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Capítulo 42 - Comensais da morte e o cavaleiro de Walpurgis

Olá.

Feliz primeiro de abril a todos.

E feliz aniversário para a Prisioneira de Askaban (você sabe quem, naõ sei seu nick aqui no wattpad).

Por favor me digam o que acharam, votem e comentem bastante, pois esse capítulo me deixou bem insegura o mês passado inteiro.

Anteriormente...

- Milorde... – murmurou Lucius, puxando suas vestes desnecessariamente caras e extravagantes, de dentro delas tirou um envelope. – O senhor vai gostar de saber que consegui o que o senhor me pediu. Sobre nosso alvo.

- Alvo?

- O senhor me pediu informações sobre a família de Lakroff Mitrica.

...

- Aqui está a ficha completa da herdeira Mitrica, filha de Lakroff Mitrica – Lucius Malfoy anunciou, deixando o arquivo cheio na mesa.

- Filha? – Voldemort surpreendeu-se. – Ele tem filha?

- Sim, milorde – o sorriso de Lucius aumentou. – Ela trabalha no ministério da magia da Rússia. Tenho um contato por lá, então consegui o máximo de informações possível para o senhor. Tanto documentos oficiais, quanto alguns relatórios feitos por ele, caso deseje.

Marvolo pegou o envelope que lhe foi oferecido, mas não o abriu a princípio, pois Lucius ainda falava:

- Mas devo avisar: meu contato informou que a família Mitrica é muito reservada. Pouco se sabe sobre eles, ninguém é convidado para qualquer evento na mansão da família e moram numa cidade que foi fundada há poucos anos, mesmo que esteja crescendo muito recentemente. Participam de poucos encontros sociais também. Apenas aqueles organizados pelo ministério ou pela escola e de forma oficial. São muito ricos ao que se sabe, a casa é uma das maiores do país e representam uma linhagem muito antiga da região. A garota, sua herdeira, possui uma placa na frente do departamento em que trabalha, onde se diz que "ninguém se responsabiliza se sua varinha for quebrada".

- Como é? – perguntou fazendo uma careta confusa e um tanto indignada.

- Ao que parece, quando ela se irrita com as pessoas, quebra suas varinhas.

- Isso é... – negou com a cabeça. Não ganharia nada ouvindo as fofocas de Lucius. – Qual o nome dela? – perguntou, mas já foi abrindo a papelada.

Lucius optou por não responder logo de cara, afinal sabia como seu mestre funcionava, queria ter tempo para avaliar ele mesmo o que estava diante de si, por isso esperou alguns segundos antes de dizer o que foi pedido.

Voldemort puxou do celofane o máximo dos papéis que conseguia de uma vez e passou os olhos por cima do primeiro documento, parando ao notar a resposta para sua própria pergunta.

- Alice Pandora Mitrica, milorde – respondeu Lucius mesmo assim, já que jamais se deveria ignorar uma pergunta de seu senhor.

O de cabelos negros acenou levemente, praticamente sem dar atenção ao subordinado e passou a reparar na foto três por quatro de funcionária, que estava no canto superior direito da página.

Então aquela era a lady Mitrica?

"Não parece em nada com o pai" o pensamento surgiu com naturalidade, afinal eram inegavelmente diferentes à primeira vista.

Desde os cabelos, tendo ela madeixas castanhas e rebeldes contrastantes com os claros e perfeitamente alinhados do pai, as diferenças iam longe, nada nos dois lhe diria que eram da mesma família. Não obstante, o que conseguia ser ainda mais visível mesmo em uma foto tão pequena eram os olhos. A cor, o formato, a delicadeza de exuberância sutil de Lakroff, em comparação com uma simplicidade objetiva da garota.

A força oposta e os sentimentos que brilhavam na menina, eram acima de tudo apagados no pai.

Algo irônico, considerando que todo o resto que era interessante no homem pareciam apagados nela.

O vice-diretor Lakroff Mitrica tinha nobreza, desenvoltura e serenidade, um lorde em tudo que se poderia pensar, somados a cabelos loiros tão dourados que se você colocasse um fio de ouro junto deles, o perderia. Apenas algumas mechas esbranquiçadas tornavam tudo mais fascinante. Ouro e prata, dois metais que tanto moveram os humanos ao longo da história.

Ou um caminho de tijolos dourados em um vasto campo coberto da mais pura neve. Não parecia uma união compatível ao se falar sobre isso, mas estavam ali para provar o contrário, de uma forma tão natural e interessante que alguém seria capaz de parar um bom tempo apenas para observar.

"Será que os alunos dele fazem isso"?

- Lhe trouxe outras fotos, Milorde – contou Malfoy e Voldemort apenas evitou pular no lugar devido ao autocontrole.

Onde raios estava indo sua mente?

"Você anda pensando muito sobre o assunto, é só" sua mente dispensou. Afinal, desde que descobriu que Lakroff Mitrica era um possível membro da família Grindelwald de alguma forma, não parava de relembrar as memórias que Barty havia lhe oferecido sobre o homem, procurando semelhanças entre o lorde Mitrica e o último lorde das trevas. Não era de hoje que quando Marvolo queria saber de algo, sua cabeça parecia sempre voltar para a mesma coisa, incessantemente.

- Imaginei que desejaria outras além desta, que mostrassem melhor - continuava o outro. - Também são mais atuais. Esta é de quando a herdeira foi contratada. Consegui até de sua apresentação à alta sociedade, aos dezessete anos, após sua formatura.

Voldemort suspirou baixinho e levantou a sobrancelha. Certo, estava sendo especialmente chato e irritadiço ou qualquer pessoa sentia vontade de estrangular Lucius Malfoy a cada tolice, por menor que fosse?

O homem era, ainda por cima, uma arma trouxa semi-automática de tolices!

Todo bruxo se forma aos dezessete (todo que valha a pena a menção), em que mundo era pertinente ser tão redundante quanto aquela fala? Claro, era incomum uma lady de família importante demorar tanto para ser apresentada, mas o lorde Mitrica poderia apenas ser muito protetor com a filha e não queria jogá-la aos leões do mercado casamenteiro antes que pudesse se proteger.

Ele esperava que Lucius tivesse se dado ao trabalho de perguntar ao tal informante sobre essa peculiaridade, do contrário a paciência de Marvolo estaria sendo testada a níveis alarmante, porque além de tudo Lucius dizia cada palavra com um toque sútil de arrogância e orgulho que estavam enfurecendo seu mestre.

- Todas as imagens estão em um envelope menor dentro do que lhe foi entregue, milorde - Encerrou se inclinando, mas não havia serventia naquele gesto. Era apenas uma cordialidade, toda a sua postura estava com aquela pompa...

Como se soubesse que tinha feito um bom trabalho de pesquisa.

O lorde das trevas evitou revirar os olhos ou bufar. Afinal bufar era indecoroso.

"Torturar também é? Ou podemos ir adiante para fazê-lo menos arrogante?" pensou consigo mesmo, mas se contentou em apenas encarar fria e sobranceiramente o loiro.

[N/A: Sobranceiramente. Advérbio. "De modo sobranceiro" ou ver sobranceiramente, ver em lugar elevado, com desprezo, com desdém. Olhar altivamente ou orgulhosamente. 1. Que está superior a; que domina; proeminente. 2. (Figurado) Que vê de alto; altivo].

Ver o lorde Malfoy se desconcertar com o gesto e desviar pateticamente as orbes para o próprio pé não bastou para conter o desgosto de Voldemort diante de seu comensal. Um que, em teoria, deveria ser um dos melhores.

Ele estava mesmo se sentindo tão bem sucedido apenas por algo tão banal quanto lhe trazer uma maldita informação atualizada? Sendo ela uma foto?!

Afinal, se iria entregar-lhe um arquivo que já tinha uma foto, mas de anos atrás e que poderia estar totalmente diferente da dona atualmente (ainda mais que estamos falando do mundo da magia e tudo era possível com a dedicação certa) o mínimo era acompanhar no ato outra imagem, que mostrasse o estado atual do alvo.

Era, no fim das contas, um possível alvo! A família Mitrica era uma linhagem cuja a importância social ainda estava desconhecida pelos comensais, mas vinham da própria árvore genealógica de Gellert Grindelwald, e não só pelo conhecimento que tinham, era imprescindível entender o quão próximos estavam do antigo lorde das trevas! O quanto podiam interferir em seu país, tal qual famílias como os Malfoy interferiram na Grã-Bretanha. Lucius não podia ser tão burro que não via tudo que podiam indicar ou oferecer! Por bem ou mal, por sua causa ou contrária a ela.

Se fossem tolos.

"E estavam próximos do pirralho..." pensou, lembrando-se do maior motivo de que sua cautela (já grande desde que voltou à racionalidade) teve que ser aumentada e reavaliada.

Considerando que era o chefe da casa do Potter, que conhecimentos estaria compartilhando com seu possível inimigo mais ousado? Tom, em seu quarto ano, era muitíssimo próximo de Slughorn e em seu quinto já conseguiu convencê-lo a lhe contar sobre horcruxes.

Desceu os olhos para a papelada. A primeira folha dos arquivos era, aparentemente, a cópia do documento de cadastro de funcionária ministerial da herdeira Mitrica, previsivelmente retirada do prontuário oficial nos arquivos do ministério. As demais folhas então seriam o prontuário completo, roubado e duplicado?

"Eu mesmo poderia roubar algo assim" outra pontada de frustração o atingiu então decidiu seguir para as tais fotos.

Imagens certas sempre podiam dizer tanto sobre alguém quanto um relatório completo de uma fonte básica.

Por exemplo. Jovens contratados por intermédio da família eram facilmente reconhecidos ao se caminhar pelo ministério, logo na sua atitude. Tinham expressões comumente empolgadas, mas infantis, eram ingênuos, a máscara sangue puro não tinha a experiência necessária contra os tubarões do estado e nem sempre era boa o bastante para evitar demonstrar o medo que tinham de decepcionar seus pais e superiores, tinham uma necessidade de agradar e viviam correndo em volta daqueles que tinham sido designados, rodeando como abelhas esperando por uma ordem. Um tanto vergonhoso e patético, Marvolo nunca quis isso para si.

Mas era o esperado.

Você entrava, ainda era parte da base, do fundo da pirâmide, tinha de se colocar no seu lugar e Tom Riddle já tinha aceitado muito tempo abaixo de pessoas que não mereciam o topo, sorrindo e fingindo ser o bom moço para ter paciência para isso. Ainda mais com tantos de seus aliados já tomando posições no ministério? Ele foi atrás do que era seu por direito e de conhecimento, o que parecia bem mais produtivo.

No fim, os jovens no ministério eram apenas crianças em ternos e posições que não mereciam. Cargos secundários muitas vezes inventados só para encaixá-los em algum lugar até que pudessem se mostrar dignos de algo real, mas nada além de secretários daquele que tinha poder para pedir por um desses jovens tolos e impressionáveis servis.

Dito isso, as fotos.

Imagens mostravam fatos que diante do olhar experiente de um bom avaliador, não eram disfarçados o suficiente. Todas eram, obviamente, mágicas e moviam-se. Naquela tirada pelo ministério, Lady Mitrica virava o rosto para a esquerda, mostrando seu perfil, então retornava a encarar a câmara, assim repetidamente. Estava jovem na época, o que podia indicar ter sido contratada quase imediatamente após a formatura.

Para isso existiam duas respostas mais óbvias: um desempenho assustadoramente respeitável e invejável em sua escola de magia (tal qual Tom) ou uma família que lhe desse passagem direta (como seus colegas). Dito isto, a família ela já tinha, como foram as notas? Fez uma anotação mental de que se Lucius não tivesse trago essa informação seria mais um ponto positivo para matá-lo lentamente um dia.

O interessante, entretanto, era que Alice Pandora Mitrica não parecia nem de longe pronta para servir. Não pela forma como encarava o fotógrafo.

Talvez fosse uma coisa de família? "Um Grindelwald terá um olhar marcante", pois ao encarar a foto de registro na ficha ministerial de Alice, ele viu algo muito oposto ao que se esperava de um jovem herdeiro.

Ainda mais uma mulher.

Sua expressão quase dizia que estava desafiando alguém a lhe dar uma ordem naquele lugar. Havia arrogância, mas principalmente confiança e quase...

Sim.

Indiferença.

Havia um sorriso de indiferença.

Como se duvidasse que aquelas pessoas pudessem oferecer algo, ou ainda totalmente irreverente ao seu próprio posto ali. Ela desejava um desafio e estava encarando desde sua contratação a situação com uma dúvida: "o que posso tirar de vocês?"

Tom já teve esse olhar, sabia reconhecê-lo, mas mesmo que semelhantes podiam não ser o mesmo.

"Uma aventureira ou uma oportunista astuta?" Alguém que ansiava pelo desconhecido por pura ousadia, a necessidade de novidade, a vontade de enfrentar o perigo, ou alguém que sabia que no desafio estavam as maiores recompensas e não temiam os sacrifícios se os resultados fossem os mais satisfatórios?

Uma boa cobra? Ou um leão?

Pareceu tolice para Marvolo quando conheceu melhor sobre Hogwarts que os adultos se formassem e ainda agissem como se estivessem na escola lutando por sua casa, discutindo qual era melhor e contando vitórias de colegas, mas aos poucos ele percebeu a utilidade para entender o tipo de pessoa que cada um era e quem "falaria sua língua".

Se lady Mitrica tivesse estudado na Durmstrang, ao menos, também teria algumas informações a mais sobre sua personalidade ao ver sua casa.

Seguiu para a próxima imagem.

O primeiro baile oficial, a apresentação de Lady Mitrica a alta sociedade. Um evento formal era o momento para que alguém escondesse o máximo de sua essência, tudo para se encaixar nos altos círculos acima de tudo e qualquer individualismo, mas vejam só: Lady Mitrica era autêntica o bastante para não desperdiçar o evento.

Caos.

Marvolo se deparou com o caos encarando-o a cada imagem.

Desde a bagunça dos fios de cabelo (que não necessariamente pareciam feios ou desleixados, apenas vivos), curto, bem menor do que a maioria das ladys se permitiria manter na fase adulta e que poderia ser até considerado um corte masculino, até suas atitudes e seus ternos.

Um terno. Ela usou terno em seu primeiro baile formal. Junto de uma capa comprida que lhe oferecia calda para a valsa.

Ela estava praticamente debochando dos costumes enquanto girava perfeitamente pelo salão com o pai.

Não era muito alta, nem tinha grandes atributos físicos daqueles que dariam inveja nas outras mulheres, nada nela dizia algo sobre uma origem a ser respeitada, mas "comum" não se encaixava naquela pessoa.

"Tão caótica quanto a caixa de Pandora" ponderou e parou em um recorte de jornal, quase sorrindo para o que viu "Tão distante dos padrões sociais quanto Alice".

Então seus pensamentos se voltaram mais uma vez para o pai da garota.

Nomeara a filha com dois nomes da literatura trouxa por coincidência?

Era uma escolha interessante de nome para se dar a uma filha, não? Alguns mais supersticiosos diriam que até um mau agouro e, em sua concepção, dificilmente alguém escolheria um nome tão característico sem conhecer as histórias da caixa de Pandora e de Alice no país das Maravilhas.

Ainda mais um professor de história, alguém que detinha tanto respeito dos alunos e, de certo, do conselho de pais, já que subira tão rapidamente na hierarquia. Até mesmo Lucius já ouvira coisas boas dele.

Não escolheria nomes famosos ao acaso.

Seria mais adequado imaginar que buscava aprender sobre a história num geral e se deparou com aqueles aspectos.

No fim, os bruxos eram muito influenciados pelos trouxas que compunham a maior parte da população mundial, e também pelos nascidos trouxas que vinham com sua cultura. Era difícil ignorar sua cultura totalmente. Todavia, também é um tanto irônico que um parente de Gellert Grindelwald parecesse apreciar a arte deles.

Apesar de que o próprio lorde Grindelwald tinha um carro em seus tempos de glória...

Algo que Marvolo nunca entendeu o porquê.

Quer dizer, o que o fazia querer usar uma máquina de metal mortífera e esquisita feita por aqueles animais? Imaginava que fosse uma jogada política. Dizer que os desprezava, MAS ainda respeitava certas coisas. Atraindo assim pessoas menos radicais, mas manipuláveis por conceitos vagos que poderiam se apoiar para justificar as ações de seu político de estimação.

"Ele é uma pessoa ruim, que apoia genocídio, MAS olha ele fez isso, ou tem aquilo, então a parte do genocídio é só exagero. Vocês que ficam guardando tudo que ele fala e levando a sério..."

Como se um político não devesse dizer apenas palavras sérias, pensou Marvolo, revirando os olhos. Pessoas eram idiotas demais. Nada que um "mas" não fizesse para um político, não? Também um pouco de campanha difamatória aqui e ali. Jogadas simples, recorrentes, mas que a massa de manobra nunca percebia.

De toda forma olhando para a garota, tão caótica quanto a caixa de Pandora, talvez tão incapaz de seguir uma ordem quanto a própria mulher do conto que a abriu e deixou que os males do mundo fugissem (sobrando apenas a esperança no fundo do baú), tão fora dos padrões exigidos pela sociedade e pelas autoridades quanto a sonhadora Alice, era quase... profético que tivesse escolhido aqueles nomes.

Aquela palavra criou uma pulga atrás de sua orelha.

Gellert Grindelwald era um dos maiores videntes de seu tempo.

Mais alguém de sua família haveria de ter herdado o dom? Um dom de sangue, tal qual a ofidioglossia para os slytherins. Tão poderoso e perigoso quanto.

Tornava um alvo ainda mais preocupante e valioso.

Mas ao menos tinha uma boa notícia com aquilo tudo, afinal era quase certeza que o lorde Mitrica gostava de ler.

Um historiador e leitor. Alguém curioso? Haveria mais algo que o interessava no mundo trouxa?

Brevemente pensou se não poderia se tratar de um mestiço, mas achou melhor não divagar sobre isso. O importante era que, se tivesse entrado em contato teria guardado os livros de Gellert com carinho, cuidado e o devido respeito a sua história, mesmo que escolhesse não utilizar de seu conhecimento, pois entenderia o valor cultural e mágico.

Deu uma última olhada nas fotos e começou a recolhê-las.

"Que tipo de pessoa você criou?" pensou, pois era interessante. Outra pista nesse conto tão curioso.

Lakroff Mitrica parecia tão mais passivo que seus parentes.

Feições calmas, quase sonolentas, sorriso de alguém que acordava de bom humor mesmo que ainda estivesse com sono, gentil e querido por quem o conhecia, boa desenvoltura e sábio.

Era alguém difícil de ler, pois sempre que estava na penseira revendo as memórias de Barty, Marvolo criava uma impressão nova. Todo lorde que se preza possui uma máscara, isso é tão certo quanto seu nome entre as figuras mais importantes, mas Lakroff era tão incrivelmente polido em cada ação, que de certo era algo treinado quase à perfeição. Até os trejeitos, que todo ser humano tinha, pareciam escolhidos para favorecer um charme específico e nunca deixava que nada real escapasse por entre os gestos confiantes, mas suaves. Uma imagem etérea de brilho sutil.

Era falso. Claro que sim, afinal ninguém podia ser mesmo daquela forma, mas aquela pessoa era tão boa sendo falsa que enganava até olhos treinados como os de Marvolo.

Só que tinha algo que não escapou de Voldemort.

O vice-diretor parecia constantemente que estava se contendo. Segurando algo que Marvolo adoraria ver, sentia que era a peça mais importante de tudo aquilo, mas também a mais bem guardada.

A história do lorde das trevas na família teria feito o homem ser podado?

Por um medo constante dos parentes sendo associados às decisões tomadas na guerra? Seu nascimento, já no fim de tudo, teria sido o que o fez interessado em história? Então depois pela literatura trouxa, que tanto estavam ligados à sua própria história, a queda de sua linhagem, eventualmente encontrando a literatura fantástica...

Ele estaria interpretando um papel mais dócil para se manter entre os tolos que temiam a grandeza de Gellert? Seria proposital ou sua natureza foi reprimida desde tão novo que nunca se permitiu liberar aquela luz. Justamente a deixando tão amena, mesmo tento a capacidade de ser vibrante.

Fosse o que fosse, sua filha não compartilhava das mesmas inseguranças. Até parecia correr na direção oposta, gritando em sua postura que estava disposta a amaldiçoar qualquer um no primeiro olhar que não agradasse.

Até lhe lembrava Bellatrix e a associação o deixou um pouco simpático e saudoso.

A Lady Mitrica tinha imponência, confiança e força que os lordes treinavam desde crianças seus filhos fingirem ter, só que estava longe de parecer nobre, apenas tinha presença, mas não era uma lady. Tal qual a mais velha da "ninhada" dos Black.

Voldemort nunca se importou (na verdade até questionava) algumas crenças da normatividade de gênero, julgar alguém por usar calças ou um par de brincos, até o cumprimento dos cabelos. Vejam só, para os trouxas os cabelos de Lucius eram femininos. Besteira. Pouco importava como as pessoas escolhiam se vestir ou agir, desde que se lembrassem que sua forma de agir, vestir e ser passavam uma mensagem e ele gostava de ler essas mensagens.

De novo, você aprendia muito sobre alguém apenas observando, e mais importante que tudo isso sempre era sua força e magia.

Bellatrix foi assim ao seu lado. Por isso gostou da garota, mesmo sendo obviamente maluca quando a conheceu. A Black mantinha-se segura de si, não deixava que homem nenhum ou mesmo a sociedade impusesse qualquer regra a si se não lhe agradasse. Não se curvava, a menos que por sua própria vontade e essa era uma confiança que jamais poderia ser ensinada. Ou você tinha e esbanjava, ou acabaria destinado a fingir miseravelmente para não ser pisado.

Claro, ainda havia aqueles que aceitavam a derrota social e baixavam a cabeça como um inseto, mas desses Marvolo usava até se tornarem inúteis e prontos para descartar.

E Bella os devorava vivos.

Alguém forte de personalidade, em um mundo onde isso a reduzia a louca.

Claro que existia uma "loucura Black", teve que conviver com membros o suficiente dessa família para ver de perto sempre que se irritavam e se tornavam quase criaturas ensandecidas e famintas pela destruição, e por precisar assumir o papel de Lady e estar longe dele, a maioria apenas não se permitia ver o brilho e potencial de Bellatrix.

Só que nunca quis ladys para seu exército. Apenas soldados.

Então o conjunto de força, ambição, uma pitada de insanidade, junto de litros de lealdade servil, tudo foi útil e apreciado.

Não tinha, entretanto, mais certeza de como seria agora se tivesse a mulher do seu lado e se permitiu pensar um pouco sobre isso novamente.

Seus comensais em Azkaban. Os mais leais, mas principalmente a mulher.

Bella seria totalmente louca após anos de exposição aos Dementadores e ao isolamento? Ou ela sempre foi?

Voldemort não tinha capacidades para notar com certeza, pois estava igualmente insano. Ela apenas se espelhava nas vontades de seu mestre e se deixou levar? Ou era uma simples torturadora, alguém que acabaria presa por atacar outra pessoa eventualmente e apenas achou lugar no meio de outros dispostos a machucar por uma causa? O quanto poderia usar Bellatrix se a libertasse? O quanto acreditava na causa e não em Voldemort agora que já não eram a mesma pessoa?

Não só ela, mas e os outros?

Bartolomeu esteve leal aos dois, estranhou a mudança do mestre, mas tratou como astúcia. Uma nova perspectiva que poderia derramar menos sangue, ter menos baixas, mas sabia que estaria disposto a voltar aos antigos costumes se assim ordenasse.

Destruiria o que e quem estivesse à frente.

Teria que descobrir eventualmente. Bellatrix e tantos outros mereciam a liberdade. Um dia teria que fazer isso. Independentemente de como fosse agir depois, seus comensais leais que foram presos por nunca o renegar mereciam sair daquele inferno e lidaria com o que pensariam de si depois, do lado de fora, quando os recompensasse e fizesse sua parte nessa lealdade. Então imaginava que a maioria continuaria leal.

Distraído com estes pensamentos, guardou as imagens novamente no envelope em que vieram e puxou os documentos, folheando-os, sem saber ao certo o que estava procurando primeiro.

Talvez algo que realmente valesse a pena?

Que compensasse Lucius tê-lo interrompido apenas dois dias após ter lhe entregado algumas missões, sendo duas ainda mais importantes que esta apesar de sua curiosidade sobre Grindelwald?

Acabou demorando a perceber a do Russo (uma de suas piores línguas), aos poucos começou a estar diante de palavras em alemão e arquivos timbrados pelo ministério germânico mais potente.

Imediatamente parou de folhear e se questionou pelo fato de que Lucius, em tão pouco tempo, parecia ter feito pesquisas em mais de uma fonte. Também porque aquilo especificamente foi necessário.

Puxou a primeira folha diante de si para ler na íntegra e com mais atenção, já notando logo no começo algo irritante: a quantidade de informações que faltavam.

Virou a página e, no verso, a situação se agravava. Não foi só naquele arquivo. Juntando aqueles em alemão, ficava claro que em todos este padrão se repetia. Vários fatos censurados por tarjas pretas ou códigos de sigilo.

O lorde das trevas precisou de um segundo. Tomou ar, mordeu o interior da boca e contou até três, prestes a questionar o lorde Malfoy sobre aquilo.

Era bom que dissesse que tinha outra cópia da documentação que respondesse o que estava sendo ocultado e uma boa explicação de porque achou prudente dar primeiro informações incompletas ao seu senhor, ou seria torturado até Voldemort e sua instabilidade mágica não aguentarem mais.

O próprio Lucius poderia não chegar até o fim, mas a paciência do mais velho estava se esgotando com incompetência.

Entretanto, naquele momento ele viu.

Um evento interessante aconteceu, pois Voldemort fez algo que dificilmente se permitia: demonstrou suas emoções. Surpresa desta vez, o comensal tinha certeza.

Diria que aquele seria o equivalente (para alguém como o lorde das trevas) do que era um arregalar de olhos dos meros mortais, afinal o brilho de espanto e confusão não foi suficientemente contido pelo bruxo ao ler quem de fato era a mulher e (principalmente) o que havia sobre ela naqueles arquivos.

Lucius, muito satisfeito que seu Senhor já havia descoberto a melhor parte, apenas sorriu minimamente, mas seu corpo se aprumou de forma óbvia em comparação. Não teve como evitar. Estava sentindo todo o orgulho do mundo por ter conseguido algo tão valioso para seu senhor. Uma informação tão única e rapidamente, ainda por cima.

Ah! Ele seria recompensado por isso, sabia!

Voldemort notou aquilo e de novo seu estresse diante da prepotência daquele homem cresceu, mas ignorou desta vez já que estava tentando juntar os pontos e (por mais improvável que fosse) talvez perceber que errou em sua linha de pensamentos e que havia uma explicação mais lógica para o fato diante de si.

Sem sucesso.

Mesmo lendo e relendo as folhas, tudo parecia apontar para a mesma coisa e mesmo ela era... Vaga.

Retornou até mesmo para os primeiros arquivos russos e, desta vez com a devida atenção, notou que apesar de não estarem tarjados, riscados ou censurados como os alemães, eles tinham várias informações faltando. No seu lugar, a frase "rezervirovat' prava" era colocada. "Reserva-se os direitos/ Direitos reservados".

Marvolo entendia o que queria dizer e como funcionava, era comum em um caso oficial ou criminal um dos envolvidos reservar-se ao direito de manter uma informação pessoal em sigilo e, se a justiça optasse a favor do pedido, então mesmo um tribunal não tinha direito de tornar ela pública.

Mas em um arquivo de contratação para o Ministério?!

Em algum tempo percebeu que era em vão tentar entender a coisa sozinho, sem dar o gostinho de perguntar aquele tolo que lhe trouxe a dúvida. Esperava apenas que não tivesse sido imbecil ao ponto de trazê-la sem as devidas respostas.

Sua raiva não se contentaria nesse caso.

Mesmo que...

Suspirou.

- Você tem certeza de todas as informações desses documentos, Lucius? Você certifica a veracidade de tudo aqui com sua vida? – a seriedade na voz do lorde fez o comensal estremecer.

- Sim senhor, todas as fontes são confiáveis, eu também fiquei extremamente surpreso quando descobri - respondeu o comensal.

- Mas isso é impossível – murmurou, mais para si mesmo, encarando os papéis.

O lorde Malfoy deixou que seu senhor tivesse o tempo de analisar cada documento com detalhes. O próprio precisou verificar cinco vezes e ameaçar sua fonte antes de aceitar aquilo como verdade e trazer para aquela reunião.

Mas Voldemort apenas se estendeu neles para decorar o máximo de informações que conseguisse. Sua memória sempre foi boa e gostava de ter bem claras as perguntas que uma situação havia levantado, para que pudesse juntar as respostas com a mesma clareza e criar as devidas conexões antes de guardar tudo em completude em seu palácio mental, não desperdiçando espaço com qualquer suposição enganosa.

Por fim, reclinou-se um pouco para trás, juntou as mãos no colo e ordenou:

- Fale. Como isso é cabível? Como um aborto está trabalhando no ministério da magia e ainda é formada reconhecidamente em bruxaria?

Capítulo 42 - Comensais da morte e o cavaleiro de Walpurgis

"Os comensais estavam lutando da forma mais feia por algo belo. Lutando por liberdade na magia, na religião bruxa, mas estragando a pureza da causa com sangue e preconceito.

Mesmo assim, no meio de tantas falhas haviam sentimentos reais e dignos, pelos quais valiam a pena lutar. Emoções que os moviam e o faziam se ajoelhar diante do lorde"

- A história, Milorde, é tão interessante e contraditória quanto os documentos – disse Lucius se aproximando mais da mesa de mogno – Mas algo que fica claro é: o governo alemão está escondendo as informações sobre a família Mitrica.

- Não me diga? – questionou Marvolo ironicamente, contando até cinco mentalmente, enquanto em seu rosto mostrava apenas um sorriso limpo. – Pensei que estava suficientemente claro, com praticamente todos os documentos timbrados pelo estado alemão não passarem de um bando de rabiscos pretos.

Lucius se afastou, preocupado com o tom de voz utilizado, mas Voldemort nada fez além de observar aquela massa de carne patética e esperar que continuasse. O comensal ainda não estava acostumado com aquela versão mais paciente e precisou de alguns segundos antes de tomar coragem para continuar.

- Bem... Sim, milorde. Os documentos estão tarjados e os Russos tão pouco nos fornecem as respostas devidas. Inicialmente pensei que fosse por causa da ligação da família com a linhagem Grindelwald. Uma tentativa do estado de proteger a família do lorde das trevas da retaliação pública, entende? Dado que até o nome da antiga Lady Mitrica, mãe da lady Alice, não era revelado.

Voldemort apenas afirmou com a cabeça.

Também teve esse primeiro pensamento. Lakroff Mitrica assim como qualquer pessoa próxima de um lorde das trevas poderia estar correndo risco após a guerra de retaliação pública e vingança indireta ao assassino condenado, processos assim eram até comuns, o estado os escondia da mídia, achava um novo lugar para morar, financiavam casa, uma nova história e até mesmo...

Trocavam o nome.

O Riddle marcou um ponto muito forte em sua teoria crescente.

Uma teoria que, mesmo não admitindo, estava o deixando mais interessado do que gostaria que qualquer tema o fizesse.

- É claro - continuou Lucius - O senhor deve ter visto que, conforme fui me aprofundando nas pesquisas, a história mudou completamente e o mistério cresceu.

Mistério.

Um enigma para o Enigma.

Tom bateu o pé nervosamente, sem mesmo notar sua ação.

- Fiquei a priori com a impressão que a União Soviética mágica tivesse um sistema, ao contratar alguém, de privacidade muito mais rigoroso. Meu contato confirmou que não, a proteção dos arquivos magicamente não funcionava da forma que os documentos de Alice Pandora Mitrica eram apresentados. Eles simplesmente nunca preencheram todos que se referiam a ela. A informação, se um dia entrou no ministério, não passou para nenhuma papelada. Para isso, é claro, teria que haver a aprovação de pessoas no alto escalão, afinal jamais seria contratada alguém escondendo dados padrões.

- É claro... - sussurrou Marvolo.

Mesmo que se tratasse de proteger os dados dos funcionários de invasões, um feitiço para censurar de qualquer um que não estivesse autorizado era mais comum e indicado. Dito isso teve que tornar a contar até quinze, porque seu comensal idiota precisou pensar sobre isso antes de chegar a conclusão mais óbvia com ajuda.

- Imediatamente decidi verificar alguns desses no próprio ministério germânico. Mesmo não apresentando o local de nascimento da lady em seu prontuário, ainda havia a cópia do documento de adoção que vinha da Alemanha. Até então, veja bem, lady Mitrica era uma bruxa comum, que teve a sorte de ser adotada por uma linhagem boa, muito interessante e incomum, sem dúvida, mas buscar coisas como: o que fez o lorde Mitrica adotar ao invés de conseguir um herdeiro tradicional? Infertilidade parecia uma resposta óbvia, então por que uma mulher? Ela não poderia herdar a linhagem mesmo com adoção de sangue, se estava disposto, devia ir atrás de um homem. O que a garota teria de tão interessante que ele a escolheu? Ainda mais quando claramente não queria seguir as normas sociais adequadas, o que o fez manter alguém tão inapropriado?

Marvolo cruzou os braços, tentando não demonstrar seu incômodo.

Lucius continuou, será que pensou que aquele olhar era de interesse e não desprezo?

- Agora que tinha a informação de data de nascimento, e poderia estimar a data da adoção pelo ano do documento no carimbo do ministro vigente da época, poderia coletar ao menos alguns dos fatos que faltavam com alguma sorte.

"Se tivesse dedicação, não precisaria de sorte" pensou Riddle irritando-se pois, a cada palavra o loiro parecia mais confiante.

Começou a caminhar pela sala, de forma pomposa, a bengala ridícula batendo no chão a cada passo. Os gestos mais abertos.

- Eu sabia que seria uma tarefa difícil, se um governo tão orgulhoso como o soviético estava disposto a esconder possíveis segredos a pedido de outro tão orgulhoso quanto, o germânico, então eu estava diante de algo que exigiria toda atenção, mas eu sabia que poderia trazer ao meu senhor - e deu uma sutil olhada para o lorde das trevas, que estava impassível.

"Por que ele tinha aquela bengala afinal?" pensava o mesmo lorde.

Queria quebrar uma perna de Lucius para dar um bom motivo para usar aquilo, sendo um bruxo! Bruxos não mancam! Era muito raro e preciso uma maldição de um inimigo muito forte para causar uma deficiência. Lucius só estava dizendo que foi fraco e perdeu uma batalha se mancasse então para que aquilo? Se ao menos usasse para apunhalar um alvo...

- Buscar na fonte, entretanto, pareceu levantar mais perguntas do que a resposta inicial e eu me encontrei rapidamente em barreiras. Ah! Fazia apenas um dia que meu senhor me contatara, mas eu tinha que tentar! Me redimir pelo tempo perdido! Mesmo que conseguir qualquer coisa dos alemães em seu país de origem fosse um desafio, eu...

- Está tentando justificar sua incapacidade? - Marvolo interrompeu, de repente ajustando a postura e parecendo muito mais assustador.

O loiro tremeu e parou.

- De forma alguma, meu senhor - disse imediatamente, murchando um pouco diante de como estava a alguns segundos. - Verá que fiz uma pesquisa minuciosa e descobri com clareza onde estão os pontos da proteção governamental alemão e onde deveremos cavar para conseguir mais, se assim o senhor desejar. Ainda que visando as limitações iniciais, tenho certeza que-

- Limitações? – perguntou com um levantar de sobrancelha, a voz tornando-se alguns tons mais grave.

Mas Lucius não notou.

Talvez fosse o novo rosto. Era bonito demais, jovem, fascinante, de olhos perfeitamente desenhados e que confundiram os sentidos do comensal, mas sejam quais fossem os motivos, ele não percebeu o perigo vindo assim como normalmente o teria feito. Apenas continuou:

- Meu senhor, infelizmente com a guerra do lorde Grindelwald, a segunda guerra trouxa e a guerra fria, fizeram com que o ministério alemão, mesmo o bruxo, mudassem em muito suas leis e atualmente possuem um sistema de segurança e divulgação de informações muito mais restrito que qualquer um dos países do mundo. Eles dão relatórios semanais, e por vezes até diários, de toda movimentação dos órgãos públicos para a população, mas apenas em casos oficiais onde a população tem direito de saber e mesmo assim ninguém nem imagina o que acontece lá dentro. Eles possuem divisões separadas apenas para atender as pessoas e é impossível entrar onde os verdadeiros funcionários, pois é usado magia de sangue. Eles alegam que inicialmente era para-

- Para impedir que os apoiadores de Gellert conseguissem alcançar documentos oficiais ou posições de poder que mantivessem o domínio do lorde das trevas sob o ministério, que pudessem afetar a segurança de sua cela e o libertar, fazendo com que a guerra continuasse assim como estava sendo com os trouxas. Foi feito quase um muro de Berlin imaginário em todas as áreas do ministério, para que elas não precisassem trocar mais do que o mínimo necessário de informações entre si, é o governo de divisões mais claras e mais organizado do mundo, com cada setor executando de forma independente suas funções e apenas o ministro e uma pequena câmera composta por um único representante de cada zona, votado anualmente e jamais podendo se repetir por três anos seguidos, tem uma noção geral de tudo, apenas para que se possa controlar o desempenho e manter a coisa equilibrada. Esse esquema também garantiu a diminuição de esquemas de um modo geral, desvio de verba e aumentou a produtividade individual, pois os setores precisam mostrar resultados próprios para se manter na ativa e atingir os padrões exigidos. Quase um país de estados independentes onde um governante apenas mantém todos na mesma linha de produção. Isso que pretendia me dizer, Lucius?

- Sim, milorde. Óbvio que o senhor já saberia – murmurou com um tom respeitoso e acompanhado de uma reverência.

- Se era óbvio, por que tentou? – e, desta vez, não escondeu a raiva por trás de sua voz, mesmo que continuasse baixa e grave, havia um fundo sombrio e gélido que arrepiava a espinha, fazendo o outro lorde engolir em seco e recuar um meio passo involuntário.

- Peço perdão, milorde. E-eu...

- Não quero ouvir suas desculpas – cortou, se inclinando sob a mesa e repousando o rosto em sua mão.

Cotovelo na madeira, mão direita formando um apoio, a esquerda se distraia com os dedos batucando um por vez em fila rapidamente, formando um barulho ritmado enquanto pensava.

Lucius provavelmente não entendia porque Voldemort parecia tão irritado por "tão pouco", mas o ponto era como vinha se sentindo satisfeito desde o começo, como se soubesse que tinha feito um bom trabalho, mas... ele não decidia isso (a qualidade de seus esforços), seu mestre fazia. Só que era Lucius. Dificilmente conseguia algo que passasse do medíocre.

E a incompetência daquela geração o irritava.

A começar pela sua ressurreição. Mesmo que tivesse sido vantajoso para ele (MUITO mais do que o esperado), sua fúria foi quase à estratosfera quando se viu (como Horcrux) na mão de uma Weasley! Indicando, no mínimo, outra falha gritante de Lucius! Com a sua própria alma, ainda por cima! Algo que que foi confiada à família e desprezada, mesmo que com a ordem de cuidar como à própria vida e que...

Nem mesmo exigiu um voto perpétuo. Realmente apenas confiou que os Malfoy entenderiam "proteja com sua própria vida" e assim fariam.

Abraxas Malfoy nunca tinha falhado assim. Quando falava com Tom, nunca utilizava de uma entonação como a de Lucius. Mesmo que tivesse descoberto até mesmo o bicho papão de um inimigo, ou até o tipo sanguíneo em seu relatório (e estivesse com uma amostra para Marvolo amaldiçoar, coisa que já acontecera), sempre tratava a si mesmo como alguém que podia e devia ter feito melhor.

Um sonserino perfeccionista que via em Tom Riddle alguém superior, que não esperaria menos do que tudo dele, que o desafiava e poderia encaminhá-lo para a perfeição, mesmo sabendo que era inalcançável. Mas quem ele seria, se não ambicionava o impossível? Jamais poderia tomar um título como o braço direito de um lorde das trevas.

Seu filho era quase uma piada em comparação e Voldemort poderia até tremer ao imaginar o tipo de pessoa que seria aquele que foi criado pelo próprio Lucius.

Draco Lucius Malfoy devia ser uma bomba atômica!

"Quem dera causasse tanto estrago quanto uma. Ao menos podia ser útil se eu jogasse em cima dos meus inimigos e visse explodir" pensou puxando sua varinha de dentro da manga das vestes pretas, desafixando do bracelete de pele de serpente.

Ainda tinha o nome do pai, como dizia a tradição necromante antiga para manter a memória dos que vieram antes. Se realmente a cultura servisse para algo (e Marvolo torcia para que não, já que seus nomes só representavam desgraças e homens patéticos), então o próprio batismo do último herdeiro Malfoy já foi uma falha, pois carregava a mediocridade do pai para seu filho.

Tom realmente só poderia rezar a alguma entidade que quisesse ouvir que aquilo não fosse um fato mágico, ou que tivesse puramente herdado a aparência de Tom Riddle e a magia de Marvolo Gaunt. Fim.

"Que Narcisa tenha conseguido tirar água de pedra, ou a memória de Abraxas estará arruinada com a tolice que se aglomerou em células cuja qual as pessoas erroneamente chamam de herdeiros de Malfoy" acrescentou inspirando fundo.

O movimento deixando Lucius mais ansioso.

Não que já não estivesse à flor da pele.

O som dos dedos e unhas em batidinhas do lorde, acompanhadas do imenso relógio no canto do escritório, da lareira crepitando, do vento do lado de fora e contra a janela, tudo formava um som ambiente suave que debochava do desespero em seu peito, diante do silêncio mestre das artes das trevas que, ele de alguma forma, conseguiu irritar.

Dedos, relógio, lareira, vento, dedos, relógio, lareira, vento...

Olhos vermelhos brilhando em sua direção.

A luz da lua recaía sobre a pele pálida quase leitosa daquele corpo jovem, a porcelana perfeitamente desenhada em seus traços mais suaves, uma imagem etérea e tenebrosa para aqueles que sabiam ler as entrelinhas.

Bela.

Inegavelmente bela além do descritível para sua própria mente.

Aquilo era um fantasma. Um homem que devia estar morto, mas havia retornado. Um espectro, uma assombração. Pronta para levar Lucius para o além de onde veio. Um anjo caído que veio arrastá-lo para o inferno. Tal qual uma veela atraindo sua vítima, com beleza e voz inimagináveis.

Então ele se jogou para trás, cabeça erguida.

Marvolo ainda sim viu como o movimento, somado provavelmente ao som causado, pareceu assustar Lucius o bastante para perdesse ainda mais a cor do rosto e ele tremeu no lugar ao ponto de que (olhe que irônico!) a bengala se tornou útil para se segurar no lugar.

Ao menos isso conseguiu tirar uma risada de escárnio de si.

"Pessoalmente, meu velho amigo, acho que seus herdeiros se parecem com algo que suas próprias células preferiram descartar de seu corpo antes que afetassem o restante com tal mediocridade" acrescentou mentalmente.

Só que o bom humor pelo medo que ainda conseguia infringir no seu servo não foi o bastante para se manter bem humorado. Pelo contrário, ele ainda estava incomodado.

Com o mundo e...

Com ele mesmo.

Antes fossem apenas os Malfoy. Até aquela geração como um todo.

O problema estava no mundo da magia em si.

Tom não conseguia tirar isso da cabeça, um fato estranho que seus estudos mostravam e o deixavam cada dia mais inquieto: Os bruxos estavam ficando fracos. A magia não fazia mais os milagres de antes e as pessoas usavam de desculpa de que tudo já fora inventado! Trouxas sonhavam em alcançar as estrelas e com a simples racionalidade buscavam o impossível até pisar em outros planetas como se pudessem reivindicar novas terras deles. O mundo não parava para eles, sempre havia algo para inventar, algo para melhorar. Ficavam mais fortes e iam mais longe a cada dia. Não havia impossível para eles, mas sim o que os cientistas ainda não entenderam, sendo que tinham menos história que os bruxos.

Quando enfim achou a prova de que ele era especial, diferente dos nojentos vermes do orfanato, quando podia se colocar junto das pessoas dignas do mundo... começou a estudar sobre seus grandes nomes e feitos, percebendo que, de alguma forma, a mediocridade também estava levando. Levando os humanos de sangue mágico que eram superiores. A magia fazia menos, as pessoas conseguiam menos.

Por quê? Como? Era possível reverter?

Enquanto em épocas como a dos criadores haviam quatro grandes bruxos capazes de mover montanhas com sua magia e fariam mesmo os trouxas de hoje se ajoelharem, e que ensinaram bruxos não tão grandes, mas tão talentosos quanto!

Bem... Merlin foi tão grande quanto.

E quantos outros não?

Antes, haviam lordes das trevas capazes de não só criar a magia Impérius, como realmente fazer um império inteiro controlando centenas de milhares de pessoas em uma única vontade, mas diversos comandos de uma vez. Um império de escravos.

Bruxos que dividiram a alma (mesmo que essa já fosse comprovada não ser uma boa ideia em grandes quantidades) e que não obedeciam lei alguma da natureza ou do mundo, pois eles podiam fazer novas com magia.

Bruxos da luz capazes de curar civilizações abençoando sua água. Bardos capazes de salvar um povo com músicas tocadas em seus alaúdes. Feiticeiros capazes de tanta força que eram confundidos e adorados como deuses pelos trouxas. Magos que sabiam tudo, pois a magia lhes respondia qualquer pergunta.

Onde estava essa força?

Por que os filhos de seus colegas de escola e primeiros comensais, pareciam tão fracos se comparados a eles?

O que essa geração tinha a oferecer?

No passado podiam ser mencionados ao menos quatro grandes e absolutos nomes, quantos podiam ser ditos hoje?

Voldemort (é claro).

E Gellert?

Pensou um pouco e teve nojo de seu próprio pensamento quando o que lhe veio foi Dumbledore.

Mas, infelizmente, o homem era um bruxo muito excepcional e devia ser acrescido à lista ou suas batalhas anteriores, onde Marvolo teve dificuldade diminuiam a ele próprio. Além de que ele derrotou Gellert.

Voldemort, então. Gellert Grindelwald e Albus Dumbledore. Só...

"Isso está errado" sua mente lembrou. Foi como um sussurro do subconsciente. Um sussurro, mas com a voz de outro alguém, um tom muito parecido com uma pessoa que não conhecia pessoalmente, mas já tinha escutado nas memórias de Bartô Crouch Junior o suficiente para reconhecer.

Harry Potter.

"Vai se esquecer do pirralho que te venceu já duas vezes?" seu subconsciente se divertiu.

Ele não tinha esquecido. Claro que não, Harry era uma promessa de que ainda haviam bruxos interessantes para nascer, mas era jovem demais, não tinha mostrado tudo do que podia ser capaz. O torneio, sem dúvida, despertaria um pouco mais e Marvolo estaria lá para assistir, se seus comensais não fossem tão ruins em tudo. Mesmo assim ganhou ao menos duas batalhas, então merecia sua menção honrosa e, sendo assim, Neville Longbottom também?

Não.

O menino tinha uma dose de habilidade sim, mas nem tanta magia e muita sorte. Marvolo estava falando de magia pura e simples.

Quatro então.

Não parecia o bastante, entretanto, diante da mediocridade restante.

Naquele tempo tudo parecia morto.

A magia, tão bela e viva, tão cheia de potencial, aquilo que Tom mais admirava, uma energia latente e absurdamente forte se usada em seu máximo, levada e levada e levada até o infinito afinal desde que fosse magia era possível, bastava querer, emoção, sacrifício, vontade. Arte... Tudo morto. Enterrado por varinhas que diminuiam e restringiam as possibilidades e variedades de sua manifestação. Repreendido por governos que a temiam nas mãos dos verdadeiramente talentosos e tentavam fazê-los se encaixar em um padrão medíocre de simples operário do sistema, ao qual eles nunca poderiam ser tão grandes como deveriam, tornando o mundo da magia mais frio, mecânico e brano.

A luz o irritava, porque Tom viu a beleza das trevas, a promessa no preto/vazio desconhecido, na ausência de cores e, portanto de regras, na possibilidade que só precisava do seu querer e dedicação para avançar e formar uma tela, uma escultura... Algo! Qualquer coisa. Pois quando não há nada, tudo está lá para quem imaginar.

A sociedade estava cheia de bruxos fracos presos à antolhos sociais. Cavalos de montaria, mas que cavaleiro ganharia aquela corrida? Todos pareciam estar perdendo. Em que direção estavam caminhando? Voldemort não suportava aquilo.

[N/A: Antolhos, substantivo. Acessório que se coloca na cabeça de animal de montaria ou carga para limitar sua visão e forçá-lo a olhar apenas para a frente, e não para os lados, evitando que se distraiam ou se espantem e saiam do rumo].

Então os eventos aconteceram. Os discursos de Gellert Grindelwald, um vidente que dizia que os trouxas fariam uma nova guerra, muitos outros bruxos descartando isso, mas Tom cada dia com mais medo porque via tudo se movimentando para isso. Gellert, o primeiro a pensar como ele: trouxas eram inferiores. Sua visão fez Tom reparar em outra realidade: os nascidos trouxas.

Não foi tão difícil, ele estava cercado por sonserinos que viviam os insultando e lembrando como não podiam comemorar os feriados pagãos em qualquer lugar que não a comunal porque assombrava os sensíveis sentidos dos filhotes de trouxa.

A guerra estourou.

Ele conseguiu descobrir a verdade sobre sua própria linhagem.

Tudo em um espaço pequeno de tempo, apenas alguns anos e de repente as peças se encaixavam: tudo sempre foi culpa dos trouxas.

Não suportava o mundo deles, aqueles vermes psicóticos e homicidas que brigavam por tão pouco e por qualquer sinal de diferença. Odiou que o mundo mágico, com tanta beleza estivesse a cada dia mais parecido com eles nos piores sentidos. A ambição, a curiosidade, a visão criativa acerca das possibilidades se foram, ficaram os feriados roubados dos pagãos, a alienação, o estado tentando regrar o que não devia (a própria magia).

[N/A: Alienação. 1. Separação ou dissociação dos seres humanos de algum aspecto essencial de sua natureza ou da sociedade, muitas vezes resultando em sentimentos de impotência e desamparo. 2. Nas Ciências sociais, é um conceito que designa indivíduos que estão alheios a si próprios ou a outrem tornando-se escravos de atividades ou instituições humanas, devido a questões econômicas, sociais ou ideológicas. 3. O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprio].

Não suportou imaginar como aquilo ficaria se continuasse assim. Se mais e mais nascidos trouxas entrassem e não entendessem (assim como Marvolo tinha o feito quando achou que era um deles) que deviam deixar o lixo que era o local de onde vieram para trás e assumir a beleza do mundo bruxo de corpo e alma. Hogwarts foi feita para serem bruxos, para tirar crianças do domínio trouxa! Sua influência não devia passar pelos portões nunca!

Mas eles não entendiam...

Não importava o quanto explicassem, sempre julgavam como se sua cultura fosse melhor, mais desenvolvida. Sempre pensavam melhor de sua ciência do que da magia. Como podiam ser tão tolos? Como não viam o que estava diante deles? Tom via! Mas Tom era, no fim, um mestiço. Ele tinha uma linhagem antiga e não teve escolha além de aceitar que essa era a grande diferença. Marvolo conseguia pensar como bruxo, nascidos trouxas seriam trouxas para sempre, não importa que usassem magia, a mente era assim.

O sangue realmente mágico o fazia ver com clareza e prezar pela magia acima de qualquer vida inútil não mágica! Enquanto nascidos trouxas e até outros mestiços tolos não entendiam, achavam que aquilo que estavam fazendo era evolução.

Tolice!

Eram como os colonizadores invadindo território indigena e os chamando de primitivos! Obrigado-os a desistir de suas culturas, religiões, línguas, costumes, vestes, tudo, TUDO, para se encaixar no que eles julgavam ser uma sociedade verdadeiramente civilizada.

Arrogantes. Nojentos. Ridículos!

Não viam que estavam repetindo sua história! Não se viam como estavam se mostrando: incapazes de respeitar e adentrar em uma nova cultura. Não, eles precisavam insultar e renegar por não ser tão boa, tão evoluída, a ciência trazia respostas! Mas magia era o desconhecido de possibilidades, nem tudo tinha que ter uma resposta, as coisas eram como eram. Eram limitados por anos sendo ensinados da forma errada.

Querendo "civilizar" os bruxos, só que nada faziam além de exterminar sua essência como pagãos, explorar a magia que suas escolas estavam tentando oferecer e descartando todo o resto como coisas que deviam ter ficado no passado. Julgavam os bruxos por usarem "roupas antigas", não roupas bruxas. Por jogar xadrez de bruxo porque "era bárbaro" e assim por diante.

Quantas vezes não ouviu algum nascido trouxa de outra casa em Hogwarts sugerir que a magia, junto da tecnologia ajudaria no "desenvolvimento da humanidade", que o mundo devia se unir. Ninguém era tão tolo, não é? Ou era. Tom nem tentava começar a explicar que o que estavam sugerindo era arruinar a liberdade dos bruxos tornando-os em mais trabalhadores e usarem sua magia como produto apenas para melhorar a tecnologia e para que?

Para mais uma guerra?

Viviam dizendo que bruxos viviam no passado, mas no passado bruxos se juntavam aos trouxas, viviam entre eles, compravam suas brigas, eram leais a reis de seus territórios e o que ganharam com isso? Eles eram mascotes de grandes impérios, servindo apenas para enriquecer, mas no menor deslize eram caçados, porque o rei os temia, nunca respeitou, eles eram máquinas para a alta sociedade. A evolução bruxa foi justamente se desvencilhar disso e usar a magia para trabalhar apenas por ela própria e mais ninguém.

Bruxos por bruxos.

Mas para um povo que cresceu invadindo territórios, explorando os recursos naturais até a extinção de vários deles e escravizando todos que podiam, como fazê-los entender? Fazê-los entrar no mundo dos explorados e não pensarem como todos os seus antepassados sempre o fizeram e ao invés de querer colocar a própria verdade por cima da outra, aceitarem a nova como forçaram os demais? Aceitar que decidiram se esconder, pois era mais libertador do que continuar matando sua verdade e essência por eles?

Se os bruxos continuassem com os trouxas, quanto tempo levaria para os forçarem a aceitar suas religiões, sendo que a dos bruxos já era tão ridicularizada que nem em suas escolas tinham mais?

Ou pior.

Quanto tempo para serem escravos de qualquer tipo?

Conquistar e dominar.

Essa era a história trouxa, Tom estudou o bastante para saber.

Começou a compartilhar essas divagações com os amigos e de alguma forma, se juntaram em um grupo maior, os cavaleiros de Walpurgis, decididos a observar o mundo mágico e fazer o que fosse preciso para intervir um dia. Pois era preciso. Marvolo se formou e quis encerrar sua história pessoal, depois aprender mais. Como entender o que era necessário para salvar a magia, se não conhecia o máximo sobre ela?

Foi muito mais bruxo viajando pelo mundo e aprendendo com pessoas nos cantos mais isolados, sem a tal "civilização", do que jamais foi em Hogwarts.

Uma escola de magia e bruxaria.

Ser civilizado era o que então? Se dependesse da morte da essência da magia pagã para chegar a isso, então Marvolo destruiria a civilização como todos conheciam de vez por todas. A câmara secreta, assustar os nascidos trouxas, afastá-los da escola. Que não viessem se não estavam dispostos a serem bruxos, aqueles sangues ruins!

Mas era burrice. Era sua raiva falando mais forte. Ficar matando e assustando crianças não levaria a nada e ele não queria (não PODIA DEIXAR) que Hogwarts fechasse. Trancou a câmara e deixou tudo isso para lá.

Tentou de outro jeito. Quis ser professor, ensinar as crianças a verem esse problema, mudar pela raiz e de forma pacífica.

Só que foi impedido. Tudo bem. Revoluções dificilmente não seriam impedidas quando o mundo estava tão cego. Cego de luz. Voldemort estava disposto a fazer o sacrifício necessário. Tal qual os princípios das artes das trevas. Ele tinha desejo intenso, . Entendia o problema, assim como outros bruxos, mas nascidos trouxas nunca entendiam como seus pais, seus avós, seus tios eram podres. Com ideologias ridículas que matavam a magia. Que estavam estragando algo tão bonito com a podridão dos trouxas.

Mas no meio disso havia seu medo da morte. Seu medo egoísta, seu medo altruísta. Não podia morrer antes de salvar a magia. Não podia morrer antes de orgulhar... a si mesmo? Sua consciência. Ele tinha que ser grande. Fazer coisas grandes que nasceu para fazer. Orgulhar Salazar? Impedir que os trouxas destruíssem a história bruxa como destruíram várias civilizações deles mesmos.

Maias, incas, astecas, vikings, celtas, songais, Yorubás, Rapa Nuis e muitos outros que talvez nunca mais fossem achados. Todas consideradas inferiores, menos desenvolvidas, tolas por acreditarem em outros deuses, destruídas pelo avanço mais expressivo de outros países. "Bárbaros", tratados menos que humanos, sua religião reduzida à mitologia.

Não é natural matar assim uma cultura, mas para os trouxas era. Se tratava de evolução.

Quando Tom voltou, com a força para fazer sua revolução, ele ainda tentou ser professor de novo. Apenas ensinar essa verdade. Sabia que não conseguiria, mas tentou, apenas por desencargo de consciência. Ninguém poderia dizer, quando ele decidisse fazer o que aprendeu no orfanato de melhor, que estava sendo precipitado.

Ele começou a guerra.

Não importava muito quantos morressem. Seleção natural. Ficariam apenas os bruxos fortes e aqueles que respeitavam os antigos costumes o bastante para tornar as próximas gerações mágicas bruxos de verdade! Mesmo os nascidos trouxas e mestiços, sobrariam os com tanta magia que podiam se defender até ali e eles sim, tinham um sangue que valia a pena ser misturado aos antigos para gerar herdeiros capazes de honrar o nome bruxo. Seus comensais aceitariam isso, eles entendiam a importância de um poder puro.

Lilian Evans, capaz de enganá-lo e matá-lo e que, com um sangue puro, trouxe a linhagem Potter alguém que a levou muito além. Um ofidioglota! Um dom que já tinha se diluído no sangue de seus herdeiros. A realidade ainda era a mesma.

Mas sua cabeça não.

Marvolo falhou muito. Exagerou, tomou decisões duvidosas que geraram muitas perdas do seu lado, pensou pouco no depois, focou no como destruir o inimigos, não no mundo que deixaria para os aliados e admitia agora que eram coisas diferentes. Precisavam de planos específicos, sutilmente escolhidos para entrarem em equilíbrio. Sua mente estava muito fragmentada para entender as doses certas. E nem aqueles que eram realmente próximos tinham mais coragem de debater consigo para ajudá-lo, sendo que antes, sempre conversavam. O silêncio deles era sua culpa, mas ajudou para que sentisse a liberdade de continuar e nunca pensasse melhor em suas atitudes, se não debateram, não discordavam.

Ele mal via o mundo a frente, só via o objetivo.

Medo, respeito ou eram tolos por realmente achar que o que estavam fazendo era o que lhes levaria ao sucesso?

Por fim, Voldemort encarou Lucius. Harry Potter roubando seus títulos, Dumbledore e o poder que já tinha acumulado, sua própria situação, todas as suas derrotas foram causadas por uma impulsividade que não cabia ao herdeiro da sonserina.

Tanto que foi rebaixado a apenas herdeiro de novo.

Ele decepcionou a si mesmo, por isso não iria mais agir sem pensar bem. Algumas derrotas podiam acontecer até estabelecer os novos limites, mas era inteligente o bastante e estava se recuperando para conseguir chegar ao objetivo de antes. Se precisaria tornar a destruir a civilização e construir uma do zero, ou se podia fazer isso de outra forma, descobriria aos poucos.

Só que para ter essa informação precisava que seus aliados fossem tão bons quanto um dia foram. Quanto no começo de tudo. Aqueles que eram tão capazes que lhe deram a confiança para ir tão longe.

Então se dirigiu à versão presente da linhagem Malfoy.

Ele seria capaz? Seu filho seria? Quanto tempo levaria essa guerra?

Podia ser toda a vida de Tom, mas ainda viveria bastante. O destino lhe deu uma nova chance com a ressurreição perfeita do diário. Estava disposto e sua motivação revitalizada. Faltava o exército.

Por isso ficava tão bravo, tão fácil. Estava bravo consigo mesmo desde que voltou e com os seus também. Ver que sempre esteve certo, que possivelmente os que lhe restaram por suas próprias escolhas erradas podiam não ser capazes de fazer aquela revolução, que desperdiçou uma geração talentosa e teria que lidar com filhos e netos tolos o estressava.

Só que tinha que lidar com isso.

- Continue o relatório - pediu, os minutos que tomou para pensar o deixando um pouco mais paciente. - Você teve a capacidade de buscar as respostas para as perguntas que eu obviamente faria ao receber um prontuário cheio de inconsistências e partiu para a Alemanha. Isso, imagino, no domingo. Para aparecer aqui na segunda-feira ao fim da tarde e me interromper, conclui-se que tenha conseguido algo realmente digno de nota. O que nos leva a minha pergunta original a tudo isso: um aborto. Como?

- Lady Mitrica é, afinal, oficializada como bruxa, meu senhor.

"Mas não é possível..." reclamou mentalmente, quando percebeu que já estava se estressando de novo.

- Ela é um aborto, Lucius. Ao menos... - o lorde das trevas se inclinou sobre a mesa novamente e passou alguns arquivos até achar o que estava procurando. – Ao menos é o que diz o documento de adoção dela!

Adoção.

Por isso eram tão diferentes.

Claro, Voldemort achou curioso quando viu, mas foi quase como se uma peça se encaixasse, a enorme diferença, por isso o que mais chamou atenção foi descobrir outros detalhes.

- Documento que você trouxe, a propósito. Um dos únicos em alemão que tem mais de meia dúzia de palavras, o que é alguma coisa - debochou.

Lucius não pareceu entender que Voldemort estava sendo irônico em seu bom humor, pois sorriu e se aproximou:

- Sim, milorde, é o que diz o documento, mas isso é um erro.

- Um erro?

- Enquanto pesquisava sobre a filha, mandei que meu contato buscasse sobre Lakroff Mitrica também, o que foi mais fácil por ser professor da Durmstrang e vice-diretor. Histórico escolar, documentos pessoais do homem. Isso aumentou a ideia de que a linhagem Grindelwald estivesse sendo protegida, pois os documentos dele também eram censurados. Pai e mãe até a data de nascimento, apenas a cidade e país de nascimento surgiam. Foi quando um boato muito interessante surgiu.

- E você realmente quer desperdiçar meu tempo com boatos, Lucius? - perguntou tão ameaçador que o loiro engoliu em seco.

- Eu tenho um ponto, juro milorde.

- Prossiga então.

- Supondo- começou, mas percebeu como aquela palavra era péssima, então negou com a cabeça e recomeçou. - As evidências estavam apontando uma proximidade grande entre os Mitrica e os Grindelwald. Para tentar encontrar as respostas criei uma teoria e busquei os fatos para contradizê-la ou afirmá-la...

O completo oposto de como Tom funcionava, evitando ao máximo qualquer teoria para que sua mente não pudesse confundí-lo misturando fatos e sua interpretação deles.

- A teoria é que a família Mitrica seriam os próximos a suceder o título de lordes Grindelwalds com a morte de Gellert Grindelwald, isso exigiria a interferência do estado na proteção da linhagem, mas após a guerra a linhagem teria sido muito prejudicada financeiramente. Suas ações e seu envolvimento em qualquer negócio seriam nulos pois as pessoas não iriam querer se envolver e correr o risco ao ostracismo, então como nunca ouvi falar deles e mesmo assim podiam ser tão ricos?

- Realmente não estou entendendo como as coisas se relacionam.

Na verdade ele estava se perguntando se aquele idiota não estava tentando enrolá-lo de propósito, porque não era possível!

E quantas vezes só naquela hora Voldemort já tinha chamado seu comensal de idiota?

- Não fui apenas eu que nunca teve conhecimento dos Mitrica, milorde. Na verdade, a família só começou a aparecer e ganhar espaço em 1988. Imagino que como o senhor leu os documentos, então pôde perceber que esse foi o período... - Lucius deixou a frase no ar, esperando que seu mestre dissesse para que não cometesse o erro de supor sua ignorância a algum fato.

Marvolo não respondeu logo de cara, apenas levantou uma sobrancelha e esperou, depois teve que rir e negou com a cabeça.

E a risada foi como se um ácido tivesse sido jogado contra a pele do loiro. Fraco demais para matá-lo, forte o bastante para deixá-lo em péssimo estado.

- Você tinha dito, Lucius - começou Marvolo lentamente. Sua voz parecia tão grave agora que era estranho que estivesse saindo daquele corpo do jovem belo. - Que estimou a data do documento de adoção por uma questão de lógica. Muito bem pensado, a propósito, pensar em verificar o ministro da época e os demais funcionários que apareciam assinando, se traçasse uma linha em comum com seus cargos, poderia ter o ano e talvez até o mês. Muito bom - os ossos de Lucius pareceram virar gelatina, ao mesmo tempo que todo o corpo endureceu, uma sensação muito estranha, de frio e calor, pavor e incerteza.

Seu lorde o estava parabenizando.

Aqueles lábios rosados e carnudos em seu corpo sorriam com delicadeza.

Mas seus olhos diziam o completo oposto.

Malfoy teve a impressão de que sua boca estava cheia de uma comida agridoce, a cada palavra de seu senhor, a garganta se fechava mais, a língua inchava, o tornando uma massa incapaz de qualquer coisa além de abrir levemente a boca e tentar puxar algum ar, mas não conseguia. Respirar, engolir aquela comida, apenas sentia o gosto.

Parecia mortal em todos os sentidos.

Só que matava aos poucos, agora só estava lá, prometendo e incomodando. Parecia espinhoso, cutucando a garganta, o peito e a barriga, que se revirava. Lucius tremeu, sentindo-se febril e compelido a correr, a implorar para que seu mestre o poupasse daquele ar tóxico que despejava em si...

Era isso. O ar estava pesado. Era a magia do lorde das trevas. Estava brava e contaminava o ambiente. O Malfoy quis tossir, tentar se livrar daquilo em seus pulmões, no seu sangue, mas não conseguia. Não podia se mover, respirar, engolir, pensar.

Os espinhos não permitiam, a coisa na boca tentando se arrastar pela garganta não permitia. O veneno. O ar impuro...

O sufoco de uma cobra não permitia.

Voldemort se inclinou e não tinha como não associar o movimento a uma serpente. O olhar de uma anaconda pronta para engoli-lo por inteiro, por isso Luciu apenas continuou parado, mas foi difícil com seu corpo tremendo internamente para que fizesse o contrário e se afastasse.

Mas não no corpo do mestre cobra, que Lucius conheceu e sempre associou ao lorde das trevas. Um ser que ultrapassou a humanidade.

Era naquele jovem bonito e parecia tão mais estranho.

Não mais um monstro declarado agindo como monstros deviam agir. Era desconexo, como se algo possuísse aquele homem.

Foi assim que o lorde das trevas voltou? Teria colocado sua alma no corpo daquela criança?

O maior monstro, na pele do mais premiado e bem apessoado cordeiro.

Sua imaginação criou a imagem terrível de uma cobra vestindo a pele de um ser humano e a sensação piorou quando o lorde se levantou e começou a andar. Contornando sua mesa com uma tranquilidade que zombava do estado emocional do outro.

Anaconda, jibóia, uma cobra real? O que podia ser pior? Tentar pensar se havia uma única serpente no mundo tão perigosa quanto aquela e a resposta era não.

Um basilisco.

Foi o mais próximo que conseguiu achar. Os olhos pareciam que já tinham petrificado o loiro a anos.

Era majestoso, como tantas outras da espécie, se movimentando de forma suave mas decidida. Era aterradora tanto quanto, preparando-se para o abate. Girou em torno da mesa, para ficar diante de Lucius, seus trajes negros farfalhando sutilmente e se recostou no mogno com braços cruzados.

O rei das serpentes.

Sangue frio, olhar e atitudes ofídicas, a voz de veneno, promessa de coisas terríveis. Morte ou dor indescritível.

A mente do comensal estava tão em parafuso que chegou a se pegar pensando que os braços de seu lorde eram um pouco mais torneados do que o esperado. Na verdade bem mais treinados que os de Lucius, o que favoreceu sua teoria da possessão de um outro garoto para retornar.

Foi aí que ele entendeu e seu rosto se tornou de pânico completo.

Sua gafe.

- Ah! - murmurou Voldemort, o sorriso aumentando. - Você finalmente percebeu, não foi? Que pode sim ter feito um bom trabalho juntando fatos dos últimos anos e estabelecindo linhas cronológicas, mas esperava que eu fizesse o mesmo, sendo que fiquei mais de uma década vagando como um maldito espectro esperando que um dos meus comensais viesse ao meu auxílio?! Não só eles não fizeram, como ainda me traíram onde fosse possível! - gritou e finalmente o loiro conseguiu ter uma reação.

Ele se jogou no chão. Se prostrando em degradação completa. Tom franziu os lábios assistindo aquilo.

- M-milorde, eu s-sinto muito, eu...

- Lucius, você diria que sou um homem paciente? - interrompeu.

A resposta demorou para vir, claramente o loiro estava muito em dúvida sobre o que deveria responder para aquilo e, por isso, saiu sem nenhuma gota da confiança e sem coragem de levantar o rosto do chão:

- Sim... milorde.

- Me acha benevolente?

- S-sim... milorde?

- Isso foi uma pergunta ou uma resposta?

- Resposta, meu senhor.

Marvolo deu uma pausa, acenando a cabeça. Ele não tinha mais o mesmo gosto de antes de ver seus comensais em um estado tão deplorável, parecia apenas que estava controlando um bando de fracos, mais do que mostrava sua própria força. Não, todos podiam temer um bruxo, mas poucos podiam se erguer contra a sociedade, sem dúvidas esses não eram miseráveis que pareciam prestes a chorar.

- Então vou fazer jus a imagem que tem do seu senhor. Paciente e benevolente. Por isso, não se degrade como um animal ou pior. Levante-se.

Lucius apenas acenou e obedeceu, mas enquanto a cabeça foi levantada, ele continuou de joelhos.

- Ajoelhe-se a mim como a um cavaleiro diante de um rei, não um simples escravo.

- Sim, milorde - concordou se ajustando.

Não era de se admirar que nenhum de seus comensais que conseguiram a liberdade não o tivessem procurado nos últimos treze anos. O respeito tinha sido substituído por pavor. Ainda era uma afronta, entretanto.

Também uma pena, já que confirmava que os que valiam a pena, os que tinham lealdade acima da covardia de se virar contra a causa e o mestre dela, eram justamente os que precisavam ser resgatados de Azkaban.

Marvolo precisava desses covardes para ter os que enfrentaram o inferno de cabeça erguida se recusando a renegá-lo. Que irritante. Mas faria. Só tinha que transformar o que tinha em capacitados mais uma vez.

Que bom que tinha talento para a arte de ensinar.

- Entendo que você já demonstrou dificuldade nessa conversa, então vou ser o mais claro que consigo. Até farei algo que detesto e correr o risco de me repetir, mas estarei sendo exatamente o lorde que você espera, nada mais, nada menos. Parece-me justo que, por sua vez, você seja inteligente e cauteloso. Que tal? Uma troca. Eu não mudo o tom dessa conversa e você não me dá motivos para torturá-lo.

Houve um breve silêncio, onde Lucius não sabia se devia dizer algo, mas ficar olhando sem responder pareceu pior, então acrescentou quase tarde demais:

- Sim senhor, como o senhor deseja.

- Ótimo. Então apenas para colocar as cartas na mesa, você não fará suposições acerca de nada que envolva meus últimos anos fora da sociedade, qualquer coisa antes da minha queda, entretanto, só será aprofundada se assim eu lhe pedir. Partirá do princípio de que se alguém como você sabe, então eu ainda mais.

- Sim senhor - respondeu, claramente incomodado, mas o Riddle queria isso.

Humilhar Lucius da mesma forma que estava se sentindo ao se lembrar de sua derrota, mesmo que diante de inimigos dignos.

- Você também tomará cuidado em avaliar o que vai dizer antes de deixar sair para meus ouvidos. Sim?

- Sim, senhor.

- Estamos entendidos. Entretanto minha benevolência possui um limite. Se já estabelecemos as regras, você não tem mais argumentos para persistir em um erro. Ao cometê-lo novamente, o que acontecerá?

- Serei punido, senhor.

- Perfeito. Agora prossiga. O que tem em 1988?

- A adoção de Lady Mitrica.

- Por que isso é relevante?

- Ao que tudo indica, a família Mitrica ficou rica e começou a ganhar influência na época da adoção. Apenas um pouco antes, mas é uma "coincidência" muito forte. Mal há menções a eles, então o sobrenome aparece em um relatório, na lista de uma reunião no ministério e alguns meses depois começa-se o tribunal do processo de adoção. Dali em diante, é como uma planta trepadeira, começa a crescer, se espalhar e de repente você só vê o que já tomaram. Durmstrang, Lady Mitrica no ministério. O centro comercial da cidade onde vivem? Possuem uma parte de quase todas as lojas e estão de frente para todos os projetos.

- Centro comercial? Há um na Rússia agora então?

- Sim, fundado nos últimos cinco anos senhor - falou lentamente e com um pouco de medo que não ter começado por ai fosse um problema, mas Voldemort apenas indicou para que continuasse. - É um projeto do estado soviético, ao que tudo indica, para fazer o próprio beco diagonal no país, mas por possuírem muito mais espaço em suas terras, escolheram um lugar isolado na região da Sibéria e puderam montar uma cidade bruxa completa, então seria algo como Hogsmeade, uma cidade totalmente bruxa, apenas para bruxos, mas com foco no comércio. Chama-se Yaga.

- Tal qual a lenda de Baba Yaga?

Lucius travou no lugar por alguns instantes antes de responder:

- Eu não sei senhor, não pesquisei tanto sobre a cidade.

- Não pesquisou sobre o local onde o alvo mora? Um comércio em expansão ainda por cima?

O Malfoy não soube como responder àquilo, engoliu em seco e quando Voldemort ia dizer alguma coisa, o loiro se encolheu, pronto para uma retaliação, mas pela primeira vez em toda sua vida ficou feliz em ouvir a voz de um homem já conhecido que odiava, mas ali, abrindo a porta sem nem bater como se fosse sua, se fez muito útil.

Theomore Nott entrava no escritório.

Falando enquanto atravessava a sala desinibidamente:

- Sim, milorde, o nome se baseia exatamente na lenda da divindade eslava, Baba Yaga, que foi demonizada e reduzida à bruxa má da floresta com a expansão do cristianismo, é justamente para homenagear uma figura histórica que perdeu seu valor quando os dos trouxas passaram a falar mais alto, lembrar sua história entre os bruxos da região e tal qual sua casa era parte da sua força, a cidade seria parte do país e um lugar seguro para os velhos costumes.

Marvolo assistia o homem contando.

1. Abriu a porta sem sequer bater, tal qual se à sala pertencesse a ele mesmo e adentrava confiante.

2. Falava sem autorização.

3. Se aproximava sem seu comando.

Uma clara falta de educação e ousadia punível com tortura prolongada e depois a morte, na opinião de Voldemort.

Se, entretanto, que o tivesse feito não fosse justamente um de seus antigos colegas de escola e a pessoa mais útil naquele momento. O último de sua geração...

Riddle suspirou, pronto para ao menos lhe dirigir as palavras mais cortantes e repreendedoras que conseguisse, afinal tinha que exigir respeito de seus comensais, mesmo aqueles que (agora podia sentir) nutria algum tipo de brandura, mas o homem terminou sua explicação já atravessado o escritório e no mesmo instante, se jogou ao chão com respeito ímpar aos pés de Marvolo.

- Milorde – disse, sua voz carregando tanta emoção que o lorde das trevas apenas ouviu. – É uma honra estar diante da sua presença novamente. Tanta que minhas palavras jamais poderão alcançar a verdade por trás desse sentimento e isto deve ser alguma coisa, já que jamais parece me faltar palavras – Marvolo teve que ter muita força para não rir daquilo, nem sorrir. – Minha lealdade foi testada e eu falhei com o senhor – Continuou, o pesar pingando, Marvolo ainda viu que o homem tremeu. – Tal vergonha eu sei que deveria ser punida com a morte. Tudo que posso dizer em minha defesa é que garanto jamais cometer tal ato novamente. Entretanto sei que posso não merecer seu perdão, mas juro que se me oferecer lhe serei o mais útil que posso. Meu nome, meus conhecimentos, absolutamente tudo que puder lhe dar, estará a seu alcance, será uma extensão do senhor. Juro não apenas como lorde diante do senhor, herdeiro da sonserina, mas como pessoa. Seria capaz de realizar um pacto de sangue, um voto perpétuo ou o que o senhor desejasse para provar minhas palavras. Eu sou seu, para fazer o que desejar.

O lorde das trevas observou o homem diante dele e suas palavras.

Nunca fez seus comensais realizarem um pacto de sangue, porque sabia que poderiam ser quebrados se a vontade dos envolvidos não fosse forte o bastante ao ser feito, ou fosse maior quando desejassem que se desfizesse. Objetivos muito distantes quebravam a coisa e a lealdade, o desejo intenso, a emoção eram muito necessárias. Era preciso uma ligação muito forte com a pessoa ou a ideia, para criar um pacto de sangue forte e maior ainda para mantê-lo. Não se sentia particularmente inclinado a manter lealdade com ninguém por tempo o bastante para algo assim ser útil nunca.

Não tinha ligação com ninguém além dele mesmo. Para dar seu sangue, ainda por cima? Nunca.

Então o voto perpétuo. Não quis usar, pois queria provar ao mundo que seus comensais eram leais por vontade própria. Provar aos comensais que tinham que estar ali, por respeito ou por medo, mas por ele. A magia de Voldemort, a ira de Voldemort, nada mágico que os tivesse prendendo além do próprio lorde das trevas e do que era capaz.

A jura de lordes era apenas pequena diante dessas outras opções e uma questão de respeito.

- Senti sua falta – sussurrou Theomore e Tom travou a mandíbula, surpreso.

O tempo... Theomore já estava tão velho.

Era irônico, considerando que antes era o mais jovem do grupo. Um simples menino que entrou em seu primeiro ano quando até mesmo os cavaleiros de Walpurgis já existiam como grupo e estavam a um passo da formatura, mas conseguiu fazer parte mesmo assim, tamanha a sua capacidade para se "meter onde não devia", mas tudo em busca de conhecimento.

Nott gostava de saber tudo sobre todos.

Entretanto não era um tolo.

Talvez porque Tom foi aquele que defendeu sua curiosidade como isto e não como "garoto encherido", sempre o respeitou, se colocou no lugar que devia, sabia como uma hierarquia funcionava e do momento que percebeu que podia ser útil, ele se fez. Ele olhava para Marvolo não como os colegas, com admiração. O garotinho parecia ver Tom como um mestre ao qual faria de tudo para aprender e agradar.

"Eu estava muito diferente, não é?" pensou, porque não se lembrava de nos últimos anos antes de sua queda ouvir tanta devoção (e carinho) na voz do outro.

Coisas que antes eram normais.

Carinho... Theomore (apesar de Riddle ter feito várias coisas para afastá-lo) tratava-o como um irmão mais velho ou algo do tipo, alguém da família que devia muito respeito, mas que tinha inegável afeto. Sempre que tirava uma boa nota fazia questão de mostrar à Tom, perguntava sua opinião antes de fazer as coisas e quando Riddle ordenou que ele pensasse sozinho...

Começou a pensar exatamente o que Marvolo pediria antes mesmo que fosse dito.

Sempre com uma informação que pediu em uma carta, já na resposta seguinte, por mais difícil que fosse conseguir aquilo. Sempre com relatórios semanais sobre a Grã-Bretanha e o único que eventualmente Tom aceitou que podia receber cartas, mesmo em suas viagens, por mais inóspito que fosse o lugar que estivesse.

Esteve lá quando voltou, o acompanhou até Hogsmead para pedir novamente pelo cargo de professor.

Mas perto do fim, se tornou só mais um comensal que o temia como os outros.

Seu antigo colega de escola, o único que sabia seu nome verdadeiro e que ainda estava vivo, único que viveu o tempo quando já era mais que um príncipe da sonserina. Um rei.

Já havia tomado a casa e todos os lordes, os mais velhos eram leais, mas os mais novos eram ensinados quase ao fanatismo, mas mesmo assim Theomore parecia ter um brilho a mais nos olhos que os outros.

Por mais estranho que fosse pensar algo além do fanatismo, se alguém o tinha era Nott, mesmo que Tom nunca tivesse conseguido nomear aquilo. Adoração, talvez?

- Levante o rosto - pediu e o loiro obedeceu.

Lá estava. No meio de um resquício de medo, algumas lágrimas não derramadas e outras emoções, porque aquele homem sempre foi emotivo.

Devia ser adoração, não é?

A forma como parecia querer orbitar Marvolo o resto da vida, como seu corpo parecia atraído a ele, tal qual uma mosca sendo atraída pelo cheiro de uma planta carnívora.

"É um menino agitado que não controla a língua" reclamava Walburga furiosa, sempre que o garoto perguntava sobre algum livro para Tom e corria para terminar seu trabalho.

Ele discordava.

Na verdade Theomore controlava o que dizia e muito bem. Sabia o que e quando devia para enganar, conquistar e manipular. Era uma cobra rasteira com cores bonitas e língua de fora que enganava as pessoas, sacudindo a cauda com um chocalho que faziam todos acreditar que era espalhafatoso, indecoroso.

Nunca passava completamente despercebido, mas a verdade é que, como um ilusionista trouxa, sempre estava chamando a atenção para o que queria, assim abrindo espaço para pegar o que todos escondiam.

Era um talento que Marvolo notou e ver como o menino estava disposto, o transformou em uma espécie de projeto pessoal. O ensinou pessoalmente. Um discípulo, seu único até então o que frustrava os demais, mas também servia para incentivá-los a serem mais úteis, ou podiam perder seu posto para "o pet do lorde", era como Orion chamava.

Alguma coisa estranha aconteceu. Um peso no peito, uma dor de cabeça. Tom... quase se arrependeu, de ter feito o que fez, mais do que ja vinha, porque não queria ter perdido essa coisa no olhar de Theomore.

Diante de si estava um homem idoso que não reconhecia mais, mesmo assim foi como se sua convicção de que tinha que fazer certo de qualquer forma dessa vez pareceu fortalecida. Porque ele não podia decepcionar quem acreditava com tanto afinco nele.

- O senhor encontra-se divino, Milorde – comentou Theomore, a voz embargada.

- Você me abandonou.

Nott baixou a cabeça, mas o lorde das trevas conseguiu ver como o brilho de vida em seu olhar sumiu antes disso.

- Eu sei... - sussurrou.

Voldemort o encarou sério por alguns segundos antes de inclinar a cabeça, tal qual uma serpente, e sorrir:

- Eu disse que nem a morte seria capaz de me alcançar.

O tom de voz mais ameno deu a liberdade para o comensal tornar a encarar seu mestre e, com aquela mesma adoração (Marvolo ainda tinha a impressão de que devia ter uma palavra mais forte que aquela), continuou:

- A morte sim, milorde. Entretanto o tempo também? Já são duas deidades. Lady Magic deve estar tremendo por seu trono - comentou baixando.

Quase imediatamente o mais velho sentiu uma sensação de dejavú.

Ah.

É por isso que eu gostava tanto dele.

Sabia que com os Nott você deve sempre pensar que o que dizem é apenas para agradar. Nada era em vão, tudo foi pensado meticulosamente para atingir alguém e dificilmente era sincero. Mesmo quando insultavam o anfitrião de uma mesa, então outra pessoa era seu alvo, um rival do anfitrião por exemplo. Aquilo foi para atraí-lo, independente das consequências, desde que sua curiosidade por conhecimento seja saciada.

Eles eram manipuladores de palavras e com elas, das emoções das pessoas.

Mas gostava daquele estilo. Aquelas brincadeiras sutís...

Também não teve mais delas perto do fim, não é mesmo?

O lorde Nott ainda pegou o tecido do mando de Marvolo, dando um beijo e se afastando respeitosamente.

- Mas se há um adversário digno para deuses, é o senhor, meu amo...

"Meu amo" Theomore devia ser o único que ainda usava este termo com tanta frequência. Apesar de Bella já ter se dado à liberdade algumas vezes e outros dos filhos de seus colegas, mas estes eram desencorajados. "Amo" servia para aqueles que conheciam Riddle antes de ser um lorde e, portanto, milorde não fazia sentido sendo eles mesmos futuros lordes de suas casas. Os mais novos, porém, tinham de tratá-lo de acordo.

Um lorde das trevas.

- Você não veio - sussurrou Tom após um longo tempo de silêncio contemplativo.

Pôde ver como houve um novo brilho nos olhos do antigo colega, mas não foi de medo tal qual o esperado.

Claro que havia medo, isso sem dúvida, só que algo mais forte se sobressaia. Um arrependimento. Decepção... consigo mesmo.

- Eu sei. Nunca poderei me redimir - suas palavras pareciam tão sinceras quanto dolorosas para ele próprio.

- Treze anos. O vejo aqui, após treze anos. Inteiro e saudável, apesar de mais velho, seus poderes estão intactos. Eu me perguntaria como você, de tantas pessoas, pensou que eu não me reergueria.

- Se perguntaria? Quer dizer que já encontrou uma resposta? - Marvolo não respondeu, Nott inspirou com pesar. - Haverá eu de encontrar forma de me encaixar junto do meu amo no futuro? Ou devo ser descartado tal qual minha deslealdade?

Marvolo pensou em muitas coisas para responder. Muito a se considerar. Tinha, na verdade, um discurso pronto para seus comensais, entretanto... se viu incapaz de dizer aquelas coisas à Theomore.

- Você trabalhará direito daqui em diante - foi tudo que seus lábios permitiram soltar.

A surpresa e o choque cobriram como uma avalanche o mais novo, que ainda permaneceu em silêncio pasmo por alguns segundos. Então seus olhos se encheram de lágrimas, as quais se forçou não derramar, mas entregavam algo que os dois sabiam ser o motivo da emoção: Aquele não era mais Voldemort.

Sim. Era o lorde das trevas, o nome não estava descartado, mas a atitude? A coisa que tomava as decisões impensadas e não valorizava os seus, nem seu objetivo, não mais que derrotar e massacrar tudo que se opusesse a ele?

Este não olhava para Nott agora.

Não o cumprimentava com os olhos vermelhos de Voldemort, mas o rosto deslumbrante de Tom.

Ele disse, estava com saudades e seu mestre entendeu.

Theomore teve saudades justamente de Riddle. Seu mestre. Seu amo. Era bem mais do que os treze anos em que esteve derrotado, mas todo o tempo em que havia se perdido em si mesmo.

Igualmente entendia o colega, que havia ficado viúvo durante a guerra, a mulher morta numa missão, o deixando para criar seu único herdeiro que demorou tanto para nascer. Nott teve que escolher entre o mestre que enlouquecera e o havia tirado a esposa ou sua própria vida.

Não amava a esposa, Marvolo sabia que Theomore era só mais um dos reféns do casamento arranjado, mas ainda era alguém que havia criado uma história e tinha se tornado o último membro de sua família, além dele mesmo e o jovem Theodore. Ir atrás dos restos de alguém que já não parecia inteiro e arriscar a família não era algo que um lorde faria. Literalmente sua magia iria contra, afinal ele carregava o anel de lorde e, com isso, as responsabilidades. Sua jura era diante de Voldemort e da casa sonserina, mas antes de tudo ao aceitar o anel ele jurou ao próprio nome.

Voldemort não entenderia. Marvolo sim.

Todavia:

- Eu não poderei esquecer. Dificilmente perdoarei. Terá de ser o mais leal, prestativo e útil servo que já tive para tanto e a menos que atinja a perfeição, essa falha sempre terá criado um burado nessa relação.

– Milorde, eu me prostrei diante do senhor, sou o seu mais fiel.

– Basta – disse Voldemort. – Você não é. Não agora. Meu mais fiel já reingressou no meu serviço a tempos, assim que lhe foi possível, assim que fugiu de seu suplício e prisão. Ele está em Hogwarts, bem debaixo do nariz dos meus inimigos, caçando suas fraquezas para que possamos derrubá-los.

Marvolo viu como Theomore ficou surpreso e empolgado, nada como uma informação nova para presentear um Nott. Um espião? Prato cheio para eles. Tom sabia que o colega contaria a seu filho, tentaria ao máximo descobrir, a menos que fosse impedido.

Daria esse projeto ao colega, como prova de boa vontade. Sem tortura ou punição pelo abandono, apenas um jogo para testá-los, ao mesmo tempo que provocando-os ao não lhes dar os detalhes logo de cara.

"Será que seu filho é bom como você foi? Com sua ajuda ainda, serão capazes de matar a charada? Ou será que os Nott estão enferrujados?" era o que pensava e o que seu sorriso, de alguma forma, conseguiu passar a mensagem já que Theomore também deu um discreto sorriso enquanto curvava-se:

- O senhor usou plural, meu amo – comentou. – Imagino que não estejamos generalizando, mas pensando em nomes e rostos? Quem devo buscar, meu senhor? Qual a urgência para cada? Eu lhe entregarei de bandeja cada um ao seu pedido.

- Que assim seja, Theomore. Ou jamais verá a luz do sol novamente.

- Sim, meu amo. Eu o farei.

- Deverá igualmente recitar seus votos de lealdade outra vez.

- Milorde, imediatamente!

Então, ajoelhando-se em uma perna, cabeça abaixada, o homem puxou uma varinha do coldre em baixo da manga, usou um feitiço de privacidade. Cada sílaba escorrendo orgulho, o homem recitou:

- Eu, Theomore Allen Nott, lorde da casa Nott, declaro Tom Marvolo Riddle, soberano dos comensais da morte, aquele-que-não-deve-ser-nomeado, fundador dos cavaleiros de Walpurgis, lorde das trevas reconhecido por lorde Voldemort, herdeiro da mui antiga e nobre casa Slytherin e herdeiro da nobre casa Gaunt, como meu senhor e como senhor de todos os meus futuros descendentes até o tempo não existir mais. Que assim seja.

- Que assim seja – repetiu Voldemort, desta vez, com um sorriso largo e orgulhoso.

Lucius observava irritado, pelo fato de que sentia ter sido deixado de lado muito mais do que no feitiço de privacidade que o impediu de ouvir a jura. Como se nem existisse na sala. Sabia que havia algo a mais ali e ficou frustrado por não entender os detalhes. De alguma forma seus instintos diziam que não só a posição de destaque dos Malfoy ao lado do lorde das trevas estava em risco, como já estava perdendo a primeira batalha sem nem saber que havia começado, ou até onde ia.

Enquanto isso, tal qual o havia sido a dois dias atrás, ambos (mestre e servo) imediatamente sentiram a força do voto se revitalizando. A ligação entre a energia de Tom, com a do antigo colega em um soco mágico em forma de palavras.

O comensal gemeu, bem menos que Malfoy e Riddle teve a impressão que do mesmo modo Nott sentia menos dor vinda de sua marca naquele instante.

Um bom indicativo de que não havia errado em seu julgamento. A magia de Theomore o estava punindo menos do que a magia de Lucius fez.

Mostrava que Nott se mantinha internamente fiel por todo esse tempo, a traição foi apenas por não agir em prol do mestre, mas ela não via como mudança de lealdade. É provável inclusive que já tivesse sido continuamente flagelado ao decorrer dos últimos anos, cada momento que escolhia não investigar mais a fundo um boato sobre seu senhor, que com certeza foram parar nos ouvidos do curioso.

Seu voto antigo não tinha sido totalmente destruído, o novo apenas o lembrou que falhou, mas passou rápido.

Para ambos.

Marvolo quase vomitou com Lucius, devido a reabsorção da taça de Lufa-Lufa e sua instabilidade. Agora já haviam se passado quase cinco dias desde esse momento e era um comensal ainda ligado emocionalmente a si. Não foi uma mudança tão abrupta e agora podia aguentá-la com apenas um leve incômodo no intestino.

Logo, estava feito. Mais uma vez, a própria magia de um comensal, era mais leal ao seu senhor, do que o próprio feiticeiro que a carrega. Theomore Nott havia se entregado a Tom Marvolo Riddle.

- Agora, levante-se. Nada de se rastejar. Você é um lorde e membro da minha antiga corte na escola, não quero que haja como menos que isso novamente, ou parecerei mais fraco. Aqueles junto de mim devem ser os mais fortes. Jamais baixar a cabeça como um verme.

- Sim, meu amo. Imediatamente, meu amo.

Theomore se levantou obediente, deu uma última mensura ao seu mestre e se afastou para próximo de Lucius, se colocando ereto ao seu lado.

- Pela sua entrada – comentou Voldemort, estranhamente bem humorado. – Vejo que Lucius o informou sobre um dos meus alvos mais recentes.

- Lorde Lakroff Mitrica, sim meu amo. Estive muito curioso desde que o vi nas conversas sobre o torneio tribruxo. As semelhanças físicas entre ele e o lorde das trevas. Claro, não foi difícil descobrir que era realmente um parente de Gellert Grindelwald, o que explicava a maravilhosa ausência de Albus Dumbledore em boa parte dos eventos que decidiram algo tão incrível quanto a inclusão da Durmstrang em nossa Hogwarts e na escola. Theodore vem me contando sobre como essa união vem sendo vantajosa, como as artes das trevas e muitos dos nossos princípios começaram a ser debatidos entre os alunos.

- Seu filho, imagino, deve estar lhe mandando muitas cartas? – comentou Marvolo. – Com um evento tão grande acontecendo.

- Sim, meu amo. Mantemos uma boa troca de informações, mas acho que não poderei lhe ser útil nesse sentido, uma vez que meu amo já possui um infiltrado.

- Sim, eu possuo, mas ainda vou querer que peça algumas informações ao seu filho que estão fora do alcance do nosso colega.

Voldemort não perdeu a preocupação no olhar do comensal, mas sua resposta não vacilou:

- Claro. Quais seriam, milorde?

- Nada que exigirá muito – garantiu.

A cautela do outro diante da segurança de seu filho era algo delicado. Um vespeiro que seria melhor não mexer no momento. O mais indicado, com certeza, seria aguardar que Theomore tivesse a confiança restaurada em seu senhor antes de tudo.

Antes de incluir seu filho.

- Quero que me passe qualquer coisa que Theodore acabe por descobrir sobre uma pessoa. Não precisa lhe dar detalhes, nem pedir que busque algo específico, apenas me mantenha informado.

Os ombros do Nott ficaram claramente mais relaxados depois disso.

Tanto que até seu rosto se permitiu sorrir astuto ao perguntar:

- O alvo?

- Acho que já adivinhou. Harry Potter – riu. – Ou melhor, Peverell-Potter.

Lucius arregalou os olhos surpreso e Theomore foi quem riu agora:

- Não sabia, Lucius, querido? Draco não lhe contou? – sorriu, um sorriso perfeito de cobra. – Imagino que não e como não esteve no ministério hoje...

- Não comecem – ordenou Marvolo quando o de cabelos cumpridos começaria a falar. – Sim, Potter assumiu o título dos Peverell. Não apenas Theodore, ambos seus filhos devem ter uma facilidade maior de se aproximar do garoto que meu informante. Na verdade, Potter é bem astuto e reservado, já afastou algumas tentativas do nosso colega em Hogwarts, mas parece bem disposto à amizade com os sonserinos. Ordenem que consigam estar em seu círculo íntimo, mas garantam que sua lealdade esteja conosco e nossa causa de forma discreta. Não quero que Potter perceba como um movimento nosso e ele é um estudante da Durmstrang com ótimas notas em oclumência, garanto que terá um bom conhecimento de legilimência. Mesmo com os anéis para proteger, qualquer cuidado é pouco.

"Ainda mais com este pestinha" pensou.

- Tomem cuidado para como farão esse pedido, seus filhos não devem saber o motivo, ajam como se fosse por benefícios ao nome que assumiu, mas não deixem de lembrá-los a quem devem lealdade acima de tudo. Potter é um interesse simples.

- Meu amo, é claro. Theodore será leal à causa.

- Draco igualmente – acrescentou Lucius apressadamente.

Tom levantou uma sobrancelha para Lucius, que tremeu. Não sabia o que o olhar do seu senhor queria dizer, mas o assustou, isso sem dúvidas. Theomore ao lado, deu um risinho debochado.

- É bom mesmo, uma vez que seu filho parece especialmente interessado em Potter – comentou Voldemort.

- Como?

- Se não sabe, mostra que diferente de Theodore, Draco não parece interessado em lhe atualizar de tudo. Bem... já era visível ao sequer saber dos títulos de Potter, mas veja só. Nosso colega em Hogwarts pegou seu filho junto de Potter nos corredores, embaixo de uma capa de invisibilidade, de mãos dadas e bem próximos.

Agora a risada do outro parecia mais um engasgo, mas Marvolo conhecia o colega o bastante para perceber que estava tentando provocar Lucius.

Qual o objetivo? Não tinha certeza. Talvez apenas ganhar naquele jogo tolo das famílias.

Pelo menos, Voldemort não tinha nenhum Weasley. Se não teria o trio supremo da implicância e rivalidade da Grã-Bretanha e sua sala eventualmente pegaria fogo.

Provavelmente incitado pelo Weasley.

- Draco não – começou Lucius, mas se calou, com os olhos arregalados.

- Você está sugerindo que nosso senhor está errado? – provocou Theomore.

- Claro que não! Apenas... Junior deve ter interpretado algo errado!

"Junior?" pensou Theomore imediatamente avaliando todos os comensais em sua lista mental. Quem tinha o nome do pai? Acabou chegando a um, mas... não era possível, estava morto.

Mas Voldemort também estava até alguns dias atrás.

Olhou para seu mestre, cenho franzido, cabeça inclinada em indignação diante de uma teoria que se formava. Marvolo apertou a ponta do nariz. Lucius tinha acabado com boa parte daquele jogo com este comentário e ficou claro como

Theomore pareceu tomar aquilo como resposta e arregalou os olhos totalmente em choque enquanto sua mente juntava os pontos ao nível que sua cabeça logo soltaria fumaça.

Se não fosse pelo o próximo comentário de Lucius que o distraiu numa velocidade ímpar:

- Onde se viu, desta forma parece até que Draco estava se escondendo para... se relacionar com Potter! – além de tudo, parecia enojado ao falar.

- Que quer dizer? – perguntou Theomore levemente irritado.

- O que?

- Isso que disse, oxigenado! Acha que seu filho foi fazer o que se esfregando em Potter debaixo de uma capa que não-

- Se esfregando?! Vire essa boca para lá!

- Já viu o tamanho de uma capa, Lucius? Quer esconder dois adolescentes de quatorze anos sem que estejam colados? De mãos dadas ainda? Faça um esforço mental!

- Draco não-

- Eu diria que o arranjo é até inteligente da parte dele para conseguir recuperar o título de lorde Black que escorreu pelos dedos, mas talvez ele não pensaria tão longe.

- Ele não iria tão longe, você quer dizer! Draco jamais se rebaixaria a algo como isso!

- Te dói tanto pensar que Draco foi pego de forma comprometedora com um homem? Depois de tantos anos lambendo as bolas do ministro para conseguir o que queria, pensei que teria aceito o mau exemplo que deu ao filho.

Voldemort se orgulhou de seus treinos de meditação. Não teve uma única alteração em seu rosto além de um levantar de sobrancelha para aquele comentário enquanto apreciava a expressão horrorizada de Lucius.

Ele sentiu alguma falta disso. Era como estar na escola. Talvez voltar pelo diário daquela época o tivesse deixado muito saudosista, mas apenas se sentou na borda da mesa, virou-se levemente e avaliou os papéis. Avaliou se devia intervir naqueles dois.

- Você é ridículo! Sequer foi isso que nosso senhor disse! – reclamava Malfoy.

- Foi exatamente o que ele disse! Olhe, Lucius! Ao menos se seu filho namorar Potter teremos certeza de nos aproximar do alvo. Draco pode até matá-lo depois que dormirem juntos!

Achou que intervir era uma tarefa bem inútil.

A rivalidade dos dois era muito boa, pois faziam sempre se esforçar mais, então deixar que trocassem algumas farpas era mais produtivo a longo prazo.

Deixou que agissem como duas crianças, discutindo, se ameaçando, insultando até outras linhagens e pegou novamente alguns dos documentos, foi para os arquivos escolares de Alice Mitrica.

A garota havia estudado em casa, feito suas provas de aprovação na Alemanha dentro do Ministério e, muito interessante, se formou em três anos.

A explicação era que sua escolarização só começou após os quinze anos. Havia um relatório acerca de "questões médicas adversas" que a impediam de ter uma educação mágica padrão e com outros alunos, mas parece que fez algumas aulas práticas na escola de Koldovstoretz, da Rússia.

[N/A: A partir daqui vai começar um trecho do mais puro suco de aprofundamento do mundo da magia dessa fanfic. Não é algo canônico (pois a J.K não explicou muita coisa, a querida) e eu sou detalhista. Quem não quiser ler, não precisa. Não afetará sua experiência. Isto é apenas para quem quer entender a política europeia. Avisarei mais para frente quando acabar, para os puladores se livrarem :) ]

Marvolo se lembrava de quando começou a conhecer o mundo da magia. Do dia que foi no beco diagonal e, por não ter dinheiro para comprar mais do que o material padrão (de segunda mão além de tudo), decidiu se sentar no canto da livraria, mais escondido dos demais entre algumas pilhas e ler sobre todas as escolas de magia do mundo, pois estava muito empolgado em saber o máximo.

Queria ter certeza de que estaria entrando na melhor.

Sempre um ambicioso.

As mais importantes historicamente falando, com maior estrutura, que recebem mais alunos, tem as notas e famas mais reconhecidas tinham cada uma cerca de dez páginas na enciclopédia que achou. Hogwarts, Ilvermorny, Uagadou, Beauxbatons, Mahoutokoro, Castelobruxo, Koldovstoretz e Durmstrang. Mas existiam várias outras. Centenas, por todo o mundo. Apenas menores e que ainda não receberam a fama das outras, nem tinham a capacidade de ensino, tanto devido a investimento de seus países, como tempo em funcionamento.

Cada uma das grandes chamou a atenção do Riddle na época, por suas características únicas, mas lembrava de Koldovstoretz principalmente pelo quadribol.

Detestava o esporte. Sequer gostava de voar numa vassoura, mas na época ainda não sabia disso e se deparou com a informação de que naquela escola os alunos voavam em árvores inteiras!

Outra coisa que o interessou foi que teve que achar outros vários livros de história e política para entender a relação Koldovstoretz, na Rússia e Durmstrang na Bulgária após algumas inconsistências que achou na leitura.

Bem, descobriu que não eram inconsistências. Apenas a história bruxa sendo diferente da trouxa.

Apesar da Bulgária ser parte dos países eslavos e não dos germânicos para os trouxas, a Bulgária mágica esteve junto (por questões políticas e de alianças) com os países germânicos mágicos na maior parte da história, tal qual outros países eslavos que não fazem fronteira com a Rússia. Mesmo após a segunda guerra isso se manteve. Todos que fazem fronteira, inclusive, continuam seguindo totalmente o estado eslavo, mesmo após a queda da URSS, pois está se manteve no mundo mágico em seu ministério.

Ainda assim, por causa dessas alianças, tanto os países germânicos quanto os eslavos têm uma aliança forte no mundo mágico e se envolvem muito nas duas escolas, já que existem países como Finlândia, que fazem fronteira com a Rússia, mas ainda são germânicos ou Polônia que faz fronteira com Alemanha e é Eslava.

Foi nesses estudos que viu pela primeira vez o termo "nascido trouxa".

Descobriu que o território eslavo da Europa e todos os nascidos trouxas estudam na escola da Rússia, já que não possui esquema de exclusão como a Durmstrang.

Então descobriu que o mundo da magia separava os que nasciam de pais mágicos dos (até então) como ele.

Durmstrang exige sangue mágico na família e uma criação mágica antecessora por questões de segurança.

Ficou um tanto frustrado com isso, sua mente já curiosa desde esse primeiro momento com as artes das trevas e também irritada que poderia ser menos que alguém neste mundo novo.

Pelo menos esteve preparado para o que veria antes do trem e de ser selecionado para a casa que mais o destruiria se não tivesse pensado bem em como agir.

Claro que além do sangue haviam exceções. Pais que não queriam os filhos estudando arte das trevas também os matriculam na Koldovstoretz que é maior e comporta mais alunos, apesar de não ter notas tão exemplares (outra prova da superioridade sanguínea) e quem quer que o filho estude artes das trevas, mesmo que seja russo acaba na Durmstrang.

Por causa desse intercâmbio de alunos nessas regiões, os países têm uma ligação bem maior entre si comparado aos demais na União Europeia, o que também ajudou Tom a entender a facilidade com que Gellert conseguiu apoiadores e quase tomar a Europa, pois esses países já são comumente unidos no mundo da magia e sua influência lá era bem significativa.

[N/A: Cabou. Pode voltar a ler].

Alice Mitrica tinha artes das trevas no currículo, era estranho que tivesse participado de aulas presenciais em Koldovstoretz, não Durmstrang (onde seu pai ainda por cima já trabalhava).

Mesmo que não fosse um desempenho tão bom nessa área.

Ótimas notas teóricas, mas notas medianas e baixas nas práticas em magia. Considerando uma transação para as notas britânicas, ela teria o equivalente à Aceitável em artes das trevas, péssimo em Transfiguração e feitiços. Não passou na linha de corte exigida para prosseguir nestas, entretanto passou e seguiu para os níveis NIEM adivinhações, trato das criaturas mágicas, herbologia, aritmancia, história da magia e magia marcial.

Todas estas matérias, passou com "Ótimo". Nota máxima.

Excede as Expectativas em poções.

Uma bruxa técnica, sem dúvidas, mas com pouca capacidade mágica se analisarmos por esse ponto. Outro fator que reafirmava a parte mais absurda sobre a garota.

Mais uma vez os olhos de Voldemort correram para aquele detalhe. Os documentos de adoção.

"Analisada pelo médico bruxo especialista designado, a criança ---------- foi oficializada como um aborto -------------, portanto, legalmente autorizada a pertencer a uma família bruxa sem afetar assim as leis de sigilo mágico"

Aqueles traços o irritavam tanto quanto a maldita pergunta que ainda não tinha sido respondida.

Como aquilo era cabível?

Lucius e Theomore ainda discutiam.

- Lamento se você criou um filho que seria capaz de algo como isso, mas Draco jamais estaria com um homem! Sei disso. Ele é um Lorde adequado!

- Como? – questionou Tom em uma voz tão fria que os dois imediatamente pararam e tremeram, se afastando um do outro e olhando para seu senhor em perfeitas estátuas.

- Meu senhor? – questionou Lucius após um tempo de desconforto sendo encarado pelo olhar do lorde das trevas.

- Deixe-me perguntar, Lucius – começou Voldemort, cruzando os braços. – Você acha que um lorde não é suficientemente adequado se este não se casar com uma lady?

Não. Lucius não achava.

Só que a forma como a pergunta foi feita, aquele olhar tenebroso, simplesmente o impediam de dizer algo nesse sentido.

- Eu apenas quis dizer que Draco entende seu papel como único herdeiro e responsável por gerar a próxima geração da família e que...

- E ele não seria capaz de fazer isso de outra forma?

Lá estava, aquela cabeça se inclinando como uma maldita cobra. Lucius engoliu em seco.

Theomore tremeu de emoção.

- Não seria um filho legítimo se feito fora do casamento – respondeu Lucius, muito inseguro, mas deixar de responder era pior.

Marvolo ponderou aquilo por um tempo. Deixou seus comensais inquietos em seus cantos enquanto retornava para sua poltrona calmamente. Ao sentar, apenas se acomodou antes de sorrir para Lucius:

- Seu único problema, então, com um lorde se relacionando com outro é a incapacidade de produzir herdeiros de um casamento mágico legítimo e, portanto, ele estaria falhando em um de seus papéis mais importantes?

- Sim...

- Então – o sorriso continuava, enquanto Riddle fechava os olhos. – O filho fora de um casamento formal é ilegítimo para você? Não é um herdeiro digno do nome da família? Mesmo que tenha seu sangue?

Lucius apenas viu pelo canto dos olhos Nott arregalar os olhos e se afastar alguns passos vacilantes, de alguma forma, soube que tinha dito algo muito errado.

- Não é exatamente isso, milorde – tentou gaguejante.

- Não é? Me ilumine.

Lucius não conseguia olhar nos olhos vermelhos vibrantes ao dizer:

- Se o lorde tinha a opção de manter a linhagem mágica adequadamente, mas escolhe uma união, abençoa ela diante da magia em um casamento, então tem um filho com outra pessoa para perpetuar a linhagem... ele mancha a instituição do casamento e-

- Escolhe, não é mesmo... – interrompeu Tom, a cada instante mais irritado. – Como se fosse uma escolha – sussurrou em linha das cobras. – Você mesmo disse que ele teve o filho para perpetuar a linhagem. Está se contradizendo, Lucius. O filho é ou não legítimo?

- Um filho bastardo não é exatamente...

Theomore fechou os olhos quando ouviu um barulho alto, esperando que fosse o som do corpo de Lucius caindo no chão. Esperou os gritos.

Esperou qualquer coisa.

O tolo não sabia, é claro, mas estava insinuando que Tom não era um filho legítimo da linhagem Gaunt, afinal sua mãe e seu pai não haviam se casado formalmente diante da magia e de sua casa. Claro que não seria torturado sabendo disso, mas haviam tantas desculpas que o lorde das trevas sempre dava para puni-los...

Mas nada veio.

Quando abriu os olhos e viu Voldemort no exato lugar, inspirando fundo, entendeu que o som era na verdade uma batida firme na porta.

Ele não fez nada a Lucius e parecia que nem faria.

Teve que morder o interior da boca para não sorrir. Ou chorar. Era verdade. Não só o rosto, aquele era Tom! Tom Marvolo Riddle de verdade! Aquele que conheceu, não o que tinha medo no fim.

Era seu amo...

Alguém bateu à porta novamente.

- Entre – ordenou Marvolo levando à mão aos cabelos e passando.

Totalmente alheio a como os três homens observavam o gesto com fascínio, apenas se sentiu aliviado com a entrada de Bartolomeu. O mais jovem logo ofereceu com uma longa reverência e inspirando o ar do interior do quarto, como se quisesse sentir o cheiro da magia de seu senhor.

- Ah – murmurou satisfeito. A porcentagem de idiotas havia oficialmente caído para apenas 25%. – Junior, venha. Lembra-se do lorde Nott, sim? Ele não era da sua época, mas ainda tiveram alguns encontros nos nossos bailes, se me recordo bem. E não, Theomore, Bartolomeu aqui não ressuscitou tal qual eu. Ele apenas não estava morto. Tenho certeza que poderá aguardar outro momento para fazer todas as suas centenas de perguntas sobre o assunto.

- Sim, meu amo – Theomore respondeu sorridente, se curvando.

- Certo, então vamos deixar as conversas paralelas de lado. Se Barty está aqui, claramente já está tarde, estamos nos demorando e tempo é valioso. Agora, sobre Lakroff Mitrica. Theomore?

- Sim.

- Você disse que já estava curioso desde a organização do evento. Quer dizer que você está a meses adiantado de Lucius.

O Malfoy rangeu os dentes diante disso, Theomore sorriu em deboche.

- O que tem para mim? – Riddle continuou ignorando ambos. – A começar pelo que mais interessa: em que ponto da linhagem Grindelwald este homem se encaixa.

- Milorde... – começou o Nott, puxando de suas vestes outro envelope e se aproximando para entregar ao lorde. – Para minha surpresa, Lakroff Mitrica é nada mais, nada menos que o filho de Gellert Grindelwald. O herdeiro direto do lorde das trevas.

O ar saiu pelos pulmões de Marvolo em um arfar muito sutil, mas ainda ali.

Sim.

É como tinha suspeitado.

- Como? – questionou Lucius incrédulo.

- Theodore confirmou para mim com alguns alunos da Durmstrang ainda semana passada, mas já havia adquirido essa informação antes das aulas começarem. Por sorte, hoje enfim recebi a coruja com a papelada que pedi para um colega que me devia um favor que poderia me provar isto.

- Qual conseguiu?

- Infelizmente não consegui a certidão de nascimento oficial. A que encontrei está incompleta, pois o homem primeiro foi registrado em um orfanato trouxa onde não sabiam qual sua origem, mas...

- Orfanato trouxa? – questionou Marvolo.

Theomore meneou com a cabeça. Já imaginava que Riddle se interessaria por essa parte.

- Ele nasceu em janeiro de 1940. Perto do fim da guerra. É provável que, com a prisão do lorde das trevas, seu filho tenha sido dado para adoção, já que a família Grindelwald não é exatamente grande.

- A esposa?

- Não consegui achar quem é a lady Grindelwald em qualquer lugar. Imagino que o lorde tenha tentado ao máximo esconder sua relação para a segurança da mulher, principalmente considerando que precisava gerar o herdeiro. Perguntei até mesmo para um herdeiro que conheço de uma das famílias do círculo íntimo e pensei em perguntar à Evan Rosier, já que os Rosier eram próximos de Gellert, se ele havia se casado, mas achei que seria melhor esperar seu parecer, meu amo.

- Fez bem, eu mesmo verei isso com Evan no futuro.

Queria ele mesmo ver o lorde Rosier. Alguém que havia sido ferido de forma irreversível e se aleijado aos serviços de Voldemort. Merecia sua recompensa e um lugar ao seu lado, se assim ainda desejasse.

Do contrário, garantiria que pudesse ter uma boa e agradável morte.

Afinal, suas habilidades como advogado ainda eram bem úteis, mas principalmente ele sabia demais para não voltar à causa. Apesar de duvidar que declinaria.

- Mitrica é seu nome trouxa? – perguntou Marvolo curioso.

- Não. Ele se rebatizou a alguns anos. Ao assumir o título de lorde Mitrica. Vem da própria linhagem Grindelwald, na verdade. Tal qual a Sonserina e os Gaunt. Um nome mágico que o professor Lakroff resgatou. Reuni algumas coisas sobre a linhagem, um traço cronológico rápido das origens da família e princípios, mas não me aprofundei. Claro, se o senhor desejar irei atrás, mas o que tenho está em suas mãos. Procurei saber sobre outros aspectos que pareciam mais urgentes.

- Tais quais?

- A interferência política de Lakroff Mitrica na Rússia e também na Alemanha.

- Interferência? Tal qual filha no ministério ou estamos falando de algo mais profundo?

- Sua filha é apenas um dos projetos interessantes.

- Projetos?

Lucius e Bartolomeu não falavam nada, seus olhos iam de lorde para comensal como espectadores em um jogo de tênis. O primeiro, entretanto, fez uma careta enorme quando Theomore o encarou:

- Quando cheguei, meu colega aqui – sorriu provocativo. – Estava comentando sobre a cidade de Yaga. Um local interessante, sem dúvidas. Posso lhe dar todos os detalhes que quiser, meu amo. Passei muito tempo pesquisando sobre a queridinha do estado russo, afinal é como uma cidade estado que precisa prestar contas e está sobre o controle da União Soviética, mas tem seu próprio sustento e mais liberdade para que possam implementar projetos de lei novos. Uma galinha dos ovos de ouro pelo comércio Asiático que está se enfileirando para arrumar espaço e ocupando mais e mais do terreno, o turismo que vem crescendo, mas principalmente seu laboratório para experimentos. Se me permite perguntar, para que eu não o faça perder seu tempo, meu amo. Até que ponto sabe sobre a filha de Lakroff Mitrica?

Marvolo indicou sua mesa e Theomore entendeu o recado, indo até as folhas que Lucius trouxe e folheando.

- Inclusive, Lucius estava para me explicar em algum ponto como um aborto havia sido contratado pelo Ministério da Rússia.

Theomore poderia ter impedido o que viria. Poderia ter ele mesmo respondido, mas simplesmente quis ouvir o que Malfoy teria conseguido e, por isso, comentou:

- Deixarei que ele fale, então, enquanto vejo o que o senhor já tem e não nos repetiremos.

Marvolo meneou com a cabeça e indicou para que Lucius passasse seu relatório. Então estava feito. Tal qual o Nott esperava: um bando de fatos falsos.

Ele se maravilhou com isso. Sem Abraxas ali e com Lucius se mostrando tão incompetente, seria tão fácil enfim pegar o espaço exatamente ao lado do lorde das trevas. O braço direito de Tom...

- Está dizendo – comentou Barty após um tempo em que Malfoy explicava. – Que existia uma nascida trouxa, fraca o bastante em um orfanato, para que os sistemas de reconhecimento da Alemanha não tenham conseguido identificá-la como bruxa a tempo de ela receber sua carta para uma escola de magia?

- Sim. E, como disse, Lakroff Mitrica identificou essa falha e abriu um processo de adoção junto com uma denúncia ao estado alemão. Que para encobrir a falha gigantesca favoreceu o lorde Mitrica em muitos sentidos. Houve um tribunal para autorizar a adoção, por ser um processo jurídico essas informações foram divulgadas e podem ser encontradas pelo público, mas todo o resto o resto da família antes disso? Sigiloso. Mesmo o que foi debatido no tribunal ficou sob sigilo absoluto. Diferente de outras decisões oficiais que aparecem na imprensa oficial, a única coisa que é possível conseguir sem uma autorização certa é que houve a abertura de um processo legal e depois o encerramento, decorridos dois dias do início da primeira sessão, com a formalização da adoção legal da, agora rebatizada diante do tribunal, Alice Pandora Mitrica. Sequer o nome biológico é conhecido. Mas para que todo o sigilo?

- Para esconder que deixaram uma bruxa sem educação mágica adequada – tentou Barty. – Isso poderia ter causado um obscurial, não?

Um parente do próprio Gellert Grindelwald querendo adotar uma criança. O estado abriria um inquérito, era provável, para verificar a segurança e se poderiam fornecer um lar adequado diante de seu histórico. Justificaria precisarem de um processo de tribunal completo, mas ainda envolvendo uma família protegida, tudo aconteceria de forma discreta e os documentos seriam censurados para o público.

O ministério, entretanto, precisava dar uma justificativa para as massas de porquê tudo aquilo estava acontecendo em um simples processo de adoção. Ainda tinham que dar satisfações, mesmo que fosse uma mentira.

Dizer que a garota era um aborto foi a solução que encontraram?

Um Grindelwald querendo adotar algo muito próximo a um trouxa. As pessoas entenderiam a cautela.

Todavia se a garota fosse uma bruxa, desde o início, isso fazia aqueles documentos serem literalmente a prova de uma mentira do estado germânico para com sua população. Era uma arma muito forte contra eles.

Mesmo que pudessem justificar de alguma forma. Era uma arma que Lakroff Mitrica estava usando contra eles?

- Quando Lakroff Mitrica se tornou professor da Durmstrang?

- No ano seguinte a adoção da filha – Theomore respondeu, mas estava com um olhar muito estranho, que fez Marvolo parar sua atenção nele.

- Como eu havia dito, milorde – continuou Lucius. – A família Mitrica não tinha qualquer evidência antes do ano de 1988, justamente na época que a garota foi adotada. É bem possível que a Alemanha tenha pagado pelo silêncio, garantido a educação mágica dela de forma discreta e até auxiliado na contratação no Ministério Russo como chefe de departamento.

- Chefe?!

- Ela é chefe de uma subdivisão do departamento de Controle do Mau Uso dos Artefatos dos Trouxas. Algo novo, implementado na Rússia "Pesquisa e Análise das tecnologias e do avanço da comunicação em massa dos trouxas" – explicou Theomore. – É uma divisão feita para pesquisar as tecnologias de registro de imagens e fotografias e a internet, um novo meio de comunicação trouxa que permite a troca de mensagens de forma parecida com o rádio, porém ao que entendi todos podem usar e-

- Fiz minhas pesquisas sobre internet, estou habituado – interrompeu. Theomore apenas acenou em concordância e leve perdão por sugerir o contrário, mas Tom não ligou afinal seria normal imaginar que um bruxo não soubesse. – A união soviética decidiu fazer um departamento apenas para pesquisar isso?

Era uma preocupação válida. Trouxas estavam conseguindo mandar informações quase que instantaneamente para muitos lugares do mundo.

- Ao que tudo indica – disse Theomore. – Eles estão preocupados com a propagação de informações e como isso poderia prejudicar o estatuto de sigilo. Esse departamento, portanto, trabalha com o de regulamentação das leis da magia, auxiliando os aurores ao atualizá-los sobre a tecnologia disponível na mão dos trouxas que pode afetar a magia.

"Muito interessante" pensou. Concordava que era bem necessário.

- E Alice Mitrica se tornou chefe assim que entrou?

- Assim que foi criada essa subdivisão. Mas foi o pai e o partido que está junto dele que inventaram o projeto, então era de se esperar que cabeceasse.

- Explique – ordenou Riddle.

Nott inspirou fundo.

Ele aproveitaria aquilo:

- Primeiro, meu senhor. Eu preciso corrigir meu colega, ou não iremos avançar. A pesquisa de Lucius foi bem intencionada, mas imagino que ainda seja inexperiente e isso tenha causado tamanha falha.

- Como é?! – reclamou Lucius.

- O que você disse é apenas uma das armadilhas do estado germânico! Estão cheias dessas. Para pegar justamente bisbilhoteiros de seus arquivos. Pistas não totalmente falsas, mas implantadas para que pessoas vão na direção contrária ao que realmente querem esconder. Não se preocupe, Lucy. Eu também quase caí em algumas dessas quando comecei minhas pesquisas. A pressa apenas é inimiga da perfeição.

Lucius abriu a boca para refutar o outro, mas se calou imediatamente com um movimento de mão de Voldemort.

- Continue Theomore.

- A começar, a família Mitrica não entrou em evidência com a adoção da herdeira. Não, eles começam a aparecer nos documentos oficiais já no banco dos Goblins com Lakroff Mitrica se rebatizando em 1987. Mas antes disso, o lorde já estava em evidência, apenas mantinha-se usando seu nome de batismo do orfanato trouxa, Albert Schmidt. Poderá ver as provas do que digo nos documentos que lhe trouxe, milorde. Então aquele que conhecemos por Lakroff Mitrica já vinha se colocando nos lugares certos antes do que Lucius foi levado a acreditar. Em 1988 temos apenas as consequências dos frutos que já vinha colhendo desde 87 ou ainda antes. Oitenta e sete, entretanto, foi maior marco para a família Mitrica considerando o que ocorrera na ocasião. Correndo o risco de anunciar o óbvio ao senhor, se me permite: este foi o exato ano da fuga de Gellert Grindelwald da fortaleza de Nurmengard.

- Fuga?! – exclamou Bartolomeu.

- Ele fugiu?! – Voldemort, igualmente, quase gritou de choque.

- Sim, meu senhor – Theodore respondeu. – Mas foi capturado novamente. Imagino que os anos de supressão mágica tenham afetado suas capacidades, tal qual os anos com pouca mobilidade. Seu corpo não deve aguentar grandes batalhas. Como tinha dito, trouxe um documento como prova da linhagem do lorde Mitrica e é justamente o relatório real e totalmente sem censuras da fuga de Gellert Grindelwald da prisão de Nurmengard. Verá no relatório que consegui, como foi capaz de causar um estrago gigantesco mesmo sem exercitar suas capacidades a tempos.

Marvolo preferiu não perguntar em voz alta porque não sabia disso ainda. Barty não tinha como saber e Lucius era apenas idiota.

- Quanto?

- Mais de oitenta vítimas fatais, dez feridos gravemente, apenas dez por cento da segurança saiu viva e isso inclui os que não estavam em seu caminho e conseguiram fugir sem encontrá-lo, então alguns poucos sortudos.

- Fatais?

- Sim, milorde – o sorriso do Nott aumentou. – As paredes estavam tão sujas de sangue que pareciam ter sido propositalmente pintadas. Foi um massacre. O relatório descreve como o maior incidente penitenciário do país e região.

- Um massacre? – questionou baixinho.

Gellert Grindelwald era um vidente do apocalipse, não era?

Teria visto sua fuga?

- Mas como foi recapturado se conseguiu fazer tanto logo após fugir? Cansou-se?

- Ele foi pego algumas semanas depois – então indicou a papelada. – Por seu filho, Lakroff Mitrica. Que o rendeu e contatou a segurança de Nurmengard.

O choque de Voldemort foi tanto que ele não reagiu. Apenas ficou parado enquanto vagamente registrava seus comensais conversando.

"Mas como isso é possível?" Barty questionou em algum ponto.

"Ele venceu o lorde das trevas e ninguém sabe disso?! O homem deveria ser um monstro!" foi Lucius.

- Está tudo no relatório, mas em suma, o lorde Mitrica pessoalmente pediu para que o caso fosse mantido em sigilo. Ele não queria sua imagem relacionada ao pai. Para a mídia e até em vários documentos oficiais o caso é descrito como se os guardas tivessem conseguido localizá-lo por uma denúncia anônima, apenas não mencionam que a denúncia havia conseguido derrotar o lorde. O estado alemão conseguiu se livrar de boa parte dos problemas que ganharia de retaliação e indignação pública graças a isso, ele assinou um documento autorizando uma sentença de morte e quando não foi aprovado pelo tribunal, liberou o uso de runas corporais no homem.

- Como?! – indignou-se Barty. – Isso vai matar alguém tão poderoso!

- Sim. Vai – murmurou Marvolo.

"Não era justamente a intenção?" pensou.

- Bem... o assunto se tornou mais delicado.

O filho do lorde das trevas.

Alguém que tinha a jura de todos os lordes europeus que se ajoelharam diante de Gellert Grindelwald.

Seria apenas capacidade o que o fez conseguir que as coisas no torneio fossem exatamente como queria, trazendo a Durmstrang para Hogwarts, ou a magia trabalhando para que as pessoas mantivessem sua lealdade à casa Grindelwald mesmo que não percebessem?

Alguém forte o bastante para derrotar o pai (mesmo que após anos sem usar magia era um feito. Derrotar Tom em seu estado atual seria um feito) e que tentou matá-lo... Ele queria Gellert Grindelwald morto. Era certeza. Se havia assinado documentos assim.

Com a morte do pai, as juras das pessoas à Gellert iam embora, mas ele se tornaria enfim lorde Grindelwald e... se jogasse direito?

Podia ter as próprias juras daqueles que já o estavam vendo como continuação de seu pai.

Ele estava jogando, não estava? Pediu para não receber a fama da derrota do pai, mas com isso o estado alemão ficou em dívida consigo!

Olhou para os arquivos da filha, todos censurados. Proteção do estado.? E se fosse bem mais do que estava pensando?

Marvolo acenou com a cabeça, tão satisfeito que poderia presentear Theomore. Estava tão ansioso com aquelas novas informações, que quase não conseguiu se conter. Começou a andar pela sala, para aplacar aquilo.

- A adoção de Alice Mitrica... – ponderou em voz alta.

- No ano seguinte à fuga e todo o tumulto envolvendo o antigo Schmidt. Um pedido de adoção feito por alguém que o estado estava em dívida, mas veja só: ele era um bruxo e queria adotar algo muito próximo de um trouxa. Sendo um Grindelwald! Daí o tribunal. Afinal, não é comum que se tenha um tribunal para adotar uma criança. Isso, sem dúvida, chamou mais atenção da sociedade alemã.

- Ele armou um palco onde se colocou em evidência para que pudesse falar. Fez de si mesmo uma figura benevolente, mesmo sendo um bruxo muito forte. Você disse que ele vinha intervindo no estado alemão?

- Ele está indo muito mais longe, milorde. Lakroff Mitrica está tão interligado em novas políticas e leis da União Soviética que é impossível falar do que vem acontecendo por baixo dos panos deles, sem mencionar seu nome. Há tantos comendo na sua mão na Alemanha que é impressionante que Lucius tenha conseguido qualquer coisa sobre ele, mesmo que uma armadilha. A jura de seu pai, a demonstração de força contra ele próprio, então a herdeira.

- Que tem o aborto? – questionou Barty, se intrometendo entre Riddle e Nott. – Espere... Se ela é mesmo um aborto, como estudou magia?

O sorriso de Theomore agora era tão grande que poderia assustar:

- Ainda estou buscando todos os detalhes, mas veja, quando o tribunal foi a favor de permitir que Lakroff Mitrica adotasse a criança, também conseguiu autorização para realizar a adoção de sangue na garota, para que fosse uma herdeira oficial da linhagem e pudesse se encaixar nas proteções da família. Nada demais, um bruxo que adota uma criança mágica teria esse direito, o incomum é ser um aborto, mas tudo bem, eles conseguiram através de exames comprovar que ela tinha alguma magia no corpo.

O Nott pegou um dos documentos do próprio Lucius e mostrou:

- É aqui que o termo começa a morrer. Ela é declarada aborto num exame médico e no documento de adoção original. O "problema" ou a grande situação que tornou a família Mitrica quase os protegidos da Alemanha foi que, com a adoção de sangue uma nova dose de magia criou um evento único! Não foi um erro. Alice Pandora Mitrica não era uma bruxa fraca que a Alemanha falhou em reconhecer, Lucius está completamente enganado. Alice era um aborto, capaz unicamente de alguma força física e resistência fora dos padrões, como tantos outros atletas "trouxas" ao longo da história, ou mesmo a linhagem de monarcas no trono britânico atualmente, vivendo anos a mais que muitos outros. Entretanto, de alguma forma que só pode ser descrito como um dos milagres da magia, os genes Mitrica foram compatíveis com a magia fraca da garota e não só a aceitaram bem na linhagem, como isso deve ter consertado ou melhorado a parte em seu interior que a tornava apenas um aborto e ela...

- Se tornou uma bruxa?! Isso é ridículo! – ralhou Lucius.

- É mesmo, tanto que não é a resposta certa, cale a boca Malfoy! E escute! Ela ainda é um aborto, é claro, mas é capaz de usar magias simples. Por isso o desempenho medíocre ou ruim em qualquer coisa que exija magia mais avançada. Feitiços propriamente ditos. Mas tantas práticas como herbologia ou estudo de runas? Isso ela não só pôde estudar, como conseguiu. E melhora: ela consegue fazer feitiços de nível até o segundo ano, mais ainda se estivermos falando de magia marcial. Justamente se usar armamentos feitos para fortalecimento físico e combate mágico. Já que usam o mínimo da magia do bruxo para que ele dure uma batalha! Veja – Theomore pegou a primeira folha dos arquivos do ministério Russo. A ficha de contratação. – Eles censuraram várias informações, porque lady Mitrica é uma anomalia. Algo que pode ser pesquisado! O que aconteceu com ela, pode ser a resposta para impedir o nascimento de mais abortos em linhagens antigas. Não é a linhagem Grindelwald sendo protegida, mas a garota! Aqui – ele apontou para o documento. – O ministério Russo coloca na sua ficha seu sangue. Se é nascido trouxa, mestiço ou nascido bruxo. Dizem que é por uma questão de segurança, mas enfim. O que aparece para Alice Mitrica é um código.

- Eles usam códigos ao invés das tarjas pretas da Alemanha – murmurou Lucius.

- Sim. Mas qual o código de Alice? Veja.

- Arthur?

- Sim. Lucius, meu caro. Abraxas nunca lhe contou nenhum história sobre Arthur Pendadragon, herdeiro de Lancelot, um simples aborto que foi capaz de derrotar a grande lady das trevas Morgana Lefay graças aos armamentos mágicos do bruxo mais conhecido de nosso mundo?! Alice não pode ser colocada como "aborto", afinal ela usa magia, tem formação e um diploma em bruxaria. Daí uma categoria só para ela: Arthur! Tal qual o garoto protegido de Merlin em pessoa! Ela é história sendo criada! Criou esse código. Não existia antes nos códigos russos, mas eles fizeram para simbolizar todo e qualquer aborto que tenha sido instruído em magia e ou seja capaz de utilizar uma arma de propriedades mágicas.

- Todo e qualquer? – questionou Marvolo.

- O ministério está avaliando a possibilidade de ensinar outros. Um grupo seleto já começou. Em uma escola justamente onde? Yaga. Cidade fundada por Lakroff Mitrica.

- Ele fundou?!

- Os terrenos usados são da família Mitrica. Ele os vendeu. Estão com um projeto de escola bruxa na cidade. Uma totalmente única. A intenção é que os abortos estudem a teoria da magia e possam dar aulas para outros abortos e serem empregados na própria escola, que também possui uma creche e foi aprovado esse ano que abrisse uma sala de estudos preparatórios.

- Estudou preparatórios? – mais uma vez Barty ficou em dúvida. – Como assim? Igual... estudo antes dos onze anos?

- Sim. Para "diminuir a discrepância de conhecimento dos alunos antes do ensino regular". Estão pensando em ensinar nascidos trouxas que, assim como Lakroff Mitrica, viviam em orfanatos trouxas – Theomore olhou diretamente para Tom ao falar. – Há inclusive um projeto de lei rondando para abrir um orfanato bruxo na cidade. Os abortos poderiam cuidar de serviços que a maioria dos bruxos não se interessariam e um deles foi cuidar das crianças. Um serviço que não exige magia, já que é contra indicado uma criança usar demais sua sem supervisão ou avaliando os limites de seu próprio corpo antes dos onze.

- Mas por que abortos? – Barty parecia realmente não entender a utilidade deles.

- Assim, seriam capazes de serem incluídos na sociedade mágica, o que diminuiria a passagem deles para o mundo trouxa e herdeiros de linhagens antigas sendo criados como "nascidos entre trouxas". Supondo aqui até mesmo a teoria de que é assim que eles nascem eventualmente. Com o DNA bruxo em suas veias. Isso são só alguns, há tantos projetos de lei para incentivar a inclusão. Alice Mitrica é o estopim, alguém que provou que sangue mágico é sangue, mesmo que a linhagem seja enfraquecida, pode ser revivida. Claro, foi feito depois um teste de sangue, aparentemente seu tataravô era bruxo, mas não vinha de uma casa antiga. O ponto foi que a magia sobreviveu ali por todo esse tempo e esteve sendo desperdiçada.

"No que eu consegui ler, há principalmente incentivo nas áreas de pesquisa, um projeto para incluí-los na medicina, uma vez que podem fabricar poções, mas não conseguiriam criar novas por não sentir a sutileza da magia nos ingredientes, mas se eles perdessem seu tempo estudando a medicina trouxa, que está avançando de acordo com o projeto, eles poderiam passar esse conhecimento para os bruxos apenas até onde precisamos para que nossas poções melhorem e as doenças novas dos trouxas continuem não nos afetando. O mesmo para suas tecnologias.

- Tudo é muito extenso e altamente sigiloso, eu não consigo ter tudo na íntegra ainda tão cedo, mas estou me esforçando. Meu amo, se o senhor...

- Basta – pediu Tom atordoado com a enxurrada de informações.

Aquilo era totalmente... Mordeu o lábio, Theomore e Barty acompanharam o movimento, mas o lorde virou as costas para eles, avaliando tudo.

Lakroff Mitrica estava jogando.

Não bastasse Harry Potter, o herdeiro Grindelwald, com toda a influência da família, com a chance de aprovar leis com uma vantagem tremenda, havia se infiltrado na maior união de países da Europa bruxa, a união eslavo-germânica e não só conquistado espaço, como provavelmente respeito e estava criando leis! Uma cidade! Ele fez isso em menos de uma década! Estava tomando espaço! Mudando as coisas, ele era...

- Theomore! – chamou se virando para o mesmo. – Isso é de extrema importância. Você vai conseguir absolutamente tudo sobre Lakroff Mitrica. Quero saber o tipo de tecido que seus lençóis tem. Tudo. Não deixará passar nada. Entende meus motivos?

- Claro, meu amo. Lhe trarei tudo.

- Mas não deixará que ele saiba.

- Claro.

- Vai me manter informado sobre nossos alvos. Lakroff Mitrica é a maior prioridade, Harry Potter entretanto não pode ser esquecido. Não quero que deem um passo sem que eu saiba. Quero a completa extensão da influência do Mitrica na política também. Eu fui claro?

- Deseja saber o quão simpático aos nossos princípios o lorde parece também?

- Você entendeu.

- Perfeitamente, meu amo – acenou.

- No menor sinal de que ele pode ser um perigo para o nosso levantar. Se o filho estiver querendo a antiga posição do pai...

- Garanto que o senhor saberá para que possa destruí-lo.

- Precisará de ajuda para sua missão?

- Samantha, milorde. Samantha Xatwin, nee Zabini, nee... tantos outros.

- Pensei ter pedido por ela à você Lucius – comentou sombrio para o outro comensal..

- A Lady Xatwin está de viagem, não atendeu a nenhum chamado - se justificou Malfoy.

- Ela foi com o atual marido para um passeio sabático – concordou Theomore.

Voldemort riu:

- Ela voltará viúva.

E o comentário tirou sorrisos muito contidos dos outros.

- Certo, tente falar com ela, Theomore. Se precisar de sua ajuda.

- Aparentemente os Mitrica estão ganhando a fortuna que ajudou a fundar a cidade na bolsa de valores. Ela saberá como cavar a fundo e onde perguntar para conseguir coisas novas.

- Perfeito. Agora Lucius. O torneio. Já conseguiu que seja aberto?

- Milorde... – baixou a cabeça.

Voldemort bufou frustrado. Mesmo que ele nunca bufasse, estava irritado e ansioso demais:

- Sem desculpas. Até o fim da semana você conseguirá isso, vocês dois. Theomore irá ajuda-lo se não é capaz de fazer sozinho. Não me importa o que ou quem terá que lamber para conseguir, eu estarei logo na primeira tarefa!

Lucius arregalou os olhos e concordou se ajoelhando, enquanto Theomore estava preso entre o choque e a risada, diante do comentário do seu senhor.

- Agora os dois, saiam. Consigam o que ordenei e não voltem sem notícias que me agradem, ou serão punidos de acordo! Vamos.

- Sim, milorde! – disseram os dois, então saíram do escritório.

Bartolomeu se levantou do sofá em que estava sentado e se prostrou diante do lorde esperando suas ordens.

- Bartolomeu, isto é de muitíssima importância. É sobre meu diadema.

- Milorde, eu... - começou, mas foi interrompido por algo que o fez ficar totalmente confuso.

- Eu lhe direi exatamente como fará, então você guardará o diadema da corvinal sob as maiores proteções que conheço, o manterá seguro mas com você e apenas você, até o fim do Yule. Não importa o que eu diga até lá, você não me devolverá antes disso. Ao fim do solstício, me perguntará novamente.

Gostaram do primeiro de abril? Espero que o capítulo tenha sido do agrado. Estou viajando, então não consegui ler mais de uma vez antes de postar, desculpe qualquer erro.

Até a próxima!

PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited. Segue a capa

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