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Capítulo 33 - Aqueles que deixam e os que lutam por mudanças

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Votem, votem!!

Que fique claro. O capítulo está grande, mas tem muitas cenas, então vocês voltarão a ver o Rogério (perceberam que ele estava sumido a uns três capítulos, por aí?) e poderão parar no meio se quiserem ou precisarem. 

Não se assustem com o tamanho, sim? 

Vocês sabem como funciona. Podem considerar as divisões como capítulos e sabem que é semanal, então tecnicamente vocês tem a semana para dividir ele e consumir.

Enfim, espero muito que gostem...

PS: Apenas porque estou no clima para essa música, vocês terão que me aguentar com uns trechinhos. 

PS2: Se tiverem erros causados pelo soninho na hora de revisar, já sabem né? Comentem onde o virem que eu arrumo, obrigada <3

PS3: Se está gostando dessa fanfic e do trabalho dessa autora, saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited, além de que o prólogo está disponível nesse perfil para quem quiser descobrir do que se trata. Vá lá e dê uma olhada para descobrir se te interessa, vai ajudar muito!

No capítulo anterior...

- Também sei que meu pai tem parte da culpa no cartório, ele maltratou por anos o homem. Todos foram pessoas péssimas juntos, não estou julgando a decisão que um bando de adolescentes fez para a vida e as amarguras que carregaram. O fato é que o homem não me cheira mal, nem bem... [...] não cheira muito, para nenhum dos lados.

"E ele tem uma jura comigo" acrescentou mentalmente, uma vez que tinha notado a ligação da alma do professor de poções consigo e rido muito internamente, pensando como podia tirar vantagem disso.

- Como você sabe todas essas coisas? – questionou Remus com uma expressão perspicaz.

Harrison, porém, deu de ombros (afinal, ele era um Grindelwald, isso deveria bastar).

Tom, entretanto, sabia que Remus não entendia a extensão disso. Uma ideia lhe veio, resolveria o problema se soubesse como usá-la. E se Harrison era um Grindelwald, Tom era Voldemort, ele saberia exatamente como lidar com mais um lobisomem, um racional ainda por cima.

[...]

- Acho que ele merecia ser torturado por não pedir por sua vida para a cabra velha... - comentou Tom olhando suas unhas novamente e Lakroff riu de como os outros reagiram, novamente, aos comentários daquela horcrux.

- Mesmo, é? Qual seria o sentido dele fazer isso?

- Sei lá? Ter um caráter um pouco menos duvidoso? Ele estava pouco se importando que a família da mulher morresse.

- Você está pedindo caráter de um comensal e numa guerra, ainda por cima? Onde todos perdiam entes queridos constantemente? Ele entendia de lealdade, ele foi leal a amiga, não espere bondade de alguém que apoiava a matança de pessoas iguais a essa mesma mulher. Pior ainda: você está falando de caráter depois desse comentário?

- Eu nunca disse que prestava, ele jurou diante de um parlamento que sim.

- Mas também não sabemos se ele não pediu por mim para Alvos vários nomes...

- Duvido muito.

Sirius também, mas Harrison tinha alguns pontos ali para justificar a atitude do ranhoso e o animago estava vendo que não era uma pessoa tão desprezível assim, então...

Mas como Thomas sabia disso? Ele falava como se conhecesse Severo, mas não estudou com eles.

- Dito isso, Alvos não aceitaria que um comensal, um que era um tipo espião - continuou Harry olhando para o padrinho. - Como aliado seu assim fácil, ele não é tolo, é um guerreiro grifinório querendo ou não. Acredito que pode ter feito Snape jurar de alguma forma antes de aceitar que realmente trocou de lado.

- Você acha que ele está jurado a Dumbledore?

- Não a Dumbledore. [...] Talvez só a algo. Um objetivo em comum a qual poderia ser leal. Se você pudesse descobrir seria bom. Quanto mais detalhes, melhor. Não posso libertar Severo e correr o risco dele se tornar um problema. Mas... de toda forma, acho que nem posso fazer algo em relação a ele...

- Por quê?

- Severo é um herdeiro Prince, mas ele jurou a si mesmo. Ele, Severo Snape, jurou a lorde Voldemort. Pessoa com pessoa.

- Como você sabe?

- Bem...

- Você não tem como ter certeza, não é? Se eu pudesse descobrir com ele que jura foi feita, você ainda poderia liberá-lo?

- Se a jura dele fosse familiar, mas não é o caso.

- Como você tem certeza?

- Eu o vi jurando – disse Tom.

Todos o encararam.

- O que?

- Severo Snape jurou como qualquer homem sem posses. [...] Se sua preocupação é dele próximo de Harrison, o melhor é descobrir a nova jura dele e se isso protege Hazz ou não.

- Como assim você o viu jurando? - questionou sério.

- Eu estava lá.

- Mas...

- Eu era um comensal da morte – e virou a cabeça para olhar diretamente para Remus Lupin quando disse.

-x-x-x-

"Esse é o evangelho para os caídos

Trancados em um sono permanente

Reunidos em suas filosofias

A partir dos pedaços de memórias fragmentadas..."

Capítulo 33 – Aqueles que deixam e os que lutam por mudanças

"Mais de um guerreiro da luz estava notando os problemas de seu lado,

Interessante como no meio disso havia um prodígio das trevas sussurrando para que todos pensassem com mais calma sobre suas cresças".

Marvolo já teve uma varinha apontada para sua jugular antes.

Se parasse para pensar, sem dúvidas uma das vezes em que isso aconteceu foi com um Orion Black a segurando. Este apenas tinha Sirius antecedendo.

Essa família...

- Me dê um bom motivo para não o amaldiçoar? – perguntou o animago.

Macabramente calmo.

Marvolo se lembrou das vezes em que assistira as memórias dos comensais que conseguiam fugir do "cachorro louco dos Black". Eram mais comuns do que os que fugiam do "black James", mas vejam só, apenas por serem mais comuns, não queria dizer que era melhor estar sendo ameaçado por esse.

Aquele tom de voz de Sirius era raro, mas geralmente vinha acompanhado de uma imperdoável. Alvos, o tão justo, deixava suas crianças serem treinadas pelos aurores da ordem e, estes, estavam liberados a usar as três maldições. Por que um grupo de jovens adultos também não poderiam, não é?

O atual lorde Black, era ótimo com elas. Quase tão forte quanto o irmão de consideração mostrava-se capaz, mas vejam só, estaria comparando o padrinho com aquele que gerou o próprio Hazz, seria uma luta injusta.

- Eu preciso? – perguntou Tom indiferente à madeira contra sua pele. – Algo que eu diria mudaria a situação? Ao invés de uma defesa, aqui vai uma pergunta: você está fazendo isso por Harrison e o perigo que posso representar a ele, ou vingança por algo que eu posso ou não ter feito na guerra?

Marvolo não morreria mesmo, esse corpo sequer era real. Enquanto Sirius não quebrasse as Horcruxes, estaria a salvo e Harrison jamais deixaria o sarnento mata-lo. Não poderia se importar menos com a situação, na verdade.

- Eu não esperava essa – comentou Lakroff bem atento e cauteloso a tudo.

- Não foi você que quis me apresentar a família de Harry? Nada mais justo que eles saibam tudo, não é? Quanto antes jogarmos álcool na ferida, menos chances de infeccionar depois.

- Que jeito trouxa e repentino que você escolheu para cuidar do machucado – Tom se surpreendeu ao perceber que Grindelwald, bem discretamente, tinha sua varinha a postos, já em cima da mesa.

Apontada para Remus.

Que tinha se levantado e olhava para Tom junto do namorado. O mais impressionante é que o Riddle nem vira o quase albino se mexer. Um duelista assustador, sem dúvidas.

Fez uma careta de deboche para o mesmo.

- Você está bem tranquilo, não acha? – questionou Sirius, apertando mais a varinha contra si. – Acredita que eu não faria? Não te atacaria e mostraria a todos o que tem por dentro de um maldito comensal podre?

- Você faria, sei bem disso, já o vi lutando antes, Lorde Black. Já o vi matando meus colegas.

- Então lembra-se que nunca fui de hesitar em fazer com vocês o que merecem! – gritou.

- Mas você já está hesitando.

- Você...

- Pads – chamou Remus, cautelosamente.

- Sirius – chamou Harry, seus olhos brilhavam verdes. Mortais. – Você pretende atacar Tom?

- Você é um comensal? – perguntou o animago.

- Pensei ter sido claro sobre isso – debochou Tom e Harry agora o encarou mortalmente.

- E decidiu nos contar...

- Porque, por algum motivo vindo direto de seus lados emotivos, esses dois do outro lado da mesa acham que eu faço parte da família e vocês também. Aceitei ficar porque Harrison me pediu, mas seu querido consorte já estava suspeitando de mim, estou enganado?

- Não... – comentou Remus.

Ele também já estava com sua varinha, mas não apontava para ninguém.

"De certo ele precisa" pensou irônico. Lobisomens eram muito rápidos, seus reflexos impressionantes. 

Fenrir Greyback explicou a Voldemort certa vez que tinham a capacidade de sentir o aumento de adrenalina no corpo, e todo duelista que já viu em uma situação real de batalha tinha essa reação antes de atacar. O sangue sendo bombeado com velocidade para o braço dominante. Eles sabiam antes que seu corpo terminasse o movimento de onde (mais ou menos) viria. Então tinham a velocidade para ajudar a reagir mais rápido.

Ele comentou que Voldemort escondia muito bem a coisa. Era difícil lê-lo. Tom o torturou um pouco depois por ousar dizer que conseguiria fazer, mesmo com dificuldade.

Perguntou (quando o lobisomem parou de gritar) se ele tinha previsto aquele movimento e o louco ainda achou a brincadeira divertida. Apesar de também ter ficado irritado, mas o que ele faria contra o lorde das trevas sozinho, não é? Teve que engolir o orgulho lupino e sua inferioridade na situação.

- Eu poderia mentir para vocês ou simplesmente esconder...

- Mas por que não fez? Preferiu nos contar? – questionou Remus.

- Deixe-me lhes contar como funciona a corte, agora que acabaram de entrar: Harrison não nos vê como armas, mas nós sim. Somos as armas de sua alteza e faremos o que for preciso por ele. É uma escolha que tomamos por nossa própria vontade. Eu sou útil porque sei sobre Voldemort, cada aspecto possível na minha posição, sei sobre o outro lado e posso dizer os limites que seria racional chegar para tentar manipulá-lo. Se querem ajudar Harrison com seus planos, terão que se acostumar comigo e teriam que saber uma hora ou outra.

- E por que agora? – insistiu o lobisomem.

- Por que esse adolescente, muito forte mas convencido, se botou em um risco muito grande. Mesmo que eu duvide que o lorde das trevas tem qualquer chance contra, prefiro não arriscar a integridade dele e temos algumas horas para convencê-lo a seguir um plano realmente útil dado por Black. Eu poderia esperar para falar sozinho com Hazz ou fazê-lo na frente de todos e correr o risco de dar muitas dicas óbvias, mas minha prioridade é a vida dele, não a... – Ele parou, então tossiu para disfarçar o momento de hesitação. – Minha... – encerrou rápido.

De todos os sinais aquele foi o final para Tom Riddle. 

Precisou de todas as suas forças para não demonstrar nada, continuar com o rosto limpo, seus instintos de autopreservação impedindo que as horcruxes simplesmente falhassem como na última vez. Não podia contar a verdade para aquela dupla, mas...

As menos duas partes dele agora queriam desesperadamente fugir, de uma realidade que não sabiam lidar com. Então ainda teve evitar o olhar de Harrison e bloquear seus pensamentos, para que o mesmo não notasse.

Mas, já que estava feito, a vinha (Scar ou Tom) desistiu de lutar. Fosse o que fosse, todos os escudos que ainda mantinha se foram e Marvolo, como um todo, pode ter suas memórias. Cada uma delas.

Mas ele não tinha tempo para entender tudo, mais importante era o presente. Onde Sirius continuava, aparentemente furioso:

- E você quer que eu simplesmente acredite nisso? Um merdinha que matava pessoas inocentes por serem "menos puras" ...

- Você também matava e fica óbvio que esse não era meu motivo, seria muita hipocrisia, não acha? A guerra nunca se resumiu a isso, diferente do que o seu líder ou mesmo seu governo e mídia idiotas queriam que acreditassem para tornar mais fácil fazer de vocês ferramentas cegas...

- Você não parece ter entendido bem o risco aqui! – rosnou, interrompendo Tom e sua magia vibrou um pouco, o suficiente para Harry se levantar, Remus olhou do menino para o homem ameaçado, mas não disse nada. – Você é útil por nos dar informações do outro lado? Então não passa de um espião. Quanto tempo permanecerá com Harry depois que Voldemort voltar e oferecer o mundo àquele que entregar o menino que o está atrapalhando? Muito útil para você, não é? Manter o garoto que mais o atrapalha confiando em você! Mesmo que estivesse do nosso lado, então eu volto ao ponto: espiões nunca mudam! Se traem seus senhores, que certeza temos de que não nos trairá também? Se traem uma vez, trairão outras mil para proteger a si mesmos! Um maldito rato! Acha que vou deixar outro desses perto de Harry? Prefiro cortar suas gargantas e ver se o sangue de vocês é tão podre quanto parece!

- Sirius, por favor, se acalme – Lakroff pediu apetando sua varinha instintivamente.

- É o que você pensa? É o que você vai fazer agora? – questionou Marvolo.

- Acabar com o mal pela raiz parece válido...

- Sirius... – Harrison sussurrou, a sua voz já atingindo aquele tom sombrio de infinito macabro. – Abaixe essa varinha – mas o padrinho não pareceu se abater com a ordem.

Remus, por outro lado, sentiu todos os seus músculos se contraírem e ele teve que conter o impulso de choramingar e se esconder.

Igualmente quis recuar quando o próprio Lakroff, que quase nunca mudava de cheiro, pareceu ameaçador além da conta. Viu, pelo canto dos olhos, a varinha de cor escura dele brilhar na ponta, pronta para soltar um feitiço, seja qual fosse.

- Você não vai reagir? – perguntava Sirius para Thomas. – Vai aceitar que eu o ataque simplesmente?

- Você vai atacar? – retrucou virando a cabeça bem lentamente, só o suficiente para seus olhos se encontrarem.

A cor azul das íris de Siris Black havia escurecido, pareciam quase cinza e aquilo seria fascinante se não fosse uma ameaça.

O animago continuou encarando o homem por mais um tempo, um silêncio pesado e denso pairava na cozinha, então olhou para Remus. O lobisomem avaliou Harrison, depois Lakroff e então acenou para o namorado que...

Sorriu.

Sorriu e guardou a varinha.

Harrison fez uma careta confusa para aquilo.

O Mitrica mais velho continuou na exata posição, Remus sentia que estava tenso e desconfiado.

- Não, não vou te atacar. Desculpe se te assustei.

- Apesar de eu não achar que foi o caso – descartou o Lupin, sorrindo enquanto coçava o braço. – Seu cheiro não mudou nem um pouco.

"Diferente dos outros" acrescentou mentalmente.

- Confiei que pensariam duas vezes antes de amaldiçoar o homem que Harrison convidou. Também sou bom para esconder emoções de lobisomens, pelo que me disseram – dispensou coçando a garganta onde, sem dúvidas, haveria uma marca se fosse um corpo real.

- Conheceu alguns na última? – questionou Lupin casualmente.

- Sim.

- Greyback?

- Se ele não fosse útil, teria ficado feliz em arrancar a mandíbula do idiota - reclamou Marvolo.

- Temos uma coisa em comum, ao menos.

- Que merda foi isso? – Harrison perguntou cruzando os braços irritado, a forma casual que os três estavam conversando agora estava muito estranha e abrupta.

A tensão de antes tinha se dissipado tão rápido que parecia nunca ter existido.

- Eu tinha que testar, não é? – comentou Sirius ainda sorrindo.

- Testar o que exatamente? – questionou com uma sobrancelha levantada. – Vocês só ameaçaram Tom e... - ele parou. Olhou de um para o outro e foi como se uma luz se acendesse em sua cabeça. Fechou as pálpebras e esfregou a têmpora. - Vocês estavam testando a mim e a Lakroff... – concluiu.

- Desculpe... – pediu Remus, ao menos parecendo educadamente envergonhado.

- Em nossa defesa, seu amigo aqui nos assustou falando assim do nada, só precisávamos de uma certeza - Sirius parecia estar achando todo o evento divertido.

- Vocês queriam saber como eu reagiria se ameaçassem Tom – continuou Harry. – Estavam testando o quanto eu me importo com a integridade dele...

- Durante toda a noite – almofadinhas cruzou os braços. – Ficou claro algumas coisas, você parece gostar bastante desse homem e, sem dúvidas, ele te conhece até melhor que seu avô em alguns momentos. Você não gosta de usar as pessoas e não se importa de parecer vulnerável para ele, mas se é de um comensal da morte que estamos falando, e sendo você esperto como é, poderia sim estar fingindo quase que o tempo todo. Você disse que não vai contar seus planos ainda, e que se quisermos temos que fazer por conta... Bem, queríamos saber qual a utilidade do seu comensal. Arma ou família?

- O cheiro era nossa melhor chance... Você parecia pronto para matar Pads se ele tentasse ir mais longe – comentou o lobisomem. – Vocês dois... – acrescentou encarando Lakroff, que já tinha guardado a varinha.

Por um segundo Remus pensou em porque Harrison não pegara a própria. Ele não se julgaria mais rápido que o avô, que a empunhava em uma precisão cirúrgica, não é? Parecia improvável que fosse essa a explicação.

Ele se esqueceu? Igualmente estranho. 

Só... não achava que precisava?

Fazia mais sentido. Lembrando-se agora de tudo que o menino era capaz mais jovem... Ele precisava de varinha para alguma coisa?

- Estava preocupado comigo, Grindelwald? – provocou Tom.

- Claro que sim! Sem você, quem teria uma paixonite secreta e mal disfarçada por mim, para aumentar meu ego?

- Você não pode ser tão iludido... – reclamou enquanto o loiro apenas lhe sorria.

- E então? – perguntou Hazz. – Vocês viram que...

- Não vamos atacar alguém que você se importe tanto, Harrison. Mesmo que já parecesse bem óbvio, Pads só queria ter certeza de que, se queria estar bem com você, ele precisaria ignorar suas próprias inseguranças a um comensal da morte ou se tínhamos que ficar de olho nele como um espião qualquer.

- Vocês vão aceitar Tom só porque eu ficaria bravo se fosse diferente então? Por que eu me importo com ele?

- Bem... – os dois se olharam e responderam juntos: - Sim.

- Desculpe, mas isso parece estranho...

- A alguns dias atrás você nos deu uma chance – esclareceu o animago. – Ia nos deixar aproximar de você, mas foi bem claro com uma coisa: sua família.

- "Eu sou um Mitrica" – Recitou o lobisomem, lembrando-se da noite da reunião. – "Eu sempre fui, mas também escolhi ser. Sou um Grindelwald, por mais que todos me olhariam estranho por isso, vocês viram que... nem tudo é como parece".

- Você deixou claro que seria você mesmo, o tempo todo, jamais mudaria quem é por ninguém e nem precisava de nós, cabia a mim e Moony gostar do que vimos e continuar ao seu lado. Isso incluía suas companhia.

- "Eu tenho minha família, estou feliz com ela e a amo acima de qualquer preconceito idiota a como nós somos" – encerrou Lupin. – Tanto você quanto Lakroff nos apresentaram Thomas Harris como parte da família, não é? Só queríamos garantir de que era exatamente este o caso para podermos...

- Esquecer. Nos fingir de sonsos. Ignorar – concluiu o Black. – Prometemos que aceitaríamos sua família. Seja quem for.

- Mesmo um comensal da morte? – questionou Tom.

- Harris – o animago sorriu. Aquele sorriso estranho e sádico que só um Black parecia fazer tão bem. Um insano que te fazia se sentir desconfortável perante ele, como se estivesse conversando com um animal ensandecido enjaulado em corpo de lorde. – O próprio Gellert Grindelwald poderia estar aqui e nós perguntaríamos como ele queria que o ajudássemos.

Harry arregalou os olhos e evitou encarar Lakroff, Lupin era alguém muito atento, não podia vacilar e dar dicas, mas queria saber como o avô reagiu àquilo e o que estaria pensando. Se admitiria a verdade sobre a "prisão" de Gellert e talvez até acabasse com essa parte da farsa.

Enquanto a dupla pensava sobre isso, Tom se focou em outra parte:

- É diferente. Vocês viram que os pontos de Gellert eram mais válidos, só que estavam na última guerra contra Voldemort, eram odiosos a matança e sabem que seus ideais muitas vezes passavam dos nobres. Como ele aceitava posicionamentos excludentes e dava mais valor para grupos específicos, aceitava no seu exército pessoas que acreditavam em mudanças negativas apenas para ganhar mais força para uma causa cada dia mais escondida por trás da...

- Você ainda não entendeu – interrompeu Sirius. – Eu posso ter colocado uma varinha no pescoço de um idiota, que ainda tem a chance de ter ferrado comigo na última, mas isso foi apenas por satisfação pessoal. Se Harrison disse para aceita-lo... nós faremos, comensal ou o que for. O menino poderia ser um maldito lorde das trevas e nós nos curvaríamos. Nunca foi uma brincadeira admitir isso. Não é uma questão de simplesmente apoiá-lo, é que nós perdoaríamos qualquer coisa ou qualquer um. Principalmente, faríamos qualquer coisa.

Remus concordou com um sorriso e um aceno.

O lobisomem, na verdade, estava bastante aliviado. Seus instintos estiveram em surto antes, mas agora tinha um motivo para justificar a coisa de uma vez por todas, foi como encaixar uma peça vital no quebra-cabeça e ver a figura completa. A forma como o homem chamava Voldemort, tudo que Harry parecia saber sobre coisas do passado que nem ele ou Lakroff deveriam ter acesso, ou até porque parecia tão incerto em ficar ali no começo da noite.

Ele, de certo, não era o primeiro a querer se sentar numa mesa com dois antigos inimigos de batalha.

- Bem... – comentou Harry, tornando a se sentar. – Fico feliz que vocês entenderam. A maioria não acredita na mudança das pessoas...

- Estávamos falando hoje mesmo sobre alguns não terem escolha na guerra...

- Não foi o caso aqui, vocês sabem, não é? – questionou o menino.

- Imagino que você, assim como disse sobre Severo, jurou por si mesmo como pessoa? – perguntou Sirius à Thomas que apenas acenou com a cabeça. – O morcego, no fim, mudou e foi para o lado de Dumbledore. Nada nos impede de pensar o mesmo de outro. É mais difícil para a pessoa, mas é possível ir contra a jura.

- Você também estava discutindo como ajudar Harrison contra "seu lorde" – lembrou Remus. – Sim, poderia ser um plano para enganar nosso afilhado e dá-lo de bandeja à Voldemort, mas isso só nos daria mais motivos para não o atacar.

- Como é? – a horcrux franziu o cenho.

- Mantenha seus amigos próximos, seus inimigos mais próximos ainda. – Sirius murmurou. - Ficaremos de olho, mas vamos te dar o benefício da dúvida, por Harrison.

- Se somos parte da corte, se somos Ministros, e é nossa escolha – continuou Remus, encarando diretamente Tom. – Então escolhemos ser armas dele se precisar. Com você perto podemos ter certeza dos seus passos em relação a ele. Se tiver uma falha, uma dica de que é uma ameaça real, se acreditarmos que de alguma forma foi capaz de enganar Harrison ou Lakroff, eu te abro ao meio.

- E eu derreto seus órgãos com você ainda vivo – concluiu o animago.

Tom teve certeza de uma coisa naquele instante: Bellatrix Lestrange não era o único Black cuja as ameaças você iria preferir evitar.

Aquele olhar insano, não era de alguém que dizia coisas vazias. Nem que as faria apenas para cumprir com a palavra. Era de alguém que o faria para se divertir com o idiota que ousou lhe dar uma oportunidade e um motivo.

-x-x-x-

Quando o ranger dos dentes

E as línguas criminosas conspiram contra as probabilidades

Mas eles não viram o melhor de nós ainda

Se você me ama, deixe-me ir..."

-x-x-x-

- Um dia. Um único dia e eu já sinto que vou matar alguém – reclamou Krum se jogando na mesa da Sonserina, bem diferente de seus modos mais calmos e contidos habituais.

- O que aconteceu? – perguntou Pucey para o búlgaro.

- O que não aconteceu?! – ralhou pegando um pão e enfiando na boca. – Eu juro, se a princesa não tivesse me mandado não socar o idiota, ele estaria em coma na merda da enfermaria da Durmstrang nesse momento! – encerrou socando a mesa, com tanta força que tremeu.

Uma mesa de metros de madeira maciça. Tremendo. Aquilo era impressionante o suficiente para todos na mesa olharem na sua direção.

- Mas o que...

Antes que pudessem terminar a frase, entretanto, Ivan Tshkows e Axek Miller entraram no salão e pareciam tão apressados que alguns grifinórios e sonserinos pelo corredor praticamente pularam no banco para desviar da dupla de meios-irmãos.

- Eu estava errado, redondamente enganado! – disse o russo no mesmo instante que apareceu.

- Boa noite – cumprimentou Axek, lembrando-se dos seus modos, mas parecia tão elétrico quanto o irmão enquanto acenava para a mesa como um todo. – Eu quem devia dizer isso! – ralhou empurrando o moreno para ficar de frente para Krum. – Você bateu no idiota?

- O que?

- A pessoa que a senhorita Lovegood avisou que você ia querer bater. Ela mandou não fazer, você obedeceu? – perguntou firme o alemão.

- Sim, obedeci. Mas por que...?

- É oficial! Ela manda, a gente obedece! – afirmou Ivan com convicção. – Princesa – debochou. – Claro, eu achei apropriado, considerando quem era o tutor e a família de sua alteza, mas estava enganado.

- Redondamente enganado – reclamou Axek concordando– Eu não devia ter duvidado, foi quase uma afronta à sabedoria de sua alteza. Ele deixou sua mão cuidando de nós e abençoada seja ela!

- Sua mão? – questionou Montague.

- A mão do rei! – disseram Ivan e Axek juntos.

- Mão do rei?

- Ou do príncipe, mas sejam sinceros, sua alteza só é "príncipe" porque não quis arrancar a coroa de seja lá qual idiota ousar dizer que está com ela - reclamou Ivan.

- Esse sequer é o ponto. A senhoria Lovegood é a mão do rei, ou nossa Chanceler, isso deve ser levado como verdade - continuou o loiro.

- Oficialmente a voz de Harrison nessa escola, nesse país e na sua ausência – explicou Ivan com forte convicção. – Ali está ela! – se iluminou quando viu a loira saltitando na direção do grupo.

Todos, que ainda estavam curiosos com o que raios estava acontecendo, se viraram para ver a corvina. Os longos cabelos loiros cacheados balançando conforme se movimentava até parar em frente aos seus novos amigos e sorrir.

- Boa noite cobras, dragões, Ivan, Pansy - e sorriu diretamente para a Chanel na última.

- Eu espero, pelo bem de mim e da senhorita Parkinson, que o fato de termos sido mencionado a parte seja boa coisa – o russo comentou e internamente Pansy concordava.

- Boa noite Luny - cumprimentou a sonserina.

- Vocês parecem animados, aconteceu alguma coisa? – continuou a loira.

Axek estendeu sua mão para a garota e ela, inclinando a cabeça para o lado divertida, ofereceu a sua.

Pansy arfou e Theo riu da reação da amiga, quando Miller deu um beijo nas costas da palma de Luna, murmurando em seguida, os olhos brilhando de admiração:

- Muitíssimo obrigada, senhorita Lovegood.

- Vossa Excelência – Ivan curvou-se atrás, também olhando diretamente para as orbes azuis da menina que sorriu abertamente.

O som de sua risada pareciam sinos delicados, como uma ninfa da natureza.

- Vocês conseguiram evitar alguns problemas?

- Alguns? – indignou-se Ivan tomando um lugar. Nott foi mais ao lado para garantir espaço para ele e Luna, pois sabia que Pansy logo ia empurrá-lo se não o fizesse. – Eu evitei uma catástrofe! - continuou o russo. - Credo, eu sou o secretário dos esportes e tive que dar quinze detenções! Quinze! Sem contar que distribui pontos negativos igual um fazendeiro jogando milho para galinhas! E só não matei um ainda porque vou esperar sua alteza comer aqueles idiotas vivos ele mesmo!

- O que aconteceu?! Como assim você deu detenções?! – surpreendeu-se Heinz.

- Eu posso te fazer uma lista de decisões idiotas que nossos colegas tomaram hoje. De certo eles acharam que por sua alteza e o Mitrica não estarem presentes a coisa não seria tão complicada. Se a senhorita Lovegood não tivesse me dito para não sair do barco a tarde toda, não sei, acho que ele teria afundado. Eu devo ter apartado umas sete brigas só nas últimas duas horas e... 

De repente ele se levantou, acertando ambas as mãos na mesa com tanta força que um barulho estrondoso se seguiu, o bastante para vencer o ataque anterior de Viktor Krum e até mesmo chamando atenção de outras mesas pelo salão, então apontou para a mesa atrás deles, da lufa-lufa e gritou a plenos pulmões,  sua expressão de fúria tão marcada que alguns recuaram. Não acostumados a ver um rosto tão sério no brincalhão Tshkows:

 - Setenta pontos da Haus Land, Wourt! Volta para a mesa da Grifinória antes que eu te de uma detenção por seja lá que merda você decidiu colocar nesse maldito copo! Faz isso antes que eu mesmo o force a beber pelo buraco de baixo onde, de certo, também saem suas ideias recheadas de merda!

Axek, enquanto o irmão distribuía a bronca, usou um accio silencioso para atrair a taça e o alvo da gritaria se caminhou de cabeça baixa, muito assustado e receoso, na direção de um Yorlov Jaminka de braços cruzados enraivecido, que havia se levantado quando sua casa foi mencionada. O Miller cheirou o conteúdo e massageou a têmpora.

- Só uma poção para deixar o cabelo azul. Eu imagino – murmurou. – Heinz, bebe.

- Tá louco? - Questionou o monitor dos Feuer. - E se você estiver errado?!

- Eu já errei?

- Não, mas sou idiota por acaso?

A expressão de Ivan imediatamente foi limpa das emoções anteriores e ele virou a cabeça da exata mesma forma que Axek e sorrindo responderam juntos:

- Talvez?

- Me dê essa coisa – pediu Yorlov e quando o garoto Wourt se aproximou e parou em frente ao grupo, o indiano avisou: - Você tem três opções. Diz o que tem aqui e o porquê você colocou e eu penso se não aviso sua alteza quando ele voltar amanhã. A segunda: eu bebo, descobrimos o que é e se algo acontecer comigo você vai estar tão ferrado, que não vão achar nem o cadáver. Terceira: eu deixo Ivan te fazer engolir com a taça junto e assisto como você ou morre ou chora quando tentar defecar essa coisa daqui algumas semanas. Desembucha!

- Era só uma pegadinha com o meu irmão. É para deixar o cabelo azul, igual o marquês disse. Estávamos brigando hoje mais cedo e o imbecil disse que nós somos gatos verdes de medo e eu queria torna-lo um tubarão azul idiota que é.

- Certo. Isso – Yorlov colocou a taça na mesa e apontou sua varinha para o colega. – Está passando dos limites! Ivan não te deu detenção, mas eu vou e estarei pessoalmente te vigiando! Você acha que eu quero perder esse ano para os dragões de novo

Ninguém o interrompeu para comentar, mas a maioria pensou que, com Harrison Potter na Haus Feuer, nunca seria uma competição de toda forma.

- Vão ficar perdendo pontos para nossa casa assim? - continuava o indiano. - Então eu vou fazê-los trabalhar até os braços caírem para aprenderem a ser menos tolos! Hoje você fica sem jantar, vamos!

- Leva esses dois também! – reclamou Natasha trazendo dois da mesma mesa amarela, onde ficaram a maioria de seus Wasser.

Os alvos da Sidorov choramingavam e imploravam para que ela parasse, pois a monitora dos tubarões e "viscondessa" aparentemente usava um feitiço estava arrastando os colegas pelas orelhas sem qualquer piedade. 

Pelo contrário, ainda queimava a cada movimento contrário ao ordenado por ela e não parecia nem levemente atingida pelos pedidos de desculpa.

- Esses dois oficialmente tem duas horas para trocar todas as tábuas de madeira do salão da biblioteca e colocar novas - disse assim que Yorlov já estava próximo o bastante. - Esse seu pode ajudar, o que acha?

- Concordo plenamente – disse o vice-presidente encarando o trio. - Que tal sem magia?

- Óbvio. E com as mãos, já que as estão usando apenas para gracinhas ridículas e infantis! Se ousarem fazer errado – ameaçou a tailandesa, a voz muito sombria fazendo seus alvos tremerem. – Se tiver uma lasca para fora, lembrem-se que podem machucar uma certa cobra que gosta de passear e se ela decidir comer vocês como punição, nós vamos deixar! – então juntou os dois feitiços que estava usando, fazendo ambos seus colegas baterem com as cabeças um no outro, gemendo de dor em seguida e caindo. – Vamos! – gritou e eles pularam e correram, trombando um no outro para se apressar em obedecer.

- Você também! – mandou Yor para o Land e foi vigiar as detenções.

- O que eles fizeram? – perguntou Ivan para a amiga quando haviam se afastado.

- Cobra? - questionou Nott.

- Eles estavam se atacando por de baixo da mesa! Poderiam ter machucado alguém! – indignou-se, em um tom forçadamente dócil que seus amigos sabiam ser falso, mas que conseguia enganar os outros quando queria. – E sim, herdeiro Nott, um dos alunos da Durmstrang tem uma cobra de estimação. Um doce de familiar, mas ainda um predador. Soube que vocês conseguiram impedir um grupo de explodir um banheiro, a propósito? - questionou os amigos.

Theo ainda queria saber mais, por exemplo quem afinal tinha a cobra, mas conteve sua curiosidade. Não tinha intimidade com a garota asiática.

Uma menina muito bonita e de sorriso simpático que estava na lufa-lufa, mas que, por algum motivo, não se sentia confortável em questionar. Talvez pelo que acabara de fazer? Ou simplesmente por ser a pessoa, entre todos de sua casa, que foi escolhida para estar no conselho estudantil e isso queria dizer algo?

- Bando de idiotas! – Ivan reclamava. – Eu estou pensando seriamente em colocar coleiras em todos e prendê-los no barco até sua alteza voltar. Se afundarem a coisa, estarão dentro, e fica por eles.

- Talvez ajude avisá-los que, agora que sua alteza é oficialmente um adulto e Karkaroff deu autorização a anos para castigos físicos na Durmstrang, talvez ele também receba sinal positivo como presidente do conselho para fazer o mesmo... – comentou Luna para o ar.

A forma como vários alunos do Instituto que estavam próximos simplesmente tremeram, fez Viktor Krum sorrir satisfeito, os outros se contiveram melhor.

- Estou brincando, é claro – continuou a Lovegood, como quem não queria nada. – Eu acho que sua alteza nunca machucaria ninguém, então não há qualquer motivo para medo.

Toda a corte e boa parte dos alunos da Haus Feuer sentados na Sonserina engasgaram ou pararam com o que estavam fazendo para darem risinhos incrédulos.

- Claro, ele...

- Neville está vindo, olhe só – interrompeu a loira e os colegas de Harry se calaram entendendo a dica.

- Boa noite, Longbottom – cumprimentou Natahsa.

Neville evitou tremer. Aquela garota ainda o deixava desconsertado e o fazia se sentir pequeno (nem tanto por ela ser mais alta, era apenas a atitude que exalava).

- Boa noite, senhorita Chicha - ele usou o sobrenome materno dela, pois a prima (Anastassia Sidorov) estava a alguns lugares de distância e Nat já havia dito que gostava do seu segundo nome. 

- Vejo vocês, meninos, senhorita Lovegood.

- Pode me chamar de Luna - ofereceu a loira.

- Então insisto que me chame de Nat. Bom jantar a todos - e foi para sua mesa.

- Longbottom? - chamou Draco. - Está pensando em pedir para o chapéu seletor reconsiderar sua casa? - provocou. - Saiba que não acho que você conseguiria a nossa, de toda forma. Talvez lufa-lufa?

Neville inspirou fundo e considerou responder a doninha com algo que ele merecia ouvir. Talvez mandá-lo para de baixo da saia da mãe  e bem longe de todos que não eram obrigados a conviver com o que os Malfoy deram conta de expelir para o mundo, mas inspirou fundo e ignorou.

Nem mesmo quis reclamar sobre como o tom do loiro dava a entender que estava diminuindo a Lufa-lufa diante da Sonserina, o que ele discordava muito. As cobras só tinham ficado interessantes depois que a Durmstrang apareceu, antes disso seria a última casa em que gostaria de estar próximo.

- Noite – cumprimentou a todos e então se virou para Krum. – Viktor, posso falar com você?

- Claro, sente-se.

- Eu acho melhor ir para outro...

- Neville – Luna chamou, ganhando a atenção do grifinório. – Ivan e Axek podem colocar feitiços de silenciamento muito bons e talvez seja perfeito para o seu caso falar aqui. Não importa o que você diga sobre a fênix para as cobras, nada do que elas responderem chegará perto do que o próprio Harrison lhe diria, a depender das palavras que você usar. Não concorda que seria bom treinar um pouco antes de botar os pés pelas mãos e criar uma briga desnecessária, por alguém que você respeita, mas imagino que não mais do que aprecia sua amizade?

O Longbottom encarou a loira muito surpreso, enquanto ela calmamente tomava um longo gole de suco de abóbora.

- O que aconteceu Neville? – perguntou Viktor cauteloso.

- Se eu fosse você, escutava a Chanceler – sugeriu Ivan.

- Chanceler? Não era princesa? - perguntou Nev.

- Ignore minha falha de julgamento anterior. A mão do rei sabe o que diz, isso que importa. Vai querer os feitiços, sim ou não?

O grifinório hesitou por um tempo, olhou para a mesa dos leões e evitou a dos professores. Por algum motivo, sentia que Dumbledore o observava. 

Depois voltou-se para Luna. Ela já comentava:

- Ele vai ficar magoado se você, depois de tudo que foi dito nesses anos juntos, ignorar e confiar mais em outro julgamento por causa de uma única conversa.

- Mas...

- Mesmo que tenha que esconder algumas coisas aqui, é melhor ver com os próprios olhos o que as palavras da cabra velha podem causar em quem está do outro lado do conto. Não acha?

Agora que o apelido que os sonserinos sempre usavam para se referir ao diretor havia sido citado, eles entenderam melhor a que se referia a conversa e ficaram mais ansiosos e atentos. Isso deixou o Longbottom levemente mais receoso, mas se viu sentando a mesa verde (por sabe se lá qual vez só naquela semana) e baixando a cabeça.

Luna acenou para Ivan, ele e seu irmão discretamente mexera as varinhas por baixo da madeira para cobrir o grupo até onde membros da corte ainda estavam espalhados.

- Pronto – disse Axek.

- Dumbledore quer que eu convença Hazz a sair da Durmstrang e vir para Hogwarts ano que vem – soltou Neville de uma vez.

- COMO É?! – gritaram todos do instituto na área do feitiço.

A indignação em suas vozes criou, estranhamente, um alívio na cabeça do garoto que passara a tarde de sábado inteira remoendo a coisa e se martirizando. Cada frase da conversa sendo repetida.

Cada comparação também.

Algo que ele nunca imaginou, mas que já tinha acontecido antes naquele ano, tornou a acontecer: ele se sentiu melhor estando entre os répteis que com os leões. Afinal, seus colegas logo abominariam a ideia que saiu por seus lábios em seguida:

- Eu acho que ele tentou ler minha mente e possivelmente conseguiu.

- COMO É?! – dessa vez, também as cobras se indignaram, alguns chegaram a ameaçar se levantar

- E seu anel de herdeiro? – questionou Pansy de olhos arregalados.

- Eu não uso! – reclamou desesperado. – Vocês esqueceram quem eu sou? Eu ia acabar sumindo com ele e não venham me dizer que é só ir no Gringotts, minha vó me mataria com a frequência que eu teria que fazer a coisa!

- Um feitiço rastreador então, Longbottom! – exasperou-se Theodore Nott.

- Você não está entendo o ponto aqui! Eu sou um desastre! Como ainda estou vivo é sempre um mistério! O maldito basilisco poderia ter comido quando enfiei aquela espada na boca dele! Sabia que a carcaça de um bicho daqueles impede a maioria das magias?! No fim ia dar no mesmo: eu não ia achar meu anel!

Os sonserinos arregalaram os olhos surpresos. Se havia algo que todos sabiam é que Neville Longbottom nunca mencionava ou respondia qualquer pergunta sobre a câmara secreta. Era quase um tabu digno de um soco de Hermione Granger na cara se passasse da linha, como Malfoy bem havia atestado no ano passado. 

Vê-lo falando abertamente sobre o evento era quase um milagre.

Não só isso....

Ele estava falando, não para seus amigos corajosos que o aplaudiriam pelo assassinato do monstro da Sonserina. Estava com as cobras e a forma como olhou para eles parecendo... perdido...

- Eu preciso de ajuda! - pediu baixinho. - Eu confio nele, Dumbledore. Sei o que pensam dele, mas, para mim é diferente! Ele sempre esteve lá! Mas se eu aprendi alguma coisa sobre oclumência com Harry então... Por que ele leria minha mente?! Por que ele não confiou em mim?! Isso... vocês também não acham que é invasão de privacidade ou eu estou sendo exagerado... – murchou.

- Mas é claro que é invasão de privacidade! – indignou-se Pansy a voz crescendo decibéis que, normalmente incomodariam os colegas de mesa, mas que (naquela hora) acharam bem adequado.

- Isso é crime! – corrigiu Nott. – Onde já se viu! Um diretor olhando a mente de um aluno?!

- Ele está certo – concordou Pucey do outro lado da mesa. – É totalmente contra a lei usar legilimência para conseguir uma informação de um aluno. Se você tiver como provar, pode processá-lo! Félix! – o apanhador chamou pelo monitor da casa, que não estava muito longe e, de certo, estava ouvindo. – Seu pai é advogado, sabe a pena por algo assim?

- Depende muito, mas, sem dúvidas, meu pai faria um estrago. A suprema corte abomina a ideia de um abuso de poder desses – comentou o Rosier tomando a liberdade para levantar de seu lugar e indo até o grupo, sentando ao lado de Adriano. – Você não tem, no currículo da escola, algo que forneça informações o bastante para se proteger de um ataque mental, tem agora, mas por causa da Durmstrang. Isso poderia até ficar a seu favor, como algo que mostra que só depois da informação chegar você notou que poderia estar acontecendo. Dumbledore estaria usando sua experiência e magia para te forçar a algo que não quer, é errado em tantos níveis que... - ele suspirou, a expressão do Longbottom estava bem assustada. - Vejamos aos poucos, sim? Você começou a pensar que ele fez isso por quê?

Neville corou, sentia-se muito nervoso sem Harry ali e depois de ter acusado Dumbledore de algo que nem tinha certeza. Talvez não tivesse sido boa ideia... Abriu a boca para tentar apaziguar as coisas e tentar defender o diretor, mas sentiu a mão de Luna contra a sua. Olhou para a loira que entrelaçou distraidamente seus dedos e apertou:

- Você deve se lembrar que ele continuará fazendo o que fez, causando o mal que causou, se continuar sendo negligente com as coisas quando sua própria opinião julga desnecessário. Dumbledore sempre será assim se ninguém denunciar suas falhas...

O Longbottom sentiu um peso gigantesco no peito, tão grande que quase ficou sem ar.

Se lembrou de Lakroff, anos atrás, conversando com sua avó sobre como os Mitrica queriam tirar o direito do guardião mágico de Harrison, de ser responsável por qualquer outra criança e talvez processá-lo pelo que Hazz passou. Ele devia ser responsabilizado pelo dano que causou e Neville concordava plenamente, mas se indignou quando ouviu que não conseguiam levar o processo a diante, por causa da rede de apoio que o homem tinha.

Levaria muitos anos e obrigaria Harrison a reviver seus traumas mais do que gostaria e diante de um parlamento. Talvez nem desse em nada.

Neville não sabia na época e tinha se sentido tão frustrado que alguém tivesse o poder para talvez desacreditar Hazz ou diminuir sua dor perante um juri, como algo que não cabia punição.

Nunca suspeitou que podia ser justamente seu diretor, que sempre lhe foi tão bondoso. Ainda estava absurdamente inseguro e sentia que era errado, quase uma traição, falar algo na mesa das cobras, que podiam usar a coisa depois contra ele, mas... os Sonserinos não entendiam o que Luna queria dizer, Neville sim.

Ele não conseguia perdoar o que aconteceu com seu melhor amigo. Não sem que Dumbledore sofresse ao menos um pouco das consequências. Se as cobras garantiriam isso, que fosse.

Ele podia ter evitado tudo com simples visitas. Dumbledore foi ingênuo, teve um coração bondoso demais para prever a maldade humana... mas tinha que aprender com os erros, não é?

- Dumbledore me perguntou, de repente, se eu sabia com quem Harrison mora. Ele queria saber quem é o responsável legal por Harry Potter.

- PUTA MERDA! – gritou Ivan e ele foi apenas um dos que soltou um palavrão.

- Ele leu sua mente nessa hora?! – Axek questionou assustado.

- Como foi? Você estava olhando nos olhos dele?! – o Tshkows questionou por cima.

- Eu não estava, mas foi tão do nada que eu...

- Você se assustou e olhou, não foi? Por favor, diga que não estava pensando na resposta... – pediu o moreno.

- Eu senti dor de cabeça... – murmurou deprimido.

- Puta merda... – Ivan repetiu, apertando o próprio pescoço.

- Ferrou – Heinz levou as mãos para o cabelo e sussurrou o que todos estavam pensando – Sua alteza vai surtar de raiva...

- Quem ele pensa que é?! – indignou-se Draco Malfoy. – A cabra velha deve ter endoidado de vez! Ainda fez isso com o leãozinho fiel dele! Eu ficaria extremamente ofendido se... não sei, algum dos lordes amigos do meu pai fizesse isso. Ou ousasse! – revirou os olhos, cruzando os braços. – Eu não estaria sem meu anel...

Neville bufou:

- Já disse que esse não é o ponto!

- Concordamos com você – garantiu Blaise.

- Claro, Longbottom! Você não espera que eu seja simpático com você e suas tolices só porque, agora, está vendo as falhas da cabra ridícula, não é? Mas antes tarde do que nunca! Ele ainda estava tentando te tirar informações de um aluno estrangeiro, que nada tem a ver com ele, isso é...

- Piora para o lado dele em julgamento, sem dúvidas - acrescentou Rosier. - Potter e sua família claramente estão preocupados com a segurança que o anonimato de informações pessoais garante, Dumbledore de certo entende isso e tentou tirar a coisa de um alvo mais fácil. É ante ético e imoral.

- Você se lembra o que, exatamente, veio na sua cabeça na hora? - perguntou Ivan, tremendo de raiva. Luna passou a mão pelo colo de Neville e pegou a do russo dessa vez. Ele inspirou antes de continuar: - Uma imagem, o nome? Qualquer coisa que leve a resposta? Ou ficou apenas surpreso com a mudança abrupta?

- Eu não lembro! Mas... talvez seja até pior...

- COMO PIOR?! – choramingou ao mesmo tempo que quase gritava.

- Ele era o tutor mágico do Hazz...

- Sabemos – disse Krum. – O que tem?

- Bem... eu não sabia – comentou frustrado, mas ao menos pôde se consolar nas surpresas dos sonserinos. Então só os dragões sabiam disso, só que enfim, eram amigos do Hazz a anos. – Acho que Hazz quis me poupar disso. Eu nem sabia que Sirius era seu padrinho até ano passado, quando começamos a pensar em como liberá-lo. É a cara dele, sempre me esconde coisas quando pensa que não vou saber como lidar e isso é tão irritante! Se eu soubesse eu não...

- Longbottom – chamou Nott. – Você está divagando...

- Eu não sei mais no que pensar! – admitiu exasperado, levando suas mãos ao rosto, despejando os cotovelos sob a mesa ansioso. – Ouvir Dumbledore nunca falhou comigo, a fênix dele que me impediu de morrer para o veneno daquele bicho maluco do Salazar, desculpem...

- Não ligamos – garantiu Rosier com simpatia. – Ele tentou te matar primeiro, não foi?

- Foi.

- Nada mais justo que retaliar, então – sorriu divertido e, talvez porque todos de Hogwarts sentiam que o monitor era uma espécie de líder não reconhecido dos Sonserinos, Nev se acalmou e...

Se sentiu acolhido.

Olhando para seus rostos agora, percebeu que estavam ouvindo. Não estavam julgando necessariamente que confiasse em Dumbledore, era parte dele e que seja, estavam indignados por algo justo, do lado de Neville, tentando entender a história e talvez... ajuda-lo?

Ou ele estava sendo enganado por mais alguém?

- Merda! É o que Malfoy disse! Eu confio nele e se ele fez mesmo isso! – soltou, completamente inseguro. – Em que mais posso confiar?! Por que raios ele achou que devia ler a minha cabeça?! Para invadir ainda a privacidade de Harry! Depois de ter sido um merda a infância inteira dele! Hazz poderia... Que raiva! Se ele não tivesse sido um idiota e ao menos dado Harry para o tutor certo! Não para... para... – e se lembrando onde estava, quase suspirou de alívio quando pôde gritar em público pela primeira vez: - Para aqueles malditos trouxas podres!

Os sonserinos por todos os lados que ouviram praticamente arfaram e não teve um que não tinha uma expressão surpresa, mas isso não incomodou Neville, porque ele sabia. Sabia que aquilo era incomum nele, mas nenhum deles ligava para o conteúdo da frase, nem correriam para usar contra ele porque entendiam o que era... Aceitar agir como algo que nem sempre se é, para se encaixar em um grupo.

- Hazz é um bruxo! - continuou. - Um sangrento bruxo de linhagem antiga! Haviam dezenas de opções, mas Dumbledore o deixou com trouxas! Eu entendo as inseguranças dele, entendo tudo que me disse mais cedo e acredito que deixar Hazz com a tia poderia ter sido uma boa escolha, faz sentido, mas daí... Só piorou, a cada palavra dele, só piorava! Eu quero confiar em Dumbledore, mas para concordar com ele, tenho que ir contra o tutor do Hazz, que é uma das pessoas mais incríveis, gentis e sábias que conheço! O pior é que... eu sinto que se não fosse por achar que Dumbledore leu minha mente, provavelmente acreditaria nele primeiro.

- O que? – sussurrou Viktor, parecendo muito sombrio, quase como no dia que socou o colega da outra casa e Neville tremeu.

- Não me entenda errado, o que Dumbledore disse faz sentido, além de que é o tipo de coisa com as quais eu cresci ouvindo. Só que ele quis ler minha mente! Alvos achou o que?! Que Hazz colocou uma maldição de controle em mim ou coisa do tipo? Bem, considerando que ele me deu uma aviso claro para tomar cuidado, porque Hazz é igual ao próprio Gellert Grindelwald não duvido...

- ELE O QUE?! – e Ivan ficou feliz que ele fosse ótimo em criar enfermarias e zonas mágicas, porque o grito conjunto de todos os répteis, de vermelho ou verde, sem dúvidas, teria chamado a atenção de toda Hogwarts, mas como ninguém de nenhuma das casas se virou, ele se considerou um sucesso.

Olhou para Axek e sorriu, sabendo que o irmão estava cuidando que ninguém visse direito a mesa e ambos, juntos, encararam Dumbledore na mesa dos professores.

O homem olhava diretamente naquela direção.

Miller fortaleceu a zona de ilusão enquanto Neville despejava suas inseguranças, mesmo que sem nunca dar detalhes sobre o que foi dito na reunião com o velho diretor.

-x-x-x-

"Porque essas palavras são facas

E deixam cicatrizes com frequência

O medo de se desmoronar

Que a verdade seja dita, eu nunca fui seu

O medo, o medo de se desmoronar"

-x-x-x-

- Cuidado – gritou Remus abaixando Sirius quando uma taça saiu voando e se espatifou no armário atrás.

O casal se encarou assustado, depois se focou em Lakroff e Thomas, que estava se engalfinhando.

No chão.

Thomas, depois de arremessar a taça e perceber que Lakroff desviou uma segunda vez com sucesso, havia praticamente se jogado nele e o derrubado pelo susto. Estava por cima do mais velho agora, agarrando ambas as mãos do loiro por cima da cabeça com sua destra e com a outra segurava seu pescoço.

Harry estava sentado em cima do balcão da pia apreciando o show com um sorriso na cara enquanto secava os pratos que Sirius lhe dava após lavar (Remus ficou com a função de guarda-los em seguida).

Monstro e Lala estavam ocupados arrumando os quartos agora que decidiram dormir por ali e os elfos garantiram que, juntos, deixariam os cômodos em perfeito estado antes que precisassem. 

- Estou falando, você tem obsessão no meu pescoço – disse o Mitrica mais velho sorrindo.

- É a forma mais fácil de te matar – reclamou Tom, apertando um pouco aquela região, sentindo sua mão raspar em alguns dos pelos da barba por fazer. Grindelwald sempre mantinha bem aparada, mas aparentemente já estava na época de cuidar daquilo novamente.

Não só o arranhar dos pelos, mas Tom também estava sentindo como a pele dele era macia, realmente impressionante e quente. Talvez fosse por não ter calor em seu corpo falso, mas Grindelwald parecia até em chamas.

Sirius estava pensando que existiam formas bem mais fáceis e mágicas de matar alguém e que a desculpa naquele caso era horrível.

- Você sabe que tenho mais força física que você, não é? – questionou Lakroff e o aperto se intensificou.

- Então porque não me tira daqui? – desafiou Tom.

- Estou esperando você se tornar uma ameaça verdadeira – debochou.

- Está me chamando de fraco de novo? – irritou-se.

- Estou dizendo que você não tem motivação e está uma graça assim, por cima de mim.

- Eu te odeio!

- Não, você não odeia – sussurrou, propositalmente de esticando o suficiente para tentar aproximar o rosto do outro.

- A gente não tinha que fazer alguma coisa? – perguntou Remus. – Harrison?

- Moony, quieto, mais um pouco e acho que eles se beijam! – sussurrou entre dentes o adolescente.

Aquilo pareceu aterrorizar Tom, que se sentou na barriga do outro e depois se levantou olhando para Harry mortalmente. O menino sorriu divertido e pegou o copo de suco que tinha deixado ao seu lado, levantando como em um brinde para o lobisomem:

- Pronto, Moony. Você também pode fazer na próxima, até eles realmente se beijarem vai continuar sendo efetivo.

- Porque eu concordei em passar mais tempo com essa peste mesmo? – perguntou Tom apontando para Lakroff que estava de olhos fechados no chão.

- Para ficar comigo – ofereceu Hazz, abrindo os braços em um pedido silencioso que, para sua alegria, foi correspondido.

Tom ainda fez um carinho gostoso em sua cabeça, como sabia que o menino apreciava.

- É, era isso mesmo. Estou quase me arrependendo, entretanto. Na próxima nos encontrar sozinhos, que tal?

Remus mordeu a boca para não comentar que aquilo ainda o aquietava apesar de tudo, mas talvez fosse só o fato óbvio de que nunca sentia o cheiro das variações de humor daquele homem. Seu lobo, automaticamente, ficava incomodado com isso. Mesmo agora no chão atacando de raiva o lorde Mitrica, Thomas Harris tinha o mesmo aroma de seu perfume.

Como comensal da morte, o homem devia ser fatal. Mesmo que seu nome não tenha chegado até os aurores da ordem.

Não era de se estranhar, não é? Voldemort o aceitou mesmo sendo um mestiço, quando claramente queria se manter do lado dos lordes preconceituosos. Tinha de ser alguém muito útil.

- Você está bem? – questionou Sirius para Lakroff.

- Ótimo, rindo um pouco do bote da cobra raivosa.

O Mitrica, entretanto, permaneceu no chão, se concentrado em sua própria respiração, tirando da cabeça qualquer pensamento sobre como os olhos de Tom Riddle tinham ficado vermelhos e aquela, sem dúvidas era sua cor. 

Se castanhos eles eram divinos no rosto de anjo de Riddle, vermelhos... Marvolo tornava-se o próprio pecado.

Lúcifer poderia ser assim tão bonito?

Ou ele sucumbiria ao olhar do bruxo no instante que fosse para o inferno e decidisse tomar o trono? Era sua cara, não é? Ele não aceitaria não ser o pior no infer...

- Harrison, muda de assunto! – pediu o Grindelwald.

- Como é?

- Não tem ninguém falando, seu maluco! – ralhou Marvolo.

- Na minha cabeça tem e isso basta.

- Achei que, mesmo reagindo bem, vocês iriam fazer um interrogatório com Thomas... – ofereceu Harry para os padrinhos.

- Isso, muito bem! Esse menino tem talento para mudar de assunto, entendi porque pede a ele Tomtom – agradeceu Grindelwald.

- Pensei que tínhamos parado com apelidos idiotas – reclamou o moreno, avaliando se devia ou não acertar um chute no homem que se levantava, até se aproximou para conseguir fazê-lo se a vontade ultrapassasse seus limites.

- Pensei que já tínhamos chegado ao acordo de que ser insuportável faz parte do meu charme – comentou dando batidinhas na roupa para limpá-la.

- Charme? – repetiu cruzando os braços, a voz pingando veneno.

- Sim. O seu é se fazer de difícil e o meu é torna-lo impossível.

- Como é?! – sua voz subiu, ao menos, dez decibéis.

- Se vocês dois acabarem no chão um por cima do outro, de novo, eu vou ter que concordar com o meu vô que você só está se fazendo de difícil, Tom – murmurou Hazz.

- Você quer que eu queria te matar?! – perguntou sombrio, mas recuou quando Sirius Black se colocou de frente ao afilhado ameaçadoramente e Remus rosnou.

- Ele está brincando gente – riu Harry.

- Sim, claro – o animago coçou a cabeça. – Desculpe-me, foi um impulso, não pode me culpar...

Marvolo revirou os olhos despreocupado.

- Se eu quisesse fazer mal a Harrison poderia ter feito a uma década atrás, em qualquer uma das situações em que ele dormiu comigo vigiando, por exemplo.

- Nós sabemos –  suspirou. – É que minha cabeça ainda fica pensando em um monte de coisas. Eu fui treinado por Moody! Harrison teve aulas com ele, e vai concordar que o homem é loucamente paranoico!

Hazz pensou no fato de que nunca chegou a conhecer o verdadeiro "olho-tonto-Moody", mas imaginou que se Barty havia enganado Sirius, que usava o homem até como exemplo, então estava interpretando bem o papel.

- Sempre vigilante! – murmurou Remus com um ar forçadamente assustador que fez o menino sorrir e Sirius rir.

- Voldemort tinha caído quando você conheceu Harris, e ele poderia não ter atacado porque sabia que a ida para Askaban por um mestre morto não valia de nada, como tantos outros também consideraram, mas aí eu lembro que seu avô me fez assinar um contrato mágico só para apenas conversar com você – explicou Sirius. – Eu sei que ele já teria matado esse homem se não fosse confiável. Confio no julgamento de Lakroff...

- Isso é bom para mim, mas se eu fosse vocês, não manteria esse pensamento – disse Marvolo. – Parece uma ideia muito ruim confiar naquele que, de certo, foi derrubado pelo pai quando bebê e ainda não se recuperou.

- Primeiramente: O seu comentário pareceu uma escolha falha – respondeu Lakroff.

- Já entramos num acordo que o Lorde Black não me atacará.

- Segundo: se você começar com os meus daddy issues eu começo com os seus – ameaçou.

- Te faço chorar antes que você me atinja de verdade.

- Quer testar? Dez minutos sem perder a amizade?

- Que amizade?!

- Aí Remus, decora essa frase, Leandro usa bastante – comentou Harry e o lobisomem o encarou confuso. – "Dez minutos sem perder a amizade", eu quero dizer. O tempo pode mudar, é claro, mas geralmente ele vai estar se oferecendo para uma troca franca de socos. Nunca concorde.

- Eu não iria – Remus franziu o cenho.

Quer dizer, onde ele estaria com a cabeça para concordar em competir na força com aquele armário?

Mesmo com esse pensamento, Remus percebeu que uma parte dele, a do lobo, tinha total noção de que se provocado poderia sim aceitar algo assim no calor do momento, se não fosse avisado que era uma ameaça séria.

Ótimo. Regras para sobreviver a Leandro:

Número um: Não levar tudo que ele fala a sério.

Número dois: Não achar que tudo é brincadeira, pois as vezes era sério.

Remus estava numa encruzilhada maluca com orelhas, um rabo e sangue latino.

- Eu pretendo fazer um "interrogatório" – disse o lobisomem, voltando ao foco. – Mas quando meu nariz não estiver estranho por causa daquele seu professor maluco e são só algumas perguntas, se todos concordarem.

- Não me incomodo, desde que eu esteja disponível – dispensou Tom com uma calma fingida.

Santo brasileiro que caiu do céu para que esse plano desse certo. Uma coisa era não sentir grandes alterações hormonais, mas se Remus Lupin estivesse em perfeito estado notaria a falta de corrente sanguínea e então tudo seria mais difícil do que mentir que tinha uma tatuagem de cobra no braço.

- Apesar do que eu possa ter dito, somos gratos que tenha contado – acrescentou Sirius. – Não era só Remus, até eu já estava suspeitando de algumas coisas...

- Não tentei esconder – disse Marvolo e olhou para Harry, que sempre foi um ótimo mentiroso, mas também não havia feito questão alguma.

- Fica claro – brincou Remus. – A propósito... tem uma coisa que fiquei curioso, mas eu disse que deixaria o interrogatório para depois...

- Fique à vontade – dispensou Tom. - Já estamos aqui.

- Você não foi preso pelo ministério, não é? Não lembro de ver seu nome nos jornais em algum julgamento.

- Os aurores nunca me pegaram. Nunca fui julgado pelos crimes de guerra. E, sejamos sinceros, do jeito que as coisas são eu teria sido executado ou sei lá.

- O que?! – surpreendeu-se o loiro.

- Eu sou um órfão, mestiço, sem títulos, deserdado e um qualquer, que fez coisas demais. Nada que outros tantos não fizeram... talvez... mas ainda assim, só lordes importantes foram livres. Aqueles com contatos o bastante.

- E que faziam parte do círculo íntimo da nobreza – lembrou Sirius sombriamente.

- Exato.

- Eu entendo. Imagino que seus amiguinhos de preto também não ajudariam você a sair... – sugeriu o animago.

Tom deu uma risada irônica e macabra alta:

- Eu vou controlar minha língua, Black, mas eu tinha uma resposta muito boa para lhe dar.

- Fique à vontade. Ou melhor, deixe eu adivinhar: Os meus amigos também não ofereceram a mesma gentileza?

Tom sorriu, então riu de novo e todos sentiram como aquele som era uma misto de agradável (afinal, que voz linda o homem tinha, tanto quanto ele próprio), com sombrio. Como uma bela cobra, que você pode até admitir a beleza e apreciá-la, mas jamais desejaria se aproximar demais. 

Ouvir aquele som dava a sensação de que se estava sendo enrolado pelas escamas gélidas de uma serpente e que, a qualquer instante, ela daria o bote.

Veneno.

Agridoce.

Esse era o som de Thomas Harris. Um veneno disfarçado com aroma de perfume floral. Uma planta carnívora.

- Em cheio, milorde – comentou sorrindo e andando pela cozinha, tapando o que sobrou dos aperitivos feitos pelos elfos. 

Até a forma como ele caminhava, pensou Sirius, cada movimento que fazia, dava a impressão de uma cobra. 

Isso arrepiou o lorde Black, porque havia outro homem que dava essa sensação e não era o tipo que o sorriso vinha acompanhado de algo agradável. Mas também não tinha a graça aristocrática e hipnótica das feições de Thomas Harris.

- O meu lado, ainda por cima, milorde... - continuava Tom. - Correria o risco de perder a liberdade e uma absolvição de seus crimes. Nunca fariam algo como defender outro. Não importa quem seja.

- A lealdade seletiva Sonserina. – Sirius revirou os olhos. – Mas vejam só, no fim todos agiram muito parecidos...

- Uma cobra e um leão não são tão diferentes – comentou encarando Harry, o maior exemplo da coisa de que tinha conhecimento. – A união, soube que cria o mais incrível dos dragões.

O menino corou, mas sorriu lisonjeado. 

- No nosso caso, a auto preservação deve vir primeiro, essa é a verdade. Nada importa mais do que nós mesmos – continuou Marvolo. – Não é um insulto o que disse, Black. É a verdade. A vida é um bem que deve ser tratado de acordo. Os seus amigos, entretanto, imagino que seja a boa e velha cabeça oca dos leões, sempre vendo o mundo com apenas dois lados, que os impediu de ajudá-lo. Se você havia nascido do lado errado, qualquer falha logo o jogou para o desprezo novamente.

- Você não tinha acabado de dizer que não éramos tão diferentes? – brincou.

- Somos, obviamente mais inteligentes, para não chegar nessa mediocridade de raciocínio – provocou.

- O nosso raciocínio é medíocre? Você está falando do bem que é a vida, mas vocês e seu líder cara de cobra começaram uma guerra – respondeu infantilmente e se divertiu com as risadas dos demais.

Ele não entendia, entretanto, como era divertido para os Grindelwald na sala presenciarem Sirius Black chamando Voldemort na sua frente de "cara de cobra" sem saber. A careta de Marvolo só piorou a crise de risos dos dois.

O lorde das trevas, entretanto, preferiu não levar para o lado pessoal:

- Uma vida onde parte das suas crenças, sua religião, sua magia, seus princípios e suas convicções são reprimidas e insultadas constantemente por um governo obviamente falho e tendencioso. Onde mesmo os lordes sendo a maior força de voto, ainda estavam perdendo seus direitos a manifestação religiosa, por injustiças e negligências, projetos de leis falhas para inclusão que só segregavam todos, mas principalmente um favoritismo que limita propositalmente as ações de um grupo apenas por acreditarem que toda uma área da magia é errada por ser menos difícil de controlar... Essa era a vida que queriam que concordássemos? – Sirius foi abrir a boca, mas Tom o interrompeu com um olhar tão profundo que o assustou. - Black, cada um entrou nessa guerra por um motivo. Sua integridade poder ser forte o bastante para nunca ter sido balançada, mas eu tinha motivos o bastante para sentir que, mesmo que arriscasse minha vida, mesmo com todos os medos que poderia ter diante disso, eu estaria fazendo para que viver valesse a pena no fim. Para que minha vida tivesse um valor nesse mundo, quando na infância ela sempre foi tratada com descaso por todos a minha volta. Para mudar uma realidade que era triste em essência e para ser livre, assim como a magia deveria.

Sirius mordeu seu lábio e olhou para Remus, o namorado lhe sorriu.

A parte sobre a moral que nunca balançou os atingiu, mas do que a maioria das palavras do homem, mesmo que todas tivessem entrado em suas cabeças e mexido com suas convicções. 

Pois eles estavam começando a entendê-las.

Sirius nunca quis trocar de lado durante a guerra, mas... ele estava falando com Severo Snape sobre artes das trevas, defendendo a magia que sempre odiou em reuniões em Hogwarts, tornando-se quase um amigo de outro comensal. Ele quis libertar o ranhoso. Ele admitiu que estaria do lado das trevas se esse fosse o de Harrison. A moral inabalável, a "cabeça oca de leão" ... bem...

Não era tão oca. Um grifinório nunca seria sinônimo de tolice. Eles eram obstinados o bastante para fincar o pé quando se achavam certo e socariam os narizes de quem dissesse o contrário. Lutavam pelo que acreditavam acima de suas próprias vidas. Isso era parte da verdade de um leão. Ser forte em quem ele é, mesmo com os julgamentos. 

Um guerreiro por suas convicções e seus amigos.

Mas se visse que estavam errado... eles aprendiam.

Cresciam. Não lhes custava admitir, mesmo que demorasse e mudar fazia parte. Crescer e lutar pelas causas certas.

Isso era ser um leão. Rugir, brigar, crescer, enfrentar. Ter a nobreza para abaixar a cabeça quando precisava, ter coragem para ser ele mesmo e levantar a voz para o mundo depois!

Sirius estava pensando sobre para que lado vinha rugindo, sim.

Remus, em seus próprios pensamentos, chegou a uma conclusão parecida e preferiu agir diferente do que fora até então. Lembrou-se do que Harrison disse sobre ter sido usado, e de tudo que vinha admitindo sobre si mesmo, para Sirius, Leandro ou todos que pareciam aceita-lo como era.

Era libertador aceitar seu lobo, sua parte sombria, era parte dele. Assim como aquela verdade:

- Voldemort tinha seus pontos... – murmurou, surpreendendo a todos.

- Como?! – questionou Tom e sua voz quase, quase, conseguiu passar a incredulidade geral.

- Eu ouvia o que ele estava oferecendo para os lobisomens. Eu só nunca acreditei que fosse fazer isso por um bando de mestiços amaldiçoados.

- Então você preferiu o certo, que era nada além de ostracismo, ignorância e repressão da luz, do que o duvidoso que era confiar no lorde das trevas? - questionou Marvolo.

- Bem... foi. Também preferi ficar do lado dos meus amigos, um bando de nascidos trouxas que vocês matavam.

- Nunca disse que éramos perfeitos – brincou e o casal riu.

Tom estava levemente curioso com que rumo poderia tomar com aquela conversa. Não é que a dupla de sarnentos estava parecendo aberta a...

Ouvir?

Mas entendia que não era o momento. Nem ele era o líder ali. Harrison ia preferir continuar com aquilo aos poucos. 

Mesmo assim sorriu internamente, afinal, não estava nem tentando e estavam ali.

Se Harrison quisesse mesmo, o quão longe Tom Riddle e Gellert Grindelwald não podiam arrastar qualquer um com simples palavras? Mas o menino queria que fosse uma escolha, não puramente manipulação e parecia estar funcionando.

Com apenas alguns empurrões direcionados para onde queria, Black e Lupin já pareciam praticamente seus.

Harry também queria deixar Gellert adormecido por hora. Tom entendia e aceitaria o seu papel no teatro. Seguiu por vias mais seguras:

- Eu não ter sido julgado e preso os incomoda?

- Nesse ponto? Acho que não faz diferença – comentou o lobisomem, então apontou sua varinha para os cacos no chão do último arremesso de taças. – No máximo, mostra suas próprias capacidades. Reparo – entoou. – Accio – e o objeto voou até sua mão como novo, ele guardou no armário se virando para os demais. – Com isso a louça está pronta. O que faremos agora?

- Harrison vai dormir – disse Marvolo.

- Como é? – questionou o menino.

- Eu disse mais cedo, não venha se fazer de desentendido. Você vai tomar algumas poções, deitar e dormir – o menino abriu a boca para falar e Marvolo gritou um sonoro – Ah! Não!

- Mas...

- Sem "mas"!

- Só que...

- Não!

- Tom! - gemeu.

- Você vai dormir! – ordenou. – Estou orgulhoso que tenha feito mais de uma refeição completa no dia, falta agora dormir adequadamente para estar em plenas condições amanhã para tomar as próximas decisões.

- São nove e meia!

- Não entendi seu ponto. Você terá que acordar cedo – e cruzou os braços.

- Alguém me ajuda? – pediu Harry.

- Estou com o Tom nessa – murmurou Lakroff.

- Cama! – e apontou para a porta.

- Eu não sou mais criança para você agir desse jeito...

- Você é uma criança – disseram todos os adultos juntos.

- Credo! – reclamou o menino. – Mais meia hora? Por favor?

- Vo...

- Eu quero ficar mais um pouco com você – interrompeu baixinho.

Tom ia responder que eles poderiam se ver qualquer dia de novo, mas então encontrou os olhos verdes brilhantes e teve que se lembrar...

Não era bem assim.

Voldemort ainda estava por aí. O menino ainda estava tendo pesadelos constantes e se concordasse em tomar poções para dormir, tornaria a não ver Tom e, não só isso, logo teria que devolver o diadema, então... O medalhão provavelmente não teria forças para fazer o que as três Horcruxes envolvidas agora estavam.

Realmente... eles não teriam tantas chances.

Suspirou.

- Certo, tudo bem.

E mais uma vez, todos viram Harrison se iluminar.

- Vamos todos para a sala, então? Posso pegar mais vinho? – sugeriu Lakroff.

- Eu topo! – animou-se Sirius. – A propósito, eu também tenho uma pergunta, Harris.

- Me chamem de Thomas – pediu, porque infernalmente Lakroff tinha lhe arrumado um nome que estava lhe dando mais raiva que o próprio. Ao menos "enigma" não era tão medíocre!

- Certo, pode me chamar de Sirius então.

- Como desejar. E então? O que queria saber?

- É sobre o que você tinha dito antes, espero não estar sendo indelicado em perguntar...

- Que parte, exatamente?

- Bem... você sendo um comensal explica como sabe tanto sobre Voldemort, por exemplo ele sendo mestiço ou coisas assim. A maioria da ordem não sabia e nem eu tinha certeza, cheguei a escutar algo assim do meu pai uma vez e ainda duvidava que tinha ouvido certo, até falar com Dumbledore. Não era algo que se... comentava.

- Obviamente, nem entre nós. O lorde seria capaz de matar o que fizesse.

- Também isso aí, você o chama de lorde. E... o porquê Harrison não te colocou nas memórias que nos mostrou na reunião. Imagino que saiba sobre isso?

- Eu sempre sei, parta desse princípio.

Sirius riu, mas aceitou o fato.

- Na verdade tudo que estava estranho na história... – divagou um pouco o Black, enrolando o ponto onde queria chegar. – Também porque não queria o menino que sobreviveu por perto. Apesar de que... Bem... Sua reação foi afastá-lo, pelo que nos contou... Isso é um tanto...

- A guerra tinha acabado – esclareceu Marvolo. – Eu quase morri naquela época, fui amaldiçoado pelo lado inimigo... provavelmente uma de vocês, galinhas tostadas.

Sirius engasgou com sua risada:

- Galinhas?

- Tostadas? – terminou Remus, também sorrindo. – É assim que nos chamavam?

- Vai dizer que vocês não tinham forma idiotas de se referirem a nós?

- Ah, sem dúvidas! Várias delas. Eu gostava de idiotas encapuzados, mas pelo jeito éramos menos criativos.

- Comensais da tolice paramos de usar depois da formatura - lembrou Remus e o casal riu.

- Comensais da tolice – repetiu Tom negando com a cabeça e apertando o nariz. – É aqui que vim parar, numa sala onde isso sai da boca do futuro consorte Black. – comentou como se aquilo fosse uma enorme ironia da vida, o que fez os demais rirem mais.

Eles acabaram escolhendo, sendo principalmente guiado por Sirius, ficar numa das salas principais. Haviam dois grandes sofás e duas poltronas, uma mesa de centro, algumas prateleiras e um bar ao canto. Lakroff estralou o dedo para acender as velas do local e todos foram tomando lugares.

Ninguém comentou sobre a magia muda e sem varinha muito específica e controlada, as chamas não se ergueram mais que um centímetro do que precisavam.

Harry não foi nada discreto em puxar Tom até um dos sofás. Lakroff ficou com uma das poltronas de frente para a dupla e o casal recém formado ficou com o segundo sofá. Sirius ainda colocou as pernas por cima de Remus que as acariciou em seguida e todos ouviram um estalar de língua.

Se viraram para os quadros e eles, todos, apontaram em uma direção. O quadro, em questão foi logo dizendo:

- Não fui eu! A culpada fugiu!

- Culpada? Sua mãe? – chutou Harry.

- Nunca tinha visto ela em qualquer lugar que não sua própria moldura.

- Você ia dizendo? – questionou o lobisomem para Marvolo decidido que era realmente melhor não dar atenção aos velhos irritantes dos Black.

- Certo... Fui amaldiçoado bem próximo do fim de tudo. Praticamente só estava vivo porque minha magia estava me mantendo aqui, não tinha forças para querer me vingar do garoto que matou o lorde das trevas, apenas escolhi ignorá-lo. Mas ele voltava a aparecer e a falar comigo, uma criança desesperada por atenção e frágil. Eu tentando me esconder de tudo e todos, pensar no que faria dali em diante, mas uma criança bruxa que, obviamente, precisava de ajuda surgia o tempo todo e não podia simplesmente continuar assim... Bem, o resto vocês já sabem, não preciso contar de novo.

- Com o que foi amaldiçoado? – questionou Sirius.

- Nunca fui atrás de todos os detalhes. Me pegou de surpresa e fiquei bem fraco, inconsciente por dias depois. Além de que perdi tudo. Praticamente não havia mais pelo que lutar além da própria necessidade de viver, mas eu já estava acostumado. Minha vida sempre foi uma questão de sobreviver e ser mais forte, desde o orfanato.

- Isso, na verdade, é o que mais me deixou confuso... – comentou Sirius aliviado que chegaram no ponto em que queria de alguma forma, não queria tocar naquilo sem saber como afetava o homem.

- O que foi?

- Sua... Olha, você disse que contou para Harrison como foi crescer durante uma guerra em um orfanato, mas se você se tornou um comensal, você deve ter, pelo menos, a nossa idade. A guerra foi de setenta até oitenta, período em que estávamos na escola e aqui na Grã-Bretanha, mas você não estudou conosco, eu teria lembrado de você....

Tom olhou para Hazz, que deu um enorme sorriso e se deitou no colo de Marvolo, as pernas para fora balançando divertido. Lakroff tossiu para disfarçar seus risinhos por trás da taça de vinho com ele.

- Há muitos alunos em Hogwarts... – comentou Tom impassível.

- Acredite, eu lembraria de você.

- Eu era da Sonserina...

- Eu teria te visto nos corredores, isso é irrelevante.

- E acha que se lembraria por que me viu eventualmente pelo corredor? Você poderia reconhecer todas as centenas de alunos que já cruzaram com você em sete anos de estudo?

- Não, mas você é diferente.

- Diferente como?

- Você é podre de bonito! – disse como se fosse obvio.

Lakroff agora riu alto, primeiro uma única quase engasgada, depois uma segunda mais solta e então várias outras. Harrison também não estava muito diferente.

- Como é? – questionou Tom piscando e parando sua mão no ar, que estava a caminho do cabelo macio de Harry.

Do qual, ele admitia, estava criando um constante vício em tocar.

Fez uma careta quando percebeu que sua mente traiçoeira comparou a delicadeza dos fios com os do próprio Grindelwald mais velho.

- Não se faça de bobo! De certo tem um espelho em casa! – reclamou Sirius. – Você é bonito demais para eu não ter reparado. As outras opções da sua casa ainda eram tenebrosas, meu irmão era de longe o melhor e fica aqui claro: é obvio que Reggie seria o melhor, tinha meus genes! Moony, me ajude aqui – pediu e o namorado sorriu muito divertido com a reação de Thomas e dos Mitrica que pareciam rir mais a cada instante.

- É, Sirius com certeza teria te mencionado na sua lista de interesses. Consigo até imaginar o tipo de comentário que faria, depois de mencionar sua aparência umas dez vezes, alguma brincadeira com cobra e tamanho provavelmente apareceria.

Tom fez uma careta e Lakroff riu mais ainda:

- Eu estou pensando em algumas assim, mas meu neto pediu para evitar lhe dar mais imagens mentais...

- Agradeço!

- Eu também ficaria grato de não ouvir comentários sobre...

- A sua cobra? - questionou Harry e Tom puxou sua orelha.

- Pirralho! - enquanto o adolescente ria, Tom bufou. - Vocês comentam esse tipo de coisa assim? Lupin não tem ciúmes que Black admitia...

- Mas você é bonito. Ele está apenas apontando um fato - Remus riu.

Marvolo decidiu que não valia a pena questionar aquele grupo ou o casal, que agora sorria se beijando com afeto. Negou com a cabeça e se focou em Harrison, que o irritava as vezes, mas não o deixava desconfortável como aquela conversa tinha capacidade de atingir.

Desde os trinta não recebia elogios tão diretos à aparência. 

Retirou os óculos do rosto do garoto e tentou coloca-los na mesa, para deixa-lo mais confortável, mas Harrison os puxou de volta e estreitou os olhos em sua direção, se sentando para encarar diretamente. 

- O que foi?

- Fiquei curioso. Estou avaliando.... - explicou o adolescente.

- Avaliando?

- O que Sirius disse. Estou pensando se acho você mais bonito que Regulus Black.

Tom franziu o cenho e pensou em reclamar de estar sendo comparado a um cadáver, que dê certo ficaria nos pesadelos do menino depois de tudo, mas ficou mudo.

Considerando que era o culpado.

Depois a careta se acentuou quando entendeu outro ponto:

- Com licença?! – ralhou. – Acha que Regulus Black é mais bonito que eu?!

- Ainda é vaidoso o homem – debochou Lakroff. – Considerando tudo, achei que esta seria a menor de suas preocupações.

- Você não se intrometa!

- Relaxa Tom-meu, você ainda é o mais bonito na minha opinião.

- Eu espero que esse Tom-meu seja uma comparação com Romeu, porque se você está insinuando, de novo, que pertenço a você, vou garantir que não passa dessa noite.

- Eu posso ser sua Julieta, querido.

- Harrison!

- Não consegui decidir – murmurou o menino, tornando a se deitar.

- Eu não...

- Se te serve de consolo - interrompeu antes que o companheiro começasse uma ladainha. - Você é o Tom, você me criou, não conseguiria te achar atraente, então automaticamente você está em desvantagem.

- Isso implica que você achou Regulus Black atraente, garoto.

Lakroff e Tom não admitiriam, porque sabiam que irritaria o menino, mas acharam uma graça como ele corou. Sirius e Remus, entretanto riram alto.

- Por que estamos falando de coisas tristes mesmo?

- Você já foi melhor em trocar de assunto – brincou Tom e sorriu afetuoso para a careta que recebeu.

"Não sei se te parabenizo por sua beleza, Regulus, ou por conquistar mais um lorde" pensou Sirius olhando para a cena com afeto e uma dor no peito. Mas não era uma ruim e desolada.

Talvez porque a dor estava acompanhada das bochechas vermelhas de Harrison, que nunca parecia se abalar com as coisas, de uma risada sincera de Thomas Harris, que era friamente distante as vezes, e Remus e Lakroff rindo sobre algo que a dupla havia falado... Sirius se sentiu leve. Nostálgico.

Em casa.

Foi como voltar para o Natal na casa Potter, quando o mundo parecia bom e feliz. Quando ele tinha uma família.

- Credo, isso é coisa de Potter? – perguntou tomando, em um gole sua taça e se abastecendo de mais, com a garrafa na mesa de centro.

- Como é? – questionou Lakroff.

- Achar meu irmão bonito - reclamou com cara de nojo.

Remus riu com conhecimento de causa:

- Sirius odiava uma brincadeira que James sempre fazia envolvendo o Regulus.

- Brincadeira? – perguntou Harry.

- Quando eu reclamava que ele já estava a muitas horas falando da sua mãe.... bem, no começo nós só o ignorávamos, sabe? Seu pai bateu os olhos em Lilian em Hogwarts e se apaixonou na hora. Enfiou na cabeça que se casaria com ela e quando seu pai queria algo, não tinha quem o impedia. 

- A cada dia só temos mais dicas de que é genético – brincou Tom e Hazz se levantou para empurrar seu ombro infantilmente.

O animago sorriu para aquilo e continuou:

- Os Potter também sempre tiveram essa de apenas uma mulher para a vida e James tinha certeza que Evans seria a dele. No começo, ele só a incomodava, falava dela nas aulas, sobre como andava muito com o ranhoso, coisas assim.

- Ranhoso?

- Snape.

Tom engasgou uma risada.

- Ranhoso – debochou. – Combina... – sussurrou maldosamente.

- Mas, em algum ponto, ele já estava totalmente perdido e mal dava para sentar perto de Prongs sem ouvir um discurso sobre lindos cabelos de fogo, olhos verdes de esmeraldas e sei lá mais o que.

- Então, um dia, Pads teve a brilhante ideia de gritar com Prongs dizendo para ele escolher outro maldito assunto, ou paixonite, porque a Evans não estava interessada e Sirius estava cansado de ouvir James falando sobre mulher.

- Grande erro – tremeu o animago se lembrando daquele dia. O começo de sua ruína.

- Prongs virou para Sirius e disse: "cansou de me ouvir falando de mulher? Certo então. Seu irmão foi feito para a Sonserina, sabe? O verde combina muito com ele, é quase um desperdício que seja apenas um Black, não... – e Remus parou, de repente cobrindo a boca com a mão e então caindo na gargalhada incrédula.

Todos ficaram confusos, inclusive Sirius, mas depois de alguns segundos, como se uma chave virasse em sua cabeça Padfoot se levantou num pulo de reconhecimento:

- Aquele filho da puta!

- Palavrões na frente de crianças! – reclamou Lakroff.

- Oficialmente um adulto – disseram Tom e Harry juntos e bateram palmas com a cara irritada do lorde Mitrica.

- Ele teve a pachorra de fazer uma piada que só entendi o quão ruim foi depois da morte dele! – Reclamou Sirius. – Prongs, seu infeliz! Um dia eu também morro e te caço no céu para te dar uma coça!

- O que foi?

- A frase... – disse Remus ainda entre risos, quase om dificuldade para respirar. – Prongs sabia que Regulus era o ponto fraco de Sirius, nós achamos que era só essa a piada idiota aleatória. Trocar o assunto de uma mulher que ele gostava, para Regulus em seguida, um homem, deixando Pads irritado, a frase ainda por cima – riu. – Foi assim: "é quase um desperdício que seja apenas um Black, não um Slytherin, mas isso pode ser resolvido, não é?".

Agora Lakroff e Harry também começaram a rir, Sirius pareceu ainda mais irritado.

- Eu bati nele achando que o infeliz estava fazendo piada com o lorde das trevas e meu irmão! Achei de muito mal gosto e ele, aquele infeliz! Estava falando de si mesmo e rindo da minha própria ignorância na minha cara! Insuportável! Prongs nojento, ele me enganou direitinho!

- Ao menos você gritou o bastante para qualquer interpretação na época, Pads - consolou Remus. - Parecia que desmaiaria Prongs no grito.

- É claro! Eu achei que, além dele falar da "beleza" do meu irmão, ainda tinha sugerido uma espécie de casamento com o velho do Voldemort – Hazz e Lakroff riram mais da nova careta indignada de Tom. – Mas... ele só cantou Reggie do começo ao fim na minha frente e ficou rindo igual um... Ah!

- Acho que ele só estava querendo irritá-lo, veja bem – consolou Lakroff. – James era totalmente apaixonado por Lilian, o mundo girava em torno dela as vezes. Até eu tive minha cota de horas ouvindo os monólogos do Potter sobre o quão incrível era sua esposa. Não que eu me incomodasse, deixava que falasse, assim aprendia mais sobre Lily e acho que isso só o incentivava a falar mais. Os olhos dele brilhavam a cada nova frase que parava e eu perguntava "que mais?".

- Você tinha coragem de ouvi-lo e incentivá-lo?! – ralhou Sirius incrédulo.

O loiro deu de ombros.

- Claro, você pode acreditar que seu melhor amigo tinha, nem que seja uma pequena atração escondida, mas nem tanto, no seu irmão...

- Credo! Não! - Almofadinhas tremeu. - James era hetero e um insuportável que só queria zoar com a minha cara. Um que vou dar uma rasteira assim que chegar no céu bruxo, mas imagino que não machuque lá, pena. Ele via Regulus como um irmão mais novo, tanto quanto eu, sei disso. Me ajudava sempre que ficava preocupado a acha-lo, a tentar conversar. Seja por me ver triste, ou pelo próprio Reggie, mas... sempre me consolava depois das nossas brigas.

- O ponto é que, nunca  Pads podia reclamar da falação de James sobre Evans, porque Prongs logo vinha com algum comentário certeiro sobre Regulus – riu Remus e levou ele uma empurrada do namorado.

- Vamos parar de falar da brincadeira chata do Pontas? Estávamos falando sobre o Thomas aqui e como ele, claramente, não estudou conosco. Sem contar que nunca vi seu nome no mapa.

– Eu realmente não estudei com vocês.

- Mas então? – questionou Sirius. – Se você estava em um orfanato, receberia a carta da escola mais próxima... Ou sua família bruxa o colocou na Durmstrang?

- Não. Eu realmente estudei em Hogwarts. Só não na mesma época.

- Mas você disse que cresceu...

- A guerra a que me referi não foi a guerra de Voldemort.

- Como assim?

Sirius poderia ser lerdo, mas o namorado não era. Aluado já havia arregalado os olhos e encarava Tom dos pés à cabeça:

- Você...

- Eu disse que ele era conservado no formol – comentou Lakroff rindo.

- Eu vivi num orfanato durante a segunda guerra mundial, Black. Durante a liderança do lorde das trevas Gellert Grindelwald. Não Voldemort.

Sirius piscou.

Sua expressão foi de vazia, para confusa, então surpresa e por fim indignada:

- QUANTOS ANOS VOCÊ TEM?!

- Nasci em 26.

- Mil novecentos e vinte e seis?! - questionou alto e agudo.

- Não, mil e oitocentos – respondeu Tom sínico.

Harry sentia que aquela noite lhe daria dor de barriga de tanto rir.

- Você tem a idade da minha mãe! – continuava Sirius em gritinhos indignados.

Por sorte, ele ainda não estava tentando competir com a dita mãe, então o som estava apenas levemente incomodo. Para os padrões Black, aos quais Tom se acostumou, era quase nada.

- Walburga estava em seu segundo ano quando entrei em Hogwarts, se lhe serve de algo. Nasci em dezembro.

- Você é da época da minha mãe!!!

- Sim. A propósito, Walbuga querida, é feio ficar espionando o lorde da casa e suas visitas se ele não a convidou para a sala – comentou e todos escutaram um gritinho vindo de um dos quadros.

Ao se virarem na direção, Walburga Black se levantava lenta e receosamente, cabeça baixa e parecendo estranhamente mais nova, como uma criança pega fazendo uma malcriação e se sentindo péssima.

- Senhora Black? – chamou Harrison sorrindo.

- Milordes? – questionou ainda de cabeça baixa.

- Está dispensada, sim?

- Imediatamente, milorde – e correu para tentar sair.

- Walburga! – chamou Tom, interrompendo-a e rindo, junto de Harry e Lakroff com a forma como ela quase pulou no lugar para se virar para ele, os olhos esbugalhados. – Prazer revê-la. Você criou filhos talentosos, parabéns. Sirius aqui se colocou junto do herdeiro do legado dos dois maiores lordes das trevas do mundo bruxo, um orgulho para o nome negro, sem dúvidas. Estará na linha de frente da nova geração das artes sombrias, acho que não poderiam pedir mais, não concorda?

Walburga engasgou com o que poderia ser um grito ou um desmaio que nunca aconteceu, era um quadro afinal, mas ela pareceu totalmente em choque, incapaz de pensar em continuar e Sirius encarava a cena em proporções iguais de surpresa...

Empolgação e felicidade.

Ele teve que segurar o impulso de agradecer a Thomas por aquilo, nunca viu sua mãe mais em choque. Nem parecia que ela voltaria a se mover um dia.

- Sirius, sem dúvidas - ela começou baixinho e pareceu engolir algo com muita dificuldade antes de continuar: - Está se mostrando digno de orgulho...

Padfoot tremeu e beliscou a si mesmo, incrédulo demais com aquilo.

Qual seria a próxima? Monstro se curvando ou seu pai o chamando de herdeiro digno? Ele já havia dormido e não sabia?

Então Tom sorriu.

Um sorriso macabro muito parecido com o que Harrison dava quando estava falando de alguma coisa que, sem dúvidas, poderia manda-lo para a cadeia. Como a movimentação ofídica que aquele homem parecia dominar, ele se inclinou mais na direção do quadro e sussurrou:

- Acredito que o lorde Slytherin já tenha a dispensado, querida. Ou não ouviu?

Walburga praticamente sumiu da moldura com aquelas palavras enquanto todos na sala riam juntos.

Sirius ainda se sentia fora do corpo de tão incrédulo.

-x-x-x-

Esse é o evangelho, para os vagabundos

Para os inúteis e os bastardos insuportáveis

Confessando suas apostasias

Levados por impostores imperfeitos

-x-x-x-

- Harrison dormiu – sussurrou Tom, parando momentaneamente o carinho que fazia nos fios negros.

A forma como as palavras saíram por seus lábios deixava claro que ele estava surpreso e fascinado e Lakroff entendia bem. 

Harry era, no fim, alguém que tinha muita dificuldade em dormir.

Ele tinha medo e isso nunca fugiu totalmente, não importava o que se fizesse.

O menino detestava estar inconsciente, temia o que aconteceria consigo enquanto não estava em plenos sentidos, odiava o passado em seus sonhos, ou o futuro que as vezes mostravam. Nada em uma noite de sono agradava a Harrison além de poder descansar. 

O Grindelwald mais velho inspirou e quase suspirou, feliz, sentindo-se leve e se aproximando da dupla no sofá.

Se abaixou de frente para o rosto calmo do neto.

- Harrison? – chamou baixinho.

Nada, o menino continuou quieto e com uma paz rara nas feições.

Lakroff abriu um largo sorriso e encarou Tom, que também parecia radiante e leve. Hazz havia se sentindo seguro o bastante para simplesmente dormir naquele sofá, as penas ainda por cima da perna penduradas, uma posição não muito confortável, mas... Ele dormiu.  A maior prova de confiança que poderia oferecer.

Não tremia, não parecia estar tendo pesadelos. Voldemort, que devia estar furioso naquele dia, não o estava interrompendo. Não sabiam quanto tempo ia durar, só que já foi algo que os deixou incrivelmente... Orgulhosos?

Em paz.

- E você? – questionou Mitrica apenas movendo os lábios, uma pergunta silenciosa para o estado da horcrux.

Mais uma olhada para o menino relaxada deixou Marvolo tão satisfeito que seu peito pareceu, na mesma proporção, crescer e flutuar, então pesar e afundar.

Era isso. Estava na hora de ir embora. 

Não sabia quanto tempo aquele momento do adolescente se manteria e muito menos quando estariam assim de novo. Sacudiu os fios mais uma vez, para aproveitar e também testar se continuava tangível, mesmo que o principal causador de seu corpo atual estivesse inconsciente. Tudo estava normal, mas sabia que tinha que ir.

A expressão deprimida não passou despercebida por Grindelwald, que se virou para os demais:

- Sirius, uma última garrafa antes de nós também irmos deitar?

- Claro! – concordou se levantando e indo o bar que havia por ali.

- Acho que vou pegar alguns dos petiscos que sobraram também... – comentou o mais velho.

O animago, que avaliava as opções de bebidas na sala, fez uma careta e negou:

- Deixe comigo. Tem uma garrafa melhor na cozinha, eu já trago tudo.

- Eu te ajudo – ofereceu Remus se levantando com o namorado.

Quando o casal se afastou, Lakroff tomou o lugar ao lado direito de Tom.

- Você o leva para a cama? – perguntou Riddle. – Melhor não forçar mais, ou vou estar tirando sua magia com ele dormindo e isso parece errado e...

- Fica mais um pouco – pediu.

- O que? Por quê?

- Por que não sabemos se não é a sua presença que o impede de estar sofrendo com a raiva do Voldemort.

- Essa sua teoria é muito furada.

- Não custa tentar, "Harris".

- Custa, sim. Ele...

- Eu fico com o diadema, será que eu não consigo sozinho? O diário só precisou de pessoas, não precisava ser Harrison.

- É diferente e...

- Vamos, Tom. Deixe-o dormir aí mais um pouco.

- Não deve estar confortável – insistiu encarando o sofá.

- Eu não sei não, seu colo parece um lugar que eu gostaria de estar – Marvolo lhe acertou um tapa e Lakroff riu. – Tom-meu, não com a criança na sala, mesmo dormindo, isso é errado...

- Você tem um sério problema em notar a diferença entre alguém interessado em estar com você e alguém interessado em matar você – reclamou o moreno. – Eu sei que seus relacionamentos anteriores não serviram para ajudar, mas...

- Não tenho problemas para identificar a diferença, lindinho. É que você quer os dois.

- Como é?!

- Acontece. Eu tendo a causar esse efeito nas pessoas, eu...

- Eu não tenho interesse em você! – reclamou entre dentes.

- Não é o que sua constante necessidade de me tocar com as mãos diz – e antes que levasse outro tapa, ele mesmo agarrou a mão de Tom.

Mas, sem entender suas próprias ações, se viu levando a palma até seus lábios e depositou um beijo.

- Eu estava tentando te causar dor! – reclamou Marvolo, acertando um peteleco na testa alheia e garantindo que não precisasse pensar muito sobre seus impulsos anteriores.

- Nossa, que ruim para mim, não é?

Lakroff riu e esperou que Riddle percebesse as implicações da frase. Levou, o que pensou, dois minutos inteiros antes do moreno bufar:

- Não é para gostar da dor, seu masoquista estranho.

- Então vai ter que se esforçar mais, "comensal". Você está a dias de distância do meu limite.

- Pervertido.

- Não me orgulho, mas sexo baunilha não é a mesma coisa.

- Como é?

- Você não vai querer que eu comesse a te dar explicações, acredite. Se o pouco que te falo te perturba tanto...

- Eu também não tenho interesse algum em ouvir você falar sobre seus fetiches, então nisso podemos concordar em evitar o assunto.

- Sim, vamos deixar para quando o relacionamento estiver mais oficial.

- Oficialmente, isso nunca vai acontecer.

- Tem um ditado trouxa que diz que, se você cuspir para cima, cai na testa.

- Você é nojento.

- Esse é um adjetivo novo. Já estava pensando que "esquisito", "maluco" ou coisas do tipo eram os únicos que você conhecia.

- Eu te odeio.

- Não, não odeia – riu.

Tom tornou a bufar e os dois entraram em silêncio por um tempo. Não estava desconfortável, entretanto, ambos olhando para Harrison e aproveitando um momento em de calma, mas então Lakroff interrompeu:

- Eu realmente te incomodo tanto assim quando te chamo de Tommy?

- Como é? - surpreendeu-se.

- Eu não queria que...

- Para - interrompeu.

- O que?

- Para com seja lá o que ia fazer! Não comece com seus sentimentalismos desnecessários.

- Eu só não tinha a intenção de te magoar. Queria que soubesse.

O moreno revirou os olhos. Lá estava o sentimentalismo.

Ele encarou o loiro irritado, mas sentiu tudo em si girar e mudar de forma irritante quando viu o brilho nos olhos azuis. Deveria ter alguma regra que impedisse uma família de ter olhos tão belos.

Olhos verdes da morte e do infinito para Harrison. 

Azuis como o céu, calmos como um lago, perigoso quanto oceano para Lakroff. 

Era quase injusto com os castanhos comuns de Marvolo, mas se Lakroff tivesse escutado isso, teria gastado um tempo para tentar explicar que não havia nada, absolutamente nada em Tom, que fosse comum. 

Tudo nele parecia gritar para que alguém lhe dedicasse um poema, um quadro, horas do dia apenas apreciando. No fim, o Grindelwald desistiria de abrir a boca, pois concluiria que seus pensamentos eram estranhos e tinham que ser mantidos escondidos como o resto de sua loucura.

- Eu não sou feito de vidro, Grindelwald – reclamou Riddle.

- Não é isso, é que... – o loiro apertou os lábios nos dentes, baixando a atenção para o colo de Tom, pensando como dizer aquilo – Eu não queria te atingir, se foi o caso, eu peço...

- Você não magoou meus "delicados sentimentos", seu molenga! Eu só fiquei irritado! Agora, não vai me dizer que eu machuquei os seus com a história do Albert? Por isso veio com essa?

- Não é exatamente isso. Eu sei que você só pensou na primeira coisa que fosse me irritar de verdade. É que... Você me deixa nervoso – admitiu, de repente, tornando a levantar os olhos.

- Como é?

- Normalmente quando fico ansioso eu fico frio, indiferente, finjo ser algo que não sou... Eu era assim. Lily e James me mudaram. Eu me sentia melhor quando era eu mesmo com eles e nunca julgaram por isso. Não totalmente – riu, aquela risada deprimida de quem pensa em coisas igualmente felizes e tristes. – Então eu não queria ter que fingir mais, falo tudo que me vem à cabeça, ajo como quero agir, divago em voz alta, brinco com talheres, não penso mais tanto antes de fazer as coisas e aproveito, tento ser mais como sempre quis. Como só alguns poucos conheciam. Não aquela versão gelada, forte e confiante que... que meu pai me ensinou a ser - suspirou. - Ele precisava de um herdeiro forte e eu... Depois de tudo queria aproveitar o tempo que tenho, porque nunca posso ter certeza se no dia seguinte.

- Você tem medo que eu te mate? - perguntou Marvolo após um tempo. - Tem medo que sua visão se realize e que eu... cause a morte de todos vocês? Por isso te deixo nervoso?

- Não – riu. – Isso já não me preocupa tanto. Você só me desconserta. Você, sozinho, sem as visões. É disso que estou falando, pois nunca sei o que pensar sobre você, então meus instintos fazem com que te veja como... não sei... um rival? Acho que sim. Você me inquieta, é um perigo para o Harry, é um comensal – brincou. – Mas também parece amá-lo.

Tom fez uma careta, mas baixou o olhar para o menino e não disse nada. Era a verdade afinal, por mais estranha...

Dolorosa ou confusa também.

- Ele também te ama – continuou o loiro. – Muito. Ele não sabe como é viver sem você e isso também me preocupa. Tudo em você, Tom, me deixa ansioso e então eu te provoco. Porque essa é uma das formas que criei de barreira, de lidar com as coisas. Não sei lidar com você, então tento rir da sua cara para me sentir mais forte.

- Então você estava me diminuindo – reclamou, mas não parecia bravo.

- Porque você é grande demais e isso é difícil.

- Lidar com o fato de que existe alguém melhor que você? – provocou divertido. - Achei que arrogância não fosse sua cara...

- Alguém que pode realmente destruir o pouco que consegui construir de uma vida - explicou sério.

- Eu nunca faria...

- Eu sei. Você não - e Tom entendeu a implicação daquilo. A cicatriz não faria, mas como seria o resto? - A cada dia me convenço mais disso, de que está tudo bem.... Mas eu ainda tenho medo, não pode me culpar.

O silêncio voltou. Profundo e contemplativo. Ambos estavam perdidos em seus próprios pensamentos, os olhos passando por lugares diferentes da sala enquanto a mente caminhava.

Dessa vez, foi Riddle que decidiu quebrá-lo:

- Minha mãe me deu o mesmo nome do meu pai - Lakroff se virou para encará-lo, mas Marvolo manteve a visão para frente. - Ela me deu o nome do trouxa que amava... como nunca amou a mim. Uma extensão dele, mas mesmo assim... Inútil para ela em sua dor. Igualmente uma lembrança da sua dor por ter sido rejeitada. Por ser quem era, por sua magia, que nunca lhe deu mais que dor. O nome Tom... Era uma lembrança constante da minha insignificância no mundo. De que nunca ia pertencer a nenhum lugar, nunca ia valer nada e ninguém nunca me daria valor por ser apenas quem era. Eu só queria ser alguém. Eu não era. Um órfão cujo pai, rico e com a vida perfeita, nunca desejou e abandonou até da memória. Filho da bruxa que não quis pedir ajuda e tratamento para outros bruxos, porque preferia morrer a suportar a vida sem o marido que nunca a amou de verdade e com os próprios de sua espécie. Nunca foi seu desejo me criar, isso é um fato. 

Ele suspirou. Avaliou bem e frustrado, encerrou:

- Eu não queria o nome Tom... Thomas - deu de ombros. - Nunca quis meu sobrenome trouxa. Nada do que vinha da minha "família", da mesma forma que não me quiseram. Mesmo meu nome do meio... ainda me incomodava, pois era dos bruxos que tinham nojo de mim. Eu era nada. Mas então... Hazz me chamou de Tom. Isso mudou tudo. Porque, mesmo que eu detestasse, percebi com o tempo que ele estava me dando o que mais queria no mundo: eu era alguém. Eu não era o filho do trouxa, não era o filho da bruxa feia e maluca, ou o bastardo dos... enfim... Eu não era a sombra daqueles que estavam envolvidos no meu nascimento. Era eu mesmo e isso, "apenas" isso, foi o bastante. Foi tudo! Para Harry não era "apenas". O meu tudo era o que podia oferecer e estava perfeito. Ele não necessitava de mais nada para me dar de volta cada parte de si, eu me tornei alguém para outro alguém e...

Suspirou, olhou para Harrison, a cabeça repousada em seu colo, um peso agradável que lhe causava um quentinho no peito, a respiração calma como não estivera em dias enquanto dormia, seus lindos cílios marcados mexendo pouco conforme respirava.

Harrison estava dormindo.

Seria muito arrogante da parte de Tom supor que era por sua causa? Que estar ali, exatamente onde estava, tinha oferecido o que Hazz precisava? Tocou a cicatriz, com um pouco de medo, mas nada aconteceu, o menino apenas suspirou e se ajeitou melhor, mais próximo de si.

- Eu era alguém para um outro alguém - continuou baixinho. - Era importante para uma criança que implorava por pessoas que o vissem com olhos que... eu quis ser visto um dia. Eu estava oferecendo isso a ele. Um consolo que nunca tive. Me tornei alguém para uma única pessoa do mundo e isso nunca me pareceu o suficiente antes, mas foi quando eu perdi tudo. Sempre quis ser importante, ser mais, só que... De repente eu não havia mais necessidade. Talvez eu só estivesse cansado de toda aquela ambição ou só estivesse... - negou com a cabeça. - Eu não se explicar. Hazz preencheu os espaços vagos da minha alma de um jeito muito maior que palavras podem explicar. 

"Cada trauma, cada amargura, cada sombra do passado que eu sempre quis esquecer por sentir que eram fraquezas infantis, um complexo de abandono que não me ajudaria em nada, ele reviveu, depois curou. Um a um, colou cada rachadura com seus sorrisos, remendou cada corte com sua personalidade forte e me levou cada dia mais com promessas de uma poder que nunca vi, mas um livre, natural, que busca apenas se conhecer. Eu me importava com ele e ver que Hazz se importava comigo foi bom. Se eu fosse embora, se eu deixasse de existir, ao menos uma pessoa do mundo lamentaria. Depois de tudo, em um lugar do mundo, eu faria falta e não qualquer uma.... eu faria a maior das faltas.

- Eu era alguém. E esse alguém era Tom - enfim voltou a olhar ara Lakroff quando disse. - Tom era o nome que Harry Potter me deu. Não minha mãe. Não meu pai. Nem ninguém. Harry me deu esse nome e Tom era alguém que faria falta. Eu gosto de Tom, quando sai da boca de Harrison - então baixou os olhos para o menino ao sorrir e dizer: - Eu não gostei de Tommy... Porque você estava debochando de mim. Você me fez lembrar de porque detestava meu próprio nome e a mim mesmo.

- Eu sinto muito...

- Não seja um emotivo comigo, Grindelwald. Isso não combina com a gente – dispensou. – Toda essa conversa não combina. Eu realmente me irrito fácil, sempre fui assim. Foi o caso, mas já passou. Consequências do orfanato, não ligue para essas coisas. Se começar a ser um bonzinho comigo vou achar perturbador.

O loiro sorriu.

- Quer dizer que você prefere quando eu te provoco? – perguntou abrindo seus braços e colocando um no encosto do sofá, bem atrás de Tom e se aproximando. O moreno o encarou de olhos estreitos, mas não disse nada da aproximação.

- Eu prefiro que você seja sincero. Não me trate como um fraco que não aguenta um pouco da sua pior versão. Acredite que a minha pior sempre vai ultrapassar.

- Tudo para você tem que ser uma competição?

- Só quando eu sou o ganhador - sorriu.

- Eu não te...

- Eu sei - interrompeu. Porque ele realmente sabia, ele conhecia o Grindelwald, pelos olhos de Harrison, mas conhecia. - Sei que você não me vê como fraco, nem queria usar o apelido para me degradar, pelo contrário, você admitiu isso no começo.

- Eu também não queria te incomodar de verdade, é para minha própria cabeça maluca que...

- Você só queria ter algum poder sobre mim, eu sei. Nada que eu não pensaria em fazer, se não fosse plenamente capaz de dispensar palavras e optar por uma maldição bem dada - Lakroff riu alto. - Mas Grindelwald, você é uma das poucas pessoas no mundo que meu orgulho permite admitir que... Não precisa ter esse poder. Você já o tem.

Lakroff arregalou os olhos. Tom bufou e deitou a cabeça para trás. 

Era para atingir o sofá, mas percebeu que encostou bem no braço do outro.

O Mitrica notou que o mais jovem tremeu um pouco e pensou que iria se afastar, mas Tom apenas fechou os olhos e ficou.

- Não totalmente, é claro, eu ainda te supero em magia – acrescentou e o outro se absteve de comentar. – Mas nem sempre. Você tem mais experiência, sempre foi mais calmo e eu odeio isso, só que também parece ser bem mais astuto! Eu sou o maldito sonserino, não suporto pensar que você tem ideias melhores, que consegue me superar intelectualmente em qualquer ponto, mas consegue. Você não se deixa abalar como eu, não surta de raiva e toma decisões idiotas, não teme demais ao ponto de ir longe para evitar seus medos, não passa do limite e da linha do racional por qualquer motivo, você não... Não viraria um comensal... – sussurrou, a voz abaixando até quase sumir.

Lakroff entendeu a verdade por de traz daquelas palavras. "Você não faria o que eu fiz". 

-Não sem um motivo... - encerrou.

- Você tinha seus próprios motivos.

- Mesmo? Ou eu só estava louco e obsessivo? Com raiva da minha vida e não dei o devido valor a ela? Me concentrando mais na raiva? Você não é assim, você não é... – Lakroff riu. – Que foi?

- É que a palavra que você poderia usar é emotivo e isso é tão irônico.

Tom ficou em silêncio por um tempo, mas então, para a surpresa do loiro, riu junto dele.

Marvolo tinha uma risada tão bonita quanto o som de sua voz. Parecia muito uma melodia. Lakroff tinha a impressão de que aquele som, aquele natural, uma risada simples e pura, era raro e se sentiu verdadeiramente honrado em tê-lo causado, mesmo que muito curto.

- Você é uma bagunça emotiva, mas nunca sob pressão. Essa é a verdade. Você se desliga totalmente quando está caçando um objetivo. É como se...

- Fosse uma arma?

- Sim – Tom olhou para Hazz, lembrou-se de como ele disse antes sobre usar as pessoas como uma arma, algo que se aponta e atira. Um rebanho. – A questão é que não tem ninguém do outro lado do gatinho, é só você. Nem seus sentimentos mandam em você, quando não os quer. Mesmo nos momentos em que está fazendo o que te pedem, você faz porque deseja assim. Você é um atirador de elite a sangue frio.

- Você não?

- Eu... não como você. Eu me irrito, me deixo levar mais pelas emoções, que pelo meu lado racional porque sempre acho que tenho razão, nunca admito minhas próprias falhas então não tem porque não explodir, não é uma falha se for parte do meu poder, é assim com as artes das trevas, mas isso são só... com as poucas emoções que me permito sentir. Raiva, frustração, ódio, inveja... eu sempre fui mais próximo da magia sombria exatamente porque deixava minhas emoções me tomarem, me fortalecia e me cercava das piores por sentir que ganhava com elas. Faziam o que eu queria. Eu...

- Entendi. Você era um perfeito bruxo das trevas - brincou. - Sua magia sendo uma extensão e materialização de seus desejos e emoções.

Mexeu levemente o braço naquela hora, que estava numa posição desconfortável, mas o fez com medo que o outro tomasse como uma deixa para sair.

Foi o caso.

Ao menos pôde se concentrar na beleza e intensidade dos olhos amendoados avermelhados que se voltaram para si:

- Sou um bagunça irritada – bufou. – Você é emotivo, mas não é bagunçado. Chora por qualquer coisa, não esconde um sorriso, não se permite uma expressão limpa se não for totalmente necessária, deixa claro seu descontentamento quando o tem... é quase um livro aberto para crianças bem burrinhas.

- Hei! – reclamou, mas riu em seguida.

- É disso que estou falando. Dessa sinceridade que você mencionou. Eu não teria coragem de ser assim.

- Mas eu só...

- Eu sei que você faz assim porque já passou por muita coisa, mas eu não passei? Olha onde fui parar! Depois de tudo eu... eu quero matar o lorde a que jurei só para que eu não encoste numa criança que deveria me odiar, mas que recebeu tanto ódio do mundo que preferiu me dar todo o carinho que podia e não tinha onde depositar.

- Você sente que está fingindo ainda? Que não é você mesmo?

- Eu nem sei. Com Harrison eu sou. Sempre.

- Isso não basta? Já não precisou de coragem para ser assim com uma pessoa? – e se aproximou mais, sem nem perceber, mas aconteceu. 

Tom outra vez não pareceu incomodado.

- Bem... talvez?

- Você não precisa ser como eu. Sou só um adulto cansado, que desistiu de tudo. Eu me importo com minha família, faço o que penso que vão precisar de mim, então também o que me vier a mente, mas isso é porque eu já desisti do mundo. O que tiver que ser, será.

- Como assim?

- Eu não espero mais nada da minha vida. Não olho para meu futuro, só para o presente. Não sou como Harrison, que acha que há esperança de melhorar essa lata de lixo redonda a que estamos condenados. Não sou como você. Vocês lutam, eu estou apenas vivendo um dia de cada vez e assistindo vocês ambiciosos trabalharem. Esperando para ver onde vai dar. Mas não quero que Harry fique apenas nisso, porque não acho que vai dar em nada... que vale esse sacrifício. Por mim, o tempo do meu neto não vale pela vida do planeta..

- Você se arrepende de tudo que fez? De quando você também era ambicioso e tentava?

- Não me levou a nada além de uma prisão e... você sabe.

- Você é uma das pessoas mais sentimentais que já vi – comentou Tom.

- Eu sei, mas porque voltou nisso?

- Quando você precisa fazer algo, tudo some e você se torna uma arma mortífera. Você ataca limpo, ninguém consegue saber no que está pensando ou se está pensando em algo. Como?

- Fico como meu pai ensinou a ser – deu de ombros.

- O que? Como assim?

- Eu sempre fui assim, um livro aberto. Só que meu pai detestava, é claro. Isso parecia sinônimo de fraqueza, as pessoas podiam e usariam contra mim. Contra nós. O jeito que eu ficava depois de uma visão principalmente, era problemático. Morria de medo delas. De ver mortes, cadáveres, massacres... eu não queria por nada no mundo. Chorava muito, implorava para alguém fazer parar. Ele... acreditava fielmente que enfrentar seus medos poderia me tornar mais forte. Que não havia como parar, então controlar era o melhor. Harrison é assim com fogo, você sabe, quando ele está muito nervoso e praticamente todo feitiço de fogo ele faz questão de aprender... O meu era um dom. Eu não poderia desligar, nunca foi uma escolha ter essas coisas na minha cabeça, então eu tinha que aprender a conviver... com a morte. Ele me colocou uma vez... – Lakroff parou por um momento, inspirou fundo e olhou para Harrisson. – Eu nunca falo sobre ele direito e também não vejo necessidade para isso, prefiro só esquecer. Mas ele assumiu que se eu detestava tanto as visões, porque não gostava de ver gente morrer, o que melhor do que me colocar no meio de um monte de cadáveres para me acostumar com a ideia da morte?

- Que quer dizer com isso?!

- Use a criatividade - sorriu. - O que acha que o lorde Grindelwald poderia oferecer nesse sentido? O que importa é que meu pai me ensinou a ir de cara com meus medos, sejam quais forem. Nunca deixar que me machuquem, que tivessem força contra mim. Ninguém no mundo podia ter força contra mim. Nem mesmo minha mente. Cada coisa... Se eu estava incomodado, se me deixava "fraco", era para ficar de frente até não me importar mais, nunca recuar, até... Ficar frio a essas coisas. Indiferente. Eu tinha medo de ver a morte, então usá-la a meu favor, torna-la minha força, me tornaria maior. Se eu precisasse matar então, que fosse.

- Mas...

- Eu sei.... Não... eu só... Não sei como falar sobre essas coisas, porque quando eu me escuto dizendo percebo que até isso, até meus problemas com ele, somem na minha cabeça. Eu me torno indiferente ao que tinha naquela casa. Porque tudo que me irrita, tudo que me dá medo, tudo que me incomoda ou machuca, e que eu não tenho poder para mudar, eu mantenho ali até ficar apático. Se ele teve sucesso em algo foi com essa lavagem cerebral - brincou e Tom percebeu que a risada parecia sincera e isso era era assustador. - Não sentir... era a minha força, não deixar nem mesmo meu pai me atingir. Eu sou assim, já quebrei tanto na vida e com as pessoas, que realmente só não ligo mais – bufou.

- E sua mãe?

- Nunca levantava a voz contra ele, é claro. Era a perfeita esposa da época. Nunca questionou uma única ordem do lorde. Ela me consolava depois das ideias de educação "maravilhosas", mas nunca... me tirou daquilo. Eu aprendi, tanto com ela, quanto com ele, que se eu quero alguma coisa do mundo então eu tenho que ignorar qualquer insegurança, todas as emoções negativas e focar no objetivo. Você tirava força das suas emoções, retaliava para se sentir vivo, deixava sua magia mais intensa para se impor e fazer sua marca... Eu não tinha poder para retaliar, então apagava. Era como ver tudo de longe. Vazio e incompleto, a cada nova dor, mais distante até... era mais fácil assim. Fazer o que tinha que ser feito. Você tirava magia da sua raiva, medo, frustração, ia longe com essas emoções com te acolhiam. Eu ignorava justamente essas. Minhas emoções faziam as coisas na minha vida piorarem, só me machucavam mais. Aumentando minhas inseguranças, fazendo com que eu hesitasse quando não devia, me tornavam... humano. Eu precisava ser uma arma. Então quando quero algo, eu desligo, as emoções podem aparecer na minha magia, mas nunca no meu rosto, nunca... no coração. Elas passam direto para a varinha, onde são úteis.

Por um segundo um pensamento perturbador passou pela cabeça de Tom:

"Talvez por isso você nunca foi magicamente mais forte que eu".

Artes das trevas precisavam ser alimentadas, Grindelwald estava admitindo que não deixava elas se alimentarem o bastante porque não se permitia sentir. O que aconteceria se ele parasse de ignorar a si mesmo? Suas dores, sua raiva, medo, ódio ou qualquer coisa mais intensa?

Igualmente importante: o quão ruim e dolorida era a cabeça de um bruxo das trevas, que entendia muito bem da arte e da importância de se permitir extravasar, para que ele verdadeiramente se achasse mais forte em uma versão apática e vazia? O quão ruim era para si mesmo entender a extensão de sua dor, que ele preferia não o fazer e perder parte de sua capacidade mágica no processo?

Quão forte era sua magia para que a versão vazia já fizesse o estrago que Tom sabia que aquele homem era capaz?

A lembrança da fuga de Nurmengard e do massacre lhe veio.

Gellert nunca mostrou as lembranças, mesmo com Harrison insistindo. Prometeu que o faria quando o menino atingisse a maioridade, mas apenas ouvir os detalhes já foi... Intenso.

Quando um necromante se permite ignorar qualquer limite e ser levado pelos seus desejos...

Desejo era o segundo princípio da magia sombria, emoção o primeiro, mas você não precisava dos dois se tivesse o terceiro, o do sacrifício. Gellert precisou da emoção naquela época? Desejo e sacrifício (as mortes) já não eram o bastante? 

- Às vezes vaza - Lakroff continuou, o chamando para o presente. - Nem sempre consigo lutar contra elas, é claro, mas eu tento nunca pensar baseado em emoções momentâneas, porque só me causam tristeza e confusão. Só me quebram. Seja pensando no passado com meus traumas e arrependimentos, no presente com as inseguranças e invalidação, ou no futuro com a incerteza e a perspectiva péssima que sou obrigado a assistir. Todas as emoções. Até...

- Amor? - ofereceu Tom e os dois tiveram que rir.

- Odeio essa palavra – disseram juntos e riram mais ainda quando perceberam.

É... eles se entendiam das piores melhores formas, não tinha como negar.

- Nos tornam igualmente fracos e fortes com o amor. Mas como impedir a parte ruim nisso? - questionou Lakroff.

- Acho que acabamos de estabelecer, me usando como exemplo, que todas as emoções são assim. Nos fazem fortes... mas idiotas impulsivos se não soubermos como lidar.

- É... – sorriu deprimido, mas também... leve. Era bom ter aquela conversa. – É o que parece. Entretanto, não sentir também é uma bosta.

- "Ser ou não ser..." - recitou.

- Olha, o anti-trouxa citando Hamlet! - brincou com horror fingido.

- Cale a boca! Olha quem fala... - Tom o empurrou.

- Eu tenho filhos trouxas. Dois deles.

- Vai a merda. Pode ser?

- "Será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e flechas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de provocações e em luta pôr-lhes fim? Morrer... dormir: não mais. Dizer que rematamos com um sono a angústia e as mil pelejas naturais-herança do homem: Morrer para dormir..." – Lakroff entoou, com calma, com aquela desenvoltura que sempre tinha ao se lembrar da passagem de um livro. 

Neste caso, sendo uma peça teatral ainda por cima, foi bonito de se ver pessoalmente, apesar de Tom não admitir nem para si mesmo. O loiro fazia olhando para cima, distraído com as palavras, entrando no papel e na peça. Era incapaz de ver como Marvolo assistia, também incapaz de saber como seu rosto ficava mais belo assim, olhando para cima e para a luz, a voz com... emoção.

Mesmo que as frases o jogassem para baixo.

- Que droga, porque você decora essas coisas?! – reclamou Riddle e Grindelwald riu – Você os chamava de porcos até alguns anos quando arrumou os seus, não me venha com essa.

- Eu gosto das coisas trouxas.

- Só não gosta deles, é isso? - riu.

- Não precisamos generalizar, sim? Alguns ainda prestam...

- Claro, alguns – e riu mais um pouco, mordendo levemente o lábio inferior para conter a coisa. – Seu velho hipócrita.

- Sou maleável, é diferente.

- Morrer para descansar? – perguntou, voltando para a peça de Shakespeare. – Pensei que não quisesse dar esse gostinho à morte?

- Não quero. Mas ela bate à porta e a vida é complicada, é normal que alguns pensem no descanso. Se te serve de consolo, no fim Hamlet chega à conclusão de que, mesmo com todas as dificuldades da vida e todo o sofrimento, ela ainda é preferível que as incertezas da morte.

- Isso não é consolo nenhum, você é um necromante, não se importa com essa incerteza!

- Bem, de certa forma é. Está preocupado com minha depressão não tratada Tommy? – Ele levou outro tapa. Naquela noite, qual seria o número daquele? – Desculpe.

- Primeiro: não estou preocupado com seus problemas psicológicos e sua brincadeira de corda bamba com a morte.

- Mesmo? Eu não conto para ninguém se tiver ficado. Vou achar uma gracinha, inclusive...

- Segundo... – continuou Tom o ignorando. – Te conheço a anos, Grindelwald. Sei das partes ruins e das boas...

- Admitiu que eu tenho boas?

- São poucas, quase não compensa.

- Tipo a vida na peça?

Marvolo negou com a cabeça, levando uma mão para a ponta do nariz e apertando.

- É isso, você me irrita em muito pontos. Eu preferia me livrar de você as vezes e simplesmente descansar, mas não o quero agindo como uma pessoa normal comigo, se contendo. Não encaixa. Mesmo quando desejo te matar, e isso inclui a maior parte do tempo em que está respirando, prefiro estar falando com o verdadeiro você, prefiro te suportar. Não quero dormir para descansar, não quero a arma fria, o lorde Grindelwald e perder o idiota sincero e sem filtro, que fala o que está pensando e faz Harrison feliz. Por isso, e essa tem que ser a última vez que temos uma conversa sentimental dessas...

- Não prometo...

- Você, "Lakroff Mitrica", não venha com medo de magoar meus sentimentos. Eles mal existem se não forem para jogar na cara de alguém em forma de um feitiço forte o bastante para me satisfazer. O emotivo aqui é você. Eu aguento, seja o que for que me trouxer e posso ser muito pior se quiser.

- Então eu vou continuar chamando você de Tommy – provocou aproximando seu rosto do moreno. 

Eles já estavam próximos fisicamente, agora a distância era... pequena... estranha...

Tom não se afastou. Para a surpresa de Grindelwald, ele sorriu e se aproximou mais. Centímetros, talvez milímetros estavam entre eles, ao ponto de Lakroff arrepiar quando sentiu outra vez lufadas de ar gelado contra sua pele:

- E eu vou continuar te odiando.

- Você não me odeia - sussurrou. - Sabe disso.

- Não é? 

Aparentemente as surpresas não tinham acabado, já que Tom levantou a mão direita e agarrou o queixo do mais velho, movendo sua cabeça até pairar diante dele. Um movimento em falso, uma tremida, eles encostariam... Marvolo mantinha o outro preso, inclinou a cabeça para o lado, uma expressão predadora onde os olhos vermelhos brilharam por um instante, seu sorriso aumentou quando ficou claro: ele ditava agora.

-Se você pode ser sincero, saiba que não preciso da sua autorização para fazer o mesmo. Nunca precisei - sussurrou de volta. - Vou continuar tentando te matar enquanto você dorme, porque você pode até ser útil, mas é substituível. Tem outro vidente sequelado e de problemas com o pai numa cela, uma cópia perfeita, que pode ajudar Harrison se precisamos. Fique de olhos abertos... Grindelwald.

Depois de cerca de cinco segundos olhando diretamente para os olhos azuis, Tom soltou o rosto alheio com brutalidade e voltou sua atenção para Harrison, com um sorriso e uma pose convencida que lhe caia maravilhosamente bem.

Lakroff ficou alguns instantes parado antes de se levantar num salto e ir atrás de mais vinho para a taça que esvaziou em um gole pelo caminho. Sirius não estava demorando? Vinha não era uma maldita bebida fraca demais? Whisky de fogo parecia uma boa pedida. Para conseguir evitar pensar em como seu coração deu um pico desnecessário de batimentos.

Ele decididamente tinha o pior gosto por homens.

Parou a mão no ar em direção da bebida, que finalmente havia achado.

"Inferno sangrento!" pensou em pânico "Eu estou admitindo que me senti atraído pelo merda do Voldemort me ameaçado então?!"

Pegou a garrafa, encheu a taça, tomou em outro gole e tornou a encheu, de costas para o sofá, de frente para o balcão bar.

Sirius e Remus observavam a cena da ante sala.

"Não tente dormir até o fim do mundo

E me enterrar vivo

Porque eu não vou desistir sem lutar

Se você me ama, deixe-me ir"

De longe, o casal wolfstar podia não só ver e ouvir o que Marvolo e Lakroff diziam e faziam, mas perceber detalhes mais sutis. 

Como Thomas olhava com interesse para as costas do Mitrica, como os olhos do loiro pareciam correr pelo moreno procurando mais informações o tempo todo quando estavam juntos, ou a forma que pareciam sempre arrumar uma desculpa para estar mais próximos fisicamente, mas no instante que percebiam isso, criavam barreiras que os paravam a milímetros de um limite invisível que só eles sabiam exatamente onde estava, mesmo quando lutavam contra essa linha, um impulso os fazia fugir e assim seguiam. 

Algo que os impedia de ir mais longe, mas um imã maior ainda e mais forte que eles mesmos, os fazia voltar.

Como agora. 

Com Lakroff, já abastecido da bebida bruxa, indo para o sofá novamente. Não sentou-se longe o bastante para ficar estranho, mas também não próximo o bastante para ser como antes. Mesmo assim haviam outros assentos e Tom logo começou a conversar então, a cada frase que trocavam, como num jogo de ping pong, o loiro voltava a se aproximar. Provocando e sendo provocado.

Eles falavam de algo importante. Debatendo sobre os hábitos alimentares de Harrison, Thomas estava preocupado com o menino fazendo exercícios diariamente e não comer a quantidade ideal para seu esforço físico e intelectual. Lakroff estava sugerindo uma tabela nutricional, talvez o levar a um médico de novo, mas o casal na porta estava mais distraído com como a dinâmica daqueles dois funcionava.

- Ele realmente funciona como um segundo pai do Harrison – comentou Sirius baixinho.

- É o que parece. Harrison também parece ser ainda mais apegado a Thomas, se quer saber.

- Hazz o conhece a mais tempo que Lakroff. Mesmo que sejam família de sangue, isso não é nada para uma criança que passou pelo que ele passou com Petúnia. Lakroff também se sentia no dever, tanto por James e Lily, quanto pelo sangue. Tom não tinha nada que o fizesse simpatizar com Harrison, pelo contrário, ele tinha tudo para odiá-lo e trata-lo mal, mas... Bem... fica claro que tem muito carinho.

- Um comensal... - Sirius olhou para Remus, mas não teve tempo de questionar antes do loiro continuar. – Harry Potter teve mais acolhimento e carinho de um comensal da morte e do filho de um lorde das trevas que de quase toda a sociedade mágica que o chamava de herói. Eles estão debatendo sobre leva-lo a um nutricionista trouxa para não o incomodar com a ideia de sua saúde fraca cair na mídia. As duas pessoas que todos diriam que odeiam trouxas e que... bem ouvimos comentários do tipo, os dois tem sim seus problemas com eles, mesmo assim nada disso importa se for por Harry. Inferno, o próprio lorde das trevas Grindelwald se importou mais e lutou para ter certeza de que estaria bem.

- Sim... Mas onde você está querendo chegar?

- Eu só estava pensando – suspirou – Dumbledore nunca foi verificar a saúde dele.

- Bem, já sabemos disso.

O lobisomem encarou os olhos azuis de seu namorado por um longo período e Sirius conseguiu perceber uma dor neles por isso, tentou se aproximar, mas Moony se afastou, decidindo voltar para a cozinha. Black foi atrás.

- Estou querendo dizer que isso não é ridículo? - perguntou de repente. - Nós confiamos nele! Você confiou. Deu Harry à Hagrid aquela noite porque confiava que Alvos cuidaria bem do seu afilhado, melhor que você mesmo, é literalmente sua defesa. Você não o abandonou, mas o deu em mãos capazes, quando você mesmo não estava bem psicologicamente e todos entendemos isso. Mas Alvos nunca fez questão de dar uma olhada no menino enquanto, pelo que Lakroff disse, o homem teve dois... Malditos dois, Sirius! Dois obscuriais na família. Ele deveria entender o risco que é deixar uma criança com trouxas. Mesmo que os Dursleys o tratassem bem, e os outros trouxas por aí? Na escola, no bairro? Onde os irmãos de Alvos foram pegos? Não foi pela família, então ele tinha que entender que havia um risco que devia ser cuidado! Enquanto isso, Gellert Grindelwald arrombou sua cela e saiu correndo para fazer alguma coisa. Pedir ajuda do filho, acima da própria vida! Pior! Ao que tudo indica ele nem era um pai exemplo e fez isso pelo bisneto sem hesitar, sabendo que seu filho não falharia em mandá-lo de volta e que a prisão poderia escolher matá-lo!

- Sei disso - murmurou o animago. - Mas... o que podemos fazer?

- Por que será que eles ainda não processaram Alvos por negligência? Por que Harrison quis vir para a Inglaterra e chegar perto de todas essas memórias horríveis? Que merda está acontecendo com a nossa sociedade que os "bonzinhos" deixaram toda essa merda acontecer enquanto os "vilões" gritam essas falhas? Pelo que estamos lutando se a luz continua deixando essas coisas acontecerem?

- Moony.... Aquilo que você disse antes, sobre mudar de lado... Você?

- Pads, eu sinto muito, mas eu... penso sobre isso desde a guerra. Como os lobos apoiavam Voldemort porque era o único que nos oferecia direitos, mesmo que fossemos criaturas, mesmo que a maioria fosse mestiça, mesmo que ele apoiasse a supremacia de sangue, era o único que via valor... Eu... Eu nunca quis ficar do lado de Voldemort, mas também não quero mais estar do lado do Dumbledore. Eu cansei. Cansei de ser o bicho. Na Durmstrang, quando eu andava e os alunos descobriam que eu era lobisomem, eles não corriam de mim, mas sorriam e corriam para mim, perguntando meu nome, que aulas eu daria, me deram boas vindas e continuavam com suas vidas. Eu não era uma aberração, nem atração, monstro ou qualquer coisa além do novo professor que "sua alteza" conhecia. E quem fez isso foi Lakroff. Ele ensinou seus lados, ensinou sua escola a não nos temer. Colocou um professor como Leandro,  um dos maiores animais do mundo, nos corredores e fez todos o respeitarem. Deu espaço e Leandro conquistou cada um lá porque podia ser ele mesmo e fazer isso com naturalidade. Levando os primeiros anos atrasados nas costas, cavando um buraco na entrada para esconder a varinha de outro.

Sirius riu:

- Como é? Ele fez isso?

- Fez - Remus riu junto, mas da mesma forma que estava achando a situação engraçada, ficava claro que continuava deprimido. - Quando estávamos voltando para o Instituto, depois que fui aparatado pela coleira, vi um menino com uma pá retirando terra e Leandro gritou com ele quando passamos "se amaldiçoar mais alguém pelas costas de novo, eu enterro você! Deixo só a cabeça para fora!".

- Os professores podem ameaçar os alunos assim por lá?

- Sejamos sinceros, Argo Filch nos ameaçava com torturas nas masmorras e ninguém nunca disse nada. É literalmente esse o ponto. Por aqui, um aborto dizer coisa do tipo, ou até pior, está tudo bem porque ninguém leva a sério, mas se eu falasse seria o pandemônio. Na Durmstrang... todos são iguais. Serão tratados de acordo com como tratam os outros. Os alunos respeitam Leandro. O menino da varinha deu risada e disse apenas "eu prefiro que o senhor continue enterrando ossos que não sejam os meus, obrigada". Isso acontece porque não o viram como um doente, como uma praga! Naquela escola os alunos sabemos como funciona a licantropia e possuem no quadro de avisos as fases da lua para não torrarem a paciência do professor de propósito. 

"Lá não é falha do Leandro ficar bravo, não é porque ele é desequilibrado, mas porque é humano e é falha dos alunos serem inconsequentes, não respeitarem os limites de uma pessoa. Leandro é especial, existem concessões a serem feitas diante dele, mas cabe a sociedade acolhê-lo para que todos tenham espaço para viver com equidade e em harmonia. Eu estou falando isso e as palavras parecem tão absurdas, tão irreais e utópicas que é estranho! Em que mundo isso acontece? 

- Bem... No mundo que Lakroff ensinou suas crianças a isso. A cada nova diferença ensina um pouco mais. Adapta a escola. Sabia que o conselho estudantil tem um dormitório próprio?

- Não sabia, mas o que tem isso?

- A primeira coisa que foi feita lá foi o banheiro. Era um neutro, na verdade. Tanto homens, quanto mulheres podiam usar. Sabe por quê? Havia uma aluna que estava em transição.

- Como?

- Tem uma aluna transexual na Durmstrang. Você sabia?

- Não...

- A menina não queria mais usar vestiários masculinos e tinham alguns pais que reclamaram dela começar a usar o feminino. Não sei se você sabe, as poções hormonais podem ser tomadas já na puberdade, com a autorização dos responsáveis e com acompanhamento médico especializado, também psiquiátrico até onde soube... eu não sei muito sobre isso na verdade, nunca pesquisei, Leandro que me explicou por cima e prometeu que quando tivéssemos tempo me daria os detalhes. É algo delicado, mas há poções e muito estudo nesse sentido, da troca estética duradoura, para abranger os transgêneros foi preciso adaptar e, mesmo com a luta constante com o preconceito, já é bem seguro e você mal tem a chance de notar a diferença de uma mulher cis ou não. Existem poções para desenvolver em um bruxo um sistema reprodutor funcional adequado para seu novo gênero e tudo. Nem é algo estranho de se imaginar. Temos poções que em segundos te tornam quem você quiser, basta ter um pouco de DNA, o que é tão estranho se estamos falando de um tratamento de anos, acompanhado das poções adequadas e médicos especializados que estarão ajustando tudo para seu próprio caso? São muitos recursos para algo que a magia garante... Mesmo assim, existe o preconceito e sabe porque? Dizem que é por causa da cirurgia! A mudança de órgãos íntimos só pode ser feita depois que se atinge dezoito, se você desejar... Não são todos que querem isso e eu nem sabia desse fato! Foi Leandro que me explicou muita coisa enquanto me contava a história.

- Dezoito? Mas...

- Um ano após a maioridade bruxa, sim. Você sabe como nós bruxos somos com cirurgias, não é algo que... É muito trouxa, para a maioria. Bárbaro e até automutilação para outros. É um dos motivos que ainda são julgados por algo como uma mudança de aparência que se adeque a como se identificam, mesmo num mundo... Como o nosso. Mágico. Onde mudanças físicas vem com um feitiço, onde existem metamorfomagos que fazem a coisa naturalmente, mas alguém... Diferente é julgado. Alguém que só não se vê no corpo certo tem que lutar para ser aceito no banheiro certo. Consegue imaginar como é difícil para uma pessoa assim e ainda durante a escola? Em um instituto de artes das trevas, onde todos são acostumados a fazer o que seus instintos mandam e depois arcar com as consequências... Todos conheciam ela como homem, então chegar no primeiro dia de seu terceiro ano dizendo a todos que agora você quer ser tratada no feminino? É diferente. A diferença assusta, todos são assim. Eu consigo imaginar como seria terrível em Hogwarts, mas Lakroff fez o neutro até conseguir conscientizar os outros alunos e pais. E ele conseguiu! O esquema completo. Reuniões, palestras, não só sobre isso, mas toda a comunidade LGBT e até ensinou mais sobre a medicina trouxa e como ela não devia ser descartada como uma forma de conhecimento, mas adaptada, como tantos outros feitiços, para a nossa realidade.

[N/A: A sigla LGBT surgiu no fim dos anos 1980 para se referir a comunidade composta pelos, na época, ainda denominados Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros. Ou seja, sim, já existia nesse ano 1994. A nossa sigla atual, entretanto, ainda não estava a disposição dos personagens, então tentem entender meu ponto em usá-la sim?].

- Durante todo o processo o conselho estudantil ficou com a menina, a apoiou, perguntavam como se sentiria confortável de tratar a questão com os demais alunos, o que esperava por parte da escola, ela e sua família é claro, o que esperavam de posicionamento por parte dos professores, sempre preocupados em mantê-la confortável enquanto explicavam os conceitos novos para os demais alunos. 

"Não tem um banheiro separado para lobisomens, porque teria para ela? Mas a garota se sentia mais confortável assim, estava no começo da transição, também lhe era delicado, foi uma escolha dela junto da direção. Que abraçou a diferença e se adaptou. O conselho, que tinham a mesma idade e, por isso, podiam deixá-la mais a vontade, falavam com sigo e com uma prima, sempre acompanhados e respeitando seus limites, então passavam para a direção. Harrison e os outros também garantiam que os outros homens não a incomodassem. Não que precisasse muito, Leandro disse que ela mesma os derrubava antes que tivessem a chance de fazer algo.

"O grande cerne aqui é que Lakroff e os professores se juntaram quando apareceu alguém diferente e fizeram essa diferença algo natural, o que é para ser! O mundo é diferente! Cheio de pessoas e situações únicas e devemos aprender a conviver com cada uma, é assim que é conviver em sociedade. Eles perguntaram e seguiram com os próximos passos respeitando os limites da pessoa e tem muito mais coisa, Leandro me prometeu que contaria depois... E ele pode explicar! Porque os professores tiveram aulas sobre isso, assim como os alunos. Foi ensinado. Ele simplesmente não tinha tempo para falar de todas as mudanças feitas por Lakroff como vice-diretor e Harrison como presidente do conselho. Esse é só um dos casos. Leandro, Natasha... acho que esse era o nome da menina...

Dumbledore também tem uma escola, tem as mesmas limitações que Mitrica, mas na escola dele... os alunos e professores não foram ensinados a respeitar. Na escola de Dumbledore, formaram um aluno como Snape, que enquanto professor deu uma aula, quando eu precisei que me substituísse, de como me reconhecer, caçar e matar. No meu momento de maior fragilidade...

Sirius arregalou os olhos e cobriu a boca assustado.

- Ele fez isso? – perguntou um choque.

- Fez. E eu? Relevei, é claro. É isso que eu tenho que fazer aqui, nesse país, com as nossas leis. Eu perdoo, porque não posso ficar bravo, poque sou louco e instável se ficar. É disso que estou falando, na Durmstrang Leandro poderia derrubar uma parede no soco e vão perguntar para os alunos porque ele fez aquilo. Responsabilizá-lo por se irritar a esse ponto, é claro, mas também responsabilizar quem o deixou daquele jeito na mesma proporção. Você paga pelo que faz, ponto. Quanto mais escuto sobre isso, mais certo eu acho, porque qualquer ação na vida tem suas consequências e todos... passam por elas. A vida não escolhe, nem Lakroff. Porque os sentimentos das pessoas são válidos. Porque, Leandro é uma pessoa, não uma criatura que precisa ser drogada para conviver em sociedade como eu precisei. Uma menina transgênero é apenas uma menina, que no máximo precisa de apoio para que não seja mais difícil as próprias mudanças. Lakroff estabeleceu isso. Ensinou. Dumbledore também não devia? Eu não devia me sentir confortável em ir reclamar com Alvos por essa merda que Severo fez? Mas eu não me sentia!

Sirius sentiu um peso forte no coração, ao mesmo tempo que se orgulhava de si mesmo. Ele sabia que, normalmente, isso seria o suficiente para voltar a odiar o ranhoso e na próxima vez que o visse, já chegaria com um soco bem dado naquele nariz gigante. Severo deu aulas de como caçar Moony?! Que merda

Mesmo que... bem... a "pegadinha" tivesse o deixado com medo de Remus como criatura, naquele ponto eles já eram colegas e adultos, isso era muito errado e ele deveria pensar nisso! Mas sua primeira reação não foi se imaginar arrebentando o morcego no soco, mas sim pensar em como abordar o tema com o colega e pedir que se desculpasse com Moony.

Era o certo. Agora, se ele não fosse maduro o suficiente para entender que magoou o namorado de Sirius com algo realmente delicado, então o Black não se responsabilizaria pelas próximas atitudes e quebrar o nariz seria pouco.

Quer dizer, até ele que era... bem... Sirius, soube reconhecer suas falhas e pedir desculpas.

- Eu fiquei quieto – continuou Remus, apoiando-se na parede, parecia que mal tinha forças para não deslizar por ela até o chão. – Porque eu sei que minha reclamação não daria em nada, porque eu sei o que Alvos diria: "Bem... é uma matéria do currículo e você, obviamente, não se sentiria confortável em ensiná-la. Talvez tenha sido melhor assim...". Merda, ele deixa ter uma matéria dessas no currículo da escola dele! E me pôs lá! Não adianta falar que Alvos não pode mudar o currículo, porque ele muda. Esse ano estão dando as imperdoáveis para os quartos anos e eu fui professor lá, sei que não era matéria para essa idade. Você e Hagrid praticamente nem olharam o currículo antes de decidirem sobre o que falar nas suas. Para me apoiar, apoiar de verdade, como eu precisava que um político e um diretor o fizesse entretanto, Alvos não teve qualquer questão de se posicionar.

"Lakroff, que é apenas o vice-diretor, não escondeu quem Leandro era. Ele juntou todos os pais e os fez aceitá-lo, os convenceu a dar uma chance e provar que não havia nada demais em um lobo. Fez o que uma escola deveria fazer e ensinou as pessoas. Não só isso, quando eu cheguei aqui, você lembra o que ele disse? Sobre sempre se preocuparem em perguntar se Leandro estava confortável com sua situação? Que sua opinião era importante e requisitada? Eu vi o que isso faz na prática. Alvos nunca tentou! Eu sempre o achei incrível por me aceitar como aluno. Fazer tudo o que fez para que eu pudesse estudar, mas para alguém como Lakroff isso seria o mínimo! Não algo digno da lealdade que eu ofereci. Ele teria usado a oportunidade, se eu me sentisse confortável, para conscientizar todos os alunos sobre uma condição mágica incomum, mas que é só algo a mais para entender nos mistérios do mundo mágico. Ele fez isso, em todos os casos que caíram em seu colo. Dumbledore enfiou tudo que ele poderia oferecer como figura política e diretor de escola no lixo.

- Ele mantem o mínimo de esforço e cada dia eu vejo mais disso. Ele é um bom líder? Talvez. Em uma guerra, contra um inimigo fácil, contra um monstro humano e físico. Contra os inimigos subjetivos da sociedade... Ele falha. Tem boas ideias, mas usa as pessoas sem perceber porque... Não sei? É convencido? Tem uma boa moral, mas não luta  o suficiente para fazer as pessoas acreditarem no que diz, ele quer que todos cheguem as conclusões sozinhos, mas quando é para usá-los como um meio numa batalha, então a coisa muda de figura. É obedecer sem questionar, porque ele sabe mais. Diz que não interfere, por não se sentir no direito? Isso está errado! Alvos se entope de trabalho, não consegue lidar com nada e... ele não luta para mudar nada. Não muda a sociedade para melhor de forma efetiva, com aulas, conscientização ou leis, tudo que está bem na palma de sua mão... - O lobisomem pareceu derrotado pro um instante enquanto levava a mão para os cabelos e bagunçava. - Eu retiro o que disse. Ele não é um bom líder. Ele serviria como general, no máximo. Dar ideias numa batalha, mas não devia ser o que toma a decisão final. Acho que seu maior ato de sabedoria foi quando o Qilin se curvou e ele pediu para que escolhesse outro, ao mesmo tempo que foi a maior prova de sua falha como alguém com vontade para abraçar as causas que precisam de ajuda.

Sirius esperou, para ter certeza de que o namorado não diria mais alguma coisa, mas Remus pareceu que realmente não tinha mais nada a acrescentar. Nem vontade para isso. Então puxou o loiro delicadamente para seus braços e aceitou o aperto firme do lobisomem, acariciando suas costas e o consolando.

- Moony.

- Oi, Pads?

- Eu sou o lorde Black.

- O que tem?

- O que tem? Cinco cadeiras, é o que tem. Uma das famílias mais fortes, politicamente falando, e eu sou o dono - disse firme, se afastando apenas para conseguir nos olhos de seu namorado.

- Sirius, você...

- Eu concordo com você. Essa merda toda está indo longe demais. Não quero continuar negligente a tudo, mas também não posso fazer de uma vez. Eu nunca prestei atenção a nada nesse sentido e a culpa é minha tanto quanto de quem tentava me ensinar. Só porque não concordava com o posicionamento dos meus pais, nem suas aulas macabras, eu não devia ter ignorando o conhecimento que me davam sobre a política se queria mudar essas coisas. Eu vou aprender, vou melhorar, vou estar do lado do Dumbledore entendendo seus passos, como conseguir as coisas, entender o processo que cada lei passa. Então vou fazer o que todos deviam fazer: lutar pelo que acredito. Fazer diferente. Vou usar o poder que tenho para o que eu acredito.

- Pads... isso é... tudo. É issoque estou falando, mas você não precisa se não...

- Eu quero. É o certo. É o que eu deveria ter feito, uma guerra não é apenas luta armada e nós ignoramos essa parte. Mas agora temos Lakroff, temos Harrison. Moony, nós nunca veríamos essas coisas sem eles, seja qual for o objetivo final, eu acredito neles para seja o que for. Não acho que as pessoas que estão fazendo e lutando por cada um desses pontos que estamos vendo fariam uma sociedade ruim. Eu vou aprender e lutar para ajudá-los, para ser útil não apenas como arma, mas alguém integral de uma sociedade melhor. Como Thomas disse mesmo? Harrison é o príncipe e nós estamos o ajudando a melhorar o reino. Bem, eu estou disposto a realmente ser útil nesse reino. Ser um Ministro.

- Eu também, é claro.

- Você estará na Durmstrang...

- Vou aprender como aquelas pessoas conseguiram mudar e aceitar um lobisomem, vou tentar entender e fazer parte da mudança no meu país um dia. Quando eu estiver mais capaz, quando ver que é possível. Lutar pelos meus direitos!

- Você será o consorte Black. Se eu fizer o meu trabalho direito, será possível. Você será ouvido e vai conseguir.

- Eu... - então parou. Franzindo o cenho.

- Que foi?

- Eu vou ser o consorte porque Harrison sugeriu... - sussurrou.

- O que tem?

O lobisomem ficou mais um tempo pensando, depois sorriu, então riu baixinho. 

Era absurdo, mas...

- Ele não está nos usando, ele acha errado, ele quer que nós cheguemos as respostas sozinhos... Mas não quer dizer que não nos empurrará na direção que quer - seus os olhos brilharam, conforme dava mais uma risada.

- Moony?

- Ele nos fez um casal. Te fez o lorde Black. Me fez consorte e me levou para a Durmstrang, onde a mudança já está em andamento, para treinar...

Sirius franziu o cenho e recuou:

- Você não está sugerindo que ele teria pensado em coisas assim, não é? Quer dizer... é outro nível de manipulação, é literalmente nos dar a faca, o queijo, o pão e nos dizer que estamos com fome então...

- Então deixar que escolhemos comer o queijo e o pão, ou ir atrás de outra coisa, a escolha ainda é nossa, mas se quisermos acompanhá-lo - riu mais. - Tudo já foi preparado.

- Moony! Você está supondo que aquele garoto vai muito além de simplesmente pensar no presente! Ele está praticamente... jogando xadrez com pessoas como peças, nessa sua ideia! Está prevendo e... Ele... teria que ser absurdamente... ele teria que ser quase um...

- Sirius?

- O que?

- Ele é o lorde Slytherin - pontoou lentamente, como se explicando um conceito difícil para uma criança, mas algo igualmente óbvio. - Futuro lorde Grindelwald. Você está duvidando das capacidades de ver à frente e manipular pessoas para conseguir o que quer, em uma pessoa dessas?

- Mas isso é absurdo! Ele tem quatorze anos!

Remus riu. Riu de verdade e com todo o corpo quando a única coisa que ele conseguiu pensar foi:

- Mas é o Harrison!

E aquilo parecia uma boa resposta.

- Mas... Ele também é um adolescente!

- E um Potter. James disse que se casaria com Lily, disse que mataria Voldemort. De um jeito ou de outro, sempre teve tudo que quis.

- Mas... - tentou pensar em algo, mas a expressão divertida e empolgada do namorado, as coisas que estavam acontecendo, na velocidade em que estavam...

Seria mesmo possível?

Alguém seria capaz de ir tão longe? Pensar tanto em cada coisa e com tanta antecedência?

Sirius suspirou:

- Então é isso? Está dizendo que só precisamos... só continuar? Aprender e que, se fizermos direito, Harrison já estará esperando? 

- Talvez? - e riu mais um pouco, porque ele sabia que era absurdo, mas ao mesmo tempo parecia tão plausível que tornava-se apenas assustador.

Sirius também acabou rindo e, se encostando na mesma parede que antes estivera o lobisomem, murmurou:

- Então que Lady Magic abençoe o príncipe Harrison.

- Lorde das trevas? - questionou Remus.

- Só não conte a ele - respondeu Sirius.

- Sirius?

- Sim, Moony?

- Isso quer dizer que somos oficialmente servos do novo lorde das trevas?

Sirius deu de ombros:

- Ministros. Ele já aceitou a nomeação.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, aceitando que... sim. Harrison não seria um líder da luz, ele claramente lutava por coisas que se encaixavam nas artes sombrias, prezando pela liberdade, da prática da magia, das tradições da religião bruxa antiga, do valor daqueles que lutam, que tem poder... 

Mas ele também acreditava na aceitação da magia e de tudo de diferente nela, de todos os praticantes, sejam bruxos ou criaturas, assim como suas próprias individualidades... 

Talvez um lorde cinza?

Ele quase morrera queimado antes de decidir por lutar, não é? Cinzas pareciam adequadas.

Também dava um novo significado para fênix na cabeça da dupla de marotos, sem dúvidas. 

- A gente também ganha uma marca um dia? Um chacal com galhadas, talvez?

- Ficaria muito grande para o antebraço. Não acho que seja o caso. Ele vai escolher outro lugar ou outra coisa...

- Apesar de que não acho que ele marcaria pessoas - o lobisomem deu de ombros. - Tira um pouco toda a coisa de escolha em sair. Talvez roupinhas combinando?

E os dois riram da brincadeira e pegaram mais whisky de fogo antes de ir para a sala.

"Porque essas palavras são facas

E deixam cicatrizes com frequência

O medo de se desmoronar

Que a verdade seja dita, eu nunca fui seu

O medo, o medo de se desmoronar (oh oh oh)"

Olá pessoas. Será que vocês gostaram? 

Eu estou me sentindo mal porque os últimos capítulos estão todos sendo grande, com cerca de 17 mil palavras para mais. 

Desculpem por isso.

Prometo que os próximos não serão assim, vou tentar ser mais objetiva, é que nesses eu não sentia que podia porque precisava mostrar como os ministros e o Harry se aproximaram para que a família se formasse, não é?

Bem, semana que vem não terá capítulo regular, vocês vão receber, ao invés disso, dois bônus. Um wolfstar muito pedido (se tudo der certo) e outro com as cenas cortadas dos últimos capítulos desde o bônus de número um. 

Que são várias.

Vou tentar juntar todas de forma que faça sentido e vocês, conforme lerem, verão que são importantes, mas é aquelas, eu só não sabia onde encaixar. Agora virá tudo junto.

Enfim, me deem sua opinião e até semana que vem!

A mimir que tenho aula amanhã de manhã...

PS: A propósito, vocês tem fanfic wolfstar com hot para me indicar? Percebi que nunca li nada deles quando estava tentando fazer o meu e queria comparar...

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