Capítulo 38 - Carinho de grifinório e emboscada de sonserino
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Capítulo 38 – Carinho de grifinório e emboscada de sonserino
"Todos precisam de ajuda, um lugar para colocar o pé e conseguir escalar um prédio alto, chegar ao topo e colher os frutos de seu esforço com uma bela vista
Uma boa rede de apoio, entretanto, pode ser muito maior que pontos onde se segurar na escalada, maior que pessoas que te acompanharão ou outros que estarão nas janelas prontos para te segurar antes de chegar ao chão, que às vezes são apenas as pessoas pelas quais passamos, mas que não irão até o fim por mais forte que tenha sido sua presença".
- Vem, Neville... – chamou Ron.
- Não quero! – reclamou cobrindo a cabeça com um travesseiro.
- Vamos logo, Neville Longbottom!
- Você soou como a Hermione! – gritou ainda escondido pelo objeto, sem se mover.
- Eu vou chamá-la se não levantar daí! Você não vai dar uma de covarde agora!
- Eu não estou dando uma de covarde, só estou indisposto... – choramingou se revirando.
- Eu... – mas Ron não conseguiu terminar, Fred e George irromperam para dentro do quarto.
- Ele ainda não saiu da cama? – perguntou George.
- Não – suspirou Ron, levando as mãos ao rosto.
- Eu só quero descansar! – reclamou o menino na cama.
Fred encarou George. Eles tiveram uma conversa séria pela manhã, todos os Weasleys, depois que Neville foi para o barco da Durmstrang e sobre como lidariam com a coisa. Tinham que respeitar o espaço do Longbottom, mostrar que o apoiaram, mas também queriam dar um jeito de levá-lo a reagir, não abafar o caso como estava inclinado a fazer.
A professora de Oclumência deveria ter dito algo sério, mas ninguém sabia o que, porque Neville simplesmente foi para seu quarto e não saiu mais o resto do dia. Ron ficou com ele, mas isso o estava matando, afinal.
Sequer comeram.
E essa informação brilhou na mente de Ron que retirou as mãos do rosto com um sorriso:
- Você quer que Harry Potter se alimente direito quando nem você está fazendo isso? – questionou e, como em um tiro certeiro, Neville se levantou e o encarou.
- Como é?
Fred e George se inclinaram por trás do irmão para se encararem e depois voltaram cada um para um lado de Ron, observando de canto para o mais jovem que sorria convencido:
- Você vive reclamando sobre os hábitos nada saudáveis dele...
- É diferente, eu...
- Está indisposto e ele ocupado – cruzou os braços.
- Ninguém fica ocupado o dia inteiro! – reclamou. – Não para comer ou...
- Mesmo? Eu tenho minhas dúvidas. Hermione ficou sem dormir ano passado para tentar participar de todas as aulas, seu amigo está numa situação bem parecida e não tem um vira tempo para ajudar.
- Mas você foi contra o que Hermione fez!
- E sou contra agora o que você está fazendo! – retrucou.
- Agora você soou como sua mãe! – resmungou igualmente alto.
Ron fez uma careta irritada, Fred e George riram.
- Que seja, eu sou seu amigo e estou cuidando de você. E que afinal quer que eu fale quando Harry perguntar de você?! Porque ele vai, sabe disso. Ele te procura pelo salão sempre, com mais frequência do que você nota, mesmo na primeira noite ele não ia se sentar e jantar até ter te cumprimentado.
George nunca tinha parado para reparar algo assim e se questionou porque afinal Ron teria, mas se era verdade... a leve ideia de que Harry poderia gostar de seu amigo de infância o atingiu. A proximidade que tinham não tornava a ideia impossível, mas então porque o menino parecia dar em cima de outras pessoas se estava apaixonado por Neville? Não teria notado os próprios sentimentos?
O porquê de seu interesse nisso, nem se deu ao trabalho de descobrir, assumiu que fosse curiosidade apenas.
- Diz que estou doente... – murmurou Neville, baixando a cabeça.
- Claro, genial – ironizou Ron. – Porque ele é burro, não senta na mesa da Sonserina, você não contou para as cobras o que aconteceu e ele não vai invadir essa torre para descobrir se você está bem. Confie nessa ideia então. E espere a visita de um dragão raivoso – virou as costas e tentou se virar para sair.
- Espera! – gritou Neville.
Ron parou.
George analisou mais um pouco aquela ideia de presentear seu irmãozinho. Estava pensando em perguntar para os riquinhos da Durmstrang se nenhum estava querendo trocar sua vassoura, assim George conseguia comprar uma Nimbos 2001 para Ron deles, a mesma de Malfoy para deixá-lo radiante, mesmo que soubesse que fossem incomodá-lo por ser usada, mas antes uma usada boa do que uma nova fora de linha.
Agora estava pensando em que tipos de trabalhos podia fazer para dar no aniversário de Ronald a porcaria de um Firebolt. Infelizmente 200 galeões não eram pouca coisa.
Fred, que tinha sido informado da ideia de George, pensava brevemente que talvez entrar em mais apostas da Durmstrang fosse uma solução. Só tinham que ganhar. Os prêmios para algumas chegavam em valores bem altos, por causa da grande quantidade de apostadores que tinham. Aquela sobre quais seriam os escolhidos pelo cálice de fogo variou, por ganhador, em 150 galeões e Harry Potter acertou todos, ganhando quase 600 galeões em uma noite (a maioria acertou Viktor como campeão então foi o menor prêmio).
- Eu não... – murmurou Neville após um tempo. – Você acha que o Hazz vai ficar... sabendo?
- Eu tenho certeza, Neville. No instante que ele chegar e não te encontrar ele vai perguntar para algum dos amigos e eles dirão que não te veem desde o jantar de ontem e será quando vão contar o que aconteceu. Agora, se fosse o contrário minha pergunta é: você não ficaria preocupado?
- Eu... – baixou a cabeça e apertou as cobertas.
- Não ia querer, pelo menos, ver como ele está e conversar?
- Sim...
- Agora, veja comigo. Como você vai saber se ele está comendo depois de um fim de semana de estresse no ministério da magia sendo lembrado constantemente de que agora, não só é legalmente um adulto contra sua vontade, como ainda estará enfrentando um dragão em alguns dias?
Neville tremeu.
Um dragão.
Seus olhos lacrimejaram.
Harry enfrentaria um dragão...
Seu Harry...
E um bicho que cuspia fogo.
Tudo porque Dumbledore não protegeu a taça direito.
Seu peito doeu e ele sentiu que logo voltaria a chorar. A cabeça, entretanto, sequer latejou.
Ele não era do tipo que tinha dores de cabeça por estresse...
O peito pareceu levar uma agulhada e ele deve ter feito uma expressão muito dolorosa, porque o sorriso de Ron sumiu e ele correu até a cama de Neville para se sentar à sua frente.
- Esse fim de semana também não deve ter sido fácil para ele. Vai querer te ver, te contar tudo que aconteceu, ou simplesmente... estar junto. Você nos disse ontem... – comentou baixinho. – Que Harry sempre deixava tudo melhor. Eu imagino... que a sensação deve ser recíproca. É, não é?
- Bem... – Neville achava que sim, mas é claro, ainda martelava em sua cabeça a ideia de que... ele precisava de Hazz bem mais do que o outro precisava de si.
- Na primeira noite de Harry aqui – comentou Ron olhando para o tecido que cobria a cama de Neville. – Ele veio até a torre da Grifinória só para te ver. Eu admito, fui um dos que tentou escutar por trás do quadro... Mas não ouvi nada... Do que estavam falando?
- Hazz queria minha opinião sobre... algumas coisas...
"Queria apoio sobre Sirius" pensou.
- Ele vem até você quando precisa?
- Sim.
- E você não faz o mesmo?
- Claro que sim!
- Então? Você vai privar vocês dois disso? Não faz sentido! Independentemente do que Dumbledore te disse, Neville, ele é seu melhor amigo... depois de mim – acrescentou e Neville riu.
Ron sorriu satisfeito que tenha conseguido aquela reação.
- Eu...
- Você está proibido de dizer algo sobre isso – interrompeu o ruivo. – É seu dever como nosso amigo mentir quando está sozinho com um de nós, que aquele na sua frente é o melhor. A verdade em seu coração é segredo de estado.
O Longbottom riu mais um pouco.
Os gêmeos também, dessa vez, e foram até a cama, sentando um de cada lado de Neville.
- Obviamente deve ser Harry – comentou Fred. – Ele é mais bonito e inteligente, também escolheria ele.
- Vai se ferrar – reclamou Ron.
- Saberemos quando Neville tiver filhos, de toda forma – comentou George.
- Como assim? – perguntou Nev.
- O padrinho do primeiro é o melhor amigo – riu Fred e George o acompanhou.
- Você vai dar o nome do Harry para o primeiro e me chamar para padrinho, pronto – disse Ron como se resolvesse seus problemas.
- Claro, brilhante Ronikins – debochou George. – Chamar você para padrinho no lugar do LORDE Potter, o tal do rico que poderia dar tantos presentes que afogaria seu afilhado.
Fred acertou uma na orelha do irmão:
- Você não sabe que a ideia do padrinho é escolher o mais rico que consegue pensar em seu círculo de conhecidos? Porque acha que James Potter escolheu Sirius Black?
"As outras opções do James não eram muito melhores, não acha?" Ron pensou em reclamar, mas preferiu evitar temas mais pesados. Apenas ficou emburrado e encarou Nev:
- Vamos pensar em outra solução até lá, nada de chamar seu filho de Ronald.
- Eu não ia – disse o Longbottom no ato e os gêmeos riram.
- Ah, é assim?! Está chamando meu nome de feio?
- Mas ele é.
Ron puxou o travesseiro que estava no colo de Neville rapidamente e lhe mirou na cabeça, mas o de cabelos castanhos claros já tinha levado os braços para frente e impediu o golpe com perfeição treinada:
- Ha! – riu provocativo.
Ron ia reclamar, mas não conseguiu. Fred tinha ele mesmo pego um travesseiro e acertado a cabeça do irmão mais novo, apenas porque quis.
George acertou Neville por trás quando este se distraiu rindo de Ron.
Os dois mais novos se inclinaram pelo impacto e se encararam surpresos, então, decididos e juntos, se viraram para os gêmeos e começaram uma guerra de travesseiros.
Em pouco tempo, os quatro estavam competindo. Neville e Ron em cima da cama, Fred e George no chão, depois perseguindo-se pelo quarto, pulando de cama em cama, usando qualquer travesseiro como arma. Ignorando como seus colegas poderiam ficar bravos depois.
Ron foi o primeiro derrotado, após cerca de dez minutos de luta, se jogando no chão e reclamando:
- Minha barriga está vazia demais para isso.
Fred lhe arremessou um bem na barriga, que o fez arfar.
- Vamos comer então. Neville, se troca? – perguntou o mais velho pois Longbottom ainda estava de pijamas.
O mais novo chegou a pensar em dizer que não iria, mas talvez fosse o sangue na cabeça, Ron deitado arfando e vermelho no chão, os gêmeos totalmente desalinhados e sorrindo para ele, então...
Ele simplesmente não quis ficar no quarto.
Também queria ver Harry.
Era como Ron disse: Hazz fazia as coisas melhorarem. Harrison Potter sempre foi seu porto seguro e há anos ele lamentava que tivessem ido para escolas diferentes tornando-os mais distante do que gostaria. Não importava que estivesse preocupado, que Hazz fosse desabar por algum tipo específico de magia... amava estar lá com e para ele. Inspirou fundo e seguiu até seu malão:
- Fico pronto em cinco minutos.
Ele também tinha que garantir que a Sonserina não contaria antes dele mesmo para Harry ou poderiam fazer a história pior do que realmente era e irritá-lo.
Harry irritado nunca era exatamente boa coisa.
E eles iam contar. Harrison era uma cobra e Félix avisou: Cobras não guardam segredos de leões, principalmente umas das outras. Se não a Sonserina, Viktor, Ivan e os outros dragões acabariam mencionando.
Precisava garantir que o amigo entendesse e ouvisse diretamente dele. Se chegasse mais cedo no jantar poderia pedir por esse silêncio só até que tivesse a sua chance de falar?
Esperava que sim.
Ron, pareceu ter notado os pensamentos do amigo, apenas o observando, por isso comentou:
- Não precisa contar tudo para ele agora.
- Como?
- Harry. Nem você sabe ainda como vai lidar com isso tudo e eu realmente acho que nós já pegamos problemas adultos demais para a nossa vida, mas... como sempre jogaram algo nas suas costas, nas nossas. Só que, se Harry sempre foi seu porto seguro, se sempre que estivemos em alguma situação complicada você lhe escrevia cartas e conseguimos literalmente enfrentar o mundo assim, todos os perigos dessa escola maluca, então agora que você vai tê-lo de corpo inteiro... vai hesitar? Só porque ele está envolvido? É literalmente a premissa das nossas vidas: bem vindo a Hogwarts, Harry Potter, é um caos e você faz parte do círculo íntimo do garoto de ouro, então aprenda a nadar com isso ou vai se afogar!
Neville sorriu, um daqueles sorrisos deprimidos e de canto de lábios, mas estava lá.
- Vamos lá, tudo vai se resolver – consolou, se sentando no chão. Até agora, ele ainda estava falando esparramado no carpete. – Você só não pode permitir que fique maior do que realmente é. Não passa de outro desafio para enfrentarmos e vamos conseguir, juntos. Você literalmente capturou um fugitivo e inocentou um homem diante do ministério da magia após treze anos de uma prisão injusta e ele é nosso professor agora, nada nos para mais! Sirius está lá com Harry agora, depois de provavelmente ter achado que nunca teria essa chance, nós podemos passar por isso também. O que Dumbledore fez é só mais uma coisa qualquer.
- Mas... e Hazz?
George desviou o olhar, enquanto sorria pensando em como Ron tinha praticamente arrancado uma confissão de Neville de que sim, ele sabia que Dumbledore leu a sua mente. Não negou a afirmação.
- Não acho que os sonserinos vão ficar tocando no assunto se você mesmo não fizer. Eles entendem que é algo pessoal seu – comentou o gêmeo.
E Neville teve a impressão de que... era assim mesmo.
- Nev – continuou Ron – Amanhã podemos pensar nisso. Hoje, você vai sentar no meio daquelas cobras...
- Répteis – corrigiu George.
- Como é?
- Tem os dragões da casa do Harry também – comentou sorrindo.
- Então tá, você vai lá sentar com os répteis e seu amigo, então esquecer disso um pouco, lembrar quem você é e a força que tem, que sempre haverá pessoas do seu lado independente do que decida ou pode sentar com a gente, o que achar melhor, mas vai deixar tudo isso para lá. Dumbledore, artes das trevas, o que for. Certo.
- Posso só... perguntar uma última coisa para vocês?
- Claro.
- Principalmente você, George.
- Eu? – responderam os dois gêmeos juntos e Nev apenas rolou os olhos, mas manteve um sorriso.
- Diga, leãozinho – disse George se aproximando.
- Você disse que ficaria do lado do Harry... nessa história toda de luz ou trevas... Você... não se incomoda? Não acha as artes das trevas algo ruim?
- Acho que não conhecemos o bastante para julgar. Entretanto, você em teoria saberia melhor do que eu, pela convivência que teve com Hazz – suspirou. – Só não acho que o que Dumbledore te disse, mesmo que faça mais sentido com o que você aprendeu na escola dele ou com sua família, que igualmente estudou com ele no comando, seja na escola ou no nosso governo... Deveria valer mais.
- Mas...
- Escute aqui! – interrompeu Ron. – Já disse para deixar essas coisas pesadas para depois! Artes das trevas não mataram Potter até agora, nem ninguém da Durmstrang, nem mesmo os Black ou seu tutor, não importa agora. Apenas... vamos curtir o resto da noite! – puxando o braço de Neville, o enroscou em um abraço.
O de cabelos castanhos claros tentou lutar contra, mas Ron se arremessou contra ele e começou a levá-lo em direção ao malão, Neville corou ao ser praticamente levantado do chão sem muita dificuldade (o porte Weasley que Ron estava ganhando era uma vantagem) e deixou de lutar quando o amigo ainda acrescentou:
- Se não trocar agora, chamo Fred e George e nós faremos isso em você!
- Ta, ta, não precisa! – disse na mesma hora. – Eu vou, me solta! Nada de gêmeos!
Ron soltou o Longbottom bem em frente ao objeto, deixando que se abaixasse sozinho, todo vermelho, até suas vestes para escolher uma.
- Vocês não parecem se importar, não é? – comentou mesmo assim.
- Com o que?
- Artes das trevas. A família toda de vocês é como a minha, não concordam com magia obscura, mas em nenhum momento... – olhou para os gêmeos, que já estavam próximos um do outro. Um escorado na cama, outro ao lado de braços cruzados. – Vocês dois parece até que não concordam em separá-la e Ron... desde que trocou algumas palavras com Hazz você não falou mais nada de ruim da magia obscura, mesmo que no começo tivesse o pé atrás com Harry Potter na Durmstrang.
- Por que achei que se ele age daquele jeito e prática, então eu só não conheço a coisa o bastante para ficar falando, assim como George disse – deu de ombros. – Ainda acho que tem muito bruxo das trevas merda e pode ter uma correlação entre a magia e a pessoa? Talvez. Mas você gosta do Harry e ele de você, então alguma coisa boa tem ali, a forma como viveu até hoje não mudou isso. Ele nunca nos julga por nossas escolhas e esteve sempre ajudando, boa parte das aulas deles agora são nossas, tem literalmente apenas duas em todo o currículo deles que são diferentes, então... não estamos tão longe uns dos outros, não é?
- Muito maduro Ronikins – zombou Fred levando a mão à cabeça do mais novo bagunçando seus fios com força.
- Sai, George!
O verdadeiro George riu:
- Defendendo a Sonserina ontem, apoiando artes das trevas hoje, acho que teremos que denunciá-lo à mamãe antes que acabe sendo preso, irmãozinho.
- Vão à merda.
- Ainda não aprendemos a entrar na sua cabeça, mas podemos tentar – retrucou Fred.
Ron tentou chutá-lo, mas acabou levando um tapa. Passou por George enquanto tentava perseguir o outro e Neville foi logo dizendo:
- Vocês dois! Se quiserem que eu coma, vão brigar do lado de fora, para eu poder colocar uma roupa!
- Pode se trocar, brigamos no cantinho – zombou Fred enquanto segurava os braços de Ron e, girando-o como a um boneco aos risos do mais velho, o derrubou na cama.
Rony começou a xingá-lo.
- Olha a boca, vou falar para mamãe lavar com sabão! – disse George.
- Termina logo de se trocar Nev, já cansei desses dois! Ou melhor... vazem daqui! É nosso quarto! Xispa!
Ambos, Fred e George miraram tapas em Ron, mas dessa vez ele desviou.
- Olha como fala com os mais velhos! – reclamou Fred.
- Mesmo assim! – Neville falou tentando chamar a atenção do grupo. – Vocês podem sair para eu... – e apontou para as roupas. – Vocês sabem.
- Você viu isso Forge? O leãozinho não quer que vejamos ele só de cuecas. Ele se esqueceu que já vimos em casa? – perguntou George sorrindo.
- Acho que só ficou envergonhado pelo comentário do nosso irmãozinho de que iríamos despi-lo à força – comentou com um sorriso ainda maior, se apoiando no ombro do irmão.
- Não se preocupe leãozinho, só arrancamos as roupas de quem pede por isso – disse George com uma piscadela e isso fez Neville corar ainda mais de olhos arregalados, arrancando risadas dos gêmeos.
- Credo – sussurrou Ron quando imagens muito estranhas apareceram em sua mente com aquilo.
Principalmente o plural constante na frase.
Ele nunca via Fred e George separados, sequer imaginava-os tendo qualquer coisa que não era dividida (mesmo os casacos bordados da mãe com as iniciais ele sabia que provavelmente eram trocados e nem eles davam atenção para o que era de quem), mas então... e com as mulheres?
As pessoas podiam...
Em três?
Isso o perturbou por alguns instantes antes da imagem de seus irmãos se revezando para beijar uma garota, fosse trocada por um...
Homem.
Encarou George, depois percebeu que não sabia quem era quem então encarou o outro e se questionou, mas...
- Vocês não gostam de... – murmurou muito confuso, só que arregalou os olhos ao perceber o que estava quase falando e negou com a cabeça.
Fred não parecia preocupado como George, então provavelmente era hetero, mas eles ainda não sabiam que Ron tinha aquelas informações e não podia tocar no assunto assim.
- Deixa para lá.
Fred e George, entretanto, fizeram caretas idênticas sem nem precisarem se olhar e murmuraram juntos:
- Não gostamos de que?
- Nada – disse na hora.
Neville também encarou o amigo confuso.
- Ron... – começou um dos meninos.
- Sabe que podemos te tirar a informação, né? – perguntou o outro.
- Fiquei imaginando se vocês dividiam tudo, só... – respondeu levantando as mãos de olhos fechados. – Esqueçam.
- O que? Como assim? – perguntou Fred inclinando a cabeça e deixando a careta ainda mais marcada.
George, por outro lado, fechou os olhos e quando os abriu estavam arregalados e riu nasalado.
- Espera, você estava pensando se gostamos de trisal?
Fred riu e olhou para o gêmeo, depois para o mais novo e quando percebeu as orelhas coradas de Ron caiu na gargalhada.
- Era isso mesmo?! – questionou incrédulo. – Essa é boa!
Ron corou ainda mais e desviou o olhar emburrado:
- Eu sei lá, vocês parecem dividir tudo!
- Daí uma pessoa? – a voz de Fred subiu decibéis de tão engraçado que estava achando.
- Sei lá! Ela poderia gostar dos dois! – e apenas porque estava emburrado com a forma como estavam rindo dele, tanto nas gargalhadas de um, quanto o olhar de deboche do outro, acrescentou: - A pessoa que gosta de Fred, nem deve saber quem afinal é ele. Provavelmente está dando em cima do George no dia seguinte! O que estiver ali e dizer o nome certo serve!
- Nesse caso, Ronikins – comentou George, a voz em um tom grave e sério que fez todos o olharem. Até Fred parou de rir e pareceu diminuir. – Justamente essa seria a última pessoa que iríamos querer estar juntos.
Ron piscou, abriu a boca, então se tocou do brilho nos olhos do irmão e recuou, baixando a cabeça envergonhado:
- Desculpa – pediu, porque sentiu que devia.
- Está tudo bem – deu de ombros com um suspiro. – A maioria deve pensar isso mesmo, mas... esse é o ponto. Eu e Fred somos diferentes. Escolhemos estar sempre juntos e fazer brincadeiras porque gostamos da companhia um do outro, mas ainda somos duas pessoas com vontades, gostos e características próprias. Para que nós nos envolvêssemos com alguém... essa pessoa tem que entender que continuaremos sendo uma dupla, mas saber nos diferenciar é o mínimo, porque alguém que ama de verdade... vai amar apenas o que eu tenho, mas Fred não, o que eu gosto e ele não. Eu fico sempre com Fred porque gosto muito dele, mas então não vou deixá-lo estar com uma garota que não sabe dizer exatamente o que viu nele, o que é bom e a fez se apaixonar, o que falta e que terá que lidar para que possam ter uma vida juntos.
- O que falta em mim? – questionou Fred colocando os braços na cintura.
George riu, se virando para ele:
- Você ter coisas que faltam é o que te faz uma pessoa – dispensou. – Somos uma boa dupla porque geralmente nos completamos e acabamos formamos um todo. Você não pode ter ninguém menos que não aquela que possa te completar tanto quanto, ou até melhor que eu. Seria idiota e dispensável. Eu quero dizer, namorar alguém que não consegue ser uma companhia melhor nem que seu próprio irmão? Daí você vai voltar para mim todo dia da mesma forma e se cansará dela. Namoradas assim e vamos acabar os dois solteirões, porque ela pode até te dar uma coisa que eu não dou, mas falha em todo o resto e não serve para te fazer... se sentir inteiro e viver. Se não sabe nos diferenciar, vai esperar coisas de você que não te agradam, porque são as coisas que eu faço. A pessoa vai estar sobrando na sua vida ou pior, te fazendo se sentir insuficiente por não atingir uma expectativa que ela criou baseada em mim, e não em você. Pode até atrapalhar o que temos com isso. Tem que ser alguém melhor que eu. Para que você queira estar com ela mais do que comigo.
- Isso é impossível – reclamou Fred.
- Como é?
- Ninguém nunca vai conseguir me fazer querer estar mais com ela do que com você. – George riu e Fred lhe acertou um tapa. – Que foi?
- Então ou você nunca vai casar ou acha que Ron está certo e temos que estar em um trisal?
Ron corou:
- Eu não...
- Talvez seja isso mesmo! – reclamou Fred cruzando os braços. – Não quero alguém que faça eu me afastar de você.
George revirou os olhos:
- Não é assim. A pessoa certa não vai querer que você se afaste, nunca e nem de ninguém. Isso é errado e nada saudável. O que quero dizer é que você não terá a necessidade de vir até mim, porque sempre terá ela. Quando estou longe de você, eu fico incomodado, não importa quantas pessoas também estejam comigo há esse incômodo, porque gosto de estar em dupla, mas se não for você não é o encaixe certo.
- Comigo também – murmurou Fred.
- Então? Só que eu acho que quando acharmos as pessoas certas, esse incômodo some, porque também teremos elas. Não vamos correr para o lado um do outro por nos sentirmos incompletos, vamos estar juntos apenas quando quisermos. Ainda seremos os mesmos, uma dupla, mas teremos a chance de ter essa mesma sensação com outra pessoa e ainda no sentido romântico, que obviamente nós não... – riu, tremendo com a outra ideia.
- Eu não gostei disso mesmo assim... – resmungou baixinho, olhando para o chão.
Neville e Ron encaravam a cena em silêncio.
- Por quê? – questionou George.
- Se você achar essa pessoa certa primeiro... Então você me deixa sozinho.
- Como é?
- Esse alguém... Você vai ter ele para estar do seu lado e tem coisas que só ele pode te dar, então vai passar tempo com essa pessoa e eu não farei falta porque ela... te completou. Mas eu não... quando eu for até você, porque sinto sua falta, eu vou sobrar. Esse alguém gosta de você... – e sua voz ficou mais baixa. – Não de mim. Você mesmo disse que tem diferença... Eu vou atrapalhar e terei que deixá-los sozinhos muitas vezes... então eu fico sozinho.
Neville desviou o olhar, escondendo um sorrisinho.
Ron teve a delicadeza de fazer o mesmo, apesar de sua vontade em comentar "olha que fofo vocês dois" apenas para atazanar-los, entretanto não fez, porque não quis interromper o momento.
George, por outro lado, apenas riu diretamente da cara de Fred, que o encarou emburrado.
- Se é assim, prometo nunca aceitar namorar até você já ter a sua namorada – disse o mais novo.
- Como é?!
- Eu aguento a dor de ficar sozinho, mas se você não...
- Não é esse o ponto – e ia acertar uma na cabeça de George, mas o irmão segurou ainda rindo. – Vamos fazer um pacto de nada de mulheres antes do irmão! – mas quando a risada de George aumentou Fred se tocou da besteira que falou e tentou mais ainda lhe bater.
- Vem, vamos deixar Neville se trocar, seu carente – disse, puxando Fred para fora do quarto.
- Não sou carente! Você que fica pensando em me trocar por outro! – reclamou.
- Outra – corrigiu, apenas porque Ron e Neville estavam olhando e acabaram reagindo ao masculino de um jeito que ele não gostou. – Vemos vocês no jantar! – e saíram.
No corredor Fred parou e encarou George:
- Desculpe, eu...
- Tudo bem, eles devem ter pensado que foi só uma questão de não pensar antes de falar.
- Mesmo assim... eu não devia ter escorregado dessa forma... – sussurrou sentindo-se muito mal.
- Tá tudo bem, não vou ficar bravo com você depois do ataque de ciúmes e das declarações de amor que estava me dando – e riu quando precisou desviar de outro golpe, mas abraçou o irmão, para segurar seus braços junto ao corpo. – Fred, você só está incomodado com a ideia porque não consegue se imaginar com ninguém o suficiente ainda.
- Como assim?
- É simples. Enquanto a ideia de sair de perto de mim para estar com outra garota parecer estranha, quer dizer que não encontrou a pessoa certa. Vai ser até fácil demais para nós sabermos quando estivermos apaixonados, porque sempre nos sentimos completos juntos, não é?
- Sim...
- Então – disse finalmente soltando Fred. – Quando eu não bastar para você, quando sua cabeça ainda ficar voltando para aquela pessoa, então quer dizer que você se apaixonou. Eu quero que se apaixone, sua besta, e case com uma garota que vai te fazer sair de casa e passar dias com ela, aparecendo na minha só para reclamar ou matar tempo, não porque sua vida é sem graça sem mim.
- Você ainda está falando como se quisesse que eu eventualmente diminua da sua vida.
- Nunca.
- Mas...
- Eu também fico incomodado de imaginar isso. Só prova que não achamos as pessoas. Mas eu penso que... podemos. Um dia.
- E se continuarmos não querendo nos afastar?
- Então morremos solteiros e juntos – e empurrou o mais velho. – Não me parece ruim.
- Ou realmente vamos ter que dividir – murmurou.
- Fred, eu...
- Não estou dizendo que acabaríamos com uma pessoa que não nos diferencie, mas já pensou em alguém que entende exatamente quem é quem, mas... Gosta do que somos juntos? Alguém que não está conosco apenas porque não sabe separar onde um acaba e o outro começa, mas sim alguém que gosta de mim, das partes boas e ruins, mas você também, então depois do conjunto completo. Que... não completará um de nós individualmente, mas faria ainda mais sentido para nossa dupla? Se somos juntos um completo... a pessoa nos faria mais?
- Você realmente está considerando um trisal? – perguntou com uma careta.
- Você está querendo me abandonar, é isso?! Você já se apaixonou por um idiota qualquer e não está tendo coragem de admitir! Você quer me deixar! – dramatizou.
George gargalhou alto.
- Eu disse que a pessoa deve entender a diferença entre nós, mas é impossível alguém ser perfeito para mim e não gostar de você também. Eu não vou te deixar. Pode morar na nossa garagem.
E dessa vez não desviou a tempo, o que o fez encarar mortalmente Fred e, antes que notassem, estavam se engalfinhando até Lino Jordan aparecer e separá-los aos risos
-x-x-x-
- Não vai sair? – perguntou Neville do quarto para Ron.
- Para que? Você já se trocou na minha frente tantas vezes. Ei – e se jogou na cama de Neville para espera-lo. – Você acha que devo contar para George que sei sobre ele? Para não terem que ficar mentindo ou usando palavras neutras toda vez? Ou eu vou estar sendo inconveniente? Eu ainda ouvi a conversa particular para descobrir, ele pode ficar mais bravo, que aliviado em não precisar esconder de mais um irmão.
- Não sei... Sinceramente – e bufando, aceitando que Ron não lhe daria privacidade, começou a se despir.
Mesmo assim acabou fechando as cortinas com o amigo dentro. O ruivo riu disso:
- Que foi? A puberdade não está sendo legal com você e ficou com vergonha de mim assim do nada? Quer que eu arranque as minhas também para te deixar mais confortável?
- NÃO! – gritou Neville apavorado com a ideia e sentindo o rosto aquecer. – Só fique aí!
- Ta bom! – e riu mais.
Neville escolheu um suéter cinza e vermelho da Grifinória, uma camisa e separou uma das gravatas quando, de repente, se viu falando:
- E você?
- Eu? - mas o Longbottom ficou em silêncio. – Eu o que Neville? – o amigo não respondeu, estava se martirizando por sua curiosidade e boca grande. – Se não falar vou ficar te encarando enquanto se troca – ameaçou.
- Você já pensou se poderia gostar de outro... homem? – soltou e quase sentiu que morreria de vergonha e arrependimento quando o quarto entrou em silêncio.
- Já – respondeu Ron após um longo tempo.
- Já?!
- Depois do que ouvi de George acabei pensando bastante.
Mais silêncio.
- E...? – perguntou Neville baixinho.
- Não tenho nem ideia. Acho que não, mas... também não penso muito em garotas, então talvez eu só não me importe com isso tudo agora.
- Você não pensa em garotas?
- Não exatamente. Quando tocamos no assunto eu penso, mas quando escuto as pessoas falando sobre relacionamento... agora mesmo com Fred e George... fica claro que George pensa nisso de verdade. Como vai ser quando um deles se apaixonarem, como seria namorar ou se casar. Eu não penso como vai ser. Acho que só vai acontecer, mas nunca me imaginei com ninguém e nem avaliei como seria minha vida depois. Minha cabeça tem a vaga impressão de sempre, um dia achar alguém, então casar, ter filhos, uma casa..., e geralmente isso vem com a imagem de uma mulher, mas talvez porque é a forma que conheço de viver. Depois de George as vezes imagino... Se for um homem vão ter crianças? Ou vamos ficar.... viajando o mundo e fazendo bosta como dois amigos? Se estou nos imaginando como amigos de primeira e preciso... forçar para me ver beijando um... então eu sou hetero? Eu não sei, não me dá repulsa pensar nisso, eu me sinto apenas.... neutro, mas aí eu faço o mesmo com uma garota e parece igualmente... ok? Acho que tenho mais receio em me ver com um cara porque nunca me falaram sobre isso, mas as duas coisas não parecem nada demais. Não fico me imaginando com alguém específico e realmente preciso tocar nesse assunto para... – bufou. – O que quero dizer é que não olho as meninas e suas saias, como Simas faz, nem "como os peitos de Lilá cresceram nas férias". Ele reparou nisso e me falou e foi aí eu olhei. Entende a diferença?
- Entendo... Então você acha que só não é uma preocupação sua agora?
- É – e deu de ombros, mesmo que Neville não o visse.
- Mas você acha que... tem preferência?
- Provavelmente mulheres – respondeu na hora. – Consigo pensar em várias, quando começo a avaliar o assunto, que acho bonitas e tudo. Que eu gostaria de beijar. Fleur Delacour sem dúvida alguma.
E Neville revirou os olhos de forma que, se pudesse, daria a volta completa na cabeça, principalmente em como a voz de Ron ficou boba e ele praticamente pode ver que o amigo havia corado só com a ideia.
- Então os garotos?
- Isso não acontece... – então pigarreou, o que deixou Neville desconfiado, ao ponto de puxar as cortinas (já estava de blusa mesmo).
- Harry? – questionou certeiro e mordeu a boca com força quando Ron corou e olhou para baixo. – É claro – rosnou com um rolar de olhos.
- Eu não...
- Se disser que quando pensa na possibilidade de garotos, não vem Harry Potter à sua cabeça, eu juro que brigo com você, porque sei que é mentira.
- Desculpe... – murmurou.
- Desculpe? – perguntou, a raiva e o incômodo sumindo na mesma hora, trocados por confusão. – Desculpe pelo que?
- Eu... nada.
- Nada? Nada o que, Ron? Me fala!
- E você? – perguntou no lugar. – Pensa em estar com algum menino?
- Eu?! – e sua voz ficou muito mais aguda do que deveria. Ele tossiu. – E-eu... e-eu não... sei... e-eu.
- E-eu, e-eu – repetiu Ron, fingindo uma gagueira e revirando os olhos. – Pensa em garotos, sim ou não?
- Não sei, eu...
- Você acha que poderia gostar de um? De beijar um?
Neville pareceu ficar tão corado que Ron avaliou a possibilidade de ter comido uma das bolinhas de Fred e George que deixam uma pessoa magicamente pintada de uma cor. Ele até soltou as cortinas e se afastou.
- Eu estou pronto – disse apressado, puxando uma capa qualquer do malão e o chutando para debaixo da cama. – Vamos?
- Porque você está fugindo do assunto? – questionou Ron.
- Não estou, vamos comer, estou morto de...
Ron saltou da cama e agarrou a mão de Neville antes que o melhor amigo fugisse:
- Nev – chamou sério. – Você está fugindo.
- Eu não...
- Eu sou seu melhor amigo... – murmurou. Então negou com a cabeça. – Ou, pelo menos, sou junto com Harry Potter – Neville o olhou, apesar de estar com um sorrisinho, ainda parecia bem nervoso. – Sabe que pode me contar qualquer coisa, não é?
- Eu...
- E vou te contar também, qualquer coisa. Eu admiti que... não ligo. Porque você está fugindo?
- Não estou fugindo, só... – e baixou a cabeça, frustrado e se sentindo culpado.
"Só não me sinto pronto para admitir isso" disse mentalmente.
- Prometo não falar para ninguém, se isso te incomoda, mas... Pode responder a mesma pergunta que fez para mim? – Nev ficou em silêncio, Ron então tornou a falar: - Você já pensou se poderia gostar de um outro homem?
O mais baixo e de cabelos castanhos fechou os olhos, mas não pareceu que diria algo, por isso o ruivo suspirou e apertou mais sua mão, sentindo-o tremer levemente.
Sorriu:
- Não precisa dizer, se não quiser. Desculpe se te incomodou perguntar – e puxou o braço dele, agarrando como o viu fazer com Potter várias vezes naquela semana. Quando Nev o encarou de olhos surpresos, apenas aumentou o sorriso. – Vamos comer?
- Já – admitiu Nev. – Eu já pensei nisso.
- Ok – disse Ron. – Quer dizer mais alguma coisa ou deixamos esse assunto para lá?
- Eu acho que gosto deles... – sussurrou, tão baixo que Ron precisou de alguns segundos para o cérebro entender.
Respondeu rápido então, para o amigo não achar que a informação o afetou de alguma forma:
- E meninas?
- Talvez?
Ron se segurou para não rir, mas um sonzinho ainda saiu e Neville estreitou os olhos para ele:
- Desculpe – pediu. – É que você tinha perguntado se eu tinha preferência, acho que sei qual a sua então – Nev lhe acertou um tapa fraco e envergonhado. – Então... – e deixou a palavra se estender e um silêncio se seguiu antes de perguntar: - Harry Potter?
Os olhos do Longbottom se arregalaram tanto que Ron teve a impressão de um elfo doméstico.
- Como é?
- Harry faz seu tipo? – perguntou certeiro e viu o amigo corar totalmente.
- Não! Ele é só meu amigo! – e baixou a cabeça.
O Weasley crispou os lábios e negou com a cabeça.
- Certo... – então começou a se lembrar.
Todos os dias, as caretas que Neville fazia quando Ron puxava o assunto Harry Potter, como o amigo reagiu à Ron supondo que Potter poderia sentir atração por homens, como foi no banheiro quando pegou o amigo dizendo que os Weasleys eram bonitos, cobrindo-o antes que Ron se aproximasse e tantos outros casos.
Ciúmes.
Lembrou-se até de Hermione:
"Você não entende o quão delicado é para Neville pedir algo assim para eles?"
"Você é muito tapado para perceber, Ronald"...
Ron quis se bater.
Estava assim tão na cara?
Então outra coisa lhe passou pela cabeça...
Dumbledore comparou a pessoa por quem Neville estava apaixonado com um lorde das trevas e o colocou em posição de tirá-lo da magia obscura ou... seria sua culpa se algo ruim acontecesse?
Como Neville, afinal, conseguiu engolir isso? O que raios faria Neville achar que Harry Potter tinha alguma coisa a ver com Gellert Grindelwald? Isso era ridículo, só porque estudavam na mesma escola? Então todos da Durmstrang eram Gellert's em miniatura? Não fazia o menor sentido que ligasse uma coisa a outra! Nem era assim que o Longbottom funcionava, Ron sabia disso, então o que Albus usou para criar essa conexão ridícula? Porque raios achou as duas situações parecidas também?! Neville e Harry se conheciam desde crianças, tiveram anos para aprofundar uma amizade até o ponto em que Nev parecia estar apaixonado pelo que viu.
Por anos!
Então não poderia ser mais distante para que chegasse a duvidar de tudo e concordar com seu diretor! Quer dizer, Dumbledore e Grindelwald sequer se conheciam antes de...
...
...
Ou...
...
...
Será que...
....
Mas se Dumbledore leu a mente de Neville... se Nev reagiu tão mal quanto deveria ter reagido ao começarem a sugerir algo de ruim sobre o garoto que gostava... Ele teria...
Rony olhou para seu melhor amigo, o Longbottom deve ter achado que sua reação tinha outro motivo, pois pareceu momentaneamente desesperado, então o ruivo logo acrescentou:
- Ei, você... – mas ele não podia perguntar, não queria tocar naquele assunto de novo. Precisava de outra forma de tentar descobrir...
E ele tinha uma escola cheia de alunos que poderiam ter a resposta. Quem sabe?
- Você já pensou em me beijar? – disse porque sabia que a pergunta deixaria o amigo tão transtornado que esqueceria de qualquer outra coisa.
Funcionou.
Neville deu um gritinho de "É o que?!" e se afastou.
Ron, normalmente, poderia até se sentir ofendido com isso, mas como era exatamente o que queria, apenas sorriu:
- A gente podia, sabe? Se beijar. Aí descobrimos se realmente gostamos de homens.
- Não é assim que funciona! – reclamou Nev, a voz decibéis mais alta e aguda.
- Por que não?
- Chega! Vamos comer, a falta de frango no seu estômago está te deixando biruta – e praticamente fugiu pela porta.
-x-x-x-
Todos estavam sentados no grande salão.
Era jantar de domingo, portanto o lugar estava lotado, cada grupo conversava normalmente entre si, mas todos perceberam quando os alunos da Durmstrang começaram a agir diferente.
Entre remexidas, cutucões, cabeças baixas ou conversas paralelas, aos poucos notaram o porquê: entrava pela portinha ao lado da mesa dos professores Lakroff Mitrica.
Em belas e chamativas vestes bruxas entre tons de dourado, branco e preto, uma mariposa bordada com as asas no peito e corpo nas costas, pegando toda a roupa em um único desenho difícil de se enxergar a princípio, mas suficientemente belo para que as pessoas tentassem. Ele se encaminhou tranquilamente, uma fita de ouro amarrada em sua trança reluzindo com as velas do salão junto com seu sorriso simpático aos seus alunos.
Atrás dele Sirius Orion Black entrou e o burburinho foi imediatamente aumentado. Não era apenas o cabelo cortado, que deixava o rosto de Black ainda mais visível, as roupas negras que ressaltavam a cor de seu cabelo e faziam os olhos azuis brilharem, além de lhe servirem muito bem, mas também o brinco chamativo em sua orelha direita, o anel grande em seu anelar, um imenso corvo bordado no casaco de asas abertas esbanjando o símbolo de sua casa e a atitude.
Era totalmente diferente do professor Black que todos estavam acostumados, de tênis trouxas, jaqueta de couro e que ria dos alunos que caiam na lama nas aulas de trato das criaturas mágicas. Este tinha uma expressão confiante de sempre, mas os olhos, quando encaram o salão ao tomar um lugar, eram gélidos.
Intensos.
Até sua postura estava mais ereta. Um lorde, sem tirar nem pôr, em pleno esplendor.
- Sirius – cumprimentou Sprout, ao seu lado esquerdo. – Uma boa noite.
- Boa noite, Pomona – cumprimentou com um aceno, ainda um tanto distraído e os demais professores notaram isso.
Nenhum dos colegas teve tempo para questionar seu olhar vago, entretanto, já que outra coisa logo chamou atenção. Haviam duas cadeiras vagas, é claro, Sirius sentou-se automaticamente entre Pomona e Minerva, a próxima disponível ficava ao lado de Moody, e era penúltima da mesa, mas Margriet Aliska (professora de línguas antigas) se levantou imediatamente quando viu seu vice diretor se dirigindo até ela.
- Professor, por favor, sente-se aqui – chamou.
- Margriet não há necessidade...
- Eu insisto, por favor, o senhor deve ter muito a discutir com o diretor Karkaroff – disse com um leve aceno e Lakroff sorriu, evitando gargalhar pois entendeu no mesmo instante a jogada dela.
- Se realmente estiver tudo bem, eu agradeço querida.
- A vontade, senhor – e seguiu para a outra ponta.
Quando passou por Lakroff ele a segurou levemente pelo pulso e cerrou os olhos.
- Você tem certeza que não quer a posição de diretor? – sussurrou ela com um sorriso.
- Foi tão ruim?
- Quero matá-lo. Mais um dia, eu o faria e o senhor teria que me tirar da cadeia.
- Eu teria de tirá-la?
- Seu pai tem um bom histórico disso, milorde. Porque não usar esses dons para o bem? – brincou.
- Matar Igor é "para o bem"? – questionou e ambos riram, pois era esse o problema da frase. Sugerir que Lakroff sabia fugir da cadeia (porque Gellert em teoria passou os ensinamentos), não.
- Eu tenho certeza de que todos concordariam que sim – ela respondeu.
O homem riu mais um pouco, enquanto as demais pessoas os encaravam sem entender.
Mesmo os mais curiosos, que tinham tentado escutar o diálogo rápido, não entenderam uma vírgula, afinal é claro que não haveriam, Lakroff e Margriet estavam falando em uma língua morta.
A escolhida da vez? Copta, antigo egípcio, usa caracteres derivados do grego.
Adequado para se tratar com o lorde dos chacais.
Não era, entretanto, a única que usavam. Sempre era assim, os outros professores da Durmstrang mal se importavam mais. Ouvir uma conversa entre Lakroff e a professora de línguas antigas era o mesmo que perder tempo. Feitiços de tradução não funcionavam bem com todos os idiomas possíveis, os mortos principalmente e mágicos era sem condições, então como aqueles dois sabiam exatamente quais tinham mais chances de falhar miseravelmente usavam e abusavam dessa vantagem comunicativa.
- Continuamos essa conversa depois – encerrou o loiro, agora em inglês e após um leve beijo nas costas da mão da dama, seguiu até Igor.
Algo que precisa ser dito é: a mesa de Hogwarts é organizada na forma Francesa de tradições. Por quê? Lakroff nunca soube ao certo, apenas podia supor que por uma questão tática: o chefe da casa ficava bem no centro, o diretor no centro lhe dava visão completa do salão. Não só isso, juntando as quatro mesas dos alunos a sua frente e olhando de cima, você poderia dizer que ele está na ponta de uma imensa mesa, agora sim, à inglesa.
Dito isso, Dumbledore estava no meio, como sempre, a sua direita a mulher que tinha o cargo de vice-diretora e, portanto, de título mais alto: Minerva. À esquerda a convidada mulher mais importante: Madame Maxime. Normalmente, depois da francesa vinha Igor, então Lakroff. Em algumas noites, Minerva também cedeu seu lugar à diretora francesa (como nesta) e Igor ficou à esquerda. Fato era: Lakroff sempre ficava ao lado de seu próprio diretor quando estavam nos jantares.
Cafés da manhã eram menos informais com isso e, por questões de conversas, os demais assentos viviam sendo trocados, ficava obvio que Dumbledore não exigia etiquetas e posições delimitadas. Todos eram livres a se sentir em casa.
Mas jantares tinham esse tom mais tradicional. Dito isso e vendo a disposição atual, Lakroff pôde prever bem o que aconteceu naquela noite: a professora de línguas antigas foi chamada para conversar com alguém daquele grupo e ia se sentar no lugar reservado à Lakroff, já que era um vago, já decidida à possibilidade de se retirar com sua chegada, mas Igor estava neste, então provavelmente o homem achou que era educado ceder o assento à dama (ignorando assim todas as normas adequadas, mas ele era um idiota, provavelmente nem as havia decorado), então o Mitrica supôs que a conversa era entre as duas damas e Dumbledore.
Como Igor não se levantou agora para mudar sua posição, mantendo-se distraído com seu frango...
Lakroff Mitrica sentou-se a esquerda de Albus Dumbledore.
Isso imediatamente tirou um risinho de Sirius, disfarçado por um levantar de sua taça à boca e uma longa golada de vinho.
Ele estava a segurando desde o momento que a professora se levantou, pois a expressão do diretor já havia azedado ali. Impagável.
- Com a licença dos senhores. Madame – o albino cumprimentou, quando se sentou. – Espero não ter interrompido nenhuma conversa estimulante que estivessem aproveitando com minha colega – comentou com um largo sorriso na direção da diretora de Beauxbatons, mas claramente visível a Albus.
Que tremeu.
Sirius inspirou fundo, porque aquilo era ouro.
Não era o único observando a situação. Minerva claramente estava receosa assistindo e Severo parecia estar disfarçando ao observar qualquer outra direção.
Então Albus contou àqueles dois sobre a família de Lakroff? Mas por que os dois?
Minerva era meio obvio, seu braço direito. Agora Severo? Tinha essa importância?
Harrison disse que ele parecia estar jurado, mas não a Dumbledore em si...
Fez uma anotação mental.
- Não exatamente – respondia a francesa para Lakroff e pela forma de falar e sua expressão, ela não parecia exatamente de bom humor. – Estávamos falando sobre o costume de estudos de linguagens e porque algumas aulas sobre a cultura dos povos em questão poderiam ser úteis.
- Eu estava dizendo às ladys – comentou Igor enquanto Lakroff ainda encarava a diretora de Beauxbatons – Que é desperdício do tempo dos nossos alunos querer ensinar sobre povos que já morreram e cujas as línguas só sabem os estudiosos, fica claro que se a cultura caiu em esquecimento é porque evoluímos e não vimos mais necessidade naqueles costumes arcaicos. Se fossem úteis teriam perpetuado.
Se fosse um aluno, Lakroff teria ao menos tentado, mas era Igor. Ele apenas deixou que todo o nojo e deboche que podia ter em relação aquele comentário ficasse tão marcado em seu rosto que retirou imediatamente as risadas de todos os professores da Durmstrang e tantos outros de Hogwarts. Até Albus virou seu rosto enquanto forçava uma tosse. Maxime ainda tentou se segurar e cobriu a boca com um lenço, mas Lakroff ignorou-os se inclinou levemente para enxergar o fim da mesa.
Aproveitando que Igor estava às suas costas, quando Margriet lhe sorriu, fez em linguagem de sinais:
"Você abriu a fossa que é a boca dele e me joga para cima?".
A mulher respondeu da mesma forma, movimentando as mãos:
"Lakroff para diretor da Durmstrang".
Dessa vez, porém, não era nenhum código antigo e todos os professores da Durmstrang tinham aulas de linguagem de sinais (por causa dos alunos que tinham alguma deficiência auditiva), por isso eles não só riram com o primeiro comentário, como levantaram as taças no segundo:
- Au! – disseram juntos.
[N/A: Pura curiosidade, aqui Lakroff teria usado A Língua de Sinais Alemã, abreviada DGS, falada na Alemanha pelo menos por 200 000 pessoas, das quais cerca de 80 000 são deficientes auditivas. Em 2002, a DGS foi reconhecida como língua oficial pela Lei de Igualdade de Pessoas Deficientes. A Língua de Sinais Búlgara é uma língua usada pela comunidade surda da Bulgária, mas que NÃO é reconhecida (até onde foram minhas pesquisas). O número de falantes também é menor e como muitos dos alunos da Durmstrang são de origens germânicas gerais, ou seja, são muuuuitos países envolvidos, decidi que a escolha de usar a linguagem de sinais alemã seria mais adequada na escolha, também por ter certas semelhanças com a língua de sinais francesa, bem como com outras línguas de sinais europeias, então alguns dialetos poderiam ser mais intuitivos para os alunos de origens diferentes que partilham de problemas auditivos. De novo, tentem só entender o raciocínio que usei para assumir que Lakroff escolheria essa para ensinar seus professores como padrão, mas caberia a eles a curiosidade de aprender a de seu próprio país também].
- O que estão fazendo? – perguntou Igor diante da movimentação dos colegas.
O Mitrica torceu para que seu corpo tivesse impedido a visão da Aliska para o Karkaroff, porque não queria lidar com as explosões de Igor pela "traição" de "seu" corpo docente.
- Igor, que tal os alunos? – perguntou tentando mudar de assunto. – Algo aconteceu?
- Não, foi como se você nem tivesse saído.
Os arfares de deboche e incredulidade dos colegas, entretanto, mostraram o contrário e o Mitrica pensou seriamente, mais uma vez, se não compensava o trabalho extra deixar que Nagini o jantasse como ela já havia oferecido tantas vezes.
Ele deveria se preocupar com as tendências canibais da velha amiga?
Optou por não, ela não o julgava por outras coisas igualmente ruins da guerra.
Mesmo que o tivesse deixado... junto de Credence.
Negou com a cabeça deixando aquele assunto para lá.
Enquanto os professores tornavam a entrar em rodas de conversas, a única coisa que poderia fazer todos os alunos se distraírem o bastante da nova fofoca para virar de costas à mesa dos professores entrou: Harry Potter.
Abrindo as imensas portas francesas que davam acesso aos alunos através de magia (portas que pelo costume velho de ranger ao serem movimentadas não deixaram ninguém desavisado de sua presença), o garoto entrou.
E mais de uma pessoa arfou.
Neville sentiu uma pontada estranha no peito, mas não conseguiu desviar os olhos, Harry estava simplesmente... divino.
Ele sempre foi uma presença a ser notada, mas naquele momento parecia até demais. Não que estivesse vestido de forma muito diferente do que já fazia, Neville conhecia bem o gosto por vestes bruxas do amigo, mas agora havia atingido um patamar a mais. Como se não bastasse um conjunto extravagante vinho, com detalhes em ouro e bordados em preto que formavam padrões semelhantes a galhadas no interior de um casaco longo e abotoaduras de ouro com a letra "P" gravada duas vezes uma por cima da outra, uma gravata preta de seda que refletia as luzes do salão em sua simplicidade, com padrões em veludo que... pareciam penas, ainda havia uma espada.
Harry estava com uma espada na bainha de um cinto e seguiu confiante, queixo erguido, sorriso no rosto calmo, cumprimentando seus colegas que o faziam com seus belos olhos verdes e sua voz sedosa.
"Boa noite" e alguns simplesmente tremiam.
Não era nada demais, apenas um homem simpático caminhando, mas mesmo assim era Potter. Tornava-se algo apenas... impossível de se desviar a atenção, tanto que vários alunos das quatro mesas e das três escolas chegavam a se esticar ou até levantar para tentar ter um vislumbre melhor de cada detalhe.
Seguiu até a mesa dos seus colegas e imediatamente parou no corredor encarando, primeiro a mesa da Sonserina, depois da Grifinória e o arranjo que tinham feito ali.
- Isso é novidade – comentou indo de um lado para o outro com um sorriso mais marcado.
Só na mesa da Sonserina a diferença já era um tanto gritante. O grupo de Draco, Pansy, Theodore e Blaise estava todo de um lado da mesa, aquele que conseguia ver a Grifinória, Crabbe e Goyle à esquerda do Malfoy. Montague, Pucey e Warrington estavam de costas para a mesa de vermelho, a maioria da corte vindo logo depois deles, exceto Viktor, que sentou-se ao lado de Adrian com um pequeno espaço vago entre eles.
Provavelmente o lugar de Hazz, ele assumiu.
Mas além disso, na mesa da Grifinória imediatamente paralelo a eles sentava-se o grupo de Neville, Hermione, Ron, Gina e até os gêmeos Weasley dessa vez, com Yorlov.
- A mão do rei achou que vossa alteza ia ter muita coisa para contar e nos arrumou assim – explicou Axek.
Hazz fez uma careta sutil:
- Presidente – corrigiu primeiro. – E "mão do rei"? Que história é essa agora?
- Senhorita Lovegood – esclareceu Viktor.
- Não é mais princesa? – perguntou para a loira com um sorriso.
- Alguns ainda chamam assim – comentou a garota. – Mas Ivan e Axek acham que, quando vossa alteza está fora, eu que mando e começaram a me chamar assim. Aparentemente porque evitei alguns desastres.
- Vou focar na palavra "evitou" e não me preocupar com "desastres" nessa frase – comentou bem humorado e tirou risadas de alguns amigos com isso. – Pelo menos, por hoje. Já estou bem cansado, foi um dia ocupado.
- Parece que foi mesmo – comentou Ivan risonho. – Bela espada alteza.
- Olha, você fala tanta merda diariamente que quando disse "bela espada" pensei primeiro em te acertar um tapa, mas vi que foi um comentário inocente – comentou Viktor alto o bastante para chegar no amigo, então todos ouviram.
- Eu não faria comentários sobre a outra espada de sua alteza, eu claramente...
- Se calar a boca agora então não terá feito nenhum comentário, que tal? – sugeriu Axek olhando mortalmente para o irmão.
- Onde conseguiu a lâmina? - perguntou o Tshokows pausando a última palavra e mais risadas se seguiram.
- Os Goblins me deram – respondeu o Potter, sacudindo os ombros bem levemente, daquela forma que fazia os outros adolescentes se questionarem como se fazia aquele movimento de uma maneira que ainda parecia algo adequado. – Não tive tempo nem de me trocar, vim do banco para cá e estava com tanta fome que nem passei no barco para guardar nada ou me jogaria na cama.
- Você foi ao banco assim? – questionou Ron baixinho.
- Os goblins te deram uma espada? – Blaise Zabini murmurou indignado.
- Você está com fome? – chocou-se Neville alto e Viktor riu.
- É. Como eu disse, ainda avaliei seriamente a possibilidade de só ir dormir, mas já estou de castigo, não queria piorar pulando uma refeição...
- Castigo?! – questionou Neville ainda mais espantado.
Ele não foi o único dos amigos de Potter a ter uma reação dessas.
- Acredita nisso? No dia que eu literalmente sou emancipado e me torno legalmente adulto, minha família me pôs de castigo! Eu nem sei como funciona um castigo! Isso nunca aconteceu antes!
- Você nunca ficou de castigo? – Questionou Ron.
- Você é tão perfeitinho assim? – acrescentou Fred.
- O mundo deve estar acabando. De castigo e com fome? – ralhou o Longbottom.
- Acredita que dormi dez horas inteiras noite passada também? – brincou.
- É isso, pessoal, façam suas listas de coisas a se realizar antes de morrer, porque o fim está próximo! – dramatizou e a maioria riu junto, principalmente os na mesa da Sonserina que já tinham notado o padrão nada saudável do amigo. – Mas o que raios você fez para o.... Seu tutor te colocar de castigo? – perguntou Neville.
Ele se sentia estranho falando de Lakroff assim, principalmente com o homem logo ao lado, como se a qualquer segundo pudesse abrir muito a boca e acabaria revelando tudo.
Tinha pensado brevemente na noite de sexta-feira e comentado com Hazz se não seria muito suspeito o homem sair também e se não era melhor pedir para algum dos seus filhos mais velhos resolver a papelada, mas Harrison explicou que não só seus irmãos não tinham como simplesmente sair de seus empregos assim e Lakroff era o chefe da Haus Feuer. Mesmo em Hogwarts ou em qualquer uma das escolas de magia que seguia o sistema de casas, o chefe de sua casa se tornava seu responsável legal dentro da escola, o que tornava o lorde Mitrica na obrigação de acompanhar um aluno em um caso tão delicado.
Também como vice-diretor, responsável (em partes) por algum perigo que acometeu sua escola, além de um dos organizadores do evento, ficou meio que óbvio que ele teria que estar presente e conversar pessoalmente com a "família Potter" para lhes esclarecer o problema e resolvê-lo do melhor modo que conseguissem.
Mesmo assim, comentar sobre ele no castelo sempre o deixava receoso.
Hazz, por outro lado, apenas soltou um risinho baixo.
- Ok, uma coisa de cada vez. Não, eu nunca tinha ficado de castigo – respondeu apontando para Ron. – Eu não sou perfeitinho - olhou para Fred. - Pelo contrário, sou infernal como filho, tomaria o trono do senhor do caos se me dessem tempo para isso, a criança mais peste que vocês poderiam conhecer, mas meu tutor simplesmente não me coloca de castigo... por alguns motivos pessoais, não é a forma dele de lidar com as besteiras que crianças fazem – olhou para Neville. – E ele não me pôs de castigo, quem fez foram meus padrinhos e ele só concordou. Quando fui reclamar, me ameaçaram, então essa história de adulto é uma enganação, parece que eu tenho menos liberdade do que tinha antes. Sirius disse que faria uma lista de "como funciona um castigo e o que devo fazer até ele acabar se não quiser piorá-lo".
- Como assim te ameaçaram? – perguntou Neville. – Listinha? Sirius?
- Sirius Black tem apenas 35 anos, seu consorte 34, isso supondo que mantenha a corte até o fim e se case com esse, mas levando em conta que a média de vida de um bruxo passa dos cem anos, meu padrinho ainda tem muito tempo para casar com alguém que lhe arrume um herdeiro e assim me substitua – a cada frase mais e mais pessoas arregalaram os olhos, a boca ou até arquejaram surpresas, mas o menino continuou ignorando tudo. – Ele é oficialmente a pessoa que mais manda em mim, enquanto eu quiser manter o posto de herdeiro e futuro lord Black. Por isso ele foi o único que conseguiu me colocar de castigo e vai ditar as regras – suspirou. – O resto eu obedeço por respeito, mas Sirius eu sou meio que coagido a isso ou sou deserdado.
Luna franziu o cenho, apesar de ninguém ter notado esse movimento seu já que se chocavam com as coisas ditas por Harrison, encarando-o de olhos arregalados.
"Que estranho" pensou atenta a um padrão da toalha de mesa.
- Consorte? – questionou Hermione surpresa.
- Lorde Black?! Deserdado?! – ralhou Neville, agudo e um pouco mais alto do que queria, mostrando o quão espantado estava.
- Sirius está em corte?! – indignou-se Ron. – Com um homem?!
- Algum problema de ser com um homem? – questionou Harrison sério no mesmo momento, ignorando todas as outras perguntas.
Foi instantâneo.
A voz de Harrison saiu naquele tom levemente sombrio, de arrepiar os pêlos, fez o alvoroço que tinha sido gerado pelas últimas frases quase sumir. Foi até possível perceber com isso que as outras mesas estavam mais quietas, como se também tentassem ouvir (não que conseguissem muito, ainda era um salão gigantesco e com com uma quantidade de pessoas que chegava na casa da milha, o som não se propagava o bastante).
Todos que estavam envolvidos, entretanto, olharam para Ron diante da situação e o menino imediatamente tornou-se vermelho, as sardas ressaltadas por bochechas coradas, orelhas em chamas, baixou a cabeça.
- Não! De jeito nenhum! - acrescentou imediatamente. - É só que... faz muito tempo que isso não acontece... não é? Um casamento de um lorde com outro homem – e foi baixando a voz a cada palavra. – Eu só fiquei... surpreso...
Neville quis consolar o amigo, porque entendia bem o motivo de estar tão envergonhado, mas Hazz já o fez com uma boa risada.
O som ecoou pelas pessoas próximas naquela suavidade e beleza arrepiante, fazendo todos os amigos e colegas lembrarem como o garoto era intenso e como sua presença havia feito falta, mesmo que em pouco menos de quarenta e oito horas.
Uma risada amigável e intensa.
Que não passava de.... "educação'' pensou Neville.
Se sentiu culpado de pensar sobre isso, mas foi inevitável questionar: o que raios Hazz sentia que devia esconder por trás daquela máscara de sorrisos educados sempre? Nunca deixou de se incomodar com ela, quando percebeu que existia, mas nunca confrontou o outro com isso...
Será que devia?
- Isso é verdade - concordou Harry para Ron. - A maioria dos lordes escolhe... – negou com a cabeça. – Ou melhor, tem suas parceiras escolhidas pela família em prol de gerar herdeiros, continuar a linhagem e uni-la aquela que oferecer mais vantagens. Mas Sirius não é um lorde tradicional, todos conseguem perceber isso.
- Dito isso, ele está com roupas de lorde tradicionais – comentou Adrian e muitos sorriram concordando.
- Culpa minha e do meu tutor – explicou Hazz. – O arrastamos para uma sessão de compras, para adquirir algumas vestes bruxas. Por sorte o lorde Mitrica tinha um bom alfaiate disponível e rápido, com filial aqui no país, para nos recomendar e não se importou com a parada. Então o deixamos assim antes de assumir como lorde e me nomear formalmente seu herdeiro para o banco e o ministério da magia. Entretanto, isso foi mais porque eu sigo esse tipo de costume com minha família. Sirius, mesmo que tenha aceitado passar por todo o processo de escolher algo que agradasse Mitrica, meu tutor e a mim provavelmente já estará amanhã de Jeans surrado, jaqueta velha e deixando a maioria das funções da casa Black para as traças... a menos que eu possa impedir. Quero que ele assine um documento me dando aval para tratar da organização, se ele não o fizer.
- É oficial então, você é o futuro Lord Black? – questionou Theodore no ato e Harrison afirmou com a cabeça mostrando sua mão esquerda.
Ela estava limpa, mas aos poucos um anel, antes ocultado por magia, se revelou. A maioria na mesa das cobras se inclinou para enxergar melhor, a distância não permitia ver grandes detalhes, mas era possível identificar uma joia de herdeiro, com um corvo estampado. Claro que o anel Black seria grande e extravagante.
Ninguém questionou a decisão do Potter de mantê-lo discreto, do contrário muitos começaram a sussurrar entre si, animados, empolgados e espalhando a parte realmente interessante da notícia. Rapidamente toda a mesa da Sonserina estava em alvoroço e olhando diretamente para Harrison com novos olhos:
Havia um herdeiro Black nomeado naquela geração!
Estava entre eles!
Eventualmente o burburinho chamou a atenção da Lufa-lufa sentada logo atrás, que curiosos começaram a se espichar naquela direção, alguns mais ousados perguntando para os Sonserinos o que havia acontecido.
Harrison evitou sorrir, já havia feito um teste da velocidade da fofoca em Hogwarts, sabia como era boa, rápida e efetiva. Não estavam decepcionando em serviço.
Entretanto ele sabia que o mais interessante, sem dúvidas acontecia na cabeça de seus companheiros cobras. Ah, sim, ele não estava errado. Tantas coisas passavam pelas mentes do grupo de verde, nem de longe focados apenas no fato de que Harry Potter agora era um Black.
Mas o que significava ser um Black.
Como contariam aos pais? O que aquilo queria dizer politicamente falando? Então e a briga pela liderança da casa? Harrison era herdeiro de um nome que gerava príncipes entre as cobras! Oras, ele já era um na Durmstrang!
Então... para que lado ele iria?
Draco ou Adrian?
Para depois o inevitável:
Casamento.
Era um prato cheio para a alta sociedade, que poderia explodir com aquilo. Sirius Black era o lorde, ele jamais casaria o seu herdeiro por contrato de interesses, então cabia a decisão puramente à Harry? Quantos bailes não começariam a ser organizados agora que precisavam conhecer e apresentar o herdeiro da mui antiga e nobre casa Black para as solteiras em potencial?
Ah!
Era sinal de que algo aconteceria e nem sabiam por onde começar a pensar nas possibilidades, era uma situação toda única, terreno desconhecido e um dos maiores nomes no centro.
Dois, se Potter e sua influência após a guerra fosse colocada em jogo.
Enquanto isso, Blaise segurou o impulso de atravessar a mesa para poder acertar um soco no sorriso de Theodore Nott. Pansy rolou os olhos.
O infeliz tinha acertado tudo!
Harrison sendo herdeiro declarado Black. Sirius Black lorde, ter um consorte e a possibilidade de ele abrir as portas para o casamento homoafetivo ao invés de escondê-lo.
Draco percebeu a troca de olhares dos amigos e ficou muito irritado, aparentemente Theodore sabia daquelas coisas e havia contado para os outros dois.
Não para ele.
"Se eu morrer sem azarar um Nott, eu morro infeliz" Draco se lembrava claramente de Lucius reclamando uma vez em seu escritório após Theomore sair de uma visita. Já conhecia Theo, seu filho, na época e chegou a defender o amigo e seu pai, dizendo que devia ser apenas um velho resmungão, mas o filho era boa pessoa. Lucius apenas resmungou:
"Não se engane, são uns merdas, só não avise isso a eles. Vão achar que é elogio".
Cada dia ele tinha mais a impressão que seu amigo puxou ao pai e estava querendo se tornar irritante, mas com orgulho.
Luna, por sua vez, fez uma segunda anotação mental, vendo as reações dos colegas sonserinos.
"Será?" pensou.
A Lovegood não era muito boa com manipulação. Pelo contrário, não entendia nada da arte, mas teve a impressão de que estava assistindo algo mais interessante do que os Nargles haviam lhe dito a princípio.
Alheios a como tudo aquilo era mais que um simples anúncio, mas um evento social, a mesa da Grifinória teve outro foco.
"Se Sirius ainda tem tanto tempo, porque ele já te colocou como herdeiro?" questionou Ron, mas com vergonha de perguntar. Afinal, talvez Sirius e o marido só não quisessem, não é? Um deles apenas seria pai se concordassem em pedir ajuda para uma mulher, não é? Ou...
Credo, ele não sabia nada direito sobre gays! Mal conhecia a palavra antes do George inferno!
- Está caçando mais trabalho então? – questionou Neville, enquanto isso, o fazendo parar de viajar. – Quer dizer, a casa Black está parada a mais de uma década, não é? Sirius é o responsável por ela, mas você já está querendo pegar isso dele antes de virar lorde?
- Não estou caçando mais trabalho, pelo contrário. Ou alguém faz agora, ou sabe se lá o quão pior vai estar quando eu for lorde. O título já está nas minhas costas... ou mãos. Se eu deixar Sirius negligenciar até chegar minha vez, terei uma dor de cabeça maior, agora ainda tenho ajuda, mesmo que precise empurrá-lo um pouco para isso, Sirius está aqui e tenho meu tutor então podemos juntos arrumar um pouco as coisas.
- Certo – o Longbottom rolou os olhos. – Dito isso, o que raios você fez para em um dia justamente Sirius, o mesmo que "precisa ser empurrado", decidir te pôr de castigo sob ameaça de te deserdar?
- Bem, em defesa de Sirius ele estava bravo com o que fiz, mas nunca disse nada sobre me tirar o título...
- Mas Tom contou para ele, não foi? – sorriu Luna.
O sorriso de Harrison foi mínimo, mas a forma como seus olhos brilharam, mostraram como estava feliz pelo comentário da amiga, lhe foram a prova final: boa jogada.
Luna não tinha errado em seus pensamentos, realmente sua alteza estava jogando. Aquela conversa toda, nada mais era que as movimentações de seu turno. Os herdeiros eram peões que precisavam ser colocados nas direções corretas, mesmo que não fossem suas peças, poderia encaminhá-los com as palavras certas. Destruí-los antes que fossem um desafio grande.
Trazer para si alguns, talvez?
Sim, ele estava em partida e ainda tinha um novo... bispo(?) para pôr no tabuleiro. De alguma forma, os Nargles lhe disseram que aquilo era necessário.
Por quê? A loira não tinha certeza, mas pareceu fazer sentido para os Shinizus, pois Hazz respondeu:
- Foi Tom, sim! Acredita?! Aquele traíra! – reclamou cruzando os braços e Luna deu um risinho alto. – Sirius nem tinha se tocado que ganhara esse poder sobre mim quando me fez herdeiro, mas não.... o Tom tinha que avisar! Ainda me chamou de, estou parafraseando, mas algo como: "dispensável diante da possibilidade de prole" quando mandou Sirius me colocar no castigo.
- Prole? – riu. – Mandou? – perguntou a loira divertida.
- As escolhas de palavras de Tom sempre são fascinantes, não acha? E poderia ser o próprio rei da Inglaterra, ele não iria aconselhar, só foi mandando. "Black, reaja! Ponha o pirralho de castigo" e pronto, eu estou – a Lovegood riu mais. – Quando concordei em apresentá-los, só esperava que não se matassem... O que chegou perto – acrescentou. – Sirius colocou a varinha na jugular do Tom e ameaçou cortá-la, algo assim.
- Como é?! – o de cicatriz de raio nem conseguiu identificar quem disse algo naquele momento, várias pessoas ao mesmo tempo, em mais de uma língua sem dúvidas, mas "como é" de Neville ficou bem marcado.
Ignorou, querendo contar à sua amiga a guinada dos eventos:
- Isso foi no sábado à noite, mas acabaram se resolvendo rápido depois disso. Sirius ainda estranhava Tom, é claro, só que penso que perceberam depois que nada deixaria Orion Black se revirando no túmulo com mais força do que uma amizade entre ambos, então simplesmente funcionou. O seu filho rebelde e o homem que mais odiava em vida, a dupla perfeita para deixar uma alma em seu inferno astral. Hoje estavam falando de livros juntos quando fomos explorar a biblioteca.
- Como Tom arrastou Sirius Black para uma conversa dessas? – questionou Luna com aquela leveza distraída, mas vários dos alunos realmente ficaram curiosos com aquilo.
Quer dizer....
Sirius não parecia do tipo que discutia livros...
- Nem eu sei totalmente. Minha teoria é realmente ver o quadro de Orion sofrer, o que não tenho nada contra, de toda forma. Fomos todos juntos ver como estava o estado do lugar e dos livros, mas me enfiei entre as prateleiras até perdê-los de vista junto com Monstro. Quando voltei Sirius estava com uma pilha dos que "tinha de ler de qualquer jeito" e é o mandão do Tom, mais fácil obedecer. Ele também tinha uma, flutuando entre eles, mas com os que quis emprestado. Veja bem, Orion Black nunca deixaria um mestiço pegar algo da biblioteca dos Black, então sempre dava uma desculpa para não deixar Tom entrar – rolou os olhos. – Sirius, por outro lado, está mais que satisfeito em lhe dar carta branca. De toda forma, depois te conto os detalhes disso. Que o antigo lorde está se revirando no túmulo cada vez que Sirius continua como lorde, isso é fato.
- Quem afinal é Tom?! – questionou Neville alto e incomodado, Hazz o encarou com um sorriso. – Como você sai por um pouco menos que dois dias e eu já não entendo metade do que sai da sua boca? Vai me dizer que é Tom, o dono do caldeirão furado?
- Ah não. Íamos nos hospedar no caldeirão, mas acabamos ficando na mansão Black mesmo. O Tom que estamos falando, com alguma sorte e dedicação, é o futuro namorado do meu tutor... aí – gemeu e levou a mão a testa. – Desculpa, me deu dor de cabeça. Provavelmente é a fome. Onde devo sentar? – e apontou para as duas mesas.
- Namorado? Desde quando seu tutor... – Neville começou a ralhar de novo, mas levou suas mãos à cabeça enquanto Hazz ria baixinho. – Você está jogando um bando de informações só para me ver confuso, não é? – cruzou os braços zangado.
Hazz abriu um sorriso sacana que mostrava os dentes, os olhos brilhando travessos:
- A carinha que você faz quando está tentando fazer uma conta sem ter todos os elementos da equação é tão fofa...
Neville apenas deu um olhar mortalmente gélido e irritado para o Potter, que apenas puxou os cabelos para trás, o sorriso ainda brilhando.
Para muitos que assistiram à cena...
Foi algo de se suspirar.
Enquanto os fios que foram puxados voltavam aos lugares que desejavam, sem qualquer ordem ou pretensão, brilhando nas pontas em vermelho, a imagem descontraída mas intensa deles, junto dos braços marcados de Harrison que puxavam o tecido da roupa, os fios em ouro reluzindo o balançar da capa, mas a pose imponente de sempre, do presidente do conselho... tudo era um conjunto perfeito de nobreza, mas também leveza natural.
Alguns se pegaram pensando em como alguém com aquela aparência poderia ficar na fase adulta.
Era possível se tornar ainda mais belo?
Quando seus traços sutis ficassem ainda mais marcados?
Se assim, já sentiam o ar fugir dos pulmões e precisavam realmente inspirar profundamente para se manterem ali, então no futuro... ficariam apenas hipnotizados por olhos esmeraldas perfeitas em seu formato?
Neville apenas rolou os próprios em suas órbitas, percebendo as expressões de alguns colegas (ele podia jurar que ouviu um suspiro de alguma menina da Corvinal às suas costas!). Quis sugerir a todos de uma vez que arrumassem um babador ou maldito balde para não babarem na mesa. Talvez uma foto com um autógrafo? Para pararem de ficar encarando seu amigo daquele jeito.
A próxima frase, saiu em seu perfeito tom de reclamação:
- Você é insuportável, já disse isso?
Hazz soltou uma risadinha nasalada.
- Com uma frequência bem grande, se quer saber, mas não se preocupe, te comprei isso – e retirou um embrulho de presente com um lacinho entregando para o grifinório confuso.
O de cabelos claros olhou por apenas um instante em suas mãos, antes de fechar o rosto de novo:
- Se isso for um maldito dicionário... Eu vou dar na sua cara, você se prepara.
- Olha, esse fim de semana eu ouvi duas pessoas tendo um diálogo bem parecido com isso, mas eles terminaram se beijando. Eu ganho um beijinho também?
Dessa vez, usou de desculpa o movimento de se abaixar desviando do arremesso de Neville, para levar ambas as mãos à cabeça e gemer outro "ai, ai" baixinho, mas ainda aos risos.
A cicatriz tremendo muito e lhe dando pontadas ardidas.
"Tá tendo promoção?! Irrite dois amigos pelo preço de uma maldita frase?!" irritava-se Tom em sua cabeça e Harry riu mais alto.
Ah, Tom o entregou na mão de Sirius, mas Hazz não deixou barato, vinha usando o beijo que aparentemente o Riddle havia dado em seu avô o tempo todo para perturbá-lo.
Tinha que admitir que o medalhão da Sonserina havia dado bem mais poder para a vinha puni-lo mentalmente, mas valia a pena.
E Marvolo também não machucaria Harrison, mesmo as dores eram rápidas, mais como a sensação de beliscões de estivesse presente.
Enquanto isso, Neville notou outra coisa na distração de Harrison: aquela risada foi sincera.
Hazz era feliz, Neville tinha certeza disso... esperava com todas as forças que sim, mas dificilmente um momento o fazia baixar aquela máscara perfeitinha por tempo o suficiente para virar uma risada genuína.
Aquele foi.
No momento que se abaixou do livro e riu, ele estava sendo sincero.
O fim de semana, mesmo que o Longbottom ainda não tivesse entendendo praticamente nada, tinha uma verdade reluzindo por trás: foi bom.
Hazz estava mais relaxado.
Calmo.
Não era apenas a forma descontraída como manteve-se com todos desde que chegou, realmente dando uma chance de formar amizades, se abrindo, oferecendo um raro espaço onde as pessoas podiam se aproximar e conhecê-lo como era, coisa que Neville estava estranhando desde que percebeu, mas agora ainda estava rindo de verdade. Harrison estava sendo menos o perfeito presidente do conselho que apresentou desde o primeiro dia em Hogwarts e mais... O Hazz. A pessoa.
Aquele que Neville amava estar perto.
Não totalmente ele, nunca era, mas ainda o mais próximo do que conseguia, diante de pessoas.
Olhou um segundo para a mesa dos professores e pensou se foi Sirius que tinha conseguido aquilo. Era um homem animado e divertido, Nev mal o conhecia e havia se apegado muito. Talvez tivesse dado alguma diversão ao afilhado? O suficiente para mostrar o que as amizades de James puderam oferecer de bom e que Hazz perdia com aquela distância fria de sempre?
O Longbottom apenas esperava que fosse duradouro, pois pareceu fazer bem ao humor do amigo.
As demais, alheias a tudo isso que chamou a atenção do grifinório, repararam na magia de Harrison. O livro arremessado, assim que passou pelo Potter, flutuou no ar logo impedindo-se de acertar qualquer outro e, sem que houvesse uma única palavra ou mesmo olhar em sua direção, ficou esperando no ar. Até o momento em que Harrison tornou a ficar ereto e com apenas um sorrisinho de resquício da risada de antes, voou até sua mão estendida.
- É brincadeira – contou. – Não é um dicionário, Nev. Eu só quis te provocar. Não me hospedei por lá, mas passei no beco diagonal e vi que saiu o novo livro daquela saga que você gosta, imaginei que talvez não tivesse comprado ainda. Acertei?
- Eu... realmente não tinha comprado... – murmurou corando e se sentindo mal por ter atacado o outro, mesmo que ele nem tivesse se importado com isso aparentemente.
- Então aqui. Para você – e devolveu o presente.
- Obrigada – agradeceu baixinho, mas realmente grato.
- De nada. Agora ganho meu beijinho?
Neville lhe acertou o livro no braço.
Luna pegou, aos risos de sua alteza, um prato a mais e começou a servir comida, antes que fosse tentar contar tudo que lhe aconteceu de uma vez, se distraísse e perdesse a refeição, como sempre fazia. Theodore pareceu entender o que a loira estava fazendo e já foi chamado:
- Sente-se Potter, Luna está lhe servindo, vai acabar esfriando e você disse que estava com fome.
Recusar um prato feito por Luna pareceu suficientemente absurdo para o moreno, que viu a direção que Theodore o apontou ao lado de Krum e já tomou o assento.
- Se importa, Viktor? – perguntou movendo os dedos, mas o amigo entendeu o sinal.
- Claro que não, já esperávamos por isso. Pode se escorar em mim também, não me importo.
- Obrigada.
Hazz optou por sentar-se com uma perna de cada lado do banco, assim conseguindo olhar para a Grifinória também e foi quando notou a disposição ali. Luna os arrumou de forma que deixava Harrison em uma espécie de ponta onde poderia assistir a todos enquanto conversava, apesar de Viktor ficar atrás de si.
Protegendo as costas de sua alteza.
Ele quase riu disso. Seus amigos eram impagáveis.
- Você é maravilhosa, minha Lua – comentou.
Pansy mordeu o interior da boca e Theo sorriu descaradamente para ela na mesma hora.
- Não por isso, alteza. Coma direito. O senhor gastou muita magia esse fim de semana.
Ele deu uma risadinha, mas concordou já pegando o prato que Theodore lhe estendia e começando a cortar a carne.
- Gastou muita magia? – questionou Neville levemente preocupado. – Como assim? Tem a ver com o seu castigo?
- Bem... – analisou. – Se você olhar em um âmbito geral as coisas podem estar correlacionadas.... Envolvem pessoas da mesma família.
- Da mesma família?
- Entrei numa briga, foi isso.
- Você entrou numa briga?! – questionou Ivan rindo surpreso. – Quem foi o pobre coitado?
- Onde enterraram os restos? – questionou Axek igualmente divertido e os dragões se juntaram nas gargalhadas.
Harrison sentiu nas costas o movimento de Krum para isso e sorrindo ao se dirigir ao seu grã-duque perguntou:
- O que acha Viktor?
- Vejamos, você ficou de castigo. Mesmo que envolva alguém que não conheço, disse que é uma pessoa próxima de seu tutor. As exatas palavras foram "futuro namorado"...
- Apenas eu brincando de irritar minha família, ignore essa parte – brincou dando uma primeira garfada.
- Certo, mas se fosse uma briga normal você teria ganho e, sendo seu tutor como é, não haveria castigo, apenas uma bronca no meio de vários outros elogios sobre sua vitória.
- Isso supondo que eu ganhe.
Aquilo gerou uma onda de bufos dos amigos dragões.
- Claro, porque existe na terra a possibilidade de você perder. Faça-me rir.
- Eu sempre faço, por isso vocês gostam de mim, sou divertidíssimo – brincou e realmente conseguiu que seus amigos tornassem a rir.
Krum ainda fez um carinho nos fios do mais novo antes de continuar:
- Acredito com firmeza que, no máximo, seu tutor ficaria avaliando seu combate e lhe dando dicas de como melhorar na próxima. Tudo indica, portanto, que você não chegou a duelar, alteza. Nos sobra a possibilidade de uma discussão, mas isso não geraria um castigo, deixando para trás algo interessante: você desafiou alguém para uma briga e, se ficaram irritados com você, implica que é alguém que não devia. Ou por motivo que não devia. Mas então eu entro num dilema: quem seu tutor consideraria como "não desafie"?
Harrison bateu palminhas:
- Você me conhece maravilhosamente. Parabéns, se não fosse tolice lhe daria dez pontos para Haus Feuer – brincou. – Meu tutor apenas se incomodou que não o avisei antes de ameaçar um adulto, os demais ficaram perturbados porque fiz isso com um adulto – comentou despreocupado dando outra garfada.
- Um adulto? – perguntou Blaise.
- Longa história e acho que não sair espalhando pode fazer parte do castigo – sorriu. – Eu realmente sinto que levaria outra bronca por isso. Mas, em defesa própria, a culpa não é minha! Não... totalmente. A maioria das pessoas faria algo também! Eu só... reagi do meu jeito.
- Estavam vendendo a briga na promoção e vossa alteza apenas decidiu comprar? – questionou Heinz rindo e fazendo os outros o acompanharem. – Mas decidiu fazer com estilo?
- Algo assim – girou os dedos. – Estilo pode ser uma boa palavra para como fiz a coisa toda. Mas se não se importarem, não vou entrar em detalhes. E aqui em Hogwarts? Aconteceu alguma coisa interessante que queiram contar ou só eu vou ficar falando?
Poderia ter acontecido alguma situação, mas Neville imediatamente falou, antes que qualquer um pensasse em si:
- Agora que pensei sobre isso, a mansão Black estava abandonada a anos...
Sabia que Hazz estava querendo comer e, por isso, tentou fazer com que os outros falassem, para que tivesse tempo para isso. Era igualmente raro Hazz se alimentando adequadamente (o prato que Luna fez era considerável até para os padrões do Longbottom), então deveria deixar o menino comer. Viktor mesmo aproveitou que não estava no campo de visão do Potter e, por cima de sua cabeça, encarou Neville com uma expressão que gritava:
"Sério?!"
Mas o cabelos mais claros não tinha o que fazer, não queria que tivessem tempo de incluí-lo, os dragões tinham deixado claro que Hazz descobriria, mas Nev insistiu que lhe desse um pouco de tempo.
Dizer algo naquele instante, ainda deu uma desculpa para aqueles que realmente olharam em sua direção, diminuindo assim a bandeira que haviam levantado.
Faltava apenas voltar a distrair seu amigo, mesmo que aquilo parecesse errado:
- Você tinha tanta coisa para fazer na cidade, mesmo assim decidiram ficar por lá? Achei que você sugeriu que Sirius te mostrasse o lugar só como desculpa para conhecer a biblioteca dos Black. Ou será que as dez horas que dormiu foi depois de se enfiar na biblioteca, acabar apagando no meio de uma pilha de livros onde demoraram para te achar e tiveram que ficar por lá para não correr o risco de te acordar, porque poderia desistir de dormir para continuar lendo?
- Na verdade eu dormi no sofá enquanto meus padrinhos conversavam com meu tutor – contou distraído encarando a mesa. Luna pegou um molho sem que ele dissesse nada e o entregou. – Você é perfeita, de verdade, já lhe disseram?
- Não, mas vindo de vossa alteza, sempre contará como se fosse dito centenas de vezes.
- Se eu disser centenas de vezes, será dado como fato? – brincou e os dois riram.
Dessa vez, a expressão azeda de Pansy não foi a única e Theodore precisou respirar muito profundamente para não cair na gargalhada. Draco, Viktor Krum, até na Grifinória alguns desviaram os olhos.
Ai, ai.
Ele teria que pensar num bom plano, que competisse com a própria Luna, para ser suficientemente convincente e chamar alguma atenção de Draco. O mesmo que naquele instante espetou seu frango com força o bastante para matar, se já não estivesse morto.
- Originalmente – continuou Hazz, voltando sua atenção para Neville. – Realmente a intenção era apenas passar lá, mas depois que eu já tinha caído no sono, foi como você disse, preferiram ficar por lá. Os anos sem ninguém na Black Manor não fizeram bem ao lugar, já até mandei uma carta para um designer fazer uma visita essa semana e me dar o orçamento para uma restauração completa, e tenho certeza de que ao menos um cômodo terei que reformar inteiro, o que é uma pena, queria mantê-la intacta e preservada em sua história. Mesmo assim, ainda estava suficientemente habitável com a ajuda dos Elfos.... – Ron agarrou a mão de Hermione no mesmo instante prevendo que ela fosse dizer algo sobre o F.A.L.E ou coisa parecida.
A menina o encarou irritada, mas ele aproximou os lábios de sua orelha, fazendo-a calar-se surpresa e tímida.
- Por favor, não hoje, por Neville e um pouco de paz - pediu baixinho, o que lhe gerou arrepios.
- Você vai restaurar... Sirius vai estabelecer novamente como sua morada agora que é o lorde?
- Sirius acha que devemos descartar tudo como lixo ou vender – reclamou com um sorrisinho. – Duvido que queira passar as férias escolares por lá ou considerar sua casa. Eu, por outro lado, deidades me livrem de dispensar assim um prédio histórico da família Black e lar de todos os últimos lordes. Demolir ou vender está fora de cogitação, ele que se vire com essa amargura e rebeldia Grifinória dele, ofereci que desse uma olhada nas minhas propriedades e escolhesse uma, se preferisse. Assim trocaremos e fico com o lar ancestral dos Black para mim.
- Claro, porque Sirius está a anos luz de se importar com o legado da família, mas você está pensando em quando for seu? – sorriu Neville sugestivo, Hazz, igualmente lhe ofereceu outro, fazendo o Longbottom negar com a cabeça divertido. Harry continuou a comer – Você percebe que fez a mesma coisa como foi com seu tutor, não é? Está se tornando um acumulador de legados que os donos dispensam. Às vezes as pessoas só não querem preservar a história podr-. – se interrompeu. – Complicada da família, já pensou nisso?
Alguns Sonserinos o encararam, mas não disseram nada. Entendiam o que o bruxo da luz achava da história que poderia partir dos Black.
Ao menos teve a decência de se lembrar que outros ali partilhavam de histórias parecidas e tinham orgulho de suas linhagens.
- Se eles não querem preservar, tudo bem, mas estamos falando de história. A culpa não é minha que possuem aversão a esse passado ou às ideologias neles. Eu sei separar bem as coisas. O que foi feito daquilo antes de mim, não importa tanto quanto o que pode me oferecer no presente. "Um povo que não conhece sua História está fadado a repeti-la", Edmund Burke.
- Isso não é um trouxa? - perguntou Hermione na mesma hora, pois lembrava-se vagamente de seu pai dizendo aquelas mesmas palavras mais de uma vez.
- Sim. Filósofo, teórico político e orador irlandês, membro do parlamento londrino pelo Partido Whig, por volta de 1750, algo assim. O que tem? - Questionou com um franzir de cenho.
- Eu só não... bem... a maioria não usa citações trouxas...
- A história bruxa muitas vezes está diretamente relacionada à trouxa, estamos habitando o mesmo território, mesmo que separados por nossas culturas, as decisões políticas trouxas afetam nossa vida até na economia, o ministro trouxa sempre deve saber da existência dos bruxos e manter contato com o nosso, e quanto mais para trás se olha, mais interligada está afinal as leis eram diferentes. Ignorar a história trouxa é literalmente parte do que acabei de falar de descartar fatos que nos impedem de perceber padrões sociais e realmente criar mudanças. Guerras trouxas afetaram os bruxos da mesma forma, mas elas são premeditadas por escolhas políticas, a família do meu tutor aprendeu a lidar com isso, estudar o que estão fazendo para prever o mercado financeiro antes da maioria dos bruxos e... - apontou o garfo para Ivan. - Por isso a espada - olhou para Zabini. - Os goblins me deram porque perceberam o padrão que minha família criou de acertar onde investir a cada ano e aumentar nosso cofre, não só isso: o fato óbvio que fui criado por investidores, mas isso no país que moro. Estou voltando a mexer com os cofres Potter agora na Inglaterra, que também enriqueceram no mercado financeiro com negociações bem aplicadas à longas gerações, então ainda serei dono dos cofres Black. Eles querem me agradar antes que eu transfira tudo para outro país e outros goblins. Tentar me convencer a trabalhar aqui com meu ouro. Claro - negou com a cabeça. - Isso é outro assunto e dos bens chatos. Economia, para economistas....
- Ah, eu entretanto fiquei curioso, você nunca havia falado de investimentos antes – comentou Blaise. – Seu tutor então trabalha com a bolsa bruxa?
- Sim. A família Zabini também não é mesmo?
- E os Rosier – intrometeu-se Félix, alguns lugares atrás de Harry, o que o fez se virar. – Imagino que, com o legado Black agora, independente da tentativa do banco Goblin, você sendo herdeiro seja preferencial pensar em expandir, seja lá quais sejam seus antigos negócios, para a Grã-Bretanha e retomar os da casa dos corvos. Estou certo?
- Isso, sem dúvidas.
- Vou aproveitar a oportunidade então e lhe oferecer, também ao lorde Black, que marquem uma conversa conosco. Uma reunião informal, apenas para entender como pretendem se inserir no nosso mercado novamente e incluir possíveis investimentos... Potter?
Blaise estreitou os olhos irritado, Félix estava tentando puxar Potter agora que era o herdeiro Black? Aquela foi uma jogada muito descarada, mas mostrou algo óbvio:
O nome Black ainda era grande demais. A guerra por Harrison Black existiria e estaria começando, não eram só os goblins, nem a simples liderança sonserina, mas uma das casas mais importantes da Inglaterra é um herdeiro "novo", sem grandes alianças formadas no país, qualquer um agora poderia tentar trazê-lo para seu lado, com as armas que tinham.
Luna, por outro lado, quase riu. Porque, dessa vez, notou claramente como aquele movimento abriu uma porta muito útil.
- Não tenho certeza quanto a Sirius, talvez se o lorde Rosier em pessoal fizer o convite consigamos compeli-lo a isso – riu baixinho, Rosier o acompanhou e Blaise revirou os olhos. Theo tomou um gole de suco de abóbora fazendo anotações mentais do que escreveria para seu pai depois dali.
As corujas de toda a Sonserina estariam bem ocupadas naquela noite.
Talvez faltassem as da escola também.
- Quanto a mim, adoraria alguma conversa esclarecedora daqueles de dentro. Seria uma honra, herdeiro Rosier, obrigada pelo convite – acenou, mas já foi logo se virando e acrescentando – Blaise, - ninguém deixou de notar o uso do primeiro nome. – Você disse que ficou curioso. O assunto não lhe é tedioso?
- De forma nenhuma, pretendo continuar com os negócios dos meus pais quando me formar – e ignorou as risadinhas e olhares de deboche que se seguiram muito mal disfarçados.
Sabia o que estavam pensando: "negócios dos pais?"
Iria se casar e matar a esposa? Não tinha o mesmo efeito.
Aquilo era outra prova clara da força dos Black: a Sonserina havia entrado em seu modo cobra.
Blaise era um alvo fácil de derrubar e alvos tinham que ser eliminados em prol de mostrar a força de outros, a hierarquia estava em jogo com um elemento novo, até que isso fosse estabelecido com a devida firmeza precisavam ver todos como um desafio. E nada mais fácil do que diminuir elementos mais fracos, para elevar outros. Qualquer fraqueza seria evidenciada, todos derrubariam quem pudessem para crescer, a tendência básica da sociedade em querer inferiorizar alguns para parecerem maiores. Subjugar quem pudessem.
Harrison, entretanto, emendou:
- Soube que o último lorde Zabini conseguiu triplicar seu ouro em um ano, pois investiu certeiramente em uma indústria em ascensão de produção de poções envolvendo uma raiz ainda desconhecida, na época. Raiz de Tarmatira, não é mesmo? Eu mesmo passei a usá-la muito, mas sempre tenho que pagar valores muito altos por seu cultivo ainda ser muito difícil e a fórmula usada na Itália continuar em segredo. Realmente interessante e uma decisão astuta de seu pai.
- Obrigada – respondeu piscando, surpreso que Harrison soubesse tanto do assunto.
- Entretanto, um conhecido meu de confiança, tem uma teoria interessante. De que foi sua mãe a sugerir a investida. Me disse que, não à toa, mesmo que Lady Xatwin tenha se casado com homens sempre de boa origem, todos e sem exceção, tiveram picos de enriquecimento só após o início do relacionamento com a mesma, mesmo que em contrato ela nunca permita que tenham acesso a seu cofre antes de uma quantidade mínima de tempo juntos. O que faz com que esse aumento seja pelos investimentos que fazem. Isso até famílias que nem investem antes, mas assim que ela é inserida, começam a trabalhar com o mercado e já são bem sucedidos? É um padrão curioso... - comentou baixinho. - Talvez eu a devesse considerar depois do que você mesmo acabou de dizer? Negócios dos "seus" pais.
- Seu conhecido é bem informado - comentou Blaise com um risinho.
- Ele tem um respeito de longa data por sua mãe, não que ela tenha mais que passado os olhos por si em sua trajetória. Numa próxima vez, e se o assunto não for lhe entediar, também adoraria uma opinião de outra família estrangeira, que fez seu nome por aqui. Se não se importar em me dar seu tempo?
- Claro, Harrison. No que pudermos, seria interessante ter uma conversa mais estimulante.
Hazz sorriu pelo uso do nome correto e acenou satisfeito.
Assim a mensagem foi dada.
Potter não ia correndo para o primeiro nome forte que lhe chamasse, nem era um tolo no jogo. Sua atitude ali mostrou a neutralidade diante daquelas casas e, não só isso, um conhecimento tático acerca do que estavam trabalhando.
Os mais novos não sabiam daquele fato, mas os mais velhos em geral sim. Muitos já haviam se perguntado como a mãe de Blaise, mesmo com a fama, continuava conseguindo casamentos vantajosos. Os mais novos, é claro, supunham que fosse procurar em mais de um país.
Os que já estavam sendo treinados para assumir seus títulos, percebiam o padrão.
Ela se mudava para países específicos e arrumava um lorde, esse mesmo lorde de repente investia em um negócio em crescimento naquele país e enriquecia muito mais. Alguns meses depois vinha um casamento. O ponto é que, a antiga Lady Zabini parecia saber onde ir para caçar dinheiro, mas isso não vinha simplesmente por homens, ela tinha um bom olho para negócios. O problema é que, empresas novas, indústrias experimentais e nomes em evidência eram cautelosos e homens gostavam de tratar com homens. Uma mulher querendo investir, perdia para um lorde, daí arrumar um sócio, então se conhecia um lorde e esse lorde eventualmente era seduzido. Ela casava e...
Bem...
Tanto seu lucro, quanto do sócio acabavam em suas mãos.
O que caísse na ideia de que ela o amava primeiro, já que muitas vezes ela arrumava mais de um.
Harrison sabia disso, provou que não era um novato no mercado, realmente. Muitos lordes observavam de perto a mãe de Blaise para investir no mesmo que seus maridos. Azar no amor, sorte nos negócios. Hazz já vinha ajudando e aprendendo com seu tutor, não seria facilmente impressionado.
Então, seu antecessor. Sirius Black, sequer tinha ligação com qualquer uma do lado escuro da política, então para ter o novo herdeiro Black, o que importava provavelmente era o mesmo que importaria para um Potter, uma casa que cresceu sem títulos e na conquista própria: capacidade. Quem teria capacidade real e, portanto, seria mais interessante para si?
Era um negociador, não um simples herdeiro.
Nem precisava oferecer nenhuma lealdade antiga a ninguém. Uma folha em branco, um desafio novo na alta sociedade já estabelecida, mas um que não podia ser ignorado, isso aos poucos ficava claro.
Tinha influência demais para só ser deixado de lado como alguém que devia se forçar a encaixar, pelo contrário, os demais tinham que aprender a como conseguí-lo para seu lado.
Theodore bebeu mais suco de abóbora. Realmente, aquele era o prêmio das próximas temporadas. O troféu social.
Luna sorriu, percebendo como a lona já havia sido armada e o show estava só começando.
- Saindo de debates mais complexos... onde eu estava? - perguntou Hazz.
- Sirius e a casa Black? - sugeriu Viktor.
- Ah, sim! Na opinião do meu padrinho o conhecimento dos Black devia ser descartado. Um bruxo da luz, claro que fica incomodado com o tipo de coisa que posso achar na biblioteca mesmo com supervisão - brincou com um sorriso ladino.
- E ele tem razão para se preocupar? - perguntou Neville antes que sua boca conseguisse ser controlada.
Quase se arrependeu, pela forma que os amigos de Hazz lhe encararam, mas o moreno logo respondeu com leveza:
- Não se ele se lembrar o que tem na biblioteca da minha casa. Estou desafiando os Black a terem coisas mais sombrias do que as três coleções que a família do meu tutor acumulou.
- Seu tutor é necromante, não é? - questionou Adrian, lembrando-se do fato.
- Sim. A "arte considerada a mais sombria" - dramatizou. - Mas é claro, a morte é um tabu para a maioria das culturas. Não necessariamente é uma fama condizente com a realidade. Ainda sim você acaba estudando várias outras áreas para tentar entender uma que claramente foi renegada e, portanto, tem-se poucos avanços reais. Por isso, nossa biblioteca é uma coleção significativa. Para Sirius Black, tudo que está na sua casa pode ser algo imprevisível, mas eu estudo num instituto de artes das trevas e estou vivendo a anos com as artes obscuras, sei reconhecer o perigo em um feitiço, sei calcular consequências que um ritual pode ter, mesmo que não esteja escrito.
"Principalmente, reconheço o padrão das artes sombrias o bastante para saber lidar, mesmo sendo uma magia mais caótica em essência. Então não há porque se incomodar comigo olhando o que tem por lá. Mas nem é apenas a biblioteca absurda para um bruxo da luz.
- Por Sirius eu botava até fogo em literalmente tudo e não estou brincando. Ameacei um dos quadros com isso e faltou ele soprar as chamas na direção para garantir que pegasse.
- Você ameaçou os quadros com fogo? – Questionou o Longbottom confuso e espantado o bastante para o tema "artes das trevas" lhe fugirem da mente.
- A cada frase essa história toda parece mais interessante – sussurrou Theodore e Pansy lhe cutucou as costelas passando o braço pelo colo de Luna, que riu.
O próprio Hazz, o encarou e deu um sorrisinho e uma piscadinha:
- Nem cheguei nas melhores partes ainda, acredite – então voltou-se para Neville após mastigar mais uma garfada sem pressa: - Sim, ameacei, mas... Pense um pouco. Que tipo de coisas você acha que os quadros ancestrais da família Black não estavam dizendo sobre mim, Harrison Potter, filho de Lílian Evans e "o menino que sobreviveu"... como futuro lorde deles?
- Ah...
E fez uma careta desanimada, os demais Weasleys igualmente olharam para Harry com conhecimento de causa e os alunos da Sonserina desviaram os olhos constrangidos.
Eles sabiam bem o que os quadros teriam dito.
Provavelmente coisas que eles mesmo diziam e que só andavam evitando em respeito ao colega.
Também certo medo de como os demais dragões reagiriam se os ouvissem falando. Mas enfim...
Harrison aproveitou esse silêncio pensativos dos outros, que sabia que geraria, para comer mais um pouco e então limpou a boca antes de continuar:
- Eu me estressei, é claro, principalmente com a mãe de Sirius. Acabei ameaçando queimar cada um – continuou Harry. – Fogo é uma das coisas mais difíceis de se defender, então imaginei que seria a melhor ameaça contra os ancestrais Black e as proteções da casa...
Neville mordeu o lábio, chegou a arrancar um pedaço de pele, incomodado.
Aquilo era mentira.
Ele conhecia Hazz, fogo não era a primeira coisa que pensaria, mas sempre era a primeira reação quando estava verdadeiramente... mal.
- Eu não me importo com pessoas me chamando de mestiço ou me diminuindo com coisas do tipo - continuou, encarando seu prato, a voz ainda firme, mas distante. - Eu sou mestiço, isso é fato, mas desafio qualquer um a realmente me oferecer um desafio em batalha. Estou me lixando para todo o resto, poder é o que conta na vida, um bruxo não é nada se sua magia não for capaz de falar por ele – então levantou os olhos para os amigos e deixou que sua magia chegasse a eles.
Sabia, pela forma assustada que alguns o encararam e pelas respirações que outros prenderam, que não estavam apenas brilhando, mas girando. Crepitando. Praticamente podia imaginar, um redemoinho de magia verde fluorescente, algumas sombras negras cortando aqui, vinhas negras no meio das nuvens esmeraldas.
- A minha magia nem precisa falar... ela derruba – quase sussurrou, mas não houve uma única pessoa que não escutasse daquele grupo. – Antes mesmo que a barreira do som fosse quebrada...
Draco Malfoy sentiu os pelos do braço se arrepiarem, ele engoliu em seco e não foi o único, Blaise e Adrian tiveram ainda o impulso de se afastar, mesmo que estivessem já bem longe. Pansy segurou a mão de Luna sem que percebesse, Ron e Ginny reagiram no impulso, realmente se afastaram um pouco.
Neville baixou a cabeça.
A corte, igualmente, mas para esconderem seus sorrisos de orgulho.
A voz de Harrison não foi simplesmente assustadora, dessa vez. Pareceu realmente que todos ali tinham sido engolidos por ela, tornando difícil respirar, enxergar, travando parte dos movimentos, criando uma pressão ao mesmo tempo que um vazio.
É...
Eles tinham esquecido como era.
Afinal era uma sensação tão única que só presenciar poderia fazê-lo entender. A presença de uma magia única, um monstro contido, do qual não se sabia mais do que seu tamanho. O quão perigoso era, não parecia algo que valia a pena descobrir. Aterrador como sentir que não havia mais caminho, além da escuridão, do vácuo infinito. Do fim, gélido e vazio, desconhecido.
Hazz notou, entretanto e com contentamento divertido, que Fred e George não se assustaram, sim sorriram abertamente para aquilo, apoiando seus rostos nas mãos e o cotovelo na mesa.
Dois demônios encarando de frente o caos. Sem medo algum.
Sorriu, pegando uma taça e assumindo um tom bem comum ao voltar a falar:
- Então, normalmente eu ignoraria. Quadros sendo babacas? Novidade! São velhos, viveram em outros tempos, não vou mudar suas opiniões facilmente e é claro que vão me odiar. Não sou filho de Sirius e nem nasci como gostariam. Podem ralhar o tanto que quisessem, mas no fim não mudará o fato de que sou o futuro Lord Black. Só que... Eles começaram a falar do meu pai também... Dos Potter no geral... acabei levando para o lado pessoal. Então eu sei – suspirou. – Foi infantil e eu devia ter só desligado minha audição ou o som deles, mas acabei explodindo. Nunca faria isso normalmente e você sabe - olhou para Neville. – Dói em mim pensar em destruir o legado de uma família, mas caramba, eles...
- Tenho certeza de que mereceram – interrompeu Neville, em apoio para acalmar os nervos do amigo, pois imaginava como era um tema delicado.
Hazz, como ele mesmo disse, não se importava exatamente com as pessoas o menosprezando, seja por qualquer motivo, era confiante o bastante para ignorar, e isso desde que Neville o conhecera.
Entretanto ele tinha um carinho pelo nome Potter.
Pela família que não conheceu, mas que esteve disposta a fazer de tudo por ele.
Insultá-los já tocava em pontos mais profundos de sua mente. Nev entendia que o fazia até mesmo lembrar do tempo com os tios, que também tinham o costume de insultar James e Lily. Só que quando Hazz chegava nesse ponto...
Havia o fogo.
O símbolo máximo do desconforto. Sempre que suas emoções estavam demais, a magia reagia sem que notasse, com aquilo que mais a machucara e que mais tinha aversão.
Tinha que ser fogo.
Seja raiva, medo... angústia. Quando Hazz estava verdadeiramente incomodado com algo, sua magia parecia entrar em dejavú, então girava e queimava.
Os quadros deviam tê-lo irritado demais.
- Eles pararam de te incomodar, pelo menos? – questionou Ron, solidário, com uma careta incomodada.
Credo, ficar ouvindo um bando de supremacistas um fim de semana inteiro? Ele só tinha que parabenizar Potter por suportar aquilo.
- Ah, pararam! Não são loucos. Sirius é – brincou apontando para a mesa dos professores com o garfo. – E é melhor não brincar com loucos.
- O que quer dizer com isso?
- Sirius é o lorde até morrer ou se desistir do título. Não importa o que seus ancestrais pensem ou qualquer bruxo entre os vivos, o anel está em seu dedo e a magia da casa com ele. Sirius Orion Black é quem manda e qualquer coisa que faça agora, ditará como será o nome Black diante da sociedade bruxa. Em outras palavras, tudo que a família fez até hoje, cada coisa que acumularam e o legado que formaram, está nas mãos de alguém que os odeia e não tem qualquer consideração ou respeito por nada disso. Além de que é um grifinório, aparentemente isso importa para eles, total e completamente impulsivo e emocional. Acha que é boa ideia ficar insultando o afilhado dele? Filho do seu melhor amigo ou o próprio amigo em questão? É o mesmo que atiçar leão com vara curta, ele pode fazer um estrago. Dito isso, também insultar a mim, a última esperança da casa? Parece quase suicídio social.
- Última esperança? – questionou Ginny.
- Pense. Sirius é um lorde que verdadeiramente quer vender a casa ancestral para qualquer um ou destruí-la. Um grifinório, bruxo assumidamente da luz que despreza o legado de sua casa, alguém que apoia as decisões políticas dos amigos sem nem se dar ao trabalho de ler o projeto de lei antes de votar sim, literalmente prefere derrubar a casa ancestral a mantê-la, usa vestes trouxas o tempo todo e, com certeza continuará a usar se alguém o forçar a ir em um evento da nobreza a menos que eu esteja junto. Tem a vontade nula de decorar ou obedecer a qualquer uma das regras de etiqueta exigidas... quer dizer, ele está usando um garfo de salada para um frango nesse exato momento... – todos olharam para a mesa dos professores e os sonserinos riram constatando que era verdade. – Mas é claro, para fechar com chave de ouro: o futuro consorte Black. Se eles prestaram atenção por mais de um minuto na interação dos dois, tiveram certeza que nada separa aqueles dois, essa corte vai terminar em casamento. O que os faz pensar: o possível filho dessa união será melhor ou pior do que já estão tendo? Resposta: pior. Centenas de vezes pior. Não apenas em criação, como o que parece importar tanto para eles: linhagem – e tornou a comer, deixando que os demais pensassem na última afirmação.
- Como assim filho dessa união se são dois homens? – questionou Vicente Crabbe.
- Caramba, Crabbe, nem você é tão burro, é?! – ralhou o Malfoy.
Theo riu:
- Ele é.
Pansy lhe acertou um tapa.
- O que foi? São dois homens, não podem ter filhos! – reclamou o mais gordinho.
- Barriga de aluguel – esclareceu Theodore. – Vicente, o lorde Black só tem que achar uma mulher para dar a luz ao seu filho.
- Mas então ela não será a mãe e o lorde Black o pai?
- Não. A mulher é apenas a barriga, um meio, não terá qualquer direito sobre a criança.
- Mas ela ainda foi quem gerou. Se o lorde Black escolher uma lady, o filho ainda seria mais pur-
Draco não deixou Vicente terminar aquela frase, acertou um soco em seu braço, com tanta força que foi audível.
- AI! – gemeu o menino.
- Cala a boca, de verdade! – mandou sombrio.
Um silêncio maior recaiu em ambas as mesas. Os Weasleys arregalaram os olhos na mesa da Grifinória, uma vez que justamente Draco Malfoy, um dos maiores supremacistas que tinham conhecimento e uma das pessoas mais arrogantes, havia impedido um comentário sobre pureza de sangue. Aquilo era não apenas surpreendente, mas uma prova clara de algo que também ficou evidente nos olhares dos colegas.
Vários dos alunos da Sonserina se entreolharam um tanto nervosos, claramente incomodados que algo assim quase tivesse vazado, outros até encaravam Crabbe com uma repreensão muito marcada. Eles estavam bravos com a simples menção de uma fala antes tão... comum.
Mudança.
Era isso que o evento provou.
Hermione Granger olhou para Harrison como se este fosse algum tipo de criatura única, totalmente espantada.
Afinal... ele tinha conseguido em uma semana gerar uma reação dessas na casa da Sonserina? Com todos os seus preconceitos arraigados, todos os insultos e a forma como sempre a menosprezaram por não ser "pura como eles"....
Eles respeitavam Potter a esse ponto?
Ou será que... seria possível que tudo que ele vinha dizendo, sobre bruxos meramente nascidos entre trouxas e a impossibilidade de aprenderem as tradições sem ajuda adequada (que não tinham) havia realmente... sido adepta por eles?
Ela revirou os olhos e quase bufou.
"Impossível" pensou. Pessoas não mudam tão rápido. Havia algum motivo por trás deles querer agradar Potter. A fama ou talvez até o nome Black, que obviamente os tinha deixado empolgados.
Harrisson, por sua vez, sorriu por trás de uma taça de suco de abóbora, fingindo estar alheio a isso. Tomou um longo gole e acrescentou:
- O mais comum, entretanto Crabbe, é que se tente achar uma forma do DNA das duas famílias esteja no filho. Sendo assim, optando por achar uma mulher da família de um dos homens, então o outro fornecesse o material.
- Isso não é traição?
- Credo, toda vez que ele abre a boca eu sinto que morrem alguns neurônios meus – choramingou Theodore e Hazz engasgou uma risada com todas as suas forças.
O Nott, entretanto, o encarou e moveu os lábios:
"Eu sei que você queria rir".
- Existem várias formas de fazer isso – continuou Harry. – E que não envolvem contato físico. Uma das soluções mais óbvias seria achar uma mulher que tivesse linhagem Black para carregar um filho do consorte de Sirius. Assim, os dois pais estarão no sangue da criança. Isso no caso de um filho biológico, mas sempre há a opção da adoção completa de uma criança. Não acho que seria o que meu padrinho escolheria se decidissem ter uma criança, mas estou falando de Sirius. Que tem prazer em perturbar as estruturas da família dele o máximo possível. Tenho certeza de que iria revirar os orfanatos procurando um nascido entre trouxas e eu ia assistir o anuncio rindo muito da cara de cada um dos quadros se continuassem me importunando.
Os Weasley, Neville e Hermione foram os que mais riram dessa vez.
- Daí você é a última esperança deles? – questionou Ron divertido.
- Sim. Basicamente eles têm duas opções incríveis! Deixar o título na mão de Sirius, que é um rebelde subversivo, seu filho, que terá sido criado por ele podendo ser gerado pelo consorte ou um adotado, o que seria sequer um Black "legítimo" – fez aspas com a mão. – Ou então se contentam comigo. Um Black pelo casamento legítimo da minha avó e de uma tataravó com Potters, mestiço, mas ainda o filho de uma bruxa criada entre trouxas e um lorde de uma casa em ascensão. Um bruxo das trevas, que está para bater a marca de mais jovem a se formar em séculos numa escola de magia, seja da luz ou sombria, um sonserino... de certa forma – franziu o cenho confuso.
- Você é sonserino – disse Draco. – Foi selecionado.
- Bem, então um sonserino, criado por um tutor que atinge as expectativas deles, que segue as tradições bruxas antigas e realmente respeita o legado que acumularam, mesmo que não concorde com os ideais puristas e um discípulo de um tutor que eles aprovam. Eu sou o que estaria mais disposto a seguir com o título Black de uma forma que ainda tenham algum orgulho, realmente não me importo de aprender com eles e ouvir seus conselhos para com o destino da casa. Desde que me respeitem. Respeito por respeito, simples. Agora, se eu for chamado de sujeira de novo, alguém morre – ameaçou sombrio, fechando os olhos. – Eu juro que pego os livros de necromancia do meu tutor e aprendo a ressuscitar um deles para eu mesmo estrangular.
- E você quer ser o lorde de uma casa assim? – questionou Neville baixinho e corou com os olhares que recebeu dos sonserinos, como se fosse um tolo.
- Ah, eu faço questão de ser a sujeira dentro do sapato deles, junto com Sirius. Eu sou um bruxo das trevas e os Black são a família que literalmente recebeu o nome sombrio, essa casa me serve. A biblioteca é simplesmente incrível e eles têm muito conhecimento bruxo guardado. Eu entendo o que te incomoda, mesmo assim, sei que o mundo só muda quando as pessoas mudam, simplesmente descartar o passado por não gostar, para mim é tolice e terrível, acho que o melhor é evoluir com ele. Um lorde de cada vez. Sirius foi o primeiro grifinório, eu o primeiro mestiço, houve um tempo que andávamos junto com trouxas e eles sabiam de nossa existência... então existe Hogwarts, para nos ajudar a nos esconder da caça proposta por eles. O mundo está em constante mudança. Veja só, os quadros já haviam, até o momento que fui embora hoje, me sugerido mais de uma vez matar Sirius para pegar logo o título antes que ele estragasse demais.
- Como é?! – ralhou Neville (quantas vezes já não foram aquela noite, ele teve que se perguntar).
Viktor riu alto, uma gargalhada gostosa que chegou a fazer Hazz tremer. O que o divertiu.
Estava com saudades de escorar assim no amigo, mas tinha parado para não iludí-lo ou criar uma situação constrangedora no futuro. Sabia que, naquela noite, Krum não interpretaria errado então pôde aproveitar.
- Acredite, isso é a forma deles de dizer que gostaram de mim e meu sangue já nem é mais o maior dos problemas. Também quando começaram a me chamar de milorde, demonstraram bem isso.
- Os ancestrais Black te chamaram de Milorde? – perguntou Theodore surpreso.
- Pediram desculpas e tudo. Se foi por Sirius estar na força de dar uma de louco, por minha ameaça... ou por causa do meu tutor, eu não sei.
- Ah, essa parte deve ter sido divertida – brincou Neville.
Apesar de ter ficado levemente incomodado quando outras partes de sua recém insegurança em relação à família Grindelwald apitaram, ainda ficou imaginando como os Black reagiram ao saber que Harrison era, na verdade, herdeiro do lorde das trevas.
Sempre era engraçado quando descobriam.
Mesmo que só tivesse visto com sua própria família após concordarem em assinar contratos mágicos (apenas Augusta e Neville não tinham um).
Se os Black ainda tivessem tido tempo de insultar a neta direta de Gellert, além de seu bisneto, ou até mesmo falado algo sobre Lakroff... deveria ter sido um show depois que o fato lhes caiu, tal qual uma bomba.
- Qual foi a reação deles com a possibilidade de terem insultado uma das últimas casas de necromantes que esteve presente no próprio Egito antigo? – perguntou travesso.
Sabia que os Mitrica eram ainda possivelmente até mais velhos do que o tempo dos faraós, e que, no mínimo, não vinham de lá propriamente, mas haviam seguido para onde a arte estava mais forte e em evidência, mesmo assim foi lá que tornaram-se importantes ao ponto de adotar o símbolo do próprio Deus da morte para si.
Só que o tempo passou.
O nome foi engolido, não eram mais conhecidos pelas pessoas no geral, uma "casa morta", de uma arte igualmente negligenciada por anos, poucos conseguiriam juntar àquelas informações (casa antiga e de necromantes egípcios) ao próprio nome de Lakroff Mitrica, essa era a verdade. Ainda mais por estarmos falando de um homem caucasiano, quase albino, bem aos padrões europeus.
Alguns dos colegas de Harrison da Durmstrang já começaram a rir, com conhecimento de causa, pensando no mesmo que o Longbottom.
- Ou será que uma casa de necromantes não é grande coisa para os Black e nem chegaram a se impressionar?
- Ah! É sim! – Hazz empolgado, um grande sorriso nos lábios. – Se estivessem vivos, ao menos duas damas teriam no mínimo desmaiado. Ficaram aterrorizados com a ideia de que tinham falado tanta coisa ofensiva à mim na frente de um herdeiro estrangeiro do nível dele – brincou com um sorriso ladino. – Foi realmente hilário.
E Neville riu, conseguindo imaginar bem a cena. Uma família, nome entre os sombrios, que havia insultado os herdeiros de um lorde das trevas ao invés de agradecerem as deidades por terem sido abençoados podendo juntar suas linhagens.
Não é à toa que pediram desculpa.
O Longbottom, claro, não foi o único a rir dessa imagem mental. Os dragões Feuer que estiveram ouvindo e Luna igualmente, ainda mais quando a menina acrescentou:
- Sem ligação, mas estava reparando. Belas botas alteza – comentou Luna com um sorriso sapeca.
- Meu santo Merlin! – ralhou Neville em choque ao reparar no que Harry usava, chegando a levantar-se da mesa e isso, com certeza, chamou a atenção de uma parte dos curiosos do salão. – Essas são as botas do... de quem eu estou pensando?
- São – respondeu Hazz despretensiosamente, estendendo a perna para deixá-las visíveis e dando uma batidinha no chão. – Minhas preferidas. Apesar de já estarem velhas.
E, mesmo tentando segurar, os amigos da Haus Feuer engasgaram com suas risadas, a maioria tentando ao menos disfarçar mas quase que inútil, ainda mais diante da confusão dos demais.
Ivan teve que se esconder entre os braços.
As piadas do dia anterior sobre Harrison sendo o legado dos lordes das trevas entoando em suas cabeças, todas as partes do corpo se segurando para não olhar para a mesa dos professores naquele instante.
Sirius, que estava encarando o afilhado e seus amigos, teve um reflexo ao perceber do que estavam falando, mesmo naquela distância não foi tão difícil e sua boca falou, antes que o cérebro pudesse conter (mas em sua defesa, ele estava o dia todo atônito com a história da carta suicida de seu afilhado para Voldemort e provavelmente só quis se divertir um pouco):
- Lorde Mitrica – chamou, sem nem mudar o foco de seu afilhado para o albino, manteve a voz apenas firme o bastante para o máximo deles ouvirem. – Gostaria de agradecer de novo por ter deixado Harrison ficar com aquelas botas. Ele parece ter gostado muito, mas sei que foi um capricho de adolescente pedi-las, então espero que não tenha se incomodado.
Foi o bastante. A maioria dos professores (provavelmente todos) mudou sua atenção para os dragões risonhos, um Neville Longbottom com as mãos no rosto tentando não pensar no problema que era, justo depois do que aconteceu com Dumbledore, o uso daquelas botas...
Então o próprio Harrison.
E as botas de lorde das trevas.
Não que todos tenham identificado elas assim, mas, ao menos, Dumbledore o fez. Com certeza.
Lakroff segurou uma risada já começada, Sirius tinha que parabenizá-lo pelo autocontrole, realmente nem pareceu um riso e sim uma tosse.
Ele, por outro lado, quando todos os professores o encararam, depois Harrison e o animago pode assistir a cara de Albus Dumbledore... quase precisou lançar um feitiço em si mesmo para não morrer de rir. Começou a pensar em coisas tristes, para tentar não deixar nenhuma emoção passar para seu rosto, mas seu cérebro traiçoeiro lembrou de James.
Não foi uma memória deprimente.
Pelo contrário, foi como se ouvisse o irmão de consideração dizer em seu ouvido:
"Finja-se de idiota, aja como se não soubesse exatamente de onde vieram".
Então (como sempre) ele teve que ouvir o diabo de galhadas em sua mente, acrescentando:
- Estão em ótimo estado, porque queria se livrar mesmo?
Sirius não tinha feito, mas Lakroff soltou um feitiço de dor em si mesmo, para controlar a vontade de se jogar no chão e rir da expressão horrorizada de Albus.
- São de um parente que não conheci.
Então, porque podia e porque todos os professores estavam olhando para Harrison, exceto Sirius que olhava para o verdadeiro entretenimento:
Lakroff Mitrica deixou um dos olhos castanhos e sorriu exatamente como Gellert fazia para responder:
- Ele já partiu, entende?
Albus levantou naquela hora e Lakroff retirou o glamour, deixando apenas uma expressão surpresa para trás:
- Diretor? – perguntou em tom de confusão inocente, cabeça levemente inclinada e piscando. – O senhor está...
- Professor Mitrica – disse Albus sério, mas baixinho, um sorriso de senhor muito falso que nem tentava chegar aos olhos enquanto encarava o loiro. – Se me permite, gostaria de conversar a sós com o senhor – e indicou a porta ao lado.
- Sobre o que seria, professor? – questionou com um sorriso muito simpático.
- Apenas sobre algumas questões dos alunos.
- Sem problemas, mas imagino então que Igor também deveria nos acompanhar? Ele é o diretor.
- Eu e Igor já conversamos – comentou sorrindo.
Karkaroff olhou para Albus com uma careta confusa.
- Já? – perguntou Igor.
Lakroff riu baixinho.
Albus pensou na possibilidade de amaldiçoar alguém, só não sabia ao certo se Igor ou Lakroff.
Os dois pareciam uma boa pedida, em intensidades diferentes.
- Tenho certeza de que Igor estava distraído – comentou em auxílio da cabra velha, mas baixando levemente a cabeça, depois olhando de soslaio para o homem mais velho.
Não precisou mudar os olhos, ou mesmo muito da atitude dessa vez. Percebeu no brilho estranho dos olhos de Dumbledore que o velho se lembrava daquele olhar.
Lakroff conhecia os trejeitos e técnicas de Gellert melhor do que ninguém.
Anos atrás passou boa parte de seu tempo estudando e decorando cada uma.
E se estivesse certo (o que cada dia se comprovava mais) Gellert ainda era parte do ponto fraco do velho insuportável, então usaria isso (por mais nojento que fosse pensar que o homem poderia estar olhando para o filho do ex apenas por ter herdado a mesma aparência).
- Claro que podemos falar – continuou. – Mas estou algumas horas sem comer e tenho que dar um recado para meus alunos no barco antes de irem dormir, não poderia ser muito tarde já que amanhã já é segunda-feira, então.... se importa que seja amanhã pela manhã?
- Sim, acho até... melhor. Estou um tanto indisposto.
- Mando um bilhete, para confirmar o horário?
- Perfeitamente - então olhou para a mesa num geral. - Meus colegas. Espero que não se importem que eu já me retire.
A maioria negou, perguntou se Albus estava bem e após ele confirmar que só precisava deitar um pouco e "é só a idade, meus jovens", então desejaram melhoras enquanto ele começava a sair.
Minerva se levantou naquele instante:
- Eu vou te acompanhar então, Albus.
- Não há necessidade...
- Não foi uma pergunta, se está mal só quero ter certeza de que chegará bem.
O mais velho encarou a amiga por um tempo antes de suspirar:
- Se insiste.
- Sim, insisto.
Os dois saíram e em pouco tempo os professores voltaram a conversar. Lakroff sorriu assim que os dois professores haviam saído, discretamente para Sirius, que acenou.
O Mitrica estava fazendo sua parte e estava se saindo muito bem. Esperava sair tão bem quanto na sua.
Assim que um tempo bom o bastante se passou, se forçando a entrar em conversas despretensiosas com os demais colegas, Sirius também se levantou, explicando que estava bem cansado do fim de semana e se retirou.
No caminho da torre onde ficava o quarto que recebera, entretanto, virou "no corredor errado", empurrou uma estátua e entrou por uma das passagens secretas que conhecia, sumindo pelos tijolos do castelo.
-x-x-x-
Entre os alunos, depois de Neville decidir que não deveria surtar com as malditas botas de lorde das trevas de seu amigo, o jantar continuou normalmente.
Decididamente...
Eram só botas!
Harrison gostar de manter consigo algo que um homem como Gellert, um homicida que ainda as usava para fazer discursos anti-trouxas... tendo Harry ainda dois irmãos trouxas? Era estranho.
Mas...
Ainda eram só botas.
Conseguiu focar-se em outra coisa quando os dragões Feuer mudaram de assunto, contando por cima alguns dos eventos de seus colegas "arruaceiros" durante o fim de semana e no barco.
Quando Hazz já estava no fim de seu prato, Theodore decidiu perguntar:
- Mas então... Vamos começar a chamá-lo de herdeiro Black, no lugar de Potter?
- Não. Podem continuar com Hazz, ou Harry quem ainda o usa, não vejo o porquê de formalidades. Harrison, preferencialmente para quem quer evitar apelidos.
- Harrison? – questionou Goyle, que percebeu Blaise usando o mesmo nome, mas achou ter sido alguma brincadeira da qual estava por fora
- Fui rebatizado – explicou simples.
- Harrison Potter Black? – questionou Montague. – Você também virou lorde Potter, imagino?
Hazz deu um risinho.
- Ah, sim, sou o lorde Potter agora, mas você errou meu nome.
- Como?
- Harrison James Potter Black? – chutou Theodore.
- Foi uma boa tentativa, mas ainda falha.
O de cicatriz de raio decidiu que seria válido, levantou-se e se virou diretamente para a mesa da Sonserina, curvando-se com um sorriso:
- Herdeiros das nobres casas do território britânico... – então virou-se com um sorriso para a Grifinória – Senhorita Granger – acrescentou com um sorriso direto para a menina, estendendo sua mão para a mesma, que confusa, aceitou. Harrison deu um beijo em suas costas que a fez arrepiar e corar intensamente, então se endireitou – É um prazer. Sou Harrison James, herdeiro da casa Black e lorde Peverell-Potter – e com um sorriso de tirar o fôlego, porém totalmente sacana concluiu – A seu dispor.
- PEVERELL?! – praticamente gritaram a maioria dos alunos, ignorando seus modos, alguns chegaram a levantar-se, outros engasgaram com o que estavam bebendo ou comendo e, sem dúvidas, alguém xingou.
Na mesa da Corvinal (do outro lado da Grifinória) alguém derrubou uma travessa de frango que estavam passando fazendo um barulho bem alto.
Na lufa-lufa, era impressão de Hazz ou alguém que estava andando, no instante que o nome foi gritado, realmente tropeçou e caiu?
- Há quem pense que eu deveria ter deixado Potter lá atrás, mas se Sirius pode ser progressista em seus pontos, tomarei o exemplo dele e do meu pai agora que me convém e farei meu nome do meu jeito. Ninguém pode me obrigar a manter uma ordem específica, mas ainda segui a lógica. Optei por deixar Peverell, hífen, Potter, uma vez que os Potter são herdeiros da casa há gerações e, comigo agora, os lordes. Black acabou ficando como nome do meio.
- O que tem Peverell? – questionou Ivan baixinho para Axek, uma vez que estava bem confuso com as reações muito exageradas dos demais em Hogwarts.
- São uma família de bruxos da época medieval, extinta pela linhagem masculina, mas é um sobrenome mágico.
- Não é um simples nome mágico! São uma das famílias europeias mais antigas que existem! Uma linhagem considerada... sagrada! – arfou Blaise. - São tão antigos quanto os fundadores de Hogwarts! Se não mais!
- Não sei a parte do "sagrada", não me acho sagrado – comentou, decidindo que, sim, as batatas estavam boas o bastante para que pegasse mais um pouco.
Mostrou seu prato para Viktor e apontou para elas, o amigo não se importou em estender o braço cumprido pela mesa e pegar algumas, o servindo.
- Obrigada, brat - agradeceu, antes de se voltar para os demais. – Entretanto, realmente somos uma linhagem bem antiga e também uma das mais importantes de necromantes puros – ignorando os arfares, olhares arregalados e demais reações, encarou a própria mão, a direita agora, levantada no ar. Um anel de base dourada e pedra negra começava a aparecer. – Você deve se lembrar, Ivan, do símbolo que o lorde das trevas Grindelwald usava, não é?
A maioria ali reagiu ao nome, como um tabu sendo dito em voz alta. Desviaram os olhos, engoliram em seco, e se remexeram ansiosos.
Alguns olharam de soslaio para Neville.
- Sim, o que tem? – perguntou o russo baixinho.
- Gellert Grindelwald tinha se apossado do símbolo das relíquias da morte junto do G duplo em seu nome. As relíquias da morte, é claro, vindas direto de um conto infantil sobre três irmãos que conseguem presentes da própria morte. Sabe disso, não é?
- Sim. Claro. Eu.... - tenho em casa.
- Esse símbolo, entretanto, apossado por Gellert e antes dele apossado por Beadlee o bardo, nada mais é que o brasão da minha casa.
- COMO É?!
- É o brasão dos Peverell. Entende como é uma casa antiga? O brasão tinha, assim como todas as outras, um símbolo simples que podia ser gravado em rochas ou jóias. Como o anel da casa – e mostrou muito rapidamente seu anel, antes de se levantar levemente para pegar um pouco mais de porco assado para acompanhar suas batatas. – O conto dos três irmãos, nada mais é que uma versão infantilizada da história de três necromantes caçando formas de usar a morte a seu favor, superar e controlá-la, ou se esconder dela – satisfeito, tornou a se sentar enquanto cortava a carne em seu prato, ignorando totalmente o espanto silencioso das pessoas. – O símbolo, assim como a cruz Ansata do Deus Anúbis, se tornou importante o bastante na história para tornar-se comum na necromancia mundial no geral. Transcendendo a casa e a linhagem Peverell, mas isso, pelos próprios feitos deles que ficaram maiores que seu nome. Há quem nos coloque como pais da necromancia europeia moderna, mas aí já entramos no âmbito da fama, contra a verdade da qual temos poucos registros...
Neville fechou os olhos e inspirou fundo.
Tentando não pensar muito em como aquilo... Só piorava.
Harrison tinha herdado uma casa que Gellert Grindelwald literalmente usou como símbolo?
Então Grindelwald, um necromante assumido, havia conseguido fazer com que seu herdeiro homem mais jovem, o que sucederia seu legado de merda...
Fosse justamente da casa mais importante possível?
O que as pessoas pensariam disso? Harrison não via como poderia dar uma repercussão negativa horrível? Quer dizer... parecia tão errado!
Ele não podia mais esperar, isso teve certeza. Amanhã, logo pela manhã, teria que falar com Hazz sobre tudo.
- Esse é outro ponto interessante, que esqueci de mencionar. Os Black tiveram que aceitar que eles têm a mim, o lorde e último herdeiro de uma linhagem legítima das mais antigas da Europa e um dos maiores nomes da necromancia, a arte considerada mais sombria entre todas, aceito pelo anel da casa e, portanto, dono de sua magia ancestral. Alguém que poderia dar aos Black o direito a mui antiga, nobre e "sagrada" casa dos Peverell, discípulo de outro lorde de casa antiga necromante... Ou o caótico do Sirius. Eles realmente gostaram de mim, isso é certeza – brincou. – O que deve ter sido frustrante para o meu padrinho, é claro, ele estava fazendo a loteria da "desgraça", como chamaria a lady Black. Fez um mestiço seu herdeiro, colocou simplesmente o homem que Orion Black mais odiava em seu círculo de amigos, fez tudo que podia para ser o contrário do lorde ideal e, se tiver um filho biológico, será provavelmente com uma mulher Black deserdada, por ser a única que concordaria, e do seu consorte. Que é um lobisomem – riu, ainda mais quando alguém derrubou alguma coisa. Circe, ele jurava que escutou até um gritinho! – Não existiria homem no mundo dos mortos mais furioso que o antigo lorde Black. Mas parece que o nome Peverell é o bastante para calar a boca da maioria deles e criar uma relação amigável entre nós...
- LOBISOMEM?! – questionou Pansy imediatamente, a voz naquele tom agudo que ela só atingia quando nem se lembrava mais como se chamava.
- Sim. Vocês o conhecem, é um velho amigo do Sirius e namorado desde a adolescência. Remus John Lupin.
- COMO?! - e com certeza não foi uma reação apenas das duas casas rivais.
Até o fim da noite, os Sonserinos terão pensado que os ancestrais Black não estavam apenas suportando Harrison Potter como herdeiro mesmo sendo mestiço, mas agradecendo as deidades em todos os sentidos que ele existisse e os livrasse do outro destino. Naquele momento, entretanto, eles apenas explodiram em perguntas enquanto, aos tropeços e espantos, a fofoca de que Sirius estava cortejando o antigo professor lobisomem de defesa contra as artes das trevas se espalhava por cada aluno do salão.
Harrison sorriu satisfeito.
O nome Peverell se tornou apenas parte da fofoca e mal ganhou a importância que normalmente ganharia diante do resto.
Normalmente não conseguiria escondê-lo, mas precisava que passasse discreto pelos adolescentes, só por enquanto, para que o que vinha com ele não começasse a ser pensado. Os pais, por outro lado, quando fossem informados, surtariam.
Infelizmente para eles, não podiam lidar diretamente com Harrison. Tinham de lidar com o único familiar dele que conheciam: Sirius.
Distrair para conquistar. Muitas informações e poucos perceberiam ou descobririam a ligação de Peverell com os Slytherin e assim, o lorde das cobras continuava escondido pelo lorde dos artesãos.
Voldemort ficaria feliz.
"É sua vez" pensou Harrison, "mas não vou deixar fácil, priminho".
-x-x-x-
"Caro Alvah Samael Raaz,
Dou meus cumprimentos ao novo lorde da casa, não esperava por sua carta, ainda mais estando tão ocupado. Soube de alguns de seus feitos e agora, com o evento que o forçou a assumir os títulos da família antes da hora prevista, esperava que não tivesse tempo para um primo. Mais de quatorze anos, é muito tempo. Uma pena o que aconteceu com seus pais, meus sentimentos diante de todo o evento, espero que tenha tido uma vida boa com a família de sua mãe.
Imagino que sim, tornou-se um bruxo excepcional, ao que fiquei sabendo. Parabéns ao tal tutor também. Espero poder conhecê-lo logo?
No risco de estar me fazendo repetitivo, ainda sobre o evento em que está envolvido, que situação, não é mesmo? Uma entrevista ainda por cima? Rita Skeeter, ao que me disseram, é uma mulher difícil de lidar.
Insuportável, ainda não seria adequado.
Como um inseto. Um besourinho que gruda no cabelo nos momentos mais inconvenientes.
Ficarei ansioso para ver sua entrevista, entretanto. Adoraria eu mesmo ser uma mosca e assistir como lidará com ela. Mas fiquei um tanto intrigado, está pensando em anunciar-se como nosso lord já com a besoura, parece tão pouco... excepcional. Bem, talvez não queira nada além de um jornal expondo-o como novo prêmio no mercado casamenteiro, mas não me parece ser algo que o agrada.
Posso estar enganado, é claro.
De novo, quatorze anos são muitos.
Para o retorno de nossa casa em evidência, acho que um grande evento seria mais apropriado, mesmo assim. Algo tradicional, não uma fofoca. Nunca fomos de falsa modéstia, nascemos para o trono, primeira capa é para lembrar como foi nossa presença, não anunciá-la.
Estou apenas divagando.
Fico apenas decepcionado que sua maior jogada venha logo tão cedo.
Um cheque no começo da partida, mostra apenas que falhei, não que tenha realmente uma capacidade melhor. E você demonstrou tanto potencial, que pareceria apenas desperdício.
Sobre o estado de minha magia, realmente me encontro tendo problemas com descontrole, imagino que os Goblins teriam lhe contado após precisarem retirar tanto de sua conta e de sua generosidade para fazer os reparos, mas sobre minha força lhe garanto que está muito bem.
Preparou aquela cena toda só para testar esses dois aspectos?
Não se preocupe. Logo, talvez possamos nos ver pessoalmente e podemos averiguar nossas evoluções ao longo dessa pausa.
A propósito, é minha vez de fazer uma jogada?
Guarde seus exércitos, rei do inferno, já tive exemplos bons o bastante para conhecer seu poder e considerá-lo digno. Agora, mostrarei um pouco do que sou capaz. Espero que aprecie o show.
Daquele que fez seu nome ser temido".
-x-x-x-
-x-x-x-
Harrison seguiu até o salão e encontrou um lugar entre as poltronas, bem na área mais elevada, de frente para os vitrais cumpridos que pegavam do chão ao teto, junto das prateleiras de livros. Sorriu. Aparentemente seus colegas haviam decidido que aquele era seu lugar.
Sentou na mesma poltrona que vinha utilizando ultimamente e observou o salão que se esvaziava pelo horário brevemente, antes de pegar entre suas vestes um envelope.
Ninguém sabia ao certo o que era, mas já estava aberto. Hazz tornou a ler, pensando em cada palavra, nas implicações por trás.
"Não tem mais o que descobrir aí" a voz de Tom disse em sua cabeça.
"Você não sabia nada sobre Skeeter, não é?" perguntou no lugar.
"Não..." respondeu, mas depois ficou em silêncio.
Hazz estava com uma impressão. A carta que Voldemort mandara como resposta à que havia deixado no banco, o estava inquietando em muitos pontos.
Tom não sabia nada sobre Sketeer, Voldemort sim. Podia ser uma pista falsa? Claro. Harrison mesmo conseguia pensar em, pelo menos, cinco jogadas vantajosas de dar uma pista falsa...
Dez jogadas. Pensou em outras só durante a execução da frase.
Mas não era apenas isso. Era a forma com que escreveu. Os goblins tinham confirmado o estrago na sala, Hazz pagou por toda a reforma (e Ragnar estava querendo uma mesmo, por isso cedeu o espaço), mas... Voldemort não reagiu tão mal quanto o esperado.
Pelo contrário.
"Eu nunca me arrependeria" repetiu Tom.
"Eu sei".
"E eu sou sua vinha. Voldemort é o mesmo de sempre".
Harrison sabia que Tom não queria lhe dar esperanças, mas o menino também entendia que tão pouco queria dar esperanças a si mesmo:
Que aquela carta era absurdamente próxima de Marvolo. Não Voldemort.
Não o homicida louco, maníaco, orgulhoso, com cara de cobra, atitudes desumanas e mente atrofiada de artes das trevas.
Parecia Tom Marvolo Riddle.
O homem, astuto e ambicioso, que usava de palavras, carisma e racionalidade para manipular todos no mundo até que estivessem aos seus pés. Era quase a pessoa que Hazz amava.
"Daquele que fez seu nome ser temido".
Infelizmente, a assinatura provava o contrário. Outros pontos na carta também, mas o mais óbvio era o final. Aquele era o orgulho de Voldemort. Marvolo tinha um humor ácido que Hazz se apegou e cativou com os anos, um que teria assinado:
"Cumprimentos, de você sabe quem".
Voldemort poderia apenas estar mais cauteloso, tentando enganá-lo, mas Hazz o conhecia demais para não perceber.
Mesmo assim... (e esse pensamento ele cuidadosamente guardou de Tom em sua mente) Harrison não descartava a hipótese de que o lorde estava recuperando sim suas Horcruxes. Reabsorvendo e se tornando cada dia mais quem era de verdade. Aquele em sua cabeça poderia duvidar o quanto quisesse, dizer que Voldemort apenas estava realizando todas, pois eram muitos anos, uma já havia sido destruída, outras também podiam ou, no mínimo, estarem em perigo. Mas o menino simplesmente não ignoraria seus instintos, só não ia se deixar baixar a guarda por eles.
No fim, se Voldemort estivesse mesmo, ele descobriria. Seu plano corria exatamente como queria.
Nagini, escolheu aquele momento para deslizar pelo carpete majestosamente até o presidente do conselho, a luz das velas fazendo brilhar suas escamas, os poucos alunos abrindo espaço para que ela passasse.
{- Nagini} - cumprimentou alegremente, guardando a carta.
{- Filhote} - cumprimentou de volta, com carinho óbvio mesmo na voz ofídica. {- Agora é oficialmente um adulto, não é mesmo?} - um som saiu em seguida, se arrastando por sua língua no melhor que conseguia como risada. {- Talvez agora eu deva começar a chamá-lo de Hazz também?}
{- Eu sentiria falta de filhote} - comentou abaixando-se para acariciar a cabeça da amiga, que se esticou e começou a subir por sua perna, então para seu colo e pela poltrona.
Quem assistia de fora, só conseguia pensar no quadro que tal junção formava.
Um rei.
Ainda nas roupas que chegara em Hogwarts, uma perna deitada por cima da outra, Nagini atrás, contornando o tecido escuro do assento, a luz da noite passando pelos padrões que as imensas janelas formavam às suas costas.
Sua alteza, agora talvez fosse...
Majestade.
Alguns arfaram quando uma risada de Harrison ecoou. Algo entre ele e a cobra, algo etéreo, pintado pela lua multicolorida de vitrais principalmente vermelhos e verdes. Seu rosto, os cabelos rebeldes naquela tonalidade vermelho sangue, os olhos verdes brilhando como o campo gramado mais saudável, os braços nos encostos. Relaxado, porém nem por um segundo menos deslumbrante e...
Ah, só lhe faltava a coroa.
A cobra pendia sua cabeça no ar, ao lado da própria, alguns centímetros mais abaixo apenas.
Nada acima do rei. Nada além de sua coroa, que apenas os verdadeiramente capazes podiam ver.
Aqueles que entendiam que não era necessário um objeto, mas a atitude de um governante adequado.
Ao menos, era isso que Axek e Natasha pensavam, ao se aproximarem. O loiro, quase bufou quando viu Luka Dimitrika e seu grupinho de idiotas da Land ousarem se aproximar de sua majestade.
Eles pararam e ficaram um tempo conversando com Harrison, que os respondia dando total atenção e simpatia, comentando sobre a nova contratação de um professor do qual todos andavam falando, outro lobisomem e o padrinho de Harrison.
- Pérolas aos porcos - sussurrou Natasha e Axek concordou.
- Vossa alteza é muito gentil, até com os súditos mais inúteis – também resmungou baixinho.
{- Diga para eles que fizeram um bom trabalho trocando as tábuas do assoalho, mas tem uma um pouco solta} – sibilou Nagini. {- Fez barulho quando passei}.
- Vocês aprontaram comigo fora, meninos? – Hazz perguntou e riu quando o grupo tremeu. – Tudo bem, sou o último que vai julgar considerando que também me meti na minha própria encrenca nesse fim de semana – brincou e os outros também acabaram rindo.
- Vossa alteza pretende nos contar o que fez para ficar de castigo?
- De forma alguma! - exclamou divertido. - Tiveram que trocar as tábuas do barco?
- A viscondessa é implacável, vossa alteza! – reclamou Kruger.
Harry riu alto:
- Ela é. Por isso é a viscondessa. Mas vejam, tem uma tábua que ficou um pouco solta, eu cuidaria disso antes que Nat perceba, ou ela os fará repetir todo o processo de novo – comentou rindo devido às cócegas que Nagini estava fazendo ao se esfregar em seu pescoço.
{- Você de castigo?} ela perguntou. {- Essa é boa. Seu tio despertou para o modo que gosto dele? O que você fez para chegar a esse ponto?}
{- Sirius me colocou de castigo. Lakroff ainda está no modo de sempre}.
{- Continua uma batata sem sal então}.
Hazz riu alto.
{- Batata?}.
{- Nada contra...}.
{- Mas você prefere suas batatas salgadas?} - debochou.
{- Até mesmo apimentadas! Mas...} - continuou ela. {- Ele já tinha que ter notado que deixar de te mimar não vai te fazer trocar de casa, você simplesmente já o ama. Esse complexo de abandono dele...}.
{- Caso tenha se esquecido, você também foi alguém que o deixou, anos atrás}.
{- Não venha jogar isso na minha cara, não! Ele mereceu depois daquelas brigas com Credence! Ele gostava tanto de Lakroff e...}.
{- E meu vô o amava}.
{- Péssima forma de demonstrar isso...} - sibilou frustrada.
- Hazz – chamou Luka, já relativamente incomodado com a linguagem das cobras. - Nós...
- Estão de saída – avisou Viktor, chegando na sala e já ordenando.
Atrás dele vinham Yorlov, Ivan, Axek...
E Luna Lovegood.
- Conversamos mais amanhã meninos, tudo bem? – questionou Hazz.
- Claro, alteza – brincaram e se afastaram, cumprimentando a "princesa" enquanto passavam.
- Realmente, alguns ainda a chamam de princesa, minha lua – comentou Harrison estendendo a mão para a loira que se aproximou e aceitou um beijo naquela região. – O que achou do barco?
- Muito agradável, alteza.
- Pode vir sempre que desejar, basta conversar com um de nós primeiro, ainda é território internacional, sim?
- Claro.
{- Ela é bonita e você parece gostar dela} - comentou Nagini.
- Nagini acha que eu devia cortejá-la, minha princesa – comentou sorrindo.
- Sou muito grata, Lady Nagini – agradeceu sorrindo de uma forma que a fazia brilhar, enquanto se inclinava numa leve reverência. – Mas não é nosso destino.
- Tem certeza? Você ficaria linda nas cores da minha casa.
- Qual delas? – questionou certeira fazendo ambos rirem.
- Você pode escolher, mas acho que verde lhe cairia maravilhosamente.
- Isso é o que eu estou pensando e você finalmente está considerando se casar com alguém que gosta, não com um maldito arranjo que me forçou a fazer? – perguntou Lakroff entrando no salão e se encaminhando até o grupo dos jovens, na área onde os feitiços de silenciamento e ilusão sonora já haviam sido levantados.
- Não crie expectativas, ela já me rejeitou – brincou Harry.
- Não pareceu uma rejeição do meu ponto de vista – e sorrindo, se virou para Luna, igualmente lhe pedindo a mão e beijando: - Senhorita Lovegood, bem vinda ao nosso barco.
- Obrigada Lorde Mitrica.
- Posso saber porque fui chamado para uma reunião da corte dessa vez? – perguntou o mais velho, transfigurando uma poltrona para si.
Os demais também foram tomando lugares e Luna foi puxada por Ivan para seu lado. Logo todos tinham uma posição.
Desde o mais alto escalão com Viktor, Axek, Ivan, Yorlov, Rusev e Natasha, até Elizaveta, Lara, Anatassia e Heinz.
- Antes de começarmos totalmente... alguém tem alguma dúvida ou posso seguir com o que queria tratar?
- Eu tenho - Luna chamou.
- Diga, minha lua.
- Aquilo que vi hoje... foi o lorde Black, não Harrison, não é?
Hazz sorriu, um daqueles que aparecem no canto dos lábios e nos olhos.
- Perfeitamente. Gostou dele?
- É um homem interessante, o lorde Black que está criando - comentou, olhando distraidamente para as prateleiras que se estendiam por metros. - Uma máscara bonita de alguém respeitável, mas simpático e aberto às pessoas. Ao menos... foi o que pensei, até o momento em que sua alteza apareceu? Aquele comentário sobre a mãe de Blaise Zabini não veio da máscara, mas do senhor alteza. Não foi?
- Um pouco menos que um deslize, ainda proposital, mas sim, quase passei do ponto. Foi uma questão de... arriscar. Nunca podemos avançar sem ao menos alguns riscos. Claro, apenas o bastante para mostrar que existem presas e que se trata de alguém como eles, mas...
- Basta que pensem que você mostrou a carta mais alta que tinha logo na primeira noite - emendou Lakroff. - Para mostrar força e que tem fontes confiáveis, porém não necessariamente tem mais que isso no momento. Não é um tolo que acabou de chegar e que passarão fácil para trás... mas é um novato.
- Exatamente - concordou Hazz.
- Como se faz acreditarem que aquela era sua maior cartada, sem que o diminuam depois? - perguntou Luna.
- Igualmente importante - murmurou Ivan. - Quando vocês começam a explicar para mim e para o Heinz do que raios estão falando?
- Por que você me incluiu nisso? - perguntou o húngaro.
- Por que você é burro feito eu e de certo também não sabe, não se finja de sagaz agora... feito eu não - acrescentou após um tempo em que os outros davam risadinhas ou negavam com as cabeças. - Provável que seja ainda mais.
Heinz nem se dignou a cair na provocação. Ele praticamente nunca caia, não era à toa que foi o escolhido para monitor da casa dos dragões. Um dos poucos que sempre mantinha a calma, mesmo entre aqueles répteis de sangue quente. Orgulho? Heinz não era afetado por aqueles tentando diminuí-lo. Pelo contrário, tinha a tendência a entrar na brincadeira com todos.
Também, nem precisava se incomodar, quando eram os amigos, sabia que não era pessoal, então desconhecidos ele tinha seus amigos para matarem o idiota que o tentasse fragilizá-lo.
A única coisa que o tirava do sério ainda era a união de forças de Ivan e Axek. Juntos realmente não tinha quem aguentasse sem no mínimo tentar mandar uma maldição no meio.
O que acertasse era lucro.
- Lembram-se da nossa primeira noite aqui? - perguntou Harrison. - O que eu expliquei, sobre como estava usando o subconsciente dos sonserinos para conseguir invadir suas vidas?
- Sim - concordou Ivan. - Mas você disse, na época, que estava usando a formalidade que foram submetidos na infância para inconscientemente incentivá-los a tomar a iniciativa de lhe dar espaço e diminuir essas barreiras, afetando o julgamento deles ao ponto que não percebessem quando... - ele parou de falar. - Ata, já entendi, esquece a interrupção. Foi falar em voz alta que fez sentido.
- Ok, eu odeio dar razão para o débil aí.... - disse Heinz. - Mas eu continuo sem sacar.
- Naquela época - explicou Hazz. - Mencionei a utilidade de ser o mais formal quanto possível com eles.
"A formalidade é algo que eles estão acostumados, mas não só isso, são lições forçadas a eles desde que aprenderam a falar. Lições estas incômodas para a maioria das crianças, portanto inseridas em suas cabeças muitas vezes pela ameaça, agressão e beirando a tortura psicológica".
- O tratamento que vim mostrando, como Ivan recordou, é o mesmo que foram ensinados a oferecer a outros lordes, mas que esquecem às vezes. Principalmente, quando estamos falando de figuras menos importantes ou "nadas" na nobreza britânica que desde sempre foi muito bem delimitada e cheia de regras, assim como com os trouxas. Um lorde Potter, para alguns ali, é nada. Um lorde amigo deles, ainda por cima? Realmente, não há necessidade de me ter como aliado por isso, o que eles tinham era o desejo de estar em evidência pela minha fama. Sou amigo do "menino que sobreviveu", apenas uma pequena medalinha para exibicionismo de pessoas que gostam de estar nos holofotes, mas ainda sim uma amizade. O que vocês podem não ter percebido é que não fui eu a estabelecer isso: foram eles. Que tipo de relação teríamos. Eu ofereci uma formal, eles que insistiram no contrário. Não fui eu que escolhi onde me sento e com quem converso: foram eles. Nos convidando para sentar, se oferecendo para me acompanharem nas aulas. Não fui eu que decidi chamá-los pelo primeiro nome, foram eles no momento que aceitaram não só o meu, mas meu apelido, como forma comum de tratamento.
- Mas vossa alteza escolheu o quando, não foi? - acrescentou Luna. - Hoje, com Blaise no salão por exemplo. Também com Draco, a um tempo. Decidiu a hora de quebrar mais essa barreira.
- Sim. Draco, Pansy, Blaise. Eles tem minha idade - sacudiu uma mão. - São os mais rápidos a me verem como próximos. Criei várias situações para isso também. Entretanto Adrian Pucey e seu grupo já estão quase no mesmo parâmetro. Blaise, além de tudo, foi em um momento que mostrar que já éramos amigos traria vantagens táticas para ele, então pareceu mais como uma oferta. Claro, era sim um teste. Queria ver como o grupo de um dos possíveis príncipes da Sonserina já me vê e se haveriam de estabelecer isso em público, o que foi o caso. O príncipe me chamou de bonito, seu braço direito aceitou que eu chame pelo primeiro nome na mesa e diante de todos, a dama da corte está encantada por você, minha Lua...
Luna deu um risinho, um daqueles que tanto parecia um sininho de fada:
- Ou seja, você tem a corte de Malfoy?
- Falta Theodore Nott, não? - perguntou Lara Dimitrika.
- Não acho que Theodore seja leal à corte de Draco - pensou em voz alta.
- Dito isso, considerando que a corte de Adrian também está praticamente na sua mão, faltaria apenas a de Félix Rosier? - questionou Viktor.
- Sim, mas pelo que confirmei na forma de agir hoje Félix já se tornou líder quase que oficial de sua casa, então pode ser mais difícil...
- Claro, porque vossa alteza teria dificuldade com o mesmo que te convidou e mostrou interesse ainda hoje como futuro Lord Black - debochou Viktor.
- Ah! É isso que a Chanceler estava falando? - perguntou Heinz. - Sobre o Lord Black? Não é... você?
- E, mesmo que não queira que o lorde Black tenha a força verdadeira de Harrison Potter, vossa alteza já demonstrou que não deixará que tirem vantagem de você - concluiu a Lovegood.
- Me surpreende que não tenha tido indigestão, eu nunca penso tanto assim enquanto como - resmungou Lakroff e alguns dos adolescentes tentaram segurar a risada, mas quando seu professor ainda lhes piscou, caíram nela.
- Acho que estou começando a entender - resmungou o loiro.
Axek bufou:
- Sua alteza, primeiramente garantiu tratá-los como herdeiros, não como colegas iguais, garantiu assim que a barreira criada pelos pais estivesse erguida, então ele criou oportunidades, momentos onde essa barreira poderia ser quebrada, ele os deu uma marreta, mas nunca disse para acertarem a parede, sempre manteve a própria lá. Uma linha imaginária de lordes e ladys. Mas eles insistiam, "chame-me de Adrian, herdeiro Pucey é muito formal", seguido pelo inevitável: "e somos amigos, não somos"? Eles queriam uma amizade com o menino famoso e que é uma figura importante no instituto de artes das trevas e acreditavam que eles estavam ditando as regras, mas era Harrison, sempre. Também tudo que sua alteza mostrou em público, de seu poder e influência, foi apenas para que fosse alguém respeitável. Mas ele nunca foi um lorde realmente da alta sociedade, ele seria se eles o inserissem. Hoje, entretanto...
- Eles conheceram o futuro lord Black - Luna sorriu.
- Alguém que literalmente invadiu a alta sociedade e foi direto para o topo. Mas o topo sempre esteve reservado para sua alteza, ele mostrou que era capaz de tomá-lo conosco como seus súditos desde o princípio. Não foi uma surpresa tão grande... ou melhor - Axek riu. - Harrison garantiu que não seria. Os distraindo.
- Toda essa liberdade que sua alteza criou - tentou Ivan. - A barreira que usou para manipulá-los com rachaduras profundas, hoje seria totalmente levantada de novo. Por um nome forte demais que os deixaria cautelosos. Foi aí que se tornou necessária a máscara que a Chanceler estava falando. "O Lorde Black". Ele, logo em sua primeira noite na escola e entre outros herdeiros, chegou lhes contando sobre um fim de semana em família, fazendo brincadeiras, chamando-os pelo nome, tratando-os como trata a nós, amigos de longa data.
- Muito bem Ivan - parabenizou Harrison.
- Por isso estávamos daquela forma no jantar, sentados com eles no meio - contou Yorlov com um sorriso. - Por isso sua alteza falou tanto, mesmo que se fossemos reparar não saiu nenhuma informação realmente pertinente, ainda pareceu que ele estava se abrindo, estava se comunicando e se aproximando, ele se tornou o lorde Black...
- Um amigo - concordou Hazz.
Yorlov continuou:
- Ele criou a falsa sensação de proximidade máxima e justamente no dia que se anuncia como lorde, não em um baile da alta sociedade, mas na escola, o que o jogou de novo como simples estrangeiro que precisa deles para se encaixar. Sua alteza está fingindo precisar deles. Hazz criou toda uma conversa descontraída para anunciar a coisa, tratou como nada e inconscientemente eles acharão que sua alteza ainda não sabe de tudo. Ainda precisa ser guiado ou...
- Ainda pode ser manipulado - sussurrou Heinz.
- Ele não diminuiu o nível nunca mais do que devia - continuou Yorlov. - Mostrou levemente sua magia, mostrou como alguns temas o irritam e como saberá lidar com eles, deixou claro que entende do desafio e fez jogada atrás de jogada, só que no fim usou Sirius sendo ainda o lorde e sua própria condição como "alguém de fora" para dar de novo uma marreta, dessa vez o dobro do tamanho, para que derrubem suas inseguranças em relação a ele. Dessa vez, ainda jogou mel em cima de si mesmo: o título Black. Algo que todos querem do seu lado, uma carta política perfeita, mas que está oferecendo amizade, para quem souber negociar melhor. Ele já tinha o respeito, agora tem um título atrativo, mas só foi anunciado depois que a amizade fosse mais fácil de engolir e os deixasse menos cautelosos. Afinal, confiamos em nossos amigos.
- Principalmente convidamos eles para eventos, apresentamos a pessoas e, com o tempo, ouvimos sua opinião e seus conselhos... - comentou Hazz despretensiosamente.
Heinz se lembrou da primeira noite:
"Quando isso acontece o diálogo é fácil e a troca de favores mais ainda. Além de tudo eles ficam com a impressão de que foi ideia deles criar a amizade, não percebem que estão sendo usados ou, quando realmente são dignos dessa amizade, acreditam que estão com a vantagem e se tornam arrogantes, mais fáceis de ler e movimentar de acordo com sua necessidade".
- Tudo era só uma máscara para fazer do futuro lorde Black alguém que eles não serão suficientemente cautelosos? - perguntou.
- Perfeito - concordou o príncipe, um sorriso no rosto, os olhos brilhando. - Parece que entendeu. Obviamente ainda houveram outras técnicas de manipulação - acrescentou inclinando-se em cima da própria mão e repousando ali como já lhe era costume, o cotovelo no braço da poltrona. - Trouxas têm estudos interessantes sobre a linguagem corporal, aparência - apontou para a própria roupa. - Postura, gestos, movimentar as mãos e mostrar as palmas subconscientemente está relacionado à sinceridade e credibilidade, então expressões faciais, olhares, como cumprimentar as pessoas.... As últimas pesquisas provam que a linguagem corporal é fundamental para a eficácia da liderança, gerar confiança, credibilidade, carisma e promover colaboração.
"Até a organização do espaço foi fundamental, não só os colocando no meio, que cria a sensação de fazer parte da coisa, mas eles são britânicos e demos um jeito de parecer que eu estava na ponta, assim como o chefe da casa, assim como aquele dono dos maiores títulos, coisa que ficará fixada em suas mentes. Eu sou aquele com maiores títulos aqui. Mas então, escolhi sentar com as pernas abertas. Braços cruzados, pernas cruzadas, mãos à frente dos genitais, mãos nos bolsos e olhares para baixo são vistos como gestos de submissão na psicologia, também de medo ou insegurança. Posturas cruzadas impedem uma comunicação fluída, funcionam como barreiras invisíveis e já foi comprovado que muitas vezes fazemos porque ainda não confiamos ou gostamos o suficiente da pessoa com quem estamos a interagir. Eu estava com uma perna de cada lado do ombro, que é o mais recomendado, mostrei as mãos, fiz gestos amplos, até pedi ajuda para Viktor mostrando um leve traço de alguém que aceita o apoio externo, assim mesmo com os traços de liderança que a postura aberta oferece, outros bem mais sutis de submissão podiam aparecer para distraí-los. Até coçar a cabeça, como sei que fiz em algum momento, é um gesto de abertura e descontração.
- Então, para finalizar com chave de ouro, o príncipe da manipulação aqui, usou Remus sendo o consorte Black! - acrescentou Lakroff. - Até mesmo seu castigo, outro fator que cria proximidade com a realidade dos jovens, e "a ameaça de ser trocado como herdeiro", coisa que sabemos que Sirius nem o próprio Remus nunca fariam, para distrair todos de algo muito mais importante: que você já é o lorde Peverell. Você criou um ambiente onde se distraíram com tantas informações, até mesmo com a curiosidade de quem é seu tutor, para que justamente hoje não lhe perguntassem sobre a casa Peverell. Puxar esse assunto em outro momento dificilmente não seria visto como algo puramente de interesse, o que garante que não vão fazer diretamente, porque mesmo que sejam todos formigas atrás do piquenique social e político que você pode oferecer, não querem deixar isso na cara. Ainda são cobras. Ainda são cautelosas e pensam na melhor forma de parecer que você precisa delas, não que elas estão atrás de você. Isso impediu, não só que o nome Peverell os assustasse, como terão que aprender mais sobre eles sozinhos antes de simplesmente virem até você. É assim que a alta classe funciona. Peverells são príncipes, eles não vão querer te insultar, mas não terão informações o bastante e estão tão lotados de coisa que jogou neles, que isso os afasta de algo que está no ministério trancado e seria muito difícil de conseguir: os registros da família.
- Que mostram que o nome Peverell foi fundido à casa Slytherin e a casa Gaunt - acenou Hazz. - O que dá tempo ao nosso Sirius de conseguir se reaproximar da ordem das galinhas e nos tirar o máximo de informações que conseguir.
- É isso, estou falando, eu ia estar com indigestão e não teria conseguido comer - reclamou o mais velho cruzando os braços. - E não! - gritou interrompendo qualquer outra frase. - Não estou dizendo que você tem razão em perder a fome, você tem que comer! Ao menos três vezes por dia e absolutamente todos os dias da semana.
- Mas...
- Sem mas! Eu apelo para o Tom!
- Isso era para soar como ameaça ou você querendo uma desculpa para ver o novo namorado... - mas parou de repente e começou a sibilar, enquanto levava a mão a testa.
Nagini pareceu responder, sibilando baixinho ao lado, os dois conversaram um pouco antes de Harrison voltar ao foco:
- Já comi no sábado e domingo muito bem, vocês tinham que estar me parabenizando, não dizendo que fiz o mínimo. Isso desmotiva uma pessoa, sabia?
- Parabéns, meu neto. Estou orgulhoso - brincou o albino imaginando o que Tom e Harrison não estiveram falando. Devia ter se dedicado um pouco mais na aulas de ofidioglossia, mal entendeu na velocidade que o menino falou.
Nagini, nem com treino conseguia de toda forma, era preciso ter o dom mágico para falar ou entender o animal diretamente.
- E então? Qual o próximo passo, alteza? - perguntou Natasha.
- Amanhã Rita Sketeer estará em Hogwarts - disse, imediatamente endireitando-se na poltrona. - A bruxa deve por aquela reportagem maldosa que expôs os pais de Neville quando deveria ter se focado no roubo ao banco... Mas ela não apenas pagará. Ela pode ser útil. Por isso estamos aqui. Está na hora de colocar as novas peças no tabuleiro. Yorlov e Luna estão com um plano.
- Um plano? – perguntou Lakroff.
- O senhor sabe que minha família tem um jornal, não é? - perguntou a menina.
- Sim.
- Bem, estamos pensando em abrir outro.
- Abrir outro jornal? Para que?
- Manipulação de mídia – Yorlov deu de ombros.
- Isso é óbvio, mas até que ponto não podemos fazer isso com as que já existem e tem credibilidade fixa?
- Não é simplesmente manipular algumas reportagens - explicou Hazz. - É toda a mídia. Todos os meios de comunicação. Queremos....
- É claro, porque o lorde das trevas mirim - Hazz fez uma careta, mas Lakroff continuou seu comentário: - Pensaria em algo pequeno e simples como manipular um jornal se ele pode fazer isso com toda a informação que é dada ao público eventualmente. De onde eu venho chamamos isso de ditadura do conhecimento - coçou a cabeça.
- Eu não pretendo ir tão longe... - resmungou Hazz com um bufo.
- Claro. Dito isso, por que não o jornal de Luna?
- O Pasquim será usado, eventualmente, mas por enquanto o público cativo dele e a própria fama passa pouca credibilidade, com as classes mais elevadas. Então é parte do projeto, mas de início queremos garantir outro meio, onde uma publicação possa alcançar a nobreza e eventualmente usaremos mais e mais meios de comunicação para transmitir determinadas informações...
- Qual o foco exatamente? O primeiro sucesso que querem alcançar?
- Sketeer ainda tem o jornal com a maior força...
- Vocês querem usá-la para dar um jeito de derrubar o profeta diário? O maior jornal da Grã-Bretanha?
- E acabar com sua credibilidade? Sim. De novo, a longo prazo. Até as peças estarem todas encaixadas e já termos uma base forte no nosso para tomar seu lugar. Enquanto não for o caso, usaremos a própria Sketeer como aliada sem que saiba, o máximo como pudermos.
- Fazendo com que ela derrube o próprio jornal ou elevando o de vocês? Querem acabar com ela para levar o jornal junto, que ela se irrite com o profeta e faça isso por ela mesma se juntando a vocês...?
Hazz sorriu:
- Vou descobrir a melhor forma de lidar com ela amanhã na nossa conversa.
- Minha função?
- Primeiro? Achar alguém para ser "o dono" do jornal.
- Fácil. Segundo?
- Garantir que eu consiga um tempo sozinho com Sketeer, mas só o exato que preciso, nada mais que isso.
- Já acharam algo contra a mulher?
- Yorlov me mandou mais cedo – e o vice presidente entregou seus arquivos para Lakroff. – Luna tem certeza de que é um animago, pelas informações de Yor e certas pistas que tenho, dificilmente a mulher é um animal qualquer, espero juntar as peças quando vê-la pessoalmente e sua magia, mas é quase certo que seja um inseto. Um caso de animago não registrado, entretanto, não é o fim do mundo. Terá que pagar uma multa e se regulamentar, mas não ganhará nada além de mais credibilidade para suas reportagens fajutas antigas, pois todos vão assumir que ouviu as conversas pessoalmente, portanto são verídicas. Não pretendo me basear apenas nisso, precisamos de bem mais, por isso preciso que não deixe ninguém suspeitar amanhã, distraia Dumbledore.
- Fácil.
Hazz levou a mão a testa para puxar os cabelos para trás:
- Penso que ela possa ser nossa fonte para começar a vazar todos os casos que andamos recolhendo e denunciando discretamente no ministério da magia contra Albus também.
Os amigos da corte se entreolharam receosos, pensando quem teria coragem de contar sobre a última informação que tinham do diretor. Decididamente a mais delicada.
Lakroff, entretanto, distraiu sua alteza:
- Desistiu das poções cegueta?
- Vou ficar só com os óculos, por hora. Estou em guerra, preciso de todas as armas.
- E falando nisso, seu inimigo?
- Ainda não fez nenhuma jogada, até onde sabemos. Nada além da carta, estou no aguardo.
- E Barty, alteza? - perguntou Rusev.
- Precisamos dar um tempo, ou forçamos muito sua resistência.
- Vi a cabra velha saindo antes...
- Dumbledore quer falar comigo amanhã pela manhã, a sós, deu uma desculpa horrível.
Harrison sentiu sua cicatriz vibrar (DE NOVO!) e aquecer, nada muito forte, mas ainda sim teve que segurar o impulso de tocá-la porque a desculpa do cabelo não funcionaria de novo.
Mas, principalmente, se segurou para não rir.
"Você cale a boca, Harrison Potter" mandou Tom sombrio.
"Eu nem mesmo movi um músculo facial".
"Bom mesmo".
"Mas..."
"Fique quieto!"
"É o filho do ex dele, nunca que Dumbledore..."
"Eles têm a mesma fuça!" ralhou zangado.
"Mas ainda é o filho..."
"Não se faça de sonso comigo, pirralho!" Mandou a cada segundo parecendo mais irritado. "O homem não consegue olhar na direção de Lakroff sem fugir ou babar! Vocês literalmente estão usando isso a favor no seu plano, quer tentar de novo?"
"Ciúmes?"
A sensação quente foi trocada por uma dorzinha aguda que sumiu rápido, mas foi bem incomoda.
- Dê uma desculpa - disse Hazz em voz alta, olhando para cima. - Faça a reunião com o velho no fim da tarde, depois de Sketeer, assim também garantimos que a coisa não atrapalhe o que tem que fazer na hora da entrevista com ele. Chame-o para sua sala assim que acabarem as fotos.
Lakroff riu, já entendendo exatamente onde o menino queria chegar, igualmente Hazz sorriu, percebendo que o avô conseguia entender bem como sua mente funcionava.
- Sim, meu príncipe - concordou. - Certo. Mais alguma coisa, ou vão querer terminar seus planos sozinhos?
- Não foi você que me fez jurar que não esconderia mais nada?
- Apenas estou dando privacidade para os jovens.... – ele encarou o teto, então suspirou: - Um conselho?
- Diga.
- Rosier.
- Como?
- Os Rosier são jurados de ambas as casas que você será lorde... Evan Rosier...
- O que tem?
- Apareceu nas minhas visões.
- Oh...
- Não... as recentes – murmurou sombrio. – As de antes de sua mãe.
- Espere, você quer dizer que...
- Era para ele estar morto. Sua vida faz parte das mudanças do destino causadas por Lilian Evas, então... eu ficaria de olho – e se levantou. – Vinda Rosier era a mais leal de todas também, não são uma família qualquer, você sabe disso.
- Sei.
- Conseguirei alguém para ser o nome fundador do jornal. Os artigos serão publicados com pseudônimos, imagino?
- Sim.
- O profeta diário?
- Primeiro derrubaremos Skeeter, mas se ficarem no caminho...
- Estou entendendo. Pode deixar. Até mais crianças.
- Lorde Mitrica – acenaram enquanto o mesmo saia.
{- Hazz} chamou Nagini.
{- Eu realmente acho estranho não ser o filhote...} brincou.
{- Eu não sou exatamente uma mãe criança, sabe disso, eu sou... a amiga mais velha que se oferece para comer seus cadáveres}.
{- Ainda acho perturbador}.
{- Tem algo que você vai achar mais}.
{- Que é?}.
{- Sua corte está escondendo algo de você. Eu senti em seus cheiros, eles sabem de algo. Parece envolver Albus Dumbledore}.
{- Obrigada...} sibilou, muito mais sombrio que o normal, o medalhão da Sonserina tremendo em seu peito.
- Certo, vou direto ao ponto: O que estão me escondendo?
- Alteza – Natasha imediatamente falou. – Sentimos muito, não quisemos esconder, Neville que pediu para que fosse assim, mas pretendíamos. Ele apenas disse que queria dizer pessoalmente e lhe demos a chance.
- O que ele queria dizer pessoalmente?
- Tem certeza de que quer ouvir de nós?
- Nath...
- Certo... – suspirou. – Neville Longbottom pode ter sofrido um ataque mental nesse fim de semana. Não um qualquer. É quase certo que Albus Dumbledore leu a mente de seu amigo para tentar descobrir informações sobre você.
Boa noite!
Estou pingando de sono, então só vou dizer:
Espero muito que tenham gostado. Esse capítulo era uma introdução ao novo arco, espero que tenham aproveitado o fim de semana, que agora será o arco da primeira tarefa, que durara um pouco, mas com sorte continuarei entretendo a todos <3
Me digam o que acharam, obrigada a todos os VOTOS e Comentários maravilhosos que sempre me fazem, sem vocês eu provavelmente já teria desistido então muito obrigada sempre!
E até mais.
PS: Vou ter que trabalhar nas eleições, então perdi o único dia livre que tinha para escrever bastante, em outras palavras, o próximo atrasará, já deixo claro. Provável que só chegue na semana do dia das crianças.
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