Capítulo 41 - Apoio emocional e rancor irreparável
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Olá! Eu disse que voltava em uma semana e cá estou. Dessa vez tudo certo. Aguardemos que os planos sejam mantidos.
Recados rápidos:
1. Temos um grupo do discord agora, o link está no meu perfil.
2. Adharaverse, feliz aniversário atrasado querida <3 obrigada por todos esses meses lendo a fanfic (não, eu não esqueci).
3. To com sono. Espero que minha linda e maravilhosa beta revisadora tenha feito um bom trabalho, porque estou em um estado que nem sei mais meu nome, só quero postar e dormir. Acordei muito cedo hoje e passei por muito desaforo na escola (nunca trabalhem na educação, as pessoas são más com você).
Dito isso, uma boa leitura!
Nos capítulos anteriores de "Quem será seu herói"
- ALBUS PERCIVAL WULFRIC BRIAN DUMBLEDORE! – o nome foi gritado em um urro enfurecido que preencheu toda a sala e fez Lakroff levar às mãos aos ouvidos.
Um primeiro pensamento veio à Lakroff:
"Augusta Longbottom se casou com o filho de uma Black ou ela que era a Black?"
Então ela entrou. Saindo das chamas como uma fênix (porém verde), usando o chapéu com um urubu empalhado (Lakroff amava aquele chapéu, mais especificamente como todos o olhavam como se fosse a maior aberração da Terra e era tão divertido assistir essas expressões nos outros ou ver Augusta gritando com quem a olhava assim: "perdeu alguma coisa aqui ou quer que eu arranque de você?!". Ah! Ele amava aquela mulher de um jeito próprio), carregando uma bolsa vermelha grandona e um vestido preto tubinho.
- Ela solicitou uma audiência imediata com o diretor da escola e como vice-diretora eu tive que autorizar - explicou Minerva para Albus, entã virou para Lakroff, pronta para pedir para acompanhá-lo para fora de novo quando Augusta gritou:
- VOCÊ É UM HIPÓCRITA NOJENTO QUE USOU ARTE DAS TREVAS NUM ALUNO?!
"Opa" pensou Lakroff enquanto se concentrava em não mover um músculo.
Apesar de querer rir muito.
Esperava que Rita tomasse nota, mas antes que a besoura pudesse ouvir demais, usou magia sem varinha e não verbal para criar uma ventania e, usufruindo do ar gélido como desculpa, foi fechar a janela.
Bem em tempo de manter a privacidade de Neville, pois Augusta já esgoelava novamente, as cordas vocais em pleno funcionamento:
- VOCÊ LEU A MENTE DO MEU NETO, ALBUS?!
- Augusta, minha cara – começou Albus.
- MINHA CARA É O INFERNO DA SUA BUNDA VELHA! – urrou, tremendo de fúria, encarava mortalmente o homem à sua frente, também estava bem vermelha e Lakroff começou a se preocupar que pudesse passar mal.
- Você precisa se acalmar – disse Albus, aparentemente chegando à mesma conclusão que Lakroff, mas o loiro ao menos sabia que essa era a última coisa que deveria ser dita a uma mulher irritada.
- ME ACALMAR?! ME ACALMAR?! Você... – Lakroff não soube se era mais assustador os gritos ou o sussurro daquela mulher. – Não tem o direito de me dizer algo assim... NEM CHAMAR DE MINHA CARA!
- Vovó! – chamou um homem loiro, um tom de cabelos um pouco mais claro do que a maioria dos Longbottom tinha, mas que Albus nunca vira na vida.
Ele era alto, usava um terno que se ajustava ao corpo como uma segunda pele perfeita nele ... jovem, não daria mais que vinte e cinco para um trouxa, então deveria ter em torno dessa idade até os trinta e poucos.
Havia um outro alguém, mas era um elfo. O elfo com as roupas mais bonitas que Albus já vira um usar na vida. Era, ao que tudo indicava, um terno e isso o deixou completamente em choque.
...
- Me desculpe, querido.
- Tudo bem vovó. Ao menos a senhora não parece prestes a ter um AVC agora – sorriu e seu sorriso era encantador. – A senhora ainda tem muitos anos pela frente, mal saiu dos trinta.
Augusta deu um tapa no braço do garoto:
- Você é impossível, como seu pai.
- Vou tomar como elogio
- Minerva, eu... – então, como se algo fosse ligado de novo na mulher, ela girou pelos calcanhares, quase acertando a bolsa no garoto que pulou para trás para desviar, rindo baixinho. – ALBUS DUMBLEDORE, SEU DESGRAÇADO, COMO OUSA?! NÓS CONFIAMOS NOSSA VIDA A VOCÊ NA GUERRA E É ASSIM QUE RETRIBUI MINHA FAMÍLIA?! – gritava, batendo o pé.
Para uma mulher tão pequena era impressionante que conseguisse soltar um som tão significativo. Mesmo Nicolas Black fez uma careta tapando os ouvidos incomodado. Os outros quadros já o haviam feito a tempos.
- Augusta, eu...
- NÃO! VOCÊ VAI ME OUVIR! EU NÃO ACREDITO QUE TEVE A PACHORRA! MEU NETO, ALBUS! MEU NEVILLE! ELE É TUDO QUE ME SOBROU DO MEU FILHO! E VOCÊ... VOCÊ...
- VOCÊ FEZ O MESMO QUE DESTRUIU MEU FILHO, SEU DESGRAÇADO! – jogou, morta de raiva, explodindo de desgosto e, como se incapaz de tornar as palavras o bastante, ela arremessou sua bolsa no homem (de novo, o loiro com ela teve que desviar, dessa vez se abaixando quando a coisa girou entre eles para atingir seu alvo. Ao menos ele tinha bons reflexos).
- Augusta! – chamou Minerva.
- Augusta, por favor, eu imploro que falemos sobre isso em particular – pediu Albus após se levantar novamente (uma vez que também abaixou para se desviar da "arma").
- EU NÃO DOU A MÍNIMA MERDA PARA O QUE VOCÊ IMPLORA! EU CONFIEI MEU NETO A VOCÊ E TEVE CORAGEM DE FAZER ISSO!
- Augusta, há u...
- CALADO! SUA CABRA, BARATA, VELHA HORRENDA!
- Vovó, chega – pediu o garoto, mais firme dessa vez, segurando os braços da mulher, que continuou encarando Albus mortalmente antes de enfim deixar ser guiada. – Calminha. Long, eu aceito aquela água agora.
- Sim, senhor – o elfo e, com um estalar de dedos, fez um copo de água aparecer, entregando a Augusta.
- Obrigada, Long querido – agradeceu. Todos viram como ela precisou de ajuda do homem que a acompanhava para segurar e beber sem derramar nada.
- O senhor também, mestre – mandou o elfo, estalando os dedos de novo e enchendo o copo recém esvaziado quando o loiro o tentou devolver.
- Mas eu não...
- Beba – mandou. – O senhor engoliu fuligem, sem "mas".
Minerva e Albus arregalaram os olhos, surpresos com a forma como um elfo doméstico falou com seu mestre, mas tão impressionante quanto, viram o garoto suspirar e obedecer, tomando de uma vez todo o copo.
...
- Augusta – chamou Albus calmamente. – Aquele ali é o professor e vice-diretor da Durmstrang, Lakroff Mitrica – "apresentou" apontando para o canto na janela onde estava o loiro quase albino.
A mulher estreitou os olhos na direção de Lakroff e acenou, enquanto ele fazia uma reverência.
[...]
- Dito isso, Minerva, por favor, leve o lord Mitrica daqui enquanto eu esclareço esse mal entendido ridículo que parece ter chegado a minha amiga.
- MAL ENTENDIDO?! AH NÃO! VOCÊ NÃO VAI COMEÇAR A MENTIR AGORA E-
- Augusta, por favor! Isso claramente não é um assunto para ouvidos alheios! Eu garanto que vamos entender o porquê de você pensar algo tão horrível de mim, mas garanto que não é verdade.
- Se não é, porque quer o homem fora?
- Porque precisamos de privacidade para tratar de algo assim.
- Não vejo razão! – retrucou irritada. – Se você é inocente, melhor que o lorde Mitrica saia daqui sabendo disso e não com uma dúvida na cabeça.
Dessa vez Lakroff riu junto com o garoto que estava com ela.
- Augusta, não acho que seja uma boa ideia...
- Também não acho boa ideia ler a mente de crianças inocentes para descobrir informações sigilosas sobre seu amigo!
[...]
Albus olhou para o visitante desconhecido e decidiu perguntar, enquanto tentava ganhar tempo para pensar no que fazer:
- Desculpe, não fomos apresentados. Albus Dumbledore, e o senhor é?
- Não é da sua conta – respondeu no ato.
Lakroff mordeu a língua ao ponto de sangrar.
- Como é? – Albus perguntou espantado, piscando atordoado. Mesmo Minerva não esperava uma resposta daquelas.
- Engraçado... Pensei que depois dele usar artes das trevas para ler a mente de Neville e descobrir sobre a vida pessoal de Harrison, me reconheceria como seu tutor.
- Como é?!
- Invadiu a mente do melhor amigo de Harrison, meu protegido, para descobrir minha identidade, Albus Dumbledore – disse se levantando e olhando diretamente para o homem. Se o olhar de Augusta estava mortal, o deste homem...
O deste homem parecia o desprezo da própria morte. A frieza de uma lâmina. O vazio de uma máquina. Um revólver.
Com o cano apontado para sua testa. Tão mortal, objetivo, distante e impessoal quanto um.
- Se foi tão longe por essa informação, eu faço questão de não lhe dar. Já que achou que era algo tão difícil de se conseguir que precisava quebrar todas as barreiras morais e até legais de seu próprio país, eu prefiro que seja minimamente justificável, tornando essa a informação mais difícil que cassará em toda a sua vida! Mas sei que não vou conseguir por muito tempo, logo descobrirá e quando perceber que ela poderia ser conquistada tão fácil quanto fazer compras num mercado, eu garantirei que arcará com as consequências por essa atitude ridícula da pior forma que conseguir.
Quando o peito de Albus subiu e desceu lentamente, Lakroff soube que o homem ficou assustado.
A ameaça o atingiu.
"Esse é meu garoto!" pensou ainda mais empolgado, cheio de orgulho de seu filho mais velho.
-x-x-x-
"Se nunca fosse culpa direta dele, mas Albus fosse relapso".
"Repetidas e repetidas vezes, Albus deixasse de ver o perigo, se preocupar o bastante ou prevenir o que estava a seu alcance e era sua responsabilidade como guardião e quem fosse atingido fosse seu neto?"
"Se a vida dele fosse muito mais difícil porque continua sofrendo com perigos que podiam ser evitados com um pouco mais de atenção daquele que se dispôs a isso?"
Receber uma encomenda pela rede de flú era incomum. As pessoas só faziam isso quando estavam com muita pressa, desesperadas por uma resposta, mas quando encarou a letra já conhecida em tinta verde de Minerva McGonagall junto do brasão de Hogwarts mais cedo naquele dia, Augusta tremeu tanto que deixou a coisa cair...
Esperou o pior, mas nem isso a preparou para aquilo. Ou à sua magia, que pareceu rugir de dentro dela e explodir para fora, quebrando vasos de planta pela sala.
"Se seu neto passasse anos disso... o que faria?"
Ela ia desejar destruí-lo.
Isso é o que aconteceria.
Capítulo 41 - Apoio emocional e rancor irreparável
"Muitas vezes nos sentimos irritados ou mesmo magoados com pessoas as quais gostamos. Humanos são falhos e interações nunca serão totalmente pacíficas pois somos sempre muito diferentes, mesmo que tenhamos muito em comum. Brigas são comuns e o perdão vem quando ambos estão dispostos a reconhecer os próprios erros e mudar.
Mas a decepção é mais complexa. Apenas um falhou, mas em tal ponto com outro, que talvez jamais recupere o que um dia foi, pois além de tudo uma pessoa decepcionada criará barreiras para afastar quem o machucou".
- VAI PARA O INFERNO ALBUS! – gritou quando o homem tornou a falar sobre estarem fazendo tempestade quando eram conhecidos de longa data e "de certo podiam lidar com isso de forma melhor".
O homem ainda tornou a insistir que podiam, antes de levantarem todos os fatos, liberar as pessoas que não deviam ser envolvidas na conversa, pois isso atrapalhava a privacidade de Neville.
Essa frase fez Lakroff revirar os olhos diante da tolice que Albus demonstrava. Ele sempre foi ignorante assim sobre os sentimentos das pessoas para com as coisas que dizia? Quer dizer, não duvidava, mas achou que toda a história com Gellert fosse um caso específico considerando a quantidade de amigos que Albus colecionara com os anos.
Agora Lakroff realmente começava a pensar na possibilidade de que fosse uma dose de acaso, sorte e misturado com uma pitada de dívidas de vidas.
Augusta, é claro, ficou indignada com aquilo:
- EU sou o problema para a privacidade de Neville?! - questionou se levantando. - NÃO A SUA ATITUDE RIDÍ- mas seu netinho de consideração se colocou na frente antes que continuasse, acalmando-a com um olhar que apenas alguém que passou tanto tempo cuidando de todo tipo de crianças em um orfanato teria.
Liu Heris.
Augusta o conheceu quando ainda tinha esse nome, um pouco antes da adoção de trouxas por Lakroff Mitrica enfim ser autorizada pelo governo bruxo Alemão. E considerando tudo que foi decidido, autorizada era até uma palavra relativamente forte, mas não interessavam os pormenores, o importante era que se tornaram uma família e, atualmente, aquele era Heris Ender Mitrica. Herdeiro da fortuna trouxa da família Mitrica e seu principal administrador.
E, sem dúvidas, a pessoa mais friamente racional da família depois do próprio pai.
A viúva Longbottom não podia pedir ajuda à Lakroff depois da carta, mesmo que quisesse muito ter a companhia do amigo para, mais uma vez, em mais um erro de Albus, lhe dar alguma força e impedi-la de colapsar. Só que entendia algumas necessidades e manter a imagem dos Grindelwald longe de "Harry Potter" ainda era uma delas.
Mesmo entendendo, é claro que primeira reação com as palavras de Minerva foi, depois de pensar em juntar os cacos de cada vaso em sua casa (que quebrou com suas explosões mágicas de ansiedade) todos em um saco e fazer Albus Dumbledore comer e assistí-lo até que tivesse que defecá-los, gritando conforme fosse rasgado garantindo que não se curasse no processo até que acabasse... Então pensar em seu melhor amigo e como ele poderia incentivar a ideia.
Todavia, mais importante era que Lakroff também a impediria de fazer algo como aquilo.
O albino não deixava suas emoções irem longe demais a menos que fosse sua intenção e tivessem um objetivo manipulativo ou mágico por trás. Muitas vezes ainda, quando os utilizava para ajudar suas mentiras.
Sempre dizia que suas emoções conseguiam apimentar a farsa se usadas na medida. De resto era o homem mais frio e racional, a faria olhar com clareza para tudo porque, enfim, o entendia e...
Estava do seu lado em cada fibra de seu ser.
Nem mesmo menos irritada, pois Harrison passou sim por coisa pior que Neville, que o afetava no mais fundo íntimo de formas que perturbavam aos adultos que observavam, mas Augusta já tinha igualmente anos o bastante para não ver mais diferença entre Albus machucando um ou outro.
Ela o odiaria independente de para qual neto apontasse o dedo.
Então Lakroff, que nunca atacou Albus, devia ter um plano. Bem... A Longbottom ajudaria fosse qual fosse depois daquilo. Devia ter ficado do seu lado desde o começo.
Por que lutou tanto tempo para enfim mudar sua opinião?
Era tão cabeça fechada assim? Gostaria de pensar que não, mas as provas diziam o contrário.
"...talvez porque ouviu por tantos anos todos falando bem de Dumbledore e mal do nome Grindelwald que ainda lhe custa trocar isso em seu coração, mesmo que a mente já o faça. Mas tudo bem. Leve o tempo que precisar para mudar suas raízes querida. Isso... – ele levantou o rosto da mulher com delicadeza, o que sujou seu queixo de terra, mas ela não se importou. – É puramente uma decisão sua e não me importa. Sou seu amigo mesmo quando me odeia".
Ela se lembrou da conversa que tivera há alguns anos com Lakroff e se segurou para não olhar para trás, para ele, para seu maior apoio e âncora pensando em como esteve errada. Podia ser uma bruxa da luz, mas nunca, nunca devia ter ido contra as trevas como obrigatoriamente algo ruim. Foi tão seletiva quanto os sangues puros que preferia se afastar que diziam que nascidos entre trouxas eram mais fracos.
O mundo sempre lhe disse que devia ser daquela forma e ela acreditou. Sempre afirmou o que era certo e errado, enquanto Lakroff estava obviamente "do lado errado", então ignorou boa parte de suas palavras, mas ele foi paciente e persistente e a fez enxergar. Tal qual ele mesmo lhe disse. Era complicado mudar. Era velha demais para isso? Não sabia. Antes tarde do que nunca, entretanto.
Percebeu que estava agarrada ao braço de Heris, nem viu o momento que isso aconteceu, mas ele lhe acariciou a mão com ternura e ela sorriu muitíssimo agradecida. Não podia ter Lakroff, mas tinha um Grindelwald, foi isso que pensou quando decidiu lhe chamar.
A carta, toda amassada depois da primeira leitura, Augusta deu à Heris quando chegou em sua casa, se lembrava bem da voz fria e analítica deste enquanto o conteúdo saia por seus lábios a pedido da própria avó, para que tentasse entender melhor os detalhes que acabou por deixar passar em sua fúria.
"Albus quis conseguir a informação de quem era o tutor de Harrison Potter e eu poderia lhe dizer quais foram os motivos que Albus deu para esse absurdo, mas acho totalmente inútil.
Não há motivo para justificar ler a mente de um aluno.
Como ainda ouvi os rumores de que sua família e os responsáveis pelo lorde Peverell-Potter são próximos, achei que [...]"
Albus queria saber sobre Harrison? Augusta ficou tão enfurecida com aquele detalhe que riu e, mesmo não vendo, sentiu como seu rosto se contorceu de forma estranha.
Apenas um Mitrica poderia fazer um comentário tão certeiro para fazê-la sorrir quanto o que saiu em seguida:
- Eu adoraria apresentá-lo ao meu pai. Os dois numa sala, sozinhos, cinco minutos de duelo sem consequências ou o cano de uma das minhas armas bem no meio da testa enrugada para ver o que pensaria.
Ela concordava e não conseguia deixar de se indignar com tudo aquilo.
"Se queria conhecer um de seus tutores, porque não fez isso quando o menino precisava?! Quando o menino estava sendo morto em um maldito orfanato ou antes? Torturado em uma casa sem amor?!"
Concluiu ainda que Lakroff provavelmente não sabia daquilo tudo. Se Minerva escreveu, não diretamente seu neto, Neville deve ter contado à professora para evitar um confronto direto dos Mitrica com Albus, afinal sabia que tinham um histórico de não gostarem do velho nem um pouco e tentou manter a paz.
"Meu doce menino..." pensou cheia de afeto, encarando em seguida Albus e pensando como poderia fazê-lo pagar.
Ah Merlin... Harrison. Ele sabia?
Claro que sim!
Não se esconde nada dos Grindelwald, eles sempre sabem de um jeito ou de outro, é tolice pensar o contrário.
Como teria reagido quando descobriu?! Pobrezinho, devia ter ficado péssimo! A bruxa duvidava que teria comido, dormido e ele provavelmente estava tomando mais remédios do que devia para se impedir de estourar. O garoto (teve certeza) engoliu sua raiva e frustração ou a sala de Albus não estaria inteira naquele momento.
Ainda assim, destruir a sala de Dumbledore era o cenário mais brando que podia acontecer. Provavelmente, nesse instante, Hazz estava destruindo a si mesmo por dentro apenas para não incentivar aquele maldito discurso dos bruxos das trevas instáveis e aquilo, aquele pensamento certeiro, estava dando coceiras e vontade de chorar na bruxa.
Não sabia se de tristeza, frustração ou o mais puro ódio.
Por que seu netinho tinha que ser o maldito pássaro enjaulado só por causa da magia que usava?! Grifinórios, que sempre eram vistos como "bons e íntegros" eram também o símbolo da impulsividade!
Mas um bruxo das trevas não tinha o direito à impulsividade.
Não tinham direito de fazer o que era parte de sua natureza, agindo com seus sentimentos ou o mundo voltava a se virar contra eles.
"Bem" pensou olhando em volta por um instante, sentindo a proximidade com Heris para impedi-la de fazer algo que tivesse consequências muito ruins, mesmo que fosse tentador.
Sentia-se na linha da loucura e pela primeira vez conseguiu nomear o desgosto que formou por Albus.
"Se Harrison não se deu ao trabalho, eu poderia fazer isso, não é? Destruir essa sala" pensou, acrescentando em seguida com ainda mais vontade: "Ou Albus!"
- Você é um maldito hipócrita, nojento, sanguessuga inútil! – gritou, levantando-se na ponta dos pés e se virando, tornando a apertar o braço de Heris para falar por trás dele, que riu acariciando suas costas.
Raiva, ódio, decepção.
Ela queria tanto matá-lo!
Mas apenas pegou a primeira coisa que pôde alcançar na mesa e arremessou em sua direção, o fazendo desviar novamente. A pequena estátua (foi isso que a bruxa pegara), se espatifou no chão e se refez por magia no mesmo instante enquanto Fawkes piava irritada em seu poleiro com toda aquela agitação.
Talvez fosse influência dos Grindelwald (a parte de querer a morte de Dumbledore), mas nada além disso os envolvia nos sentimentos da viúva. Pelo contrário, ainda haviam dois ali exatamente para segurá-la.
Nem por um único minuto, em todos os anos com aquela família qualquer um deles tentou afetar a imagem que a bruxa tinha de qualquer pessoa. Mesmo politicamente falando, no máximo expunham seus pensamentos, mas Albus parecia um assunto proibido a menos que para piadas. Não disseram para que o desprezasse ou deixasse de apoiar, Dumbledore fez isso consigo mesmo.
Entretanto, estar do lado que queria acertar uma maldição entre os olhos do velho gagá, a fizeram perceber o quão difícil era a situação. Convencer as pessoas do tipo de pessoa que "o lorde da luz" era (ou havia se tornado eventualmente e no presente), sem ser tachada de louca ou influenciada pelas trevas.
Até mesmo apoiadora do Profeta Diário, que era uma piada a parte que devia ter a sede queimada. Com os redatores dentro que fosse, ela não ligava mais.
Sim, tinha se tornado mais raivosa, mas lutou tanto para defender Albus, ninguém podia dizer que não foi leal à ele enquanto pôde, que lhe deu seu bem mais precioso, então depois o benefício da dúvida, o perdão e até a esperança em dado ponto. Tentou. Por alguém que conhecia a tantos anos e que já esteve lá por si, por seu filho... Só precisava fazer o mesmo pelo neto.
Um professor, um colega, um parceiro na guerra. Mas aquilo já era demais em todos os sentidos da coisa! Harrison já tinha sido demais desde o princípio, mas... estava alienada e podia admitir agora. Social e politicamente falando, de forma que se envergonharia amargamente se no passado o outro lado não tivesse igualmente pontos tão falhos, cruéis e distorcidos da realidade que estaria trocando o sujo pelo mal lavado.
[Alienada. 1. O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprios. Ou seja, eles não têm consciência do papel que desempenham nos processos sociais. A alienação social incapacita o pensamento independente do indivíduo e ele passa a aceitar tudo como algo natural, racional ou divino.
Alienação política vem a ser a não interação do ser humano nas ações que norteiam o contexto político e social, sendo que, muitos não se reconhecem como alienados, por fazerem parte de uma sociedade dogmática. A condição de superação deste fenômeno, segundo estes filósofos, seria a educação, visando despertar nos cidadãos o senso de responsabilidade e justiça, estritamente ligadas a ciência política da época. A busca pela reflexão na construção de uma sociedade justa era o objetivo principal, criando um Estado ideal.
SILVA, Inez Geralda. Alienação política. Artigo Jurídico, 2006.]
Mas foi, sim, alimentada por um discurso político de seu país até a cegueira absoluta. Até não passar de uma ovelha em suas mãos enquanto se achava uma leoa.
Que Decepção.
Seguindo um estado retrógrado, assustada por uma contra força macabra demais, mas que continuava no poder mesmo após a guerra. Não bastava aquilo como sinal da falha em sua sociedade? Entretanto havia (pois mais irônico que fosse) uma nova luz agora. Gerada por chamas de raiva e descontentamento, caindo sobre o mundo discretamente em forma de cinzas e era seu neto. Harrison podia mudar aquele mundo em equilíbrio ou torna-lo escuro pela fuligem. Sinceramente? Nem se importava mais, pois perdera a fé em pessoas como aquela que lhe falava:
- Augusta – chamou Albus. – Tenho certeza de que tem seus motivos para estar tão furiosa e, não só entendo, como respeito seus sentimentos. Sinta-se livre para descontá-los em mim, mas...
- SINTA-SE LIVRE?! – urrou e, como seus pensamentos estavam um tanto longes, sua indignação causou várias coisas em seguida que não pôde controlar.
Fawkes abriu as asas e se debateu no poleiro, piando para Augusta quando vários quadros começaram a tremer nas paredes. Uma jarra estouro, jogando vidro para todos os lados. Long, o elfo, teve que impedir que um caco voasse em seu mestre e Lakroff (assim como Minerva) se encolheu com o som.
Certo, dessa vez Augusta com certeza rivalizou com os berros de Walburga Black. Sua sogra gritava daquela forma em sua época? Augusta teve que aprender para sobreviver à família do marido? Heris, por outro lado, não moveu um músculo sem ser os faciais em um sorriso.
Para alguém que ficava próximo o bastante para ouvir o tiro de um tanque de guerra, ele já devia ter perdido a sensibilidade para barulhos altos, mesmo com as proteções de ouvido.
- EU NÃO PRECISO DA SUA MALDITA LIBERDADE!
Com este, uma janela foi o que acabou por não resistir à magia latente da mulher e sua explosão rápida, mas efetiva e agressiva, deixando o vidro em pedaços, permitindo o ar frio de outono entrar. Minerva levantou a varinha imediatamente para consertar enquanto a discussão seguia como se aquilo nem tivesse acontecido para aquele grupo.
- Você não venha agir com superioridade, compaixão ou a merda que acha que está fazendo para cima de mim! Eu estou tão... Você... Você...
"Você é tão nojento que, além de tudo, esperou o dia que Harrison estava fora, e consequentemente Lakroff, para atacar Neville! Você o quis sozinho e sem chance de impedir que conseguisse o que queria! Não tem merda que justifique isso!"
Claro, ela não tinha certeza do quanto Albus sabia àquele ponto da influência de Hazz diante de Neville, mas pelo que Minerva dissera, as coisas se relacionavam demais para que fosse apenas coincidência chamar um enquanto o outro não se encontrava.
- Você o usou para conseguir uma coisa que queria sem nem pensar nas consequências! – continuou, indignada. – Mas não se preocupe. Eu vou ser a maldita consequência na sua vida agora, Albus! Eu não vou deixar você se livrar disso, NUNCA!
Seus olhos estavam ardendo e suspirou, sentindo o cheiro da colônia de Heris. Estava tão grata que conseguiu pensar em algum Grindelwald que poderia estar com ela naquele dia, apoiá-la. Precisava de um consigo, só não fazia sentido negar depois de todos esses anos e Heris era perfeito, o mais próximo da racionalidade fria perfeita que a família almejava a anos aos herdeiros e sua presença não revelaria nada sobre o envolvimento de Harry com a família do lorde das trevas, já que ele nunca foi adotado oficialmente pelo bruxo Lakroff Mitrica. Tinha apenas documentos falsos trouxas para às industrias e sua plena herança delas.
Claro, a bruxa sentiu que estava pedindo muito quando usou aquela coisa que instalaram na sua cozinha (chamada telefone fixo, Heris lhe lembrou do nome quando estavam conversando) para pedir a companhia do garoto, mas ele garantiu que não se importava e teria ainda por cima prazer por presenciar a cena.
Mas ela ainda pensava sobre isso. Quer dizer, para que ela precisava de alguém apenas para gritar com Albus? Bem... sentia-se fraca.
Inútil. Tola.
Falha.
Ela falhou com Neville. Com os amigos. Com Harrison por demorar tanto tempo para perceber que Albus merecia a cela de uma cadeia ou uma facada no bucho. Escolheu o lado errado naquela batalha e seu neto pagou as consequências. Não teria força para gritar com Dumbledore tanto quanto consigo mesma, pois sentia-se culpada por cada coisa. Miseravelmente enojada de sua insistência em pensamentos passados, mesmo que tivessem sido a base de tudo que conhecia do mundo. Não justificava o tempo que levou para abrir os olhos.
A decepção consigo mesma era igual demais para que conseguisse apenas retaliar, mas os Grindelwald lhe deram força antes, porque não agora? Funcionou. Passar pela lareira com um deles a fez conseguir dizer tudo que queria assim que chegou lá.
Ter Lakroff coincidentemente na mesma sala apenas foi um bônus muito bom.
- Como pôde? Eu confiava em você – sussurrou sombriamente para Albus.
- Você me pergunta, Augusta, mas antes eu que deveria lhe perguntar: o que a faz pensar que eu poderia?
- Como é?
- Disse que "confiava" em mim – comentou Albus em um tom bem mais astuto, uma fina camada de tensão passou-se por todos ali e Lakroff quase riu, satisfeito em ver mais da verdadeira leoa caçadora que sabia que aquele homem era e não apenas o leão acomodado, exibindo um juba para todos que quisessem ver e esperando que seus obedientes cavaleiros lhe trouxessem a caça.
Ele era um caçador.
Era a pessoa que tinha ajudado e dado a maior parte das ideias para Gellert. Um predador nato e por mais que quisesse distância o máximo que pudesse daquele homem, conseguia admitir: talvez estivesse mais para dragão do que propriamente leão. E Dragões tinham que ser parados por outros como eles ou causavam estrago.
- Ah sim – continuou o mais velho ali, movendo a cabeça. A luz das velas na sala refletiu em seus cabelos grisalhos, alguns mostrando a sombra do ruivo que um dia foram e, pela primeira vez, Lakroff percebeu que o maldito velho estava bem vestido. Não com aqueles pijamas multicoloridos que se acostumara a vê-lo nos jornais.
Desde quando ele usava roupas bruxas tão chiques? E cortou o cabelo ou sempre foi assim? A barba estava penteada e a imagem de Albus em frente a um espelho penteando a própria barba fez Lakroff ter que virar de costas para rir e não parecer tão louco.
- Confiança, imagino que sim, está totalmente envolvida nessa situação e eu traí a sua, não é?
- É claro! – resmungou Augusta e já ia começar a falar mais, só que foi interrompida.
Albus nem precisou aumentar o tom de voz, ele apenas continuou com aquele som estranhamento calmo e calculado. Como se murmurasse em voz alta uma fórmula matemática, seus olhos azuis brilhando de forma única.
- Dito isso, eu também confiava, ou melhor... Confio em você Augusta. Total e completamente, poderia deixar minha vida em suas mãos sem hesitar e, se estivessem acusando você de um crime, eu a defenderia antes de sair invadindo sua sala a acusando – estreitou os olhos.
Augusta corou. Suas bochechas esquentaram e até suas orelhas, mas não por qualquer reação.
Foi por fúria.
Albus teve sua cabeça acertada pela bolsa vermelha que ela havia arremessado antes.
Usando magia sem varinha e sem palavras, coisa que Dumbledore sequer sabia que ela tinha conhecimento para fazer (Augusta só tinha a agradecer pelas aulas com Lakroff), a viúva usou um Accio forte o bastante para que a coisa doesse ao acertar seu alvo. Fawkes piou alto e ficou claro que queria voar na direção do agressor de seu dono, pela forma que balançou as asas irritada, mas a Longbottom foi muito mais rápida do que o impulso da ave e já foi levantando a bolsa e gritando em sua direção:
- Eu te acerto também se vier aqui defender esse merda!
Lakroff quebrou toda a pose que queria manter ali e caiu em uma gargalhada alta, que se tornou quase semi-histérica quando o chapéu seletor em uma das prateleiras também acabou soltando um risinho. Minerva quase foi contaminada pelo momento, tendo que morder o lábio inferior para conter a própria reação.
Aberforth gostaria daquela memória ao ponto de querer enquadrá-la.
Fawkes pareceu entender a ameaça, pois abaixou as asas e crista, mas sem deixar de encarar a mulher com algo que, se traduzido por um humano, parecia questionar a sanidade da bruxa.
- Eu não saí invadindo sua sala baseado em nada, Albus! – Augusta tornou a gritar ignorando o bicho, agora que tinha se aquietado. – O ponto é esse. Eu já devia ter invadido essa porcaria a anos, mas eu fui paciente, eu repito: confiei em você e lhe dei uma, duas, até três chances, mas essa foi a maldita gota d'água.
- Três chances? Como...
- VOCÊ TROUXE UMA MALDITA PEDRA FILOSOFAL PARA O CASTELO!
- Era para protegê-la de Voldemort...
Minerva tremeu diante do nome, mas notou pelo canto de olho que Lakroff não só pareceu completamente indiferente como ele parecia distraído com algo, quase ignorando a conversa para focar em pontos da sala de Albus. Estaria se sentindo invadindo uma conversa privada, tal qual Albus sugeriu antes?
- PARA O INFERNO COM VOLDEMORT! – gritava Augusta. – MAS NÃO PROTEGEU AS CRIANÇAS DELE PELO MESMO MOTIVO SEU MERDA! E VOCÊ ERA O DIRETOR! DEVERIA PROTEGER AS CRIANÇAS EM PRIMEIRO LUGAR!
- Eu deixaria o lorde das trevas retornar, então? – Lakroff imediatamente parou de olhar em volta e estreitou sua atenção para o diretor.
Pois percebeu que Dumbledore não usou a mesma voz calma e pacífica de antes.
"Olhe só" pensou "Está começando a levar para o coração? Augusta está entrando na sua cabeça?" Albus não parecia sentir a necessidade de se justificar para a mulher até então, ele apenas continuava com aquele tom pedantemente baixo e calmo, como se quisesse controlar uma besta raivosa que o atacava.
A mudança foi muito sutil, entretanto, e só ele pareceu notar.
Talvez seu filho, já que Heris pareceu um pouco mais tenso.
- Se não conseguia fazer as duas coisas, FIZESSE APENAS UMA! A QUAL VOCÊ É CONTRATADO! SER UM MALDITO DIRETOR!
- As crianças ficaram seguras, Voldemort não foi capaz...
- MEU NETO QUASE FOI ENFORCADO POR ELE SEU FILHO DA-
Heris agarrou Augusta quando ela avançou na direção da mesa.
- Eu fui chamado para o ministério, voltei assim que percebi que algo estava errado, eu fiz...
- VOCÊ NÃO TINHA QUE TER SAÍDO se estava disposto a proteger uma coisa que trouxe para dentro do castelo justamente porque acreditava que estava mais segura AO SEU ALCANCE! Se fosse para deixar a pedra sozinha, DEIXASSE NO MALDITO BANCO! OS GOBLINS NÃO DEIXAM O MALDITO BANCO SOZINHO PARA OS DRAGÕES CUIDAREM COMO VOCÊ FEZ! VOCÊ É IMBECIL?!
- Long, quando ela se acalmar, pegue mais água. Ela vai precisar descansar a garganta depois – sussurrou Heris e aquele comentário fez o seu papel.
Acabou causando um risinho na Longbottom, que enfim respirou um pouco e o homem se aliviou ao ver o tom vermelho diminuir nas bochechas da idosa. Mesmo que fosse bruxa, ele tinha medo que se estressasse tanto naquela idade (podia ser sua mente trouxa falando mais alta, mas enfim), ela além de tudo estava tremendo demais para ser saudável, aquela pequena pausa era necessária. Esse era, no fim, o maior motivo para estar ali.
O outro sem dúvidas era poder responder algo como ao que se seguiu.
- Eu repito – disse Albus se levantando, em tom firme, cabeça levantada em posição de dominância. – Não faz sentido manter o vice diretor da Durmstrang aqui, temos que resolver isso apenas entre os envolvidos e posso muito bem esclarecer tudo a ele depois, quando tivermos resolvido a situação.
Augusta inspirou e fechou os olhos.
- Está com vergonha que ele saiba sua incompetência como diretor e se aproveite disso para patrocinar a Durmstrang para o público? – perguntou Heris no ato.
Lakroff não segurou, porque nem ele estava preparado para isso. Tossiu e disfarçou sua reação apenas em respeito aos outros envolvidos naquela escola.
- Não se preocupe com isso, senhor diretor, seus feitos ao manter a escola aberta mesmo com a quantidade de acidentes fatais que permite pelos terrenos já são bem conhecidos, duvido que o lorde Mitrica tenha perdido algum – continuou e, para encerrar, deu um sorriso cheio de dentes e uma falsa simpatia tão grande que Lakroff apenas pensou na frase de Tom "nota de centavo". – Foi uma ideia brilhante, a propósito, aproveitar o potencial e sediar o torneio mortal justamente aqui. Sobreviver à escola é parte da competição, não? Uma pena que Harrison falhou na tarefa bônus...
O lorde Mitrica amava seus filhos adotivos.
Amava tanto quanto um dia amou o biológico, mas naquele momento... ele sentiu uma sensação de orgulho tão explosiva que quase correu para apertar Heris no mais forte dos abraços e vê-lo encarando-o com aquela expressão vazia que sempre fazia com demonstrações de afeto.
Perguntando depois piscando os olhos:
"Acabou?"
Alice ficaria furiosa por não estar ali para poder ela mesma gritar toda a raiva que tinha do velho Dumbledore, que vinha alimentando desde que contaram tudo sobre o mundo da magia e o passado de Harrison (além do seu nome real), mas sem dúvidas se regaria de prazer quando visse a língua ácida e afiada do mais velho aproveitando a chance o máximo que podia.
- Como é? – questionou Albus, parecendo, enfim, ofendido.
"Ah, a escola é seu ponto fraco..." pensaram os dois Mitricas e o mais novo ainda sorriu antes de acrescentar:
- Espero, entretanto, que não tenha sido o senhor e seus professores a planejar as tarefas, mas o ministério, ou isso será muito fácil. Afinal as que fizeram a alguns anos atrás foram derrotadas por três primeiranistas e tinham a intenção de impedir um lorde das trevas, seus padrões para "desafio" parecem desequilibrados.
- Como é?! – sua voz subiu alguns decibéis e, desta vez, Minerva obviamente também se sentiu atingida.
- As tarefas no corredor eram para impedir os alunos de chegarem até o perigo que a pedra filosofal apresentava enquanto artefato mágico, não aquele-que-não-deve-ser-nomeado. O lorde das trevas seria apenas impedido pela magia que Albus criou especificamente para enganá-lo! – ela justificou, irritada. – E funcionou, aquele que-
- Está dizendo que colocar uma porta trancada sem magia e um cão de três cabeças gigante, que a mitologia trouxa associa à entrado do próprio inferno, como primeira coisa para barrar crianças foi sua ideia do que seria melhor para proteger alunos? – questionou na mesma hora, levantando uma sobrancelha diretamente para a mulher que recuou, sem saber como responder. O loiro crispou os lábios, percebendo que ela estava pensativa, então se virou para Lakroff. – E eu venho tendo de suportar por anos pessoas reclamando que Durmstrang era perigosa para Harrison. Castelobruxo tem criaturas entrando pelas janelas e ainda me parece uma segunda opção mais viável.
- Fofo era o cachorro do nosso guarda caça – respondeu Albus estreitando os olhos por trás dos oclinhos de meia lua e recuperando a atenção. – É uma criatura bem treinada e dócil, ele não...
- A criatura dócil que diz, foi o único desafio que o lorde das trevas encontrou por um total de meses. O homem teve que literalmente subornar uma pessoa para conseguir passar pela coisa enquanto o seu "tão incrível feitiço feito para ele", foi superado na mesma noite que chegou ao seu encontro-
- Neville Longbottom superou o desafio! – interrompeu Albus, sem deixar de anotar mentalmente como aquele homem se referiu à Tom como "Lorde das trevas" e "o homem", coisa que dificilmente alguém no mundo faria.
O homem? Todos sempre o viram como monstro ou mestre.
- Voldemort- continuou, mas foi interrompido.
- Tal qual todos os outros "desafios", superado por uma criança. Que brilhante! Isso com certeza não fortalece minha fala de que foram as proteções mais ridículas possíveis – Albus quis interromper de novo, mas Heris deu um passo até a mesa e lhe acertou um tapa, seu rosto estava tão sério e Dumbledore continuava não sentindo nada de magia no homem, coisa que mesmo os bruxos mais fortes tinham dificuldade em esconder tão bem, que se manteve quieto. – Eu não sei nem dizer o que é mais absurdo nisso tudo, se quer saber. Seu guarda caça tolo ser subornado, você aceitar o cachorro de alguém que é tão facilmente subornada quanto com um maldito ovo de dragão, seu funcionário cometer um crime nos seus terrenos que é ter um dragão, vai contra as leis do ministério mundial, e seus ALUNOS precisarem arrumar uma solução, você não saber disso ou saber e não ter feito nada... Ah, desculpa, esqueci que você está disposto a cometer crimes. Engraçado né? É justamente o motivo que estamos aqui. Deve ser o absurdo de tudo que afetou minha memória. Ou a minha sanidade – fez careta.
Lakroff começou a cantar uma música infantil que sua mãe sussurrava para si quando acordava nas madrugadas após uma visão especialmente ruim, porque estava precisando para tentar manter alguma compostura.
- Sinceramente? – continuava o loiro mais novo. – O primeiro ano de Neville aqui é uma piada tão ridícula que se eu continuar falando ficaremos aqui a noite toda! Vocês mandam seus alunos para a floresta proibida com um único guarda caça e um homem idoso que nem sabe usar magia e está desarmado, para protegê-los e isso quando eles fazem algo proibido? Na Durmstrang eles fazem serviços domésticos sem magia e são chamados de bárbaros? Meu senso foi afetado por andar muito com bruxos das trevas ou o mundo trocou o significado das palavras de repente e não fui informado? Admito que me isolo bastante, pode ser o caso.
"Um pequeno, pequeno bruxinho; criança com um dom especial" cantarolava mentalmente Lakroff, a respiração irregular e tentou pensar na única vez que seu pai cantou aquilo para si, mas nem o rosto do homem serviu para mudar seu humor.
Augusta, por outro lado, não se conteve e bateu palmas.
- Por favor – murmurou Albus, inspirando fundo e juntando os dedos na ponta do nariz, sentando-se. – Isso está começando a soar infantil. Somos todos adultos, podemos ter uma reunião séria e sem provocações. Em respeito a tudo, Augusta, apenas vamos falar, sim?
- Não entendo o que quer dizer. Estou falando desde que cheguei.
"Gritando, você queria dizer?" corrigiram Albus e Minerva, mas nenhum teve coragem de externalizar esse pensamento.
- Apenas deixei que meu querido aqui assumisse enquanto tomava um ar – continuou, indicando Heris. – Long, eu aceito a água agora – disse ao elfo, se sentindo muito satisfeita. – E um cigarro, se me fizer o favor.
Ela não se preocupou em perguntar se podia acender um ali e o elfo, tão pouco mesmo que Albus fosse o anfitrião e aquela era a atitude comum entre eles, apenas deixou um copo e um fumo na mão da mestra que acendeu com magia. A bruxa deu uma boa tragada, soltando o ar para cima e Dumbledore suspirou, usando um feitiço simples para que a fumaça não chegasse a si.
- Dito isso, milorde... – olhou para o convidado ainda sem nome. – Sinta-se bem-vindo à escola de Hogwarts, em nome do diretor e lamento que tenha sido nessas circunstâncias – ofereceu em seu tom simpático de bom senhor de sempre. – Vamos todos nos sentar e tenho certeza de que poderemos nos entender. Gotas de limão?
Fineus Nigellus Black revirou os olhos e bufou para aquilo.
Lakroff não teve certeza se isso o incluía, encantou uma cadeira para seguir até seu filho, que se sentou cruzando as pernas e olhou para Minerva para verificar o que a mulher faria. Ela pareceu igualmente confusa, se mantendo de pé no lugar e o loiro preferiu fazer o mesmo, mas a dúvida foi sanada com a próxima frase do diretor:
- Minerva, eu continuo daqui com nossos visitantes. Você e o Lorde Mitrica podem aproveitar o jantar com os demais, devem estar famintos – e com um movimento da mão direita, a porta da sala se abriu.
A McGonagall acenou com a cabeça, pensando seriamente em pedir uma marmita para os elfos e correr para a casa de Aberforth porque, por algum motivo, sentiu que comer em Hogwarts a sufocaria naquela noite, mas quando se virou a porta que havia sido aberta bateu com tanta força que quase pulou no lugar.
- Ela fica! – ordenou Augusta voltando a se levantar com a raiva revigorada. – Lakroff Mitrica fica, meu neto fica, a porra do meu mal humor fica e isso não entra para debate!
Todos ali arregalaram seus olhos para o linguajar usado pela lady, que era sempre tão polida.
- Augusta-
- Não! Eu cansei de ouvir suas desculpas e como você consegue me acalmar de alguma forma com essa sua voz nojenta! Venho ouvindo seus discursos apaziguadores por três longos anos! Tenho ouvido você justificar toda a merda que jogou em cima do meu neto, enquanto ele quase morria dia após dia e agora você quer ir atrás do outro! Harrison teve sorte de ser deixado bem longe da sua "proteção"... ou melhor, ele – apontou para Heris. – Fez certo em ir totalmente contra o que eu pensava e colocado onde você nunca acharia, mas daí você consegue enfiá-lo contra a morte em menos de duas semanas! Nem fodendo eles saem! Minerva é a única que parece ter percebido como você está podre e me avisou, ela tem que ficar!
Albus evitou reagir desta vez, para não mostrar que algo muito interessante foi revelado. Augusta acabara de constatar com todas as letras a proximidade dos Longbottom com Harry Potter, a bruxa via Harrison como um neto, se referia a ele em pé de igualdade ao próprio Neville, mas...
O inquietante era que também chamava o tutor de Harry como neto.
Do contrário o homem não usaria "vovó" para lhe falar desde que chegaram.
Uma peça muito boa daquele quebra cabeça havia sido achada, constatou. Guardou essa informação útil para ser usada depois também.
- Augusta, somos amigos, não precisamos brigar – acenou com a cabeça. – Faremos como você desejar, é claro, quero apenas esclarecer tudo – e com um movimento de varinha, outras duas cadeiras apareceram, uma de cada lado das anteriores. – Posso convidar eles para se juntarem, então?
Heris revirou os olhos para aquela atitude falsamente aberta, onde Albus fingia dar o poder à Augusta, apenas para parecer mais aberto. Técnica de manipulação básica e fraca. Não só revirou os olhos, mas também encarando Albus como se fosse capaz de matá-lo.
O que era.
Se estivesse armado e tivesse recebido autorização de Harrison provavelmente faria sem pensar duas vezes, com o desgosto que emanava por seus poros. Claro, ele não era o único. A verdade era simples: a única coisa que impedia qualquer um dos Grindelwald de matar Albus Dumbledore, eram os Longbottom.
O melhor era que o velho claramente estava perdendo o apoio da família, o que era uma péssima jogada para si, mesmo que não soubesse. Talvez a pior delas. Dava carta verde para os Grindelwald enfim atacarem.
Demorou, mas estavam chegando lá, olhe só...
- Oh, claro que pode – respondeu Augusta e, pelo tom de gentileza que lhe saiu, Heris a encarou confuso, mas ele entendeu quando ela continuou. – Mas não será necessário, uma vez que isso não durará mais do que mais alguns minutos.
- Minutos você diz? Não foi você que tratou como algo de extrema importância, Augusta? – questionou Albus.
- Mas é. O ponto continua sendo que não vejo necessidade para continuar com isso por muito mais que o necessário. Me dará dores de cabeça encará-lo além do necessário.
- Está querendo me dizer que você já tomou suas conclusões antes mesmo de vir até aqui e está na minha sala apenas para gritar comigo? Sequer me dará a chance de me explicar e defender? – perguntou em uma voz de julgamento e decepção que Augusta sentiu tanto nojo que poderia cuspir.
Em vez disso, ela apenas deu uma segunda boa tragada no cigarro e, ao encarar Albus apenas fez questão de soltar todo o ar contra a barreira que sabia que ele tinha levantado.
A fumaça acertou como se diante de um vidro, seguindo para cima e escurecendo a visão de uma para o outro.
- Sim – respondeu batendo o cigarro de forma a fazer as cinzas caírem no chão. Long, entretanto, não conseguiu segurar o próprio impulso de invocar um cinzeiro bem no local onde iriam cair e Augusta riu disso. – Agradeça a ele – disse Augusta.
- Como? – questionou Albus confuso e a mulher apenas revirou os olhos.
- Nada. Agora sobre "minhas conclusões já tomadas" – continuou. – Você tem razão, eu vim aqui apenas para gritar.
Houve um tempo de silêncio, onde Albus a encarou e Augusta jogou outra lufada contra a barreira dele apenas por pirraça.
- Eu esperava mais – suspirou o homem, muito triste e se inclinando para trás. – Depois de tudo.
- Digo o mesmo.
- Eu lhe daria o benefício da dúvida, a chance de dar sua versão – insistiu.
- Claro que daria, afinal fez exatamente isso com Sirius, não foi?
Minerva gemeu, chocada com a resposta afiada e Albus arregalou os olhos:
- Sirius?! O que ele-
- Você nunca foi ouvir sua versão da história, ou ele teria tido um julgamento justo.
- Todos achávamos que ele tinha nos traído, não havia como se justificar disso!
- Exceto que uma havia: ele era inocente.
- Você também não quis ouví-
- Eu estava no St' Mungus e cuidado do meu neto depois de pegar meus filhos em estado vegetativo, isto após uma longa tortura oferecida por uma prima distante. Estava cansada da guerra. Não sou política Albus, você é.
- Eu-
- Você se dispôs a terminá-la. A guerra. Então, remoldar essa sociedade, ser um líder. Fizesse um bom trabalho, mas parece que tudo que faz é pela metade, incompleto ou medíocre.
- Eu fiz o que podia. Meu máximo, priorizei o que achei certo e a Sirius, lhe dei todo o apoio quando seu neto fez um trabalho incrível e o inocentou. Lhe dei um emprego, uma chance de recomeçar.
- Depois de onze anos em Azkaban tendo a alma sugada, nada como um emprego, não é? Que bondoso da sua parte! Não é nem como se ele não fosse rico – respondeu tão cínica que o som saiu afiado.
Mais de um quadro tossiu, Nigellus Black murmurou algo como "Às vezes eu sinto orgulho dos casamentos da minha linhagem, sabe?" para o quadro ao seu lado e Albus sentiu uma pontada forte no peito.
Ele sabia que o que fez não era muito. Não era nada para compensar o que Sirius tinha passado. Mas o que ele podia fazer? O que tinha sido feito já não era mutável. Ele procurou dar uma nova motivação à Sirius e um lugar onde se sentisse confortável, onde ainda poderia ficar de olho e ajudá-lo como podia, mas a forma como Augusta colocou...
Pareceu tão tolo.
– Claro – continuou a bruxa. – Isso sem nem perguntar ao conselho de pais, que foi criado para impedir qualquer diretor de usar do seu poder de forma errônea, como outros antes tentaram, afetando assim a educação dos alunos. Mas você parece não só esquecer disso, como realmente tratar feito piada, já que tem repetido o erro por vários anos e literalmente não houve um desde que Neville está aqui onde um professor não tentasse matar um aluno, propositalmente ou não. Que todas as vezes meu neto foi o alvo é um bônus a parte. Você escolhe a dedo quem vai tentar assassinar meu neto ou apenas tem o dom?
- Já pode mandar um currículo para o lorde das trevas – comentou Heris e Augusta soltou outra lufada contra seu alvo.
- Eu não ignorei o conselho... – tentou se defender.
- Só não nos perguntou – continuou Augusta. – Tal qual com Remus ou Lockhart.
- Três exemplos, Augusta, eu sou diretor a décadas! – suspirou exasperado.
- Impressionante que você acredite mesmo que cometer o mesmo erro três vezes não é um problema - respondeu Heris rindo.
- Ele claramente não acha. – comentou Augusta. – Agradecemos então à Neville por matar o monstro da câmara secreta, ou teríamos que esperar um terceiro cadáver até sua aposentadoria.
- Nooooossa! – disseram mais de um quadro, incapazes de conter exclamações surpresas.
- Ele pediu autorização para empregar Alastor Moody? – questionou Heris astuto.
- Claro que não – respondeu a bruxa com mais uma lufada e, desta vez, Albus abriu a boca para se defender.
Grande erro.
A mulher enfim conseguiu acertar qual era o feitiço que ele tinha usado e, enfim, os contra feitiços que estava discretamente jogando por debaixo da mesa atingiram o ponto certo. A barreira foi desfeita e Dumbledore engoliu uma boa quantidade de fumaça, entrando em uma crise de tosse.
Lakroff já tinha esquecido como se cantava a música de sua mãe e começou a cantar alguma trouxa que ouvira certa vez, mas pareceu tão infrutífero quanto antes, até porque "brilha, brilha estrelinha" já virara "vira-vira" tamanha sua confusão mental.
Ele tinha a impressão, além de tudo, que esquecera outra coisa, mais importante que a letra da canção.
- Eu nunca deixaria algo assim acontecer – disse sombriamente, muito tenso, até arrumando a coluna, o que o deixou mais alto.
Não só isso, Albus deixou sua magia se soltar um pouco e Lakroff achou aquilo ofensivo, o homem estava tentando impor sua força e isso, era impossível que não soubesse, causava efeito na magia das pessoas que podia acabar deixando as ideias mais suscetíveis diante de algo que o subjugasse. Augusta, entretanto, estava bem treinada. Desde que Lakroff apareceu em sua vida treinava muito mais do que achava que o faria nessa idade.
Não com ele, entretanto, mas sim para enfrentar o homem, se fosse preciso um dia. Começou justamente por seu medo dele, mas os treinos e os livros que pegou de sua biblioteca foram muito úteis. Ela deixou sua magia rugir irritada contra a de Albus e não só protegeu a si e ao seu neto de consideração, como se levantou e acertou as mãos com tanta força contra a mesa que ela rachou e fez Albus se afastar.
- Você abaixe essa crista contra mim, galinha de fogo caquética e depenada, ou quem vai para a cadeia desta vez não será você, mas eu!
Albus recuou diante daquilo e Minerva exclamou surpresa. Nenhum dos dois nunca viu Augusta daquela forma.
Nem demonstrando sua magia de forma tão imponente. Desde quando a mulher era tão forte?
- Não deixaria alguém morrer na escola? É isso que quer dizer? Claro que não deixaria, afinal se não fosse por meu neto, nem haveria mais Hogwarts para alguém morrer.
- Eu daria um jeito de manter a escola – respondeu, um pouco mais contido do que vinha sendo, o que pareceu agradar a mulher que voltou para seu lugar. – Só precisaria acalmar o ministério depois que os ânimos...
- O senhor é tolo o bastante para não perceber que essa frase apenas mostra o quão pouco se importa com a segurança dos alunos, em comparação com a ideia de manter uma simples escola aberta? – questionou Heris, cruzando uma perna por cima da outra. – Sendo que podem recorrer a outras que não tenham um monstro gigante e centenário colocado por um de seus próprios fundadores para devorar criancinhas "impuras"?
- Claro que me importo com a segurança dos alunos, eu haveria de achar a entrada e-
- Então porque não achou antes de Tracy Davis morrer e Ginevra Weasley quase ter o mesmo destino?
- Eu tentei, mas não havia provas de que a câmara realmente existia, para que o ministério financiasse ou aprovasse uma busca mais minuciosa. Todos achávamos que eram Aracromântulas as responsáveis.
- Seria um bom argumento – continuou o loiro, implacável. – Se você não tivesse empregado e permitido que o homem que trouxe a primeira delas para Hogwarts as mantivesse em um número de centenas. Sendo alimentadas, inclusive, ao invés de tratadas como uma das criaturas mais perigosas do mundo mágico e exterminadas antes que machuquem alguém.
- Nós as alimentamos justamente para que concordem em não chegar perto dos alunos. São criaturas racionais.
- Os mesmos alunos que você manda para a floresta nos castigos? Que sequência de conclusões estranha. Se me lembro bem, Ron e Neville só estão vivos de um ataque massivo delas por sorte. Seu contrato está vencendo ou a oferenda da vez estava atrasada e elas acharam que podiam usá-los para quitar?
Augusta assoprou seu cigarro para cima agora, enquanto comentava:
- Incrível como as tais aranhas racionais que você se gaba de estarem do seu lado sabiam perfeitamente sobre a câmara e que o monstro era um basilisco, mas você foi simplesmente incapaz de conseguir alguns galos para cantar durante uns dias até matá-lo? – Minerva se remexeu inquieta.
Caramba, como ela não pensou nisso?
Que tipo de idiota havia se tornado que não via essas falhas gritantes em sua escola?!
Que tipo... de diretora ela seria capaz de se tornar se como professora estava demonstrando um desempenho tão vergonhoso?
- Para criaturas que estão com o senhor – continuou Augusta. – Parece irracional que não tivessem avisado ninguém, inclusive Hagrid. Ou será que suas visitas não são tão regulares?
- Hagrid tinha sido preso.
- No mesmo dia que elas o avisaram? – ambos questionaram rindo em deboche.
- E ele não se deu o trabalho de contar para nenhum dos aurores que cuidaram de sua prisão que as crianças estavam sendo ameaçadas por uma cobra gigante que mata com um olhar? – Questionou Heris. – Professor exemplar o seu – debochou. – Ah... assistente, ainda bem. O fugitivo do ano passado que é o professor.
- Padrinho do seu pupilo – lembrou Dumbledore.
- Alguém que fiz questão que o visse apenas sob supervisão até que tenha minha total confiança. Sim. Isso chama-se responsabilidade, posso lhe dar mais algumas dicas se tiver um ano livre, precisaremos de muito tempo para começar do básico.
Albus inspirou fundo, a cada segundo mais irritado.
Não. A cada comentário daquele garoto ele se tornava mais irritadiço. Era muito difícil que alguém conseguisse deixar Dumbledore estressado, estava acostumado com comentários maldosos e pessoas o tratando como tolo. Todos no mundo sempre tinham ideias sobre como ele deveria ter agido, como errou, para podia melhorar, mas claro, ninguém se dispunha a assumir seu papel sem criar ou prometer um caos a parte.
Mas aquela pessoa...
Não sabia o que tinha no olhar dele, em sua forma de agir ou suas palavras que o deixava tão irremediavelmente consternado. Sem saber, ao certo, como responder.
- Augusta... – tentou voltar ao foco. – Mesmo que eu admita que possa ter falhado na segurança de Neville nesses anos.
- Pode ter? – provocou Heris e Dumbledore fez o possível para ignorá-lo. Já estava ficando verdadeiramente irritado com aquele homem, como poucos conseguiam, inquieto.
- Mas o que a faz acreditar com tamanha certeza de que eu seria capaz de-
- Ah, não! – interrompeu Augusta. – Você não vai vir com essa, não minta para mim Albus Dumbledore, nós dois sabemos o que você fez!
- Eu...
- Eu disse a ela – admitiu Minerva na mesma hora, incomodada com a ideia de que o tema poderia se estender, que Albus pudesse (Merlin a livrasse, mas começava a pensar na possibilidade) que mentisse.
- Minerva? – questionou com uma sobrancelha levantada.
- Só por que você esqueceu toda a sua honra, não quer dizer que todos aqui o fizeram – Augusta comentou acidamente.
O mais velho não se deu ao trabalho de dizer algo sobre isso, apenas manteve seu foco na amiga.
- O que foi?! – a professora de transfiguração questionou. – Eu disse que eu avisaria Augusta se você mesmo não contatasse!
- Eu disse que já havia conversado com Neville, tudo estava acertado e...
- Isso foi errado! – gritou Minerva, dando um passo em sua direção, mas foi interrompida quando todos escutaram o som de algo batendo atrás de si e se viraram para ver Lakroff, o causador.
O bruxo segurava uma jarra de vidro e portava um sorriso estranho e tímido quando acrescentou para os demais:
- Desculpe. Besouro, entrou quando a janela quebrou, venho esperando uma chance para pegá-lo a tempos, mas o danado sempre conseguia se... esconder – Heris deu risada de seu pai e até Augusta, enquanto o platinado corava de como o encaravam. – É que não gosto deles – murmurou baixinho.
Minerva franziu o cenho. Aquele já era o segundo que o Mitrica dizia ver, mas eram tão incomuns naquela época do ano então parecia muito difícil acreditar. Muito estranho. E entrou numa janela numa torre daquela altura?!
Mas o inseto estava dentro do pote, se debatendo, então por mais estranho que fosse...
- Queria apenas me desculpar com Neville, eu mesmo percebi que tinha errado com ele – continuava Albus, mas Minerva se sentiu muito ofendida e irritada com aquilo.
- Você mesmo?! – gritou, não chegando nem perto de Augusta, mas havia tanta fúria em sua voz que fez o homem se calar assustado. – Você não fez nada! EU te questionei! EU te dei uma chance e o que você fez com isso? O pior que podia! Foi ridículo, errado e condenável! Você chama o garoto um dia e viola sua mente, ele vem pedir ajuda para seus professores e eu ainda lhe dei uma chance, o que fica claro que eu não devia ter feito, porque você se aproveitou dela para chamá-lo de novo sozinho para sua sala?! Tem noção do que isso parece ou você é tão ingênuo que não percebeu que aquela era a pior decisão que poderia ter tomado?!
- Não há homem no mundo que seria ingênuo a esse ponto – reclamou Heris. – Isto foi burrice, covardia ou falta de caráter completo. Querer convencer uma criança a acobertar seu crime? O máximo que podia ter feito era ter implorado para minha avó que o perdoasse, mesmo que ela devesse mandá-lo direto para um inquérito, expulsão imediata do cargo de diretor e, se o mundo ainda não foi tomado por idiotas completos, para Azkaban em pouco tempo!
- Azkaban? – Dumbledore olhou para Augusta. – Você não está mesmo considerando...Augusta! Eu sinto, sinto muito pelo que fiz! Não sei o que me tomou naquele momento-
- Então admite? – apontou Heris.
Albus abriu a boca, mas... não soube o que dizer. Estava se sentindo encurralado, sua cabeça estava doendo, Augusta gritando, o cheiro de cigarro, o homem que não conhecia que o inquietava e o maldito filho de Gellert, então até Minerva, o encarando com raiva e desaprovação...
Simplesmente parecia impossível pensar, suas mãos estavam suando e todo o seu corpo só queria que... parasse.
Foi quando bateram na porta.
E, para ele, aquela foi uma chance.
Não seria a primeira vez que se enganava sobre algo, entretanto.
-x-x-x-
Ginevra Weasley teve sua privacidade invadida uma vez.
Qualquer um se sentiria incomodado ao ter seu diário íntimo lido, pré-adolescente, adolescente... ela arriscaria que até mesmo um adulto não se sentiria confortável com algo assim.
No seu caso, o próprio diário foi o problema.
Ela se abriu com Tom Riddle e este lhe tomou os segredos, sentimentos e a mente.
Eventualmente o inevitável: O corpo.
A vida só não foi levada depois de tudo isso porque Neville Longbottom a resgatou, quando ninguém mais conseguiu.
Tom traiu sua confiança de um jeito que sentia que jamais veria novamente. Ele não tinha apenas lido seus pensamentos mais profundos e os usados para enganá-la, mas antes disso a ensinou, aconselhou, consolou, esteve lá quando se sentia deslocada e sozinha, "a weasley fêmea", alguém cuja única personalidade era isso: ser uma garota. Se fez vulnerável e um amigo que começou a realmente depender.
E lamentar a partida de forma que se sentia enojada.
Gina tinha saudades de Tom. Sabia que aquele que conheceu podia nunca ter existido, que era apenas uma farsa feita para que ela se apegasse e que pudesse lhe roubar a vitalidade para causar um mal maior que talvez nunca poderia compreender. Matar crianças? Apenas por algo que elas não tinham qualquer controle como o nascimento?! Aquele não era o Tom que conheceu...
Era Voldemort. Teve que aceitar isso, mas ainda era difícil. Infelizmente, algo que a envergonha, mas uma realidade.
Ele, quando se sentia inferior aos irmãos, lhe contou sobre como era para as mulheres nos anos quarenta (sua época) e como era fascinado naquelas que tinham personalidade forte, aquelas que estavam no oposto de ser a dama perfeita, longe apenas de mais uma lady, mas sim uma pessoa. Não alguém treinado para nem ser visto, a menos que fosse para conseguir um casamento, que não falava sem ser pedido, e se falasse seria baixo. Olhava sempre para quem levantava a cabeça e se tornava alguém que todos apontavam o dedo e continuava em frente assim, quem era corajoso sim, mas ambicioso para ser o que quisesse naquele mundo.
"Viu? Um pouco de nossas duas casas, até vocês leões tem alguma coisa que presta, não é?" ele provocava e aquilo a animava, aquela acidez na medida.
Também lhe contou exemplos. Como a colega que falava alto demais e gritava para os sete ventos, não havia uma única pessoa em Hogwarts que não a escutasse se ela quisesse. Foi desta desajustada que quis se tornar "amigo".
Hoje Gina duvidava que realmente a garota tivesse sido amiga dele.
Provavelmente só era útil, assim como a Weasley foi, mas de sua própria maneira.
Foi usada, sua fraqueza diante de ladys mais adequadas sendo usada contra ela pelas palavras de alguém que era um sedutor.
Aquela era a palavra para Tom. Sedução.
Era maior que simples manipulação. Maior que chamá-la de amiga com a mesma falsidade que chamou Ginny quando ameaçou jogá-lo fora: "Eu achei que tínhamos nos tornado amigos!"
Tom tinha jeito com as palavras, com as pessoas, a forma como descobria onde tocar, como e com que força, onde se era sensível, onde era arredio. Gina entendia agora que não havia apenas a sedução romântica, mas para Tom (talvez pela forma como era bonito e como todos deviam olhar para si assim) ele tomou a própria forma de se dominar aquele método para todo tipo de objetivo. Que tipo de conversa e atitude funciona melhor para cada pessoa? Como atraí-los? Como fazer com que fiquem? Que queiram mais? Ouvir mais, estar mais? Como torná-los apaixonados por minha forma de ser? Pelos meus discursos, minhas palavras? Então depois... como torná-los dependentes? Assustados? Incapazes de fugir do aperto...
Como um cântico de Veela, daquelas que viu na copa mundial. Ou como um relacionamento onde você não sabe como as coisas ruins começaram, mas elas estão lá a tanto tempo, junto com palavras dóceis que te enganam. Você sabe que devia fugir, mas ele sabe exatamente como te convencer que não devia, que não pode, que não consegue, que não serve para mais nada além dele... que ninguém se importa.
Ela nem sabia por onde começar a explicar tudo que Tom fez consigo.Apenas sabia, entendia como ele tinha feito com tantos outros antes dela. Ele aprendia sobre você e usava tudo que pudesse, das melhores formas, para que não notasse seu controle, seus passos o cercando. Leu cada pensamento da mente de Gina. Então usou seu corpo quando conseguiu força o bastante. Na mesma proporção que ela o odiou, também se odiou, se sentia envergonhada e culpada, é claro.
Até seu pai a culpou.
"Você não deveria falar com objetos senciêntes".
Ela tinha apenas onze anos, seus pais seguiam as leis, não ensinavam magia em casa, apenas coisas muito básicas. Não se tem uma aula dizendo isso no seu primeiro ano. Tratam como se fosse senso comum e tornaram culpa da vítima ser enganada por alguém muito mais experiente? Então a vítima se culpa por não saber algo que todos sabiam.
Era tudo frustrante. E doloroso. Algo difícil ao qual sofria calada e superava sozinha. Por quê? Pois a parte mais difícil era aceitar e admitir (para alguém além de si mesma) algo que se tornou óbvio no intimo: Ginevra entendeu a guerra. Não como seus pais ou sua escola o queriam, mas como parecia ser se você lembrasse que em ambos os lados se tratavam de pessoas defendendo causas. Concordando com elas ou não. A garota entendeu como pessoas foram convencidas a serem comensais da morte, afinal que diferença tinha ela sendo usada, para um comensal que não passava de outro recurso de Tom? Alguém convencido por suas palavras, talvez até guiado por elas para enfim se aceitar ou encontrar um lugar? O quão perto se colocou de outros antes dela?
Gina sentia que matou do mesmo jeito que qualquer comensal, pela pessoa que o lorde das trevas acabou tornando-a. Uma marionete.
Mesmo assim não o odiava.
Odiava a si mesma por ainda defendê-lo em sua mente, mas não conseguia simplesmente odiar o garoto mestiço da sonserina que tinha tanta raiva que adotou para si um nome (uma linhagem) que podia fazer dele enfim alguém, numa casa onde era menos do que ninguém. Não odiava que tentasse matá-la para alcançar um objetivo...
Ele nunca mentiu sobre o quão longe estava disposto a ir por ambição.
Ela que era tola demais para perceber. Ingênua. E uma criança!
Então não se julgava por ter sido enganada, não se permitiria ir por esse caminho se adultos o fizeram antes. Só lhe traria dor. Não colocaria toda a carga daqueles eventos nas costas de uma menina de onze anos, que sem conhecimento estava na escola justamente para aprender a se defender dessas coisas, mas no ano que seu diretor decidiu colocar (de propósito e sabendo disso) um falsário para dar aulas porque queria desmascará-lo e que não colocou uma forma de proteger seus alunos de coisa parecida. Não se culparia pelo apego que criou pelo diário se ele foi feito para enganar quem o usasse. Não de destruiria por algo que não podia mudar, apenas o futuro se muda e quem ela se tornaria com aqueles aprendizados.
Ainda sim era péssimo.
Era horrível aquela sensação. Pensar que você tinha sido tola por acreditar, confiar, se importar com alguém ou ao menos achar que este se importava no mesmo nível, então por ser usada. Receber em troca algo que você nunca faria a ninguém.
Por isso, o que aconteceu com Neville simplesmente não conseguia engolir.
- Gina! – gritou Ron correndo atrás de si.
- Me deixa, Ron – respondeu apertando mais o passo, para alcançar seu objetivo.
Quanto mais pensava naquilo, pior a leitura de mentes lhe parecia.
A violação era clara como água e tão invasivo com o que o diário fez com ela!
Só que.... O diário era um maldito artefato das trevas feito para isso!
NÃO O DIRETOR DE UMA ESCOLA!
Quando foi violada, teve que ler os jornais mentirem sobre o que lhe aconteceu e o que causou a morte de uma pessoa, porque o estado era incapaz de assumir a responsabilidade por coisas simples: Pessoas más nem sempre são fáceis de identificar e elas nascem, crescem entre nós e são boas em fingir ser parte da sociedade.
Eles acusaram Hagrid injustamente porque acreditaram mais no bruxo bonito e bom aluno, que no meio gigante. Eles foram movidos por racismo. Tracy Davis morreu por negligência da escola, Gina tinha apenas onze anos, era seu primeiro ano no lugar que deveria ensiná-la que coisas assim eram perigosas.
Era vítima e ponto final.
Mas o tribunal girou, deu cambalhotas e no fim... Ninguém foi responsabilizado. Um tapinha nas costas de Hagrid como pedido de desculpas, outro em Dumbledore, um terceiro em Neville (sendo chamado de herói novamente aos 12 anos, enquanto se segurava para não chorar) Ginny foi salva pelo colega, foi mais do que Tracy teve, mas ele não pôde curar o trauma que ficou para trás. Muito menos a vida de Gina foi capaz de consolá-lo pela perca de outra.
Ambos estavam marcados, mas de formas diferentes e ele não merecia que Dumbledore, alguém que lhe devia a escola e muito mais, se pensasse em tudo que o Longbottom vinha fazendo para impedir o pior de acontecer (por culpa das próprias falhas de Dumbledore, como George tinha brilhantemente apontado anteriormente), simplesmente ignorasse o bem que o menino tinha feito e lesse sua mente.
Podia ser para salvar a porra do mundo, ele jamais devia!
Além de tudo, ainda fez para convencê-lo de se afastar de Harry Potter porque ele era um bruxo das trevas? Esse bruxo das trevas que deu às respostas para Neville. Ginevra devia sua vida a Neville! Uma dívida que talvez nunca fosse pagar, mas ele a salvou!
Só que para isso precisou de Harry Potter.
Lhe contado sobre basiliscos, como achar uma trapaça para entrar na câmara, mesmo não sendo um herdeiro da Sonserina, ajudando mesmo a quilômetros de distância! Se devia à Neville, devia à Harry em proporções muito parecidas.
Não deixaria Dumbledore, um bruxo da luz que aparentemente estava disposto a usar artes das trevas em um aluno, prejudicar a imagem de um e ler a mente do outro para isso! Ela acabaria com sua raça antes disso!
- Gina! – insistia Ron, mas era em vão, a garota estava muito furiosa para ouvir. – Por favor, você não pode passar assim por cima da vontade do Neville! Ainda mais quando está tão inseguro sobre-
Ele não precisou continuar, Ginevra já gritava de volta, se virando vermelha de ódio:
- Eu estou respeitando a vontade dele! Neville foi claro sobre não querer que fizéssemos nada até termos certeza e que não queria responsabilizar Dumbledore por algo que ele não fez. Pois bem, vou conseguir minha certeza. Quero ver aquela cabra velha mentindo na minha cara, onde tenho alcance para dar um bom soco quando puder responsabilizá-la! – reclamou, voltando a andar.
- Gina! Você espera que o diretor de Hogwarts simplesmente te olhe e admita que leu a mente de um aluno? Mesmo que seja verdade, é bem mais provável que só minta! Ele não é louco de admitir um crime!
- Ele foi louco o bastante para cometê-lo com um amigo nosso e deve pagar!
- Maldito senso grifinório de justiça impulsiva! – reclamou Ron injuriado com o tipo de pessoa que ele mesmo, mas principalmente sua família, era.
- Ron! – disse, mais uma vez parando e de forma tão firme que reverberou pelo corredor vazio, uma vez que a maioria dos alunos estava no jantar. Ela suspirou e olhou em volta, o que deu a chance para o irmão se aproximar e quando ele estava a poucos centímetros dela, enfim disse: – Eu fui possuída.
Aquilo fez o ruivo arregalar os olhos e recuar.
- E tudo começou com uma pessoa invadindo a minha privacidade – continuou Gina, baixando a cabeça. – Tudo começa com um pequeno passo que pode levar a muito longe e quem se machuca não é só a pessoa que sofreu a primeira violação, mas tudo que se seguirá também a isso. Se alguém está fazendo algo assim com você, alguém como Dumbledore que tem tanto à perder, ainda por cima, é por um motivo e, pior, se ele está disposto a ir tão longe com uma simples criança que já lhe confiaria a maioria dos segredos, o que ele não fará quando houver uma necessidade que julgar maior?
- Mas Gin...
- Outras pessoas podem ser afetadas pelas ações de uma. Milhares de pessoas poderiam ter sido afetadas com a minha morte se Neville não tivesse impedido To- você sabe quem. Milhares de pessoas poderiam ter morrido na guerra que sem dúvidas teria recomeçado e você acha que isso é pouca coisa?
O garoto não perdeu como ela quase chamou aquele que não deve ser nomeado pela alcunha de batismo, mas decidiu que não valia o comentário.
- Não, só que Gina talvez sejam situações diferentes.
- Talvez. Porém, para mim não passa de uma pessoa importante, um Lorde independente do elemento associado, que quer um objetivo e está disposto a usar uma criança muito menos experiente e que lhe confiava, para alcançar isso. Eu não me importo que Dumbledore tenha objetivos incríveis na mente, se quer usar os mesmos artifícios que o Lorde das trevas, então eu vou tratá-lo como alguém no mesmo nível.
Gina ainda pensou que o Lorde das trevas que fez algo semelhante consigo, era uma versão adolescente de dezesseis anos de Tom, tão imaturo quanto qualquer adolescente, não tinha ideia de como versão adulta agiria, se apelaria para usar sua força em uma criança como Albus, sendo diretor e tendo de...
Protegê-las.
Preferiu mudar aquela linha de raciocínio para não pensar que estava de novo tentando defender Tom em sua cabeça. Se pegava fazendo isso mais vezes do que era saudável, principalmente quando seguia os conselhos que havia lhe dado, para estudos, para auto confiança e até comunicação. Queria conseguir ignorar todos... mas eram bons e a ajudaram, então era só não deixar que ninguém descobrisse que estava ouvindo dicas dele, não é?
Manter aquele junto dos outros pensamentos levemente positivos do monstro, que justamente o deixavam mais humano, apenas para si.
Só que infelizmente estava em uma escola onde aparentemente seu diretor poderia simplesmente invadir sua mente se julgasse útil para parar Voldemort?!
MAS COMO SABER SOBRE O TUTOR DE HARRY POTTER AJUDARIA NISSO?!
Tão indignada como esteve durante todo o tempo desde que descobriu aquela informação, se virou para voltar a correr na direção de seu alvo. Ron, entretanto, agarrou seu braço. A mais nova se desvencilhou e lhe gritou:
- Eu pensei que você estava do meu lado!
- Eu definitivamente estou! – gritou de volta. – Mas também estou do de Neville e de qualquer um no mundo que queira ser racional agora! – reclamou. – Gina! Nós temos que pensar com calma, respire! Não adianta ir até lá assim!
- Adianta para mim! Adianta para o meu psicológico! Adianta que vou enfrentar o merda que é capaz de fazer isso! Eu nunca enfrentei o Tom!
Ron ficou preocupado. Não só pelo que foi dito, mas a dor na voz de sua irmãzinha.
Percebeu, enfim, que talvez aquilo não fosse apenas sobre Neville e, se quisesse pensar com mais calma, talvez nem mesmo sobre ela, mas sobre algum arrependimento que teve em não agir antes.
Ginevra foi dormir com medo e arrependida por suas ações, então acordou com Neville já tendo derrotado o Lorde das trevas...
E uma garota morta ao seu lado.
Além de tudo, foi ela que levou o diário para a escola.
A dor que sua irmãzinha não devia sentir e nunca pensou muito claramente sobre isso. Ron entendeu que agora ela apenas não queria sentir que mais alguém podia estar sendo manipulado por um bruxo como uma ferramenta e sendo Neville ainda por cima? Era sua forma de se redimir, protegê-lo antes que houvessem consequências maiores. Sentir que, desta vez, ela percebeu o problema e podia lutar contra ele do seu jeito.
Talvez fosse o jeito dela de tentar enfrentar toda a situação que, claramente, a tinha traumatizado e era tolice da família de não ter considerado como possível.
E ainda... por causa de tudo que foi dito, com Fred e George era possível que sua insatisfação fosse ainda mais longe. Ginny podia sentir que, em seu segundo ano, a justiça não foi feita. Ela mesma não pagou por um crime gigantesco que cometeu, só que era uma criança que nem entendia o que estava acontecendo, mas alguém devia ter sofrido as consequências.
Lucius Malfoy e Dumbledore.
O crime não deveria cair sobre uma criança e não caiu, mas deveria ter estar sobre aquele que tinha a posse do objeto e deixou em suas mãos. Claro que Lucius nunca foi interrogado ou indiciado. O Próprio Neville não tinha certeza quando criou a hipótese, mas ele não era tão atento aos arredores, realmente apenas se lembrou que o homem havia sim pego os livros de Gin no beco diagonal, mas... por que ele faria isso? Era impossível provar sua culpa ou fazer o ministério lhe apontar o dedo. Um lorde de sua importância arriscando tudo colocando um objeto como aquele no caldeirão de uma menina? Para que? Por que ele teria algo de Voldemort em pessoa?
Não. Ele saiu livre. Nem mesmo um olhar de julgamento. Assim como Dumbledore, mas talvez esse tivesse que ter sido olhado mais atentamente.
Ele tinha a responsabilidade de cuidar dos seus alunos e nunca cuidou. Tal qual Fred e George deixaram claro. Gina só... queria enfrentar aquele peso todo de uma vez e enfim superar? Achar alguém para dizer "você errou! Aprenda!", tal qual ela devia estar tentando fazer todos esses anos?
Quem sabe.
Ron não podia ir contra isso. Não vendo como haviam olheiras marcadas em seus olhos e como seu cabelo estava um pouco mais bagunçado que o de costume. Ela não estava bem. Precisava daquilo e se não ajudou até agora a superar toda aquela história...
- Não sabemos qual a senha da sala de Dumbledore – disse. A irmã o encarou confusa. – Ele também pode não estar na sala, mesmo que não estivesse no jantar, não sabemos onde, mas podemos tentar. Geralmente são doces. A gente pode começar a gritar vários até acertar.
Gina abriu um sorriso muito aliviado para seu irmão mais próximo e seus olhos ficaram levemente marejados, indo até ele e o abraçando rapidamente, sussurrou:
- Então é isso que nós vamos fazer.
Seu tom de voz deixava claro que estava muitíssimo feliz de ter o apoio do outro.
A dupla então apertou o passo, agora sem mais interrupções ou hesitação, seguiram até estar diante da imensa águia de mármore e se entreolharam antes de Ron dizer em voz alta, mas vacilante:
- Gotas de limão? – Gina o encarou emburrada, cruzando os braços. – O que foi?!
- Pelo amor de Merlin! Essa poderia ser a resposta mais óbvia do mundo! Dumbledore não colocaria algo como isso! Ninguém é idiota a esse ponto!
- Ele foi idiota de cometer um crime contra um amigo nosso com quatro Weasleys no castelo, qualquer coisa além disso para mim é aceitável.
Gina riu, mas bateu no braço do mais velho:
- Não é para me fazer rir! – então se virou para a estátua e fez sua tentativa. – Sapos de chocolate.
- E ESSA não foi óbvia?! – questionou irritado,
- Calado! Feijõezinhos de todos os sabores!
- Dedos de bruxa de caramelo.
- Gatos pretos amargos.
- Gengibre amaldiçoado.
- Pirulitos de vassouras!
Assim se seguiram, um por vez, a cada instante mais rápidos, entoando vários nomes até que:
- Shock-O-Choc – disse Ron e a águia começou a se mover, passando para o lado e um corredor espiral de escadas se revelou, abrindo aos poucos subindo para o topo e para a sala do diretor.
Rony olhou para Gina com cara convencida e ela revirou os olhos empurrando o irmão, mas ainda assim feliz que tinha funcionado. Os dois seguiram escada acima e, conforme se aproximavam da porta, começaram a ouvir sons de conversa.
Ou melhor...
Uma clara briga.
Estava abafado e ambos tiveram a impressão que fosse efeito de um feitiço, seus pais usavam um desses quando estavam brigando no quarto, mas encostar a cabeça na porta deu a confirmação, pois os barulhos eram realmente muito semelhantes aos que tinham em casa.
Era raro, tanto que justamente isso fazia não se esquecerem da magia.
- O que acha que está acontecendo? – perguntou a garota.
- Não sei, mas os gêmeos me ensinaram um contra feitiço, eu só...
- Espera! – pediu a menina segurando a mão do outro quando levantou a varinha e, com um sorriso tímido e envergonhado perguntou: - Você sabe usar isso? Já tentou antes?
- Não...
- Você... se sentiria ofendido se eu pedisse para me ensinar e eu tento?
Sim. Ele se sentiria, tanto que ficou corado e olhou furioso e magoado para a menina, mas algo lhe falou mais rápido e alto.
- Certo – bufou. – Você tem mais talento com feitiços do que eu mesmo.
- Ron – tentou se justificar, mas Ron sorriu, um sorriso tão convincente que nem Ginevra percebeu a mentira por trás dele e das palavras que se seguiram.
- Estou brincando, Ginny! Eu não me importo de você tentar, confio que conseguirá melhor que eu porque você é boa nisso, eu sou bom em outras coisas... como acertar senhas.
A menina sorriu e empurrou o menino em provocação.
Ela, Ron tentou se sentir mais orgulhoso que incomodado, acertou na terceira tentativa um feitiço que ele não havia treinado muito, mas não acreditava que teria conseguido tão rápido.
Não mudou grande coisa, entretanto, era algo discreto como George tinha dito, apenas para tentar entender, mas sem que o lançador do outro lado percebesse que havia um espião.
- Essa é... – comentou após um tempo, ele e Gin com as orelhas na porta. – É a avó de Neville! – sussurrou, puxando a irmã. – Vamos.
- O que?! Por quê?!
- Horas, por quê?! Ginevra, a avó dele já está aí! Eles estão resolvendo, não podemos interferir agora!
- Mas-
Ele bufou:
- Você não queria uma confirmação? Teremos. De certo, se tiver acontecido algo mesmo Augusta não vai deixar passar.
- Mas-
- Isso não serve para você, não é? Você... quer o que? Olhar nos olhos dele enquanto o confronta, é isso?
- É... – admitiu baixinho.
- Por quê? Não pode me dizer que é por Neville.
- Sinceramente?
- Sim – cruzou os braços.
- Tom.
- O que... o que aquele que não deve ser nomeado tem a ver? – perguntou receoso.
- Ninguém achava, quando ele era jovem, que ele era uma pessoa ruim. Todos, inclusive eu, foram enganados. Ele sabia enganar.
- E?
- Eu espero que tenha aprendido uma ou outra coisa para perceber quando alguém está mentindo sobre sua verdadeira natureza.
- Espere – pediu fazendo uma careta, fechando os olhos e levando as mãos à têmpora. – É impressão minha ou você... acha que Albus Dumbledore pode ser um perigo?
- Não é impressão.
- Gina, você só pode estar brincando. Eu entendo questionar as capacidades dele e estou do lado dos gêmeos no que diz respeito à sua negligência, mas isso?! Ele ainda é...
- Um cara que lutou e derrotou outro. Isso não faz dele melhor ou pior. Não importa o que ele fez, mas o que faz agora. Por favor Ron, eu vou fazer, você apoiando ou não, mas queria você comigo.
- E você vai interromper a avó de Neville de brigar com ele?
- Será que ela sabe?
- Por que outro motivo ela estaria gritando com Dumbledore?
- Não sei? Por qualquer um dos vários motivos que ele definitivamente deu afinal? Dumbledore vive colocando o neto dela em perigo!
- Gina...
- Não custa tentar! Se ela não souber-
- Então Neville não quis contar.
- Assim como eu não contei para ninguém da nossa família sobre o diário mesmo com tudo! – reclamou batendo o pé.
Ron a encarou por longos segundos.
Então bateu na porta com força.
Ginna ficou surpresa e o irmão apenas deu de ombros. Ela tinha razão. Mesmo que Neville estivessem fase de negação, até comum para vítimas de violação... Denunciar era parte do papel deles. A justiça que deveria decidir se Dumbledore era inocente ou não. Mas ele apenas iria contar à Augusta, responsável por ele, não era... tão ruim.
O som da batida fez todos os adultos do lado de dentro pararem por um segundo e Albus sentiu uma lufada de ar de alívio, enfim poderia ter alguns segundos para parar com aquela confusão e pensar. Levantou-se um pouco mais rápido do que queria.
- Um instante, pode ser uma emergência – pediu.
- Eu atendo – disse Minerva ainda irritada com o amigo.
- Não precisa, eu vou apenas...
- Eu atendo! – insistiu, seguindo até a porta e abrindo. A professora se surpreendeu ao ver Gin ali e a garota não conseguiu ver o lado de dentro, apenas sua professora, ao qual cumprimentou com timidez, mas ainda bem certa do que queria fazer. – Senhorita Weasley? O que deseja?
- Professora, me desculpe, mas o diretor está? Preciso lhe falar.
- É urgente senhorita? Estamos no meio de uma reunião...
- Já vou, senhorita Weasley! – respondeu Dumbledore por cima da colega que quis lhe acertar uma maldição, mas abriu espaço quando ele se aproximou. – Boa noite Ginevra, Ronald – cumprimentou, vendo o outro. – Ao que devo a visita? Espero que nenhum problema.
- Se for com Neville de novo eu vou ter que brigar – resmungou Heris, também se levantando, incomodado e irritado com a fuga covarde do velho.
Lakroff, por sua vez, pensava como poderia mandar Rita para longe de forma discreta enquanto encarava o pote, não estava olhando naquela direção quando aconteceu, o que se arrependeu amargamente.
Dumbledore perguntou naquele irritante tom simpático:
- Então? O que desejava, minha criança?
E Ginevra Weasley questionou sem devaneios:
- Que tipo de merda usou para justificar ler a mente de Neville?
Augusta arfou em uma semi risada, Heris achou merecido quando Dumbledore chegou a dar um passo para trás e Lakroff encarou a porta chocado.
Gina aproveitou, entretanto, o espaço que o homem deu e adentrou a sala:
- A senhora ficou sabendo disso, lady Longbottom? – perguntou enquanto tentava se desvencilhar de Albus, que quis impedi-la.
- Senhorita Weasley! – exclamou. – De onde tirou tal barbárie, é claro que eu não...
- Oh, por favor! – reclamou Heris se aproximando da porta. Albus se afastou no impulso.
- Neville nos contou! – exclamava Ron afobado, entrando na sala também.
Se estava na chuva era para se molhar, não é mesmo? Ele garantiria que a avó de seu amigo soubesse do que estava acontecendo:
- Dumbledore o pegou sozinho e pediu para Neville convencer Harry à vir para a Hogwarts porque artes das trevas são ruins!
- Mas são! – reclamou Dumbledore sentindo-se tolo e infantil, mas toda aquela situação era, estava tentando puxar Ronald para fora, mas o garoto correu até Minerva e se escondeu atrás dela.
O pior foi que a mulher realmente se colocou na sua frente, como se Albus fosse capaz de machucá-lo ou coisa parecida!
E Ginevra...
Ela estava paralisada, olhos arregalados para o homem mais bonito que já vira na vida, que lhe sorriu ao fechar a porta atrás de si, com um estender de um braço musculoso desenhado por um terno que parecia ter sido desenhado em seu corpo.
- Olá – ele cumprimentou simpático. – Se importa?
Ela não conseguiu se forçar a dizer alguma coisa, apenas negou com a cabeça enquanto ele dava apenas dois passos para trás e estendia uma mão:
- Lady Weasley, não é?
- Lady? – questionou a menina, sentindo agora até as orelhas ficarem quentes enquanto pensava que olhos azuis como aqueles e um sorriso de neve deveriam ser impossíveis em qualquer coisa que não uma pintura. – Eu – começou.
Ninguém nunca tinha chamado Ginevra de Lady antes.
Mas seu pai era o Lorde Weasley.
Pobres ou não, ainda era o título de sua família e por isso a garota não o corrigiu. Talvez também porque quis (por um motivo que não entendia ao certo) ser tratada como Lady por aquele homem e tocar sua mão. Gina não resistiu ao impulso de dar a sua e observou fascinada enquanto ele guiava até seus grandes lábios rosados e beijava suavemente.
- É um prazer. Lamento minha rudeza gritante, prometo que posso recompensá-la um dia, mas não poderei dar meu nome completo à Lady esta noite. Pode, entretanto, me chamar de Heris. Heris Ender, ao seu completo dispor milady.
- Seu sobrenome é Ender? – questionou Ron, saindo de trás de sua professora e cruzados os braços, muitíssimo emburrado com aquele homem, a forma polida e sedosa como falava com sua irmã e (principalmente) como o encarava.
- Meu segundo nome – explicou soltando Ginevra e seguindo até Ron, novamente estendendo a mão, mas dessa vez com uma atitude mais firme e simpática, porém séria e menos polida que antes. – Você é Ron, não é? Neville falou coisas incríveis sobre você para mim e Harrison. É realmente um prazer te conhecer.
- Você conhece Neville? – perguntou o ruivo, baixando um pouco a guarda. – E Hazz?
- Sim. Hazz é meu protegido.
- Protegido? – perguntou olhando para Augusta logo atrás, então para Dumbledore e Minerva, juntando os pontos aos poucos.
Eles realmente estavam falando sobre aquilo desde o começo, não era?
Ele e Gina apenas interromperam. Se sentia bem idiota agora.
Só que outra ideia lhe veio a mente e não conseguiu se conter ao exclamar:
- Espere, você é o tutor do Harrison?! – questionou e Heris inclinou a cabeça, confuso, mas divertido.
- Imagino o que aquele garoto vem falando de mim para parecerem tão espantados – brincou diante de que, não só Ronald, mas Ginevra também estava com os olhos arregalados para àquela informação.
- Não, é que... nós...
- Eu te imaginava mais velho – respondeu Gina. – Ele mencionou que foi criado por um necromante, daí a impressão de que fosse... diferente – mas baixou a cabeça, incapaz de encarar aquele homem e não pensar que era bonito demais.
- Me imaginou como um bruxo velho e carrancudo, usando uma túnica preta mais velha ainda e com olhar ameaçador? – brincou.
- Algo assim – Gina retrucou e Heris teve que rir o que aumentou o rubor de suas maçãs ao ponto de quase parecerem parte de seus cabelos.
Fogo puro, era assim que se sentia. Completamente envergonhada, mas se aliviou quando o loiro simpático (Heris, ela lembrava bem o nome), comentou bem humorado:
- Espirituosa, senhorita. Sabe, eu poderia responder algo no mesmo nível e lembrá-la que, os necromantes bons de verdade – ele tornou a se aproximar dela, os olhos reluzindo no tom de azul mais belo que Gina teve conhecimento e ela conhecia uma quantidade boa de pessoas de olhos azuis só naquela escola. – Nunca envelhecem... Ou morrem. Essa é a premissa não? Enganar a vida e a morte. Que tipo de necromante eu seria sem aparentar alguns anos roubados?
- Mas daí não estaria enganando o tempo? – ela perguntou e o sorriso do homem só fez aumentar, o que causou uma sensação de orgulho muito parecida com quando Harrison presenteava alguém com o mesmo gesto.
Eles eram, sem dúvida, família. Mesmo que adotiva. Anjos aparentemente não precisavam compartilhar sangue para fazer os mortais se cegarem diante de sua luz.
- O tempo não se importa com nossa aparência externa, mas a morte sempre vigia nossa estadia no mundo de sua irmã – ele respondeu. – Mas apesar dessa conversa tão cativante, é uma pena que eu não seja tão interessante quanto a premissa prometia – zombou. – Sou apenas isto que está vendo. O velho necromante assustador que estiveram pensando pode ser meu pai – Lakroff tossiu e o garoto riu baixinho.
Talvez fosse algo que realmente se adquire após passar dos cem anos, essa sensibilidade às pessoas falando de sua aparência, pensou Heris. Afinal, seu pai não parecia mais do que dez ou (se focasse muito em uma ou outra linha de expressão e para isso teria de ficar encarando-o por um longo tempo) vinte anos mais velho que ele próprio em seus vinte e quatro.
Mesmo assim, se estava incomodando o "velho trapaceiro" (como Augusta gostava de chamar) brincar um pouco consigo poderia melhorar o humor da viúva, que era sua prioridade agora em comparação aos delicados sentimentos do bruxo sociopata:
- Ele se encaixa muito mais na ideia de bruxo das trevas assustador morando numa fortaleza com uma barba grande o bastante para trançar enquanto raios iluminam o quarto decadente dele – riu e Ginevra também.
Ron fez uma careta, que ficou ainda mais forte (mas para um novo alvo) quando ouviu o comentário seguinte:
- Então você tem um pai – murmurou Dumbledore.
Minerva também parecia indignada e confusa com aquela observação óbvia, tal qual Augusta e Heris.
- Como é? – questionou o Mitrica mais novo, se virando para Albus. – Claro que tenho! Acha que eu saí de um repolho? O senhor nunca teve aquela conversa com seus pais?
Dessa vez Ron não se segurou e teve que rir, mas tossiu para disfarçar.
Lakroff não se importou em esconder a sua, entretanto, enquanto ainda acrescentava:
- Ele parece ter certa dificuldade em entender como nascem os bebês, já demonstrou isso em uma conversa que estávamos tendo antes de chegarem.
O platinado tinha certeza que seu filho adoraria ver a memória da conversa que teve antes com Albus e que daria altas risadas ao perceber que o homem havia feito comentários bem parecidos com aquele.
Dumbledore, por sua vez, preferiu ignorar o deboche daqueles homens. Estava acostumado com lordes o odiando e insultando das mais diversas formas.
- Eu estava apenas comentando que você, senhor Heris – disse o nome mais lentamente, como se para lembrar que agora conhecia, mas o loiro apenas sorriu, lembrando que era justamente seu ponto: não era um mistério. - O senhor se diz tutor de Harrison, mas é muito jovem e se refere à Augusta como "vovó".
- Lady Longbottom para você! – reclamou Augusta. – E o que quer dizer com isso? – questionou cautelosa, temendo que tivesse cometido uma falha.
Suas suspeitas se confirmaram com o comentário que se seguiu:
- Bem, você se referiu à Harrison como neto, e se refere ao seu tutor da mesma forma? Parece estranho, a menos que... Bem. O tutor mesmo seria seu pai, não é? – questionou à Heris.
Augusta olhou para Lakroff se sentindo culpada por possivelmente tê-los envolvido mais do que devia, mas Heris nem mesmo piscou afetado por aquilo, cruzou os braços e revirou os olhos:
- Meu pai é um homem que aproveita a aposentadoria cuidando do seu jardim de flores e às vezes incomodando crianças com seu falatório de velho sobre "outros tempos" e a guerra. Qualquer uma delas serve, está aqui desde os dinossauros e tem uma memória tão boa quanto sua disposição para monólogos, desde que esteja disposto a ouvir de tudo já que vive trocando o tema.
Augusta deu uma risada muito alta e Lakroff teve que fazer um esforço real para não olhar para nenhum dos dois de forma significativa, mas sua cara limpa pareceu ser ainda mais engraçada para a sua melhor amiga, porque ela realmente começou a gargalhar e por tentar segurar essa reação, estava praticamente tendo espasmos na cadeira.
- Se eu lhe disse que sou o tutor, é porque sou, mas como o senhor parece ridiculamente incapaz de entender conceitos básicos, não vou me estender – ele se virou para os dois "invasores" ruivos. – E então, vocês dois... Vieram até aqui para avisar minha avó do que aconteceu à Neville? Sinto dizer que foram superados, mas podem se consolar no fato de que o responsável pela vitória foi sua professora, então imagino que estejam no caminho certo aprendendo com ela... Diferente de outros – encerrou encarando Dumbledore.
Ron olhou surpreso para Minerva:
- A senhora contou para a avó de Neville?
- É claro, senhor Weasley! – reclamou a bruxa. – Um aluno acusou um colega de trabalho de um crime, eu tinha que averiguar com seus parentes.
O ruivo apenas acenou em concordância, satisfeito e muito orgulhoso. Corando de felicidade e um pouco de timidez por ter duvidado da integridade de uma Grifinória como ele. Estava se sentindo tão mal antes que sua casa tivesse tido um diretor ambicioso o bastante para passar por princípios por um objetivo e que fizesse Neville inseguro ao ponto de não conseguir admitir a situação, mas McGonagall estava os defendendo e sendo um bom exemplo. Alguém para se orgulhar.
Ele tinha orgulho de sua professora, mas é claro que não o diria.
- Certo, agora que já fizeram o que queriam – começou Dumbledore tentando manter alguma sanidade mental. – Poderiam se retirar, meus caros? Estamos ocupados.
- Não, não estamos – Augusta retrucou, se levantando e apertando sua bolsa de batalha próxima ao corpo. – Estamos de saída.
- Como? – questionou o mais velho. – Mas nós ainda não-
- Como eu disse, vim aqui apenas para gritar com você e lhe contar, pelos velhos tempos, querido, para que não descubra por meios alheios. Vou abrir um boletim de ocorrência diante do ministério contra você – sorriu, batendo as mãos no vestido e estendendo a mão para Ron – Ronald, por favor, uma ajuda, querido?
- Como?! – gritava Albus indignado, enquanto o ruivo corria para atender Augusta.
Uma das mulheres mais assustadoras junto de sua mãe.
- Exatamente o que ouviu. Apenas decidi fazer a gentileza de informá-lo antes que os aurores o façam depois.
- Mas Augusta! Você não.... Por favor, vamos apenas falar sobre isso!
- Para que? Não é como se fosse mudar minha opinião.
- Me deixe me explicar!
- Garanto que não há coisa no mundo que poderia fazê-lo se justificar diante de seu crime, não vejo o porquê.
- Eu imploro que veja sua consciência e me dê ao menos uma chance, garanto que entenderá se me ouvir até o fim!
- Duvido – murmurou cruzando os braços.
Ron ficou aliviado, mas não saiu de seu lado, o loiro tutor de Hazz o encarou com um sorriso cúmplice que dizia "boa sorte, é com você agora" e seus olhos brilhavam provocativos.
O Weasley ficou muito desconcertado porque não queria gostar dele... mas ao mesmo tempo se viu sorrindo de volta e ficou bravo consigo mesmo.
Augusta, por sua vez, não notou isso. Encarava Albus diretamente nos olhos, tinha proteções mais do que suficientes para impedir qualquer tentativa de invasão.
Mesmo que não achasse que ele seria louco.
Só que ela queria sair. Já tinha cometido um possível deslize, sua dependência dos Grindelwald sendo uma falha que revelou uma pista para Albus por menor que fosse sobre a família de Harrison, não queria dar mais chances ao homem de descobrir o que não devia. Ele era astuto e ela estava transtornada, melhor apenas sair.
- Por favor, Augusta. Uma conversa, é só o que lhe peço – insistiu o homem, em voz apaziguadora.
Ela olhou para Heris, como se pedindo sua opinião. O garoto deu de ombros:
- Imagino qual deve ser a motivação que ele achou adequada para algo assim.
- Certo então – bufou derrotada. – Ronald, querido – chamou.
- Sim, Lady Longbottom? – perguntou cauteloso, ajustando a postura imediatamente para se virar para ela.
Ele estava de gravata?! Se perguntou assustado. Pior... estava com a capa? Não, apenas o casaco de tricô cinza.
Não lhe daria uma bronca por isso, não é?
Augusta, entretanto, apenas levou às mãos automaticamente para o colarinho do menino e o ajeitou corretamente, depois deu um tapinha em seu ombro sorrindo de forma afetuosa:
- Avise meu neto que o quero na entrada de Hogwarts em dez minutos e que quero encontrá-lo, sim? Harrison... – ela olhou para Heris, que afirmou com a cabeça. – Avise-o que seu tutor quer lhe falar no mesmo tempo e lugar – então sumindo com o tom simpático (porém firme) de avó que ela assumira ao se dirigir com a criança, foi como se 10º da temperatura caíssem de cada sílaba e de seu olhar: - Você tem esse tempo, Albus. Não desperdice.
- Perdoe-me a curiosidade. O que quer dizer? – perguntou estreitando as sobrancelhas. – Por que deseja que se chamem Neville e Harrison?
- Harrison é um caso à parte, que não lhe diz respeito – respondeu grossa.
- Acredito, diretor Mitrica, que o senhor permite minha reunião? – questionou Heris.
- Vice-diretor, senhor – corrigiu Lakroff.
- Sim, sim. Tal qual Harrison é "presidente" e não alteza. Devo ter recebido um memorando destes e guardado na pasta daquilo que escolhi deliberadamente ignorar. Permite ou não?
- Sim – respondeu após revirar os olhos, mas Minerva percebeu o sorrisinho no canto dos lábios.
- Neville – continuou Augusta. – Estará indo comigo.
- Para onde? – insistiu Albus.
- Para a entrada de Hogwarts? – também questionou Ron. – A senhora- Vai levá-lo... Por quanto tempo?
Apenas porque Ron tinha perguntado desta vez e os Weasleys eram amigos muito bons para seu neto, ela enfim respondeu:
- Eu vou tirar Neville dessa escola e de você, Albus Dumbledore, assim como devia ter feito há tempos. Não sei quando o trarei de volta, Ronald. Se trouxer – disse convicta, ao que Minerva, Albus e os Weasley arfaram.
- O que disse?! – questionou Ron em choque. – Senhora - se corrigiu logo. - Como assim não sabe se vai trazê-lo de volta?!
- Vou tirar Neville esta noite para conversar, meu neto deverá estar aqui para completar o ano letivo apenas se desejar, mas mesmo que insista muito, ano que vem será matriculado em outra escola de magia e bruxaria. Neville Longbottom não será mais um aluno de Hogwarts enquanto Albus Dumbledore for diretor. Isso eu garanto.
A surpresa foi geral. As reações diversas.
Dumbledore apertou seus punhos, furioso.
Já tinha feito muitas tolices na vida. Mais do que poderia contar. Era um homem e homens falhavam. Ele, em sua posição? Realmente era uma lista considerável de vergonhas e arrependimentos. Quando Gellert estava envolvido só piorava. Como ficava a sua simples menção ou com coisas que o aproximassem de seu passado, estava tão próximo do fracasso que apenas o aceitava e tentava melhorar.
Mas ter falhado àquele ponto apenas pela presença de seu filho...
Ler a mente de Neville Longbottom?
Aquela foi a maior tolice que já fizera na vida!
Por que não se controlou? Não encontrou outro meio? Agora era tarde, infelizmente. Inspirou fundo, pois estava na hora de trabalhar com o que tinha e as consequências. Não seria a primeira vez.
Mas o pior é que tinha a impressão que o simples arrependimento agora não bastaria com um antigo amigo. Vendo o olhar de Augusta, pensou que este era um erro enfim irreparável e não sabia o quão ruim isto poderia significar no futuro, o quão grande podia ser a mágoa da mulher.
-x-x-x-
Harrison era uma pessoa, mas às vezes (e por mais estranho que fosse parecer) parecia mais que isso.
Seus colegas de escola e agora até alguns de seus colegas de casa na Sonserina, sem dúvidas pensavam que estava além de muitas características consideradas humanas comuns. Era como se o que fosse mundano, como engasgar com água ou andar com um cadarço desamarrado, fossem fisicamente impossíveis de se acontecer com ele. Pois era além de cada coisa.
Apenas... era ilógico imaginar algo assim.
Vê-lo tropeçar e quase derrubar uma jarra de água inteira em Ivan foi um choque para quase todos que viram a cena. Tanto que, mesmo Neville se assustou e correu de trás de Ron para Harrison:
- Você está bem?!
Hazz não respondeu, piscando na direção de Ivan que também o olhava surpreso.
- Está? – questionou após um tempo para o amigo.
- Acho que ele perguntou para você, alteza – respondeu o russo lentamente, enquanto pegava sua varinha para se secar.
Não era só sua gafe, mas a expressão no rosto do Peverell-Potter e a forma como sua voz ficou muito mais baixa também estavam assustando seus colegas mais íntimos. Tudo após Ron se aproximar e dizer que seu tutor estava lá e que queria que Hazz o encontrasse em quinze minutos na saída.
Então Gina acrescentou "Heris disse que se você quiser terminar de jantar-", mas daí em diante aconteceu a situação totalmente incomum narrada acima e nada mais saiu da boca da garota.
Além de um suspiro de alívio, mas esse ninguém notou.
Tom era um sedutor. Ele usava as pessoas, sabia como lhes falar, entender e convencer por sua voz, maneiras e aparência...
Harry Potter a fazia se lembrar de Tom às vezes. Se martirizava por esse pensamento na mesma proporção que o tinha, Harrison devia ser uma ótima pessoa.
Ele era!
Salvou a todos do mundo mágico, era amigo de Neville!
Mesmo assim, vê-lo como humano tirou aquele ar de entidade sedutora tão semelhante ao diário e lhe deu um alívio. Ao mesmo tempo que o fez ainda mais belo ao seu olhar, pois agora não se sentia reprimida por seu medo (mesmo que esta parte tivesse acontecido inconscientemente).
- Hazz! – chamou Nev, pois seu amigo ainda estava parado, olhando para um ponto perdido, o moreno apenas negou com a cabeça e se virou para a dupla de Weasleys que veio trazer a notícia.
- Heris está aqui? – ele piscou, mas não precisou da resposta.
Quando Ron começou, achou que se referiam à Lakroff, mas não estarem aparentemente reagindo a um segredo novo e estimulante que haviam descoberto (Harry Potter tutorado pelo vice diretor da Durmstrang!) e obviamente tratarem como um desconhecido mostrava algo incomum.
Então Ginevra disse aquele nome e não havia dúvida.
Sacudiu a cabeça, tentando voltar a si. Olhou para Ivan com muito mais culpa e um sorriso travesso meio vacilante:
- Me desculpe, de verdade.
- Não por isso, eu estava precisando de um banho – brincou, para tentar acalmar seu príncipe e entender o que estava acontecendo, o russo ainda ria, uma parte muito infantil dele dando pulinhos de alegria de ver seu príncipe parecendo o mais próximo que um Deus poderia chegar de vulnerável.
Pela primeira vez na vida, ele parecia tão... Humano.
Era como se uma divindade, um anjo, uma entidade infinitamente superior tivesse descido à terra apenas para lhe dar aquele olhar perdido e o agraciado com uma promessa maior de proximidade. Se Ivan estendesse agora a mão poderia tocar um anjo. Outra parte mais primitiva se sentiu compelida a pular na frente de seja lá o que deixou aquela criatura tão perfeita daquela forma e servir como escudo para si.
Outros de sua corte tiveram reações parecidas, todos instintivamente se movendo em sua direção antes de perceberem a própria ação e se impedirem.
Atraídos como libélula para olhar um pouco distraído de Harrison, para sua bochecha rosada, seus dentes segurando muito discretamente o lábio inferior sem nem perceber.
Então uma voz terrivelmente irritante gritou em seus íntimos, mostrando-lhes que foram tolos e perderam a oportunidade de tocar Deus, quando Neville Longbottom agarrou a mão de Hazz temendo que ele estivesse perdido por causa de algum tipo de ataque.
- Hazz? – tornou a chamar, apertando sua mão e o amigo apenas riu.
Riu baixinho, cabeça para o chão, depois para ele e seus olhos?
Eles gritavam.
Culpa.
- Eu não contei ao Heris – Harry murmurou com um sorriso falso e a maioria se inclinou tentando entender o que ele disse.
- Como é? – por sorte o Longbottom também não havia entendido.
Hazz inspirou fundo e tornou a negar com a cabeça, rindo mais um pouco:
- Eu estou acabado! Como pude pensar que esconderia deles? Eles sempre descobrem! Não é de se estranhar, considerando a linhagem, mas achei que... dava para segurar mais um pouco... Foi tolice mesmo. Agora vou ter que arcar – suspirou e, sentindo a pergunta que Neville estava prestes a fazer, já se adiantou à responder - Eu não contei para ele. Não contei à Heris nem a nenhum dos irmãos que eu estou no torneio tribruxo. Não contei sobre o cálice cuspindo meu nome fim de semana passado.
- VOCÊ O QUE?! – gritou Neville na mesma hora e Hazz fechou os olhos, claramente culpado, mas estava rindo travesso enquanto o amigo o soltava e se afastava, corado. – Você enlouqueceu?! Mas... Como é que...
- Fiz Sirius assinar praticamente todos os meus documentos de emancipação, os poucos que precisavam da assinatura da família adotiva? Bem, não deixei que os elfos desse para Heris. Além de que fiz todos eles prometerem que não contariam a menos que fossem diretamente perguntados. Não mandei nenhuma carta e...
- Você ia esperar os jornais contarem para sua família que você está em perigo de vida?! – indignava-se o menino, movendo os braços, agitado.
- E você acha que tem direito de me julgar? Sua avó geralmente só descobre depois que você está no hospital! E eu sempre escondo dela quando você...
- É diferente! – reclamou Neville batendo o pé. – Eu geralmente só descubro a merda que me enfiei depois que já está no pescoço! Nem daria tempo de avisar e eu já tenho que correr...
- A coisa já estava no meu pescoço! Meu nome saiu e me forçaram a participar, que escolha eu tinha?!
- Meu, Merlin! – ralhou Neville virando para o lado com um bufo, suas bochechas estavam começando a se avermelhar de raiva. – Você tem noção do que seu... Heris vai acabar matando alguém!
- Ele não vai matar ninguém – Hazz descartou.
- Claro! Porque ele nunca machucaria uma mosca se estivesse incomodando algum de vocês – resmungou repleto de ironia.
- Uma mosca sim. Mas alguém? Ele não faria... A menos que valesse um bom valor em dinheiro – brincou e Neville o encarou como se pudesse ele mesmo matar Harry agora.
Ele não sabia, entretanto, que aquele olhar estava sendo uma benção para Harry. Ter a mão segurada pelo amigo, vê-lo brigando consigo como sempre fazia. Vê-lo bem. Agora ainda tinha uma oportunidade para falar com ele! Poderia descobrir de vez o que aconteceu. Convencê-lo a se abrir, contar sobre o que Dumbledore fez...
E estar longe de Hogwarts quando explodisse, se Heris assim já tivesse planejado.
Então voltar mais calmo depois, pronto para se vingar.
- Foi uma piada – acrescentou para o amigo mal humorado.
- De mal gosto! – reclamou Nev.
- Piada com morte é de mal gosto? Vindo da minha família? Essa é a piada de café da manhã, mais leve, para não pesar o estômago logo no começo do... – Nev interrompeu o amigo lhe acertando um tapa no braço. – Eu insisto em dizer que você é muito agressivo. Além de que está muito estressado.
- Por que tentou esconder da sua família algo assim? Quanto tempo achou que levaria para saberem?! Sua irmã trabalha no ministério, caramba!
"Irmã?" Pansy sussurrou a dúvida. Tão baixinho que mal poderia se dizer que era realmente um sussurro. A garota mais moveu os lábios que qualquer coisa na direção de Draco e Blaise e ambos viram isto, estando igualmente confusos e atentos àquilo. Theodore, assim como vários outros da Sonserina, estavam mais focados no garoto que sobreviveu e o que mais ele poderia soltar daquela fofoca inusitada e a qual nunca ouviram nada antes.
- Sendo bem sincero? Estava torcendo para manter isso guardado o suficiente para passar da primeira tarefa, também para que fosse suficientemente mortal. Assim, quando eu sobrevivesse a ela, meus parentes veriam e como o bando de furacões que são, eu poderia impedi-los dizendo algo como "Não sei porque estão fazendo esse drama todo, acham mesmo que um bando de engravatados do ministério fariam algo capaz de me dar um desafio de verdade? Não falei porque claramente não era importante". Assim estaria tudo resolvido. Mas agora que, com certeza absoluta, Heris descobriu sozinho eu não só vou ter que arrumar um discursinho melhor como ter que lidar... -ele se interrompeu, olhando para baixo, depois para o teto estrelado e então bufando. – Que coisa! – reclamou. – Com o histórico de mortes do torneio, nem lady Magic vai impedir o desastre que é minha família no modo coruja – por fim, cruzou os braços emburrado.
Neville lhe deu outra tapa ali que fez Hazz rir de sua cara.
- Para de rir!
- Você me deu um tapa do nada!
- Não foi "do nada"! Você está merecendo e muito! Você está muito tranquilo com tudo isso! Não pode achar que vai ser tão fácil! - reclamou e Hazz sentiu a preocupação do amigo pingando junto com sua raiva e frustração.
- Não acho - garantiu.
- Então-
- Eu não queria preocupá-los! O que podem fazer afinal que meus professores não tenham tentado? Apenas serem os extravagantes e desobedientes de sempre que acham que se uma regra não condiz com o que querem, então deveriam ser feitas novas e... Por baba Yaga, que Alice não queira brigar com mais um ministro – murmurou Harry levando os dedos para suas têmporas, lembrando-se de quando ela derrubou o filho do Ministro da Romênia e lhe chutou a varinha para dentro da boca de uma criatura que estava passando.
A criatura ficou bem. Era um dos seres com o sistema digestivo mais forte do mundo mágico e que tinha o costume de comer Tronquilhos, seres que pareciam gravetos ambulantes ou varinhas voando por aí sem portador (informação que alguém como Alice, nível NIEM em trato das criaturas mágicas, sabia muito bem e por isso arremessou a varinha exatamente naquela direção).
A varinha nunca retornou, em contrapartida.
Uma perda terrível para um bruxo. Não que ela se importasse. Nunca entendeu esse apego que os bruxos tinham por suas varinhas, mas como poderia? Uma vez que ela própria nunca poderia ter uma que a escolhesse.
- Quer saber? Esquece! – o Longbottom desistiu, fazendo movimentos largos e firmes. – Vamos! Vou deixar você levar essa bronca do próprio Heris. Eu sei que vai ter muito mais efeito.
Pela forma como Hazz baixou a cabeça ficou um tanto claro para muitos ali que era verdade, mas a confirmação mesmo veio quando Harrison sussurrou (alto o bastante para o amigo escutar e, portanto, alcançando outros dos observadores que se inclinaram indiscretamente naquela direção), segurando o próprio pulso nervosamente e sem a confiança de sempre em sua postura:
- Acha que ele vai ficar bravo comigo? Eu só não queria preocupar eles se nem tinha como... resolver.
- Você sabe muito bem como Heris é – respondeu Neville. – O problema não vai ser a falta de uma solução, mas você esconder propositalmente algo dele e impedi-lo de estar lá para tentar te defender.
Hazz tentou não pensar nisso, logo estaria com o irmão de toda forma e poderiam falar. Tirar conclusões e se preocupar antes era simplesmente tolice por antecipação. No lugar, apenas sorriu para Nev e acrescentou:
- Caso tenha esquecido, você também foi chamado. Também deve estar encrencado, seja lá pelo que.
Neville perdeu a cor ao perceber aquele fato.
- M-mas... Mas... E-eu não fiz nada! - todavia sua voz não estava tão convicta disto. - Eu acho. Quer dizer. Hermione não me proibiu de fazer nada, nem gritou comigo!
- Esta é sua forma de avaliar se fez algo possivelmente errado? - questionou o de óculos, franzindo o cenho. - Se ela te censurou de alguma forma é porque não devia?
- É! - respondeu na mesma hora e Harrison não aguentou a gargalhada que lhe saiu.
Tão pouco alguns colegas seguraram as risadinhas na mesa de verde.
- Brilhante - comentou aos risos e levaria outro tapa se não tivesse desviado. - Ei, você vai levar uma segunda bronca se continuar assim, vou te dedurar para a vovó! - provocou e Neville ficou vermelho (ninguém sabia ao certo por qual sentimento), mas ele apenas se virou para os amigos Weasley, ignorando o moreno debochado atrás de si.
Mesmo que conseguisse ainda sentir o sorrisinho deste. De uma forma ou de outra.
- O que minha avó disse? – perguntou à Ron, desesperado.
O amigo crispou os lábios:
- Lembra-se do fim de semana? - se o rosto de Neville estava sem cor, agora suas pernas perderam a força. Ron teve o impulso de lhe estender a mão, mas não se moveu mais do que apenas falar. - Desculpe, companheiro... É exatamente o que está pensando. Ela estava com Dumbledore quando a achamos.
Agora, seguindo o padrão da perca de algo em seu corpo, Neville sentiu-se quase morto de vez. Realmente pareceu que iria cair, mas Hazz de repente estava mais próximo, como sempre adivinhando algo que o amigo precisava, pronto para lhe dar apoio, puxou seu braço com força e lhe sorriu:
- É isso. Os dois fritos, então vamos lá. Você me protege do meu tutor e eu te protejo da sua avó. Minha família sempre se derrete por seus olhinhos. Pisque um pouco para Heris e peça desculpa por nós dois que nos livramos.
- Olha quem fala! Minha avó deve gostar mais de você do que de mim!
- Não seja tolo! – reclamou Hazz revirando os olhos. – Ela nos ama igualmente! É que eu sou um neto muito mais adorável, aí dá essa impressão.
Nev deu outro tapa em Harry, este apenas riu, arrastando o amigo para fora do grande salão enquanto dava uma despedida rápida, mas ainda educada para os colegas. Foi agarrando-se à Neville com todas as forças para que não fugisse, como aconteceu durante o restante do dia. Para que a informação sobre Dumbledore e sua invasão à privacidade do melhor amigo não precisasse continuar sendo um "segredo", que pudessem falar sobre isso, Harry pudesse ajudar e (enfim) agir.
Soltar toda a sua raiva em forma de magia naquele homem tolo e imprestável. Depois de, é claro, garantir que Neville estava bem.
Talvez pudesse atacá-lo com um maldito hipogrifo também, pensou enquanto sentia a ardência em suas costas diminuindo.
Luna encarou o prato de comida de Harrison e devolveu-o vazio (ainda limpo) para Viktor.
- Eu disse que ele não jantaria – comentou distraidamente.
Aquilo sumiu com quaisquer últimas dúvidas que poderiam existir em algum membro da corte, de que Luna Lovegood era na verdade uma vidente.
Ela tornou a comer.
Quem não votou ainda, VOTE!
Espero que tenham gostado!
Entrem no grupo do discord com link no meu perfil para teorias e conversas paralelas, comentem POR FAVOR o que acharam desse capítulo, obrigada a todos que não me abandonaram e comentaram muito no capítulo passado E UM ABRAÇO GIGANTESCO A VOCÊS!
O apoio faz toda a diferença para alguém inseguro kkkk.
E me digam aqui o que acharam desse capítulo!
Gostaram do irmão do Hazz? Lembravam dele?
Foi gostoso ter lido o capítulo da Augusta antes desse para terem mais contexto?
Suas opiniões servem para eu estar sempre melhorando minha escrita, críticas igualmente são sempre bem vindas!
Uma boa noite e até semana que vem!
PS: Não sejam maus com os funcionários da escola, nós não ganhamos bem o bastante para isso.
PS2: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited
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