Capítulo 40 - Pena de besouro e nariz de Pinóquio
Olá pessoas. Primeiro de tudo MUUUUUUUUITO obrigada por toda a ajuda de vocês. Todo o apoio, os vários comentários, vocês ajudaram muito a fanfic e o meu psicológico no capítulo anterior. Amo vocês, sério.
Espero que gostem e possam me apoiar novamente.
Se encontrarem erros podem me avisar, porque estou cansada então eles passam.
Do mais, boa leitura <3
N/A: Você leu os livros de Harry Potter? Se não, você precisa de contexto para esse capítulo.
Se não lembra de detalhes também.
Eu me toquei que muitos de vocês podem nunca ter lido os livros, o quarto então? Menos ainda. Então uma breve explicação aqui se faz necessária para não ficarem muito confusos, sim?
O torneio tri-bruxo de 1994 foi organizado por duas pessoas do ministério: Bartô Crouch Sr., Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia do Ministério da Magia Britânico (pai do Barty e que, neste ponto do livro começa a faltar em vários eventos por motivos que só vamos descobrir no fim do livro). Ele estava em trabalho conjunto com Ludo Bagman, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos. Bartô era o pai do Barty, o mesmo comensal que está fingindo ser o Alastor Moody. Ludovic (Ludo) é um ex jogador de quadribol, batedor do Vespas de Wimbourne e da Seleção Inglesa de Quadribol. Ele é importante no capítulo.
No livro do Cálice de Fogo, Ludo se enfiou em um bando de apostas que perdeu e não pagou, tanto que precisa fugir e se esconder dos duendes do banco até o final.
Durante o decorrer do livro descobrimos podres tanto do Bartô Sr. quanto de Ludo. O segundo (Ludo) chegamos a ler uma cena onde ele está sendo acusado pelo primeiro (Bartô) diante do Conselho das Leis da Magia, isso porque durante o levantar de Lord Voldemort ao poder, Ludo deu informações sobre o Ministério a um Comensal da Morte (Augusto Rookwood). De acordo com Ludo, ele não sabia que era um Comensal da Morte (Rookwood era amigo do pai de Ludovic e persuadiu ele a dar-lhe a informação, alegando que conseguiria um emprego para o ex jogador no Ministério). Em outras palavras, Bagman ajudou o lado das trevas, sem querer, porque era um sonso.
O Harry vai referenciar isso no capítulo então achei melhor avisar.
Bartô Crouch odeia o Ludo exatamente por isso e o julgamento foi uma palhaçada, todos pediam autógrafo, ficavam rindo, não levavam a sério o que fez, porque estavam passando pano para o famosinho.
Os juízes então do torneio tri bruxo de 1994 (ano que estamos na história) são esses dois do ministério e os diretores de cada escola.
É isso. Sabendo dessas informações, uma boa leitura.
PS: Eu sou o ser humano mais azarado possível, semana passada era para sair esse capítulo, mas a semana começou com meu ônibus para minha cidade atrasando SEIS HORAS :D
Capítulo 40 – Pena de besouro e nariz de Pinóquio
"Dizem que não se deve irritar onça com vara curta, mas se com a onça já devemos tomar cuidado... não irrite um dragão.
Sob hipótese alguma".
Harrison não estava com vontade o bastante para lidar com Rita Skeeter.
Ele constatou isso no instante que viu o rosto da mulher e imediatamente a odiou.
Como Nagini diria? Cara de quem ofende minoria e depois se justifica dizendo "mas eu tenho um amigo que é".
Colin Creevey levou o Potter para uma sala de aula relativamente pequena. No caminho ainda tentou ser simpático com o menino e concordou com uma foto, mas se arrependeu muito disso, pois piorou seu humor a quantidade de barulho e algazarra que o menino fez ao comemorar e agradecê-lo por isso, perguntando ainda se aceitaria tirar outra com seu irmão mais novo.
Era um menino bonzinho que desejou sorte a Harrison quando entrou. Só que o Potter negou a segunda foto. Decidiu que não iria mais concordar com coisas só porque possíveis amigos Grifinórios de Neville tinham pedido.
Na sala, a maior parte das carteiras fora afastada para o fundo do aposento, deixando um amplo espaço no meio; três delas, no entanto, tinham sido enfileiradas lado a lado, diante do quadro-negro e cobertas com uma toalha de veludo. Cinco cadeiras tinham sido arrumadas atrás das mesas cobertas de veludo e Ludo Bagman estava sentado em uma delas conversando com uma bruxa que Harry nunca vira antes e que usava vestes carmim, mas que ele imediatamente reconheceu como a megera do jornal que havia feito Neville triste.
E Hazz estava irritado com pessoas que faziam Neville triste.
Uma já foi torturada e estava lhe servindo (mesmo que nem soubesse disso a maior parte do tempo) - "Moody", outra ganhava uma atenção que deveria ter evitado - Dumbledore, então Rita.
Todos os três em um único lugar! A "incrível" escola de Hogwarts!
Enquanto Rita discutia algo com Ludo Bagman, o garoto registrou que o homem era decididamente outro que não gostou nada, afinal o homem insistiu na culpa de Hazz e na ideia de que havia posto o próprio nome no Cálice. Ser desacreditado (em público ainda por cima) o zangava muitíssimo.
Claro, Bagman estava certo. Harrison era culpado.
Entretanto, inocente até que se prove o contrário, não é?
Moody (que era Barty) devia estar na aula, Dumbledore dificilmente saia do castelo, e de certa forma se Bellatrix e os Lestrange também estivessem pelo menos nos terrenos agora, Harrison simplesmente consideraria uma ideia adequada explodir aquele lugar e assim levar todos numa tacada só.
Podia dar um jeito de diminuir os inocentes ou atrair todos os seus alvos de ódio para o ninho da velha amiga de Neville, Aragog, e alimentar os seus bebezinhos. Essa parecia uma ideia menos drástica, ficaria com ela.
Tom riu.
Riu muito.
O humor de Harrison estava péssimo, mas para a horcrux era sempre muito divertido assistir (quando essa raiva não era direcionada a ele). A horcrux sabia que por mais insanos que fossem os pensamentos, o autocontrole de Harry era o bastante para que continuassem apenas no ramo das ideias. Não passava de um adolescente estressado pensando em situações macabras de assassinato, torturas ou massacres para se acalmar.
Não muito diferente dele próprio.
Mas Marvolo se tornou um lorde das trevas insano... então talvez fosse um problema usar aquela técnica para relaxar, mas como ele (de todas as pessoas) saberia dizer?
No pior dos casos, ainda havia Viktor ali.
Ter um amigo por perto tornava as coisas mais fáceis, pois Hazz não perderia a linha na frente de sua corte e isso que importava.
Viktor Krum estava em pé, pensativo a um canto como de costume quando estava sem os amigos, sem falar com ninguém (para alguém famoso, Viktor nunca foi muito comunicativo).
Cedric também estava por lá, em um canto junto de Fleur que parecia bem entretida conversando com o lufano. Na verdade, a garota parecia muito mais feliz do que Harry a vira até então, não parava de jogar a cabeça para trás de modo que os cabelos longos e prateados refletissem a luz.
Achou aquilo interessante o bastante para registrar em algum canto da mente.
"Viu? Só precisa pensar um pouco menos em matar, torturar e focar mais em manipulação e conquista que sua mente volta a funcionar nos eixos" comentou Tom divertido.
"Cale a boca!" respondeu, apesar de divertido.
"Eu não tenho uma, igual nariz".
Hazz teve que cobrir os lábios e fingir tossir para esconder a risada que lhe escapou com isso.
Um homem barrigudo, segurando uma grande máquina fotográfica que soltava uma leve fumaça, observava Fleur pelo canto do olho, mas quando Bagman finalmente viu Harry e levantando-se depressa, indo ao encontro do garoto, sua atenção foi enfim desviada.
– Ah, aqui está ele! O campeão número quatro! Harry Potter! – nesse instante a máquina quase voou pelos ares, quando o homem barrigudo tropeçou.
Fleur revirou os olhos cheia de desprezo e julgamento.
Harrison não soube se a falta de profissionalismo do homem que vinha a secando ou qualquer outra coisa naquela situação. Cedric, por sua vez, correu para ajudar enquanto Viktor estalou a língua, negando com a cabeça.
Rita colocou seus olhos em Harrison.
Ele sentiu que a detestou mais quando aqueles olhos estavam em si. Quase se sentia sujo. Considerando como estava furioso o dia todo, como suas costas ainda estavam doendo e ardendo com a ferida não cicatrizada, sua cabeça chiando de preocupação com Neville e...
"Eu disse que era para ter queimado a taça" brincou Tom "Teria sido tão mais fácil e impressionante".
"Quieto!"
"Você se levantando quando o nome de Neville fosse chamado, queimando a coisa, mandando qualquer um que quisesse te desafiar para..."
"Tom!"
"Mas tudo bem, espero para ver você fazendo uma boa demonstração de poder em público quando for lorde das trevas e-"
"TOM!"
A horcrux riu.
"Você está piorando minha situação!" reclamou o menino levando a mão ao rosto.
"Ela já está bem ruim, relaxa. Mais fundo que o fundo do poço são só mais alguns metros" debochou o mais velho.
- Entre, garoto! – chamava Ludo, olhando de soslaio para o fotógrafo sem nome: - O senhor está bem? – mas não esperou a resposta antes de bater palmas e seguir até o Potter, que só notou que falavam com ele quando o chefe do departamento de esportes tentou lhe tocar o braço, fazendo o garoto instintivamente se afastar com um olhar mortal. Ludo pigarreou, percebendo que a aproximação incomodou o garoto que (a cada dia mais) lhe dava medo, mesmo que não soubesse ao certo o porquê. – Enfim! Harry...
- Harrison – corrigiu na hora.
- Como?
- Meu nome é - mas parou e suspirou.
Sinceramente? Não queria se dar ao trabalho de estender um diálogo com alguém que achava um completo tolo. Ludo era tão tolo que foi capaz de causar mortes na última guerra, dando informações aos comensais SEM PERCEBER! Alguém assim merecia atenção? Pessoas morreram e sofreram por Ludo ser idiota, desatento e despreocupado com a vida, vivendo de uma fama de jogador que o acompanhava e protegia. Era quase digno de pena, se não fosse frustrante pensar em quantas pessoas assim existiam, mas pior ainda: quantas delas estavam em cargos de poder. Hazz tiraria todos.
Detestava quando pessoas que nem se deram o trabalho de conhecê-lo, o julgavam ser exatamente igual a essa figura.
Para piorar, ainda tinha o fato de que Ludovic estava devendo dinheiro para Fred e George (ao que lhe contaram, uma aposta que fizeram na copa). E como os gêmeos agora eram seus, era outra afronta que levara para o lado pessoal.
Bem...
Seriam, se ainda quisessem depois que descobrissem tudo após as aulas.
- Por que fui chamado aqui? – questionou tentando seguir para o foco daquela reunião e acabar logo com tudo aquilo.
- Ah! – exclamou Ludo, feliz com um assunto que parecia mais seguro. – Não tem com o que se preocupar, é apenas a cerimônia de pesagem das varinhas, os outros juízes estão chegando.
– Pesagem das varinhas? – repetiu nervoso.
Ótimo, tinha lido algo sobre isso nas regras, mas não teve tempo de nada além de passar os olhos. Como ele faria? Tinha que escolher apenas uma de suas varinhas?
- Aqueles também são do Profeta Diário, um dos principais jornais aqui da Grã-Bretanha – explicava Bagman, apontando para a dupla.
"A insuportável fofoqueira e o atrapalhado" pensou Harrison.
Esses eram os representantes de um dos "principais jornais da Grã-Bretanha". Não era à toa que a região estava um caos político e social. Esses eram seus padrões de escola, jornal.
Pessoas...
"Querido, tá escorrendo veneno dos seus pensamentos. Daqui a pouco estarei de banho tomado com ele" comentou Tom e Hazz mordeu a ponta da língua para não reagir.
- Aquela é – continuava o, mas foi interrompido.
- Rita Skeeter! – a mulher se apresentou, ao aproximar-se velozmente e estendeu a mão. Harrison educadamente ofereceu a própria. – Não somos um dos principais, como Ludovic disse. Somos O maior jornal da Grã-Bretanha. Reconhecido por toda a Europa! Tenho certeza de que já ouviu falar de nós, Harry, a menos que vivesse numa caverna.
"Ouvi sim. Só coisas terríveis" pensou enquanto enfim se soltava do aperto das mãos estranhamente grandes e cheias de caroços da mulher. Mas isso não o incomodava, geralmente era o sinal de alguém que trabalhava muito com as mãos, mas teve uma impressão muito forte de que Rita não sabia o que era trabalho pesado de verdade. O pior ainda eram as unhas. Se tivessem lhe cortado, faria questão de cortar a mulher um dia. Com uma faca ou lâmina pior.
- Eu não acredito, meus leitores ficarão eufóricos, é Harry Potter mesmo! – ela dizia empolgada.
- Harrison – corrigiu no automático.
O fotógrafo pareceu achar que aquela era uma boa chance para testar se a câmera ainda estava em condições e tirou uma imagem de Hazz sem qualquer aviso. O flash o fez piscar alguns instantes, sua visão era um tanto sensível considerando tudo.
Viktor imediatamente começou a se aproximar, pois conseguia sentir dali o humor de sua alteza piorando, o que se mostrou algo muito oportuno, já que naquele instante de distração de Harrison, Skeeter estendeu a mão na direção da cabeça do menino.
O búlgaro então correu e conseguiu segurar o braço da mulher, quase no mesmo instante que Harry também notava a aproximação de alguém de seu espaço pessoal e recuava outra vez.
Ambos esbanjando seus reflexos de apanhadores.
Ambos mais que furiosos.
Rita sequer teria conseguido alcançar Harrison, além de tudo já tinha um costume mais do que treinado de fugir da palma levantada por um adulto, mesmo assim... foi bom ter Viktor agarrado nela, apertando seu braço, separando-a de Harrison e da vontade assassina que o atingiu tornando seus olhos vermelhos por um instante.
- O que pensa que está fazendo? – perguntou Krum em tom grave, sombrio, louco para apertar o bracinho ridiculamente frágil daquela imbecil até quebrar em vários minúsculos e dolorosos pedaços. Fazê-la se arrepender pela ousadia estúpida (e suicida, na sua opinião) de tentar descaradamente tocar em sua alteza, sem qualquer tipo de consentimento.
- Oh, me desculpe! – pediu Rita rindo, sem parecer realmente arrependida ou preocupada. – Estava apenas querendo ver melhor a cicatriz.
"Quer ver a cicatriz que eu posso deixar em você?!" pensaram Viktor, Harrison, Tom e até Lakroff que assistia a cena.
- Garoto forte você – continuou a repórter e teve o atrevimento de apertar o braço e os músculos de Viktor.
"Isso é assédio! Já quero a cabeça dela numa bandeja!" reclamou Tom, zangado.
Detestava que tocassem em Harrison sem sua autorização prévia (mal suportava que tocassem com autorização se não fosse alguém previamente aprovado pela horcrux), mesmo que fosse só uma tentativa frustrada, Hazz sentiu seu sangue esquentar um pouco com as emoções irritadas e explosivas do companheiro. Talvez Tom odiasse contato físico ainda mais que o próprio Hazz e ele já era bem sensível à coisa.
Lakroff decidiu correr ao auxílio do neto e seu irmão de consideração cão de guarda, antes que Krum realmente avançasse na jornalista e estragasse sua carreira no esporte.
Ele seria capaz.
Viktor e seu histórico de socos dados às pessoas que faziam ou diziam algo contra Hazz eram abafados pela Durmstrang, mas os jornais não o perdoariam por uma atitude dessas da mesma forma, independente de seus motivos. Seus patrocínios dependiam de uma boa imagem pública. Por isso, empurrou o búlgaro discretamente para longe de Skeeter e mais próximo de seu neto, se mantendo entre a mulher e os dois adolescentes que a encaravam como se fossem capazes de estripa-la e comê-la no jantar.
Ou dá-la a Nagini. A maledictus não parava de reclamar que ninguém a ajudava com sua curiosidade mórbida de como seria o gosto de um humano.
- Senhor Potter - chamou o loiro quase albino. - Imagino que esteja com ambas as suas varinhas? – perguntou como quem estava apenas averiguando fatos. – Pelas regras do concurso, desde que sejam pesadas e autorizadas pelo especialista, você poderá utilizar ambas. Seria injusto você ser forçado a uma nova, uma vez que está mais acostumado a antiga, independente das normas britânicas, ela é autorizada em seu país, o que basta.
- Isso é uma ótima notícia – comentou usando da oportunidade para realizar alguns exercícios simples de respiração.
- Ótimo. O perito está lá em cima com Dumbledore, agora. Você disse que ele demorará muito, Minerva?
- Não, não - respondeu a vice-diretora, que ainda estava tentando não demonstrar sua frustração por estar ali. - Logo ele aparecerá.
A verdade é que Dumbledore pediu que McGonagall estivesse na sala até que este pudesse trazer Olivaras. Ela entenderia, já que não tinha nenhuma aula naquele período, se fosse por um bom motivo. Mesmo com tudo, ainda era seu amigo e diretor da escola. Era superior à professora de transfiguração que acabou acatando.
Entretanto não havia motivação adequada. Na verdade, toda a situação parecia bem ridícula.
Albus disse que explicaria depois, mas precisava daquilo da colega para que, principalmente: "Verifique Lakroff, não tire os olhos dele".
A mulher segurou o suspiro. Diante de todos os problemas que vinham tendo, Albus agora iria dar uma de paranóico para cima do filho do ex namorado? Já estava começando a se preocupar com a sanidade do amigo se continuasse assim. Ela sequer achava Lakroff e Gellert tão parecidos, para o mais velho surtar com tanta frequência.
Quer dizer, sim, o tom de loiro era o mesmo de quando o antigo lorde das trevas conheceu Albus, aquele ouro angelical que refletia a luz, tão interessante, mas em Lakroff parecia se tornar branco aos poucos em luzes, que ao chegar nas pontas enfim, desbotavam completamente, o que igualmente remetia ao pai, que eventualmente também manteve um cabelo todo albino. A trança no mais jovem, já praticamente toda platinada, como sempre estava presa do lado esquerdo da cabeça. O lado direito solto em seu natural. Estava um pouco maior do que na sexta-feira. Cresceu durante o fim de semana, logo ele cortaria? O formato quadrado do rosto, a mandíbula marcada, a estrutura do corpo? Talvez. A altura era a mesma sem dúvida, mas...
Não se veria todas essas semelhanças se não olhasse bem.
Por mais que o rosto fosse o mesmo, a atitude já os mudava muito. Lakroff tinha expressões gentis, calmas, relaxadas e um sorriso travesso quando queria, mas ele era discreto em sua simpatia. Seu pai era um ditador confiante e astuto, um olhar de assassino e uma atitude quase mortífera por si só, um perigo constante o rondava, mesmo quando sorria.
O filho também era fisicamente mais forte que o pai, tinha braços, ombros, peitoral, tudo forte, musculoso. Obviamente treinava bem mais seu porte físico que o pai. Suas roupas, ternos alinhados, não podiam estar mais diferentes dos casos, vestes bruxas e botas de couro de Gellert Grindelwald e, o que mais reparava por causa da insistência de Dumbledore no tema: os olhos. Lakroff tinha um par de lindos olhos azuis, piscina. Albus dizia que era apenas um tom mais escuro que os de Gellert, mas que no sol ficavam iguais, Minerva achava que eram olhos azuis lindos e ponto.
Eram parecidos, muito. Mas só se você procurasse e olhasse com atenção. Ou conhecesse bem Gellert, aparentemente. Quando Lakroff sorria em alguns momentos soava igual, ou quando estava explicando algum ponto, tinha a mesma firmeza e conteúdo que a grifinória viu em um dos discursos do lorde das trevas quando se infiltrou na guerra, mas Lakroff parecia apenas querer dar sua opinião, era quase tímido ao corrigir as pessoas e fazia questão de provar seu ponto com argumentos apenas para deixar claro o que era fato e o que não. Ele sabia do que estava falando e se sentia confortável em compartilhar com bons ouvintes. Gellert fazia as pessoas o ouvirem de um jeito ou de outro.
Claro, a desenvoltura do filho fazia com que quase todos fossem bons ouvintes, mas o pai era absoluto. Quando abria a boca, as pessoas se calavam hipnotizadas.
Ou horrorizadas. Tremendo aquele monstro que caminhava enquanto falava.
Minerva não entendia no que Albus estava tão preocupado com a presença de Lakroff, para ela parecia um tanto errado (e quase repetição de falhas que já deveriam ter aprendido a não cometer) julgar alguém por seu DNA e suas origens.
Mas daria o benefício da dúvida ao amigo e seguiu para aquela sala.
Ainda mais depois do que ela fez um pouco antes de vir para cá... Seria sua forma de dizer que ainda estava do seu lado, só queria fazer o que era certo.
- Quem, que bom, então! - dizia Igor Karkaroff. - Viktor também está com sua varinha, não é? – perguntava, se aproximando de seu aluno e o puxando no braço, esfregando os ombros do garoto, só então Minerva parou de olhar o Grindelwald e focar no presente. – Não que você precise de uma, já que consegue fazer vários feitiços sem, mas são as regras e vai que você encontra algum desafio que exija alguma ajudinha desses gravetos, não é? – e riu, dando tapinhas nas costas do garoto.
Viktor fechou os olhos frustrado e Harrison riu da cara do amigo, que voltou a abri-los apenas para encarar o mais novo e lhe mostrar a língua.
Lakroff negou com a cabeça revirando os seus. Seu neto que ensinou a corte magia sem varinha, mas a bajulação de Igor com Krum já era rotineira, então o grupo apenas ignorou.
- A senhorita Delacour e Diggory também estão armados? – perguntou Ludo e os outros campeões confirmaram. – Excelente. Sabem como funciona, sim? – Cedric olhou para os demais confuso, como se esperasse para verificar se era o único por fora, Fleur também não parecia ter plena certeza se a forma como seus lábios se crisparam e sua atenção se desviou para Maxime, sua diretora, era algum sinal.
-Temos que verificar se as varinhas estão em perfeitas condições de funcionamento, sem problemas, entende, porque são os instrumentos mais importantes nas tarefas que vocês têm pela frente – disse Bagman.
- Quando o perito chegar, basta que deem por alguns instantes a ele - continuou Lakroff, com voz doce e profunda, de forma alguma menos decidida ou interessante, parecia quase uma carícia. Pelo menos, foi isso que Fleur momentaneamente pensou. Chegou a imaginar como deveriam ser as aulas com aquele homem. Parecia ser do tipo que você ficaria horas ouvindo falar sem que fosse cansativo. – Que avaliará peso, tamanho, materiais como madeira, núcleo, qualquer tipo de propriedade, e o que mais julgar necessário. O objetivo é apenas ter certeza de que ela não está danificada ou adulterada, o que poderia tanto prejudicá-los em combate, quanto desclassificá-los no caso de uma trapaça para si mesmos. Simples, não?
Os adolescentes afirmaram.
- Depois vai haver uma rápida sessão de fotos – disse Bagman estendendo a mão, indicando com um gesto a bruxa de vestes carmim. – Esta é Rita Skeeter, como vinha dizendo. Está escrevendo um pequeno artigo sobre o torneio para o Profeta Diário...
– Talvez não seja tão pequeno assim, Ludo – comentou ela, com os olhos em Harrison.
Os cabelos da repórter estavam arrumados em cachos caprichosos e curiosamente rígidos que contrastavam estranhamente com seu rosto de queixo volumoso. Ela usava óculos com aros de pedrinhas. Os dedos grossos que seguravam uma bolsa de couro de crocodilo terminavam em unhas de cinco centímetros de comprimento, pintadas de escarlate.
Seu senso de moda refletia a personalidade: megera.
Viktor se colocou protetoramente na frente do amigo novamente.
- Bem, esses são os campeões, Skeeter - comentou Bagman. - Como vinha dizendo antes dele chegar, Harry acabou se tornando quarto campeão...
- Harrison – interrompeu no mesmo instante e sua magia reagiu.
Lakroff riu quando quase todos na sala pularam no lugar ou se afastaram do tom sombrio e aterrador da voz do neto incumbida nela.
Soube que aquelas reações eram causadas por estresse, o menino definitivamente não tinha melhorado da noite anterior, normalmente Harrison não se incomodava tanto com o nome errado, mas quando o garoto inspirou fundo ficou claro que já havia notado o próprio deslize e estava cuidando de se conter:
- Meu nome é Harrison – murmurou mais calmamente, inspirando e colocando a mão na ponta do nariz.
- Senhor Bagman – chamou o lorde Mitrica, indo ao auxílio da situação. – O lorde Potter foi rebatizado a anos por sua família e prefere ser chamado pela alcunha correta, isto é, Harrison – olhou para o garoto e sorriu, quando uma ideia o atingiu. – Mais uma das provas que temos de que o enfiaram nisso contra sua vontade – negou com a cabeça, interpretando uma desolação que seu pobre aluno estivesse em risco.
- Como?
- Veja bem. O papel constava a alcunha "Harry Potter", assim como Harrison deixou claro depois e repetiu, além de pela forma que fora anunciado por Dumbledore. A questão é que nunca o vi assinar uma única folha de papel dessa forma ou se apresentar assim a alguém por livre vontade. O que, sinceramente, me fez questionar se a pegadinha de mal gosto foi feita por um aluno da Durmstrang mesmo ou se não haveriam de ser de outra...
- Está sugerindo que foi um dos meus, professor Mitrica? – perguntou Minerva cautelosamente.
- Estou apenas avaliando todas as possibilidades, professora – explicou estendendo a mão para a mulher que, confusa, deu a sua. Logo sendo coberta gentilmente por ambas as palmas do Mitrica. – A senhorita...
- Senhorita? – interrompeu com uma sobrancelha arqueada, a voz pingando indignação de forma que fez Lakroff rir.
Minerva constatou que o som da risada do homem era ainda mais agradável de perto (afinal já a tinha escutado na mesa das refeições).
- Não lhe daria mais do que vinte – ele sorriu, enquanto falava em tom de brincadeira.
- Em cada perna? – ofereceu ela.
A maioria da sala riu dessa vez, mesmo que alguns tentando disfarçar, por educação e respeito à bruxa.
- Ainda tem bom humor! – comentou Lakroff, o sorriso aumentando. – Não me admira que esteja solteira, homens temem mulheres seguras de si e completas dessa forma.
- Lorde Mitrica – murmurou lentamente. – O senhor não está...
- É claro, isso é apenas uma leve anedota, não se preocupe vice-diretora, não estou insinuando nada além de que é uma pessoa impressionante. Eu sou casado.
- Mesmo?! – chocou-se e já começou a procurar nas mãos do mais jovem alguma aliança.
- Como é?! – questionou Igor incrédulo.
- Com meu trabalho – esclareceu e Minerva não se aguentou, desatando em uma gargalhada.
- Claro, eu devia ter imaginado – ralhou Karkaroff. – Me admira que já tenha conseguido ter um filho, que dirá se casar – murmurou.
- Já é mais do que você, não acha Igor, querido? – questionou Lakroff. – Imagino que qualquer mulher, ou homem, que se aproxime demais tenha sérios problemas estomacais em seguida.
- Homem?
- É nisso que você focou? – revirou os olhos em um bufo que escapava dos lábios. – Inacreditável, como sempre. Parece que eu não sou o único que vai morrer solteiro – se voltou para Minerva. – Desculpe por isso.
- Tudo bem, eu entendo – sorriu simpática. – Também sou casada com o meu trabalho.
- Os dois podiam se juntar então e... – ofereceu Igor em deboche.
- Lhe acertar uma bofetada que faça a mente funcionar finalmente? Apoiado – interrompeu Lakroff.
Viktor e Harrison riram alto da troca de farpas.
Igor percebeu. O que gerou uma carranca de sua parte. Pareceu prestes a dizer algo, que de certo seria idiota, mas Krum se adiantou:
- Diretor, tem que admitir que essa, pelo menos, foi boa. Vinda do vice-diretor, é claro – provocou e o Mitrica mais velho sorriu para seu aluno, entendendo onde queria chegar.
Funcionou. O diretor encarou o aluno, antes de sorrir forçadamente e lhe acertar um tapa nas costas:
- Você tem razão Viktor, tem razão. Vamos deixar que o Mitrica tenha uma vitória na vida, não é?
- Muita gentileza da sua parte, Igor. Fico lisonjeado com sua camaradagem diante dos colegas de trabalho – sorriu cheio de simpatia.
Aquilo foi tão falso, mas também tão bem interpretado para parecer real que Minerva quase engasgou, rindo mais. Suas mãos ainda estavam sendo seguradas pelo albino. Ele tinha mãos grandes, firmes e quentes, mas sua pele era absurdamente macia.
- Como eu ia dizendo, professora – continuou o platinado. – A senhora é vice-diretora, assim como eu. Acredito que entenderá meu ponto nessa situação toda. Meu aluno foi arrastado para uma situação muito complicada. Se foi uma pegadinha ou o motivo que o outro tivesse, quem envolveu Harrison nisso cometeu um crime grave e deve ser localizado. Obviamente, punido de acordo com a gravidade de suas ações e motivações. Não só isso, a família de Potter não está muito feliz e lhe dou toda a razão. Eles claramente estão me pressionando por respostas... – murmurou negando com a cabeça. – Por isso, estou fazendo uma investigação meticulosa, não queremos que ninguém seja acusado injustamente e não pude deixar de notar esse pequeno detalhe. Harrison foi anunciado como "Potter, Harry" na primeira noite, e sua família mandou uma carta pedindo que fosse ajustado, mas nas listas e na escola com os alunos ainda há "Harry", diante de todos esses anos onde era conhecido assim aqui na Grã-Bretanha era até esperado, mas... Os meus alunos, a Durmstrang, eles saberiam assinar o nome correto. Convivem há anos com "Harrison", este é o nome ao qual o conheceram. Dumbledore leria no papel "Harrison" se fosse um dos meus, mas tenho quase certeza que o professor Black me informou que Dumbledore não sabia disso. O que indica que mesmo com a família Potter avisando, essa informação não ficou clara para aqueles que vivem aqui na Grã-Bretanha. Agora, digamos que estivesse escrito "Harrison Potter", não tem sentido Albus anunciar...
- Harry – murmurou Minerva entendendo a linha de raciocínio do outro.
- Exato – sorriu. – Por isso, comecei a pensar na possibilidade de alunos das outras escolas.
- Com outras, quer dizer que está suspeitando dos meous alunos também, estou correta? – perguntou Maxime na hora, parecendo ofendida.
O de cabelos brancos se virou para o mulherão e simpaticamente riu:
- Não se preocupe, madame Maxime, minha cara. Prefiro acreditar que nenhuma das outras escolas está envolvida, jamais gostaria de ofender as Ladys e o excelentíssimo que, de certo, esperam de seus alunos. Mas tão pouco acredito que algum dos meus seria capaz. No fim é apenas minha responsabilidade pensar em todas as opções. Mas sim, ainda preferia que todos fossem inocentes.
- Daí Potter seria o culpado – disse Igor e Hazz se imaginou acercando a cabeça do homem com uma pedra até destruir seu crânio. Deixá-lo amassado. Caixão fechado.
Seria melhor para todos que ainda se dispusessem a ir no enterro da coisa.
A maioria dos outros professores, e até alunos como Cedric e Fleur, olharam para Igor naquele instante com indignação. Ele era tolo? Não ouviu Harrison jurando diante de todos? Não tinha como burlar uma jura mágica como aquela! Todos ali tinham de saber da inocência de Potter.
Tom, entretanto, se focou em outra coisa:
"Ardiloso" pensou, no fundo da mente de Harrison.
O Grindelwald estava mostrando como era capaz de fazer seu jogo e Marvolo sempre achava interessante de assistir. A face de bom senhor não vacilava um único segundo, apenas se fosse para mostrar uma segunda, ainda mais falsa, de jovem extrovertido e brincalhão. Ele estava plantando sementes que a maioria nem perceberia, e mesmo que percebessem, não entenderiam os verdadeiros motivos de estarem ali.
"Plantando sementes ou colocando uma isca no anzol" sugeriu Harrison entendendo os pensamentos do companheiro.
"Foi suficientemente atraente para pescar um besouro?"
- Não vou me dignar a respondê-lo Karkaroff – respondeu Lakroff. – Todos sabemos que Harrison não foi. Ele não devia nem ser capaz, se Dumbledore fez o trabalho de proteger a taça corretamente, o que tenho certeza que sendo o bruxo do seu calibre, é o caso.
"Mente que nem sente" comentou Tom e Hazz sentiu uma sensação estranha vinda da cicatriz. Estranha, porque não estava acostumado e nem conseguiu identificar qual era a emoção afinal.
- De toda forma, eu e Albus teremos uma reunião hoje depois que sairmos daqui. Acredito que iremos direto para sua sala – emendou logo. – Tenho certeza de que poderei falar um pouco sobre essa situação e com a ajuda dele, de certo chegaremos ao fundo disso o quanto antes.
"Ele não mencionou sua jura".
"E trocou de assunto" acrescentou Tom. "Mas o melhor foi que seu vô mencionou a reunião com Dumbledore".
"O que acha? Ela é tão curiosa que iria por tão pouco? Teremos pescado de besouro?" brincou Hazz, mas seu humor quase morreu com algo que ouviu em seguida:
- Talvez nem precise ir tão fundo – "sussurrou" Karkaroff. - A resposta pode ser a mais óbvia.
"Eu mato esse rato, eu juro que mato" pensou Harrison irritado. Ele estava certo, Igor nunca confiou em Hazz e era inteligente não confiar no garoto, mesmo assim era insuportável aquela perseguição toda!
"Você tem Igor Karkaroff, eu tinha Albus Dumbledore" riu Tom.
"Não gostei! O seu pelo menos é forte, esse cara é miserável!"
"É que eu sou mais especial" vangloriou-se.
- Um minuto – pediu Rita se intrometendo, sua mão já ficando cansada de tão rápido que anotava em um bloquinho todo que estava sendo dito. – Eu estou enganada ou vocês não têm certeza de como Harry Potter foi envolvido no torneio? – perguntou, os olhos brilhando de curiosidade.
- Harrison – corrigiu o Potter.
- Sim, nós... – começou Lakroff, mas foi interrompido pela bruxa.
- Olha, mas isso, com certeza, meus leitores haverão de saber! Gostaria de saber se poderia dar uma palavrinha com Harry antes de começarmos? – pediu Rita à Bagman. – O campeão mais novo e numa situação como essa, entende... para dar um toque pitoresco e garantir que todos saibam dessa reviravolta tão interessante dos fatos?
- Certamente! – exclamou Bagman e Harrison o encarou mortalmente. O homem pareceu notar a burrada que fez ao concordar com algo pelo menino e gaguejando se corrigiu: – I-isto é, se H-Harry não fizer objeção?
– Eu faço! O senhor e a... – ele olhou de baixo a cima da mulher. – Senhora... – murmurou com descaso digno de um lorde diante de alguém inferior. – Sequer tiveram a consideração de me chamar pelo nome corretor que, literalmente acabou de ser parte da conversa entre a professora Minerva e meu vice diretor. Já não basta suas insinuações, senhor Bagman – o ex jogador de quadribol literalmente pulou no lugar, parecendo aterrorizado com a ideia de ter irritado o Potter. – Na noite que fui selecionado para essa empreitada, ainda não tem a capacidade de usar, já que ignorou que não temos intimidade o bastante para não utilizar meus títulos corretos, o primeiro nome ao qual me reconheço. Ou se lembrar que quem decide sobre minha imagem circulando na mídia sou Eu.
Ludo tremeu e se encolheu, olhando para os demais como se buscasse socorro. Lakroff ofereceu, o que fez o britânico olhar para o platinado como se fosse um anjo na terra, vindo para salvá-lo:
- Lorde Potter – começou o Mitrica mais velho. – Entendo que o senhor esteja receoso diante de toda a sua situação e, novamente, o senhor foi colocado contra a sua vontade, mas o torneio é um evento público e internacional, toda a Europa está envolvida. Se pudesse apenas trocar algumas palavras com o jornal para que a situação não ficasse ainda mais caótica, midiaticamente falando, talvez fosse proveitoso. Claro, é apenas um conselho como seu professor, mas entenda que depois de anos sumido o senhor voltará a ser a notícia, melhor que faça parte dela e garanta que serão dadas as informações corretas – Hazz fingiu pensar sobre aquilo enquanto Lakroff se virava para Rita. – E senhorita Skeeter, imagino que entenda como essa é uma situação delicada para o lorde Potter, o tutor dele sempre o aconselhou a se manter longe de atenção e a evitar a mídia para sua própria segurança, seu nome foi colocado contra a sua vontade e diante de sua importância na antiga guerra, a família dele sempre foi muito cuidadosa e isso tudo pôs em pauta a segurança da Grã-Bretanha. Espero que tenha o devido cuidado no artigo que for escrever.
- Claro, não se preocupe - disse a mulher, com um sorriso de crocodilo nos lábios.
- Acho que se o senhor está dizendo, professor... – murmurou Harrison ainda naquele tom de quem pensava na decisão, mas para a jornalista aquilo pareceu o bastante.
Num segundo, seus dedos com garras vermelhas tinham segurado com surpreendente firmeza o braço do garoto:
– Beleza! – exclamou Skeeter e conduziu-o para fora da sala, abrindo uma porta próxima.
- Não queremos ficar lá dentro com todo aquele barulho – disse ela enquanto Hazz respirava fundo e tentava controlar sua magia, além de sua vontade absurda de matar aquela mulher por não ter aprendido com a primeira tentativa frustrada, e realmente ousado tocar nele sem autorização.
"Não se segure! Torture a megera! Ninguém tem direito de te puxar assim, vaca dos infernos" reclamou Tom furioso e, com certeza, um dos dois deve ter perdido as estribeiras porque quando Rita os arrastou para dentro, ela de repente deu um gritinho e soltou a mão, sacudindo enquanto a porta se fechava:
- Que estranho... – murmurou encarando sua palma.
Ela havia levado um choque.
"Teve sorte que eu não arranquei essa mão e te fiz engolir" pensaram Tom e Harrison.
"Olha que meu professor que ensinou isso" acrescentou Harrison se lembrando do caos que foi quando os alunos acharam jornais que falavam sobre o evento de Leandro quase matando um homem engasgado com o próprio braço que o professor havia arrancado.
"E você é louco, tem atestado de esquizofrenia!" zombou Tom.
Hazz coçou a garganta para disfarçar o quase riso.
- Vejamos – Rita continuava, com um sorriso forçado e olhando em volta do local, tentando disfarçar sua reação ao choque. – Ah, sim, aqui está bom e aconchegante.
Agora o menino também se deu um tempo para observar o local.
Aquele era um armário de vassouras.
Franziu as sobrancelhas para a bruxa e cruzou os braços em um olhar que gritava "mesmo?".
"Ela ia amar ser criada pelos meus tios então" pensou o menino e, dessa vez, foi Tom que riu.
"Vamos dar uma poção da juventude e colocá-la numa cesta na porta dos Dursleys com uma cartinha amigável, então apostamos com toda a sua família: quantos dias para todos estarem mortos?"
"Eu apostaria em horas" acrescentou bem humorado.
Uma vibração confortável se espalhou pelo seu peito e pela testa, Tom estava feliz e isso contagiou Hazz.
- Vamos querido, certo, ótimo – repetiu outra vez a bruxa, encarapitando-se precariamente sobre um balde virado de boca para baixo, fez Harry sentar-se em uma caixa de papelão e fechou a porta, mergulhando-os na escuridão.
"Podemos botar fogo nela para gerar luz" sugeriu Tom.
"Pelo menos no balde, para queimar essa bunda intrometida".
Os dois riram na mente do garoto.
Normalmente, a horcrux era mais quieta, afinal seus pensamentos se misturavam ao do menino ao ponto de não ter certeza quando era ele ou o outro, e achava isso (até certo ponto) prejudicial. Tom achava que Hazz tinha que ter as próprias ideias, viver à sua maneira. Interferia às vezes, geralmente para ser seu lado sombrio, a vozinha que gritava a coisa errada a se fazer, mas que também seria a mais divertida.
Era cuidadoso, não necessariamente com a influência que exercia no menino, mas com a necessidade de lhe dar privacidade e independência própria. Não que Hazz visse necessidade nisso, ele nunca deixaria de ter Tom consigo, então para que "independência" justamente dele? Mas entendia que era um adulto não querendo atrapalhar o desenvolvimento da criança que cuidava.
Riddle queria que Hazz se tornasse a melhor versão de si mesmo que conseguisse, para se sentir um adulto feliz e satisfeito. Orgulhoso de si mesmo. O próprio Marvolo havia gastado muito tempo com coisas que hoje se arrependia, não queria isso para seu menino, então seus comentários se resumiam a eventuais aparições de um amigo que não se importava em ser a pior das influências.
Como quando incentivava Hazz a matar Dumbledore ou qualquer um que lhe olhava torto.
Mas Tom sempre era a voz da razão quando se tornava preciso. Interrompia as brincadeiras e fazia Harrison ver com clareza os fatos, planos e a vida. Saía do papel de irmão brincalhão e tomava a posição de maturidade e racionalidade.
Funcionava.
Muito bem. Eram uma dupla. Uma dinâmica perfeita, na opinião de Harrison.
Mas se falavam mesmo era no mundo dos sonhos.
O mundo deles. Onde tinham um ao outro, paz e liberdade. Para brincar na areia da praia jogando bolas de terra um no outro, se enterrando, subindo as árvores da floresta proibida que Tom nunca chegou a conhecer direito, então ficavam avaliando as falhas e como seu cérebro criava imagens para substituir a falta do que era real. Às vezes estudavam, outras apenas aproveitavam a companhia um do outro até Hazz entrar tanto no próprio subconsciente por relaxar que acabava desligando no colo do Riddle, enquanto recebia carinho nos cabelos num sofá confortável da sala comunal da sonserina.
Seu peito deu uma pontada incômoda.
Doeu. Muito mais do que esperava. Pensar no tempo em que eles simplesmente viviam uma vida inteira só deles nos sonhos. Sendo as crianças normais que nunca foram. Doeu porque...
Desde que voltou para a Inglaterra não teve mais um único dia disso.
Já era normalmente ruim pensar no que acontecia quando eles acordavam. Onde se perdiam, onde Tom se tornava apenas uma consciência a mais, nem mesmo com força para fazer muito além de existir, compartilhar algumas sensações e pensamentos no fundo de sua consciência. "Sussurros de seu lado sombrio". Hazz, mesmo nessa situação, sentia sua falta. Em cada momento da vida, quando Lakroff levou ele e os irmãos para um parque de diversões a primeira vez em sua vida, sentiu falta de Tom reclamando sobre como as pessoas arriscavam suas vidas em máquinas mortíferas por diversão momentânea e trouxas eram masoquistas estranhos.
Quando foram ao Brasil e começou a ficar com calor, pensou em como Riddle, se estivesse lá, teria ralhado feito louco em como estava sendo forçado a usar roupas mundanas ridículas para não suar feito um animal, e que bermudas eram feias, regatas só serviam para dentro de casa e alguém tinha que ensinar homens peludos e pançudos que ninguém gostaria de ir a praia para ver a "beleza desnuda" deles. Que se não queriam usar roupas, ao menos se depilar não faria mal quando os pelos já podiam formar tranças.
Claro, ele teve boa parte desses comentários (de novo) sussurrados no fundo de sua mente, mas queria que ele estivesse lá. Que todos da família pudessem rir deles. Que sua irmã pudesse apontar cada homem que estivesse olhando demais para Tom e que fosse estranho o bastante para irritá-lo. Que seus irmãos tivessem o arrastado para uma partida de vôlei e Harry assistido Lakroff e Tom se provocando e quase se matando pela competitividade exacerbada deles. Enquanto Hazz esperava o último minuto para apitar alguma falta do tipo Tom jogando coisas na cabeça de alguém de propósito, afinal os irmãos jogariam tão sujo quanto ele.
Queria ter visto o companheiro experimentando açaí, feijoada, coxinha brigadeiro e pizza de batata frita! Porque Marvolo reclamaria até o inferno, mas experimentaria cada prato.
Junto com a família.
Estaria emburrado em cada foto, mas estaria lá. No começo, até com Harrison no colo, tinha certeza disso. Ao lado de Lakroff, que provavelmente lhe colocaria chifres e geraria uma perseguição com direito a apostas de todos os filhos de quem derrubava quem primeiro.
Hazz sonhava que, quando foram para o Japão, ele e os irmãos tivessem assistido Lakroff dizendo como Tom ficava lindo em um kimono. Ele podia imaginar Riddle respondendo que não existia algo que não lhe caísse bem, conseguia manter o nível mesmo andando com alguém como Lakroff a tiracolo. Foi ótimo curtir cada uma daquelas viagens, foi divertido comentar elas nos sonhos com o companheiro depois, mas...
Teria sido perfeito ter todos juntos.
Era triste pensar que ele e Tom só tinham os sonhos.
Mas foi horrível lembrar que perderam isso.
Por um bom tempo de sua infância, foi triste pensar que Hazz parou de conseguir dormir como fazia nos primeiros meses do orfanato, porque acordava em pânico com frequência até voltar a se sentir seguro. Mesmo com os irmãos, Lakroff e até Nagini, todos dormindo no mesmo quarto e na cama aumentada magicamente para poderem estar lá e protegê-lo, ainda não bastou quando se tratava dos ataques noturnos.
Mesmo com essa união, foram necessários alguns anos para que funcionasse e ele aguentasse mais que três horas deitado antes de um pesadelo ou uma explosão mágica tremendo por estar muitas horas inconsciente. Anos para que seu subconsciente aceitasse que sim, aquelas pessoas o protegiam enquanto estava dormindo, nada lhe aconteceria. Mais algum tempo para que o aperto de Nagini em volta do corpo fosse o bastante para lembrá-lo disso e lhe dar noites tranquilas.
Onde podia ver Tom.
Então, aos poucos e com a terapia certa, conseguindo que a própria horcrux fosse o bastante. Podendo voltar a ficar tanto tempo inconsciente quanto uma pessoa comum, sem saber o que estava acontecendo a sua volta, mas sem queimar algo no processo, quando havia algum barulho alto ou coisa do tipo. Só aí deixando todos seguros com a ideia de estudar numa escola interna, ao invés de em casa, como sua irmã.
Então ele ganhou sua corte.
Até o fim de seu segundo ano, quando o conselho ganhou um dormitório próprio, passou a dormir tão bem quanto em casa. Nove, às vezes até dez horas tranquilas por noite. Apenas ele e Tom, como devia ser. Voltou a ter seu companheiro, as brincadeiras, jogos, a paz e todo o carinho que tinham para oferecer um ao outro. Seu terceiro ano foi ótimo nesse sentido. Mesmo que ficasse nervoso com toda a história de Sirius Black e Pedro Pettigrew, seus pais e tudo o mais. Mesmo com as várias aulas e trabalhos extras, todo o estudo intensivo nos sonhos que ele fazia com Tom, acordado com Lakroff, tudo para adiantar seus NOMs, o ano foi ótimo a seu ver.
Ocupado, semi caótico, mas muito bom à sua maneira.
Um contraste gigantesco com este ano de 1994.
Quando finalmente voltou a ficar seguro e podia estar com o Tom, Harrison decide arriscar e vir para Hogwarts. Retornar para a Grã-bretanha.
Lar de seus maiores gatilhos e traumas.
Então perdeu o castelo que tinha se acostumado, o dormitório, os elfos, a comida, as proteções, as magias que confiava.
Tudo.
Simplesmente o que lhe dava qualquer conforto para não entrar em crise, sumiu de um dia para o outro. Mas tudo bem, ele podia lidar com isso. Comer seria o mais complicado, mas teria Neville e sua corte, então podia dar um jeito, podia se acostumar enquanto se apoiava nos amigos. Lala também foi instruída a aparecer vez ou outra e verificar se ele não queria algo de casa. Ela faria todo dia, mas além de ser complicado com as proteções da Durmstrang, ainda parecia tolice. Hazz tinha que aprender a lidar com esse tipo de situação eventualmente, isto é, crescer e superar medos.
Tom achava essa atitude tolice.
Por ele Hazz abraçava sua covardia e só comia no barco, quem perguntasse porque ele não comia no grande salão, que mandasse a merda ou torturasse. O que estivesse com maior humor. Mas esse era um dos pensamentos sombrios que Harrison apenas ria e ignorava.
O maior problema foram as pessoas da Grã-Bretanha. Entre elas, principalmente Voldemort.
A proximidade com o Lorde das Trevas, que ao que tudo indicava estava recuperando suas forças mais uma vez, o fez perder tudo. Os únicos momentos que tinha a voz de Tom para lhe aconselhar, os braços dele para consolar, e seus momentos juntos para relaxar de um dia ruim.
Por conta de estar muito perto de Voldemort, e o infeliz lhe causar pesadelos constantes, dores na cicatriz, espasmos e febres altíssimas, Hazz não só sofria com a saudade, mas dormir tornava a ser um mártir.
[N/A: Mártir tem vários significados, o que está em uso agora: hiperb. pessoa que sofre intensa e constantemente de um determinado mal].
E Tom acabava sofrendo também. Sendo queimado pelas proteções de sangue ativadas no meio da noite.
Em vez de ver a horcurx dele, Hazz via Voldemort cada noite um pouco mais, um tanto mais doloroso e difícil para ambos. Não só era o fim de uma das poucas coisas boas que tinha do passado, das noites de sono ou de conseguir comer direito, Hazz tinha se enfiado num país cuja as pessoas constantemente lhe jogavam, como se não fossem nada, memórias sobre a morte dos pais, não intencionalmente o lembraram dos tios, da dor que foi viver naquele lugar, poque decidiu ir embora para começo de conversa, e no meio de um bando de outros problemas, questões políticas, planos complexos, seu primeiro ano após os NOMs.
Ainda arrumou tempo para ajudar Neville mais uma vez.
Não era à toa que estava tão explosivo e inconstante.
Sinceramente? Se não tivesse achado o diadema e agora o medalhão, se Tom não estivesse com força o bastante para possuí-lo e falar em sua cabeça, a voz do companheiro atingindo cada parte de si e o acalmando, como só ele parecia capaz, a coisa teria ficado feia.
Ele teria estourado. Com certeza Harrison Potter teria se deixado levar pela parte que queria gritar com todos.
Mas se arrependeria amargamente de estragar todo o esforço que vinha fazendo em todos esses anos. Depois nem saberia pensar. Apenas tinha a agradecer pelo medalhão estar consigo agora.
Sabendo de seus pensamentos e provavelmente sentindo a mesma dor e amargura pelo que tinham perdido, o colar aqueceu-se e vibrou, um carinho suave, uma mensagem:
"Estou aqui".
Ele colocou a mão no peito, por cima da roupa, para poder tocá-lo de alguma forma, enquanto praticamente ignorava a repórter que tagarelava a sua frente.
– Há muitas perguntas a serem feitas, realmente, mas está tudo bem, Harry. Basta que responda como achar melhor e poderemos atualizar toda a sociedade bruxa sobre a vida do "menino que sobreviveu". Vejamos agora... – Rita abriu a bolsa de crocodilo e tirou um punhado de velas, que acendeu com um aceno da varinha, e colocou-as suspensas no ar, de modo a iluminar o que faziam.
"Ao menos ela é preparada" comentou Tom.
"Posso aumentar as chamas das velas para assustá-la, botamos a desculpa de que ela fez o feitiço errado" sugeriu o menino maldosamente.
"Gostei da ideia pirralho, vamos!" incentivou o mais velho.
Rita falava:
- Você não se importa, Harry querido, nós podemos – mas foi interrompida, naquele instante as chamas cresceram até quase atingir o teto.
Talvez a horcrux não esperava que realmente Harrison fosse cumprir com aquilo, porque começou a rir loucamente, enquanto Hazz fingia surpresa, se encolhendo.
Rita deu outro gritinho e se atrapalhou toda tentando recuperar sua varinha e acalmar as chamas rebeldes.
O garoto deixou que rugissem em sua direção mais um pouco antes de enfim liberar seu controle delas. Enfim a bruxa tornou a fazer sua magia responder apenas a si e acabou por apagar as coisas.
Alguns segundos de silêncio no escuro se seguiram antes de Skeeter pigarrear:
- Sinto muito. Imagino que eu esteja muito agitada com a oportunidade – murmurou incerta.
Aquilo era estranho, pensou a mulher, já havia feito tantas vezes na vida o mesmo feitiço e nunca aconteceu algo como aquilo.
Mesmo assim, deu de ombros e decidiu ignorar aquele incidente. Mais lentamente e concentrada dessa vez, acendeu as velas. Hazz observou enquanto a mulher as encarava, como se esperasse que tornassem a crescer.
- Senhorita Skeeter... – murmurou, ajeitando sua postura e batendo na jaqueta branca do conselho estudantil, como se a limpasse, depois tornou a cruzar seus braços. – Eu prefiro que, se a senhora não tem pleno controle ou certeza sobre suas próprias capacidades com feitiços de fogo, não os realize em um ambiente tão pequeno e fechado. Seria proveitoso para ambos – estreitou os olhos. – Se for manter a coisa, quer que eu lhe dê alguns segundos para conter a "agitação" antes que ponha nossas vidas em mais risco?
- Eu... bem. Está tudo certo, foi apenas um pequeno engano! – ela parecia ainda um pouco desnorteada, sem saber exatamente como responder àquilo. Coçou a garganta, tornando a olhar para dentro de sua bolsa. Algo lá acendeu sua concentração, pois quando se voltou para o menino, parecia ter o mesmo brilho e energia de antes da interrupção. – Sinto pela minha distração, é uma oportunidade rara, bem como seu professor disse. Você, Harry Potter...
- Harrison – corrigiu de novo em um bufo frustrado.
- Não apareceu para mídia até agora em todos esses anos – continuou como se não ouvisse. – Considerando tudo pelo que passou e todos os mistérios envolvendo seu desaparecimento de alguns anos...
- Desaparecimento? – interrompeu levantando uma sobrancelha. – Até onde me consta, apenas me afastei dos holofotes, mas ainda deixei uma carta aberta para os jornais e o governo bruxo britânico. Ou seja, meu estado de saúde foi informado, assim como com quem eu estava seguindo, neste caso a minha família. Da minha parte isso está longe de contar como "desaparecimento". Juridicamente falando, desde que eu mantenha um representante para administração de meus bens, sendo entre eles até minha imagem pública, não se pode considerar desaparecimento. Outro ponto é que o país ao qual me mudei sabia da minha estadia.
- Entretanto você não informou a ninguém por aqui seu paradeiro, deixando que a possibilidade de sequestro fosse levantada.
- Informei ao meu representante e, de novo, deixei uma carta.
- Cartas podem ser forjadas.
- Não uma magicamente protegida e assinada com sangue. Deixou de verificar algo simples desse tipo quando a carta chegou ao profeta, Skeeter?
A mulher corou, mas riu em seguida disfarçando até que bem.
'Se eu fosse um completo tolo" pensou irritado.
"Dê um desconto a ela, você é um adversário grande demais para uma barata, quer dizer, besouro" comentou Tom.
"Você errou mesmo ou foi intencional?"
"Descubra".
- Não fazia parte das minhas funções, nem manejei a carta até estar na minha própria cópia do profeta publicado – se justificou Rita.
- Certo - murmurou em tom de quem claramente estava descartando aquilo. – Qualquer um que duvidasse de sua veracidade também poderia averiguar a assinatura com meu representante.
- Que era?
- Ragnar. Chefe goblin das contas Potter. Informação facilmente retirada com uma ida ao banco dos goblins, uma vez que não pedi para que eles mantivessem sigilo em relação a isso.
- Entretanto você deve concordar que essa não era a melhor das fontes.
- Como assim?
- Veja bem, o goblin informaria como localizá-lo a qualquer pessoa que perguntasse?
- Não, mas daí seria tolice escolher um representante que dissesse a qualquer tolo onde estou e como me encontrar. Ele faria isso se visse uma real necessidade, ou manteria uma comunicação intermediada suficiente entre quem quer me passar a palavra e minha família.
- Cabia a ele decidir quem poderia ou não lhe interessar?
- Eu não escolheria um representante que não fosse capaz de avaliar quais assuntos me interessam ou não.
- Falar com a mídia? – perguntou com um sorriso astuto.
- Não interessava. Entretanto, sei bem que a senhora, se-
- Senhorita – corrigiu a mulher, aumentando o sorriso.
Harry contou três dentes de ouro enquanto evitava uma careta muito marcada:
- A senhorita não entrou em contato com os goblins me procurando nenhuma vez, seja para pedir uma entrevista ou qualquer nota. Se contentou com o que mandamos em todos os jornais.
- Como sabe? - Questionou inclinando a cabeça.
- Eu não queria falar com a mídia, mas ainda me foi passado o nome de cada redator e empresa que quis escrever qualquer tipo de artigo, entrevista ou mesmo livro comigo. Qualquer um que passasse perguntando por mim, na verdade, era registrado e no fim do mês o registro era enviado para minha casa. Assim, caso eu mudasse de ideia, poderia contatar a pessoa.
- Oh! – exclamou a mulher, o sorriso aumentando ainda mais. – Que tolice a minha então, perdi a oportunidade de fazê-lo antes.
- Não perdeu – respondeu gélido. – Eu não teria aceitado. Estou repensando nesse instante minha decisão em falar agora, que tal irmos direto ao ponto antes que eu chegue a isso?
Rita pareceu surpresa com a resposta direta e seca de Harrison, mas não se deixou abalar:
- Certo. Você tem razão, temos pouco tempo. Quero ter certeza de que aproveitarei bem todas as fofocas... informações – se corrigiu com um risinho. – Sobre nosso herói perdido.
"A voz dessa mulher irrita" pensou Tom enquanto Hazz franzia o cenho para "herói perdido".
- Se importa que eu use uma pena-de-repetição-rápida? Assim fico livre para conversar com você normalmente – e já foi metendo a mão na bolsa.
- Me importo – respondeu no mesmo instante e o sorriso de Rita murchou.
- Veja bem, Harry – começou em um tom que tentava ser amigável, mas parecia ainda mais perturbador que o outro.
- Harrison – corrigiu de novo.
Ela ignorou outra vez, enquanto retirava uma pena comprida verde-ácido e um rolo de pergaminho, que abriu entre os dois em cima de uma caixa de Removedor Mágico Multiuso da Sra. Skower.
- A pena de repetição – continuou no mesmo ritmo. – É apenas um artigo mágico que facilitará nossa conversa. Sua existência, me garante focar em nós dois, nas perguntas que farei e em suas respostas, sem perder o ritmo constante do diálogo mútuo, assim aproveitando o nosso período juntos da melhor forma. O que conversamos até agora, por exemplo, tenho certeza de que posso ter perdido alguns detalhes que poderão gerar... mais de uma interpretação no jornal. Veja, quero apenas evitar esse cenário! Enquanto falamos, ela fará as anotações que poderei acessar futuramente com calma. A redação manterá a devida excelência, se utilizando desse esquema.
Hazz estreitou os olhos e inspirou fundo:
- Eu sei o que é uma pena de repetição rápida...
- Esplêndido então.
- O meu ponto é – continuou, mas a mulher parecia totalmente alheia a ele.
Levou a ponta da pena verde à boca, chupou-a por um instante com cara de quem estava gostando, depois colocou-a em pé sobre o pergaminho, a pena ficou equilibrada tremendo ligeiramente. A carranca que já estava sumindo de seu rosto retornou.
Tom ficou em silêncio, apesar de muito divertido. Aguardaria o show que estava prestes a estourar.
– Teste. Teste. Meu nome é Rita Skeeter, repórter do Profeta Diário - dizia a mulher.
O menino olhou a pena mortalmente, quase que desafiando-a a se mover. Entretanto, no momento em que Rita falara e obedecendo sua mestra, a coisa deslizou pelo pergaminho, formando palavras.
Palavras, estas, diferentes das que foram proferidas:
"A atraente Rita Skeeter, 43 anos, cuja pena infrene já esvaziou muitas reputações infladas..."
[N/A: Infrene. adjetivo de dois gêneros 1. desprovido de freio; desenfreado. 2.FIGURADO (SENTIDO)•FIGURADAMENTE imoderado, nada contido; destemperado, desordenado].
– Beleza – disse a bruxa mais uma vez e rasgou a parte escrita do pergaminho, amassou-a e meteu-a na bolsa. Inclinou-se então para Harrison e disse: – Então, Harry...
- Harrison! Se me chamar da forma incorreta novamente eu me retiro e a senhorita perde a oportunidade de ser a primeira jornalista da história a fazer uma entrevista com o menino que sobreviveu. Não só isso, sabemos que nessa situação onde me retiro, se meu nome aparecer no seu jornal em qualquer aspecto que não seja mencionar que estou envolvido no evento do torneio tri-bruxo, eu te processo por calúnia – e para deixar a mensagem bem clara, deixou que um pouco da sua magia saísse e preenchesse o ambiente, se envolvesse em suas palavras.
- Ou será que que um simples nome era uma das coisas que a senhorita precisava ter tomado nota ou correria o risco de errar em sua redação? – continuou, ácido nas mesma proporção que profundo.
Se agradou quando a mulher tremeu, engolindo em seco e pareceu brevemente desnorteada.
"Ele marca de novo! Harrison Potter, senhoras e senhores, está afiado hoje!" zombou Tom e Hazz se segurou novamente para não rir, mas teve que fingir uma tosse para disfarçar.
Rita também tossiu:
- Então o senhor então chama-se Harrison agora? – perguntou se inclinando para trás. – Qual o motivo que o fez se rebatizar? Uma medida de segurança a mais? Imagino que não, daí teria sido melhor escolher uma opção que não fosse tão próxima da original, não é mesmo? Ou você não queria se afastar totalmente do nome dado por seus pais mesmo que fosse algo necessário para o objetivo de sua família de se esconder totalmente e pegou Harrison exatamente para conseguir se manter próximo de suas memórias? O passado afeta muito suas decisões, senhor Potter?
Certo.
Não eram questionamentos ruins. Será que poderia dar uma chance para a megera? Ela estava disposta a fazer uma reportagem séria?
- Bem – suspirou, tentando dar uma chance. Ele era, essencialmente, alguém paciente e a mulher estava apenas fazendo seu trabalho.
Todos tinham seus motivos para fazer o que faziam e Rita dependia de vendas, de certo.
Mas a pena continuava a se mover.
Embora não estivesse falando nada, seguindo-a o garoto pôde ler uma nova frase:
"Uma feia cicatriz, lembrança de um passado trágico, desfigura o rosto de outra forma muitíssimo encantador de uma verdadeira beldade, Harry Potter ainda tenta usar belos cabelos negros para cobri-la, mas nossa atenção é automaticamente atraídos à marca 'daquele-que-não-deve-ser-nomeado' e o simbolismo que traz consigo, da guerra que o deixou órfão, mas nos forjou um herói, cujos olhos verdes intensos...
Se irritou ainda mais.
"Senhoras e senhoras, público de todas as idades, desse lado de picadeiro vemos uma mulher irritar um dragão com pena curta! Venham ver! Somente essa noite, pois até a próxima ela já deve ter virado janta!" anunciou Tom.
"Você está com tudo hoje, não é?" perguntou fechando os olhos e se focando em não reagir.
"Eu sempre estou" respondeu. "É um dom".
- Não dê atenção à pena, Harryyyyyyyy – tossiu quando ele abriu os olhos e eles brilharam tão mortalmente que a mulher se arrepiou dos pés a cabeça e sumiu com a postura relaxada, ajeitando a coluna. – Harrison – corrigiu com firmeza.
"E se déssemos ela como oferenda para Voldemort?"
Dessa vez não conseguiu. Hazz riu alto.
Rita o encarou como se fosse louco. E talvez fosse mesmo, mas não ligava.
Imaginou a cartinha:
"Caro Primo,
Segue aqui um sacrifício para você, monstro ofídico, herdeiro das cobras, espero que possa saciar seu paladar e sede por sangue. Entendo se me mandar de volta, não sei se algo assim não lhe daria indigestão. Entretanto se escolher, ao invés de comer a carne, se divertir com seus gritos, também me sentirei feliz por tê-lo agradado. Me mande as memórias para que possa apreciar o show também.
Meus cumprimentos".
- Desculpe – disse quando conseguiu impedir um ataque de risos que lhe ameaçava sair. Tom não teve a mesma capacidade, estava gargalhando no fundo da mente do garoto enquanto resmungava "ela sem dúvidas daria indigestão, mas vamos mandar a carta mesmo assim!". – Eu entendo a senhorita – continuou focado. – Imagino que depois de treze anos lendo "Harry Potter" como o nome de uma figura histórica, é comum errar...
- Sim! – concordou Rita com aquele sorriso cheio de dentes. Se a luz das velas refletisse em um dos dourados, ele não estranharia.
Se lembrou dos dentes de Igor.
Hazz queria arrancar as coisas da boca de Karkaroff e fazer um anel feioso que usaria depois de decepar o crânio. Rita se parecer com Igor não era, nem de longe, boa coisa para si mesma.
- Entretanto eu quero que, ao menos, se esforce em usar o nome correto. Respondendo às suas perguntas: Sim, o passado interfere bastante nas minhas decisões, eu tento não ignorar de onde vim quando avalio aonde quero chegar. Me rebatizei porque fui criado por familiares que quis homenagear, entre eles, um sempre me chamou de Harrison, mesmo enquanto eu ainda estava na barriga da minha mãe e foi minha forma de dizer que reconheço o que ele fez por mim. Com esse nome, eu pude dizer que reconhecia a nova família como meu lar, não foi uma medida de segurança ou isolamento, apenas um sinal para eles do que significavam para mim. Agora, eu continuarei a entrevista, se... – apontou para a pena. – Sumir com isso! Eu disse que me importava – insistiu tentando manter a calma.
Odiava ser tão descaradamente desafiado e aquela coisa o estava fazendo.
Não só isso, as frases pioravam:
"As lágrimas marejaram aqueles olhos espantosamente verdes quando a nossa conversa se voltou para o passado, ele tenta se refugiar nos braços de outros parentes e se reconhecer ali, mas fica claro que o vazio causado pela ausência daqueles que lhe deram à luz foi doloroso demais até para manter o nome que lhe deram..."
Nunca deu entrevistas exatamente por coisas desse tipo.
Jornais modificavam a verdade para torná-la mais interessante e Hazz gostava de fatos. Podia lidar com aqueles absurdos, não o atingiam de forma alguma. Pelo contrário, eram até bem úteis para criar uma imagem mais frágil e "manipulável" que lhe serviria como "O elemento", mas...
Praticamente podia ver Voldemort rindo enquanto lia uma notícia daquelas e não gostou disso!
"Que fofo, ele não quer parecer um neném para minha contra parte" Tom não perdeu a chance de debochar, apesar de saber que Hazz só não queria dar um gostinho de vitória ao assassino dos pais que teria causado esses "olhos marejados".
- Harrison – disse Rita pausadamente e Hazz quase a parabenizou como um cachorrinho que enfim fez o truque certo. – Se ficar focado na pena não poderemos tornar isso...
- Você é incapaz de fazer seu trabalho sozinha? – questionou na hora.
- Como é? – a mulher perguntou muito indignada.
- Pensei ter dito nada de penas de repetição rápida, ou a senhorita as mantém por possuir algum tipo de deficiência auditiva severa que não consegue me ouvir nessa distância? Se for o caso não se preocupe, sei ao menos três tipos de linguagens de sinais europeias para me comunicar com a senhorita, uma delas é a britânica.
"Menino, assim você me mata uma terceira vez" ria Tom.
"Terceira?"
"Estou contando o diário que seu amigo grifinório apunhalou uma segunda... espere são quatro então com o evento do primeiro ano? Neville está me vencendo nessa de me matar, Harrison, se eu fosse você agilizava a próxima jogada contra Voldemort".
"Neville me pediu mais cedo para deixá-lo ser o herói na próxima" brincou.
"Só se for para te salvar. Não conta em tentativas de assassinato ao lorde das trevas".
"Não se preocupe, você sabe que já estou preparando a minha próxima. Só quero ter certeza de como Voldinho está se saindo".
"Voldinho? Que inferno, eu achando Fluffy o fundo do poço que sua mente pode criar de apelidos tolos".
- Potter – sorriu a repórter, em tom de quem falava com uma criança e agora Hazz quis puni-la como se pune um animal desobediente. Nada demais, um jornal enrolado na bunda devia bastar. – Como eu disse, uma pena dessas serve unicamente para facilitar meu trabalho e garantir que eu não deixe de registrar corretamente nenhum fato e acabe fazendo uma notícia ruim para nossos assinantes, evita falhas....
- Você tem tanta preguiça de fazer seu trabalho, possui uma desatenção ou é tão incrivelmente falha na própria profissão que precisa obrigatoriamente de um artigo mágico para pensar por você e impedir que erre, mesmo que revise o texto depois?
- Como é que é?! – questionou surpresa e claramente ofendida.
- Evidentemente essa coisa – apontou para a pena, que continuava se movendo. – Tem algum tipo de consciência, uma vez que escreveu e continua escrevendo frases totalmente diferentes das ditas aqui. Ela está tirando as próprias informações baseadas apenas em meias palavras ditas por nós, o que mostra que a senhorita – e fazia questão de dizer a palavra com ênfase, assim como em todas as outras vezes, mas desta ainda veio acompanhada de escárnio. – Tem um relapso e uma clara falta de compromisso para com a profissão. Uma redatora de um jornal tão popular em, pelo menos, quatro países, quase uma voz para toda uma parte da sociedade e diante de uma manchete ímpar, como já foi estabelecido até aqui, precisa que a magia faça o serviço por ela. Me recuso a acreditar que o profeta tenha alguém incapaz de transmitir mensagens por conta própria, sendo sua maior porta voz e quem vai me entrevistar depois de tantos anos afastado. Prefiro nem participar de uma brincadeira dessas se não levar a sério e fazer valer seu salário.
- Mas-
- Se fosse tão simples o trabalho como repórter, todo jornal poderia comprar um monte dessas e esquecer de bruxos com pagamentos tão expansivos como eu sei que o da senhorita deve ser! Isso é um descaso e-
- A pena passa para o pergaminho apenas o que o bruxo que a fez deseja! E não redige nada que eu não seria capaz de...
- Não me trate como tolo, Skeeter! - Interrompeu com uma firmeza que fez a mulher se afastar. Ele continuou com a voz descendo vários decibéis, se tornando mais grave, mais lenta e sombria – Se o fizer, vai me irritar e ninguém irrita um Black sem uma consequência. E eu serei lorde deles! Pode demorar, mas ela virá. Sou presidente do conselho estudantil da Durmstrang, trabalho diretamente com leis estudantis e por isso sei que nem na escola, mesmo que para simples aulas onde as anotações podem ser feitas como o aluno desejar, penas de repetição são permitidas. Inclusive, em nenhuma escola do mundo. Exatamente porque não reflete o conhecimento do portador, mas do feitiço lançado e como ele foi programado para acontecer. A senhorita pode...
- Eu programei essa pena, Potter! – interrompeu começando a ficar irritada, mas manteve o rosto sorridente em falsa simpatia. A forma como o garoto dizia "senhorita" a estava quase a enlouquecendo. – Eu poderia jurar isso, o que faz com que tudo que ela escreve seria exatamente o que eu manteria na redação final. São as minhas capacidades.
- Mesmo? A senhorita está me dando sua palavra de que tudo que essa pena escreve é parte da sua própria vontade e nada além disso?
"Olha que cobrinha ardilosa você..." murmurou Tom "Entendi onde quer chegar" sua voz pingava admiração e orgulho.
"Sou o lorde delas, querido" respondeu retirando os óculos.
"Sua ética de 'trabalho' às vezes me surpreende, garoto. Mas é por isso que gosto tanto de você".
- Exatamente – concordava Rita, enquanto Hazz fingia limpar as lentes de seus óculos.
- Entenda meu ponto, senhorita Skeeter. Quero uma confirmação completa de que tudo que sair no jornal foi obra de suas próprias vontades, capacidades e sem interferência mágica – forçou um sorriso simpático. – Sendo minha primeira aparição pública em anos, quero ter certeza de que valerá e o profeta diário, com toda a sua importância parece ser o ideal, mas eu tinha grandes expectativas em vocês e o uso de magia para a execução do trabalho me parece... decepcionante.
- Eu lhe dou minha palavra de que fui eu que encantei a pena, que tudo do que ela escrever foi de minha vontade e que ainda haverei de revisar o texto, assim como tudo que for publicado foi obra minha e minhas palavras somente – disse com convicção, zangada eu suas capacidades como repórter tivessem sido questionadas.
- Jura que será única e totalmente responsável pela reportagem e não uma magia ou qualquer ação de terceiros?
- Claro!
- E que tudo que publicará será unicamente para fins de informar a população mágica da Grã-Bretanha? Jura que é uma repórter séria?
- Evidente que juro! – bufou cruzando os braços.
- Que assim seja – murmurou Hazz com um sorriso discreto.
Tom riu alto quando a magia de Rita Skeeter a prendeu em sua própria jura.
Hazz poderia ter acrescentado à promessa que ela só publicaria verdades, chegou a pensar nisso, seria tão fácil quanto o restante "jura que tudo que publicará será apenas a verdade do que foi dito", mas isso faria Rita mentir.
Ela não tinha intenção de ser puramente sincera e quando sua magia sentisse que sua vontade era contrastante com as palavras, elas não teriam a mesma força. Obrigá-la a assumir as consequências de seus atos, sejam eles quais fossem, isso já era mais o estilo do Potter e a magia colaboraria consigo. Graças à própria tolice de Skeeter e (de novo) à mania bruxa de não tomar cuidado com as próprias palavras.
Ele a manipulou para ficar irritada e dizer aquelas coisas? Sim. Mas não fazia diferença se ela jurou e sua magia respondeu a isso.
Mais disposto agora, recolocou seus óculos:
- Podemos recomeçar, então? Sinto muito se pareci agressivo, ácido ou antipático, é uma reação causada pelo estresse, veja bem. Como você ouviu do meu vice-diretor anteriormente, eu não queria participar desse evento, não coloquei meu nome...
A repórter ergueu a sobrancelha fortemente delineada e o interrompeu:
– Ora, Potter, não precisa ter medo de entrar numa fria. Todos sabemos que você não deveria ter se inscrito. Mas não se preocupe com isso. Os nossos leitores adoram rebeldias.
– Mas eu não me inscrevi – repetiu Harrisson recuperando a vontade de esfaqueá-la.
Mais três dessas e ele a dava de presente para Nagini fazer o que quisesse. Se escolhesse por vestir a pele da insuportável e sair andando por aí, ele aceitaria.
– Não sei quem fez, mas eu jur-
– Como é que você se sente com relação às tarefas que o aguardam? – perguntou Rita Skeeter. – Excitado? Nervoso?
Duas.
Rita precisava de mais duas só.
Detestava ser interrompido.
Foi puxado, arrastado, seu espaço pessoal invadido, contrariado, ignorado e interrompido. Se Harrison não fosse alguém muito paciente e benevolente, essa mulher estava condenada.
Ainda tinha duas chances.
Decidiu por ignorá-la também:
- Nervoso. Quer dizer, depois que o diretor de Hogwarts, responsável por proteger a taça que escolheria os campeões, foi incapaz de criar uma proteção que impedisse um menor de idade de ser inscrito contra a sua vontade, ou seja, por outra pessoa qualquer, eu já não acredito na capacidade desse torneio de não matar alguém, nem que seja sem querer por negligência profissional – respondeu ácido.
A forma como os olhos de Rita brilharam, mostrava que ela tinha mordido a isca.
- Veja bem, não quero insinuar nada, mas sempre escutei como Dumbledore era um dos maiores bruxos de nossa geração, mas ele não pensou em colocar um feitiço que impediria uma pessoa de prender outra em um contrato dessa gravidade? Foi frustrante, para dizer o mínimo, um descaso – esfregou o rosto com as mãos.
Tom sorriu dentro da cabeça do garoto, vendo como sua mente estava pensando, os planos que geraria.
Hazz tinha pensado em usar a informação dada por Voldemort, mas conseguiu algo que parecia tão mais divertido.
Deixar que Rita cavasse a própria cova com sua caneta afiada, porém tola.
Futuramente poderia descobrir se seu priminho o tinha oferecido uma informação verdadeira ou não. Por hoje... sempre foi mais do agrado de Harrison tratar as pessoas de acordo com o que mereciam. Daria uma chance a Rita. Claro, ele ainda ferraria com ela pela manchete sensacionalista dos Longbottom, mas poderia ter consequências menos dolorosas se não mordesse a isca:
- Alguém como eu, com a história que tenho, parece tolice não conhecer aquilo que matou minha família e quase me levou junto. Prefiro o inimigo conhecido, senhorita Skeeter.
Os olhos da repórter esbugalharam-se e brilharam como se tivessem acabado de lhe mostrar o nirvana. Ela pareceu em êxtase e sua pena agitou-se correndo pelo pergaminho loucamente.
Harrison tinha leitura rápida, mesmo do ângulo já começou a identificar as próximas frases:
"Traumatizado pela guerra e o que as artes das trevas lhe fizeram tanto mal, o garoto..."
"Você pode fazer pior", provocou Tom.
"Eu sei. Muito pior" e com esse pensamento acrescentou:
- Outra que, eu não lembro deles, só da morte deles.
- Como é?! – ralhou Skeeter chocada, porém empolgada, mal disfarçando as emoções.
- Eu lembro daquele dia, senhorita. Quando Voldemort entrou na minha casa – ele evitou rir quando a mulher deu um pulo no seu lugar, totalmente em choque com o uso do nome, mas não permitiu que ela sequer se recuperasse antes de jogar mais lenha naquela fogueira. – Sonhava bastante quando era criança, apesar das memórias já serem bem vagas agora.
"Exceto que tenho um pedaço do lorde das trevas comigo, um adulto, que tem a memória desenvolvida e um trauma com aquela noite assim como eu, então minhas memórias enquanto Harry provavelmente são zero, mas sei contar em detalhes o evento pelas memórias dele, que a tempos se fundiram as minhas" acrescentou mentalmente.
Lembrou-se de um de seus irmãos, o do meio, lhe perguntando uma vez como Harrison poderia lembrar de tanta coisa do passado, de quando era novo demais para ter alguma racionalidade. Enquanto a família até então supunha que era algum tipo de gênio precoce, um prodígio, Hazz disse: "eu sou um Grindelwald antiquado" e todos da casa riram. Mesmo assim, ele explicou melhor depois.
Por sua mente já estar tão ligada à da horcrux, que era um adulto com mente já bem consciente, as memórias de ambos se confundiam. Quando via as coisas, era como uma fusão do que ambos tinham de um momento específico. Sobre a noite de Samhain, é bem provável que Hazz tivesse tido pesadelos nos primeiros anos de sua vida, mas seriam memórias abstratas e passageiras, assim como acontecia com um bebê qualquer, mas não foi assim pois sua consciência aos poucos esteve lado a lado com a de um adulto que guardava essas recordações com bem mais clareza. Atualmente ele sabia que tinha mais a recordação de Tom que a própria, mas inegavelmente sua mente registrou muito mais coisas da infância que o normal, porque tecnicamente estava mais avançada pela influência do corpo externo.
Além disso, assim como qualquer outra memória que nossa mente nota um buraco, ele apenas criou lembranças falsas para tapar lacunas. Tinha memórias dele subindo as escadas no colo da mãe, dela chorando quando o pai morreu, mas... Não tinha certeza se era algo real. Não se lembrava como ou quando ela colocou uma barricada na porta, nem em que momento ela estava agachada a sua frente lhe dizendo que o amava.
Nem tinha certeza se aquela era uma memória do Halloween de 81 ou se tudo já tinha se misturado com algo mais profundo;
Podia ser algo que ele queria que tivesse acontecido, não uma verdade.
Ele queria que sua mãe tivesse lhe dito que o amaria incondicionalmente, que ele poderia ser o que quisesse. Consolaria a parte que sempre se sentia mal pensando que seus pais abominariam suas escolhas, sua ligação com Tom.
Certeza ele só tinha do que Tom também tinha vivido.
Entretanto, é claro que podia recuperar essas memórias. Fazia parte do seu dom, afinal. Bastava ir até a casa destruída em Godric's Hollow e esperar, que de certo sombras do passado começariam a aparecer.
Só que não queria.
Não precisava daquela certeza, daquelas memórias tristes. Assistir como alguém que hoje ele amava foi capaz de lhe tirar duas pessoas que, cada dia mais tinha certeza, teria sido mais do que feliz junto. Ficar olhando para o passado podia ser tão prejudicial quanto só vislumbrar o futuro. Os ossos do ofício de videntes. Era melhor ficar apenas no presente.
- Você lembra? Isso – murmurou Rita tentando pensar qual pergunta faria primeiro. Tinha tantas!
A primeira impressão que teve de Harry Potter foi sua beleza. Era simplesmente o garotinho mais belo que já vira na vida.
Nem hesitava em dizer isso.
Era uma mulher decidida e quando o viu passar pela porta com aqueles cabelos negros perfeitamente bagunçados (pois mais irônico e paradoxal que fosse colocar aquelas duas palavras juntas) e olhos esmeraldas tão belos quanto as próprias joias no mais bem feito anel, ela ficou impressionada que pudesse existir humano com aquela aparência.
[N/A: Paradoxal. adjetivo de dois gêneros 1. que contém ou se baseia em paradoxo(s). 2. que aprecia paradoxo(s).
Paradoxo ou oximoro é uma caracterizada pela expressão de uma ideia contrastante e contraditória. Contudo, se a frase apresenta apenas contraste, ele se configura em uma antítese, portanto, para ocorrer o paradoxo, obrigatoriamente, é preciso haver uma contradição. Desse modo, os paradoxos podem ser verídicos, falsídicos ou condicionais. Exemplos de Paradoxos são ideias verídicas como: "Mesmo que um hotel com infinitos quartos esteja completamente cheio, ele ainda pode receber mais hóspedes", ou mesmo orações simples contraditórias: "Estamos vivendo uma guerra pacífica; O prazer é doloroso para aqueles que amam; Estou cansado de ouvir essa sua sinceridade falsa; O som do silêncio, para algumas pessoas, é perturbador; Ela acreditava na vida após a morte".]
Não era exatamente o tipo de pessoa que imaginava, mas tão pouco tinha uma imagem mental clara do garoto que sobreviveu. Dito isso, era aí que estava a questão.
Harry não parecia com um garoto.
Uma criança, ao menos não totalmente. A forma como falava, como a olhava, podia jurar que quando o empurrou para dentro do armário, seus olhos absurdamente verdes haviam se tornado vermelhos e era só uma das coisas estranhas nele. Sua voz era outra. Rita Skeeter já irritou muitos bruxos poderosos e nenhum nunca conseguiu mais do que gritar palavras vazias de ameaça para si.
Mas ela ficou com medo de Potter.
Nunca admitiria isso, tentou ao máximo não demonstrar, mas quando ele tirou os óculos para limpá-los e lhe encarou, mesmo sabendo que Potter devia estar enxergando menos que o normal, de repente pareceu que estava exposta. Como se toda a sua vida, toda a sua existência estivessem diante daquela cor chamativa.
Por alguns poucos segundos, pensou que estava se metendo onde não devia.
Não no bom sentido da coisa. Como um grande furo jornalístico. Seus instintos apenas disseram: não. Pare de irritá-lo, apenas pare.
Então ele se explicou, foi cordial e passou a responder suas perguntas e, de repente, havia uma terceira impressão do menino. Agora sim, um simples menino. Confiante, sem dúvida, alguém em posição de poder (ele não tinha dito que era presidente ou algo assim?), mas um menino que só estava tentando fazer as coisas certas.
Uma criança com fantasia de Lorde.
Quase riu de si mesma que tivesse se assustado antes.
Venderia muitos jornais com aquela história. A tragédia do menino que sobreviveu! Traumatizado, tentando fugir do passado, nunca conseguindo, atormentado por pesadelos constantes e tomando para si a arma do inimigo para se ver minimamente protegido no mundo cruel que o deixou órfão!
Tiraria cada gota que fosse possível daquela notícia!
E que notícia seria!
O dono do jornal ficaria em êxtase, sem dúvida.
- Senhor Potter – começou porque percebeu que o menino ficava mais receptivo ao ser tratado com cordialidade e respeito.
Pobre criança, a coisa toda da fama deve ter lhe subido à cabeça. Ou a pressão de ter de ser adulto agora. Tinha que exigir das pessoas que o tratassem como um lorde (futuro lorde Black!) quando sequer deveria ter direito a coisa. Realmente um menininho tentando se encaixar em pele de lobo no meio do caos e do mata-mata que era a alta sociedade londrina.
Daria ao menos essa pequena vitória ao pequeno lordezinho:
– O senhor diz que se lembra? - continuou formal e viu como as esmeraldas nas irises brilharam diferente. O pequeno realmente se sentia, vejam só – Se não for doloroso para o senhor - continuou naquele tom falso de reverência, mas para a tristeza da mulher loira, antes que pudesse dizer mais a porta do armário de vassouras se escancarou.
Harrison olhou à volta, piscando para a claridade. Alvo Dumbledore estava parado ali, contemplando os dois apertados no armário.
– Dumbledore! – exclamou Rita Skeeter, parecendo encantada, mas Harry reparou que a pena e o pergaminho tinham repentinamente desaparecido da caixa de Removedor Mágico e os dedos da jornalista com garras nas pontas fechavam apressadamente a bolsa de crocodilo. – Como vai? – disse ela, erguendo-se e estendendo uma das mãos grandes à Dumbledore. – Espero que tenha visto o meu artigo durante o verão sobre a conferência da Confederação Internacional de Bruxos?
– Encantadoramente maldoso – respondeu o diretor com os olhos cintilantes. – Gostei principalmente da descrição que fez de mim como um debiloide ultrapassado.
A repórter não pareceu sequer remotamente desconcertada, mas Harrison cobriu a boca e fechou os olhos para disfarçar sua reação àquilo.
"Você não pode estar rindo de algo que esse bode estúpido disse!" reclamou Tom.
"Estou rindo porque não sei se parabenizo Rita por chamá-lo disso no jornal, Dumbledore por dar essa resposta, ou se dou um tapinha na cabeça de ambos para dizer que, ao menos antes de eu ferrar com eles, serei bonzinho porque me divertiram".
Tom achou o comentário divertido o bastante para deixar que Albus ficasse com aqueles pontos para si, mas ainda estava irritado, a simples cara do velho professor o deixava furioso.
Tanto, que se calou.
- Eu só estava tentando mostrar que algumas de suas ideias são um tanto antiquadas, Dumbledore, e que muitos bruxos nas ruas...
- Ficarei encantado de ouvir o raciocínio que fundamentou a grosseria, Rita – disse Dumbledore, com uma reverência cortês e um sorriso –, mas receio que tenhamos de discutir esse assunto mais tarde. A pesagem das varinhas vai começar e não pode ser realizada se um dos campeões estiver escondido em um armário de vassouras.
Satisfeitíssimo de se afastar de Rita Skeeter, Harrison correu de volta à sala. Os outros campeões estavam agora nas cadeiras junto à porta, e ele se sentou depressa ao lado de Cedric e Viktor, com os olhos na mesa coberta de veludo, onde agora havia quatro dos cinco juízes – o Prof. Karkaroff, Madame Maxime, o Sr. Crouch e Ludo Bagman. Rita Skeeter se acomodou a um canto; Harry a viu tirar discretamente o pergaminho da bolsa, abri-lo sobre um joelho, chupar a ponta da pena-de-repetição rápida e equilibrá-la mais uma vez sobre o pergaminho.
- O que fez com ela? – sussurrou Viktor. – Ouvi mais de um grito.
- Nada.
- Nada? – questionou descrente.
- Ela se assustou sozinha – sorriu.
Viktor riu:
- Sei.
Cedric os encarou pelo canto dos olhos.
- Gostaria de lhes apresentar o Sr. Olivaras – Dumbledore anunciou, ocupando seu lugar à mesa dos juízes, e se dirigindo aos campeões. – Ele vai verificar suas varinhas para garantir que estejam em boas condições antes do torneio.
Harry olhou para os lados, viu um velho bruxo com grandes olhos azul-claros parado discretamente à janela. Já encontrara o Sr. Olivaras antes – era o fabricante de quem comprara a segunda varinha (gêmea de Tom), havia algumas semanas no Beco Diagonal.
- Mademoiselle Delacour, poderia vir até aqui primeiro, por favor? – disse o Sr. Olivaras postando-se no espaço vazio no centro da sala.
Fleur Delacour fez o que o bruxo pedia e lhe entregou a varinha.
– Humm... – disse ele. O Sr. Olivaras girou a varinha entre os dedos longos como se fosse um bastão, e ela emitiu várias faíscas rosas e douradas. Depois aproximou-a dos olhos e a examinou atentamente. – É – disse baixinho –, vinte e quatro centímetros... inflexível, jacarandá e contém... meu Deus!
– Um fio de cabelos de veela – disse Fleur. – Uma das minhas avós.
Então Fleur era em parte veela, pensou Harrison, anotando a informação mentalmente para contar à Neville. O amigo, com certeza, faria o trabalho de zombaria com Rony...
Mas então suas costas doeram o lembrando de como e porque seu dia estava uma porcaria.
Inspirou e expirou profundamente, contando quatro segundos para cada ação. Viktor notou isso e segurou sua mão que estava na perna, mantendo apertada com a mesma força que queria oferecer ao amigo. Hazz sorriu para o seu grã-duque:
- Obrigada – sussurrou.
- Eu estou aqui, se ficar nervoso aperte. Eu aguento – sorriu, acariciando a cabeça do mais novo com ternura.
Cedric achou a interação bonita e desviou os olhos, se sentindo culpado por sua curiosidade, mas Viktor era sempre tão frio e distante, que chegou a ser fofo a diferença de seu olhar quando se tratava do amigo. Bem que Natasha disse que eram próximos.
- Confere – murmurava o Sr. Olivaras –, confere, eu nunca usei cabelo de veela, naturalmente. Acho que produz varinhas temperamentais. No entanto, o seu a seu dono, se ela lhe serve.
O fabricante correu os dedos pela varinha, aparentemente à procura de arranhões ou saliências; então murmurou "Orchideous!" e saiu um ramo de flores da ponta.
– Muito bem, muito bem, está em ótimas condições de funcionamento – disse o Sr. Olivaras, recolhendo as flores e oferecendo-as a Fleur juntamente com a varinha. – Sr. Diggory, agora o senhor.
Fleur retornou delicadamente à sua cadeira e sorriu para Cedric quando o garoto passou.
– Ah, esta é uma das minhas, não? – disse o Sr. Olivaras, com muito mais entusiasmo, quando o lufano lhe entregou a varinha. – É, lembro-me bem dela. Contém um único pelo da cauda de um unicórnio macho particularmente belo... devia ter um metro e setenta; quase me deu uma chifrada quando lhe arranquei um fio da cauda. Trinta centímetros... freixo... agradavelmente flexível. Está em boas condições. O senhor cuida dela periodicamente?
– Lustrei-a à noite passada – disse Cedric sorrindo.
Harrison tomou aquilo como um lembrete. Puxou a varinha de azevinho do coldre de pulso e a de cedro da perna (essa com um pouco mais de dificuldade) e olhou para elas. Tinha lustrado a primeira a pouco tempo, mas a segunda estava igual desde que saíra da loja, a o que? Um mês? Não estava em más condições, então não viu para que polir ou algo do gênero. Dava para ver marcas de dedos em partes de sua extensão, mas nada chocante.
O Sr. Olivaras disparou uma sequência de anéis de fumaça prateada pela sala da ponta da varinha de Cedric, declarando-se satisfeito e, em seguida, disse:
– Sr. Krum, se me faz o favor.
Viktor levantou-se e foi até o Sr. Olivaras. Entregou a varinha e ficou parado, de cara fechada e mãos nos bolsos das vestes.
Hazz decidiu provocar seu "brat":
- Viktor, dá um sorrisinho ou vai assustar o senhor Olivaras – o amigo o olhou e deu um sorriso estranho com todos os dentes, cheio de deboche, Hazz fez uma careta: - Esquece, assim assusta mais.
Cedric não conteve a risada da interação dos dois, assim como Lakroff, que sempre gostou de Krum e da relação que ele e seu neto criaram.
– Não se preocupe, senhor Krum, não me assustei com o senhor – garantiu o artesão de varinhas, simpático e entrando na brincadeira – Vejo que essa é uma criação de Gregorovitch, a não ser que eu esteja enganado. Um excelente fabricante de varinhas, embora o estilo nunca seja bem o que eu... contudo...
Ergueu a varinha e examinou-a minuciosamente, revirando-a várias vezes diante dos olhos.
– É. Bétula e corda de coração de dragão? – perguntou a Krum, que confirmou com a cabeça. – Um pouco mais grossa do que se vê normalmente. Bastante rígida, vinte e seis centímetros. Avis!
A varinha de bétula produziu um estampido como o de uma pistola e um bando de passarinhos chilreantes saiu voando de sua ponta, pela janela aberta, em direção ao sol desbotado.
– Ótimo – exclamou o Sr. Olivaras, devolvendo a varinha a Krum. – Resta agora... o Sr. Potter.
Harrison se levantou e passou por Krum para chegar ao Sr. Olivaras, o amigo aproveitou a chance de interceptá-lo e usou seus braços maiores e mais fortes para agarrá-lo e lhe fez cócegas na barriga, ao que Hazz riu e o empurrou para desviar correndo. Dessa vez, mais de uma pessoa sorriu para os dois adolescentes. Olivaras se pegou pensando em como a juventude era boa e torcendo para que ambos os garotos ficassem bem nas provações que os aguardavam.
Era quase um refresco ver dois garotos tendo uma interação tão natural e amistosa.
- Duas varinhas, senhor Potter? – perguntou o perito sorrindo.
- Sim senhor. Esta, o senhor já conhece – disse entregando a de azevinho.
– Aaah, sim – o homem murmurou, seus olhos azul-claros repentinamente brilhando. – Sim, sim, sim. Lembro-me muito bem. Azevinho, vinte e oito centímetros, uma única pena da cauda de uma fênix.
Olivaras se mostrara muito surpreso, na época da compra, que Harry fosse tão compatível com aquela varinha. Mas foi o único. A irmã de Harrison, quando soube que o menino tinha uma "versão dois" da varinha de Voldemort, riu e disse que ficou surpresa apenas que tivesse demorado tanto para achá-la, que esta (assim como a de cedro) deveria ter voado pela loja quando Harrison entrou.
Tom concordou.
- "Curioso" – disse Harry, relembrando as palavras de Olivaras, que aumentou seu sorriso, agora cheio de dentes.
- Sim, ainda não deixou de ser.
Apenas Lakroff entendeu a troca de olhares que os dois tiveram, o momento de reconhecimento, uma informação interna.
- O que é curioso? – perguntou Rita, incapaz de se manter quieta sua intromissão.
Harrison realmente desejou que o Sr. Olivaras não fosse contar aos presentes sobre Voldemort. Tinha a estranha sensação de que a pena-de-repetição-rápida de Rita Skeeter poderia explodir de excitação se isso acontecesse. O homem, entretanto, também pareceu acreditar que aquela era uma informação pouco pertinente de se compartilhar:
- O senhor Potter foi um cliente difícil. Mas quando segurou esta varinha soubemos que era a certa. Isso foi curioso – mentiu e o de cicatriz de raio sorriu agradecido.
Passou-se mais um tempo com o artesão examinando a varinha de Harry, mais do que a dos demais. Por fim, porém, fez jorrar uma fonte de vinho e devolveu-a, anunciando que o objeto continuava em perfeitas condições.
- A outra? – questionou segurando a empolgação.
Na última visita de Potter à sua loja, o menino fora sem a sua (o que era incomum, a maioria dos bruxos que desejava uma segunda, levavam a primeira para procurarem algo do mesmo estilo, agilizando a compra). Não só isso, o garoto também não deu muitos detalhes sobre o primeiro artigo, disse que achava algo pessoal.
Dessa vez, entretanto, Hazz entregou o objeto. Olivaras notou que agiu com extrema cautela e, assim como o menino esperava, sua varinha começou a reagir. Temperamental, como sempre. Odiava qualquer outro bruxo.
Olivaras sentiu a madeira aquecer, a ponta brilhou, então...
Desligou.
A varinha simplesmente desligou como se nem tivesse qualquer propriedade mágica. Parecia tão vazia quanto segurar um graveto qualquer.
Foi...
- Curioso! – exclamou espantado aproximando a coisa de seu rosto para ver melhor.
Harry riu:
- O senhor conhece outra palavra quando se refere às minhas varinhas? – brincou.
Olivaras acabou rindo também:
- O senhor terá alguma varinha normal?
- Eu não sou do tipo "normal", senhor.
O mais velho riu de novo:
- Você tem razão, senhor Potter, completa razão. Um bruxo extraordinário, realmente.
- Eu tomaria cuidado com ela perto da face – avisou, no que o artesão a afastou um pouco. – O fabricante dela tinha medo que ela explodisse e a mantinha numa caixa guardada longe de mãos. Era mais um enfeite que qualquer coisa.
- Ela é realmente muito bela, detalhes sutis, bem trabalhados, mas também rústica. Como ela chegou até você?
Hazz sorriu de canto:
- Essa menina aí botou fogo na caixa e ficou tremendo assim que me aproximei.
- Incrível, realmente... o senhor também causou um nível de destruição na loja de... isso é obra de Gregorovitch, imagino? Mesmo que tenha uma delicadeza maior do que ele geralmente dá aos entalhos.
- Ele mesmo. Imagino que a minha era um teste completo, tanto de núcleo quanto de seu estilo padrão, normalmente mais bruto e objetivo. Sim, quebrei muita coisa na minha visita. Principalmente... queimei. Uma porta teve que ser trocada, nem os feitiços de proteção suportaram, mas imagino que os mais fortes estavam na madeira das varinhas, e não em portas.
- Também imagino – riu alto, com todo o corpo, bem divertido. – Cedro, 37 centímetros, total e completamente inflexível – comentou negando com a cabeça divertido. – Ela não funcionará para mim, nem para ninguém. Uma das mais decididas que já vi. Você é seu mestre e apenas você. Uma lealdade muito rara, você já encontrou alguém que conseguisse...
- Não. Ela sempre "morre" na mão de qualquer outro – mas no instante que disse isso, Harrison teve um pensamento errante.
Na mão de Tom, será?
"Acho que não. Ela é sua" murmurou a Horcrux.
"Mas você tem alma em mim..."
"Talvez sim, mas ainda acho que ela não seria enganada por isso. Ela saberia a diferença, mais do que veria a semelhança".
- Imagino – comentou Olivaras sacudindo a varinha. Totalmente inútil. – O núcleo, senão vejamos... – ele estreitou os olhos e depois os arregalou. – Não me diga! Vejam só! Uma réplica, será? – sussurrava mais para si, mas Harrison ainda escolheu responder.
- Ele começou assim – contou, entendendo o que o homem estava querendo dizer.
Aquela era, no fim, uma varinha que começou como tentativa de replicar a varinha das varinhas. Pertencente a Gregorovitch antes de (coincidência interessante que fosse justamente seu bisavô, ou não) ser roubada por Gellert Grindelwald. Olivaras encarou Harrison ainda mais espantado e naquele instante um barulho alto foi escutado no canto da sala. A maioria olhou para Lakroff que encarava uma mesa estirada no chão.
– Sou um Peverell, imagino que saiba – contou Harrison para Olivaras aproveitando a distração oferecida por seu avô (tinha certeza de que de propósito).
- Desculpem-me – dizia o semialbino do outro lado da sala, enquanto Minerva ria à sua esquerda. – Fui para trás e não vi.
- O senhor se assustou com o que afinal? – perguntou a mulher, pois notou quando ele deu um pequeno salto que o fez derrubar o objeto.
- Te juro que foi com um besouro que passou muito perto do meu rosto. Que bom que nunca tentei passar a imagem de lorde viril para a senhorita, McGonagall, ou eu teria me denunciado agora – piscou travesso.
- Viril não parece ser seu tipo de pessoa, lorde Mitrica – murmurou também em tom de brincadeira. – Algo como...
- Sábio, recluso, misterioso, mas cheio de estilo e bem apessoado? – ofereceu com um sorriso.
- Um piadista também – acrescentou. – Do tipo que faz jantares onde todos saem rindo, não sabemos se de suas piadas ou porque já estão quentes após você fazê-los experimentar sua coleção de vinhos raros.
- Como adivinhou?! – exclamou. – Será que já posso convidá-la para o próximo encontro informal? Se for do seu agrado experimentar alguns, tenho um tinto recém adquirido que é divino.
Minerva ia responder, mantendo a brincadeira agradável, mas Albus Dumbledore começou a tossir muito e de forma estranha, fazendo a amiga mudar um pouco para encerrar aquela conversa.
Harrison, entretanto, não estava prestando atenção a nada disso. Ele e Olivaras ainda conversavam:
- Entendo – murmurou o mais velho. – Um sangue sagrado dos antigos necromantes, incrível.
- Eu não diria que sou sagrado, mas-
- Sim, sim, a composição faz sentido – continuou o especialista, ignorando o garoto (mas, dessa vez, não se irritou). – Vejo que há – estreitou outra vez os olhos, encarando a madeira. – Curioso, o mesmo que ele, mas não parece veneno...
- Sangue de basilisco – esclareceu o Potter. – Derramado por acidente.
- Sangue?! – exclamou em choque e todos os outros da sala (que observavam a interação de Minerva e Lakroff momentaneamente distraídos) voltaram-se para Olivaras.
O homem sabia que veneno de basilisco não era a mistura mais comum, era para bruxos ambiciosos e autoconfiantes, uma substância de núcleo temperamental e leal, assim como esta se mostrava, mas sangue? Isso era novidade. Diferente de tudo que já vira. Nunca presenciou uma varinha com sangue da criatura, afinal o veneno ficava apenas nas presas.
Sangue de cobras, no geral, eram usados em outro aspecto muito diferente que seu veneno, na medicina. Para tratamento de doenças, produção de pomadas e...
Ele olhou para Harrison.
Aquilo era realmente interessante. O menino que sobreviveu, aquele que derrotou "você-sabe-quem". Se o lorde das trevas tinha veneno, que matava, que representava a parte que todos evitavam das serpentes e a tornavam tão odiosas...
O menino tinha sangue.
Um matava.
Outro, se usasse da forma correta, curava. Mas... Isso era o mais interessante e que gritava naquela varinha: se usasse da forma correta. Era algo circunstancial. Diferente do veneno, simples e objetivo, era algo que poderia oferecer muito, na mesma proporção que nada nas mãos erradas. Uma varinha sempre falava muito sobre seu mestre.
Essa gritava, mas até que ponto deveria interpretar esses gritos?
Uma dualidade, sem dúvida. Uma ligação impressionante, aqueles dois, o lorde das trevas e o menino que viveu. O que haveria de significar tudo isso?
- Mas parece que há uma gota... – "de veneno" ficou subentendido. Se Potter não quis falar abertamente de sua varinha na loja apenas com eles, que dirá na frente do jornal. Esperava, entretanto, que o menino entendesse enquanto passava os dedos pelo objeto.
- Imagino que possa ter – respondeu. – Gregorovitch pretendia usar o mais comum, mas tinha pouco em seu frasco, ao que me contou. Então saiu deixando uma caixa com tudo que possuía da criatura em questão ao lado e foi averiguar se não restará nada no depósito, guardado em outro lugar por descuido. Seu pupilo, entretanto, estava carregando algumas coisas que cobriam sua visão e bateu na mesa, derrubando várias coisas. História interessante, não acha?
- Interessante é meu colega não ter desistido dessa varinha.
- Ele disse que estava ficando bonita demais para isso e servia para a decoração da loja.
- Deve ter sido isso o que o fez se dedicar a esses entalhes – pensou virando em sua mão, passando por cada vão bem feito. Por ser totalmente preta eles não ficavam exagerados e de longe, na verdade, parecia bem simples. A beleza estava justamente na sua sutileza. Era realmente uma peça e tanto. – Muito curioso... – murmurou ainda impressionado. Sangue de cobra era usado para remédios, mas basilisco era um animal mágico único, sem dúvida, seu sangue poderia ter propriedades próprias ainda inexploradas. Uma varinha que era um mistério, também dizia algo sobre seu dono? – Reflete o senhor, sem dúvidas – Hazz apenas sorriu. – Nundu?
- Nundu?! – exclamou Rita, a pena se agitando no ar. – Mas isso é proibido, não é?!
- No nosso país, sim – esclareceu Olivaras. – Não à toa o senhor Potter comprou outra comigo quando veio estudar em Hogwarts.
- Ele será autorizado a usar um artigo proibido? - perguntou a repórter.
- Seria injusto com os participantes de outras culturas e outras leis limitá-los às nossas. Estão autorizados às suas varinhas e magias, é claro – explicou Lakroff.
- Que quer dizer?
- Exatamente o que parece. As artes das trevas são legais na competição.
A mulher arfou e olhou para os outros juízes, como se esperasse que negassem ou confirmassem, quando nenhum deles disse nada, perguntou:
- Mas os participantes de Hogwarts e da escola de magia francesa?
- Beauxbatons – corrigiu Lakroff enquanto Maxime parecia pessoalmente ofendida que a repórter sequer soubesse o nome de sua escola. – Eles também estão autorizados, uma vez que deve ser uma competição justa, entretanto se eles usarem algum feitiço sombrio, teriam que ter treinado antecipadamente, não é mesmo? Não faz sentido usar uma magia que acabou de se conhecer, dito isso onde e quando treinaram se eram proibidos? Podem ser indiciados por crime contra as legislações vigentes de seus países a depender do que fizeram, mas isso é cada um com suas próprias leis locais.
- Mas então – começou Rita, só que Lakroff a interrompeu.
- Entenda que, da mesma forma que eles não tiveram tempo ou oportunidade para estudar artes das trevas, meus alunos não tiveram tanto treino em magias puramente da luz, como os outros dois. O objetivo é que cada um possa se sentir livre para escolher aquilo que tem mais afinidade e tempo de treinamento para garantir o seu melhor em cada desafio. Simples assim. Proibir artes das trevas, faria com que Harrison ou Viktor tivessem apenas metade de todo o currículo deles, enquanto a senhorita Delacur e o senhor Diggor estariam em pleno desempenho.
Rita apenas acenou com a cabeça, sua pena correndo loucamente pelo pergaminho.
Dumbledore olhou irritado para aquela coisa.
- O que você pensa disso, Dumbledore? Em vista de que é alguém conhecido como senhor da luz? – perguntou a repórter, de repente.
- Não há o que pensar - respondeu sem lhe dar muita atenção.
- Não tem nenhum posicionamento? Estarão fazendo uma exibição de magia proibida na frente de várias crianças. O senhor, como diretor e figura política não se preocupa com os efeitos e a influência de algo tão nocivo acontecendo na sua escola? Os pais dos alunos estão sabendo.
- Como é?! – questionou Karkaroff, agora ele que se sentia ofendido.
- Nocivo? - murmurou Lakroff.
- Acredito que meus alunos terão discernimento o bastante para separar o certo e o errado – respondeu Dumbledore num suspiro resignado. – Cabe a eles a decisão do que fazer com suas vidas, a escola cabe mostrar os caminhos e os problemas em cada um. Esperamos tê-los ensinado bem o bastante para que não se deixarem levar por um show. Na hora de tomar as decisões dos caminhos corretos da magia...
- Como é?! – questionaram Lakroff e Igor ao mesmo tempo. Hazz e Viktor cruzaram os braços indignados da mesma forma.
Olivaras dispensou Harrison, lhe devolvendo a varinha e o menino quase não registrou isso, ao voltar mal humorado para seu assento.
- Caminhos corretos? – questionou o Mitrica mais velho. – E quem decidiu isso? O senhor?
- As leis do meu país - respondeu Albus, os olhos brilhando para o Grindelwald. – Entenda que estou respondendo baseado apenas nos meus alunos e na minha política, professor Mitrica. O que vocês esperam da própria instituição não me diz respeito.
- Entretanto sua forma de se posicionar dá a entender algo ridículo como que os quatro países da Grã-Bretanha agora são responsáveis por decidir "o certo e o errado", não só enquanto magia, mas como termos para o mundo, isso mesmo que tenham bem mais países relacionados à minha escola, do que a sua – reclamou Igor e, pela primeira vez na vida, Harrison concordou com ele.
Realmente, ele e seu avô se espantaram em como sua frase foi eloquente e válida. Hazz quase bateu palmas e deu um petisco ao rato por uma demonstração de racionalidade.
- Não é isso que eu disse – Albus tornou a suspirar. – Apenas que os alunos de Hogwarts devem entender que existem proibições e perigos gritantes na sua forma de ver a magia. Que, o que pessoas de outras culturas fazem, deve ser respeitado, mas não necessariamente esse é um convite para se replicar uma vez que há consequências até mesmo legais nisso. Estaríamos ignorando nossa história e os avanços que tivemos depois de algo tão terrível e devastador como a guerra, um despeito por todos que se sacrificaram nela...
- Que merda ele quer dizer com isso?! – sussurrou Harrison indignado, em tom assassino que fez Fleur e Cedric tremerem em seus lugares.
Viktor imediatamente apertou sua mão, também irritado, mas temendo que sua alteza atacasse Albus pela ousadia de usar seus pais. Seria merecido, mas não era o momento.
Lakroff, por sua vez, borbulhou de fúria e apertou as mãos para tentar manter o rosto neutro. Por dentro ele estava louco, gritando:
"Tire o nome de Lily e James da boca, seu filho da puta" pensou.
- Escute, Albus, você... – começou Karkaroff, mas Lakroff o interrompeu decide a acabar com aquilo antes que ele arriscasse ser prezo só para poder arrancar as cordas vocais de Albus Dumbledore pela nuca.
- Entendo seu posicionamento, diretor. Claro, entramos aqui nessas divergências culturais e é compreensível que tema pela influência que a magia pode oferecer aos seus, que não tem o treinamento adequado além de tudo e podem se machucar...
- Não é apenas uma questão de treinamento, você - começou Albus, mas Lakroff continuou.
- Isso de forma que não só sua política desaprovaria, mas também os pais. O que lhe causaria problemas na administração e conselhos de ensino. Se importa se deixarmos para conversar melhor sobre isso na nossa reunião? Imagino que daqui iremos direto para ela?
- Se deseja assim, mas não vejo o porquê...
- Simplesmente o senhor abriu as portas para meus alunos estudarem com os seus, mas aparentemente o senhor vê nossa cultura como algum tipo de mau exemplo mesmo assim. Gostaria de entender até que ponto para que não haja mais desavenças.
"Mais?" pensou RIta, imaginando quem ela teria que interrogar para descobrir que outras desavenças haveriam tido. O clima obviamente não estava dos melhores entre os professores e aquilo era suculento.
- De forma alguma – respondeu Albus. – Seus alunos vêm sendo esplêndidos na verdade. Mostram uma dedicação e um empenho ímpar nas aulas que de certo seriam muito bem aproveitados se replicados pelos meus – garantiu. – Apenas entendo como as artes das trevas são um assunto delicado e traumático por aqui, além de que perigosas aos usuários. Mesmo que seus alunos tenham treinamento bom o bastante para arcar com as consequências, os meus podem não ter a mesma capacidade e a curiosidade não deve ser maior que o bom senso.
- O bom senso em buscar conhecimento de outras fontes? – questionou com um sorriso.
- Conhecimento proibido - estreitou os olhos.
- No seu território. Eles só precisam se limitar aqui.
- Eles não têm conhecimento para lidar com...
- E quem não lhes deu, proibiu e impediu acesso ao próprio conhecimento? – perguntou no ato.
"Certo, se Rita não tinha interesse em vigiar a conversa deles antes..." pensou Harry.
"Agora ela não vai perder" riu Tom.
- Me desculpe – pediu Lakroff no mesmo instante, arregalando os olhos e passando as mãos pelo rosto. – É um tema delicado realmente e... andamos discutindo muito. Acho que o melhor é fazer como o senhor disse e apenas nos mantermos cada um respeitando a cultura do outro. Mesmo assim, gostaria de debater isso. Para ter certeza de que não teremos problemas nas salas de aula. O choque cultural já era esperado, mas...
- Entendo. Claro. Falaremos – concordou Albus decidido a acabar com aquele assunto antes que Skeeter conseguisse passar de insuportável para o inferno em pessoa com o artigo que aquela maldita pena estava escrevendo.
Minerva assistia a interação mordendo o lábio.
"E quem não lhes deu, proibiu e impediu acesso ao próprio conhecimento" aquela frase a atingiu. Nunca parou muito para pensar nisso, mas provavelmente foi por causa de Sirius agora, o que ele disse na reunião, o desabafo da noite anterior.
Cigarro não era proibido, mas eles ensinavam sobre ele, porque era nocivo, o que era, cada parte do que era composto e quais as consequências. As pessoas corriam o risco por conta, mas sabiam onde estavam se metendo. O conhecimento era a própria forma de afastar possíveis usuários.
Mas não ensinavam o que raios era tão nocivo nas artes das trevas.
Para ter essa simples resposta a curiosidade já te levaria para caminhos que podiam ser errados. Sem direcionamento algum, sem ajuda alguma.
Tudo que tinham por ali sobre esse tipo de magia eram comentários vagos e... parando para pensar, se um aluno lhe pedisse detalhes, Minerva mesmo não saberia responder.
Não era errado, como professora, e diante da situação em que estavam, não saber explicar com a devida importância o porquê os alunos deveriam evitá-la? Diria apenas "não podem"? Como se toda criança não partisse diretamente para: "Por quê?" e a resposta que menos gostavam universalmente era "Porque sim".
"Por que é contra lei"?
A professora de transfiguração conseguia pensar em, pelo menos, uma dezena de alunos que faziam diariamente coisas que não podiam. Por mês o número subia para a casa da centena e por ano, quase todos.
Talvez pudesse pedir a Sirius que lhe explicasse um pouco melhor sobre as artes das trevas? Ou mesmo Severo? Sirius era alguém que conhecia a coisa bem e escolheu não praticar. Ele, pensando agora, parecia perfeito para ajudar os alunos que tivessem uma questão dessas. Talvez devesse conversar com Black para ter algo preparado e assim autorizasse Minerva a mandar alunos que tivessem algo mais complexo para questionar? Severo era mau humorado demais para a curiosidade alheia, então não serviria.
Estava decidida. Faria isso.
Seria bom estar preparada para responder o básico, seu colega e ex aluno ajudaria com o demais. Tinha alguns dias até a primeira prova do torneio, onde de certo alguns viriam questionar algo ao assistirem Viktor Krum e Harrison Potter na competição.
- Tudo certo, com a varinha do senhor Potter então? – questionou Albus, e ao que Olivaras confirmou, se levantou da mesa dos juízes. – Algum dos campeões tem alguma dúvida? Não?
- Eu, na verdade... – disse Cedric e todos o encararam, fazendo sua voz abaixar vários tons envergonhado. Ele pareceu momentaneamente nervoso, coçou o pescoço e mordeu o lábio, olhando para baixo.
- Alguma dúvida, senhor Digory? – insistiu Dumbledore.
O de amarelo pensou por mais alguns instantes, estaria sendo tolo ou chato de perguntar aquilo? Olhou para Harrison que franziu o cenho confuso, antes de enfim dizer:
- Harrison pode usar as artes das trevas e as varinhas dele... – começou e os olhares de cautela que recebeu o fizeram coçar a garganta antes de continuar. – Isso é para que a competição seja justa, mas mesmo que ele tecnicamente seja considerado um adulto como nós agora, ele recebeu os mesmos direitos, mas não ganhou milagrosamente os mesmos anos de experiência. Mesmo Krum, que é da escola, Harrison não estudou tanto quanto ele e não saberá fazer os mesmos feitiços que o colega – tossiu, a garganta parecia fechar e não estava querendo olhar para os demais, mas... Aquilo o estava deixando inquieto. Inspirou fundo e olhou diretamente para os juízes, com mais coragem. – O que estou querendo dizer é que a competição ainda parece desequilibrada, a meu ver. Como Harrison não se inscreveu, ainda por cima, estava me perguntando se ele receberá algum tipo de ajuda a mais que tornaria a situação toda menos perigosa para ele.
Hazz piscou.
Piscou e aos poucos deixou um sorriso ir se formando com naturalidade no rosto.
Estava agradavelmente surpreso. A simpatia lufana, não é mesmo?
- Não – contou Ludorovic. - Ele não receberá ajuda.
- Não? – perguntou Cedric. – Mas....
– Assim como foi dito na seleção – continuou o homem. – A restrição de idade é coisa recente, nunca foi um fator relevante antes e dar algum tipo de vantagem para Harry – o menino fechou os olhos contando até dez lentamente antes que cometesse um homicídio diante de testemunhas. Daí teria que matar as testemunhas também e seria um caos! Cedric, por sua vez, riu entendendo o que estava acontecendo com o adversário, até ele já estava se irritando com isso. Usou Harrison corretamente! Como os outros não eram capazes de fazer o mesmo? Bagman sequer tinha noção de que estava enfurecendo um dos lordes mais importantes da atualidade e de um futuro próximo? – Tornaria a coisa injusta para os demais.
- Mas... – Cedric tentou novamente.
- Está tudo bem – garantiu Harrison para o de amarelo, com um sorriso amistoso. – Eu vou ter ajuda.
- Como assim?
- É, como assim senhor Potter? Isso é contra... – começou Dumbledore, mas Hazz o interrompeu evitando olhar para a fuça do homem antes que lhe quebrasse na porrada.
- Eu tenho Krum – se explicou. – Você mesmo disse, estamos na mesma escola e somos amigos. Ele saberá me ensinar. As regras dizem sobre outros ajudarem, mas apenas se refere a pessoas de fora. Amigos, professores, nossos diretores e os organizadores, mas não há absolutamente em nenhum lugar algo que diga que nós quatro não podemos nos ajudar. Apenas a competitividade impede, só que sim, poderíamos passar por isso juntos. Literalmente é a única ajuda oficialmente permitida.
- E eu nunca permitiria que nada machucasse meu brat – Viktor começou, mas se corrigiu, falando em inglês ao invés de búlgaro. – Meu irmãozinho. Vou ajudá-lo a se preparar para seja lá o que precisar. Treinaremos muito.
- Claro, não temos como ter certeza do que nos aguarda e sim, eu posso estar em desvantagem, mas não estou sozinho – então deu um risinho.
- Só que você não vai aprender em dias o que ele aprendeu em anos – reclamou Cedric.
- Isso é. Mesmo assim é uma vantagem que tenho. Um aliado. Coisa que vocês não têm, não é?
- Bem...
- Bom, isso se vocês não quiserem ter.
- Como assim? – questionou confuso.
Hazz sorriu:
- Estou oferecendo amizade, Diggory – explicou e olhou para Fleur. – Para os dois. Se algum dos dois quiser treinar qualquer coisa comigo e Viktor, estamos mais do que dispostos. Acho que os desafios que nos darão já servem mais que o suficiente para que os juízes decidam quem é o melhor, não vemos necessidade para um mata-mata, nos vemos como rivais nesses jogos, mas nunca inimigos, não há necessidade para tanto. Apesar de nossa casa ser competitiva, gostamos de ganhar em pé de igualdade.
- A vitória tem mais gosto assim – concordou Viktor esfregando a cabeça de Harrison.
O menino preferiu não comentar como aquilo era um grito de ciúmes, porque Fred Weasley havia feito isso no almoço mais cedo e Krum nunca ia tão longe. De certo queria testar se tinha o mesmo direito e aquilo era engraçado.
Como se seu melhor amigo desde que entrara na escola fosse ter menos direito que um amigo recente a tocá-lo. Outra que gostava do contato dos amigos. Se eles iniciavam, ainda por cima, não tinha o risco de ser mal interpretado então podia aproveitar.
- Veremos vocês dois como rivais da mesma forma, independente de tudo – continuou o de olhos verdes. – Mas não temos intenção de vê-los mortos ou mesmo machucados, e a troca de conhecimento seria útil. Ainda é um dos objetivos do torneio. Então fora da arena, se desejassem...
- Que atitude bonita, Harryyyy-son! – exclamou Rita e sua voz fez Hazz virar o rosto e revirar os olhos, aos risinhos do lufano ao seu lado. – Realmente admirável, mas o que se esperar do "menino-que-sobreviveu", não é mesmo? Um grifinório nobre, assim como os pais.
- Grifinório? – questionou agudo e viu pelo canto dos olhos tanto Viktor quanto Cedric rindo disso. Até Fleur quase riu desta vez.
- Certo. Vocês podem me responder a qualquer hora. O convite para se juntarem a mim e Viktor fica aberto até o fim do torneio – sorriu o menino já puxando o amigo. – Sintam-se à vontade. Mais alguma coisa? – perguntou se virando para Lakroff.
Mas quem respondeu foi Albus:
- Realmente acredito que seja só. Então muito obrigado a todos. Vocês podem voltar às suas aulas, ou talvez seja mais rápido descerem logo para jantar, já que elas estão prestes a terminar.
- Se alimentem, crianças - acrescentou docilmente Lakroff.
Harrison arrastou um Viktor que foi aos risos em direção a porta, prontos para sair, mas o homem com a máquina fotográfica preta deu um pulo da cadeira e pigarreou.
– Esperem meninos! Fotos, Dumbledore, fotos! – exclamou Bagman, excitado. – Todos os juízes e campeões! Que é que você acha, Rita?
– Hum... certo, vamos fazer essas primeiras – respondeu a repórter, cujos olhos estavam fixos em Harrison, parado muito perto da saída tremendo com a oportunidade perdida. – E depois talvez umas fotos individuais.
-x-x-x-
-x-x-x-
As fotos consumiram muito tempo.
Madame Maxime deixava todos na sombra sempre que se levantava e o fotógrafo não conseguia recuar o suficiente para enquadrá-la; por fim, ela teve que se sentar e os demais se postarem ao seu redor. Karkaroff não parava de torcer o cavanhaque com o dedo para lhe acrescentar mais um cacho. Lakroff e Minerva pareciam achar a situação toda engraçada de assistir e Hazz não sabia se ria mais da careta de Dumbledore ou a que imaginava em Tom.
O fotógrafo parecia interessadíssimo em colocar Fleur na frente, mas Rita corria a toda hora e arrastava Harrison para lhe dar maior destaque. Depois, ela insistiu que se fizessem fotos separadas dos campeões. E, finalmente, foram liberados. Cedric e Fleur pareceram voltar a conversa de antes quando começam a descer para o jantar, mas virando o corredor pararam ao serem chamados.
- Arrison? – perguntou Fleur ao ver o menino vindo em sua direção, Viktor Krum o seguia logo atrás.
- Senhorita Delacur – o de óculos cumprimentou se aproximando. – Primeiramente, eu queria pedir desculpas pela noite da seleção dos campeões. Acho que posso ter sido grosseiro com a senhorita e venho me martirizando por isso. Realmente eu não deveria ter descontado minha irritação na senhorita, que de certo tinha motivos para suspeitar de mim – suspirou. – Sinto mesmo.
Fleur piscou surpresa pela atitude. Na verdade, ela achava que devia desculpas ao garoto por chamá-lo de mentiroso e alguém capaz de enganar a taça para competir.
Desviou o olhar e suspirando respondeu:
- Está tudo bem – então voltou-se para o menino com um sorriso com um sorriso mais simpático. – Você tinha sus mutivus.
- Estamos bem então?
- Clarro.
Agora Harrison também deu um sorriso e ofereceu sua mão, ao que Fleur entregou a própria, aceitando um casto beijo nas costas.
- Fico muito satisfeito, senhorita Delacour – murmurou em tom sedoso e a garota segurou a vontade de revirar os olhos.
Não gostava como a maioria dos homens eram tolos abestados em sua presença, claro que aquele garoto era muito belo, mas ainda não passava disso. Um garoto. Já estava para dizer algo ou se afastar, mais uma vez totalmente desinteressada à criança, mas para sua surpresa Harrison trocou totalmente seu foco.
Diferente da maioria dos homens que continuava olhando-a em interesse e luxúria descarados, ou tentaria extender o contato com sua mão ao máximo (houveram casos até onde usavam isso para cheirá-la ou se esfregar ali ao ponto de se sentir enojada), Potter não só manteve-se cordial e adequado, mas o máximo que pareceu prender sua atenção além da conta foi algo no pescoço da francesa.
Ele encarou o bastante para que ela cobrisse aquela região, mesmo que as roupas já o fizessem e tivesse certeza que não estaria vendo nada ali, Potter pareceu notar que sua ação incomodara, por isso se afastou um pouco e voltou-se para Cedric.
Foi quando o aborrecimento da loira sumiu e foi substituído por curiosidade.
Os olhos de Harrison (Fleur notou, pois recebia muitos diariamente e já aprendera como ler cada um) brilharam com muito mais interesse para o garoto Diggory...
Do que para ela.
"Interessante" pensou.
- Como disse lá na sala, eu e Viktor ficaríamos felizes se nós quatro pudéssemos aprender e treinar juntos, mas entendemos se não quiserem por qualquer tipo de receio pela competição. Soube que você e uma colega do conselho vem conversando, Cedric.
- Natasha, sim? – ele perguntou.
- Isso - Harrison sorriu, satisfeito que Nat havia cumprido com o que pedira no começo de seus dias ali (não que tivesse dúvidas de sua condessa). – Ela me falou muito bem de você, então não vejo porque não lhe estender a simpatia da Durmstrang mais um pouco – brincou. – Então mesmo que não queiram treinar, eu e Viktor estamos assim se desejarem amizade.
- É realmente gentil da parte dos dois – agradeceu Cedric.
- Mas posso perrguntarr o mutivu? – questionou Fleur.
Os olhos de Hazz brilharam, mas também se estreitaram para ela, num sorriso (também muito diferente do bobo e contemplativo que estava acostumada dos homens) cauteloso e astuto:
- Desconfiada, não é mesmo, senhorita?
- Que razão terriam parra desejar tantu nossa interração? Se somos inimigus?
- Não temos razão. Apenas... Por quê não? A inimizade não vai nos oferecer uma vantagem maior. Se quiserem, estamos aqui. Se não, desejamos bons jogos e tentem não se machucar – ofereceu com os braços abertos.
Fleur ainda encarou o garoto por um bom tempo, antes de acenar:
- Bons jogos.
- Isso quer dizer que sem amizade?
- É uma competição, Arrison – respondeu séria. – Mas foi um talvez – e ofereceu um sorrisinho. – Cedric?
- Eu? – perguntou o lufano surpreso – Bem... – ele encarou a dupla de estrangeiros e Fleur, ela parecia simpática enquanto conversavam, não se importaria em fazer amizade com ela, então os outros dois... – Eu não me importo – sorriu também. – Dizem que nós lufanos sempre estaremos dispostos a novas amizades, então acho que deveria fazer jus a casa - brincou.
- Ótimo! Um talvez e um sim – comentou Harry olhando para cima. – É o bastante, não acha Viktor?
- Para ajudá-los? Você que me diz, Hazz.
- Sim, sim. Não quero que morram, sabe? Já criei afeto – negou com a cabeça em divertimento. – Meu coraçãozinho é muito mole, não acha?
- Nem você acredita nisso – respondeu rindo.
- Do que estão falando? – perguntou Cedric muito confuso.
Hazz olhou para Krum, o amigo acenou com a cabeça, ele mesmo não sentiu a presença de nenhuma alma além da deles em sua varredura rápida. O Potter ainda decidiu dar uma breve avaliada no corredor. Sirius lhe avisou ainda mais cedo sobre falsos pontos cegos pelo castelo, melhor prevenir então, não é mesmo?
Se aproximou da dupla e escolheu sussurrar:
- A primeira tarefa são dragões.
- Quê?! – exclamou Cedric, erguendo a cabeça em choque.
- Ei, não grite! – pediu, caso aquele fosse mesmo um local comprometido. – repetiu. – Sim, dragões. São quatro, um para cada um de nós, e vamos ter que passar por eles. Posso dar mais detalhes, mas só se concordarem em ir comigo para um lugar mais isolado e usarmos um feitiço de abafiato. Em teoria, eu nem deveria saber, que dirá estar contando a vocês.
Cedric arregalou os olhos. Fleur chegou a levar as mãos à boca em choque.
Harry viu um pouco do pânico que andara sentindo desde a descoberta passar pelos olhos cinzentos do garoto e os azuis da menina. Ambos ainda se encararam antes do lufano parecer encontrar alguma razão, mas ainda meio desnorteado apontou numa direção:
- Tem uma sala de aula vaga virando o corredor – ofereceu, pois conhecia bem o castelo.
- Vamos – chamou Harrison, já seguindo na direção oferecida. Viktor ainda teve que chamar a dupla mais uma vez antes de ambos acompanhá-los.
Os quatro entraram ordenadamente na sala em questão, com Cedric liderando, o rosto ainda pálido, mas a atitude aparentemente renovada pela breve caminhada. Ele foi o último a entrar e fechar a porta, Viktor foi embainhar sua varinha.
- Tem certeza? – perguntou Diggory, numa voz abafada.
- Como descubriu issu? – perguntou Fleur mais agitada.
- Um instante – pediu dando uma última varredura enquanto pegava a própria varinha. – Posso?
- Sim – disse Cedric.
- Delacur? – perguntou Harrison.
- Sim, sim, use o feitiço se desejarr. Apenas nos diga logo – pediu.
Krum e Hazz começaram a levantar feitiços, nem tão complexos, nem tão simples, mesmo assim...
Todos sentiram a força.
Fleur surpreendeu-se e não disfarçou muito isso, mesmo Cedric. Ele não era como a veela, não podia sentir tão bem magia, mas ainda era alguém treinado desde criança, soube que aquela demonstração de magia (não verbal ainda por cima) beirava a perfeição completa. Juraria que se explodissem uma bomba ali, ninguém de fora poderia ouvir. Mas o mais impressionante foi sentir como parecia ainda mais intenso vindo da direção de Harrison.
Cedric pensou se o garoto tinha menos controle e se estava gastando muito mais magia do que precisava sempre que fazia uma magia, algo bem comum entre os mais jovens, mas que tornava as batalhas mais curtas, pois sua estamina logo se esgotava.
Fleur, entretanto, sabia que não era isso. Nem de longe. Harrison Potter, pelo contrário, tinha um controle absurdo de sua magia.
É que aquilo já era o mínimo.
A energia que vinha dele não era apenas intensa e chamativa. Era quase um ser vivo. Te chamando, passando por você como vento, acariciando, mas prometendo algo.
Uma tempestade.
Bem no fundo.
Bem pequena.
Era preciso olhar diretamente para conseguir vê-la.
Talvez poderia até ser impressão sua, entretanto.
- Eu não vou confirmar, nem negar nada aqui como fato - começou Harrison, guardando a varinha e se sentando em uma das mesas, as pernas balançando para fora. – Para todos os efeitos, é apenas uma fofoca, não coloco minha mão no fogo por isso. Mas eu posso ou não ter um conhecido que trabalha numa reserva de dragões. Ele pode ou não ter me contado que foi feito a pouco tempo um pedido de três deles por parte do governo britânico, mas o que mais o deixou atento foi segunda-feira passada, um dia após nossa seleção, o pedido aumentou para um quarto dragão. Eu sei, porque o conheço bem...
"Ta aprendendo a mentir com seu vô, é?" provocou Tom e Hazz apenas o ignorou:
- Ele jamais permitiria que os dragões fossem machucados, nem mentiria sobre isso. Jamais aceitaria mandar para a Grã-Bretanha qualquer um que seja, se não tivesse certeza de que ficariam bem. O que me garante que não precisaremos derrotá-los ou lutar diretamente com eles. Não precisamos fazer nada que os fira de alguma forma. Passar, portanto, parece ser o que faz mais sentido. Dragões podem ser um obstáculo ou algo assim, mas estarão lá como parte integral da tarefa. Não consegui a informação de quais espécies, mas sei quando chegam. Quinze dias, mais ou menos. Vocês, assim como eu e Viktor, poderão ver com os próprios olhos. Vão esconder em algum lugar da escola até o dia do evento, já que chegarão um pouco antes da tarefa em si para que os cuidadores tenham tempo de acalmá-los um pouco pela viagem. Não sei se ficaram sabendo, mas eu e Viktor estamos a dias fazendo caminhada pelos terrenos de Hogwarts, isso nos permitiu já mapear os lugares que melhor poderiam servir para essa função, guardar quatro criaturas de tamanho tão grande. Assim que se completarem esses quinze dias procuraremos por eles, podemos passar a vocês a informação das espécies ou a localização em si para averiguar por si mesmos se acharem mais proveitoso. Ou podem até mandar algum de seus professores, se forem desconfiados ao ponto de pensar que seria uma armadilha nossa para serem pegos bisbilhotando as tarefas, ou se quiserem que algum professor dê uma opinião profissional.
Cedric parecia em choque a cada nova informação, a cor de sua pele não apenas sumindo, mas ele mesmo perdendo as forças até precisar se apoiar em uma mesa, as mãos tremendo ao ponto dela fazer barulho e ele desistir, por deixar a covardia muito aparente. Fleur não estava muito diferente, entretanto. A garota levou as mãos à boca novamente e dava pequenas mordidinhas nas cutículas enquanto pensava.
Mas então o lufano fitou Harry atentamente e havia uma expressão intrigada, quase desconfiada em seus olhos.
– Por que é que você está nos dizendo isso? – perguntou.
Harrison olhou-o sem acreditar, fechando a face:
- Por que são dragões? – questionou cruzando os braços. Será que só ele entendia a gravidade de um bicho gigante que solta fogo? – Você queria que eu ficasse quieto e deixasse você e Delacour enfrentarem uma coisa daquelas sem preparo nenhum a troco de que? Maldade pura?
Cedric recuou:
- Mas...
- Eu já disse que nem queria competir! – interrompeu, sem nem saber o que o garoto diria. – Eu estou nisso por acaso do destino! Não há motivo nesse mundo para eu preferir vê-los se machucar gravemente do que avisá-los e competir de forma justa – reclamou firme.
- Justa? – perguntou Fleur.
- Não seria justo, não acha? – explicou, mais calmo para a garota. – Todos sabemos. Eu já teria dito a Viktor, mas agora vocês dois não poderão pensar, caso se machuquem, que trapaceamos ou os sabotamos de alguma forma. Todos estão competindo, mas se querem um jogo sujo, fica nas suas costas. Eu e Viktor somos uma dupla. Ganha aquele que se sair melhor na hora H, mas antes disso crescemos juntos. Somos amigos e eu ofereci minha amizade e repito isso: aceitem se quiserem. De toda forma, estamos em pé de igualdade uma vez que compartilhei o que sei. Era só – naquele instante, o feitiço de silenciamento caiu. Viktor entendeu o sinal e acenou para os outros dois em despedida, indo até a porta e abrindo para sua alteza. – Bom jantar – disse o Potter, sem olhar para trás, atravessando firme as escadas que deixavam o nível da sala diferente.
- Espera! – pediu Cedric e Hazz parou já no penúltimo degrau. – Desculpe, eu não quis ofender ou supor que vocês tinham alguma... Eu só... - ele negou com a cabeça, tentando não se atrapalhar tanto. - Eu não conheço vocês, então-
- Eu entendo – interrompeu Harrison se virando de volta para o lufano. – Não me ofendi. Mas também não quero ficar gastando tempo provando ou não o que digo. Estou fazendo o que acho certo, mas de certa forma também é um favor. Apenas minha consciência poderia me gerar consequências por deixá-los sozinhos contra aquelas coisas. Não tenho porque insistir em fazer um favor para quem não aceita – então, como se uma ideia lhe viesse, ele piscou e franziu o cenho para o teto. – A menos que... – sussurrou pensativo antes de se iluminar voltando a concentração total aos outros: – A menos que queiram me fazer um favor de volta! Achariam mais fácil confiar em mim se fosse uma troca?
Cedric pareceu momentaneamente confuso. Fleur, por outro lado, ficou mais curiosa:
- Como assim? – perguntou a loira.
- Bem, se estiverem fazendo algo por mim, um favor, dou minha palavra que estarei fazendo o mesmo por vocês eventualmente. Tem uma coisa que poderiam me ajudar, então se concordarem, juro até diante de magia que só passarei informações verídicas sobre qualquer coisa que eu venha a descobrir da tarefa do torneio. Das tarefas, se acharem que só a primeira é pouco para o que estou pensando em pedir.
- Que favor você querr? Que se descobrimos algo também devemos avisá-lus?
- Ah, isso seria simpático, mas não. Na verdade... Rita Skeeter não fez nenhuma pergunta a vocês, fez?
- Como?
- A jornalista do profeta – explicou.. – Ela tem que fazer uma matéria sobre o torneio, mas me fez um bando de perguntas pessoais e não a vi falar com vocês em nenhum momento, mas cheguei depois. A menos que eu esteja enganado, ela falou antes de eu chegar?
- Não – Cedric que respondeu.
Hazz suspirou:
- Imaginei. Aquela megera – resmungou. Viktor percebeu que ainda tinham o que falar e decidiu fechar novamente a porta – Skeeter vai tornar essa coisa um tabloide! Aposto com vocês que mal falará sobre o torneio, vai gastar a capa com qualquer merda que tirou das respostas que nunca me deixou terminar de falar – bufou zangado, cruzando os braços. – Por isso odeio a mídia – negou com a cabeça e esfregando os cabelos, mas então sorriu. – Entretanto... Tem uma amiga minha. Luna Lovegood. Ela é da corvinal, a garota loira que sempre anda comigo aqui em Hogwarts. O pai dela tem um jornal pequeno, mas diante dos nossos contatos ele perguntou esses dias se eu e Viktor não aceitaríamos responder algumas perguntas para uma publicação própria. Uma única matéria. Ele ofereceu mandar por correio as perguntas, Luna nos faria e mandaria as respostas a ele, mas me garantiram que poderemos ler a matéria e aprovar antes de sair, pedir que tirassem algo se fosse um problema e não é nenhuma grande mídia, então será algo relativamente informal. Só que eu queria muito ajudá-la, se é algo tão simples para mim, mas que fará uma enorme diferença para sua família se for algo bem feito. Afinal poderá vender mais cópias que o normal. Considerando que além de tudo, eles estão tomando tanto cuidado em não nos aborrecer, mesmo que sejamos relativamente amigos, eu achei algo muito válido. Será realmente só sobre o torneio e nem íamos tirar foto, já que seria limitado apenas ao ponto de vista meu e de Viktor. Mas se vocês dois também concordarem em ajudar...
- Você quer que façamos uma entrevista parra o jornal do pai de su amiga? So issu? – perguntou Fleur.
- Sim– sorriu. – Podemos marcar o melhor horário para todos, mas preferencialmente o quanto antes, talvez até mesmo hoje para que ele não fique atrasado na publicação. Será muito melhor se puder ter a visão de todos os competidores e ele mandará também um contrato que garante nossa privacidade, se algo for muito pessoal, não será publicado, simples. Como Luna que fará a entrevista, vocês terão que ter paciência, ela não trabalha com isso nem é profissional – baixou os olhos, seu sorriso se tornando mais terno. – Mas aposto que gostarão dela. É uma garota incrível e gentil. Também podemos tirar uma foto, nós quatro juntos, assim faremos uma reportagem apenas sobre o torneio e os participantes em que todos estaremos sendo retratados de forma mais humanizada e não como produtos midiáticos para lucro. Vocês ajudam minha amiga e eu ajudo vocês com os dragões. O que pensam disso?
- Terremos um contrato de privacidade? – perguntou a francesa.
- Sim – garantiu Harrison.
- E sua amiga que cuidará de tudo?
- Sim. Aqui na escola, realmente se puderem já faremos essa noite.
Fleur enrolou uma mecha de cabelo delicadamente enquanto pensava um pouco, mas não levou muito tempo antes de acenar com a cabeça:
- Eu aceito.
- Excelente! – animou-se Harrison – Cedric? Não será a mesma coisa só com nós três.
- Eu... – murmurou estendendo a palavra. – Claro. Sim, tudo bem.
Harrison abriu um largo sorriso e deu um pulinho, batendo uma palma na direção de Viktor, agarrando seu braço com uma felicidade óbvia:
- Isso é ótimo! Luna vai ficar muito feliz, não vai?
- Tenho certeza que a chanceler ficará tão animada quanto você está agora, alteza – respondeu rindo.
- Presidente – corrigiu, mas ainda dava pulinhos felizes. – Vamos contar a ela. O que acham, podem se encontrar no corredor do sétimo andar às nove? – perguntou se virando para os outros.
- Estou de acordo.
- O toque de recolher é às dez – disse Credico. – Talvez fosse melhor mais cedo, para não encrencar ninguém...
- Acham que ficam prontos às oito e meia? Logo após o jantar...
- Que tal assim – ofereceu Fleur. – Acha que sua amiga ficaria pronta em meia horra? Ainda faltam quarrenta minutus parra o jantarr, que durra até às nove. Nós fazemos as perguntas que derrem tempo e ela manda nossas respostas parra o pai, amanhã pela manhã terminamus o que faltar, tiramos as fotus e assinamus o contrato de privacidade, isto dá a noite toda para eles conseguirem uma cópia parra mim e Cedric. Até a tarde de amanhã o pai de sua amiga já poderra ter seu artigo pronto.
- Eu acho uma ideia muito adequada – respondeu Harrison. – Cedric?
- Claro, faremos aqui mesmo?
- Sim, eu e Viktor vamos agora mesmo buscar Luna e vocês podem nos aguardar aqui. De acordo?
- Sim - concordaram a dupla.
O sorriso de Harrison parecia brilhar quando se inclinou para eles:
- Obrigada, Diggory, senhorita Delacour.
- Não por isso – dispensou a francesa. – Mas Arrison?
- Sim?
- É Fleur. Eu uso seu nome, pode usar o meu.
Hazz, se é que era possível, sorriu ainda mais abertamente:
- Isso quer dizer que continuamos no "talvez" para nossa amizade, ou recebi um sim?
- Ainda é um talvez... – murmurou, após após uma pausa silenciosa, acrescentou com um sorriso: – E um quarto.
-x-x-x-
- Você conseguiu – comentou Viktor no caminho para a torre da Corvinal, onde viram Luna aparecer no mapa do maroto.
- Do que está falando? - perguntou Harrison.
- Imagino que queira aumentar o prestígio do jornal dos Lovegood na mesma proporção que decairá o profeta. Com certeza essa entrevista será parte do plano...
- Eu? Não pensei tão longe. Apenas quis fazer um favor para uma amiga.
- É claro – Viktor revirou os olhos. – E Luna tinha pedido para lhe dar uma entrevista, mas eu não fiquei sabendo disso em nenhum momento até agora?
- Esqueci de lhe contar – sorriu sapeca.
- Claro – riu o búlgaro. – Qual o próximo passo? Distribuir o jornal de Luna para os sonserinos, que lerão por ser sua amiga, então terão muito mais informações que o profeta e averiguadas por contrato, então por serem os herdeiros de grandes casas acabarão dando mais credibilidade se elogiarem a publicação. Assim fazemos aos poucos O Pasquim crescer enquanto o outro plano cuida de acabar com o profeta?
Hazz parou a caminhada, Viktor levou um segundo antes de notar, também parar e se virar para sua alteza.
Tremeu quando percebeu o olhar com que era observado. Um misto de orgulho, astúcia, promessas infinitas, mas incertas, os olhos brilhando e girando num redemoinho verde intenso.
Um sorriso macabro nos lábios de anjo. Sedutores como a voz que os acompanhava:
- Olha só... – murmurou Hazz lentamente, como o deslizar de uma serpente real – Parece que meu irmão finalmente está aprendendo.
- E-e as perguntas? - questionou irritado que tivesse corado. - Luna não tem nada preparado se vossa alteza inventou agora tudo isso.
- Não se preocupe, ela estará preparada para a tarefa, sei disso. Ela não seria a chanceler se não estivesse – inclinou a cabeça e Viktor teve a impressão de um predador o encarando.
Foi rápido, de repente sua mente lhe jogou uma informação e foi como se tudo se acendesse dentro da cabeça. Ele lembrou do almoço, quando Luna disse que Harrison tinha de comer porque: "ele vai resolver outros assuntos e não conseguirá, mesmo que tentemos força-lo". Será que todos acabariam perdendo a refeição? Entretidos nas perguntas?
Era isso que sua alteza queria dizer com a certeza de que a loira estaria preparada? Porque ela viu aquilo acontecer?
- E Rita? - perguntou baixinho.
- O que tem?
- Você ainda não me disse o que fez para ela gritar...
Harrison riu, a postura ameaçadora sumiu tão rapidamente quanto veio. Tornou a caminhar:
- Como expliquei antes, não nada... demais. Ela fez consigo mesma o principal, ou fará, assim que publicar a manchete. Vou usar cada coisa que aquela tola escrever no jornalzinho ridículo contra ela.
- Para ameaçá-la?
- Não, não. Muito mais apetitoso que isso. Mostrarei a todos como suas capacidades são medíocres e ela é uma farsa, redatora de revista de fofoca.
- Como fará isso?
- O Pasquim. Tudo por lá, principalmente. Eles contrataram um novo redator, sabia?
- Como eu saberia? E o que tem isso?
- O que tem? Você vai descobrir, suponho...
-x-x-x-
Albus foi o primeiro a entrar e deu passagem para o homem de cabelos brancos e loiros. A trança no canto da cabeça, como sempre, perfeitamente alinhada.
Lakroff estava tranquilo e mantinha o sorriso de sempre no rosto. Havia o tipo de pessoa que tinha naturalmente a cara fechada, alguns limpa, Lakroff era sorridente. O bastante para se pensar que estava sempre feliz, que seu rosto ainda era jovem mesmo em sua idade por falta de estresse que causavam linhas de expressão. Ele deu uma olhada na sala. Era multicolorida, cheia de bugigangas que giravam de um lado para o outro, faziam barulho, criavam padrões no ar. Era uma sala que gritava magia. Animada, divertida, a cara de Albus.
Era uma pena que, assim como a cara, não passava de um disfarce. Estava ali para criar uma impressão. De velho quase biruta, mas gentil. Uma inocência infantil. O verdadeiro era tão decepcionante quanto os movimentos mecânicos de varinha que foram necessários para encantar cada objeto ali. A imagem podia ser interessante, mas a premissa era qualquer. Magia da luz era qualquer. Lakroff gostava das trevas e de sua infinidade de opções. Branco era todas as cores refletidas com perfeição, no instante que se colore, então não é mais branco, você está absorvendo alguma luz. Aula de refração básica. O preto é ausência de cor. Era estar no vazio e pensar: o que posso fazer com isso. Então fazer um big bang completo, se assim você batalhar para conseguir! Era instável, volátil, imprevisível, era tentar e errar, explorar, querer, sentir, surgir, fazer a ausência de algo tornar-se possibilidades infinitas com magia. Era viver.
Saber que haviam riscos, que nem sempre você iria gostar e muitas de suas decisões, poderia se arrepender para sempre, mas escolher continuar com isso a cada dia novo porque no meio das trevas horríveis, você era força ou tirava força de algum lugar, as vezes sem nem saber, mas criar enquanto vive. Deixar que te guiasse, porque queria passar pela vida com mais do que um piloto automático. Viver! Cada parte! Cada pedaço de caos!
As trevas não eram viver necessariamente, mas entender que na vida suas decisões é o que te forjam e você deveria ser livre para tomar todas, mesmo que (no fim) você perdesse toda a luz e todas as cores, se afundasse na escuridão.
Se o fundo do poço era a escuridão, será que não compensa lutar por mais luzes, mais cores, mais diversidade e uma vida de possibilidades do que ser preso à perfeição regrada da luz?
Era mais que cor, é claro, são dois posicionamentos sociais. Mas em essência, um deles está diretamente relacionado ao "puro", ao "certo", ao julgamento do que deve ser feito e como, nas devidas medidas para que, sem falhas, conseguisse se alcançar a luz branca. Onde todos os espectro de luz se tornam visíveis, são refratados e identificados pelo olho humano. Uma política simples e uma forma de viver justa, porém nela não se diverge em sua essência.
Ou se encaixa, ou é defeito.
E o defeito que formava o arco íris.
Luz é aquilo e apenas aquilo. Luz vê o mundo preto no branco.
Ela deve ser regrada ou não será mais ela, não estará certo.
Enquanto as trevas são um mundo de viveres. Um sistema que apoia ideias onde, mesmo que você perca todas as cores eventualmente em busca de algo, o importante é a liberdade para ser o que quiser e tentar o que desejar. Colorido ou totalmente sombrio até não haver mais nada de bom em você, mas a escolha deve ser sua. Onde parar (que cores quer ser ao longo da vida), cabe a você apenas.
Afinal, no fim, todos morreremos e caímos nas sombras, não é mesmo?
Se você aceita que uma hora todos estaremos no limbo, no vazio e na ausência de qualquer luz (a vida sendo uma), então o melhor não é aproveitar todas as cores até lá? Aproveitar a vida em todo seu esplendor? Mesmo que você fique preto antes da hora, não compensa a tentativa? Qual das formas de viver é a melhor? Uma é pacífica, mas limitada. Outra é caótica e cheia de possibilidades, mas com elas vem os perigos. No fim, ambas eram válidas.
Desde que uma não tentasse destruir a outra como falha ou mal.
Dumbledore talvez fosse o perfeito bruxo da luz, porque estava preso em sua própria caixa. Como um trabalhador trouxa que acorda todos os dias, vai para um emprego que não gosta para sobreviver, chega cansado, faz as mesmas ações mecânicas e vai dormir. Depois continua.
Dia após dia.
Compra coisas (as bugigangas multifuncionais da sala) para aplacar o vazio na alma que surge por ser apenas aquilo, se convence que suas compras (conquistadas por vender horas, dias, anos e décadas do seu tempo por um trabalho que não paga o bastante por tudo que lhe foi tirado) são uma conquista. Se convence de que é feliz. Que tem estabilidade, que pode viver tranquilo.
Ele não vive.
Ele é uma máquina do sistema.
Trevas diziam para ignorar o sistema e fazer como quisesse. Era ser artista num país sem incentivo, fazer artesanato ganhando o mínimo, mas viajar com esse pouco para a mata mais próxima, acampar, sentir a grama no pé e dizer: eu estou vivo! Eu sou eu! Não mais um usado para movimentar a economia. Eu tomo minhas decisões, eu sofro, eu posso me arrepender, mas eu tento...
Eu, sou eu.
A maioria dos bruxos das trevas era preso de outras formas, mas daí sua magia era tão importante, era quando podiam ter essa sensação. A cada novo feitiço, a cada nova arte que faziam com sua essência mística em forma de luzes, desejos materializados em beleza e sinceridade pura, quadro pintado com sangue dos inimigos, canção tocada pelos gritos de um alvo, poema declamado pelos encantamentos que tornavam suas palavras reais, sua vontade em magia física e para fora!
Sacudiu a cabeça vagarosamente.
- Algum problema?
- Me perdi em pensamentos. Às vezes faço isso, mesmo nas aulas. Os alunos, entretanto, parecem gostar de meus devaneios – contou rindo.
Albus tremeu e desviou o olhar. Aquela risada, calma, quente, intensa e... sincera. Não era simplesmente um som, mas uma emoção fugindo do peito e saindo pela boca, formando um dos sons mais agradáveis.
Parecia demais com o pai.
Mas Gellert era um mentiroso.
Então esse...
Dumbledore fechou a porta e a trancou com um feitiço. Lakroff percebeu isso, sentiu a magia por trás do ato e se virou para o mais velho com uma sobrancelha levantada.
- Você não me engana – disse Albus.
- Não é? – perguntou Lakroff com um sorriso ladino. – Desculpe, mas parece que sou tão bom em tentar algo assim que nem percebi em que momento foi que aconteceu, diretor – riu baixinho. – No que estou te enganando?
- Não se faça de sonso. Já chega, não quero mais participar dessa mentira – respondeu parecendo muito cansado, seguindo a passos decididos até sua mesa – Como você fez isso Gill?
Lakroff recuou no mesmo instante, uma careta muito confusa. Levou alguns segundos para conseguir raciocinar o bastante para que qualquer coisa saísse de sua boca:
- Como é? Pode repetir?
- O que foi? Achou mesmo que eu não notaria?
- Você me chamou de Gill? – questionou baixinho, mas ainda dava para sentir a incredulidade pingando em sua voz.
- Eu fui em Nurmengard, eu precisava ter certeza de que você ainda estava lá. Está. Mas também está na minha frente agora, então como faz isso?
- Nurmengard? – arregalou os olhos surpreso, depois encarou o chão, ar fugindo por suas narinas em um som inconformado. – Gill deveria ser meu pai? Você e Gellert se davam apelidos? – perguntou cruzando os braços com uma cara de desprezo, sua voz estava distante pelo choque. – Eu poderia viver sem essa informação. Qual era o seu? Al-al? Imagino que não, parece um latido e prefiro não imaginar que meu pai ficava latindo atrás de você como o velho tolo que ele era. Abbie? Improvável, parece mais como algo que dariam ao seu irmão, mas seus nomes tem o começo parecido então...
- Não faça isso. Não jogue esse jogo – interrompeu frustrado.
- Jogo? – questionou caminhando até uma janela para "olhar a vista". – Posso abrir? O cheiro aqui é forte e minhas narinas são sensíveis...
- Fique à vontade – murmurou Albus esfregando o rosto.
Lakroff abriu o vidro e se recostou ali, as costas viradas para a saída.
Rita teria como escapar quando desejasse.
Ele havia se demorado na sala conversando com os outros por tempo o suficiente depois que ela saiu para lhe dar a chance de mandar o colega embora, então assumir a forma animago e, quando achou que estava bom, enfim chamou Dumbledore para fora. No fim do corredor, um besouro voou em sua direção e "sumiu" às suas costas. As mesmas que estava virando para a saída estratégica.
Se ficasse ali com ela, Albus teria de falar com clareza o bastante qualquer coisa que quisesse, assim a repórter teria como registar bem o que fosse interessante.
E aquela conversa tinha começado melhor do que a premissa prometia.
- Então? Que jogo é esse a que se refere? – perguntou o platinado. – Até onde sei, não sou obrigado a agir diferente com você porque meu pai tomou um bando de decisões merdas que o fizeram ter de prendê-lo.
- Já chega, Gellert! – interrompeu Dumbledore irritado e Lakroff chegou a piscar um pouco assustado, não esperava a explosão. – Quando vai parar com essa farsa? O que quer com ela? Eu posso te denunciar e vou! Não sei como passou pelos guardas antes, mas...
Lakroff bufou:
- Sério? Me denunciar? Pelo que? Genética? Eu não tive que passar por guarda nenhum. Eu prendi meu pai quando vocês o deixaram fugir! – já estava ficando igualmente irritado.
- Você é Gellert Grindelwald! Eu te conheço o bastante para não ser enganado, Gill! – se levantou batendo as mãos na mesa.
- Você conhece meu pai! Não a mim! – acertou a parede, muito ofendido. Os quadros na parede assistiam tudo como se fosse um espetáculo ou um jogo de tênis, cabeças indo de um para o outro. – Parabéns Albus! – aplaudiu com ironia. – Você fez algo que EU nunca pude! Porque aquele desgraçado se dedicou mais a tentar conquistar você do que o próprio filho! – apesar da raiva, qualquer um conseguiu ouvir a melancolia no fim daquela frase.
Os quadros chegaram a notar, provavelmente porque a pele do albino era bem clara, como seu nariz e seus olhos se avermelharam. Lakroff também percebeu seu próprio deslize emocional e deu uma pausa que foi mais que o bastante.
Assim como a ferramenta gélida que foi criado para ser, a emoção se foi.
A dor ainda estava ali, como agulhadas constantes e ardidas, pequenas queimaduras, uma dor fantasma de um passado ruim, mas suportável.
Qualquer coisa era suportável para ele. Lakroff era, em essência, o que Albert lhe deixou, mesmo que quisesse desesperadamente fugir e esquecer desses anos de seu passado. Mal gostava de ouvir seu nome, mas talvez Tom Riddle o lembrando tão abertamente no fim de semana tivesse causado isso.
Todas as conversas que tiveram sobre seu passado e infância com o pai maluco igualmente.
Então Albus falando sobre esse lado horrível de sua história. Lembrando-o de Gellert...
- Você pode ir à merda se quer jogar em cima de mim o que você e aquele velho senil tiveram – murmurou sombrio e gélido, como uma nevasca na noite mais escura e fria de isolamento. – Porque eu não sou obrigado a arcar com as decisões de um homem que só forneceu material genético e traumas.
- Parabéns pelo teatro, você sempre foi um exímio ator. Vai parar agora? – perguntou Albus.
Albus viu Lakroff ficar vermelho de fúria:
- Puta merda! – praguejou. – É isso então? Me chamou aqui para dar uma de maluco? Se for, eu estou de saída!
- Saia e eu chamo o ministério – avisou calmo, mas em tom claro de ameaça.
- CHAMA! – urrou e alguns quadros chegaram a pular no lugar com a explosão impressionante do homem forte. – To me FODENDO para isso! Chama na minha frente ainda! Quero ver o que vai sair disso! "Ministro, é Dumbledore, tem um homem na minha sala. Você conhece, o vice-diretor da Durmstrang a mais de seis anos, eu acho que ele é Gellert Grindelwald. Não, Gellert não saiu de Nurmengard. Sim tenho certeza, fui pessoalmente verificar. Não sei como isso é possível, devem ter dois andando por aí porque, aparentemente, eu NÃO CONHEÇO O SIGNIFICADO DE GENÉTICA"!
- E você não sabe quando parar...
- Caralho! – bufou.
Um dos quadros de diretores seguiu para uma moldura ao lado e começou a sussurrar, os bruxos não entenderam, mas estavam comentando como Lakroff parecia estar ofendido ao ser comparado com o pai. Nicolas Black, entretanto, respondeu em alto som:
- Eu levaria como elogio ser comparado a um lorde das trevas – revirou os olhos.
- NÃO É ELOGIO! NÃO É BOA COISA! NÃO QUERO QUE ME LEMBREM MAIS DO QUE A PORRA DE UM ESPELHO JÁ É CAPAZ DE ONDE E DE QUEM EU SAÍ! – enfureceu-se, porque ele ouviu o Black. – MAIS DO QUE... as cicatrizes que ele deixou na minha mente – sussurrou, a voz grave e dolorida. – Você... – encarou Albus mortalmente. – Não tem o direito de me comprar a ele. Me insultar dizendo que sou ele ou como ele, o que for! Não depois de tudo que passei, de todo o esforço que tive para apagar esse homem da minha vida! Do peso que foi conviver com a sombra das decisões de Gellert Grindelwald em cada passo que dei na minha existência!
- Você quer eu acredite mesmo nisso?
- Quero que me deixe em paz!
- Quando você voltar para Nurmengard...
- O que tem na sua cabeça?! Vento? É sério que você acha que sou meu pai e pronto?! Como RAIOS eu teria feito isso?! Como teria enganado todos os guardas de Nurmengard?! Eles me interrogaram, sabia? Não são um bando de idiotas!
Albus sorriu, um sorriso cansado e deprimido enquanto ar saia pela boca. Se lembrou de Gill perguntando se ele fez curso para ser tolo, ou algo assim.
A forma de falar era a mesma.
Lakroff parecia apenas mais infantil.
- Os guardas apenas te fizeram perguntas de rotina porque um fugitivo procurado apareceu na sua casa e você o derrotou em batalha depois de tudo que se mostrou capaz em fazer.
- Exatamente! Eles sabiam que era uma história absurda e garantiram que era verdade!
- Eles foram rápidos porque entenderam que você "era um pobre coitado", cujo pai abandonou e que tentava viver sua vida até o homem aparecer na casa da família e pegar os dois desprevenidos. Você já fez máscaras melhores – comentou Albus para o vento.
- Você já se ouviu falar? Ou foi justamente isso que atrofiou a mente? – bufou cruzando os braços.
- Eu te conheço.
- Meu pai...
- Eu não caio mais nas suas mentiras.
- Eu não minto! – bufou frustrado levando as mãos à cabeça.
Harrison, em algum lugar do mundo, deve ter sentido uma súbita vontade de rir, o platinado teve essa impressão. No mínimo, a horcrux em sua cabeça rolou em gargalhadas.
"Lakroff Mitrica não mente?" ele quase podia ouvir a voz de Riddle em sua própria cabeça "Essa é boa e eu sou a Madre Teresa! Maria mãe de Jesus! Qualquer santo que seja!"
- Se não conhece seu pai – continuava Albus. – Como afinal sabia sobre nós dois?
- Na sua cabeça eu nasci de osmose dele, não é? – reclamou a cada instante mais zangado. – Espera, você acha que eu sou ele, então... Olha, eu tenho uma M.Ã.E! – disse pausadamente. – Ou tinha – sussurrou bem mais deprimido que irritado. – Ela tinha inteligência o bastante para saber que meu pai era um merda e me contar isso, me avisar para me afastar dele, não ouvir o que ele dissesse.
- Você ouviu coisas que ele disse? Mas vocês não se conheciam, não é? – questionou astuto, os olhos brilhando como se tivesse achado uma falha na história.
- CARA ELE FALAVA PARA O MUNDO TODO! ESTAVA NOS JORNAIS! Ele literalmente juntava multidões com discursos ridículos e homicidas que as pessoas aplaudiam como as tolas que são! Controladas por sua ignorância e desejo de soberania disfarçado de apoio a uma causa patriota! "Salve os bruxos", "bruxos acima de tudo, deidades acima de todos", merdas assim! Usando ideologias religiosas para se levantar diante de crentes que esperavam uma solução milagrosa, porque aceitar que a vida é podre e somente as decisões coletivas são causadoras e responsáveis por isso era difícil demais, porque tornava a solução mais difícil! Aceitar um messias como Gellert era mais fácil! Alguém que apoiava-se em economias falhas, países quebrados, transformando o mundo em perfeito, se não fosse por um inimigo que arruinava tudo! Mudando a vida para algo simplista onde bastava eliminar uma falha que tudo se resolveria, ele poderia eliminar essa falha, era tão simples como um assassinato. Bastava que tivessem coragem para cometê-lo. Ele não matava, mas agia como se não fosse culpa dele as ações extremistas de seus seguidores, as mortes, as agressões, todo o ódio disseminado por ele que era convertido em violência!
- E você sabe bem das ideologias dele, pelo jeito.
- Dos métodos pobres e terríveis que ele usava. Da falha humana que permitiu que tantos acreditassem e apoiassem ele, mesmo que a própria lei lhes dissesse várias vezes que ele era mentiroso, cruel e tão corrupto quanto os outros! Minha mãe era sábia o bastante para perceber o monstro que ele era e me avisar sobre os problemas em ouvir pessoas como ele, mas não para evitar engravidar do traste, uma pena. Mas eu culpo meus avós.
- Até suas respostas são as mesmas... Você não está nem tentando!
- Do que está falando?!
- Você disse que não mente? Bom, não mentiu! Essa é a história do Gellert. A mãe presa num casamento arranjado pela família com o lorde Grindelwald. Você sendo criado por um pai abusivo, cruel e cheio de ideologias tortas, que morreu cedo e...
- Gellert está vivo seu idiota! Você não o matou! Pior! Quando EU tentei matá-lo, quando assinei o maldito documento permitindo a sentença de morte pelo MASSACRE que o filho da puta fez para fugir, VOCÊ não permitiu! Vai a merda, Albus!
- Esse é outro furo da sua história... – murmurou negando com a cabeça.
- Que furo, inferno sangrento?! De que merda está falando agora?!
- Por que você assinaria um documento pedindo para o estado alemão sentenciar pena de morte ao seu pai depois de tantos anos apenas o ignorando? O que é? Você colocou algum dos seus fiéis no seu lugar? Queria matar antes que a polissuco acabasse?
- Polissuco? Essa é boa! – revirou os olhos, bufando. – Pelo jeito eu preciso voltar à escola, porque até onde sei, polissuco não dura anos. Nem que eu encontrasse um jeito de dar, numa das cadeias de segurança máxima do mundo sabe-se lá como, para um pobre coitado que prendi mais doses dela para não perder o efeito, o que raios impede essa pessoa de FALAR?! Ou será que na sua cabeça eu também, além de fazer uma polissuco infinita ou muito melhor do que todas as existentes, fiz uma maldição império tão perfeita que o cara que deixei fingindo ser meu pai... fingindo ser eu na cadeia, desculpe - se corrigiu cheio de cinismo. – Não consegue contar para os guardas tudo isso, mesmo estando numa cela que anula magia? Com runas TATUADAS pelo corpo para ANULAR qualquer feitiço que aquele arrombado tenha a ideia de usar?!
- Eu não...
- As runas, a propósito, são de novo algo que eu dei autorização para serem usadas! Sendo que você que deveria ter feito isso desde o começo e impedido Gellert de matar mais de uma centena de guardas inocentes! Além de aparecer na minha casa, pondo em risco a minha vida e da minha família! Eu tenho filhos, Albus! – Dumbledore ignorou a careta que queria fazer. O guarda havia lhe dito, mas ainda lhe custou acreditar que aquele homem à sua frente tivesse. – A última coisa que eu quero é que eles tenham uma visita do sociopata do avô deles! Eu não queria essa visita do meu "pai"! Mas graças a sua incapacidade de tratá-lo como o maldito monstro que ele é e executar de uma vez por todas, você prefere continuar o mantendo preso nessa história ridícula de vocês dois!
- Nenhum filho ia querer matar o pai assim...
- Puta merda, vai se foder! – praguejou baixinho, levando as mãos ao rosto. – Talvez não na sua vida perfeita e bonitinha, onde todos são bons e felizes e o mundo não é um maldito caos com duas guerras causadas por lordes das trevas no MESMO SÉCULO! O que se passa na sua cabeça, afinal?! Eu posso listar, só nessa escola, talvez uma centena de bruxos que gostariam de matar os pais babacas e o meu é o rei deles! Eu nasci como bruxo sim, fui criado pela minha mãe, tive a sorte de estar fisicamente longe dele por tempo o bastante para não ser completamente sequelado, mas eu ainda tive que estar psicologicamente próximo sempre! Eu tive que crescer como um nascido entre trouxas, sem nunca entender porque minha mãe falava tanto de homens aleatórios e malucos, mas nunca sobre meu pai de verdade! Para descobrir eventualmente que esse pai sempre foi um maníaco de suas histórias e...
- E se você não o conheceu pessoalmente, de onde veio toda essa raiva?
- Você tem noção do que é ser um órfão como eu fui?! O que é perder sua mãe, mas ela ser a única coisa que você ainda tinha, mesmo que seu pai estivesse vivo?! Porque esse pai se importava tão pouco com você, que nunca... – parecia difícil para Lakroff falar, todos vivos ou quadros, notavam. Era como se doesse mesmo cada palavra composta e carregada de lembranças. – Eu cresci como um nascido entre trouxas, em um orfanato, acreditando que era um órfão deixado pelo mundo bruxo, que nunca foi capaz de pensar em outros como eu e criar um maldito orfanato, porque nascidos entre trouxas e órfãos são descartáveis para sistemas controlados por lordes! Então ainda fui submetido a lugares onde minha magia era abominada! Mas daí qual será que é pior? Não saber o que são as coisas esquisitas que acontecem com você e não entender porque todos te culpam por elas? Ou saber, porque sua mãe morreu um pouco tarde demais e lhe deu as informações básicas, saber porque ela teve tempo o bastante de lhe contar histórias que você se agarrava desesperadamente torcendo para que tirasse delas alguma força, mas ser jogado em um orfanato longe de tudo que conhecia porque o seu próprio mundo ignora todos os órfãos! Sentir que não havia lugar para você no mundo. Que você era um órfão qualquer, um bruxo, mas sem origens que lhe garantissem algum maldito futuro num mundo onde a meritocracia é o maior conto de fadas possível e o mais doentil!
[N/A: Meritocracia. substantivo feminino 1. predomínio numa sociedade, organização, grupo, ocupação etc. daqueles que têm mais méritos (os mais trabalhadores, mais dedicados, mais bem dotados intelectualmente etc.). 2. POR METONÍMIA classe ou grupo de líderes num sistema desse tipo. 3. sistema de recompensa e/ou promoção (p.ex., num emprego) fundamentado no mérito pessoal. Isto é, estão acima na pirâmide social, aqueles que mais trabalharam e, portanto, mereceram isso].
- Não que isso tenha acontecido comigo – Lakroff riu macabramente. – Além de tudo, você acha que essa dor toda é falsa e inventada.
- Você acha que não sei o que é perder os pais? Perder um pai por decisões ruins, uma mãe pelo acaso? É cruel que esteja forjando uma história dessas, se sabe o quanto me...
- EU NÃO ESTOU FORJANDO! ESTOU ME LIXANDO PARA VOCÊ! Se sabe A DOR que isso é, então devia ter feito algo!
- Como?
- Você nunca foi uma pessoa decente o bastante para entender o que isso faz com uma criança e se sensibilizar, se está me dizendo que passou por isso e não moveu um dedo para tentar...
- Como ousa dizer que eu não fiz minha parte para ajudar as crianças?! – ofendeu-se.
- Eu ouso porque você não fez! Porque a única pessoa que lutava por crianças bruxas órfãs era um homicida!
- Orfanatos existem!
- Trouxas!
- É tão ruim para você a vida de um trouxa? – perguntou com aquele mesmo tom de quem pega uma pessoa fazendo algo errado.
- VAI PARA O INFERNO É CLARO QUE É RUIM PARA UM BRUXO ISSO! O merda que lutou por bruxos tendo uma vida onde sua magia não precisava ser DESESPERADAMENTE REPRIMIDA durante uma infância INTEIRA, por leis que os separam dos demais de forma injusta e desigual, com uma falsa ideologia de mundo perfeito onde isso não as prejudica para sempre, desde a formação até a educação e a carreira no futuro!
- Isso está errado, você e Gellert...
- AGORA somos pessoas diferentes?! – interrompeu em fúria. – Gellert estava errado em praticamente tudo que dizia, mas ele pensou nos órfãos. Ironicamente, justamente ele podia ter impedido... podia ter dado uma vida que não fosse essa para... filho – Lakroff tossiu, Albus teve a impressão de que para esconder um soluço, pois os olhos do homem estavam tão marejados quanto sua voz se mantinha falha. – Eu fui alguém cuja mãe ainda teve tempo de pedir para manter distância de toda essa merda que meu pai pregava antes de ir, mas também me ensinou a ver quando o outro lado era igualmente merda! Eu fui alguém que... Gellert escolheu, por livre vontade, deixar o filho num orfanato apodrecendo, longe de tudo, mesmo sabendo da sua existência e o que acontecia em lugares como aquele! Eu NUNCA vou perdoar aquele homem, nunca vou aceitar que continuem me comparando com ele, porque eu NÃO SOU ele! Gellert era alguém que se importava mais com a guerra do que... comigo... do que o fi... com... - ele precisou de uma inspiração profunda antes de encerrar. – Ele se importou mais com todo o resto do lixo podre que acreditava, do que com Garden ou eu.
- Garden?
- Você, entre tantas pessoas, deveria saber que tudo isso nunca é boa coisa. Um orfanato... – murmurou sombrio.
Albus arrumou a postura e o encarou, a expressão dele se tornou bem mais séria, carregada:
- O que quer dizer com isso?
- Você é o diretor de uma escola, trabalha na educação há um século! Vai me dizer que nunca notou um aluno órfão aparecendo com machucados depois das férias ou coisa parecida? Nunca teve que buscar um num lugar caindo aos pedaços e lhe contar que, pela primeira vez na sua vida, ele terá livros seus, uma cama sempre quente e comida, um banquete, em todas as refeições!
- Vocês não aceitam nascidos trouxas, como você teria tido essa sensação?
- Primeiro porque eu VIVI NELA, ou será que sua audição foi tão prejudicada quanto a sua razão?! Eu vi pessoalmente como isso feriu e fere órfãos À ANOS!
- Você fala como ele, age como ele.
- EU NÃO TENHO COMO ME DEFENDER DE ALGO QUE EU NÃO SEI! – urrou batendo o pé com força no chão. Fez um barulho alto o bastante para surpreender, uma vez que era rocha sólida. – Eu não reconheço Gellert Grindelwald! Ele não me criou! Não sei o bastante dele para me dizer igual ou diferente daquela peste! Ele poderia ter sido um pai! Podia ter criado a mim e meu irmão e...
- Você tem irmão?
- Pensei que já teria, ao menos, vasculhado minha vida antes de sair fazendo suposições ridículas de que sou... não sei. Gellert. Simplesmente o homem que fez da minha vida um inferno! Que tomou todas as decisões erradas possíveis sem se importar com sua família! Garden, o nome que disse antes, seu idiota. Esse era meu irmão! Agora me diz que além de fazer essa palhaçada comigo sem qualquer razão ou provas, afinal não tem como ter uma prova de uma ideia ridícula dessas! Fez antes de, no mínimo, dar uma olhada no meu passado?
- Para me deparar com uma identidade falsa bem feita? Me poupe dessa desventura infundada.
- EU NEM TINHA UMA MALDITA IDENTIDADE RELACIONADA A ELE! ELE NÃO ME REGISTROU NEM GARDEN! Vivemos em orfanatos, que inferno! E SEPARADOS! – levou as mãos ao rosto e esfregou. – Porque minha mãe já devia ter ficado louca por causa daquele merda, porque ela achou que... Poderia salvar ao menos um filho se ele viesse até nós. Achou que estavamos mais seguros como trouxas, porque todos achávamos que eramos abortos, então... – quando levantou o rosto, desta vez, uma lágrima realmente saiu. – Apagou nossas mentes.
- Como?
- Tudo o que disse sobre minha mãe... Eu tive que recuperar. Tive que usar magia por anos para me lembrar, porque ela antes de morrer e quando meu pai foi preso, decidiu que era perigoso demais para seus filhos simplesmente existir. Ela obliviatou a gente e colocou cada um em um lugar. Sabe o que fazem com crianças lá em um orfanato? Uma como eu? Que nem tinha registro dos pais, que foi largada como nada? Que fazia coisas estranhas acontecerem? Sabe como foi doloroso me criar, ser desfeito, me refazer do zero, e de novo e de novo, me reinventar até me tornar uma pessoa? Uma que sentisse orgulho ainda por cima? Meu pai, minha mãe, os dois só foderam comigo. Meu passado não passa de uma mancha causada por alguém que eu não reconheço, porque me puxaram de um lado para o outro, me dizendo quem eu era, mas eu nunca soube de verdade. Porque me tiraram isso. Meu pai nunca esteve lá. Minha mãe enlouqueceu. Garden... Tudo. Tudo estava errado, confuso, ridículo e eu fiquei desesperado para juntar as peças para me deparar com um bando de lixo que só me casou dor e não vou deixar você me jogar esse chorume de novo! Meu passado não importa! Eu sou Lakroff Mitrica agora e tenho minha vida! Você não ouse dizer que ela é falsa ou que ficar me arrastando para essa dor ridícula causada pela insanidade dos meus progenitores!
- Quando sua mãe morreu? - perguntou Albus após vários segundos, Lakroff franziu o cenho confuso que o outro tocasse ainda naquele assunto. – Deixe-me adivinhar, cinco? A mesma idade que a mãe de Gellert...
- CALADO! – gritou e bufou.
Lakroff estava se irritando demais com aquilo, ele sabia que Albus era um cabeça dura, então... Do que adiantava? Nada do que dissesse serviria.
- Quer saber? Esqueça – suspirou frustrado. – Eu não vou me dar essa dor de cabeça. Meu pai já me atrapalhou por anos, mas eu superei. Eu superei a dor que ele me causou, eu convivo com os traumas que ganhei, eu sou melhor do que ele e do que a coisa que talvez quisesse que eu fosse, mas não importa. Também não importa as decisões podres da minha mãe, ou minha necessidade de me apegar a ela porque é o pouco de amor que eu tinha. Hoje, como eu bem disse, eu tenho uma vida além de toda essa merda. A minha vida. Que eu me orgulho e construí com o afeto que nunca tive e que está bem. Você pode detestar Gellert, mas não me enfie nesse buraco. É a última coisa que quero...
- Não acha muito dramático? Sua vida não acaba porque você não foi criado pelos pais.
- Espero que tenha dito isso para o seu irmão também.
Albus imediatamente arregalou os olhos e se levantou, muito alarmado, sua magia se agitando pela sala. Lakroff não se deixou abalar, liberou a sua também.
Sombria, gélida. Rígida e massiva no bruxo que a detinha, saindo por ele como ondas, afrouxando, ar frio até se tornar algo como uma essência, uma presença com presença sutil, mas ainda lá. Como sair de casa sem casaco. Havia algo a mais também, bem sutil, deslizando pelo ar como uma lagarta, como uma cobra d'água onde a superfície que usava era a magia do mais jovem. Albus não soube dizer o que exatamente era. Mas havia uma verdade, ambos sentiram:
Eram opostos.
Gelo obscuro, contra fogo e luz. Roxo, contra vermelho e amarelo vibrante. A firmeza do gelo, o mistério das artes sombrias... A vida do fogo, calor da luz.
Lakroff não podia ver, mas podia sentir em cada canto da mente.
- Até sua magia é como a dele – murmurou Dumbledore sério.
A sensação, a pressão causada pela magia de Lakroff Mitrica, muito ali era realmente parecido com Gellert Grindelwald, mas mesmo assim...
Não era igual.
Não era a mesma, em demasia. Havia fatores diferentes e primordiais. Para começar... Gellert não era gelo. Gill era quase uma gelatina, sua magia grudava na pele, parecia o tipo de coisa difícil de tirar, impregnava, tinha cheiro junto de sua textura, deixava um gosto agridoce na boca que você poderia odiar...
Ou ficar curioso querendo mais e mais até se viciar.
Poderia ser consequência do tempo, é claro, mas havia algo a mais também.
Lakroff era mais fraco que o pai.
Albus era bom o suficiente em sentir a energia mágica das pessoas para notar que falta algo, uma energia específica e natural em Gellert que Lakroff simplesmente não tinha. Demorou apenas alguns segundos para sua mente fazer as conexões e, se não tivesse visitado o lorde das trevas em Nurmengard a alguns dias, não teria conseguido.
Gellert, mesmo na cadeia e com todas as runas no corpo, correntes e cela, tinha uma presença mágica que não existia em Lakroff. Uma frequência específica, naquele homem era adormecido. Como...
Sirius e Ninphadora Tonks.
Sirius não era um metamorfomago, mas Tonks era, Albus achou curioso como a magia deles era parecida, mas essencialmente diferente, ela estudava em Hogwarts ainda quando o primo de segundo grau foi preso. Ambos tinham uma semelhança, assim como a maioria dos Black, mas uma diferença.
Não só isso, toda a magia de Lakroff parecia bem menos instável e nociva, parecia um filhote enjaulado em comparação com o pai, que era uma criatura rugindo e atacando. Ele também parecia ter menos energia mágica em essência. Acabaria sua estamina numa batalha bem mais rápido que seu pai. Um pouco mais que... sessenta por cento do tempo de Gellert, imaginava.
Albus foi andando até o homem que nem moveu um músculo, apenas encarou o mais velho em desafio.
- Ela pode ser parecida, mas isso se chama magia de linhagem, já ouviu falar? Eu, infelizmente como já constatamos, sou herdeiro dele. Sei que você apoia os princípios de igualdade na sociedade mágica e eu também, mas nem por isso devemos ignorar que linhagens bruxas partilham sim características únicas entre os seus – então olhou para o canto da sala, onde Fawkes estava. A fênix estreitou os olhos para o homem e abriu um pouco as asas, se remexendo no poleiro. – Dumbledores sempre serão protegidos por uma fênix.
- E você quer que eu acredite que sua mãe contou isso também? E que recuperou a memória depois de ser obliviatado, sem consequências?
- Acha que não houveram consequências? Claro que sim! Mas eu sou um bruxo das trevas, eu vou até o fim, eu enfrento as consequências pelo que quero. Não que elas tenham valido a pena. Se prender ao passado, só te deixa quadrado, fraco e... - olhou diretamente para Albus. – Maluco. Ninguém devia ficar tanto tempo preso ao que já foi. Ninguém deveria pensar apenas à frente. No fim, temos que olhar para onde estamos e aproveitar o presente. Você, Gellert... pelo jeito se mereciam.
- Eu...
- Eu que descobri sobre as fênix e sua família. Não é tão difícil, você é famoso, já ouviu falar?
Albus parecia prestes a dizer algo, mas não conseguiu continuar, naquele instante alguém bateu na porta.
Dumbledore encarou Mitrica e sem tirar a atenção dele murmurou:
- Sim?
- Albus, sou eu – chamou Minerva do outro lado. – Abre aqui, agora!
- Minerva, estou ocupado.
- Abre ou vai ser pior! Albus! – e bateu na porta de novo. – Agora!
O homem estranhou a urgência e a forma de falar da amiga. Mesmo que estivesse brava com ele desde a noite, quando admitiu ter lido sem intenção a mente de Neville, Minnie não era do tipo que falaria com ele assim, ainda mais sabendo que estava com alguém na sala.
Ele levantou a varinha em direção à madeira e a bruxa de vestes esmeralda entrou correndo como um borrão, correndo até ele:
- É bom que esteja preparado para isso, eu nem tentei segurá-la – disse no mesmo instante, cruzando os braços. – Professor Mitrica – chamou se virando para o outro. – Poderia me acompanhar para fora?
- Como é? – perguntou o loiro piscando.
- Minerva – chamou Dumbledore com o cenho franzido. – Do que está falando? Porque veio tirar o professor...
- Estou fazendo isso pelo seu bem – respondeu grossa, o interrompendo. – Confie em mim quando digo isso – voltou-se para Lakroff. – Por favor, Lord Mitrica. Comigo, vamos sair.
- Mas...
Então, assustando os dois homens com a força que aquilo aconteceu, uma rajada de chamas verdes saiu da lareira de Albus Dumbledore, cresceu, rugiu, crepitando até uma voz sair por ela:
- ALBUS PERCIVAL WULFRIC BRIAN DUMBLEDORE! – o nome foi gritado em um urro enfurecido que preencheu toda a sala e fez Lakroff levar às mãos aos ouvidos.
Um primeiro pensamento lhe veio:
"Augusta Longbottom se casou com o filho de uma Black ou ela que era a Black?"
Depois daquele grito, o homem realmente considerou ter aprendido errado a árvore genealógica dos Longbottom porque sua amiga tinha um fôlego digno de estar na casa dos corvos. Walburga ficaria orgulhosa... As duas será que estudaram na mesma época? Ele nunca foi tolo de perguntar a idade de Augusta diretamente, assim como ela nunca perguntava a dele, assim nenhum dos dois mentia um para o outro.
Então ela entrou. Saindo das chamas como uma fênix (porém verde), usando o chapéu com um urubu empalhado (Lakroff adorava aquele chapéu, mais especificamente como todos o olhavam como se fosse a maior aberração da Terra e era tão divertido assistir essas expressões nos outros ou ver Augusta gritando com quem a olhava assim: "perdeu alguma coisa aqui ou quer que eu arranque de você?!". Ah! Ele amava aquela mulher de um jeito próprio), carregando uma bolça vermelha grandona e um vestido preto tubinho.
Albus tremeu e olhou para Minerva em choque.
Alguém tossiu.
- Ela solicitou uma audiência imediata com o diretor da escola e como vice-diretora eu tive que autorizar – explicou McGonagall. – Ainda mais diante das circunstâncias – acrescentou, ignorando totalmente a expressão do amigo que gritava algo como "como pôde?!". Ela apenas se virou para Lakroff, pronta para pedir para acompanhá-lo para fora de novo quando Augusta gritou.
- VOCÊ É UM HIPÓCRITA NOJENTO QUE USOU ARTE DAS TREVAS NUM ALUNO?!
"Opa" pensou Lakroff enquanto se concentrava em não mover um músculo.
Apesar de querer rir muito.
Esperava que Rita tomasse nota, mas antes que a besoura pudesse ouvir demais, usou magia sem varinha e não verbal para criar uma ventania e, usufruindo do ar gélido como desculpa, foi fechar a janela.
Bem em tempo de manter a privacidade de Neville, pois Augusta já esgoelava novamente, as cordas vocais em pleno funcionamento:
- VOCÊ LEU A MENTE DO MEU NETO, ALBUS?!
De novo, alguém tossiu e Minerva não teve tempo de averiguar quem tinha entrado pela lareira com Augusta (Porque de certo havia uma pessoa, que estava tossindo e se abanando), a professora se concentrou mais em uma questão de maior urgência.
"Droga" pensou correndo para a porta e a fechando, começando a colocar feitiços silenciadores e de tranca.
Não poderia mais deixar o lorde Mitrica sair e espalhar aquilo. Também devia evitar que o mínimo de pessoas ouvissem e espalhassem a fofoca naquela escola onde noticias assim corriam mais rápido do que os alunos para fugir de uma prova. Não podia permitir... até resolverem.
Suspirou, sentindo uma pontada de dor de cabeça.
- Augusta, minha cara – começou Albus.
- MINHA CARA É O INFERNO DA SUA BUNDA VELHA! – urrou, tremendo de fúria, encarava mortalmente o homem à sua frente, também estava bem vermelha e Lakroff começou a se preocupar que pudesse passar mal.
- Você precisa se acalmar – disse Albus, aparentemente chegando à mesma conclusão que Lakroff, mas o loiro ao menos sabia que essa era a última coisa que deveria ser dita a uma mulher irritada.
- ME ACALMAR?! ME ACALMAR?! – ela deu uma pausa, tremendo mais. – Você... – Lakroff não soube se era mais assustador os gritos ou o sussurro daquela mulher. – Não tem o direito de me dizer algo assim... NEM CHAMAR DE MINHA CARA!
- Vovó! – chamou um homem loiro, um tom de cabelos um pouco mais claro do que a maioria dos Longbottom tinha, mas que Albus nunca vira na vida.
Ele era alto, registrou, cerca de um metro e noventa provavelmente, musculoso, do tipo que ia frequentemente numa academia, ombros largos, mas também não parecia um brutamontes, principalmente com o queixo fino aristocrático e olhos claros, ele era a típica beleza britânica da cabeça aos pés. Usava um terno que se ajustava ao corpo como uma segunda pele perfeita nele, em tons de azul marinho, preto e branco. Um lenço vinho no bolso chamava certa atenção, mas estava sem o paletó. Permaneci com a camisa, a gravata toda ornamentada e um colete com detalhes em veludo.
Era jovem, não daria mais que vinte e cinco para um trouxa, então deveria ter em torno dessa idade até os trinta e poucos.
Ele se aproximou de Augusta tossindo ainda.
Havia um outro alguém, mas era um elfo. O elfo com as roupas mais bonitas que Albus já vira um usar na vida. Era, ao que tudo indicava, um terno e isso o deixou completamente em choque.
- Querido... – murmurou Augusta indo até o loiro, a voz antes furiosa, se tornando calma e maternal enquanto levava as mãos ao rosto do homem e limpava pó dali. – Engoliu fuligem?
- Um – tossiu. – Pouco.
- Quer água, meu senhor? – perguntou elfo de forma incrivelmente polida, apesar de ainda reverente como um elfo.
- Não será necessário – tossiu. – Eu só... – tossiu de novo. – Credo, que coisa terrível.
- Me desculpe querido... – murmurou Augusta preocupada.
- Tudo bem vovó. Ao menos a senhora não parece prestes a ter um AVC agora – sorriu e seu sorriso era encantador. – A senhora ainda tem muitos anos pela frente, mal saiu dos trinta.
Augusta deu um tapa no braço do garoto:
- Você é impossível, como seu pai.
- Vou tomar como elogio – disse com um sorriso ainda maior, ajustando o terno. O elfo puxou um lenço de seu bolso e começou a "espanar" o seu mestre com cuidado, para limpar qualquer vestígio da viagem de pó de flu.
- Augusta? – chamou Minerva cautelosa.
- Minerva, eu... – então, como se algo fosse ligado de novo na mulher, ela girou pelos calcanhares, quase acertando a bolsa no garoto que pulou para trás para desviar, rindo baixinho. – ALBUS DUMBLEDORE, SEU DESGRAÇADO, COMO OUSA?! NÓS CONFIAMOS NOSSA VIDA A VOCÊ NA GUERRA E É ASSIM QUE RETRIBUI MINHA FAMÍLIA?! – gritava, batendo o pé.
Para uma mulher tão pequena era impressionante que conseguisse soltar um som tão significativo. Mesmo Nicolas Black fez uma careta tapando os ouvidos incomodado. Os outros quadros já o haviam feito a tempos.
- Augusta, eu...
- NÃO! VOCÊ VAI ME OUVIR! EU NÃO ACREDITO QUE TEVE A PACHORRA! MEU NETO, ALBUS! MEU NEVILLE! ELE É TUDO QUE ME SOBROU DO MEU FILHO! E VOCÊ... VOCÊ...
- Vovó... – chamou o garoto loiro, se aproximando da mulher e lhe tocando o braço.
- VOCÊ FEZ O MESMO QUE DESTRUIU MEU FILHO, SEU DESGRAÇADO! – jogou, morta de raiva, explodindo de desgosto e, como se incapaz de tornar as palavras o bastante, ela arremessou sua bolsa no homem (de novo, o loiro com ela teve que desviar, dessa vez se abaixando quando a coisa girou entre eles para atingir seu alvo. Ao menos ele tinha bons reflexos).
- Augusta! – chamou Minerva.
- Augusta, por favor, eu imploro que falemos sobre isso em particular – pediu Albus após se levantar novamente (uma vez que também abaixou para se desviar da "arma").
Ainda precisando reagir diante de toda a sua dor, a mulher idosa correu na direção da mesa de Albus, sendo seguida por sua companhia.
- EU NÃO DOU A MÍNIMA MERDA PARA O QUE VOCÊ IMPLORA! EU CONFIEI MEU NETO A VOCÊ E TEVE CORAGEM DE FEZER ISSO!
- Augusta, há u...
- CALADO! SUA CABRA, BARATA, VELHA HORRENDA! - Lakroff e Minerva chegaram a tremer, o garoto que acompanhava Augusta pareceu inclinado a tocar suas orelhas, mas desistiu.
- Vovó, chega – pediu mais firme dessa vez, segurando os braços da mulher, que continuou encarando Albus mortalmente antes de enfim deixar ser guiada pelo homem. – Calminha – ele pediu, puxando uma cadeira e colocando-a sentada. – Long, eu aceito aquela água agora.
- Sim, senhor – o elfo e, com um estalar de dedos, fez um copo de água aparecer, entregando a Augusta.
- Obrigada, Long querido – agradeceu. Todos viram como ela precisou de ajuda do homem que a acompanhava para segurar e beber sem derramar nada.
- O senhor também, mestre – mandou o elfo, estalando os dedos de novo e enchendo o copo recém esvaziado quando o loiro o tentou devolver.
- Mas eu não...
- Beba – mandou. – O senhor engoliu fuligem, sem "mas".
Minerva e Albus arregalaram os olhos, surpresos com a forma como um elfo doméstico falou com seu mestre, mas tão impressionante quanto, viram o garoto suspirar e obedecer, tomando de uma vez todo o copo.
- Satisfeito? – perguntou.
- Muitíssimo – respondeu com um sorriso.
- Augusta – chamou Albus calmamente. – Aquele ali é o professor e vice-diretor da Durmstrang, Lakroff Mitrica – "apresentou" apontando para o canto na janela onde estava o loiro quase albino.
A mulher estreitou os olhos na direção de Lakroff e acenou, enquanto ele fazia uma reverência:
- É um prazer, Lady...?
- Longbottom – "esclareceu". – Desculpe pelo show, milorde. Eu apenas sou uma avó preocupada.
- Não se preocupe, eu entendo totalmente - garantiu com um de seus sorrisos calmos.
- Dito isso, Minerva, por favor, leve o lord Mitrica daqui enquanto eu esclareço esse mal entendido ridículo que parece ter chegado a minha amiga.
- MAL ENTENDIDO?! AH NÃO! VOCÊ NÃO VAI COMEÇAR A MENTIR AGORA E-
- Augusta, por favor! – chamou Dumbledore mais alto. – Isso claramente não é um assunto para ouvidos alheios! Eu garanto que vamos entender o porquê de você pensar algo tão horrível de mim, mas garanto que não é verdade.
- Se não é, porque quer o homem fora? – provocou estreitando os olhos e cruzando os braços.
Aquele que estava com ela riu.
- Porque precisamos de privacidade para tratar de algo assim.
- Não vejo razão! – retrucou irritada. – Se você é inocente, melhor que o lorde Mitrica saia daqui sabendo disso e não com uma dúvida na cabeça.
Dessa vez Lakroff riu junto com o garoto.
- Augusta, não acho que seja uma boa ideia...
- Também não acho boa ideia ler a mente de crianças inocentes para descobrir informações sigilosas sobre seu amigo!
O lord Mitrica fechou os olhos para conter todo o orgulho que sentia.
"Essa é minha garota" pensou.
Dumbledore suspirou cansado. Aquilo não levaria a nada, teve certeza. Augusta estava obviamente irredutível.
Que ótimo.
Olhou para o visitante desconhecido e decidiu perguntar, enquanto tentava ganhar tempo para pensar no que fazer:
- Desculpe, não fomos apresentados. Albus Dumbledore, e o senhor é?
- Não é da sua conta – respondeu no ato.
Lakroff mordeu a língua ao ponto de sangrar.
- Como é? – Albus perguntou espantado, piscando atordoado. Mesmo Minerva não esperava uma resposta daquelas.
- Engraçado – comentou o garoto, olhando de Albus, então para Augusta. – Pensei que depois dele usar artes das trevas para ler a mente de Neville e descobrir sobre a vida pessoal de Harrison, me reconheceria como seu tutor.
- Como é?!
- Invadiu a mente do melhor amigo de Harrison, meu protegido, para descobrir minha identidade, Albus Dumbledore – disse se levantando e olhando diretamente para o homem. Se o olhar de Augusta estava mortal, o deste homem...
O deste homem parecia o desprezo da própria morte. A frieza de uma lâmina. O vazio de uma máquina. Um revólver.
Com o cano apontado para sua testa. Tão mortal, objetivo, distante e impessoal quanto um.
- Se foi tão longe por essa informação, eu faço questão de não lhe dar. Já que achou que era algo tão difícil de se conseguir que precisava quebrar todas as barreiras morais e até legais de seu próprio país, eu prefiro que seja minimamente justificável, tornando essa a informação mais difícil que cassará em toda a sua vida! Mas sei que não vou conseguir por muito tempo, logo descobrirá e quando perceber que ela poderia ser conquistada tão fácil quanto fazer compras num mercado, eu garantirei que arcará com as consequências por essa atitude ridícula da pior forma que conseguir.
Quando o peito de Albus subiu e desceu lentamente, Lakroff soube que o homem ficou assustado.
A ameaça o atingiu.
"Esse é meu garoto!" pensou ainda mais empolgado, cheio de orgulho de seu filho mais velho.
-x-x-x-
Voldemort não tinha mais certeza se iria absorver ou não o diadema quando estivesse consigo.
Precisava dele, isso era certeza, mas estava tentando evitar ser impulsivo e inconsequente. Principalmente com a própria saúde. Reabsorver uma horcrux era difícil, doloroso e exaustivo. Seus pulsos ainda tinham marcas que o forçaram a usar mangas compridas.
Agora, na academia que montou na mansão Riddle, foi o primeiro momento em dias que ele esteve com algo menos quente e que mostrasse pele.
Ou melhor. Era o primeiro momento, que não fosse seu banho, que ele estava sem nada na parte de cima do tronco.
Manteve apenas uma calça de moletom e foi para os aparelhos cuidar do pouco de saúde que lhe restava e que, com compromisso, estava se forçando a manter.
Seu corpo não estava bem.
Teve que diminuir 15 quilos do que já tinha se acostumado a treinar. Mais uma prova de como ficava fraco após uma reabsorção de alma.
Sem contar a dieta.
Vinha comendo o máximo de refeições que lhe garantisse massa muscular. O corpo forjado na horcrux do diário era mágico, criou tendões, ossos e músculos assim. Magia e um princípio alquímico básico: troca equivalente. Em troca da vida da nascida trouxa, ele conseguiu se materializar. Só que quando Marvolo usava sua magia...
Tudo nele era afetado.
Um corpo feito de magia, não conseguia usar magia perfeitamente. Não no começo.
Quando reabsorveu a "alma principal" com o ritual de invocação que fez alguns dias após sair da câmara, conseguiu empunhar uma varinha e fazer feitiços, mas se cansava toda vez. Muito. O corpo do diário foi algo que nunca imaginou, materializado por memórias que colocou sem imaginar que seriam tão úteis naquelas folhas de papel!
Um evento surpreendente. Um capítulo novo e único nas informações tão escassas sobre horcruxes.
Algo realmente ótimo para sua situação como um toda.
Mas era péssimo a longo prazo.
Marvolo nunca suportaria uma batalha longa. Por isso teve de fazer vários rituais depois da ressurreição que o deixaram parado por aqueles anos. Envelheceu normalmente (ainda sem as consequências antigas dos rituais desastrosos que se meteu, mais um resultado melhor do que o esperado), se alimentou, usou suas pesquisas para tornar aquele corpo falso em real.
Então treinou.
Para tornar os novos músculos que cresciam a cada dia, fortes como de uma pessoa normal, ele se esforçou. Tudo que estava a seu alcance, Marvolo nunca foi tão saudável, mesmo que em algumas de suas viagens tivesse se adaptado a hábitos mais propícios a isso com algumas tribos de magia xamânica e bestial primitiva (mas toda fonte de conhecimento é válida, não é?)
Também teve, provavelmente porque sempre gostou de estar acima do medíocre, treinos extras apenas para tornar seu corpo excelente em comparação a maioria.
Ele já tinha treinado na vida, até mesmo aprendido um pouco de luta (mesmo que antes detestasse cada segundo da experiência, se sentindo um primitivo em uma batalha corporal) alguns lugares exigiam isso se não quisesse arrumar problemas por uso indevido de magia e continuar discreto.
Só que estava mais forte do que nunca, isso era fato. Nada que ficasse marcado, mas o suficiente para ser notável. Não eram só os testes que vinha fazendo que comprovaram que ele já era uma pessoa completa de novo (os rituais e dieta foram um sucesso completo!), nem realmente estar se sentindo mais e mais vivo, mais confortável e seguro no próprio corpo. Marvolo se sentia conectado com sua alma e magia novamente e isso tinha um sabor próprio, mesmo com a dor e a fraqueza pós ritual.
Entretanto, reabsorver a taça da lufa-lufa parecia estar sendo pior do que foi com os outros. Ficou molenga, perdeu dois quilos de tanto vomitar e tinha chance de perder ainda mais por falta de alimentação correta.
Tinha, portanto, que decidir o que fazer com o diadema e o diabinho que lhe roubara os anéis de lorde.
Os anéis.
Agora mesmo estava passando o dedo por seu anelar, esperando encontrar lá seu anel de lorde. Mas não estava. Seu inimigo jurado o tinha e sem sua magia, Marvolo não tinha certeza se conseguiria enfrentar a coisinha que claramente não era fraco. Tinha consigo o diário, o anel, a taça. O medalhão já era... Teria forças o bastante apenas com o que já tinha para retornar essa guerra? A dor no seu corpo dizia o contrário, mas talvez teria de esperar de qualquer forma, o que lhe daria tempo para pensar.
- Milorde? – chamou Winky, a elfa, entrando e fazendo uma longa reverência.
Marvolo encarou a criatura e pegou uma toalha que havia posto ao seu lado, limpando o rosto suado e seguindo para o banheiro:
- Que é?
- Lucius Malfoy quer lhe falar, milorde.
- Mande-o esperar – respondeu entrando no cômodo, mas quando não ouviu o som da aparatação da elfa, olhou para trás, para vê-la inquieta na porta, olhando seus próprios pés. – Que é agora?
- Ele disse que era urgente, milorde. Algo que o senhor queria muito saber, mandou Winky chamar agora...
- Ele não manda aqui. Diga a Lucius que se ousar ordenar algo de novo para a minha elfa eu o ordenarei que arranque os próprios dedos com a boca. Estamos entendidos?
- Sim, milorde. Agora mesmo, milorde – e agora sim, sumiu.
Marvolo tomou seu banho.
Propositalmente foi mais demorado agora que sabia que Lucius estava com pressa. Se arrumou cuidadosamente, com um conjunto todo preto e foi enfim para seu escritório tentando não pensar como ainda estava furioso com o despeito de antes diante de sua aparência jovem. Claro, quando se é adulto parecer mais jovem é vantajoso, mas ser um lorde das trevas com a cara de um recém formado de dezoito era irritante, para dizer o mínimo.
Malfoy pulou da poltrona que estava sentado esperando quando viu Voldemort e se jogou no chão, para se curvar.
- Meu senhor.
- Nunca mais ordene nada a minha elfa. Você pede e eu vejo se ela deve ou não atender. Estamos entendidos? – questionou seco.
- Sim, milorde – respondeu com a voz obviamente trêmula de medo.
- Serei bondoso e dar apenas esse aviso – dispensou se sentando em sua escrivaninha. – E então? O que era tão urgente?
- Milorde – o loiro enfim se levantou e seguiu até a mesa de mogno, evitando olhar diretamente para o rosto de seu senhor. Diferente de antes, na primeira guerra, não por medo da expressão ofídica, mas agora puramente o pavor do que aquele rosto de anjo guardava em seu interior. Um monstro em alma, disfarçado por um belo homem jovem. – O senhor me pediu informações o quanto antes. Eu as trouxe.
- Quais delas?
- Sobre a profecia, sobre-
- Conseguiu a profecia para mim?
- Não ainda, mas...
- É claro – resmungou irritado e Lucius se encolheu. – Inútil mesmo.
- Meu senhor, o local onde ela está, o departamento de mistérios-
- Não quero saber de suas desculpas patéticas. Pouco me importa o porquê de você ainda decidir me decepcionar, Lucius. Quero apenas que lembre que sou um lorde paciente e bondoso, perdoo sua incapacidade, mas nunca fui um santo. Se continuar falhando mesmo que eu continue depositando minha fé em você, não será apenas minha confiança que perderá – ameaçou.
"Sua vida será o próximo" estava perfeitamente implícito.
- Sim, milorde.
- E Narcisa?
- Arrumando o baile senhor. Estamos mandando os convites. Ela está vindo para falar com o senhor e-
- Irei eu mesmo à mansão Malfoy - interrompeu mais uma vez, mas detestava a ladainha desnecessária de Lucius. Gostava de ir direto ao ponto, poupar tempo, saliva, palavras, sanidade tendo que aturar o tolo medíocre favorecido por nascimento e apenas isso. – Que mais?
Então, para sua surpresa, agora algo interessante aconteceu.
Lucius sorriu e seus olhos brilharam. Marvolo se inclinou com interesse recuperado.
- Milorde... – murmurou o loiro, puxando suas vestes desnecessariamente caras e extravagantes, de dentro delas ele tirou um envelope. – O senhor vai gostar de saber – continuou e o envelope pequeno se tornou muito maior e mais grosso. – Que consegui o que o senhor me pediu. Sobre nosso alvo.
- Alvo?
- O senhor me pediu informações sobre a família de Lakroff Mitrica.
Os olhos de Marvolo quase se arregalaram, mas ele conteve a emoção. Aquele homem...o Riddle não sabia porquê estava tão interessado, o que o fazia acreditar que ele era uma peça tão importante além de sua impressão de que o pestinha do Potter também o queria, mas estava absurdamente curioso. Pela primeira vez em décadas, Marvolo queria algo e a forma como reagiu bem mais empolgado a seu nome era prova. Um mistério, para um enigma. Era isso que Lakroff Mitrica lhe passava e estava ansioso para desvendar.
Esperava apenas que não fosse outro lorde decepcionante e qualquer, no fim.
Se inclinou em cima da mesa, as mãos juntas para apoiar o queixo:
- E então?
- Aqui está a ficha completa da herdeira Mitrica, filha de Lakroff Mitrica – Lucius anunciou, deixando os papéis na mesa.
- Filha? – surpreendeu-se. – Ele tem filha?
- Sim, milorde – o sorriso de Lucius só aumentava. – Ela trabalha no ministério da magia da Rússia, senhor. Tenho um contato por lá, então consegui o máximo de informações possível para o senhor. Tanto documentos oficiais, quanto alguns relatórios feitos por ele, caso deseje.
Marvolo pegou o envelope, mas não o abriu a princípio, Lucius ainda falava:
- Mas devo avisar: meu contato informou que a família Mitrica é muito reservada. Pouco se sabe sobre eles, ninguém é convidado para qualquer evento na mansão da família e moram numa cidade que foi fundada há poucos anos, mesmo que esteja crescendo muito recentemente. Participam de poucos encontros sociais também. Apenas aqueles organizados pelo ministério ou pela escola e de forma oficial. São muito ricos ao que se sabe, a casa é uma das maiores do país e representam uma linhagem muito antiga da região. A garota, sua herdeira, possui uma placa na frente do departamento em que trabalha, onde se diz que "ninguém se responsabiliza se sua varinha for quebrada".
- Como é? – perguntou fazendo uma careta confusa e um tanto indignada.
- Ao que parece, quando ela se irrita com as pessoas, quebra suas varinhas.
- Isso é... – negou com a cabeça. Não ganharia nada ouvindo as fofocas de Lucius. – Qual o nome dela? – perguntou, mas já foi abrindo a papelada.
Lucius optou por não responder logo de cara, sabia como seu mestre funcionava, queria ter um tempo para avaliar ele mesmo o que estava diante de si, por isso esperou alguns segundos antes de dizer o nome assim como foi pedido.
Depois retornou ao silêncio paciente.
Levou mais alguns minutos para que sentisse seu corpo se agitar, ao ver que o mestre parara em alguns dos arquivos mais importantes. Então viu.
Um evento interessante aconteceu, pois Voldemort fez algo que dificilmente se permitia: demonstrou suas emoções. Surpresa desta vez, Lucius tinha certeza.
Diria que aquele seria o equivalente (para alguém como o lorde das trevas) do que era um arregalar de olhos dos meros mortais, afinal o brilho de espanto e confusão não foi suficientemente contido pelo bruxo ao ler quem de fato era a mulher e (principalmente) o que havia sobre ela naqueles arquivos.
Lucius, muito satisfeito que seu Senhor já havia descoberto a melhor parte, apenas sorriu minimamente, mas seu corpo se aprumou de forma óbvia em comparação. Não teve como evitar. Estava sentindo todo o orgulho do mundo por ter conseguido algo tão valioso para seu senhor. Uma informação tão única e rapidamente, ainda por cima.
Ah! Ele seria recompensado por isso, sabia!
- Você tem certeza desses fatos, Lucius? Você certifica a veracidade de tudo aqui com sua vida? – a seriedade na voz do lorde fez o comensal estremecer involuntariamente.
- Sim senhor, todas as fontes são completamente confiáveis, eu também fiquei extremamente surpreso quando descobri.
- Mas isso é impossível – murmurou, mais para si mesmo, encarando os papéis enquanto sua mente fazia diferentes conexões.
O lorde Malfoy teve que esperar novamente, que seu senhor tivesse (ao que pensou) o tempo de analisar cada detalhe. O próprio precisou verificar cinco vezes e ameaçar sua fonte antes de aceitar aquilo como verdade e trazer para aquela reunião.
Por fim, reclinando-se um pouco, Voldemort tornar a olhar para seu comensal:
- Fale. Como isso é cabível?
Espero muito que tenham gostado.
Sim, sim! Vocês estão próximos de conhecer os filhos do nosso Lakroff! Vejam só, empolgados?
Me desejem sorte para que minha vida não fique caótica (vai dar tudo certo!) e até semana que vem <3
Por favor, me digam o que acharam, a opinião de vocês conta muito para minha cabecinha ;-;
Um boa noite!
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