Capítulo 31 - Adoração e algo ainda inominado
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Espero que vocês gostem.
Boa leitura.
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Capítulo 31 - Adoração e algo ainda inominado
"Tom Marvolo Riddle tinha sentimentos e isso era estranho,
mais ainda era reconciliar esses sentimentos sendo alguém (literalmente) fragmentado"
- Lala avisará o lorde Harrison, meu senhor, quando os demais lordes estiverem presentes – disse a elfa, muito feliz, que trajava um lindo vestido rosa, com borboletas bordadas que pareciam voar toda vez que se mexia.
- Obrigada, Lala - agradeceu Harry.
- Lala, também avisará quando a comida estiver pronta.
- Monstro garantirá que Lala faça um jantar adequado – disse o elfo mais velho com sua voz áspera.
- Lala se segurará para não matar, por ciúmes, o meu novo colega, Monstro.
- Monstro garante que não deixará a elfa do mestre Harrisson derrubar mais alguma coisa na nobre casa dos Black e fará seu melhor para ajustá-la aos padrões mínimos exigidos. Monstro nunca fez milagre, mas pode tentar.
- Lala também promete não bater, por raiva, no seu colega presunçoso.
Harrison mordeu o lábio para segurar suas reações.
Lala havia sido chamada a alguns minutos e quando chegou no hall da mansão, já foi derrubando um enorme porta guarda-chuvas que parecia ter sido feito com perna de trasgo. Harrisson nem se importou, é claro, Lala era estabanada e um tanto lenta de raciocínio, mas dava seu máximo e sempre foi a mais gentil e leal com ele.
Monstro, entretanto, achou aquilo uma afronta a seu mestre e reclamou muito, por todos os cantos e, no mínimo, a cada duas frases da colega.
O jovem lorde estava achando a interação muito engraçada, além de adorável, poque, de um jeito ou de outro, ficava claro que Lala gostou de Monstro. Os outros elfos eram tão gentis com ela quanto possível e a fêmea sempre achou que alguém deveria puni-la por seus erros. Monstro não estava punindo, mas evidenciava suas falhas com palavras assertivas, não a tratava como incapaz de aprender, que era a impressão que os outros poderiam passar por (muitas vezes) nem lhe darem serviços para não terem de limpar a bagunça depois.
Monstro não disse nada sobre Lala ser a nova responsável pelo acompanhamento do jantar, apenas deixou claro que a vigiaria. Ele também não devolveu o objeto derrubado antes, pelo contrário, gritou com ela para que colocasse em seu devido lugar. A ensinou a concertar seus próprios erros. Lala estava feliz, porque estava diante de alguém que exigia dela, a fazia ter a impressão de que, se tentasse então, podia.
Apesar de que Harry achava, com toda honestidade, que os outros elfos Grindelwald só não se colocavam no direito de exigir algo da companheira, já que eram todos livres. Monstro não tinha esse conceito. Para ele, se Lala era "elfa do mestre Harrison", mesmo que fosse uma vergonha receber por "uma honra dessas", ela teria que ser excepcional.
Monstro se achava no direito, como elfo jurado e que não precisava de algo afrontoso, como galeões, para servir seu mestre, de julgar o trabalho de Lala.
E ela estava disposta a ouvir e melhorar.
Nem por isso a interação deles não parecia bem atrituosa. Principalmente depois dela descobrir que Monstro era, oficialmente e até sua morte, o único elfo tradicional de Harrison que ele não pretendia e nem iria libertar.
Assim como havia imaginado, ela surtou.
Enquanto o mais velho resmungava sobre elfas mal treinadas e ridículas, que não faziam jus ao herdeiro do lorde das trevas Grindelwald, Harry se aproximou de Lala e fez um carinho em sua cabeça de cabelos loiros curtos:
- Parabéns pela palavra difícil, Lala.
A elfa se iluminou em seu lugar e deu pulinhos. Monstro, por outro lado, bufou:
- Ela é uma estabanada que devia ser punida! – ela havia acabado de derrubar uma cadeira ao andar pela cozinha, mas nem valia a pena comentar.
- Lala usou corretamente uma palavra nova! Lala sabe usar a palavra presunçoso em uma frase! Lala será a elfa perfeita para o Lorde Peverell-Potter! – comemorava a fêmea, ignorando o outro da mesma espécie. – O lorde aceitará Lala como elfa um dia!
- Ela foi punida – disse Harrison seriamente para Monstro. – Sua falta de jeito a impediu que eu, agora, continue com o carinho. Viu? – e retirou sua mão de Lala, que choramingou. – Não só isso, estou oficialmente ordenando que ela terá de passar o resto da noite junto de você, Monstro, sendo treinada por suas obvia experiência, assim como disse. Conto com o trabalho árduo de ambos.
O mais velho se aprumou e fez uma longa reverência:
- Como desejar, meu senhor. Farei meu melhor com essa...
- E Lala – interrompeu se virando para a amiga. – Você já minha elfa – sorriu se abaixando na altura da mesma e sussurrando de forma que Monstro não ouvisse: - E precisa ser uma boa menina para seu novo colega, ele me ajudou muito mesmo.
- Mas Monstro está jurado e Lala não! – reclamou cruzando seus bracinhos. – Lala serve aos Potter a muito mais tempo! Não é justo!
Justo seria não escravizar uma raça, mas os bruxos faziam. Igualmente teria sido justo não fazer Monstro passar por tudo que passou, mas...
O elfo, por outro lado, sorria orgulhoso , de forma tão fofa junto da carinha de brava de Lala (que não conseguia ficar brava de verdade, então estava apenas inflando as bochechas e juntando as sobrancelhas a força) deu a vontade em Harry de simplesmente abraçar os dois, mas se conteve.
- Monstro é o elfo de Sirius, meu padrinho – explicou o menino. – Ele é o elfo dos Black e tornou-se meu apenas por isso. Você tem sua própria jura com a casa Grindelwald, Lala.
- Mas Lala até foi leal ao lorde Harrison e não contou para ninguém na casa que ele está no torneio mortal. Lala conseguiu mentir para os mestres da casa Grindelwald, pelo mestre Harry. Eu devia...
- Você mentiu para meus irmãos? Mesmo? Você chegou a encontrar algum?
Ela inflou mais as bochechas.
- Não, mas Lala sentiu que devia ter encontrado para contar!
O menino desistiu daquela discussão pouco tempo depois e subiu as escadas para o segundo andar ainda ouvindo o som de Lala tagarelando e reclamando como seu mestre era cruel de só deixar Monstro ser seu servo tradicional.
Lala era uma prova interessante da lavagem cerebral pela qual a raça élfica passou ao longo dos anos. Mesmo sendo livre, ainda era como a maioria de sua espécie e achava que devia ser escravizada para se provar. Enfiava na cabeça, às vezes, que não era jurada como os outros por ser "imperfeita". Apenas as vezes conseguiam perceber que não era bem assim. Quando lhe lembravam que Long era perfeito em sua função e também era livre, Bibi e Poo igualmente faziam tudo da melhor forma que podiam e eram recompensados pelas palavras e ações de gratidão da família Grindelwald, pelo seu trabalho e lealdade, não com algo que, como pessoas, achavam uma punição.
De toda forma, Hazz estava mais preocupado agora com seus próximos passos que aquela história velha.
Segurando a caixa com o diadema de Ravenclaw, a qual mandou sua elfa buscar no barco da Durmstrang com sua corte, o menino torcia que a reunião de Sirius demorasse.
O máximo que podia.
Não queria a raiva de Voldemort atrapalhando. A reunião, se tudo corresse como seu plano, deveria terminar tarde e, (conclusões somadas às visões de Luna) "Moody" seria chamado por Alvos para debater a súbita atitude de Sirius para novo Lorde e como isso afetava a ordem das galinhas.
A coisa duraria a madrugada toda e o comensal não iria ao encontro do lorde no dia seguinte porque Harry Potter estaria no ministério alegando ser o novo lorde Slytherin e seria mais útil mandar o "auror" descobrir sobre isso imediatamente.
Deixaria Voldemort marinando o fim de semana inteiro.
Poderia, com sorte, ainda enrola-lo durante a semana mais um pouco. Enquanto tivesse desculpas boas o bastante para o lorde das trevas não matar seu agente duplo útil, permaneceria fazendo-o.
Um plano delicado... mas tinha de dar certo.
Precisava de Voldemort irritado, mas principalmente impaciente.
A impaciência de Tom sempre foi algo que lhe tirava a razão, usaria contra ele.
A dor na cicatriz poderia aumentar se estivesse com duas Horcrux? Talvez. Mas, se fosse o caso, aguentaria. Só esperava não fazer uma cena na frente de ninguém. De resto podia lidar com dores de cabeça. Fez isso por algumas horas no banco, depois de pegar o anel Peverell, e ninguém notou.
Talvez Lakroff tivesse, mas ele já estava emburrado bem antes que isso, então como diferenciar as caretas?
Chegou na sala de estar onde ficava a tal cristaleira e fechou a porta, tentando parecer calmo quando obviamente não estava.
Foi instantâneo, assim que estiveram todos no mesmo cômodo, Harry, o diadema e o medalhão, tudo tremeu.
Foi tão intenso que quase perdeu a força nas pernas.
Teve que se apoiar na madeira e inspirar fundo, antes de sentir que podia andar sem tropeçar.
Merda...
Seu coração estava acelerado demais. Estava criando expectativas, mas em que afinal?
Abriu a caixa e pegou a coroa, tremendo, ansioso, voraz por algo que nem sabia. Talvez realmente apenas mais? Mais de Tom. Sua presença, simples e pura, em contato com a sua. Conversar mais com o reflexo?
A sensação de colocar a tiara na cabeça foi quase como um abraço acolhedor, como chegar em casa após uma viagem longa e exaustiva. Ele suspirou de contentamento enquanto liberava sua magia e deixava Tom e Marvolo se unirem novamente através dele. Sim.... era por isso que estava ansiando...
A casa Black, Harry percebeu, reagiu aquela magia intensa, mas diferente do seu malão no barco, os objetos não começaram a flutuar com a pressão de sua liberação. O menino chegou a escutar mais de um chiado, de moveis friccionando contra a madeira, mas a mudança foi tão pequena que nem podia ser notada. Um castiçal tremeu no topo da lareira, parecendo que cairia, mas se manteve.
Casa interessante, sem dúvidas.
Nem havia visitado a biblioteca ainda... O que não teria escondido por lá? A família que carrega o próprio nome "preto", ligada a quase todas as linhagens de famílias sombrias de todo o continente. Haveriam coisas que não se encontrava nem mesmo no conhecimento de Tom ou em qualquer uma das três bibliotecas da mansão Mitrica?
A prateleira onde o medalhão estava fez um barulho parecido com quando um dos celulares de Lakroff recebia uma ligação e o menino, não só voltou para o presente, como soube que o objeto estava reagindo às suas outras partes, mesmo que nenhuma das magias o tivesse alcançado ainda.
Caminhou até uma das paredes e tocou as cortinas, transfigurando-as em um espelho grande, depois voltou para a porta e trocou-a com magia. Tudo devagar, com uma calma totalmente destoante de seu interior.
Talvez estivesse só ganhando tempo para sua mente.
Estava levemente ofegante, como se o ar fosse rarefeito. Podia ver (já que ficou todo o dia sem os "óculos ceguetas") vinhas no diadema, caindo no chão junto de seus tentáculos, mas se esticando pelo assoalho em direções específicas, uma sendo o armário do medalhão, mas perdiam a força e sumiam, assim como era quando Voldemort andava anos atrás em sua memória. Confirmando sua teoria de que, quando Harry era pequeno, a magia do homem realmente estava buscando a alma que ficara para trás.
Com as mãos geladas, encarou o colar e ouviu uma voz lhe falar firmemente:
- Está com medo? – era Marvolo, naquele ponto, provavelmente ainda não haviam sido passadas memórias o bastante para ser Tom, mas a forma casual com que falava, mostrava sinais de que era o mesmo com que conversara na última.
Estava, mais uma vez, no reflexo do espelho. Vestes negras de bruxo, nada muito espalhafatoso, ou diferente, poderia até andar entre trouxas sem parecer tão estranho. Estava de braços cruzados, veias negras no nariz semelhantes a pequenas rachaduras, olhos vermelhos, rosto de vinte e oito anos, a mesma idade de quando fizera a horcrux do diadema. Sua aparição aconteceu bem mais rapidamente dessa vez, como se as almas soubessem o que fazer para chegar naquele ponto.
Harry aproveitou que já o estava vendo e baixou seus escudos de oclumência novamente, observando como todos os tentáculos se ligavam a vinha em sua cicatriz, gerando aquela dor irritante, mas que nesse momento, foi bem mais discreta. Nenhuma das partes era mais estranha uma a outra, não havia agressividade em suas ações, mas naturalidade, não gerando a dor.
- Medo? O que você acha? – perguntou retoricamente, porque agora Marvolo também podia saber o que estava sentindo, já estava em sua cabeça, assim como Tom.
Imaginou como chamaria o Medalhão. Riddle? E se acabasse com alguma outra Horcrux? Teria que inventar mais nomes até chegar a 6 totais? Talvez ele tivesse que trocar os nomes. Voldemort para a irritante principal, Tom seria Scar (cicatriz), então Crown (coroa) para o diadema e Locket (medalhão) para o medalhão. Mais fácil.
Marvolo bufou e revirou os olhos:
- Depois de anos insistindo em me chamar de algo ridículo como Tom, agora decide Scar?
- Eu queria lhe dar um nome que fizesse parecer mais vivo que "vinha negra", cicatriz não era uma opção, então não encha! Nem chame seu nome de ridículo! Acho a combinação de seus três nomes ótima, é simples, mas tem sua classe e...
- Às vezes, você é tão distraído quanto seu tio-avô.
Harry riu, mas não comentou sobre essa parte.
- Eu só... não sei... e se ele... – foi interrompido.
- Sou eu, Harrison! É só mais uma parte da minha alma. Vai gostar de você da mesma forma que todas que te conhecem. Não seja estúpido pensando diferente – resmungou revirando os olhos.
- Entretanto, você ainda estranhou bastante a coisa no começo. Ele também é a maior Horcrux que já tive contato.
- Apenas sentirá nossa adoração com mais intensidade então – dispensou olhando distraidamente para suas unhas.
Harry teve que rir:
- Adoração?
- Sem dúvidas, uma escolha interessante de palavras a minha. Devo reconhecer que não é algo esperado, considerando minha personalidade dominadora e orgulhosa, sabemos disso. Entretanto acho adequado para o momento.
- Mesmo? – questionou com um sorrisinho discreto, mas sobrancelhas levantadas. – O temido Lord Voldemort adora algo?
- Eu tenho a tendência a odiar todas as pessoas vivas, além de mim mesmo. Só de me importar com sua saúde ao ponto de, tendo total acesso ao seu corpo por algumas horas, devido a poções que o doparam completamente, eu apenas me preocupei em mantê-lo seguro... adoração parece satisfazer a emoção aqui.
A risada de Harry foi mais marcada agora, uma longa e alta, que ecoou pelo cômodo e chegou até a Horcrux. Ela quase sorriu junto, se tivesse um corpo... talvez teria reagido fisicamente, nem que com um simples arrepio, pois...
Sim.
Adoração.
Ele adorava aquele sorriso.
As duas partes de si pensavam assim. Queriam ver Harry Potter sorrir mais daquela maneira.
Entretanto, ele sentia que existia em seu vocabulário outra palavra na ponta da língua, capaz de definir aquele sentimento intenso que o assolava. Ele só não conseguia acessá-la.
Ele olhou para a criança a qual enfeitava os cabelos negros com a coroa de ouro branco e safiras. O jovem mais lindo que já vira. Mais poderoso, desde o próprio Marvolo, alguém capaz de criar aquele elo. As horcruxes, diadema e a cicatriz, se ligando, em um processo de fusão que só devia ser possível pelo corpo original do bruxo (sua alma, sua magia, sua força, dono único de sua essência) mas que estava tornando-se realidade mais uma vez. Porque era Harrison. E ele quase tudo conseguia.
Se realmente desejasse a coisa, então, o "quase" da frase parecia sumir entre sua magia.
Alguém... especial.
Marvolo nunca gostou de ninguém além de si mesmo, então, talvez por estarem tão entrelaçados ele tivesse gostado de Potter? Era por sentir que fazia parte de si? Uma extensão?
Era uma extensão puramente de almas ou... Um discípulo também? Alguém em quem depositou tempo, conhecimento, sabedoria, até...
Memórias.
O diadema percebia, ao receber a ligação, o quanto as suas memórias estavam afetadas. Mal se lembrava de si mesmo e não era puramente por estar em um objeto. Ele estivera com a mente afetada daquela forma quando fez o ritual. Antes dele também. A parte em Harrison, a vinha, (Scar, Tom, fosse como se chamasse), ela não tinha que dar a Marvolo apenas as recordações de seus momentos com a criança, mas a si mesmo de volta. Marvolo estava se distanciando de si mesmo, mas sem perceber, a anos. Sua mente não dava mais o mesmo valor para seu passado, que era justamente o que o forjara, parecia uma casca andando e buscando ambições e poder, o passado se tornou nublado e ele...
Harrison o fazia se sentir vivo.
As duas partes. Juntas. Por causa dele.
Útil para torná-lo humano novamente. Fazê-lo sentir como era ter vida, uma alma inteira, preenchendo o vazio, tornando o passado conectado a ele outra vez, criando um presente.
"Você sabe que não é só isso. Nunca fomos de mentir para nós mesmo. Não minta agora".
Memórias e memórias continuavam vindo. Ele ainda não tinha conseguido encontrar a palavra certa. Isso o incomodava, inquietava. Avaliava a situação enquanto Harry estendia a mão para o vidro que o separava da terceira horcrux na sala.
Decidiu ficar com adoração de uma vez, ao menos essa ele conhecia bem. Já teve tantos o adorando de tantas formas...
Alheio aos pensamentos do companheiro, Harrison tomou uma dose da coragem dos dragões Feuer e pegou de uma vez o colar de Slytherin, quase errando o alvo (uma vez que, sem os óculos, ele só via tentáculos saindo dele, mal percebia a joia), mas o alcançando em sua investida cega.
Talvez não tenha sido boa ideia, ou talvez fosse como pular na piscina para não estender a agonia de água gelada contra a pele. Seja qual for das opções, Harrison caiu.
Claro. O diadema era só cerca de três por cento de Tom Marvolo Riddle, Harry um porcentual de um e meio com sua cicatriz, juntos eles representavam apenas 37% do que era o medalhão sozinho. Tudo se tornou dezenas de vezes mais intenso e ele se rendeu ao chão por isso.
Percebeu quase todos os seus sentidos nublarem, sua mente apitou como um alarme de carro com todas as suas barreiras mentais sendo arrombadas por uma força que queria consumi-lo, os tentáculos que saiam do medalhão maiores, famintos e implacáveis. Diferente dos outros, que se ligavam instantaneamente ao menino procurando seus restos, ou seja, se fundir a própria alma que perdera, Locket tentava se focar em tirar a própria magia de Harry, se ligar a ele e se fortalecer com a energia vital do menino. Com sua consciência.
Locket tentava subjugar uma vítima em potencial, que podia lhe trazer vida, mas era inteligente, fazia por dentro, não doía, apenas confundia os sentidos, era impressionante a diferença com os outros.
Ou melhor... até que parecia com a vinha, mas bem no começo, quando não tinha forças a mais do que se juntar a única vida possível e observar.
Tentava ser discreta, viver e usá-lo para isso. Um parasita. Mas era muito maior e Harry era diferente de qualquer outro. Ele sentia cada uma das tentativas da horcrux e as via.
Era um animal raivoso, mas com alma o bastante para interagir de forma que aquele que lhe segurasse não notasse como estava impondo essa raiva sobe você. Hipnose e manipulação de sua própria energia contra você, uma droga sendo ejetada, viciante, mortífera, mas agridoce. Uma pessoa comum com aquilo no pescoço... como seria afetada?
Seria interessante ver. Tiraria o pior da vítima, sem dúvida.
Havia um livro, que Heris, ainda no orfanato, contou a Harrison como recomendação para ler em algum momento. Nele, era descrito um objeto, Harrison tinha a vaga lembrança de que o nome podia ser "O Anel Soberano". Uma relíquia que confere poder ao seu portador, mas este se forjará de acordo com a estatura psicológica do ser que o usa. Deixava todos loucos, irritados, ambiciosos além do saudável. As pessoas matariam por mais tempo com o anel. Ao longo dos anos, conforme Hazz ouvia vez ou outra sobre os livros da trilogia do "Senhor dos Anéis" associou a coisa com várias outras reais no mundo da magia.
Uma analogia as artes das trevas? Possível. Muitos rituais, que garantem poder excessivo, tinham aquele efeito da insanidade. Feitiços mais sombrios podiam viciar.
Agora, porém, ele não conseguia tirar da cabeça que o medalhão de Slytherin, com a alma de Voldemort, era o anel soberano.
Hazz facilmente arrancaria o pescoço de alguém que estivesse tentando roubá-lo de si, com os dentes se preciso fosse, assim como fizeram com um dedo no livro de Tolkien.
Claro, isso se não entendesse exatamente o que estava acontecendo e, consequentemente, não pudesse evitar os efeitos. Em seu lugar, estava é achando a coisa bem divertida. Na situação hipotética de lhe roubarem o colar, ficaria assistindo o idiota que o colocou definhar na loucura até ser consumido de vez, apenas para descobrir os resultados finais.
Talvez seu pensamento sombrio tenha deixado as horcruxes curiosas, ou qualquer que fosse a emoção, Hazz sentiu sua testa vibrar enquanto sua visão ficava turva.
Sua mão ainda agarrava a joia, que queimava sua palma, com firmeza.
"Morte me ajude..." pensou com um suspiro e uma visada atordoada.
Se o diário de Tom Riddle não tivesse parado nas mãos de Neville... Do que ele não seria capaz? Dez por cento estavam fazendo aquele estrago, imagine cinquenta por cento? O diário também entraria de forma discreta? Alguém poderia passar dias escrevendo nele sem notar como estava a cada instante mais ligado, mais necessitado como a um vício? Sendo consumido nas medidas corretas, sendo controlado, primeiro pelas emoções, depois pelas ações, quando já mal tivesse ciência de sua própria mente e como se conectar a ela sem a influência? O medalhão estava quase criando uma ligação de alma, assim como Tom e Harry, bem mais fraca e apenas em tentativa, mas era o que queria. Fazer com que seu alvo sentisse que todas aquela presença a mais era parte de si. O diário era capaz disso com todos?
No fim, ele possuiu duas pessoas.
Uma chegou a morrer por isso.
Em questão de apenas um ano.
Locket já estava correndo partes pequenas de Hazz, tornando o verde da magia em tons mais escuros. O diadema não fazia isso... o diário iria...
- Solte isso! – pediu o reflexo, tirando do menino o sorriso doentio que nem percebeu que estava dando. – Pare de se doar tanto! Você já me viu! Não era o que queria? Ele pode te...
- É só você! – disse apertando o carpete. - Você mesmo disse!
O quão longe podia ir com isso? Harrison queria ver, queria se ligar ao medalhão, não pararia agora.
"Vamos lá, Riddle, faça seu pior" pensou apertando o colar, como se pudesse transmitir isso ao objeto. Talvez tivesse conseguido, sentiu uma leve dor que começou na testa, foi para a barriga, a mão e por todo seu corpo.
- Harrison! – repreendeu o reflexo e o menino notou que a voz saiu falha. As partes estavam em atrito uma com a outra? Um, inegavelmente, queria consumir, as outras não, era esse o motivo da dor?
Tremendo, levou até o pescoço o cordão e o colocou, sua visão ficou ainda mais embaçada e escureceu nas bordas, todo o seu corpo reagiu.
"Consuma. Aposto que aguento bem mais do que você consegue levar!" pensou divertido e se satisfez quando o aperto das vinhas ficou mais forte na sua magia. A vista, neste momento, se tornou quase inexistente.
Ele podia mesmo cair de exaustão mágica?
Justamente Harrison?
Parecia quase irreal.
Nem se passou tanto tempo e ele... bem... era ele! Mas também era Tom. Os dois tinham varinhas gêmeas, os dois tinham uma ligação estranha desde sempre. Eram um "nós". Se tinha alguém capaz de se igualar de alguma forma...
- Vai ter que me desmaiar se quiser que eu pare, eu vou continuar enquanto aguentar, sabe disso – murmurou em voz alta.
Tom bufou, um bufo alto e irritado, mas então Harry gemeu quando aquela pressão de antes sumiu e foi substituída por uma corrente de energia intensa. Enfim, as três horcruxes começaram a se ligar, nem um pouco gentis com a ponte que estavam utilizando para isso, mas ainda bem menos angustiante que a briga que estavam tendo antes.
Hazz fechou os olhos, só porque ficaram um pouco pesados demais e preferiu apenas sentir. Não tinha necessidade de ver o momento. Observar como as vinhas, os tentáculos e sua magia, tudo se interligava. Como tornavam-se uma força maior diante da própria fraqueza de Harry, mas em algum ponto, também passaram a fortalece-lo, assim como quando Tom dividia sua magia com a de Hazz.
Vinha e raio.
Verde e preto.
Percebeu que o tecido em suas mãos ficou levemente diferente, uma textura um pouco úmida e supôs que os musgos que apareciam as vezes, quando usava magia de forma intensa demais, estavam no carpete.
Inspirou fundo, escutou sua magia estalando e se deixou levar por ela.
Trovões intensos estouraram como bombas, altos, chacoalhando tudo envolta, imbatíveis em sua presença, o corpo de Hazz vibrava enquanto se sentia preencher todo o ambiente com aquela tempestade arrasadora. Nuvens negras carregadas, raios cintilando, cortando o ar, descontrolados por todos os lados prontos para destruir. As vinhas, o lago que era sua magia, tudo sumiu e se tornou tormenta completa.
Implacável.
Magia pura, solta sem a prisão de um núcleo, insana.
Mas Harry não podia se permitir ficar assim, por mais libertador que fosse. Com todo seu foco, voltou ao normal, puxando sua essência para o núcleo no peito, se contendo, usando a própria magia como uma entidade física e tangível, segurando-o no lugar firmemente, igual a armadura que sempre fazia na infância. Agora, porém, assumindo como correntes que o prendiam à terra e a realidade.
Um molde firme para torna-lo diferente da bagunça mágica que era. Não se deixando consumir por sua própria energia e sua intensidade.
Com mais alguns instante focando na respiração, ele praticamente podia imaginar a pintura clara de suas extremidades verdes brilhantes, sua magia segurando seu físico no lugar, apenas o centro negro e repleto dos raios, uma recordação de sua intensidade real.
Não percebeu sua magia como em um estado menor dela. O que era estranho. O medalhão não deveria consumi-lo? Seu copo não tinha aguentado o impacto inicial, mas já estava se readaptando. Talvez já tivesse produzido energia o bastante para não sentir a Horcrux? Seria arrogância pensar assim?
- Harrisson – ele ouviu a voz de Tom, baixinha e muito hesitante.
Sorriu, a cabeça ainda baixa, os dedos firmes contra o chão, ao ponto de que suas unhas podiam estar sujam com o musgo, mas foi sincero ao responder:
- Estou bem, Tom – negou com a cabeça. – Marvolo – se corrigiu, mas tornou a sorrir.
Que sensação incrível estava sendo ter mais de Marvolo! E poderia usá-lo... o medalhão. Ficava claro que logo se acostumaria, nem faria mais diferença externamente estar com o objeto, mas... em sua essência... Harry imaginou-se lutando com o objeto no pescoço e riu, lembrando de como sempre diziam que era implacável. O melhor lutador da Durmstrang. O inimigo invicto.
Agora, com tanto da magia de Tom Riddle a sua disposição, ele os faria chorar.
Riu realmente satisfeito.
- Harrison! – Tom voltou a falar, dessa vez mais intensamente.
- O que foi? Você não entende como é isso, eu juro que... – mas ele parou no meio da frase.
Sentiu seu coração quase parar quando o próximo som a atingir os ouvidos não foi da voz de Tom.
Mas de passos.
Quando abriu os olhos para ver o que era se aproximando, o coração foi de parado, para absurdamente acelerado, porque havia um vulto correndo tão rápido na sua direção que sua mente só entendeu quem era quando já estava agachado, bem diante de si.
Então o mundo foi quem parou.
Mais que quando estava tentando acessar o aspecto dos mortos pelo véu, agora só havia silêncio. Era possível parar o tempo? Se sim, ele havia feito isso acidentalmente.
Parado sua capacidade de pensar igualmente.
Ele ficou lá, feito uma estátua. Olhando para o corpo de Tom Marvolo Riddle.
Tom Riddle estava ali!
Assim como nas descrições das cartas de Neville sobre o que acontecera na câmara secreta, só que... mais... tão real. Aquela pessoa não estava translúcida, não havia nada ali que dizia que não era alguém real. Pelo contrário, Harry juraria que tinha mesmo desmaiado e estava sonhando, pois era como nos seus sonhos.
Um belo adulto de fios negros ajeitados em cachos grossos para trás, um único em frente ao rosto aristocrático emoldurando-o, nariz pequeno e empinado, pele imaculada. Vinte anos, talvez. Um pouco mais, um pouco menos, mas vinte... a idade que fez o medalhão. Olhos castanhos avermelhados.
Estava lá.
Tom...
Então ele notou que o mundo não tinha parado de verdade, porque algo escorreu por sua bochecha e se tocou que era uma lágrima. Uma única, que nem sabia quando é que tinha saído, mas foi o bastante, de repente a mão de Tom Riddle havia se levantando e parado, pairando a milímetros de distância de Harry.
Tremia tanto quanto a dele no chão.
Podia sentir o calor.
Não que vinha dela, mas da magia de Lilian. Os dois podiam. Porém, para a surpresa do adolescente, isso não impediu a Horcrux que, de repente, o estava tocando.
Primeiro ele sentiu seu sangue aquecer e Tom fez uma careta, só que não retirou o toque, depois, os segundos seguintes foram carregados. O silencioso e a distância se quebraram, como um vidro de uma janela que se partiu em milhões de pedaços, Tom Riddle jogou seus braços envolta de Harrison e o tomou num abraço.
Não foi só a magia de Lilian, mas a de Harry e de Marvolo, tudo se chocou e a eletricidade que passou pelo corpo de ambos foi tão intensa que os fez tremer, mas Harrison percebeu que não machucou, então se arremessou contra Tom retribuindo o gesto enquanto a maior explosão de felicidade o acertava como um soco.
Quase derrubou Tom no chão, no desespero para tornar o abraço mais proveitoso. A Horcrux teve que que parar de se ajoelhar, como estivera antes, e se sentou no chão, Hazz em seu colo se agarrando tão firme que poderia causar dor.
Mas ele também estava sentindo uma felicidade tão intensa que era impossível ligar para a dor até de uma facada, sabia disso.
Era real mesmo?
Os dois estavam ali?
Eles...
- Eu posso te tocar – sussurrou Tom, por cima da cabeça de Harry e o menino se arrepiou inteiro, porque a forma como aquelas palavras foram ditas estava tão carregada de emoção que lhe deu vontade de chorar.
"Adoração".
A frase veio cheia de adoração, sim.
Harry estava sendo abraçado por um homem gelado, sem cheiro (o que era estranho, seu cérebro não parecia entender como alguém não tinha aroma algum), com roupas bruxas firmes que não ajudavam em nada para que pudesse senti-lo como um ser de carne, e talvez nem fosse, mas mesmo assim...
Aquela estava sendo uma das melhores sensações de sua vida.
Até aproveitar as vibrações de quando a voz intensa de Tom saia para formular frases era algo único.
Nunca teve isso em seus sonhos.
Ele quase quis se beliscar, mas não precisava, porque se fosse sonho ele poderia dormir para sempre! Deixassem-no em coma!
Quando percebeu o outro colocando o rosto contra seus cabelos e inspirando fundo, realmente enterrou sua cabeça no peito e deixou que uma ou outra lágrima escorresse, seu corpo tentando acalmar-se diante daquela descarga de emoção tão grande.
Caramba, ele oficialmente tinha uma memória nova para seu patrono.
Sentiu um dos braços de Tom soltá-lo (se é que fosse Tom, não Locket ou Crown, mas confiaria no sangue de Lilian para avaliar isso. Se estavam tão enroscados como estavam agora, quer dizer que ela não viu ameaça na horcrux). A palma alheia se moveu em suas costas causando arrepios por onde subia, uma caricia confortável e atenciosa, seguiu até os fios de cabelo, onde parou, enroscando dedos cumpridos e finos por entre os fios negros rebeldes, girando, explorando, bagunçando, reparando como a luz batia para formar aquele padrão único de ruivo sangue nas pontas.
- Então essa é a textura – comentou a Horcrux, com tanto afeto, deleite e carinho que o adolescente sabia que tinha corado, mas ainda estava escondido no agradável conforto do peito alheio.
Tom, por outro lado, estava fascinado que realmente tivesse a capacidade do tato. Talvez fosse apenas uma ilusão? Causada pelo entorpecimento que aquele momento gerava? Ou a própria ligação com a mente de Harry, que tantas vezes já foi capaz de sentir seus próprios cabelos? Quando estava no corpo do menino, dias atrás, chegou a tocar os fios, parecia a mesma coisa ainda, porém em seus dedos. Como saberia a diferença? Importava naquele ponto? Poderia apenas relaxar e aproveitar.
Ele tinha Harry Potter em um abraço.
- Ainda não sinto seu cheiro...
- Também não sinto o seu, se serve de consolo – respondeu o menino.
Hazz praticamente pôde ouvir (mesmo que fosse impossível) o som do sorriso de Tom ao responder:
- Não sou uma pessoa inteira, só uma manifestação corpórea da minha alma, feita pela sua magia e pela minha. Claro que eu não teria cheiro.
- Deixe de ser sem graça.
- Imagino como seria tocar seus fios com realmente todas as terminações nervosas capazes... Já parece tão macio... mas incrivelmente rebelde. De um jeito interessante, realmente. Ele sempre volta para o lugar que quer quando mexo, nem sempre isso é bom – riu, sem tirar os olhos dos fios negros que ele guiava de um lado para o outro fascinado.
- Você está se distraindo com o meu cabelo?
- Estou o adorando um pouco, deixe-me pirralho.
Harry se remexeu no colo alheio, cobrindo ainda mais seu rosto e Tom sabia bem que estava se escondendo, mas não deixaria. Levou a mão para o queixo do garoto e o levantou, podendo dar uma boa olhada nele e na imensidão.
O infinito que sempre apreciou, que sempre o puxou, mesmo quando tentava lutar contra.
Seus lindos olhos verdes, cor da maldição da morte, justamente uma das coisas que Tom já mais temeu em sua vida, mas se tornou a mais agradável, a cor mais bela. O verde de Harrsion Peverell-Potter era o mais belo que o mundo forjara. Preso naquele formato tão delicado e bem desenhado, cílios grandes e grossos marcantes, um rosto tão perfeito que parecia irreal.
Ou talvez não fosse perfeito, mas se havia uma falha em Harrison, ela se tornaria parte de seu charme imediatamente. Como a cicatriz de raio. Ninguém nunca diria que era uma falha.
Era uma marca em seu rosto, mas parte de seu charme.
Perfeito, sempre.
Tom estava encantado em ver, mesmo que já o tivesse feito tantas vezes antes, mas agora parecia tão mais real. Era palpável. Fora da mente imaginativa de uma criança, ou de um adolescente que já tinha passado por perturbações demais.
Estava mesmo ali.
Estava olhando para Harrison.
Seus próprios olhos.
Estava o tocando. Com suas mãos.
"O cheiro de vazio combina com ele", uma de suas partes intelectuais, ainda em conflito, mas tentando se juntar, chegou a essa conclusão e as outras concordaram.
Mas concordar foi o primeiro sinal.
Provavelmente por serem ainda consciências distintas os pensamentos foram todos borrados e com pouco sentido. Palavras diversas que não conseguiam se unir, que não conseguia pensar o suficiente para dar sentido.
"Amortentia", "adoração", "orgulho", "felicidade", "completude", eram algumas delas.
"Amor" passou rápido, o suficiente para que sentisse uma dor intensa na cabeça quando a ideia se chocou entre si.
Harry também gemeu, levando uma mão à testa. Marvolo teve o instinto de se aproximar, mas seus movimentos ficaram travados, não estava mais em sincronia, por um breve segundo nada fez sentido.
Aquele foi o segundo sinal.
Uma das partes, talvez mais de uma, mesmo com todas as memórias e ligações que estavam compartilhando e formando, ainda estava resistindo de alguma forma. Criando barreiras mentais, impedindo alguns movimentos.
Estavam distantes.
Mas quem seria Riddle se não confiasse em ninguém, nem mesmo em si (considerando que uma parte vinha diretamente de um possível inimigo jurado, ainda por cima), não podia se culpar por ser cauteloso. Se não se reconhecia em algumas das memórias que estava recebendo com a criança, onde ele parecia alguém realmente distante de tudo que Riddle já viveu, ao menos nisso podia enxergar. Lord Voldemort não confiava. Não ia se ligar totalmente, nem interagir com total empenho a algo, antes de ter certeza no que estava se colocando. Seja qual parte.
E tudo aquilo era muito novo.
Assim como o impulso gigantesco que estava tendo naquele momento, enquanto observava o adolescente. Um que quase impediu, as três partes em si ainda brigando para se entenderem, mas então perceberam em sincronia que não havia motivo para não tentar, se em algum canto da mente havia um desejo, deveria cumpri-lo, certo? Para que se reprimir a algo tão tolo de que queria?
Ele beijou o topo da cabeça de Harry. Calmamente, primeiro estranhando o movimento, depois... aceitando como algo realmente satisfatório que podia fazer. Quando o menino o apertou mais, sorriu, um calor estranho no peito. Tudo era tão estranho, mas tão...
Bom.
Não teve, entretanto, tempo para pensar sobre isso, entender exatamente o quão fundo isso estava indo, pois, de repente escutaram o barulho da porta abrindo com muita força.
Um som de madeira se chocando contra a parede oposta num impacto repentino e, consequentemente chocante, foi o suficiente para assustar Harrison. Um susto intenso que o forçou a reprimir um grito, mas conseguiu, quando os braços de Tom se intensificaram entorno de si e o moveram, encolhendo-o, escondendo-o protetoramente.
Sentiu-se incrivelmente leve com aquilo. O trauma quase aplacado pelo simples conforto do companheiro, que sempre esteve lá por ele, mas dessa vez... estava fisicamente!
A horcrux tinha mesmo tido, como primeiro impulso, proteger Harry?
Poderia ser um inimigo na porta, era um perigo que qualquer um o visse, mas o que fez foi resguardar o menino. O homem que mais temia a morte no mundo, do qual Harrison já teve conhecimento.
Aquele foi o terceiro sinal.
Tom não tinha a sensação de coração batendo, mas sabia que o seu estaria acelerado de fosse diferente.
Duas das Horcrux que dividiam aquele corpo tiveram algo em sua mente apitando, uma luz vermelha gigantesca e giratória, um chiado irritante cortando a mente.
Foi uma junção de fatores, o barulho tão irritante, somado a preocupação de Tom com o trauma de Harrison, o motivo de a porta ter sido aberta daquele jeito, seu descontentamento com sua batalha interna, tudo... ignorando qualquer bom senso que poderia ter, movido totalmente em fúria, Tom se virou para Lakroff Mitrica na porta e gritou:
- Você tem algum tipo de retardo mental, com certeza! Sua criação não justifica essa merda que acabou de fazer! Não importar o quão mal formado seja, Grindelwald! Como você faz uma coisa dessas?! – urrou.
Sua explosão, gerada porque alguém deixou Harrison desconfortável de alguma forma, e a maneira como agiu, alheio ao risco de gritar com alguém que não lhe era exatamente amigável, foi o quarto sinal.
A dor de cabeça que sentiu em seguida, a confusão em sua mente, mal lhe deu chance de prestar atenção em Lakroff e Harry falando ao mesmo tempo:
- Por favor, eu posso explicar, não faça nada ainda! – pediu o menino para seu avô e tentou se levantar, mas Tom o manteve junto ao corpo, talvez porque precisasse se segurar a algo.
- Harrison nunca tranca portas e eu senti uma magia que não era dele, eu tinha que vir verificar! – respondeu Lakroff à Tom.
Aquilo, de certa forma, foi perfeito. Porque mesmo com tudo, a frustração com o loiro conseguiu ser a emoção mais forte na mente de Riddle:
- Daí sai arrebentando a maldita porta, seu débil?! – ralhou. – Não é possível que seja tão idiota! Se Harrison realmente estivesse em perigo, você entende como esse maldito som o assusta?! Ele teria se distraído e poderia dar vantagem ao inimigo! Você mais atrapalharia que ajudaria!
- Eu estava preocupado!
- Para o inferno! – gritou.
- Você queria que eu deixasse meu neto sozinho com Voldemort?!
- Obviamente não sou Voldemort, não é? Use o seu cérebro! Ou ele já perdeu a serventia de tanto perfura-lo?!
- Claro, eu ia adivinhar que você "obviamente não é"! - respondeu sínico. - Olhando diretamente fica mais fácil, você tem um nariz! Mas do outro lado da porta não tinha essa dica!
Harry deu uma risada engasgada.
- Ótimo, voltamos a ter malditos sete anos! Lá vem a piada do nariz! Vocês nunca se cansam dela?!
- Não – disseram os dois Grindelwald e Tom encarou mortalmente Harrison por um segundo que fez o menino rir ainda mais.
- Você eu perdoo – murmurou dando outro beijinho na testa do menino que corou fortemente. – Você... – apontou para Lakroff. – Onde estão a dupla de sarnentos?
- Remus está... Eu não vou te responder! – se atrapalhou. – Harrison, venha cá – pediu estendendo o braço, o menino foi se levantar, mas foi puxado possessivamente por Tom outra vez. – Solte ele – mandou puxando sua varinha.
A mente da horcrux voltou a chiar alto.
- Não – disse mesmo assim.
- Tom me solta – pediu Harry olhando para o moreno, a forma como seus olhos brilharam conseguiu acalmar os nervos de Marvolo, que já estavam quase em frangalhos. – Ele pode achar que você está fazendo algo comigo.
{-Estou} – disse em língua das cobras, muito baixo, quase sem forças. {- Aproveitando o único tempo que já tive com você em dias!}.
Aquele foi o quinto sinal.
Seu peito doeu como se tivesse afundado e ele conteve o impulso que algum canto da mente teve de se coçar. Tom não queria soltar Harrison, Voldemort lhes tirou tanto nas últimas semanas, mas...
{- Só me deixe conversar com ele} pediu Harry. {- Fazê-lo ver que não estou correndo risco, vamos}.
A horcrux concordou com a cabeça baixando o olhar, relutantemente soltou o menino, que se levantou e foi até o avô.
O mais velho igualmente se agarrou ao neto de forma possessiva.
"Ótimo, agora a dupla de superprotetores vai disputar?" Harry pensou, mas também murmurou em seguida:
- Vocês estão me fazendo sentir como uma criança.
- Você é uma criança – ambos os adultos entoaram, se encarando em seguida pelo feito.
Tom revirou os olhos, com muito nojo estampado nas feições aristocráticas, acentuado quando Lakroff piscou um olho com um sorrisinho.
- E se vier com aquela merda de "oficialmente um adulto" ... – ameaçou Riddle, a voz bem mais firme que antes, seus olhos tornando-se vermelhos por um segundo antes de conter o impulso de gemer de dor.
Não queria que Harrison percebesse e se preocupasse, mas, ainda mais importante, Lakroff não podia notar que as partes estavam oficialmente brigando. Ele consideraria que alguma estava incerta em não atacar Harry e... bem... só conseguia que o loiro estivesse do seu lado se fosse o Tom que ama...
Adorava Harry.
Sexto sinal. A dor aumentou.
- Harrison, vem comigo, um minuto... – pediu Lakroff, alheio aos pensamentos do outro, empurrando levemente o ombro do neto em direção ao corredor.
O adolescente concordou com a cabeça, mas apertou o medalhão com força antes de se virar para sair, torcendo muito para que Tom não fosse embora, até olhou para o companheiro por um segundo inteiro desejando que aquela não fosse a última.
Lakroff notou a movimentação e suspirou antes de estender a mão para o cômodo.
Tom arregalou os olhos e ficou de prontidão, o mesmo com Harry, ambos muito tensos quando, de repente, o diadema caído ao chão voou para o bruxo. Grindelwald encarou por alguns instantes, então suspirou e – puxando sua varinha – deu três tapinhas fazendo a horcrux encolher do tamanho de um anel.
- Como?! – perguntou Harrison empolgado. – Eu não consegui fazer nenhuma magia com qualquer horcrux, estão tão protegidas e...
- Você ainda não sabe nada sobre esse tipo de magia e espero que continue assim, estamos entendidos? – questionou seriamente, colocando o anel em seu dedo anelar em um movimento automático. Bem ao lado do de lorde Mitrica.
Quando o fez, imediatamente sentiu a coisa tentando sugar suas energias para se fortalecer. Ela buscava se ligar a própria magia de Lakroff, formigava a mão, adormecia seus sentidos, impregnava sua própria essência, corrompendo...
Voltou-se para o medalhão no pescoço do neto e imaginou se ele não estaria mais influenciado do que deveria para conversar. Pior que isso: o quanto uma porcentagem maior da alma de Voldemort não estava exigindo?
- As horcruxes só estão tentando se juntar a uma alma, é a reação natural. O diadema no seu dedo poderia até afetar você, pela ligação momentânea com a de Tom, que está instável, repartida e raivosa. As duas tentando se ligar para completar. Realmente é algo agressivo, que procura a própria sobrevivência acima da sua, um parasita que toma poder enquanto te suga. Mas comigo não funciona, eu já...
- Já é parte de uma das almas dele, então ele interage como dupla, não consome?
- Isso. Ele só me... quer dizer, ela se completa consigo mesma e comigo, não faz mal depois que se acostuma. Perde a agressividade, pois consegue o que queria desde o começo. É só não lutar contra e a te verá como aliada, qualquer um, só não tanto quanto eu e...
- Eu passo a parte da aliança – suspirou Lakroff, interrompendo o que poderia ser uma explicação longa, mas ele não estava com cabeça. – Talvez você já saiba algumas coisas sobre horcruxes, mas vamos nos limitar àquelas que só você poderia, ok?
Harry sorriu:
- Sem problemas.
{- Vocês vão demorar aí?} – sibilou Tom irritado.
Harrison puxou o avô para fora e fechou a porta, sentiu barreiras sonoras se levantar e Lakroff se abaixando na altura de seus olhos:
- Explique.
- Você lembra do que eu contei sobre conversar com um reflexo com o diadema?
- Aquilo não é um reflexo – apontou para a porta. – É um corpo físico! Você tem noção do quão longe foi?
- Eu...
- Não estou falando apenas de você. Mas dele – segurou o medalhão. A coisa vibrou em sua mão, ainda mais quando encostou no diadema. – Pelo que você já sabe por Neville, da última vez que uma horcrux ganhou força para ser tangível, ele matou uma pessoa para tanto e desmaiou outra. Harrison, o quanto você está se doando por isso?!
- Eu estou bem.
- Claro, porque você é absurdamente forte magicamente falando! Vale por três! Mas quanto tempo você aguentará dando tanto da sua magia para duas Horcrux, sem contar o que já vive com você?! – ralhou.
Harrison baixou os olhos, encontrando o diadema no anelar do albino e sentiu-se um pouco mal.
Lakroff estava preocupado com ele se doar demais, mas... não estava julgando-o por querer ver Tom. O avô estava dando a própria magia naquele instante para manter um simples capricho do menino, mas sem que todo o esforço fosse apenas por parte do adolescente.
Talvez até estivesse testando nele mesmo a influência que Tom poderia exercer para ter certeza de que poderiam continuar com isso, ou se deveria retirar logo aquela loucura de suas vidas. Hazz sabia que, pelo Grindelwald mais velho, a coisa já teria acontecido a anos, mas nunca fazia.
Porque Harry não queria. Então ele sempre tinha o dobro de trabalho e de preocupação.
Como sempre... se sacrificando por Harrison.
Suspirou.
Depois Lakroff se perguntava de onde tirou aquela mania de fazer demais pelos outros e de menos por si. Olhe o exemplo que tinha! Alguém capaz de desistir da própria vida, ou de voltar a viver e lutar, por sua família quando precisavam dele.
- Sem contar – continuou o Lakroff. – Nos outros riscos. Você estava sozinho, mandou Lala não interromper, a coitada estava tendo um chilique entre me obedecer ou a você...
- Por isso ela não me avisou da sua chegada... - murmurou.
- Eu percebi quando aparatei na entrada que tinha algo errado e já a mandei ficar no exato lugar, sem poder fazer mais nada. O fato dela choramingar uma desculpa só provou que eu estava certo. E eu te trouxe pizza!
- Me desculpe – pediu baixinho. – Eu tinha de ter falado com você antes de fazer isso. Sinto muito mesmo.
- Eu agradeceria! – reclamou. – Assim podia ficar de olho! Você sabe que sempre vou estar do seu lado, então porque continua escondendo coisas?
- Porque nem sempre você fica do meu lado de primeira? – perguntou com um sorrisinho que tentava disfarçar.
- Se o pior acontecesse lá?! Você está basicamente invocando Voldemort aqui!
- Invocando Tom – sussurrou, mas sabia que estava sendo um tolo infantil com aquele comentário.
O loiro fechou a cara e decidiu que não iam chegar a nada assim. Num movimento rápido abriu (pela maçaneta dessa vez) a porta da sala de estar.
Tom ainda estava lá, para alivio de Harry.
Mantinha-se agora de pé, escorado perto de uma janela observando a rua. Os olhos treinados de Lakroff registraram tudo que podia na situação.
Era noite, a única coisa que iluminava o visitante de honra eram algumas velas, acesas em um castiçal repousado na lareira mais próxima, também poucas luzes de postes vindas de fora. Elas tremiam, criavam padrões na pele de porcelana, com o vento ou quando um carro passava, os olhos de Riddle pareciam mudar de castanho avermelhado para vermelho puro quando algo assim ocorria, seus cabelos negros pareciam refletir o brilho de cada coisa que tentava emitir luz, mas continuavam tão escuros quanto antes impressionantemente, só observando de longe era possível perceber que eram sedosos, saudáveis, além de belos em sua forma.
Ainda serviam perfeitamente para emoldurar cada aspecto de seu rosto. Desde o queixo marcado, as bochechas redondas ou o nariz. A forma como a expressão do homem era bem desenhada, ainda mais relaxado como estava, parecia até uma pintura naquele ambiente. Feita com todo o cuidado, por um artista em seus mais inspirados dias.
Riddle virou o rosto para a dupla na porta ainda de rosto limpo, mas seus olhos... o olhar era tão intenso que Lakroff teve que admitir:
Tom Riddle era lindo.
Um dos homens mais absurdamente belos que já vira na vida e o Grindelwald era velho. Teve anos e muitas viagens pelo mundo para conhecer todo tipo de pessoa.
Mesmo assim aquela simples horcrux, aquele reflexo de um homem do passado, parecia superar qualquer imagem que o Mitrica pudesse tentar lembrar.
Era lamentável que tivesse jogado tudo fora por poder. Inclusive (Lakroff não deixou de notar) os lábios. Não que tivesse olhado a boca de Voldemort com atenção, mas Riddle tinha lábios rosados bem carnudos para os padrões europeus, que chamavam demais a atenção.
Lábios assim são os mais gostosos de beijar, sem dúvidas...
Grindelwald sacudiu a cabeça com firmeza, frustrado enquanto reprimia e julgava sua capacidade em se distrair com qualquer coisa.
Talvez devesse mesmo procurar um médico da mente? Resolver seu défice de atenção severo...
- Que certeza, além do nariz, você tem de que esse é mesmo Tom? – questionou à Harrison tentando usar seu humor, por pior e mais sem graça que fosse, apenas para se manter consciente no presente e não na boca bonita de um lorde das trevas.
O alvo da brincadeira irritante revirou os olhos.
- Ele não ter tentado me matar? – ofereceu o menino.
- Claro, isso é uma questão de tempo e oportunidade.
- Eu nunca machucaria o Harrison – reclamou o outro, cruzando os braços.
Uma resposta rápida e firme que ganhou pontos com Lakroff, mas não era o bastante.
- Eu acredito, é claro, tudo que sai da boca de um lorde das trevas é verdade – debochou.
- Talvez não da sua, nota falsificada ambulante – acusou. – Se você ficar sem mentir por uma hora, acho que entra em colapso! Mas eu não...
- Me provocando com minhas mentiras?! – interrompeu Lakroff, levemente irritado. – Caso tenha se esquecido, elas que me mantém aqui, ou quer que me prendam de novo? Será que vão me deixar dividir a cela com Gellert? Ou vão me matar de vez? Aí quem vai cuidar do Harrison? Você? Ótimo! Voldemort pai do ano! – debochou.
- Pare de ser tão irritante! – reclamou se afastando do parapeito da janela, em direção aos outros.
- Essa é minha especialidade, eu só sei ser irritante! – respondeu também se aproximou, Harrison desviou a tempo de não ser atingido enquanto observava a interação...
Curiosa.
Sua preocupação com o humor do avô quase se esvaindo, afinal a varinha não estava nem empunhada enquanto ambos se encontravam cara a cara no centro da sala.
Curioso, sem dúvidas.
- Que bom! Continue assim, então! Pelo menos uma coisa na vida você sabe fazer direito! – retrucou Riddle asperamente.
- Eu te garanto que sei fazer, pelo menos, dez coisas muito bem, mas delas só umas duas eu faria com você! Quer tentar descobrir quais? – provocou.
O moreno ficou lívido, toda e qualquer expressão de raiva sumiu de seu rosto enquanto (uma reação comum de quando estava confuso), apenas olhava para o outro homem, pensando em que sentido aquelas palavras deveriam ter saído.
- Por que você não vai dar uma voltinha Grindelwald? E me deixa em paz! – ralhou após um tempo, decidindo que era incapaz de pensar numa resposta adequada para a frase de antes.
- Voltinha? Está me achando com cara de cachorro? O único que vejo correndo atrás do rabo é você! Igual aqueles bichos que perseguem tanto a coisa que acabam vomitando ou se mordendo!
- Você não está num saco muito diferente de farinha, caso tenha se esquecido! Sua memória está ruim pela idade, por acaso?
- E você é o exemplo de juventude do recinto! – ironizou. – Só porque recuperou a cara bonitinha se esqueceu que ela não era mais assim, cobra deformada?
- Deformada?! – indignou-se o Riddle. – Você...
- Vocês já conversaram antes, não é? – perguntou Harry interrompendo os dois e ganhando totalmente a atenção, pois ambos pareceram realmente se assustar com aquela frase, confirmando ainda mais a teoria do menino pela forma que travaram no lugar. – Já se conheciam, com certeza. A forma como conversam... – murmurou, andando calmamente até uma das poltronas do lugar. – A pergunta que não quer calar é: como? – enfim se sentou, cruzou os braços, levantando uma sobrancelha enquanto a perna direita se movia em um arco e repousava por cima da esquerda. – Mais importante ainda, como justamente eu não sabia?
Tom pareceu ajustar ainda mais a postura, que estava sempre perfeita e adequada, o sinal de perigo apitando. Harrison estava com aquela expressão de que não gostava. Lakroff tossiu:
- Vejam só, minha língua mentirosa foi insultada agora a pouco, mas parece que estamos numa das únicas situações em que me recuso a usá-la... Que enrascada, não é, Riddle?
Tom o encarou com uma expressão que dizia claramente: "Não se atreva" au mesmo tempo que tentava matar seu alvo. Em resposta, o Grindelwald mais velho sorriu:
- Meu caro, eu nunca minto para Harrison.
- Que bom, não é? – comentou o menino de forma bem sombria e então olhou para Tom, seus olhos brilhando da forma sinistra quando as próximas palavras saíram ameaçadoras: - Parece que você está me escondendo mais alguma coisa...
- Não exatamente... – murmurou dando um passo para trás e Lakroff riu de como Tom obviamente tinha medo de Harry.
Isso era maravilhoso por si só, o menino estava quase botando um lorde das trevas para correr, era fascinante! Sua felicidade, entretanto, durou pouco, pois o olhar recaiu sobre ele.
- E você?
- Eu?
- Também escondeu algo de mim...
- Riddle aí ficou no seu corpo na noite que tomou as poções para dormir – lembrou Lakroff.
Tom encarou o outro furioso, na mesma proporção que ficava assustado que falasse demais.
Nem era apenas por Harrison, o que já seria problemático, mas pelas outras partes em si, que já vinham tentando arrombar todas as proteções oclumentes e estavam cada instante mais próximas da verdade. Ele não podia dar brecha para entrarem e finalmente descobrirem o que estava tão relutante em mostrar.
Apressou-se para acrescentar muito convincentemente:
- Eu levantei para vomitar, lembra-se? Quando Voldemort se irritou. O olhudo aí me pegou nessa hora.
- E você decidiu que isso não era importante de me contar? Justamente que Lakroff descobriu nosso segredinho?
- Bem... Ia te preocupar por motivo nenhum, ele não me matou, veja só, então você só...
- Engraçado, não é? – interrompeu, analisando o tecido de suas roupas como se não o tivesse notado antes, falando em tom de quem comenta o clima em uma conversa entre amigos, mas todos podiam sentir como o ar começou a ficar denso e... pareciam estar sendo cercados por uma criatura prestes a atacar, encurralados como presas diante do predador supremo, seus instintos apitando. – Lakroff nunca foi muito a favor de manter sua alma na minha cabeça, Tom. Então ele descobre que você pode me possuir se eu estiver inconsciente, o que é um poder absurdo que você pode exercer sob mim, mas além dele não fazer nada contra você, enquanto uma ameaça clara a minha integridade, ou qualquer movimento para tirá-lo de mim de vez, ele se cala. Aceita. Não obstante, sequer veio falar nada comigo! Não me questionou uma única vez! Ignorou a bronca esperada por nunca o ter informado... Engraçado? Não. Parece apenas uma história absurda demais para qualquer um acreditar... Quer tentar de novo?
Lakroff riu mais alto:
- Talvez você tenha razão sobre não mentir com frequência Tommy. Você é péssimo nisso.
Tom quis muito amaldiçoar aquele insuportável. Principalmente por ousar chama-lo daquela forma.
- O que vocês dois conversaram? – continuou Harrison.
- Nada demais, eu só o convenci que não represento uma ameaça a você.
- Mesmo? – e olhou para o avô ao perguntar.
- Ele resumiu muito a coisa toda, mas não é uma mentira - sacudiu os ombros.
- Não acabamos de concordar que o mentiroso é você? – Tom comentou cheio de cinismo.
- Você é só o cara manipulador que omite tudo, não é? Que tal entramos em mais detalhes então?
- Boa ideia, como ele te convenceu, vovô?
- Eu disse a ele... – tentou, mas imediatamente Harry o fez recuar:
- Quieto, Tom! Perguntei a ele!
A forma que a Horcrux obedeceu a ordem fez Lakroff se sentir na obrigação de acrescentar:
- Você quer a sua coleira agora ou depois, Riddle, perseguidor de rabos?
- Quer que eu te estrangule agora ou depois, sua peste dos infernos?!
- Depende, existem coisas que não se devem ser feitas na frente dos netos, mas só um dos contextos nessa frase não perturbaria o meu... isso é preocupante, parando para pensar...
Harrison soltou uma espécie de grasnado quando tentou conter a risada, pois foi impossível ignorar a cara hilariante que Tom fez, enquanto arfava irritadíssimo:
- Você com certeza é um sequelado! Isso é coisa que se diga?!
- Por quê? Ficou incomodado ou interessado? – questionaram os dois Grindelwald ao mesmo tempo.
- Não aja como esse cara, ele é uma péssima influência! – reclamou, olhando para Harry e apontando para Lakroff, que fez questão de se aproximar para que o dedo apontado encostasse diretamente em seu peito.
- E você é a boa influência, senhor sete partes?
- Eu sou muito mais, com meia dúzia de partes, do que você inteiro! – e cutucou mais forte o peito alheio.
- Não foi o que você disse na última... – provocou.
- E voltamos para o que interessa: a última... – disse Harry para o vento, já estava se questionando se a dupla fazia aquilo de propósito para distraí-lo ou se eram realmente incapazes de não se insultar em um intervalo de no máximo duas frases.
- Eu disse a esse aloprado que jamais te machucaria – explicou Tom. – Isso porque...
- Tom disse, com todas as letras, que acha que te ama. Foi uma gracinha – brincou Lakroff e a mão de Tom tremeu para lhe acertar um tapa.
Aquele foi outro maldito sinal. O mais forte deles. A palavra amor apitou tão alto na sua mente que parecia o som das sirenes que avisavam das bombas quando pequeno.
Amor? Marvolo não podia amar! Ele era aberração que nem sentia cheiro algum na poção do amor, era...
Vazio...
Não foi assim que Tom se referiu ao cheiro de Harry?
Não podia...
- E só falando isso, que me ama, ele te convenceu? – questionou Harrison. – Nem você é tão meloso, vovô...
- Não. Ele também deu uma de kamik...
- Calado! – mandou Tom saltando para mais perto e colocando infantilmente ambas as mãos em na boca do loiro para garantir que ficasse quieto.
Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....
Sua mente chiava.
Sentiu o corpo fraquejar, todos viram como perdeu a cor, tornando-se translúcido por um micro instante.
Ele iria se desfazer, sem dúvidas, a guerra em sua mente estava embaralhada demais. Não podia passar todas as memórias para os outros, não arriscaria diante de como poderiam reagir a seus próprios sentimentos em relação a Harrison e, eles, igualmente, estavam irados com a barreira depois que notaram vir de uma única fonte.
Tudo, entretanto, ficou branco...
Quando sentiu a língua de Lakroff passar lentamente por sua mão.
Arregalou os olhos e retirou as palmas para próximo de si, uma carranca enojada, todas as três partes pensando igual ao reclamar:
- QUE MERDA VOCÊ PENSA QUE...
- Sorte sua que não mordi!
- Você me lambeu, seu esquisito!
- Na próxima me cala com a boca, assim uso a língua de outro jeito! – provocou, já que vinha percebendo que piadas movidas para esse sentido pareciam irritar em dobro o outro.
Claramente Marvolo não tinha muita noção de como responde-las.
Quem afinal teria feito esse tipo de comentário para, justamente, o Lorde Voldemort?
- Eu ia preferir tomar veneno!
- Com essa covardia sua pela morte? Você ia preferir até mesmo beber outras coisas saídas de mim, que veneno!
- Eu quero tanto te matar! – reclamou Riddle esfregando as mãos nas vestes para também conter sua vontade de atacar fisicamente o outro.
- Você nunca faria, é um cachorrinho bem treinado, Tommy.
Lakroff precisou desviar do tapa que veio em sua direção. Coisa que fez com uma facilidade treinada, ele era claramente mais rápido que a horcrux Riddle, decidiu ainda se curvar para trás e acertou ele mesmo um peteleco na nuca alheia.
- Lentinho – acrescentou verbalmente.
- Eu vou afundar meus dentes na sua jugular! – ralhou Tom, tremendo de raiva, punhos fechados ao lado do corpo.
- Isso era uma ameaça ou uma proposta específica de relação..?
O moreno tentou agarrar Mitrica pelas roupas, mas este habilmente tornou a desviar e correu para mais longe. Tom foi atrás e, antes que dessem por si, estavam correndo pelos corredores da mansão, passando pelos quartos, virando a direita, então descendo escada a baixo em uma perseguição que tirava risadas gostosas vindas do fundo da alma do loiro.
Elas só se intensificaram mais quando o quadro de Walburga arfou, em choque, na parede ao passarem por ela. Provavelmente a mulher reconheceu o antigo colega de escola perseguindo Grindelwald.
Até Tom quase riu daquilo, mas ignorou o berrador em forma de mulher para tentar chegar no seu alvo.
"Harrison vai me matar depois, certeza" pensaram os dois.
Lakroff apertou o passo para a cozinha e ficou muito feliz que Lala e Monstro não estavam, não queria ter que lidar com isso. Virou para a esquerda e contornou uma grande mesa de madeira retangular, Tom sempre em seu encalço, mas o loiro era mais rápido. Praticamente se viram girando pelo cômodo em uma cassada digna de desenhos animados, antes de, na terceira volta completa, pararem frente a frente, o móvel os separando ao centro.
- Que merda Grindelwald! – gritou o mais novo acertando as mãos na madeira. Mitrica riu ainda mais, estava começando a ficar com dor de barriga e sem ar. – Pare de rir! – mandou irritado, pegando o primeiro objeto que viu (um prato) e arremessando na direção da cabeça de fios claros, que se abaixou para desviar.
A porcelana se espatifou na parede bem atrás.
- Mas você fica tão engraçado bravo assim – debochou.
Tom decidiu que arremessar coisas não bastava, ele queria arrebentar com as próprias mãos aquele sorriso debochado nojento.
Num salto, ele subiu na mesa e tentou se lançar para o outro, entretanto (para sua surpresa) Lakroff correu em sua direção e, antes que reagisse, abraçou suas pernas e o puxou, jogando-o sob os ombros como um maldito saco de batatas.
- Que porra! – vociferou.
- Sem palavrões na casa de crianças! – disse Lakroff com um sorrisinho e se segurando muito para não provocar ainda mais o outro lhe acertando um tapa na bunda.
Mas até ele tinha limites, não é?
Também conteve o impulso de reparar ou comentar mentalmente o formato redondo daqueles glúteos.
- Você vem com essa depois das merdas que disse lá em cima?! Me solta! – ordenou Tom, socando as costas do homem.
Grandes costas largas e fortes de quem treinava, bem diferente dele que nunca focou muito no aspecto físico e era até bem magro. Lakroff, para piorar, o segurava como se não fosse nada (um homem adulto, caramba!) e isso só o frustrava mais. Como aquele velho tinha um porte físico tão bom?! Sábia que o loiro treinava muito no passado para ajudar o corpo com os ataques de descontrole mágico, será que nunca parou?
- Vou pensar se te solto ou não.
- Eu vou pensar se não torno suas visões onde te mato realidade.
- Quer saber? Acho que você nem conseguiria mais nesse ponto.
- COMO É?! - indignou-se.
- Estou dizendo que você ficou fraco, Riddle.
Tom se debateu um pouco mais para tentar se soltar e deu uma joelhada com força na barriga alheia. Seu alvo até reclamou e se curvou um pouco, mas estava claro que o abdômen trincado impediu que sentisse mais que um incômodo, pois apenas caminhou mais um pouco até um canto da cozinha.
Havia um balcão de mármore negro, o loiro levou a horcrux irritadiça até lá e a colocou sentada, quando viu que o moreno ia tentar sair, colocou uma braço de cada lado do corpo dele para impedir mais qualquer movimento, suas mãos batendo contra o apoio com força o bastante para fazer barulho e seu rosto bem próximo do Riddle:
- Eu estava te testando, seu emburrado.
- Me testando? – praticamente cuspiu, afastando um pouco o rosto.
- Você não é Voldemort.
- Que inferno, Grindelwald! Dã?
Mitrica riu e apontou o dedo diretamente para a testa de Tom:
- É disso que estou falando.
- Não estou te entendendo!
- Essa atitude infantil, Tom. Disso que estou falando.
- INFANTIL? VOCÊ QUE COMEÇOU C... – ele foi interrompido com a mão saindo de sua testa e indo diretamente para seu queixo, puxando com um aperto tão firme que o calou.
Vendo assim de perto, Tom conseguia perceber ainda melhor como os cílios do de olhos azuis eram cumpridos, além de grossos na medida certa para serem, chamativos, mas também delicados devido a cor quase branca, que os fazia sumir em algumas luzes. Foi, afinal, uma das primeiras coisas que Tom notara no homem anos atrás.
Pessoalmente eram ainda mais bonitos.
Marvolo praticamente ignorou o fato de que estava elogiando o Grindelwald e seu olhar (que, daquele ângulo, era ainda mais intenso), porque estava mais focado com a ideia que queria morder aqueles dedos até arrancar para se vingar daquele aperto.
- Sim, eu comecei - concordou Lakroff. - Por isso disse que estava te testando. Queria ver como você reagiria às minhas infantilidades.
- Você está fazendo tanto sentido quanto alguém que tem uma agulha no cérebro faria – o aperto em seu queixo aumentou de intensidade.
- Nenhum de nós teve infância, Tom Marvolo Riddle. Nós nunca nos permitimos agir da forma que estávamos. Voldemort nunca me perseguiria pela casa, nunca responderia como você está respondendo. É infantil. Assim como eu. É alguém que surgiu com a influência do Harry. Não é Voldemort. É Tom. Se você agisse diferente, não acreditaria na sua palavra. Precisava testar de alguma forma se era o mesmo que conheci no corpo de um adolescente fazendo careta para um fio que insistia em cair na testa.
- Haviam outras formas de fazer isso.
- Essa era a mais divertida – sorriu provocativo.
Agora Tom também queria rasgar os lábios do infeliz, para lhe tirar a expressão.
- Seu teste foi feito, eu passei, que me dar espaço pessoal agora?
- Por quê? Está te irritando? Se estiver, vou ficar um pouco mais...
Riddle não se dignou a responder, apenas levantou a perna e colocando seu pé direito no peito do loiro, tentando o afastar assim. Lakroff deu dois passos para trás antes de firmar os pés no chão e segurar o tornozelo e a canela do que o empurrava, mas não fez qualquer questão de tirar a sola de sapato de si.
Ele poderia ter pensando sobre como os dedos do outro eram grossos. Nada do que esperava das mãos de um pianista exímio que o Mitrica se provou ser ao longo dos anos na mansão da família. Entretanto o foco de Tom de manteve no comentário feito em seguida:
- Eu podia te puxar e você ia cair como um tolo no chão.
- Você não faria.
- Isso é um desafio?
- Não. Estou dizendo que não é seu estilo. Você gosta de rir das pessoas, mas não causar dor nelas para isso.
- É mesmo, causar dor para se divertir é mais o seu estilo. Sádico.
- Masoquista.
- Às vezes eu penso que você ficou feio muito cedo e ainda é virgem, porque não é possível que não notou que essa era a pior resposta que podia dar.
Marvolo puxou o pé de volta, quando o aperto afrouxou o suficiente, empurrou com força contra seu alvo uma segunda vez, mas era o que Lakroff esperava.
Ao invés de desviar totalmente, ele pegou o joelho de Tom enquanto estava em movimento e o puxou com toda a força, arrancando-o da bancada em direção ao chão. O Riddle levou um susto, ainda maior quando percebeu que o outro não o soltara, então não teria tempo (nem como) para se colocar de pé.
Realmente não esperava que Grindelwald fizesse algo que poderia machucá-lo, mas talvez por ser uma horcrux, não uma pessoa, ele teve uma reação incomum?
Ilógico.
Justamente Lakroff não teria uma linha de raciocínio dessas com Tom.
Naturalmente ele abriu os braços para tentar se agarrar a algo, mas o Mitrica já havia se adiantado, seu próximo movimento foi correr para Tom e agarrá-lo no colo antes que caísse.
Afinal, realmente não queria machucar o "amiguinho estranho" de seu neto.
Imediatamente os instintos de autopreservação de Tom o fizeram juntar os dedos aos ombros largos do outro e cruzar as pernas em torno de sua cintura, se agarrando nesse apoio mais próximo e útil. A respiração ficou um pouco descompassada e teve de fechar os olhos para se acalmar.
Foi quando sentiu aquele cheiro incomum.
Baunilha, um pouco de cacau, talvez pela proximidade com Harrison, rosas (sem dúvidas rosas), tudo em um toque amadeirado e... frutas cítricas. Se Lakroff fosse uma comida seria um doce. Uma torta de baunilha e cacau (meio amargo), coberta com chantili e cascas de limão em cima. Não... Limão não. Bergamota, sem dúvida.
Era uma das frutas que Lakroff mais gostava, sempre trazia vários quilos para casa quando iam ao Brasil, ou pedia para Leandro trazer nas férias do instituto. As tangerina impregnavam nas roupas e, de acordo com Harrison, o faziam "ainda mais enjoativo". O menino reclamava em dobro no verão sobre o avô fedido.
Tom, entretanto, não conseguia entender onde aquele cheiro era ruim.
Tinha a tendência a concordar com Harrison, mas dessa vez... achava apenas intrigante. Despertava vários sentidos ao mesmo tempo. Acariciando com a baunilha, o amadeirado diminuindo na medida certa o doce, para poder intriga-lo com o cacau, então quebrando tudo com bergamotas...
Marvolo tinha experimentado uma vez a muitos anos, quando foi para o Japão em suas viagens, e se perguntava se a versão brasileira teria o mesmo gosto. Na época não viu nada demais nas frutas, mas..
Sacudiu a cabeça e deu um tapa forte no peito do outro:
- Mexerica desgraçada! – xingou.
Lakroff soltou Tom apenas por meio segundo e riu de como ele rapidamente enrolou os braços cumpridos em seu pescoço para tentar se segurar.
- Pare com isso ou me solte!
- Mexerica, sério? – questionou, ignorando o pedido/ordem. – Nem Leandro usa mais essa comigo.
- Você usa meu nariz! – e fez uma careta para o fato de que estava conseguindo ser ainda mais infantil do que já estava até então.
- É que esse é tão bonitinho – fez bico, contendo o impulso de tocar o nariz arrebitado de Tom com o seu próprio. – Foi um desperdício perde-lo, seja lá pelo que tenha trocado. O que foi, a propósito?
- Você não vive dizendo que sabe tanto de artes das trevas quanto eu? Descubra, ridículo! E não chame meu nariz de bonitinho!
- Meus sacrifícios para rituais complexos geralmente eram animais, não eu próprio. Nunca precisei ir tão longe.
- Correção, você nunca quis ir tão longe! Já vimos o que dá quando um vidente necromante perde a vergonha na cara e elimina seus inimigos de uma vez, ao invés de ficar prendendo como um-ah! – gritou quando o outro o empurrou para cima e soltou de novo, instintivamente se agarrou ainda mais. As mãos firmes de Lakroff voltaram a segurar suas coxas.
- Você é bem leve – comentou o Grindelwald.
- Morre! – respondeu o Gaunt.
Ainda com aquele sorriso debochado, o loiro levou seu rosto até o lado esquerdo do outro e sussurrou em seu ouvido:
- Eu já estou morto por dentro, Tom. Não sabia?
Estava próximo o bastante para perceber alguns daqueles cabelinhos da nuca se arrepiarem no moreno e supôs que eram pelo tema.
Daquele assunto Riddle entendia. Eles se entendiam de uma forma perturbadora. Eram iguais justamente nos pontos que jamais se orgulhariam e (talvez) por isso tanto atrito.
Viam, um no outro, um pouco do pior que podiam oferecer.
- Então o que eu sou? Um maldito zumbi? – Tom sussurrou de volta, sem mover o rosto.
- Você é a vinha do meu neto – levou outro tapa, no ombro dessa vez. – Eu vou morder essa sua mão.
- Eu juro que arranco seus cabelos com a outra.
- Essa frase... Também dá muita margem para a imaginação, Tommy...
Na raiva, Tom realmente levou a mão para os fios loiros e os agarrou, mas percebeu como estava em uma situação vulnerável e conseguiu impedir o impulso de puxar.
Ficou surpreso que fossem tão macios, considerando a quantidade de gel que supunha que Mitrica usava.
- Com medo, Tomtom?
- Como é?! – ralhou.
- Não quis puxar, está com medo do que posso fazer com você?
- Acha que eu teria medo de você em qualquer situação?
- Não, não – disse sarcástico. – Só do teu nariz não ter se acostumado com a cara e cair de novo.
Aquilo estava torrando demais a paciência do Riddle. Ele apertou mais as pernas na cintura alheia, para o caso de ser solto, e puxou os malditos fios para trás.
A cabeça do Grindelwald acompanhou o movimento e, mesmo que um gemido contido o tivesse escapado (um que arrepiou os pelos do braço de Tom), ele só riu ainda mais debochado em seguida:
- Aí, aí! Só porque você ficou alguns anos careca, não precisa arrancar os meus cabelos. Você não é mais lorde Slytherin, não precisa ficar verde de inveja para provar alguma coisa...
Tom puxou com mais força e Lakroff continuou rindo alto, dessa vez nem emitiu som de dor, mas apertou mais sua coxa.
- Você quer muito que eu te mate, está me provocando para isso! – murmurou sombriamente, levando a mão livre para o pescoço exposto, contando com a força de seu abdômen para mantê-lo no lugar.
Lakroff quis provocar de novo, sobre Tom ser um cachorrinho muito bem treinado de Harry que não iria ferir uma das maiores armas do garoto, mas decidiu que era melhor parar mesmo.
Seu corpo já estava reagindo de formas que, decididamente, não queria lidar.
E só porque Lakroff era assumidamente meio estranho, não precisava provar isso para o lorde das trevas no seu colo.
Talvez, só talvez, passar mais de uma década sem dormir com ninguém o estivesse afetando, também.
Deixando seus sentidos atordoados e sensíveis.
Ele meio que desistiu da coisa carnal quando adotou suas crianças. Vivia tão preocupado com os filhos e Harrison, que juntos eram enlouquecedores e, sozinhos, infernais (afinal cobriam uma área maior de desastre), que se negligenciou totalmente. Mesmo quando tinha tempo e oportunidade, estava sem cabeça para essas coisas.
Tinha um péssimo gosto para homens mesmo, não estava perdendo muita coisa.
Mas, definitivamente, estava se distraindo de novo. Por isso levou o mais novo para o balcão e o deixou lá com delicadeza, tentando evitar que sua mente irritante viajasse mais.
Ainda mais sobre o fato de que Tom esbanjava pernas cumpridas, firmes, torneadas e fortes falando para alguém do seu tipo esguio. Ao que pareceu, ao menos, por dentre seus dedos. De certo seriam bonitas...
Ele não era o único pensando em coisas com as quais queria lidar. Tom não parava de se martirizar por ter gostado da sensação de tocar a pele do pescoço de Lakroff, que era incrivelmente quente e macia... Só que, no fim, Marvolo ainda era vingativo.
E conseguia se concentrar bem melhor.
No instante que percebeu que estava seguro e que seu alvo estava meditando longe, atacou.
Mitrica não conseguiu reagir rápido o bastante para o próximo golpe. Levou outro chute (que provou a força das tais pernas torneadas), e deu vários passos vacilantes para trás, quase caindo no chão se não fosse a mesa de jantar a qual conseguiu se apoiar, centímetros antes de atingir o assoalho.
Assim que o susto inicial passou e seus batimentos cardíacos se normalizaram um pouco, começou a gargalhar.
- Não é para rir! Eu te chutei! – reclamou Tom, descendo do balcão.
- Você quer eu faça o que, chore?
- Não sei!
- Sei lá, se beijem, depois dessa movimentação toda esquisita de vocês! – disse Harry da porta, limpando seus óculos.
- PIRRALHO! – gritou Tom.
A gargalhada de Lakroff aumentou, tanto que sentiu uma pontada na barriga e realmente deitou no chão.
- Tom, você não pode me dizer que não notou como vocês dois estavam. Eu pensei seriamente se era melhor sair para deixá-los sozinhos...
- Nós não...
- Vamos nos beijar Tom! – sugeriu o loiro no chão. – Formamos um casal de avôs disfuncionais! – e seus olhos já lacrimejando de tanto rir.
- Eu estava mais brincando que qualquer coisa quando dizia que você gostava dele, mas agora eu tenho certeza... – sussurrou o adolescente.
A expressão enfurecida de Marvolo foi tão boa que Lakroff se sacudia e tentava puxar ar para os pulmões, mas estava difícil. O de olhos castanhos, por outro lado, fez questão de chutá-lo (apesar de ter tomado o cuidado de fazer isso na perna e sem muita força, afinal não queria irritar o homem o suficiente para parar de achar tudo aquilo divertido e pensar em como destruir a horcrux).
- Eu não gosto dele – reclamou Tom levando as mãos as têmporas. – Eu não o suporto.
- A linha entre o amor e o ódio é muito tênue, Tommy – provocou o Grindelwald mais velho.
- Eu vou pegar essa linha e te enforcar com ela. Parem de dizer coisas assim! Estão me deixando com ra...
- Tímido, Tommy?
- Você deve gostar muito de ser chutado, não é?! - e realmente deu um segundo golpe, igualmente fraco.
- Você faz com tanto jeitinho... – comentou piscando os olhos e tentou agarrar a perna alheia, mas dessa vez Marvolo foi ágil o bastante para se esquivar.
- Um dia, quando eu tiver magia para tanto, eu vou te torturar e vou rir enquanto te escuto gritar.
- Quer me escutar gritando? Conheço umas formas que não precisam de magia, só levam mais tempo, habilidade com as mãos e suor...
- PELO AMOR DE MORGANA, O HARRISON ESTÁ BEM ALI! – gritou furioso.
- O problema é a minha presença? – Harry riu colocando as lentes, feliz que as havia pego. Já estava sentindo que invadira o momento daqueles dois sem nem precisar ver como suas almas reagiam um ao outro. – Eu vou para a sala, então, só não façam muito baru...
- Você não saia daí! – mandou. – E não dê ouvidos para esse idiota!
- Eu estava falando de torturas trouxas, Tommy. Alguns alicates, uns instrumentos. No que você estava pensando? – ponderou Lakroff.
- Eu vou muito te matar um dia – o Riddle ameaçou sentindo que se estivesse em seu corpo normal já estaria vermelho de tanta raiva.
Nunca ninguém foi capaz de irritá-lo tanto! E ele tinha um exército de idiotas a alguns anos!
- Vocês dois vão acabar de flertar para podermos conversar? - perguntou Harry, apesar de realmente estar achando tudo um tanto divertido.
- Eu não estou flertando com ele!
- Eu estou – afirmou Lakroff.
Tom fechou os olhos e inspirou fundo, contou até dez decidindo que o melhor para sua saúde mental era ignorar.
- Esqueça esse velho caduco. Vamos, Harrison, não quero mais perder tempo com ele.
O Mitrica mais velho já acrescentava:
- Você está ciente que também já passou dos sessenta anos, não é? Está quase nos setenta e essa cara bonita sua já era faz tempo.
- Você disse que minha cara é bonita? – perguntou em tom de provocação.
- Você disse que eu era mentiroso – sorriu com todos os dentes, enfim se levantando.
- Vindo de você e suas escolhas anteriores, é quase uma ofensa ser elogiado mesmo.
- Vindo do atual cara de cobra, você tinha que aceitar qualquer elogio.
- Pelo menos podemos concordar nisso. Também te acho um projeto, vindo direto dos meus piores pesadelos.
- Você anda sonhando muito comigo, Tommy? – se aproximou.
- Pesadelos infernais – disse entre dentes, mas sem se afastar, cabeça erguida em desafio.
- Se quiser posso fazer virarem sonhos celestiais rapinho... – fez questão de morder o lábio inferior.
Deu risada quando Tom olhou naquela direção e o Riddle se odiou por ter caído nessa.
Quantas vezes Harrison não usou o mesmo truque de merda?!
Deu de costas. Sem dúvidas, podia viver sem ser um dos alvos da paquera por diversão de um Grindelwald.
Não que Marvolo nunca tivesse usado a paquera, e a tendência das pessoas a ouvirem mais seus hormônios que a razão, no passado para conseguir algo que queria, mas aqueles dois nem sempre estavam buscando alguma coisa além de simplesmente desequilibrar as pessoas por entretenimento. Para ver se conseguiam mexer com elas e até que ponto.
Claro que Harrison já havia tentado convencê-lo que não era bem assim, que não estava debochando dos sentimentos das pessoas, só era uma forma de comunicação que lhe agradava porque... enfim, seja lá quais motivos deu na época.
Algo sobre fazer uma pessoa se sentir desejável, como ele mesmo não se sentia, e aumentar sua segurança de que sua presença era apreciada, diminuindo as barreiras iniciais ao se conhecer alguém e mais algumas baboseiras que Tom ignorou completamente.
No fim, Harrison detestava conhecer pessoas e gostava de estabelecer uma distância com todas. Desconcerta-las com seus grandes olhos verdes tinha a tendência a funcionar. Ele apenas decidia na hora se queria fazer isso piscando e sorrindo, até despertar interesse o suficiente para conseguir manipular o alvo, ou ameaçando até criar medo e respeito para força-lo a se submeter.
Mas os olhos azuis, pele macia, cheiro gostoso e o sorriso perfeito de Lakroff não fariam isso com Tom. Nem em um milhão de anos!
Ia ignorar o velho e ponto. Por isso, foi até Harry.
- Eu...
- Se for falar comigo quero minhas respostas – exigiu na hora. - Por culpa desse showzinho de vocês eu tive que ter uma conversa séria com Walburga Black, sem contar que, ainda bem, pensei na hora em chamar Monstro e Lala. Deidades me poupassem se Monstro tivesse visto você, Riddle! Sua cabeça ainda está tão confusa e o dia já foi estressante para o pobrezinho!
- Certo. Quer respostas sobre aquela noite? Eu disse ao seu avô irritante, quando ele percebeu que não era você no seu corpo e sim eu, que já tínhamos feito isso antes e mesmo assim você estava bem. Prometi que me importava com você ao ponto de acreditar que isso é amor - e evitou tremer quando o som saiu por sua boca. - Disse que te protegeria de tudo, até de mim mesmo, ou de você e sua irresponsabilidade em não dormir.
- Eu não...
- Você tem que dormir! – interrompeu irritado. – É bom para a mente! Todos, até criaturas e monstros, precisam descansar a cabeça e você tem muita coisa na sua para não se permitir algumas horas diárias. Isso não é negociável, Harrison Potter!
- Ele tem razão.
- Dito isso... – Harry olhou para o avô que tinha falado. – Você simplesmente aceitou que ele não me faria mal e ponto?
- Não foi bem assim, ele foi convincente.
- É Voldemort, claro que ele é convincente.
- E eu sou quem sou. Acha que é fácil me convencer? Com tudo que já fiz?
- Bem...
- Eu fiquei quieto porque decidi confiar no seu julgamento para com esse estressado aí e ele não falhou ainda, mas acredite que estou de olho constantemente. Sem contar que muito bravo com você ter me escondido isso, mas podemos ficar quites, não é? Eu escondi que sabia, você escondeu o que fazia.
Tom olhou para Lakroff, surpreso que ele não estava mais correndo para contar a Harry sobre os detalhes da conversa que tiveram.
O menino, não percebeu esse olhar, pois estava de cabeça baixa, mais uma vez se sentindo culpado e sussurrando:
- Me desculpe.
- É a segunda vez que você me pede para desculpá-lo só hoje, Harrison – bufou Lakroff, mas estendeu a mão. O neto entendeu o sinal e se aproximou, aceitando o abraço que veio e, o que era menos comum, retribuindo o gesto com empenho, enterrando seu rosto no peito do mais velho e apertando seus braços. – Eu te amo, meu príncipe. Sabe disso. Eu moveria céus e o inferno por você. Daria a mão para o diabo, o enganaria e tomaria seu trono para você - Hazz riu, mas não comentou. O avô acariciou seus cabelos enquanto continuava: - Não há nada que não faria, mas eu preciso saber. Sempre. Você precisa me falar as coisas. Não tem como eu ficar constantemente paranoico olhando envolta para saber como posso te ajudar, se você também se tornar um problema para si mesmo.
- Eu...
- Você é uma pessoa inteligente e sempre soube se virar, você tem constantemente um adulto, por mais insano que ele seja, te ajudando também – Lakroff esperou que Tom reagisse de alguma forma, mas o mesmo estava quieto e de cabeça baixa, parecia estar perdido em seus próprios pensamentos, então deixou quieto. – Eu geralmente posso confiar que você saberá o que fazer porque é alguém consciente e, sei que isso é estranho, mas dificilmente algo vai conseguir te machucar com Riddle te vigiando. Mesmo assim, você é o pouco de tudo que eu tenho, eu jurei para mim mesmo que te protegeria, que faria tudo a meu alcance para te manter bem e seguro sempre. Vou continuar fazendo, mas me daria bem menos dor de cabeça saber que, independente do que aconteça, você vai me falar! Você tem medo do que afinal?
- Não é medo... exatamente... eu só...
- Você fica com receio de eu não te apoiar quando quer fazer algo verdadeiramente estúpido como roubar dois anéis de um lorde das trevas?
- É...
- Harrison... – ele soltou um pouco o abraço para olhar diretamente nos olhos verdes para dizer: - Eu juro, você poderia querer fazer qualquer coisa, se me disser que é o que quer, eu vou te apoiar e farei o que estiver ao meu alcance para tornar mais fácil para você alcançar.
- Qualquer coisa?
- Qualquer.
- Promete?
- Eu juro pela minha vida e magia. Você é meu príncipe, sua alteza. Se me mandar executar alguém, eu perguntarei se quer rápido ou criativo – e acariciou o cabelo do menino.
Harrison não viu como a magia do avô reagiu, afinal estavam com as lentes para impedir, mas podia imaginar. Uma pequena corrente, talvez rocha ou preta como sua magia, rodopiando o peito antes de se dissolver entre o resto de sua energia.
Ele riu de novo.
- Rápido ou criativo?
- Posso pensar em várias formas de matar alguém. Métodos bruxos e trouxas. Lembre-se que eu já assisti por anos o pior que eles podem oferecer. Você ficaria surpreso...
- Mas você vê o futuro...
- Se já foi feito um dia, pode vir a se repetir. Nunca duvide da capacidade humana para ser terrível.
- Eu não duvido.
- Você não vai mais esconder coisas de mim?
- Não.
- De dedinho?
Harrison sorriu, mas ofereceu a mão e deixou que o avô juntasse os dedos mindinhos em uma promessa totalmente trouxa, que não afetava em nada suas magias, uma puramente simbólica. Mesmo assim disse em voz alta:
- Eu juro.
Isso deixou o mais velho imensamente feliz.
- Eu agradeço.
- Harrison... – chamou Tom, baixinho.
O menino se virou para lhe responder, percebendo naquele momento que a horcrux estava estranha e um tanto diferente. Talvez, para outras pessoas que não o conheciam, não havia nada ali, mas Hazz sabia que Tom estava receoso com algo. Porém, antes que Harry pudesse perguntar o que o estava incomodando, eles ouviram o som de aparatação.
- Não... – sussurrou, a voz recheada de tristeza.
Tom e Lakroff gastaram tanto tempo naquela brincadeira deles, que ele não pôde aproveitar mais.
- Oi, onde vocês estão?! – perguntou Sirius do hall.
Marvolo e Harrison se encararam por um longo segundo. Muitas coisas se passando por suas cabeças antes da horcrux correr e abraça-lo:
- Vamos ter outra chance.
- Mas...
- Você logo iria se cansar de me sustentar assim, está tudo certo. Outro dia. Foi possível hoje, então...
- Oi?! – chamou o animago de novo e todos puderam ouvir seus passos andando pelo corredor, se aproximando.
- Na cozinha! – respondeu Lakroff correndo até Harrison enquanto retirava o diadema/anel do dedo. – Tom tem razão, você vai cansar – sussurrou enquanto puxava a mão do neto e colocava o objeto em um dos dedos livres, num movimento rápido também puxou o medalhão para fora da cabeça e colocou em seu próprio pescoço, escondendo por baixo da roupa.
- O que está fazendo? - perguntou o menino ao ver aquilo.
- Dando uma chance – disse se virando para porta e gritando em seguida: – Sirius! Tem uma pessoa que você precisa conhecer!
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Boa noite.
Espero muito que tenham gostado, pois gastei meu tempo de soninho para dar esse capítulo a vocês (estou ferrada amanhã), mas prometo que pretendo dormir no momento que chegar em casa até sexta a tarde e sábado pretendo trazer a parte dois. No mais tardar no domingo. E semana que vem é praticamente certeza que terão um capítulo bônus novo com cenas cortadas da última leva de capítulos.
Enfim. Me deem suas opiniões sobre este e até breve!
Um bom dia a todos (e madrugada para quem ainda está acordado).
PS: Esse capítulo me passa a emoção aqui de baixo.
PS: Espero que ainda estejam gostando das interações Lakroff e Tom, porque no próximo tem mais. E Wolfstar também <3
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