Capítulo 37 - Mentira de chacal e poder de dragão
VOTEM!!!
Espero que gostem da parte final do "arco do fim de semana". Para quem já tinha cansado, acho que nesse capítulo entenderão porque eu não quis sair dele antes da hora...
Me avisem se tiver erros, vou corrigir semana que vem para tentar não bugar esse capítulo como foi com o anterior (que até hoje tem frases que simplesmente eu não recebo os comentários que são feitos kkkk), mas corrijo. Como já virou costume a cada capítulo novo, acho que esse bateu o recorde de maior, então leiam no seu tempo.
Beijos e boa leitura <3
PS: Vocês não tem ideia de como essa música se encaixou lindamente no capítulo. Escutem depois que terminarem que vão perceber as sutilezas.
PS2: Meu dia foi tão merda que nem quero falar sobre, mas espero que isso melhore o dia de alguém
No capítulo anterior...
O feitiço de aviso de Lakroff, no quarto onde Harrison dormia, interessantemente não apitou alguns instantes depois, quando o quarto foi perdendo o calor, assim como se uma rajada intangível de vento invernal soprasse por ele.
Tão silencioso quanto veio, Harrison suspirou dando um primeiro espasmo noturno...
"Harry estava andando de um lado para o outro em uma casa que não conhecia, mas parecia conhecer. Era estranho. Até a sua altura não se encaixava mais, como se estivesse vendo o mundo de um ângulo que não conhecia.
Pelos olhos de alguém que não era ele.
Um corpo que não era seu.
Quem ele era? Porque parecia ansioso? Talvez triste? Seja lá o que fosse, estava tentando esconder as próprias emoções.
Não sentir.
Não se deixar levar.
Uma barragem rachada, mas que se segurava como podia. O que sairia dela?
Foi quando se sentiu ainda mais estranho, o mundo pareceu girar e ele tremeu ao ponto de precisar se agarrar à parede.
Pânico. Essa emoção ele entendeu.
Neville?
Não. Não era Neville em perigo, mas era alguém que ele se importava tanto quanto.
Ou era algo?
Talvez fosse um objeto...
Alguém estava tentando roubar-lhe algo que queria proteger.
Sim...
Algo que Harry considerava seu. Roubá-lo...
Destruí-lo.
Uma coisa que considerava seu estava em perigo!
Teve essa certeza e junto dela as emoções giraram mais ainda em direções e sons confusos.
Queriam tocar e machucar o que era seu, isso que era importante! Ele não deixaria! Protegeria. Sim, fosse o que fosse. Por isso andava tão cauteloso, não queria perder mais...
Tinha acabado de perder algo igualmente importante, não é? Quase a mesma emoção, sem dúvida. Havia sido tirado dele uma parte daquilo que dava tanto valor e estava diante de uma possível segunda perda?
Ou seria a terceira?
Não estava entendendo quase nada, eram poucas certezas, sua visão estava turva e nem os óculos pareciam resolver. Ele retirou um relógio de bolso e, sinceramente, mal podia identificar os ponteiros ou o que estava ali, mas tudo bem. Conhecia o objeto.
Ou deveria conhecer.
Seus instintos diziam que sim. Então também o guiaram para entender aquele objeto incomum e encantado, mesmo com a visão turva e o pânico.
E os ponteiros caídos...
Mas... haviam dois ponteiros. Quer dizer que deviam ter mais? Que relógio era aquele? Magia... não era para mostrar as horas. Cinco ponteiros originalmente? Agora só dois...
Era isso?
Esqueça!
Harrison decidiu parar de pensar nesses detalhes, apenas focou nas emoções e no que lhe indicavam.
Um dos ponteiros encantados estava apontando para baixo. Um rumo que já sabia (e temia) o significado:
'Perigo estremo'.
- Me leve até ele! - pediu para o relógio, mas quando a magia tentou aparatá-lo, foi impedida e teve a sensação de como tivesse sido cuspido.
Tudo borrou dezenas de veze mais, o lugar claro, de corredor branco e tapetes vermelhos foi substituído por outra casa, tão majestosa quanto, mas escura e meio decrépita. As duas imagens se misturavam, giraram, colidiram e se separaram diante de seus olhos.
Ele estava no meio termo de uma aparatação? Não entendia, mas Harry sempre entendia tudo.
Só não tinha mais certeza disso...
"Apenas preste atenção!"
Ele não se sentia mais como alguém capaz de entender o mundo. Nem como se fosse uma única pessoa naquele instante.
Sua garganta doeu quando gritou de raiva e mais de uma voz saiu, sem dúvidas. Sentia a cicatriz coçar, ao mesmo tempo que não.
- Me leve! - pediu de novo, furioso, mas não funcionou.
Então Harry teve a impressão de algo tocar em sua cabeça, a cicatriz parou de coçar, e apenas a casa branca estava na sua frente de novo. Dela, correu para fora, em disparada olhando envolta desesperado, tentando pensar no que fazer.
A ideia lhe veio.
Tinha que funcionar. Precisava proteger aquilo.
O que era aquilo?
Era importante como sua vida, como... sim... Neville era uma comparação boa, ficou tão ansioso e preocupado como se fosse o amigo em perigo. E irritado.
Furioso!
Dor na cicatriz. Sumiu rápido, como se nem estivesse lá. Vem e vai.
Se algo acontecesse com 'aquilo' ele mataria o ladrão, isso que importava. Faria disso uma missão pessoal. Harry sempre se vingava.
Aparatou. O som do mar cobriu seus ouvidos, agitado tanto quanto suas emoções.
Harry conhecia aquela praia! Mas o que queria ali?
Olhou para a caverna..."
Capítulo 37 – Mentira de chacal e poder de dragão
"Todos sabem como são os leões, também como são as cobras e, aos poucos, descobrimos como são dragões, uma união perfeitamente assustadora desses dois
Astutos, mas também impulsivos, fortes, bravos, corajosos, arrogantes, orgulhosos, desprezam as regras que atrapalham o caminho para seus objetivos e implacáveis. Essa história talvez tenha mais dragões do que se pensa..."
Voldemort.
Marvolo.
Tom Riddle.
Clavance Amaymon Raaz.
Clavance era uma identidade bruxa falsa, muito útil para Voldemort. Foi o nome que mais usou nas suas viagens pelo mundo, para estudar com mestres diversos, ir a bibliotecas, fazer suas pesquisas. Clavance era um nome que significava "família nobre", Amaymon, segundo a demonologia cristã, é um dos príncipes do inferno. Raaz, era "segredo" em sua língua de origem. Diferente dos anagramas que normalmente fazia, Tom pensou nesse apenas pelos significados. Um príncipe, conhecido por demônio, assim como era chamado no orfanato quando criança, preso lá com o segredo guardado tanto em seu nome, quanto em seu sangue nobre, sobre quem era de verdade.
Um bruxo, um Gaunt, um herdeiro de Slytherin, eventualmente um assassino, sempre um enigma.
Riddle. Seu maior segredo a partir de certo ponto, o próprio nome e sua origem.
Não gostava necessariamente da alcunha, apesar de se agradar com como Clavance soava, o restante era apenas necessário. Não precisava ser um bom nome, de toda forma. Tinha apenas de ser útil e o mais distante possível da verdade.
O herdeiro Raaz era um homem astuto, mas simpático e estudioso que viajava o globo e conquistava pessoas com seu chame e palavras. Tinha cinco cofres (apenas pequenos) em filiais do Gringotts e em diferentes países, para guardar livros e artefatos acima de tudo. Havia pouco dinheiro e na filial britânica menos ainda, afinal Marvolo utilizava o próprio em sua terra natal ou de seus servos, mandando-os fazerem saques.
No geral nem precisava de dinheiro mesmo.
Testes de sangue, entretanto, eram caros.
Não conseguiu fazer nenhum dos melhores, onde sua árvore genealógica apareceria com detalhes, mas queria apenas verificar alguns detalhes. Praticamente seria um gasto inútil, mesmo assim o quis.
Por isso, após seus comensais saírem da mansão Riddle e ele finalmente estar sozinho, precisou de apenas uma caminhada pelos corredores (tentando muito sair da casa antes de estourá-la inteira) para perceber que, para ter alguma resposta, precisava de uma visita ao banco.
Falhou na primeira tentativa de aparatação. Sua magia estava muito instável e por isso quase estrunchou.
É claro, estava em pânico, primeiro o medalhão, agora seu anel havia sumido e mesmo que não tivesse com nenhuma horcrux mais, era uma prova gigantesca de que havia alguém cassando e (pior!) conseguiu invocar uma direto de seu dedo? Aquilo era quase impossível de se pensar! Além de suas próprias proteções, haviam aquelas do goblins para assegurar anéis de lorde. Levou tempo para se concentrar o bastante e se acalmar, para conseguir estar diante do Gringotts na esperança de que aquelas criaturas pudessem lhe dar uma explicação plausível para o feito.
Talvez, interiormente torcendo para que fosse apenas eles guardando um anel a muito sem dono na agência.
Colocar um bom feitiço de glamur não foi tão difícil, uma vez que Clavance tinha uma aparência muito semelhante a de Marvolo, mudou alguns detalhes nos olhos, que ficavam mais claros, algumas falhas a mais e acrescentou pintas, marcas de expressão, deformou um pouco as orelhas então entrou.
Para acrescentar a sua lista de surpresas do dia, entretanto, não precisou utilizar o próprio dinheiro.
Assim que adentrou e deu seu nome falso no balcão (quando, enfim, foi atendido pelos Goblins irritantes numa fila que parecia interminável, mas serviu para lhe dar mais tempo para se recuperar) a criatura diante dele arregalou os olhinhos:
- Herdeiro Raaz! – e sua voz subiu decibéis, chamando a atenção de muitos bruxos na agência. – Sentimos muito! Se soubéssemos que era o senhor não o teríamos deixado na fila...
Marvolo imediatamente franziu o cenho, afinal as criaturas não tinham motivos para tratar Clavence como diferente de qualquer outro herdeiro que ignoravam. Lucius mesmo os odiava e era um dos lordes mais importantes da Grã-Bretanha.
Ele não foi o único surpreso com a educação mostrada pelo funcionário da agência, já que outras pessoas começaram a sussurrar e apontar o dedo para Tom e curiosidade, que sentiu sua pele formigar.
Inspirou fundo, desde a tarde vinha controlando sua magia e possíveis surtos de descontrole mágico, para que seus comensais não notassem a raiva e inquietação enquanto precisava resolver as coisas. Ele precisava se mostrar firme e no controle, mas estava o perdendo ao que tudo indicava. Tinha a impressão de que nunca em toda a vida praticou tanto meditação do que no momento que sentiu o anel Gaunt simplesmente sumir do dedo.
Agora estava tendo que resistir de novo.
O que estava acontecendo afinal?!
Marvolo detestava não saber das coisas à sua volta. Mesmo que estivesse conseguindo conter a maior parte, a presença de sua magia ficou mais óbvia para as pessoas e alguns chegaram a se afastar assustados.
O goblin estalou os dedos rapidamente, bem agitado, e pareceu chamar um dos colegas enquanto olhava respeitosamente para "Clavence":
- Por favor, herdeiro Raaz, sentimos muito pela indelicadeza. Em nome do banco Gringotts o levaremos imediatamente para uma sala reservada. Temos uma carta para o senhor também, imagino que tenha vindo busca-la?
- Uma carta? – questionou Marvolo confuso.
- Sim, milorde. Foi deixada na nossa agência no começo da tarde.
Uma luz brilhou na mente de Marvolo ao mesmo tempo que seu coração deu um pico de agitação:
- Que horário?
- Cerca de duas horas, milorde.
Uma bruxa deu um gritinho, mas Marvolo ignorou. Normalmente ele se sentiria orgulhoso e satisfeito com a reação que sua magia gerava nas pessoas, mas agora não era momento para essas emoções. Inspirou fundo de novo e se concentrou em recolher qualquer quantidade de magia que tivesse tentado sair.
- Milorde? – perguntou o goblin assustado. – Podemos leva-lo até a sala? Levaremos a carta até o senhor e tenderemos o que mais desejar.
- Claro, indiquem o caminho – dispensou.
A criatura saiu do balcão e indicou um colega, que foi acompanhando Marvolo, que tentava manter a compostura diante de todos os olhares curiosos e de suas dúvidas.
Ninguém deveria conhecer Clavance Raaz. Nem seus comensais. Clavance nunca deveria receber cartas...
Nem ser chamado de "herdeiro Raaz".
Mesmo assim uma carta aparece para ele no mesmo horário que o anel havia sido roubado.
Marvolo já tinha uma teoria, mas era absurda demais e... não podia ser real. Mesmo assim, ali estava ele.
A sala a qual foi levado era uma das maiores que viu na vida e o Goblin avisou que traria os itens para o teste de sangue, que Tom explicou ser seu motivo original para a visita.
- A carta? – perguntou antes que a criatura saísse o deixando sozinho.
- Em cima da mesa, meu senhor.
Uma simples olhada o fez notar o pacote numa mesa branca bonita e ornamentada.
Não era uma simples carta.
Mas um envelope, grosso, o que indicava ter várias folhas. Era de papel timbrado negro, lacrado por um selo que foi o que mais chamou a atenção de Voldemort.
Obviamente nunca tinha se preocupado em fazer um selo para o seu nome falso, mas dessa vez havia um R grande cercado de arabescos, da perna saia a sútil língua de uma cobra e tudo era cortado por um galho de árvore cheio de ramificações.
Depois de verificar qualquer tipo de feitiço na encomenda e se sentir satisfeito, Marvolo virou e leu as inscrições:
Para: Clavance Amaymon Raaz.
De: Alvah Samael Raaz
[N/A: Alvah quer dizer "imperial", no hebraico. Razz vocês já sabem, agora Samael...
Samael é, em alguns textos, a simbologia do anjo caído. Nas tradições cristãs de origem gnóstica encontrado na Biblioteca de Nag Hammadi, Samael é o terceiro nome do demônio Demiurgo. É neste contexto que o seu nome significa "deus-cego". É retratado por uma serpente com rosto de leão.
Nas tradições judaicas, é identificado como o Anjo da Morte.
Por fim, mas não menos importante, segundo as tradições cristãs canonicas, Samael era o nome original do próprio Lúcifer. Ou seja, o anjo mais próximo de Deus, a estrela do amanhã e portador da luz, que caiu e se tornou senhor do inferno.
Se alguém não entendeu as implicações de tudo isso pode comentar que eu explico de forma mais óbvia, mas acho que já deu para pegar].
A raiva borbulhou como água fervente, apitando tanto quanto uma chaleira velha, ao mesmo tempo que uma ansiedade que Marvolo não sabia explicar disparava seus sentidos, tudo girou e quis estourar.
Ele estava com medo, mesmo que não entendesse isso. Sua mente, trabalhando mais rápido do que a racionalidade permitia, já havia juntado pontos o bastante, mas subconscientemente procurava respostas com cenários menos... difíceis? Cruéis?
Preocupantes, assim como a mais óbvia era.
Virou o envelope de novo para observar o selo e notou que não era um galho de árvore que cortava a letra "R".
Era um raio.
Rasgou a coisa mais rápido do que podia, as mãos tremendo, sua magia girando descontrolada derrubando coisas por toda a sala que, de certo, não podia pagar mas adoraria uma desculpa para atacar alguém então fodam-se os Goblins. Envelope aberto, se deparou com um conjunto de folhas, assim como o esperado.
A primeira continha um teste de sangue ocultado, mas com um selo oficial, o que indicava ser uma cópia legítima e reconhecida. Nele dizia:
Harrison James ..... Black Peverell Potter
Filho de:
James Fleamont Potter
Lilian Rose Potter (nee Evans).
Algo decididamente explodiu naquele momento. Mais de uma coisa, mas por ter sido tudo de uma vez, pareceu apenas uma grande explosão em área.
Vários nomes foram deixados na folha, outros tantos foram apagados. A parte da nascida trouxa, principalmente, mas que diferença faria?
O interessante mesmo era a linhagem Potter, que seguia até os bisavôs:
Henry Ralston Potter
Angelina Potter (nee Sayre).
Sayre...
O lorde das trevas arregalou os olhos em choque. Levou vários segundos de completo espanto para e pegar a próxima folha do envelope.
Era uma cópia de um teste de sangue da própria Angelina Sayre.
Um registro de linhagem, "para autenticação da futura Lady Potter e comprovação de vínculos necessários na elaboração do contrato de casamento formal".
Marvolo já ouviu falar que algumas famílias mais antigas mantinham registros escritos de todos que entravam para a sua linhagem, mas os Potter fariam algo assim?
Angelina Sayre.
Filha de:
Angel Sayre
Elaine Agatha Sayre (nee Gaunt/deserdada pela linhagem)
Marvolo escutou o barulho de algo rasgando e a mesa à sua frente foi transformada em vários pedaços desformes com um segundo e terceiro estrondo altos.
O quarto estrondo foi o chão aos seus pés, o mármore foi rachado e criou um padrão que parecia uma teia de aranha saída de seus pés.
Inspirou fundo quando a cabeça começou a girar.
Precisava se acalmar...
Inspira, expira...
Inspira...
Sua magia ainda está se conectando com o corpo...
Acabou de reabsorver a taça...
Inspira...
A PORRA DE UMA TIA AVÓ!
Marvolo Gaunt tinha uma irmã!
Merda! Mil vezes merda!
Ela foi para os estados Unidos e casou com um Sayre?!
É claro, os Sayre eram sangues puros que apareciam na linhagem Slytherin, poderiam ter oferecido ao lorde Gaunt um casamento entre a herdeira deles e o próprio herdeiro Sayre. Marvolo (o avô de Tom), entretanto, deve ter se recusado a aceitar a irmã casando com primos que "já não eram tão puros". Essa era uma das possibilidades, mas haviam tantas!
Tom Riddle não conseguiria entender tudo que aconteceu, como Elaine chegou nisso, se fugiu, se o pai deles ignorou os resmungos do filho mais velho, ou se o próprio Marvolo já era lorde e imediatamente tirou a irmã da linhagem. Seja o que for, o velho se enfureceu com tudo e quando estava em posição de lorde e a deserdou, isso era fato.
E totalmente possível.
Voldemort sabia o bastante de sua família para ter certeza que o avô faria de tudo para sumir com a simples memória da "irmã traidora de sangue", que casou com primos impuros, americanos e, de certo, cheios de mestiços. Porque foi exatamente assim que fez com o próprio Tom Riddle...
Nunca conseguiu achar a si mesmo nos registros de linhagem, o que era um tanto impressionante. Árvores ministeriais tinham a tendência a serem magicamente precisas e servirem como a maior prova de segredos sujos de famílias antigas, ou mesmo a prova definitiva de um nome. Todos sabiam, mas ainda haviam casos raros de falhas. Mesmo nelas. Tom só conseguiu provar seu próprio nascimento quando fez o teste de sangue em si mesmo e sabia que poderia leva-lo ao ministério, para refazer todo o registro da família Gaunt e colocá-lo como herdeiro legítimo, portanto lorde, mas não fez. Por motivos mais que óbvios, afinal teria de mostrar a todos quem era seu pai e o novo lorde Gaunt seria o mestiço que acabou com a linhagem sangue puro dos Slytherin.
Nunca.
Mas... se Tom não havia no ministério, como nunca pensou que justamente seu avô, que havia conseguido tirá-lo, não poderia ter feito o mesmo com outros na linhagem?
William Sayre era um bruxo puro sangue que aparecia na árvore dos Gaunt do ministério britânico, mas por ter se casado com Rionach Gaunt e dado a luz a herdeira da casa Sonserina, Isolt, que ao chegar na fase adulta tornou-se fundadora de Ilvermorny. Ele, em teoria, era o último dos Sayre, já que Isolt era a única filha registrada e, após o casamento, recebeu o nome do marido Steward. Os Sayre em si, portanto, não eram herdeiros da casa das cobras, o sangue estava apenas em Isolt, que teve duas filhas mulheres com nome do pai: Martha Steward II e Rionach Steward.
Os Estados Unidos, por sua vez, não mantinham registros de linhagem como os da Europa, já que não tinham o sistema de lordes e a árvore que a Grã-Bretanha e Europa no geral mantinham, as buscas de Marvolo por herdeiros lá se resumiram a documentos sobre a fundadora da escola de magia dos Estados Unidos e seus herdeiros.
Não haviam vivos conhecidos em lugar algum.
O nome Sayre em si não era algo importante nas suas pesquisas, uma vez que, novamente, não eram herdeiros da casa Sonserina, apenas se casaram com uma....
Mais uma falha de julgamento, ao que tudo indicava.
Voldemort não foi atrás da linhagem detalhada deles, mas agora, supondo que lá atrás, William Sayre tivesse familiares e eles tivessem se mudado para os Estados Unidos também, talvez até para se aproximar de Isolt quando seu nome ficou em evidência (eles tinham tudo para se encaixar no padrão alpinista social, não é?) então sua família poderia ter prosperado por lá... Esses familiares obviamente não estariam na árvore Gaunt, que nada lhes envolvia, mas se a tradição de se casar com primos se mantivesse, se fosse algo deles assim como de tantos outros sangue puros...
Então, é claro, mantivessem em mente a ideia de casar com os Gaunt para continuarem expondo a posição de herdeiros da Sonserina, se oferecessem uma segunda tentativa de união das famílias e suas linhagens...
Foi aceito uma vez antes, poderia de novo. Era um cenário tão...
As mãos de Tom Riddle tremeram. Fazia tanto sentido que algo assim acontecesse, que sentiu-se burro em não pensar nisso! Em não caçar cada família que já se envolveu com a sua, em detalhes! Nem seriam tantas!
Seu corpo formigou e ele sentiu como sua magia começou a tremer as paredes do lugar.
Inspirou, expirou.
Não.
Não ia se culpar. Haviam muitas reviravoltas nessa história para assumir que foi tolice não pensar naquela possibilidade específica. Ele, infelizmente, ainda era humano e passível de erro, o verdadeiramente astuto apenas deveria saber como lidar com suas falhas.
Mas havia agora uma maldita herdeira Slytherin da qual nunca soube e que havia se tornado uma Potter, de todas as opções.
"Aquele com poder de vencer o lorde das trevas se aproxima...
Nascido daqueles que o desafiaram três vezes".
Estava se contendo e ofegante quando pegou o último papel do envelope, pensando o que ainda mais poderia vir.
A última folha era uma carta, redigida numa bela caligrafia:
"Caro Clavance, príncipe demônio escondido,
Eu, Alvah Samael Raaz, lorde da casa e atual chefe de tudo que nos pertence, dou meus cumprimentos a você, meu primo e minhas boas vindas de volta, após anos longe da sociedade.
Dei minha autorização aos Goblins para que você possa usar dinheiro do meu cofre pessoal e assim realizar o teste de sangue mais caro que conseguir, fique à vontade em comprovar as informações que lhe ofereci se desejar. Não será um problema, em absoluto.
Com a minha saída do banco, estarei a caminho do Ministério para conseguir minha emancipação legal e, portanto, deverei pedir que acessem nossa árvore genealógica para atualizarem-na. Veja que interessante, entretanto, fiquei sabendo (por uma plantinha curiosa, não um passarinho) que a nossa foi roubada. Terei de confirmar o fato, mas se for isto mesmo, caro Clavance, não se preocupe afinal posso oferecer uma nova à eles como lorde, assim que assumir minhas cadeiras na câmara do Wizengamot. Não acho que seria necessário avisar, mas por desencargo não se preocupe, com certeza absoluta garantirei incluí-lo dessa vez.
Imagino que esteja de acordo, mas um evento inesperado me deixou diante desse arranjo e por que não juntar o útil ao agradável? Foi uma surpresa é claro, estou participando de um torneio entre escolas, acredita?
Eu sei, eu sei, o senhor também deve estar espantado. Quem poderia imaginar que meu nome sairia?
Soube ainda que terei de ser entrevistado na segunda feira, acredita que inconveniente irritante? Como se já não fosse um homem suficientemente ocupado. Mas o senhor entende, não é? Claro, garanto que é outra coisa da qual não precisará ocupar seus nervos, ainda terei tempo de cuidar com a devida cautela da imagem e dos bens da nossa família. Vi que o senhor teve de deixa-los em segunda instância devido aos eventos aos quais esteve envolvido ativamente nos últimos anos, mesmo que tivesse sim mantido a excelência. Colocou nossa linhagem em evidência, agora cabe a mim trazê-la para o pódio das grandes novamente.
Garanto que terei mais oportunidades, mas agradeceria imensamente se eu pudesse contar com colaboração. Entende?
Espero que os Goblins tenham me obedecido e o mandado o mais rápido que podiam para longe de qualquer pessoa ou olhar. Lembre-se, meu primo, que você ainda está no banco e é um herdeiro reconhecido e famoso de nossos títulos, não pode decair da linha de excelência esperada e ter um ataque de raiva ou descontrole mágico na frente de testemunhas! O que vão pensar de nós, se sair por aí como um bruxo incapaz de controlar a própria magia?
Eu teria de tomar medidas.
Por fim, espero que entenda agora, caro "sangue real". Mero príncipe do inferno.
Logo todos saberão do nosso segredo.
Que eu sou o imperador.
Eu sou o senhor do inferno, portador da luz, desvirtuado que tomara o trono. Você não está mais com a vantagem aqui.
A taça foi uma ideia idiota. Tente se sair melhor na próxima, pois estarei esperando um desafio de verdade daquele que todos tanto falam, caro enigma, mas se me permite parabeniza-lo: ainda não sei o quão forte está no momento. Perder o corpo depois de não sobreviver a um simples bebê deve ser complicado... Espero que não esteja miserável o bastante para ser fácil.
Queria um show e tanto para me elevar e consolidar de vez com as massas.
Mas já solucionei o como voltou.
Horcruxes rompem a alma, já ouviu falar? Deixam as pessoas insanas. Realmente espero que não esteja assim, não que eu me importe tanto, se fizer um bom trabalho em agir feito o idiota extravagante de sempre, de certo vai mostrar sozinho para o ministério que Voldemort voltou e terá uma dezena de bruxos caçando-o enquanto, talvez, ainda não esteja totalmente recuperado e nem com o tempo para ter todos os comensais reunidos. Seria preso e morto sem que eu nem precisasse levantar o dedo por sua própria estupidez. Seria sem graça, mas tenho outras formas de me entreter que não com um tolo cheio de magia, mas pouca astúcia real.
Repito: Tente não nos envergonhar tanto, ao menos dê algum trabalho para eles.
Meus cumprimentos.
Aquele com o poder de vencê-lo.
Provavelmente foi sua curiosidade natural. Sim, isso foi a única coisa que não o fez queimar aquilo acidentalmente. Ou a porra do banco todo.
Havia mais coisas.
Marvolo sabia disso, mesmo que não conseguisse enxergar.
Teve uma ideia irritante e, com um feitiço simples, cortou a própria mão, deixando que algumas gotas de sangue caíssem no pergaminho.
Funcionou. Sangue... Linhagem de cobra. O papel brilhou e no fim dele apareceram frases escondidas anteriormente, todas em parseltongue:
PS: Acho que não preciso mencionar, mas apenas por garantia: se mandar um herdeiro de seus comensais contra mim em Hogwarts, liberto seus lordes com uma simples visita à uma votação no Wizengamot. Anuncio para todos de uma vez a liberdade de suas casas perante a casa de Slytherin. Seria igualmente ruim mandar que todos seus "amigos" faltassem em alguma, eu pessoalmente não arriscaria deixar apenas votantes da luz num lugar com Dumbledore, criaria a oportunidade perfeita para uma de suas leis ridículas. Que horrível seria dar mais poder a eles diante de sua causa, não acha? Os comensais já não se mostraram suficientemente volúveis com sua primeira queda? Quantos o procuraram para trazê-lo de volta? Não devia arriscar muito por enquanto, alguns até acham que vou tomar seu lugar, veja que engraçado..."
Voldemort fez o teste de sangue talvez por estar no automático e mandou que os Goblins retirassem não só o dinheiro para o pagar, mas também consertar o estrago que fez na sala reservada, tudo do cofre de Harrison Potter e eles concordaram, o que...
Tirou uma risada do homem.
Quando saiu da agência...
Teve uma crise de gargalhadas.
Algumas pessoas o encaravam, enquanto andavam pelo beco diagonal, como se fosse um louco, mas ele simplesmente não conseguiu parar de rir.
"Aquele com o poder de vencer o lorde das trevas se aproxima..."
- Ao menos é um adversário mais que à altura – murmurou para si mesmo se recostando na parede de uma das lojas e olhando para o céu.
Riu mais um pouco, tentou segurar, mas logo estava curvando-se sobre a própria barriga e rindo alto.
Quando, em toda a sua vida, tinha rido daquele jeito?
Tinha a impressão de que nunca.
"Horcruxes rompem a alma, já ouviu falar? Deixam as pessoas insanas".
Recuperá-las e absorvê-las, Marvolo pensava que fazer isso o estava deixando mais são, mas considerando sua reação a tudo aquilo começou a ter suas dúvidas. Talvez ele só tivesse alcançado um nível totalmente novo de insanidade.
Porque estava achando aquilo tão engraçado?
Ele tinha que estar em pânico e furioso! Caramba, aquela carta basicamente mostrou que aquele destinado a vencê-lo simplesmente sabia todos os seus segredos! Desde o nome falso até as Horcruxes. Não só isso, havia roubado (ao que confirmou depois) todos os títulos e tinha a intenção de lhe roubar a vitória sobre o mundo bruxo.
Gaunt, Slytherin, Peverell... que nem sabia que tinha direito a isso! Malditos Gaunt! Tudo pelo que ele já matou para conquistar tinha sido tomado por um adolescente, que ainda teve a ousadia de mandar uma carta daquelas? Uma perfeita carta de lorde, para um simples herdeiro que tinha um histórico de estrelismo...
Harrison...
"Ele até mudou de nome" e riu de novo, bem quando tinha conseguido parar.
Ele estava insano, com certeza.
Porque gostou daquilo.
Não de perder, obviamente. Mas... talvez ele tivesse chegado em um nível de ódio tão grande que batera no topo e então caiu com tudo para outra emoção. Só não sabia definir qual.
Marvolo, não muito mais velho que Potter, havia cometido o primeiro assassinato, já tinha aliados e começava com seus planos que eventualmente o levariam a se tornar o maior lorde das trevas. Aquele para vencê-lo tinha que ser capaz de se igualar.
Ou seria frustrante.
Era isso, ele simplesmente poderia preferir que seu inimigo fosse fraco, fácil de vencer, mas se fosse esse o caso...
Então ele estava destinado a ser derrotado por um garoto qualquer?
Lorde Voldemort entre todos! Depois de tudo que fez, estudou e treinou? Uma criança?! Seria vergonhoso e... decepcionante.
Mesmo quando pensava em Neville Longbottom como o escolhido, se consolava no fato (mesmo que não notasse) de que era alguém capaz de matar o basilisco de Salazar Slytherin na tenra idade de doze anos. Mesmo assim, não era o bastante para não ser vergonhoso ter perdido.
Mas agora... Sua vitória não seria entre um lorde das trevas e uma criancinha que nunca teve chance. Não seria uma piada de um adulto batendo em cachorro morto. Não estava destinado a ser inimigo de um qualquer. Isso não combinava com o que Voldemort queria para a vida.
Mas... Destinado a lutar contra o filho da luz, o anjo salvador, "caído" para prodígio das trevas, nascido com a promessa de grandeza, um herdeiro sagaz e ousado, capaz de levantar-se sem medo contra Voldemort, não por tolice infantil, mas por ser um verdadeiro inimigo digno de criar o desafio e...
Alguém com a arrogância de uma cobra de verdade.
"A taça foi uma ideia idiota. Tente se sair melhor na próxima, pois estarei esperando um desafio de verdade, caro enigma..."
Ah! Isso era um adversário que Voldemort merecia das deidades. Destiny! Era isso! Um bruxo impressionante! Que, quando Voldemort derrotasse, mostraria ao mundo a sua verdadeira capacidade!
Sorriu largamente, com todos os dentes, em silêncio.
A... entendeu agora qual era a emoção que estava o dominando. Estava em êxtase.
Claro, ainda havia receio, não era do tipo pouco cauteloso e não iria mais subestimar Potter. Não que o tivesse diminuído até agora, já que desde o primeiro relatório de Barty, havia notado a capacidade do menino. Havia um pequeno medo vindo do fundo de seu âmago, que o lembrava da possibilidade de ser derrotado, mas Voldemort sempre foi arrogante e soube que nascera para ser um bruxo impressionante. O maior.
Quando foi atrás dos Potter, foi apenas uma garantia. Se tivesse uma chance de perder, porque não se livrar da coisinha irritante antes, não é? A derrota foi causada por uma sucessão de eventos que não previra, magia antiga que Lilian Potter usou e ele devia ter se precavido, mas nunca deu a devida importância a tudo aquilo. Foi sozinho, apenas com sua varinha e pouca paciência, queria apenas provar um ponto: ninguém era capaz de vencê-lo quando queria.
Os Potter, que sempre foram um problema, caíram mais rápido do que nunca e Harrison sobreviveu por quase um acaso.
Neville ou Harrison, qualquer um dos dois, Voldemort pretendia não repetir o erro da primeira quando pensava naquilo sozinho nas florestas da Albânia. Quando retornasse, chamaria os comensais para assistir, daria uma chance a criança para sobreviver e assim mostraria a todos que nunca tiveram chance, nunca foi uma luta.
Agora, entretanto...
Era guerra.
Tom Riddle nunca recuou diante de um desafio, não um preparado com tanto carinho ainda por cima.
Todos no mundo, cada um que tentasse diminuí-lo, nada mais era do que uma outra pedra que a vida havia lhe colocado no caminho e serviria para provar, ainda mais, sua capacidade superior. O mundo era um palco de dificuldades e ele faria seu show com maestria.
- Parabéns, menino que sobreviveu. Você é "A pedra" no caminho – sussurrou para o vento, pensando nos próximos passos.
Não tomaria o trono, simplesmente, mas arrancaria o próprio Lúcifer dele e colocaria aos seus pés. Isso era algo digno do esforço de Tom Marvolo Riddle. A conquista por todos os títulos e pelo mundo bruxo.
Ah, ele teria que ser cuidadoso, estava diante de outro Slytherin...
O lorde veja só! Riu mais um pouco disso, baixinho e seguiu até a travessa do tranco.
Teria de preparar algumas coisas agora que tinha um inimigo esperando seu próximo movimento. Será que é assim que jogariam? A próxima batalha tinha que ser um sucesso para Marvolo, garantiria isso. Como em um xadrez, era a vez de seu movimento? Já tinham seus peões...
Não queria fazer isso ainda, mas não tinha mais escolha. Estava na hora de Voldemort tornar a reunir os seus. Avaliar a possibilidade de tomar uma das torres de Harrison.
Ou Lakroff Mitrica seria mais que uma simples torre?
Que outras peças poderia tomar, quais deveria desistir e apenas destruir?
Teria de ser tão cauteloso agora, não podia irritar o lorde de sua casa, tinha que mantê-lo entretido no jogo e torcer para que Potter não revelasse ao mundo agora quais anéis tinha no dedo, ou Voldemort perderia a maioria de seus apoiadores e seu maior segredo seria revelado. Talvez ainda pela manhã de domingo...
Trataria de escrever uma resposta agora.
Que herdeiro indecoroso seria se não respondesse a carta do lorde da casa, não é? Podia convencer o menino a atrasar essa jogada? Manter a árvore da família em segredo? Ele poderia exigir tal coisa facilmente quando fosse terminar a emancipação.
"Guarde seu cheque, criança, vamos espalhar as peças primeiro um pouco..." pensou. "A vitória fácil é sem graça para bruxos como nós..."
E ele achando que sua linhagem estava arruinada com idiotas.
De repente se lembrou de algo que fez sua mente se iluminar. Estalou a língua e avaliou.
James Potter então era um Slyterin.
Explicava muito. Sempre foi absurdamente habilidoso, seus comensais tinham uma dificuldade gigantesca contra ele (que Voldemort não sentiu quando foi ele na casa) e, claramente, tinha suas tendências para às trevas. Orion saberia disso? O filho mais velho, Sirius, indo morar com Potters... o lorde que nunca foi plenamente deserdado pelo pai, escapou das garras de Voldemort e nunca houve consequências...
Improvável, não impossível.
Orion nunca foi totalmente fiel a Voldemort, mas a casa Slytherin...
Potter's.
Black's.
James teria sido um bruxo ainda maior se tivesse aceitado ir para o lado de Voldemort, sem dúvidas, não é à toa que ofereceu três vezes...
"Aquele com o poder de vencer o lorde das trevas se aproxima"
Tem o poder, mas não necessariamente vencerá.
"Nascido daqueles que o desafiara três vezes".
Vejam só, Voldemort escolheu Harrison à Neville por uma questão simples quanto se igualar a outro mestiço, assim como ele, mas havia tanto o mais que ainda não sabia e que faziam o mesmo.
Três.
Sirius Black, padrinho de Harrison... virando as costas para as tradições e para Voldemort, seguindo com os Potter. Regulus Black traindo a causa e o próprio lorde. Orion, que nunca o obedeceu.
Sua própria linhagem que nunca o aceitou... Voldemort tentou mais de uma vez reivindicar o anel e não conseguiu...
Três tentativas.
Gaunt.
Sayre.
Slytherin.
Três de novo.
- Achei meu número do azar – pensou.
James.
Lilian.
Então Harrison e quase morreu.
Harrison estava destinado muito mais a cair em seu caminho do que o esperado, afinal, como herdeiro Slytherin, Voldemort teria de mata-lo um dia. Teria descoberto eventualmente, não importava a profecia, no fim eles estariam se enfrentando. Mesmo que tudo fosse diferente e os Potter estivessem vivos, a guerra continuado, Harrison estaria como uma pedra em seu caminho, mas talvez as circunstâncias o fizeram maior?
Um garoto que, nas memórias de Barty, tanto lembrava a si mesmo as vezes...
Podiam ser realmente forças semelhantes. Talvez até iguais.
Voldemort era um prodígio, poderia haver outro, com o mesmo sangue correndo nas veias.
Não precisava mais da profecia pelos motivos de antes. Não havia como dizer que seria Longbottom. Queria a coisa apenas para se certificar se dizia algo sobre como eles deveriam se enfrentar, mas já tinha sua resposta para uma pergunta antiga: quem é o escolhido?
Voldemort tinha um, escolhido na infância, o nome saído do cálice, que lhe enviou uma carta.
Três.
A batalha entre eles seria épica.
-x-x-x-
Existem cinco fases para o luto.
A primeira?
Negação.
- Regulus, acorda! Regulus... Regulus, acorda! – James gritou mais uma vez. Sua voz ecoou pela caverna que de repente havia ficado silenciosa.
Era possível até mesmo escutar o mar de longe, o que em comparação com o barulho de antes, da briga no lago, os gritos das criaturas tentando puxar James e Regulus submersos, das chamas invocadas para destruir e afastar esses inferi, esse silêncio estava sendo perturbador.
- Eu não gosto disso, Regulus, por favor! Regulus acorda! Me bate, eu estou gritando com você! Acorda, briga comigo! Regulus! Por favor... – implorou, o desespero, assim como a intensidade de sua voz crescendo a cada frase - Regulus, você não pode me dizer que foi derrotado por água e magia das trevas, você é muito melhor que isso.... por favor...
Seu corpo todo tremia, sentia-se gelado, a temperatura do lago era congelante contra sua pele, mas não chegava perto de como a pele de Regulus estava e isso o apavorava.
Sequer sentia a quantidade de lágrimas que estavam saindo por seus olhos, se misturando com a água igualmente salgada do mar, então desaparecendo, mesmo o calor nos olhos e na ponta do nariz eram ignorados.
James só sentia...
Caos. Vazio, na mesma proporção que dor, raiva, medo...
- Regulus, você não pode morrer, você é forte, você é inteligente, nunca precisou de ajuda para se virar. Eu nunca duvidei disso, desculpa ter ficado te vigiando, desculpa ter te tirado daquele lago, você tinha tudo sobre controle, né? Então acorda e briga comigo.... – pediu, sua voz falhando em várias das frases, seu corpo tremendo, suas forças se esvaindo como a cor no rosto do garoto em seus braços. – Regulus...
Ele inspirou profundamente, mas o som saiu quebrado.
Tal qual estava em seu peito.
Desolado. Olhou para o rosto de Regulus, que sempre foi tão bonito, mas não tinha mais as bochechas rosadas de raiva que sempre adquiria quando James se aproximava, nem mais os lindos olhos azuis. Puxou a pálpebra e se arrependeu.
Estavam cinza.
.
O segundo estágio?
Raiva.
.
- REGULUS! – urrou. Tão alto e desesperado que toda a caverna pareceu um monstro rugindo. A água, entretanto, estava parada agora, depois que James havia afastado os monstros com fogo. – REGGIE, REGULUS ARTURO BLACK, ACORDA, ACORDA, ACORDA! EU NÃO GOSTO DESSA BRINCADEIRA! VOCÊ NÃO DEVE BRINCAR ASSIM! VOCÊ TEM QUE ME OUVIR, REGULUS! – seu rosto, diferente do resto do corpo do Black, começou a esquentar.
Mais lágrimas se misturavam a água escorrendo de seus cabelos seus óculos caíram na água, ele não enxergava direito, ainda mais naquela escuridão. Será que era sua visão? Regulus não estaria apenas fraco para reagir? Ainda podia estar vivo, não é?
Levou a cabeça para o peito do garoto que embalava nos braços. Agarrado como se fosse tudo que precisava para viver e justamente estivesse partindo.
O pior... é que era assim que se sentia.
Precisava de Regulus, de Remus, Sirius, Lily, todos.
Assim como tinha precisado de seu pai e de sua mãe. Mortos.
Como precisava das risadas de Marlene McKinnon. Morta.
Do apoio de Dorcas Meadowes. Morta.
Das brincadeiras de Fabian e Gideon Prewett. Mortos.
Todo mundo estava morrendo, estavam perdendo. James não queria que ninguém mais fosse, mas Regulus?
Regulus era demais.
- REGULUS! INFERNO, ACORDA AGORA! VOCÊ NÃO PODE FAZER ISSO COM A GENTE! VOCÊ NÃO PODE MORRER ASSIM! Você disse que não precisava de um herói, então ACORDA CARALHO! Você não pode deixar aquele merda vencer! ACORDA! ME PROVA QUE EU NÃO PRECISAVA VIR AQUI! QUE EU NÃO SIRVO PARA NADA! ACORDA! – ele sacudia o corpo de Regulus desesperadamente.
Mas continuava mole, frio, sem reação.
- ACORDA PORRA! GRITA COMIGO! ME MANDA TE SOLTAR! - e sua garganta doeu, de tão alto que foi o grito de desespero. - Eu não vou te soltar... - e apertou mais o garoto nos braços.
Ou homem?
Ele já tinha 18 anos?
Ainda era tão novo...
Novo demais para tudo aquilo. Os dois eram, mas Reggie era...
- Regulus? - tentou de novo.
Nenhum som saia.
-Eu vou grudar em você para sempre, você vai ficar com meu cheiro de pasto ou sei lá, não tenho ideia do meu cheiro, você não... Eu não... - e se agarrou mais ainda, puxando o corpo mole e gélido para um abraço desesperado enquanto soluçava.
Um soluço tão alto e desesperador que era de cortar o coração.
- Eu não aguento a dor de te perder também - sussurrou.
.
O terceiro é a...
Barganha.
.
- Regulus, eu ainda sinto magia em você... Você não pode deixar Sirius ser lorde, é isso que você quer? Sirius vai arruinar a economia da família, vai votar em tudo que Dumbledore falar na câmara dos lordes e vai tornar um lobisomem o consorte! A linhagem Black como você gosta vai morrer com ele! Ou pior, vai colocar meu filho como seu herdeiro! É isso que você quer? Um Potter como Lorde Black? Eu posso nem ter filhos, Regulus, eu posso ser infértil igual meu pai era.
Silêncio.
James abaixou Regulus no chão e deitou a cabeça em seu peito, na esperança de que dessa vez tivesse algo.
Aquilo era um som?
Ou era seu próprio batimento cardíaco desesperado?
- Fleamont era infértil sabia? Ele jurou a Lady Magic que nunca mais praticaria qualquer arte das trevas escondido como os outros Potter, em troca de receber um filho. Até minha mãe entrou nessa. Ele já tinha idade para ser meu avô quando eu nasci, mas funcionou. Então ele me proibiu de tocar nela enquanto viveu. Meu pai morreu... esses dias... Você não pode fazer o mesmo - pediu pegando a varinha e tentando fazer alguma coisa.
Qualquer coisa.
Regulus precisava ficar vivo.
- Meu pai fez um cofre de família separado para mim - continuou, porque ele sempre foi de falar muito, todos os amigos diziam isso? - Ele disse que era para os herdeiros, mas foi apenas para me deixar longe dos livros Potter sombrios. Só que eu sempre quis saber! Artes das trevas, quero dizer. O chapéu seletor tentou me colocar na Sonserina, deve ser por isso também e...
Ele tremeu, tão forte que a varinha quase caiu da mão.
Então gritou, rasgando as cordas vocais, chorando como nunca na vida.
- A culpa é minha! Eu tinha que ter confiado em você! Mas meu pai insistiu que eu não devia colocar nossas vidas em risco, mesmo para salvar alguém! Eu pedi para aquela porra de chapéu me colocar na Grifinória! Eu decidi provar que merecia estar lá! Mas eu não te contei! Eu priorizei a minha vida, a de Sirius e a dos meus pais, mas.... Eu devia ter contado! Confiado que não contaria ao lorde das trevas e viria conosco! Acorda agora e me mata! Mas acorda! Briga comigo por ter escondido! Ter deixado, não ter lutado mais para te tirar daquela casa! Não ter te reivindicado como eu tinha que ter feito! Acorda para eu poder te contar... - sussurrou, esfregando os olhos, tentando se concentrar nos feitiços de diagnóstico e cura que tentava lançar ao mesmo tempo.
Mas não era tão bom com estes.
Ele sempre foi um atacante.
- Eu sou um herdeiro Slytherin - admitiu num sussurro cortado. - Eu posso te livrar da jura, então não morre, porque eu nunca vou me perdoar por não ter feito isso antes, mesmo que fosse arriscado. Meu pai tinha medo que você apoiasse Voldemort por escolha própria, não por pressão, então nos denunciaria e... Só que agora VOCÊS DOIS NÃO PODEM MORRER!
Aquilo não era bom. Sua cabeça estava explodindo e ele não estava conseguindo fazer o diagnóstico, poderia estar apenas tentando curar um cadáver e ainda se encontrava numa maldita caverna em sabe-se lá onde, mas sem dúvidas onde Voldemort poderia achá-lo.
Aquilo seria uma armadilha?
Podia, não é?
Por Merlin, que fosse uma armadilha! James preferia morrer agora enganado por suas emoções, em um plano pensado para pegar o último dos herdeiros, do que ver Regulus morrer por sua culpa. Porque não foi o bastante ao protegê-lo.
- Você não quer saber como te encontrei? Como conseguia te achar sempre em Hogwarts e ainda consigo? Eu não conto se não... acordar... - sussurrou e tornou a pegar o menino, levando a mão para o pescoço para tentar sentir calor ou batimentos cardíacos.
Quase gritou quando sentiu o que parecia ser carne viva, sem pele.
- Regulus... Fala que é mentira... - pediu já quase sem esperanças, se agarrando as roupas, que sempre eram tão perfeitas e alinhadas como o dono, mas estavam molhadas e rasgadas. - Acorda e você vai poder esfregar na minha cara como eu sou hipócrita ou um stalker pervertido, qualquer coisa do tipo. Eu usei magia ilegal para ficar te rastreando. Grita comigo, diz como não consegui fazer nada, que eu sou um grifinório inútil ou qualquer coisa. Regulus... Regulus acorda... Regulus, eu sou um Slytherin - repetiu. - Você tem que xingar o chapéu e me xingar. Tem que me deixar te ajudar, porque não sou um grifinório! Talvez nunca tenha sido! Me deixa te salvar! - implorou dando um soco no chão, apenas porque tremia tanto que queria parar, usaria a dor para isso.
Talvez também quisesse sentir mais do que apenas o buraco gigantesco que estava pesando em seu peito.
Era uma agonia grande demais e nada, nem um grito, nem um soco, nem uma lágrima parecia ser o suficiente.
Ele queria se rasgar com as próprias unhas até chegar no fundo do peito e arrancar aquela sensação horrível.
Ele queria...
- Deixa eu ser seu herói só dessa vez! Eu estou te implorando! Eu posso te ajudar, tirar você disso, eu tiro toda a sua família se quiser! Cada Black! Voldemort já vai me caçar mesmo, do que adianta continuar escondendo? Meu pai está morto, minha mãe também, meus amigos estão indo cada dia mais, eu só não quero perder a família que eu ainda tenho... Por favor, você é minha família também... Acorda e briga comigo por eu ter dito o nome dele... Voldemort, Voldemort, Voldemort!
O corpo de Regulus continuava sem reagir. James o apertou com força e correu para fora da maldita caverna com ele nos braços. Quando já estava na orla aparatou para a casa de seu pai, onde estivera antes.
- James? – chamou Lily preocupada, de algum canto no meio das caixas que estavam empacotando, depois da casa ser esterilizada.
Varíola de Dragão.
O pai de James, um porcionista tão bom quanto era em guardar segredos sobre sua verdadeira face, morreu de uma doença.
Já bem velho e sua mulher, que sempre o amou e apoiou, foi um pouco depois.
Fleamont sempre foi bem claro sobre o tipo de pessoa que queria que James fosse e tudo bem, ele aceitou muita coisa.
Ainda aceitava. Foi um bom herdeiro Potter, mas...
Se a promessa de Fleamont e Euphemia à Lady Magic lhes deu a chance de dar vida...
A quem ele tinha que prometer para conseguir mais uma?
Correu até o porão.
Havia uma porta lá, que Fleamont sempre proibiu de abrir, James estava pouco se importando.
Fez o que seu pai mandou, ficou longe o quanto conseguia das artes das trevas, mesmo quando encontrava um livro ele só o lia, nunca fez os feitiços, se segurou, foi uma boa pessoa, foi o maldito grifinório sempre, fez valer seu pedido ao chapéu, ajudou quem julgava que merecia, atendeu as expectativas de todos e se tornou James Fleamont Potter, mas agora ele ia perder Regulus?
Para um merda de lorde das trevas que fez um mar de inferis?
De jeito nenhum, tinha que ter um jeito de impedir aquilo, tinha que ter algum conhecimento escondido tão ruim que os Potter tinham que jurar manter-se longe para poder ter um filho. Qualquer um! Ele precisava saber!
James tirou Regulus do lago, não estava totalmente morto ainda, sabia disso, havia um pouco de magia, Fleamont era filho de Henry Potter com Angelina Sayre. Voldemort não passava de outro Slytherin, devia existir uma forma de reverter essa merda e os Potter podiam ter, ele só precisava achar. A chance de um conhecimento que o lorde das trevas teria, alguém que precisava tanto sangue e linhagem, estivesse naquela biblioteca...
Tinha que ser o bastante.
Foda-se o maldito time de quadribol, James podia viver sem seu maior sonho, perder a fertilidade ou a porra que fosse, se sua família atual parasse de morrer ele seria o bruxo das trevas ou qualquer merda!
- Por favor, Lady Magic ou qualquer um, qualquer deidade, qualquer um mesmo... Morte! Morte, eu imploro, não leve o Regulus!
Se ele não conseguia pensar na magia da luz para ajudá-lo, então esqueça todos aqueles anos se contendo.
James chegou na porta de ferro maciço e tentou abrir. Nada, é claro. Regulus pendeu para o lado em suas costas, James agarrou suas pernas com mais firmeza e concentrou toda sua energia, todas as suas emoções, tudo em sua magia e desejou:
"EU SOU A PORRA DO LORDE POTTER AGORA! EU MANDO NA MAGIA DESSA FAMÍLIA! ARREBENTA ESSA MERDA!"
Conseguiu.
Sua magia girou da forma mais incrível e libertadora que já sentiu na vida, então a porta foi destruída quando explodiu contra ela.
Foi perfeito.
Como se uma peça a anos distante de seu alcance, enfim se encaixasse e tudo fizesse sentido. Como se todo aquele tempo estivesse lutando com algo que enfim pudesse respirar.
O peso nas costas, o peso da realidade, foi a única coisa que o impediu de suspirar de alívio.
Já imaginava encontrar um laboratório lá. Seu pai mexia muito com experimentos em poções, mesmo que só tenha terminado e vendido aquele gel de cabelo (o que sempre se perguntou como era possível, afinal Fleamont viajava muito e gastava um tempo absurdo pesquisando, mas enfim). Correu até um balcão de metal vazio no centro e deixou o corpo de Regulus.
Estava mortalmente branco. Agora, com a luz que o laboratório mantinha, de paredes brancas, luminárias mágicas claras que permitiam uma visão cirúrgica da bancada, James viu que havia partes rasgadas no corpo do garoto Black.
Sua pele estava necrosando.
Era isso que sentiu com as mãos no pescoço dele. James tinha que retardar aquilo. Regulus foi amaldiçoado para virar um inferius?
O Potter não tinha ideia de como funcionavam aquelas coisas! Só conhecia aquele nome (e podia nem ser o verdadeiro) de uma história de terror que seu pai contou uma vez.
Criaturas tragas de volta a vida por magia, mas que não estavam vivas de verdade, um bruxo das trevas as controlava como marionetes macabras.
Correu os olhos por todo aquele lugar. Haviam algumas dezenas de livros, frascos, os diários do pai, é claro...
Merda, porque os Potter não podiam ter um elfo?
- James! – gritou Lilian entrando no laboratório cautelosa, encarando a porta amassada e jogada ao canto.
Como James deixou aquela coisa de um jeito tão retorcido? Ela pensou.
Mas quando viu o corpo na mesa, esqueceu-se do resto. Assustada correu até ele.
- Regulus?!
- Voldemort tentou matá-lo. Temos que achar um jeito de retardar a maldição.
- Maldição?
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Quarto estágio
Depressão
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- Eu não devia ter deixado, eu devia ter arrancado ele de lá a força... – sussurrava James desesperadamente correndo pelas prateleiras, olhando as capas dos livros. Ele já tinha entrado escondido uma única vez, pegou o livro que usaram para fazer o mapa apenas e fugiu.
Foi muito difícil achá-lo e mais ainda apagar a memória do evento para seu pai não descobrir. Sim, ele apagou sua mente. Porque James sabia o quanto Fleamont levava a sério aquilo tudo da promessa para não mais tocar nas artes das trevas e teria punido demais, se soubesse que o filho nascido da promessa teve envolvimento no sumiço de um exemplar sombrio.
Conseguiu se sair bem. O próprio James acreditou por um longo tempo que tinha sido sua mãe a lhe dar o livro escondido, para ajudá-lo com sua curiosidade e contê-la por hora. Migalhas ao pestinha curioso, estava até com um bilhete:
"Nunca questione ninguém sobre o aparecimento disso"
Eventualmente percebeu que o bilhete tinha uma caligrafia muito diferente da sua mãe e supôs o resto até realmente começar a recuperar um pouco da memória.
Então... Inferno, podia recuperar alguma coisa agora!
Se lembrar o que leu naquela época! De certo sabia a maior parte do que tinha ali, pois teve que vasculhar para conseguir o que queria para o mapa.
Mas não lembrava...
Tinha que ser tão bom com feitiços de memória? Agora teria valido tão mais o maldito castigo!
Mas James não teria ido tão longe, mexer em sua própria cabeça, nem seu pai seria tão rigoroso sua vida toda, se as coisas escondidas ali fossem pequenas, não é?
A magia das trevas nem parecia tão ruim, droga! Mesmo com a guerra, James nunca entendeu o medo das pessoas de algo como suas próprias emoções materializadas. Tinha que ter algo verdadeiramente macabro com os Potter para causar tudo aquilo! A infertilidade, a jura de seu pai, a necessidade de enfeitiçar a si mesmo...
Tinha que ser algo que o ajudasse, ou estaria acabado.
Aquela dor no peito não o deixaria viver!
- Eu não posso deixar Regulus morrer! É culpa minha! Se eu tivesse lhe contado quem eu era, ele poderia ter aceitado minha oferta para sair da Black Manor, eu não posso perder Reggie, Lilys...
Lilian assistia a cena com o coração apertado, nunca viu James tão transtornado, tão triste e desesperado.
Estava muito difícil presenciar o homem que amava correr daquela forma, tremer como tremia, uma dor tão gritante nos olhos, a mão agarrada ao peito como se doesse pensar numa realidade onde continuasse vivo com toda aquela culpa.
Estava quebrado tão fortemente que deixou Lilian sem palavras. Uma lágrima solitária escorreu sem que nem notasse.
Ela se virou para Regulus Black, que sempre teve uma atenção e carinho especial de James, mesmo sem qualquer esforço. Tocou o rosto de anjo do garoto e sentiu uma segunda lágrima lhe fugir.
Estava frio demais.
Haviam muitas partes corroídas e que pioravam, o faziam parecer um Zumbi do cinema trouxa.
Ela não queria ver a dor de James, nunca, mas não conseguia pensar em uma realidade onde aquele menino viveria.
Então seu marido caiu no chão. Como se soubesse o que a ruiva estava pensando.
E gritou.
Tão alto e tão incrivelmente deprimido que Lilian tomou coragem para enfrentar aquilo e correu abraçá-lo.
Sentia-se no fim do poço com aquele homem, sempre tão forte, em completa desolação.
Sirius ficaria pior?
Era possível alguém parecer pior que aquilo?
James parecia prestes a morrer de tristeza e dor com aquela ideia, então Padfoot só cairia duro na hora?
- Ele não pode morrer, Lily... – chorou, o corpo todo fraco no abraço de sua mulher, ele estava molhado, chorando, tremendo e fraco. – Eu não posso ter falhado tanto com ele...
- Você tentou James, ele escolheu o caminho dele...
- Ele não escolheu. Não é uma escolha para a maioria deles! Foi forçado, fez o que achou que devia para proteger e orgulhar os pais, eu faria o mesmo! Eu fiz o mesmo... - sussurrou com um fio de voz, porque ele era tudo o que o pai quis, fez tudo e estava perdendo alguém muito importante por causa do seu medo constante de arriscar ser ele mesmo. - Regulus não merecia isso, eu...
- Você nunca vai poder salvar todos, James.
- Mas tem que ter um jeito, ainda tem magia nele...
Lily preferiu não falar como Regulus estava com as mãos negras demais para um humano.
- Lyls... – chorou.
.
Então vem a quinta fase...
A aceitação
.
- Como eu conto isso para o Sirius?
Lilian Evans, agora Potter, não sabia como responder.
Mas, sabem?
Eu vou acrescentar um estágio a mais.
James se levantou de repente, Lilian quase caiu com isso, o Potter foi até o corpo de Regulus e o encarou:
- Eu vou achar alguma coisa, não vou desistir tão fácil. Não agora. Em algum lugar do mundo, no poço que eu tiver que descer, eu posso achar um jeito. Nada é impossível com magia! Se Voldemort fez uma para deixá-lo assim, eu posso encontrar o que tire...
- James...
- Eu vou salvar o Regulus, Lily!
- Amor...
- Só preciso de tempo... Deve ter um jeito de retardar a maldição ao menos. Eu...
- James!
- TEM QUE TER LILY! – urrou e levou um tapa da mulher, no peito, tão forte que realmente doeu. – Ai! – choramingou.
- Fique feliz que não foi na sua cara, James Potter - ele notou como Lily escolheu ignorar o Fleamont. - Ele está com batimentos cardíacos?
- Não ele...
- Quieto – ela pediu, baixado a cabeça para o peito de Regulus. Depois puxou sua varinha e fez alguns feitiços. – Ele tem.
- O que?! Mas eu não...
- Você só não está com cabeça para pensar. Vamos, eu preciso de alguns ingredientes, você vai achando e me dá.
- O que você pretende fazer?
- Induzi-lo ao coma. Técnica trouxa para curar a raiva.
- Como é?!
- A raiva, em trouxas, é uma doença quase sempre fatal. Causa efeitos muito severos, até alucinações, convulsões e irritabilidade severa, aquele filme de terror de zumbis que vimos, os zumbis foram criados baseados nos sintomas da raiva em humanos. O melhor que eles tem é a prevenção com vacinas, mas se dá errado, se um humano é infectado, para evitar sua morte, você induz a pessoa ao coma profundo Assim os médicos têm tempo para dar um tratamento e também o metabolismo para lutar contra, mas não deixa que a doença em si tenha como se espalhar na velocidade normal.
- Você quer...
- Deixar Regulus Black em coma para que a maldição pare. Ela pode, pelo menos, desacelerar se ele parecer morto. Nós vamos ter tempo para tentar achar algo que o salve também. Mas vai ter que ser forte, algo que engane a própria magia. Vamos, eu falo, você pega, não temos tempo! – mandou puxando as mangas da blusa para os cotovelos.
- Sim senhora! – obedeceu correndo pelas prateleiras, pegando um frasco vazio para preparar a poção. - Se não conseguirmos...
- Nós vamos, eu vou te ajudar James.
- Nós vamos - sussurrou em concordância. - Mas se não...
Lilian esperou algum comentário depressivo e desanimador, mas não.
James, do outro lado da sala, a encarou com tanta intensidade que ela tremeu.
.
O último estágio será:
Vingança.
.
- Eu mato Voldemort. De um jeito ou de outro...Ele morre com Reggie - jurou.
Harrison, na cama, deu outro espasmo. Os lençóis já ficavam encharcados de suor, a mão se agarrando a alguma coisa com tanta firmeza que os dedos ficavam brancos, mas ainda sem acordar. Um suspiro longo saiu por seu lábio.
-x-x-x-
- Sirius! – chamou Remus sorrindo.
- Remus? – perguntou o animago com a cara no pescoço do namorado.
- Pare com isso, estamos no meio da cozinha! – pediu empurrando o outro.
Sirius soltou um risinho baixo. Remus não estava nem tentando, sabia disso porque o namorado (como bem o lembrou na noite anterior) tinha força o bastante para levantá-lo como se não fosse nada e fazer o que quisesse, mas Sirius mal se moveu agora.
Continuou beijando, mordendo, lambendo. Aproveitando o sabor de ter Remus John Lupin nos seus braços, na sua vida, no seu coração.
Subiu a língua até a orelha do loiro e mordeu, por entre o lindo brinco de corte, retirando um gemido muito baixinho do lobisomem que mais pareceu um choramingo de cachorro que Padfoot achou uma graça.
Chupou aquela área e sussurrou:
- Eu te amo.
Funcionou como queria, ele sentiu no seu corpo como o de Remus tremeu. Era impressionante o que três palavras faziam com o lobisomem que agarrou Sirius e o colocou com firmeza e sem dificuldade em cima da mesa, se enfiando por entre suas pernas e o puxando para perto iniciando um beijo cheio de desejo.
Sirius gemeu satisfeito entre os lábios do namorado e se enrolou nele para retribuir o gesto.
- Os jovens de hoje têm muita vitalidade... – murmurou Lakroff da porta o que fez o casal pular no lugar.
Remus correu para se afastar e Sirius colocou a mão no peito pelo susto:
- Você nem é tão velho – comentou o animago, tentando se acalmar.
"Ah... aí que você se engana" pensou o Mitrica, mas não disse nada ou reagiu.
- Desculpe – pediu o lobisomem, envergonhado.
- Desculpem a mim por interromper – riu. – Até pensei em deixá-los, mas logo Harrison vai acordar, ele já dormiu mais do que está acostumado... pela semana, eu acho, então como eu precisava falar com os dois...
- Falar conosco? - Sirius saiu de cima da mesa tentando ser o menos indelicado que conseguia enquanto arrumava as calças de modo à deixá-lo mais confortável com o que acontecia ali e Remus corou desviando o olhar, escolhendo ir até um dos armários pegar três canecas.
- Lala apareceu não tem muito tempo, anunciou que ela e Monstro prepararam o café – contou. – Ela é realmente uma graça.
- Fez uma dezena de perguntas - lembrou Sirius sorrindo. - Sobre nossos gostos. Perguntou até como eu gostava que dobrassem minhas meias e tive que explicar que ela não trabalharia para mim.
- Oh - Lakroff riu de novo, dessa vez negando pela cabeça. - Se ela fez essas perguntas, então desista, Lala já decidiu que trabalhará para vocês também e ela é livre para fazer o que quiser, desde que não descumpra com os deveres que a pagamos para, e fora do seu horário padrão de serviço. Acreditem, não há mais Merlin, Morgana, Circe ou entidade que for que a convença a mudar de ideia. Combina muito com Harrison, não é a toa que imediatamente se ligaram. O mesmo com James e Lily, se querem saber... Onde estão os elfos afinal?
- Eu disse para só nos darem café e que esperassem Harrison, o herdeiro da casa, estar de pé para deixar a mesa pronta – disse Sirius.
- Mas... – começou Lakroff.
- Eu sei - interrompeu. - Monstro já me deu a bronca sobre não funcionar assim e blá, blá. Mas eu disse que, como lorde da casa, tenho o direito de estabelecer novos costumes para nosso lar. Dito isso, ordeno que quem acorda antes que o lorde e seu herdeiro deve esperar para comer quando eles aparecerem e ponto final. Tenho certeza de que ele só não me abominou por isso, porque Harrison é o herdeiro em questão e "merece a salada de frutas ainda fresca" – e fez aspas com a mão.
O Mitrica riu pela terceira vez.
- Bem, bom dia aos dois, a propósito.
- Bom dia – disseram ambos, tomando lugares à mesa. Dessa vez, porém, Sirius agarrou Remus para se sentar ao seu lado, onde foi sorrindo.
- Então, o que queria conversar?
- Bem... Primeiro, posso saber o que acharam de Tom? – questionou Lakroff, também tomando um assento, bem de frente para o casal.
A reação dos dois foi imediatamente abrir sorrisos igualmente estranhos, se viraram um para o outro e depois voltaram-se para o mais velho:
- Ele parece ser muito importante para Harrison – comentou Sirius.
- Não foi exatamente o que perguntei.
- Eu gostei dele – admitiu. – É bem o tipo "sangue puro" perfeitinho que meus pais teriam amado e... aparentemente gostavam mesmo, mas não é um nojento insuportável.
- Apesar de que isso pode ser uma mudança mais recente, dada às circunstâncias – comentou Remus servindo a todos de café quente.
Lakroff ainda estava tentando entender a reação de antes:
- Ah, sim. Tenho certeza de que, se o encontraram em outro momento, o odiaram.
- Não o encontramos – afirmou Sirius convicto, tomando um gole. – Bem, é claro que não ao ponto de conversar. Ele podia estar mascarado e o momento envolveu troca de ameaças e feitiços mortais, nada como "prazer, Thomas Harris, sou Sirius Black".
- Bem, sim, vocês nunca o viram como ele é... – murmurou o albino ao vento. – Remus?
- No começo eu estava... receoso. Não consigo sentir cheiro nele direito e isso é incomum... Mas foi sincero conosco e isso contou muito.
Sincero.
Lakroff tentou não reagir àquilo.
Remus, entretanto, sentiu uma variação estranha no cheiro do outro, tão sutil que pensou que podia ser coisa da casa velha.
- E você? – questionou Sirius.
- Eu?
- O que pensa dele? – questionou travesso.
- O que penso? Bem... ele cuidou de Harrison antes de mim e ainda é...
- Não foi exatamente o que perguntei – interrompeu com um sorriso gigantesco. – Sabe eu me toquei que já falamos de algumas coisas, mas nunca diretamente sobre suas preferências...
- Minhas preferências?
Remus fechou os olhos e negou com a cabeça, imaginando o que haveria de sair agora pela boca do namorado e já rindo por antecipação.
- No jantar você mencionou que a mesa estava cheia de homens que preferiam relacionamentos como o meu e de Remus...
- O que tem? – perguntou com um sorriso discreto, já entendendo onde o outro queria chegar.
- Estava só me perguntando se sua sexualidade envolve ter Thomas de quatro se oferecendo ou tê-lo te comendo, porque ter ele é a parte óbvia na equação.
- SIRIUS! – ralhou Remus vermelho de vergonha e Lakroff riu alto, se engasgando com o café ao ponto de começar a tossir em seguida.
O casal encarou o mais velho assustado pensando se deveriam ir ajuda-lo, mas logo o homem mostrou a mão, deixando claro que não precisavam, enquanto tentava acalmar as risadas.
- Bem, em vista da conversa que tivemos ontem, Tom prefere ficar por cima - comentou.
- Como é?! – questionou Sirius com um sorriso surpreso e Remus o acompanhou de cenho franzido.
- Mas consigo pensar em formas de mantê-lo no topo, do jeitinho que gosta, e mesmo assim ser quem o possuí, então é uma questão de saber jogar... – comentou Lakroff com um sorriso e Sirius soltou uma gargalhada gostosa enquanto Remus levava a mão para o rosto.
- Harrison pode acordar gente... – murmurou olhando para a porta.
- Por que eu sinto que se Thomas estivesse aqui ele faria, ou um comentário desses ou estaria arremessando algo na cabeça Lakroff? – questionou Sirius.
- Talvez os dois? – ofereceu o Mitrica rindo e Sirius o acompanhou. – Provavelmente com algo tão explicito ele tentaria virar a mesa inteira em mim enquanto gritava sobre Harrison e minha péssima influência para ele, algo assim.
E os dois riram mais.
Remus revirou os olhos, mas também sorria.
- E como assim vocês falaram sobre isso? – questionou o animago. – Quer dizer, ele disse algo que dava para levar no duplo sentido sem perceber de novo?
- Olha, uma noite e vocês realmente já parecem conhece-lo. Ele não se enganou sobre isso.
- Se enganou sobre isso?
- Ontem, enquanto estávamos levando Harrison para o quarto, ele mencionou como era... – tossiu, hesitando por um instante. Remus sentiu um cheiro azedo saindo do homem e tentou evitar o olhar receoso – Como era autêntico, sabe? Disse que nunca fingia ser totalmente diferente de sua verdade para agradar os outros... É um convencido que se acha perfeito demais para que precise mudar e se encaixar no que esperam, ele cria novas expectativas se for necessário - revirou os olhos, mas os outros dois perceberam o sorriso que havia no albino quando comentou isso e evitaram se entreolhar.
Nem era necessário.
Ambos estavam pensando o mesmo e sabiam.
Parece que só Lakroff não havia notado? Talvez Thomas também?
- Por isso - continuou o Mitrica. - Tom lhes contou o que fazia na guerra. Porque não gostaria de mentir apenas para que vocês o aceitassem. Tom é Tom, goste quem gostar, se afaste quem não e... sofra quem tentar mudá-lo - riu baixinho, olhando para sua caneca totalmente distraído. Sirius se inclinou para trás inspirando fundo, Remus tomou café para não rir. - Ele não se importa muito com julgamentos. Sempre preferiu ficar sozinho mesmo, então para que tentar se encaixar? – então mais um cheiro estranho lhe saiu e Lupin analisou bem o que aquilo queria dizer. Após alguns segundos de silêncio depois, tornou a falar: - Parece ser verdade, então, tudo isso. Uma noite e vocês já entenderam como Tom é. Sua sinceridade, sua personalidade... Vocês sabem o que esperar dele de certa forma.
- Bem, sim, ele não é do tipo pouco marcante – comentou Sirius coçando a nuca e olhando para cima. – Ele tem uma presença. Daquelas pessoas que... bem... ele é o combo todo. Tem os modos perfeitos, é claramente inteligente e... as vezes parece que estar com ele te faz entender o que as pessoas querem dizer com "jeito sonserino". Não é como meus pais, ou mesmo meu irmão, eles eram apenas... Bruxos nobres perfeitinhos. Thomas é... ele parece uma cobra. No bom sentido da coisa, não como o zoado do Voldemort – acrescentou e Lakroff soltou um riso muito alto, depois se esforçou para segurar o quanto queria gargalhar, porque não era a hora.
- Eu... – inspirou. – Entendi. Você quer dizer a astúcia no jeito dele de agir, não é?
- Isso! – concordou Sirius. - A forma de andar, como olha para nós...
- Ele não parece desperdiçar palavras – comentou Remus pensativo. – Tudo que diz sempre é porque queria e tem uma intenção objetiva, ou é melhor nem dizer. Ele tem esse olhar atento a tudo à sua volta, mas também não desperdiça movimentos no geral, é confiante em suas próprias habilidades ao ponto de nem reagir quando não se sente uma ameaça verdadeira... só não reage bem as suas provocações.
- Eu diria que ele também perde bem a pose com Harrison – disse o Mitrica.
- Bem, sim, com certeza. Eles têm uma relação muito bonita e juro que o vi perder alguns anos em uma ou outra brincadeira que fez com Harrison. Thomas o conhece bem, e aceita baixar mais a guarda perto dele, ao que vi.
Lakroff não teve muito o que dizer. Também tinha acabado de conhecer a peça e juntou as mesmas impressões, tudo que sabia dos últimos anos vinha de breves comentários de Hazz, mas não eram tão frequentes. A maioria das vezes ele apenas bufava e dizia:
"Tom insiste que eu te diga que seu comentário é falho". Com o tempo, Lakroff percebeu que a horcrux tinha que torrar muito a paciência do neto para chegar ao ponto dele transmitir suas palavras e, considerando que Tom tinha a tendência a falar pouco na maior parte do tempo, para dar privacidade e paz para o menino, isso indicava algo.
Um pouco mais de tempo e ele descobriu que Hazz repassava as falas de forma mais educada do que eram, então se disse "seu comentário é falho", Riddle devia estar gritando que era um lixo descartável vomitado para fora, por um ridículo que perdeu espaço no crâneo para encaixar todos os olhos.
Diante disso, concordar ou descordar com o que Sirius e Remus pensavam sobre Tom parecia tolice, diante de que estava praticamente na mesma situação.
Mas era bom saber que haviam pessoas (menos loucas que ele próprio) que haviam aceitado Marvolo. Lhe servia como alguma garantia de que não estava sendo um completo imbecil ao deixar a horcrux do lorde das trevas com o neto anos atrás até chegar no ponto em que estavam.
- Então, é, gostamos dele. Mas é intenso. Do tipo que te faz pensar o tempo todo se não está passando vergonha por qualquer motivo – acrescentou Sirius. – E somado naquela voz profunda do tipo "arranca roupas", e a aparência dele... é bonito, muito bonito. Realmente um gostoso – e olhou para Remus, apenas para confirmar se não estava indo longe. O namorado riu e se aproximou para lhe dar um selinho.
- Não ligo Pads, sempre soube que você é um cachorro - brincou, fazendo um carinho nos fios negros de seu cabelo. - Se preocupe com aquele ali ter ciúmes, que tal? – e apontou para Lakroff, mas esse riu.
- Eu não... – se interrompeu. – Não tenho direito à ciúmes. Eu e Tom não temos nada.
- Não é? – questionaram os outros dois ao mesmo tempo.
- "Aí Tomtom, porque não casamos e você ganha tudo que eu tenho? Eu te dou, nome, dinheiro, Harrison... cada coisa que um dia foi meu é seu, se quiser me dar um beijinho" – debochou Sirius piscando os olhos para Remus, recostando mais sua cabeça na mão do namorado e lhe mostrando o bico.
- "Eu te mato, mas não vou usar magia. Para que fazer da forma mais fácil se posso subir em você e enforca-lo enquanto olho para seus lindos olhos azuis?" – questionou o Lupin pegando no próprio pescoço do namorado que riu e se aproximou mais.
Lakroff baixou a cabeça rindo daqueles dois, também para dar privacidade para o beijo que deram em seguida.
- É assim que a gente se parecia? – questionou.
- Disso... – começou Remus.
- Para pior – encerrou Sirius.
- Credo, aceitem que se gostam e namorem logo! – reclamou Sirius levantando as mãos dramaticamente. – Imagino o esforço que Harrison não está fazendo a anos para juntá-los. Por isso se apressou tanto para colocar eu e Remus em corte, não queria "a batalha dos avôs parte dois" em sua vida.
O Mitrica riu alto:
- Batalha dos avôs? – e riu mais um pouco. – Se Tom estivesse aqui estaria enlouquecendo de raiva.
- O que afinal está fazendo vocês não se pegarem logo? A diferença de idade? São ambos adultos, agora é irrelevante!
- Não acho que Tom ligue para isso... Imagino – e fez uma careta, porque realmente não tinha ideia, mas depois do beijo que recebeu duvidava disso.
- Então o que te impede de arrancar um beijo dele? – a pergunta repentina, junto com os próprios últimos pensamentos do Grindelwald o fizeram quase se engasgar.
- Primeiro porque prefiro ter o consentimento dele – Sirius ia abrir a boca para falar algo, mas Lakroff continuou – Você, sinceramente, não acha que ele arrancaria minhas bolas se eu tentasse lhe roubar qualquer coisa e isso inclui um beijo? Porque eu acho.
- De certa forma, isso faz sentido...
- Mas é preciso já sair beijando? – questionou Remus. – Você, obviamente, está interessado. Então apenas invista!
- Mais? – questionou sorrindo e apoiando a mão no rosto.
- Sem ser em forma de piada – reclamou Remus. – Você trata como se fosse uma brincadeira, ele é da década de 30 e, sem dúvidas, andava com os outros sangues puros. A abordagem que está usando que não se encaixa com os padrões de relacionamento que ele espera. Você parece uma criança provocando a menina que gosta.
- Menino, aqui – Sirius deu de ombros. – Mas Thomas não parece totalmente avesso a você, só a sua forma de agir.
- Essa é ótima, estou levando conselhos de namoro do casal que foi unido por um adolescente – brincou Lakroff. – Não se preocupem com isso, sim? Não é como se eu e Tom tivéssemos... alguma chance de acontecer.
- E porque não?
"Ele é literalmente feito de magia, seu corpo real é um merda ainda maior e está tentando me convencer a matá-lo como um todo" pensou.
- Não é importante, só não vai acontecer e eu também não vou ficar gastando tempo perseguindo um homem que eu não amo. Os que amei, já foram dor de cabeça o bastante, obrigada.
- Porque você amava – disse, como se fosse obvio. – Amor complica as coisas, se você não ama o Tom é mais fácil ainda, vocês dão uns pegas e pronto. Não quer saber se aquela boca gostosa sabe ser usada?
- Sirius... – avisou Remus.
Um bando de imagens apareceram na cabeça de Lakroff, nenhuma delas muito puras, algumas criadas pela imaginação, então outras memórias do beijo da noite anterior que fizeram seu corpo se arrepiar e tremer.
- Ah, ele sabe muito bem usar a boca... – murmurou baixinho.
- Como é? – perguntou Remus com um sorriso gigantesco diante do comentário.
E do cheiro.
- Vocês já ficaram alguma vez?
- Ficaram?! – perguntou Sirius animado.
- Crianças, vamos deixar isso para a mamãe e o papai, sim? Eu...
- Quem é a mamãe? – questionou o animago no ato e Remus riu.
- Já aconteceu algumas vezes então? Mas não pareceu que vocês já tivessem... Vai me dizer que são ex-namorados? Por isso brigam tanto? – perguntava o lobisomem.
- Não! Nós nunca... Tom me beijou ontem, depois de deixarmos Harrison na cama, apenas – admitiu.
- Puta merda, por isso vocês demoraram?! AH HA! Me deve 15 galeões, eu não acredito que realmente ganhei essa! – gritou o lorde Black, vitorioso, apontando para o namorado.
- Merda! É sério? - questionou para Lakroff, então voltou-se para Sirius. - Mas nem você acreditava nisso!
- Eu sei! Mesmo assim ganhei! Uhu!
- Isso é injusto, não era uma aposta séria, você nem ia me pagar se não fosse o caso, estávamos só zoando...
- Moony, meu amor, eu vou literalmente te dar tudo que tenho, meu cofre, meus títulos, meu coração e a mim, para usar como bem desejar, um dia e se você quiser ter desde que diga "eu aceito" num altar. O que uma aposta faria de diferença? – Remus corou e engatou no lugar, Lakroff sorriu para aqueles dois e a forma cheia de fascínio e adoração que Sirius olhava para o outro. – Mas essa aposta simplesmente eu exijo que me pague, porque foi boa demais! – e gargalhou alto. – De zero a dez, quão bem ele beija? – perguntou sério, juntando os dedos por cima da mesa.
Remus acertou a própria testa com a mão diante da mudança abrupta de atitude e Lakroff tornou a rir:
- Tommy é muito ambicioso – comentou.
- O que? O que isso tem a...
- De zero a dez, é claro que ele lutou por um onze, no mínimo. – Sirius bateu uma palma empolgado com a resposta. – Mas se quer minha opinião, eu daria uns quinze.
- Por que não vinte? – questionou Remus. – Já quebramos a escala, não é mesmo?
- Eu diria que ele perdeu seus pontos pela forma que acabou.
- Como assim?
- Ele me fez me sentir um merda. - comentou com um sorriso deprimido.
Ah, ele sem dúvidas sabia desde o começo que Tom o estava usando para algo, mas ele não queria provar um ponto? Conseguiu. Lakroff ainda estava se sentindo mal com toda a conversa depois daquele pico de êxtase e prazer. Um belo balde de água com cubos de gelo acertando bem na cabeça.
A forma como a postura relaxada dos outros dois sumiu, entretanto, e foi substituída por uma tensa e ereta foi impressionante. Lakroff não era como Remus, ele não sentia cheiros das emoções, nem como Harrison que via magia, mas ele sentia a presença mágica nas pessoas e tinha suas próprias habilidades para leitura de linguagem corporal e micro expressões faciais. Aqueles dois tinham mudado sua presença de forma significativa.
Quando Sirius falou, o albino soube que não era apenas a presença, mas a voz:
- O que ele te fez? – perguntou grave.
- Relaxem - tranquilizou com um sorriso amigável. - Tom só jogou umas verdades dolorosas na minha cara – suspirou, se recostando na cadeira e colocando a cabeça para trás. – Não precisam ficar desse jeito só porque ele é um comensal, ele não me machucou ou coisa parecida, só me fez pensar.
- Não é só por isso - murmurou Sirius, ainda cauteloso.
- Como assim?
- Você gosta do Thomas e disse que ele te fez se sentir um merda. Podia ser um anjo, íamos ficar putos por te magoar.
Lakroff se ajustou e encarou a dupla, ambos ainda estavam sérios.
- Obrigada - murmurou.
- Não por isso, é o que amigos fazem.
- O que está te incomodando? – perguntou Remus. - O que ele te disse?
- Como disse, ele me jogou algumas verdades... não demoramos porque ficamos nos beijando.
- Sei – brincou Sirius.
- Estou sendo sério.
- Não, eu sou Sirius - Remus acertou um tapa nas costas do namorado.
- Deixe-o falar – ordenou aos risos do outro.
- Tom me alertou sobre... alguns aspectos do que estamos fazendo. Do que eu estou fazendo com vocês, mais especificamente.
- Fazendo a nós? – a dupla o encarou confusa e Lakroff tornou a suspirar, mas dessa vez se levantou frustrado.
Foi atrás de vinho.
Como dizia seu pai: Era noite em algum lugar do mundo.
Lakroff tinha a tendência a pensar, depois daquela frase idiota, que em algum lugar do mundo a bebida dele poderia ter sido trocada por veneno, mas nunca deixava aquilo passar para seu rosto, ou seria rigorosamente punido.
De novo.
Porque, de certo, o lorde já teria arrumado uma desculpa para reclamar de Lakroff antes.
- Se lembram de quando nos conhecemos? - continuou em voz alta. - Eu lhes contei um pouco sobre mim, correto? Inclusive cheguei a mencionar que, depois de Lilian aparecer, comecei um processo de abandonar quem era e o que acreditava antes. Acredito ter dito até que "Lakroff Mitrica nasceu dali", já que esse nem era meu nome antes.
- Sim, você disse. O que tem?
- Então, quando fomos no banco, Harrison ocultou toda a linhagem da mãe dele e eu lhes disse que era para esconder meu nome de batismo, certo? – perguntou focando-se no presente.
- Sim.
- Isso não incomodou vocês?
- Como assim?
- Vocês estão conhecendo a mim e Hazz, mas estamos claramente escondendo algo básico como meu nome logo de cara. Não é suspeito, incomodo ou mesmo algo que os deixe pensando? Quer dizer, o que eu fiz afinal que precisaríamos...
- Não nos incomodamos nem um pouco – interrompeu Sirius e encarou Remus que acenou com a cabeça dando de ombros.
- Por quê?
- Sinceramente?
- Por favor – pediu encarando-os confuso, baixando os vinhos para próximo do corpo.
- Não faz diferença – explicou Sirius. – Harrison literalmente mudou de nome três vezes na nossa cabeça só essa semana, mesmo que seja mais com os sobrenomes, mas enfim. Antes ele era Harry, então Harrison, agora é herdeiro Black, lorde Peverell-Potter, lorde das casas Slytherin, Gaunt, Potter, Peverell e futuro lorde Mitrica, Grindelwald e Black... Caramba, isso é grande demais. Que bom que ele pode fundir tudo em Peverell-Potter, eu teria raiva de ter que ouvir essa merda toda sempre que ele fosse anunciado.
Lakroff riu, enfim achando uma boa garrafa:
- Ainda é diferente. Harrison não lhes disse que precisa esconder o meu passado, vocês não ficaram inquietos com isso depois?
- Harrison é uma criança, e mesmo assim esconde muito do próprio passado. Fez coisas as quais precisa que nunca cheguem até seu nome e as memórias que nos mostrou estavam tão modificadas que mal poderíamos dizer com detalhes tudo que vimos sem cair em espaços em branco na história. Mas ele tem crimes de verdade nas costas, que poderiam arruinar sua vida e por decisões feitas no medo, na raiva e impulsividade simples de uma criança que precisava se defender do mundo. Não julgamos ele por seus atos... Mesmo assim... amaldiçoar uma alma não é legitima defesa.
Lakroff mordeu o lábio quando o tom de voz de Sirius engrossou ao comentar aquilo.
- Mas foi bom - acrescentou o animago, e imediatamente o silêncio na cozinha pareceu ganhar um peso muito maior. - Ele poderia ter feito pior. Poderia ter torturado eles... mas há quem diga que o que ele fez é tortura. Enquanto viverem estarão com medo. A covardia de bater em uma criança e inferiorizarem-na por ser diferente, será punida com o medo constante de que as mesmas mãos que causaram a dor de Harrison, um dia pode apontar para eles. Seus crimes voltarão por eles. Uma falha e todos morrem. É tortura, uma corrente, uma magia tão sombria... Mas eu não pediria nem por um segundo que fosse diferente. Eu gostei - admitiu, baixando a cabeça. - Sei o que isso pode mostrar sobre mim, mas não vou negar e não vou julgar vocês por algo que eu faria - e tornou a olhar Lakroff. - Não julgamos você por seja lá o que estão escondendo. No fim, você não tinha escolha que não criar outra identidade, se teve um passado mais conturbado, que nunca permitiria manter a guarda de Harrison de forma legal se fossem achados, então... está certo. Não foi o caso, vocês se mantiveram longe do ministério, mas era necessário ter uma garantia, não é?
Lakroff piscou, o rosto limpo antes de se virar e guardar um dos vinhos, fechando o armário.
- Já tinham entendido então que Lakroff Mitrica é uma identidade falsa completa, não é? – perguntou indo atrás de uma taça. – Não só um rebatizado por assumir o título de Lorde, mas...
Uma história totalmente inventada ficou implícito, vagando pelo ar.
- Sim – disseram ambos com sorrisos idênticos.
- É claro. Vocês vêm se mostrando bem astutos desde ontem. Imagino também que já devem ter notado que minha história toda...
- Notamos algumas falhas – admitiu Sirius coçando a nuca. – Mas nada muito... é convincente sim. Nada impedia o pai de Lily de ter um irmão que não sabia, mas as memórias do Harrison, então o banco e também... – e encarou o namorado.
Remus pensou em como explicar. Sim, haviam pistas que tinham pegado, mas todas eram muito pequenas para até gerar suspeitas, o que lhes deu a informação de que estavam falando com uma falsa identidade foi ouvirem Tom e Lakroff conversando na noite anterior. Mas fizeram isso escondido.
A história do garotinho nascido em 39 de repente não batia, mas para eles foi simples: se Lakroff não estava pronto para contar quem era de verdade, tudo bem. Chegaram a suspeitar...
Que sequer fosse um Grindelwald. Precisou fingir para conseguir algum direito à Harry, mas então criava brechas que não batiam, como sua aparência ridicularmente parecida com a de Gellert.
Claro, havia adoção de sangue...
Mas a forma como falava da infância com o lorde Grindelwald... No fim, conversando sozinhos antes de dormir, chegaram a uma conclusão: eles não chegariam a uma resposta sem que os próprios Mitricas quisessem. E tudo bem. Sirius e Remus conheciam pouco o homem, mas confiavam nele, viam o tipo de pessoa que era, as escolhas que tomava pela sua família, como amava Harrison de todo o coração e entendiam, melhor do que se pensa, suas motivações. O que o passado importava?
Desistiram de saber as respostas antes da hora. Lakroff podia dizer quem era de verdade quando achasse melhor, esperavam apenas que tivessem uma chance de conhecê-lo um dia.
- Você claramente também tenta soltar algumas verdades, vez ou outra – comentou Remus, pois sabia disso pelo cheiro, muito mais fácil em Lakroff do que em Tom em comparação, apesar de ser outra pessoa difícil de ler na maior parte do tempo. – Mas aos poucos começamos a notar coisas. Também... nós sentimos muito, mas ontem...
- Vocês se esconderam do lado da porta e ouviram minha conversa com o Tom – comentou e riu das reações que misturavam surpresa, receio, vergonha e incerteza. – Alguém mais vai querer? – questionou mostrando a taça. Os outros dois negaram com a cabeça. – Tudo bem meninos. Eu não me importo que tenham escutado atrás da porta - riu. - Se fosse o caso, teria os revelado lá antes de soltar algo verdadeiramente comprometedor... A propósito, é claro que notei vocês se esgueirando e bisbilhotando no instante que se aproximaram, precisam aprender a esconder a presença melhor. Só que não me importei que soubessem, não tanto quanto me importava de perder a chance do que estava acontecendo lá. Eu e Tom... estávamos tendo uma conversa que já precisávamos a um bom tempo, da qual nunca tivemos a oportunidade de nos abrir como foi naquele momento. Não podia interromper antes de chegar ao fim.
A tempos Lakroff queria conhecer Tom Riddle, entender o que seu neto via no homem, que tipo de pessoa estava deixando na cabeça do menino. Com Tom se abrindo para ele naquela noite, foi necessário e reconfortante de uma forma gigantesca conhecer a verdade, perceber que o homem que conhecia como Voldemort, simplesmente não era o que estava na cabeça de Harrison, mas alguém que admitia seus receios, entendia os sentimentos das pessoas, se ajoelhava diante de um elfo para pedir perdão e respeitava Lakroff o bastante para reconhecê-lo e falar abertamente sobre o que era necessário.
Pois amavam Harrison, isso era o mais importante.
Tom amava e cuidava mais do menino que a si mesmo, tentava ao máximo lhe dar tudo que merecia. Saber disso com todas as letras saindo de sua boca era importante, entender que Voldemort era um humano, com um passado que o marcava, o moldava, mas ainda alguém disposto a evoluir, que havia se tornado capaz de estar com Harrison e ser bom para ele.
Então ser sincero e claro com Lakroff, alguém que normalmente veria como um rival a ser vencido por seu próprio orgulho, simplesmente por ser o guardião de Harry e uma boa convivência seria melhor para o menino...
- Eu não queria que descobrissem qualquer coisa assim, mas... que seja. Ao menos já posso me livrar de um peso da mentira de sempre.
- Então... você nos perdoa por ouvir sua conversa particular? – perguntou Sirius receoso. – Vigiar vocês dois?
- Eu faço, se me perdoarem por lhes dar uma identidade falsa, mesmo que tivéssemos protegidos por um contrato mágico.
- Perdoamos – concordaram os dois.
- Por quê?
- Como por quê?
- Por que perdoam tão fácil? Não acham errado eu literalmente conhece-los em uma mentira? Não acham que foi uma quebra de confiança? – perguntou de cabeça baixa, já voltando para a mesa.
- Você mal nos conhece, como poderia confiar totalmente? Nem Harrison fez, vamos lembrar que aquele contrato mágico tinha mais de vinte páginas! – brincou Sirius. – Agora você... me corrija se eu estiver errado, é apenas uma teoria baseada no que tenho, sim? Garden... não é seu irmão gêmeo, não é?
- Eu... – Lakroff hesitou.
"Você não entende a dor, a mágoa, que causará neles" Lakroff se lembrou de Tom na noite anterior "A pessoa que você criou para eles, quando contar a verdade, vai matá-la. Isso será frustrante para alguns. Tudo que sabiam vai colidir com a figura que suas mentiras influenciaram, terão a sensação de começar do zero depois de terem sido totalmente enganados e... até usados. Como escudos firmes que te protegem da verdade de seu passado. Cúmplices de um crime, entende?"
Responder àquela pergunta com sinceridade era cruzar uma linha que Lakroff não se sentia totalmente preparado para cruzar.
Era dar uma memória, totalmente desprotegida por contrato mágico ou o que fosse, uma informação, que poderia ruir com tudo que construiu de sua identidade falsa.
Até então ele só afirmou o nome diferente, deixou implícito outras possibilidades, mas afirmar com todas as letras que não era gêmeo de Garden mudava tudo. Era uma das poucas coisas que arruinaria toda sua história então criaria um dos maiores dos problemas de sua vida.
Uma coisa era admitir que o nome não era o biológico, isso muitos de confiança já sabiam, que Lakroff se rebatizou ao assumir os títulos da família e já adulto. Garden nunca teve problemas para ter uma vida completa, nascer, crescer, casar, ter filhos, envelhecer e morrer. Garden teve uma vida, mesmo que interrompida até jovem em um acidente, mas teve bem longe dos Grindelwald. Ninguém suspeitava que, se fossem duas crianças cada uma sendo mandada para um orfanato (como tanto era comum), uma delas poderia ter sido um bruxo que teve sua própria história no anonimato.
Um que nunca soube de suas origens, cresceu em uma região abrangida pela Durmstrang como escola principal, mas por ser um nascido entre trouxas nesse aspecto, não recebeu uma carta de aprovação, então ficou em uma escola pouco falada da Europa, a mais próxima e que podia estudar. Como qualquer órfão que não tem identidade, foi batizado com um nome e sobrenome totalmente comuns, os mais famosos do país, assim mesmo que alguém fosse atrás da administração de "sua escola" e perguntasse pelo nome biológico (que ele nunca dava, só se insistissem) topariam com dezenas de outros iguais e funcionários dizendo: sim, lembro sim.
Na região onde nasceu? Um garoto loiro de olhos azuis, mesmo um órfão, você sacode uma árvore e derruba outros dez.
Era difícil achar brechas na história de Lakroff Mitrica como um garoto qualquer, que decidiu ir atrás da verdade, mas se apavorou com ela, a renegou e ao passado da família. Eventualmente, entrou num marasmo de solidão até Lilian Potter vir e ajuda-lo a criar garras. Encontrar algo que o motivava, uma família boa e ter do que se orgulhar em sua vida o fazendo assumir o nome eventualmente, mas não o Grindelwald que dava vergonha, sim Mitrica.
Abandonar seu passado solitário e conturbado pelas frustrações de órfão, homenagear o último homem Mitrica, o último antes do peso que Grindelwald havia se tornado, e então se tornado um novo e cheio de potencia eu, um estudioso que se tornara vice-diretor da Durmstrang, a mesma escola que o rejeitara por origens mais humildes, professor de história da magia, investidor, político e até filantropo.
Lakroff Mitrica tinha uma história que as pessoas não questionavam, apenas apreciavam comentar. Ele pensou em cada detalhe baseando-se em pequenas verdades e pontos onde tinha acesso, para criar a identidade falsa ideal e sem brechas.
Mas precisava de Garden para isso.
Com essa falha, tudo caia como um baralho de cartas.
Ele daria isso aqueles dois com tão pouco tempo? Claro, eles ouviram por trás da porta algumas coisas que provavam não nascer em 39, mas aquilo não servia em um tribunal. Ele poderia estar querendo enganá-los por tê-los percebido ali, haviam centenas de explicações plausíveis.
E Lakroff não estava mentindo por ele. Era por Harrison. Arriscaria tudo para criar uma relação baseada em confiança com dois homens que... Eram dispensáveis? Lakroff não confiava nas pessoas.
Eles sempre o abandonam, porque confiar?
Mas antes que pudesse continuar martelando o fato, Sirius notou a hesitação do homem e, para sua surpresa, disse:
- Bom, não importa muito. Independentemente de ser um órfão abandonado ainda bebê, ou uma criança criada por Gellert Grindelwald, imagino que as pessoas já não engulam fácil que você seja filho de um lorde das trevas e independente de sua história, ela está marcada pelas decisões de outro. Mesmo sem contato com o homem, como você mesmo disse que não tinha – e sorriu com conhecimento de causa. – Sem ter tido tempo para conhecê-lo e ser influenciado, mesmo sem nunca ter tido contato com a família até Lilian lhe contar... As pessoas automaticamente te julgam, não é?
- Bem... sim – murmurou se servindo do vinho, que ainda não tinha aceito apesar de tudo.
- Então supondo aqui, que um dos filhos do lorde das trevas tivesse sido criado por ele. Se esse filho falhasse em algum ponto e o ministério o achasse com Harrison, seria difícil convencê-los, se não até impossível, a manter a guarda do "menino que sobreviveu". Uma carta política da luz com a criança criada por um lorde das trevas? Pessoas são preconceituosas e ridículas, principalmente no ministério britânico e você um bruxo assumidamente das trevas. Com Dumbledore como guardião mágico, esse bruxo real filho de Gellert, jamais teria chance de criar Harry Potter. Poderiam até alegar sequestro, assim como alguém em uma certa memória disse, além de tantos outros cenários. Mesmo sendo o tio-avô, mesmo que o próprio Harry também seja um herdeiro de Gellert, e o bruxo fosse alguém em pleno direito, com documentos da guarda assinados... O ministério nunca aceitaria esse arranjo. Você poderia até ser preso, e seria para justificar o que o próprio Harrison fez... sem julgamento, assim como eu - murmurou baixo e Lakroff piscou surpreso.
- Agora, vejamos Lakroff Mitrica - comentou Remus. - Ele está bem mais distante disso tudo, alguém que foi abandonado e dado para a adoção como Garden. Ninguém poderia te julgar como "cria das trevas" sem julgar Garden e Lilian também. Um simples órfão injustiçado pela vida, que cresceu como um nascido entre trouxas e tem uma história de superação onde passou por cima disso tudo... Alguém que nem estudou em uma escola de artes das trevas e se tornou um bruxo do tipo para ajudar Lilian acima de tudo. Esta pessoa poderia ter mais chances de manter a guarda se fosse encontrado. Não acha? – questionou Remus com um sorriso largo.
"Você gosta bastante dos seus amigos, não é?" Lakroff tinha perguntado uma vez para James.
"Acredite, se os conhecesse, também iria" foi sua resposta, com um daqueles imensos sorrisos Potter característicos. Lilian também sorriu, mas por trás de sua xícara de chá, sentada à mesa bem ao canto do cômodo. "Um dia apresentaremos vocês e entenderá".
"Vocês vão?" questionou Lakroff levantando a sobrancelha.
"Claro que sim. Se continuar com essa graça de não sair daqui..." brincou "Eu os trago. Nunca fui de ligar para modos, caguei que o dono da casa não autorizou a visita, eu entro. Quem vai me impedir? Lala?" Lakroff não se aguentou e começou a rir, muito. Lilian apenas negou com a cabeça. "E Remus vai me ajudar com você" encerrou o Potter cruzando os braços.
"Como assim te ajudar comigo?"
"Você pode até me enganar às vezes, mas não terá chances comigo e Remus juntos".
"Mesmo?" a voz do albino pingou cinismo, um desafio velado que dizia "eu engano quem quiser, Potter" por entre os dentes de um sorriso travesso e astuto.
"Você é bom, Grindelwald, mas não é quatro".
"Quatro?"
"Eu e Remus somos uma ótima dupla, mas nós quatro, os marotos, somos imbatíveis. Você não é nada".
"Diga isso para Voldemort".
Lilian abriu a boca para dizer algo, dar uma bronca nas brincadeiras deles dois provavelmente, mas James riu alto e já foi acrescentando:
"Eu vou dizer. Bem na cara dele. Um dia e seja como for..." e sussurrou a última parte.
Pingando uma ameaça que fez Lakroff sentir orgulho. Ele olhou para a barriga de Lily pensando como seria aquela criança e se teria a chance de conhecê-la. Queria muito.
Tinha tudo para ser alguém impressionante com aqueles pais.
No presente, Remus continuou:
- Mesmo tendo direito a guarda, Dumbledore claramente não se importava em manter Harrison com bruxos de sua linhagem, duvido que tenha feito um teste de sangue. É como você disse nas memórias que ele nos mostrou, todos podiam assumir o pior de você, a situação já era delicada, mas muito mais que isso, não podia ficar se dando o luxo de abrir uma investigação e correr o risco de que vissem o que Harrison fez com os tios. Mesmo que você pegasse a culpa por ele, Harry voltaria a ficar sem quem pudesse cuidar dele adequadamente. Mentira ou não, identidade falsa ou a coisa que seja....
- Não importa – continuou Sirius. – Entendemos que você teve que fazer o melhor que tinha para se manter com Harrison junto de você e poderia ter inventado qualquer coisa que engoliríamos como verdade e cuspiremos na cara de quem quiser ouvir. Lakroff Mitrica é a única verdade que precisamos, pois é a verdade que salvou Harry.
- Acho que eu devia ter pedido para ele me dar as memórias que mostrou a vocês também, para entender o que sabem ou não – suspirou o mais velho, enfim tomando seu vinho, com um longo gole acabou com tudo. – Mas sim, toda possível mentira que disse é para manter essa identidade e a segurança que traz. Que bom que são inteligentes, fica mais fácil conversar assim – e encheu seu copo de novo.
- Para piorar, no caso hipotético aqui – riu Sirius olhando para cima. – Do filho que teve idade para ter sido criado por Gellert, alguém que provavelmente aguentou o julgamento alheio por cada mísera coisa errada que fizesse em sua vida, como se isso o tornasse mal e uma maçã azeda que não caiu longe da árvore, e todas as boas eram tratadas como "fez apenas sua obrigação"... Eu só consigo imaginar como seria quando o lorde das trevas simplesmente fugiu de Nurmengard e foi bater à porta? Para avisar onde achar Harrison, sim, mas como é que se explica para um bando de guardas furiosos que você não está envolvido nessa merda toda, sendo o filho primogênito que o maluco caçou quando mais precisou?
Lakroff sorriu, um sorriso deprimido, mas também feliz, quando Sirius tornou a encará-lo, com carinho e amizade, ele se sentiu estranhamente... bem.
Ele viu com clareza naquele olhar: entendimento.
- Olhe – murmurou o animago. – Eu realmente sei na pele como as pessoas são. Eu fui preso sem julgamento apenas por ser um Black, você... se por acaso já tiver sido um dia, não estou afirmando que foi... Não duvido que possa ter sido injustiçado. A vida inteira eu fui pego pelos olhares das pessoas por carregar meu sobrenome e ser o futuro lorde de uma casa de malucos. Ninguém confia num Black logo de cara, a culpa sempre era minha primeiro, mesmo quando eu não tinha feito nada. Credo se achassem um livro de artes das trevas na Grifinória, nunca seria culpa de ninguém, apenas minha mesmo que eu jurasse que não o levei lá... só James confiava na minha palavra, mas ele... – suspirou. – Era James e isso basta. O que estou querendo dizer é que, a maioria das pessoas não entenderia seus motivos para fugir do peso do sobrenome Grindelwald, a maioria poderia se sentir mal por conhece-lo como "Lakroff o órfão", mas eu nunca vou julgá-lo por fugir de algo como isso, porque se eu tivesse um bom motivo... faria o mesmo. Eu tinha orgulho de ser diferente deles, mas ter o nome, mas eu tinha James para me ajudar com isso. Mesmo sem uma marca no braço, meu pai era uma sombra em mim que fazia todos suspeitarem de cada ação e me odiarem sem nem conhecer. No mínimo apontar o dedo.
- E eu tinha o lobo... – sussurrou Remus.
- Nós, mais do que ninguém, entendemos como é viver calculando cada passo porque todos vão imediatamente te chamar de insano, criatura, ser das trevas, bruxo louco, ou a merda que for. Não falar alto, não reagir demais, não levantar a cabeça para as batalhas erradas... Isso foi algo que tivemos que carregar. Eu sei como foi com você. Vão dizer que é sua culpa e que você não sabe se controlar e é um perigo ou coisas do tipo. Não sabemos tudo sobre seu passado e acreditamos que todas as informações estão bem embaralhadas agora, entre falsas, verdadeiras, mas não fazemos questão de juntar as peças, porque o mais importante já sabemos.
- Sabem?
- Você está fazendo tudo por Harrison.
Lakroff se calou. Coçou o peito levemente incomodado.
- Você só queria ter uma vida, ser você mesmo, fugir do seu pai...
- Fugir de si mesmo e do preconceito – acrescentou Remus. – Nem que precisasse se isolar para isso.
- Machuca ser a sombra das decisões ruins dos outros ou do que assumem de você por algo que não se tem controle – continuou Sirius. – A sombra Black é grande e coberta de ideias que não concordo, mas nem todos acreditam em mim quando digo isso. E agora... meu afilhado é o prodígio das trevas e tenho orgulho disso. Tem noção das merdas que dirão de mim? Mas estou me lixando. As pessoas são umas merdas quando querem. Independente das verdades de como você nasceu e cresceu, tinha que arrumar um jeito de não ser mais envolvido com seu pai e conseguir, não só achar Harrison, mas cria-lo. Ser julgado e continuar caminhando constantemente sob uma imagem que não te encaixa, de um homem que, ainda por cima, você odeia porque te fez mal, que foi um péssimo pai e te feriu do começo ao fim de sua vida como um espectro pairando em seu próprio nome... machuca e eu nunca vou julgar você por escolher ficar longe disso. Você não é seu pai, mas todos te olham como se fosse o próximo a ser igual. Só que ele te machucou, nunca te amou como deveria, quis de você o que não lhe encaixava ou não podia oferecer. Você quer esquecer a dor que ele te causa, mas todos insistem em te causar mais dor e repressão por ser o filho, o herdeiro, o primogênito. Eu odeio essa merda, é péssimo! Então sim, entendo que tenha feito uma identidade falsa. Ou estou enganado em achar que compartilhamos dessa dor?
- Não... – admitiu Lakroff em um sussurro, encarando Sirius surpreso. Se já não tivesse chegado à conclusão de que aqueles dois tinham muito mais camadas do que a maioria era capaz de enxergar, estaria o vendo como alguém novo.
Mas não, já sabia que eram impressionantes. Agora só sentia que conhecia ainda mais de Sirius.
- É bem... por aí – concordou. - Mas... não totalmente... meu pai ele...
Coçou a cabeça, pensando em se falava ou não o que estava pensando, se tentava explicar a situação com Gellert e como poderia fazer isso sem se comprometer. Mas valia a pena criar mais uma brecha na história para algo pequeno como defendê-lo?
No fim, todos podiam pensar a merda que fosse do lorde das trevas, que era um babaca sim, Lakroff não se importava, mas se deixasse como estava como seria depois? Harrisson de certo não o deixaria "preso" por muito mais tempo. Estaria com um plano em mente para reuni-los de novo, mesmo que Lakroff tivesse sido contra.
Sirius, entretanto, continuou o fazendo voltar para a realidade:
- Então, quando você pensa que se livrou de tudo isso se escondendo, há Lilian e você sente que pode voltar a gostar de um aspecto que te formou, gostar de sua família. Eu fui assim com Andrômeda, com meu tio, as decisões deles me faziam pensar que eu não era o único quebrado e talvez o resto da família que fossem os verdadeiramente quebrados, nós apenas nascemos do lado certo. Só que seu pai fugiu, ele mata alguém e aparece na sua porta te pedindo um favor, depois de tudo? Como se não bastasse ser criado por um lorde das trevas, viver na guerra, ser um Grindelwald, ter uma infância de merda... eu acho, não sei...
- Minha infância foi mais que merda, pode continuar - bufou o albino.
- Você não quis toda essa porcaria nas suas costas, ainda mais naquela hora, em que você tinha que salvar o filho de Lily porque seu pai, um vidente do apocalipse, tinha o visto e isso só podia ser um mal sinal. Só consigo pensar o quão difícil foi pensar no que fazer, lutar com ele, prendê-lo, tomar coragem para chamar os guardas que podiam te julgar na mesma hora que vissem sua cara, imaginar se Gellert não escaparia de novo e não faria a coisa ele mesmo, te enfiando na lama junto e mais ainda, depois de anos tentando se afastar da coisa, você poderia até estar nas capas de todos os jornais e mesmo que o ministério não te julgasse, as pessoas iriam? Sua vida ainda poderia ter alguma chance com isso? E como você ajudaria Harrison? Apenas porque carrega o mesmo nome que alguém que tomou as decisões erradas, tudo na sua vida é mais difícil. Nome falso? Vida falsa? Eu trocaria até de corpo se fosse possível!
Lakroff riu alto e tomou outra taça.
- Você escolheu criar uma identidade que as pessoas engoliriam mais facilmente – disse Remus. – Daí... seu irmão mais novo, Garden, foi perfeito. Todos podiam engoli-lo, ninguém nunca o julgaria, nem o fariam com Lilian envolvida, não passava daquele que foi dado para a adoção. Sangue voltaria a não significar nada para a luz, em prol de manter a imagem da salvadora que Lady Potter se tornou. Você se escorou nisso, o pobre coitado filho do homem mau, mas que pode ter sido mais sortudo sendo deixado mesmo. Dois bebês abandonados... é uma boa história.
- Claro, isso tudo é só uma situação hipotética nada real e essa conversa, na verdade, nem está acontecendo – encerrou Sirius.
"Se os conhecesse, também iria gostar..."
- James tinha razão – comentou Lakroff com um sorriso, arranhando a mesa.
- Como?
- Eu não cresci durante a guerra – admitiu em um pulo de coragem, agora diretamente para a dupla. – Já era mais velho quando estourou... tecnicamente. Vai muito dos olhos de quem vê, eu imagino – e aquela atitude relaxada, mas confiante e amistosa que Lakroff geralmente esbanjava tinha ido embora. Ele parecia receoso, desanimado, mas também... cauteloso.
- Como assim pelos olhos de quem vê? – perguntou Remus.
- Aquela coisa de idade biológica, psicológica... Para o ministério, Harrison é um adulto e tem quatorze anos. Então... é complexo – tomou outro longo gole e tornou a se abastecer.
Sua cabeça deu uma leve pontada pela velocidade que o estava fazendo. Ou uma das agulhas se mexeu, quem sabe?
- Você...
- Mas eu sempre vi a guerra – comentou agora que já estava no ritmo, que se sentia tolo o bastante para admitir algumas verdades.
Poderia se arrepender depois, mas era um dragão da Haus Feuer. Prudência e astúcias, as vezes perdiam para sua arrogância, coragem e impulsividade idiota.
No fim, os dragões fazem o que querem, sem filtro na língua ou nas atitudes, medo não existe em seu vocabulário e as consequências? Eles as derrubavam depois.
- Acho que é uma das coisas diferentes, mas parecidas que fazem eu e Tom nos entendermos, na mesma proporção que criamos atritos - continuou. - Ele realmente viveu o medo contínuo que era ouvir as bombas, tiros e gritos e saber que podia o atingir a qualquer segundo. Preso em um orfanato enquanto o resto da sociedade ignorava pessoas como ele, sendo que podiam ajudar. Eu... tecnicamente era uma das pessoas que tinha o poder para tentar ajuda-lo... e eu tentei, acho que é por isso que ele sempre teve alguma espécie de respeito por mim... Não importa. Eu estava preso só na minha própria cabeça, ninguém podia ajudar nem se quisesse. Era assustador, o que Tom ouviu, o que eu ouvi, mas ele não viu todas aquelas coisas terríveis, todas as experiências, ele não assistiu as partes mais perturbadoras, ele sentiu na própria pele outras, tão desesperadoras quanto de perto, infinitas vezes mais tranquilas, de longe.
"Na mesma proporção que eu tinha muros, pessoas, elfos, dinheiro, influência e um mundo para me proteger, ele precisava... depender dos outros sendo alguém que sempre gostou de estar no controle, reprimir a própria magia e aceitar a morte se os deuses assim quisesse, porque os bruxos o proibiram de ser ele mesmo por meses em um orfanato. Ninguém liga para órfãos, eu tinha meus pais, por piores que fossem, estavam lá e os tiros não me alcançariam. Eu não podia acabar num campo de concentração dos que via, mas Tom podia ser atingido pelas bombas que ouvia caindo do lado de fora de um abrigo. Ele estava no presente, eu no futuro, não me atingiria na hora, mas era algo que eu sabia que logo poderia acontecer, ou.... nunca. Meu pai sempre me lembrava disso, como o futuro é uma incerteza até para um Grindelwald, que cabe a nós ver o que os Deuses querem dos nossos destinos e à eles decidirem quais coisas haverão de continuar como o planejado. Mas aos mortais também havia uma segunda função...
- Entretê-los e lutar para vencê-los em seu próprio jogo – e sussurrou a última parte. Perdido em pensamentos. – Eu discordo... ou discordava. Antes de Lilian, pelo menos, já tinha desistido que o destino poderia mesmo mudar de opinião. Tom tinha medo de ser atingido, eu tinha medo que a humanidade fosse mesmo capaz de fazer armas biológicas e assistir umas as outras morrerem como animais – negou com a cabeça. – Então quando fizeram isso... eu os vi como animais da mesma forma que se tratavam. Ridículos imprestáveis e destrutivos. Meu pai, de repente, teve certa razão em desprezá-los, mas eu não... Acho que comecei a divagar, vocês podem interromper quando eu começar a fazer isso, sabiam?
Sirius e Remus ficaram em silêncio, encarando o mais velho ali.
Ambos tendo a mesma impressão: Eles tinham acabado de ver algo novo.
A postura, os pensamentos, Lakroff por alguns segundos não era mais o senhor que tinham conhecido.
Então teriam visto mais do verdadeiro?
O animago o cortou:
- É por isso então? – perguntou baixinho.
- O que?
- Seu pai... a forma como você fala do Gellert as vezes, parece concordar com o que ele diz em muitos pontos, mas também... o odeia. Você... acha que ele estava certo em tentar mudar o futuro e também sobre... os trouxas? Mas não era um bom pai e em algum ponto, você começou a achar que ele estava errado em tentar? Que o mundo é como é, fim? Que a dor que te fazia passar não compensava, pois não levaria a nada?
- De certa forma, você está certo, em tantas outras, está errado. Mas a culpa é minha. Porque vocês ainda estão presos na identidade falsa que lhes dei – e tomou outra taça, em mais uma longa golada. Qual era aquela? Se fosse trouxa, de certo, já estaria bêbado, a garrafa estava mais vazia do que deveria. – Eu pensei muito, entendem? Mal dormi. Gosto de vocês meninos, gostava antes mesmo de conhecê-los, por causa de James. Ele me falou horrores sobre cada um. James nunca desconfiou de você, Remus – contou encarando o lobisomem que se surpreendeu. – Não como você poderia pensar. Não achava que você os trairia como Pedro fez, mas acreditava que você trocaria de lado, eventualmente.
- Eu? Mas...
- Você mesmo disse ontem, Voldemort tinha seus pontos – interrompeu. – James não era burro, ele se fazia de burro para enganar as pessoas e tirar vantagem. Era a sua forma de manipular. "Santa lerdeza Potter" chegou até a me convencer algumas vezes, mas é porque ele era bom. Uma cobra astuta que sabia colocar uma coroa de cervo e fingir demência até o fim, mas você nunca descobriria a verdade por trás de cada sorriso besta se ele não quisesse. Uma cobra, com garras de leão. Ou um leão com preza de cobra... Um dragão.
- Como?
- Haus Feuer. Símbolo: dragões. Harrison sempre disse que era uma mistura de Sonserina com Grifinória. Dragões são orgulhosos, muito astutos e ambiciosos, possuem desprezo pelas regras, mas são corajosos... como só sua carapaça firme e força absurda poderiam forjar – sorriu, pensando nos seus alunos.
Lembrou-se de Krum, ambicionado e conquistando uma carreira como apanhador de seu país antes de se formar. Harrison esteve torcendo a cada jogo, ajudando a destacar o amigo em cada partida que um olheiro ia em Durmstrang, era um dos maiores fãs do búlgaro.
Lembrou-se também de Axek e Ivan sempre competindo um com o outro, explodindo poções na cabeça de um quando o outro estava distraído, se amaldiçoando, precisando ser apartados com frequência ao ponto de até Leandro (que sinceramente não era o posso de responsabilidade) proibi-los de fazerem dupla nas aulas de magia elemental ou acabariam se ferindo, mas sempre se unindo contra qualquer um que tentasse atingir alguém da dupla. Também para agradar o príncipe.
Dragões tinham seu jeito bruto único e divertido de assistir.
- São bravos, determinados, arrogantes em relação a si mesmos e até onde podem chegar. Ousados. Muito. Nada para um dragão, se não outro e... "Não temos inimigos, só alvos que ainda não decidimos abater" – murmurou a última parte com o maior dos sorrisos levantando sua taça.
- Você é chefe da casa Feuer, não é? – perguntou Sirius.
- Sim.
- Não parece muito com você... sem querer ofender, mas a...
- Não parece, mas é isso que eu quero que as pessoas pensem – interrompeu o loiro e quando seus olhos azuis estreitaram-se para encarar os de Sirius....
O animago tremeu.
A intensidade neles, a forma como mais uma máscara do que fazia Lakroff Mitrica existir parecia ter caído, mais uma parte essencial do homem que se escondia ali em baixo tornou a vir à tona era... impressionante. Aquele era o alguém que Lakroff teve medo bastante de mostrar, que precisou criar outro para estar próximo de seu sobrinho-neto.
Foi como no dia anterior, até Lupin se ajeitou no lugar, seus instintos apitando, lembrando-o de que tinha percebido (quando o Mitrica se apresentou como herdeiro Grindelwald para os quadros da mansão) que havia errado seu julgamento sobre ele, que havia algo que seu lobo não conseguia ver na superfície e não era coisa que se subestimava. Seu nariz ficou arisco e incomodado com aquele cheiro azedo acentuado, como se a baunilha, as rosas, tudo sumisse e um apenas um limão restasse...
Um quase podre.
- Se você não acha que eu sou um dragão, então estou fazendo um bom trabalho para interpretar o papel de cachorrinho dócil e traumatizado – continuou, sua voz uma nevasca que adormecia os sentidos, assustava com promessas de um desconhecido profundo e gélido.
Um deserto de neve.
Sem nada para ajuda-lo, se quisesse enfrentar de frente.
- E agora? – perguntou Remus.
- Agora? – questionou Lakroff.
- Você parou de interpretar?
O mais velho riu, uma risada nem um pouco acolhedora, parecia mais uma faca de gelo rasgando o ar ameaçadoramente. Te atraia com sua beleza, te ameaçava e te mataria. Isso era fato.
- Talvez? Um pouco. Não o bastante – e levantou a taça. – Por quê? Estou incomodando o lobo?
Sirius sentiu até seus ossos tremerem, ainda viu quando os olhos de seu namorado se tornaram amarelos sem que pudesse impedir.
Talvez nem tivesse notado.
Poucas pessoas tinham noção o bastante para dizer uma coisa daquelas a um lobisomem, entender que, a depender do lobo, a ligação seria tão forte que quando se irrita o bruxo, a tempos o lobo já teria perdido a paciência e no geral é com ele que se deve ser cauteloso.
Lakroff, no fim, tinha um amigo que era lobo, um que podia se transformar sempre, então o Mitrica saberia as implicações de provocar aquela criatura. Falar diretamente assim com ele então?
- Ele está tentando te entender – respondeu Remus, mas o som saiu arrastado, batendo nas cordas vocais, criando um rosnado estranho de fundo.
- Como disse, gosto de vocês meninos. James os amava, Sirius era seu irmão e nada tirava isso de sua cabeça, Remus era aquele que conseguia acompanhar melhor sua mente, ajuda-lo a ir mais longe na medida certa e aquele que sempre quis ajudar, mas começava a aceitar que, com uma sociedade que não fazia o mesmo, talvez não conseguisse ser o bastante e acabaria perdendo.
- Ele disse isso? – perguntou o lobisomem, de repente perdendo a postura de ataque, os olhos voltando para sua cor normal.
Ainda estava atento à abrupta mudança do outro, mas foi obviamente tocado pelas palavras.
- Sim. Muito mais também. James amava falar, tanto quanto amava as pessoas das quais estava tagarelando, esqueceram-se?
- Nunca – disseram ambos juntos e os três riram.
Mas Lupin percebeu que a risada de Lakroff continuava naquele tom de arma, mais que emoção.
- Dito isso, eu gostaria de ser totalmente sincero com vocês, mas não posso, não por algo tão leviano quanto sentimentalismos. Nunca. Minhas emoções, nem as de ninguém alheio, estarão acima do meu dever para com minha família. Nunca mais. Desculpe s isso o está incomodando e se o lobo não gostar de mim... não há o que fazer.
- Nunca mais? – questionou Lupin, focando naquilo que achou mais interessante.
- Tomei muitas decisões ruins no tempo de Gellert - explicou Lakroff. - Praticamente abandonei Garden por coisas que hoje não me parecem justificativas plausíveis.
Aquela frase foi marcada como em brasa na mente de Remus, pois ele sentiu o peso daquelas palavras.
Lakroff havia abandonado Garden. Ele esteve em algum momento com o irmão, mas se foi em uma ação consciente, por algo justificável na época, mas hoje não. Mais uma pista, somado aos ideais de Gellert que o Mitrica um dia pareceu apoiar em alguma intensidade... Lupin começou a criar uma teoria interessante.
Se lembrou de Lakroff dizendo que ele e Thomas tinham coisas semelhantes, mas diferentes. Harris era um comensal no passado.
Lakroff...
- Dito isso, eu acabei relevando muito aqui hoje - resmungou. - Espero que saibam, levando em conta o pouco estão vendo de como posso ser... – começou, girando a taça nas mãos, refletindo, deixando que a frieza em sua voz penetrasse pelos ouvidos daqueles dois e congelasse seus ossos por dentro, por fim encerrou como uma lâmina fria, queimando a pele por onde passou: - Que se falharem com essa baixa confiança que os ofereci, se eu acabar sofrendo as consequências por ter tentado aproximá-los de Harrison, não vou simplesmente sumir com ele para nunca mais verem, posso fazer isso, mas vou escolher destruí-los antes disso, tornar a vida de vocês tão infernal que nem James será capaz de reconhecê-los quando chegarem no pós vida. Isso se chegarem até lá - sorriu. - Mesmo a morte pode não ter o que recolher.
A palavra medo, oficialmente, ganhou novos patamares para o casal em questão.
Os olhos de Lakroff pareceram brilhar enquanto falava, não só isso, seu tamanho, sua força, sua magia, tudo cresceu e se tornou selvagem exatamente como uma tempestade de neve, ao mesmo tempo que não deixava a imagem de calmaria que uma imensidão branca gerava, seu rosto não mudou um único músculo de lugar, mas até se ele dissesse algo bom seria uma ameaça agora.
Do pior tipo.
Sirius arfou e Remus, dessa vez, acabou levantando.
Simplesmente levantou de sua cadeira e deu vários passos para trás tão rápido que mal notou até estar longe. Só precisava se afastar do predador.
Então Lakroff riu e os outros dois simplesmente travaram no lugar com isso. O som parecia falso e distante
- É claro, o que quero dizer é apenas que confiei em vocês e gostaria de receber algo bom em troca, acreditar que me respeitam o bastante para guardar essas coisas só entre nós.
Houve um silêncio contemplativo antes de algum dos dois responderem.
Impressionantemente, foi Remus o primeiro:
- Claro. Não pretendíamos fazer diferente – concordou baixinho, mas muito nervoso com a ideia de voltar para perto do homem que havia ganhado um cheiro tão azedo e forte por alguns instantes, que naquele momento, onde a baunilha e o floral retornaram, ambos pareciam perfurar as narinas como pimenta.
Incomodando, machucando igual álcool numa ferida exposta.
- Dissemos ontem e podemos reafirmar o quanto quiserem – continuou Sirius suspirando, percebendo que, mesmo aquilo e com a reação de Remus, não temia Lakroff.
Obviamente estava receoso com o que o homem seria capaz de fazer, mas não estava assustado com ele em si. Diferente ou não, sempre soube que aquele outro lado mais sombrio estava lá, escondido por trás dos sorrisos dóceis que foram um pouco mais tortos do que deviam, os olhos mais sagazes do que o bom senhor que queria passar. Desde o dia que o simples sorriso do homem, junto do de Harrison, fizeram Sirius esquecer da própria raiva ele não duvidava mais da maldade em Lakroff Mitrica. Seja qual fosse.
Na noite de quarta feira, onde teve a impressão de nada que a tão famosa raiva de Sirius Orion Black fosse capaz de fazer, seria maior e mais terrível do que o que aqueles dois eram capazes, Sirius já tinha entendido isso. Agora essa certeza só teve sua prova final, mas nunca pretendeu estar do lado ruim dos Mitrica, então para que se importar com um pouco de selvageria e um lado obscuro?
Sempre se atraiu por coisas assim mesmo:
- Estamos aqui por Harrison. Juramos que aceitaríamos quem ele é e como gosta de viver. As pessoas com quem ele quer conviver. Se não está pronto para confiar isso a nós, vamos entender, não precisa se forçar a dizer coisas e depois nos ameaçar. Vá no seu próprio tempo, perdoaremos a verdade, seja qual for quando chegar. Não estamos afirmando e reafirmando isso levianamente. Só não ligamos. Meu afilhado feliz é minha única lei agora.
Lakroff acenou e tornou a oferecer vinho para aqueles dois, dessa vez porém Sirius aceitou.
- Tecnicamente sempre é assim mesmo – continuou o Black após um gole que foi colocado em sua caneca. – Quando conhecemos pessoas, quero dizer. Fingimos ser diferentes e melhores. Aceitáveis para a sociedade. Eu não saio por aí falando para pessoas que mal conheço que tenho fetiche no meu namorado colocando uma coleira em mim, me dando ordens e me chamando de cachorrinho.
- SIRIUS! – gritou Remus explodindo de vergonha.
Simples assim, a tenção que tinha sido criada, sumiu.
Lakroff começou a rir, a gargalhada agradável e aconchegante de avô de sempre, se o lobisomem não estivesse tão irritado com o próximo comentário, teria notado como aquilo fez o cheiro doce de sempre voltar totalmente, sem resquícios da parte incômoda.
- Mas eu estou falando sério! – continuou o animago com uma das mãos no ouvido (levou para lá no impulso pelo grito). – Acaba comigo toda vez que me chama assim. Me deixa fraquinho, mas é pior quando você fala "bom garoto" quando eu engulo s...
- Se você terminar isso! – e correu acertar um tapa forte na nuca do outro, que chegou a ecoar pela cozinha. – Estará ferrado Sirius Orion Black!
- Ferrado ou fodido? – questionou sorrindo. – Uma das opções é interessante, a outra...
Remus agarrou o namorado pela gola e o levantou da cadeira, Sirius não vacilou em seu sorriso travesso, o que irritou o fundo do âmago do lobisomem, que detestava ser desafiado.
Ainda mais por seu cãozinho travesso.
Sabendo que ameaçar não funcionaria, e gritar de novo estava fora de cogitação pois detestava ver como aquilo afetava o namorado, sorriu de canto e aproximou sua boca do ouvido alheio.
Lakroff não ouviu o que foi dito, nem quis, pela cara de Sirius aquilo já seria íntimo demais. Apenas tomou um gole mais controlado e decidiu afastar o resto da garrafa de si. Mesmo que bruxos tivessem mais tolerância a bebidas trouxas como vinho, bruxos como o pai de Sirius não manteriam espécimes do tipo se não fossem coisa boa o bastante para molhar seu bico.
O Mitrica também não podia se dar ao luxo de ficar bêbado.
Usava bebida para relaxar a mente barulhenta, os sons ficavam mais fracos ou tão embaralhados que não passavam de barulhinhos aleatórios sem sentido e facilmente ignoráveis, mas não para confundir seus sentidos nem o deixar incapaz.
- Estava pensando em chamar Tom de novo – comentou e o casal pareceu voltar a realidade imediatamente.
Remus soltou Sirius que foi com uma expressão empolgada muito mal disfarçada para sua cadeira, enquanto o Lupin fingia que nada tinha acontecido (também muito mal, já que evitou o olhar de Lakroff).
- Ai ai, a juventude – brincou.
- Velho, mas não morto, né Mitrica? – questionou o Black se inclinando na mesa com um sorriso, já totalmente alheio ao que tinha acontecido antes. – Já está querendo chamar Tom de volta? Se quiserem, levamos Harrison para passear e vocês podem continuar a parte boa.
- Tom e Harrison estão a um tempo sem se ver direito, apenas quero que meu neto fique feliz.
- Ah, sim. Claro – concordaram os dois no ato, ambos cheios de ironia e sarcasmo. – É para ele apenas.
- É mesmo, então você e Tom... – Sirius começou, mas parou no meio, as ideias e informações se chocando. – Existe uma diferença de idade entre vocês dois afinal?
- Sim, mas... Olhem, vocês vão ficar fazendo perguntas sobre quem eu sou mesmo? – questionou sério.
- Desculpe – pediu. – Eu não...
- Não, não é isso! – se corrigiu agitado, então bufou quando os outros dois se calaram. – Eu só não quero ter que ficar mentindo, entendem? Eu não me incomodo, normalmente, acho que se a pessoa se importa comigo ou Harrison deveria compreender que eu não tinha escolha e que nunca menti necessariamente em como eu sou. Isso, Lakroff Mitrica é quem sou agora e ponto final. Não é puramente uma identidade a mais, é tudo que... Quero para mim. Fico mais calmo e controlado que o normal com essa identidade? Sim, mas não associo isso a mentira puramente. Agora eu sou diferente, mudado. Não vejo porque fazer ou tomar atitudes como era antes, quando tenho crianças que dependem de mim ou me usam como exemplo. É uma questão de amadurecer nas circunstâncias e evoluir. Mesmo se me conhecessem no passado e então agora, não veriam grande diferença, James ou Lily não poderiam apontar mais que duas, eu acredito. O que estão vendo é apenas a mudança natural que tive quando minha vida também mudou e não é a primeira. Já tive a fase da revolta, a fase... sombria, a fase da depressão... Mas isso também é o que me deixa feliz! Eu prefiro ser Lakroff. Sou feliz e orgulhoso quando me olho no espelho, coisa que nunca fui antes.
"Me sinto mal quando lembro do que eu já fui, quando me arrependo do que perdi por meus antigos ideias e quando penso que ninguém vai aceitar, mas eu... Não quero mudar Lakroff, nem quando descobrirem a verdade, pois sou só eu sem todas aquelas coisas que carregava antes. Sem o medo das visões, sem as amarras sociais, mágoas de infância me forçando a... escolher determinadas coisas. Mesmo as inibições ou minha necessidade em fazer algo... Eu só quero minha família feliz e meus alunos formados igualmente satisfeitos com suas escolhas, que os anos que passaram na escola sejam memórias incríveis que os engrandeçam no futuro. Essas são minhas ambições. Lakroff é um homem que desistiu de coisas, mas sem elas para me prender eu sou bem mais... feliz! Eu sinto mais vida nele do que quando eu... Não tinha passado por tudo que ele passou.
Então suspirou, fechando os olhos.
- Minha vida agora é pensar no presente, no que disse e... no máximo em como ajudar a cidade que fundamos prosperar mais, mas de resto minha cabeça gira em torno dos meus filhos, Harrison, as ambições dele e o que raios meu humor decidiu fazer hoje. Quem eu gostaria de importunar agora?
- Geralmente Dumbledore – brincou Sirius conseguindo arrancar imediatamente uma risada de Lakroff.
- Como é? – questionou Remus.
- Eu já te contei, mas acho que não com detalhes. Na primeira semana deles em Hogwarts, sempre que perguntavam onde estava o vice-diretor Mitrica alguém o tinha visto perseguindo Albus - comentou o animago.
- Perseguindo não! – corrigiu Lakroff com uma expressão ofendida bem falsa. – Acompanhando em busca de uma boa conversa entre intelectuais e... – Começou a rir. – Ah, eu não aguento essa mentira. Eu só queria ficar vendo a reação dele à cara do Gellert em mim! É tão divertido! O homem parece entrar em pânico sempre que eu tento me aproximar, me sinto um poltergeist puxando as cobertas a noite! - riu mais e, dessa vez, os outros dois também. - Deixem-me contar, eu posso, talvez, ter colocado um glamur em mim mesmo algumas vezes para fazer um dos meus olhos castanhos e vê-lo ter um piti.
Sirius engasgou, Remus cobriu a boca, então uma risadinha atrás da outra, os dois engataram a numa crise de gargalhadas. Juntos, os três levaram bons minutos imaginando a cena e tentando quase sem sucesso respeirar.
- Por favor... – pediu Sirius entre arfadas. – Faça isso comigo por perto um dia.
- Sem problemas – concordou Lakroff empolgado com a ideia.
Ficaram assim mais um pouco, naquele clima agradável, antes do mais velho tornar a falar, mais sério:
- Conseguem entender o que eu disse? Sobre Lakroff, eu quero dizer? Isso é quem sou agora, não precisa parecer uma mentira, porque não é... só me contenho mais que o normal de antes.
- Mesmo assim Remus teve que fugir não tem nem cinco minutos – murmurou Sirius rindo e o namorado o acertou um tapa no braço, bem de leve.
- E quando descobrirem tudo, espero que entendam que ainda serei essa mesma pessoa, porque é quem tenho orgulho de ter me tornado. Eu sei que nem todos acreditam na mudança das pessoas, mas... – só que não terminou.
A frase ficou no ar enquanto um dos dedos girando pela borda da taça distraído.
- Nós acreditamos – disse Remus, chamando a atenção do Mitrica. - Já aceitamos o comensal - brincou fazendo mais sorrisos surgirem na mesa. - Você gostaria de voltar a ser quem era antes?
- Não!
- Você mudaria algo em Lakroff?
- Eu... – e engatou, nunca tinha pensado muito nisso, mas sentia que só havia uma resposta: - Eu queria que ele fosse real – os outros dois o encararam confusos. – Queria que eu tivesse exatamente essa história, nascer de novo e tornar real, que nada do que disse fosse mentira, para ninguém me olhar diferente depois que descobrem meu nome biológico, porque a maioria não entende... Como prefiro me afastar do meu outro eu. Harrison entende, mas ele...
"Vê minha alma e sabe que nada mudou. No máximo o vazio no peito, que diminuiu com os anos..." pensou.
- Ele sempre sabe das coisas, não é preciso ficar se explicando muito. Hazz confia que isso é minha verdade agora, é como me identifico e está satisfeito em apoiar isso. No fim, acho que ele gostaria de ambas as minhas versões, mas essa o mima, então ele apoia – brincou.
- Bem... Harry se identifica com Harrison, não é? – perguntou Sirius e Lakroff sorriu.
- Algo assim. Um novo nome, para uma nova fase, um novo você.
- Tudo bem por nós – disse o animago após um aceno de concordância do namorado. – Te aceitamos assim, com nome falso e tudo. Gostamos do Lakroff.
- De todas as partes, as boas que mostra – acrescentou Remus. – Ou as sombrias que guarda. Até quando você cai para a versão Grindelwald - brincou.
- Como é? – questionou Lakroff muito confuso com uma careta.
- Quando você "para de interpretar", quando... acho que quando começa a pensar em si mesmo como quem era antes, seu cheiro muda. É muito interessante, nunca vi isso antes.
- Ele... Ele muda?
- Sim. Fica mais azedo e... picante... não como pimenta, é... é difícil de explicar, algo incomodo e forte, mas é tão incomum que começa a se tornar interessante e fascinante depois que se acostuma com a ardência.
- Cheiro de Grindelwald... Finalmente entendi essa piada - murmurou distraído.
- Como é?
- Leandro – Remus estreitou os olhos e Lakroff riu da reação ao nome. Ele teria que conversar com aquele brasileiro e lembrá-lo que era para ajudar Remus, não criar uma rivalidade entre lobos. – Abraão sempre fez uma brincadeira onde chega numa sala, mal me vê bravo e já vai dizendo "cheirinho de Grindelwald no ar, quem fez merda dessa vez?". Eu assumia que ele tinha me ouvido gritar do corredor, ou que sentia meus hormônios de estresse elevados, mas não que meu cheiro todo mudasse.
- Ele muda.
- Até seu cheiro tem um mistério, olha que legal – divertiu-se Sirius. – Bem... ou teria. Como já disse, essa conversa nunca aconteceu, nunca suspeitamos da sua história e nem existem brechas. Lakroff Mitrica é a única coisa que conhecemos e... O que raios estivemos falando na última hora mesmo? Ah é, sua quedinha por Thomas Harris.
Mitrica se sentiu incrivelmente mais leve e satisfeito com aquilo, e ficou claro, não só em seu aroma, mas no sorriso imenso que atingiu até os belos olhos azuis e o rejuvenesceu alguns anos:
- Obrigado meninos.
- Não há de que. Mas... apenas para morrer aqui: É aquilo que eu estava dizendo – disse Sirius. – Nós esperamos nos sentirmos confortáveis com alguém, para começarmos a ser totalmente sinceros, mas isso leva tempo. Não há porque forçar apenas por se sentir culpado em mentir para nós, quando essa mentira protege você e Harry. Mas obrigada, me sinto lisonjeado em saber que tem consideração o bastante por nós, para sentir esse desconforto.
- Vocês eram como a família de James e eu também me considero família dele... – murmurou o loiro.
- E você é o avô de Harrison. Sim, todos aqui querem ou se veem relativamente como uma família. A maioria carece de uma boa, também ao que parece - os três riram, aquela que tentamos segurar na garganta mas sai, vinda direta do humor sombrio e quebrado deles. - Tudo bem sermos uma estranha, disfuncional e com algumas mentirinhas, acabamos de nos encontrar e somos pessoas diferentes. Vamos fazer do nosso jeito, não como os outros acham certo, sermos felizes e confortáveis é o que importa.
- É... então nosso jeito me envolve sendo uma nota falsificada e vocês me aceitando desse jeito?
- Nota falsificada?
- Tom vive me chamando disso. Nota de centavo, eu acho. E mentiroso, irritante, tenho quase certeza... Ou seria insuportável? Ridículo é praticamente padrão. Acho que muitos outros insultos também, mas vocês prestaram atenção? Porque eu só presto quando é para usar contra ele em uma piada, de preferência suja – e os três riram mais uma vez em conjunto.
- Ah, ele com certeza te insulta muito – comentou Remus. – Mas os insultos dele parecem tão...
- Do século passado? Fracos? – sugeriu Sirius.
- Ele é quase do século passado – defendeu Lakroff.
- Só que ele parece ter parado lá! - ralhou.
- Para alguém que lutou na guerra, ser tão inocente como ele... mesmo que sejam aspectos muito diferentes, parece bem contraditório – acrescentou Remus.
- Acho que entre os comensais eles não deviam ficar se cantando não é? Quer dizer, estavam todos de máscara... – divagou Lakroff.
- A maioria das opções em baixo delas também não eram muito agradáveis – retrucou Sirius. – Quando estavam com a cara limpa eu já dispensaria a maioria.
- De acordo com James, ao menos Regulus era agradável – brincou Remus.
- Fala uma dessa de novo que eu te mordo – ameaçou o animago zangado.
- Onde? – questionou o lobisomem rindo. – Seus dentinhos não me dão medo não.
- Eu vou te mostrar um lugar que se eu morder você não esquece...
- Você que sairia perdendo, se eu não esquecer, provavelmente ficaria com medo de deixa-lo chegar lá perto de novo e você fica sem...
- Eu vou indo chamar Tom! – disse Lakroff se levantando. – Vocês dois tem alguns minutos, para apagar esse fogo matinal que parecem ter acordado com - e se afastou ao risos.
-x-x-x-
[N/A: A partir daqui já peço desculpas para as atrocidades de erros que podem vir. É sono e exaustão. Dia péssimo, cansaço no máximo e são três da manhã. Tentem passar um pano, sim?].
-x-x-x-
"Aquilo é uma raposa?" pensou Harrison ao ver a silhueta de um animal totalmente albino, com olhos cinza azulados.
Era linda, mas difícil de enxergar naquele lugar.
Harrison estava em um mundo em branco gigantesco e a única coisa além dele, naquele instante, era a raposa albina.
- Você está bem confuso, não é mesmo? – uma voz perguntou atrás dele, mas sequer deu atenção.
Poderia até ter se assustado, se fosse qualquer outra pessoa, mas era Harrisson. Alguém acostumado a ter uma segunda voz na cabeça, isso nem afeta mais.
E estava hipnotizado pela raposa.
Uma calda longa e felpuda, orelhas astutas, olhos o observando. Tentou levantar a mão na direção do animal, mas ele entrou em posição de ataque, inclinando as patas dianteiras, as patas traseiras bem firmes, prontas para um salto.
A calda girou de um lado para o outro calmamente.
- O que é essa raposa? – a voz tornou a perguntar.
- Não tenho ideia – respondeu e, agora com os dois sons comparados ele teve certeza: a voz de antes era dele mesmo.
Tom geralmente mantinha a própria voz nos sonhos de Harry, então não devia ser ele.
Vagamente registrou esse fato, mas estava mais concentrado no bicho que, naquele instante deu um impulso e saltou no ar, passando por Harrison e começando a correr em disparada.
Harry seguiu, mas em certo ponto...
A perdeu.
Se misturando no branco. Tudo ondulou e ele girou no lugar, tentou enxergar algo, vagamente registrou que o chão pareceu se tornar líquido, como um mar leitoso antes de voltar a ficar sólido.
- Por que você está vendo tudo isso? - perguntou sua voz, novamente.
- Onde está Tom? – ele questionou no lugar.
- Um tanto distante, não é? Entretanto, imagino que ainda possamos acessá-lo se tentarmos. É o que você quer?
- Não. Agora... não – murmurou dando uma volta completa no lugar, tentando enxergar mais alguma coisa.
Quando terminou, estava diante de si mesmo. Como se um olhasse por um reflexo, mas vivo e em três dimensões. Um clone, uma réplica.
- Você está confuso, não está? – perguntou o segundo Harry.
- Por que este lugar está todo branco?
- Nossa mente só fica assim quando estou confuso.
- Ou perturbado - lembrou.
Quando era criança não tinha noção da importância daquilo. Como, nos piores momentos da vida, seus sonhos se tornavam aquilo. O subconsciente sendo preenchido por branco e apenas algumas poucas coisas surgindo aqui e ali, geralmente pessoas jogando suas maiores inseguranças em si, mas...
- Dissociação - disse o segundo Harry.
"Característica humana de escapismo ou até distração, onde a mente foge para outros cenários e não para o presente", era apenas um dos significados que havia achado em seus livros de psicologia.
Era algo que se treinava muito nas aulas de Oclumência, envolvia (para proteger a mente de estímulos externos e conseguir organizar seus limites) limpá-la totalmente. Você podia criar barreiras dissociativas, mudando seu subconsciente para algo longe do que queria esconder, assim impedindo a leitura da informação. Também podia usar para organizá-la ou, depois de limpa, você podia arrumar suas memórias, levantar as barreiras que precisar.
Fazer seu palácio mental do zero de forma clara e que fizesse sentido para você, de forma que pudesse sempre acessá-lo com naturalidade e desviar de ataques da mesma forma, mudando-o, abrindo portas e fechando outras sem muito trabalho, exatamente por conhecer bem a mente que você mesmo construiu.
Em suma, deixar vazio, para que suas emoções não afetem seu desempenho nas tarefas que quer cumprir, assim poderia pensar com mais racionalidade.
Era um recurso muito útil para praticar alguns feitiços e rituais mais complexos nas artes das trevas. Limpar, se organizar, proteger a mente para que a magia não te afetasse de forma negativa, então se concentrar apenas na emoção desejada, nos pontos da mente que eram úteis para aquela magia e então ter o resultado desejado limpo e estável, pois não seria afetado por outros sentimentos, que com magia sombria facilmente se misturariam e poderiam atrapalhar na eficácia e no controle do feitiço.
Harrison era uma pessoa naturalmente dissociativa.
Ivan contou que, no começo, achava que sua alteza era do tipo idiota, porque quando olhava em seus olhos diferente da maioria, que ou mantem uma barreira completa por causa dos anéis de herdeiro, ou possuem algumas informações aleatórias geralmente relacionadas ao presente, Hazz tinha absolutamente qualquer coisa. O Russo não sabia, mas enquanto Harrison deixava a mente em branco e seus pensamentos mais escondidos, acessíveis apenas para ele, Tom estava lá para jogar qualquer coisa estúpida para confundir as pessoas e verificar se alguém tinha olhado.
Uma vez Harrison quase teve um ataque de risada na aula de Artes das Trevas quando o professor fez contato visual por tempo demais e Tom, para testá-lo, fez uma imagem mental de um homem vestido com uma fantasia de flor (uma margarida), perseguindo com um raquete de tênis, um porco alado de asas rosa e fraldas, que carregava um cachorro minúsculo e magricela tocando banjo nas costas.
O fato de que um lorde das trevas tinha imaginado aquilo foi a parte que destruiu Hazz.
Mas esse tipo de coisa veio com as aulas de Oclumência básica de Lakroff. Antes disso e nos seus piores momentos, a mente de Harrison se fechava, tentando subconscientemente fugir das coisas.
Dissociação era um recurso muito estudado do subconsciente para apagar traumas dos quais nossa mente sentia que não poderíamos lidar. Apagar dores, leva-lo para um lugar sem nada para que não precisasse lidar com tudo aquilo. A maior questão é que não conseguia sem o treino adequado com perfeição, o que criava aqueles pesadelos onde estava sozinho num mundo branco, encolhido enquanto memórias o atacavam com os medos que não havia conseguido afastar totalmente.
Se retraia mais e mais e tentava criar barreiras para afastá-los, mas como se afasta sua própria mente, suas próprias inseguranças mais arraigadas e machucadas? Marcadas na mente como as cicatrizes em sua pele. Uma criança falha miseravelmente por não entender as nuances de seu subconsciente.
Essa característica também explicava vagamente ter aparatado tão jovem, pois podia estar diretamente relacionado a sua mente desejando fugir dos problemas mais graves.
Se levar para outro lugar no espaço sendo a fuga suprema. Ao mesmo tempo, algo nele nunca o deixava ir totalmente, como se entendesse que tinha que ter força para enfrentar ou não passaria de um covarde.
E Harrison Potter detestava os covardes.
Somado a isso, havia sua coragem e arrogância. De querer superar os problemas, na maior parte do tempo, vencer a vida e seus desafios.
- Estou no meu subconsciente – murmurou o que já era óbvio, mas se estava lá, então algo não estava tão claro como deveria.
- Você o deixa assim quando está tão mal que fica difícil segurar o caos que quer sair - e como se evocado por ter sido chamado, todo o mundo em branco foi cortado por raios negros, o som estrondoso de trovões tornou tudo preto e verde por alguns instantes, uma tempestade tão intensa vinda do nada.
Caos puro.
Arrebentando o mundo de luz e calmo de antes, mostrando a segunda grande tendência de Harry: enfrentar. Seu lado negro arrebentando as estruturas, querendo consumir na raiva aquilo de que não gostava.
Logo, entretanto, tudo encolheu e se escondeu de novo. Contido em Harrison.
- Tempestade controlada – sorriu, pois isso era ele.
Mas Hazz estava confuso com algo. Sua mente tentava se organizar deixando tudo vazio para reconstruir de forma que fizesse sentido. Então... o que era?
- Você sempre sabe as coisas, de um jeito ou outro, então quando há uma coisa que não entendeu, algo que o deixou verdadeiramente confuso ou não parece fazer sentido voltamos para isso... A estaca zero. Você precisa refazer todo seu palácio mental de forma que as coisas voltem a se encaixar.
- O que não estou entendendo agora?
- Não sei – o outro Harrison deu de ombros e apontou para longe. – A raposa? Mas não é só ela...
- Não é. Tem algo que... que está me deixando incomodado desde antes de dormir, mas estava ocupado e deixei para depois – constatou.
- Ah, sim. Isso tem. Ei! Porque você está vendo aquelas coisas?
- Como assim?
- Seus sonhos...
- Voldemort, eu...
- Você não viu apenas ele. Voldemort foi uma parte muito pequena... um homem num corredor que não conseguiu aparatar. Sinceramente? Até seus sonhos já estão se misturando. Não foi só Voldemort naquela hora, você viu outra pessoa ao mesmo tempo passando por algo tão igual que te deixou todo confuso.
- James... – murmurou baixinho.
- Ambos estavam perdendo algo que queriam proteger. Voldemort a horcrux, mas só um aparatou para a caverna.
- Regulus...
- Que história é essa de seu pai ter aparecido por lá? Isso sequer faz sentido para você?
- Não! Se meu pai tivesse achado Regulus Black, ele teria contado para Sirius, não é? Quer dizer, não ia deixar um irmão sem poder dar um enterro digno ao outro. É cruel e sem sentido.
- É, quer dizer, porque James esconderia a morte de Regulus para começo de conversa? Porque ele falhou em achar uma cura? É egoísmo demais para quem James parece ser. Deixar que Sirius descobrisse por informantes da ordem? Qual o sentido de guardar que Regulus, ainda por cima, morreu para ajuda-los? Morreu como um herói?
- James sabia disso? - questionou levantando a cabeça. - Sabia o que Regulus estava fazendo na caverna?
A outra versão de si mesmo riu e Harrison franziu o cenho para ela:
- Você está fazendo as perguntas erradas.
- Como assim?
- O que mais está te incomodando? Isso é uma pergunta certa.
- Tem mais alguma coisa?
- Claro, afinal a resposta para "porque James não contou para Sirius sobre a caverna" é fácil se pensarmos na solução mais óbvia.
- Nunca aconteceu - sugeriu.
- Você foi dormir com essa história do Regulus na cabeça e já está imaginando coisas. "Se um dia você perceber que não quer isso" foi o que você viu seu pai dizer "eu juro Regulus, não importa o tempo, eu estarei lá e vou te ajudar, você não precisa nem pedir, não precisa ser corajoso como seu irmão e sair pela porta da frente, mas eu vou"...
- Então eu imaginei aquilo? Porque... quis...? - questionou com uma careta estranhando.
- Imaginou? – perguntou o outro Harry com um grande sorriso e começou a andar, circulando-o. – Faz sentido, não é? Quer dizer, se for mesmo uma memória, então tem algo muito errado nessa história toda.
- O que?
- Bem... na verdade, sabemos que tem mais de uma coisa errada.
- Sabemos?
- Você está vendo os mortos...
- Sempre vi.
O outro Harry parou de andar e riu mais. Riu alto, uma gargalhada que ecoou pelo mundo em branco, então o encarou de braços cruzados:
- Mesmo?
- Claro que sim! Eu...
- Fantasmas, sem dúvidas, sempre viu. Todo bruxo vê. Você também consegue acessar o passado... ver os reflexos que uma alma deixa no mundo... é isso, não é?
- Como assim?
- Será que isso está certo?
- O que quer dizer com isso?
- Fiquei pensando sobre o assunto... você nunca viu uma alma, como viu a de Regulus.
- Não entendi o que está dizendo.
- Veja bem. Harrison Potter consegue acessar o passado sempre que tem um estímulo forte, consegue ver memórias dos fantasmas quando está perto deles, mas... você está encarando diretamente uma alma e seus poderes sempre foram isso: ver almas. Você também vê muito dos vivos encarando essa essência, mais verdades até do que eles mesmos são capazes de perceber ou aceitar. Sabe mais que todo mundo, porque vê a verdade por trás da imagem superficial que as pessoas mantêm e consegue até prever seus movimentos.
- Sim, isso tudo já é um fato.
- Mas isso forma apenas uma verdade: você vê almas. Todas... que estão nesse plano.
- Isso é...
- Você não vê os mortos, Harrison. Você vê almas que estão disponíveis, então o que está grafado nela. Fim.
- Não é verd...
- É verdade - interrompeu. - Gellert é um necromante, ele te ensinou a tentar acessar o véu do outro plano e ter vislumbres do que acontece com as almas que partiram, mas... entenda a diferença. Assim como ele tinha sua forma de ter visões específicas, te deu um caminho para ter as suas. Pense Harrison! Algo não está batendo, sua mente está confusa porque todas as estruturas, todas as certezas que tinha foram derrubadas. Então, para nos reconstruirmos... Que tal começar pelas certezas que tínhamos antes?
- Certo... – murmurou se sentando no chão, seu outro eu o acompanhou. Vagamente registrou grama nascendo embaixo deles. – O véu...
- É um mistério, uma incerteza, mas você sempre teve muito sangue necromante. Peverell...
- Os maiores e mais conhecidos. Os artesões da morte.
- E Mitrica.
- Os mais antigos e sábios. Os agentes analistas e julgadores dos vivos.
- A morte em si, você já a viu, mesmo que prefira nunca admitir para as pessoas que sabe como ela é.
- Mal sei também – sorriu. – Nunca vejo totalmente e nem sei se minha mente é capaz de registrar.
-Foi vulto – ambos disseram juntos rindo.
- "A velha habilidade Potter de se fazer de sonso". Lakroff sempre diz isso.
- É útil. Não preciso lidar com a coisa, se não entendi ou percebi - brincou.
- E assim você evita falar para seus amigos que sabe quais estão apaixonados por você ou não – e riu enquanto Harrison lhe chutava.
- Nem me lembre disso.
- Mas você não é sonso. Sabemos que vê alguma coisa quando pessoas morrem na sua frente. Não sabemos se era a morte em si ou se era um simples ceifador, por exemplo. Tudo indica que, de alguma forma estranha, você é algo. Um shinigami, talvez? Um deus da morte, um anjo, agente da morte, o que for. Algo como você? Aquele que convence pessoas a se matarem, que, assim como um chacal, pode devorar almas para que paguem por seus erros. Será? Até onde isso vai? Você é assim? Ou se fez?
- Você está jogando um bando de pensamentos na minha cabeça de uma vez - reclamou.
- E não estamos chegando em nada. Por isso está em branco. Estamos fazendo as perguntas erradas, nos focando em coisas que não são importantes agora. Então voltamos ao ponto: você já viu a morte, ou acha que viu, vagamente percebe vultos estranhos quando alguém morre. Você é um necromante e um Grindelwald, seus poderes também estão nos seus olhos, mas você usa outros sentidos porque Gellert te ensinou. Como ele ensinou?
- Rituais. Feitiços de invocação e meditação...
- Você fez um círculo mágico, usou magia, recitou palavras, fez muita coisa para conseguir acessar uma memória de um morto, para conseguir ir ao passado. Assim como Gellert fazia para chegar ao futuro. Você não precisa dar uma alma à morte para ver, afinal não está prevendo, não está alcançando o que ainda não foi nem totalmente escrito, está apenas retomando o que já existiu e ficou gravado em alguma vida.
- Eu...
- Seus poderes não são ver os mortos. Você é um tipo de vidente, mas você viu o passado, sabemos disso.
- Espera... – murmurou levando as mãos às têmporas. – Estou ficando confuso de novo.
- Vamos aos poucos que tudo sempre se explica. Somos assim - sorriu inclinando a cabeça. - Lakroff consegue ver o futuro, consegue ver massacres e desastres, é um vidente do apocalipse. Luna consegue prever rumos que a vida pode tomar, seguir a linha de raciocínio do destino, ouvir sussurros da natureza e do mundo para prever os caminhos mais óbvios. Uma vidente da natureza. Você...
- Eu não vejo o futuro direito.
- Sim, você só vê o presente com tanta clareza e entende o passado o bastante para perceber que as pessoas seguem rumos muito parecidos, o mundo é um ciclo de repetição, as pessoas são previsíveis... Mesmo?
- Nunca tivemos certeza.
- Arauto da morte?
- "Conseguem ver, sentir ou predizer a presença da morte" - recitou alguma das explicações que já lera. - Não diz nada sobre...
- Futuro? Sim. Diz apenas sobre morte. Em qualquer aspecto dela. Você possivelmente vê a morte. Decididamente sente o véu do além, quando está mais fino e acessível. Consegue transitar em seu subconsciente de alguma forma... consegue prender a alma de uma pessoa... - sussurrou.
- Mas... esse termo sempre me incomodou... parece que falta algo...
- Porque nunca ouviu falar de um arauto da morte que vê uma alma viva?
- Isso também, mas...
- Harrisson?
- O que?
- Você vê os vivos.
- Mas eu também vejo os mortos - disse, mas sem convicção.
- Vamos pegar os momentos que você mais lembra? Anos atrás esteve na casa Mitrica, no mesmo lugar em que já esteve antes, viu algo que já tinha presenciado, seus pais conversando, então assumiu que era uma memória retomada. Você já viu mais de uma memória com eles, mas todas onde esteve presente. Porque começou a pensar que é mais que isso? Para explicar outras coisas, mas no fim é só isso, uma memória da sua alma. Você era simples bebê? Sim, mas estava lá e só conseguia ter essas memórias se houvessem estímulos. Esse é o ponto. Quando estimulado, quando se procura a coisa certa na alma, quando sejam fotos, o som do piano de Lakroff, entrar num lugar depois de anos sua mente se foca em algo que está lá... Eram memórias que podiam ser suas. Um dejavú. Então isso consta como assistir o passado. O passado da sua alma. Quando mais você viu o passado?
- Alice. Ela contou um dia como ficou órfã, enquanto falava...
- Foi como aconteceu com Monstro hoje. Um estímulo. Alguém te contando sobre seu passado e você conseguiu assistir como se estivesse na sua frente. Você não tinha treino com Alice, não usou o véu da morte e do passado, então como foi?
- Ela falou sobre sua família, o momento em que a mãe dela morreu, quando o pai dela a matou. Mas não era tão claro quanto com Monstro. Tanto que...
- Podia ser só sua imaginação. Você entendeu que não era só isso quando conseguiram uma foto da família dela e você percebeu que, "de alguma forma milagrosa" tinha adivinhado a exata aparência de todos. Então o que todos concluímos?
- Mesmo que eu não estivesse lá, eu posso acessar memórias das pessoas através delas.
- Mas não só memórias de morte. No fim, isso poderia ser até legilimência natural.
- Mas não é isso.
- Seus poderes são confusos. Tudo que você pesquisa, tem algo parecido, mas não exatamente igual, então você meio que decidiu não pensar tanto nisso, pois é algo que sempre parece um tanto incompreensível e você não precisa entender para usar. É natural para você. Mas sabe... você estava olhando, com Alice, com você mesmo e mesmo com Monstro, mais recentemente, sempre para a mesma coisa: para almas. O passado delas. Você olhou diretamente para um vivo e acessou suas experiências, gravadas, que formaram quem é. Você olha para um fantasma e dá no mesmo. Gellert, então, apenas te ajudou a aperfeiçoar o que já sabemos com certeza de que é capaz e acessar o véu para tentar ter mais. Ter um vislumbre dos mortos. Afinal para quem vê uma alma aqui, o outro lado parece apenas um passo interessante a se dar.
- Sim...
- Ele te ensinou a imaginar o véu da morte, entrar no outro plano e ouvir memórias dos mortos. Mas você só está replicando o que já tem no mundo dos vivos, olhando almas. Só que... por estar onde um mortal comum não tem acesso as coisas são um tanto diferentes. Você é capaz de ouvir os sussurros deles, mas...
Sua cabeça doeu um pouco.
- Eu não vejo – disseram os dois.
- Você ouve, sente e eles escolhem o que consegue entender. Ou a morte. Tanto faz, o importante é que você é apenas um necromante tentando alcançá-los na medida do possível.
- Está errado - reclamou levando a mão à testa.
- Você não vê os mortos - continuou o outro Harry, ignorando a negação anterior. - Porque você não pode simplesmente entrar no mundo dos mortos e sair procurando o que quer. Ninguém sabe o que acontece depois do véu, nem você. Isso está longe do alcance mortal e você é mortal. Então apenas escuta brevemente o que algumas almas, talvez as que também estão atravessando, registram. O que passa de raspão. Você não procura, apenas aceita o que a morte naturalmente te oferece depois que entra em seu reino subconscientemente.
- Mas eu consigo...
- Fazer um ritual para ver o passado e os mortos. Suas memórias. Sim, você consegue – apontou para Harrison. – Mas, vamos lá, você fez um ritual necromante. Assim como Gellert. Ele tem visões aleatórias, mas ao matar, isto sendo dar uma alma para a morte como um sacrifício dos princípios das artes das trevas, ele consegue uma visão clara de algo que deseja e está em seu destino. Seu bisavô precisa desejar, sacrificar algo suficiente bom para convencer a própria morte e as deidades a ajudar, além de se concentrar muito para ter algo que quer. Gellert só consegue ver com clareza ao realizar rituais. Você aprendeu com ele, é um necromante discípulo de Gellert Grindelwald e herdeiro direto, não é tão diferente. Você apenas não olha para frente. Olha para trás. Atravessa o véu, escuta e seus sacrifícios são menores porque nem sempre consegue, pode até assistir algo, mas não depende de você não importa o que faça. Isso é com o véu. Você pede autorização apenas para estar ali, não para ter algo específico ou uma resposta, como é no ritual de Samhain ou com o futuro de seu bisavô. Você pede autorização para estar ali, o que vier ou não é lucro.
- Não tento superar o poder da morte - concordou. - Só peço que me aceite ali enquanto não a incomoda...
- Então tem a outra coisa. Algumas pessoas, alguns lugares, eventos, eles são carregados. Você entra em um lugar e sente que algo aconteceu ali, então com um ritual você pode liberar. Como se faz isso?
- Alguns mortos... deixam parte de sua essência para trás, como se algo os prendesse aqui, uma marca no tempo e espaço. O véu fica mais fino e eu passo por ele.
- Você já teve uma teoria sobre seus poderes antes.
- Sim, mas eu descartei.
- Por quê?
- Não faz sentido.
- Por que não? Sua teoria era baseada na única certeza de que tem: você vê almas. Ponto final. Então as almas poderiam ter mais a mostrar do que pensamos. Mostram seu passado e, o mais interessante aqui: até seu futuro. O que sua alma já passou? O que os Deuses esperam dela? Ou... imagine só, se o mundo realmente for um ciclo? Talvez tudo pelo que sua alma já passou, realidades diferentes, tempos diferentes, decisões diferentes, esteja gravado ali como parte de suas experiências. Você vislumbraria isso. Tudo isso. Passado, presente e futuro, o ciclo completo e todos pelos quais já passou, cada coisa que uma alma carrega e isso explicaria porque sabe tanto das coisas, algumas simplesmente se repetem, outras já estão programadas, outras são possibilidades. Você vê almas, que segredos elas escondem?
- Mas isso não explica...
- Ver aquelas marcas deixadas para trás? Os lugares carregados?
- Isso.
- Há explicações possíveis sim. Talvez realmente parte da alma ficou e você continuou vendo. O mais provável é que uma dor grande tenha deixado o véu fraco naquele lugar. Você sabe como a energia individual das pessoas é forte, quando os ceifadores passaram, não notaram aquela energia humana, o sentimento ali. Como um feitiço que se mantém mesmo quando o feiticeiro se vai, como por exemplo em tantas fortalezas, onde a energia de seus criadores permanece em cada parede através das magias que utilizaram para protegê-la.
- Mas aqui um sentimento... uma dor que prendeu uma alma...
- Quase a tornou um fantasma? Uma indecisão? Deixando o véu instável. Bem provável. Agora... Quantas vezes você já viu os mortos?
- Várias.
- Errado – riu o segundo Harry.
- Como errado?
- Você viu memórias, algo assim, sem dúvida. Mas não o morto em si, a menos que seja um fantasma. Viu o passado de um lugar e um evento carregado. Se você fosse capaz de simplesmente passar pelo véu e procurar o morto ou informação que quisesse, então porque nunca fez isso com seus pais, por exemplo?
- Não gosto de ficar preso ao passado?
- Claro... Ou será que você só entende que é impossível para um mortal simplesmente acessar o mundo da morte e tirar de lá o que quiser? Não. Morte não funciona assim. Mesmo com os rituais, você tira muito pouco do mundo dela...
- Mas eu...
- Você vê o passado. Você vê o presente, então, possivelmente vê um futuro gravado, mas tudo porque vê almas. Isso é fato. Toda vez que viu algo realmente com detalhes, como se fosse para transportado para o momento, você tinha uma alma nesse plano, diante da sua visão, para te dar acesso a isso. Tanto que usa os óculos ceguetas por achar um pouco invasivo também. Daí tem os rituais que te fazem acessar coisas sem que tenha realmente alguém vivo para ajudar. Só que nem sempre funcionam e nem sempre mostram o que queria, porque você não tem controle do mundo dos mortos e pode ficar lá apenas vagando. Também não vê nada com a mesma clareza de quando olha a alma de um vivo. O que aconteceu então hoje?
- Hoje?
- Regulus Black, oras! - reclamou. - Morreu de forma carregada? Sim. Parte da alma dele deixou uma marca, você a usou para conseguir ver coisas, acessar o passado dele, tentar entender o que prendia sua alma aqui. Certo?
- Certo.
- Errado! - bufou.
- Por quê?
- Isso é coisa de fantasma!
- Como? - franziu o cenho.
- Depois que se passa pelo véu, nós não temos mais acesso à pessoa para ver tão claramente seu passado e o que ela quer. Sabemos disso. Ouvimos e... mesmo alguma visão são apenas flashes confusos de pessoas que não passaram totalmente pelo véu ou algo do tipo, tanto que fazemos um ritual para pedir à morte que leve essa alma. Nós vemos, preste atenção nas minhas palavras, vemos um vulto. Um reflexo ou sombra... A marca de sujeira que uma sola suja de lama deixou no carpete, não vemos o pé, nem o dono da bota. Não quando se trata dos mortos, não dessa forma. Dos mortos só temos uma coisa com clareza e sem um ritual: uma repetição do momento em que alguém morreu. Ou seja: nós vemos a morte. Não o fantasma, não a alma, vimos a morte.
- Um arauto da morte... - sussurrou.
- Geralmente porque algo tão ruim e carregado aconteceu que mesmo que a alma tenha tentado partir, a dor daquele instante manteve uma ruptura que acessamos sem nenhum esforço. Vemos uma morte.
- Eu...
- Vamos lá. Encerre: Eu, Harrison Potter, consigo...
- Ver a morte.
- Mas não ver um morto. Isso! Chegamos a uma conclusão!
E a grama embaixo dele enfim ganhou cor. Um pequeno espaço de grama colorida num mundo branco.
- Primeira certeza. Estamos refazendo nosso palácio! – bateu palmas o outro Harry.
- Isso me joga direto para a posição de arauto da morte então?
- Você vê mortes. Seja uma recente, no exato momento em que um ceifador está ali, seja antiga. Você vê a própria morte, ou seus ceifadores, algo relacionado, sem dúvida. Sente onde alguém já morreu...
- Sentir a presença da morte...
- Nunca foi apenas sobre saber quando alguém vai morrer, mas também sobre entender quando esteve presente em um lugar. E uma que vai acontecer?
- Mortes são inconstantes. Nem sempre aquilo que vimos vai ser o resultado final, o destino de alguém pode mudar e Destiny anda constantemente conversando com a morte. Há muitas variáveis, alguma morte que assistimos pode não acontecer, outras... quem sabe? Mas nós decididamente vemos várias pessoas morrendo. E se não forem sonhos? Mas possibilidades? Ou até...
- Somos um arauto da morte - concluiu o outro Harry.
- Um especial que consegue ver as almas no presente também, mas, no fim, ainda um arauto?
- É possível. Só somos um pouco diferentes da maioria, mas ainda estamos trabalhando com algo muito concreto. Te assusta a possibilidade que seus sonhos onde Tom morre sejam verdade? Onde você morre, onde Nagini é decapitada ou até Neville te mata?
- Quando sonho com isso... geralmente ele não está me matando...
- Sim, ele está matando Horcruxes e você é uma, por isso sua mente embaralha. Mas pode sim estar prevendo possibilidades futuras. Ou até...
- Outras marcas da alma. Outras...
- Tentativas e possibilidades do destino. Realidades distintas, mas que sempre foram possíveis. Linhas do tempo, assim como as visões que Gellert já teve, mas não vê mais. Você tem o dom das almas, isso é certo, o resto entretanto envolve um vale de incertezas e suposições. Você supôs que pode ver o passado, acessar os reflexos das almas, coisas q deixaram para trás por emoções extremas. Os mortos estão no passado, você é um agente da morte...
- Sim.
- Suposição.
- No que está pensando?
- Passado, presente, futuro. Que os mortais entendem disso? Gellert Grindelwald via o futuro, o que ele te disse? Nem sempre tudo era o que parecia. As coisas, quando eram naturais e não direcionadas por feitiços e rituais, eram embaralhadas umas nas outras. Via um futuro certo, mas na pessoa errada, por exemplo. Um desastre que ia acontecer, mas no tempo errado também. Era tudo uma confusão mental porque é um mortal vislumbrando algo que está na mão das deidades, algo complexo e nossa mente cria as associações mais fáceis, que conseguiam nos dar algum sentido.
- Mas os rituais fazem as coisas claras e direcionadas porque oferecem um sacrifício para direcionar através das artes das trevas. Deixa de ser uma magia natural, para um feitiço e feitiços são controláveis.
- Isso. Agora partindo do princípio que nos deu alguma clareza até agora – e puxou um pouco da grama, assoprando para fora da palma aberta. A grama logo caiu de volta ao chão, seguindo só a distância que aquele pequeno sopro a empurrando permitira. – Somos um arauto da morte. Vemos, predizemos ou sentimos a morte em todas as suas formas. Sua habilidade de ver as almas está como um diferencial, você é capaz de ver antes da pessoa morrer. Tudo que talvez só fosse possível depois. Podemos ter os olhos de um ceifador.
- De um chacal.
- Apenas suposições, mas fazem sentido. Somos um necromante, mas isso porque treinamos e aprendemos. Também nascemos um arauto da morte: um chacal, um ceifador com olhos de shinigami.
- Entendo...
- Ver em seus sonhos mortes possíveis, ou até mortes pelas quais nossa alma e a de outros já passaram, parece adequado. Passado, presente e futuro, um ciclo ou não, não importa. Somos mortais e o mundo é das deidades, nem tudo fará sentido logo de cara. O que tomamos por verdade é apenas que, ser um arauto faz sentido para nossa realidade e o mundo... é um livro que nossos olhos podem ler. Ver a morte é normal para você e a alma de alguém é o que haverá de passar pelo véu, estamos conseguindo assisti-la ainda no corpo, nada demais. Os olhos de um agente, assim como os outros provavelmente também tem. Assim como a centena de olhos de Lakroff, temos nossos próprios, mas só precisamos de dois.
- São o bastante.
- Já nos mostram muito. Ver uma morte que já aconteceu no mundo, então, é igualmente possível. Seja porque alguém está te contando ou por estar no lugar em que aconteceu, por ser onde o véu está fraco exatamente pela ação de um mortal ao atravessar, sua dor, sua vontade de ficar, mas ainda sim... aceitar ir. A alma tentando deixar uma última assinatura, se recusando a partir depois de tanta dor ou mesmo lutando antes de ir, mas seguindo mesmo assim porque sabe que é necessário. Desapegar é difícil as vezes. Natural.
- Sim.
- No fim conseguimos ver, sentir e predizer a presença da morte.
- É... Decididamente acho que é isso.
E sentiu uma brisa leve mexer com seus cabelos. Os do outro permaneceram parados. A grama cresceu por uma área maior em volta deles, nenhuma parte do chão agora era branca.
- Dito tudo isso... Você viu a morte de Regulus quando entrou no quarto dele. Algo que facilmente aconteceria conosco, mas vou tentar ser mais claro. Se no caso de nosso pai algo assim tivesse acontecido, nós poderíamos ir onde ele morreu e ver o exato instante que o Avada Kedavra o acertou.
- Sim.
O outro Harry riu.
- Que foi?
- É que a morte de James é outra coisa que te deixa confuso, não é?
- Como assim?
- Ele sabia magia sem varinha. Quando você era bebê não sabia disso, seus pais ainda usavam varinha a maior parte do tempo, mas era para não se desgastar sem necessidade porque ainda eram bem dependentes dela, era mais difícil sem, entretanto algo possível. Você percebeu que estavam sem varinha e assumiu que esse era o problema, mas não é. Porque eles não atacaram então?
- Não tiveram... tempo? Sabiam que não adiantava muito? Voldemort os caçaria e sempre haveria mais alguém para traí-los? Nossa vida seria fugir e lutar? Ou eles podiam ficar e mata-lo com o ritual que tinham aprendido?
- Suposições... Parece estranho pensar que eles só desistiram assim.
- Não desistiram. Eles decidiram matar Voldemort, nem que tivessem que se sacrificar para isso.
- Claro... Bem, não importa muito agora. Voltando ao nosso foco, nós podemos assistir mortes principalmente nos sonhos, mas acordados geralmente acontece se formos onde ela aconteceu, pois o véu foi enfraquecido por uma alma machucada que persiste em se prender àquele momento. Você, um necromante e um arauto da morte, sente isso vê o dito momento e podemos até limpar essa essência, deixar que aquele peso vá embora, passe pelo véu completamente. Pedir para a morte levar o pouco que ficou da essência de alguém que ficou para trás e então, depois que faz isso, as visões vão embora. Se isso interfere ou não para a alma no além, não temos ideia. Não sabemos o que acontece do outro lado. Certo?
- Certo.
E uma árvore começou a crescer ao lado deles.
- Depois que limpamos a carga de um lugar, não temos mais as visões daquela morte - repetiu o outro Harry. - Vimos a morte de Regulus Black quando entramos em seu quarto. Não foi o lugar que ela aconteceu, mas era um importante para ele. Sua alma poderia até ter voltado, depois de se afogar, para o quarto e por isso o lugar ficou carregado, ele tentando chegar em casa, fugir do que lhe aconteceu, mas não conseguindo antes de... aceitar que era sua hora e ir. Nunca se tornou um fantasma.
- Sim.
- Conseguimos, aproveitando essa brecha no véu que ele criou em sua dor, acessar parte do passado de Regulus com um feitiço. Um ritual necromante. Usando essa essência que ficou para trás para vislumbrar uma memória de forma bem mais efetiva do que a aleatoriedade de passar pelo véu. Tudo faz mais sentido assim, certo?
- Não... – murmurou fazendo uma careta.
- E por quê? - perguntou com um sorriso astuto.
- Eu nunca fiz isso. Não com alguém que não fosse um fantasma. Quando vejo uma morte eu só vejo isso... sua morte. Mesmo que o véu esteja fraco, eu vi muita coisa com Regulus. Uma memória completa e com clareza entre ele e meu pai, mas isso não tem absolutamente nada a ver com o que... Envolve sua morte! E se meu dom é ver mortes ou almas... - negou com a cabeça.
- Vamos, continue.
- Eu queria detalhes sobre como ele morreu quando fiz o ritual, mas vi o passado e algo totalmente não correlacionado - repetiu, então sussurrou a última parte: - Isso que é estranho.
- Achamos! O que está me incomodando! - comemorou o outro Harry. - Porque você nunca viu uma memória tão clara de um morto que não seja um fantasma. Ou seja, você nunca viu a memória de qualquer um no mundo ao qual você não estivesse encarando diretamente a alma. Isso quer dizer que sem poder ler as marcas em uma alma de qualquer tipo, sem estar olhando para suas experiências, você nunca acessou o passado de ninguém.
- Eu vejo almas.
- Você vê almas - repetiu.
- E o que está registrado nela - constatou.
- Isso inclui o passado e o presente. Futuro é apenas uma possibilidade.
- Eu vejo almas como um livro aberto sobre alguém e sua verdade. Um fantasma é uma alma que não passou pelo véu e eu consigo ver seu passado por isso.
- Porque é uma alma e você está olhando diretamente para ela. A grande pergunta que não quer calar?
- Como eu vi o passado do Regulus se não estava olhando para a alma dele?
- Ele não é um fantasma. Ver ele morrendo, como já chegamos na conclusão, seria só um reflexo. Um filminho deixado para trás. O que foi o resto?
- Monstro?
- Quando você estava com monstro, com certeza você viu uma memória, acessada pela alma dele. Mas seu poder geralmente é tão confuso que, na hora, você não percebeu isso. A falha gigantesca em sua própria lógica. Você estava vendo uma morte quando chegou no quarto e o viu sendo arrastado. Mais tarde, pôde acessar detalhes daquele dia pela memória na alma de Monstro. Mas e as memórias do Regulus? Mais importante: e o próprio Regulus?
- O próprio Regulus... aparecendo onde estava o círculo mágico...
- Feito para deixar o véu fraco, mas daí ele simplesmente apareceu para você? Apareceu no círculo mágico que já tinha sido apagado e quando você nem estava tentando qualquer magia? Naquela hora... você conversou com ele! Não estava vendo a morte, mas o próprio! Sentiu o véu da morte passando por você, mas não tinha feito nenhuma magia ou ritual intencional e nem o notou até... ele já estar lá. Agora você é o que? Desde quando consegue simplesmente pedir uma alma a morte e ela te entrega assim? Seus poderes nunca funcionaram dessa forma.
- Eles mudaram?
- Estão mais fortes?
- Eu não sinto que estejam... – então olhou para a própria mão.
- O anel Peverell – murmurou o outro Harry enquanto ambos observavam a joia. – Você simplesmente sabe que ele tem a pedra da ressureição. Nem Tom sabia disso, mas você tem alguma certeza...
- Acha que eu consigo fazer isso agora? Chamar...
- Não – e riu, riu alto. – Você nunca viu os mortos, não como viu Regulus. Diante de você e reagindo a você. Te respondendo, que ridículo! Você não vê o mundo dos mortos, mesmo no Samhain você medita e tem apenas uma vaga noção do que os mortos que tentou invocar lhe trouxeram. Mas a data é toda complexa! Um ritual antigo e sagrado, onde a morte está presente pelo fim do ano velho. O mundo está diferente, a passagem está naturalmente aberta pois as deidades estão presentes para o evento onde literalmente se torna época para contatos com outras realidades e dimensões. É um cósmico, místico e você é só um grãozinho necromante submetido ao movimento e influência do natural. Você recebe visitas de almas, mas aquelas que querem estar aqui, as que passam e você é apenas um espectador. Como sempre, só que mais intenso. Agora, sabendo de todo o movimento que precisamos para ter um pouco mais de clareza da arte de vislumbrar outro plano, está me dizendo que uma simples pedrinha, feita por um mortal, foi capaz de replicar não só com exatidão, mas ainda melhor pois trouxe o morto que estava querendo ainda por cima? Algo assim? Uma pedrinha foi capaz de fazer o que anos de treino e a merda de um ritual mundial não foi? Parabéns então, ó Senhor da Morte - debochou.
- Eu não acredito nessas coisas.
- Não acredita que a morte tenha dado três artefatos, para três irmãos?
- Não. Eles eram bruxos talentosos, mas minha capa não é capaz de se esconder da morte em si. Era apenas um homem que não queria ser atacado por inimigos, então "fugia da morte" ao ficar invisível.
- Assim por diante. Sim. Somos bem céticos para bruxos, não acha? – e riu mais. – Mesmo assim você está supondo que essa coisinha aí realmente funciona e você foi capaz de, não só trazer para conversar com Regulus Black, como ainda assistir memórias dele então de certo estava olhando para sua alma em algum ponto. Que fofo! Não tem porra de explicação melhor que o mestre da morte bonitinho que trouxe alguém diretamente do além! Morte deve ter ficado com peninha e aceitado que você pedisse desculpas à Regulus por ser um egoísta que pretende manter o medalhão que o matou. A morte é muito gentil com o jovem mestre, quis que se sentisse melhor consigo mesmo, trouxe alguém só para você, monstrinho - ironizou. - Absurdo! – reclamou revirando os olhos. – Morte concordando com toda essa palhaçada? Você acreditando nisso?
Harrison olhou em volta e após longos segundos murmurou:
- Nunca.
- Nunca uma explicação dessa servira para nós. Somos arautos da morte. Vemos a morte de algumas pessoas, vemos o passado e as marcas presentes nas almas de outros. Bruxos ainda tem sua magia totalmente ligada a ela. Prevemos possibilidades baseado nessas coisas. Possivelmente ainda vemos coisas que já aconteceram com almas, mas daí...
- Suposição.
- Somos... alguma coisa da morte, provavelmente. Essa capacidade de enxergar almas está ligada a ela. Vemos almas.
- Vemos almas.
Ambos olharam para o anel Peverell.
- Você deveria começar a procurar a varinha das varinhas? Virar o senhor da morte mesmo? O que vai fazer depois? Ficar pedindo para a morte te deixar falar com os mortos? Se duas dela já estão fazendo tanto...
- Não é assim que funciona. Isso é...
- Não acreditamos nisso - confirmou o obvio.
- Mas acreditar que um necromante encontrou uma forma de chamar um morto específico... parece ser o que faz mais sentido, mesmo com o absurdo, explicaria a história...
- A mulher que voltou, mas não estava totalmente viva.
- O que aconteceu com Regulus lá foi estranho, o anel poderia ter me ajudado a acessar pontos da minha magia que eu não tinha antes, mas que haviam nos conhecimentos dos Peverell.
- Talvez.
- Talvez.
Ambos ficaram em silêncio, observando o subconsciente, a grama e a árvore, só que mais nada surgiu no palácio mental.
- Você não sabe, mas está acostumado a sempre saber. Então quando fica assim confuso, sua mente esvazia. O que mais está te incomodando?
- Eu estava dormindo.
- Como assim?
- Eu estava dormindo quando vi a memória do meu pai na caverna.
- Isso se for uma memória e não você imaginando coisas porque está incomodado e confuso com tudo.
- Faz sentido ser coisa da minha cabeça?
- Faz sentido seu pai não ter contado para Sirius Black que tinha achado Regulus, mas não conseguiu salvá-lo? Não deixar Sirius enterrá-lo?
- O quão mal Sirius ficaria?
- Como assim?
- O conhecemos pouco, mas acho que é o bastante. Eles estavam em guerra, no auge dela, várias missões sendo jogadas em suas costas cada dia mais arriscadas, vários amigos e familiares morrendo e outros que eles estavam tendo que matar do lado inimigo, Dumbledore os mandando para situações cada dia mais difíceis, não se importava com como os jovens estavam lidando com os terrores da guerra, o importante era vencer e sobreviver, eles precisavam focar ou... ruiria.
- Uma guerra, sem dúvida.
- Mas se Sirius soubesse de Regulus? Que seu irmão foi condenado pelo próprio homem que deu lealdade daquela forma? O corpo... necrosando, virando um monstro preso na terra. Sirius daria uma de idiota e correria atrás de se vingar ou tomaria um bando de decisões impulsivas por raiva e isso poderia matá-lo! James já tinha perdido os pais, então seu irmão mais novo, não queria perder o último. Meu pai não quis que Sirius sentisse a dor que estava tendo por não poder fazer nada, mas sabia que meu padrinho não teria cabeça depois de assistir a coisa para lidar com todo o resto.
- Faz sentido, mas... Daí Regulus não morreu afogado.
- Como?
- Ele vai ter morrido se tornando um inferi. Não foi o que você viu no quarto e você vê a morte das pessoas. O que faz até mesmo o afogamento uma memória e você não vê memórias de qualquer um sem estar encarando sua alma.
- Eu...
- Harry?
- O que?
- Essa é a última vez, porque você já esta entendendo: Você vê almas, lê o que está registrado nelas, como um chacal que avalia uma alma antes de manda-la para o destino que merece no pós vida. Um agente de Anúbis.
- Sim...
- Ou vê uma morte. Exatamente alguém morrendo.
- Sim...
- Ver as memórias de Regulus Black se encaixa no que?
- Eu não...
- Você viu momentos dele vivo e ele reagindo a você. Não acreditamos que a morte seja benevolente ao ponto de deixar vocês dois passarem pelo véu e se encontrarem por algo tão pequeno, nossa isso é tão ridículo que quase me faz rir de novo.
- Eu teria que...
- Ter visto sua alma, mas ele não é um fantasma e você não acredita, sendo ainda alguém que dificilmente erra em seu julgamento por entender as complexidades da vida, que a alma dele tenha saído dos mortos para lhe ver, mesmo com o anel de em teoria poderia fazer isso, porque...
- Eu não estava tentando. Sequer toquei o anel, sequer pensei muito nele, eu apenas sabia que podia ser a pedra da ressurreição, mas...
- Você já sabe que não existe ressurreição, então nem deu muita atenção por hora.
- Não poderia funcionar sem que a pessoa tente ou Tom já saberia. Ele é fascinado por necromancia, se ele não sabia de nada, então não é algo... fácil de usar. Ou deveria ser...
- E a raposa?
- Como é?
- Raposas. Elas têm muitos significados, não é? Para cada cultura, um significado diferente. Inteligência, beleza, astúcia... como a astúcia de uma cobra. Elas são sagazes, sabem enganar as pessoas.
- O totem da raposa envolve, entre muitas coisas, desenvolver habilidades.
- Seus novos poderes? Você está tentando ainda isso? Mesmo que não acredite?
- Na mitologia celta... – murmurou. – A raposa é uma figura central no mito de Dia Griene, filha do Sol. Segunda a história, o deus do submundo sequestrou Dia e a levou para o seu reino. Após suplicar pela sua liberdade, o deus do submundo concedeu sua soltura, mas ela só poderia voltar para a terra na forma de uma raposa.
- É isso então? Você conseguiu puxar uma alma do mundo dos mortos. Regulus Black. Na mitologia japonesa raposas são capazes de entrar nos sonhos das pessoas, por isso você estava sonhando com ele, a raposa representa as memórias dele em seu palácio dos sonhos... Quantas almas você consegue puxar agora?
- Hm... – murmurou.
- Você, decididamente, não acredita nisso - negou com a cabeça. - Tem outra possibilidade.
- Mas ela é absurda.
- Por quê?
- Porque, se for o que estou pensando... ele ficou... meus pais morreram, então... Lakroff teria que saber, eles sabiam que morreriam, teriam contado e Lakroff é quem lhes mostrava os livros e ensinava o básico antes de voltarem para Gellert. Para que isso acontecesse, tudo isso, ele teria que saber... mas ele não me...
- O encontro com uma raposa, para o xamanismo, é sinal de que é importante prestar atenção aos acontecimentos e pessoas à sua volta - brincou o outro.
- Tem muitas peças que não fazem sentido – negou com a cabeça. - São muitos anos, seria ridículo pensar que....
Mas, diferente do que as palavras em sua boca diziam, o mundo a sua volta começou a ganhar mais grama, a árvore recebeu flores que desabrocharam e deixavam suas pétalas flutuarem com a força do vento.
Estava ventando. O mundo em branco a cada segundo mais real.
- Tem certeza que as peças não fazem sentido? Ou será que você ainda não tem nada, além da sua intuição, para confirmá-las e aceitá-las como verdade? E isso é uma possibilidade, um cenário, tão imprevisível, que você simplesmente nunca nem cogitaria, mas... Como se sua intuição não o tivesse lhe dado as respostas por tantos anos, Harrison! Faltam coisas para entender, mas você já está vendo que imagem formam no fim. Pode ter entendido tudo errado, mas... Não negar que é crível.
Uma flor desabrochou ao lado do pé do menino.
Uma rosa.
Um lírio se formou no outro.
- Supondo que o que você viu seja uma memória - continuou o segundo Harry, pegando do chão o lírio ao seu lado. - Que James Potter tenha conseguido achar Regulus Black, tirado ele da caverna, levado para casa, então Lilian o botou em coma com magia, para que descobrissem um jeito de salvá-lo...
- Isso não faz sentido...
- Por que não?
- Porque estamos separando uma coisa da outra.
- Como assim?
- Estamos dizendo que, ou eu consegui trazer um morto do além, como...
- Um maldito senhor da morte? - riu de novo. - Vamos procurar a varinha das varinhas, Harry! O que não podemos fazer depois que reivindicamos o título! - debochou.
- Ou eu...
O outro Harry sorriu, um sorriso estranho e cheio de dentes:
- Você sabe a resposta. Como deve ser a alma de alguém que está literalmente segurado por magia para parecer morto, mas sem realmente terminar de atravessar para o outro lado?
Mais árvores começaram a crescer, o céu se tornou azul, havia uma luz natural agora, não como aquela branquitude, Harrison chegou a cobrir os olhos com a mão antes de uma segunda sombra de árvore cobri-lo.
- Mas e os meus pais? Depois que eles... Regulus teria... falta muita coisa para que isso possa fazer o sentido que está colocando!
Ainda um pouco cego pelos raios de um sol, ouviu o segundo Harry:
- Você sabe quem pode te dar as respostas que faltam. As certezas. Se Lakroff está te escondendo... Só precisa ir até ele.
- Está sugerindo que eu vá direto para Gellert?
- Direto para a fonte... Ei! Sabe o que eu percebi? - o outro Harry riu de novo, sem responder a pergunta de Harrison. Quando este enfim pôde enxergá-lo com clareza, percebeu que segurava junto do lírio uma rosa. - Seu pai cumpriu com a promessa dele. Alguém não lhe disse que era sempre assim? Quando James queria algo, então faria e não tinha quem o parasse. Sua maior semelhança com ele...
- Mas James não matou Voldemort totalmente. Riddle voltou...
O sorriso do outro Harry ficou tão grande que pareceu não se encaixar no rosto. Seus olhos brilharam em verde quando todo o palácio mental de repente foi preenchido por tudo que lhe faltava.
Estava normal de novo.
As coisas faziam sentido.
- "Totalmente", hum? - questionou baixinho. - Você já foi atrás de ver como é a alma de alguém em coma, Harrison Potter?
Então sumiu.
-x-x-x-
Ele acordou, tão abruptamente e tão agitado que não conseguiu se lembrar onde estava. Registrou apenas que estava encharcado de suor, tremia e decididamente estava com a pele mais gelada do que devia. Sua visão também estava absurdamente embaçada e demorou para voltar.
- Mestre Harrison está bem? – ele ouviu o som da voz de Lala e percebeu que era ela a coisa borrada a sua frente.
- Lala?
- Mestre Harrison precisa que Lala chame ajuda? Lala não devia ter acordado o mestre?
- Eu... – não conseguiu responder, seus sentidos estavam todos estranhos, sua mente muito vaga.
Teve a impressão de que estava sonhando com algo importante, mas não recordava de nada.
- Lala acordou mestre Harrison porque o mestre disse a Lala para avisar no instante que sua carta fosse respondida.
- Minha carta? – questionou coçando os olhos.
Ele decididamente tinha sonhado com algo importante, isso era uma certeza. Olhou para as mãos agitadas de Lala, que seguravam um envelope de cor preta, o nome do remetente praticamente brilhou se fazendo algo suficientemente chamativo para ignorar todo o resto e a sensação incômoda de estar deixando algo para trás.
- Edwiges acaba de trazer, mestre. Lala verificou e está limpo. Pode abrir...
- Obrigada, Lala! – e pegou a folha.
A elfa sorriu.
- De nada, mestre. O café estará sendo servido agora. Quando o mestre Harrison estiver pronto, pode descer – e sumiu em um pop baixo.
"De: Clavance Amaymon Raaz.
Para: Alvah Samael Raaz"
As letras estavam numa caligrafia que já conhecia bem.
Voldemort tinha respondido...
Então teve um flash. Seu sonho... Chegou a sonhar com Voldemort, não foi? Mas não teve só isso...
Olhou para uma escrivaninha ao canto, enquanto aquela sensação de esquecimento apitava. Como se estivesse muito perto de algo, mas lhe escapava pelos dedos no último segundo como areia, sobradando alguns grãos incômodos.
Edwiges piou para ele.
-x-x-x-
-x-x-x-
Sirius entrou no quarto na sua forma animago, saltando para a cama, quando não viu Harrison lá, girou e o encontrou parado espantado ao lado de uma escrivaninha.
Seguiu até o afilhado e pulou nas patas traseiras para jogar as dianteiras no menino, a surpresa e o tamanho que a forma tinha, fizeram Harry cair para trás, direto na cadeira e Sirius apenas se alçou na direção do rosto do menino, onde deu uma lambida.
- ECA! Almofadinhas! – gritou Harrison, mas ele riu, o que lhe rendeu uma segunda lambida enquanto o padrinho abanava o rabo. – Para! Não gosto de beijo babado, sai! – mas o animago apenas latiu, sem sair do colo do menino, que lhe fazia um carinho na cabeça enquanto recebia mais lambidas.
- Desculpe por isso – pediu Remus entrando. – Ele queria te acordar a tempos, mas seus avôs disseram que você não dormiu direito essa semana, então Pads deve ter decidido que ao menos te receber assim devia.
- Seus avôs? – questionou Tom, com os braços cruzados. – Que quer dizer com isso?
- Nosso casamento será no Yule, amor – brincou Lakroff tentando abraçar o moreno, que desviou a tempo.
- Você não encosta em mim, sua criatura irritante e inconveniente. E vocês não venham incentivá-lo! – reclamou encarando Remus que apenas sorriu.
- Nós não precisamos – respondeu Sirius, enfim tornando a sua forma humana, enquanto Harry transfigurava um pano para se limpar sorrindo. – Até onde sabemos, vocês dois estão avançando muito bem sozinhos.
- Como é? – questionou Harry e Tom se virou lentamente, com um olhar mortal na direção de Lakroff.
- Que merda você disse para eles?
- Nada – respondeu o loiro imediatamente.
- Nada mesmo? – perguntou naquele tom sombrio, o corpo se mexendo na direção do mais velho como uma cobra registrando sua presa. – Por que será que eu não acredito?
- Você nunca acredita em mim, lembra-se? Nota falsificada e essas coisas que fazem parte do meu charme.
- Você...
- Harrison – chamou Lakroff, de repente, olhando por cima do ombro de Tom. – Que é isso que está tentando esconder?
Todos trocaram sua atenção de Marvolo para o menino, que segurava atrás de si desajeitadamente alguma coisa.
- Eu... porque Tom está aqui? – perguntou no lugar.
- Decidi chama-lo já que vocês gostam tanto de passar tempo juntos, agora não troque de assunto - mandou sério.
- Ah sim, você o chamou por minha causa – respondeu o menino cheio de ironia.
- Harrison Potter, o que é isso? Você prometeu...
- Em minha defesa, eu fiz isso antes de te prometer que não esconderia mais nada de você, então tente não surtar, ok? Eu só não tive tempo de contar...
- O que você fez? – questionou cauteloso e assustado.
- Não... – murmurou Tom baixinho, mas isso chamou a atenção de todos. – Ele respondeu?! – ralhou.
- Respondeu.
- Quem respondeu o que? – questionou Lakroff sentindo picos de ansiedade enquanto encarava a dupla.
- Lembra-se da ideia do seu neto de se usar de isca chamativa para atrair Voldemort?
- Que merda vocês dois fizeram?! – gritou encarando o moreno mais velho.
- Vocês dois?! Ele ali! Você sabe que não tem como impedir esse menino quando ele inventa alguma coisa, eu no máximo posso tentar!
- O que raios você fez?! – questionou Lakroff para Harry.
- Mandei uma carta para Voldemort.
- Você o que?! – questionaram Sirius, Remus e Lakroff ao mesmo tempo, todos em choque.
- Se serve de consolo, decidi seguir o plano do Sirius e nada do que escrevi na minha carta vai contra o plano. Na verdade, ela pode até ser bem útil, pela resposta que recebi e...
- Voldemort te mandou uma carta?! – gritou Remus olhando para as costas de Harry.
Ele suspirou e puxou o braço, mostrando para todos um envelope preto muito bonito, com escritas em prata.
- Eu consegui. Voldemort me marcou como igual de novo. Estamos jogando.
Enquanto todos os outros adultos surtavam e tentavam entender o que estava acontecendo, a extensão do problema questionando Harrison e pensando no que fariam agora, Tom meramente olhou para o menino e deixou claro:
"Você não esconde coisas mal desse jeito" e, pelo sorriso que recebeu, nem precisou da conexão mental para saber:
Edwiges tinha saído do quarto com a coisa que estava escondendo de verdade.
Quilômetros de distância, na Alemanha e algumas horas depois, um guarda em Nurmengard escrevia seu relatório mensal quando uma coruja das neves bateu em sua janela.
Ranulf Langkau, um dos guardas mais novos a receber uma posição de liderança e aquele que mais tinha o respeito dos demais cárceres da fortaleza (em especial os mais jovens que ignoravam o líder nomeado pelo ministério Uravat Zunatta e deram sua confiança ao herdeiro da casa Langkau), tinha normalmente uma agenda bem cheia. Era o primogênito de sua linhagem e tentava ajudar na administração da família tanto quanto mantinha sua posição na prisão, melhorando ainda mais a visão das massas em relação a eles e seus comércios.
Os legais.
Com o poder que tinham na mídia, além de na alta sociedade e nos salões de bailes, a história do jovem que salvou vários colegas no massacre de Gellert foi maior que o feito do próprio lorde, que foi reduzido até quase apenas um incidente comum em uma fuga. Paredes derrubadas em brigas, alguns feitiços desviados acertando alvos errados.
E assim o mantiveram vivo.
Ranulf não recebia orientações com frequência, mas isso fez (no instante que reconheceu o familiar de um dos mestres) correr para abrir o vidro.
A ave voou pelo escritório já conhecido e pousou suavemente na escrivaninha, encarando o moreno.
- Boa tarde, Edwiges – cumprimentou indo até a mesma e estendendo a mão. Não precisou levantar um feitiço de silenciamento, seu escritório já tinha runas para isso, em teoria todos os escritórios tinham algo do tipo para que os sons dos aposentos dos guardas não pudessem ecoar nos corredores e atrapalhar as vigílias.
"Tinham que estar sempre alertas para Gellert".
Ele, entretanto, podia ouvir muito bem os corredores como se nem houvessem paredes, igualmente para se manter alerta. Fez apenas um feitiço de tranca e um dos mais leves, que era permitido usar. Bastaria. Todos ainda batiam à sua porta esperando uma autorização por questão de respeito.
A coruja de Harrison Potter levou vários segundos olhando diretamente para o homem que já estava chegando nos seus trinta e poucos antes de, enfim satisfeita, soltar a carta na palma estendida.
- Muitíssimo obrigada pelo seu trabalho majestoso, como sempre - disse e viu o animal se aprumar de olhos fechados e cabeça levantada.
Ah, sem dúvidas a coruja de um lorde. Gritava exuberância e superioridade. Ela fez seu dever, ele a estava tratando com o devido respeito, todos sabiam seu lugar. Quase riu desse pensamento, mas se conteve em rasgar o envelope.
A falta de assinatura indicava a complexidade da situação.
- Precisa de uma resposta imediata, milady? – questionou diante do fato de que a coruja não saiu do lugar.
Um simples piado mostrava que sim.
Puxou sua varinha do coldre e levantou barreiras de ilusão simples, além de verificar se não haviam feitiços de espionagem (nunca era demais confirmar), então leu a carta. Estava em códigos, é claro, mas era curtíssima, então não precisou mais do que uma tentativa para entender sua nova ordem:
"Albus Dumbledore conseguiu uma visita. O acordo era que ninguém poderia entrar na cela do meu bisavô, então se conseguiram uma brecha para ele, tenho certeza de que você garante uma para mim. O quanto antes. Não pode ser uma visita supervisionada, ele me deve respostas, mas Albus também o teve. Faça possível e, preferencialmente, num fim de semana. Estou com paciência, desde que tenha sucesso com a coisa. O mais importante é que Lakroff Mitrica não deve saber.
H".
- "Lakroff Mitrica não deve saber" ... – resmungou encarando Edwiges. – Ele tem noção do que está fazendo? "O mais importante"... - suspirou. - Vou ter de pedir para Gellert me dar a ordem ou o lorde Mitrica me tira a informação na primeira que tentar! Se ele me pede um relatório completo...
A coruja meramente piou, como se dissesse que aquilo era problema dele, não seu.
- Ok, certo. Não tenho muita escolha, não é?
Ele analisou por alguns instantes suas possibilidades olhando para o teto e acenou com a cabeça, seguindo até uma das prateleiras. Folheou um dos livros e, ao achar o que quis, voltou para a mesa, puxando os papeis para dar sua resposta.
Não tinha muito tempo para ficar questionando o que raios estava acontecendo entre seus mestres que Harrison precisava de Gellert, mas escondido do lorde Mitrica. O importante era que o futuro lorde Grindelwald estava pedindo.
"Mande duas reclamações formais por meios oficiais à Nurmengard sobre a visita de Albus. Uma para meu gabinete, uma para Uravat Zunatta. Ameace uma denúncia para o ministério, vocês têm um acordo assinado que proíbe interação com Gellert, por risco de fuga. Exija, agora que os protocolos já foram descumpridos, uma visita como membro da família para verificação de segurança e de seus direitos humanos básicos. Cuidarei do restante.
R.L".
E anexou junto uma cópia do livro de legislações do país. Harrison provavelmente conseguiria achá-las, mas tendo em mãos, seria muito mais implacável pois teria tempo de usá-las ao máximo.
Gellert receberia uma visita, afinal...
Enquanto observava a coruja voar para longe, avaliava os próximos passos.
Ranulf sabia que não podia deixar outra polêmica envolvendo Nurmengard cair na mídia, então a depender das ameaças de Potter, mesmo que fosse totalmente contra isso, teria que aceitar deixar o menino entrar! Mas sozinho, é claro, um adolescente já era muito, não precisava de um adulto também. Estariam voltando a dar privilégios para o lorde das trevas! Mas negar então... Queriam que a família Langkau fizesse o que se o menino que sobreviveu fizesse um show? Não é como se tivessem tanto poder assim...
Olá a todos!
Como foi a semana de vocês? Demorei para postar porque, como era a semana do meu aniversário, eu estava molenga, mas também tive uns problemas então fiz meu máximo.
Enfim... O que acharam?
Deixei vocês com muita coisa para pensar?
Será que gostaram e não ficou muito grande? Esse voltou a me preocupar sobre tamanho...
Quem leu antes de dormir, a propósito, boa sorte aí porque se forem igual a mim não sei se conseguem. Beijos e boa noite!
A mimir....
PS: Para os teóricos do passado do Lakroff de plantão, um aviso: eu tinha a intenção de dar todas as dicas que faltavam sobre ele nesse capítulo exceto uma, que apareceria quando Harry se encontrasse com o Gellert, MAS achei que não se encaixava falar disso ainda quando comecei a escrever e a cena da maior dica até hoje foi tirada. Guardada para uma próxima. Por isso, vocês ainda tem duas dicas muito importantes para receber antes de poderem ter teorias completas (até porque depois delas, provavelmente a próxima cois que sair será a verdade pura e simples) mas podem continuar me mandando mensagens, sem problema.
Só digo uma coisa: nunca vou negar nem confirmar nada.
PS2: Eu estou numa sucessão de dias psicologicamente ruins. Para terem uma noção, o capítulo está pronto desde quinta-feira, mas não consegui parar para revisar porque estava me sentindo péssima desde o meu aniversário, tive quase uma crise nele (barrada provavelmente porque muita gente estava me dando atenção e carinho, mas de manhã quando fiquei sozinha estava nela) e domingo só consegui dormir porque decidi abrir as notificações do Wattpad para me distrair de uma bem ruim e recebi tantos comentários bons que simplesmente me acalmei, me senti menos merda e consegui dormir. Então eu queria agradecer a todos que sempre me apoiam, vocês não tem noção da terapia que me fizeram, além de que me deixam cada dia mais orgulhosa com o tempo que gasto com essa fic, porque não acho que estou me distraindo com algo que não vai dar em nada (sou do tipo que até mesmo se durmo demais me sinto culpada por "perder tempo" quando podia estar sendo produtiva para conquistar as coisas que quero), então ver cada frase, cada fanart, cada voto, comentário ou pessoa me dizendo que minha história também está ajudando a fugir um pouco dos próprios problemas... Isso é tudo. Obrigada pelo presente que me dão só estando aqui, de coração <3
PS3: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited
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