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Capítulo 39 - Implodir e o incômodo do silêncio


Oi pessoal! 

Que bom é estar de volta!

Já disse no meu perfil, mas em suma, sumi porque minha vida se tornou um caos esse mês que precisaria de aviso de gatilhos para contar, então não estava conseguindo tempo e quando conseguia nada me agradava. Até ameaça de morte teve!

Dito isso, a sumida deve ter levado meu engajamento para a casa do chapéu, então eu peço, com todas as minhas forças e encarecidamente que vocês VOTEM e COMENTEM, nem que seja um emoji de risadinha quando tiver uma cena que acharam engraçada, mas me ajudem para o Wattpad não me sacanear por essa sumida. Por favor...

É tudo que peço. Essa ajudinha. O mês já foi difícil o bastante ;-;

Outra que dei uma de Harry nos últimos quatro dias e dormi cerca de quatro horas por dia para conseguir terminar esse capítulo mesmo com todo o caos de forma que ele ficasse bom o bastante para compensar a demora, ele teve mais de cinco versões diferentes e realmente precisei me esforçar muito porque minha depressão atacou com força, então preciso de carinho dos leitores <3

Mas é isso, voltei e espero que tenham uma boa leitura.

PS: Estou me tratando, estou me alimentando e até exercitando, falta só dormir e pretendo fazer hoje.

- Black? - perguntou Snape se aproximando do homem.

Sirius acenou em cumprimento, mas continuou conversando com o mesmo quadro que Severo o encontrou falando.

Não era nada demais, algo sobre os colegas da pintura, como o corredor ficava silencioso as vezes e como muitas outras, desistia de ficar sozinho e seguia para corredores mais lotados.

Ainda era noite, fazia algumas horas que Sirius tinha saído do grande salão durante o jantar e o toque de recolher havia começado. Snape achou estranho encontrar Black por ali, que ria educadamente para a pintura mágica e logo emendou:

- Bem, lorde Arion, foi um prazer, mas agora vou falar com meu colega aqui – e indicou Snape. – Uma boa noite ao senhor.

- Boa noite para você também, Lord Black. Professor Snape - e saiu de sua pintura, deixando a dupla sozinha.

O animago apenas deu um sorriso amigável e se aproximou do outro:

- Fazendo ronda, Severo?

Os corredores estavam frios, a luz vinda das tochas era pouca, mesmo com a luz noturna que entrava pelas janelas, o que criava um cenário gótico, para alguns até mesmo assustador, mas...

Estranhamente para os dois homens ali era reconfortante.

Hogwarts.

Silêncio.

Parecia um lar.

Sempre foi assim, desde a adolescência. A escola sendo a paz que não tinham em comparação com o que estava casa. Era onde conseguiam chegar o mais próximo de se achar, só não sabiam dessa semelhança que compartilhavam, mas estava agradável.

- Sim, estou em ronda – respondeu Severo. – E você? Falando com quadros, Black? Já chegou nesse ponto de loucura?

- Talvez? - brincou sorrindo e o outro se permitiu um sorriso bem discreto, enquanto revirava os olhos.

- Você está distraído – comentou.

- Como?

- Esteve a noite inteira bem avoado - explicou o mestre de poções. - E nos disse que estava indo dormir quando se levantou, mas agora está aqui?

- Não. Eu disse que estava cansado – corrigiu. – Mas é algo mais psicológico do que físico, se quer saber. Então uma caminhada pela escola pareceu uma boa ideia e quando vi, já tinha começado a explorar os corredores que menos conhecia.

- E em algum ponto parou para falar com pinturas?

- Em minha defesa, ele que puxou papo comigo – Severo segurou uma risadinha que, traiçoeira, ameaçou sair. – Arion queria saber se eu realmente havia me tornado lorde. Aparentemente a fofoca se espalhou muito rápido, se até as pinturas mais isoladas - apontou para o corredor vazio. - Já estão sabendo.

- Sempre se espalha – dispensou.

- Isso é – riu. – Sobre Remus também.

Mas falar do namorado fez Sirius quase perder o sorriso completamente, pois lembrou-se de uma coisa. Como um aviso luminoso gigante a mensagem "Snape ensinou crianças a reconhecer e caçar Moony" gritou em sua mente.

O Black sentiu raiva e foi como se pudesse vomitar.

Sua magia estava diferente desde que aceitou o anel de lorde, sabia disso, mas agora foi um dos momentos que ficou mais claro, pois ela se agitou e vibrou em seu interior. Gritando algo...

Que Sirius não queria mais ser.

Nunca quis.

Destrutivo.

Mas ele era. E queria confrontar o homem que fez aquilo com Remus.

- O que foi? – perguntou Snape.

- Como? – piscou voltando à realidade.

- Você está se distraindo de novo.

"Cuidado com ele" Remus lhe falara na mansão Black "Severo é astuto e já esteve em mais de um lado na guerra, você não o conhece bem e nem consegue conversar direito, então seu julgamento pode ser afetado. Mas você precisa conseguir a informação. Harrison nem Lakroff podem, sem parecer suspeito, você é a melhor chance, então..."

"Remus" interrompeu "Deixa comigo".

O problema é que, agora, tudo que Sirius conseguia pensar era como mandar Severo pedir desculpas! Nem que fosse no soco.

Admitir como aquilo tinha sido babaca.

Oras, ele teve essa maturidade, porque Snape não podia?

- Harrison – Sirius disse num suspiro, porque pensar no afilhado poderia servir como uma forma de se focar.

Aluado não sabia que Snape e Sirius estavam conseguindo manter conversas e acabou avisando para o namorado esquecer sua raiva, que mesmo ele (Remus) ainda estava sentindo em relação ao ranhoso, mas não era mais importante que o sucesso da missão. Então não deveria levar para o lado pessoal o evento da aula para caçar lobisomens.

Só que Almofadinhas não era bem assim.

Ele detestava que Remus tivesse que engolir tanto sapo na vida, mas como tratar daquilo sem afastar o morcego de vez? Justo agora que tinha que provar ser capaz de ignorar sua raiva em prol do afilhado?

Não era a magia dos Black que ia fazê-lo regredir.

- Só estou pensando em Harrison.

- Você é padrinho apenas por um fim de semana e já está cansado? – questionou o chefe da Sonserina, com uma sobrancelha levantada, mas um tom de deboche que o animago já estava associando a brincadeira e simpatia por parte do outro.

Inspirou fundo. Podia lidar com isso.

- Se você soubesse a quantidade de problemas que meu afilhado é capaz de causar, entenderia – brincou se recostando na parede de frente para o outro.

- Aquele garoto perfeitinho? - duvidou Severo. - Presidente do conselho, que dá aulas de reforço para os colegas e não dorme direito de tanto trabalho extra que faz pela escola?

Sirius riu:

- Você realmente não tem ideia. Se continuar assim, vou ter que conhecer o cabeleireiro da Narcisa, porque vou acumular fios brancos. Será que consegue o contato com ela por mim?

Snape segurou a segunda risadinha.

- Você é lorde Black agora, talvez pudesse usar o cabeleireiro como desculpa para tentar falar diretamente com sua prima?

- Eu e Cissa nunca fomos os mais próximos. Não acho que ela gostaria. Mas isso é mais coisa para a minha cabeça e um caos por vez é o bastante.

- Suas incríveis capacidades de raciocínio sempre me surpreendem – rolou os olhos.

- Eu me surpreendo que não tenha aberto um lucrativo negócio de venda de velas à óleo com todo esse sebo que sai de você – deu de ombros.

- Essa foi um pouco mais criativa, mas só um pouco. Está enferrujado, Black.

- São os anos em Azkaban, imagino, levo mais tempo para aquecer o motor agora, talvez se me der uma dessas velas? - Snape negou com a cabeça, mas manteve uma expressão que Sirius diria que era o mais próximo que tinha de feliz. - Acredita que o coloquei de castigo?

Severo franziu o cenho surpreso:

- O que Potter pode ter feito afinal que justamente você o colocou de castigo?

- O fato de o sobrenome Potter estar nessa frase já deveria servir como resposta. Potters são... – mas não terminou a frase com palavras, apenas levantou os braços em um gesto dramático.

- Como se você fosse diferente na juventude... Ou ainda hoje - provocou.

- Eu era – comentou divertido, se aproximando do outro homem. – Harrison também é filho de Lilian, é inteligente o bastante para você nem notar que fez algo errado até já ser tarde – sorriu, com os dentes, a cabeça inclinada. Ele não sabia, mas seus olhos brilharam naquele azul fascinante quando a luz da lua se refletiu neles – Eu era burro – a frase cortou totalmente o lapso momentâneo de Severo.

Que quase (quase) admitiu que Sirius Black tinha um rosto e olhos lindos.

- Você ERA? Só no passado?

E os dois começaram a rir, ambos desviando o olhar para tentar disfarçar.

- Eu... - Sirius começou, mas naquele momento eles ouviram uma voz feminina.

- Severo! - chamou Minerva, se aproximando e ao notar quem era a outra pessoa presente encarou ambos de cenho franzido: - Está tudo certo por aqui, meninos? Ou devo me preocupar e tirar alguns pontos de vocês?

Talvez fosse o clima agradável que já estava entre eles, mas aquilo pareceu tão engraçado para os dois antigos colegas de escola, que nem o morcego conseguiu se segurar. Junto do cachorro, ambos desataram em gargalhadas.

- Minerva... - chamou Severo, que foi o primeiro a conseguir se recuperar, apesar de quase ter começado a rir de novo quando viu a expressão totalmente confusa da colega. - Estava me procurando?

- Sim - e olhou para Sirius. - Estou interrompendo?

- Não, de forma alguma, professora...

- Apenas Minerva - ela corrigiu.

Sirius fez uma careta, mas recomeçou:

- De forma alguma, Minerva. Se quiserem que eu me retire...

- Na verdade, talvez uma opinião a mais seja válida?

- Se a minha lhe servir - brincou o lorde.

- É sobre Albus.

Seus instintos se agitaram, o suficiente para perceber que se ajeitasse, mas disfarçou inclinando a cabeça para o lado, numa confusão inocente, então forçou sua garganta para que a tensão ao nome, não refletisse em sua voz:

- O que tem ele?

Snape percebeu apenas a mandíbula de Sirius, como ficou tensionada por meio segundo, antes dele perguntar. Provavelmente não era nada, constatou o mestre de poções. Ou Sirius ainda estava irritado com a desavença na reunião de professores? Não tinha certeza...

E nem teria.

De repente percebeu que algo havia de estranho consigo, afinal, porque estava olhando para Sirius Black enquanto Minerva falava com eles?

- Bem - a mulher começou, avaliando como chegar ao assunto. - Veio até mim uma denúncia em relação a Albus, de um aluno que parece ter tido a mente... invadida.

- Como é?! - Sirius ralhou, espantado.

- O aluno acredita que Albus teria o feito para conseguir uma informação específica.

- Que tipo de informação?! - a indignação estava bem clara em sua voz, nem se preocupou em tentar esconder dessa vez. Talvez nem conseguisse, as frases saíam em uma velocidade impulsiva e natural. - Por causa de alguma travessura ou algo do tipo? Isso é ridículo! Ler a mente de alguém?!

- Eu sei, também não acreditei - murmurou baixinho, fechando os olhos. - A princípio.

- A princípio?! Como Albus pôde?!

Minerva levantou os olhos e o encarou:

- Você assume que é verdade?

Minerva questionou porque... Só ela duvida que seu amigo seria capaz daquilo? Quer dizer, Aberforth acreditou logo de cara sem hesitar, o mesmo para Severo e agora Sirius?

Mas o Black, por sua vez, quase se bateu, irritado por sua gafe. Achando que Minerva ficara incomodada com sua lealdade em relação ao colega grifinório. Afinal Dumbledore não poderia, não é? Sirius tinha que tentar defendê-lo? Querer provas?

Mas é claro que ele acreditava! Sinceramente?

Provavelmente acreditaria em qualquer merda vindo da cabra velha agora, mas conseguiu logo pensar em uma escapatória:

- Claro que acredito! Porque você, de todas as pessoas, estaria espalhando algo assim e pedindo opinião se não houvesse algo concreto para duvidar? Tenho plena convicção em seu julgamento, Minerva, principalmente em relação a Albus. Sei da amizade antiga dos dois. Se está me contando, então já foi algo muito pensado antes e não pode ser descartado.

- Entendo - murmurou pensativa. - Mas você não tem igual confiança em Albus? Para que minha palavra supere seu julgamento acerca dele imediatamente? Mesmo com nossa amizade, você...

- Se você quer pôr em perspectiva, Minerva - interrompeu Sirius. - Confio mais em você. Mas talvez fosse por todos os anos aqui em Hogwarts, onde você como chefe da minha casa, foi quase uma mãe, que tinha que aturar minhas irresponsabilidades, mas ainda acreditava no meu potencial e tentava me guiar da forma correta - coçou a nuca rindo. - Tenho uma consideração imensa pela senhora, então Albus... era um diretor, estava muito distante de mim. Você foi quem me ensinou mais e é em suas mãos que eu depositaria minha vida primeiro - e tentou deixar a confissão o mais vergonhosa possível, afim de parecer que estava desconcertado e sem saber o que dizer exatamente.

Do seu ponto de vista, teve sucesso na interpretação, pois a mulher, após vários segundos o encarando em silêncio, retirou seus óculos e esfregou seus olhos, sem se esforçar muito em esconder a emoção que a atingiu ao ouvir aquilo de um de seus antigos alunos e, agora, um colega.

Isso surpreendeu os dois homens, que se encararam um tanto deslocados com a reação da mulher.

Mas eles não entendiam.

Para Minerva aquelas palavras significavam bem mais do que uma confissão de um antigo aluno. Mcgonagall, até aquele instante, ainda pensava que Sirius estava bravo consigo.

"Acho que eles ficariam mais chateados se soubessem que você, Albus e Minerva pegaram seu filho e colocaram do lado de fora de uma porta, a noite e em pleno outono, com apenas uma carta e foram embora sem nem falar com a irmã de Lily, uma trouxa que se mostrava abertamente odiosa a família Potter e a magia no geral" as palavras na reunião dos professores afetaram a mulher, que ainda sentia o peso de cada uma.

Um golpe forte, somada a mágoa na voz do homem diante de tudo.

"Preso sem um julgamento, diga-se de passagem, já que ninguém se importou em me dar o benefício da dúvida naquela época".

A chefe da grifinória vinha se sentindo péssima desde aquele dia, mesmo que não demonstrasse. Percebeu até que evitava um pouco conversar com o Black.

O peso da culpa fazia isso.

Ela não acreditou no seu aluno.

Por anos, o condenou a uma das piores experiências que uma pessoa poderia passar, porque não lhe deu justamente o que Sirius acabara de lhe dizer, sem nem hesitar.

E ele sempre foi assim.

Durante a guerra, todos sabiam que podiam depender do garoto, porque estaria lá por cada um, dando tudo de si e sem pedir muito mais em troca, além de que defendessem com igual companheirismo. Um verdadeiro e leal leão.

Talvez, por isso, doeu tanto quando pensaram que Sirius era o traidor, por isso desistiram tão rápido de si, porque era mais fácil não olhar para aquela ferida. Viraram de costas para um problema por ser incômodo, mas então acabaram falhando quando ele mais precisava do retorno por tudo que já tinha oferecido.

A cabeça de Minerva estava um turbilhão a dias. Sirius os questionando pela falha que tiveram consigo, ele e Severo tentando (juntos numa reunião!) fazer todos os colegas verem as artes das trevas nos alunos da Durmstrang por outro ângulo, então Albus possivelmente tendo participado de um ato que igualmente abalou as estruturas da mulher, Aberforth e sua conversa, que a fez questionar tantas atitudes em si mesma e em seu amigo, enquanto diretor, anos de sua vida sendo reformulados em sua cabeça e...

Estava se sentindo tão sobrecarregada!

Mas Sirius, agora, simplesmente lhe disse aquelas palavras? Mostrando que não a culpava por sua falha? Ainda confiava nela?

Nem Minerva estava plenamente confiante de seu julgamento e aquilo pareceu uma espécie de consolo.

Então não falhou com tudo!

Havia um aluno, um lorde! Diante dela, lhe dizendo que ao menos um acerto teve.

Sirius passou por tudo aquilo, mas estava sendo um ótimo professor, não é mesmo? Tinha um enorme potencial. Ela ainda era humana, o importante era aprender, não é mesmo?

Respirou fundo e deixou aquilo para depois, mas guardou no coração, um momento para usar como incentivo.

Era hora de focar em Albus.

E em outro aluno, que precisava de si agora.

- Entendi seu ponto, Sirius - disse firme, decidida, renovada.

Albus era seu amigo, mas Minerva era professora. Vice-diretora. Estava certa de suas decisões anteriores, mas não havia porque não continuar e ter algumas opiniões a mais. Certo?

- Confrontei Albus sobre isso hoje, a denúncia que recebi do aluno, quero dizer. Quando ele saiu do jantar mais cedo decidi acompanhá-lo por isso. Não lhe disse quem era, mas - suspirou. - Vejam, ele soube exatamente a quem eu me referia no instante que toquei no assunto.

- Você o fez? - perguntou Snape espantado.

- E ele? - questionou Sirius mais preocupado. - Quer dizer, você deu muitas pistas sobre o aluno sem querer?

- Não, não dei.

- Mas e então?

Minerva ficou em silêncio. Levou um longo tempo observando o castelo, lugar que gostava tanto, para enfim dizer num sussurro:

- Albus confessou.

- Como é?! - ambos os homens arregalaram os olhos, tão surpresos que não contiveram qualquer reação.

- Foi uma situação difícil - admitiu frustrada, mas realmente se sentia bem menos fraca do que quando estivera na conversa confrontando o amigo e um pouco antes de encontrar os dois outros ali. Agora, ela notava, a tristeza de que Albus poderia ter se rebaixado a algo assim estava sendo trocada...

Por raiva.

Indignação? Talvez. Mas estava brava com o amigo.

Até Snape notou como a atitude da mulher mudara. Quando os encontrou ela parecia cansada, como se estivesse com sono após um dia especialmente cansativo, mas agora estava ereta, seus olhos firmes e decididos. A postura de vice-diretora e professora que todos admiravam perfeitamente encaixada.

- Acreditam - começou lentamente, a voz claramente pingando julgamento. - Que ele disse que fez por impulso?

- Impulso de invadir a cabeça de um aluno?! - questionou Sirius furioso e incrédulo.

- Fiquei igualmente incomodada, Sirius. Acredite. Claro que o questionei, mas devo admitir que não com a devida franqueza. Lhe dei muito o benefício da dúvida, quis que explicasse seu ponto.

- É claro - apoiou Sirius. - É seu amigo e nosso diretor, somos leais a ele. Eu faria o mesmo. Mas o que ele disse?

- Que, no momento que aconteceu, não pensou com clareza. Apenas agiu pensando no que era melhor para conseguir a informação e parou no instante que notou o absurdo que estava fazendo. Que nenhuma informação é digna de algo assim, mas estava diante de uma situação complicada, com alguém que ele, sinceramente, percebia agora que estava se dando muita liberdade e falhou em seu julgamento ao agir através da magia como forma mais fácil para conquistar o que queria e achar que a informação era necessária... Algo assim - ponderou.

- Que absurdo! - reclamou o Black.

- Eu entendo, de certa forma - disse Severo e Sirius virou a cabeça para ele lentamente, o olhar reluzindo em julgamento e raiva. - Black, eu era um espião! Minha maior arma era conseguir ler as coisas e pessoas, conseguir qualquer informação com pouco ou nenhum recurso. Ler mentes, é sim, um impulso quando tudo que você tem para sobreviver num mundo em guerra é ter certeza que a pessoa que está te olhando não vai te matar, ou que ela não tem alguma informação que se você falhar em dar para seu mestre, então... - deixou a frase no ar.

- Desculpe - pediu desviando o olhar. - Eu não pensei.

- E você pensa?

- Geralmente sobre se devo latir ou morder - zombou.

Severo apertou a própria perna de forma discreta. Certo.

Custava admitir?

Sim.

Mas quando a resposta de Sirius não era direcionada à quem o insultou, mas apoiando o insulto com total confiança e diversão, isso parecia ainda mais engraçado. Mostrava como ele não era atingido por nada disso.

Sirius sempre saberia como ser pior, com você, com ele mesmo, então te diminuía, sem precisar se rebaixar a te insultar. Sem contar que eram comentários espirituosos.

- Meninos... - chamou Minerva cautelosa, cruzando os braços. Ainda estava na dúvida se os dois não começariam a brigar e fugir do assunto.

- Entendo porque você está incomodado, Black - disse Severo apaziguador. - Sua forma de lidar com o mundo é diferente e, com todo respeito, foi forjada por de trás de um filtro dourado de ouro e nobreza.

- Eu não...

- Não estou dizendo que você não teve suas batalhas - interrompeu.

O chefe da Sonserina era amigo de Regulus, tinha uma noção de que a vida de Sirius com os Black não era a ideal. Nada com detalhes, é claro, os sonserinos não mostravam suas fraquezas, mas conseguir perceber que havia algo errado indicava que havia muito mais sujeira escondida.

Só que Sirius teve os Potter, não foi?

Severo não tinha ninguém além de si mesmo.

Por anos e, principalmente, depois de perder Lily.

Por sua própria culpa.

Duas vezes. Mesmo quando ela se afastou, ainda estava viva, então Snape estragou isso também.

Fechou os olhos e se focou no presente, não em suas memórias dolorosas e sua culpa.

- Mas você, Black, é essencialmente diferente de algumas pessoas, que estão dispostas a muita coisa pelo que acham que é o melhor ou por suas vidas. Você é um grifinório nobre. Nem todos são assim. Alguns crescem vendo o mundo como uma constante luta, onde se aprende a tirar vantagem para sobreviver ou se usar qualquer recurso para não deixar que te derrube.

- Não estamos em guerra e Albus é um grifinório.

- Que já passou por duas guerras e não quer ter que lidar com mais uma. Sei que são situações diferentes, mas se ele acha que uma informação pode salvar todos de um destino como aquele de novo.

- De novo? Lidar com mais uma? Do que está falando? Como a guerra poderia se ligar à mente de um aluno ao ponto de precisarmos lê-la assim?!

- Se o que está na mente do aluno é uma das chaves que impediria o lado rival...

- Severo - chamou Minerva cautelosa. - Por favor, eu prefiro acreditar que você ainda não é do tipo que acredita que isso seria um sacrifício mínimo diante de um objetivo maior. Não devemos ficar colocando coisas na balança assim, um crime é um crime e fins não devem justificar meios jogados em cima de crianças! Ou pior ainda, prefiro não pensar que você também acredita que estamos em guerra!

- Do que estão falando afinal? - questionou Sirius negando com a cabeça. - Vocês obviamente sabem mais coisas do que eu sobre esse assunto!

- Minerva? - perguntou Severo, não diria nada que a mulher não quisesse. Nem teria tocado no assunto de Albus, se ela não aparentasse disposta a ouvir Black também.

- Dumbledore acha que Você-sabe-quem voltou - ela explicou. - Não só isso, acredita que ele é o responsável pelo ataque na copa mundial e, pior, por ter colocado o nome de seu afilhado no cálice de fogo.

- Como é?!

- Ele tem fé que Você-sabe-quem quer avaliar Potter, ou até que poderia ter colocado o nome de Harrison e de Neville. Para testar a profecia que foi responsável por sua queda anos atrás. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado, nessa teoria, quer descobrir a força de ambos os campeões das profecias para matá-los. Ou mesmo a competição pode possuir uma armadilha, o que fez Albus querer reavaliar todas as etapas do torneio.

- Isso...

- Albus que tentar contactar a família de Harrison para armar um plano preventivo, garantir a segurança dele, mas em prol disso, chamou Neville Longbottom para sua sala e leu sua mente em busca das informações pessoais de Potter.

- ELE FEZ O QUE?! - seu grito ecoou pelos corredores vazios.

- Quer acordar o castelo todo? - Snape deu bronca.

Sirius levou as mãos à cabeça e fechou os olhos pensando em tudo aquilo frustrado.

Pensando em Harrison.

O menino que tinha posto o maldito nome!

Ele, Lakroff e Tom acabaram contando para Sirius e Remus sobre isso, como "o pestinha" se inscreveu usando uma maledictus (que não se encaixava em nenhum ponto de sua jura detalhada diante de todos), pois soube que Neville também tinha o seu lá.

Isso sim por culpa de Voldemort!

O nome de Neville.

"E como você sabia que o nome de Neville estava lá?!" Questionou Remus indignado conforme ouviam a história.

O menino apenas disse: "Porque somos Grindelwalds" e agiu como se fosse explicação boa o bastante.

Mas não adiantava tentar tirar algo de Harrison, se ele claramente estava evitando o tema. O melhor era pensar no que podiam trabalhar.

Voldemort de alguma forma estava conseguindo influenciar coisas dentro de Hogwarts, Dumbledore não estava errado, eles estavam em guerra... Mas Harrison arriscou tudo, torcendo para ser escolhido no lugar do amigo assim como Sirius, Remus ou James teriam feito! Assim como os três grifinórios idiotas que eram!

Ele (o LORDE DA SONSERINA) tinha decidido se sacrificar e chamar atenção para si, para descobrir a força de seu inimigo e atacá-lo diretamente, sem envolver mais ninguém e com Lakroff, Tom, e seus padrinhos agora também, precisando descobrir a coisa para poder se envolver nela e ajudar!

O Black via que ficaria velho cedo demais, com essas atitudes nobres do seu filhote de cobra com juba!

"Dragão" pensou.

Que até tinha mandado uma maldita carta para Voldemort em pessoa! E recebido uma resposta sangrenta! Em língua de cobra, que Hazz teve que traduzir para todos!

Só que Dumbledore optou por envolver Neville, uma criança! Diretamente e invadir sua mente para conseguir informações! Uma das magias mais sombrias que se tinha, por sua realidade invasiva! Mesmo que Neville confiasse no diretor, se ele não estava querendo passar aquela informação, a experiência de uma leitura de mente podia ser..

Sirius tremeu.

Até traumática.

Dumbledore fez com Neville aquilo pelo qual os pais do menino sofreram até a loucura? Mesmo que fosse feito junto de tortura , todos sabiam que também houve legilimencia envolvido, Bellatrix queria a informação de onde estava seu senhor. A maldição Cruciatos serviu para entretê-la e enfraquecer a força mental do casal.

O que aconteceu.

Até o fim.

Mas Sirius ficou enojado demais.

Aquilo era mesmo necessário?

Não!

Albus não estava errado sobre o retorno do lorde das trevas, ou de uma possibilidade de guerra, e era um guerreiro manipulador que gostava de mover seus aliados como peões num tabuleiro de xadrez. Peças úteis a causa e nada além disso. Se estava vendo a movimentação do inimigo, era natural começar a agir antes que estivesse em desvantagem, mas Neville?

Sirius já não tinha entrado nisso muito novo? Agora uma criança de quatorze anos e sendo submetida à legilimência?!

Essa história toda criou um nó na garganta de Sirius, uma dor incômoda na cabeça e no peito. Harrison tentando proteger Neville de Voldemort, mas agora o próprio Albus se mostrando um perigo instável e manipulador não só no passado, e sim no presente. Aquilo mostrava como seus filtros de certo e errado estavam comprometidos, mas...

O mais estranho, Sirius se tocou, e o que estava criando aquele desconforto de engasgo era:

- Por que ele só não pediu para mim?

- Como? - perguntou Minerva.

- Albus leu a mente de Neville para saber informações sobre o meu afilhado e contatar sua família para sua própria proteção, não é? Eu sou parte dessa família. Ele cometeu um crime, quando podia ter agido feito uma pessoa normal e me perguntado quando eu voltasse, como falar com eles?

- Você... - hesitou a mulher.

"Droga" pensou.

Como não pensou nisso?!

Era ainda pior do que estava pensando!

Mesmo assim, sua mente tentou pensar em uma justificativa para seu amigo:

- Você estava agindo estranho, Sirius... - murmurou, a mente trabalhando. - Ficou claramente bravo com Albus na reunião e defensivo, para dizer o mínimo, até o final dela.

Sirius percebeu que nem ela acreditava totalmente nisso, afinal nem o olhava, mas ao chão, com uma careta pensativa.

- Eu estava estranho? O que eu fiz de estranho? Defendi a escolha, totalmente legal, do meu afilhado com magia?! - reclamou. - Ou pedi para chamarem-no do nome correto? Defendi uma escola inteira e ensinamentos que estavam sendo descartados por causa de uma matéria no currículo deles inteiro que Albus não aprova? - questionou indignado e levou as mãos aos cabelos.

Normalmente ele os puxaria para trás, mas deslizaram nos fios recém cortados e apenas sacudiram suavemente como ondas guiados pelos dedos, então de volta ao lugar.

Virou-se de costas e inspirou.

Bem...

Sirius sabia interpretar bem seu papel e aquela... Parecia uma chance.

Com um movimento firme e repentino, acertou um soco na parede.

O som foi alto o bastante para gerar o eco, assustou Minerva que chegou a dar um pulinho e mesmo Snape arregalou os olhos e se inclinou para mais longe.

A janela atrás de Sirius chegou a tremer e ele apenas pensou se o movimento foi expressivo o bastante para ser notado até pelo quadro que ficava na torre do outro lado.

Não duvidava, mas mesmo assim deu um segundo, este mais acima da cabeça, então virou firme para Minerva, com seu melhor olhar de Black louco (viu suas fotos da prisão, era bom com isso):

- Que inferno! - gritou "irritado".

Furioso, era o tom que queria chegar.

Deixou propositalmente sua magia se agitar perceptível aos demais. A magia da casa Black, girando a sua volta.

"Agora você pode ser destrutiva querida..." pensou.

Ah, com certeza aqueles dois sentiram, viu em seus olhos.

- É uma magia sangrenta estudada por toda uma escola! Por países inteiros! Durmstrang tem ainda mais ministérios que Hogwarts envolvidos na educação deles e de repente eu sou a porra do vilão de novo, porque eu aceito que crianças estudem junto com as nossas sem que achemos que serão más influências sem prova alguma disso?! - gritava mexendo muito os braços, com gestos amplos, mas duros, forçou os punhos o bastante para que tremessem com naturalidade. - Albus estava querendo simplesmente falar com Harrison quando eu mesmo estava me matando para conseguir trocar algumas palavras com o menino, sem que me encarasse com raiva! Por tê-lo abandonado para ir atrás do maldito rato! Abandonado porque ALBUS me pediu! Porque ALBUS garantiu que era melhor e eu confiei que ele cuidaria de Harry! Confiei em vocês! - gritou.

- Black! - Severo gritou de volta.

- É claro que eu estava estranho com ele, eu estou furioso com ele! Por deixar Harrison com Petúnia sem supervisão por anos! O maldito tutor podia ser um merda que o mataria, ao invés de um bruxo que o ensinaria a se defender! Então sim, eu estava estranho e vou defender a magia que meu afilhado escolheu estudar, mas não quer dizer que DE NOVO vocês tenham o direito de me jogar na categoria BRUXO DAS TREVAS do mal e me CONDENAR UMA SEGUNDA.... MALDITA... VEZ! - gritou tão alto que teve que dizer pausadamente. Quase riu quando um pouco de saliva chegou a fugir de sua boca.

- BLACK!

- Eu cansei disso! Eu lutei por cada um de vocês na guerra, eu dei tudo de mim e vocês não conseguem me dar um dia sem duvidar de mim?! Dumbledore preferiu cometer um maldito crime, contra uma criança! Ao invés de me pedir a informação sobre quem caralhos é o tutor e onde está a família de Harrison Potter?! Ou pedir para que eu mandasse logo a porcaria de uma carta?!

- Black, pare de agir feito uma criança birrenta, nem todos vão confiar cegamente em você! - reclamou Snape, principalmente ao perceber o olhar e a forma como Minerva se afastou daquelas palavras.

Quase se encolhendo.

Elas haviam a atingido, ficava óbvio, até no seu olhar de dor. Snape se perguntou se Sirius não estava vendo como aquela gritaria a estava deixando mal? Ou simplesmente não se importava?

- Mas daí não confiar nunca?! - gritou Sirius para Snape agora.

A Mcgonagall fechou os olhos, sentindo a culpa a cutucando novamente. Lá estava, exatamente o que a deixara tão mal.

É claro que ainda atingia Sirius, mas ele estava certo, não estava? Dumbledore não estava enfiando os pés pelas mãos? Para que depender de uma criança, tirar isso de Neville ao invés de usar outros recursos primeiro? Se queria seguir a ideia de fins justificam os meios, os fins mais extremos não deveriam vir só depois que não se encontrava outra alternativa? Ou ele simplesmente...

Bem, ele disse que foi impulso, não? Então via esse como um recurso qualquer e simples? Mesmo sendo crime?

Arte sombria, que ele mesmo julgara Sirius por defender? Não estava cheio de furos aquilo?

O Black continuava enquanto isso:

- Que inferno, Severo, eles confiam que você mudou! - Snape arregalou os olhos, surpreso que o outro usasse sua condição como comensal contra si, mas logo entendeu onde queria chegar: - Eu confio nisso! Que você, mesmo diante de tudo, do medo, da incerteza e do caos, simplesmente veio para o lado certo - ele quase riu de si mesmo, "lado certo". Dumbledore ia gostar da escolha de palavras. - Enganou Voldemort e nos ajudou! E sou eu! Que todos dizem ser um maldito emocionado e impulsivo! Eu não fico duvidando de que, se Albus te colocou aqui, você merece essa confiança e está conosco! Mesmo quando não nos damos bem, eu não escolheria cometer um maldito crime ao invés de te perguntar ou pensar em vários outros caminhos primeiro! E não tem como falar que ele pensou em outras alternativas em questão de menos de vinte e quatro horas! Um pouco mais, um pouco menos, mas ele não tentou! Mas e agora eu? Por que não confiam em mim?! Mesmo depois de tudo?! POR CAUSA DESSA MERDA TODA DE BLACK E SANGUE! - urrou batendo o pé. Sua mãe ficaria com inveja desse grito, mas em defesa da Lady Black, Sirius tinha um palco com uma acústica melhor. - Eu perdi tudo por essa guerra e confiei em cada passo em Albus! - olhou para Minerva. - Para ele simplesmente preferir qualquer outra coisa do que me pedir ajuda?! Eu literalmente estou lá! Se está preocupado com o meu afilhado e uma maldita guerra, então eu deixei de ser seu soldado dele por quê?! Por que fui preso e não sou mais útil? Que merda!

- Por que você é um impulsivo! - gritou Snape avançando na direção de Sirius, que apenas arrumou a postura o encarando de cima em desafio e prontidão. - Agora mesmo, você está gritando aos sete ventos algo que pode prejudicar seu diretor. Cale a boca Black! E pense! - mandou Snape e o fez.

Se calou, mas cruzou os braços zangado, virando o rosto para o lado infantilmente.

Esperava ter feito um bom show.

- Você tem um contrato mágico que te impede também - lembrou Minerva, mas parecia distante.

- Eu ainda poderia ajudá-lo - sussurrou frustrado. - Mas invadir a mente de Neville, Minerva?!

- Eu sei - bufou, uma dor de cabeça se alastrando. - Desculpe... - sua voz saiu entrecortada.

Foi um som triste.

Arrependido.

Sirius se sentiu mal.

Ele não queria tê-la feito se sentir culpada por nada. O animago não culpava Minerva por aquilo tudo. Mesmo entre suas mentirinhas, se importava com Minerva e realmente tinha um carinho e um amor para com a professora favorita.

- Eu que peço desculpas - disse se aproximando. - Eu não queria que você... entendesse mal. Minerva, eu não estou - não soube como dizer, gaguejou, bufou. - Não queria ter gritado com você, sinto muito. Estou bravo com Albus, você não tem nada a ver.

Mas ela tinha. Minerva sabia disso.

Ela falhou. Albus falhou. Mas até onde podia-se chamar de falha? Sirius se irritou e gritou com eles, ele tinha sua razão. Minerva acreditava em Albus, seu amigo a décadas, duvidou de Sirius, mas haviam provas contra o garoto que só conhecia a uma década. Era justificável, mesmo que se sentisse culpada por seu caráter leal.

Mas Albus? Aquilo podia ser considerado uma falha simples? Tudo que Sirius estava dizendo?

Tudo que Aberforth a fez olhar com outra perspectiva?

- Eu dei um ultimato nele - contou a mulher.

- Um ultimato? - perguntaram os dois homens.

- Disse, que por nossa amizade, eu lhe daria uma chance de se redimir por sua... falha - fechou os olhos, incomodada. Suas próprias palavras pareceram erradas em sua boca, mas quando falou com Albus fazia sentido. Estava duvidando agora.

Duvidando de si.

De Albus.

- Todos podemos agir por impulso - olhou para Sirius ao continuar. - Fazer as coisas erradas e nos arrependermos quando achamos que aquilo era o melhor, quando estamos sendo movidos por preocupações e eventos externos que fogem do nosso controle, mas daí vem as consequências. Albus tem que lidar com as consequências de suas ações. Por isso, lhe dei até amanhã para mandar uma carta à Augusta Longbottom confessando tudo. Deixar nas mãos da avó e responsável por Neville, o que acontecerá agora.

Sirius sentiu, poderia ser uma falsa impressão, mas pareceu que Minerva realmente procurou sua aprovação em seu olhar. Não entendia porque ela poderia querer isso, mas achou que devia acrescentar:

- Bem... - murmurou, murchando um pouco, coçando o pescoço e recolhendo sua magia.

A postura ideal que sua mãe teria usado para ralhar com ele por horas enquanto o punia.

"Um lorde não pode parecer tão medíocre! Cadê sua confiança?! Você é o lord Black!"

- Você agiu bem - sua voz também era em tom de resmungo, outra coisa que Walburga detestava. Como ele chamaria aquilo? Máscara de Almofadinhas? - Eu acho. Estou bravo com Albus, mas não queria que ele acabasse na justiça. Eu provavelmente não teria pensado nisso e nem saberia lidar com a situação. Foi uma boa ideia.

- Não foi minha, um amigo me sugeriu.

- Ainda é uma boa ideia - bufou. – Desculpem, os dois. Snape tem razão, eu estou levando para o lado pessoal. Albus está lidando com Voldemort, mas... - coçou o braço. Talvez se coçar demais também era suspeito? Que tal balança os pés? - Mas Harrison também está envolvido e eu sinto constantemente que todos estão me julgando e, eu sei que é paranóia, anos na cadeia sendo observado provavelmente...

Os outros dois preferiram não comentar.

Sirius estava sim, constantemente sendo julgado.

Como professor, pelos alunos, pelos pais, pelos jornais, que diziam que ele poderia não ser capaz ainda, não teria se recuperado, pelos colegas quando não era o bastante ou com pena.

Não era de se estranhar que se cansasse.

Estava tentando.

E mesmo assim seus amigos não estavam mostrando a lealdade que sua casa prometia?

Ele continuava:

- Achei que tinha perdido meu afilhado para sempre. Duas vezes. Quando fui preso e quando fui solto. Essa dor é difícil de lidar, então desculpem. Pensar que Voldemort colocou seu nome? E ele estava na copa! Faz sentido a preocupação de Albus e eu confio em Dumbledore - disse com a mão no peito, movendo-se com convicção. - Sempre lutarei ao seu lado. Me frustra perceber que ele não acredita da mesma forma em mim - baixou a cabeça. - Mas infantil, desculpem. Eu só peço que, se Voldemort voltou ainda por cima, me usem também! Eu quero estar na linha de frente, como sempre, e ajudar a acabar com o desgraçado de vez por tudo que fez a mim, a Harrison, a todos os meus amigos! Então, só me dói pensar que não vão me colocar ao lado de vocês, para que eu possa assistir a queda dele.

- Oh, Sirius... - sussurrou Minerva se aproximando e, para surpresa do "garoto", porque foi assim que se sentiu na hora, ela o abraçou. - Eu sinto. Sinto muito por tudo. Não lhe darmos um julgamento, talvez não o apoiar o bastante, mas eu acredito em você, nunca mais deixarei de confiar e se tem alguém que quero que esteja do meu lado numa guerra, é você. Desculpe se falhei...

Sirius a abraçou de volta, sentindo-se culpado.

"Mas não estamos mais do mesmo lado" pensou enquanto acariciava as costas dela.

Ele achava que Harrison era uma espécie de lorde. Lorde das cinzas como ele e Remus pensaram, mas a verdade era uma: quando soubesse o que Dumbledore fez, ele atacaria. Minerva estava com Albus. Sirius estava com Harry e daria uma facada nas costas da cabra velha se precisasse. Prometeu apenas para si mesmo que, acontecesse o que acontecesse, tentaria evitar que Minerva se machucasse.

- Não falhou. Eu que estou sendo sensível sem necessidade. Não se incomode com isso.

- Mas eu vou - disse Minerva.

- Não! - disse se soltando do abraço, para olhá-la nos olhos.

- Não estou falando de me incomodar. Você disse que não gostaria de levar Albus à justiça. Mas eu vou. E espero que fique do meu lado nisso, se acontecer.

- Como é?! - espantaram-se os outros dois homens. Ambos dando gritos muito parecidos em seu choque. Snape chegou a se aproximar da dupla.

- Se Albus não se confessar para Augusta e todos resolvermos esse evento como uma falha, que aceitamos e queremos aprender, mas que teve suas devidas consequências com os responsáveis por Neville, então eu vou denunciá-lo ao Ministério como diretor de Hogwarts por seu crime contra um aluno - respondeu firme.


Capítulo 39 – Implodir e o incômodo do silêncio...



"As vezes escolhemos guardar nossas emoções, seja por medo de como será a reação das pessoas quando elas vierem à tona, ou o pavor do que nós mesmos somos capazes de fazer quando tomados por elas, mesmo assim, será que implodir é a solução? 

Quando tudo que foi guardado acabar saindo, não seria pior?"



Sirius se arrepiou.

Seus braços tremeram e ele sentiu seus pelos se levantarem.

O olhar de Minerva, a certeza em sua voz.

Ela não estava do lado de Dumbledore, mas do que estava dos alunos...

Era tolice ter esperança?

Mas, mais importante que isso, abriu a boca e começou a falar. Snape pareceu sair de seu próprio estupor ao mesmo tempo e também desatou em frases. Ambos jogando sua indignação, dúvidas e falas tão rápido que se misturavam um ao outro, agitados e confusos.

Minerva, que era uma professora de longa data, estava acostumada com conversas paralelas e normalmente não a confundiam, entretanto ela sentiu uma espécie de labirintite naquele mesmo instante e soube que havia algo de errado, o que impediu de entender qualquer coisa.

- Quietos! – pediu e realmente os dois se calaram, percebendo o desconforto da mulher que deu um passo para trás e levou a mão à cabeça.

- Minerva? – perguntou Snape preocupado.

- Desculpe... acho que foi um alarme falso – murmurou.

Como vice-diretora, McGonagall tinha parte de sua magia ligada à da escola. Nada muito expansivo ou digno de nota, apenas para garantir a segurança das áreas, mas nem sempre ela entendia muito bem como isso funcionava.

Eram apenas... sensações. Cócegas no pé, coceira na nuca, mas sabia que não era no corpo, e sim na magia da escola.

Na quarta-feira mesmo, Minerva sentiu algo estranho nas proteções e se pegou olhando para a lareira tentando entender.

Mas não deu em nada.

Veio rápido e sumiu tanto quanto, como um calor no estômago.

Agora, estava sentindo algo parecido, no sentido de inquietante. Talvez devesse chamar Albus para rever os portões e as barreiras? Parecia ser do lado de fora. Poderia ter algo que eles não notaram que estava enfraquecido na última vistoria.

Mas ela apenas suspirou, pensando com mais calma sobre isso.

Não era para um problema na segurança a sensação.

Apesar de Albus ter dito (quando não acharam nada na quarta) que havia a chance de algumas das enfermarias estarem sentindo a atividade no barco da Durmstrang e possivelmente suas aulas de magia sombria e, por isso, os alertas pequenos.

Agora era muito tarde para uma aula, mas eles poderiam estar praticando algo mais obscuro, não é mesmo? Não era tarde o bastante para todos os alunos estarem deitados e...

Um estrondo!

Minerva foi tirada abruptamente de seus devaneios quando um estrondo ensurdecedor ecoou pelo corredor.

Os três acabaram instintivamente reagindo, pulando em seus lugares quando o som de um dos mais fortes trovões que já presenciaram, irrompeu e vibrou em ondas pelas pedras gélidas do castelo, antes silencioso. Tudo ainda foi cortado pela luz, um raio que piscou rapidamente, tornando tudo branco, depois escuro de novo.

Foi uma sensação intensa. Algo que rasgou os sentidos, sacudiu as janelas, um som de fazer o mundo tremer. Uma força da natureza, por si mesma, em sua plena fúria e vigor.

Minerva olhou para o céu noturno, notando que não haviam nuvens carregadas no céu, apesar de estar relativamente nublado, já que mal via mais de duas estrelas.

Não parecia que ia chover, mas o trovão foi forte o bastante para se pensar na possibilidade.

Algum lobo uivou no horizonte, nos terrenos da floresta, pássaros voaram. A bruxa, chegou a ouvir um corvo grasnar em alguma torre, da qual não saberia dizer, mas audível ainda sim, intensificado pelo silêncio repentino que aquela grande explosão dos céus causou, ao indicar exorbitante presença, mas sumir.

Tão rápido quando o som e a luz podiam chegar e partir.

Deixando apenas a memória do momento aterrador.

Snape, por outro lado, registrou exatamente um fato estranho relacionado a isso. As leis naturais. Afinal, a luz chegou depois.

O que era muito estranho.

Luz viaja muito mais rápido que o som.

O raio sempre chega antes do trovão. Ele era apenas o som provindo da eletricidade. Então como?

Seria impressão sua?

Apenas sua mente que registrou as duas coisas em tempos diferentes do habitual? Com certeza o raio caíra perto, pela presença que se fez notar, e as duas coisas chegaram quase juntas, então... Sim, podia ser impressão da mente.

Enquanto isso, Sirius sentiu todos os pelos do corpo se arrepiarem e ele tremeu.

Não estava com uma boa sensação.

- Pro- Minerva – chamou Sirius. – Você - mas foi interrompido. Primeiro por um segundo trovão, tão expansivo quanto o anterior.

Depois, de um tempo de silêncio contemplativo, Minerva tornou a se pronunciar:

- Acho que vou para a cama, meninos – a mulher tremeu levemente, com uma brisa fria vinda do corredor noturno no outono. – Hoje foi um tanto estressante e amanhã... não sinto que vai melhorar. Com os jornais ainda aqui.

- Se você diz - murmurou o Black. - Boa noite.

- Se precisar, pode chamar – ofereceu Snape.

- Claro, obrigada Severo. Boa noite e até amanhã. E não briguem. - acrescentou com um olhar semicerrado.

- Não prometemos – disseram os dois juntos, em tons de vozes diferentes, mas tão sincronizados que tiveram de se segurar para não rir.

- Espero que seja apenas uma brincadeira – resmungou se afastando.

- Não prometemos – repetiram os dois e dessa vez ambos se viraram para esconder os sorrisos.

Minerva seguiu os ignorando direto para seu quarto.

Pensou seriamente em dar uma passada na casa de Aberforth, talvez aceitar o convite de dormir por lá, mesmo que fosse um convite feito no dia anterior, mas sair um pouco da área da escola e de suas enfermarias incomodadas com a magia estrangeira ajudasse a ter uma noite menos infernal do que pensava que teria.

Com todos os pensamentos remoendo ainda mais sua vida.

Em meio a outro trovão tão alto quanto o primeiro e o segundo, ela sentiu algo bem mais incômodo que das últimas vezes e agarrou a sua capa antes de conseguir sentir-se aliviada de novo. Seja lá o que tenha causado a perturbação na escola...

Passou.

-x-x-x-

-x-x-x-

- Certo, vou direto ao ponto: O que estão me escondendo?

Perguntou Harrison do barco, um pouco antes naquela noite.

- Alteza – Natasha imediatamente falou, sabendo que os demais iriam hesitar e ela, nem de longe, queria passar a impressão de que estavam traindo sua alteza. – Sentimos muito, não quisemos esconder, Neville que pediu para que fosse assim, mas pretendíamos. Ele apenas disse que queria dizer pessoalmente e lhe demos a chance.

- O que ele queria dizer pessoalmente?

- Tem certeza de que quer ouvir de nós? – perguntou incerta.

- Nath... – a forma como o apelido foi dito era o bastante.

Natasha mordeu seu lábio, jamais deixaria de atender a sua alteza em primeiro lugar e acima de tudo.

- Certo... – suspirou. – Neville Longbottom pode ter sofrido um ataque mental nesse fim de semana. Não um qualquer. É quase certo que Albus Dumbledore leu a mente de seu amigo para tentar descobrir informações sobre você.

Todos arfaram.

Rusev chegou a se afastar instintivamente.

Alguns mordendo alguma parte da boca, outros segurando algo ou simplesmente olhando, estáticos.

Tensos.

Em expectativa.

Silêncio.

Harrison não moveu um único músculo.

Todos da corte esperaram que , aparentemente, absorvesse a nova informação.

Luna, de repente deu um passo para trás, enquanto Nagini se arremessava da poltrona para o chão, a loira gritou:

- Tapem os ouvidos, agora! Ivan, barreira!

A reação dos amigos foi imediata, mesmo que não tivesse sido com eles, todos obedeceram a mão do rei. Ivan, Axek, Yorlov e Rusev levantaram barreiras e enfermarias de proteção em volta de sua alteza e em no salão, o restante levantou barreiras sonoras ao mesmo tempo que tapavam seus ouvidos.

Não foi o bastante.

Um trovão estrondoso soou, tão alto e intenso que todo o barco se moveu na água, agarrado pela âncora foi empurrado, puxado.

As janelas atrás de Harrison arrebentaram em milhares de cacos!

Que voaram para o lago em direções diversas, criando o próprio som de destruição.

Então um raio.

Grande, verde, fluorescente e tão brilhante que os cegou ao preencher o ambiente, cheio de vergões, expandindo-se por toda a área das enfermarias lançadas em volta de Harrison, mostrando...

O quanto inúteis e fracas eram.

Hazz ficou, de repente, escondido no meio de um clarão, que foi engolido em seguida por um borrão de negrume.

Sua magia rugiu!

Crepitou, estrondou, explodiu!

A luz era forte demais e o som de um segundo grande trovão veio em seguida, forçando os que ainda não haviam feito a cobrir seus ouvidos e se abaixarem para não caírem com o movimento do barco.

E a pressão absurda que sentiam.

A magia de Harrison criava uma pressão tão avassaladora que todas as outras vezes que tinham visto liberta...

Pareceram nada.

Perceberam que não era nada. Não em comparação com sua real potência.

Não era possível sequer respirar mais, simplesmente não conseguiam força para movimentar o peito e os pulmões.

Além do som do trovão parecia que nenhum outro se propagava.

Se a voz de Harrison irritado era o vazio infinito aterrador, então sua magia havia tirado a atmosfera do ar e preenchido tudo com uma tempestade completa de nuvens negras e raios verdes.

Eles não se sentiam como num lago, assim como geralmente era quando a magia de sua alteza era liberada.

Estavam no espaço completo.

Sentindo o peito afundar.

Suas próprias magias tão subjugadas por aquela presença que mal encontravam acesso a ela, mesmo que fosse a única coisa que os mantivessem acordados na pressão, os membros simplesmente congelavam como se não houvesse qualquer temperatura no espaço que Harrison replicou.

Tempestade?

Hazz era uma super nova completa consumindo tudo no ambiente e parecia pronta para explodir levando tudo consigo.

Mas, o mais impressionante de se estar lá e o que afastava o medo completo da destruição massiva, era que tudo ainda estava controlado.

Todos que haviam lançado barreiras tinham uma única certeza: elas só não foram destruídas porque Harrison não quis. E esse era o ponto mais impressionante: elas não estavam destruídas. Estavam protegendo a corte.

Mesmo naquele instante, Harrison estava se contendo e tudo que o grupo sentia...

Ainda não era o máximo do príncipe.

Mas as barreiras ficaram, inegavelmente, fracas com o baque. Rachadas, o que provavelmente deixava a pressão passar mais do que devia. Eram o mesmo que teias de aranha para impedir ar e água da chuva. Gostas ficavam, os bruxos podiam sentir, mas a maior parte estava com eles. Por isso, eram afetados.

Talvez um pouco mais que teias de aranha?

Mas não tinham forças para mantê-las, não com tudo, precisavam de todas as forças para simplesmente ficar ali e não desmaiar, o que os fez deixar que se dissipassem no ar, sem qualquer outra alternativa.

- Hazz! – chamou Luna, o mais alto que conseguiu, o som mal saindo pela garganta sem força.

Mas teve efeito.

Outro trovão.

Então ele implodiu.

Com um suspiro pesado, Hazz segurou toda a sua magia de volta.

Foi tão rápido que pareceu como se não tivesse sequer uma única dificuldade para isso.

Simplesmente engoliu tudo, mandando de volta para o centro de seu corpo com um último trovão sem raios.

A perda de boa parte da pressão deixou a maioria deles tontos, mas ainda havia resquícios. Estava de novo como água, cobrindo os ouvidos, confundindo os sentidos. Podiam respirar, mesmo que pesadamente, o barco parara de se mexer.

Então Hazz simplesmente expirou e inspirou novamente, levando sutilmente a mão à testa, mantendo os olhos fechados.

Tudo voltando ao normal, apenas a sombra de tudo pairando com a pressão de sua presença.

- Desculpem por isso – pediu, a voz grave, o som veio acompanhado de vários estalos ao fundo, como bombinhas de eletricidade estática, um cabo em curto. Ele suspirou, percebendo a própria falha, apertando a mandíbula. – Axek, Ivan, poderiam consertar a janela para mim? Eu preciso de um instante para pensar - falou pausadamente.

- Hazz – chamou Luna incerta.

- Um instante – murmurou quase sem voz.

Nagini deslizou apressadamente para perto do garoto e se enrolou no seu tornozelo com força.

Ela parecia dizer algo, mas não é como se alguém além de Harrison pudesse entender.

Levou alguns segundos antes que os irmãos decidissem que era melhor apenas obedecer e levantaram suas varinhas, se aproximando das janelas para consertá-las.

Mas pararam quando Harrison abriu os olhos.

Ele estava com os olhos negros.

Várias veias escuras cobrindo a córnea enquanto a pupila dilatada verde brilhava no pouco que lhe restara.

Axek achou fascinante. Ivan ficou preocupado. A última vez que viu sua alteza tão bravo...

Não foi quando ele ateou fogo sem querer na torre da Haus Feuer?

Mas isso foi no primeiro ano, desde então ele nunca perdia o controle daquela forma.

Não que Hazz tivesse o feito agora. Na verdade, estava demonstrando uma resistência contra a própria magia bem impressionante, mas mesmo assim...

- Os demais, por favor vejam se ninguém presenciou isso, se nenhum caco voou e machucou alguém – tornou a sussurrar, mas a voz estava tão grave que ela em si pareceu o estrondo de um trovão seguido por entre aquele som de atrito de raios. – Não foi uma sugestão – acrescentou quando notou que ninguém se moveu. – Foi uma ordem!

Eles se entreolharam, mas acharam melhor obedecer de toda forma, se espalharam sem precisar falar mais que meias palavras e cada um foi para uma direção do barco. Heinz e Krum correram para a entrada do corredor que levava ao salão, assim como Lara e Anastasia para outro, buscando impedir que curiosos viessem, Axek e Ivan olharam pelos vidros quebrados que caíram no lago e começaram feitiços de restauração, Natasha e Elizaveta foram atrás de olhar pelo barco se tudo estava bem depois do chacoalhão. Yorlov e Rusev correram para os dormitórios, para parar os curiosos que, de certo, apareceriam e aplacar as perguntas.

Lakroff, é claro, havia voltado. Preocupado com os sons e o barco, os encontrou já em movimento, portanto focou-se em Harrison.

Pensou brevemente se aplicar uma dose boa das poções de descontrole mágico seria a melhor opção ali, mas podia perceber que não com um olhar um pouco mais atento.

A magia de Harrison reagiria muito mais agressiva do que obviamente já estava. Mesmo que, aos poucos, estivesse diminuindo sua presença.

Todavia, até Nagini, com toda sua resistência, parecia afetada.

Além de que a coisa estava visível.

A magia das pessoas não era visível, a menos que você tivesse os dons de Harrison. Entretanto estava diante deles ao menos parte dela.

As veias do garoto estavam a cada instante mais saltadas. E sua cor era totalmente preta.

Vinhas negras se espalhando por seu corpo e com seu sangue.

Envolta dos olhos, formava um padrão assustador.

Uma de suas mãos estava fechada em um punho tão firme que embranqueceu a pele. Então rasgou.

As unhas devem ter cortado a palma, porque foi possível (para quem olhou naquela direção e não para sua mandíbula trincada) ver sangue escorrendo por entre os dedos.

Lakroff sabia...

Se Harrison estivesse sozinho, provavelmente teria estourado bem mais, mas não queria continuar perdendo as estribeiras na frente de sua corte. Estava se segurando.

O que era alarmante.

Mas sua apreensão aumentou mesmo quando viu Luna se aproximando calmamente do menino.

O platinado seguiu até ela para impedi-la.

Seria pior se aproximar agora. Hazz estava se contendo muito para não machucar ninguém, nem exagerar, mas ele tinha muito medo de machucar as pessoas e medo não era mais um sentimento que deveria ter consigo para confundí-lo, Lakroff entendia bem isso, não era a toa que o garoto se isolava quando ficava daquele jeito. Luna poderia não ser de muita ajuda agora.

A loira, entretanto, o encarou diretamente nos olhos e sua expressão disse tudo:

"Mas ele vai se machucar assim!"

Os dois pensaram juntos, mesmo que não pudessem, simplesmente sabiam que haviam chegado àquela conclusão quando as íris azuis de seus olhos se encontraram.

Harrison não podia segurar a própria magia, contê-la daquela forma como estava fazendo, não com tudo que aconteceu... Não depois do orfanato.

Ele acabaria por terminar de estourar a linha tênue que tinha de controle, assim como fizera na mansão Mitrica anos atrás ou ainda antes disso, na estação de trem que acabou aparatando. Até no evento no dormitório da Haus Feuer em seu primeiro ano. A instabilidade que os traumas criaram.

Uma ferida na própria magia. Na alma de uma simples criança torturada.

Mas ele também poderia se ferir imensamente tentando o contrário.

Lakroff não podia nem mesmo oferecer uma poção de descontrole mágico, exatamente porque pioraria o estado físico de Harrison. Ela tentaria manter tudo contido, uma muleta para enfraquecer e tornar mais acessível aos comandos do bruxo, onde normalmente poderia usar a chance para liberá-la de forma saudável, mas em Hazz causaria um caos dentro dele

Sua magia o atacaria em retaliação ao efeito letárgico. Lutaria contra a coisa que estava tentando segurá-la, enquanto acreditava que devia reagir ao mundo.

Assim como, em tese, devia ter feito quando o dopavam para machucá-lo.

Treinada na dor, ela obviamente reagia a calmantes e tudo que oferecia um efeito letárgico, mesmo analgésico, como perigo. Veria o próprio sistema imunológico de Harrison como inimigo.

Aquelas poções ou qualquer uma que serviria para ajudar no estresse ou na dor de um bruxo comum, só podiam ser dadas a Harrison com muita cautela, pois a magia sempre as consideraria um risco a si. Uma reação naturalmente agressiva, despertada por tudo que era aplicado no garoto sem sua autorização e sem que ele estivesse totalmente relaxado para confiar que não precisava lutar contra isso. Que estava bem.

Uma cicatriz tão óbvia do tempo que colocavam drogas escondidas na comida ou bebida, para conseguirem amarrá-lo aos exorcismos, que chegava a doer em Lakroff pensar muito sobre isso. O quanto aquelas coisas foram simplesmente doentias de se fazer com qualquer criança.

E que sentiria prazer em fazer coisas muito piores com os desgraçados envolvidos.

Centenas de milhares de vezes piores, até fazer o maldito inferno em que acreditavam parecer um doce coquetel na praia. E ele saberia como fazer.

Ele teria feito.

Mas não pôde.

Então tinha que ver o neto passar por aquilo. Ou também pelos momentos quando ele simplesmente vomitava qualquer coisa com gosto incomum, comida ou mesmo poção, porque seu corpo preferia rejeitar as coisas a correr um risco desnecessário. As refeições puladas porque não conseguia confiar totalmente no que era oferecido em Hogwarts, um lugar novo, com pessoas (mesmo elfos) que não conhecia. Uma reação mais mundana, que qualquer humano teria diante dos mesmos gatilhos, mas ainda uma prova deprimente de que haviam coisas que nem toda a magia que estudou podia arrumar.

E o maior problema sempre era exatamente que a magia não atacava apenas os efeitos de substâncias externas, mas o próprio Harrison, por estar indo contra sua natureza de querer defendê-lo. Hazz, reagindo a ela, tentando suprimi-la, igualmente despertava seus instintos e sequelas, era visto como um ataque em recordação dos anos em que ele se culpava por tê-la, mesmo que só sobreviveu com sua força.

Mesmo que o próprio Harrison achasse que tinha de se controlar...

Se conter não podia ser a resposta.

Nunca.

Não com um bruxo das trevas, muito menos com alguém como Harrison.

Não era hora de mostrar que era capaz disso.

Harrison era.

Todos tinham plena noção de suas capacidades, e ele de seus limites. Sempre provou um controle emocional invejável, apesar dos pesares. Nada podia mandar naquele garoto se não ele mesmo, nem sua própria magia vital, mas ainda era uma pessoa, apesar de tudo...

- Harrison – Lakroff tentou.

- Eu vou me deitar – interrompeu Harry, se forçando a levantar.

{- Não!} – pediu Nagini. {- Hazz, você precisa...}

- Eu estou me contendo porque é o que devo fazer agora! – disse firme, para calar os três.

Lakroff, Nagini e Tom.

Também, ele mesmo.

Com suas inseguranças apitando fortemente na mente como várias vozes de memórias que não queria ter consigo agora.

- Eu sinto muito por meu deslize e por deixar o concerto com vocês, mas... – alguém ia o interromper, porém quando o chão tremeu, todos se calaram. – Eu preciso pensar um pouco agora. Sozinho – e encarou Nagini no final.

Assim como Lakroff previu.

Ele ia se isolar.

Mas ao menos poderia extravasar quando o fizesse, não é? E sempre haveria Tom. Harrison nunca estava sozinho e mais do que antes Lakroff confiava na horcrux para deixar em suas mãos o adolescente.

Nagini deve ter pensado a mesma coisa, pois apenas deslizou para longe dele e para Lakroff, que a pegou consigo.

O restante dos amigos presentes, todavia, quiseram ir contra.

Explicar que Hazz não precisava ficar sozinho. Que estavam ali e se importavam, que entendiam ter se descontrolado, que eles mesmos reagiram mal quando souberam, que era uma situação delicada e Hazz tinha direito de extrapolar.

Mas não foi preciso palavras.

Enquanto Harrison internamente se martirizava por ter perdido as estribeiras na frente de sua corte e seguia para fora, Luna se aproximou rapidamente e lhe segurou a mão.

Ele a encarou, com medo de se mover e poder machucá-la.

Ele devia estar com tanta dor.

Lakroff, Nagini, eles entendiam como era sofrível forçar toda a energia latente do garoto para se esconder quando ela já havia estourado. A verdade é que, mesmo o amando como era, Harrison estava quebrado a anos pela ação alheia do preconceito e intolerância.

Pela covardia da raça humana em sua essência.

Ele estava apenas remendado, mas nunca curado. Mesmo assim, não demonstrava, não se permitia derrubar sua máscara na frente de sua corte. Preferia ferir a si mesmo, do que eles de qualquer forma.

As veias saltadas eram apenas um dos sinais, a forma como estava se movendo bem mais lento ou a mão machucada outros dois.

Havia dor, mas tudo foi esquecido quando Luna pegou carinhosamente a mesma mão sangrando e beijou.

- Luna! – Harry se assustou. – Não...

- Eu também sangro – ela disse antes que o garoto continuasse. O menino fez uma careta confusa antes dela acrescentar: - Todos aqui sangram. Todos aqui.

- Desculpa minha Lua – sorriu Hazz. Dessa vez, ninguém deixou de notar como era uma ação falsa, como faltava o sorriso chegar a qualquer outro lugar do rosto que não simplesmente seus lábios. – Mas falhei agora, não lhe entendi minha querida .

- Você não é fraco por se importar tanto com quem ama que sua magia reage a algo que lhes aconteceu – explicou apertando a palma alheia e se aproximando mais, Hazz se afastou, com medo, mas Luna o puxou de volta.

- Minha Lua...

- Você é forte! Tanto que sua magia é capaz de fazer o que faz. Não é fraqueza perder as estribeiras, nem se sentir mal quando acontece. Todos sangram, todos falham, todos perdem o controle alguma vez!

- Mas eu...

- Eu não tenho medo de você! – acrescentou a menina, firme e decidida. – Porque sei do controle que tem sob si mesmo, isso que você acabou de mostrar não diminui todo o resto! Só mostra o quanto você luta constantemente, diariamente e a cada segundo para controlar uma força, que para muitos sequer passaria por suas cabeças! – suavizando a expressão dura que vinha mantendo, gentilmente e como se pedindo permissão, Luna estendeu a mão até o rosto do outro, mas não o bastante para encostar, queria apenas ver se ele recuaria. – Não está na hora de se controlar. Não conosco.

- Um bruxo das trevas não é bom se permite que sua magia o controle - murmurou frustrado, grave, sentindo-se pesado.

Luna suspirou, então sorriu e negando com a cabeça:

- Eu tenho muita coisa para dizer sobre isso, mas não vou dizer nada.

Hazz a encarou confuso:

- É?

- Sim. Porque você precisa ouvir de outra pessoa primeiro. Mas quando for a hora, eu te direi tudo que estou pensando, não me deixe esquecer.

E aquela frase, a doçura e aleatoriedade dela, pareceram ajudar muito, Harrison não chegou a sorrir com a boca, nem seus olhos demonstraram isso, mas as veias estavam normais de novo.

Baixaram na pele, seus olhos tornando ao verde de sempre e a gentileza ao vislumbrar uma amiga:

- Certo, não deixo, minha lua.

- Sol.

- Como é?

- Se eu sou uma lua, você é uma estrela – sorriu dando um último passo próximo de Hazz e ousadamente lhe despejando um beijo na bochecha. – Eu sei que você quer respeitar a vontade de Neville, mas terá de ter paciência para isso. Lembre-se que sempre estaremos aqui. No acerto e na falha.

- E eu falho? – provocou tentando amenizar o clima.

- Nunca – respondeu na hora, com um enorme sorriso satisfeito, vendo que aos poucos o príncipe estava recuperando a tranquilidade mental. – Nunca falha, não importa o tempo ou situação, mas você é tão crítico consigo mesmo que pensa que sim. Tudo bem, estaremos aqui para limpar o que precisar depois – então, enfim, o soltou e se afastou. Hazz quase riu ao perceber como a corte os encarava de olhos semicerrados, mas não estava com energia para o ciúmes deles. – Não esquece, depois tenho algo a te dizer.

- Não vou. Uma boa noite a todos – e se afastou.

-x-x-x-

- Viktor! – chamou Neville, correndo pelo gramado para chegar de frente para o barco da Durmstrang.

Era uma manhã ensolarada, não estava frio mesmo para a época e, mesmo com os trovões que o Longbottom escutara na noite passada, tudo indicava que não choveu. O menino estava esperançoso de pegar o grupo de estrangeiros chegando da caminhada.

Acordou cedo o bastante para pegá-los antes, mas simplesmente ficou enrolando na cama não conseguindo se forçar a tomar coragem. Quando percebeu que logo seria o café da manhã e sua chance estaria perdida até sabe-se lá que horas do dia, enfim conseguiu ir até o barco.

Mas...

- Oi, Nev – cumprimentou o búlgaro, parecendo bem cansado.

- Bom dia – cumprimentaram os outros meninos.

Todos, na verdade, pareciam bem mais desanimados que o normal. A caminhada teria sido mais puxada hoje?

Bom... todos menos Ivan e Yorlov.

Esses dois estavam em uma "discussão", talvez se possa definir assim e, por isso, pareciam tão agitados quanto sempre. Yorlov tentava acertar Ivan com socos, mas o russo tinha agarrado suas mãos e o olhava diretamente:

- Se conseguir se soltar eu te dou um beijo de parabéns – disse o Tshkows. – Se não conseguir eu dou outro de consolo.

- Eu não quero seu maldito beijo, Ivan!

- Uma mamada então?

- OH! – gritaram todos os outros em sua direção.

- Olha a boca! – reclamou Rusev.

- É, Neville está aqui já que não notaram! – apoiou Heinz.

O Longbottom corou e mordeu seu lábio, irritado:

- Será que vocês podem não me tratar feito criança por culpa do Hazz?! – gritou frustrado.

- Ignore eles – disse Axek. – Estão fazendo isso para te irritar. É literalmente o maior entretenimento aqui, irritar uns aos outros – e enquanto dizia, ele olhava para o chão.

- Está procurando alguma coisa, Axek? – questionou Viktor.

- Achei já – respondeu pegando uma pedra do chão.

Era um pouco maior que sua mão, redonda, bem definida pela água do lago (provavelmente), ele jogou para cima e agarrou, moveu para cima e para baixo como se testasse seu peso, então acenou satisfeito.

- Axek, não... – começou Viktor, mas foi tarde.

O loiro preparou e num arremesso perfeito (ele era artilheiro, não é mesmo?), jogou a rocha na direção da cabeça de Ivan.

Que desviou.

Afinal este era batedor. Acertar um balaço ou desviar de outro que fora mirado em você eram parte do que tinha que fazer para ganhar.

- MAS QUE M- começou furioso.

Só que não conseguiu terminar.

Ele havia soltado Yorlov para desviar e o indiano aproveitou a oportunidade para mirar um soco na cara do garoto, um golpe acertado com jeito, o fazendo girar, levando a mão ao rosto e cambaleando um passo para não cair no chão.

- Bom soco! – gritou Axek com um sorriso satisfeito.

- Belo arremesso! – respondeu Yorlov estalando seu pescoço.

- Você podia ter acertado minha cabeça, seu merda! – tornou a gritar Ivan, ignorando o soco de Yorlov (Neville tinha suas dúvidas de que o golpe doera de toda forma) e indo em direção ao meio irmão.

Heinz e Rusev já começaram a se preparar para intervir.

- Se você não desviasse de uma coisa premeditada dessas, então é um inútil para sua alteza! – respondeu o alemão. – Eu estava no seu campo de visão o tempo todo, literalmente fiquei brincando com a maldita pedra e peguei uma grande o bastante para ser visível, o mínimo que você tinha a fazer era perceber tudo isso!

- Eu estava distraído com o Yorlov tentando me bater!

- Foda-se, pare de ficar perturbando o vice-presidente e não vai estar mais distraído com isso!

- Que tal você cuidar da sua vida?

- Que tal você fazer o mesmo e parar de parecer um tarado que não entende a porcaria de um não! – frustrou-se.

- Qual é? Ele está menos irritado que você com as minhas brincadeiras!

- Mas eu já estou exaurido de você!

- Que foi? Também está precisando de uma mamada? Isso para mim é falta de sexo bom.

- Escuta aqui, você....

- Posso achar alguém que aceitaria transar até com você.

Todos os garotos (até Neville) correram até a dupla bem a tempo, agarrando os irmãos antes que o primeiro soco fosse dado. Ivan foi segurado por Rusev pelas costas, Heinz pelo braço direito e Yorlov o esquerdo, Viktor e Nev ficaram com um braço cada de Axek.

- É... um bom dia da Durmstrang, o dia oficialmente começou – comentou Neville baixinho.

Engraçado como todos pareceram ouvir aquilo, mesmo que estivessem diante da barulheira dos meninos ainda tentando se alcançar e, como um raio congelante, todos pararam, depois olharam para Neville, o menino corou percebendo que tinha sido escutado e então todos começaram a rir. Tanto que Ivan e Axek continuaram nos lugares gargalhando quando o aperto neles se afrouxou.

- Que bom que estão mais calmos. Menos vinte pontos para a Haus Feuer pelo showzinho – disse Harrison encarando os amigos.

Natasha estava bem atrás rindo.

A dupla de meio irmãos corou fortemente e baixaram as cabeças:

- Desculpe, alteza.

- Credo, só porque vocês ganham dez vezes mais pontos que isso por semana, não quer dizer que podem ficar perdendo por brigas idiotas assim o tempo todo! – reclamou o Potter.

- Desculpe – repetiram.

Neville ficou pensando se Yorlov também não merecia menos dez pontos, afinal ele havia acertado o soco, mas não falou nada. Ficou mais distraído com o fato de que todos pareceram tensos de repente. Bem mais que o normal.

E silenciosos.

Até que Natasha revirou os olhos e estalou a língua:

- Axek, não sei porque ficou tão ofendido também, Anatassia me contou que te pegou saindo da Haus Land várias vezes na semana.

- Como raios ela me pegou na Land? – questionou de cenho franzido enquanto a maioria desviava a atenção para ele.

Mas Neville encarava diretamente Harrison, o coração acelerado quase subindo para sua boca e Hazz igualmente. Isso só deixou o Longbottom mais ansioso, sentiu como se tivesse desaprendido a respirar e coçou a própria mão ansioso.

O restante dos colegas da Durmstrang continuava:

- Ela também tem uma namorada lá, não ficou sabendo – brincou Natasha com um sorriso, inclinando levemente a cabeça. – A sua fica apenas dois quartos de distância.

- Sua prima ta namorando? - perguntou Heinz.

- Mas porque está todo mundo na Land?! Vou ter que aumentar as rondas?! - gritou Yorlov.

- Namorada? – questionou Ivan baixinho, olhando para o irmão. – Por que não me contou? – e sua voz estava um pouco estranha.

Hazz nem precisava estar sem seus óculos ou mesmo olhar naquela direção para sentir que não queria se envolver nessa história.

Focou em Nev e, com o melhor sorriso nervoso que conseguiu se forçar a fazer, o chamou silenciosamente com a mão.

O Longbottom se aproximou, mesmo que muito nervoso.

- Não é minha namorada – reclamava Axek. – Eu só... Olha, todo mundo, vão pastar, minha vida pessoal não é da conta de vocês...

Hazz não ouviu mais nada depois disso.

Agarrou a mão de Neville como se sua vida dependesse disso e sentiu na mesma proporção um alívio tremendo e um medo maior ainda, então puxou o amigo para longe dos demais.

Sua mente estava um total silêncio, em comparação com a barulheira que ficou a noite toda, mas seu coração estava agitado, tanto que poderia sair da caixa toráxica.

Nev se deixou ser guiado, os dois seguiram até uma parte da mata, não adentrando na floresta proibida, mas já cercados por árvores e só lá Hazz teve coragem de soltar o braço alheio.

Parecia que tocar Nev lhe dava uma certeza de que, seja lá o que tinha acontecido, não era tão ruim. Ele estava ali. Podia ser resolvido. Hazz queria abraçá-lo e mantê-lo ali, nos seus braços, protegido do mundo!

Mas não podia.

Não até ele contar!

Depois faria, de um jeito ou de outro.

- Você está bem? – perguntou Nev, diante do silêncio do amigo.

Isso fez o moreno finalmente se virar para ele. Vinha encarando as árvores.

"Se eu estou bem?! E você?!" gritou internamente, mas tomando ar para manter o rosto o mais neutro que conseguiu.

- Estou... mais ou menos – suspirou, tomando coragem para se virar para o amigo. – E você?

- Eu? – questionou desviando os olhos. – Estou ótimo – mentiu, mas corou ao fazê-lo. – O que aconteceu que você está mais ou menos?

- Estou preocupado com algumas coisas.

- Que seriam?

- Por que você está evitando me olhar nos olhos? – perguntou no lugar, o peito doendo e pesando.

Um leve chiado começou a soar no fundo da mente.

Ótimo! O barulho tinha voltado...

Nev corou mais.

- Eu só... eu - deu uma pausa, estendendo a última sílaba. - Eu estava pensando... eu tenho - se interrompeu, mordendo o lábio, olhando em volta, se revezando entre as pernas. - Tem algo que eu...

- Neville, a menos que você pretenda declarar seu amor para mim, não precisa ficar tão ansioso – interrompeu Hazz impaciente, mas forçando um tom divertido até o fim da frase, que conseguiu disfarçar bem seu início irritadisso.

Não só isso, a reação do amigo lhe serviu como um sopro de alívio momentâneo. Olhos arregalados, coluna de repente muito ereta, boca aberta o bastante para se enfiar uma fruta, vermelho como um tomate e gritando:

- Como é que é?!

- Se bem que... acho que nem se fosse se declarar deveria ficar tão ansioso. Eu obviamente estou apaixonado por você, lhe digo isso com frequência e nem poderia ser mais óbvio, então onde está o receio? – questionou com um falso tom sério e cruzando os braços, mas seus olhos brilharam de um jeito que Neville sabia que estava sendo provocado.

- Não deboche de mim! – reclamou.

- Você veio se declarar?

- Não! – gritou corado.

- Então não estou debochando - dispensou, depois sorriu travesso, inclinando a cabeça: - Não muito.

- Hazz! - brigou.

- Nev! - sorriu.

- Pare com isso!

- Como quiser – e fechou a boca em um movimento de zíper invisível, mas manteve o sorriso.

- Você ainda está me provocando! - acusou frustrado.

- Não estou! – negou aos risos, se aproximando do outro e aproveitando aquilo como desculpa.

Lhe deu um abraço.

Teve que se segurar para não apertá-lo, mas ficou suficientemente mais em paz quando o amigo retribuiu e acariciou suas costas.

- E então? – questionou colocando sua cabeça no ombro alheio, aproveitando o cheiro confortável que saia dele. – O que você ia dizer que ficou gaguejando tanto?

- Não consigo dizer com você assim.

- Então era uma declaração?

Nev o empurrou e Hazz riu:

- Parei! Prometo!

- Você é uma peste, sabia?

- Desde que você não consiga a vacina.

- Eu nem procuraria - revirou os olhos e Harrison não conseguiu segurar o sorriso imenso que lhe escapou.

Neville notou, Hazz parecia... emotivo? Ele disse que estava preocupado com algumas coisas, não é? Será que era muito grave? Ele tinha passado o fim de semana fora e deixou claro que tinha acontecido tanta coisa que chegou a ficar com fome e sono (o que ainda era uma surpresa tremenda!).

Só que, naquele momento que o Longbottom notou: havia olheiras.

Hazz estava com olheiras.

- Você dormiu hoje? - perguntou.

- O que? - Hazz questionou surpreso com a pergunta repentina.

- Dormiu?

- Eu - começou, mas se interrompeu antes que mentisse, a expressão pesando frustrada. - Não.

- Por quê não?!

- Eu juro que te conto o que está me incomodando, depois que me contar o que está te fazendo o mesmo primeiro.

- Por que acha que eu teria uma coisa me incomodando?

- Porque você continua desviando os olhos de mim! – respondeu segurando a agonia ao máximo em sua voz, agarrando o rosto do amigo para encará-lo nos olhos. – Vamos, me diga Nev. O que houve? Eu te fiz algo?

- Não! Não... – repetiu baixinho.

Harrison sentiu o peso no peito se tornar uma bola massiva de dor.

Neville não tinha mentido, mas a alma ainda se agitou e isso era o bastante para lhe dar uma certeza incômoda.

E não gostou nem um pouco disso.

Suas inseguranças bateram mais forte e ele realmente teve que se esforçar para conseguir esconder a tristeza.

- Então alguma coisa aconteceu? - perguntou igualmente baixo, com medo que sua voz denunciasse suas emoções. - Você sabe que pode me dizer, eu sempre estarei lá por você, não importa como.

- Eu sei – resmungou tentando se afastar. Para sua surpresa, Hazz não o segurou e ele realmente conseguiu. – Eu só... estou na dúvida. Sobre como falar sobre isso.

- Tudo bem – deu de ombros, tentando parecer relaxado. Se afastou e seguiu até uma rocha, cuja parte dela estava enterrada, bem próxima deles e lisa o bastante, se sentou ali. – Eu espero.

- Você não tem aquele bando de coisas de sempre para fazer? - questionou o menino tentando pensar no que fazer.

Harrison claramente estava com algum problema, algo havia acontecido e... era de se esperar! Ele foi emancipado, estava num torneio mortal, sua vida tinha mudado muito e ele ainda estava na Inglaterra, um lugar que nem gostava!

Pior.

Agora ele era lorde aqui! Quantas cadeiras ele tinha?

Neville arregalou os olhos, desviando o rosto.

Hazz tinha cadeiras!

Ele teria que se mudar para a grã-bretanha não teria?! Isso se quisesse realmente assumir e fazer algo com o título de Lord Black.

Ele não disse algo do tipo na noite anterior?

Como Neville podia ser tão burro?!

É claro que tinham coisas para Hazz se preocupar agora, várias outras! Sua vida estava um caos! E ele não falou ontem porque... só por ele estar claramente entre pessoas que considerava amigos, não queria dizer (nem de longe) que ele contaria suas inseguranças, seus problemas, o que o estava afligindo! Ele deve ter usado sono como desculpa para ir logo se deitar e depois...

Ficou a noite em claro pensando em tudo.

Neville não podia.

Ele não ia jogar mais uma questão nas costas do amigo. Não agora, pelo menos.

- Minhas coisas podem esperar - disse Harry. - Eu quero saber de você agora.

Mas Nev não queria que ele deixasse as coisas esperando por sua causa! Não queria ser um problema para Hazz!

Que sempre foi sua solução...

Então lhe questionar sobre as artes das trevas? Agora? Ou mesmo tocar no assunto de Dumbledore? Que, sem dúvidas, seria ao menos um gatilho pequeno.

O guardião mágico negligente que nunca o ajudou.

Questionar Lakroff, que foi o único a fazer isso, e sua escolha em ensinar uma magia específica para Hazz?

Não.

Não!

Mil vezes não.

- Por quê? - questionou no lugar.

- Como assim por quê? - perguntou Hazz confuso.

- Bem... - começou, sem saber ao certo como ou o que dizer. - Você vai ficar ai parado, mesmo tendo um monte de assuntos para tratar, porque eu não sei o que - olhou para os lados, torcendo para que algo lhe desse uma ideia, ou alguma coisa lhe garantisse uma fuga! - Foi você que me chamou aqui para começo de conversa! – reclamou cruzando os braços.

- Você está tentando fugir do assunto e está fazendo isso muito mal.

- Eu não estou.

- Está e você também é um péssimo mentiroso, então nem tente!

- Eu não sou...

- Tudo bem, eu também sou um mentiroso ruim quando se trata de você. Mas acho que nossa amizade não foi baseada em mentiras... no máximo omissões - brincou, mas quando viu a expressão do outro o sorriso morreu. - Desculpe, você sabe que faço piadas com as coisas tristes da minha vida. Meus tios principalmente.

- Seus tios?

- É - fez uma careta. - Do que achou que eu estava falando?

- Nada - murmurou baixando a cabeça.

Eles obviamente precisavam ter aquela conversa.

Mas será que era o momento?

Neville não tinha certeza.

Enquanto isso, Hazz pensava que Neville obviamente estava tendo dificuldades para se abrir sobre aquilo, contar o que aconteceu.

Mas isso só aumentava suas inseguranças.

Foi tão ruim?

Hazz o arrastou aqui sem pensar antes como isso pareceria suspeito. Já tinha decido que daria a chance do garoto falar por si mesmo, se era o que queria, mas estava se remoendo nessa espera!

Se o Longbottom não falasse ele não poderia...

Pensar em como resolver isso?

Nem ele sabia ao certo, mas parecia o tipo de coisa como band aid. Queria arrancar de uma vez!

- Nev, eu consigo sentir o quão tenso você está! – reclamou abrindo os braços dramaticamente. – Eu me importo muito com você! Gostaria que me dissesse o que há de errado para que eu possa ajudar! Se for possível, é claro, mas vê-lo incomodado assim eu não quero! Por favor!

Neville suspirou.

"Eu também não quero te ver mal" pensou fechando os olhos, quando os abriu viu como as íris de Hazz brilhavam, como suas olheiras estavam marcadas, como sua expressão tentava passar neutralidade, mas falhava.

E Hazz não era do tipo que falha.

Em qualquer coisa que seja.

Olhou para baixo.

Para cima.

Então chutou uma pedrinha.

Poderia pensar num jeito de tratar a coisa que não fosse tão ruim, não é? Mas por onde ele deveria começar?

Tudo parecia um péssimo começo.

Ele abriu a boca, mas nada saiu, então olhou para Harrison, parado e esperando pacientemente, um daqueles sorrisos de educação estampando a face.

- Eu não sei como falar isso – admitiu sussurrou.

- Tudo bem. Vá no seu tempo – comentou apontando a mão para a grama e, naquele ponto, uma linda rosa se formou.

Hazz pegou e ficou encarando.

Teve uma sensação de dejavú.

Nev, por outro lado, apenas coçou o braço, não totalmente impressionado com a magia do amigo, mesmo assim achando digna de nota.

- Sente-se comigo – ofereceu Harry.

Nev acabou aceitando e foi para seu lado. Hazz lhe ofereceu a rosa e ele apanhou.

- É a segunda que você me dá – comentou ao vento.

- Mesmo? – riu o Potter. – Gostaria que eu lhe desse com mais frequência?

- Eu passo.

Ele riu de novo:

- Te darei um buquê no dia dos namorados.

A risada parecia tão falsa para os ouvidos de Neville.

Ele queria poder ajudar Harrison com seja lá o que o estava preocupando. Queria conseguir ajudar a si próprio e não jogar mais um problema nas costas alheias, mas mesmo que não fosse tão dependente do Potter... Dessa vez o envolvia.

O estômago do Longbottom se revirou.

Então roncou. òtimo, ansioso, nervoso e com fome.

Hazz sorriu:

- Com fome, leão?

- Foi nesse dia.

- Como?

- Que você me deu uma rosa - explicou Nev, mostrando a flor. - Na época que fiz o patrono, quando você me deu o anel e quando lhe contei que não o usava.

- E o broche, por falar nisso?

- Ainda no malão.

- Viu? Você não o perdeu. Podia começar a usar o anel também.

- Ele é especial demais, não quero correr o risco.

- Eu lhe dou outro! – revirou os olhos exasperado.

- Eu quero aquele! – reclamou de volta.

- Posso te dar um rios de anéis, Neville!

- Eu só quero um!

- De noivado? – provocou.

- Aquele! - e deu um tapa no braço alheio. - Pare já com isso!

- Tudo bem – concordou aos risos, mas tornou a se calar.

Neville olhou a floresta, observando como as árvores se moviam, Hazz se arrumou na pedra, colocou uma das pernas levantada e apoiou o queixo por ali.

- Lakroff está atrás de um namoro? – Nev puxou após (o que Hazz calculou) uns bons cinco minutos inteiros de silêncio.

- Sério? Agora você está pior ainda nessa história trocando de assunto. Eu estava melhor no fim de semana e faltou só puxar um sobre o clima.

- Está fresco hoje, não?

- Neville! – choramingou.

- Hazz, é que eu...

Naquele instante um barulho alto os interrompeu. Neville olhou na direção da floresta outra vez mas não viu nada, então houve um segundo som igualmente alto e mal houve tempo de reagir.

O Longbottom percebeu que algum galho se quebrou, viu penas cinzas, um bico, um corpo de cavalo e cascos, então no instante seguinte estava rolando no chão.

Quando abriu os olhos atordoado, Hazz estava em cima dele, com a respiração acelerada.

- Você está bem? – o de cicatriz de raio perguntou, mas olhava para um ponto mais a frente agitado.

Neville pensou rapidamente que o amigo ficava bonito daquele ângulo.

Mas havia um ângulo ruim para Hazz? Provavelmente não.

- Estou – respondeu, esticando o pescoço para cima afim de olhar na mesma direção que o outro.

Havia um hipogrifo muito irritado se debatendo, uma corda amarrada em seu pescoço havia prendido numa árvore a alguns metros dos dois. Ele trotava e se levantava, tentando se libertar.

- Meninos! – gritou Hagrid correndo para apanhar a criatura que havia lhe escapado. – Vocês estão bem?!

- Sim! Ótimos! – respondeu Harrison zangado sem se mover, a mandíbula firme, inspirou fundo e olhou para Nev. – Desculpe.

- Desculpe?

- Por ter me arremessado em você – explicou saindo para o lado.

Nev riu. Primeiro uma risada baixinha, depois uma segunda maior e então começou a gargalhar. Hazz o encarou confuso, depois o hipogrifo, depois a situação...

Então acabou rindo também.

Os dois ficaram assim por um tempo, enquanto Hagrid continha a criatura e o acalmava, dando alguns animais que arremessava para comer.

- Desculpe - disse Neville.

- O que? Pelo que?

- Geralmente sou eu que salvo as pessoas nesse castelo - sorriu cheio de afeto e diversão. - Assim vai me tirar a posição de herói.

- Nunca - sorriu de volta, empurrando o ombro do amigo. - Na próxima deixo você nos salvar.

- Vou cobrar. Você já é o inteligente e bonito, não precisa ser mais que isso ou ninguém tem chance!

- Ninguém já tem chance mesmo.

- Convencido.

- Também sou rico, atleta, famoso e... - Neville empurrou o amigo, movimento que fez Hazz cair para trás - Ai, ai! - gemeu ao atingir o chão, entre suas risadas.

- Eu sinto muito meninos – o meio gigante finalmente apareceu, após conseguir conter a criatura. Trazia-a consigo logo atrás, alimentada por doninhas que arremessava de uma corda pendurada em seu ombro. Ele (pensou Harry) ao menos teve a decência de parecer realmente mal com o ocorrido. – Esse aqui se soltou e saiu voando, mas a corda enroscou na copa daquela árvore e ele desceu para tentar se soltar e vocês estavam no caminho. O que estão fazendo tão perto da floresta proibida?!

- Conversando – respondeu Hazz, que apesar de ter se acalmado um pouco, ainda estava irritado pela interrupção, estava com dor e ficou irritado agora com o gigante também!

Não gostou nada dele.

Já não gostava porque foi o infeliz que o tirou de Sirius e levou para Dumbledore. Se lembrava dessa cara barbuda. Atormentou seus pesadelos por anos o bastante.

"Pense assim, pelo menos eu fiz a vida dele um inferno por você enquanto consegui" murmurou Tom no fundo da mente de Harrison que realmente engasgou para segurar sua risada e entrou em um crise de tosse.

- Hazz? - chamou Nev preocupado. - Você está bem? Quer um tapa nas costas?

- Não! - disse imediatamente, mais alto do que pretendia, porém sorriu em seguida. - Apenas... Esqueça. Não estamos na floresta proibida - se virou para Rúbeo. - Estamos ainda na área que abrange os gramados da escola.

- Bem - murmurou o gigante constrangido. - Sim, mas é perigoso, coisas assim podem acontecer.

"Claro porque a culpa não é dos funcionários incompetentes dessa escola que não controlam as criaturas que expõem aos alunos" pensou o menino ácido, querendo azarar o meio gigante.

Tom segurou sabiamente sua risada.

- Vamos tomar cuidado – garantiu Neville, se levantando e batendo as roupas para se limpar.

Ele se virou para estender a mão para Hazz, que aceitou, entretanto no instante que foi puxado soltou um barulho engasgado.

- O que foi?

- Nada.

- Se machucou na queda? - perguntou preocupado, não teve a impressão de que Hazz gemeu ao ser empurrado no chão? Mas ele estava rindo! Então Neville pensou que era apenas brincadeira...

- Não, eu estou bem, no máximo bati em alguma pedrinha, sei lá – comentou fechando os olhos, abraçando o próprio corpo para conter a dor ardente que estava sentindo e acariciar as costas que ardiam. - Talvez um roxo? Mas nada demais.

Parecia até que suas costas haviam sido rasgadas por garras!

- Hazz?

- Estou bem, prometo.

- Ah não! – exclamou Hagrid, que parecia em choque. – Temos que te levar para a enfermaria!

- Não precisa! - insistiu.

- Claro que precisa! Você não pode ficar machucado com o torneio aí! Logo será a primeira tarefa e...

- Ai meu Merlin! – gritou Neville assustado. – Precisamos ir para a enfermaria agora!

- O que? Não! Eu estou bem!

- Sem essa, vamos agora! – reclamou o Longbottom pegando no braço oposto ao de antes e puxando o amigo. Hazz tentou conter o gemido de dor, mas não funcionou. – Hazz? - sua voz pingou uma agonia e preocupação claras.

Não era o braço, como Neville aparentemente pensara.

Eram as costas, mas Harrison não queria que o amigo soubesse do que estava acontecendo ali!

Arrumou força para não reagir e se levantou.

- Relaxa, talvez eu... – pensou um pouco. – Posso ter dado um mau jeito na queda, mas realmente não está doendo se não mexer, então se... – mas foi interrompido por Hagrid.

O meio gigante cheio de preocupação e agitado já falava:

- Temos que te levar a enfermaria mesmo! Agora! Vem, eu o carrego! – e foi amarrando o hipogrifo a uma das árvores.

"Claro, porque o bicho perigoso que escapou uma vez não pode escapar de novo e atacar alguém! Brutamontes irresponsável!" reclamou Hazz mentalmente "Credo, essa escola é um caos e eles querem falar de nós?!"

"Foi assim desde que cheguei, só botei o dedo no cargo de defesa contra as artes das trevas, o resto não pode vir para mim" murmurou Tom numa outra tentativa de humor.

Hazz sabia que provavelmente teria rido, se não estivesse tão irritado com a situação.

Sua cabeça voltou a chiar.

Ele não queria lidar com algum ferimento aleatório, ele queria conversar com Neville!

- Não precisa! – insistiu. – Eu consigo andar perfeitamente e não preciso ir!

- Mas se está ferido é minha responsabilidade como professor assistente te levar a enfermaria - insistiu o gigante.

"Era sua responsabilidade conter o bicho!" pensou alguns níveis a mais de raiva.

Então uma ideia lhe surgiu:

- Eu posso ir com Neville para a enfermaria do barco. Não está muito longe daqui – e, pegando a mão do amigo num aperto, mostrou que era aquilo que preferia. – Lá podem dar uma olhada no meu braço e verão que foi só um roxinho e Neville me ajuda, não é? Ele tem autorização para entrar na Durmstrang mesmo.

- Claro! – o de cabelos castanhos concordou imediatamente.

- Eu prefiro acompanhar os dois até lá, pelo menos. Apenas até o desembarcadouro.

- Tudo bem – concordou Harry já impaciente, mas satisfeito. Assim poderia voltar a ficar a sós com o amigo, ninguém os interromperia na Durmstrang.

Ninguém era louco.

Ainda mais se fossem para um quarto.

- Vamos – chamou, já se apressando por entre as árvores, com Neville e Hagrid em seu encalço.

Não se passou tanto tempo, no máximo uma hora, então ainda haveria tempo hábil, ele poderia falar com o amigo.

Esperava.

-x-x-x-

-x-x-x-

Mas como dizem, nem sempre conseguimos o que queremos.

Assim que a dupla enfim se livrou do meio gigante e entrou no barco, Hazz liderou a passagem, passando pelos corredores até para o quarto de Lakroff. Mal dando tempo para parar e cumprimentar os colegas que encontravam no caminho, apesar de ter permanecido sempre simpático e respondendo.

- Você está com pressa, tem certeza que não se machucou? - perguntou o Longbottom em seu enlaço.

- Sim, só quero uma poção para dor de cabeça. A falta de sono está me afetando já. Melhor tomar agora antes que eu não aguente o resto do dia.

- Já pensou em tirar um cochilo?

- Se eu ficar muito mal prometo que tento tirar no meio dos meus horários, que tal?

Neville sorriu animado e concordou com um aceno.

Já no quarto de seu tutor, Hazz seguiu direto para o banheiro. Olhou no armário atrás do espelho e não estava lá, então seguiu para um baú, agachando-se no chão para olhar todos os compartimentos e procurar o que estava procurando.

- Não era melhor pedir na enfermaria?

- Não. Eu prefiro tomar as minhas, se é que me entende – e deu um sorriso forçado que, para Neville, explicava tudo.

- Entendi, desculpe.

- Não ligue para isso.

- Onde está Lakroff?

- No café da manhã perturbando até a alma Albus Dumbledore? Não sei.

Neville tremeu:

- Por que ele faz isso? Quer dizer, não seria preferível eles se evitarem?

- Não tenho certeza. Eu provavelmente também iria querer encher o saco de Voldemort se o visse.

- Harry! – gritou.

- O que foi?

- Essa é uma comparação terrível! Você está colocando Dumbledore e Voldemort... Dumbledore prendeu o pai de Lakroff! Não o matou e isso aconteceu por culpa de Gellert! Dumbledore apenas o levou à justiça por seus próprios crimes! Voldemort era o vilão... e Gellert - sussurrou a última parte, não querendo pensar sobre isso agora, mas sua mente vagando para tudo que seu diretor havia lhe dito.

Então se tocou.

Estavam sozinhos de novo!

Ele não queria ter essa conversa agora, não com Hazz claramente ruim, a forma como ele encarava os frascos irritado e parecendo mais agitado a cada instante que não achava o certo...

O mundo lhe deu a ajuda que queria antes, o interrompeu a tempo, mas e agora? O que ele faria?

- Eu sei que é uma comparação ruim - murmurou Hazz, para aplacar o coraçãozinho de luz do amigo. Mas achava as duas muito boas.

Voldemort encostou em Neville e Hazz teve que agir para que ele pagasse por isso e ficasse longe do amigo.

Se Dumbledore tivesse ousado fazer o mesmo...

A voz de Tom bufou no fundo de sua mente e Hazz entendeu o sinal. Os dois sabiam que tinha acontecido.

Harrison só queria sua confirmação para saber o quão forte teria que ser sua vingança e quando poderia começar a agir. Porque fazer algo agora ia contra o que o próprio Neville queria de ter a chance de contar ele mesmo seu ponto de vista ao amigo.

Que seja.

- Também tenho aulas de história, Nev - lembrou Hazz. - Estou, literalmente, presente nessa parte e meu professor não é um fantasma que me faz querer dormir. Estava apenas brincando. Se eu visse Voldemort faria bem mais que provocá-lo e Lakroff nem deve estar em Hogwarts agora. Deve estar com algum dos meus irmãos, eles estão abrindo uma filial nova.

- Mesmo? E como andam seus irmãos?

- Neville! – chamou Harrison bem mais desesperado que pretendia, retirando sua atenção do baú para o amigo.

Então notou seu deslize e tentou se acalmar.

Sua cabeça estava doendo.

Seu corpo.

Tudo estava chiando de ansiedade mal contida. As poções de descontrole mágico deviam ter acabado ainda por cima, porque não achava em lugar nenhum, sua vida já estava suficientemente caótica com todos os mesmos problemas que já tinha antes, os novos e agora ter que lidar com suas próprias emoções a flor da pele não seriam uma tarefa tão difícil.

Se Neville pudesse ajudá-lo parando de evitar o tema!

Ele inspirou fundo e procurou com mais calma pelas poções. Poderia haver alguma ainda. Pressa não lhe levaria a nada, estava apenas sendo guiado pelo impulso e esse não era seu estilo.

Mas era seu melhor amigo.

Tinha que admitir que se tinha algo que o fazia ser impulsivo eram seus amigos.

Mesmo assim, se forçar a ir mais devagar deu resultados e ele encontrou dois frascos fujões.

Estava quase no fim.

Torcia para que os gêmeos Weasley fossem tão bons quanto pareciam e aceitassem o trato para fazê-las, Hazz precisava e não tinha tempo hábil para preparar. Não com a devida cautela que exigiam ou haveria de negligenciar todo o resto. Nada que não fizesse se fosse o caso, mas depois do quase ataque que teve e Luna teve que abraçá-lo no salão principal para acalmá-lo ele já vinha decidindo tentar diminuir a quantidade de responsabilidades que assumia para si enquanto fosse possível.

Ainda era difícil. Hazz passou muitos anos tendo que ser independente, mesmo com pequenas ajudas, era difícil confiar para depender dos outros. Qualquer um que não Tom parecia difícil pedir ajuda.

Também por não querer atrapalhar.

Não querer ser um estorvo.

Um problema descartável como seus tios o tratavam.

Tom detestava quando o menino começava a pensar nessas coisas. Seus tios o fizeram acreditar que era um problema, um incômodo, o orfanato o fez acreditar que era um monstro, algo perigoso para as pessoas, das duas formas o ensinaram sentir-se como menos do que digno de estar em um lugar. Nem sempre era assim, mas você notava essas inseguranças aqui e ali.

O fato de acreditar que nunca se casaria por amor era um deles.

Mesmo nas amizades, quando alguma pessoa conseguir passar por uma barreira dessas duas, geralmente parava na outra. Sempre havia um muro de culpa jogado em si mesmo.

Tom tinha orgulho de Harrison. Em sua concepção, aquele garoto era perfeito. Cada parte como era, perfeito. Mas sabia que seu Harrison tinha uma característica muito nociva e arraigada. De colocar a culpa em si mesmo por tudo que acontecia e se colocar como insuficiente.

Seus amigos (a horcrux já percebera) mesmo que soubessem que Hazz tinha potencial para dominar muito, se não todo o mundo de certa forma, também entendiam que ele não parecia querer aquilo. Que se esforçava apenas quando queria e por coisas específicas, mas Tom via muito além.

Ele sabia como Hazz estava disposto a mudar cada característica do mundo pelas pessoas que conhecia e mesmo com todo seu esforço, sempre achava que precisava ir mais.

Ou ninguém gostaria de si.

Porque se não cumprisse suas tarefas, ele era punido.

Se não compensar as pessoas por estar com ele... Elas iriam.

Causa e consequência gravado na pele com cicatrizes horríveis que ele detestava ver no espelho e que Lakroff tanto lutava para sumir. As externas.

As internas.

Hazz foi criado em um lar que sempre o julgou como essencialmente culpado, ensinou na dor que ele era o único motivo da forma que eles o tratavam. A quase escravidão que o submetiam, dormindo só o tempo que permitiam, tendo que acordar cedo para trabalhar ou não seria o bastante. Nunca era.

Tornaram o garoto naquele cheio de tarefas que não conseguia se sentir bem se não tivesse ocupado cada hora do seu dia com algo produtivo.

Horrível de se ver. Houve um tempo em que isso não esteve tão presente, o tempo do orfanato, que o machucou de formas próprias, mas tanto quanto e também depois dele, quando havia decidido pela apatia total a qualquer um que não ele próprio e Tom.

Mas Hazz não era alguém essencialmente apático.

Ele tornou a se apegar por pessoas e logo, esses traumas voltaram em sua personalidade.

Então, sim, Harrison estava tentando diminuir a carga que colocava em si mesmo, Tom era grato por Luna ajudar com isso, mesmo que com um simples abraço e um dia mais tranquilo procurando pela entrada da câmara.

Hazz chegou a agradecer Tom por não lhe ter tirado o gostinho da tradição de família de procurar e achar por si mesmo.

Ele já teria menos tempo que a maioria, mas se conseguisse, poderia se orgulhar e era o que a horcrux quis desde o começo. Que sua criança agisse como o adolescente que era e que sempre o divertiu tanto no mundo dos sonhos, onde rolavam na grama ou brincavam de tirolesa no lago, depois passavam tempo boiando. Ou no mar, construindo castelos de areia.

Voldemort tirou esse tempo de Hazz com os pesadelos constantes que ele vinha tendo desde que voltou, mas então teria que se permitir esse tempo acordado e de outras maneiras.

Sugerir pedir a outras pessoas além dele e Lakroff para prepararem a poção, lhe garantiria aliados valiosos (se fossem bem sucedidos) e tempo longe de algo que lhe causava uma tensão absurda por precisar ser perfeito. O resto, vinha aos poucos. Tom esperava.

E havia um estoque na mansão Mitrica, mesmo que pequeno, então poderia esperar que os gêmeos aprendessem.

Pegou os dois frascos, sentou-se no chão e tomou cada um em uma golada. Fechando os olhos e inspirando fundo para não se deixar reagir a substância em seu corpo, mantendo a calma de sua magia, sentindo como as duas coisas se ligavam aos poucos.

Neville assistiu em silêncio por um tempo antes de questionar:

- Está funcionando?

- Acredito que sim.

- Sua cabeça está melhor?

- Sim. Agora, que tal aproveitar a oportunidade e me contar o que o estava incomodando? Depois podemos ir tomar o café da...

- Ai meu Merlin! – gritou o Longbottom de repente e isso chegou a fazer Hazz abrir os olhos surpreso.

- O que foi? - perguntou preocupado.

- Eu tenho adivinhação depois do almoço!

- E o que tem? Não foi nem o café ainda! Eu ia acabar de dizer isso e...

- Eu tenho uma redação que não terminei! - interrompeu se levantando, ele aparentemente havia se sentado no chão para esperar Hazz. - Eu esqueci completamente! A minha está apenas começada! Mas... Minha bolsa ficou na torre da Grifinória! – e apontou para um relógio na parede.

Hazz arregalou os olhos. Eram oito horas! Mas já?!

- Tenho certeza que um de seus amigos teria notado e pego para você - ofereceu.

- Ata! Ronald teria notado? Nunca! Ele deve estar terminando de se empanturrar de café da manhã agora. Eu tenho que ir pegar, correr para a biblioteca e tentar acabar ou – se virou para a porta. – É eu tenho que ir!

- O que?! Mas... Neville!

- Se eu não terminar, Trelawney acaba comigo!

Hazz fez uma careta indignada:

- Sério?! Trelawney?! Eu entenderia se fosse Snape ou coisa parecida, mas...

- Ela está furiosa com nossa turma desde o primeiro dia por causa de uma piadinha! Não parou de nos dar tarefas idiotas e extensas! Se eu esquecer essa ela pode nunca mudar esse humor irritante que está!

- Mas é Adivinhações! De tantas coisas Neville!

- Eu dormi na primeira aula dela esse ano! - admitiu corado. - Ou quase... ela realmente está sendo mais irritante que o normal. Eu preciso acabar essa coisa! – disse quase se retirando, mas parou, olhou para Harrison e hesitou, se aproximando incerto. – Você melhorou? As poções funcionaram? Não quero ir antes de ter certeza que você está bem.

- Eu posso te ajudar a terminar a redação de Adivinhação.

- Não! – negou com a cabeça. - Mesmo que eu precisasse de ajuda numa matéria dessas, você não dormiu direito, não comeu, estava com dor de cabeça, pode ficar com um roxo por causa de ter me salvado do hipogrifo... obrigada de novo por isso a propósito, mas precisa arrumar tempo para tirar um cochilo e - pensou por um instante, olhando os dedos de sua mão, que estava levantando para enumerar cada coisa. - Já tomou água hoje?

- Sério? Água?

- Sério, Harrison Potter!

- Peverell-Potter - corrigiu num suspiro, apenas para incomodar o outro.

- Harrison James Mitrica Black Peverell-Potter! Água, comida, sono, você é obrigado a fazer essas coisas tanto quanto o resto! E eu a fazer minha redação.

- Você é o primeiro a acertar o nome completo sozinho.

Neville, que estava com a boca aberta para continuar sua bronca a fechou e sorriu, inclinando a cabeça e cruzando os braços:

- Eu te conheço.

Uma onda de afeto e carinho passou por Hazz que sorriu de volta:

- Melhor que a maioria.

- A maioria? Lakroff já roubou meu lugar?

- Ele e você devem estar no mesmo nível, mas veja bem, eventualmente alguém terá de roubar seu pódio, ou eu morro sozinho! - Neville esperou em silêncio, levantando uma sobrancelha quando o outro não acrescentou nada. - Que foi?

- Estava esperando você dizer algo como "a menos que você aceite meu pedido" - brincou com um sorriso de canto.

- Olha, não é que você me conhece maravilhosamente? - questionou divertido. - Mais uma prova de que é o homem perfeito para mim.

"Homem perfeito..."

Neville piscou, surpreso.

Sempre teve a impressão de que gênero seria a última coisa que Harrison olharia, mas (parando para pensar consigo), ele ainda não tinha perguntado, não é?

- O que você pensou de Sirius e Remus juntos?

- O que?

- Eu estava pensando... você...

- Nev, se temos tempo para falar disso, porque não podemos falar das coisas importantes? - questionou levemente frustrado e isso pareceu acender o Longbottom.

- Você tem razão! A redação! Tchau Hazz, te amo, até mais tarde, vê se come, dorme e toma água! - gritou numa única respiração rápida correndo para fora.

Hazz assistiu o outro se agitar na sua corrida para fora e bufou quando ouviu o som da porta batendo.

Ficou um tempo encarando a madeira, sentindo como seu peito subia e descia de frustração.

Que foi se tornando raiva.

A respiração descompassada, a cabeça doendo, as costas (que ainda estavam ardendo feito louca) parecendo ainda pior.

"Harrison" chamou Tom cauteloso.

Um espelho em frente a pia estourou com um barulho agudo.

Hazz inspirou fundo e bagunçou os cabelos, precisando se mexer para tentar acalmar sua magia.

Cuidadosamente, retirou a blusa que estava usando e tocou no corte presente ali.

Teria que tomar uma poção de cura, no fim das contas. Estava evitando, mas não podia deixar aquilo aberto e apenas enfaixar como pretendia.

E precisava meditar um pouco.

Suas emoções estavam começando a se descontrolar.

Levantou-se o mais lentamente que conseguia, seguiu até a banheira e ligou a água, depois foi para o quarto, verificando se havia deixado algum diário por ali.

"Sempre registre variações de humor. Faz parte de ter controle de si mesmo, entender o fluxo de pensamentos e nem sempre conseguimos no calor das emoções".

Deixou preparado em cima da cama e voltou para a banheira.

Sentou-se ali mesmo para meditar e ficou, até sentir que a água quente conseguiu diminuir a tensão de seus músculos, afundando até a cabeça para tentar se desligar de tudo então ter convicção de que poderia enfrentar seu dia. Fez as anotações no diário dando pausas para enfaixar as costas (e consequentemente seu peitoral), quando as bandagens pareceram suficientemente firmes, ajeitadas diante do espelho quebrado que não se sentiu seguro de tentar usar magia para consertar, enfim colocou o uniforme e saiu.

Ele podia aguentar um dia inteiro com apenas duas poções.

Suportaria o corte.

Ele sempre conseguia.

Não deixaria sua magia e emoções levarem a melhor sobre si.

-x-x-x-

Draco saiu do interior da banheira rapidamente antes que começasse a ficar enrugado.

Secou-se, vestiu-se, então seguiu para o espelho, onde começou a ajeitar os cabelos e verificar se tudo estava no lugar.

Era tarde, logo seria o almoço pelo que constatou no relógio que havia deixado no banheiro. Ele não havia conseguido tomar um banho adequado pela manhã, antes do café da manhã, e por isso decidiu aproveitar o intervalo entre as aulas da manhã e da tarde para uma ducha.

Só que, quando viu, já tinha preparado sais de banho e sua pele cheirava a maçã verde, seu aroma preferido.

Logo sumiria, é claro, ele se acostumava com o cheiro, mas Pansy dizia que continuava agradável o resto do dia, provavelmente pegando nas roupas também.

"Acho que, por não ser um perfume diretamente, faz com que seja bem suave. Aí não é enjoativo. Gosto muito e associo a você" a chanel o havia contado uma vez.

Após mais alguns minutos se ajeitando, se deu por satisfeito e saiu, direto para seu dormitório.

Estava péssimo antes, devido a pressa que acordou. Precisava daquela sessão de auto-cuidados após uma noite inquietante e mal dormida.

"Por sorte, Harrison não apareceu para o desjejum..." o pensamento errante lhe escapou e o aterrorizou.

O que Harrison tinha a ver?!

Negou com a cabeça, frustrado.

Era o futuro lorde Black, todos estavam se esforçando para chamar sua atenção, aquela manhã foi caótica para dizer o mínimo, mesmo que todos estivessem num silêncio total, os olhares e sussurros só entre seus grupos dizia tudo. O barulho das penas e tantos tendo de esperar para conseguir uma coruja ou dividindo com alguém mais próximo também.

Um lorde Peverell!

Todos achavam que a linhagem estava extinta, uma sagrada!

Mas obviamente estivera apenas morta por linhagem masculina e, sendo um nome mágico tão importante, claro que o anel procuraria um herdeiro para tomá-lo no dedo.

Harrison Peverell...

"Peverell-Potter" seu cérebro corrigiu.

Filho de James e Lilian Potter. O menino que sobreviveu.

Aquele que derrotou o lorde das trevas e trouxe paz para o mundo bruxo. Presidente do conselho estudantil do Instituto de artes das trevas Durmstrang. Prodígio do instituto mais sombrio e reconhecido do mundo. Prodígio juvenil e possivelmente futuro aluno a se formar numa escola de magia com honras mais jovem dos últimos séculos (senão da história). Pupilo do necromante capaz de enganar todo o ministério da magia britânico, herdeiro dos conhecimentos de duas casas necromantes (ao que tudo indicava). Campeão do torneio tribruxo. Lord Potter, Lord Peverell, Herdeiro Black, futuro lorde dos corvos negros.

Primeiro de seu nome.

Um príncipe...

Um de verdade.

O Malfoy sentiu uma sensação estranha no peito, uma ansiedade que não conhecia bem e que não soube nomear.

Mas não gostou. Era irritante, incômoda e...

Doía.

De um jeito único e específico. Pequenas pontadas na cabeça e no peito.

"Você não é nada como ele" sua mente acusou.

Todas aquelas coisas eram apenas as mais notáveis em Harrison, mas haviam tantas outras. Ele era quase...

Perfeito demais!

Aparência, atitude, conhecimento, confiança.

Títulos.

"Os títulos não o forjaram. Ele nasceu para tê-los" pensava.

Mas Draco também tinha títulos!

Ele era um Malfoy!

"E só" isso o atingiu mais do que estava esperando.

Mas por quê?

- O que está pensando? - perguntou Theodore assustando Draco ao ponto de que deu um pulo.

O que, é claro, tirou uma risada do Nott e uma careta mortal do Malfoy, mas ele não tinha culpa! Naquele horário não deveria ter ninguém por lá!

- Ah, vamos! Foi engraçado, eu nem estava tentando te assustar - dispensou Theo divertido.

Ele estava deitado na cama, nas mãos tinha um daqueles cubos quebra-cabeça extremamente complicados, com vários lados e que tinham várias fases para se completar. Naquela hora, o cubo parecia mais um triângulo em cima de uma bola feita de quadradinhos. Estava encarando a coisa com a mão estendida para cima e contra a luz, provavelmente pensando nos próximos passos para desvendar a charada que o faria mudar de forma.

- Você demorou no banho e parece bem distraído - comentou. - O que foi?

- Nada que seja da sua conta?

Theo riu. Ele nunca ligava para as grosserias de Malfoy, em troca apenas iria retaliar com seu deboche e brincadeiras quando fosse o momento adequado. Isto é, quando incomodaria mais.

Draco seguiu seu caminho até seu malão, para pegar uma gravata que havia esquecido. Viu, pelo canto dos olhos, o outro desistindo de seu jogo e sentando-se no colchão.

A luz das tochas refletiu nos seus cabelos cacheados criando aquele padrão, onde ficavam mais claros até se tornarem loiros nas pontas.

Malfoy sempre achou interessante, apesar de nunca ter admitido isso para o amigo, mas quando viu algo parecido em Harrison...

Mudou.

Theodore se tornou sem graça em comparação.

Se tornou um rascunho do que era uma obra prima de verdade.

Fechou o malão com mais força do que pretendia, irritado.

Aquela foi a segunda vez que sua cabeça vagou para Harrison e isso o deixou desconcertado!

Bufou e se afastou até um espelho mais ao canto, para colocar a gravata adequadamente, tentando ocupar a cabeça com qualquer outra maldita coisa que não Potter!

"Peverell-Potter" lembrou sua mente "Príncipe da Durmstrang" então gelou quando o próximo pensamento lhe alcançou :

"Totalmente diferente de você".

"Muito melhor que você".

Não!

Não tinha nada a ver com Potter! Ou seja lá como se chamasse! Ele era um Malfoy! Ele tinha que atingir um padrão, uma expectativa, ele estava se arrumando por si mesmo, porque tinha que ser perfeito.

Tinha que orgulhar seu pai.

"Que foi o príncipe. O monitor. Esteve no círculo íntimo do lorde das trevas. Ele conquistou. Você... perde".

- Ei, posso pedir uma opinião sobre um assunto? - Theo perguntou, fazendo Draco voltar para a realidade.

Quanto tempo ficou parado se olhando no espelho? Uma ponta da gravata em cada mão esperando para que fizesse o nó.

- E você quer minha opinião? - questionou com uma sobrancelha levantada, olhando o outro pelo reflexo.

Theo sorriu:

- Você é nosso príncipe, não é? - E o incômodo voltou. Com força total.

A imagem de Harrison impregnado na mente. Seu sorriso na primeira noite, seu discurso diante de todos, seus modos, seu...

Tudo.

"Ele tem tudo" dizia uma parte de si. "Você poderia ter sido lord Black, o anel o aceitaria" franziu o cenho. Ele mal se lembrava disso, mas sim, sua mãe era uma Black.

Se Sirius Black não desse o título a Harrison... Draco tinha uma chance, não é?

Lord Black-Malfoy.

Seria imediatamente o nome mais forte da Grã-bretanha! Ele se tornaria o lorde entre os lordes e seu pai...

Ficaria feliz, não é?

Draco só não podia estragar tudo.

Draco virou-se e seguiu para o banheiro:

- Vai falando!

Teria que continuar sendo perfeito. Manter a imagem imaculada de um Malfoy. Ser como ele.

Lucius sempre foi sua maior inspiração.

"Mas eu falhei" pensou, então coçou o braço.

Por quê?

Por que ele haveria de ter falhado? Ele não fez nada de diferente e nem perdeu nada. Ele estava bem ao lado de Potter, tinha uma chance real de conseguir manter aquela amizade e, portanto, manter relações diplomáticas com o destaque da alta sociedade. Harrison o chamava de Dray, eles eram próximos!

A lembrança do momento embaixo da capa da invisibilidade o fez corar.

- Tudo bem? - perguntou Theo da porta.

- Eu disse para ir falando! - reclamou Draco.

- Desculpe essa formiga operária, meu príncipe, mas gosto de falar olhando para as pessoas!

"Para verificar se não estão escondendo nada que você possa usar contra elas depois?" pensou irritado.

- Diga, Theo - revirou os olhos, cruzando os braços dando total atenção ao amigo.

- Obrigada, Dray - respondeu com uma voz tão falsamente aveludada que o loiro teve que revirar os olhos novamente. - Não é nada importante, queria apenas seu ponto de vista, acho que você é quem poderia me dar a resposta mais clara e racional e não alguma baboseira aleatória e motivacional.

Malfoy achou aquilo estranho. Aquilo era um elogio. Vindo de Theodore Nott, dizer que sua resposta era a que ele achava a melhor, era realmente um feito. Os Nott sempre pareciam ter que ser aqueles com os pensamentos mais rápidos e certeiros, todos os outros eram tolos girando à sua volta. Theo ainda era um bom amigo, apesar disso, mas que era alguém que se deve tomar cuidado e nunca virar as costas...

Nem confiar em elogios jogados ao vento, isso era certeza.

- Seu ponto?

- Como você acha que seu pai reagiria se dissesse a ele que gosta de outro homem?

- COMO É?! - exasperou-se Malfoy. - De onde tirou isso?! De que merda está falando, Theodore?!

- De onde tirei? - perguntou cauteloso, internamente registrando cada sinal na reação explosiva de Draco. - Foi só uma pergunta...

- Já sei! - reclamou mexendo os braços, jogando-os no ar e depois aos lados do corpo.

Movimentos firmes, brutos, irritados.

Afastou-se de Theodore.

Expressões faciais, raiva e... medo. Não gostou nada do assunto, Nott anotou bem na mente, segurando um sorriso. Dray era péssimo escondendo seus pensamentos. Falava demais com o corpo e, até com a boca. Alguém mimado demais para se importar em esconder mais do que seu pai mandasse, pensar mais do que seu pai mandasse. Ensinado com rigorosidade? Sim. Mas quem não era entre os herdeiros? Todos poderiam repetir a mesma história triste de aulas sem fim de etiqueta, política, conversação social, as mulheres falariam ainda o dobro, se não o triplo e assim por diante. Herdeiros treinados e prendados, era o que foram feitos para ser. Mas Draco era essencialmente mimado. Desde que fizesse o mínimo, que era posar como um Malfoy adequado e aceitar o casamento que lhe arrumassem, ele tinha tudo o que queria.

Theodore tinha que ter um motivo para ganhar mais do que uma conversa com o pai.

Vassouras para uma equipe inteira de quadribol só para garantir seu lugar?

Ridículo. Um Nott nunca nem pensaria em gastar com algo assim, independente da idade. Ou não seria essencialmente um Nott.

Malfoys falavam por posses, pose e dinheiro.

Notts por mente rápida e conhecimento para lapidá-la.

Tinha que ser igualmente perfeito em cada aula, para não envergonhar a família, mas seu pai não era como Lucius, sabia disso. Theomore exigia do filho menos aulas, uma postura menos expansiva, Theo não tinha que ter holofotes em si, pelo contrário, saber se infiltrar onde estava a informação que os manteria no topo. Era uma educação menos rigorosa? Em essência, sim.

Mas Theodore sabia se virar. Foi treinado para o mundo.

Draco foi ensinado a pensar que o mundo se adaptaria a si.

Isso que irritava tanto o Nott.

Ganhar aquela aposta, irritar Draco, tinha um gosto bom. A parte amarga era ter que aturar aquele bebê atrás de si depois.

Mas daí, vencer Blaise e Pansy compensaria.

- Já sabe o que? - perguntou inclinando a cabeça.

- Blaise e Pansy! - gritou Draco, zangado. - Aqueles dois te disseram sobre o aniversário dela! - Theo piscou. - Não se faça de sonso, mas escute aqui, Nott! - o sobrenome foi dito com todo o desprezo que um Malfoy seria capaz de replicar na voz. - Aquilo não significou nada. Não é algo que vou deixar que use contra mim. Não venha fazendo suposições ridículas para cima de mim!

- Suposições ridículas? - quase sorriu. Estava atingindo um ponto muito bom. - Gostar de outro homem?

- Claro! Que absurdo! - ralhou imediatamente, se aproximando, olhar mortal no rosto, voz lenta e ameaçadora.

"Ou deveria se parecer assim" pensou Theodore.

- Quem você acha que sou? Acha que eu me submeteria a um relacionamento inadequado como esse?! Daí nomear um qualquer para assumir meus títulos?! Que tipo de vergonha acha que sou?

"Ah, isso é bom de mais..." ria internamente Theodore.

Draco estava em negação!

Ele não estava competindo com o sonso mimado do Draco, que nunca precisava lutar muito para ter o que queria, mas ainda era um maldito competitivo dos infernos.

Theo estava competindo com um Malfoy em negação sobre sua própria sexualidade! Ele poderia jogar se arrastando no chão, que Draco não o alcançaria! Teria que passar por todas as fases, que já conhecia bem, de se perceber, reconhecer, aceitar, então só aí (talvez) começar a aceitar os sentimentos por uma pessoa específica e, finalmente agora, entrar no redemoinho de incertezas a cerca dos "e se" e "o que?".

O que acontece se ele for gay? Ou bissexual?

O que acontece com os títulos se ele se casar com um homem?

E se um homem o quiser também?

Mas e seu pai? O que ele vai pensar? E se ele for deserdado?

E se...

O que?...

Era simplesmente um caminho longo demais a se percorrer. Theodore sabia bem, teve que passar por tudo isso e com seu pai!

Um homem que o criou praticamente solteiro, sendo o único herdeiro (portanto quase indispensável) e que tinha as reações tranquilas de uma lagoa parada! Alguém que tinha tudo para não ser tão ruim e Theo ainda se preparou para fugir se fosse agredido!

Imagine Draco Malfoy...

Filho de Lucius e Narcisa?

Draco ainda nem tinha conseguido pensar na possibilidade de realmente ter desejado beijar Blaise, ou mesmo ter a curiosidade, sequer aceitava a possibilidade e...

- Se submeteria? - perguntou. - Acha que é algo tão ruim assim?

- Olha, eu não quero saber quem tem coragem de fazer algo assim e cada um toma suas escolhas, por piores que possam ser! Mas eu nunca desonraria as tradições assim! Isso é um disparate! Eu gostando de um homem! Tão ridículo quanto meu pai o fazer!

E aí estava!

Theodore podia comemorar, Draco lhe deu a resposta! Lá estavam: seus daddy issues!

Draco Lucius Malfoy jamais pensaria em ser menos do que uma cópia de seu pai!

Lucius abominaria um relacionamento homoafetivo? Onde o herdeiro não nascia de forma "natural" e de Draco e sua esposa? Então Draco jamais aceitaria também! Sequer cogitaria algo diferente! Seria incabível!

Ele era perfeitamente o que o pai queria de si!

Uma extensão do antigo lorde, perpetuando a linhagem e as tradições, nada além da parte dois...

Da parte cem, sejam lá quantos lordes Malfoy já não existiam a esse ponto.

Absurdo e descabido e não venha mencionar algo como aquela festa ridícula como prova! Fui desafiado!

Essa era a diferença dos Nott para os outros. Nott's eram ensinados a pensar por si mesmos, serem indivíduos e conquistar! Se não pensassem por si, não poderiam usar o conhecimento! Theomore não podia passar astúcia por reprodução ao seu filho, não poderia treiná-lo para ter todas as respostas, mas podia ensinar a buscá-las.

Os outros nobres queriam cópias melhoradas de si.

E quando suas cópias falhavam eram deserdadas.

Draco não aceitaria os próprios sentimentos, os negaria, porque não podia ser diferente do pai. Ou estaria falhando.

Ele nem tinha competição mais. Mesmo assim... porque não atrapalhar um pouco mais o caminho de Draco? Ele ainda era competitivo e poderia querer o prêmio.

- Você pode assumir o que quiser, Theodore - continuava Draco, ainda naquele tom de ameaça. - Mas eu sei bem quem eu sou e quem você é, e você não vai me querer como seu inimigo. Somos amigos, pretendo que continue assim, então entenda que aquela noite não passou de um desafio e eu nunca falho diante de um desafio, mas nada além disso e se inventar boatos sobre mim, por qualquer motivo que seja, então você terá um problema comigo! É bom que se lembre o que significa ser o futuro lorde Malfoy!

Era um bom discurso, constatou Theo, Draco tinha atitude, também tinha as armas, mas a questão é que ele não sabia usar tão bem.

Não tanto quanto Theo sabia sobre as suas.

- Eu entendi, Draco. Sinto muito se o ofendi - recuou, mas não tirou o contato visual com o outro, que arrumou sua postura, aproveitando de sua altura para olhar o Nott como se fosse de cima.

Não que pudesse, eles tinham a mesma, mas Theo se inclinou um pouco.

Registrou o sorrisinho satisfeito e convencido do outro e quis muito socá-lo.

Tudo bem, ele sabia quando era a hora de lutar.

E sua luta era com palavras:

- Estava apenas pensando sobre o Lord Peverell-Potter e o Lord Black, casando-se com outro. Nunca quis insinuar nada sobre você - deu de ombros, desviando o olhar. - Apenas quis sua opinião já que, se não fosse por Harrison, ou se Sirius ainda estivesse preso, você seria o próximo Lord Black. Imaginei que teria sido criado para assumir esse papel, por sua mãe, e que teria uma opinião mais assertiva sobre as escolhas do lord Sirius.

Draco piscou surpreso:

- Eu não...

- É claro, brigar agora com a casa Black não é uma escolha muito boa, sei que você preferirá estar com o Peverell, mas não deixei de pensar se não estaria bravo e como sua família estaria reagindo a essa derrota.

- Derrota?

- Claro. Harrison te arrancou do pódio. Vocês não são mais a família mais importante. Eu verifiquei, aparentemente ele registrou no Ministério ontem a revitalização das cadeiras Peverell. São duas. Com duas Potter, cinco Black. Ele tem duas cadeiras a mais que você terá um dia e ainda nem arrumou um contrato de casamento. Os Greengrass... Estão pensando em te dar uma cadeira? A irmã do Lord Greengrass recebeu uma das da família e, imagino, que queriam casar Daphne com o velho acordo, então as três que lhes restaram serão divididas em mais uma geração. Uma para cada filha? Mas falta uma... a mais velha, provavelmente receberá, mas você? Estão pensando para Astória, não é? Se estiver mesmo com Astória, Peverell-Potter nem precisará se casar para tomar o título de lorde chefe da câmara dos lordes.

- O que quer dizer com isso?

- Que seu trono foi tomado. Mesmo que seja o príncipe da casa, Harrison é o da alta sociedade. Imagino que seu pai esteja o instruindo como agir agora, não é? Como se aproximar dele? Você mesmo disse, somos amigos, eu apenas queria saber a opinião dos Malfoy sobre a guinada de eventos recentes. Desculpe, de novo, se o que disse pareceu insinuar outra coisa - e saiu do banheiro, pegando sua mochila. - Te encontro no grande salão para o almoço, Draco! Desculpe mesmo!

E saiu aos risos, o mais silencioso que pôde em sua euforia.

"Pansy, Pansy" pensou negando com a cabeça "Você queria me colocar contra Malfoy para acordá-lo, mas será que ficará muito brava se eu conseguir colocar Draco contra Harry? Você não disse que gostava de sua versão competitiva? Estão oferecendo a maior competição! Malfoy contra Potter!"

-x-x-x-

Harrison precisava comer.

Sabia disso. Óbvio que precisava. Se alimentar corretamente dava energia para o corpo e ele tinha se entupido de poções durante a noite e esta manhã. Quantas de descontrole mágico? Então de cura para as costas (ainda doloridas).

A energia de uma boa refeição era fundamental agora.

Mas não conseguiria se seu estômago continuasse se revirando!

"Neville teve a mente lida" pensava enquanto andava bem mais rápido que o normal na direção do grande salão.

"Neville teve a mente lida" a frase se repetia.

Uma experiência descrita como horrível para muitas pessoas.

Sua mandíbula se apertou.

Uma invasão de privacidade severa.

Uma quebra de confiança.

Suas mãos amarraram-se em punhos, sem que nem notasse. Sua cabeça chiou.

Uma violação de seu espaço íntimo e pessoal.

Dumbledore leu sua mente... O diretor de uma escola abusou do seu poder contra um aluno que mal sabia como se defender justamente de um ataque como aquele... porque esse mesmo diretor não oferecia aulas na sua escola de proteção mental!

Justamente o lorde da luz, aquele por quem o Qilin se curvou, alguém que inspirava aqueles que o apoiavam e que Neville via quase como um avô.

"Maldita confiança cega da luz, maldito bicho que deu poder aquele homem!"

"Harrison..." chamou Tom cauteloso, percebendo como o garoto começara a tremer e aquilo não era bom sinal.

O machucado nas costas piorava.

Ele leu a mente de Neville. Não qualquer bruxo das trevas que você desde o começo deveria ser cauteloso ao interagir. Fez isso...

"Para descobrir sobre mim" pensou com um peso no peito, de repente sentindo dificuldade para respirar normalmente.

"Nem comece, Harrison Potter!" reclamou Tom e o menino sentiu como se seus movimentos tivessem ficado mais duros. Parou. A cabeça chiando.

"Você não é responsável por isso! Dumbledore é um hipócrita, controlador nojento que sempre leu a mente de seus alunos! Ele sempre faz quando acha que algum dos seus motivos ridículos justificam a coisa! Tentou ler a minha por anos! E leu... tenho certeza de que leu no orfanato. Nenhum professor que se preze deixaria um aluno sozinho comprar seus materiais num mundo que não conhece só porque eu disse que preferia. É ridículo! Ele foi no instante que viu do que eu era capaz e desde então..."

"Ele não teria um motivo para atacar Nev!"

"Ele arrumaria! Sempre! A guerra está batendo a porta, você sabe disso, ele leria só para descobrir se seu amigo é suficientemente leal para ser usado para derrotar Voldemort!"

Hazz suspirou resignado.

Tom tinha razão. Sabia disso, então por que doía tanto? Por que não conseguia parar de pensar nisso e se sentir péssimo?

"Porque ainda é uma invasão mental. Ainda alguém que Neville confiava abusando de sua força contra ele... e você o ama. Então dói pensar que ele passou por isso" murmurou Tom.

O menino ficou um tempo em silêncio e abraçou o próprio corpo, pensativo.

- Harrison? – perguntou Adrian Pucey, se aproximando. Graham e Cassius.

O de cicatriz de raio virou-se para o lado e sorriu, ignorando tudo que o estava incomodando até então e colocando uma boa máscara de confiança:

- Oi, Adrian!

- Você saiu correndo na frente, achamos que já estaria no grande salão.

- Na verdade – riu. – Percebi que foi grosseria e decidi esperar – comentou em tom de culpa, a postura levemente mais relaxada que o normal.

Graham riu:

- Não se preocupe com isso – dispensou, se aproximando e o grupo passou a andar junto. – E então? O que tinha que fazer?

- Esqueci de pegar uma assinatura com Neville de um dos documentos de autorização de suas visitas ao barco da Durmstrang, e tenho duas cartas para enviar ao ministério do meu país, então já faria tudo de uma vez.

- Entendo, é algo sério? Sobre sua emancipação talvez? – perguntou Pucey. – Notei que você parecia meio distraído hoje.

- Mesmo? Eu deixei tão óbvio?

- Não se preocupe, os professores não devem ter notado – tranquilizou Adrian. – Mas você pode dividir com seus amigos suas preocupações, senhor Peverell-Potter, milorde? – brincou e Hazz riu.

Aquela foi bem óbvia.

Adrian queria uma confirmação de intimidade? Era o que? Ciúmes que já chamava Draco de Dray?

Bem, ele estava bem na desvantagem política em comparação com os outros na briga e, se tratando de Harrison, ele só tinha a dianteira de dividirem o mesmo ano de estudo.

- Nada muito importante, realmente questões da emancipação – explicou. – Como funciona agora que tenho o título de lorde Potter e deveria assumir tudo que vem do meu pai, isso inclui os investimentos estrangeiros.

- Seu pai tinha investimentos? Não sabia...

- Alguns. Aconselhados por meu tutor e sua família. O foco do meu pai era magia experimental e a guerra, então não é como se ele tivesse expandido nossa fortuna ou algo assim, mas sua passagem teve mais acréscimos do que decaídas.

Tocar no assunto "guerra" foi o bastante para que Montague mudasse de assunto para algo mais neutro e tranquilo e assim se seguiu até o grande salão. Assim que chegaram às imensas portas, abertas para a passagem do grande fluxo de alunos, os olhos de Harrison repousaram na mesa Grifinória.

- Neville não está aqui – constatou Adrian. – Você vai procurá-lo para pegar a assinatura?

Nev não estava lá, mas tão pouco Ron ou Hermione e isso acalmou Harrison, afinal poderiam ter só demorado para sair do último tempo e foi isso que comentou, ainda observando a mesa vermelha e dourada para ter certeza que eles apenas não escolheram sentar-se num local diferente dessa vez:

- Ele pode estar chegando, sua última aula foi trato das criaturas mágicas, dos jardins para cá leva um tempinho, não?

- Zabini e Parkinson já estão aqui, eles fazem juntos, se não me engano.

Sua atenção foi desviada para a Sonserina nesse momento. Era verdade. Blaise e Pansy já estavam sentados.

- Mas Malfoy e Nott não.

Mas Sirius estava e se o professor já havia chego...

- Neville me contou que tinha uma redação para terminar, vou procurá-lo na biblioteca e já volto.

- Volta mesmo ou vai pular uma segunda refeição no dia? – perguntou Adrian sacudindo as sobrancelhas e fazendo Hazz rir.

- Prometo que volto – Hazz revirou os olhos bem humorado. – Agora até você entrou nessa?

- Se não tentássemos Krum ficaria chateado e todos precisam de um amigo famoso – brincou cruzando os braços.

- Eu não posso ser o tal amigo famoso?

- Não, agora você é o amigo "lorde" – explicou Graham. – Famas diferentes. Você é o que chamamos para os bailes para que nosso evento seja mais comentado nos altos círculos, Krum é o assunto que comentamos na noite de jogos.

- Meus títulos sobrepõem a minha fama de "menino-que-sobreviveu", então?

- Com os títulos de Lorde Peverell e futuro lorde Black? – questionou Adrian.

- Com certeza – disseram os três e Harrison tornou a rir.

- Certo então. Podem avisar a Viktor que vou apenas verificar se Neville precisa de ajuda e chamá-lo para comer.

- Se é assim, até mais Milorde – Adrian despediu-se com uma reverência exagerada e tom de brincadeira que os amigos repetiram e depois seguiram para a mesa da Sonserina.

Hazz deu uma última olhada em volta e seguiu para a biblioteca.

Por algum motivo, provavelmente por estar pensando no caminho dos jardins da aula de Trato das Criaturas Mágicas até a biblioteca, e se Neville já haveria chego, Hazz pensou brevemente sobre não gostar tanto dessa aula.

Achava interessante até o ponto que gostava de animais. Mas nem todo trouxa que gosta de animais quer trabalhar com eles, não é? Às vezes só gostamos de ter um de estimação, assistir alguns em seu habitat e está de bom tamanho. Então, com todas as eletivas que queria continuar participando, teve que abandonar algumas das aulas.

Adivinhações foi fácil.

Harrison tinha Gellert Grindelwald para ensiná-lo adivinhações e a professora de Hogwarts era Trelawney.

Abandonada.

Sem nem hesitar.

Então TDCM...

Com Sirius.

Hazz ainda estava magoado com o padrinho na época que foi selecionar sua grade horária e agora, até se arrependia um pouco. Nos dez minutos que tinha assistido de sua aula, Padfoot havia se mostrado bem capaz e divertido. Mas esse nunca foi o único motivo que fez Hazz escolher por deixar a matéria de lado, então mesmo que parecesse uma perda maior do que imaginou na época, não tinha certeza se mudaria se tivesse chance.

Então seu próximo pensamento voltou para a aula de adivinhações e a desculpa patética que ofereciam em Hogwarts.

Por que Neville não aceitou a ajuda de Hazz para uma maldita redação do tema?!

Inferno, ele tinha se percebido um vidente no fim de semana mesmo!

Claro, o Longbottom não sabia disso, mas sabia o quanto Harrison estava diretamente convivendo com o tema!

Talvez devesse contar ao amigo sobre sua descoberta?

"Ei, Nev. Descobri que sou um arauto da morte. Então é possível que muitos dos meus sonhos sejam reais. Será que poderia não me apunhalar com uma espada? Eu sonho isso com frequência... Não que eu não confie em você, mas só queria pôr os pingos nos 'i's".

Tom riu.

"O que foi?" perguntou Hazz.

"Você ainda pergunta?" e riu mais. "Falta apenas encerrar com: antes que me esqueça, nada de decapitar Nagini e Voldemort é meu, de preferência fique em casa e longe de objetos cortantes, sim?"

Os dois riram.

"Mas que história é essa de se descobrir um arauto da morte? Quando chegou a essa conclusão?" perguntou Tom e Hazz parou no mesmo instante.

Tom tinha razão.

Quando é que ele tinha chegado a essa conclusão?

Não tinha memória clara disso, parecia só mais uma das coisas que sabia simplesmente porque deveria saber.

Sua mente, naquele instante, voltou a chiar um pouco. Havia uma sensação o invadindo, aquela que teve quando acordou no domingo sabendo que algo importante estava faltando.

Mas Neville era importante agora!

Então voltou a andar e deixou para depois essa coisa.

Se não conseguia se lembrar até o momento, talvez quando fosse visitar Gellert conseguiria. Afinal acordou com a certeza de que devia vê-lo e...

Tinha que fazer a maldita carta para os guardas de Nurmengard como Langkau instruiu!

Ah!

Não podia deixar passar daquela noite!

Com tudo isso, nem reparou no caminho, chegou à biblioteca praticamente no automático. Após anos convivendo com Tom em seus sonhos por aqueles mesmos corredores, era natural.

Não foi justamente naquele que brincaram de luta de espadas de madeira uma vez?

Não só seus afazeres, Hazz também avaliou como arrastaria o amigo consigo. Não teriam tempo para ter a conversa, mas poderia pedir para que comessem juntos. Isso tinha chances de acalmar Potter o bastante para conseguir engolir alguma coisa que fosse. Estar com Nev, segurar sua mão por baixo da mesa e vê-lo reclamar parecia terapêutico o suficiente.

Ele teria que comer, não é?

Mesmo com uma redação (que poderia desde o começo ter sido apenas uma desculpa para fugir do assunto e de Hazz, o que era igualmente preocupante), era Neville que sempre lhe enchia a paciência sobre essa história de comer adequadamente, não é?

Mas iria faltar ao almoço porque foi negligente com a tarefa do professor que nem valia a hora que ficava com seus alunos?

Mas Nev também não estava na biblioteca.

"Acho que estava certo sobre a parte dele ter usado a redação de desculpa" comentou Tom.

Porém, para Hazz, aquilo não fazia mais tanto sentido.

De manhã sim, mas agora? Longbottom sabia que no período de almoço eles não teriam tempo para isso, mesmo que Harrison tentasse insistir, era um tema complicado e mandar o amigo simplesmente comer era mais seu estilo.

Então onde estava?

Foi até um corredor mais afastado e escondido, colocando sua bolsa em uma das mesas e retirando de lá o mapa do maroto. A prova de que não estava em seu ritmo normal naquele dia por causa dessa notícia era que não leu o pergaminho desde o início.

- Eu, Reptile, juro solenemente não fazer nada de bom - sussurrou com a varinha apontada para o objeto.

Logo, linhas começaram a surgir em caligrafias diferentes:

"O senhor Prongs dá seus cumprimentos a Reptile! Como foi o fim de semana fora, filhote?"

"Almofadinhas espera que sua versão física tenha botado fogo na maldita casa da família, agora que é o Lorde. Com os quadros junto, de preferência. Especialmente o de mamãe se tiver sido terminado".

"Aluado gostaria de lembrar à Almofadinhas, que a casa será de Reptile no futuro, então deixe de ser tolo em querer queimar uma mansão assim sem motivo! Tinha que ser o riquinho mimado, não é?"

"Almofadinhas gostaria de lembrar que além de rico e mimado ele é um gostoso e quem não nota é quem perde, Aluado".

"Pontas gostaria de pedir para que seus amigos não começassem a se paquerar no mapa também!"

"Rabicho gostaria de ressaltar, uma vez que seus três amigos parecem ter esquecido, que Reptile pode estar querendo usar o mapa, da mesma forma que ele foi feito para funcionar, uma vez que disse a senha padrão! Não para ficar conversando com os quatro patetas nele! Então que tal pararem de distraí-lo e mostrarem Hogwarts, bando de desocupados?"

Harrison riu divertido, mas fez uma careta no instante seguinte que percebeu sua própria reação.

Não queria gostar de Rabicho!

Mesmo que não fosse ele de verdade.

Aquela era, inegavelmente, uma máscara. A versão que fez de si mesmo para seus amigos a fim de enganá-los e estar no grupo. Era como eles viam Pedro e replicaram no mapa. A visão dos amigos, obviamente, acabava sendo melhor.

Mesmo assim incomodava que já fosse a segunda coisa dita por Pettigrew que achou, pelo menos, agradável. Esperava parar por ali.

"Prongs gostaria de se despedir apenas com uma reflexão... Somos um mapa Rabicho, é claro que somos desocupados!"

Os quatro marotos, enfim, pararam com as conversas e as inscrições mudaram para as frases de introdução de sempre.

"Os Srs. Aluado, Rabicho, Almofadinha e Pontas, fornecedores de recursos para bruxos malfeitores, têm a honra de apresentar

O MAPA DO MAROTO".

Hazz começou a abrir as várias dobraduras que formavam a planta detalhada de Hogwarts em busca dos dizeres Neville Longbottom. Levou alguns minutos de procura para achar Ronald Weasley.

Ele estava andando de um lado para o outro num corredor, então seus olhos foram para Hermione Granger, próxima dele, aparentemente parada no mesmo corredor, mas possivelmente encostada à parede, apenas observando o amigo.

Ou conversando, não saberia dizer ao certo.

Então Neville...

Hazz puxou uma das bordas para revelar outra sala e, quando o fez, seu coração gelou.

No segundo seguinte, acelerou e aqueceu.

Como uma chama de gás inflamável, cresceu de uma vez e intensamente, pronta para explodir para fora.

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

O chiado em sua cabeça aumentou à uma intensidade ensurdecedora.

Seu corpo começou a arder de ansiedade e tremeu.

Suas costas arderam.

Aquela parte dobrada do mapa guardava a sala de Albus Dumbledore.

Neville estava com ele.

Harrison nem viu como chegou até esse ponto, ele não ficou cego de raiva. Ou até mesmo inconsciente, mas de repente estava no corredor, andando, seguindo para a direção de seu alvo enfurecido...

Quando simplesmente seu corpo parou de se mexer.

E agora ele realmente perdeu o controle.

Porque depois ele se moveu, contra sua vontade e mecanicamente, para dentro de um banheiro, e parou de frente para um espelho vendo o próprio rosto.

Seus olhos estavam escuros, com aquelas veias negras saltando à sua volta, mas o mais importante eram as iris. Não eram mais verdes e sim vermelhas.

O medalhão de Slytherin agitava-se feito louco por baixo da roupa contra seu peito.

- Não! - seu corpo disse para si mesmo encarando o reflexo, porém a voz que saiu não foi apenas a sua, estava ecoando, andando junto de outra.

A voz de Tom.

Seus olhos voltaram ao normal no instante que recuperou o controle de si mesmo e recuou de choque.

- Você me possuiu? - sussurrou olhando em volta, para averiguar se não teria mais ninguém ali.

O banheiro parecia bem vazio, mesmo assim, tirou os óculos para identificar alguma alma. Seus sentidos estavam fracos demais para senti-las depois da possessão e do próprio ataque.

Ou apenas muito bagunçados.

É... "bagunçados" parecia mais adequado, pois fraco era algo que Hazz estava muito longe.

Mesmo com o medalhão, era impressionante que Tom conseguisse possuir Hazz, com ele ainda acordado. Mostrava apenas uma coisa: ele realmente tinha desligado. Tinha se deixado levar por sua magia. Se não fosse pela Horcrux, ele teria estourado até o fim. Isso era preocupante.

Mais ainda era o fato de que não ligava e estava bravo com o companheiro por isso.

"Sim, possui" respondeu Tom com obviedade.

"Por quê?!" questionou furioso encarando a si mesmo.

"Se fizer desse jeito, vai se arrepender" respondeu a horcrux.

"Desse jeito? Que jeito?!" irritou-se.

Ouviu o som de todas as portas tremendo, algumas batendo com força e até o mármore da pia parecia de repente vibrar.

"Lidar com isso. Com tudo isso. Se você fizer algo agora, seja o que for, será uma decisão tomada no impulso e na raiva, então você Harrison será como eu. Um bruxo instável e irracional. É isso que quer?"

A frase saiu calma. Foi como um professor falando pacientemente com um aluno rebelde, ao mesmo tempo a voz de Tom tinha aquela presença, uma sutileza astuta, um timbre grave e firme.

Intenso o bastante para fazer a mensagem ser perfeitamente escutada, mesmo no descontrole do garoto.

Harrison baixou a cabeça e fechou os olhos, sentindo eles arderem.

"Você é melhor, Harrison. Sempre foi melhor que eu. Nasceu para ser melhor. Eu mato um inimigo quando estou com raiva, sem pensar em como isso gerará consequências desastrosas no futuro ou me atrapalhará, você não. Você sabe como analisar tudo e tomar para si o que é mais racional, sempre soube. Sua raiva, seu medo, mágoa, nada disso te cega. O que é diferente agora?".

Harrison ficou um bom tempo sem responder aquilo, estava precisando lutar contra uma dor latejante e crescente em seu interior. Algo que rasgava a pele querendo sair.

"E se fosse eu?" perguntou.

"Como assim?" Tom questionou confuso.

"Se fosse eu!" se olhou no espelho. A ponta de seu nariz estava avermelhada, suas olheiras pareciam mais fundas e os olhos estavam inegavelmente marejados. "Se alguém me violasse e você soubesse no dia seguinte que estou, de novo, na sala da mesma pessoa que fez isso?! Como você reagiria? Como se sentiria?! Você..." ele foi até a pia, precisava de um apoio, segurou o mármore contendo toda sua tristeza e preocupação o máximo que podia, seus dedos embranquecendo ao apertar com firmeza a superfície lisa. "Você me deixaria com o homem que fez a coisa? Um minuto que fosse? Dumbledore está lá com ele agora.. O homem que ele confia, que, de certo, olha nos olhos para falar... E Neville, que os pais..."

"Não é a mesma coisa. Os Longbottom foram torturados até a loucura".

"A legilimência fez parte da tortura!" zangou-se e ignorou o som de uma porta que se rachou com sua explosão de magia. "Você sabe que sim! Seus comensais queriam a merda de uma informação! Não seriam idiotas apenas de torturar e correr o risco de destruir a mente daqueles que poderiam tê-la, se não a revirassem para ter certeza de que não estava lá antes! Seus comensais, comensais de Voldemort, a merda que seja! Eles torturaram física e psicologicamente, de quase todos os meios possíveis os Longbottom e agora, nesse momento, eu tenho um amigo que literalmente só precisa olhar nos olhos de um dos malditos bruxos mais poderosos do mundo, para que ele faça isso de novo! Sem nem deixar rastros, porque, de novo: é um dos mais fortes! Eu sei que é diferente, eu sei que leitura de mente nem é tudo isso, que podemos entrar na mente de alguém sem nem sermos sentidos ou que podemos apenas observar de longe os pensamentos mais superficiais, que o subconsciente invadido que causa traumas graves, mas não é confortável quando as pessoas invadem seu espaço íntimo! Não é algo que eu suporto pensar que meu amigo pode sofrer a qualquer instante de novo! Por alguém que ele confia! Mesmo que ele não... Por que ele está lá?!" desesperou-se, os olhos ardendo mais. Piscou, inspirando para tentar se acalmar:

"Por que não me deixa tirá-lo de lá, Tom?!"

Aquilo foi de partir os sentimentos de Riddle. A forma visceral como seu garotinho quase implorou, como estava realmente desesperado.

Nada, nada feria Harrison de verdade.

A menos que você ferisse as pessoas que ele se importava.

Então você o destruía. Mas ele faria muito pior com você depois.

"Você entende que, se invadir a sala de Dumbledore agora, Neville ficará chateado?" perguntou Tom tentando passar calma. Ele estava do lado de Hazz e, por isso mesmo, ele tinha que se acalmar. "Neville queria ter a chance de contar ele mesmo para você. Você não dormiu a noite inteira e está desse jeito hoje porque quer respeitar justamente seu espaço pessoal. Não estará fazendo isso se for lá agora, instável desse jeito ainda por cima. Pelo contrário, estará impondo a sua vontade e usando sua magia para isso. Entende como é problemático justo agora?"

"Você não estava querendo me convencer antes que nem poderia ser tudo isso?"

"Bem, ainda foi um amigo que lhe impôs algo, ao invés de lhe dar a chance de falar ou negar por si mesmo. Então sim, é melhor..."

"Ficar" suspirou frustrado.

"Outra que estragará tudo que quer mostrar as pessoas sobre as artes das trevas e controle emocional".

Hazz, enfim, se soltou da pia e começou a andar. Usando o movimento para diminuir sua inquietude.

"Nós dois sabemos que são situações diferentes" continuou Tom "Mesmo um bruxo da luz teria uma reação explosiva ou parecida com o que você queria fazer. Sua mãe, que era uma bruxa da luz em essência, tenho certeza que arrombaria a porta e acertaria bons socos no nariz torto até arrancá-lo por ousar fazer isso".

"Não diga, para ficar igual a você?" comentou segurando o riso nervoso.

"Era exatamente o que eu estava pensando" Tom, por sua vez, riu com leveza.

"Você é péssimo com as piadas de nariz" Hazz negou com a cabeça, um sorriso fraco no rosto. "Deixe só comigo e Lakroff, pode ser?"

"Funcionou, não funcionou? Você parece ter se acalmado".

O menino inspirou fundo, depois expirou, então abriu a torneira e molhou o rosto.

"Obrigada, mas..."

"Sem 'mas'. Sei que é difícil, mas você é o bruxo das trevas mais talentoso que já vi. Trará novos ares para a magia no mundo todo, tenho certeza, isso se quiser. Se não, ainda será o mais incrível estudando sozinho, atingindo limites novos, registrando o desconhecido. Destruindo barreiras, sociais, políticas ou mágicas. Você não vai cair na tentação da vingança barata, como eu faria e deixar que eles tenham algo contra você. Porque isso será usado contra você, eles sempre usam".

"Mas e Neville?" insistiu "Nem Ron e Hermione entraram consigo, ele está sozinho lá e..."

"Minerva está junto".

"E o que isso importa?!" exasperou-se, quase voltando à ansiedade de antes. Justo quando os chiados pararam? "A vaca esmeralda é melhor amiga da cabra infernal!" exaltou-se.

Então Tom riu.

Riu muito.

Realmente começou a gargalhar e Harrison teve que inspirar fundo para não querer golpear o medalhão na parede antes de ouvir:

"Vaca esmeralda! Minerva ficaria furiosa!" ria.

"TOM RIDDLE!"

"Certo, escute Harrison" disse quando enfim acalmou sua crise de gargalhadas. "Minerva McGonagall pode ser amiga de Albus Dumbledore, mas é uma bruxa justa e racional. Ela não me deu todas as aulas desde o começo do currículo, na minha época acho que foi fazer um trabalho fora pelo ministério, algo assim. Meu professor de transfiguração no começo foi Albus, mas tem algo que sempre notei nela: não importa que seja Albus ou quem for, Minerva não vai tomar decisões precipitadas sobre nada antes de investigar. E, depois que tiver as provas, ela não as ignoraria em prol de uma amizade, mais do que aquilo que é justo. Principalmente, ela é uma boa professora, Dumbledore não fará nada com Neville se ela estiver presente na sala".

"E você quer que eu só confie nisso? É meu amigo lá, Tom!"

"Você confia no meu julgamento das pessoas?"

"Confio em você, não confio é neles!"

"Harrison... Quem está querendo enganar?"

Hazz bufou e se sentou no chão.

Tom estava certo.

Por mais frustrado que estivesse e mesmo que quisesse tomar uma atitude, nada era mais valioso do que os sentimentos de Neville. O amigo era alguém forte, Harrison não era sua babá, o grifinório sabia se virar, sempre soube, era um guerreiro e se o Feuer queria respeitar o tempo do leão...

Teria que aguentar aquilo.

Quieto e até que o outro tomasse a iniciativa primeiro.

Levantou-se e decidiu que voltaria para o salão principal.

Mesmo que, nesse ponto, duvidasse que conseguiria se alimentar.

-x-x-x-

No grande salão, Luna estava sentada entre Pansy e Viktor Krum. Draco estava bem a sua frente, cutucando a comida distraído, Blaise ao lado depois Theodore.

Os Nargles estavam agitados.

- Luna? - chamou Pansy.

- Oi? - perguntou a loira encarando a amiga com um sorriso, mas olhar distante.

- Está tudo bem?

"Draco acaba de ser jogado diante de verdades dolorosas e seus zonzóbulos estão confusos e perturbados. É bom se ele conseguir coragem para encará-los, mas também pode só reprimi-los para sempre causando uma dor e um vazio irritante onde se agitarão para sempre. Já Theodore... parece não só consciente disso como está se divertindo, porém ele mesmo terá problemas com seus Zonzóbulos, só não sabe disso ainda" pensou a loira.

- Sim, porque não estaria? - perguntou no lugar.

- Você parece distraída.

- Me desculpe, eu deixei de te responder? - e parecia verdadeiramente preocupada com isso, o que fez a morena rir.

- Não querida, eu só notei mesmo.

- Querida?

Pansy corou e desviou o olhar:

- Eu... - começou incerta, mas a risadinha de Theodore do outro lado da mesa fez sua timidez ser substituída por ódio e ela pegou um garfo, apontando em sua direção.

A risada do cacheado aumentou, mas ele levantou os braços em rendição.

Blaise lhe acertou um tapa.

- Ei! Por que fez isso?

- Achei que você merecia.

- Eu vou dar um em você também, seu nojento - ameaçou.

- Para que anunciar, só faça seu pior Nott - provocou se aproximando do amigo que imediatamente recuou, o que tirou uma risada do mais retinto. - Com medo Theo, querido?

- Você...

- Vocês dois, parem com seja lá o que estão fazendo! - mandou Draco com ambas as mãos na testa, incomodado com a movimentação da dupla ao lado.

A voz de Theodore estava lhe tirando a paciência.

Sua cabeça estava uma bagunça grande demais para conseguir entender direito o que se passava consigo mesmo, que dirá suportar seus amigos fazendo barulho desnecessário, estava ficando com dor.

Já Theodore estava bem tranquilo e a única coisa que pensava era como começar o plano de paquerar Harrison, agora que o alecrim dourado ainda era o prêmio da temporada e toda a Sonserina estaria se juntando a sua volta.

Que irritante...

Não tinha que aturar Malfoy emburradinho por ser um bissexual encubado.

Ia responder algo para o oxigenado, mas logo ele, assim como todos, ouviram um grito:

- Ai casseta! - era Ivan, que naquele instante quase derrubou uma taça de suco no irmão.

Isso distraiu bem mais todas as pessoas na mesa para notarem o mau humor gritante de Malfoy.

Pois Axek já encarava mortalmente o Tshokows anunciando um possível desastre.

- Foi sem querer! - resmungou Ivan, com os braços na mesa como seu primeiro impulso para impedir o líquido de chegar no outro. - Nem pingou em você!

- Daí sua solução foi sujar todo o seu uniforme?! - reclamou o loiro. - Você parece se esquecer que, no mínimo, não deveria parecer um porco quando está com o uniforme da sua escola e do conselho estudantil!

"Porco". Ivan não ligava para aquilo, os que ligavam eram os alemães. Mas então Axek estava tentando insultá-lo?

Essa era boa.

Ivan que tinha que estar bravo com ele!

Deixando o rosto totalmente neutro e juntando toda a frustração do seu dia, o russo apenas puxou seus braços como um rodinho que arremessou todo o suco de abóbora na calça branca do conselho de Axek e em sua camisa tradicional.

Todos na mesa arregalaram os olhos e seus queixos quase caíram de choque.

Draco chegou a esquecer completamente tudo que o estava deixando inquieto.

Ele estava bem do lado dos irmãos.

Nem de longe, tinha força para pará-los se começassem a briga que todos esperaram tensos.

O som do salão principal pareceu quase tão inexistente que foi como se aquele momento tivesse congelado no tempo.

Ivan sorriu:

- Pede para sua namoradinha chupar para limpar. Garanto que sai, mas você pode tirar para ela fazer isso, se quiser.

Viktor só não se arrependeu mais de não estar sentado daquele lado da mesa para ajudar a segurá-los porque, para a surpresa de todos todos ouviram um grito firme, junto de um tapa na mesa:

- Ivan, Axek, os dois querem perder mais pontos ou vão parar de agir feito crianças?! - era Luna.

Ninguém ali nunca tinha escutado sua voz naquele tom, nem esperavam que ela poderia parecer tão decidida. A atenção de todos, novamente, foi desviada para o rosto severo da garota. Não só na Sonserina, mas em outras mesas também, todos em choque com a capacidade da menina tão dócil e pequena de falar com tanta clareza de repente.

Ivan pareceu educadamente envergonhado, Axek estava mais espantado do que qualquer coisa olhando para a garota à frente, que não desviou o olhar dele.

- Eu não posso tirar pontos de vocês dois, mas sua alteza já não parece de bom humor, tentem não piorar! - e apontou para o lado.

Todos os amigos seguiram aquela direção. Harrison tinha acabado de entrar no salão.

E estava furioso.

Não que demonstrasse em sua expressão, mas é claro, Luna sabia e os demais apenas perceberam que sim, ele parecia um pouco mais tenso que o normal, mesmo que fosse algo tão discreto que se a loira não tivesse falado, não teriam reparado por si mesmos.

Poderia ser, também, apenas distração do garoto.

Ele olhava para o chão parecendo pensativo.

Seguiu para o almoço, mesmo sabendo que não conseguiria comer nada, mas deixar o estômago vazio depois de tantas poções... Ao menos um pedaço de carne ele tinha de tentar. Outra que havia prometido a Pucey, que provavelmente tinha repassado isso para Viktor que ficaria dez vezes mais inquieto se Hazz começasse a pular muitas refeições.

Sua exasperação, entretanto, deve ter passado para o rosto de alguma forma, já que assim que se sentou entre Viktor e Luna, Theodore Nott comentou:

- Você está péssimo. Não dormiu depois das dez horas no sábado? Seu corpo não aceita mais que isso por semana?

Isso fez Harrison rir, ao menos, mesmo que não tivesse chegado a atingi-lo profundamente, talvez o nervosismo tornou a risada mais fácil. Nada muito animado, mas ainda sim estava ali. Ele pegou uma taça de suco (sem nem saber qual era o sabor) e tomou um longo gole.

- Algo assim, imagino – murmurou.

Depois olhou para todos percebendo como estavam estranhamente quietos e se encarando:

- Perdi alguma coisa?

- Nada, só a senhorita Lovegood mostrando porque é a mão do rei - comentou Heinz divertido e isso gerou uma onda de risadas que dissipou toda a tensão que estivera ali até então.

Hazz olhou para todos, se sentindo ainda mais confuso, depois para a amiga:

- Minha lua? O que você fez?

- Dei uma bronca nos marqueses - explicou com um sorriso.

Hazz se virou para a dupla e notou as mangas encharcadas de Ivan:

- O que você fez?

- Derrubei suco - contou o russo. – Em mim e no Axek.

- Você propositalmente jogou em mim – corrigiu o alemão.

- Depois de ter derrubado a taça sem querer e você ter desvalorizado meu auto sacrifício para te deixar limpinho – resmungou levantando o queixo e de olhos fechados, em uma atitude pomposa que nada tinha a ver com ele ou sua frase, gerando ainda mais risadas dos colegas.

- Fiquem parados os dois, sim? – pediu Hazz puxando sua varinha de azevinho e sacudindo na direção de ambos. O suco pareceu encolher até sumir e eles sentiram como estavam secos. – Vão ter que tomar banho e colocar isso para lavar do mesmo jeito, mas dá para terminar o almoço – e guardou a varinha.

Ninguém deixou de notar como ele não entoou nenhum feitiço para fazer aquilo.

- Então você conseguiu controlar esses dois depois de algo assim, minha Lua? - perguntou o garoto com um sorriso, mas a menina notou a tristeza por trás dos olhos, como seu príncipe estava inquieto. - Parece que escolhi a mão correta para mim.

- Eu faço o que posso – sorriu de volta, o mais gentil que conseguia, se agarrando ao braço dele para lhe dar apoio.

Todos ainda encararam a interação por alguns instantes com sentimentos e pensamentos mistos, antes de, aos poucos, retornarem às próprias conversas.

- Por que não dormiu direito? – perguntou Adrian, sentado ao lado de Viktor. - Não nos disse que teve esse problema hoje.

- Estava distraído com o inventário dos Black - inventou.

- Nossa, que problema príncipe! – zombou Blaise no mesmo instante e a espontaneidade fez Hazz tornar a rir. – Deve ser uma questão na sua vida!

Hazz revirou os olhos bem humorado e lhe apontou o dedo.

- Deixe de ser assim. Você não está fora da lista dos privilegiados do mundo não! Quantos dígitos tem sua fortuna mesmo? – provocou.

- Não sei... Quantos maridos minha mãe já teve? Multiplique por dez.

E aquilo teve um efeito muito parecido com o que vinha acontecendo até então, primeiro foi o choque. Blazz nunca falava tão abertamente sobre o assunto de sua mãe e a fama de viúva negra, então a piada em si, Harrison imediatamente gargalhou alto, cobrindo a boca para segurar melhor o som diante da reação de todos os sonserinos, mas isso também levou os dragões às risadas e logo outra onda grande de gargalhadas se seguiu naquele grupo da mesa verde.

Harrison principalmente amou.

Internamente ele pôde, ao menos, ficar satisfeito que seu plano tinha funcionado. Aquelas pessoas pareciam ter se dado o direito de se aproximar bem mais de Harrison. Puxando assunto, falando sobre suas vidas pessoais, fazendo piada, bem mais do que vinha sendo até então, sempre com uma distância educada e curiosa.

Se continuasse assim, logo eles estariam tão na sua mão quanto o restante da Durmstrang.

- Blazz, eu gosto do seu estilo... – disse o Potter, encarando o Zabini e foi quando enfim notou.

Havia um button no peito do garoto negro.

Hazz estreitou os olhos para aquilo:

- Que isso? Parece um button trouxa.

- Não é trouxa – disse Draco no mesmo instante e ignorou como seu coração pareceu estranho ou como evitou encarar diretamente os olhos verdes que o estavam deixando tão... Ah! – Bem... são de uma nascida entre trouxas, mas eu os modifiquei, então são mágicos agora.

Hazz se permitiu dar um largo e satisfeito sorriso para Draco pelo uso do termo, coisa que (é claro) não passou despercebido por ninguém na mesa da sonserina. Aquele era um dos possíveis príncipes da casa, um Malfoy, chamando uma nascida trouxa de bruxa, mais que trouxa. Aquilo era um sinal gigantesco de mudança, tanto quanto o golpe na noite anterior para impedir Crabbe de falar de pureza de sangue.

Poderia ser algo ainda mais impressionante se o motivo não fosse óbvio:

Harrison era Black Peverell-Potter.

Ele era um príncipe.

Não só para a Durmstrang, mas se tivesse estudado em Hogwarts, esse título seria seu sem mesmo uma briga. Ninguém podia bater de frente com isso.

Ele ditava as regras. Se as pessoas queriam estar do bom lado do herdeiro Black, do lorde Peverell! Então elas teriam que se adaptar...

Claro, só o nome não garantiria que eles reprimissem conceitos arraigados e sociais, mas havia toda a importância política de Harrison, uma figura histórica viva e sua influência no instituto de artes das trevas mais reconhecido mundialmente. Eles poderiam não acreditar, mas dizer aquelas coisas para agradar o lorde, era o mínimo.

- Modificou? Como assim?

Draco apontou para o próprio broche decidido a não permitir que Theodore Nott ganhasse e alugasse um maldito apartamento em sua mente!

Era ridículo permitir algo assim!

Ele e Harrison eram amigos e ninguém estava pensando que Draco perdeu ou algo assim.

Não é?

- Eles podem mudar para outras duas frases - explicou o Malfoy.

No seu broche haviam os dizeres: "Apoie CEDRICO DIGGORY o CAMPEÃO de Hogwarts" mas assim que ele apertou o objeto no peito, a mensagem foi trocada para:

"Boa sorte testa rachada".

Harrison arregalou os olhos e desengatou numa gargalhada gostosa assim como seus amigos da Durmstrang.

- Isso é incrível! - comentou divertido.

- Como eu disse, são três mensagens – continuou Draco. – Para Krum, eu já deixo aqui minha defesa que foi Ivan que sugeriu a coisa...

- Com orgulho! – disse o russo, sorriso no rosto.

Draco tornou a apertar e "Boa sorte Viktor Precoce" apareceu e dessa vez muito mais risadas ecoaram na mesa.

Viktor olhou mortalmente para Ivan que deu de ombros:

- Que foi? Você pegou o pombo antes de termos chance de ganhar na copa! Foi um dos jogos mais rápidos de final mundial da história!

- Do que está reclamando?! Você nem torce para a bulgária, seu insuportável!

- Mas não queria que os irlandeses ganhassem! – reclamou. – Eles nos tiraram da competição!

- Não que seja tão difícil, a Rússia está péssima no quadribol – resmungou Axek.

- Você ainda me deve pelo soco de hoje, quer levar um agora?

- Vocês dois, parem! – reclamou Hazz e ambos simplesmente viraram a cara um para o outro.

Todos sentiram como, aparentemente, o clima entre os dois irmãos estava mais tenso que o normal.

- E a senhorita Delacour? Também tem uma mensagem para ela? – perguntou Heinz.

- Não, achei que ela poderia se ofender – Draco deu de ombros. – E o importante era zombar com vocês dois.

Hazz riu:

- Posso pegar um para ver de perto?

- Claro – Draco puxou sua mochila, onde havia guardado vários, e lhe entregou um.

- Pensei que torceria por mim, Dray – comentou avaliando a coisa. O feitiço tinha realmente sido bem feito, mostrava um talento interessante do Malfoy. Olhou diretamente para o loiro ao acrescentar com uma voz calma e sedosa: – Estamos na mesma casa e somos amigos, não somos?

- Claro, mas você ainda é campeão da Durmstrang – sorriu em desafio e Hazz percebeu, naquele instante, que havia algo de diferente em Draco. A forma como seu olho brilhou de maneira incomum, ou como desviou o olhar, mas não pelos motivos de sempre. – Então estou torcendo para que não morra, mas quero que Hogwarts ganhe.

- Competitivo – brincou divertido, tentando avaliar o que poderia ser que causou a diferença e se existia uma mesmo. Poderia ser só impressão?

- Eu sou sonserino – disse Draco, como quem declarava o óbvio.

- E nós somos dragões. Nada vai parar a mim e a Viktor. Nem o Diggory, nem qualquer "desafio" que o seu ministério acha que está nos oferecendo, isso eu garanto. Quem precisa de sorte é seu lufano. Nós só precisamos que saiam da frente para não serem pegos pelo fogo cruzado – murmurou com aquela voz sombria, seus olhos brilhando tranquilamente com sua magia, levemente à mostra.

- Au! – entoaram todos da Durmstrang que ouviram, batendo na mesa animados enquanto os sonserinos arfavam surpresos pela pressão que sentiram vinda do garoto.

Hazz negou com a cabeça divertido, recolhendo suas energias. "Bando de barulhentos" pensou estendendo a mão para pegar um prato com Luna, sentada do outro lado da mesa junto de Theodore e Pansy.

- A senhorita Lovegood agora é oficialmente responsável por sua alimentação? – perguntou Adrian rindo entre suas próprias garfadas.

- Estamos treinando para o casamento – disse Harry com naturalidade e alguns chegaram a engasgar.

- Como é? – perguntou Draco imediatamente e Theodore começou a tossir.

Seu pedaço de carne parecia ter sido sugado para o buraco errado. Não sabia se por surpresa ou pela risada que teve que segurar da expressão horrorizada de Draco.

Para alguém no armário, aquele cara era óbvio demais.

- Não vamos nos casar – disse Luna. – Eu apenas verifico se tem veneno na comida dele.

- Como é? – agora foi Blaise a questionar.

- Meu tutor te aprovou como minha noiva e eu sou uma pessoa insistente, minha lua e estrelas – Hazz acrescentou sorrindo para a amiga, ignorando a outra pergunta, assim como a loira.

- Vossa alteza só é persistente quando quer verdadeiramente algo – comentou inclinando a cabeça – Entretanto, o senhor não me quer como esposa. Não faço seu tipo.

- Mesmo? E qual meu tipo?

- De acordo com ele mesmo – começou Fred.

- Com sardas. Ele acha um charme – encerrou George.

- Meninos! – cumprimentou Harry com um sorriso sincero se virando para olhar a dupla de frente. – Como foi o fim de semana? Pensei em vocês hoje mesmo.

- Agitado, para dizer o mínimo – reclamou Fred.

- Espero que tenha pensado em coisas boas - provocou George.

- As melhores, se tiverem boas notícias para mim.

- Era sobre isso mesmo - disse Fred. - Precisamos falar com você, alteza. Se importa?

Ninguém deixou de notar o uso de "alteza" na frase.

- Não, eu...

- Comida primeiro! – disse Luna na mesma hora, no mesmo tom firme que usara em Axek e Ivan o que fez Hazz, que estava quase levantando, se sentar imediatamente. Todos a encararam, agora Harry e os gêmeos bem mais surpresos que os outros que já haviam tido uma amostra disso. – Que foi? Você não deu nem uma garfada ainda. Coma – mandou.

- Mas...

- Coma – insistiu.

- Eu preciso...

- Você já não vai jantar – ela suspirou, a voz já em seu dócil habitual. – Então, ao menos, almoce alteza. Ou ficará o dia todo sem nada no estômago e isso não faz bem.

- Eu não vou jantar? - questionou.

- Não.

- Por que ele não vai? – perguntou Viktor indignado.

- Ele vai resolver outros assuntos e não conseguirá, mesmo que tentemos força-lo.

- Então tá – Hazz concordou pausadamente. – Meninos, se importam de nos encontrarmos antes da próxima aula? Eu tenho que almoçar.

- Não – disse Fred segurando muito suas risadas. – Entendi porque chamam ela de "mão do rei".

George também riu disso:

- Até o rei obedece – comentou cutucando o irmão. – Nossa próxima aula é Defesa Contra as Artes das Trevas junto com vocês da Sonserina. Podemos esperá-lo no corredor oeste?

- Claro. Os vejo lá – acenou.

- Ah! – acrescentou Fred. – Que é isso? – perguntou ao notar o button que Hazz deixou ao lado do prato para conseguir comer.

- Draco na torcida por Diggory e Hogwarts contra eu e Viktor. Aperte que a frase muda.

- Achei que a Sonserina ficaria do lado da Durmstrang...

- A competitividade não permite, ainda somos escolas rivais - e piscou para o Malfoy que apenas sorriu, mas não pareceu totalmente sincero.

Harrison também percebeu que a comida do garoto estava revirada com garfadas.

Estranho...

- Posso? – perguntou Fred e Hazz lhe entregou o broche. – Parece aqueles do F.A.L.E. não é?

- F.A.L.E?

- Um negócio que a Granger inventou – explicou Goyle revirando os olhos.

- Sinceramente? – comentou Fred olhando para a mesa da Grifinória e ao constatar que a menina não estava lá, ainda falou entre dentes. – Até nós da casa já cansamos disso. Ela insiste que tínhamos de ajudá-la, começa a encarar todos que não aceitam assinar aquela petição dela e passou a comentar com as meninas, elas nos contaram, que quer tricotar e espalhar roupas pela comunal inteira para tentar forçar os elfos a serem libertos! Eles vão ficar furiosos, temos certeza! É capaz de nem nos deixarem mais...

George cutucou o irmão antes que ele falasse demais na mesa da Sonserina e Fred se calou rindo:

- Nada não. Enfim, só quero ver se um deles achar as roupas e realmente acabar liberto. Ele ficaria desolado e serei o primeiro a brigar com ela por isso! – cruzou os braços. – Mas parece que não importa o que nós falemos, Hermione não entende que eles gostam de estar aqui.

- Bem – disse Hazz antes que qualquer Sonserino tivesse a oportunidade de fazer algum comentário e ficou satisfeito quando viu algumas bocas se fechando. – Isso entra em mais uma daqueles pontos que disse, sobre os problemas de deixar bruxos abandonados até os onze anos sem qualquer informação prévia de seu mundo e, quando são "incluídos" – fez aspas com as mãos. – Isso acontece sem preparo e sem uma transição adequada. Imagino que, se ela está fazendo essas coisas... deve ter descoberto sobre o trabalho dos elfos este ano, não é?

- Sim. Na copa. Por causa de uma elfa que estava guardando o lugar de seu mestre – contou Fred revirando os olhos. – Realmente deu pena dela, a coitada tinha medo de altura e estava no camarote. Malfoy estava conosco, pode confirmar...

- Nem reparei – deu de ombros e Harry, por algum motivo, achou engraçado.

Claro que os Weasley teriam dado atenção o bastante para a elfa para perceberem seu incômodo e se lembrarem dela.

Draco nem notaria sua presença, treinado por anos a, não só ignorar a presença de um simples elfo criado, como ainda desprezá-la.

Um mundo triste mesmo.

- É claro – sorriu Fred cínico, revirando os olhos.

- Reparar que vocês estavam por lá já foi suficientemente aterrador - continuou o Malfoy em desafio para o ruivo que estreitou os olhos em sua direção.

- Desculpe, esqueci que água oxigenada afeta o cérebro e te impede de prestar atenção em algo além do que seu pai mandou.

Theo não aguentou dessa vez e riu alto. Blaise lhe acertou um soco.

- Ai ai!

- Desculpa, era uma mosca.

- Olha, Harrison tem razão, depois que os dragões sentaram aqui acho que começamos a ficar muito agressivos.

- Parabéns Ivan! – disseram Heinz, Axek e Krum.

- Viktor deu mais socos que eu! Eu só briguei com meu irmão, ok? - se defendeu o russo.

Harry ria negando com a cabeça.

Quase estava conseguindo esquecer da dor nas costas.

- Mas o que estava querendo dizer com a história da Granger? – perguntou Blaise para Harrison, antes que Draco começasse a querer replicar os gêmeos. Não era hora de irritar duas pessoas que aparentemente conseguiram aproximar o Lorde Peverell-Potter, Félix e Adrian com certeza usariam isso contra Draco. Theo também não estava ajudando rindo das provocações ao amigo.

Uma troca mais segura de assunto era bem vinda.

- Bem, apenas que, se ela descobriu apenas nas últimas férias, isso faz com que ela tenha levado três anos para saber algo que literalmente está na base das estruturas do nosso mundo. Para mim isso é uma amostra de uma falha muito grande da educação bruxa, ou do ministério, escolha aqui quem culpar pela irresponsabilidade em deixar bruxos ignorantes ao ponto de prejudicar a vida dos demais. Na verdade, Granger só está reagindo da mesma forma que ela foi ensinada, mas se tivesse sido instruída desde o começo sobre alguns pontos, não pareceriam tão chocantes e ela própria não reagiria de forma tão agressiva e impositiva. O problema é que Hermione ainda pensa como trouxa e não como bruxa, exatamente pela ausência de políticas de transição em um governo que quer afastá-la por mais de uma década do que ela é de verdade. Eu vejo isso como reflexo claro: foi assim que ela foi e é tratada constantemente no nosso mundo. Abrupta, fria e sem um processo real. É apenas imposição. A bruxaria foi jogada em sua vida, não há uma real adaptação além de uma conversa, algumas compras, uns livros então colocá-la num trem até a escola onde as pessoas sabem coisas a anos que ninguém se preocupou em lhe dizer, porque não estão nas matérias obrigatórias e ninguém se preocupou em lhe contar como achar os livros que ensinaram. Sem contar que enquanto todos teriam tempo para ler os livros escolares, ela teria que ler sobre coisas que nos são senso comum e, por isso, simplesmente esquecemos de lhes contar. No fim o resultado é o desastre que vemos diariamente, nascidos entre trouxas tem dificuldade para se ver e agir como bruxos, porque não são facilmente aceitos, então eles brigam de volta tentando impor a cultura trouxa em nós na mesma velocidade, sem se preocupar com explicações que ela mesma não recebeu. Causa e consequência assim como a religião e os feriados pagãos sumindo. Me impressiona apenas que as pessoas não notem esse padrão.

Ele revirou os olhos, mexendo em sua comida enquanto acrescentava:

- Eu entendo que todos tem suas próprias opiniões sobre as origens bruxas e, sinceramente? Não quero nem mencionar isso. É bem irrelevante para meu ponto. O que quero dizer é que, ao invés de ensinar os nascidos entre trouxas para se tornarem bruxos completos e mantermos nossas tradições, acabamos fazendo com que eles tenham uma resistência muito maior a elas por reação. Estamos apenas dividindo nosso mundo e isso nos prejudica mais do que está ajudando qualquer família antiga. Poderíamos todos estar fortes até hoje depois de um bom Samhain, mas vejam só, é proibido para Hogwarts. Nós da Durmstrang ainda colhemos os frutos do ritual, vocês não. Então no Yule, onde podem ir para casa, o feriado não será o mesmo porque não teve o ritual anterior e a roda do ano não estará devidamente completa.

"Todos os bruxos, portanto, saíram prejudicados. Ela não é uma bruxa completa, e de certa forma em comparação com tantos outros pelo mundo, nem vocês! Que ficaram sem o sabbat e os ritos completos para a vitalização da magia e culto às deidades mágicas. Então isso também prejudica uma geração inteira e tantas outras e, em consequência, a própria magia que poderia avançar mais e mais, só que está mais lenta do que poderia, porque gerações pelo mundo são prejudicadas por preconceitos afetados por divergência cultural que estamos permitindo que cheguem até a política e administração pública.

- Agora imaginem se Hermione Granger tivesse sido inserida corretamente e apoiasse a cultura bruxa com a mesma dedicação que vem demonstrando a temas incomuns a cultura trouxa? Se ela tivesse esse empenho todo, mas para garantir que vocês - indicou o salão. - Pudessem ir para casa no Samhain ou pudessem fazer o ritual aqui mesmo em Hogwarts? Eu gostaria de vê-la gastando essa energia incomodando Dumbledore por aulas mais descendentes de história da magia e não os elfos em seu trabalho. Não teríamos tantas leis idiotas e contraditórias se a população não estivesse se contradizendo exatamente por estar dividida no meio num aspecto que nem precisaria. Até os trouxas têm leis de intolerância religiosa e política flexíveis em escolas para diferentes culturas e religiões. Nós não. Porque o sistema não está procurando uma solução, só está brigando para ver quem tem "razão" numa conversa que o correto seria: cada um faça o que acha melhor, só não atrapalhe o outro – encerrou voltando a comer.

Ele, sinceramente, tinha muito mais coisas a dizer sobre o tema, mas estava com dores de cabeça, suas costas ainda tinham um rasgo e não tinha paciência o bastante para pensar numa forma de apresentar todos os ideais justamente num almoço para os Sonserinos.

Não era hora.

Mesmo que tivesse surgido a oportunidade.

E ele, provavelmente, já teria falado mais do que pretendia. No fim, Hazz era um tagarela, mas quando se tem uma voz na cabeça para falar mais que a boca, e a qual não te julgará se disser algo muito estranho, você acabava esgotando tudo só com ela e conseguia parecer menos falante do que realmente era para os demais.

Os Sonserinos ficaram em silêncio, pensando sobre aquilo.

Não era totalmente novidade.

Eles vinham debatendo desde as primeiras noites de Harrison e da Durmstrang no castelo o tema. Desde o dia que o garoto falara na aula de defesa contra as artes das trevas para um nascido entre trouxas sobre os feriados, comprovando que ele nem tinha como saber deles para os bruxos, além de explicando o porque usar o termo que usava para se referir a eles...

As cobras estavam pensando nisso.

Muitos confirmaram que o garoto tinha razão.

Mas parecia que sempre que se dava o trabalho de falar mais sobre aquilo, ele abria uma nova porta, usava uma chave para outra situação e ponto de vista que nunca tinham considerado antes.

E ele era o Lorde Peverell-Potter.

Quantas cadeiras já teria? Theo tinha a resposta, Draco igualmente por causa do amigo...

Nove.

No instante que virasse lorde Black e pegasse as cinco deles, teria nove cadeiras totais com as Peverell-Potter.

O maior lorde da câmara dos lordes e do Wizengamot.

Se ele levasse esses ideais para o ministério, não seria justamente ele o mais capaz de realizar mudanças? O que ele dizia não podia mais ser simplesmente ignorado. Nem mesmo apenas escutado.

Teria de ser considerado como um possível futuro das políticas bruxas. Mas... seriam da luz?

Esse pensamento aos poucos foi varrendo os alunos.

Harrison era um bruxo das trevas, admitira isso mais de uma vez, sua posição era em prol da religião pagã e tradições antigas bruxas, mas então a inclusão dos nascidos entre trouxas?

Fred e George piscaram, alheios aos pensamentos mais formais dos colegas de verde:

- Uau.

- Eu não tinha pensado nisso – comentou George. – Ironicamente dissemos algo assim sábado mesmo...

- Como assim? - perguntou Hazz.

- Tivemos uma briga sobre a proibição de livros e as artes das trevas em Hogwarts com Hermione – lembrou Fred coçando a cabeça.

Agora Theodore engasgou de verdade:

- Como disse? Artes das trevas? Que tipo de briga?!

Ele não parecia o único curioso, quase todos olharam para a dupla que nem ligou para a atenção.

- Estávamos dizendo que Hogwarts não explica nada que nos faça realmente poder aprovar ou desaprovar a magia sombria - explicou Fred. - Hermione insistia que se é proibido é porque há um motivo.

- E conseguimos não comentar de que não tem nada proibido nessa escola que nós dois não nos disponhamos a fazer se quisermos, porque o ponto não era esse. Ela insistia que é perigoso, instável e arriscado sem necessidade, mas uma vez que os conhecimentos se resumem a isso: artes das trevas são ruins, mas não se dão ao trabalho de nos dizerem porquê seria, se literalmente existe uma escola que está conosco agora e nada indica que seja assim tão maligna, então não parece realmente que o problema está nas artes das trevas. Mas o sistema nos impedindo de ter um conhecimento específico e sem nos oferecer uma motivação plausível. O foco dos nossos problemas então deveria ser entender o que o sistema ganha nos privando de uma área inteira da magia que é válida para uma dezena de países a fora e só os que nos envolvem parecem desprezar. Mas veja só, nem podemos ir a fundo nisso, porque de novo o conhecimento está limitado e impedido, então se torna difícil para a população questionar sem ser tachado de bruxo das trevas mal. Não dê as respostas e diga que perguntar é errado: receita para manipulação.

- Mas acho que tudo que dissemos entrou por uma orelha dela e saiu pela outra, então... – comentou Fred rindo e se apoiando no ombro do irmão. – Não é como se não tivéssemos tentado.

Houve um silêncio chocado e perplexo por parte dos Sonserinos enquanto Hazz sorria e Viktor mostrava sua mão para os gêmeos:

- Gostei de vocês, bons argumentos.

Os garotos bateram suas mãos com as do búlgaro.

- Dá para fazer isso de novo um dia que nosso irmão esteja olhando para podermos usar contra ele? – questionou Fred e os da Durmstrang riram.

- Claro – concordou o apanhador.

- Peverell – chamou Adrian. – Primeiro Neville Longbottom falando sobre a religião pagã e agora os Weasley defendendo artes das trevas? Você quebrou a Grifinória!

- De nada? – perguntou sem tirar a atenção do seu prato enquanto os colegas riam de sua resposta. – Peverell-Potter – corrigiu. – Ou só Potter. Não vamos fazer Draco ter que arrumar todos os Bottons – brincou tirando mais risadas de todos.

- Então você virou mesmo o lorde Peverell? – comentou George. – Estávamos na dúvida sobre essa fofoca.

- Eu sou.

- A propósito... Vamos roubar sua ideia Malfoy – disse Fred, que era quem estava com o button agora. – Mas vamos apoiar sua alteza. "Apoie..." – pensou então fez careta. – Não sei o que escolher, vieram muitas ideias. "Apoie Harry muitos nomes..."

Hazz fez uma careta e um bufo.

- Esse! – apoiou Ivan provocativo.

- "Apoie o príncipe" – sugeriu Goyle. – Que foi? - perguntou quando alguns o encararam.

- Não sei o apoie, mas Diggory acho que seria bom "O texugo não vai dar nem para petisco" – ofereceu George e os dragões riram em concordância.

- Vão ficar contra a escola de vocês meninos? – perguntou Hazz.

- Nós dois apoiamos quem tem a maior chance de vencer - respondeu Fred.

O de óculos riu animado:

- Obrigada meninos. Mas esse comentário foi bem sonserino, na minha humilde opinião.

- Não gostamos do Cedrico também. Ele ganhou da Grifinória no quadribol ano passado.

- E nós ganhamos de vocês nos outros – comentou Draco. – Sem contar a taça das casas.

- Mas não é um de vocês que está competindo – retrucou Fred cheio de cinismo. – Não é uma cobra, é um dragão. Muito mais forte que vocês, peçonhentos.

- Ainda um réptil – lembrou Hazz astuto e os gêmeos riram, lembrando-se do apelido de maroto do garoto.

- E ele é um sonserino – acrescentou Draco firme. – Foi selecionado – e seus colegas concordaram.

- Então porque não estão torcendo por ele?

- Porque Durmstrang ficará com a glória, não nós! – exasperou-se revirando os olhos. Qual era aquele gêmeo? Era oficialmente o mais irritante. – Vocês são tolos?

- Tolo é quem acha que Cedrico tem chance contra sua alteza - disse Fred mostrando todos os dentes. – A frase do Krum a gente mantêm.

- Com certeza – concordou Ivan.

- Vocês tem noção de que isso é indecente né?! – reclamou o búlgaro.

- A maldade está nos olhos de quem vê – disseram Fred, George, Ivan e Axek ao mesmo tempo e no mesmo tom de voz, todos olhando com sorrisos sacanas para o búlgaro.

A situação foi estranha o bastante para as duas duplas pararem e se encararem.

- Eu não sou precoce! – reclamou Krum frustrado.

- Só fica incomodado quem a carapuça serve – disseram Fred e Ivan e tornaram a se encarar em seguida.

- Não que estejamos reclamando – acrescentou George – Ganhamos uma aposta por causa disso. Só falta nos pagarem.

- Eu to reclamando! – resmungou Ivan para o amigo. – Eu perdi uma aposta, você vai ter que me pagar!

- Ivan, vai se fod... – mas não terminou o palavrão, escolhendo apenas bufar.

- Ih! Até a frase ele termina antes dos finalmentes! – disseram Fred, George, Ivan e Axek de novo no mesmo tom de deboche.

- Ai credo! - espantou-se Heinz. - Eu vi duplicado! - e ele parecia aterrorizado.

- Quadruplicado, você que dizer – comentou Cassius sentado ao seu lado, uma expressão igualmente perturbada no rosto.

Fred e George se entreolharam, o mesmo para Ivan e Axek, com as sobrancelhas e cenho franzido, então os quatro se viraram uns para os outros novamente e os Weasley levantaram a mão esquerda, enquanto os estrangeiros a direita cada.

Os quatro arregalaram os olhos e riram.

Estavam acostumados a ter alguém que dividia o mesmo neurônio, mas achar outra dupla com pensamentos muito parecidos foi engraçado.

- Isso soou como as trombetas do Ragnarok, para mim – dramatizou Heinz, mas enquanto alguns riam de seu exagero, o trio de jogadores Adrian, Cassius e Graham internamente concordavam com um péssimo pressentimento.

- Enfim, o que importa é que eu voto em sua alteza para campeão do torneio tribruxo! – disse Fred esfregando os cabelos de Harry que apenas continuou comendo, mas sorriu.

Esses nem precisavam de nada para criar intimidade.

Eles a davam.

Sorte que gostava da dupla.

- Ei, Forge! Não saia bagunçando o cabelo dos outros assim, vai que o lorde Potter se incomoda! – brincou George.

O de olhos verdes encarou o gêmeo e abriu um sorriso mais largo:

- Eu tenho uma boa lista de respostas para dar para isso, Gred, mas nenhuma é adequada para se dar numa mesa de lordes, então me lembre depois, sim?

Os gêmeos riram e Hazz apenas se voltou para seu prato.

- Nos vemos depois então?

- Te esperamos, alteza.

- E podem me fazer um favor?

- Dependendo do favor... – brincou Fred.

- Então tem algum que eu não consiga de você, mesmo que peça com jeitinho, Fred? – questionou com uma voz mais dócil que o normal, piscando os olhos.

- Você tem um ponto – o garoto entrou na brincadeira e George estalou os lábios.

- O que seria?

- Nada demais, apenas poderiam dizer a senhorita Granger que tenho um total de cinco elfos sob meu poder, no momento?

- COMO É?! – alguns da mesa se exasperaram.

- Você tem cinco elfos domésticos?! – questionaram Fred e Draco ao mesmo tempo, totalmente espantados.

Apesar de ambos terem feito careta um para o outro quando perceberam o sincronismo.

- Você está brincando né? – perguntou Theodore.

Ter um elfo doméstico já era muito. Ele só tinha um.

- Não, não estou brincando. São quatro da família do meu tutor e também tem o elfo dos Black, que já me obedece bem mais do que à Sirius sob as ordens dos quadros da casa. Totalizando cinco que respondem a minhas ordens. Eu imagino que se vocês dois disserem isso à Granger, logo terei uma visita sua para conversar sobre esse tal de F.A.L.E...

- Mas porque você iria querer uma coisa dessas?! – questionou Fred exasperado e os sonserinos tiveram que concordar.

- Quero ouvir quais são os argumentos dela e o que está propondo – e sacudiu os ombros. – Uma espécie de curiosidade, não liguem para isso. Só passem informação, se for possível, sim? Enfim, preciso comer antes que minha chanceler se irrite, não quero isso.

Luna apenas sorriu.

Os Weasley ainda se entreolharam surpresos antes de se despedir para ver depois.

Foi uma distração bem vinda para a cabeça de Harry.

- Já estava achando que íamos convidar ainda mais pessoas para a nossa mesa comunitária – brincou Theodore e Pansy lhe deu um chute por baixo da mesa. – Ai, ai! Mas de novo!

- Mesa comunitária? – perguntou Hazz.

- Nada não! – respondeu Draco no ato.

-x-x-x-

A conversa com os gêmeos não foi fácil.

Mesmo que tivesse começado bem.

Os três se encontraram no corredor e ocuparam uma sala vazia, após colocados os devidos feitiços de silenciamento e demais que protegeriam a conversa, sentaram-se numa mesa e discutiram o contrato que Harrison havia proposto a eles.

Avaliaram algumas cláusulas com mais detalhes, questionaram uma delas, mas no fim nem exigiram nenhuma modificação. Pareceu justo para todas as partes. Hazz ofereceu que conseguissem um advogado ou que seus pais lessem, mas eles recusaram. Os pais não aceitariam que eles trabalhassem, mesmo que fosse apenas para produção de poções, provavelmente pela natureza sigilosa até demais do contrato.

"Mas daí vocês não deveriam suspeitar exatamente por isso?" perguntou Harrison.

"Se quisermos podemos quebrar quando quisermos" explicou Fred "Mamãe não aceitaria isso, mas nós sim. Ela também não te conhece".

"Mas vocês conhecem?" questionou com um sorriso e inclinando a cabeça.

"O bastante para confiar nisso. O bastante para sentir que estamos tomando a decisão certa ao te ajudar com algo como sua própria saúde" explicou George, encarando diretamente o verde dos olhos de Harrison. "Você obviamente estará precisando confiar em nós para nos pedir algo assim, é uma fraqueza, você é famoso e o mundo não é o lugar mais seguro. Não somos idiotas de pensar que você não precisa se precaver ao máximo e você nem tinha trocado palavras direito conosco antes de vir pedir ajuda. Mesmo com o contrato, é delicado, fica claro pelas cláusulas específicas. Você tem uma escola inteira que estaria disposta a te ajudar, mas veio até nós. Foi por algum motivo, algo te fez acreditar que seríamos a melhor opção. Queremos descobrir o porquê e..." olhou para Fred para confirmar, o irmão acenou "Queremos ter sido a melhor escolha mesmo. Gostamos de você, alteza. Gostamos das coisas que você diz e apoia e queremos saber mais, conhecer mais, essa é nossa chance".

"Ninguém coloca muita expectativa em nós" continuou Fred. "Mesmo nossos pais, ou nossos amigos, quase ninguém leva a sério o que gostamos de fazer ou o que somos capazes. As pessoas confiam em nós, mas não acreditam que iremos muito longe. Somos constantemente comparados com irmãos 'perfeitos e cheios de futuro' e o futuro que nós queremos é desacreditado ou simplesmente todos assumem que não pensamos no futuro. Que não queremos nada com nada, que não crescemos, que somos só crianças" deu de ombros, crispando os lábios "Você acreditou o completo oposto. Você... obviamente está nos dando algo muito sério sem nem piscar. Sua preocupação é se nós estaremos confortáveis com isso. Não se seremos capazes. Nisso você acredita e é muito mais do que a maioria pode oferecer".

"É uma fé que não recebemos a anos dos outros".

"Queremos mostrar que somos capazes. Se ninguém nos leva a sério..." começou Fred.

"Você levou" encerrou George. "Queremos tentar. Queremos conseguir. Queremos entender mais do mundo e sabemos que você claramente está disposto a mostrar. A falar e mudar as coisas. Se tudo der certo, você terá novos aliados, suas poções e nós, algo pelo qual realmente concordamos que vale a pena lutar. Não uma carreira qualquer para agradar nossos pais".

"Nem algo que todos dirão que é tolice e desacreditarão até o último minuto, até que realmente dê certo, isso se der de primeira e não tivermos eu tentar de novo e de novo".

Hazz sorriu e virou o contrato para eles:

"Vocês definitivamente eram o tipo de pessoa que eu estava procurando. Tenho certeza que farão grandes coisas, só precisavam de apoio. Eu darei isso e vocês me darão também. Não é apenas um negócio, se fizerem isso, se continuarem comigo, serão parte da corte, então serão meus amigos. Minha família. E farei de tudo para que alcancem seus objetivos".

"E nós faremos por você em troca. É assim que funcionam os amigos" respondeu Fred, colocando o braço por cima do irmão e juntando suas cabeças em sorrisos idênticos.

Por fim, assinaram.

Harrison concordava em pagar trezentos galeões aos gêmeos se fizessem a poção que queria. Se obtivessem sucesso, ele pagaria o mesmo valor por outra dose e faria mais encomendas. Eles eram seus pocionistas oficiais. Mas o contrato, é claro, estava repleto de cláusulas de sigilo cliente e fabricante/farmacêutico. Desde os ingredientes, origem da poção, modo de preparo, objetivo da poção, etc.

Eles ainda mencionaram novamente sobre as promessas anteriores de Hazz, que concordou que sim, eles também passariam a falar dos artigos pessoais dos meninos. Bastava que fizessem um projeto ou protótipo e, se o Potter gostasse, ele financiaria várias encomendas. Os lucros seriam divididos de acordo com cada projeto levando em conta tempo, trabalho e valor investido em capital inicial, para que sempre fosse algo justo e Harrison concordou empolgado com a ideia de uma loja de logros, uma vez que só existia uma em Hogsmeade e seria bem-vindo algo que tivesse novidades para a diversão dos jovens e, se possível, no beco diagonal.

Só teriam que ver a recepção disso com os alunos de Hogwarts, mas Fred e George ficaram muito felizes e quase emocionados que alguém realmente gostara da ideia e não a desprezara logo de cara. Pelo contrário, viu como uma oportunidade de negócio que traria diversão às pessoas, ao mesmo tempo que lucro e uma carreira da qual realmente gostariam de seguir.

Hazz parecia verdadeiramente empolgado com a ideia de abrir um negócio tão inusitado em sociedade:

"Acho que o mundo precisa de mudança e ideias diferentes que oferecem isso. Temos que tentar!" e sorriu.

Foi naquele momento que George sentiu algo estranho na barriga, que preferiu ignorar. Provavelmente era a expectativa.

Pois dali em diante o tema voltou a pesar.

E desceu até o fim do poço.

Harrison não tinha lhes dito tudo, mas os dois não eram tolos. Quando contou qual era seu problema de saúde e lhes mostrou... eles entenderam.

Teve até a impressão de que eles já imaginavam algo do tipo, pareciam surpresos apenas que as coisas tivessem ido tão longe.

Quando entregou os diários de Gellert Grindelwald e pediu para que tivessem a mente aberta, pois o lorde das trevas, pai de seu vice-diretor, foi o único a realmente financiar poções e tratamentos para o dano feito por trouxas, sejam em armas, fogo ou todas as cicatrizes de Harrison tinha, os meninos nem piscaram para a informação.

Meramente, Fred sussurrou:

"É por isso que você estuda na Durmstrang?"

Hazz concordou e soube que eles logo juntariam os demais pontos.

Então porque esconder?

Eles tinham um contrato, seriam os primeiros amigos com algo assim. Harry precisava desesperadamente que a poção fosse boa e o que poderia garantir melhor a lealdade de dois grifinórios que a sinceridade e um pedido de ajuda para salvar alguém?

Deu-lhes, portanto, suas memórias.

Memórias bem mais detalhadas até do que as de Sirius ou Remus. Sobre os tios, tudo no orfanato.

E a estação de trem.

Assim como previsto no documento, depois que vissem aquilo, poderiam ir embora, desistir de ajudá-lo se acreditassem que não conseguiriam aguentar e suas memórias apenas seriam apagadas. Ao assinar a quebra do documento.

Foi um salto de força que nem soube ao certo porque estava dando.

Mas seus instintos diziam para fazer aquilo, que para ter aqueles dois se abrir era a melhor resposta e caminho, então como um bom Grindelwald ouviu seu interior, mesmo que não fizesse completo sentido.

Se fossem médicos contratados para aquilo, Hazz teria que contar da mesma forma, sem contar que o contrato seria unicamente baseado no esquema de ética médica mágica, o que era apenas metade tão rigoroso quanto o acordo com os gêmeos, mas nem por isso foi menos difícil deixar a caixa de frascos de memórias com George Weasley e uma explicação detalhada de como achar a sala precisa, então ativá-la para conseguirem uma penseira.

"Desejem uma lareira e queimem isso tudo quando acabarem, ainda tenho as minhas comigo" sugeriu.

Ele precisava que fosse assim, para que compreendessem a importância daquilo tudo. Se não ficassem perfeitas... o problema seria gigantesco. Hazz tinha um bom controle, mas não era perfeito. Sabia disso.

Além de tudo, ainda era uma poção não oficial e nem registrada, o que a tornava experimental, com ingredientes que nem sempre eram legais de se conseguir e, de novo, explicar pareceu-lhe melhor que mentir.

Os fins justificam os meios?

Essa frase era bizarramente tão certa quanto errada.

Talvez um acréscimo?

A que fins estamos nos referindo?

Hazz queria apenas um remédio, que nunca precisaria se o mundo não fosse cruel, o governo negligente e as pessoas relapsas. Absolutamente mais nada viria disso, então parecia válido, não?

Nem queria a resposta.

Para ele bastava.

Junto dos mesmos diários de pesquisa de Gellert com a receita, também haviam as explicações, com detalhes, para a escolha de cada ingrediente, que efeitos outros antes daqueles tiveram e o que queria alcançar a cada passo. Não se importava que os meninos mudassem a fórmula, se conseguissem pensar em algo igualmente válido. Hazz forneceria o que lhe pedissem para ajudar.

O importante era o resultado.

Não quis estar presente para ver a reação deles às memórias. Luna disse que não tinha com o que se preocupar, que "os demônios seguiram a morte e o caos", mesmo assim não era uma experiência que ele não preferiria evitar tendo essa escolha.

Se fosse doloroso demais para os Weasley assistir, não queria ver em seus olhos esse fato.

Se desistissem de se envolver, não queria atrapalhar a conversa que teriam para chegar a essa conclusão.

Nem impor de alguma forma sua necessidade acima das vontades dele.

Para estar com Hazz sempre seria assim: uma escolha. Tinha de partir totalmente deles. Teriam que querer ajudar.

Mas tinha que admitir, não era apenas para dar privacidade aos meninos, Hazz não gostava dos olhares de pena das pessoas.

Tudo isso, fez o pouco de leveza que havia conseguido no almoço sumir.

Harrison tornou a ficar inquieto. Irritadisso e preocupado, enquanto seguia para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Decidiu, por algum motivo que nem sabia ao certo, outra vez abrir o mapa para procurar Neville. Ele estava nas masmorras e...

Aparentemente falando com Draco?

Estranho...

Aquilo não pareceu um bom sinal. Ainda mais que Draco estava inquieto com alguma coisa. Hazz teve, na verdade, um pressentimento bem ruim, mas foi interrompido quando ouviu uma voz:

- Falando com Pontas? – perguntou Sirius se aproximando e olhando o pergaminho com carinho e um brilho nostálgico.

Harrison o encarou com um sorriso educado:

- Não. Apenas vigiando Neville.

- Falando nele - olhou para os lados, com um suspiro. - Está ocupado? Precisava lhe contar uma coisa...

- Tenho aula agora. Se for sobre...

- Aqui não – avisou firme, porém baixinho, em um sussurro decido que foi o bastante. Hazz se calou. – Não está ocupado? Que ótimo! – disse um pouco mais alto. – Me acompanha então?

- Claro - concordou apesar de estar com uma expressão bem confusa. O padrinho agora seria outro fator estranho no dia?

Sirius indicou o fim do corredor e Hazz acenou, seguindo por aquela direção.

- Não se preocupe, posso assinar um aviso para Moody informando que você estava comigo, por isso se atrasou - comentou Sirius.

- Isso seria usar seus poderes como professor para ajudar um aluno a cabular aula - brincou, entendendo que era melhor apenas entrar no teatro. - Péssima influência, professor Black.

- Eu nunca disse que era uma boa influência! - respondeu no ato e Hazz riu.

Os dois mantiveram uma caminhada calma e ritmada, juntos foram até um espaço aberto da escola, havia uma fonte por lá e o animago sentou-se nela. Harrison tomou o lugar ao lado em seguida.

- Eu... - começou o menino, mas foi interrompido.

- Aqui tem um total de vinte janelas que dão visão mais que suficiente para nós, exceto por esse exato ponto em que estou. Ele é o único totalmente cego, fiz várias marcas na fonte para conseguir achar isso. É por causa da água e da estátua da fonte, então se eu mexer pouco meus lábios, dificilmente alguém poderia escutar o que digo e passar informação. Por ser um espaço aberto, o som não propaga tanto, não chega aos corredores, não faz eco, não mais que a água ou o barulho do relógio que daqui a pouco toca. Mas o melhor é nunca ficar muito seguro aqui em Hogwarts.

Hazz arregalou os olhos espantado, olhou para onde estava e realmente reparou que haviam várias pedrinhas espalhadas, pretas que contrastavam com o branco do mármore. Era assim que Sirius tinha feito as marcações? Porque fez tudo aquilo? Encarou o padrinho, esperando que ele dissesse mais alguma coisa.

- Estou mapeando a escola de novo - explicou Sirius. - Mas dessa vez, não vou fazer para identificar pessoas e passagem secretas, mas sim perceber segredos novos sobre a escola. Comecei a perceber coisas como essas. Muitos na minha época vinham aqui para dar uns amassos escondidos - confessou aos risos. - Eu ficava observando com seu pai e julgávamos o desempenho dos beijos de "isso com certeza saiu babado, zero nele", até "que pegada! Esse até eu quero, dez!" - o animago sorriu ao ver o afilhado rir daquilo.

- Você e meu pai eram dois desocupados.

- Éramos sim - concordou o mais velho. - Eu amava isso. Como aqui em Hogwarts eu podia ser um desocupado, despreocupado e tinha James para tornar até as coisas mais idiotas, divertidas - comentou cheio de afeto. - Mas não te trouxe aqui para falar de mim e seu pai. Isso era a visão que eu tinha como aluno. Meu ponto é que percebi que, do ponto de vista dos professores, podemos igualmente observar das janelas para pegar todo tipo de casal aqui, mas olhe em volta.

Hazz obedeceu. Observou seus arredores por um tempo e abriu a boca surpreso:

- Não estou vendo tantas janelas! Mas você disse que...

- Aparentemente há uma ilusão. Eu disse, são vinte, mas da fonte e de boa parte dessa área aqui embaixo, só vemos umas quatro que dariam visão. Ou seja, quem está aqui, pode acreditar que está num ponto cego, existe uma falsa ilusão de privacidade. Mesmo as janelas ainda visíveis, nenhuma parece direcionada para cá, mas quando você está numa delas, a história muda. Elas estão para cá, sabe como não notamos quando passamos no corredor?

Hazz encarou as torres, pensando sobre o assunto, tentando se lembrar de algum momento que passou por aqueles corredores, então lhe veio a ideia:

- A altura?

- Perfeitamente, meu prodígio - parabenizou esfregando a cabeça do menino que nem se deu ao trabalho de reclamar. - As janelas são muito mais altas, ficam quase no fim do pé direito do teto, o que faz com que, ao passar, só notemos a luz que vem delas. A maioria é assim. Ainda existem umas duas que são normais, mas aparentemente escondidas por magia. Provavelmente não notamos esse fenômeno pela forma mecânica que levamos as coisas, passando pelos corredores, não raciocinamos todos os ângulos que a fonte poderia ou não ser vista, para notar que há uma janela faltando quando estamos aqui.

- Imagino... Mas então, por que esconder janelas por magia?

- Por que, não é mesmo? Tem alguns truques que os professores me ensinaram, esse foi um dos primeiros - comentou com um sorriso.

- Então é para poder realmente enganar os alunos e vigiar se estão fazendo coisa errada?

- Em teoria, foi o próprio Godric que planejou isso, mas para conseguir vigiar possíveis ataques inimigos sem que percebessem que estavam sendo vistos. É uma forma de enxergar os terrenos, não só essa área. Eu, entretanto, decidi verificar isso mais a fundo, então notei a história do som, até onde alcançava e também... As janelas que estão em alturas diferentes, elas igualmente estão escondidas. Se é para um professor ou algum bruxo ver por elas, não faz sentido, não acha? Quer dizer, estão muito acima do nível do chão, teríamos que estar voando para ter essa tal "visão estratégica" que o Godric quis oferecer. O que, por si só, parece uma tremenda tolice, já que ele teria que se dar ao trabalho de conseguir olhar por elas antes de notar um inimigo. Aí chegamos na melhor parte.

- Que é?

- Os quadros.

- Os quadros? O que - seus olhos arregalaram. - Eles podem ver por essas janelas?

- Alguns estão literalmente de frente para elas. Ficam...

- Em cima das estátuas! Num desnível do teto! Eu já reparei antes! Então eles...

- Literalmente estão nos vigiando - Sirius sorriu. - Entendeu agora? Bem, é claro. Estão vigiando a você. Eu estou no ponto cego. Outra: no corredor do quinto andar, terceira janela à esquerda, está vendo?

- Sim.

- Tem um quadro em uma parede de teto semi-vertical no instante que a torre começa a se afinar. É uma retangular, fina, com alguns animais, mas considerando que quadros podem viajar entre si - deixou a frase no ar.

- Ele tem a visão ideal daqui?

- Em um ângulo estratégico até demais - concordou parecendo bem empolgado com a descoberta. - Sabe, Dumbledore ouviu uma conversa minha esses dias. Grande erro ter me dado provas de que ouviu, porque não haviam quadros na hora que tive essa tal conversa, nem pessoas. Então fiquei curioso com isso e comecei a notar fatores assim espalhados pela escola toda. Não só isso, foi um erro me vigiar. Odeio que invadam minha privacidade, uma vez que já sou uma pessoa bem aberta. Você já deve ter notado, eu exponho bastante minhas opiniões, pensamentos e até emoções.

- Isso é verdade.

- Porque concordou em tom de acusação? Está querendo dizer alguma coisa?

- Não nada - mas riu travesso.

- Como Thomas te chama, mesmo? Pirralho?

- Pestinha, às vezes.

- Marotinho?

Hazz sorriu e baixou a cabeça:

- Reptile.

- Como?

- Reptile - repetiu, encarando o padrinho. - Esse é meu nome de maroto. Reptile.

Sirius ficou um tempo em silêncio, encarando o rosto de Harrison.

Ele tinha o formato de James, feições delicadas dos Black (que lembravam até mesmo Regulus), os olhos de Lilian, o cabelo dos Potter, mas brilhava em sangue com a luz da tarde.

Algo de Harrison.

Ele era uma mistura das belezas das pessoas que Sirius mais amou e, com isso, formava algo único e especial. Era lindo. Seu afilhado...

- Reptile - repetiu, baixinho, como se estivesse testando o som em seus lábios. Depois, gradativamente, sorriu com todo o rosto, cheio de afeto. - É perfeito, alteza. Para o príncipe entre os dragões e o lorde das cobras.

Hazz sentindo-se, de repente, um pouco tímido. Desviou o olhar para as torres e observou uma coruja passar ao longe:

- Os marotos também gostaram. Luna que ofereceu.

- Não preferia ter escolhido?

- Eu gastaria muito tempo pensando e escolheria algo baseado em simbolismos complicados e para impressionar. Não seria tão natural quanto...

- Um apelido deveria ser? - questionou certeiro e riu. - Você tem razão. Apelidos devem ser dados por nossos amigos, aqueles que nos conhecem melhor. Almofadinhas, de certo, não seria algo que eu escolheria, mas Pontas me deu e guardei com carinho. Para sempre. Quero na minha lápide, a propósito, nada de Sirius Orion Black.

Harrison não conseguiu conter a risada alta que saiu:

- É seu nome!

- Pelo menos tire o Orion então. Sirius, abre parênteses, Padfoot, fecha parênteses, Black. Um perfeito gostoso, 3 de novembro de 1959 à... Não sei, daí você descobre daqui vários anos - o menino continuava rindo, ainda mais quando o padrinho tentou fazer o movimento de jogar os cabelos e, ao que parece, se lembrou só aí que agora estava curtos e pareceu bem decepcionado com isso.

Se sua careta era um indicativo e não apenas algo extremamente engraçado de se ver.

- Certo. Vou me lembrar disso.

- Estou falando sério. "Grande gostoso" tem que estar na pedra. Ou eu volto para te assombrar!

- Pode deixar, peguei o recado.

- Ótimo.

Ambos se encararam por um instante, depois sorriram, então riram juntos. Hazz virando o rosto, Sirius tapando a boca.

- Enfim, como eu ia dizendo. Dumbledore me fez notar que, talvez, nossas conversas e nossas vidas estivessem mais bem vigiadas nesse castelo do que o que pensamos a princípio. O que é ainda mais preocupante, se levarmos em conta todos os desastres que acontecem por aqui. Dando um desconto, não tem como saber as fofocas de todos os quadros e o tempo todo, mas ainda sim, você mesmo disse: eu invadi isso aqui ano passado e ninguém chegou perto de me pegar! Então comecei a procurar coisas assim. Ontem de madrugada, por exemplo, fui até uma torre e fiz um showzinho, além de que peguei vários detalhes.

- Detalhes? Show?

Sirius sorriu e começou a explicar o que acontecera na noite anterior, mas principalmente, contou sobre onde Snape o achou.

Aquela área do castelo! Ah!

Sirius já tinha mapeado completamente até Snape, e depois Minerva, o acharem. Então foi a oportunidade perfeita. Quase um acaso grande demais.

O Black, antes de ser interrompido, havia conversado com o quadro que ficava sozinho por lá e fez testes, vários deles. Dumbledore tinha mania de escutar as conversas pelos quadros?

Que escutasse. Tudo! Cada palavra dita, mas meticulosamente escolhida. Sirius usaria o próprio jogo sujo dele, contra o velho gagá, só precisava garantir que não notassem que ele sabia, então teria vários palcos armados só esperando por sua apresentação.

O espetáculo de hoje: Sirius Black, o perfeito grifinório.

- Aquele corredor em que estávamos parecia não ter quadros direito - contava Sirius a Hazz. - Um ponto cego no castelo, mas não era de verdade. Os ângulos das janelas, o eco no corredor, a distância de um quadro para o outro, tudo... criava uma falsa sensação de privacidade que engana, assim como aqui. Mas ainda pior, se quer saber minha opinião, pois não usa magia, não é rastreável. Usa o próprio lugar como arma. É possível, por exemplo, assistir onde eu, Snape e Minerva estávamos da outra torre mais a frente, perfeitamente se quer saber. Justamente pela janela da nossa torre ser muito grande e de vitrais sem cor, já a janela da outra torre tem vitrais coloridos, vermelhos, verdes e azuis, que não impedem a pessoa de enxergar por ele, mas disfarça o próprio quadro do busto de um bruxo que está parado bem ali.

- Olhos grandes... – sussurrou Harry.

- Exato! – sorriu o animago. – Da torre em que estávamos nem se vê o homem, mas ele tem olhos gigantes para o que estávamos fazendo. Bastou que eu tentasse deixar os meus gestos o mais amplos que conseguisse. Mas ainda tinha o som. Lá, também era possível escutar até o fim dos corredores qualquer conversa, mesmo que baixa, por causa do eco, mas isso só a noite, quando o local fica silencioso. De dia, você vai preferir escutar pelo corredor de baixo.

- Corredor de baixo? Como eu escutaria de um andar para o outro?

- Saída de ar - explicou com um largo sorriso.

- Sério?!

- Atrás de duas estátuas. A passagem é minúscula, mas para som, isso ela permite com exatidão. Fiz um feitiço para uma bola ficar quicando no corredor enquanto andava em volta – o lorde puxou uma bolinha de plástico do bolso, acertando-a no chão. Fez pouco barulho. – Eu ouvia melhor no andar de baixo do que agora de frente para ela, entende? Tudo era estranhamente calculado demais, para um ponto cego falso.

- Isso é incrível! – Harry comentou, realmente impressionado. - Você descobriu tudo isso num intervalo de menos de vinte e quatro horas?

- Sim - acenou, de repente puxando ar, como se precisasse inspirar bem antes de continuar. - Sei que você não estuda aqui, Harrison. Então pode não ser muito útil. Igualmente sei que você não quer que eu seja obrigatoriamente útil. Você só está me dando uma chance de ser padrinho, que foi onde falhei anos atrás. Mas eu quero ser útil, porque isso faz parte de ser padrinho de alguém que claramente é ambicioso como você. É poder ajudá-lo a alcançar seus sonhos, sejam quais forem. Essa descoberta dos corredores e quadros não lhe servirá tanto, talvez até nada, mas vai para mim. Você já não estava querendo me usar mesmo – riu, colocando os braços atrás da cabeça e se inclinando um pouco para trás. Brincando com o peso do próprio corpo contra o risco de cair na água. – Vou tentar terminar esse novo mapa logo, então talvez ainda possa aproveitá-lo um pouco, enquanto isso, vou usar esse recurso para fortalecer minha imagem de velho Sirius, cachorrinho treinado e confiável. Vou latir onde sei que Dumbledore vai escutar, uivar como ele quer que eu uive e conquistar sua confiança. Vou conseguir o máximo de informações que me for possível da luz e, se um dia você as quiser, lhe darei de bom grado - encerrou, encarando diretamente o afilhado.

- E se eu nunca quiser? - perguntou inclinando a cabeça.

- Então usarei para meus próprios objetivos. Sabe, eu e Remus estamos com grandes planos agora que sou o Lord Black e tenho voz ativa na política, mas antes, eu preciso aprender a jogar o jogo dessas pessoas que já estão lá a mais tempo. Uma droga que eu não tenha prestado atenção às aulas dos meus pais, mas tudo bem, eu faço do meu jeito.

Harrison sorriu, olhou para a fonte e colocou a mão na água, brincando com ela. Estava gelada, mas isso não o incomodava.

- Eu e Lakroff podemos ajudar também, se quiser.

- Eu adoraria aprender com os melhores.

O sorriso do menino aumentou.

- Essa escola tem mais ouvidos do que se pensa - comentou baixinho.

Ele se lembrou do dia que Ivan e Luna o ajudaram com a armadilha para Moody e o teste das capas de invisibilidade.

Será que algum desses olhos pela escola tinha visto? Quadros, ângulos, som...

Harrison duvidava, entretanto.

Não querendo ser arrogante, mas não estava sozinho. Eram ele, Luna e Ivan. Luna, que tinha os Nargles e Ivan, com sua astúcia e dons naturais para perceber olhos e ouvidos onde ninguém mais via. Um verdadeiro espião treinado por seu pai. Então Harrison mesmo, com seus instintos que raramente falham. Eram um grupo muito para fazer algo sem serem notados mais do que desejavam.

- Tem um corredor - comentou, mesmo assim. Afinal, o seguro morreu de velho. - Se importa de investigá-lo?

- Só me diga as coordenadas e te trago a situação dele até amanhã.

- Fico grato e... também vou aceitar o mapa novo. Mesmo que eu não use tanto, talvez alguns amigos meus possam aproveitar, entende?

- Partilhe minhas descobertas com quantos marotos quiser garoto – comentou divertido, novamente bagunçando os cabelos alheios, que logo se ajeitaram à sua própria maneira e como queriam na cabeça. Era como se tivessem vida própria e, assim como seu dono, quisessem sempre estar perfeitos, mas espontâneos o bastante para ser natural. – O velho cabelo Potter... - murmurou, sua voz pingando de emoção e afeto. - Eu estava com tanta saudades.

Hazz se sentiu culpado por alguns segundos com aquilo. O carinho intenso de Sirius por James, mas não só isso, por Harrison também (como indivíduo com seus próprios objetivos e forma de agir) o fez pensar em como o tratou nos seus primeiros dias em Hogwarts.

Os dois erraram de sua própria forma.

Agora, entretanto, estavam se dando uma chance. O menino, sinceramente, estava gostando do Black, então poderiam passar por cima disso?

De alguma forma, parecia que sim.

- Você voltou para as roupas trouxas – comentou o de cicatriz de raio.

- São mais úteis para o meu plano.

- Seu plano? De conquistar Dumbledore?

- A imagem do velho Padfoot pode enganar melhor do que Lord Black. Você sabe, grifinório cachorro bonzinho, contra lorde dos corvos negros, bruxos da strevas terríveis! - dramatizou e o afilhado soltou uma risada nasalada.

- Entendo. Muito manipulador da sua parte, senhor grifinório.

- Um leão e uma cobra não são tão diferentes. Soube que dá um belo dragão - comentou e Hazz o encarou espantado que Sirius estivesse usando uma frase de Tom.

Tom Riddle.

Sendo parafraseando por Sirius Black.

"O mundo tem esses momentos interessantes e irônicos, não acha?" comentou a horcrux aos risinhos, o que tirou a mesma reação do garoto.

Sirius assumiu que foi pelo que disse, mas então decidiu que não poderia postergar mais. Harrison precisava ir para a aula.

Ou melhor... em tese ele teria, já que era um aluno, mas semântica!

- Ontem Minerva me contou algo - disse mais sério e o mais novo notou a mudança de tom, se ajudando e encarando com igual sobriedade para o padrinho. - Mas talvez fosse melhor usar um feitiço agora – sussurrou.

Hazz acenou com a cabeça e, sem retirar a varinha ainda, colocou um feitiço de ilusão nos dois, depois puxou a madeira de azevinho e colocou os de silenciamento mais pesados que conseguiu.

- É sobre Dumbledore - contou o Black.

- Que ele leu a mente de Neville?

- Já ficou sabendo?

- Estou me segurando para não o matar até ter todos os detalhes.

- E precisa dos detalhes? – Questionou Sirius e Harry riu. Riu de verdade, como uma arfada de ar que enfim conseguiu soltar. – Não achei que fosse tão engraçado.

- Não é que - riu mais um pouco, fechando os olhos e inspirando para se acalmar. - É uma piada macabra. Nem isso, apenas uma conclusão irônica e macabra.

- Que é?

- É que você entende.

- Eu entendo? Como assim? - perguntou muito confuso.

- Eu acabei de perceber que você provavelmente é quem mais me entende nessa situação. Você é impulsivo quando se trata de vingar seus amigos e perder o foco na raiva. Então esse comentário provou isso, mas também me fez lembrar que justamente isso causou todo o problema que tivemos que passar semana passada e na vida. Justamente, sermos... Iguais? – riu de novo. – Estou tentando ser racional o dia todo! Mas tudo que eu queria era arrombar a porta daquele velho, amaldiçoá-lo e se eu parasse em Azkaban eu ia... rindo - e riu mais.

Uma risada com uma pitada de insanidade.

Bem digna de um Black.

Sirius primeiro ficou perturbado, a culpa ainda estava bem forte em si, mas ver Harrison parecendo achar aquilo tão divertido, ele apenas sorriu negando com a cabeça.

- Boa sorte para tirar uma foto melhor que a minha. Tenho certeza que dei pesadelos em crianças.

A risada de Harrison aumentou e Sirius teve que dar um tempo para o afilhado se recompor. Deu três tapinhas em suas costas para provocar:

- Isso, calma futuro lorde Black, você ainda tem muito chão para derrubar os parafusos que saem da sua cabeça, não faça isso tudo só na adolescência ou vamos ter que te colocar com a prima Bellatrix... Se bem, acho que você gostaria disso, não podem aumentar sua pena em Azkaban se você já pegou a máxima, então você ainda sai no lucro. Dois nojentos pelo preço de uma prisão?!

E as risadas continuaram, tornando-se gargalhadas expansivas, que tiveram até de segurar a barriga.

- Obrigada por isso - Hazz comentou, quando enfim conseguiu recuperar a compostura. - Eu estava precisando.

- Acontece. Sempre a postos filhote, pode me procurar para falar besteiras que te farão rir.

- Eu estou errado?

- Como é?

- Em ficar bravo desse jeito. Em querer matar uma pessoa por ela... ter lido a mente do meu amigo. Em me deixar levar pela raiva. Você se arrepende, não é? Eu não deveria aprender com os erros dos outros?

- Mas você aprendeu menino! Você não fez nada! Por mais que queira! E querer, nós sempre vamos pensar em algum momento da vida que queremos matar um insuportável ou outro, mas acho que é como a magia. Vai de cada um as atitudes que se toma com esses pensamentos. A culpa não é sua por ficar bravo, artes das trevas não são puro mal, é culpa sua se deixar levar até o fim, é culpa do bruxo ir longe demais. Você se conteve.

Hazz mordeu o lábio deprimido.

Ele não se conteve. Tom o deteu.

"Você pararia antes, tenho certeza. Notaria sozinho seu erro, mas não precisou, porque eu estava lá para ajudar" sussurrou a horcrux na sua mente.

Mesmo assim, ele estava se sentindo mal por ter falhado.

- Por muito pouco. Me contive por... quase nada.

- Já é uma mostra de que você é melhor que eu.

- Tom disse a mesma coisa, mas sobre eu ser melhor que ele. Que não preciso tomar as decisões erradas.

- Já falou com ele?

- Eu sempre falo, tenha isso em mente – sorriu.

- Thomas não me pareceu ser do tipo impulsivo - comentou ao vento.

- É porque você não o viu irritado quando algo que ele planejou dá errado. Tom é aquele tipo de pessoa que só se acalma depois que quebra algo... ou alguém – Sirius que riu agora. – Que foi?

- Nada, é só a virada da minha cabeça. Eu realmente consegui imaginar Thomas Harris cruciando alguém durante a guerra, simplesmente por raiva que algum tolo o atrapalhou e, por isso, não conseguira completar o plano de seu mestre. Percebi que essa imagem foi tão... não sei. Ela só - mas não terminou, não sabia como explicar.

- Perdeu o valor que tinha antes? - sugeriu.

- Algo assim – afirmou mexendo a cabeça. – Não acho mais tão horrível como um dia foi pensar em conversar com alguém capaz de fazer isso. Ver alguém ser torturado em si já não era uma imagem perturbadora para mim, mas agora o torturador em si... perdeu o mesmo pavor - então fechou os olhos.

Era estranho. Como Sirius se sentia tão diferente de si mesmo em tão pouco tempo. Mal reconhecia seus próprios pensamentos, de antes de Harrison. Pareciam tolos e ingênuos demais.

Ou falsos.

Até para a própria mente que os forjou.

- Tudo bem? - perguntou Harry.

- Minerva disse que denunciaria Dumbledore se ele não escrevesse uma confissão para Augusta Longbottom ainda hoje - contou.

Hazz arregalou os olhos surpreso.

"Eu disse que ela prestava!" acrescentou Tom e Hazz teve que rir. Aquilo foi dito com tanto prazer. Tinha que ser o Riddle para se sentir tão bem com a frase "eu te disse".

- Não esperava isso da tão famosa mão direita de Dumbledore? – perguntou Sirius. – Porque eu também não. Nem Severo. Nós dois a soterramos de perguntas.

- Mas e então? Acha que ele vai confessar?

Sirius fez uma careta:

- Ai que está. Por isso vim falar com você - bufou.

Ele sabia disso. Mesmo que fosse alguém imediatista, normalmente, não era só o título novo, as roupas que usara antes, ou o cabelo. Almofadinhas tinha mudado. As coisas que ouvia na terapia parecendo enfim entrar na mente, que trabalhava mais rápido agora que...

Não estava mais interpretando um papel para ser aceito.

Estava o fazendo porque queria algo e seu papel, sua máscara, era um meio para conquistar. Ele podia, enfim, começar a conhecer coisas reais em si que antes ignorava.

Só esperava que essa nova versão conseguisse o que queria. Talvez demorasse, talvez não, mas Sirius tinha de encontrar um jeito de estar o mais próximo possível de Dumbledore. Ele era o que tinha a melhor chance de fazer o papel de infiltrado. O menino não tinha de querer ou pedir, mas poderia precisar um dia, o próprio Sirius com seus novos planos em relação aos lobisomens que ele tinha plena convicção de que também faziam parte das jogadas do afilhado.

Entretanto, tendo esse pensamento de conquistar a cabra velha na noite anterior, o animago acabou conseguindo um avanço...

Que mais parecia dois passos para trás.

- Minerva acabou de sair do meu quarto - contou ele. - Por isso vim te ver. Ela e Severo apareceram. O que acontece é que, nesta tarde, um pouco antes do almoço e durante o começo dele, Dumbledore chamou Neville para sua sala. Eu sei! - interrompeu antes que Harrison pudesse dizer algo. - Sei o quão absurdo isso é. O ponto é que Minerva descobriu e interceptou os dois. Ou melhor, ela foi avisada e correu para a sala do diretor para poder interferir.

- Foi avisada?

- Ginevra Weasley. Aparentemente Ron pediu que ela chamasse a professora o quanto antes, então foi obra dos dois.

- Eu dificilmente consigo gostar mais dessa família do que já gosto no dia de hoje.

- Opa, então o catálogo de casamento está aberto? - brincou e Hazz empurrou o padrinho.

- Foco, Black!

- Claro. Primeiro seu amigo, depois podemos voltar a falar do seu contrato de união arranjado.

- Exatamente.

Sirius sorriu, sentindo-se leve, mesmo com o tema delicado. Não podia evitar, ele e Hazz estavam... bem?

Parecia agradável, ao menos. Esperava que o menino sentisse o mesmo.

- Albus estava conversando com Neville quando Minerva chegou. Ela disse que estava pedindo desculpas, se justificando...

- COMO É?! – gritou Harrison se levantando num pulo raivoso, mas quando seu padrinho se encolheu pelo som, sentiu-se péssimo e se forçou a acalmar.

Mesmo com o chiado irritante no ouvido, conseguiu dizer:

- Sinto muito, eu não queria te...

- Tudo bem – interrompeu sorrindo. – É engraçado como alguns me assustam e outros não, mas não é por nada, você soa como minha mãe quando está irritado – zombou e Hazz estreitou os olhos mau humorado.

- Tom chama sua mãe de Banshee - contou cruzando os braços.

- Somos uma família de Banshees, eu acho - consolou divertido. - Os Black, quero dizer. Você, como futuro Lorde, não podia ficar para trás. Então voltando ao tema, eu sei, fiquei tão indignado quanto você. Minerva também. Quer dizer, Dumbledore chamando alguém que ele violou para sua sala, sozinho, criando um cenário igual à última situação e alegando que só queria se justificar? Não existe justificativa! Nem mesmo legalmente falando, a menos que estejamos falando de risco de vida! Atentados terroristas, ameaça a segurança pública! Não há como alegar isso para uma situação onde estava lendo a mente de uma criança por informações pessoais. Daí, quando tirou Neville da sala, aparentemente Minerva nem se dignou a gritar com Albus. Estava furiosa, frustrada e... acho que magoada também. Chamou Severo e foi para meu quarto, eu tinha ido me trocar porque sujei todo o jeans na aula.

- Porque não trocou no fim do dia?

- Não sei. Acho que não quis ser o Lord Black de roupas trouxas e sujo, ainda por cima. Mas talvez eu deixe na próxima. Enfim, Minerva quis nos perguntar se devia denunciar Albus para o ministério depois disso...

- Claro que tinha! – e manteve seu máximo para seu grito não passar do tom do aceitável.

- Mas Neville quer isso? - perguntou astuto e certeiro.

Harrison fechou os olhos, sentindo o golpe daquela frase. Baixo a cabeça e sussurrou:

- Você tem razão, desculpe de novo.

- Tudo bem. Outra vez eu entendeu seu ponto – sorriu consolador. – Você tem razão, quando você é impulsivo, parece mais comigo. Mas não só eu, é nesses momentos onde você deixa de ser o príncipe certinho e perfeito e passa a ser um dragão rugindo, que eu consigo ver algo do seu pai. Normalmente somos muito diferentes, eu e você, tanto que fiquei preocupado se conseguiria gostar de mim em algum momento. Ter algo em comum sempre ajuda. E pode ser um defeito em comum, mas já conta. Eu acho - coçou a cabeça.

- Desculpe se não fui tão legal no começo - murmurou olhando o chão. Achou que devia dizer isso.

- Eu mereci - dispensou o animago. - Ignore isso.

- Também acho que é bom termos algo em comum - sorriu. - Mesmo que seja um defeito.

- Podemos aprender juntos ou descer até o fundo do poço de mãos dadas. O que acharmos melhor - brincou, retomando o clima mais agradável.

- E então? - perguntou Harry, voltando ao tema. - O que decidiram fazer? Minerva vai denunciar?

- Bem... tirando a parte de que aparentemente eu faço parte do grupo íntimo de Dumbledore, com Minerva e Snape...

- Mas para falar mal dele - apontou inclinando a sobrancelha.

- Esse é o problema! – exasperou-se, abrindo os braços de forma dramática. – Eu consigo estar com o braço esquerdo e direito dele, mas estávamos decidindo sobre o que fazer, sendo uma das opções denunciá-lo à justiça! O que, sinceramente? Acho que não daria em nada! Ele deve ter um jeito de escapar das consequências de um crime que nem deixa provas! Então eu só perderia de vez minha chance por estar no grupinho que fez isso pelas suas costas ou coisa parecida! Mas... - suspirou. - Estou tentando me consolar pensando que, mesmo no caso em que eu continue distante de Albus, se Minerva e Snape que são seus braços esquerdo e direito aqui em Hogwarts (ao que percebi) continuarem me incluindo assim, só os dois é o bastante não acha? Quer dizer, se eles já me deram esse tipo de informação agora, acho que posso conseguir mais com o tempo.

- Daí também as roupas. Não são apenas para enganar Albus.

- Minerva deu aulas para o Sirius que usa jaqueta de couro, Snape conheceu esse cara também. Estão acostumados com o Sirius grifinório que tem essa aparência e que não pensa antes de agir, não tem grandes planos, um cabeça de vento confiável.

- Como eu tinha dito antes, é uma boa técnica de manipulação, para um grifinório.

- Não se preocupe, com o tempo estarei no nível das cobras. É que meu afilhado é a maior delas. Roubou até o antigo lorde. Na cara.de.pau - falou pausadamente.

Os dois riram, sentindo-se realmente bem na companhia um do outro. Parecia estranhamente certo. Comum. O que era interessante.

Hazz voltou a se sentar.

- E Neville? - perguntou. - O que aconteceu com ele?

- Não sei. Isso terá que ficar para você descobrir.

- Eu tentei dar um anel para ele uma vez - contou, chutando uma pedrinha do chão. Observando ela rolar pelo chão de paralelepípedos dali. - Ele tinha proteções, sabe? Algumas coisas que Nev me dizia sobre Dumbledore... eram suspeitas. Comecei a ficar desconfiado, mas não disse nada porque sabia o que iria parecer. O neto da linhagem Grindelwald apontando o dedo para Albus, que não tinha cometido nenhum crime real. No máximo feito coisas moralmente duvidosas, mas daí duvidar do senhor da luz? Você apenas não entendeu onde ele quer chegar com isso, ele tem um plano maior e... é bom - suspirou, parecendo péssimo, não apenas irritado, mas chateado. - Neville não usa o anel. Ele tem medo de perder... – Sirius reparou como seu afilhado parecia mais agoniado conforme falava. – Eu nunca quis que algo assim acontecesse com ele, eu só tento ajudá-lo, sempre! Assim como Neville também sempre tentou me ajudar! mas – não terminou, a frase morrendo na garganta.

- Mas o que?

- Eu pareço – de novo, ela ficou inacabada, mas dessa vez, porque foram interrompidos.

Alguém se aproximava e Hazz teve que tirar os feitiços de silenciamento e os de ilusão, de forma discreta até que o outro se aproximasse.

Era Colin Creevey.

- Potter, achei você! – animou-se. O menininho estava corado e muito agitado, Nev já tinha contado sobre como o garotinho era seu fã e isso parecia afetar sua fala, pois se seguiu aos tropeços agitados, as palavras quase se atropelando: – Desculpe atrapalhar, professor Black, mas é que pediram para chamar Harrison e eu fui até a sala de defesa contra as artes das trevas, mas me disseram que ele não estava lá, já estava pensando que ele soube sozinho para onde tinha que ir, mas quis procurar mais um pouco para ter certeza e...

- Colin! - chamou Sirus , enfim interrompendo o tsunami que saia da boca alheia.

- Aé! - o menino exclamou. - Desculpe, é Lord Black agora, não é?

- Professor basta Colin – sorriu Sirius, com uma postura bem mais relaxada e brincalhona do que estava mantendo até então com Harry.

Isso fez o afilhado sorrir internamente, os olhos brilhando encarando a magia do padrinho, que deixava aos poucos de mostrar as penas negras de Lord Black e voltava a ser apenas uma camada vermelha de pelos de Sírius.

Um metamorfo em alma...

A magia do animago não tinha ficado, durante o tempo sozinhos, totalmente escura como quando estava irritado, mas haviam penas pretas por todos os lados. Foi interessante perceber isso. Mais uma prova de como Sirius Orion Black estava, não só aparentemente aceitando e interagindo mais com seu lado de corvo negro, como suas máscaras refletiam muito mais intrinsecamente em si do que pessoas comuns.

Ninguém, ao trocar de máscara, tinha uma mudança como aquela de que Harrison vira. Ninguém de que tivesse qualquer conhecimento. Alguém que dava um aspecto como se até a personalidade fizesse parte do conjunto magia e alma.

Mesmo Lakroff, mudava seu cheiro, mas a alma sempre era igual.

Realmente interessante...

- O que deseja de Harrison, Creevey? – perguntou o mais velho.

- Vim chamar Harrison para a pesagem das varinhas! - o garoto disse um pouco alto, como se lembrasse só agora do que o levou até ali. - Olivaras está esperando e mandaram avisar que o jornal também! Rita Skeeter e o profeta vão fazer fotos para o jornal!

"Rita" pensou Harrison no mesmo instante.

Ele ainda não poderia lidar com Dumbledore até ter os detalhes, mas se havia alguém que já tinha causado mal para Neville (apenas por dinheiro e um pouco mais de atenção, ainda por cima) e que ele entendia bem a extensão dos fatos.

Então porque não aproveitar para descarregar ali um pouco?

Já tinha um plano, mas... Qual o problema de improvisar uma vez na vida, não é? Apenas para tirar o melhor proveito da besoura oportunista.


Vocês não tem noção do trabalho que foi isso. Depois de dias terríveis, eu finalmente acabei. Eu to chorando de emoção.

O próximo já está em andamento, estou indo dormir agora, pela primeira vez em dias antes das 22. O mundo brilha com esperança para mim de novo! kkkkkk

Espero que tenham gostado, votem com consciência no domingo e vou tentar ver vocês no fim de semana da semana que vem (já que nesse eu trabalho nas eleições de novo).

Um beijo.

Obrigada pelos votos, pelos comentários e por todo o apoio que sempre me dão e sei que darão de novo agora que voltei e pretendo garantir capítulo semanal de novo, sem falta já que enfim dei uma organizada na minha vida.

Só vou ter que comparecer ao tribunal na quinta e com sorte será uma vez só porque não aguento mais.

Amanha tem terapia!

Boa noite!

PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited

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