Capítulo 36 - Crime de leão e castigo de cobra
Votem, por favor, agora. A maioria esquece depois galera.
Vou resumir aqui: Vai ter parte quatro, porque (como já virou padrão) esse capítulo ficou gigante. É o maior da fanfic até agora, mas tem 4 ou cinco cenas (estou com sono demais para lembrar), então LEIAM NO DEU TEMPO!
Leiam com carinho, assim como eu tenho o carinho de fazer o melhor por vocês e não se importem em demorar para acabar, mas me digam sua opinião sobre ele.
To precisando, já que voltei a ter crises de ansiedade semana passada e estou tentando melhorar.
Então é isso. Espero MUITO que gostem (depois do trabalho que tive com ele) e boa leitura.
PS: Estou com sono, me avisem se acharem erros para que eu possa arrumar ou qualquer coisa do tipo, porque a revisão foi feita pensando na minha camazinha...
PS2: Se está gostando dessa fanfic e do trabalho dessa autora, saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited. Leia o prólogo disponível nesse mesmo perfil e dê um voto para alcançar mais gente!
No capítulo anterior....
- Eu queria saber sua opinião sobre... Uma coisa que um aluno veio me contar esta noite - contou.
- O que seria? Eu não sou professor, realmente o Naspe...
- Snape - corrigiu.
- Seria um conselheiro melhor - continuou ignorando a interrupção. - Quer dizer, um problema de alunos? Sobre notas? O narigudo, então todos os professores de Hogwarts, depois meu irmão e só aí eu.
- Primeiro, não chame Severo de narigudo.
- Eu chamo meu irmão de coisa pior.
- Pensei que não gostasse tanto dele?
- Pensei que você tinha dito que eu deveria amá-lo? - provocou de volta.
- Nesse caso em especial, deste aluno, não... Ninguém é melhor para me ajudar que não você.
- Por quê?
- Você acha que Albus seria capaz de ler a mente de um aluno? - despejou encarando-o diretamente.
Capítulo 36 - Crime de leão e castigo de cobra
"A quebra de confiança poderia ser um dos maiores crimes, pois vai contra e machuca, as vezes até de forma irreparável, alguém que acreditou e depositou em você alguma expectativa,
Há quem tenha seus motivos para mentir, enganar ou usar, e alguns haverão de perdoá-lo por essa mágoa, entender que era necessário. Mas cobras não tendem a perdoar... Nem dragões, se quer saber..."
- Sim.
- Aberforth! - reclamou Minerva, a voz um pouco mais aguda e alta que seu comum.
- Minerva? - questionou calmamente inclinando a cabeça.
- Estou falando sério, Aberforth... - choramingou.
- Eu também, oras. Que pergunta foi essa? Se Albus leria a mente de um aluno? Ele leria a minha se eu não fosse acertar a cara dele com uma tora até terminar de quebrar todos os ossos lá.
- Mas um aluno Aberforth!
- O que um aluno tem de diferente de qualquer outra pessoa?
- É apenas uma criança e é um crime!
- Seria um crime mesmo com um adulto. É invadir a mente de alguém. Você gostaria que eu invadisse a sua e te visse enquanto se troca na frente de um espelho? Porque eu poderia!
- Credo, não!
- Se eu quisesse saber onde você guarda sua varinha, por exemplo, eu provavelmente toparia com uma memória do tipo. A propósito, eu acertei? Você é do tipo que se troca na frente de um espelho?
Minerva puxou a barba do homem que gemeu e levou ambas as mãos para massagear o queixo quando a mesma o soltou.
- Acertei - sorriu e se encolheu rindo quando ela o ameaçou com um tapa.
- Aberforth! - tonou a repreender naquele tom de professora.
- Viu? Você ficou incomodada com uma simples dedução da minha parte, Minerva. Imagine se eu visse a coisa de verdade? Mesmo o inverso. De certo eu não gostaria que estivesse lendo minha mente agora.
- Se me disser que é porque está me imaginando nua em frente a um espelho eu corto sua garganta! - ameaçou tirando uma tesoura da caixa do kit de barbear.
O albino encarou a "arma" por um tempo, então a bruxa:
- Sabe que aí tem uma lâmina bem mais efetiva para "cortar minha garganta", não é? Quer dizer, tesouras são melhores para dano perfurante...
- Aberforth...
- Minerva... - e continuou sorrindo.
A mulher bufou e baixou a cabeça frustrada. O mais velho decidiu, vendo como ela parecia triste, que sua sinceridade exacerbada e suas brincadeiras não eram bem vindas agora. Minerva parecia bem afetada e, no fim, veio buscar sua ajuda. Decidiu mudar de abordagem:
- Um aluno veio denunciar Albus?
- Neville Longbottom.
- O garoto de ouro que vem fazendo a faxina para meu irmão?
- Aberforth!
- Já é a quarta ou quinta vez que você usa meu nome em tom de ameaça. Que tal começarmos a inovar?
- Que tal não me dar motivos para usar seu nome e esse tom, para começo de conversa?
- Certo. Ao ponto então. Neville Longbottom é o garoto a que me referi, não é? Aquele que Albus começou a pensar que pode ser o da profecia? "O escolhido" ou sei lá?
- Ele te falou sobre isso?
- Tivemos uma briga feia, mas sim. Meu irmão sabe o que penso sobre essas coisas. Videntes são todos uns merdas e podiam não existir.
- Você está generalizando e isso é cruel. Eles não têm escolha...
- Se tivessem, escolheriam não ser videntes. Acredite, até o babaca supremo já admitiu que preferia ter nascido sem.
- O... - mas ficou receosa em falar o nome na frente daquele homem.
- Grindelwald, sim - debochou, muito incomodado, desviando o olhar. - Falou para a minha irmã.
- Como é?
- Eu o ouvi conversando com ela uma vez, não que eu tivesse prestado atenção. Ariana ainda teve que me contar os detalhes depois como pôde, porque eu só o tirei aos chutes de perto dela.
Minerva preferiu evitar comentar sobre aquilo. Era a cara de Aberforth chutar alguém para longe apenas porque não gostava da pessoa. Entretanto, ela percebeu como o Dumbledore pareceu distraído com aquela memória, como se tivesse algo lá que o fez realmente voltar ao passado por alguns segundos.
- Grindelwald admitiu naquela época, que também não gostava da própria magia - continuou baixinho. - Que, às vezes, queria ser diferente. Nascido sem. Porque não teria tantos problemas.
Minerva segurou o impulso de arfar de surpresa.
Um lorde das trevas disse que preferia ter nascido um aborto?
Um ante trouxas, desprezível e cruel?
- Mas vamos ignorar aquele homem. Que tal Neville Longbottom? Como ele apareceu?
A bruxa segurou sua curiosidade sobre a forma como o amigo agiu afetado em relação àquilo e apenas voltou ao objetivo de estar ali:
- Logbottom veio com a senhorita Granger e um dos gêmeos Weasley para meu quarto. Ele expressou sua desconfiança que Albus teria lido sua mente para tentar descobrir uma informação sigilosa da localização e família responsável por Harrison Potter.
- Harrison? Harry Potter? O tal do menino que sobreviveu?! - questionou surpreso.
- Sim. Albus não contou?
- Não!
- Harrison estuda na Durmstrang. Veio para o torneio...
- Mas ele não deveria estar no quarto ano? Não vieram os quintos em diante?
- Ele está no sexto ano.
- Mas...
- Harrison saltou dois anos. Fez seus N.O.M's no fim do ano passado e passou em todos. Os professores dele que são muito exigentes e o forçaram a frequentar o quinto em duas matérias em que sua nota não foi perfeita. O que achei bem desnecessário e cruel, a propósito. O menino passou! Excede as Expectativas é nota de aprovação! Além disso, que notas ele tinha antes para que considerassem que ele apenas excedeu expectativas? Que expectativa tinham menores que Harrison Potter não fosse plenamente capaz de alcançar? Eles querem apenas que ele seja perfeito? Acham que pode mais? Se for isso, então é errado, só estão deixando o menino mais atarefado e exigente consigo mesmo. Os amigos não pararam de reclamar sobre não comer, nem dormir direito e....
- Minerva - chamou Aberforth. - Está fugindo do tema.
- Desculpe. Harry Potter está em Hogwarts. Seu nome é Harrison agora, foi rebatizado pela nova família. É um aluno brilhante e muito querido por sua escola, presidente do conselho estudantil...
- O que seria isso?
- Ah sim! Lembre-me que isso é recente, veio com as mudanças do vice-diretor Mitrica. Imagino que Albus... - sua voz foi morrendo. - Tenha lhe contado ao menos sobre ele...
- Por que haveria? - questionou franzindo o cenho.
Minerva o encarou surpresa. Albus não tinha contado ao irmão nem sobre o filho de Gellert?
- Nada. Como ia dizendo... - tentou fugir.
- Espere aí - pediu sério. - O que Albus está me escondendo?
- Nada!
- Minerva! Você veio até aqui e vai mentir na minha cara! Segurando minha barba?!
Ela riu:
- O que a barba tem a ver?
- A barba de um Dumbledore é algo importante para ele - brincou, mas com a voz totalmente focada, o que tirou mais uma risada da mulher.
- Você não vai surtar, né?
- Como posso dizer se não sei nada sobre isso?
- Lakroff Mitrica, é o nome do vice-diretor. Já ouviu falar?
- Na verdade, já... - murmurou olhando para cima.
- Mesmo? - perguntou inclinando a cabeça.
Aberforth levou a mão ao queixo e coçou pensativo, forçando suas memórias.
O nome lhe era familiar, sabia disso, só não tinha certeza de onde. E sua memória geralmente era boa. Forçou, forçou, mas não recordava.
- O que tem ele? - perguntou na esperança que mais detalhes pudessem o ajudar a descobrir.
- Bem... ele... ele é o filho do... - a morena suspirou e sorriu torto, encarando corajosamente os olhos azuis alheios para contar: - Lakroff é o filho de Gellert Grindelwald.
Aberforth piscou.
Fez careta.
Ficou um tempo em silêncio.
Então sacudiu a cabeça:
- Como é?
- Gellert Grindelwald teve um filho antes de ser preso. Perto do fim da guerra. Lakroff Mitrica. Não foi criado por ele, obviamente, parece que ele foi...
Mas ela não continuou, Aberforth tinha começado a rir, então gargalhar tão alto que tremia. Chegou a se inclinar sobre a barriga (indo mais para o lado para não encostar em Minerva) e ria como se lhe tivessem contado a maior das piadas.
- Aberforth! - chamou McGonagall enquanto o homem continuava rindo, puxando ar em lufadas altas, mas em vão para se acalmar. - Você está caçoando de mim? O que raios é tão engraçado?
- Até o lunático conseguiu ter uma vida e o Albus não! - gritou entre os risos. Abertamente, com o corpo todo, estava em uma onda de felicidade. Minerva lhe acertou um tapa na cabeça que foi prontamente ignorado. - Eu vou comprar um lustrador de chifres para ele de natal!
- ABERFORTH! - ralhou Minerva vermelha de vergonha e raiva.
- Puta que pariu essa é ótima! E o filho está em Hogwarts agora? Merda, o Albus deve estar uma pilha de nervos! - ria, tanto que parecia mais difícil respirar a cada minuto. - Eu vou muito esfregar isso na cara dele!
- ABERFORTH DUMBLEDORE! - gritou Minerva próxima do furiosa.
- Corno! Ele foi corneado! - o homem tornou a ser estapeado, o que o fez encarar Minerva, mas estava sorrindo. - Como o homem se parece? Da para ver o rosto da mãe nele? Ah, isso seria genial, ver o rosto da mulher que roubou o namoradinho de baixo do nariz torto...
Dessa vez, a morena optou por uma pisada firme no pé e uma varinha apontada:
- Pare com isso já! - exigiu Minerva.
- Ta, ta! Parei - disse levantando as mãos em rendição, mas ainda precisou de um tempo para parar totalmente com os risinhos.
- Você que entortou o nariz de Albus! Não pode ser tão infantil e usar isso. Ainda ficou feliz com a dor do seu irmão?
- Dor?! - ralhou, aquilo servindo perfeitamente para recuperar o humor azedo de sempre. - Minerva! Por favor! Ele já tinha que ter superado essa merda a anos! Aparentemente o outro conseguiu! É ridículo o quanto Albus ainda é afetado por um namorico de verão! E.... - de repente o rosto dele ficou duro e ele fez uma careta. - Ariana...
- O que?
- É daí que esse nome era familiar.
- Como é? Que nome.
- Lakroff. Não lembro o contexto, mas tenho a impressão que foi ela que me disse.
- Como isso seria possível afinal? Como eu mencionei, lorde Mitrica...
- Pode ter sido Aurelius também... - sussurrou se encolhendo na poltrona e Minerva mordeu o interior da boca ansiosa.
O tema era muito delicado. Preferia evita-lo.
- Aurelius falava mais que Ariana, mas ainda era bem... recluso. Ansioso. Ele tinha muita raiva, enquanto Ariana tinha medo... Algumas pessoas pareciam conseguir se aproximar dele, mas ele as afastava, evitava outras. Você sabe disso, de certa forma também esteve lá.... Mas ele me contou alguns nomes vez ou outra...
- O lorde Mitrica nasceu entre 1939 até 41, pelo que me disseram. Então Aurelius já estaria m... - não teve coragem de dizer o fim da frase.
- O nome do homem pode ser uma homenagem ao avô materno, por exemplo. Um amigo, um seguidor mais próximo do Grindelwald... - e tudo foi dito baixinho, firme, cheio de tensão.
- Eu não sei muito sobre o homem, de toda forma. Apenas que é um bom professor e tem muito do carinho e respeito dos alunos.
- Eu nunca entendi...
- O que?
- Ariana. Aurelius. Porque ele... - e Minerva percebeu que o homem estava falando mais consigo mesmo que com ela. - Esqueça. Então o filho do desgraçado é vice-diretor. Isso aumenta minha certeza.
- Aumenta sua certeza?
- Sobre meu irmão ter lido a mente do seu aluno. Sim. Ele leu, mais alguma coisa.
- Mas... - tentou.
- Eu disse, não disse? - interrompeu, porque sabia que a outra passaria a defender Albus. - Meu irmão deve estar uma pilha de nervos. Quando se trata do Grindelwald, não tende a pensar com clareza. Tomar uma atitude precipitada e exagerada agora... é a cara dele. Então Longbottom acha que meu irmão leu sua mente para tentar descobrir sobre Harry Potter?
- Sim.
- Bem, tá aí sua resposta. Sim. Sem hesitar. A coisa toda é uma prova. Ele não vai querer perder sua maior arma de novo, fará o que estiver no seu alcance para...
- Arma?
- Alguém que ele pensa que pode usar para chegar num objetivo.
- O que?! Que absurdo! Olhe como você fala das pessoas!
- É como Albus pensa.
- Nunca!
Aberforth a encarou com uma sobrancelha levantada.
- Ok, é como ele age sem perceber?
- Aberforth... - resmungou ameaçadora.
- Você está brava de eu dizer a verdade ou é ignorante o bastante com seu amigo para não ver essa tendência ridícula dele?
- Tendência?
- Usar as pessoas, McGonagall! Eu sei que você é amiga dele, sei que se importa e que Albus é um perfeito cavalheiro com você. Ao menos isso. Você nos torna Dumbledore's bem menos semelhantes aos búfalos que somos normalmente, parabéns, é um feito.
- "Nós"?
- Eu estou fazendo a barba apenas para estar mais apresentável para a dama - admitiu, mas em tom de brincadeira.
Minerva riu:
- Eu estou fazendo sua barba. E diria que seu irmão não é um búfalo, apenas você mesmo.
- Claro, mas você tem essa impressão apenas porque ele disfarça melhor, enquanto eu sou autêntico. Mesmo assim, no fim, estou ficando mais apresentável para os padrões da própria dama em questão. Claro, ainda ganho uma desculpa para estar próximo dela e com suas mãos em mim, mas...
- Você disse que te torno menos búfalo quando estamos juntos?
- Imagine só como sou quando você não está por perto!
- Deve ser um desastre. Como pessoas ainda vem aqui mesmo?
- Geralmente quando querem fazer algo errado ou estão bêbados demais para entender o buraco em que entraram. Não que eu me importe, evita que eu tenha que interagir com os idiotas que me pagam para tomar bebida em caneca velha.
- Talvez búfalo seja pouco para você... Vamos focar no tema da conversa? - pediu depois de perceber que estavam divagando.
- Mas me distrair olhando para você parece tão mais divertido - brincou.
- Mais que insultar seu irmão?
- Você tem um ponto - e riu. - Certo. Albus trata todos como recursos, Minerva. Fins para meios. Ele acha que porque virou uma espécie de líder, deve tratar todos como ovelhas em um rebanho! Acha que porque já viveu muito, sabe mais. Justifica que já fez muita merda, para controlar todos antes que façam também, como se o mundo estivesse cheio de pessoas tão falhas quanto ele e é seu "dever maior" impedir! Mas errar é normal, ele só não quer que nada saia de seu controle. "Encaminhar os inocentes e burros na direção correta da luz"! - dramatizou piscando os olhos e colocando as mãos no rosto.
- Você está exagerando. Albus é uma boa pessoa e um bom líder, além do diretor de uma escola. É função dele encaminhar as pessoas, assim como qualquer educador.
- Claro que você diria isso - resmungou.
- Que quer dizer? - perguntou emburrada.
- Você que reclama dos métodos de ensino do Epans, fica claro que...
- Agora você definitivamente fez de propósito! - interrompeu. - Você só inverteu o nome de Snape!
- O nome dele é Snepa então?
- Não se faça de burro!
- Mas você está se fazendo de burra sobre meu irmão!
Minerva se levantou decidida a sair, Aberforth correu atrás dela e lhe segurou a mão:
- Desculpa, desculpa. Eu juro que vou parar de ser tão nojento. Que tal assim?
- Jura?
- Pela minha magia - e Minerva arrepiou, não soube ao certo se pela magia, o olhar intenso que recebeu ou a forma como Aberforth levou sua mão aos lábios e beijou. - Você é a bruxa mais inteligente que conheço e eu sou apenas um velho nojento e carrancudo. Pode me desculpar?
- Que bom que sabe! - ralhou cruzando os braços. - Desculpo - e aceitou ser conduzida de volta ao lugar de antes. - O que você quis dizer sobre os métodos de Severo, afinal?
- Você sempre diz que ele é uma boa pessoa, um excelente pocionista, mas um péssimo professor. Por que mesmo tem essa impressão?
- Bem... Severo diz incentivar a independência dos alunos, a capacidade de pensar sozinhos e pesquisar fontes, além de dar poucas respostas prontas para que entendam que a arte da poção envolve a criatividade e a invenção também. Ele não apoia o uso de apenas um livro, nem de receita pronta, pede para os alunos fazerem seus trabalhos sem dar quase nenhuma direção e em aula, gasta seu tempo apenas com a prática, assim fica os observando para que, se vir algo capaz de os machucar ou dar errado, pode impedir, mas quer que os erros que não fariam diferença aconteçam, assim mostra nas notas que mesmo a falha pode gerar resultados nas poções. Se for feita baseada em alguma lógica. Aqueles que tem ideias mais inventivas são parabenizados, como os gêmeos Weasley que sempre tem ótimas notas em poções, por que é assim que a arte avança, na experimentação e inventividade pensada.
"A parte teórica fica por conta dos alunos, uma vez que não é um risco e é onde terão as bases necessárias para suas ações. Quem não pesquisa o antes, não chega no depois. Ele apenas da dicas dos autores que prefere, mas todos são livres para ler o que quiserem nas redações, sempre redações, assim você tem a chance de explicar a lógica que usou para chegar a um resultado e, se faz sentido, ganha pontos a mais que qualquer redação sem graça que é "cópia de muitos livros". Também mostra aqueles que realmente se dedicam para ter uma boa base. Irrita Severo àqueles que querem fazer poções como uma receita de bolo automática, sendo que a arte é tão rica e abrangente. Capaz de tanto. As redações mostram o talento para avançar na arte de alguns, para desenvolvê-la e serem úteis à ela e sua evolução. Também mostra aqueles que apenas copiam tudo que veem e serão só mais um porcionista medíocre e os desastres que nem tentam saber mais e ter uma boa base, mesmo que fique claro que se não lerem por fora não a terão com ele. É preciso tentar, mas com lógica ou se machucará e aos outros.
Aberforth sorriu, tentando manter o gesto discreto.
Minerva era uma pessoa muito gentil e justa. Era fascinante tanto quanto assisti-la falando e, só por isso, o homem não comentou como mesmo agora, onde ele havia pedido para que explicasse porque não gostava dos métodos de ensino do colega, Minie ainda preferiu fazer um discurso anterior para justificar suas ações.
Ele imaginou se, quando McGonagall queria insultar alguém, pediria desculpas primeiro. Algo como "Desculpe-me apontar, mas o senhor é um merda astronomicamente ridículo e desgraçado".
Segurou a risada.
Minerva nunca diria três palavras tão fortes em uma única frase, talvez só o merda...
Tentou se focar mais no conteúdo das palavras, do que como a professora ficava agradável conversando. Logo ela, que de certo sabia identificar quando alguém estava boiando em suas explicações, perceberia que Aberforth estava trocando de assunto de propósito para mantê-la ali por mais tempo.
Mordeu a própria língua para evitar o pensamento de porque gostaria que ela ficasse mais.
- Isso é o que você fala para defende-lo - comentou quando ela parou e o encarou em expectativa. - Mas você reclama o tempo todo que: Primeiro, ele não explica isso para os alunos, então crianças brilhantes que poderiam tentar ser mais inventivas continuam achando que o problema está em suas redações e nos livros que usaram de fonte, não na forma como as fazem. Então gastam muito mais tempo em pesquisar que darão o mesmo resultado. Segundo, ele é grosso demais com os jovens que erram por falta de atenção, mesmo que o erro na situação em questão possa literalmente matar alguém...
- Ele praticamente insulta seus alunos! Crianças! É errado! Nojento! Mesmo que seja uma aula perigosa, não há porque ser tão cruel e...
- Ele não era abusado na infância? - Minerva arregalou os olhos e a boca, se calando em espanto. - O pai, sem dúvidas, não dizia coisas gentis para o garoto, ou seja, ele foi criado com uma figura de autoridade que usava insultos para educar. Na escola também foi o mestiço que caiu na Sonserina, no auge do problema todo de exclusão, além de que sofria bullying de um garoto que as pessoas literalmente ovacionam como o perfeito hoje em dia. Albus o insultou até o inferno por ter pedido pela vida da melhor amiga, mas não do homem que fazia Hogwarts "sua casa parte dois" e pela criança que o próprio Voldemort achava que seria sua queda, então alguém que seria caçado para sempre e colocaria a própria mãe em perigo enquanto existisse se estivessem juntos. Mãe essa que o homem queria proteger. Tem o próprio Voldemort também. O que aquele homem não pode ter falado para mantê-lo inferiorizado ou seus colegas sangues puros comensais? Acho que ser insultado é a única forma que conhece de tratamento... Principalmente de figuras de autoridade.
- Eu... - Minerva recuou.
- Como quer que ele aja se não da forma que aprendeu durante a vida inteira?
- Ele já não é mais uma criança, nem um adolescente - disse, um pouco menos firme que antes. - Cabe a ele perceber como foi ruim e não repetir o exemplo.
- Claro, concordo... Mas vou ficar do lado do ranhoso nessa.
- Porque você é outro grosseiro que acha justificável falar sem se importar com os sentimentos das pessoas.
- Ser insensível aos sentimentos alheios, quando os seus já foram totalmente feridos é um sistema de defesa comum. Não é o meu caso, eu só não gosto de pessoas, mas seu ranhoso talvez só precise superar seus demônios e entender o mesmo que acabou de dizer. Só que não é tão simples. Se tudo a sua volta é agressivo, se a vida foi um aguentar para viver e endurecer para aguentar, como aprenderá a ser diferente? Mesmo os exemplos de professores que tinha em Hogwarts não são o suficiente se suas três maiores figuras de liderança foram: o pai abusivo cruel, Dumbledore, que nunca o ajudou com toda a sua tristeza e, no instante que pediu por ajuda diretamente, foi insultado como um monstro por não pedir da forma que Albus aprovava, então Voldemort, que todos sabemos que tratava os seus como lixos que tinham que respeitá-lo acima de tudo. Tratá-lo como dono da verdade e absoluto. Você vê isso refletido facilmente em como Snape trata os alunos. Ele não ajuda, assim como Dumbledore não fez, não se importa com as emoções e o que cada aluno está passando para "educar" já que não lhe mostraram a mesma gentileza, grita, como seu pai gritava, e te faz se sentir inferior e um lixo quando erra, assim como Voldemort... E o pai talvez se encaixe nessa da mesma forma... Da mesma forma quer que todos o vejam como uma autoridade absoluta, exatamente por ser o detentor do conhecimento. Ele é um reflexo de suas experiências e precisa que lhe ajudem, tem noção de como é difícil mudar um adulto ferido? Se tivesse um encaminhamento melhor... Sem uma ajuda direcionada não acontecerá. Isso é como ele foi forjado na dor. Está marcado como uma cicatriz e já reparou quantas poções precisamos tomar para tirar algumas cicatrizes? Precisa também de alguém que não seja o Albus para guia-lo.
- Por que não Albus? Eu entendo! - acrescentou antes que Aberforth dissesse algo. - Entendo o que disse sobre ser uma figura que também prejudicou Snape até certo ponto, mas ele é um ótimo diretor...
- Ótimo diretor? - debochou. - Claro, eu sou um perfeito cavalheiro grifinório também.
- Que quer dizer com isso? - perguntou estreitando os olhos.
Aberforth evitou revirar os próprios.
Lá estava.
Minerva entrou na defensiva pelo amigo. Nunca entendeu como uma mulher inteligente daquelas conseguiu gostar e se apegar a Albus, mas se quisessem a opinião de Aberforth? Ele não duvidava que a forma que o irmão contou toda a sua história foi cheio de floreios, emoção e vitimização até torná-lo um tipo de príncipe machucado e enganado, até gerar a empatia da colega.
Talvez fosse melhor outra abordagem?
- Meu irmão tenta, mas é alguém muito simplista. Ele não vê as nuances da vida e das pessoas, mas sinto que se explicar isso iremos nos encaminhar para mais uma distração, então depois podemos voltar ao tema. Agora, o que eu quis dizer sobre o seu colega e meu irmão é o seguinte: equilíbrio. Depois que seus alunos saíram do quarto, você foi direto para as masmorras? Disse que já pediu a opinião do "capa esvoaçante" e só queria uma segunda...
- Capa esvoaçante?
- Você já reparou como ele anda com aquela coisa? - perguntou e sorriu quando viu que a colega havia segurado uma risadinha. - Para alguém que era um espião, Snevos gosta de fazer um drama e chamar atenção hein? "Vejam como minha capa dança com o vento e junto dos meus lindos cabelos negros e perfeitamente oleosos" - debochou fazendo um movimento de quem joga os cabelos para trás.
Minerva levou a mão a boca para segurar sua reação.
- Você não devia debochar assim das pessoas.
- Já você devia rir se achou engraçado. Prometo não contar para ninguém, Minie - brincou o homem.
- Fique quieto, "Abbie".
Aberforth riu alto do novo apelido.
- Abbie?
- Você me chama de Minie!
- Só quando quero irritá-la.
- Você consegue ser irritante sem esforço, Abbie.
- Mas quando eu me esforço é mais especial - sorriu com todos os dentes, muito satisfeito que conseguiu recuperar o clima agradável. Minerva lhe mostrou a tesoura novamente. - Que foi? Está me ameaçando mesmo? Não faz muito seu tipo, querida. Veneno discreto, por outro lado...
- Vou só arrancar sua língua fora.
- Isso faz mais seu tipo.
Aberforth gemeu uma segunda vez quando Minerva lhe puxou a barba com o dobro de força da última. Mas nessa, com um corte limpo e rápido, ela ainda tirou um bom tufo de pelos ao invés de soltá-lo normalmente. Levando a mão para o lado, sem varinha e apenas dizendo claramente "Incendio", os pelos cumpridos pegaram fogo em sua palma, tornando-se cinzas que ela soprou para longe.
Quando voltou sua atenção para o Dumbledore, McGonagall quase corou.
O barman conteve o arfar que ameaçou sair pelos lábios, mas não conseguiu esconder o brilho de admiração no olhar ao encarar a bruxa. A professora mordeu o lábio para conter o sorriso de satisfação.
Fascínio.
Era isso que estava explícito no olhar de Aberforth. Por sua magia e sua atitude. Aquele homem sempre reparava nas coisas certas...
Ambos desviaram os olhares um do outro instintivamente, a bruxa usando de desculpas procurar uma lâmina no kit de barbear e o homem... ele nem se preocupou com desculpa, olhou para o teto como se tivesse algo por lá interessante o bastante.
- Você estava falando algo sobre equilíbrio? - questionou a mulher.
- Você é uma pessoa equilibrada e justa, Minerva. Sabe entender as pessoas e seus limites. Acha que Albus está certo, como diretor, em... controlar sua escola e a vida dos alunos, de certa forma. Se você fosse a diretora, estaria constantemente vigiando a todos, mas você respeitaria o espaço individual e, principalmente, saberia quando é hora de se afastar e deixar que os adolescentes aprendem. Também quando se aproximar e impedir que façam algo errado. Você seria o equilíbrio entre a independência exacerbada de Snipe, que nunca teve o apoio e seus limites respeitados, trata todos como adultos e capazes, sem nunca adaptar seu tratamento para necessidades especiais e individuais dos alunos, e do controle zeloso, mas limitante de Albus. Você é uma professora que sabe avaliar as pessoas de forma empática, entendê-las, suas necessidades, limites, objetivos e dificuldades. Sabe como descobrir até onde deve ou não interferir para que cresçam. Saberia quem empurrar e em que intensidade seria mais adequado, não é a toa que seus alunos da Grifinória gostam tanto de você e que a maioria consiga, ainda nos NOMs, escolher uma carreira. Além de mantê-la até o fim dos NIEMs e na fase adulta. Isso não é fácil. Fazer um bando de crianças de quinze anos decidir seu futuro, encaminha-los para as aulas certas e realmente formá-los para sair de Hogwarts direto para isso e serem felizes com a decisão. Mostra que entende de verdade seus alunos e isso é incrível. Mesmo aqueles que "deixa a mercê", nada mais são que aqueles já capazes, ou que precisam de um pouco de treinamento de independência. O caso de Granger é o primeiro que me veio. Você sabia que ela poderia se virar só com livros na parte acadêmica, mas tinha problemas mais sociais e pessoais que não notava, precisava entender a importância de certas coisas para a vida real. Então buscou uma forma de lhe ensinar sobre os próprios limites, mesmo que para isso tivesse que envolver leis ministeriais de viagem no tempo. Apenas para dar uma lição sobre qualidade e não quantidade e...
- Você presta atenção - interrompeu.
- Como é?
- Você presta atenção quando venho no bar desabafar sobre meus alunos - explicou fascinada.
Aberforth corou e tossiu:
- Bem... sim. Seria grosseria deixa-la falando sozinha.
- Você não era o búfalo? - provocou.
- Eu disse que você me tirava o melhor.
Minerva riu, uma risada gostosa e livre:
- Eu vinha para não me sentir tão esquisita quando falava sozinha no meu quarto. No bar, ao menos, um bêbado ou outro respondia as vezes ou eu podia fingir que você estava ouvindo. Falar me ajuda a pensar, eu nunca pensei que realmente estivesse escutando tudo ao ponto de se lembrar - e ela parecia muito feliz com o fato. - Obrigada Aberforth e desculpe descarregar tanto as coisas em você.
- Não precisa se desculpar por isso... É melhor do que dar atenção aos bêbados. Sua falação os afasta, só veem para o balcão para pegar mais cerveja e vão embora. É ótimo para a minha paciência.
- Mesmo assim você estava ouvindo, então esse seu comentário não me atingiu - sorriu abertamente.
- Que bom, não era para atingir - comentou com um sorriso singelo e aquela característica que o homem achava tão fofa se repetiu.
Minerva se arrumou no lugar balançando rapidinho de um lado para o outro, como uma espécie de dancinha contida, o sorriso travesso no rosto, as mãos perto do corpo.
Fofo...
- Meu irmão e os professores.
- Sim, foco! - comentou aos risinhos e Aberforth negou com a cabeça feliz.
- Você acha que Albus tem um bom equilíbrio, assim como você. Que ele vigia seus alunos só até onde é necessário, considerando os riscos da escola. Mas veja bem, ele vem se mostrando um risco.
- Como assim?
- Você notou o padrão de professores que escolheu?
- Remus é um ótimo...
- O lobisomem foi o melhor e ainda sim precisou ser envenenado para poder tentar dar aulas. Não acha errado?
- Não tínhamos muita escolha...
- Talvez não. Talvez sim, mas Albus não foi atrás de muitas soluções além dessa, isso tenho certeza. Eu repito, ele acredita que porque é falho, todos são, e é dever dele impedir qualquer desvio, mas também é um arrogante que não vê as próprias falhas. Acha mesmo que levar a pedra filosofal para Hogwarts foi uma boa ideia?
- Ela teria sido roubada se não...
- Minerva, por favor, há mil formas de proteger uma coisa. Colocar num corredor da escola com um aviso de "alunos não entrem" é absurdo.
- Você queria que ele deixasse onde?
- Sei lá. Mas no mínimo com uma enfermaria ou feitiço mais complexo de runas que impedisse fisicamente alunos de entrarem.
- Também achei errado, mas nem sempre eu entendo as atitudes do...
- Você não entende ou só não concorda? Nem sempre Albus tem um grande motivo por trás, pessoas não são absolutas, as vezes são só malucas. Você é inteligente e no lugar, então meu irmão nunca ultrapassou limites com você, mesmo assim qual foi minha primeira reação quando disse que estava preocupada com ele?
- Assumir que teria me feito algo comigo...
- Exato. Ele confia em você e no seu julgamento, acima de tudo, sabe que está do mesmo lado, mas acha mesmo que não faria algo com os outros? Então está sendo ingênua.
- Mas daí ler a mente de alguém?
- Albus usa as pessoas. Sempre usou. Longbottom vem sendo usado para limpar sua sujeira tanto quanto eu fui a vida toda.
- A vida toda?
- Quem ajudava nossa mãe fraca a cozinhar, limpar, passar? Quem, de verdade, ficava de olho em Ariana? Quem sempre empresta a casa? Guarda uma das passagens para o castelo? Uma das mais perigosas, já que dá na sala precisa de tantos lugares?! Quem guarda seus segredos sujos dele?
- Isso não é te usar, é precisar de você.
- Claro, assim como ele precisava que Newt Scamander derrotasse Gellert porque Albus era incapaz de machucar o namoradinho. Além de que, principalmente, não queria ser o herói das pessoas, então quis colocar alguém na linha de frente para pegar o posto e fama por ele. Foda-se que fosse só um garoto que acabara de chegar na fase adulta, né?
- Albus tinha o pacto de sangue. Que esperava dele?
- O pacto mataria se pensasse em machucar Gellert. Engraçado como aquela coisa nunca o machucava a menos que estivesse em público, né? Se estivesse começando a pensar nisso, de propósito... Minerva, você não vê? Em todo o resto do tempo Albus nem pensava em machucar Gellert. Não importa o mal que o cara estivesse fazendo, Albus ainda era fiel a ele até ser pressionado e começar a se arrepender de seu "amor".
- Tomamos decisões idiotas por amor... E o pacto foi quebrado naturalmente.
- Porque Albus tomou vergonha na cara e decidiu proteger as pessoas, tomar uma atitude. Quando o Qilin se curvou para o meu irmão, ele implorou para que fosse atrás de outra pessoa. Naquele ponto sim, já tinha desistido daquele amor inútil, e tomado uma decisão de lutar mais pelas pessoas do que por si mesmo, mas pedir que se curvasse a outro é a prova de que ainda não queria ser herói. Não desejava que o mundo bruxo depositasse sua esperança nele. E porque se é tão controlador? Porque nem ele sabia o que queria da vida. Evitar a política e focar em seu trabalho como diretor também, ele continua negligenciando coisas em prol das pessoas aprenderem a se virar sem ele, que nunca quis esse peso, mas agora é dele! Poderia abdicar e sumir, mas continua aqui. Quando Albus quer ou precisa de algo, aí ele toma o poder! De repente ele é o líder. De repente começa a dar ordens e foda-se a independência das pessoas, ele quer que obedeçam ao líder da luz, o chefe da câmara, todos devem seguir suas brilhantes ideias afinal foram as próprias pessoas que o colocaram lá e isso lhe da direito de ser um tirâno colocado por voto. Se lhe deram a posição de poder, quando ele mandar, devem se curvem e não questionar porque só ele é sábio o bastante para conhecer todo o plano. "Vocês acreditaram em mim para tomar as decisões pelo país e pelas crianças, então escutem minhas decisões". Ele vai de relapso total com a política bruxa, para tirano em segundos.
- Isso não é...
- É exatamente assim Minerva. Pense um pouco. Ele não fez nada durante a ascensão do preconceito e do exército do Voldemort enquanto estavam no campo das ideias, porque é certo deixar as pessoas terem suas próprias vidas e posicionamentos políticos, mesmo que ele seja diretor de uma escola e pudesse ter promovido palestras para educar suas crianças para que não concordassem com isso tudo, ao invés de manter uma aula falha de história e uma opcional de estudo dos trouxas, igualmente falha a propósito, sem querer ofender seus colegas. Além de que "não é dever dele mandar em ninguém", então deixou o ministério ser praticamente tomado. "As pessoas devem aprender sozinhas", mas isso era diferente! Ele devia ter interferido em um golpe de estado, praticamente! Mas não, ele deixou e deixou, porque não é seu dever. Então quando a coisa estava inviável você se lembra o que fez? Se tornou o líder que todos veneram, começou a dar ordens, criar o próprio exército de resistência, incentivar leis mais rigorosas e contra atacar. Ridículo. Porque não impedir a coisa antes que seja tarde? Ele é um lunático que nunca entende de equilíbrio. É relapso ou tirano, fim. Ele fez o que tinha que ser feito, claro, e vencemos contra Voldemort, mas aos tropeços. Nosso lado estava com uma desvantagem tremenda e cada dia mais pessoas morriam, sem Harry Potter teríamos perdido. Então, nem sua posição como general de guerra foi bem feita.
- Ele não tem culpa de...
- De não vencermos? Se ele se propõe a ser um líder só quando uma guerra estoura e deixar antes disso que façamos o que quiser, fodam-se as consequências, então, o mínimo que meu irmão faz é garantir a vitória. Mas nós sempre ganhamos por sorte, por um triz. E usando as pessoas. Eu, você, Sampe - Minerva riu e negou com a cabeça. - Newt, James Potter, todos! Somos peças no jogo de xadrez da guerra.
- Toda guerra é assim.
- Mesmo? Sabe o que mais segue a lógica de deixar as pessoas fazerem o que quiserem, serem livres e pensarem por si mesmas, depois colherem as consequências?
- O que?
- Artes das trevas - sorriu estranho.
- O que está insinuando com isso?
- Nada demais - suspirou. - Apenas para chegar ao ponto principal: Albus acha que ainda estamos em guerra então ele vai entrar no modo de líder. Sua resposta: sim, ele leu a mente de Neville Longbottom para saber a localização daquele que foi o único capaz de vencer a última. Albus faria de novo e vai. Qualquer recurso que tiver para chegar em Harry Potter, vai usar. É para um bem ma.... - e pareceu capaz de vomitar quando arregalou os olhos e percebeu o que ia falar. Chegou a tremer e se levantou. Minerva teve que lhe dar espaço. - Enfim, por um motivo mais nobre - se corrigiu. - Ajudar pessoas, derrotar Voldemort.
- Eu nem preciso te contar como foi? Você só... tem certeza que seu irmão faria?
- Sim. Mas pode me contar, se quiser - resmungou tornando a se sentar e oferecendo o rosto para continuar com a barba. - As crianças foram no seu quarto. O que aconteceu daí? O que Longbottom disse exatamente?
- Que Albus o chamou para falar sobre os recentes ataques...
- Com uma criança? - interrompeu com um olhar conhecedor.
Minerva suspirou bem incomodada.
- Sim...
- Bem, nada que ele não tenha feito com metade da ordem da fênix, não é? Dessa vez ele apenas preferiu não esperar fazerem dezessete. Quatorze são só três anos, né? Quase um adulto.
- Já entendi, seu implicante.
- O quão fundo ele foi? Na mente do menino, quero dizer.
Minerva bufou.
- Essa noite vai me dar pesadelos! Neville estava bem ansioso, sabe? Principalmente porque quando bateu na porta, quem abriu foi Snape.
- O ranhoso estava no seu quarto? O que vocês dois estavam fazendo tão tarde? - perguntou imediatamente, a voz mais aguda que antes, Minerva perdeu o toque estranho ali.
- Estávamos debatendo sobre o cálice de fogo. Harry Potter... tudo que está acontecendo.
- Sobre o Cálice?
- Albus não te contou nada?
- Aparentemente, não. Esclareça.
- O nome de Harry Potter saiu do cálice. Alguém colocou o menino contra a vontade dele nisso.
Aberforth arregalou os olhos.
- Ele vai ter que participar? Não era só para maiores agora?! Albus não colocou proteções...
- Colocou, como disse, alguém pôs o nome do menino. Harrison fez uma jura diante de todos comprovando que não foi responsável por isso.
O homem bufou:
- Não é só da idade que estou falando. Meu irmão foi tolo o bastante de não vincular aquela coisa só a pessoa que está inscrevendo o próprio nome? E o ministério permitiu isso? E a família do Potter? Vão estar furiosos! - então riu. - Minerva, com todo o respeito, que parte nos nove infernos de Dante Alighieri você perdeu que ainda está duvidando que meu irmão leu a mente desse menino?
- Você já leu literatura clássica italiana trouxa? - questionou no lugar e o homem bufou.
- Isso é o tipo de comentário que eu faria, sabe? - ela sorriu. - Eu li para o Aurelius...
- Ah... eu... me desculpe.
- Aurelius sempre mandava Albus buscar livros trouxas para si. Aparentemente passava bastante tempo na biblioteca de Nurmengard para fugir dos outros, a maioria não visitava lá.
- E haviam livros trouxas na biblioteca?
- Ele gostava de algumas coisas feitas por trouxas, só não deles. Chá, livros... Não quero falar sobre isso - resmungou. - Também não terminamos Divina Comédia. Eu e Aurelius. Ficamos só no inferno até ele... morrer.
- Eu sinto.
- Tudo bem, Inferno é a melhor parte mesmo.
Minerva sorriu amigavelmente e usou de desculpa que já estava aparando os pelos do homem para lhe acariciar a face.
- Realmente sinto, Aberforth. Por tudo.
- Obrigada. Foco?
- Foco - concordou.
- Aparentemente ando meio perdido. Que tal começar com... a chegada da Durmstrang? Me conte tudo que aconteceu recentemente, por favor.
Minerva começou a falar. Desde a chegada de Potter com a Durmstrang, sua influência na escola, a aparente amizade com Neville Longbottom, o dia da seleção, a conversa com todos os professores de todas as escolas sobre o que fazer com o menino que basicamente foi forçado a participar por Crouch, então aquela noite. Quando, algumas horas após o jantar Neville, Hermione e George apareceram na sua porta.
- Então esse fim de semana... - murmurou Aberforth. - Quando Potter saiu para conseguir a emancipação com sua família, o maior empecilho para o que Albus deseja, que é ter Potter sob sua asa para lutar essa guerra, ele se aproveitou e tentou tirar informações do Longbottom...
- Você está acreditando que seu irmão faria algo tão vil quanto usar crianças numa uma guerra dessa forma?
- Minerva, por favor! Ele quer que aquela maldita profecia esteja certa. Caiu no seu colo como uma última esperança, vinda de um vidente, do jeito que gosta, dizendo que o lorde das trevas enfim seria derrotado! E foi! Nós só ganhamos a guerra por causa de Harry Potter! Vou repetir isso o quanto quiser ouvir, porque é o que deixa meu irmão muito perto da linha da insanidade! Convenhamos, ele viu Harry Potter como útil para acabar com o problema na prática, então, puta merda! Quando a marca negra aparece no céu, quando todos voltam a falar de Voldemort, depois de três anos dele apenas como uma sombra atormentando, quando a coisa explode nos jornais e ninguém mais se sente seguro, Harry Potter aparece como um príncipe em seu cavalo branco... um barco no caso, e sombrio, essa analogia teria ficado muito mais engraçada se ele fosse de Beauxbatons - riu.
- Abbie!
- Certo, Minie - disse com uma felicidade mal contida. Ele realmente tinha gostado do apelido. - Ele aparece milagrosamente, uma circunstância toda nova, isso nunca tinha acontecido no torneio tri bruxo, foi algo do acaso, destino, é o que meu irmão pensou, sem dúvida. Então, Neville Longbottom, que era seu cavaleiro substituto, aquele que derrotou Voldemort e também se encaixa na profecia, é amigo do garoto. Justo quando Voldemort está ameaçando a paz na mídia e tudo parece um caos, dois dos garotos da profecia, os dois cavaleiros da luz estão de volta! Então, qual dos dois é o verdadeiro escolhido? O cálice de fogo simplesmente expele o nome de Potter! Foda-se, o destino lhe deu a resposta! Neville, então, pode ser livrado do peso de herói que Albus tanto detesta, basta apenas que lhe seja útil, dê os recursos para chegar no verdadeiro campeão: Harry Potter.
- É perturbador que você acredite que alguém que tenta tanto fazer a coisa certa, como seu irmão, seria capaz de pensar nas pessoas e manipulá-las como acabou de descrever. Peças assim de xadrez entre luz e trevas... Crianças ainda!
- Porra, é literalmente algo que ele faz a anos. A cada geração suas armas estão ficando mais novas. Newt era um jovem adulto, o pessoal da ordem eram compostos por recém formados, agora um adolescente. Espero que não tenhamos mais guerras com ele vivo, os próximos ainda usarão fraldas.
- Aberforth!
- Minerva, toda essa situação é absurda. O torneio sendo revivido, assim como a memória de Voldemort, o filho de seu antigo amante aparecendo, amante que era um vidente e um lorde das trevas, então o garoto de uma profecia que dizia ter o poder para vencer o lorde das trevas, vindo como um aluno da Durmstrang. O nome para as próximas gerações de bruxos sombrios. Harry Potter sai do cálice e ele é amigo do campeão da luz Neville Longbottom, o que mostra que tem luz em si. Se ele for para seu lado, quantos trará? Ele é bom, se Neville o aprovou, o cálice o escolheu, o destino está para todos os lados gritando: Harry Potter será o herói e derrotará Voldemort! Só precisa ser encaminhado.... Para alguém como meu irmão, é isso. Principalmente, a euforia que deve ter causado em questão de alguns dias? Sua cabeça está uma confusão, ele não pensa mais com calma. O importante se tonou a guerra, então entrou no modo tirano. Obedeçam se quiserem ganhar, eu sei mais, sou o general e vocês meu rebanho obediente. Localizar Voldemort, prever seus movimentos, entender o lado inimigo e o próprio lado é sua prioridade agora, bem mais que os sentimentos das pessoas. Morto não tem sentimentos, ele quer salvar vidas, isso importa. Precisa de Longbottom e Potter, mas Harry é a prioridade já que escapou por seus dedos antes. Sim, ele leu a mente de Neville e fará coisa pior se não conseguir o que quer.
- Mas...
- Meu irmão não bate bem Minerva - murmurou em tom de aviso. - Ele nunca foi bom da cabeça, sempre foi instável, como nosso pai.
- Seu pai teve motivos...
- Claro, então ele matou trouxas para se vingar e foi preso, deixando os filhos para trás e a esposa. Acha que vingança é prioridade ao invés de cuidar daqueles que dependem de você? Eu não. Albus tem esse tipo de insanidade. Se tiver um motivo bom, em sua cabeça, o resto não importa. Leis e pensar naqueles que se importam ou precisam de você não interessa. Ele quer ajudar a salvar vidas, não vai pensar em nada que não vencer a guerra.
- Não estamos necessariamente em guerra.
- Por enquanto. Então ainda há chance de tentar impedir que faça algo verdadeiramente burro. É disso que estou falando sobre estar perto para impedir.
- Você acha que eu deveria falar com ele então?
- O que Longbottom quer fazer? Vai denunciar?
- Ele disse que não.
- Imaginei.... Ninguém nunca denuncia meu irmão... - suspirou. - Também seria muito difícil nesse caso - então fez uma careta. - Como foi?
- Longbottom pareceu querer desistir, quando viu Severo. Snape também não ajudou. Já foi resmungando "Longbottom, diga logo o que vocês fazem aqui a essas horas incomodar sua professora ou vão dormir antes que eu pessoalmente lhes retire pontos" - revirou os olhos. - Eu mandei ele não incomodar meus alunos e os chamei para dentro, falei que Snape já estava de saída. Neville pareceu prestes a dizer que não era nada e sair, mas George Weasley o chamou, sussurrou algumas coisas e... tudo mudou. Longbottom simplesmente se virou e perguntou a Snape... Se ele tinha algum conhecimento em Legilimência.
Aberforth franziu o cenho:
- Como?
- De forma resumida? Neville falou tudo. Contou para nós dois como seu irmão o chamou para sua sala e começou a lhe fazer perguntas, então que achava que Dumbledore tinha lido sua mente. Explicou que não usava anel de herdeiro para se proteger e queria saber se havia um jeito de comprovar ou não se a coisa havia acontecido...
- O que não há. Não é uma magia que deixa rastros.
- Severo lhe disse isso e Neville perguntou a Severo... "O senhor leria minha mente?".
- É o que?!
- Ele queria verificar qual seria a sensação. Disse que não precisava de provas, que ele não ligava para denunciar Dumbledore ou não, mas "precisava saber" por si mesmo. Ele entenderia se fosse o caso, mas não queria continuar com a dúvida. Tirar isso das suas costas.
- Puta merda! - praguejou. - Alguém tira esse menino do meu irmão! Caralho, essa foi a lavagem cerebral mais bem sucedida que Albus conseguiu, sem dúvida, e eu achando Hagrid o cúmulo do absurdo!
- De que raios está falando?
- Por Merlin! O menino disse que entendia ser violado?! Que porra! Não tem motivação plausível para essa merda não! Talvez em um julgamento e com a autorização das partes, no máximo... mas aí não seria violação, ouve consentimento, então voltamos a frase de que não há motivo! - Minerva ficou quieta por um tempo, parecendo pensar e Aberforth decidiu perguntar: - O que foi?
- Estava pensando... George Weasley também fez uma comparação dessas...
- O que tem? Está incomodada com a ideia então que meu irmão chamou uma criança para sua sala e usou de sua força superior para invadir sua intimidade?
Minerva tremeu:
- Exato. Isso parece muito perturbador.
- Porque é. Claro, não tanto quanto algo físico, é menos traumático e, há quem diga que infinitamente menos invasivo, mal deixa rastros e pode ser feito sem que a pessoa note, mas ainda é uma invasão de privacidade que se utiliza de força contra outra pessoa mais frágil.
- Mas e os legilimentes naturais então? Quer dizer, nessa comparação eles...
- Por coisas assim muitas pessoas não veem a legilimência como algo tão ruim. Existem essas diferenças e não quero entrar em méritos sensíveis, mas também os legilimêntes naturais veem apenas a superfície, é preciso olhar diretamente para seus olhos e não estão caçando coisas, entrando na sua mente e lhe causando dor para conseguir algo específico. Apenas entendem suas emoções e veem lampejos do que se está pensando na hora. Podem até te fazer perguntas específicas para que você pense no que querem saber, mas a maioria são como os videntes, nem queriam ter esse dom. É uma maldição. As pessoas não gostam deles em alguns casos, ou eles mesmos detestam saber demais sobre os outros, mas principalmente eles sabem que é algo seu e nunca dizem nada por maldade. Eles só escutam seus pensamentos como se fosse você falando e podem soltar gafes, muitos são retraídos porque apanhavam da vida e das pessoas de várias formas por revelar o que não deviam, outros são animados e descontraídos porque aprenderam a conviver, as pessoas próximas lhe deram afeto e eles são os que melhor guardarão seus segredos, até de você mesmo, ou farão brincadeiras com você sobre eles, porque tentam mostrar que é natural tudo de ruim que sai, assim como o bom, porque todos são complexos e humanos. Não os culpo por algo que a própria magia lhes deu e geralmente sabem respeitar os limites das pessoas, pois são bem empáticos.
- Então legilimencia e... violação são coisas diferentes.
- De forma superficial? Sim. Mas ainda são muito parecidas em essência para simplesmente ignorarmos a comparação por nos sentirmos desconfortáveis. Já tive uma amiga que passou por uma situação de... violação na infância. Ela disse que ler a descrição de uma invasão mental, em uma "aula" experimental de oclumência lhe deixou muito mal.
- Aula experimental?
- Já foi testado várias vezes, na verdade. Criam uma situação onde usavam legilimência da forma mais brusca para ensinar alguém a lutar contra ela. Aqui vemos uma diferença, porque é possível aprender a lutar contra feitiços da mente passando por eles de forma exaustiva. A semelhança volta onde alguns só ficam traumatizados, outros muito sensíveis e quando a tortura, a dor, é um recurso vantajoso para conseguir usar melhor a legilimência porque você está deixando a vítima fraca. Não vou entrar nesse ponto. O importante é que existem casos onde da certo e outros onde não, mas quem invadiu sua mente também afeta toda a experiência, se quer minha opinião, e isso também seria uma semelhança. A amiga que falei antes, lhe deixou muito desconfortável ler o relatório do tipo, tanto que quis parar e ficou com raiva do homem que fez a parte do legilimente por concordar com tudo e continuar. O caso em que leu, era um aluno e um professor que já se conheciam, mas os dois se odiavam, o que criava um distanciamento e uma resistência na mente do aluno e consequentemente mais dor. Ter sua privacidade invadida e ainda sentir dor, porque estava lutando contra, para ela, foi como ler sobre alguém sendo torturado. Mesmo que tivesse recebido uma ordem de seus superiores e fosse por um motivo acadêmico, mesmo que o aluno quisesse aprender, ela achou a coisa a mais errada possível. Também sabia que era diferente, mas se sentiu, no fim, um desconforto vindo direto de seus traumas, afinal era alguém tendo a privacidade invadida por uma pessoa de que não gostava e sentindo dor por isso repetidas vezes.
- Semelhante, mas diferente - sussurrou Minerva.
- Sim. Mas algo que meu irmão faria.
- Mas...
- Eu tenho certeza que se ele, por exemplo, achasse que Voldemort poderia ler a mente de alguém da ordem, sugeriria para a pessoa exatamente ter a mente invadida até aprender a lutar contra. Ele aprovaria a mesma merda que eu abominaria, tudo porque a pessoa precisa aprender e oclumência leva um tempo dos infernos, mas nada que a repetição e um trauma não possa resolver, não é?
- Ele nunca traumatizaria alguém de propósito!
- Não, mas porque ele é burro e não percebe o que faz. Ele não veria como um trauma. Albus diria que trauma seria ter Voldemort lendo sua mente. A pessoa poderia nem sentir tanto desconforto com Voldemort, ao ponto de, sei lá, nem afetar o sono. Desconfortável como uma leitura de mentes seria, mas não o bastante para acordar se ninguém vier te chacoalhar, como um pesadelo mesmo. Ruim, mas suportável. Mas Então gritar de dor com outra pessoa forçando a legilimência nele, enquanto dizem que é porque "tem que aprender". Meu irmão não pensaria que estar causando essa dor na pessoa é tão errado quanto o que Voldemort estava fazendo, porque é por um motivo, é para proteger essa pessoa da forma que eles têm. Mas, no fim, são duas pessoas fazendo o que for preciso para ganhar. Meu irmão está "só ensinando", é o que pensaria, é "para salvar vidas", insistiria, ele seria o herói que impediu os segredos de vazarem e pessoas morrerem, mas Voldemort é o vilão por tentar salvar os seus sacrificando o lado inimigo, nem mesmo o próprio? - riu. - Hipócrita e esquisito, se quer saber.
- Sua balança de certo e errado parece meio torta...
- Mesmo? Eu acho que a do meu irmão que está. Vocês se recusaram, né?
- Como?
- Neville. Pediu para ler sua mente para saber a sensação. Se recusaram?
Minerva suspirou.
- Eu quase disse que Albus jamais faria isso e ia recusar, mas Severo mandou Neville se sentar e eu fiquei tão chocada que me distraí. George Weasley que impediu, disse que aquilo parecia um raciocínio muito errado. Que a situação já seria diferente, já que Neville estava dando autorização direta à Severo e devia haver outra maneira. Eu concordei, é claro, assim como a senhorita Granger. Depois disso... Snape foi um pouco mais sensato. Ofereceu que chamássemos a professora de oclumência da Durmstrang, mas explicou que seria inútil, ela diria o mesmo que ele que não há como provar com certeza o uso de legilimência em uma pessoa, mas sugeriu a memória.
- A memória?
- Retirar uma cópia da memória que o evento aconteceu. Para retirar uma memória a sensação é parecida, porque mesmo que se ofereça a outro bruxo, aquele que a retira precisa procurar os detalhes no subconsciente da pessoa, para que alguém além de si mesmo retire é preciso ler para achar. Então Neville poderia sentir como era ter feitiços da mente sendo usados contra ele, mas teria certeza de que apenas aquele momento estava sendo acessado e poderia assisti-la ou até dar a um especialista, agora enquanto ainda estava fresca e cheia de detalhes, para avaliarem. Mesmo num caso onde quisesse denunciar Albus, se achasse que houve mesmo uma invasão, ele teria uma prova retirada por um legilimente certificado, que não um médico, mas ainda seria uma prova aceita como legítima em um tribunal. Não o forçaria a reviver nada futuramente, seria menos invasivo e realmente útil para entender tudo e usar como quisesse depois. Na verdade, seria a melhor prova que poderia ter.
- É um plano... - murmurou Aberforth dando de ombros. - Vocês viram a memória então?
- George Weasley perguntou se não era melhor pedir a professora de Oclumência, que é uma especialista mais creditada na área. Snape concordou que seria uma figura de autoridade maior e que saberia lidar melhor com crianças. Katharina tem experiência de uma antiga auror ministerial americana, para saber como retirar uma memória digna de ser utilizada como prova, então era perfeita. A menos que Longbottom, por já o conhecer, achasse que Severo seria uma invasão menos desconfortável, mas ele deixou claro que duvidava do fato e perguntou para mim o que eu achava. Disse que faria o que eu mandasse.
- O que você mandasse? - perguntou o homem com uma sobrancelha levantada.
- Sim. O que tem?
- Nada. Você concordou com Katharina?
- Sim. Neville não quis acordá-la nesse horário, entretanto, então avisou que iria pela manhã. Explicamos que ele não afetaria a memória com tão pouco tempo, então tudo ficou por assim. Mas... quando iam sair... O menino se virou para mim e perguntou: "A senhora acha que o professor Dumbledore faria isso? Invadir a mente de um aluno?" e eu não soube o que responder. Disse apenas - então coçou o braço, o rosto triste, pesado. - "Eu gostaria de acreditar que não, senhor Longbottom". Mas acho que... lhe dei a resposta errada.
- Você deu a resposta que uma amiga leal teria dado...
- Mas eu também devia ser leal a meus alunos, não é?
- Então você concorda que é bem possível.
- Eu... - murmurou se recostando para trás na cadeira. Ela pensou por um tempo antes de responder. - Não acho que Neville, de todas as pessoas, pensaria algo assim sem um motivo muito forte.
- Mas você também não quer aceitar que seu amigo iria tão longe.
- Sim - admitiu arrasada.
- O que o morcego disse quando as crianças saíram? O que vocês falaram?
Ela baixou a cabeça.
- Severo tem certeza que Dumbledore leu.
- Sensato.
- Mas ele não deu a devida importância.
- Como assim?
- Ele agiu como... Como se não fosse nada demais. Albus queria uma informação, Neville tinha, então ele usou os recursos que tinha para chegar ao objetivo.
Aberforth deu um largo sorriso:
- Exatamente como uma boa arma da guerra do tipo que meu irmão manteria por perto.
- Que quer dizer? - perguntou zangada.
- Seu amigo...
- Snape.
- Snape sempre foi apenas um instrumento para um fim em uma guerra. Foi ensinado a obedecer, Minie querida. Ele disse que faria o que você mandasse, leria a mente de alguém se você mandasse, porque é uma figura de autoridade para ele a esse ponto, que foi condicionado a essa merda toda. Se Dumbledore ou Voldemort mandassem, ele leria uma mente para conseguir uma informação, porque é guerra e numa guerra todos usam os recursos que tem. Ele é um recurso. Entende porque acho que meu irmão usa as pessoas como armas? Voldemort é alguém a quem Snape jurou lealdade e, portanto, confiava a priori, provavelmente lia a mente dele e a de todos quando precisava ter alguma certeza. Porque... que sonserino, herdeiro da casa e lorde das trevas, confiaria nos seus? Burrice. Todo mundo pode trair todo mundo. A mente de Severo devia ser domínio público de seu senhor se estivesse desconfiado, mas apenas se estivesse desconfiado, porque sabemos que houveram os que o traíram. Então ele ainda respeitava e confiava nos seus o mínimo possível. Albus faria isso?
- Claro!
- Hm... - murmurou.
- Pedro nos traiu! Albus não leu sua mente!
- Talvez, não é? Ou ele só nunca pensou em Pedro. Dito isso meu irmão funciona na tentativa e erro. Na cabeça dele, na guerra anterior, ele confiou até no homem mais gentil, ansioso e tímido e justamente esse foi o traidor. Não faria mais o mesmo. Vai desconfiar de todos, dar o mínimo de informações para que ninguém saiba demais e ler a mente de quem precisar, nessa, inclusive dos menos suspeitos.
- Neville?
- Exato.
- Você veio até aqui porque queria minha opinião, não é? Ou só queria uma desculpa para poder falar sozinha sem parecer muito estranha.
- Sua opinião.
- Eu sei o que meu irmão pensa. Ele já leu e continuará lendo a mente das pessoas. Sempre por acreditar que está fazendo o bem, mas ainda fará. Por qualquer motivo que seja, desde garantir que os inocentes não sejam afetados, até conseguir salvar vidas. Ele acredita, ou ao menos age sem perceber, na lógica de que algumas situações desesperadas, pedem medidas desesperadas.
- Já leu? Como assim? Ele já te falou de algo do tipo?
- Não precisa falar. É só pensar um pouco. Como ele sempre sabe que alguém é inocente quando é apanhado em uma situação complicada? Como com Longbottom e toda a história da câmara? Tenho certeza que Albus acha melhor verificar a verdade, antes de tomar decisões precipitadas.
- Ele acredita na inocência das pessoas primeiro, apenas. Você não pode dizer que ele leu a mente de Neville na época.
Aberforth encarou Minerva, então riu, depois gargalhou.
- Mas o que foi agora?! - ralhou zangada.
- Sim, claro. Ele acredita. Muito bem professora, cinco pontos para a Grifinória.
Minerva, propositalmente, apertou a lâmina contra a face do Dumbledore, cortando-a.
- Mulher!
- Deixe de ser impertinente! Está dizendo que estou enganada?!
- Não estou dizendo que está enganada, Minerva. Estou te chamando de inocente.
- Seja mais claro - pediu zangada.
- Albus realmente tenta olhar pelo melhor das pessoas... nos primeiros segundos ou quando está falando sobre elas, mas por dentro ele é um merda desconfiado traumatizado pelo namorado lorde das trevas. Além de preconceituoso com qualquer família inclinada para as trevas. Acha que todo mundo pode cair para o mau caminho como ele e não tira os olhos de ninguém, muito menos se tiver chance por histórico familiar. Credo, Minerva, ele parece acreditar nas pessoas certas exatamente porque às vigia e lê seus pensamentos! Quando alguém começa a cair nas suspeitas dele, então precisa checar a verdade e, se precisar de formas ilícitas para isso, desde quando ele liga? Descumpre leis "para ajudar pessoas" a anos.
- Albus não...
- Hagrid tinha uma varinha ilegal - interrompeu.
- Mas Hagrid era inocente.
- Claro... E como Albus sabia disso mesmo?
- O-o que? - piscou.
- Quer dizer, como só Albus sabia, enquanto todo mundo acreditava em Riddle, que Hagrid era inocente?
- Porque era...
- O que Riddle mostrava para todos? O órfão que se dedicava como ninguém para ser o melhor dos alunos, monitor, querido até pelos sangue puros, gentil e amável com todos os professores. Onde caralhos estava a coisa suspeita nele?
- Riddle... Albus disse que Riddle machucava crianças no orfanato e...
- Claro, num orfanato, onde todas as crianças se matam para conseguir uma família mais rápido que as outras. Credo, Aurelius sofria no dele por não reagir às crianças que faziam o mesmo. Isso é literalmente sobrevivência num lugar daqueles.
- Ele gostava...
- Ele falava com cobras. Esse é o problema. Albus imediatamente viu Riddle como alguém que iria para as trevas e isso o colocou do mau lado do meu irmão. Preconceito. E quando você fica do mal lado dele, nada que se faça vai tirar o olhar afiado do líder da luz de você. Riddle tinha provas, Hagrid não tinha nada em sua defesa. Você pode acreditar que as pessoas apontaram imediatamente o dedo para o meio gigante contra o dócil órfão bruxo, mas eu parto de um princípio mais crítico.
"Riddle nem culpou Hagrid de assassinato, ele poderia ter feito parecer que Rúbio teve a intenção e o colocado direto em Askaban. Manipulador como era, se livrava do "mestiço que tanto odiava", mas não foi isso que aconteceu. Tom partiu em defesa e bateu na tecla de que "foi sem querer, ele é ingênuo e gosta de bichos perigosos". Se não fosse por Riddle, nesse sentido, Hagrid teria sido condenado, mesmo novo como era e nem Dumbledore o livraria porque não tinha como defende-lo.
- Riddle cuidou de cada brecha - ele se recostou para trás, aproveitando que Minerva havia soltado sua barba para lhe dar atenção e cruzou os braços. - Albus diz que Riddle fez isso porque irritava seu orgulho as pessoas pensarem que alguém burro daquele jeito abriu a câmara, o que ainda aconteceu, muitos insistiam que a aranha veio de lá e era o verdadeiro monstro, mas enfim, Riddle teria preferido fingir que nunca foi aberta de verdade, correr um risco, por orgulho? A astucia Sonserina que joguemos fora? Pode ser, mas independente dos planos de manipulação desse povo estrategista, minha dúvida é: como Albus soube da inocência total de Hagrid se todas as provas que Riddle reuniram foram o bastante para o ministério todo? Uma pessoa tinha morrido, haviama urores estudando o caso com muito cuidado e não duvidaram da história. Por que ele não acreditou que alguém como Hagrid justamente teria cometido o erro de trazer um animal perigoso para o castelo, fiel de que o bicho que "não saía do ninho", sendo que tinha sim? Como ele tinha tanta certeza que foi outra pessoa e de propósito, não um acidente que Hadrig, facilmenete, causaria por ingenuidade?
- Veneno de Acromântula não foi encontrado no sangue das vítimas?
- Isso foi o que Albus disse?
- Não exatamente, eu só pensei agora...
- Quanto tempo vocês levaram para achar a primeira pessoa petrificada? Porque, até onde me consta, o veneno delas resseca muito rápido depois que sai do corpo, por isso é tão raro. Cem galeões, pelo menos, por um fraquinho de nada na travessa do tranco. O corpo humano absorve uma quantidade de um filhote, como Aragogue na época, e não teria como identificar quando o sangue da vítima fosse coletado, pois some. Resseca o pouco que ainda estaria ali e já não fosse tomado pelo corpo. Talvez na pele pudesse haver algo, mas ainda é difícil e vocês estariam tirando pele de crianças desacordadas. Não. Vocês tiveram que manusear o antídoto para acalmar os pais e isso tiraria qualquer efeito, de qualquer veneno. Riddle não deixou brechas, ele pensou no seu plano. Mas não acusou Hagrid de crime premeditado ou proposital. Fez seu papel de bom moço até o fim. Me diz agora: como Dumbledore apontou tão rápido o dedo para ele?
- Albus...
- Você não sabe, não é? E estava lá. Meu irmão não sabia que o monstro da câmara era um basilisco, não é? Afinal se soubesse, podia ter usado isso contra Riddle. A menos que... quisesse tanto manter a linhagem de uma criança escondida que preferiu condenar Hagrid a admitir para o ministério que Tom era o herdeiro de Slytherin e tinha direito a tudo que vinha com o nome, algo que Albus pessoalmente decidiu ignorar quando foi no orfanato, aceitando deliberadamente que o menino fosse sozinho no beco diagonal, sem nenhum conhecimento do nosso mundo direito e ainda sem submetê-lo a um teste de sangue para tentar ajuda-lo a sair da sua condição no orfanato, preso no mundo trouxa sem proteção no meio da guerra que poderia mata-lo. Condenando-o a uma condição parecida com do Aurelius, o que é ainda mais cruel, pois deveria entender como é errado.
- Albus não faria!
- Então você tem que concordar que ele não sabia que Riddle era um herdeiro Slytherin. Automaticamente, não sabia que o monstro era um basilisco, o que é até óbvio pensando agora, mas não vimos na época, afinal como imaginar que uma coisa real viveria tanto tempo escondida na escola? Enfim, ele não sabia nada. Ficamos com a situação onde um órfão, monitor da escola, decide dedurar um colega por ignorância apenas. O tal órfão não tinha feito isso antes, porque sabia que não era culpa do meio gigante e não queria que o "amigo" fosse condenado apenas por ser inconsequente, mas viu que estava indo longe demais e decidiu interferir. Fez seu papel, defendeu o ingênuo Rúbeo e salvou a escola do bicho mal, que realmente devia ser o culpado, tinha veneno capaz de petrificar e matar, agora que já tinha crescido. Tudo parou depois que o bicho foi enxotado. Vejam só, cadê a falha de Riddle? Onde está a grande prova de Dumbledore para lhe apontar o dedo?
- Hagrid não era culpado e Albus sabia...
- Riddle nunca disse que Hagrid fez, esse é meu ponto. Disse que uma aranha fez! Você não pode afirmar que Albus imediatamente acreditou na culpa de Voldemort, só porque Hagrid era inocente. Isso não faz sentido. Um ser inocente não faz outro culpado. Ninguém disse que Rúbeo era um assassino premeditado. Rúbeo, nessa equação, foi apenas o inconsequente que levou uma criatura perigosa para a escola e isso é verdade! Aragogue podia ter atacado alguém! Só porque obedecia, por milagre, Hagrid, não quer dizer que faria isso para sempre! E estava crescendo! Ganhando metros e metros de tamanho! Você acha que Albus está certo em passar a mão na cabeça do garoto que fez todos correrem um risco desse? Se alguém achasse Aragogue, tentasse expulsá-la, ela se irritasse e atacasse? É ridículo! Ele ajudou, claramente, ou por ser um grande idiota ou porque queria dar alguma justiça para o pobre mestiço acusado de algo que não fez. Eu volto ao cerne da questão: como Dumbledore tinha tanta certeza que não fez? Que provas ele tinha para defender Aragogue e Hagrid, então culpar Riddle?
- Você está supondo que Albus leu a mente deles dois? Dos...
- Dos seus alunos! Exatamente! Para descobrir o culpado. Por um bem... um motivo mais nobre - se corrigiu imediatamente. - Ajudar os injustiçados, ele leu a mente de alguns. Os fins justificam os meios. Maquiavél. Albus Dumbledore. Pensa que, por estar do lado certo das guerras, pode usar os recursos que forem para alcançar a justiça e a verdade. Mas nem os políticos apoiam isso, nem eles acham pouca coisa invadir a privacidade de alguém.
- O que acha que devo fazer então? - questionou Minerva. - Se tudo isso é verdade... Tenho que fazer algo!
- Como assim?
- Se Albus está lendo a mente dos alunos, se está pensando em usar uma criança como Harrison na guerra... O que eu faço? É perigoso para a própria Hogwarts! Para ele, pode ser preso!
- O que você faz... Avise.
- Como assim?
- Eu avisaria as duas famílias, Longbottom e Potter para tomarem cuidado. Mostre que está do lado dos meninos, peça que lhe avisem se algo estranho acontecer, ajude-os para que confiem em você e, se ver que estão indo para um caminho estranho, que podem se ferir, que meu irmão está indo longe demais e tudo pode ruir fazendo com que saiam feridos... Então tire-os disso. Mas principalmente avise suas famílias.
- Como?
- Mande uma carta para a Augusta. Ela gosta de Dumbledore, mas ainda é viúva do filho de uma Black. Uma perfeita bruxa tradicional, poderosa e uma Grifinória. Ela vai acabar com Albus, mas ainda será leal a ele e a seu neto ao mesmo tempo, se achar necessário. Albus fez algo errado e deve ser responsabilizado por isso, quem sabe mude...
- Nem você acredita nisso - suspirou.
- Nem em um milhão de anos - sorriu com todos os dentes. - Mas Augusta dará um bom trato nele. Vamos considerar isso um erro pequeno ou grande de acordo com o que ela disser. É a responsável por Neville, tem o direito de saber. Depois que falar com ela... continuamos daí. O que acha?
- É uma boa ideia... - disse baixando a cabeça, depois levantou e acenou. - Muito obrigada Abbie. Me ajudou muito. Tirou um peso de mim.
- Mesmo? Achei que tinha colocado mais...
- Augusta é perfeita para resolver tudo isso - sorriu. - Ela saberá medir o que fazer para responsabilizar Albus e trazer apoio ao neto, também eu acho que seu irmão, assim que lhe for dito o peso do que fez, entenderá que está agindo muito impulsivamente e que precisa se acalmar. Todo o evento o está afetando, entendo, mas depois que levar uma baldada de água gelada, vai voltar ao normal.
- Se é o que diz... Espero que Augusta lhe jogue um rio congelado inteiro bem na cabeça.
- Seu insuportável - reclamou revirando os olhos (mas ainda sorria). - A propósito, terminei. Ficou bom.
- Vou olhar - então se levantou para ir até o banheiro.
Realmente estava bom. Parecia que tinha rejuvenescido uns trinta anos, pelo menos. Não tinha mais o mesmo cumprimento e Minerva fez um degrade moderno na face que Aberfhorth ficou pensando como a mulher sabia manter daquela forma se não fazia algo assim a tantos anos.
Corte reto, cheia, mas sem passar do pescoço. Bonito. Conseguia ver sua boca também, olhe só! Talvez devesse fazer as sobrancelhas para terminar de parecer mais...
Como uma pessoa?
Lembrava um pouco com a barba que mantinha quando era mais jovem e imaginou se Minerva gostava dela assim.
Voltou para o quarto evitando pensamentos ridículos sobre como seria se a mulher gostasse dele na época.
- Ficou ótimo, obrigada Minerva - agradeceu sincero.
- Não por isso. Você me ajudou mais. Agora acho que já vou voltar... - comentou se levantando e lhe entregando o kit de barbear já fechado, com tudo guardado como achou (ou até melhor já que o Dumbledore só havia jogado tudo de qualquer jeito por lá).
- Está tarde, não quer ficar por aqui?
- Por aqui?
- Posso separar um dos quartos da estalagem. Ou pode ficar com o meu e eu fico com outro.
- Por que eu ficaria com o seu quarto?
- Não sei, parece o educado a se oferecer.
Minerva riu alto e se aproximou mais, Aberforth acompanhou o movimento com o olhar.
- Um perfeito cavalheiro Grifinório você.
- Eu tento - brincou.
- Se quiser, os modos dizem que pode me acompanhar até a entrada do castelo - ofereceu, sem entender bem o motivo para aquilo.
- Credo, prefiro evitar estar tão próximo do meu irmão sem necessidade - ela apenas levantou uma sobrancelha. - Certo, estou sendo só implicante. Eu adoraria acompanha-la, Lady McGonagall - e com uma pequena reverência, ofereceu seu braço.
- Muita gentileza, herdeiro Dumbledore - e aceitou o braço aos risinhos.
Os dois caminharam até a saída de forma silenciosa, Aberforth pegou a capa da mulher do cabideiro antes que tivesse chance de fazer o mesmo e colocou por cima de seus ombros, ao que Minerva comentou:
- Estamos nos esforçando para interpretar o papel de Lorde?
- Lorde seria meu irmão, mas nada que mais alguns anos não resolvam, não é? O homem não teve herdeiros mesmo...
- E você pretende ter?
- Depende.
Minerva arregalou os olhos:
- Depende? Você pensa em ter outr...
- Depende se alguma mulher ainda se interessaria por mim. O que duvido - disse firme, antes que voltassem aos assuntos de seu passado e acabassem com o clima agradável.
Minerva ainda sentiu, antes que o homem abrisse a porta, sua capa se aquecer. Um feitiço sem varinha e sem palavras. Algo muito raro que nem ela tinha capacidade plena. Aberforth aqueceu-a e só então abriu para o ar gelado de fora, que lhe tocou o rosto, mas estava tão protegida que não se incomodou.
Um bruxo forte, sem dúvida.
- Não acho que seja tão difícil uma mulher se interessar por você.
- Mesmo? - ele perguntou com uma careta a encarando.
- Mesmo. Mas está velho, será que ainda pode ter filhos? - brincou.
O colega deu uma risada forçada enquanto a encaminhava para fora pelo braço:
- Muito engraçada, Minie. Te garanto que ainda funciona muito bem - sussurrou a última parte.
- Aberforth! - gritou lhe acertando um tapa. - Eu estava falando de fertilidade, não de.... Ah!
E o homem riu daquela reação.
Se tinha uma coisa boa em ser irmão de Albus Dumbledore, era ter tido a chance de conhecer Minerva McGonagall.
Até se esquecia que deveria odiar tudo e todos perto dela.
Tanto que sua memória só tornou a funcionar na estrada sozinho, quando já havia deixado nas escadas e estava voltando para os portões de saída e para a vila.
Como uma vela que demora para se ascender, de chama falha e mansa, Aberforth tentava entender o que o estava incomodando desde a conversa com Minie. Algo que pareceu ter deixado escapar em mais de uma situação, mas só longe dela o estava deixando totalmente inquieto.
Foi já próximo do vilarejo que um nome tornou a apitar em sua mente:
Lakroff Mitrica...
Lakroff...
Aurelius.
Os livros da biblioteca de Nurmengard...
Tudo se juntou e voltou como num fleche de imagens:
"Lakroff disse que era bom" murmurou Aurelius, cabeça baixa, quando Albus perguntou que livro queria que trouxesse para ele.
"Lakroff? Lakroff o que?" perguntou o mais velho dos Dumbledore no mesmo momento e Aberforth o encarou com um olhar de que iria mata-lo.
Sabia que Albus queria detalhes para tentar derrotar Gellert, impedir que fizesse algo muito ruim agora que, dê certo, estava irritado por ter que fugir das eleições após sua derrota, mas aquilo já era absurdo.
Tentar tirar algo de Aurelius depois de tudo que o menino passou e ainda estava se adaptando.
Pior... Doente como estava.
Usá-lo para conseguir informações, ao invés de acolhê-lo como um membro da família que precisava de ajuda (depois das próprias falhas deles) era errado, para dizer o mínimo.
"Qual o nome do autor do livro?" perguntou Aberforth no lugar, tentando chamar atenção e fazer o menino (que se encolheu) voltar a um tema que se sentisse mais confortável. "Ou nos conte do que se trata a história, para tentarmos acha-lo..."
"Acho que o autor chamava algo como... Melville" Aurelius murmurou após longos segundos encarando Albus, de forma receosa por cima do ombro do irmão do meio.
"Herman Melville?" perguntou o (na época) professor de Hogwarts.
"Acho que sim..."
"Mas é um autor trouxa!" exclamou surpreso.
"Tinham livros trouxas em Nurmengard?" questionou Aberforth também confuso.
"Não sei... aparentemente" e deu de ombros, desviando os olhos deles "Não precisa mais..." e tentou se levantar para sair, mas Albus logo acrescentou:
"Não, está tudo bem! Eu compro. Prometo. Não precisa se preocupar" e, com um último aceno para os dois, saiu.
Aberforth se sentiu aliviado. Detestava a companhia de Albus e com tudo que andava acontecendo, ficava tenso sempre que estava por perto. Ainda olhou para a porta por onde o irmão tinha saído, com raiva, pensando se valia a pena sumir com Aurelius e deixar a peste sozinho, mas então ouviu a voz do garoto muito baixinha:
"Lakroff era da família do Gellert".
"Como é?!" questionou espantado. Até onde sabia, Grindelwald só tinha Batilda de parente... mas não era como se Aberforth tivesse conversado ou prestado atenção o suficiente para ter alguma certeza.
"Não lembro o sobrenome dele..." continou Aurelius, mas negou com a cabeça firme e frustrado, desviando a atenção para suas mãos agitadas "Lakroff pode nem ser o nome mesmo. Poderia ter mentido, sabe? Então melhor ignorar o que disse, cada parte! Eu não.... queria..." só que não continuou.
"Hum" resmungou Aberforth percebendo a atitude evasiva e sem saber como resolver.
"Lakroff ficava na biblioteca. Nunca o vi sair para outro qu..." porém naquela hora, talves influenciada pela agitação, entrou em uma crise de tosse.
Aberforth correu lhe buscar água e o ajudou a tomar com calma. Evitou que seu rosto demonstrasse o desespero em relação a saúde débil que o menino vinha demonstrando. A magia dele... praticamente a um passo de mata-lo e fazia isso aos poucos. Como Ariana.
Resistir ao seu obscurial era prova de força, na opinião de Aberforth, mas pior era o que acontecia depois. Aguentar cada nova tentativa de sua magia em destruir tudo a sua volta, ou a si mesmo, por mágoa, tristeza, raiva e medo. O ódio inflamável e destrutivo que tinha precisava ser alimentado ou te consumia, se tornava um veneno cruel.
Quando enfim se acalmou, Aurelius se levantou e Aberforth preferiu não tentar puxá-lo de volta para a cama, mesmo que quisesse. Deixava o menino inquieto que as pessoas o tocassem ou mandassem onde deveria estar.
Creedence (as vezes ele preferia ser chamado assim), pegou um dos livros que Albus tinha trago anteriormente e encarou a capa distraído. Tremia um pouco, as mãos estavam com as pontas dos dedos negros enquanto tornava a comentar receoso:
"Lakroff não era ninguém importante. Só me ajudava a achar livros, entende? Sabia onde ficavam todos, a biblioteca era sua casa, ele mesmo disse isso. Me explicava o significado das palavras difíceis, sabia várias línguas... mas nunca tinha lido nada trouxa. Achava estranho Gellert trazê-los considerando que parecia, dentre todas as gerações da família, o que menos gostava deles. Mas tinha esse gosto por coisas feitas por trouxas..."
"Sei disso, já ouvi falar".
Creedence acenou com a cabeça, pegando um outro livro.
"Ficamos curiosos em saber o que fazia Gellert se interessar o bastante para guardar, então lemos esse juntos, quase até o fim. Moby Dick".
"Quase até o fim? É o livro que pediu para Albus agora?"
"Sim. Quero saber como acaba. É sobre uma baleia".
Aberforth sorriu divertido com o tom mais animado do outro:
"É um livro infantil?"
"Não! É emocionante! O capitão de um navio persegue como um louco essa baleia que, em outra viagem, arrancou sua perna! Eu queria saber se ele consegue matar a baleia..."
"Você queria que ele matasse?" perguntou alegre que o tema pareceu animar o menino, mas a felicidade durou pouco.
Aurelius se encolheu:
"Não sei. Lakroff me perguntou o mesmo, sabia? Eu quero que a baleia morra? Lhe disse que seria frustrante acabar a história sem que a coisa que a move, o objetivo principal, fosse cumprido e ele..." o garoto ficou em silêncio, depois foi até a cama e sentou na beirada.
"Aurelius?"
"Lakroff disse que a história não era necessariamente sobre matar ou não uma baleia. Que começou assim, é claro, foi como chamou os tripulantes e até os leitores, mas ia muito além conforte se entendia mais profundamente. Era sobre perseguir sonhos inúteis, que não vão nos engrandecer a nada além que a conquista de algo que feriu nosso orgulho ou nossa força. Um conto sobre um homem que tenta tirar algo do mundo que ameaça a vida de pessoas que considera iguais a ele, a baleia ameaça os humanos, é algo que o feriu, mas o homem se esqueceu em sua loucura desenfreada que o animal faz parte da natureza e da vida. Então mesmo que se mate esse espécime, sempre haverá outros. Que igualmente podem machucar e isso criaria um ciclo de ódio infinito de sobrevivência do mais forte, o que não te faz melhor que o animal em si. Não só isso, a baleia é muito maior que o homem, seu barco e sua tripulação, então está correndo o risco de se machucar, machucar os outros, enfrentar a coisa no território dela e tudo para... livrar o mundo de algo que ele não gostou? Por fim, um romance sobre um homem que não entende mais como viver além de sua obsessão, que deseja que o mundo seja de acordo com isso e moverá velas, mastros, pessoas e viajará oceanos por sua ambição, independente das perdas. Matando ou não a baleia, aniquilando o problema que viu e salvando o mundo dele... O homem... não vai resolver todos os outros problemas que tem na cabeça dele próprio e, provavelmente, ficará louco quando perceber que tudo foi inútil. Porque ele não está feliz. Porque já deixou de ser sobre baleias e mais sobre si mesmo. O homem perdeu tudo que importava ou poderia vir a importar por aquilo, então se conseguir... O que resta? Talvez morrer tentando fosse mais piedoso".
Aberforth piscou.
Uma.
Duas vezes.
Ficou cerca de dois minutos em silêncio.
Então se perguntou como Gellert teve a coragem de não perceber a ironia que era ter aquele livro.
"Você escolheu esse? Ou foi Lakroff?"
"Lakroff. Disse que gostou da capa. Era de couro branco com um olho de vidro para simular o da baleia...".
"Ele não gostou do livro? Lakroff? Por isso não terminaram? Ou foi porque você..."
"Gostou sim. Pelo menos, pareceu que sim. Nunca me mandou trocar e conversávamos bastante no fim de cada capítulo. Dizia que a história seria melhor guardada em nossas mentes assim. Aprendendo com o que o autor queria dizer, ou algo do tipo".
"Parece um homem sábio".
"Ele não era um homem".
"Como?" questionou inclinando a cabeça.
"Bem... Não exatamente um homem. Era apenas uma ..." e tornou a tossir. Aparentemente ele sentiu muita dor, pois curvou-se e se desequilibrou, caindo ao chão. Aberforth correu para ajuda-lo, depois de ter certeza que o menino aceitaria a ajuda.
Colocou-o deitado dessa vez no colchão e o cobriu.
"Melhor descansar" sugeriu.
Não que um Obscurial precisasse dormir.
Eles não precisavam.
Suas necessidades eram bem menores que pessoas comuns, afinal eram praticamente pura magia. Comer, beber ou dormir, podiam ficar dias sem isso e no máximo estariam mais estressados e frágeis. Por isso, ainda era bom descansar a cabeça e não ficar sentindo dor com a magia que se descontrolava.
"Um dia eu fui para a biblioteca e ele não estava mais lá" Creedence contou depois de um tempo. Olhando para o teto.
"Lakroff?"
"Gellert o mandou para outra casa..."
"Outra casa? Que quer dizer?"
Aurelius crispou os lábios e pareceu que não falaria mais, tanto que puxou as cobertas até a cabeça e se virou de costas para o familiar.
Aberforth se sentiu péssimo.
"Desculpe ter perguntado. Não quero usar você para descobrir nada, nem quero te dar essa impressão. Finge que eu não..."
"Gellert quis que ficasse seguro, junto com outras coisas que eram importantes para a família, algo assim. Nurmengard poderia não ser o bastante" sussurrou.
Aberforth abriu a boca, mas Aurelius o interrompeu em um salto apressado:
"Mas você não pode falar disso!" praticamente gritou, os olhos arregalados, totalmente agitado, veias negras saindo dos olhos. Aquilo fez sua cabeça girar e o mais velho teve de segurá-lo, nem por isso parou: "Promete para mim? Promete nunca falar disso?! Por favor, eu não devia ter contado sobre Lakroff nem nada que não fosse Nurmengard. Você vai acabar falando com o..." e encarou a porta muito assustado.
"Não vou falar para o Albus" prometeu imediatamente, para acalmar o menino e tentar fazê-lo voltar a deitar. "Nem com ninguém, Aurelius. Vou fingir que não ouvi isso e até esquecer, se quiser".
"Mesmo? Promete?!" insistiu esperançoso.
"Eu juro pela minha magia que não sai pela minha boca nada do que acabou de dizer... sem necessidade".
"Sem necessidade?"
"Você sabe o que Gellert escondia na outra casa? Se ele não pode ter ido se esconder por lá?"
"Não! Ele não foi! Nem Gellert sabe da casa direito! Pediu para os elfos escolherem uma, protegessem com magia, escondessem dele, para que mesmo que seja preso ou torturado, o que for, ninguém vai alcançá-la. Só sua família pode ir para lá, mas não tem nada demais e ele não vai se esconder lá... Eu juro! Por favor, você não..."
"Calma, Creedence!" pediu, pois o menino já estava ficando fisicamente instável e ele não podia deixar a magia ir tão longe ou...
Morreria mais rápido.
E doeria mais enquanto não chegasse nisso.
Tinha que conter... Mesmo que exatamente conter fosse o que começou com tudo.
Um ciclo de dor perigoso.
"Eu prometo, filho. Vamos esquecer esse assunto, sim? Você só me contou sobre uma biblioteca. Nada mais. Eu juro que não ouvi mais nada".
Aurelius continuou agitado por um tempo ainda, mas após longos segundos de um exercício de respiração que sabia bem como fazer sozinho, se recuperou e acenou com a cabeça:
"Obrigada. Eu... prometo que realmente não é nada demais, Gellert só... se importava em guardar bem e ele...".
"Eu sei" interrompeu, pois entendeu que Aurelius estava querendo, de toda forma, ajudar alguém de quem gostava naquele meio todo que o tinha machucado.
Tirar da mira das varinhas dos outros uma pessoa que lhe deu alguma gentileza. Aberforth apreciava isso. Se era um familiar de Gellert, mas entendia as falhas do homem, apontava como estava enlouquecendo e se ainda foi mandado para longe...
Aberforth não conseguiu deixar de pensar se o parente realmente havia sido realocado por sua segurança ou se foi por traição. Parecia provável. Talvez até uma fuga, assim como Aurelius que também desistiu daquilo. Mentiram para não ativar a raiva de Creedence apenas, mas esse tal de Lakroff obviamente tentou avisar Aurelius sobre os rumos do lorde das trevas.
Em nome disso tudo, Aberforth decidiu ignorar tudo que ouviu ali. Até a possibilidade de uma outra casa protegida de família.
"Você vai terminar o livro" preferiu dizer, para se focar em outra coisa. "Vai saber o que acontece com a baleia, é outra promessa".
Se Gellert tirou aquilo do menino, alguém que lia livros para Aurelius, Aberforth poderia devolver parte da coisa.
"Você ficaria no barco de Ahab?" o menino perguntou, de repente.
"Como é?"
"Lakroff me perguntou uma segunda vez se eu queria que Ahab matasse a baleia e o que eu achava que aconteceria depois. Mas também perguntou se eu achava que os tripulantes do barco tinham que continuar ajudando seu capitão, ou perceber que ele já estava louco, que a ambição iria longe demais, então desistirem. 'Nenhuma obsessão é boa, mesmo a mais nobre' foi o que... me disse".
Aquilo deu uma certeza incômoda e maior a Aberforth, de Lakroff, seja quem for, foi dispensado por questionar Gellert. Não sabia o grau de parentesco, nem perguntaria para não incomodar Aurelius, mas... Era possível que o lorde Grindelwald tenha percebido como as palavras do outro podiam influenciar Creedence, que era uma arma muito forte para a causa para correr riscos.
Então o mandou para longe.
Fazia mais sentido que a baboseira "quero minha família segura e longe da guerra" que contaram a Creedence para acalmá-lo quando lhe tiraram o amigo.
"O que você respondeu?" perguntou Aberforth, curioso, voltando-se ao menino.
"Que se eu estivesse no barco... Provavelmente ficaria até o fim, porque queria saber o final e não ia deixar Ahab enfrentar a baleia sozinho".
"Mesmo?"
"Sim, mas... no fim eu deixei o barco, não deixei?"
O ruivo se espantou com o fato de que, sim, Aurelius havia entendido a analogia e a ligação estranha do livro com o que estava acontecendo na guerra.
Lakroff conseguiu passar a mensagem antes de partir, talvez fosse (de certa forma) um dos catalisadores que permitiu Aurelius pensar em sair daquilo tudo e procurar a família.
Seu pequeno respeito pelo outro... aumentou.
No presente, Aberforth chegou a uma conclusão perturbadora: queria conhecer o filho de Gellert Grindelwald.
-x-x-x-
-x-x-x-
- Ai, ai! - reclamou Lakroff baixinho. - Quer que eu derrube o Harry?
- Pare de me provocar! - sussurrou Tom de volta - E você não o derrubaria. Tem magia, seu idiota, não sei porque decidiu leva-lo nos braços assim.
- Uma desculpa para pegar meu neto no colo enquanto ainda não é um adulto e eu um velho que não tem a capacidade para fazer isso mais?
Tom revirou os olhos e preferiu ignorar como se sentiu satisfeito com aquele comentário. O carinho que Lakroff tinha (toda a família Grindelwald, na verdade) por Harry era algo que Marvolo duvidava que poderia ter dado sozinho para o menino, não importa a situação.
Trocou de assunto:
- Você sabe que os sarnentos provavelmente ouviram parte da nossa conversa, não é?
Lakroff riu:
- Claro, ninguém demora tanto para pegar uma bebida e alguns lanches. Ou eles estavam se pegando na cozinha e se esqueceram do resto - comentou com um sorriso. - Nós poderíamos seguir o exemplo.
- Escutá-los? O que raios estariam falando de interessante enquanto nós...
- Estou falando de se pegar - interrompeu. - Ai, ai! - reclamou após levar outro beliscão no pescoço. - Te juro, você é estranho.
Tom o encarou confuso:
- Como é?
- Quem belisca o pescoço de uma pessoa? - questionou inconformado, mesmo que ainda se mantendo em tom de sussurro. - Você sabe a técnica para enforcar, falando nisso?
- O que?! Como assim técnica?! Por que está perguntando isso?
- Existe uma técnica para enforcar sem realmente tirar o ar da pessoa, é usada para...
- Eu juro que se você estiver tentando começar com coisas indecentes, com o Harry no seu colo, eu realmente penso na ideia de casar para te matar e pegar a guarda. Dou um jeito de arrumar um corpo, mas eu faço isso para impedir que ele seja ainda mais influenciado.
- Você vai me matar depois da noite de núpcias?
- Durante.
- Então eu passo. Ai, ai! - tornou a reclamar, com mais um beliscão.
Ainda no pescoço.
- Se eu te chuto, você pode cair das escadas - explicou Tom em seguida. - Se soco suas costas você pode soltar Harrison, se dou na sua cabeça, pode incomodá-lo, se vou com força o bastante, você pode reclamar alto demais e acordá-lo. Foi a forma que arrumei de descontar sua impertinência e implicância.
- Faz sentido... Mas sobre a parte da força, te garanto que consigo segurar muito bem os gritos de dor, precisaria mais do que seus bracinhos são capazes de oferecer.
- Eu vou te torturar um dia, isso é uma promessa - ameaçou furioso. - Vou te fazer implorar para parar.
- Se eu disser que estou com medo meu nariz vai crescer e você pode ficar com inveja - debochou e, com certeza, só não apanhou porque os dois já estavam de frente para a porta do quarto.
E bem diante da madeira estavam dois elfos.
Lala estava parada, coluna ereta, braços nas costas e...
"Parada", de repente, pareceu falho. Ela estava com os pés no chão, mas o copo subia e descia em pulinhos contidos e ansiosos.
Ao lado dela o elfo era bem mais velho e decrépito, ainda tremeu quando viu Tom.
Que desviou o olhar para o corredor.
- Esperamos que o quarto esteja no aguardo dos mestres - sussurrou Lala animada.
Lakroff sorriu:
- Tenho certeza de que estará.
A elfa abriu a porta e, assim como o esperado, os aposentos estavam impecáveis. Aquele era o antigo quarto de Sirius e havia sido, não só arrumado, mas passara por uma espécie de reforma relâmpago completa. O próprio lorde, é claro, deveria ser redesignado à suíte principal e Lakroff ficou com um de visitas.
O de Regulus não foi tocado, por enquanto.
- Lala e Monstro tiraram fotos do antigo quarto para guardar de recordação. Estão no quarto do Lorde Black - sussurrou cheia de orgulho, ao que Monstro pareceu muito capaz de repreender, mas estava obviamente cauteloso com o Riddle ali.
Lakroff sorriu e acenou com a cabeça, colocando Harrison delicadamente na cama. Notou que Tom o seguiu de perto o tempo todo e quando terminou de cobrir o neto, entendeu que a Horcrux também estava nervoso com o elfo.
- Todos para fora comigo, por favor - chamou e assim se dirigiram.
No corredor, o loiro pegou sua varinha e apontou para a porta, Tom identificou (pelos movimentos de mão) um feitiço de alarme. Se Harry acordasse, eles saberiam. O próprio Voldemort usara muito desses, mas nunca dessa forma, é claro.
Engraçado como um feitiço para proteger e tranquilizar uma mãe podia ser tão útil para inimigos numa masmorra após algumas sessões de tortura.
Bastava criatividade e toda magia podia ser mortal.
"Mesmo as da luz" pensou com um sorriso, lembrando-se de vários outros que adaptou por serem menos rastreáveis pelo ministério exatamente por serem da luz, além de serem mais fáceis para comensais novos, por terem sido ensinados praticamente apenas feitiços da luz a vida inteira na escola e ainda precisavam se adaptar às artes sombrias.
- Você é Monstro, não é? - perguntou Lakorff se ajoelhando para se igualar melhor em altura com a criatura (mesmo assim continuou mais alto).
- Sim, milorde - disse Monstro, se curvando até o nariz pontudo tocar o chão. - É uma honra servi-lo, nobre herdeiro da casa dos chacais, mariposa honrada.
- É um prazer ter tanto respeito pelo elfo da nobre e antiga casa Black. Levante-se, por favor - Monstro obedeceu e o loiro fez mais um movimento rápido com a varinha, que os elfos identificaram como uma barreira sonora fortíssima. - Sabe quem é esse atrás de mim?
- Lorde Riddle, herdeiro Gaunt, herdeiro da Sonserina e lorde das trevas... - sussurrou rapidamente, a cada palavra se encolhendo mais. - L-lorde V-v...
- Não precisa se forçar a dizer o nome - Lakroff ofereceu segurando o ombro da criaturinha para acalmá-lo. - Monstro, precisamos que jure não dizer a ninguém esses títulos, jure que não contará, a menos que Harrison dê autorização, para qualquer pessoa, quadro, criatura, viva ou morta, ser consciente ou não, por mensagem escrita ou dita ou qualquer forma possível quem, de verdade, é este homem. Para todos os efeitos, esse é Thomas Harris, antigo colega de Walburga Black, Orion, e até mesmo de Tom Marvolo Riddle. Um comensal da morte.
- Milorde, eu...
- Sei que se o lorde Black mandar, você deverá obedecer e aceito isso, jamais deverá se culpar em não cumprir com a promessa feita a mim e Harrison, se Sirius Black lhe pedir o contrário. Apenas quero que lhe diga, se vier a acontecer: "Harrison pediu para falar com ele primeiro". Pode concordar com isso? Quando meu neto acordar ele confirma a ordem.
- Sim, milorde. Eu posso.
- Ótimo. Agora, Tom te deve um pedido de desculpas - acrescentou se levantando.
- Como é?! - ralhou o Riddle.
Monstro também pareceu aterrorizado com a ideia e arregalou tanto seus olhos de botão, que pareciam prestes a pular dos orbes e rolar no chão.
- Você me ouviu, Tommy - reclamou Lakroff se levantando e encarando o outro, cruzando os braços. - Desculpas completas, a propósito. Diga pelo que está se desculpando e que sente muito. Vamos.
- Eu não vou...
- Você sabe que deve - interrompeu.
- Mas eu...
- Não seja infantil.
- Não fique me interrompendo! - reclamou batendo o pé. O loiro segurou o máximo que conseguiu o risinho. - E não me trate como trata seu neto! - ordenou apontando o dedo com um olhar sombrio.
- Eu mordo isso aí se manter na minha cara.
Tom pareceu dezenas de vezes mais zangado e avaliou a possibilidade de simplesmente arrancar as Horcruxes do homem e sumir antes que sua cabeça começasse a (bizarramente já que nem tinha terminações nervosas adequadas) doer de tanto estresse que aquele homem lhe causava.
- Milorde, não quero que o mestre... Harris tenha que... - começou Monstro, muito receoso e tremendo muito.
Entretanto a criatura se calou com um arfar chocado (quase um gritinho contido) quando Tom Riddle bufou e se ajoelhou.
Nem Lakroff esperava aquilo, achou que o outro se manteria de pé. Sempre acima o máximo que podia.
Ao invés disso, Tom ainda baixou cabeça e avaliou bem antes de começar a falar:
- Eu sinto muito Monstro. Muito mesmo. Nunca vou conseguir me redimir pela dor extrema que te causei, não só o fazendo beber aquela poção, mas o deixando na caverna para morrer, então causar indiretamente o que aconteceu com seu mestre Regulus. Ele era um bruxo incrível... - murmurou com sinceridade. - Talentoso, inteligente, cheio de potencial. Merecia mais do que um mestre que não sabia valorizar mais do que o óbvio. Se eu não tivesse sido tão cruel com você, a beleza na alma daquele garoto nunca se veria forçada a fazer o que fez. Nunca se viraria contra mim. A culpa é toda minha por não entender a importância de vocês elfos.
- M-mi... Milor... - Monstro tremia, parecia não saber como reagir àquelas palavras.
E elas não haviam acabado:
- Sinto muito que tenha passado todos esses anos tentando me destruir. Se eu não tivesse decepcionado Regulus, você nunca seria forçado a essa missão, tendo de se ferir por falhar todas as vezes, mas... não devia ter feito isso. Essa missão nunca devia ter caído no seu colo. Entendo agora a força de sua espécie, mas... eu sou o lorde das trevas! É claro que falharia, que ideia pedir a você! - Lakroff engasgou uma risadinha. - Sem ofensas à Regulus e seu último pedido. - acrescentou rapidamente, depois negou com a cabeça e bufou. - Nunca devia ter usado um elfo de cobaia. Juro que na próxima uso um inimigo de vida dispensável.
O lorde Mitrica foi incapaz de se aguentar dessa vez, começou a gargalhar e até Lala riu (o que mostrava que podiam estar contaminando a cabeça de seus elfos com ideias bem perturbadoras).
Monstro, por outro lado, parecia um misto de aterrorizado, tocado, desesperado e agitado.
Mas a risada da colega pareceu estranhamente perfeito, pois Monstro imediatamente conseguiu parar de surtar com o que estava acontecendo e recuperou a pose perfeita de elfo para ralhar come la:
- Não ria de algo que um lorde disse! - mandou puxando a orelha da colega.
- Desculpe, milorde! - pediu Lala, imediatamente se curvando para Tom.
- Sem problemas, Lala - dispensou Tom e Monstro olhou fascinado para aquilo. - Me desculpe, Monstro - encerrou Marvolo encarando diretamente o elfo dos Black.
Tom era alguém fascinante.
Lakroff teve essa certeza.
Não é à toa que Harrison gostava tanto daquele homem. Ele havia se "rebaixado" à altura de um elfo, estava verdadeiramente pedindo desculpas e com uma sinceridade tocante, mas...
Ainda era o arrogante e orgulhoso de sempre, e aquilo era incrível.
Tom Riddle, aquela vinha negra, a horcrux que vivia com seu neto era sem dúvidas uma pessoa mudada, mas ainda era Riddle em essência. Com toda a sua força, personalidade marcantes, humor arisco e raivoso, além de um lorde das trevas. Grindelwald apreciou assistir àquilo.
A pessoa, não apenas a figura que tinha sido pintada com os anos pelas pessoas, jornais e pela própria pose de lorde das trevas.
Entendeu porque tantos outros se aproximaram antes. Era alguém que parecia valer o tempo que se gasta para conhecer.
- Não há o que desculpar, Milorde - disse Monstro. - Monstro estava sendo útil para seus lordes, apenas cumpriu com suas ordens, Monstro...
- Monstro nunca devia ter passado pelo que eu o fiz passar - interrompeu Tom. - Eu não devia ordenar algo tão vil a quem nada me fez. Eu...
Tom pensou em jurar que jamais faria algo assim com alguém que não podia se defender e nem tinha lhe causado mal proposital, mas era impossível sendo...
Só a Horcrux.
Voldemort estava por aí e ele podia fazer. Tom era só uma parte daquele homem e nem era uma significativa. Suspirou e acrescentou no lugar:
- Isso é um pedido e, como alguém que sequer merece sua consideração sem antes conquista-la, cabe apenas a você obedecer: não conte a ninguém sobre o medalhão. Sobre minha alma. Se possível.
- Por favor - acrescentou Lakroff em tom de recriminação.
- Por favor - disse Tom entre dentes e encarou mortalmente o loiro. - Já disse para parar de me tratar feito criança, seu velho insuportável.
- Eu paro se me der um beijinho.
- Eu vou te acertar um soco, isso sim! - e tentou partir para cima do mais velho, que rapidamente agarrou seus braços e (utilizando-se de sua força física maior) o girou no lugar como em uma dança, agarrando-o por trás no fim.
- Monstro, Lala, já terminaram com os outros quartos, não é? - perguntou por cima do ombro de Tom, que se debatia. - Estão dispensados. Se ainda estiverem com energia podem dar uma arrumada na biblioteca que Harrison, com certeza, vai explorar amanhã, mas descansem antes de qualquer forma. É uma ordem.
- Lala pode mostrar à Monstro a mansão Mitrica?
- Claro. Acho brilhante.
A elfa deu pulinhos e agarrou a mão de Monstro, sem sequer lhe dizer algo, ou pedir autorização, os aparatou (o que gerou uma onda de repreensões de Monstro, mas isso os bruxos não viram).
- Me solta! - pediu Marvolo.
- Qual o seu cheiro?
- Como é?! - perguntou e estagnou, quando sentiu o nariz do mais velho em seu pescoço em uma inspiração profunda que lhe tirou um arrepio involuntário.
Por sorte, Lakroff não teria como notar com as roupas fechadas que estava.
- Você acabou de me cheirar? - questionou baixinho, tentando manter uma voz sombria.
- Está acabando o perfume que Harrison te colocou. Precisamos de mais para voltar à Sirius e Remus.
- É só eu não voltar - resmungou, mas Lakroff registrou que mesmo que não tivesse se afastado, Tom não ordenou que o fizesse.
- Esse cheiro não combina tanto com você.
- Que cheiro acha que "combina comigo" afinal?
- Não sei - riu, o ar saindo em lufadas quentes que atingiam a pele gelada da horcrux em seus braços.
Tom teve que segurar o impulso de tremer.
- Cigarro.
- Como é?
- Você invoca uma caixa e eu pergunto para eles se posso fumar. Abro a janela e fico por lá, o cheiro de cigarro é muito forte e difícil de sair, além de que incomoda os sentidos dos lobisomens.
- Remus não fuma?
- Eu disse que incomoda, mas não que alguns ignorem isso pelo vício em nicotina. Me surpreende apenas que ele tenha ignorado o incomodo por tempo o bastante para começar a usar, mas pode envolver muitos aspectos que não conheço de seu passado. Até se o pai fumava, isso já o faria adaptado. De toda forma, ainda confunde até os melhores, a fumaça e as substâncias. Também não sei que raios de perfume Harrison jogou em mim, estava tentando convencê-lo a desistir desse absurdo.
- Certo. Cigarros então. E você não desistirá agora. É só mais uma ou duas horinhas.
- Duas?
- Você aguenta.
- Será que da para, pelo menos, respeitar meu espaço pessoal?! Você é péssimo com isso!
- Posso te fazer algumas perguntas primeiro?
- E porque precisa estar agarrado a mim para isso?
- Por que é gostoso?
Tom levantou rapidamente o braço e deu uma cotovelada para trás que acertou a barriga do loiro.
Lakroff gemeu, mas não soltou o abraço e quase fez Marvolo se arrepender do feito, uma vez que muita coisa perturbadora se passou por sua cabeça com o som do gemido tão perto de si.
- Estou apenas enchendo seu saco, Tommy. Se não fosse tão engraçado vê-lo estressado, eu não faria - brincou o Mitrica, finalmente soltando seu aperto.
Marvolo inspirou fundo antes de se virar cruzando os braços.
- O que você quer saber?
- Por que fez aquilo?
- Aquilo?
- Aquela história na mesa de jantar. Você e Harrisson nem... tentaram mentir. Isso me deixou confuso. No começo pensei "ele não seria idiota de dar tanta bandeira, os dois são brilhantes, ainda mais juntos", não seriam estúpidos de não perceber que estavam falando demais também, o que foi mostrando que vocês queriam chegar em algo. Caramba, até pensei que você admitiria ser Voldemort!
- Pensei na possibilidade, mas seria demais. Nem Harrison tem tanta consideração por eles ainda. Acabaram de se conhecer.
- O que quer dizer que, se eles conseguirem se colocar do lado da consideração plena de Harrison, você pretende contar?
- Se assim Harrison desejar.
- Eu busco sua coleira, juro.
- Eu te faço engolir, juro.
- Falando sério, Tom. Você correu muito risco lá. Monstro sabe demais e é o elfo do Sirius, mesmo que tenha uma lealdade seletiva com os membros da casa e tenha criado uma por Hazz. Remus e Sirius decidiram testar Harrison e o que sentia por você, mas tudo aquilo poderia ter sido uma ameaça de verdade. Podiam ter tentado te matar e você teria criado um caos sem necessidade alguma, então o que raios o motivou para...
- Você acha que foi sem necessidade.
- Não foi? Você poderia apenas ter mentido!
- Como você, não é? - questionou levantando as sobrancelhas.
Olhar de serpente.
Lakroff não só achava os olhos de Riddle lindos em qualquer tonalidade (mesmo que o vermelho o fascinasse como nenhum outro já foi tão capaz), mas seu olhar era impressionante em uma completude arrebatadora.
Tom Riddle tinha olhar de serpente. Um veneno inebriante que atingia todos, a cada palavra bem articulada saída pelos lábios daquele homem envolvente. Seduzindo em uma dança agridoce mortal.
- Que quer dizer "como eu"?
- Você mentiu.
- Não me diga? Esperava o que?
Tom suspirou:
- Você não entendeu. Você mentiu para eles sobre... Tudo. Sua idade, como nasceu, o que fez na vida, mentiu sobre Garden ser seu irmão gêmeo e sobre sua infância com seus pais.
- Sim. É a premissa. Para todos os efeitos...
- Eu não quis fazer o mesmo - interrompeu. - Menti sobre minha posição em um exército, mas só.
Lakroff riu:
- Isso é um eufemismo gigantesco.
- No fim, ainda é a verdade. De tudo que lhes disse, tudo aquilo que saiu pela minha boca, a mentira foi que eu não era um simples agente de um tirano. Eu era o tirano. A diferença pode nem ser tão grande, se quer saber. Tantos comensais fizeram coisas até piores que eu. Bellatrix torturou os pais de Neville, cruciou e invadiu a mente deles procurando por informações até deixa-los loucos e em estado catatônico. Fizeram isso em grupo ainda, é perturbador e Bartolomeu mereceu a raiva de Harrison. Saiu até no lucro. Contando os segundos de tortura espalhados, então Ivan, que tem muita consideração pela mente das pessoas e sabia como invadir sem causar sequelas traumáticas de verdade, apenas quis que doesse por raiva, Barty sofreu algo entre cinco à dez minutos. Contra as horas que infligiu de abuso físico, psicológico e mágico nos Longbottom. Eu obviamente faria algo assim, se achasse necessário para meus planos, mas... não dessa forma. E também não fiz, nunca achei necessário descer a esse ponto. Os Lestrange, Barty, nenhum deles sequer tinha minhas ordens.
- Está tentando fazer com que fiquem menos bravos dizendo que não é tão ruim? Você ainda é Voldemort. Tudo que seus comensais fizeram cai nas suas costas por deixar, dizer essas coisas não vai melhorar, você matou os melhores amigos deles e causou a guerra. Não vão perdoar isso porque você decidiu ser simpático e sincero. Você está apenas se arriscando, dando espaço para que possam ligar os pontos e descobrir a verdade.
- Esse é exatamente o ponto.
- Como assim?
- Lakroff Mitrica, você é uma mentira. Tudo em você, exceto sua personalidade, é falso. Não tem como descobrirem sobre você, ninguém no mundo, porque se tentarem achar a falha você some. Seu nome é um que se rebatizou e se identifica, mas você nunca mais usou o próprio e até Harry evita! Já brigou comigo por usar na cabeça dele. Você... para alguém com sua experiência, é péssimo em entender os sentimentos. Com todo o respeito, mas é por isso que as pessoas se afastaram eventualmente de você.
O loiro arregalou os olhos:
- Onde quer chegar com isso?
- Todos que te abandonaram... sinto dizer, mas é pela sua escolha em mentir sempre. Mesmo quando é justificado... - Tom se recostou numa das paredes. - Acho que depois de hoje eu te entendo melhor. Você não compreende os próprios sentimentos, como poderia com os dos outros? Você foi... adestrado, não apenas ensinado, a ignorar alguns aspectos da vida, a magoa sendo uma delas e talvez a mais gritante. As outras pessoas não são assim. A forma como você, eu ou Harrison manipulamos as pessoas e o mundo para conseguir o que queremos é diferente, mas você... se apoia muito na mentira e isso vem sendo sua queda sem que perceba.
- Não estou te entendendo - e também se apoiou em uma das paredes, aquela bem de frente a Tom, mantendo seus olhos ligados.
- Você sabe o estrago que vai causar quando contar a verdade para eles? Se vier acontecer, se seu plano de dar à Harrison uma família grande, que o ama e apoia funcionar, e seja lá quais outras baboseiras melodramáticas e emotivas que saem dessa sua cabeça solitária...
- Solitário parece inadequado. Minha palavra preferida sempre será sequelado...
- Eu nunca gostei muito de companhia - continuou ignorando o outro. - Não entendo porque insiste tanto nisso. São apenas mais pessoas para se preocupar, gera mais dor de cabeça. Mas se Harrison está feliz, então que seja - e revirou os olhos.
"Ao menos não serei a única coisa que Hazz tem, então não será tão difícil quando tiverem que me matar" pensou, mas se arrependeu imediatamente, porque uma dor o assolou com tanta força que acreditou na possibilidade de que choraria.
Por sorte, Lakroff fez seu papel e conseguiu distraí-lo novamente com uma simples frase:
- Você é um avô tão carinhoso, é uma graça.
- Não me chame de avô!
- Claro, querido.
- Nem querido - reclamou. - De preferência não me chame de nada que não seja Tom ou Thomas.
- Se eu não obedecer vai me punir, Tommy?
- Eu te odeio.
- Não odeia. Então?
- Se tudo acontecer como está querendo para criar uma rede de apoio para Harrison, eventualmente você terá que contar. Ou pretende manter a mentira para sempre?
- Harrison não gostaria disso. Mas se acontecer mesmo de eu precisar contar tudo para Sirius e Remus, o que acha que vai acontecer de tão ruim afinal? Eles sabiam, desde o começo, que estávamos escondendo coisas. Várias. Principalmente envolvendo a mim e Gellert. As memórias que Harrison mostrou estavam modificadas, no banco ele escondeu a linhagem da mãe. Não faz sentido se magoar com algumas mentiras, se eles sabiam que...
- Você não percebeu o que você mesmo acabou de falar - suspirou negando com a cabeça, levando os dedos para a testa.
- O que eu acabei de falar?
- Sirius Black e Remus Lupin sabiam desde o começo que você e Harrison estavam escondendo coisas. Mas você não está apenas omitindo. Claro, omitir é considerado um tipo de mentira e manipulação, mas eu discordo sobre a parte da mentira, são coisas totalmente diferentes e esse é o cerne da questão. Mesmo que as pessoas queiram misturar as duas ações, no fundo elas sempre vão sentir a diferença. Ambas podem magoar, mas vamos pegar um exemplo, já que você gosta tanto de usá-los nas aulas. Se eu, um homem mais jovem e atraente que posso fazer o que quiser, te digo que te amo mais do que qualquer coisa ou julgamento social, e depois você descobre que eu estava apenas tentando me casar com você para te matar e conseguir a guarda e os títulos, você tem uma emoção. Se eu não digo nunca que te amo, se durante todo o relacionamento, quando você diz "te amo", eu permaneço em silêncio e te peço coisas, então todo o resto acontece igual qual será sua emoção? Nos dois casos você sabia que eu poderia ser apenas um interesseiro, mas em um eu evitei mentir diretamente, no outro eu te enganei por completo. Qual vai doer mais no fim?
- Mas daí eu teria que acreditar em você quando dizia me amar de volta. Mas se eu sabia que você me pedia coisa e...
- Pense com calma sobre isso. Pense que, desde o começo a mentira esteve lá. Não é tão simples, eventualmente você poderia... - então parou, olhou para cima e ficou um tempo pensando.
Acenou com a cabeça após alguns segundos naquele silêncio, se empurrou da parede e caminhou até Lakroff.
- Que foi?
Tom não respondeu. Parou diante dele e pegou as mãos do Mitrica, calmamente colocando uma em cada lado do seu corpo.
O loiro abriu a boca confuso, mas deixou ser guiado, um sorriso travesso nos lábios.
Que aumentou quando Tom colocou os próprios braços por cima de seu ombro e os cruzou atrás da cabeça, se aproimando mais.
Sua mente soou alarmes altos, mas algumas ideias já lhe vinham a cabeça. Tom pretendia mesmo provocá-lo daquele jeito? Parecia uma péssima ideia, justamente com alguém como Lakroff.
- O que você está fazendo, Tommy? - perguntou.
- Testando até onde vão suas mentiras - comentou para o vento.
- Como assim, querido? - e, se aproveitando que o outro se colocou naquela situação, passou a mão calmamente pela base das costas do Riddle.
Para sua surpresa, entretanto, o moreno sorriu predatoriamente e levantou as sobrancelhas.
- Já lhe disse para não me chamar de querido. Estou próximo o bastante para acertar suas bolas com uma boa joelhada.
Lakroff riu:
- Você disse que estava testando minhas mentiras? - então seu ar estagnou no pulmão. Incapaz de sair ou puxar mais, pois Marvolo aproximou seus rostos assim como havia feito na sala, segurando seu queixo com aquela brutalidade entre os belos dedos, movendo na direção que queria, olhando o Mitrica de cima com aquela superioridade...
O loiro não queria pensar em como gostava de ser segurado e olhado daquela forma.
- Notei que você passou a noite se insinuando para mim, Grindelwald - murmurou Tom. - Eu não gosto de ser usado ou que debochem de mim dessa forma. Eu te perdoo se realmente houvesse um interesse, nada contra, você também não é de se jogar fora - Lakroff arregalou os olhos, totalmente surpreso que Riddle tivesse admitido aquilo, a horcrux em questão, porém, continuava: - Mas se você estava puramente fazendo piada e me irritando daquela forma por prazer em me manipular - " e as minhas emoções" acrescentou mentalmente, mas ignorou a própria linha de raciocínio. - Então temos um problema.
- Não se preocupe, Riddle, você realmente é uma gracinha tentadora - brincou.
O espanto aumentou quando Tom não recuou nem por um instante, ou se irritou:
- Eu, é claro, deveria acreditar nas palavras do mentiroso - respondeu sarcástico.
- Tem alguém que não o veria como tentador, Tomtom?
- Eu não disse isso, todos sabemos que sou lindo.
- O orgulho das cobras - comentou divertido.
- Nunca fui de falsa modéstia - e apertou mais os dedos, levantando o queixo de seu alvo. - Dito isso, quero apenas lembrá-lo de uma coisa.
- Que seria? - perguntou sem vacilar o sorriso, pensando em como seria a cara daquela horcrux se Lakroff apenas usasse sua força de novo e tomasse vantagem da situação para lhe roubar um selinho.
Era tentador e haviam poucas coisas que o seguravam para não fazer.
Se fosse qualquer outro que não a voz na cabeça do neto, de certo já teria feito se arrepender da brincadeira.
- Lembrá-lo que, entre nós dois, eu sempre estarei à cima e você em baixo.
Lakroff mordeu o lábio em um riso malicioso:
- Esse, Tommy, é mais um dos comentários que você deveria tomar cuidado... - sussurrou - Ativa muitos pontos da minha imaginação dos quais você não ia gostar...
- E quem disse que não era a intenção?
E, para o total e absoluto choque de Lakroff...
Tom Marvolo Riddle o beijou.
Parecia como se um tanque de guerra vindo direto de suas visões tivesse sido invocado e atirado bem do lado do seu ouvido, porque seu cérebro apenas registrou um barulho alto. Depois um chiado.
Seu coração acelerou numa velocidade tão grande que poderia simplesmente saltar agora do peito e sair saltitando pela casa em uma orquestra de tambores.
Tão rápido como a mente humana sempre foi capaz, tantas outras emoções começaram a se embaralhar.
Seus olhos estavam arregalados, então ele conseguia ver que Tom tinha fechado os seus. A respiração do loiro havia desistido de funcionar e seus dedos se fecharam na cintura alheia como se buscasse algo para registrar que aquilo realmente estava acontecendo. O tecido das vestes negras era firme, mas ainda permitia seus dedos sentirem como a cintura de Tom era fina.
Tom Riddle estava em seus braços. O corpo, alto, esguio, mas ainda masculino praticamente colado ao de Lakroff.
E a boca (Morgana o salvasse) estavam contra a sua!
Aqueles lábios eram divinamente pecaminosos!
Muito mais macios do que tinha imaginado.
Mesmo no mais tênue contato, como se estivesse explorando o território, a cada segundo despertavam os sentidos de Lakroff de uma forma que não achou que aconteceria desde os primeiros beijos na adolescência. Igualmente jamais conseguiria se lembrar de toque tão aveludado quanto aquele.
O loiro ficou lá parado, tentando fazer a mente funcionar para alguma coisa, organizar algumas das múltiplas ideias e alertas vermelhos, mas tudo tinha ficado em branco total, ou se transformado em uma explosão barulhenta de fogos de artifício, talvez até o chiado irritante de uma TV cujas antenas não estavam funcionando bem.
Aquilo era tão absurdo, que já seria digno de pensar se tratar de alucinação de sua cabeça perturbada.
Um simples selar e... já tinha feito aquela confusão em si.
A boca carnuda, reagiu. Mais firme sem seu toque, os braços enrolados na nuca de Lakroff se cruzaram mais enquanto apertava contra o loiro.
Deliciosos lábios agradavelmente gélidos contra os seus. Foram segundos. A mente registrou muito mais que isso em sua confusão semieufórica.
Racionalidade de tornou uma palavra inexistente em seu vocabulário com o que se seguiu:
Tom o lambeu.
Imediatamente Lakroff soltou um gemido do fundo de sua garganta, que reverberou até a boca, aberta para liberar o suspiro espantado e extasiado.
A língua, de saliva gélida da horcrux, havia passado pelo lábio inferior de Lakroff!
Tom Riddle o lambeu!
Era mais seco do que deveria, afinal era um corpo de magia, a possibilidade de produzir algo era baixa (se não impossível), mesmo assim foi o bastante. Corpo e mente, diante de quem era, simplesmente não fez sentido pensar em esconder quando tremeu e gemeu.
Criou uma pequena abertura com isso, que foi o bastante.
A língua de Tom invadiu a boca e reivindicou a de Lakroff.
Em meio a um segundo gemido surpreso (esse que vibrou na ligação entre eles), a mente do loiro registrou brevemente o fato de que Tom não precisava produzir saliva para tornar um beijo simplesmente arrebatador.
Eles tinham a de Lakroff para dividir de toda forma.
Os braços desejosos num impulso automático, agarraram-se mais aquela cintura esguia, apoiando a mesma mão de antes das costas e puxaram o dono dela com força e necessidade para mais perto.
Ignorando todos os sons, alertas, incertezas ou qualquer coisa que sua mente estivesse soando para parecer tão incrivelmente barulhenta, o Grindelwald se empurrou contra Riddle, fechou os olhos e retribuiu o gesto, repleto de luxúria.
Seu peito quase explodindo aliviada de uma ansiedade que estava segurando sem nem perceber, quando o moreno se agarrou mais e manteve o momento, ao invés de fugir.
Suas línguas se encontraram e com ferocidade se enrolaram, brigando por uma liderança que Lakroff lutou para conquistar apenas por sentir um prazer gigantesco em provocar Riddle, em permanecer sendo um desafio ao mais novo. Tom, com todo seu orgulho, não deixou barato.
Se chocando, se enrolando, se testando, querendo o topo e a velocidade, Marvolo fechou qualquer espaço entre os braços atrás da cabeça do mais velho e não se importou em movimentar seu corpo, criando uma fricção entre eles que arrecadou mais um gemido de Lakroff, então para acabar com toda a sanidade de seu... rival? Em sincronia, puxou os cabelos do Mitrica enquanto lhe mordia o lábio inferior sem dó.
Tirou com sucesso o maior, mais marcado e rendido dos gemidos, mas Riddle não parou, chupou o lábio mordido e com uma segunda dentada dada na medida certa, garantiu deixar a área suficientemente machucada e inchada, então tornou a invadir com sua língua a boca alheia e arrebatou o controle do beijo, diante da bagunça irracional que deixara Lakroff.
Que só conseguiu se entregar para simplesmente o beijo mais eletrizante e tentador que já teve.
Tom sorriu nesse instante.
Então, tão abrupto quanto fora ao começar com aquilo, soltou seus braços e empurrou a cabeça de Lakroff contra a parede com força.
- Ai! - reclamou ao atingir a parede.
- Eu não gosto de você o bastante para continuar com isso - disse Tom firme, um sorriso gigante naqueles lábios diabolicamente bons.
- Mas voc-.
- Eu estava te usando para provar meu ponto, só. Menti para me aproximar, consegui o que queria e agora a verdade: estou me lixando se você sente uma atração de verdade ou não por mim, tão pouco tenho interesse por você além de suas habilidades e utilidade para manter Harrison bem e vivo. Te acho dispensável, para dizer o mínimo, além de só mais um lorde num mar que minha "cara bonita" consegue tomar se desejar, mas nunca fez questão - o sorriso se tornou mais sombrio quando inclinou predatoriamente a cabeça para um Lakroff estático. - Agora me diz, ser dispensado antes doía tanto quanto nesse momento, em que houve a quebra de expectativa? Quando eu menti que tinha alguma vontade?
Houve um breve tempo de silêncio contemplativo.
Então uma risada.
Depois outra e Lakroff simplesmente teve que se curvar de tanto que ria.
Tom bufou frustrado dando alguns passos para trás.
- Qual a graça agora?! - reclamou.
- Desculpa - pediu o loiro. - É que isso foi apenas.... - e riu mais.
- O que?!
- Você, isso! - disse aos risos. - Tommy, se esqueceu do que disse mais cedo? Sobre como sou? Pode me tratar como lixo se quiser, querido, mas se continuar me beijando desse jeito, vou continuar correndo atrás, não fará diferença alguma.
Tom acertou a própria testa com a mão.
- Você é simplesmente impossível! Será que pode se dar o valor?!
- Que fofo, ele está bravo porque me contento com pouco... - debochou.
- Você não está se contentando com pouco, está se rebaixando a nada! Credo! - indignou-se.
Lakroff riu mais um pouco, mas então inspirou fundo para se acalmar e estendeu a mão para Tom, ambos se surpreenderam (apesar de não demonstrarem) quando Marvolo apenas aceitou dar a própria palma e não lutou, ao ser puxado com delicadeza para mais próximo novamente.
Não tão colados como antes, para a tristeza do loiro, que ainda estava com mais partes do corpo despertas do que deveria, mas não se importaria em continuar com o que estavam fazendo.
- Lorde das trevas, Tomtom - começou e levou um beliscão no braço que ele ignorou. - Eu não me incomodo com isso porque só deixa a coisa mais interessante.
- Que coisa?
- Te paquerar. Conquistar. Esse jogo que me deixa tão animado para ganhar. Não teria a mesma graça se não fosse difícil.
- Impossível - corrigiu.
- Mesmo? - perguntou com um sorriso de canto, levanto a mão até aquele ponto nas costas onde estivera antes. - Até onde eu vi... consegui um beijo na primeira noite.
Tom bufou frustrado e parecia capaz de aniquilar Grindelwald ali mesmo se pudesse usar magia:
- Nunca mais conseguirá qualquer outra coisa.
- Seria uma pena. Eu morreria frustrado se não tivesse a chance de prova-lo novamente, caro e belo enigma.
O comentário pareceu ser certeiro onde queria. Os olhos de Tom brilharam por um milésimo de segundo, mas Lakroff não perderia.
Era assim que mexia com as pessoas. Aprendendo onde apertar, por quanto tempo e qual a intensidade. Riddle era orgulhoso, ficava na defensiva se não tivesse a vantagem.
Tanto que deu aquele beijo.
Claro, Lakroff não tinha conseguido raciocinar o bastante na hora, mas os dois sabiam como Marvolo gostava de... Estar a cima. E ele estava perdendo a noite inteira. Ficando a baixo de Lakroff nas provocações que, querendo ou não e mesmo que só na raiva, mexiam com o emocional do outro. Que queria controle. A maior vitória de Riddle foi o momento que calou o mais velho na sala, mas não era o bastante. Não para alguém que gostava do topo e da coroa. Ele quis reivindicar uma vitória completa, confundir os sentidos de Lakroff assim como os seus foram. Fez de uma forma que o loiro não esperaria dele: um beijo.
Mas ainda algo plenamente possível para alguém que não se importava com os meios que precisava para alcançar um fim.
Não foi um beijo de emoção ou qualquer coisa que não mais das provocações.
Jogo de poder.
Tom usou as armas que tinha e, bem... Lakroff não se importava em admitir a derrota naquela batalha. Não era um mal perdedor, aindamais quando ganhou um prêmio de consolação tão arrebatador.
Para lidar com aquela horcrux, o Grindelwald só precisava saber oferecer essas vitórias na medida certa, para não se tornar entediante.
Era cobra contra mariposa, quem conseguiria manipular o outro melhor?
E o jogo...
Tom percebeu, no olhar de pupilas dilatas do Mitrica, que aquilo tudo só tinha despertado mais seu interesse e luxúria. Lutou para impedir sua própria língua, que quis lamber os lábios, mordê-los ou qualquer outra reação gerada pela forma que a respiração de Lakroff estava pesada e audível enquanto o encarava.
- Acho que teremos que marcar na sua sepultura então: morreu velho, mas frustrado - murmurou, a voz mais grossa do que pretendia, mas poderia ser confundido com ameaça.
- Veremos, não é? Mariposas não tendem a desistir, sabe disso - lembrou Lakroff.
- Vocês normalmente se queimam.
- Eu sempre gostei da dor, se vier com o prazer ao lado.
Eles continuaram se encarando por longos segundos, até mesmo a respiração de Tom pareceu mais irregular que antes e, nem mesmo perceberam, mas estavam mais próximos.
Não continuaram porque, mesmo com tudo, o Mitrica sabia que não era a hora de empurrar. Saber como, quando e onde apertar... Agora tinha que garantir que Riddle não se afastasse de vez quando perdesse o corpo. Se tivesse a chance, não lutaria contra a ideia do corpo de magia. Por isso, mesmo com toda a tentação, voltou para um tema seguro:
- Se te serve para algo mais importante, Riddle, entendi o que queria me passar, mas não exatamente o onde quer chegar. Me parecem casos muito diferentes.
- Diferentes como?
- Você tem razão... Doeu muito mais ser dispensado agora que sei o que perco quando que falho - brincou - Mas principalmente, ser usado para algo pequeno assim ainda é frustrante. Me senti enganado...
- Você sabia que eu provavelmente estava tentando te enganar, não é? - questionou.
- Sim. Quando você começou com isso, imediatamente pensei em qual era a pegadinha. Só não achei que iria tão longe.
- Irrelevante, já fiz coisas piores com pessoas para conseguir algo - dispensou.
- O que eu preciso te oferecer para chegar a esse ponto mesmo?
- Por enquanto não há nada que quero de você que não consiga conquistar com palavras.
- Por enquanto? Quer dizer que tenho chance?
- Mesmo sabendo que estava sendo enganado... - continuou Tom ignorando os últimos comentários. Lakroff segurou o risinho sobre o fato de que o outro não negou. - Você se deixou levar.
- Correto.
- É assim sempre - disse firme e sério, fazendo até o loiro perder o tom de brincadeira de antes. - Com todas as pessoas, Grindelwald. Mesmo sabendo que estamos sendo enganadas, nossa mente tende a acreditar. É preciso muito discernimento para separar uma coisa da outra. Se você lê palavras escritas de forma incorreta, mas sabe que estão erradas, então tudo certo. Só que, se continua lendo textos assim, onde uma ou outra palavra estão erradas, mesmo que saiba que aquele texto não é de um autor confiável, se mantém o costume, as palavras erradas vão sendo registradas em sua mente e quando você vai escrever... vai se confundir. Vai esquecer qual é o certo, porque ela já gravou de ambas as formas por tempo demais. Mas isso é só a ponta do iceberg. Quando Harrison está assistindo um filme de terror, eu sei não só que é falso, mas ainda estou seguro atrás dele, mesmo assim quando um barulho alto surge ou uma daquelas coisas aparece na tela, eu me preocupo por milésimos de segundos com o pico de adrenalina dele. Antes que ambas nossas mentes se lembrem que é falso e não devemos nos assustar. É literalmente como os filmes de terror funcionam, na base do assustar com o irreal criando uma sensação agradável de alívio ao fim de cada injeção de adrenalina. Então, se eu e você começamos a namorar...
- Gostei de como isso soa - levou um tapa.
- Podemos estar juntos, podemos nos beijar ou sei lá mais o que...
- Eu...
- Se me interromper de novo, eu desisto!
- Desculpe.
- Poderíamos fazer isso acontecer, mas você sabe quem eu sou. Sabe que sou um manipulador arrogante e que não me importaria em mentir, te usar ou usar meu próprio corpo para conseguir o que quero. Que você nada mais é que um meio para seja lá o que me interessa bem mais que... um relacionamento! Já fiz isso. Você não vai cair na coisa... Mas se eu minto.... muda. Se eu apenas omito não me importar com você, minhas ações não são provas o bastante, você sabe bem lá no fundo, sente, entende que tem algo errado e que deve ser cauteloso comigo. Estou te manipulando sempre que vou para a cama com você? Sim. Mas se todo dia você acorda sozinho... A decepção é toda sua, eu não alimentei suas ilusões, não há a traição. Você construiu e caiu do próprio prédio, não fiz promessas vazias. Quando eu mostrar o que eu sou, vai ficar bravo mais consigo mesmo, que comigo e esse é o ponto. Voldemort dificilmente deixava as pessoas bravas com ele diretamente, mas justamente com elas mesmas por acreditar em coisas que nunca prometi, mas te deixei acreditar. Nunca Voldemort prometeu mais do que iria cumprir.
- Você prome... - então pigarreou. - Eu ia fazer um comentário implicante. Parei. Continue.
Tom suspirou.
- Faz.
- O comentário?
- É. Pode fazer.
- Você prometia beijos para os seus comensais? Não é a toa que tinha tantos, eu também...
Tom cerrou os olhos e suspirou:
- Era isso?
- Nunca disse que seria o melhor dos meus comentários, eu o segurei, não foi?
- Só para os especiais.
- Como?
- Só prometia beijos para os especiais.
Lakroff riu, não esperava aquela resposta e não escondeu como olhou diretamente para a boca do moreno e tocou levemente sua cintura.
- Mesmo? Acho que quero subir para especial...
- Se conseguir se concentrar no que estou dizendo, não se distrair com outros assuntos e nem fazer comentários impertinentes e aleatórios apenas para me provocar, até o fim, prometo que te beijo de novo.
- Isso é verdade ou é outra mentira calculada?
Tom sorriu e inclinou a cabeça para o lado:
- Você só descobre no fim, não é? Quer testar ou vai perder a chance pequena que tem?
Lakroff fez um movimento com a mão fechando a boca, como se trancasse uma porta e Tom negou com a cabeça.
- Quando você sugeriu que eu conhecesse Black e Lupin... era uma coisa - continuou Marvolo. - Você quer que o Harrisson tenha essa rede grande para se apoiar, mas foi diferente quando ele pediu. Não era simplesmente querer minha companhia, ele queria mostrar um pouco do que era de verdade para aqueles dois e ver como reagiriam.
- E você faz parte dele - Tom estreitou os olhos. - Não foi um comentário impertinente! - o loiro se defendeu.
- Essa passa. Mas sim... ter a mim na sua cabeça faz parte do Harrison... Eu não ia contar para o casalsinho que eu era o próprio Voldemort, mas eu tentei ser o mais sincero que podia.
- Por causa de Harrison?
- Não totalmente. É porque eu sou assim. Claro, eu mudo alguns aspectos da minha realidade e da minha forma de agir para conquistar as pessoas em busca de algo, só que eu não queria nada deles.
- E o medo de morrer?
- Hazz nunca deixaria que eles me machucassem. Nunca. Nem você, aparentemente - debochou, ao que Lakroff lhe puxou a mão e levou aos lábios mais uma vez.
- Eu gosto de cuidar de jardins, cara vinha.
- Isso inclui como provocação...
Lakroff abriu a boca, primeiro surpreso, depois frustrado e começou a balbuciar. Ele parecia tão chateado consigo mesmo que algo dentro de Tom se sentiu.... estranho. Com um simples olhar, calou o loiro:
- Última chance.
- Obrigada! Milorde - sussurrou a última pausa com uma pequena reverência e um sorriso.
Tom segurou um arfar, mas não conteve os olhos arregalados.
Lakroff interpretou que era a surpresa por ter sido cortês, já que não era sua cara.
Ele interpretou errado. Era uma reação mais sobre a forma como o corpo de Marvolo reagiu ao ser chamado daquela forma por Lakroff.
Estranho, já fora chamado tanto de Milorde, então porque agora lhe pareceu tão... satisfatório?
- Mentiras! - disse para voltar a mente ao tema, Mitrica se concentrou em ouvir em silêncio. - Quando não tem um motivo por trás eu nunca minto. Não sobre mim mesmo... não da forma como as pessoas esperam.
- Me perdi, professor.
- Não se preocupe, vai entender. Você se lembra quando nos conhecemos? Quando falamos a primeira vez?
- Sim.
- Você podia me matar, então a lógica é que eu fingiria ser diferente do que sou e, obviamente, diria bem menos coisas do que penso. Realmente te insultei pouco em comparação com hoje. Me fiz parecer menos com alguém que você devia exterminar, antes que influenciasse mais seu neto. Mesmo assim: você julga que estou diferente?
- Não... - murmurou após pensar um pouco.
Ele nem poderia dizer a diferença, na verdade, além do fato óbvio que seu interesse em Tom quando ele estava possuindo Harry era zero.
- Exato. Veja bem, mesmo quando há um motivo, eu detesto ser qualquer coisa do que o que me agrada ser. Mesmo nos meus piores momentos, havia um pouco de mim lá, porque eu não suporto deixar que as pessoas me mudem. Mandarem em quem ou como devo ser. Só eu mando em mim. Não suportava ser igual aquelas pestes do orfanato, queria ser diferente e sempre que me deparava com dificuldades... queria ser mais! Essa é minha válvula de escape para toda a merda que as pessoas são capazes de jogar em mim. Ser único e autêntico comigo mesmo. Lutar pelo que me agrada e pouco importa a opinião alheia, a menos que sejam necessários. Sentir que não podem derrubar, nunca em essência, que ninguém tem poder para me curvar é o que me deixava feliz! O que eu nasci para ser sempre vai estar lá! Todos no mundo não passam de desafio a mais que a vida me deu para provar que sou capaz de alcansar o mundo. De ser o que quiser! Minha ambição é a mim mesmo, sempre. Isso inclui ser alguém que todos terão que engolir!
"Cada um, será apenas uma prova de que fui mais capaz do que estava no meu caminho. Essa luta e orgulho que todos odeiam em mim, era justamente o que me fazia conseguir ignorar a maldade alheia. Me rebaixar para me tornar algo que não sou, só para tirar algo de alguém... nem sempre é suficientemente compensador. Quase nunca e desde que me tornei adulto... realmente nunca. Eu prefiro tirar a força, fazer do meu jeito. Poderia parar de usar magia quando era criança, aprendi a controla-la cedo, mas eu não queria parar com ela apenas para me odiarem menos. É parte de mim e vou exibir com orgulho assim como todo o resto de que gosto em mim! Que odiassem, eu seria diferente e a diferença seria minha coroa! Em Hogwarts, eu podia ser o capacho de algum herdeiro, como a maioria dos nascidos entre trouxas na Sonserina, para que ele me protegesse, entrar numa corte boa e ser alguém eventualmente se ajudasse o príncipe.
- Mas você queria ser o príncipe - disse Lakroff muito interessado naquilo tudo.
Ele estava entendendo melhor Tom Riddle... e só gostava mais a cada instante. Isso não era perturbador?
- Antes mesmo de saber quem eu era, quis mostrar ser melhor, quis passar por cima de todos, mesmo que isso gerasse o ódio no começo. Mesmo que eu tivesse apanhado muito. Eu conquistei cada uma daquelas pessoas sendo quem eu era. Os professores eu posso ter conquistado com omissões, uma farsa de sorrisos pensados, mas nunca deixei de ser Tom Riddle, não em essência. A verdade estava lá, sempre esteve em cada resposta dada às perguntas, na forma como me sentava, onde e o que fazia. Meus colegas, meus professores, ninguém se sentiu enganado com Voldemort, porque eles não estavam alimentados por uma mentira, nunca me conheceram de verdade e sabiam disso porque eu não dava esse espaço. Criaram a própria imagem que desejaram e quando ela se mostrou falha... A culpa foi deles, não minha. Nunca disse diretamente para pensarem diferente... Mesmo quando foi para conseguir informações sobre as Horcruxes, eu falei que achei um livro na biblioteca e estava curioso, academicamente falando, se as palavras que usei poderiam dar a entender menos interesse do que realente tinha, foi omissão e manipulação de situação, nunca disse que era uma pessoa honrada ou que desprezava assassinato. Isso foi Slogrron, meu professor de poções, que interpretou, no meio das entrelinhas e das minhas atitudes mais brandas. A culpa foi dele de acreditar que eu não faria. Tanto que nunca me denunciou, sabia? Ele se culpa bem mais do que a mim, porque não menti que não faria. Tecnicamente qualquer outra pessoa poderia ter percebido, ou evitado me contar só pro garantia, mas ele não. Ele, sozinho, confiou em mim quando nunca nem tentei mentir sobre a coisa.
- Qualquer outra pessoa poderia ter percebido? - questionou inclinando a cabeça.
- Ninguém poderia - riu Tom com desprezo. - Eu sei como enganar, ele só era o mais fácil, mas o ponto é apenas que faço isso sem mentir descaradamente. Tudo que alcancei, os seguidores fanáticos que consegui, foram com minhas palavras e minha verdade, tendo orgulho das minhas ações até me deixarem insano, mas... era verdadeiro. Isso os mantinha. Porque sabiam no que estavam se metendo desde o começo, não havia a surpresa depois. Quando algo acontecia nunca poderiam me culpar, apenas a si mesmos por assumir coisas que eu não disse. Eles não tinham medo quando eu dizia "não vou te matar" porque devia ser verdade, mas tremiam ao perceber que eu não disse nada sobre tortura ou mandar outro matar - sorriu.
Parecia divertido com aquilo e Lakroff, igualmente, achou engraçado.
Eles eram uns perturbados...
- Confiança. Eu lhes dava isso. Minha palavra é lei e podiam confiar nisso, mas sou astuto e ardiloso, então não podem assumir que se fizerem algo que me desagrade darei um jeito. Sirius e Remus me conheceram hoje. Eu. Tom Marvolo Riddle, mesmo que com um nome diferente. Conheceram como ajo, penso, as decisões erradas que já tomei. Eles sabem que eu estive do "lado errado" da guerra, não confiam em mim, nem deviam e sabem disso. Entendem que devem tomar cuidado e avaliar o que sai de mim. Confiam mais no julgamento de Harrison, do que na minha pessoa. Não pretendo agir diferente disso. Fingir que não conheceço os pais de Sirius e os odiava por serem uns insuportáveis, agir como se não estivesse com Harrison a maior parte do tempo e não soubesse exatamente como ele pensa, até agir como se eu e você tivéssemos passado anos convivendo e, por isso, eu deveria suportá-lo mais. Não. Prefiro viver a minha vida como ela é. Sempre serei autentico comigo, porque... Quem ou o que é tão digno da minha atenção que eu mudaria tudo em mim para conseguir em mãos?
- Harrison?
Tom sorriu, depois riu e Lakroff se deliciou com o som, que realmente era maravilhoso ao sair com sinceridade e a leveza de agora.
- Resposta correta. Dez pontos para a haus feuer - murmurou o sonserino.
- Quem disse que eu era da Haus Feuer?
- Primeiramente você é o chefe da casa, seu estúpido, mas supondo que até isso seja uma mentira sua. Wasser? "A Haus Wasser é a acolhedora dos inteligentes e sentimentais, sendo muitas vezes sensíveis e confusos" - recitou. - Sua cara.
- Haus Feuer mesmo - suspirou. - Wasser eu diria que é minha segunda.
- Um sonserino lufano, que combinação instável e imprevisível... - Tom comentou para o vento, Lakroff riu - Mas acho que você iria para a corvinal.
- Mesmo? Por quê?
- Sua loucura combina com a deles. Talvez na infância você poderia acabar na Sonserina, mas o chapéu tem um jeito interessante de ver o que nem existe ainda em nós, mas pode vir a se desenvolver. Você é curioso, gosta de aprender, é criativo e avoado, aproveita as coisas pequenas e está disposto a fazer de tudo. Sua ambição de antes... ela é quase inexistente agora. Você só quer curtir qualquer experiência que a vida lhe trouxer e proteger seu neto. Um corvino lufano.
- E acha que o chapéu iria tão longe para me ver nesse ponto? Eu tive que passar por muita coisa para mudar tanto.
- Acredite, ele é bom.
- Quanto tempo você levou para ser selecionado?
- Dois segundos? - sorriu orgulhoso e Lakroff tornou a rir.
- É claro. Destinado a ser o rei da sonserina. A propósito, você que começou com esse tema, não perdi o beijo ainda! - acrescentou apressadamente tirando um sorriso convencido do outro.
- Claro.... Enfim, Harrison foi capaz de me mudar, sim. Mas porque eu quis. Passei essa experiência tirando o que podia dela. Não é uma mentira, eu apenas... evoluí. Isso é normal, como acabamos de ver, pessoas crescem e mudam.
- Você está dizendo que o que você fez com Sirius e Remus foi mais sincero? Mas...
- Qual a grande diferença entre Voldemort e os demais comensais? Quando souberem a verdade entenderão que há duas ou três coisas que terão de repensar, um nome, minha posição na guerra e... minha real ligação com Harrison. Nenhuma das três coisas poderia ser dita sem que tentassem ou quisessem me matar.
- E você acha que eu poderia contar a verdade sem o mesmo resultado?
- É diferente.
- Onde?
- Eu não passei nenhuma impressão diferente do que sou...
- A mim também. Eu agi como quero e gosto de agir.
- Não. Porque você mentiu em muita coisa. Você finge ser um velhinho simpático, bondoso incapaz de machucar uma mosca.
- Não é bem por aí... - coçou a nuca.
- Lakroff, você mentiu sobre sua idade, sobre ter participado da guerra, sobre suas experiências, sua criação, até Garden entrou na mentira. Eu te conheço de verdade, Grindelwald. É um monstro - o sorriso que se seguiu mostrava os dentes perfeitos do moreno. - Do pior tipo, assim como eu. Você já foi um racista gigantesco com trouxas, pouco importa o que seu pai te ensinou, você escolheu matar e os torturar mesmo tendo uma regra clara sobre tirar vida sem necessidade, mas isso não incluía animais. Trouxas eram animais para você e há uma fileira de pessoas te esperando no inferno, assim como a mim. Seu pai nunca te forçou a fazer isso, nem na maneira como te afetou ao cria-lo, você foi longe demais sozinho. Só porque Garden se casou com um bichinho, ou porque Petúnia também e teve sua própria cria de animal, ou porque alguns outros ajudaram Harrison. Qualquer coisa emocional ridícula que tenha te feito adotar dois trouxas entre seus filhos, você sentia desprezo por eles. Os achava inferiores ao seu filho biológico e até a menina adotiva porque eram trouxas, pura e simplesmente. Você chamou o tipo de inimigos para Harrison antes de colocar uma magia em si mesmo para se impedir de dizer coisas assim e fingiu bem que nunca os diferenciou, mas eu sei a verdade. Sempre me perguntei se para você... aqueles dois não foram como levar para casa dois simples cachorrinhos. Então, eventualmente, passou a gostar deles de verdade e mudar de opinião. Achá-los gente. Seus próprios filhos...
- Eu não...! - começou indignado, mas Tom o calou colocando a mão em seu peito com firmeza:
- Não quero saber a resposta! Não agora. Não fora do corpo do Harry, porque não vou acreditar. Porque pode ser mentira. É assim que você funciona. Você mente tanto que começa até a acreditar no que diz, mas eu não vou cair nessa. Harrison não se importa porque sempre sabe quando você mente. Vê a mentira na alma das pessoas, sabe quando, como e porque você está mentindo. Pode brincar a vontade com essa sua historinha falsa, porque nunca o magoará, ele entende cada motivação por trás de suas máscaras. Principalmente, ele aceita entrar no jogo, cada lorota, cada data falsa, cada evento que nunca aconteceu. Essa onda de mentiras com apenas uma ou outra verdade ali no meio. Você não é faz isso apenas por fazer, mas porque acredita que tem um bom motivo. Proteger Harrison. Não voltar para a cadeia. Não ser morto por quem irritou na guerra. Não decepcionar Lilian. Mesmo quando Hazz está de óculos, já te conhece o bastante e você nunca mentiu para ele, só omitiu, então vocês vivem assim.
- E você acha que Sirius e Remus não vão entender meus motivos para fazer tudo isso?
- Você não consegue entender como as pessoas funcionam nesse sentido. É bom em manipular e entender o jogo, mas quando se trata de sentimentos, falha e agora eu entendo melhor o porquê. Eu repito: Você obviamente não interage bem nem com os seus, os ignora. Principalmente a mágoa. Nunca fala do seu pai, finge que falar dele não te atinge, até realmente não atingir mais e esse é só um dos exemplos. Você não entende a dor, a mágoa, que causará neles.
- Magoa pelo que? Estão me conhecendo de verdade, como sou agora. O que fui no passado não devia importar mais que isso. Que diferença faz uma certidão de nascimento?
- Quer saber? Seu nascimento, sua idade, isso já muda muito porque interfere nas suas experiências e isso forja uma pessoa. Quem são seus pais, com quem você foi criado, seus amigos, onde estudou, onde morou, que tipo de coisas passou... Você criou a imagem de um órfão que, assim como eu ou Harrison, teve que se virar no mundo bruxo, que não sabia lidar com ele, não o conhecia e podia até se ver como um anormal. Isso é falso! Você era um lorde, é totalmente diferente da luta que eu e Hazz tivemos que passar e faz diferença sim! Você entende como é ser chamado de monstro e aberração, mas não pelos mesmos motivos. Entende que o que estão construindo sobre você está pautado em algo que literalmente vão ter que jogar fora depois?!
- Mas e você?
- Eles vão ter que jogar um nome! Igual quando pararam de chamar Harrison de Harry. Não faz diferença se todo o resto que construí, é real. Ainda é o mesmo prédio, com um nome novo. Talvez uma logo atualizada! A mesma... A mesma cafeteria, mas mudou de Slytherin para Harris. Grande coisa - revirou os olhos. - Você é um prédio inteiro de mentiras! Eles acham que estão subindo em uma direção ou até em um restaurante, mas quando entram estão numa biblioteca que foi enfeitiçada do lado de fora para enganá-los e fazer entrar! É isso que você fez com eles. Criou uma bela faixada que atrairia as pessoas e eu entendo você fazer isso por Harrison, entendo que tenha dito para os guardas de Nurmengard, para o pessoal na Durmstrang, você precisou mentir. Criar uma identidade falsa porque o você, de verdade, simplesmente não servia. Não havia outra opção ou escolha, se não cria alguém que podia ter uma vida e adotar algumas crianças. Uma história nova que as pessoas engolissem. Nunca mais poderia ter uma vida com a verdade. Também precisou dessa fachada de bom velhinho para que não suspeitassem...
- Lembrando que ainda estou muito bem conservado, obrigada.
Não era mentira, dificilmente alguém daria uma idade maior que quarenta para Lakroff, alguns poderiam chutar uns trinta, se não fosse pelos cabelos brancos e a atitude usual, mas não era... dispensável, até que era...
- Perdeu o beijo - disse Tom no ato.
O Mitrica abriu a boca e pareceu capaz de se acertar um soco.
- Que merda! - reclamou alto, muito decepcionado.
- Chore em silêncio, sim? Agora, você precisava que te aceitassem, então sim, era preciso todas as mentiras. Entendo e acho que os mais próximos também vão. Não irão se virar contra você por causa disso. Mas... vai doer.
- Mesmo que eles entendam meus motivos? Não faz sentido.
- Faz. Porque você vai matar Lakroff Mitrica.
- O que?!
- A pessoa que você criou para eles, quando você contar a verdade, vai mata-la. Isso será frustrante para alguns. Tudo que eles sabiam vai colidir com a figura que suas mentiras influenciaram, terão a sensação de começar do zero depois de terem sido totalmente enganados e... até usados. Como escudos firmes que te protegem da verdade de seu passado. Cúmplices de um crime, entende?
- Mas você...
- Harrison nunca teve mentiras para te construir, quando ele descobriu a verdade no Gringotts e depois dali, a decepção foi consigo mesmo de ter interpretado as pistas errado. Eles não são assim. As mentiras podem ser perdoadas pelos motivos que as fizeram necessárias, mas a decepção que alguns dos seus conhecidos, não só Sirius ou Remus, vão sentir ao saber que praticamente tudo que sabem sobre você não é real... é totalmente diferente. Harrison criou uma imagem em meio a verdades pela metade, mas ele podia terminar de juntar os pontos sozinhos, porque era algo palpável. "Lakroff Mitrica"... a única grande verdade em você é seu amor incondicional por Harrison? A cada dia as pessoas vão se apegar a você e então... tudo vai ruir. Já aconteceu antes, você sabe... e perdeu pessoas, que te deram as costas quando perceberam as mentiras.
- É diferente de antes.
- Como?
- Sirius, Remus, os professores na Durmstrang, todos sabem que eu simplesmente não posso me arriscar ainda com ninguém! Sem conhece-los primeiro, não posso contar sem colocar a segurança de Harrison em jogo, minha prioridade sempre foi ele e essa você mesmo disse que é a grande verdade que todos tem.
- Quando é que você conhecerá o suficiente para contar? - questionou calando o outro que recuou. - Daqui alguns meses? Anos? Décadas? Até que descubram sozinhos? Ah é... eles não vão. A minha história, podem juntar os pontos e descobrir. Podem escolher fingir que não, se enganar, continuar como está, me enfrentar, gritar comigo ou o que seja. Você simplesmente não existe sem essas mentiras como uma pessoa completa. Vão ter que refazer do zero, ou de outra base que nunca cogitaram. Não há como descobrir qualquer coisa naturalmente, além de que há buracos por toda parte, é preciso... ouvir uma conversa escondido ou te tirar uma informação a força. Sentir o baque de perceber que, não, você não contou para eles quem é, será duro. Dito isso... tenho certeza que os sarnentos vão te perdoar. Eu não perdoaria.
- Como é?
- Numa situação hipotética em que você não tivesse decidido contar toda a verdade para Harrison, assim como foi. Se tivesse mentido sua identidade, se escolhesse usar toda essa história de gêmeo do Garden com ele e Hazz não pudesse ver que você mente.... Se eu e ele tivéssemos te conhecido, nos apegado, confiado em Lakroff Mitrica e eu descobrisse a verdade quando você julgasse que Hazz podia ouvir.... Harrison ia te perdoar, eu ia te matar.
- Me matar?
- Estávamos do seu lado - disse firme, sombrio. - Harrison confiou, mesmo que sob um voto perpétuo, em você para ser ele mesmo e tentar ter uma vida. Se quebrasse a confiança dele e nos enganasse na cara de pau assim, julgasse digno de decidir por nós quando devemos ou não saber quem é a pessoa que estamos depositando nossa segurança.... eu ia odiá-lo e o mataria. E talvez seja meu orgulho falando mais alto, sim. Talvez a lealdade Grifinória os faça rir e dizer que você é o mesmo Lakroff de sempre, mas eu ficaria tão bravo em saber que tudo é falso! É muito diferente de não saber! Eu poderia gostar de você sendo um homem de mentira! Um garotinho rejeitado em um orfanato como eu, mas que não existe, praticamente nada além da personalidade e do presente... Está tudo bem, omissão é uma coisa, o que eu construí sobre você ainda é uma base real. Mas ser alimentado com mentiras que me fazem ver uma pessoa que você matará com a verdade... Eu ia odiá-lo e o mataria no ato.
Lakroff inspirou fundo e se recostou na parede, baixando a cabeça. Tom se afastou, dando espaço para o mesmo, que parecia...
Estar se contendo.
Os dois ficaram em um longo silêncio antes do loiro enfim tornar a falar:
- A verdade só afastou as pessoas a minha vida toda - e aquilo saiu com um dor tão marcada que parecia palpável.
- Não é você que sempre diz para o Harrison que, só porque o passado o derrubou de um prédio, não deveria temer subir em novos e apreciar a vista?
- Todos que um dia eu amei... - murmurou de olhos fechados, até seu rosto estava apontado em outra direção que não Tom. - Todos, sem exceção, me abandonaram quando eu era sincero. Quando mostrava do que era capaz, o que via ou... Todos tinham medo de mim. A verdade é feia, é um monstro com multe olhos e com gritos de vítimas de massacres nos ouvidos. Ninguém gosta daquilo. Elas gostam do Lakroff que construí...
- Daquele que perfura o próprio cérebro para tentar parecer com os outros? Do que se auto mutila, baixa a cabeça e e se força a se encaixar no mundo, não importa o quanto esteja se machucando para isso?
- Você entende como é difícil para mim?! - gritou, de repente abrindo os olhos e ajustando a coluna, totalmente em pé.
Pareceu tão diferente. Como em um feitiço, dava a impressão de estar mais alto, seus olhos mais escuros, sua postura... mais ameaçadora. Seus músculos pareceram maiores do que quando ficavam escondidos e contidos por vestes e sorrisos simpáticos, parecia alguém capaz de matar... e destruir suas vítimas da forma mais cruel. Seu olhar estava firme e suas pupilas dilatadas enquanto cerrava os punhos. Marvolo não recuou...
Porque aquele era o verdadeiro, finalmente.
- Meu pai, até minha mãe, as pessoas com que me relacionei a vida toda, se eu não estivesse sorrindo e dizendo o que elas aguentariam ouvir, sempre recuavam ou me viravam as costas! Ninguém gostou da verdade e todos nessa merda de mundo usam máscaras, a minha será a porra de uma parede inteira se precisar! - continuou gritando. Riddle apenas piscou com o movimento brusco que o outro fez com o braço, como se socasse o ar. Se aquele soco acertasse alguém... - Uso a fantasia completa de palhaço ou o que for! Estou me lixando para os sensíveis sentimentos dos outros, os meus foram pisados até ficarem duros e isso me fez forte! Vou usar o que tiver, fodam-se aqueles que se sentirão traídos! No fim, os mesmo que dizem que estou errado em mentir, sempre são aqueles que só gostam da farsa ridícula que tenho que interpretar! Continuam me achando um louco ou fugindo quando me apego e tento ser normal! O meu normal! Que nunca é aceito! A dor dessa merda na minha cabeça nunca vai ser maior que ver o medo nos olhos dos meus amigos, seu julgamento, suas varinhas apontadas para mim ou a porra de uma grade de cela sendo fechada para mim de novo! Eu uso a minha máscara, porque sem ela não tem quem suporte olhar diretamente para minha cara!
- Errado. Menos dez pontos para a Haus Feuer - murmurou a Horcrux cruzando os braços com um sorrisinho vitorioso.
- Que merda você acha que está errado?! - perguntou dando um passo na direção de Tom. Qualquer um teria ficado com medo.
Mas é aí que está.
Aquele homem nunca assustou Tom. Ao invés disso...
- Não são todos que não suportam olhar. Há quem goste.
- GOSTE?! - ralhou, tremendo de frustração. Levou as mãos para o cabelo e bagunçou, criando aquele topete que o fazia tão parecido com o próprio Gellert Grindelwald. - Você não acabou de dizer que não me conhece? - perguntou entre dentes, sombrio. Um monstro enjaulado. - Como acha que pode dizer se isso é verdade ou não? Como pode dizer que tem alguém que goste da aberração que...?!
- Harrison - e o simples nome pareceu desmontar a postura agressiva que tinha atingido o Grindelwald. Lakroff murchou no lugar e piscou. - Seu neto olhou diretamente para você e sua alma, simplesmente toda a verdade que as vezes nem você conhece bem. Sua tentativa de agradar, "ser normal", se rebaixar para o que as pessoas querem de você caiu por terra com o dom dele. Ele viu cada parte, cada falha, cada verdade por trás de sua fachada e escolheu ficar porque gostou de você. Foi uma escolha - então se aproximou do loiro e calmamente colocou a mão em seu rosto. - Lembra-se? "Bem vindo ao clube dos monstros, Harry. Você vai odiar".
Lakroff não soube o que responder direito. Sua mente, como sempre, começou a martelar e viajar pelos piores cenários. Sem que entendesse o que saia pela boca, já estava murmurando:
- Eu era a melhor opção dele na hora.
- Ele não recuou nem por um instante, Grindelwald. Ele mostrou que podia ser pior que você, se quisesse, não recuou nem comigo quando era um bebê. No dia que matei seus pais, ficou lá, piscando aqueles olhinhos verdes para os meus como se fossem super interessantes. Não chorou, não teve medo. Você pode se lamentar à vontade pelo passado, mas o presente é o seguinte: Harrison sabe o que você e o que já foi capaz e ainda é de fazer. Mesmo assim não se afastou. Seus filhos, eu garanto, também sabem a verdade mesmo que não lhes tenha mostrado tudo. Eles não se afastariam. Mesmo que dissesse odiar o fato de serem trouxas, eles provavelmente diriam "também odiamos, quem escolheria não ter magia? Credo, já viu o preço da gasolina?".
Lakroff riu baixinho e seus olhos pareceram levemente marejados, Tom sorriu acariciando a região da bochecha com seu polegar.
- O mais velho provavelmente ainda faria uma dezena de comentários sombrios e perturbadores sobre as mortes que presenciou durante a vida e que, ver o futuro e massacres como você, seria para um preço baixo e irrelevante. Algo que poderia usar na bolsa de valores ainda por cima.
- Ele provavelmente faria mesmo... - murmurou com carinho. - Eu amo meus filhos, do jeito que são.
- Tudo bem - suspirou. - Vou acreditar em você dessa vez - Lakroff sorriu, inclinando-se na direção da carícia, mas Tom tirou a mão naquele momento. - E eu nunca disse que não te conhecia. Disse que os outros não o fazem. Sei exatamente quem você é e do que é capaz - então se aproximou, naquela distância confortável em que, se fossem duas pessoas reais, poderiam sentir o calor um do outro. - Sua verdade nunca me assustou.
- Você é insano.
- Nossas loucuras são parecidas - Dispensou com um inclinar de cabeça que passava muito a impressão de um dar de ombros (mas não indecoroso como seria para um lorde sacudir os ombros).
O Mitrica pensou que, mesmo que fosse o lorde ali e Tom o órfão, não teve pai, mãe ou familiar que o tornou tão perfeito quanto Marvolo era para o papel.
- Também são loucuras muito diferentes - comentou.
- Eu sou um egoísta, orgulhoso que quer estar acima do mundo, colocá-lo beijando meus pés. Você quer salvar o mundo da forma mais louca. Somos totalmente opostos.
- Loucos capazes de qualquer coisa pelos objetivos, se motivados.
- Suas dezenas de olhos nunca me assustaram, nem quando gritam morte, Grindelwald - o encarou com intensidade para encerrar - Acho que fica mais interessante quando brilha desse jeito.
- Está dizendo que sou interessante?
- Estou dizendo que eu nunca me rebaixaria ao que está fazendo, quando tenta se encaixar nos padrões do mundo. Está estragando o que tem de incrível em você. Eu crio padrões novos - sorriu.
Lakroff continuou com a impressão de que Riddle acabara de dizer que ele, de verdade, era incrível... mas preferiu não criar ilusões, depois de tudo que tinham conversado.
- Você tem uma auto confiança invejável.
- Não se preocupe, você mente bem sobre a sua. Ninguém sabe bem como é ferrada no fundo.
O loiro sorriu, mas depois suspirou e pareceu se encolher no lugar:
- O que acha que devo fazer então?
- Eu não sei. Sobre os sarnentos?
- Sim.
- Avalie bem a situação, talvez deixe Harrison decidir, eles não ficarão bravos com você se descobrirem que só não contou nada porque Harry mandou ficar quieto, mas não acho que agora seja a hora para sair falando verdades de toda forma. Deixe como está. Como disse, são bem capazes de perdoar, espere até termos mais certeza se estão conosco totalmente. A maioria que realmente seria perigoso sentir-se enganada... esses já estão jurados mesmo.
- Falando nisso, o que acha que Dumbledore foi fazer em Nurmengard?
Tom fez uma careta bem marcada e se afastou na hora:
- Não sei e nem quero saber - e realmente irritado com o assunto.
Lakroff decidiu trocar de assunto imediatamente, porque a mudança abrupta e o ódio que emanava do outro não era algo que queria lidar.
A simples menção à Albus irritava tanto o outro? Que estranho...
- Que tal os cigarros e voltar para o casal?
- Claro. Me transfigure alguns.
- Você já fumou, a propósito?
- Apenas para experimentar, nada além de testar algumas situações da vida, mas obviamente não passei de um. Não sou idiota de enfiar câncer em fumaça no pulmão e ainda pagar por isso!
O Mitrica riu.
- Imagino que um corpo de magia não será afetado, não é?
- A propósito, você vai parar de beber.
- O que?! Por quê?!
- Se beber demais pode não ver que não está com magia o suficiente e eu me arrisco. Nada de bebida.
- Mas Sirius nos chamou para um jogo de bebida!
- Não.
- Só um pouco...
- Não - e deu as costas, virando-se para o corredor.
- Tommy! - insistiu Lakroff.
- Ou concorda em não beber ou me deixa ir embora.
- Mas eu ainda tenho bastante magia...
- Menos da metade.
- Mas ia ser divertido!
- Não - disse firme, saindo da zona do feitiço silenciador e indo para as escadas.
- Mas, Tommy, não quer tentar descobrir uns podres interessantes...? - insistia Lakroff às suas costas.
O feitiço de aviso de Lakroff, no quarto onde Harrison dormia, interessantemente não apitou alguns instantes depois, quando o quarto foi perdendo o calor, assim como se uma rajada intangível de vento invernal soprasse por ele.
Tão silencioso quanto veio, Harrison suspirou dando um primeiro espasmo noturno...
"Harry estava andando de um lado para o outro em uma casa que não conhecia, mas parecia conhecer. Era estranho. Até a sua altura não se encaixava mais, como se estivesse vendo o mundo de um ângulo que não conhecia.
Pelos olhos de alguém que não era ele.
Um corpo que não era seu.
Quem ele era? Porque parecia ansioso? Talvez triste? Seja lá o que fosse, estava tentando esconder as próprias emoções.
Não sentir.
Não se deixar levar.
Uma barragem rachada, mas que se segurava como podia. O que sairia dela?
Foi quando se sentiu ainda mais estranho, o mundo pareceu girar e ele tremeu ao ponto de precisar se agarrar à parede.
Pânico. Essa emoção ele entendeu.
Neville?
Não. Não era Neville em perigo, mas era alguém que ele se importava tanto quanto.
Ou era algo?
Talvez fosse um objeto...
Alguém estava tentando roubar-lhe algo que queria proteger.
Sim...
Algo que Harry considerava seu. Roubá-lo...
Destruí-lo.
Uma coisa que considerava seu estava em perigo!
Teve essa certeza e junto dela as emoções giraram mais ainda em direções e sons confusos.
Queriam tocar e machucar o que era seu, isso que era importante! Ele não deixaria! Protegeria. Sim, fosse o que fosse. Por isso andava tão cauteloso, não queria perder mais...
Tinha acabado de perder algo igualmente importante, não é? Quase a mesma emoção, sem dúvida. Havia sido tirado dele uma parte daquilo que dava tanto valor e estava diante de uma possível segunda perda?
Ou seria a terceira?
Não estava entendendo quase nada, eram poucas certezas, sua visão estava turva e nem os óculos pareciam resolver. Ele retirou um relógio de bolso e, sinceramente, mal podia identificar os ponteiros ou o que estava ali, mas tudo bem. Conhecia o objeto.
Ou deveria conhecer.
Seus instintos diziam que sim. Então também o guiaram para entender aquele objeto incomum e encantado, mesmo com a visão turva e o pânico.
E os ponteiros caídos...
Mas... haviam dois ponteiros. Quer dizer que deviam ter mais? Que relógio era aquele? Magia... não era para mostrar as horas. Cinco ponteiros originalmente? Agora só dois...
Era isso?
Esqueça!
Harrison decidiu parar de pensar nesses detalhes, apenas focou nas emoções e no que lhe indicavam.
Um dos ponteiros encantados estava apontando para baixo. Um rumo que já sabia (e temia) o significado:
'Perigo estremo'.
- Me leve até ele! - pediu para o relógio, mas quando a magia tentou aparatá-lo, foi impedida e teve a sensação de como tivesse sido cuspido.
Tudo borrou dezenas de veze mais, o lugar claro, de corredor branco e tapetes vermelhos foi substituído por outra casa, tão majestosa quanto, mas escura e meio decrépita. As duas imagens se misturavam, giraram, colidiram e se separaram diante de seus olhos.
Ele estava no meio termo de uma aparatação? Não entendia, mas Harry sempre entendia tudo.
Só não tinha mais certeza disso...
"Apenas preste atenção!"
Ele não se sentia mais como alguém capaz de entender o mundo. Nem como se fosse uma única pessoa naquele instante.
Sua garganta doeu quando gritou de raiva e mais de uma voz saiu, sem dúvidas. Sentia a cicatriz coçar, ao mesmo tempo que não.
- Me leve! - pediu de novo, furioso, mas não funcionou.
Então Harry teve a impressão de algo tocar em sua cabeça, a cicatriz parou de coçar, e apenas a casa branca estava na sua frente de novo. Dela, correu para fora, em disparada olhando envolta desesperado, tentando pensar no que fazer.
A ideia lhe veio.
Tinha que funcionar. Precisava proteger aquilo.
O que era aquilo?
Era importante como sua vida, como... sim... Neville era uma comparação boa, ficou tão ansioso e preocupado como se fosse o amigo em perigo. E irritado.
Furioso!
Dor na cicatriz. Sumiu rápido, como se nem estivesse lá. Vem e vai.
Se algo acontecesse com 'aquilo' ele mataria o ladrão, isso que importava. Faria disso uma missão pessoal. Harry sempre se vingava.
Aparatou. O som do mar cobriu seus ouvidos, agitado tanto quanto suas emoções.
Harry conhecia aquela praia! Mas o que queria ali?
Olhou para a caverna..."
-x-x-x-
[N/A: Trecho de Harry Potter e a Ordem da fênix, capítulo 21 - O Olho da Cobra. Harry sonha que é Nagini porque é capaz de acessar a mente de Voldemort e, consequentemente, também das partes de sua alma em outro ser vivo. Ele não nota que deixou de ser Harry Potter durante sonhos assim, ele se vê como Nagini ou Voldemort toda vez e sente o que eles sentem. Se tornam a mesma coisa. Achei útil explicar para quem não leu os livros].
.
Olá.
Gostaram do capítulo de quase 30k de palavras?
Demorou, mas vim com um monstro!!!
A propósito, desculpem por qualquer comentário que eu não tenha respondido, a propósito, mas o Wattpad não mostra mais todos para mim então estou com mais dificuldades. Se quiserem me dizer algo, usem as mensagens diretas que eu adoro conversas com vocês e alguns são muito fofos nas mensagem de apoio.
Enfim.
Agora sobre o próximo capítulo:
Ele será o último nesse arco, prometo, ok? Sei que tem gente que já cansou e reclamou comigo kkkkk mas é porque tive esse problema de não conseguir ser objetiva e estar já na parte três de algo que eu queria originalmente fazer apenas um capítulo e era necessário desenvolver essas coisas para entenderem as motivações no futuro da fic. Então desculpa para quem não suporta mais esse arco e calma, que ta no fim.
Já sobre o bônus, fica para depois da parte quatro (isso se eu conseguir escrever ele), então voltaremos para Hogwarts.
O que eu quis dizer com conseguir escrever?
Como disse, essa semana eu voltei a ter crises psicológicas e sendo bem sincera talvez eu não consiga fazer um cap hot porque já é algo que não estou acostumada (de tudo que já escrevi na vida, só teve uma cena assim), além de que eu me cobraria muito por ser algo novo e eu perfeccionista, então se eu ver que não estou conseguindo (exatamente por não estar com cabeça para isso) não vou me forçar. Deixo para um momento melhor, com a cabeça no lugar.
No fim, acho que vocês preferem um capítulo normal, do que capítulo nenhum porque estou tendo crises por algo que não me agrada.
Em suma: até a próxima! Porque estou para desmaiar de sono. Cérebro já ta parando de funcionar.
PS 2: Para quem continua aqui, queria conversar sobre algo totalmente aleatório, mas como vocês imaginam o Lakroff? No tiktok eu falei sobre o passado dele, mas aqui quero falar da aparência mesmo.
Porque assim, para quem não lembra, a primeira vez que vemos o personagem a descrição é essa:
"Alto, cabelos loiros como ouro que perdiam a cor conforme chegavam as pontas até se tornarem brancos, cortados um pouco a baixo das orelhas, uma trança totalmente branca se prendia ao lado da cabeça, um sorriso de lábios rosados e dentes brancos alinhados com perfeição combinava com os olhos azuis piscina chamativos, um nariz redondinho e empinado e mesmo com toda a delicadeza dos traços, um queixo largo acompanhava músculos firmes evidenciados pelas roupas".
Ele também é descrito como alguém que não parece ter mais de quarenta anos e, dependendo da roupa, você não daria mais que trinta e poucos. Tudo depende da atitude que ele está mostrando. Com o Dumbledore, por exemplo, ele é brincalhão e descontraído, porque quer parecer com o Gellert e incomodar, então também parece mais jovem, com o Sirius e o Remus ele é aquele avô do Hazz. Eu uso o Mads Mikkelsen nas edits porque, como disse a vocês, ele tem a caracterização para o Gellert que encaixa na caracterização do Lakroff. Isso é, escolha de roupas, atitude, forma de falar. Mas o Lakroff em si é um velho conservado no formol, igual o Tom. Já até usei um gif assim, mas ele é padrão Brad Pitt (na minha cabeça). Mas é claro, sempre estão livres para imaginar como quiser kkkk
Já meu namorado imagina ele como um personagem da séria Vikings chamado Ivar, desde que falei da trança, o olho azul e cara de inofensivo sendo que não é. Achei o fancast dele muito bom. Pesquisem depois.
Boa noite!
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