrison é um caso à parte, que não lhe diz respeito – respondeu grossa.

- Acredito, diretor Mitrica, que o senhor permite minha reunião? – questionou Heris.

- Vice-diretor, senhor – corrigiu Lakroff.

- Sim, sim. Tal qual Harrison é "presidente" e não alteza. Devo ter recebido um memorando destes e guardado na pasta de tudo aquilo que escolhi deliberadamente ignorar. Permite ou não?

- Sim – respondeu após revirar os olhos, mas Minerva percebeu o sorrisinho no canto dos lábios.

- Neville – continuou Augusta. – Estará indo comigo.

- Para onde? – insistiu Albus.

- Para a entrada de Hogwarts? – também questionou Ron. – A senhora- Vai levá-lo... Por quanto tempo?

Apenas porque Ron tinha perguntado desta vez e os Weasleys eram amigos muito bons para seu neto, ela enfim respondeu:

- Eu vou tirar Neville dessa escola e de você, Albus Dumbledore, assim como devia ter feito há tempos. Não sei quando o trarei de volta, Ronald. Se trouxer – disse convicta, ao que Minerva, Albus e os Weasley arfaram.

- O que disse?! – questionou Ron em choque. – Senhora - se corrigiu logo. - Como assim não sabe se vai trazê-lo de volta?!

- Vou tirar Neville esta noite para conversar. Meu neto deverá estar aqui para completar o ano letivo apenas se desejar, mas mesmo que insista muito, ano que vem será matriculado em outra escola de magia e bruxaria. Neville Longbottom não será mais um aluno de Hogwarts enquanto Albus Dumbledore for diretor. Isso eu garanto.

Dumbledore apertou seus punhos, furioso.

Já tinha feito muitas tolices na vida. Mais do que poderia contar. Era um homem e homens falhavam. Ele, em sua posição? Realmente era uma lista considerável de vergonhas e arrependimentos. Quando Gellert estava envolvido só piorava. Como ficava a sua simples menção ou com coisas que o aproximassem de seu passado, estava tão próximo do fracasso que apenas o aceitava e tentava melhorar.

Mas ter falhado àquele ponto apenas pela presença de seu filho...

Ler a mente de Neville Longbottom?

Aquela foi a maior tolice que já fizera na vida!

Por que não se controlou? Não encontrou outro meio? Agora era tarde, infelizmente. Inspirou fundo, pois estava na hora de trabalhar com o que tinha e as consequências. Não seria a primeira vez.

Mas o pior é que tinha a impressão que o simples arrependimento agora não bastaria com um antigo amigo. Vendo o olhar de Augusta, pensou que este era um erro enfim irreparável e não sabia o quão ruim isto poderia significar no futuro, o quão grande podia ser a mágoa da mulher.

[...]

Capítulo 43 – Lealdade para ficar e coragem para desertar



"Era louvável estar com um amigo que te fez bem o quanto pudesse, não apenas para retribuir, mas pelo sentimento sincero de simpatia

É, entretanto, e sempre será puro comodismo e medo não perceber as falhas de uma amizade e pontuá-las. Se for para perdê-la no processo, então ela não lhe serve mais. O tempo leva tudo, até princípios".

Magia da luz ou artes das trevas.

Palavras de ativação, movimentos de mão e visualização. Treino, exatidão, estudo.

Desejo intenso, emoção (ou sentimento, alma, coração) e sacrifício. Então as consequências. Instinto e reação.

Magia era magia. Não importa como se decidia usá-la a seu favor, mas os objetivos por trás de cada ação. No fim, ela tinha de ser ambígua, porque a natureza é ambígua. Não há certo ou errado, mas opções. Visões, locais diferentes para se buscar novas fontes de poder e o equilíbrio sutil que existia entre tudo. Entre ambição desenfreada ou curiosidade, amor à própria capacidade quase que infinita da magia alcançar algo ou o simples objetivo frio por trás, tornando-a simples ferramenta.

Augusta demorou para entender alguns desses conceitos, mas em sua defesa viveu anos sendo ensinada de um ponto de vista totalmente tendencioso.

Não que os novos que tenha conhecido não fossem, mas ao menos agora podia juntar os dois e criar a sua verdade. Primeiro teve que encontrar os bruxos das trevas certos. Que lhe dariam o tempo que fosse preciso para aprender. Primeiro os respeitando, depois deixando de temer as artes sombrias, para que então, enfim, ouvisse.

Outro tipo de magia, mas também (e isso era um tanto fascinante de se observar), um modo de vida.

Praticar artes das trevas requer costumes próprios, ideologias, fé, coragem, imaginação, dedicação, comprometimento, conceitos intrínsecos e partia até para a política.

Eram mundos diferentes em essência, mas mundos válidos. Um não deveria querer se sobressair sobre o outro.

Nenhum deveria impedir o outro de ter sua verdade e existir.

Ou não havia equilíbrio.

Um artista que vai dormir às duas horas da madrugada, mas acorda às cinco para poder fazer sua arte antes de ir trabalhar no emprego que o mundo o força para conseguir ganhar o dinheiro para sua sobrevivência, coloca uma máscara de pessoa comum, faz seu serviço, arruma a casa, faz compras, vive entre os demais, mas então consegue um tempo livre às nove e começa a trabalhar com o que realmente gosta. Porque é obcecado naquilo. É sua paixão. Seu desejo intenso. Ele sacrifica horas de sono, sua alimentação porque está inspirado, sua sanidade, porque todos estão contra aquilo, a sociedade não dá apoio, mas ele continua. Quando olha para o relógio após muita inspiração, já é uma da madrugada de novo, ele precisa tomar banho e ir dormir. Continua no dia seguinte. Um dia sua obra, seu feitiço, pode ficar pronto, depois da emoção, do desejo, do sacrifício, há de ficar, não é?

Mas pode nunca dar resultados. Ele sabe disso e terá que arcar com as consequências à sua saúde.

Só que ele continua.

Porque é onde ele se sente no seu lugar. Mesmo nos piores momentos. Era bonito, como as artes das trevas, mas como bruxa da luz Augusta não deixava de se preocupar com o que estavam fazendo com sua saúde. Mesmo que alcançassem o feitiço que queriam, mesmo que sua obra fosse concluída, mesmo que estivessem mais realizados assim, o mundo corria na direção contrária a eles e haviam as consequências de viver por sonhos pouco ou nada incentivados. Apenas uma parcela se dava bem, subia ao topo.

O restante era marginalizado diante da pobreza que os acometia.

Era bonito, mas não era prático.

Augusta era prática. Era da luz. Achava que uma pessoa poderia ser mais feliz se não ficasse tão obcecada naquelas coisas e aproveitasse apenas o necessário da vida. Se não quisesse mudar o mundo, ou ser levado por coisas que poderiam nem se realizar. Toda aquela luta era arte, mas quantos artistas no mundo eram realmente bem sucedidos? Quantos eram felizes? Quantos não sucumbiram pelas consequências do que vem depois? A vícios...

Ela respeitava, torcia pelos Grindelwalds, uma família das trevas que amaria para sempre, depois de tudo. Queria que alcançassem sucesso em seus sonhos, só que temia demais que isso os destruísse por dentro. As vinhas negras do caos, da ambição, do poder que vinham com as trevas. A névoa da inconsequência ou do desejo acima da razão.

A Lady Longbottom, no fim, não quis que Neville fosse um artista. Ela era controladora, sabia disso, rigorosa e alguns diriam que podava muito seu neto.

Entretanto, só queria o melhor para ele. O amava e cabia a si zelar por seu herdeiro, por sua educação, garantir que tivesse acesso aos melhores caminhos para um futuro brilhante. Cabia aos pais dar aos filhos o que achavam melhor.

Cabia a ela, pois lhe foram arrancados os pais de Neville. Um tinha ao outro.

Se algo acontecesse com Neville, Augusta morreria, sabia disso. Não aguentaria perder o que sobrou de seu filho e nora. Doeria demais.

Por essas e outras, sabia que ainda falhava nesse sentido. Mas Lakroff esteve lá, com sua visão de artista para lembrá-la como eram pessoas diferentes, que poderia ser rigorosa o quanto achasse necessário, mas o neto era uma pessoa diferente e só floresceria com o adubo certo, no próprio vaso (não o mesmo que o do pai) afinal era um espécime novo de planta.

Mas, pessoa diferente ou não, Augusta ainda era responsável por seu neto e queria ensiná-lo da forma que achava melhor.

Escolheu, no fim, o tradicional. Colocar Neville na mesma direção do mundo, torná-lo... como Lakroff dizia? Um cientista.

Não quis um artista.

Não quis que Neville se machucasse com sonhos grandes demais que poderiam consumi-lo. Queria que se encaixasse na sociedade racional em que viviam. Nos costumes que tinham agora. Quis colocá-lo em um molde pré-fabricado onde seria mais fácil ele se inserir depois... nos empregos e na magia que seu povo apoiava.

O colocou em Hogwarts.

E Albus usou as artes das trevas nele.

- Essa é boa – Heris reclamou, suas palavras repletas de ironia. – Eu já não esperava muita coisa, afinal não havia motivo válido para violar uma criança, mas isso já é demais! Ou de menos... – resmungou.

Falhou com seu neto. Augusta repetia o pensamento enquanto levava uma das mãos à testa. Isto e todo o discurso do diretor:

- Você leu a mente do meu neto, com artes das trevas porque queria "proteger os meninos"... das artes das trevas?! – a pergunta saiu quase gaguejada, mas distante, como se algo nela nem estivesse mais lá.

Encontrava-se tão confusa que até mesmo sua raiva não conseguia atingi-la naquele lugar seguro que sua mente buscava fugir. No lugar onde todas as suas inseguranças não perfuravam seu coração.

Talvez a forma mais calma (bem mais do que vinha sendo desde que chegou) confundiu Albus, pois ele falou.

- Augusta. Acredito que se esta foi sua interpretação das minhas palavras, só demonstra que também pensa como eu.

Lakroff achava que o melhor a fazer teria sido ficar quieto.

- Como é? – Heris questionou com uma careta confusa.

Era algum tipo de loucura bruxa ou realmente a frase daquele velho não fez o menor sentido?

- Eu nunca disse que as artes das trevas eram necessariamente as minhas motivações, mas Augusta chegou a tal conclusão. Por que, eu me pergunto?

O Mitrica mais novo ficou encarando aquele lunático, avaliando que tipo de entorpecentes precisava usar para chegar naquele ponto.

"Incrível como ele é tão vago sobre tudo que minha avó teria que interpretar suas palavras" ainda acrescentava.

- Veja bem, foi o que você deu a entender...

- Eu sinto muito que minhas ações possam ter parecido extremas – Albus continuou, falando praticamente por cima de Heris que travou a mandíbula e avançou levemente nesse ato, mas como Albus estava mantendo sua atenção em sua amiga, não percebeu. Um sorriso simpático e acolhedor junto de sua voz aveludada corria por cada palavra. – Você sabe o quanto prezo pelo bem de todos, principalmente desse castelo. Não à toa, Hogwarts é conhecida como o lugar mais seguro do mundo.

Ninguém entendeu totalmente o que saiu da boca do trouxa, parecia algum resmungo indignado e discordante. Augusta tinha certeza de que seria algum tipo de xingamento muito rápido. O diretor continuou a ignorar o visitante indesejado.

Estava totalmente focado na bruxa, juntou suas mãos uma por cima da outra em cima da mesa e com aquele olhar complacente se inclinou mais em sua direção:

- Eu disse que havia um perigo e que queria proteger os meninos, que há muitas coisas acontecendo e que podem influenciar de formas negativas suas vidas.

- Não venha dizer que minha própria mente criou as conclusões, Albus – pediu a viúva. – Você mencionou a guerra, os comensais, o ministério.

O homem sorriu e a velha colega de alguma forma nem notou quando se perdeu naquela visão. As roupas coloridas (apesar de que menos do que o costume, os olhos claros, a expressão de paz). Como tantas vezes antes, tal qual se estivesse intoxicada por algo. Aguardou até que o velho professor de transfiguração se inclinasse para trás com um sorriso que escondia o mundo:

- Augusta. Por anos lutamos juntos, confiamos um no outro e entendo que esteja brava se julga que feri esse voto que estivemos oferecendo um ao outro. Cabe a você avaliar o que mereço por minhas ações e o problema nelas. Seu sentimento é válido e respeitoso, afinal é banhado em amor e julgo que não há fusão mais intensa do que a queimação explosiva da raiva e o cozimento completo do amor. O amor fraternal ainda por cima.

Heris assistiu aquilo mordendo o interior de sua bochecha e estava fazendo isso com tanta força que logo cortaria. Lakroff igualmente segurou o jarro com Rita com mais força, mantendo sua raiva contida onde podia.

Amor fraternal?

"Que mentira ridícula" pensavam ambos.

- Seu julgamento, velha amiga, sempre foi um dos melhores, tanto quanto sua força e vejo isso em Neville quando o olho, assim como via em Frank – continuava Albus e os Grindelwald contiveram as expressões de surpresa. Era impressão deles ou Dumbledore estava usando o sentimental da mulher para amaciá-la? – Você os criou maravilhosamente bem. Sua essência e decência brilham neles de forma própria, mas sempre me lembrando porque os Longbottom sempre mereceram minha mais alta estima. Essa luz em vocês, o desejo de proteger a todos que merecem, a capacidade de ver o bem nas pessoas e que o pequeno Neville levou a outros níveis. Na verdade, acho que nunca tive a honra de conhecer um coração mais no lugar e olhe que tenho Hagrid, Minerva e tantos outros ao meu lado a anos. Mas seu neto é especial. Banhado em coragem, lealdade, força de vontade, carinho e respeito por todo ser vivo, mesmo uma simples planta até o maior dos monstros. Um exemplo tão perfeito e essencial do que nossa casa representa que não poderia ter outro patrono que não seu belo leão. Uma alma gentil e única que-

- Que você violou – sussurrou Augusta, mas alto o bastante para todos escutarem.

Houve um pequeno instante de silêncio antes de Albus se levantar e começar a caminhar. A mulher e todos ali o acompanharam com o olhar enquanto seguia para o poleiro de sua fênix e lhe fazia um carinho. Heris franziu o cenho pensando que triste era o pássaro não o queimar, ainda mais depois do que começou a falar:

- Eu sei que você consegue sentir. Não consegue, Augusta? Neville me disse que sim. Nem que seja apenas um pouco. O perigo, o frio terrível que a anos achamos ter nos livrado.

- Onde quer chegar, Albus? – perguntou calma.

O Mitrica mais novo observou a viúva levemente preocupado de que a estivessem perdendo.

Que de alguma forma que sua mente era incapaz de entender, aquele velho conseguisse tornar a trazê-la para sua asa.

Entretanto, o garoto nunca entendeu como qualquer um podia apoiar aquele homem, então como haveria de perceber o que em suas palavras afetava ou não Augusta.

Talvez tivesse razão em se preocupar.

Por isso a Longbottom não quis ouvir as justificativas de Albus.

Por isso quis apenas gritar e sair dali.

Albus de alguma forma sabia despertar algo nela que não entendia muito bem. Uma simples aceitação. De que as coisas se ajustariam. Que bem e mal existiriam sempre e que tínhamos que ver apenas o bem ou seríamos levados pela negatividade. Ele estava lá quando Frank foi levado ao hospital e a consolou com suas metáforas que eventualmente fizeram sentido, mantras que manteve seu coração, aquecendo-o o bastante para que não perecesse para o frio do luto que paralisava seu corpo, suas expressões, seu carinho.

Só que estava acostumada.

Talvez os Grindelwald pudessem pensar que aquele tinha sido apenas mais um passo, um significativo, mas ainda apenas outro que não representava o fim. Augusta continuaria com a luz.

Eles não tinham ideia.

As unhas da mão esquerda de Augusta estavam cortando a mão deitada em seu colo. Seu rosto continuava impassível, olhando para o colega, o cigarro indo sem pressa para os lábios.

- Você sabe que ele pode estar voltando.

- Quem?

- Você sabe, Augusta. A marca sombria nos céus após mais de uma década. O ataque na copa. Eu chamei Moody aqui por um motivo e mesmo assim...

- A copa nada mais foi que caos feito por um bando de bêbados que deviam ser presos – dispensou.

- Mesmo? Pode ser. Assim espero. Mas e se não for o caso? Não somos tolos para ignorar o presente, muito menos o passado. Nunca ignoramos o perigo quando pode estar diante de nós, ou estou errado? Os boatos, sussurros, o que vem acontecendo com Neville, como bem mencionou nesta conversa. O menino, infelizmente, interferiu em mais de um plano de Voldemort em sua trajetória. Claro que aprendeu muito e isso o tornou um jovem ainda mais impressionante que tenho orgulho sempre que vejo crescer mais e, por mais errado que seja, criei um carinho pessoal por ele.

"Imagina se não tivesse" pensou Heris.

- Só que ele está preso agora e lamento pensar que de forma inevitável, a um inimigo poderoso.

- Mas não precisaria – sussurrou, se inclinando para soprar mais fumaça de seu terceiro cigarro para o ar.

Vendo-a rodopiar em cima de sua cabeça antes de sumir no ambiente. Se explicou, distante:

- Neville não precisava ter tido uma jornada, não a que teve. Não tinha de aprender de maneira tão difícil e dolorosa. Nem ter esse inimigo.

- Não precisava que você o violasse.

Dumbledore olhou pra o loiro que disse aquilo e o jovem Mitrica apenas sustentou a expressão.

- Não vejo porque colocar dessa forma.

- Não é? – irritou-se o mais novo. – Quer que eu coloque como?

- Violar... eu não-

- Você não ouse! – Augusta ameaçou levantando sua bolsa perigosamente no ar.

Fazendo todos darem ao menos um passo vacilante para longe.

Fawkes bateu as asas e Long se preparou para pegar o objeto, preferencialmente antes de atingir o solo, para que não se sujasse ou a sua senhora quando devolvesse.

- Augusta, por favor, abaixe sua arma - pediu Dumbledore em tom de diversão.

Augusta arremessou.

Fingiu que se sentaria e arremessou a tempo de atingir o peito do outro, que a segurou consigo antes que fosse usada novamente, o que frustrou um certo elfo.

- Não ouse sugerir que não causou um perigo ao meu neto com essa atitude doentia – sussurrou a bruxa, retornando ao tom mais calmo que estava mantendo e se sentando.

Só então Lakroff notou. Não era calma.

Era pura frieza.

A máscara "sangue puro" que Augusta usava quando não sabia lidar com as próprias emoções ou quando achava que iriam controlá-la.

– Você tinha que saber, ainda mais se tratando de um Longbottom, depois de tudo... o que violar a mente de alguém para conseguir informações pode fazer – a mulher sentiu seus olhos ardendo, tal qual seu nariz, por isso inspirou fundo e voltou a se inclinar, em sua voz não havia nada daquela emoção. Mas Lakroff soube. Porque ele e Augusta acabavam sabendo, se entendendo – Você correu um perigo muito grande de machucar meu neto.

- Eu só posso dizer que se for o caso, eu jamais poderei me arrepender o bastante. Jamais.

- Mas por que, Albus?! Por Merlin. O que te fez ir tão longe?

Apenas Lakroff notou, afinal todos olhavam para Dumbledore, que encarou apenas o chão e ele (distraído como de costume) vislumbrou a leal fênix. Viu quando a ave encarou diretamente Heris e depois a ele próprio. Estranhou o ocorrido.

- Não posso dizer tudo que me levou a isso, não agora. Não aqui. Precisarei que confie em mim-

- Confiar em você?!

- Que foi por um bom motivo – continuou como se não fosse interrompido. – Neville... eu lamento discordar de você nesse ponto, querida amiga, mas não acho que o pequeno menino algum dia teve escolha desse destino.

- Não use a profecia numa hora dessas.

- Eu devo – Albus aumentou. – O garoto foi marcado antes mesmo de nascer, pois ela é válida para aquele que mais temo que alcance o pequeno Neville. E enquanto for importante para o lorde das trevas, nós não temos escolha a não ser levá-la a sério. Por isso não quero correr o risco de deixar que nada passe e possa atingi-lo de alguma forma. Diante de tantas adversidades que vêm acontecendo nos últimos tempos, me vi na obrigação de agir com antecedência. Por Neville, por Harry. Então chegamos a Harry Potter. Seu tutor o manteve escondido desde os oito anos, ninguém nunca pôde vê-lo, falar consigo, esteve longe de seu povo, sua cultura, aquilo pelo que seus pais lutaram para que pudessem aproveitar, essas pessoas e essa escola. O manteve assim porque era para sua segurança, mas quando há um ataque de comensais deixa que o menino retorne? Julga Hogwarts, mas deixa que estude aqui. Não acha que eu tinha o direito de estranhar?

- Vai mesmo falar de mim e do meu tutorado como se eu não estivesse na sala? – Heris questionou e enfim Augusta tornou a olhá-lo.

Chegou a tremer com a raiva naquele olhar.

- Não estou falando como se não estivesse. Estou lhe dando a chance de explicar sua atitude.

- Eu não lhe devo explicações – respondeu grave.

- Mesmo? – questionou inclinando a cabeça. – Eu sou o guardião mágico de Harry-

- Era – Heris corrigiu cruzando os braços.

- Justamente. Até o senhor o levar. Sem dar qualquer tipo de satisfação para aquele que era responsável por ele-

- Você se auto designou responsável por ele e não cumpriu com seu papel.

- E para o estado – continuou Albus por cima do garoto, nem um pouco afetado. Na verdade, a lentidão de suas palavras estava para fazer qualquer um enlouquecer. – Foi aberto um inquérito de desaparecimento. Pessoas, horas, dias e meses inteiros foram gastos de trabalho árduo do nosso Ministério para tentar achar o senhor Potter e garantir que ele estivesse vivo e bem. A identidade de seu tutor – olhou diretamente para Heris ao falar. – Era de interesse do estado. O que o senhor fez foi o equivalente ao rapto de criança, há crimes sendo cometidos aqui.

- Não há. Eu adotei Harrison, tenho todos os documentos tal qual o meu ministério atestou ao aceitar sua matrícula no instituto de artes das trevas Durmstrang. Tenho todo o direito sob sua guarda dado por seus parentes.

- Sem um registro no seu ministério? Seus documentos estão incompletos e, portanto, são inválidos e você retorna para a posição onde eu devia ter ligado para os aurores no instante que se mostrou aqui para que fosse levado para interrogatório e preso.

Heris, para a surpresa da maioria ali, apenas sorriu nesse instante:

- Faça então – incentivou.

Augusta suspirou. Albus só tinha o direito como guardião mágico de uma criança se ela não tivesse qualquer parente próximo que estivesse disposto a assumir sua guarda. O que não era o caso. Lakroff não só assumiu sua tutoria como tinha adotado ele formalmente com os Dursley. Ele sempre foi a pessoa com mais direito sobre Harrison Potter. Se ele fosse um qualquer, Dumbledore estaria certo sobre um crime, mas naquele caso, desde o começo o estado britânico poderia ser aquele a ser punido por não ter priorizado a família mágica do menino. Ainda mais diante de uma carta formal da família trouxa de recusa do desejo de resguardar Harry. Heris, por sua vez, era filho adotado porém totalmente legítimo de Lakroff e portanto tinha igual posição como tio do menino Potter e podia se responsabilizar por si.

Não havia nada na lei que pudesse atingi-los. Eles sabiam, tinham garantido isso. Feito tudo ainda mais corretamente do que fariam em qualquer outra situação. Sem passar por cima de nenhuma lei ou estatuto.

Entretanto, Albus apenas negou com a cabeça:

- Não vejo necessidade de piorar essa situação conflitante que está entre nós. Pelo contrário, acredito que podemos apenas aceitar o passado e construir um presente. Não há porque envolver os aurores se tudo que desejo é melhor para o jovem Harry. Ter certeza de que o senhor pode e está o oferecendo isso, afinal é a função de um guardião mágico prezar apenas por isso. Que a criação de seu resguardado seja a melhor.

Todos ouviram mais uma vez o som de vidro quebrando, entretanto ao olhar para sua origem não encontraram mais nenhuma janela em pedaços, mas sim o pote onde estivera o besouro anteriormente que agora tinha sido reduzido a cacos ensanguentados pelo chão e pelas mãos de Lakroff Mitrica, que encarava o tecido de sua pele aberto e sujo do vermelho vibrante que escorria por alguns cortes.

Minerva, mais próxima dele, notou que parecia ter um caco ainda preso entre a pele, mas não conseguia ter certeza.

- Desculpe, vice-diretor – Heris se adiantou em pedir, mas sua voz saiu tão gélida que foi como sentir o vento rasgando os ouvidos.

- Não se incomode, senhor Ender, sei um feitiço que adormece a dor – dispensou o mais velho, encarando as próprias mãos machucadas, mas sem curá-las.

Sem usar o tal feitiço.

Ele precisava da dor. Precisava de algo para se concentrar. Algo para disfarçar o quanto estava tremendo e para fazer, como bem menos cuidado e delicadeza do que seria capaz, tirar o caco que ficou preso, abrindo mais ainda a ferida para que o físico não deixasse as dores psicológicas falassem mais alto.

Ou mataria ele.

Mataria Albus Dumbledore.

Com suas mãos. O esfaquearia, arrancaria partes dele. Seria capaz de comê-lo e cuspir, apenas porque se sentia tão furioso que se nunca foi totalmente humano para as pessoas, se estava condenado à monstro, aberração, ou o que seu pai pensasse para insultá-lo, ou as pessoas, então podia virar um animal logo de uma vez. Sua raiva era animalesca e só queria poder assistir as entranhas de Albus se revirarem como sentia as suas em completo desgosto.

- Veja bem, não estou lhe pedindo mais do que sinto que devo à Harry – insistiu Albus, acreditando que aquilo havia acontecido por uma explosão mágica de Heris. Ele, nem ninguém, havia visto Lakroff apertar tanto o pote que o arrebentou em si mesmo e quase matou Rita, se ela não tivesse sido rápida para desviar.

A besoura, apavorada e quase sem forças, repousou em uma saliência de uma das vigas próxima ao teto e parou para se acalmar.

Aquela não foi nem seria a última situação incrivelmente perigosa que se metia por um bom furo. Ainda se lembrava de quando um sapo a comeu e teve que voltar de dentro dele, sendo banhada por suas vísceras por toda a cabeça. O cheiro não saindo por semanas de seus cabelos.

Só que nunca ficou com tanto medo quanto sentir a magia daquele homem.

Mesmo que tivesse mantido contida, mesmo que provavelmente mais ninguém na sala notou, ela sabia o que realmente tinha acontecido e parecia que se as mãos do homem não a matassem, ela estaria em perigo, pois sua magia a levaria para um inferno muito pior.

- O que deve a Harrison? – Heris questionou tentando manter alguma racionalidade.

"A merda da sua cabeça numa estaca" foi o que Lakroff pensou para a pergunta do filho. O que Albus devia. "Uma infância sem todo aquele lixo. Seus pais".

Quantos anos ganharia de prisão, como trouxa, se atirasse em um bruxo? Era o que o outro Grindelwald pensava.

Seria preso para começo de conversa? Imaginava que sim, mas como fariam um julgamento desses? Tentar se distrair pensando nas legislações que tinha decorado do estatuto de sigilo de magia era o melhor que podia fazer naquele momento. A técnica de seu pai: Mudar o foco da mente. Não que o velho sempre fizesse de propósito, mas o menino podia induzir em si mesmo aquela distração natural característica do Lorde Mitrica.

- Sim. Eu obviamente estive distante em um momento que não devia...

"Um?!" pensaram os três convidados.

- E isso pode ter acarretado consequências para ele, mas desde que as coisas tenham se resolvido, posso apenas agradecer as linhas do destino por estarem do nosso lado.

Havia cheiro de ferro na sala. Haviam mais de um par de mãos sangrando, mas não havia como alguém além de Augusta saber disso, ela escondia bem por entre suas pernas.

- Agora, se eu apenas puder ter a certeza de que o senhor garante ao menino o melhor. Que ele não está suscetível a qualquer problema novamente, que esteja seguro e bem cuidado, não vejo para que exigir mais que isso. E claro, a certeza dele de que é onde quer continuar, mas é claro, não posso fazer isso sem conhecer seu tutor em totalidade ou poderia estar cometendo o mesmo erro de distanciamento quando o menino pode estar precisando de mim. Com o senhor fugindo de nós da Grã-bretanha, das nossas leis, de nosso olhar e proteção, além de evitar até mesmo se apresentar corretamente, não pode me julgar por ficar cauteloso e questionar suas atitudes.

Heris não respondeu logo de cara. Afinal tudo que queria era xingar aquele homem, mas não podia. Não devia, pois estaria perdendo a razão e sua prioridade era Augusta. Ela estava começando a ir para o lado deles, não podia deixar sua raiva atrapalhar tudo depois de tantos anos engolindo sapo. Que bom que era excelente em segurar a boca e o descontentamento e apenas fazer seu trabalho:

- Lamento, mas não vejo como a sua interferência na criação de Harrison pode ser benéfico a ele considerando o histórico que tive ao nos conhecermos – respondeu calmamente. Nem parecia o mesmo de antes.

Albus suspirou:

- Entendo que sua percepção pode estar enviesada considerando as escolhas de vida as quais optou.

[N/A: Enviesado. O que se enviesou, tem um víeis particular; Opinião, conceito ou situação que tem partido, parcial. Foi afetada de alguma forma e por isso não pode ser considerada totalmente neutra. Ex. Uma amostra enviesada é uma amostra com algum vício ou viés estatístico que compromete a interpretação de seu resultado.

en·vi·e·sar |è| - verbo transitivo

1.Cortar de viés; pôr de viés; entortar. 2. [Figurado] Dar má direção a. Verbo intransitivo e pronominal 3. Andar ou tomar de viés; tomar má direção; envesgar. Adjetivo. Oblíquo; torto].

- Desculpe, mas está sugerindo que, em tese, por eu ser um bruxo das trevas então minha opinião sobre o senhor é automaticamente negativa e por isso não estou concordando em ajudá-lo?

- Se é a interpretação que teve de minhas palavras, meu garoto. Eu-

- Não me chame de "meu garoto" – interrompeu no mesmo instante.

- Sinto muito, é apenas um vício de linguagem meu.

- Controle-o. O senhor é uma figura de autoridade, deveria ter a capacidade para tal. Esta não é uma conversação informal para que faça como desejar, estou aqui de forma oficial acompanhando uma reclamação de um responsável diante das suas ações como diretor.

- De acordo – respondeu com um inclinar de cabeça, mas um olhar decepcionado que fez Heris querer lhe arrancar as orbes. Seu tom de voz permanecia da mesma forma de sempre. Calmo, distante e místico.

Os Grindelwald na sala estavam a ponto de enlouquecer com aquilo.

Era insuportável ouvir. Como se Albus sentisse que sabia mais que todos, um adulto conversando com uma criança, o mais pacientemente que conseguia, mas sem lhe dar todas as respostas, pois sabia que alguém naquela idade não entenderia.

- Seguindo, apenas quis dizer que o senhor obviamente não tem uma boa visão de mim e entendo até certo ponto. Muitos me chamam de excêntrico e acredito que apenas convivendo é que se cria gosto por minha companhia – brincou.

Augusta assistiu como o garoto Mitrica de repente estalou o pescoço, passando a mão pela gola do terno. Ele estava ansioso. Irritado. Levou o dedão até os lábios e mordeu a unha, um "tique" que a Longbottom nunca tinha presenciado, mas que a permitiu perceber como sua respiração estava pesada. O pobrezinho mais velho de seus netos de consideração estava naquela situação por sua causa, preso como um animal enjaulado e a viúva estranhava aquilo, na mesma proporção que se preocupava. Heris geralmente não precisava se conter tanto e ela não foi a única a notar todos esses sinais. Long também se aproximou de seu jovem mestre, pronto para interferir se fosse preciso e Lakroff não se importou em sujar a manga de seu terno de sangue apenas para afrouxar a barra, caso precisasse da varinha.

- O senhor deve interpretar minhas palavras e o mundo da forma que lhe convém – Dumbledore seguiu para outra direção da sala, passos calmos, as vestes balançando com a mesma suavidade de suas palavras. – De acordo com seu coração e o que acha correto, tal qual vem fazendo. Por termos justamente essa liberdade o mundo é tão grande e vasto de cultura. O senhor fez suas escolhas e cabe a mim apenas respeitá-las, assim como respeito a escola que colocou Harrison como Instituto de educação próprio. Estou apenas dizendo que não deveria deixar preconceitos afetarem o que é de mais importante, a segurança de Harrison.

- Que você falhou em garantir – lembrou cerrando os dentes, mas com um sorriso. – De novo ainda esse ano.

- É isto que estou dizendo. Posso assegurar que fiz o possível para que nenhum aluno fosse capaz de enganar a taça, o que torna o responsável por isso um bruxo muitíssimo talentoso e um potencial perigo. É, portanto, meu dever agora que sei de sua presença em minha escola encontrá-lo e impedi-lo.

- Com a sua incapacidade? Acho difícil.

- Minha...? – Albus piscou surpreso, parando a caminhada.

- Não olhou para seu histórico antes de me jogar essas frases vazias, não? Você diz que minha percepção sobre si está enviesada e talvez esteja, mas por suas próprias falhas vistas de alguém que não foi capaz de acalmar com essa cara de bom velhinho.

Dumbledore negou com a cabeça:

- Augusta – chamou, olhando a mulher. – Entendo que desejasse que o tutor de Harrison estivesse presente, mas vejo que não estamos chegando a um entendimento e apenas as crianças serão prejudicadas assim...

Heris abriu a boca para tornar questionar o velho, só que Augusta calou ambos os homens levantando sua mão.

Eles a observaram inclinar-se para Dumbledore, então soltando junto com a fumaça de seu cigarro, perguntar:

- Sim ou não?

- Como? – questionou Dumbledore inclinando a cabeça.

- Você acha que está certo?

- Certo em que exatamente?

- Não é uma pergunta tão difícil, Albus – comentou "bem humorada", mas seu sorriso, o som alegre que escorria por seus lábios deixava um gosto amargo no final. – Você acredita que o que fez com meu neto está certo?

Mais silêncio.

Um minuto inteiro se passou, talvez? Até que enfim:

- Certo e errado sempre são vistos de formas diferentes para diferentes olhares.

"Desculpe, mas em que situação isso estaria certo?!" se questionou Lakroff lembrando-se, de repente, que o maldito jarro que estava usando para conter seus impulsos homicidas guardava uma bruxa.

Começou a procurar por um pequeno cadáver de besouro ao mesmo tempo que percebeu que havia se esquecido um fato que (como professor) parecia bem absurdo não se lembrar: Se você mata um animago na forma transformada ele retorna à humana?

Racionalmente falando, não haveria necessidade, se o bruxo morreu não haveria como sua magia realizar o contrafeitiço que o tornaria humano, o que o deixaria como criatura. Entretanto, partindo do pressuposto que a magia te mantinha na forma animal, então ao não ter mais magia você seria um cadáver humano...

Mas daí ele teria que assumir que Pedro Pettigrew era um bruxo absurdamente poderoso pois manteve um feitiço que precisa de ativação constante por uma década e até mesmo dormindo!

Mais uma vez, sua mente distraída lhe foi uma benção, pois se tivesse escutado as próximas frases... apenas as Deidades poderiam dizer do que seria capaz.

Seu filho não teve a capacidade de manter os pensamentos para si quando escutou Albus continuar:

- Praticar magia das trevas é errado? A resposta é relativa.

- Bite me! – xingou irado, se virando para os quadros na parede porque estava prestes a testar os reflexos de um velho bruxo com uma maldita cadeira voando em sua cara estúpida.

[N/A: Bite me. Gíria comum nos EUA que representa uma "versão light" de "fuck you", mas ainda assim um dos insultos em inglês mais usados por aí. Também pode ser usado como "vá se ferrar"].

Dumbledore levantou uma sobrancelha e juntou os dedos das mãos em uma espécie de triângulo em frente aos lábios.

Então o garoto usava termos em inglês americanizado. Era estranho considerando que seu sotaque era claramente britânico, mas podia dizer que não provinha de um país que tinha como língua materna o inglês, o fazendo aprender termos de diferentes lugares.

Ou ele viajava muito.

Minerva arfou:

- Por favor, vamos controlar a língua e agir como adultos.

- A resposta é não – corrigiu Heris dando mais uma passo na direção da mesa do diretor. – Para essa sua perguntinha ridícula e tentativa de fugir da resposta!

- Se torna errado, se for contra as leis vigentes de um país. Foi, entretanto, autorizado o uso de vários feitiços durante a guerra em função da auto defesa. Relativo. Mas é claro, não podemos simplesmente afirmar que nunca causou mal e comprovadamente foi a arma principal na mão dos piores bruxos que já apareceram em nossa história, porque outro motivo seria proibida em tantos países-

- Ela foi usada de forma incorreta, por bruxos cruéis e gananciosos, isso não faz da magia ou de seus praticantes errados. O senhor deveria entender isso e nunca sugerir o contrário sendo diretor de uma escola e mediador de um evento cujo um dos participantes é um Instituto de Artes das trevas! Sua preciosa magia da luz já caiu em mãos ruins, vocês apenas aprendem bem menos sobre aqueles que escolheram ferir com ela.

- Existem uma diversidade absurdamente diferente entre feitiços feitos para ferir vindos das trevas do que da luz.

Heris sorriu:

- Você é mesmo ignorante ou apenas desonesto além da conta?

- Como é, meu jovem?

- Não sou "seu" coisa alguma e por acaso eu gaguejei? -respondeu cruzando os braços e Augusta deu uma risadinha mal disfarçada. – Argumentum Ad Ignorantiam. Conhece? Ou ao menos entende latim?

- É claro que sou fluente em latim, eu-

- Considerando a quantidade de falhas que apresenta como diretor de escola de bruxaria eu não me surpreenderia se não conhecesse a língua mais usada na magia moderna.

Aquilo era novidade. Parando para refletir, Augusta nunca escutará Heris Ender Mitrica conversando tanto quanto naquela visita. Era um garoto de poucas palavras e distante, para se dizer o mínimo. Você tinha que perceber seu afeto pelas suas ações, não por olhares, ou o que dizia. Alguns até mesmo poderiam concluir que era alguém frio, mas não. Havia muito calor e simpatia.

Apenas estava bem guardado onde ninguém podia lhe tirar, tal qual tantas outras coisas um dia foram roubadas em um lugar onde nenhuma criança devia ter sido levada.

Acompanhar Augusta era uma forma de falar que a amava e a Neville, mas as palavras exatas nunca saíram de sua boca.

Não precisava, na opinião da Longbottom.

Seus abraços, preocupação constante (até mesmo se dava ao trabalho de parar e escrever uma carta vez ou outra se não tivesse notícias da mulher), estar nas datas comemorativas sempre que era chamado e sempre prestar total atenção a tudo que lhe diziam. Aquela era apenas sua personalidade.

Entretanto, enquanto o garoto se aproximava da mesa de um homem que poderia destruí-lo em segundos com um pensamento, sem nem hesitar e com tanta acidez na língua, um veneno gélido de, cortar a espinha, então arder e queimar com o líquido que escorresse pela ferida, porém tudo em um tom grave que preenchia os tímpanos.

Era um tanto fascinante.

- A falácia do apelo à ignorância – comentou o garoto. – "Artes das trevas possuem um número centenas de vezes maior de feitiços que possuem objetivo de ferir ou prejudicar um alvo, então, por consequência, elas são muito mais perigosas". Que historinha linda e simples para crianças, não é mesmo?

[N/A: A expressão latina argumentum ad ignorantiam designa uma falácia lógica que tenta provar que algo é falso ou verdadeiro a partir de uma ignorância anterior sobre o assunto. É um tipo de falso dilema, já que assume que todas as premissas são verdadeiras ou que todas as premissas serão falsas. Ex: Não existe mais notícias sobre corrupção no Brasil, porque o governo atual acabou com a corrupção (lembrar que eles, na verdade, censuram os jornais e tiraram o direito do próprio estado de investigar casos de corrupção para determinados membros do estado é irrelevante, pois assume-se que aquele que houve é ignorante a isto)].

- Vamos ignorar que quase todos os feitiços das gerações anteriores à moderna. Depois do latim, o avanço do cristianismo, o calendário cristão ocidental e tudo isso que conhecemos, todos os feitiços que já tinham sido feitos e que não passaram por novas pesquisas, mudanças em sua estrutura, foram chamados de "artes das trevas". Por que eram "bárbaros", "selvagens", "descivilizado", ou até "macumba e xamanismo" como se fossem coisas ruins – revirou s olhos. – Só aí temos um número de MILHARES de feitiços a mais que a magia da luz caindo direto para o ramo das trevas. Então é claro que artes das trevas tem mais feitiços para ferir, mas também temos mais feitiços em qualquer área que qualquer um quiser pesquisar, justamente porque somos muito mais abrangentes e não limitamos a magia por regras estúpidas, covardes, misóginas ou preconceituosas! Magia é magia, poder é poder. Mas vamos fazer como o grande senhor da Luz e esquecer que boa parte dos feitiços de sua área, com a dose certa de criatividade, e sadismo diga-se de passagem, servem para ferir ou até matar, enquanto as artes das trevas NÃO PODEM ser vagas! Já que dois dos três princípios para que ela FUNCIONE são: desejo intenção, e você não pode fazer um feitiço desejando levitar uma pessoa, mas depois pensar em usá-lo para jogar alguém de uma ponte, isso não funciona nas trevas, mas funciona perfeitamente na luz, garanto. Igualmente petrifica-la antes pode tornar a tarefa mais fácil. E outro princípio é a emoção, você não faria um feitiço para transformar um rato em um copo nas artes das trevas, pois não há emoção aí, mas porque não transformar uma borboleta em uma bola de boliche trouxa quando estiver voando na cabeça de alguém? Nas trevas temos que criar muitos feitiços e por isso há muitos feitiços para ferir, tanto quanto para curar, se esconder, até para dormir! Mas na luz um feitiço pode ser usado para muitas coisas e vocês sabem. Não ter um objetivo claro nas artes das trevas é estar conversando com o caos e quem pode se ferir é o feiticeiro, na luz no máximo alguém explode o copo, o rato ou perde as sobrancelhas! Não à toa Durmstrang ensina tanto sobre as consequências de suas ações. Mas parece que Hogwarts e seu diretor que estão precisando dessas aulas!

Ao fim do discurso, Heris inspirou fundo e se calou. 

Fawkes piou, baixando a cabeça de forma estranha. 

Augusta e Lakroff acharam graça naquilo, por algum motivo. Talvez porque estavam recheados de orgulho, mas também muito surpresos que o menino tivesse absorvido tantas informações sobre o mundo mágico.

Mesmo que sempre tivesse sido o mais incisivo na educação prévia de Harrison, alegando que Hazz tinha todas as oportunidades para ser e conquistar o que quisesse, além de muita inteligência e por isso precisavam alimentá-la com sabedoria o quanto antes, para que criasse o costume do estudo e de incentivo, estando presente ao máximo nessa tarefa, não era parte do seu mundo. Lakroff ainda teve de ser o responsável na maior parte do tempo. O mesmo que tinha a mania de (por não querer ser tão exigente) pedir para o sobrinho neto brincar ao invés de estudar.

O mais velho dos trouxas muitas vezes ficava na mesma sala onde o lorde Mitrica dava as aulas, justamente para ter certeza de que não fugiriam de ao menos uma hora de lições diárias.

Harrison por si próprio geralmente pedia por três. Heris convencia Lakroff a dar até quatro nos dias que ele mais se empolgava e não olhava o relógio, garantindo que os dois meninos pudessem escondê-lo. Uma dinâmica interessante, sem dúvidas.

Só que não descartava o fato que Heris não precisava prestar atenção nas aulas. Apenas vigiar. Então geralmente levava seu trabalho e ficava em uma mesa em outro canto do cômodo, então era considerável que ainda tivesse realmente escutado às aulas do irmãozinho adotivo e aprendido com aqueles momentos, uma vez que dificilmente lhe seriam úteis em algum momento da vida.

Minerva por outro lado alheia a isto, estava surpresa.

Quase em choque.

Já tinha escutado por cima algumas dessas coisas, mas nada muito profundo e só de perceber que ela, como professora, tinha dúvidas sobre se todas aquelas afirmações eram ou não reais, sendo elas parte da história da magia... Mesmo que não fosse sua matéria, ela lutou em uma guerra pela Luz! Se defendia a causa, não deveria conhecê-la melhor? O bastante para apontar, debater?

Ela esperou que Albus o fizesse, mas ele não fez. Voltou para a sua mesa, deixando a bolsa da viúva cuidadosamente à uma distância que a impediria de acertar ele próprio se usasse um Accio e apenas encerrou:

- Entendo seus pontos. Respeito que tenha uma visão oposta à minha e como não é o que queremos discutir hoje, não vejo para que discordar – mais uma vez juntando uma mão por cima da outra. – Então voltando ao principal?

- Albus – chamou Augusta.

- O que foi, minha querida?

"Não a chame de querida" pensou Heris.

"Um dia, eu vou rasgar na pele dele as palavras meu, minha, querido, querida, garoto, garota... Ou queimar e por cada mísera parte desse corpo velho enrugado" pensava Lakroff arrastando um dos cacos pela mão e criando um corte novo.

Long, seu elfo, o encarou muito irritado, sendo o único a perceber.

"Acho que meu elfo vai me dar uma bronca sobre automutilação de forma bem desnecessária. Não faz meu estilo. Autodepreciação por outro lado..."

A Longbottom questionava enquanto isto:

- Eu volto à minha pergunta. E na sua opinião, Albus?

- Na minha opinião, você quer dizer...

- Certo e errado podem ser relativos, isto é real, mas e na sua concepção do que é cada um? Você acha que o que fez com meu neto está certo?

- Não acredito que hoje será o dia que entenderá o bem por trás de minhas ações...

- Eu pedi sim ou não, Albus.

- Sim – respondeu de uma vez.

Ele viu a dor no olhar de Augusta naquele momento, mas Albus Dumbledore não corria atrás das pessoas. Por mais que se importasse com elas, que as amasse, fazia até onde achava que devia. Ainda era função de cada um conquistar o próprio espaço, as próprias escolhas. Ele não diria tudo a Augusta, pois ela devia escolher seu caminho e não aquele que ele estaria impondo a ela. Se teria que ocultar algumas coisas, omitir, não era por mal. Ele realmente tinha carinho pelos Longbottom. Estava fazendo aquilo por eles também.

Eventualmente, as pessoas inteligentes percebiam as motivações por trás de suas ações, perdoavam ou se uniam, as boas e justas vinham até ele por si mesmas. Juntos faziam o que podiam por esse mundo.

Não queria ver uma aliada tão boa magoada, mas se haveria de ser assim por hora, o objetivo maior ainda era proteger as pessoas de Voldemort e fez o que achou que tinha que fazer. Também foi sincero quando ela assim o pediu.

Certo ou errado, descobriria depois.

Mas nunca se sabe antes de tentar e ele sempre teve que ser o corajoso que dá o primeiro passo no desconhecido e tentar.

- Sabe por que não estamos entrando em um entendimento nem nunca vamos entrar? – Heris perguntou de repente quebrando o silêncio que havia se instaurado na sala. – Porque o senhor é um velho hipócrita e débil.

Minerva arregalou os olhos e fez um muxoxo enquanto Dumbledore apenas piscava e sorria pacientemente para o outro:

- Por favor, vamos manter a compostura – pediu de forma apaziguadora. – Já não é o primeiro insulto que o senhor faz a mim-

- Nem será o último, tão pouco! Você realmente acha que os fins justificam os meios? Que suas ações não precisam ter consequências se for por um objetivo que acha válido! – reclamou Heris muito irado. – Você sequer está arrependido de verdade, o problema é apenas porque foi pego, não por ter feito! Neville não importa, Harrison não importava, como ninguém teria importado se estivesse no seu caminho!

- O senhor não me conhece, não tem o direito-

- Eu tenho o direito de acusá-lo! Tanto quanto você tinha o dever de prezar pelos alunos e respeitar as leis. Sabe o que não tenho o direito? De te acertar tanto soco na sua cara que acabaria só uma pasta de carne e osso.

- Isso foi uma ameaça? – perguntou estreitando os olhos.

- Não, porque diferente de você eu NÃO faço aquilo que NÃO TENHO DIREITO! Ta surdo ou é só burro mesmo?

Os pelos de Albus se arrepiaram e ele sentiu um calafrio na espinha, mas não soube dizer o porquê.

Parecia algo muito semelhante ao dejavú...

- Por favor, vamos controlar os ânimos – pediu Minerva sentindo a própria cabeça estourando.

Não foi apenas Augusta que se sentiu doida, até mesmo...

Traída?

A professora de transfiguração não tinha certeza e isso era outra coisa que ambas partilhavam. Tal qual muitos dos outros sentimentos.

- Desculpe, mas a senhora esteve aqui, ouviu os absurdos que ele disse e os que evitou dizer diretamente – o Mitrica mais novo contestou.

- Eu entendo que a situação não é das mais favoráveis, mas Albus está disposto a conversar e...

- Favorável?! Conversar?! Não há o que conversar nessa situação! Este indivíduo tinha que estar atrás das grades de um manicômio! – reclamou acertando o dedo indicador com força na testa.

Dumbledore também anotou aquele gesto. Era alemão. Indicava que alguém estava louco, tal qual para os brasileiros girando o indicador entre a têmpora e a orelha.

- O que ele fez, Minerva... – murmurou Augusta. – Estou tentando oferecer algum tipo de simpatia, pelos velhos tempos, mas entende o quão grave é a situação, se não sequer teria me escrito.

A bruxa não pôde contradizer a amiga, mas Albus tornou-se a se posicionar.

- Entretendo o senhor, Heris, que convenceu "sua avó" a me dar uma chance de falar desde o começo. Quer dizer que queria manter isto civilizado. O que o fez mudar de opinião e me considerar de repente apenas louco e indigno de diálogo?

- Você não está sequer tentando se justificar, apenas não quer que Augusta o denuncie! E agora começou com uma teoria ridícula e paranoica de...

- Eu sei que posso ter falhado-

- Não é uma falha! Eu já lhe disse, é crime seu asno!

Tanto Minerva quanto Albus ficaram surpresos com a forma chula utilizada, enquanto Lakroff e Augusta sentiram aquilo como um alívio para o aperto sem seus peitos.

- Como disse? – perguntou Albus retomando a expressão de sempre.

- Já que você não parece entender o significado de crime, talvez sua confusão seja com outra palavra do nosso vocabulário. Asno quer dizer...

- Eu sei... o que significa – o mais velho interrompeu pausadamente, um sorriso falso e uma risadinha.

Heris já havia lido e escutado sobre Albus Dumbledore. Sob diferentes olhares, perspectivas e opiniões. Algumas delas, entretanto, eram comuns para qualquer falante: um bruxo fora da curva. Você poderia chamar de único, estranho, peculiar, louco.

Não importava muito além do resultado final: era alguém que pensava diferente dos demais. Mas neste ponto, até seu pai era. 

Pensando bem, a família Grindelwald como um todo!

Gellert é alguém muitíssimo excêntrico e provavelmente sempre foi, mesmo ainda da guerra ou de ser preso, isso poderia até explicar o que um viu no outro anos atrás, já que Dumbledore usou a palavra para se definir.

Uma energia mística, de quem falava de forma vaga, em metáforas ou até ilógica para a maioria dos ouvintes, principalmente os menos atentos, mas que na realidade escondia grande conhecimento por trás de cada uma.

Pelo menos, estas foram as palavras de Neville sobre o homem em uma das raras vezes que estiveram sozinhos e Heris puxou assunto, e fizeram Heris lembrar de suas experiências com o lorde Grindelwald.

A opinião de Ender, entretanto, era bem diferente vendo pessoalmente. De formas gerais também era tão negativa naquele ponto que Albus oficialmente tornara-se a pessoa (viva) que mais detestava.

Ao ponto de que estava sentindo nojo.

- Me poupe desses discursos – o jovem trouxa pediu, repleto de frustração. – As coisas que você une para amenizar o peso de suas ações não poderiam estar mais distantes. Você suspeitava da volta de um lorde das trevas? Acha que agora o perigo está mais próximo do que nunca? Deixe-me te contar uma novidade: ele nunca se foi para voltar! Neville quase morreu por estudar nesta escola, pelas mãos dele, desde o primeiro ano! E não vejo como poderia estar mais presente do que dando aulas, assistindo a elas ou qualquer coisa que já aconteceu! Como poderia estar mais presente do que quase ganhando uma materialização física que atacou Neville, Ginevra Weasley e matou Tracy Davis?! Voldemort vive mais aqui do que do lado de fora, sinceramente! Você é displicente, negligente, medíocre, inconsequente e sinceramente? Há uma chance real de que nem Voldemort é um perigo tão grande para Harry quanto você foi!

- Como eu haveria de-

- Harry em sua infância, Neville desde que pisou aqui!

Augusta já havia notado, mas mesmo ela não tinha noção da intensidade da fúria de Heris. 

Era todo o passado, tudo que aconteceu, podia e ainda pode acontecer com Harrison pelas cicatrizes eternas que lhe causaram, mas também os Longbottom, outra família que aquele órfão já tinha perdido a anos a esperança de ter, mas que recebeu de bandeja de um menino "estranho" que decidiu ficar de olho.

Augusta, uma avó (para alguém que nunca teve uma viva), Ender tinha medo de que aquele homem, Albus Dumbledore entre todos, de alguma forma pudesse tocar no coração dócil e benevolente da mulher a fizesse aceitar mais daquela situação. Era tanta coisa, tanta injustiça, tantos anos para duas crianças serem levadas e a troco de que? Não devia ser responsabilidade dos adultos protegê-los? Por que o inverso estava acontecendo e como aquele homem não percebia? Como os outros não o faziam?! Heris não conseguia ficar em silêncio. 

Nem em paz.

Dumbledore não sabia disso, mas a verdade é que não se irritava um Grindelwald no ponto em que o filho mais velho de Lakroff estava chegando.

E ele já estava gabaritando a cartela de motivos para aquela família toda perder a paciência.

Segurados por um fio tão sensível de simpatia... o quanto ainda podia ser balançado? O vento não seria capaz de arrebentá-lo àquele ponto?

- Me responda, como você espera que eu aceite uma desculpa vinda direto das suas próprias paranoias?

- Paranoias? – perguntou o velho diretor. – O senhor mesmo concordou que Voldemort nunca realmente se foi e as pistas estão aí. Este seria o momento perfeito para que o exército das trevas atacasse, com o governo fragilizado com o que aconteceu na copa, a cobrança mundial e toda a dedicação para manter a ordem no torneio e-

- E mesmo assim você conseguiu falhar nisso também?

- Estamos lidando, então, com alguém realmente preocupante, não é mesmo? Eu entendo que esteja frustrado que o nome do jovem Potter tenha saído do cálice-

- Não quero que entenda, respeite ou a porcaria de "sábio calmo" que você está interpretando que for! Não é uma questão de proteger Harrison ou Neville mais, de um inimigo externo, mas do incapaz que esteve responsável por impedir que alguém, um aluno ou qualquer um que não devia, fosse prejudicado durante todos esses anos simplesmente por estar aqui! A cada ano vocês davam conta de virar as costas, ficar cegos ou incapazes de ajudar nos momentos que mais as crianças precisavam, não apenas Neville. Duas crianças foram assassinadas pelo mesmo homem e uma de doze anos que teve que resolver? Então-

- Desculpe – Minerva se incomodou. – Hogwarts pode ter falhado em muitos pontos, mas somos reconhecidos mundialmente por um motivo. As situações adversas dos últimos três anos não anulam todo esforço que nosso corpo docente fez em todos esses anos e aquele-que-não-deve-ser-nomeado é...

- Tipo o que? – questionou por cima dela.

- Tipo... como? Não entendi a pergunta.

- Você disse que o que vem acontecendo não anula seu esforço. Que esforço? Porque até onde me consta Hogwarts é exatamente a mesma coisa desde que foi fundada exceto que vocês tiraram aulas e conteúdos do currículo. Vocês não fizeram um único avanço nos últimos séculos para agregar uma real evolução além de aceitar feriados trouxas para aumentar a inclusão dos nascidos entre eles, não que tenha sido uma técnica efetiva já que a inclusão deles na sociedade após a formatura é frequentemente barrada pelas altas classes. O único esforço que vejo por parte de Hogwarts é em tentar assassinar Neville Longbottom!

Albus e Minerva arfaram e claramente tentaram contestar. Dumbledore ainda foi o que Heris ouviu mais claramente:

- Escute -

- Não! Você escuta! Contratar um homem possuído por um lorde das trevas que fedia a alho, um charlatão, um lobisomem e alguém que saiu nos jornais não faz nem um trimestre inteiro por alucinações e ataque à latas de lixo, todos para o mesmo cargo não me parece esforço para com a educação dos seus alunos! É para tentativa de homicídio, considerando que três deles atacaram Neville. Defendendo Remus Lupin ele não tinha consciência do que estava fazendo, mas a escolha de vocês foi envenená-lo? Com esse histórico eu não me surpreenderia se o novo professor realmente fosse louco e atacasse Nev achando que ele é um comensal ou pior. Não saiu no jornal que ele brigou com algumas latas de lixo nas férias? Claro, vamos contratar mais uma pessoa instável! O que poderia dar errado?

- Eu – tentou Minerva.

- Professora, isto não é um ataque pessoal à senhora. Na verdade, a única coisa que me impede de processar Hogwarts como um todo agora é sua presença e boa vontade em nos avisar assim que soube do problema da vez, mostra que ao menos uma pessoa se preocupa e é a vice-diretora – admitiu Heris alisando os cabelos de forma irritadiça.

Augusta apenas observou o garoto falar, muito satisfeita. Long, sempre tão prestativo, foi até a bolsa que havia sido arremessada (pela segunda vez a um tempo) e a trouxe para a senhora Longbottom, tirando de lá uma nova caixa de cigarros e lhe oferecendo um.

A bruxa aceitou feliz.

- Processar Hogwarts? – questionou Minerva nervosa.

- Evidente – respondeu Heris. – Albus é o representante dessa escola e ele não só violou Neville, como foi incapaz de proteger a taça que estava malditamente responsável e agora Harrison está correndo risco de vida também! Em três anos na Durmstrang, Harrison Potter nunca teve um único problema desse tipo, o maior perigo que já enfrentou foi uma corrida com seu professor lobisomem pelos terrenos da escola e o "perigo" - fez aspas com as mãos. - Era de causar uma distorção no músculo ou pisar em falso nos terrenos cheios de neve, mas seria logo socorrido já que, de novo, isto foi feito junto e com a supervisão de um professor qualificado. Enquanto isso, todas as férias Neville me conta de absurdos como um trasgo atacando alunos-

- Isso é... - tentou Minerva, mas Heris a encarou com tanta raiva por ter sido interrompido que ela hesitou.

- Não há justificativa para isso, professora. Não estou nem falando apenas do cargo amaldiçoado ou da influência do lorde das trevas, vocês tem uma profeta para aulas de adivinhação que não sabe diferenciar profetas de videntes e fica perturbando os alunos com premonições de acidentes graves e morte! Cuja qual nem mesmo a senhora leva a sério! Como poderá ser vice-diretora e tê-la aos seus serviços se debocha de suas aulas? Não que sejam dignas de algo além de deboche, mas mesmo o que tenha sido causado por Voldemort ou o fantasma do natal passado! Para nenhuma merda que aconteceu aqui, há uma justificativa! Agora me dizer que o diretor achou plausível violar a mente de uma criança, podendo prejudicar suas barreiras mentais e até causar danos psicológicos severos, magicamente estimulados e portanto ainda mais difíceis de consertar, porque julga que "Voldemort está retornando"? Pelo amor de Barbara Blocksberg!

Uma sensação terrível invadiu Albus.

Blocksberg.

Não era um nome tão comum, mal ouviu em sua longa vida. Entretanto, quem o usava com frequência era justamente Gellert.

Um nome comum na Alemanha e (até onde sabia) só por algumas regiões realmente adotavam o nome. A maioria dos países germânicos falavam bem mais sobre os Pappenheimer, uma família do reino da Bavária muito poderosa que foi descoberta pelos trouxas, devido a Hansel o caçula que mesmo aos dez anos tinha uma magia tão forte que foi capaz de aterrorizar a cidade com seus feitos. O casal Paulus e Anna e seus filhos Hansel, Michel e Gumpprecht foram capturados, mas todos escaparam usando magia. Enquanto Barbara Blocksberg era uma lenda infantil de uma bruxa capaz de identificar bruxos malvados e desobedientes com seus feitiços que os levavam de casa, porque os pais poderiam não dar falta dos mais arteiros. Era conhecida até por nascidos trouxas, pois tinha ganhado espaço o bastante para ganhar um desenho trouxa bem mais infantilizado acerca da lenda. Entretanto, a protagonista do desenho chamava-se Bibi, tal qual a animação.

[N/A: Curiosidade sobre Alemanha. Bibi, a Bruxinha (Bibi Blocksberg, no original) é uma série animada alemã baseada em uma série de peças de áudio criadas por Elfie Donnelly e lançada em 1997. Sim, estou mudando o ano de lançamento nesse trecho, mas como acho que nenhum de vocês conhecia e cresceu com esse desenho como eu, não vão se importar. Esse desenho tem no Youtube que eu vi esses dias, mas não sei se tem legenda ou dublado em português].

Então aquele homem era alemão, mestiço ou sangue puro, os nascidos trouxas não tinham o costume de usar nomes bruxos em momentos como estes. Era mais comum Deus, mesmo para os ateus, por questões sociais e costume. Usar o primeiro nome ainda de Barbara Blocksberg, mostrava conhecer a lenda antiga e estar mais do que habituado ao termo, foi criado por um alemão bruxo no mínimo.

Dissera que o pai era um necromante já mais velho, era bem possível que fosse da mesma região que Gellert, idade parecida e, agora apenas teorizando, até um antigo colega de escola na Durmstrang. Amigos tendem a usar os mesmos termos que o outro.

Estranho que fosse assim, uma vez que o inglês daquele homem tinha um sotaque britânico perfeito. Talvez a mãe fosse germânica e o pai britânico? Ou vice-versa. Tinha o que chamavam de "beleza britânica" no corpo, em sua estatura e modos de agir, mas a cor dos olhos e cabelos era bem mais associada aos germânicos. Sua animosidade e a forma como olhava enojado para Albus parecia outra pista. Seria "Heris" herdeiro de uma das famílias apoiadoras de Gellert?

Aos poucos juntava possíveis pistas.

- Minha vó nem queria te dar a chance, Dumbledore – o nome foi dito com tanto nojo que o mais velho considerou aquilo quase uma confirmação de sua suspeita. – Como você mesmo lembrou, mas eu esperava mais do que simplesmente nos dizer que "tem suas motivações" e que envolvem o bem maior da sociedade. Acho que essa escola dá muito poder nas mãos de uma pessoa só e de uma péssima pessoa. Mesmo o conselho de pais que poderia ajudar não parece suficientemente presente. São acionados por conta própria, não por parte da escola e do pedido dos alunos, algum lorde que deve convocar e nem sempre eles possuem alguém de dentro da escola para dar um relatório digno evitando problemas como aconteceu nessa situação. Mcgonagall foi capaz de denunciar um caso, mas em tantos outros as votações foram partidárias.

"Retirar Dumbledore no segundo ano de Neville foi uma decisão tola e estou admitindo mesmo querendo vê-lo atrás de grades, então fica claro que tudo aqui está um caos. A falta de evolução educacional e social dessa instituição é deprimente, não há um projeto ou aula que reflita uma real mudança de visão para com os alunos e a sociedade, isto depois é refletido no sistema político de seu país. Por essas e outras afastei Harrison. Então no maldito primeiro ano que lhes dou o benefício da dúvida, deixo que venha, voto a favor da fusão das aulas, acreditando que pode lhe ser de valor estar mais próximo da cultura do país de seus pais... vejam só no que deu!

- Mesmo com o mundo todo observando, um campeonato internacional e de importância ímpar, seu país não foi capaz de impedir: primeiro um ataque de um bando de bêbados mascarados de uma maldita seita excludente e racista, calma - pediu levantando a mão quando os dois bruxos tentaram interrompê-lo. - Sei que não os envolve, mas envolve seu governo. Que também fazia parte da administração desse evento bem aqui, o torneio tribruxo. Então segundo, eles "sabiamente" – fez aspas com as mãos e revirou os olhos debochando descaradamente. – Colocaram o senhor Albus Dumbledore como responsável por proteger o artigo que deixaria em risco a vida de qualquer aluno envolvido e escolhido, mas ele mais uma vez foi incapaz de impedir alunos que não deviam, serem jogados em situações de perigo mortal e meu querido Harrison que teve de ser enfiado em sua merda astronômica desse velho estúpido de mente débil e falida!

Albus e Minerva ficaram mais uma vez surpresos com o uso chulo de palavras, afinal o homem a frente agia praticamente como um lorde, em postura, vestes, mas de repente falava daquela forma.

E ele não tinha acabado:

- O "senhor" – enfatizou a palavra, com escárnio. – É tão incapaz de manter sua escola e seus alunos protegidos que isso aconteceu com Harrison, mas poderia ter acontecido com todos! Neville poderia ter sido enfiado em algo assim considerando seu histórico! Não me surpreenda que Voldemort ou um maldito comensal esteja aqui esse ano, de novo e tenha colocado seu nome na maldita taça e faria o mesmo com o senhor Longbottom se não tivesse achado "o menino que sobreviveu" um sacrifício melhor!

Lakroff começou a tossir e sua tosse engasgou de mal jeito na garganta e lhe deu uma crise de soluço.

Que por sua vez fez ele e Augusta terem ainda mais dificuldade em controlar o riso.

Mas não teve o que fazer! Pobre lorde Mitrica, o comentário certeiro de seu filho era simplesmente impagável. Nem havia contado a Heris sobre aquilo! Se o garoto não fosse completamente trouxa diria que os genes adivinhos Grindelwald estavam em dia.

- Devo estar me repetindo – o loiro continuava. -, mas é a indignação me impossibilitando de seguir adiante sem deixar claro: Neville teve que usar uma espada para apunhalar uma criatura que Harrison foi capaz de identificar por cartas, enquanto o senhor aqui e com todos os seus anos de experiência não. Me recuso a acreditar que as pessoas continuem o exaltando como um tipo de profeta da luz, enquanto comete esse tipo de erro e acredita que dando pontos no fim do ano para dar a vitória à casa de Neville é o bastante, incentivando ainda mais uma competição separatista e de rivalidade tóxica na sua escola, que só torna seus alunos adultos incapazes de cooperar como sociedade, mas sim como grupos sociais odiosos entre si que tentam derrubar uns aos outros e tirar vantagem do sistema para manter as coisas como estão. Prejudicando os bruxos como um todo!

Minerva baixou a cabeça, cerrando os punhos.

Aquilo tudo... não só eram as mesmas coisas que Aberforth havia lhe dito, os mesmos problemas em como Albus controlava a escola, como outras questões que... Não vira. Erros que pareciam gritar para as outras pessoas, todavia ela ficou cega. Albus era constantemente chamado de senil por jornais ou mesmo alguns pais e Minerva justificava que eram pessoas más e tolas, que não viam o esforço do homem.

Entretanto ele estava se esforçando de verdade?

Claro, Minerva sempre tentou ser justa porque concordava que a divisão de casas muitas vezes ia longe demais, mas o problema realmente ia tão mais longe? Dizer que era exagero era se contradizer uma vez que passou a vida acreditando que a educação era a base da sociedade. Cabia a eles então ter feito melhor ao moldar essa base, antes de esperar que mudassem as leis ou não fosse injustos em suas próprias propostas, só que ela mesma não estava fazendo mais do que o que era confortável ao não lutar mais para convencer seus alunos mais difíceis a ver as coisas com mais clareza e menos preconceito?

Como ela poderia fazer isso, entretanto, se não foi capaz do mesmo? Ensinar, sem saber. Assumia que os filhos seriam tão ruins quanto os pais e apenas exigia o mínimo de respeito na escola, não mudança. Depois os julgava quando cresciam e se tornavam políticos ruins. Ela nem tentou ensinar? Deixou que o próprio tempo estudando no meio da separação entre casas a impedisse de ser neutra onde mais devia, pois nunca duvidou ser capaz de ensinar o que era justo e certo para seus grifinórios. Como podia ser uma professora tão ruim? Como podia se enganar por tanto tempo se julgando igualitária?

- Nós somos uma escola, não uma doutrina – disse Dumbledore com leveza. – Não mudamos as pessoas, não é nossa função tirar delas o que são, mas ensinar como o mundo é para que possam tomar as escolhas de como se encaixar nele e em suas regras. Mostramos os caminhos certos e dizemos quais os errados, mas cabe a eles tomar suas decisões e se discordam até mesmo lutar contra essas mesmas leis que foram ensinadas, mas aí não fomos nós. Apenas a conclusão que tiraram de nossas palavras. Não pode nos julgar enquanto escola por como o estado britânico se encontra, pois seguimos suas leis. Nos levantar contra é ensinar uma doutrina contrária ao estado vigente, se discordamos temos de guardar para nós e os alunos que podem criar um mundo novo ao qual obedientemente ensinaremos a entender, mas sem abandonar o senso crítico.

- Mesmo? Disse o chefe do Wizengamot e diretor de uma escola. Sua carreira é contraditória por si só seguindo suas palavras. Política faz parte de tudo que nos cerca, não há como separar da forma que está colocando. Não só isso, você trabalha para escolher o que as pessoas podem ou deixam de poder, as leis vigentes do país e depois diz que é forçado a obedecê-las em silêncio e forçar seus alunos a mesma coisa? Isso também é doutrina. Então que eles devem questionar isso sozinhos? Sua escolha é não ensinar e depender de poucos rebeldes? Por isso seu estado está cheio de ovelhas obedientes e sem opinião própria! Está fazendo de propósito!

- Não foi o que eu disse...

- Você só está escolhendo o que você pensa que é mais brando e prejudicando o mundo. Ou pior, fazendo de propósito para controlar todos da forma que você acha que o país tinha que ser. Está justamente interferindo nas ideias do povo enquanto crianças, depois nas escolhas enquanto adultos!

- Não vou me defender disso – dispensou.

- Não há defesa!

- Não, apenas fica claro que o senhor distorcerá qualquer coisa que eu disser.

- O grande sábio que não consegue entrar em um simples debate – debochou o jovem.

- Eu jamais desejaria forçar as pessoas a escolherem os caminhos que eu desejo. Minha função é organizar votações, pensar nas leis que vêm até mim na sociedade e levar a público projetos, é escolher o que parece favorecer melhor o maior número de pessoas, pois isso é ser democrático, mas apenas para levar até a câmara. Entretanto qualquer outro pode fazer o mesmo, eu apenas facilito o processo. Eu não implemento lei alguma sozinho, a maioria da câmara aprovar ou do conselho de pais deve aceitar depois.

- Todos alunos seu, ensinados por você a não questionar tomadas de decisão?

Albus se irritou. Todos perceberam, mas Minerva e Augusta foram as que de repente se aproximaram dele, prontas para impedir. O homem percebeu, entretanto, que estava de novo se deixando estressar por provocações e apenas respondeu:

- Canso-me de aguentar que me julguem pelo que, se eu fizesse o contrário, se colocasse uma mão de aço e forçasse todos a ser como desejo e apoio, estaria doutrinando! Eu tento equilibrar o que acho certo com a liberdade do indivíduo.

- Acho que sua noção de equilíbrio está quebrada, afinal você achou prudente dar liberdade para a família de Harrison Potter ao ponto que tentassem matá-lo e depois ainda jogá-lo num orfanato onde qualquer comensal poderia ter achado que não alguém como eu, que aceitou cuidar.

- Matá-lo?! - sussurrou Minerva assustada.

- Bem... – Comentou Albus. – Vejo que nunca chegaremos a nenhum lugar. Augusta, ficarei mais do que à disposição se quiser voltar a conversar, ou mesmo se quiser continuar aqui. Ao senhor Heris... Se é uma opinião formada que tem de mim, não há muito que eu possa fazer em um diálogo.

O Mitrica segurou o impulso de voar no pescoço daquele insuportável que se fingia de superior. Também por causa da fúria que o atingiu a como Albus sequer piscou com a última afirmação.

- Claro que é. Como eu poderia mudá-la? Como poderia ser diferente? Eu encontrei Harrison eu um maldito orfanato! Vi os relatórios de quando seu governo começou a procurá-lo, anos depois do que deviam! As alegações de que a casa de sua família tinham as melhores proteções possíveis, que usavam até magia de linhagem, mas isso nunca funcionaria no meio de um bando de desconhecidos que podia se ferir no fogo cruzado se um comensal fosse atrás de Harrison!

- Infelizmente essa é uma mancha no meu passado. Como disse, tudo que eu queria é que Harry pudesse ter uma vida normal e-

- É HARRISON! – interrompeu mais uma vez, porém agora ele gritou.

Furioso.

Augusta chegou a se encolher com o som.

Nunca ouviu aquele garoto falar tão alto e parecendo tão alterado. Se antes já estava notando uma acidez incomum, agora este tom. Mesmo quando Heris "brigava" com os irmãos, um olhar tendia a bastar e apenas se dava ao trabalho de uma conversa longa quando achava muito necessário. Da mesma forma, o som de sua voz permanecia calmo e tinha o objetivo de troca de conhecimento. Não necessariamente uma bronca.

Talvez ele fosse diferente trabalhando, mas naquele momento na sala de Dumbledore, Augusta assistia uma faceta totalmente desconhecida que a fazia entender como alguém tão jovem podia se colocar de frente para a indústria das armas (que sempre imaginou que não seria fácil, mesmo com dinheiro e inteligência), mas principalmente: como fez Lakroff de certa forma se submeter.

Quem sabe... Albus Dumbledore sequer era um desafio em comparação?

- Você não tem o direito de chamá-lo de outra forma! Não quando ele TEVE que ser rebatizado, porque SIM teve que sobreviver a ataques na própria casa que você poderia ter evitado! Porque precisou ser ADOTADO e estar em OUTRA FAMÍLIA para aprender o que era o mínimo de afeto!

- Eu não-

- Você era o guardião-mágico dele! Você tinha que ter o vigiado, mas não o fez! Tinha que ter protegido, mas não fez! Interferido, mas não o fez! Era seu dever, sua responsabilidade quando escolheu onde ele moraria e o tirou de bruxos que poderiam protegê-lo, dando-o a trouxas com apenas um aborto para vigiar na casa ao lado, mas tão velha que foi incapaz de ouvir os gritos de socorro dele sempre que era espancado por usar magia! – Minerva soltou um gritinho horrorizado ao cobrir a boca. – Ou que te contou como ele estava absurdamente magro e sempre cheio de ferimentos, mas VOCÊ escolheu não fazer nada! Quando Sirius Black, o padrinho de Harrison, um bruxo capacitado e escolhido a dedo pelos Potter para cuidar do filho precisou de julgamento, você tinha que ter interferido, mas não fez! Mesmo que ele tivesse sido o primeiro a chegar na casa naquela noite, que tenha pego Harrison no colo e não feito nada! Uma pista grande o bastante! Ele deu o menino a Hagrid porque VOCÊ ordenou! Alguém que tinha o poder, a influência, fragilizados pela guerra ou não, para ajudar a provar que ele não era culpado como ele SABIA que seria se não conseguisse achar Pedro. O mundo confiava e se apoiava em você, mas não o fez! Não se moveu por ele!

- James me disse que Sirius seria o guardião do segredo. Eu não posso ser culpado por isso. O próprio Sirius disse que matou os amigos quando foi preso e eu achei...

- Daí você ignorou as pistas? Engraçado, sempre que escuto sobre James só penso o quão inteligente era e como as pessoas não percebiam isso. Genial da parte dele não confiar em você seus segredos. Parece ser pior do que confiar no próprio rato.

Albus arregalou os olhos e, naquele momento, se levantou. Heris soube que atingiu um ponto delicado.

A sua lealdade Grifinória.

Sentiu-se agradavelmente feliz em ver a máscara de velhinho caindo. Nem viu Long se pondo em guarda para proteger seu mestre, ou Augusta segurando sua varinha por baixo da mesa.

- Como ousa?! – reclamou Albus. – Você ainda é tutor de Harrison e diz algo assim!

Augusta retirou o cigarro dos lábios e fez um sinal para Long, que lhe deu um cinzeiro onde o apagou, mas sem tirar por um segundo sua atenção de Albus.

- Não vejo problema na minha afirmação - o loiro continuou a provocar.

- Eu nunca teria entregado James Potter, lutaria com minha vida por aquele garoto, fui tão leal a ele quanto ele foi a mim!

- Mesmo? Pois para mim você o entregou.

- Como é?!

- Albus – chamou Minerva alarmada.

- Você entregou quando o colocou na guerra.

- Eu coloquei? Do que-

- Você não se importa. Não o bastante. Usar crianças que mal saíram da escola para lutar contra Voldemort e ganhar uma guerra não é lutar pela vida delas como lutaram pela sua. Pois elas mal tiveram uma vida para entender o porque estavam lutando. Você se importava com o "bem de todos" mas de cada criança que convenceu a te seguir não importava se morressem como heróis.

- Não é assim. Sacrifícios devem ser feitos em uma guerra, alguém tem que se erguer para lutar.

- Daí você transformou sua escola em um campo de recrutamento?

- Voldemort estava fazendo o mesmo. Levando meus alunos, eu estava tentando salvar aqueles que ainda podiam...

- Que ridículo! Mas... – sorriu. – Ao menos admitiu que é capaz de ser tão baixo quanto o pior dos homens.

- Eu não-

- A verdade é que você se importava em mandá-los para a morte, como não se importava em ver seus alunos do outro lado. Se tornando comensais e não fazendo nada para ajudá-los! Eram números para você. Você se importava em mandar seus alunos matarem seus próprios colegas de escola em batalha e o peso na consciência que isso causaria para sempre porque VOCÊ não tem esse peso!

- Eu não podia fazer nada! Não podia forçar os alunos a escolher um caminho. Ou impedir que lutassem pelo que acreditavam! Eu só os guiei, tentei ensiná-los para que não se ferissem no processo, mas lutassem pelo que era certo! Se eu digo para lutarem pelo que acreditam estou errado, mas se prefiro dizer para aceitarem o mundo como é sou pior? Você só me quer como vilão.

- É aí que está uma parte interessante. O problema nem é só você, mas todo o seu país. O cerne da questão é que: quem forma as mentes do seu país é justamente você e sua escola. Então há alguém no centro desse mal e sempre temos que começar por algum lugar, não?

- Eu não tenho poder para mudar alguém que já vem formado de casa com pensamentos preconceituosos ou pré determinados. Eu faço meu máximo para atingir ao menos um aluno.

- Você se contenta com um aluno.

- E o senhor não sabe como é difícil educar! Cuidar de centenas de crianças!

- Eu sei! Como pode ser difícil! Sei o que precisa ser feito. Aparentemente até mais do você - a última parte foi sussurrada e Augusta sentiu o peso daquelas palavras.

Sentiu a lembrança em Heris, sempre tão calado e objetivo, mas que tanto falou desde que chegou.

Um menino que foi forçado a crescer rápido demais, ameaçado para trabalhar com o que não devia, andando com uma corda no pescoço e que ao invés de deixar que isso apenas o destruísse, fez o possível para ajudar todas as outras crianças. Os proteger, guiar, mesmo quando fez amizade com "Hadrian Blake", o monstro estranho, sempre sendo de confiança para todas as outras crianças que o procuravam nos problemas, acreditavam que ele impediria o demônio de machucá-las. Alguém que mesmo chegando exausto do trabalho na fábrica ou outras coisas que não queria ter que fazer, ainda reparava no que as crianças podiam precisar e dava um jeito de comprar (com Alice geralmente) para que elas não sentissem necessidade de trabalhar demasiado cedo.

E acabar como ele.

Ele nunca se contentou em salvar uma criança. Em ajudar apenas uma. Sempre se preocupou em como podia melhorar aquela vida para cada uma, como fazer que todas fossem adotadas e fugissem de lá, ou como foram parar lá.

Só agora Augusta percebeu, não era só uma questão de Heris se importar com Harrison, mas toda a raiva que ele sentia por alguém que tinha de cuidar de um órfão e não o fez. Tal qual os donos do orfanato em que ele estava.

- Você usa seus próprios alunos como ferramentas. Olha aqueles que podem ser úteis, guia esses e descarta todos que não vão ser.

- Isso nunca! – reclamou Albus.

- Sirius, James, Remus! Um foi preso, outro morto e o último envenenado por um ano inteiro e depois descartado!

- Eu fiz o que pude para proteger James, Remus eu faria o mesmo, sempre fiz! Mas ele quis ir embora!

- Você o envenenou!

- Eu não tinha escolha!

- Você não pensou em outra escolha! É diferente! Durmstrang nunca precisou dar um mata lobo para seu lobisomem! E James?! Pelo amor de todos os bruxos das trevas, se aquilo foi seu melhor para protegê-lo, não me surpreende o descaso que teve com Harrison! Você usou os Potter enquanto eram úteis e dispensou quando deixou de lhe servi.r – acrescentou daquela forma apenas para provocar.

Funcionou.

As bochechas do velho à sua frente coraram.

- Eu nunca...

- Não se incomode então com minhas acusações. Irrita-se em quem a carapuça serve. E veja só.

- Queria saber de onde tirou tal absurdo – murmurou se inclinando na direção do homem.

Heris fez o mesmo, olhos estreitos:

- Em cada cicatriz que tive que passar anos tentando amenizar em Harrison!

- Cicatriz? – questionou Minerva, mas Heris não parou.

- O garoto que te servia enquanto "o menino da profecia", mas quando Voldemort caiu foi dispensado. James foi dispensado depois de tê-lo, afinal você nem tentou protegê-lo.

- Já disse que tentei! Fiz meu máximo! E não há um dia que eu não sinta falta e pense... me arrependa e me odeie por não ter pensado em mais soluções para salvá-los! Ter impedido!

- Eu não acredito em você.

- Como pode?

- O seu máximo é um feitiço Fidélis e pegar a capa da invisibilidade que ele tinha e que podia servir como rota de fuga na mesma época que sabia que estavam sendo caçados? Impressionante! O maior bruxo desde Merlin, pessoal!

Long estava tentando dividir a atenção agora entre seu mestre e o diretor de Hogwarts, obviamente confuso sobre qual talvez teria de ser parado primeiro.

- Eu me importava com James, como me importava com um filho. Todos se importavam! Ele era uma das pessoas mais louváveis e corajosas que já conheci em minha vida e conheci muitos heróis. Seria capaz de tudo por quem ama, nunca recuava diante de um desafio e tinha suas motivações muito claras. Uma força tão intensa quanto a luz de uma estrela mãe. As pessoas orbitavam à sua volta. Me importava tanto quanto com cada um de meus alunos. Chorei a partida de cada um para aquela guerra terrível que farei de tudo para que ninguém tenha que viver de novo e-

- Aí estamos! "Farei de tudo" até mesmo ler a mente de uma criança com artes das trevas. Até mesmo abandonar "Harry Potter" sem olhar para trás!

- Eu não sou perfeito! Não sou um Deus, muito menos um santo! Eu falho, mas tudo que quero é que as pessoas fiquem bem. Me dói e se torna a cada nova guerra mais difícil ver todos morrendo e sentir que pode ser culpa minha, mas não sou o único que se culpa em uma situação dessas. Não tenho todas as respostas e sinto muito se Remus se sentiu prejudicado pelo mata-lobo, mas eu quis ajudá-lo e se ele quiser, estou aqui para me redimir. Quando fui o único a oferecer uma escola para um lobisomem...

- Um! De novo! Um único! Ao invés de tentar conscientizar seus alunos, continuava com um material que o tratava como monstro até quando ele estava aprendendo. Não mudou as leis, não fez projetos de inclusão. Você quer um, eu quero o que você se propôs: um político, que salve a maioria. Que pense pelo coletivo!

- Não é tão simples.

- Nisso eu concordo – suspirou. – Não é simples. Só que se você não se acha capaz, não se coloque no lugar de alguém que poderia ser.

- E quem o faria? Grindelwald? Voldemort? Eu tive que me colocar contra eles.

Pela primeira vez, Heris não teve uma resposta na ponta da língua.

Ou melhor, ele tinha, mas não deu.

Todos assistiram como ele ficou em silêncio, inclinou a cabeça e sorriu.

Ficou lá, com um sorriso sutil e os olhos brilhando, cheio de significado, mas tudo que disse foi:

- Claro. Quanto a isso não posso discordar - e cada sílaba foi tão profunda, sua voz tão mais grave do que vinha sendo até então, intensa...

Que ficou claro que não havia verdade ali.

- O que você-

- Você diz sobre se redimir com Remus...

- Sim. Com os vivos sempre há redenção se as pessoas dão uma chance a isto. Posso fazer o que for possível para tentar acertar e não cometer a mesma falha de novo. Aprender.

- Apenas se redime aquele que admite ter falhado.

- Eu admiti.

- E Neville? Admitiria por ele? Por Harrison? Em um tribunal? Onde as leis te fariam ter consequências e ensinariam que ninguém está acima delas?

- Eu também falhei com Harrison – fez questão de dar ênfase ao nome. – Não nego! Jamais, ainda mais se ele se feriu.

- Só que não há redenção, não depois de tudo.

- Como poderei saber sem tentar? Ou como poderei tentar sem saber a que preciso me redimir? Eu apenas queria lhe dar espaço. Uma vida.

- Ele NUNCA poderia ser normal! Não depois de presenciar a morte dos pais, não depois de ser órfão, não quando uma guerra esteve em suas costas. Ele tinha que ter sido criado com cuidado, vigilância, terapia, amor.

- Ele era muito novo para-

- Se lembrar? Sentir a falta dos pais? Sentir dor onde foi atingido por uma maldição da morte? Para ter pesadelos com o grito da mãe por alguns meses até a memória de bebê apagar isso, mas não antes de deixar uma sequela? Você é professor a quantos anos mesmo? O que eu disse sobre a experiência. Depois de tanto tempo ao lado de crianças ainda não aprendeu como o passado, mesmo aquilo que não lembram, afeta sua cabeça e forma de agir? A verdade é que você não se importava com ele.

- Claro que eu me importava.

Heris cruzou os braços e suspirou:

- O mais nojento é que enquanto sua professora verdadeiramente se preocupa com Harrison e tudo que eu disse, você está mais preocupado em se livrar de qualquer acusação.

- E novamente você distorce o que eu digo. Então apenas vou me explicar para a mesma colega que usou em suas palavras. Minerva sabe o quanto eu me importava com Harrison. Ele não era muito novo para lembrar, talvez e ao que você deu a entender, mas era para justamente ter o peso da guerra que o senhor lembrou nas costas. Eu me importava com ele e a memória de seus pais o bastante para só desejar que ele ficasse longe desse mundo horrível que lhe tirou James, Lily, seu padrinho, tudo. Que poderia lhe tirar uma infância normal.

- Era o mundo dele.

- Não precisava ser. Não por dez anos. Ele podia ser feliz sem Voldemort, sem nada dessa fama cruel! Você não viu as coisas que -

- Sem amor.

- Os tios me garantiam que cuidavam bem dele, eu lhes dava dinheiro para ajudar e-

- Nunca verificou com os próprios olhos.

- O errado sou eu por acreditar nas pessoas?

- Sim, pois a sua função era averiguar. Não só isso, olhe que interessante, você diz que fez o que fez porque "infelizmente Neville já está com um peso marcado desde que nasceu", mas Harrison que tem o mesmo peso podia ser deixado sozinho a infância toda?

- São casos diferentes.

- Como?

Dumbledore sorriu:

- Quer que eu responda para distorcer isto também, meu jovem.

"Um dia" pensou Heris "Gostaria de escrever jovem numa pedra e fazê-lo engolir".

- Então você simplesmente não tem mais o direito de querer estar na vida dele e eu não preciso me explicar, já que minhas atitudes são distorcidas por minhas escolhas na magia. O que importa é que eu estive lá quando ele precisou.

- Eu não podia mudar o passado. Quando tudo saiu... eu só tive a aceitar, mas não houve um dia que não pensasse como falhei com Harrison e com os Potter. Só que como saberíamos o que aconteceria nesse caso? Como a minha presença poderia prejudicá-lo? Se Harrison não morreria por que um dia fui seguido...

- Alguns destinos são piores que a morte. Algumas fogueiras são piores.

Albus não sabia de onde era aquele ditado. "Algumas fogueiras..." pesquisaria depois. Podia ser outra pista.

Augusta cobriu o rosto agoniada demais. Sempre que se lembrava daquilo... De quando queimaram Harry por ser um bruxo. Ficava entre vomitar, desmaiar ou chorar.

- Neville ficou tão transtornado quando lhe disse que já fui o guardião mágico de Harrison, que eu soube que tinha algo errado em seu olhar, em seus gestos, ele me culpava por algo e eu quis descobrir...

- Negligência – explicou Heris.

- Quis saber o que poderia ter acontecido. Entender este pecado. Ter as respostas que faltavam. Descobrir as cores dessa mancha no meu passado e Neville entendeu-

- Você está culpando a vítima?

- Claro que não. Estou dizendo que me expliquei para Neville, ele não é... Eu pedi por seu perdão. Sou apenas um velho humano. Falho como qualquer outro.

- Isso não é falha, é cri-me - falou separando as sílabas.

- Eu precisava de respostas – suspirou Albus. – Mas claramente não há o que eu diga que faça o senhor entender. É muito jovem. Talvez nunca tenha visto os terrores da guerra e fico muito feliz por isso. Não desejo nem a meu pior inimigo e eu passei por duas.

"Você não tem ideia pelo que eu passei" pensou Heris cerrando os dentes.

- Depois de falhar tanto com James, com Lilian, eu tinha que descobrir onde Harrison estava e com Voldemort batendo na porta, colocando seu nome no cálice.

"Então por que não cancelou a competição?" pensou Minerva, com uma dor aguda no peito.

- Certo! Mas quando o homem que matou os Potter esteve debaixo desse seu nariz por todos esses anos, você nunca fez nada! Tal qual Voldemort no pescoço do professor, o rato podia ter machucado os Weasley ou mesmo Neville! Pedro esteve nessa escola por anos! Mais de uma década! Vocês sequer verificam se algum aluno trouxe um animal com alguma doença? Uma simples varredura?! Vocês são bruxos ou não são?! É ridículo da minha parte pensar que isto poderia ser feito? Então qualquer animago pode invadir os terrenos da escola, matar um aluno e não há nada a ser feito?

- Ninguém pode invadir as proteções depois que foram lançadas. Sirius Black tinha acesso a uma passagem secreta e...

- Ela foi fechada? - interrompeu.

- Como?

- A passagem foi fechada depois disso tudo? Quer dizer, outros poderiam ter acesso. Qualquer uma foi? Isso é um maldito castelo medieval! Na época que foi feito, o que não faltavam eram passagens para fuga em casos de ataque inimigo. Você fechou alguma? Me garante que sabe de todas? Se sabia, porque a deixou aberta para Black passar?

- Eu não tinha conhecimento de que Black sabia dela.

- O ditado trouxa "melhor prevenir do que remediar" você nunca aprendeu, não é? Sei que é um mestiço, então eu esperava que sim, mas já que não foi o caso deixe-me explicar: você não espera a merda para fazer algo, você faz antes que alguém se machuque! Se VOCÊ sabia, devia ter fechado, não importa que tivesse certeza absoluta que mais ninguém a usasse. Se estava lá, no mínimo poderia colocar uma armadilha! Você simplesmente não pensa nas coisas! Por isso esse lugar está um caos!

- Eu me esforço ao máximo para manter Hogwarts-

- Isso não é esforço, você se prende ao mínimo!

- Não ouse dizer isso, eu luto a mais anos do que você deve ter de vida por essa sociedade e escola.

- Experiência não é sinônimo de qualidade – observava Heris. - E mesmo com quase um século disso não aprendeu ainda a fazer o próprio trabalho?!

- É muito fácil julgar sem estar no meu lugar, ter que tomar as escolhas que tomo.

- Que escolhas? Você é incapaz de achar um professor decente que aguente mais de um ano letivo no cargo e vem atrapalhando a educação mágica do seu país a anos com isso!

- É um cargo amaldiçoado.

- Então você é incapaz de dispersar uma maldição? Pior: seus professores de DEFESA CONTRA artes das trevas são incapazes disso e você os achou adequados?

- É muito mais complexo que isso. A maldição foi colocado pelo próprio Voldemort-

- Como essa escola ainda está de pé é um mistério para mim que supera os maiores encontrados pela humanidade! – exclamou abrindo os braços. – Sei que a ideia de machucar alunos não parece ser um problema para você-

- EU NUNCA quis que um aluno se ferisse!

- Então não VIOLE a mente de um!

- Eu não tive a intenção!

- Você admitiu que era por um motivo! Que não se arrepende!

- Eu não vi que estava fazendo até já ter-

Um estrondo cortou a sala.

Tão alto como se um raio tivesse caído ali dentro, junto de sua luz cegante, foi alto o bastante para afastar todos do seu foco, fazer os objetos tremerem e até alguns vidros chiaram perigosamente. 

Um momento intenso o bastante para que a magia de cada um ali se agitasse e não notassem a magia élfica. Long foi muito efetivo em usar o máximo que conseguiu de sua magia para conter as janelas de explodirem ou a porta de madeira de se arrebentar. Fez o que podia para conter a explosão e seus efeitos.

Pareceu, para àqueles na sala que não sabiam o real motivo daqui que nada mais era além da boa e velha mãe natureza.

- Parece que vai chover – comentou Albus, muito feliz pelo raio e por um dos para-raios da escola estar justamente em sua torre.

Mas era estranho. 

A energia de um raio era absurdamente intensa, não havia o que dizer sobre isso e a magia de proteção da torre conseguia contê-los praticamente todas as vezes, mas aquele pareceu um pouco diferente... Forte além da conta.

A essência que deixou para trás era...

- Bem, vou aproveitar a deixa – Heris resmungou, compreendendo o que podia ter acontecido tentando chamar qualquer atenção para si. Principalmente de Albus – Com licença, acho que vou aproveitar e fazer um feitiço para identificar assinaturas mágicas aqui mesmo, afinal pode ter um animago nessa sala debaixo do seu nariz torto e se dependermos da sua percepção, diretor, estamos condenados a revelar ao mundo o nível de sua tolice, negligência e mau-caratismo! Que lástima seria!

Dumbledore, por sorte (ou capacidade de Heris), realmente irritou-se e olhou furioso para o homem que apenas riu satisfeito. 

Augusta se enchia de felicidade pelo apoio e pela coragem do garoto, afinal eram características que valorizava muito. Mas ainda estava com a varinha pronta para atacar Albus se ele tentasse fazer algo com o neto, que mesmo ousado ao ponto de enfrentar de frente um dos maiores bruxos da história, ainda era um trouxa que não poderia se defender de verdade.

Será que estaria fazendo de propósito?

O que os Grindelwald não fariam com Albus num tribunal se ele atacasse um trouxa? Quantos apoiadores ele perderia e quantas famílias das trevas não se deliciariam com a oportunidade de destruir Albus Dumbledore em "seu próprio jogo"? Um trouxa que estava apenas defendendo um parente? A Longbottom não sabia, mas com aquela família você sempre ficava na dúvida entre duas possibilidades:

Ou estavam fazendo de propósito para manipular as pessoas e o mundo até que estivessem na palma de sua mão.

Ou estavam irritados demais para avaliar, então foram movidos pela autoconfiança e ousadia absurda de uma mariposa, de um chacal.

De um dragão!

Enquanto isso, as outras pessoas também se encontravam cada um em seus pensamentos.

Minerva ficava a cada instante mais indignada. Seus instintos eram de defender sua escola, não apenas por ela, mas todos que se dedicavam por Hogwarts, defender seu ministério, que era falho, mas ainda era um dos mais antigos e fortes, até mesmo defender seu amigo. Albus já fizera tanto pelo mundo mágico!

Bem...

Um dia ele o fez. Minerva presenciou isso. Por anos de sua vida assistiu de perto sua capacidade e sua luta pelo que achava certo. Foi um ótimo diretor por décadas, um líder a maior parte do tempo, cheio de honra e coragem, isso poucos ou nenhum duvidava. Os grandes feitos de seu passado.

O problema era: e dos últimos anos para cá?

E os feitos do presente?

Mantinham justo o louvor da lenda ou... questionavam o título?

Será que não estava se prendendo demais a uma imagem do passado, ao reflexo de quem seu amigo já foi, para justificar erros muito gritantes no presente?

Já andava muito em dúvida, insegura, pensativa e questionadora, ter agora outra pessoa falando aquilo, ter Augusta Longbottom acenando com a cabeça em concordância. Normalmente teria forças para defender tudo aquilo que ele era leal.

Hoje não.

Sua convicção abalada demais para que fizesse qualquer coisa.

Alheio a tudo isto, Albus estava apenas a cada instante mais certo que o homem com quem conversava era sim um apoiador de Grindelwald. Falava consigo tal qual os comensais de Tom, a mesma raiva no olhar, o tom de voz convencido, cabeça erguida em superioridade. Nojo. Queria apenas uma confirmação maior porque aquilo era um sinal péssimo. Harry Potter criado por um bruxo das trevas já era ruim, mas um fanático do exército de Gellert?

Mesmo com Neville seria difícil fazer o garoto perceber as falha do lado que estava seguindo nessa guerra, mas Augusta ainda estava dificultando para o seu lado! Precisava do apoio dos Longbottom, era o melhor que tinha para alcançar Potter. E Sirius...

"Inferno sangrento" irritou-se, suspirando e encarando Lakroff.

O menino que sobreviveu tinha sido criado por apoiadores de Gellert, estudava na Durmstrang e o chefe de sua casa era o maldito filho Grindelwald! Ele...

- Você fez?! – indignou-se.

- Como? – Heris perguntou confuso.

- Um feitiço de leitura de assinatura mágica. Eu consigo sentir quando fazem feitiços na minha sala, mesmo com o raio – reclamou Albus.

- Eu cumpro com o que digo. Diferente de alguns que, de certo, fizeram algum tipo de juramento para respeitar, honrar, prezar, zelar e obedecer as leis vigentes ao ser nomeado chefe da câmara do governo, mas viola a mente de um aluno com magia sombria - Heris sorriu sínico, depois se virou para o pai. - Os diretores, imagino, também devem ter algum tipo de código de honra para prezar pelos alunos, não?

Lakroff apenas sorriu concordando.

Seu filho tinha percebido que fora ele a fazer o feitiço. É que o mais velho decidiu aproveitar a chance que teve com a fala (e outro chute absurdamente certeiro de Heris), para achar Rita. A velocidade que o garoto entrou no jogo em sua capacidade de entendimento das situações, foi uma vantagem que podia até ser impressionante, se desde que o conhecia não fosse assim (ossos do ofício da máfia, imaginava).

Ao menos o lorde da família pôde confirmar que a besoura Rita se aproveitou em algum momento para fugir da sala, provavelmente antes que fosse capturada de novo. O platinado sabia que a enxerida havia ficado um tempo ainda depois que seu pote foi quebrado, mas naquela sala não estava mais, nem a uns quinze metros de área ao menos.

De certa forma era uma pena, já que Lakroff bem que queria ter tido uma conversinha com ela, para ter certeza de que não ouvira demais.

Principalmente sobre Neville.

Harrison ficaria totalmente insano se algo relacionado ao amigo sendo violado fosse publicado no jornal, mas podia lidar com isso depois. 

O próprio Harrison, escondido junto com Neville, ambos escutando atrás da porta era mais urgente.

Precisavam acabar ali logo. 

Para que sua magia causasse apenas aquele raio, mais barulhento do que destrutivo ou qualquer coisa do gênero, isto queria dizer que o Potter engoliu muito de sua energia. Ou que já estava tão estressado que "vazou um pouco" ao ouvir a confirmação do que tinha acontecido com o amigo.

De ambas as formas, ele precisava ir para a cama o quanto antes ou qualquer lugar mais seguro onde poderia parar de se conter e acabar pior.

- Bem, acho que é isto. Eu cansei - Heris estalou a língua e virou-se para sua acompanhante. – Vamos vovó?

- Já vão? – o diretor de Hogwarts perguntou simpaticamente.

- Sim. Você, Albus Dumbledore, acha que está certo em tudo que fez. Continue. Essa sociedade continuará ruindo, pessoas morrendo, outra guerra voltará a se formar, um terceiro lorde das trevas se levantará e você usará os alunos que conseguiu colocar debaixo da própria asa como arma - então olhou para o diretor. - Mas não vai incluir Neville nisso. Ele não estará do seu lado. Nunca.

- Eu não pretendia usar Neville...

- Você o chamou aqui porque queria usá-lo para chegar em Harrison! Queria que ele convencesse meu garoto a se afastar das artes das trevas! Que viesse para Hogwarts! Mas saiba que no dia que Harrison Potter estudar em Hogwarts como um aluno dessa escola, nesse dia você terá que sentir medo, porque seus dias como diretor estão contados. No dia que ele morar nesse país, você não terá mais poder político algum!

- Lamento dizer, meu jovem – Heris inspirou fundo com o "meu", ele realmente estava sendo levado à loucura. – Mas dificilmente abandonarei meu povo e a política. Eu só saio quando me tirarem e só me tiram aqueles que eu sei que deverei enfrentar com a minha vida. Aqueles que não querem nada além de poder.

- Não quero seu poder. Quero que você não tenha mais que os outros e possa continuar passando por cima dos outros. Também não quero mais te ouvir. Depois de tanto falhar com James e Lilian precisava saber sobre onde Harrison estava? – O Mitrica questionou cheio de sarcasmo. – Precisava fazer o que fosse preciso? Ler a mente de Neville para saber se eu, o bruxo mal das trevas, não tinha enfeitiçado os Longbottom para esconder algo? Porque eu sei que é uma das coisas que sugeriu e não venha me dizer o contrário! Se não quer que interpretem errado suas palavras, seja claro nelas e não desnecessariamente vago e místico! Não em um debate! Agora é pela memória deles, mas a infância saudável de seu filho não era prioridade, não é?

- Isso é injusto – murmurou se afastando, olhando de canto para Minerva. – Você está fazendo um bando de alegações baseadas em uma raiva de anos a qual nunca me deu a chance de resolver e agora ignora o que tento dizer, mas também o fato de que fiz muito mais do que qualquer guardião mágico faz normalmente.

- Quando o mundo exige o mínimo você não deve se vangloriar por ser apenas um pouco menos merda. Dar pensão, que você tirou do cofre da própria família Potter não é um bônus, é apenas outra falha do seu governo por não acreditar que um órfão merece apoio financeiro. Um herdeiro de uma linhagem por direito, devia receber a educação que sua família iria querer. Você é o líder do estado que ignora isto e como professor de uma escola que possui vários órfãos, já deveria ter notado cada dificuldade e problema que eles têm de passar por serem quem são e lutado para melhorar. Mas você não nota. A falha estrutural não importa, apenas as consequências dela. Um ciclo sem fim. Você já teve duas guerras, dois lordes das trevas com exércitos de pessoas os apoiando. Acha mesmo que só existem tantos loucos no mundo? Ou os loucos são os únicos a ver o que ninguém mais está vendo e se incomodarem.

Albus teve certeza agora.

Aquele não era um simples bruxo das trevas, mas alguém que apoiava o lorde delas.

Não havia o que fazer para convencê-lo, nem gastaria seu tempo tentando.

Mas isso o deixou preocupado com Augusta.

Com Neville.

Os Longbottom eram boas pessoas, mas Neville conseguia ir além. Era uma das pessoas mais puras que já vira. Alguém que possui muito coração e que aponta para as direções certas era raro e precioso. Albus confiaria sua vida aquele garoto no futuro, mas...não em seu julgamento. Sua capacidade para ver o mau.

Era como se houvesse tanta luz dentro de Neville Longbottom que o cegava para a maldade alheia ao máximo e o fazia perdoar demais, muitas vezes. Tinha essa impressão gritante e por isso... 

Dumbledore também se preocupava com Harry Potter.

A situação havia se agravado. Desde o começo vinha suspeitando das coincidências que cercavam os eventos dos últimos meses e Harry Potter, sempre escondido para a própria proteção, mas aparecendo em público após um ataque de comensais em massa. Se era coincidência, Voldemort usaria para atacar e onde estava Voldemort, Neville poderia estar e Harry. Era o destino deles. Dumbledore não queria envolver ambos, mas agora via que era tarde. Havia praticamente um comensal entre eles. O "tutor" os intoxicando com palavras bonitas recheadas de mentira tal qual qualquer bruxo das trevas verdadeiramente convincente.

Ele poderia levar Augusta, Neville, Harry e todos que tinham chance de derrotar o lorde das trevas. Era um perigo.

O maior deles.

Teria que resolver isto. Livrá-los da neblina, mas... se antes pensava que a luz de Neville poderia iluminar o caminho para Potter, agora só restava realmente ter esperança de que fosse verdade, nem que precisasse pegar o amigo pela mão e arrastá-lo a força. O grifinório faria isso, Albus sabia, por um amigo em perigo (e mesmo que contra a sua vontade) arrancaria Harry das garras perigosas, mas sedutoras das trevas. Quando era preciso, Neville sempre ganhava força, atitude e a agressividade de um leão.

Por mais que estivesse arrependido de ler sua mente, agora sabia que ao menos não havia magia controlando o menino ou o impedindo de pensar.

Ficar e lutar por este lado.

Neville, infelizmente, ainda era sua maior chance.

- Albus – chamou Augusta, o fazendo sair por um segundo de suas inseguranças turbulentas e do caos preocupante que via à frente.

- Sim?

- Vou fazer mais algumas perguntas. Da última vez pedi para que respondesse com sim ou não e tive uma resposta vaga. Não a quero mais ou é daqui para o Ministério. Lhe dou o benefício da paciência, se não torrar a minha no pouco que ainda me resta. Terá que fazer como eu quero, para que eu respeite o que já fizemos.

- Se é a forma como quer tratar isso. Eu apenas lamento que tenhamos chegado a este ponto, mas acredito que eventualmente você chegará às respostas corretas. As emoções a estão movendo... tal qual movem bruxos... – e olhou para Heris que levantou uma sobrancelha em desafio. – E humanos de um modo geral desde que surgimos neste mundo – acrescentou, mas todos sabiam o que vinha querendo dizer. Como ser levado por emoções era associado a bruxos das trevas. – Mas que suas emoções não impeçam-na de fazer o certo. Nem de estar com aqueles que sempre a apoiaram e continuarão a fazer.

- Não vou. Isso você pode ter certeza.

Sobre quem ela falava, o que era certo, cabia a interpretação. Mesmo que fosse difícil interpretar qualquer coisa muito além do que o garoto, um maldiito manipulador das trevas, sugeria ao se aproximar dela.

- Você leu a mente de Neville? – perguntou.

- Sabe que é injusto.

- Como haveria?

- Me dar apenas duas opções de resposta – sorriu. – O mundo é bem mais amplo que isto.

Ele não tinha culpa, o feitiço escorregou antes que percebesse. As artes das trevas, Gellert tinha criado um buraco eterno em Albus, por onde sua razão escorria em função da neblina entorpecente da magia obscura. Sussurrando promessas, a facilidade, a realização de seus desejos. Uma mentira linda que lutou a vida toda desde então para ir contra.

- Não quando temos que responder algo simples – negou Augusta. – Seu tempo para justificativas já foi. Para explicações. Agora quero apenas fatos. Sua última chance antes que eu saia daqui pior do que entrei: leu ou não a mente de Neville?

- Sim – respondeu com um aceno.

Augusta fez que sim com a cabeça:

- Você se arrepende?

- Sim.

- Por ter feito ou por ter sido pego?

- Feito.

- Mas acha que fez certo? Faria de novo pelos mesmos motivos?

Ele não respondeu.

Mas Augusta não precisava daquela resposta. Pedindo pela ajuda de Heris, aceitando um braço esticado, ela se levantou e pegou sua bolsa:

- Estamos saindo.

- Mais de uma vez - Albus tentou, uma última vez, antes que fossem até a porta.

Mesmo que preferisse acreditar em sua amiga, ele precisava falar mais alguma coisa, para que guardasse, pois sabia que em algum momento atingiria seu coração enganado no momento, pela voz de um bruxo das trevas, mas esperta o bastante para sair deste controle e apenas torcia para que não fosse tarde demais:

- Minhas ações foram julgadas e entendo, algumas escolhas na minha trajetória longa e dolorosa foram questionáveis e se você acredita, Augusta diz que está é uma dessas, estarei marcando em minha pele e consciência como mais uma coisa que levarei de aprendizado. Veja bem, mesmo na minha idade sempre há espaço para aprender, se arrepender, evoluir, só estagna aquele que morre e ainda estou aqui. Mas nunca fiz nada que não fosse visando o bem das pessoas.

Albus Dumbledore nunca ia direto ao ponto.

Essa era uma de suas marcas registradas, "um de seus charmes". Não dava as respostas logo de cara, não dizia o que estava pensando e você tinha que interpretar. Se queria tirar algo dele, tinha que estar preparado para a derrota, pois não teria mais do que enigmas que teria de remoer por dias a fio. Até fazerem sentido.

Ele alugava um espaço em sua mente, duradouro, onde você sabia que não conseguiria limpar irritado. Augusta conviveu com isso o bastante para saber o esquema.

Por isso não queria lhe dar a chance de falar.

Ele não se justificaria, mesmo que tivesse pedido para que Augusta ficasse para isto. 

O diretor não se explicaria. 

Talvez porque não achasse que ninguém era inteligente o bastante para entender seus planos a longo prazo? Porque ninguém precisava saber como funcionava, pois não conseguiriam acompanhar de toda forma? Ou ainda, porque acreditasse que podiam traí-lo e assim não teriam segredos demais, informações demais para usar contra si?

Houve um tempo, na guerra, onde essas desculpas eram mais que válidas.

Guardar para si para que o maior líder e inteligência não caísse com a tomada dos mais fracos e acabasse atrapalhando toda a ordem.

Não estavam mais em guerra, entretanto.

E mesmo assim, Augusta sabia e confirmou que Albus apenas faria como sempre. Vago, misterioso. Cabe a você entender em algum momento e aceitar que ele sempre soube mais.

Claro, ele mantinha as informações só para si, como não poderia não saber mais?

A própria viúva teria que matar sua raiva para atingir a racionalidade e tentar entendê-lo. O Sábio! 

Ou sairia pisando fundo, ignorando tudo e se reduziria a tantos outros que ignoraram Albus Dumbledore um dia e sofreram as consequências por ignorar os conselhos do maior bruxo da luz da geração.

Só que estava cansada dessa palhaçada.

Cansada de Albus.

E da luz.

- Neville vem comigo, você receberá uma carta depois com minha decisão. Não espere outra visita e não cause mais nenhuma, pois se for preciso que eu o faça, será acompanhada de aurores.

- Augusta, pense bem, tudo que Neville preza e ama está aqui. Não pode privá-lo por um erro meu.

- Você receberá minha carta.

Então foi até a porta e abriu, para se encontrar cara a cara com dois pares de olhos a observando.

Um verde mais intenso que qualquer outro, vivo e belo. Outro castanho esverdeado, ou talvez fosse sim um verde, mas em comparação com a imensidão do outro perdia um pouco a força, mas nem por isso menos belo. Este, ingênuo e preocupado.

Talvez com o próprio amigo ao seu lado, que observava Dumbledore com tanta raiva e escuridão no meio de suas esmeraldas que pareciam brilhar com o sentimento. Junto de uma sutil alteração em sua magia, mas ainda perceptível. Albus soube que aquela missão seria difícil, pois assim como já notara uma vez ao ouvir Harry Potter gritar com alguns de seus colegas, naquele instante ao vê-lo o encarando daquela forma, foi tal qual se estivesse sendo engolido por um vórtice do mais puro vácuo. Onde os sons de nenhum pedido de socorro alcançariam, nenhum calor acariciaria a pele e a vida...

Nenhuma luz sobreviveria.

Era preocupante. Um sinal de que O menino que sobreviveu e possível Escolhido já poderia ter sido levado, por uma força muito superior ao do amigo, de forma que Neville não pudesse fazer algo afim de resgatá-lo... De forma pacífica.

Se ele não o conseguisse, o próprio diretor teria que armar um plano mais incisivo contra Harry e não queria isso. Por Lilian e por James, preferia pensar o melhor de seu filho, mesmo que a magia nele dissesse o contrário.

Mas, também por eles, não deixaria que seu legado, a criança por quem se sacrificaram caísse na tentação e no mal, não importa o que tivesse de fazer.

- Desculpe - Hazz disse, entretanto, como se ele e Albus nunca tivessem tido aquela troca intensa de olhares, focando-se apenas em Augusta e se adiantou em pedir seu perdão. Enquanto Neville tremia ao seu lado por desobedecido uma ordem da avó, alheio ou propositalmente ignorando "o elefante na sala".

Augusta, no fim, havia pedido para que esperassem na saída de Hogwarts, eles não deviam estar ouvindo atrás da porta da sala do diretor apenas porque Harrison viu no mapa do maroto que estavam todos lá e não resistiu a curiosidade, arrastando Neville consigo.

Por mais que não se arrepende-se, o Peverell-Potter sentia que devia dizer aquilo, para mostrar que não desobedeceu apenas por desrespeito.

- Eu que convenci Neville a-

Mas Augusta não quis saber. Nem se lembrava mais da antiga ordem, apenas estava exausta e agitada demais para não aceitar a presença daqueles dois quase como um refresco. Um suspiro de alívio e, indo contra todos os modos que geralmente seguia, puxou bruscamente os netos para um abraço. Tão forte como se sua vida dependesse disso.

- Vamos sair daqui – sussurrou, com uma certeza batendo em seu peito.

Augusta Longbottom se recusava a ser uma bruxa da luz se aquele era o líder de sua causa.

Então, afastando-se apenas para que pudesse observar os olhos de maldição da morte de Harrison, lembrando-se de todas as brincadeiras que sua família sempre faziam, como Lakroff (um vidente) sempre zombava "futuro lorde das trevas", ela acrescentou:

- Preciso falar com você sobre algo importante.

Gostaram?

Espero que sim, eu dependo disso para sentir que não estou sendo tão inútil como venham me sentindo (há pontos disso que são brincadeira e pontos que não, a chave da questão é que nem eu sei quais são quais).

Eu ando meio deprê, não liguem para isso. O importante é que to com a escrita em dia e isso me anima muito porque amo estar com vocês e com essa fic queridinha <3

O próximo capítulo saí (se tudo for ok no novo serviço) na sexta-feira de madrugada. Ou seja, de quinta para sexta. Enfim, tudo só precisa dar certo e vamos torcendo por isso!

Espero realmente que tenham gostado, que tenham uma ótima semana, aqueles que não votaram VOTEM e até mais!

Agora, queria fazer uma pequena enquete aqui, se puderem responder eu agradeço:

Você que está lendo, tem Tiktok?

Assiste live por lá?

Já viu alguma das minhas?

Só curiosidade mesmo.

Boa noite queridos (queridas e querides também)!

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