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Capítulo 30 - Aqueles que conhecemos e os que nos afeiçoamos

Votem, votem que eu sacrifiquei meu sono para não enrolar mais vocês e postar logo esse capítulo!

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"- Regulus!

- Me solta, Potter! - ordenou irritado puxando o braço que James havia pego. - E não me chame de Regulus!

- É seu nome... - sussurrou baixando levemente a cabeça.

- E desde quando somos amigos para você usá-lo? Vai procurar meu irmão, aproveita e da ração para ele ou talvez um banho, vai encher de pulgas aquele cabelo e...

- Regulus, por favor, eu preciso falar com você, mas não pode ser aqui... - e olhou em volta, várias pessoas corriam de um lado para o outro se preparando para o jogo.

Grifinória contra Sonserina. Os jogos que sempre acumulavam mais plateia.

James Potter e Regulus Black, dois dos melhores apanhadores. "O favorito da McGonagall e o favorito do Slughorn" (o que era alguma coisa, já que todos sabiam que Horacio Slughorn gostava de acumular alunos de sucesso em seu clube particular).

O evento de quadribol criava uma movimentação grande o bastante para a maioria não perceber a priori James e Regulus atrás das arquibancadas, mas logo alguém notaria, com o Black gritando irritado como estava, pensariam se tratar de uma briga e James se veria forçado a sair.

Era o que Regulus esperava, pelo menos, mas sabia como aquela peste era insistente, já o estava perseguindo a algumas semanas.

- E quem disse que eu quero falar com você, Potter? - e o nojo saiu muito marcado ao dizer o sobrenome, o máximo que conseguia.

Sendo o Black que era, junto do que sua mãe ensinava, faria muitas pessoas tremerem. James, como sempre, deixou que saísse pela orelha oposta a que entrou.

- Você obviamente não quer falar, mas desde quando eu me importo com o que as pessoas querem ou deixam de querer?

- Me erra!

- Não!

- O que raios você quer?!

- Você!

Regulus não conseguiu responder. Foi impressionante o quão rápido todos os muros que criava caíram, toda a tensão de seu corpo e a raiva escorreram como água e ele ficou lá, parado, tentando entender do que diabos aquele maluco estava falando. Não esperava aquela resposta.

- Eu ouvi você - continuou James. - Junto com o Malfoy, os Lestrange e o Rosier falando de nascidos trouxas - Regulus fez uma careta, mas o Potter ignorou. - Sobre o Snape e o lorde das trevas também.

O Black precisou de muita força para não arregalar os olhos ou parecer incomodado quando resmungou:

- Não sei do que está falando.

- Não se faça de burro porque esse papel não lhe cabe, é uma das pessoas mais inteligentes que conheci na vida - o mais baixo apenas levantou uma sobrancelha, escondendo bem como, assim como o irmão, gostava de ter o ego massageado e havia ficado lisonjeado.

Ou melhor, ele escondia bem de qualquer pessoa que não fosse justamente James Potter, que já estava se tornando mestre em ler os Black.

- Eu vou ser rápido: não me importo com o que façam ou falem do ranhoso, aquele insuportável falso. Não me importo com como vocês cobras agem pelas costas uns dos outros e não me importo de ficar quieto sobre o que ouvi. Sobre o recrutamento e a merca negra...

"Como ele ouviu?" pensava Reggie muito transtornado. Afinal, por mais que tivessem falado em céu aberto sobre os avanços da guerra e a possibilidade de que teriam de jurar ao lorde das trevas logo, eles tinham colocado muitos feitiços sonoros e havia uma visão clara de tudo em volta, exatamente para reparar se qualquer pessoa (ou cachorro) não se aproximaria.

Como James teria...

- Mas eu me importo com você, Regulus - continuou se aproximando, o mais novo deu uma passo a trás se afastando. - Me importo muito e nunca vou aceitar que algo aconteça com você!

Regulus riu:

- De que merda está falando, Potter?

- Você pode fugir! Você é um Sonserino, um dos príncipes deles ou sei lá. Você tem autopreservação. Então porque merda vai se enfiar numa guerra?!

- Escute aqui, Potter, você...

- Não, escute você! Eu estou me fodendo para aquele seu pai babaca, que ousou jurar sua casa, ele tem que aguentar as consequências por seus atos, mas sozinho! Saí de lá! - irritou-se e dessa vez foi inevitável para Regulus arregalar os olhos em choque total.

- Como você... Você sabe das juras?

- Eu não sou burro, ta? Seu irmão pode não ter percebido, ou percebeu e teve coragem o bastante para mandar todos a merda e lutar por si mesmo, mas o que importa é que eu sei a enrascada que seu pai te colocou e estou dizendo para fugir dela enquanto é tempo!

- Eu não...

- Você não pode achar que vou mesmo engolir que toda essa sua máscara de Black é verdadeira! Você não é assim! Você não acredita em tudo cegamente! Você é esperto o bastante para fingir ser exatamente o que seus pais querem diante eles, então fingir para os sonserinos que é um deles sem tirar nem pôr, até mesmo fingir para si mesmo que pode conviver com isso tudo, com seu pai tendo escolhido seu destino desde de antes de você sequer existir, um destino onde um maluco o arrastará para uma guerra, como se você fosse um maldito servo de tudo e todos. Você pode até apoiar o que Voldemort fala...

- Não diga o nome! - ralhou baixinho.

- Mas não apoia tudo! - continuou James, ignorando a interrupção. - Você questiona, Regulus. Você tem vontades, personalidade e é alguém crítico. Não deveria se ver forçado a abaixar a cabeça para qualquer pessoa! Para ninguém! Muito menos porque seu pai fez isso antes e te empurrou ralo a baixo como se fosse propriedade dele! Vai embora de lá!

- Você não entende...

- Como não? O que eu não entendo? Seu pai vai morrer porque você e Sirius, seus dois herdeiros, traíram a jura para o lorde das trevas?

- Eu nunca abandonaria m...

- Uma pergunta Regulus: como vai seu pai?

- O que?

- Como vai seu pai? Sirius saiu da sua casa a semanas. Você notou alguma diferença nele?

- Eu... - Regulus pensou sobre aquilo, mas não tinha como responder, desde que Sirius o abandonou... ele viu muito pouco Orion Black.

Sem contar que Walburga estava furiosíssima, então não podia perguntar diretamente a ela.

A única coisa que sabia era que Orion ainda estava bem o bastante no que dizia respeito ao fôlego. Tinha gritado de uma das salas de estar, aquela onde ficava a árvore da família nas paredes ainda nas férias:

"PARE DE QUEIMAR ESSA PINTURA! ISSO NÃO VAI MUDAR NADA! DESERDÁ-LOS NÃO IMPORTA!"

"CLARO QUE IMPORTA! ESTAMOS TIRANDO-OS DA MAGIA! NÃO PODEMOS DEIXAR AQUELES EGOISTAS TE MATAREM!" gritou Walburga de volta.

"CALE A BOCA SUA INSUPORTÁVEL! QUER QUE REGULUS TE ESCUTE?! VOCÊ É DEMENTE OU O QUE? O LORDE AINDA...!"

E dali em diante ele realmente não ouviu nada. O pai levantou barreiras sonoras.

- Se você sabe como funciona, porque tirou meu irmão de casa?! - questionou furioso para o grifinório. - Você sabia que podia matar minha família e mesmo assim deixou aquele estúpido egoísta sair?!

- Egoísta?! Seu pai foi o egoísta! Ele era o lorde da casa! Ele tinha que presar pela segurança de vocês e agora estão presos a um maluco que pode destruir a sociedade mágica!

- A sociedade mágica já está destruída! Ele fará uma nova com...

- PARA O INFERNO REGULUS! - urrou.

Tão alto que Regulus recuou e se encolheu.

James se sentiu péssimo. Levou ambas as mãos para cobrir a boca. Sua expressão de olhos muito abertos também demonstrava isso e o Black ficou furioso.

Pena.

Ele não queria a pena de James Potter!

O maldito Potter!

Tinha notado o medo do Black por gritos. Tinha percebido uma fraqueza. Uma que simplesmente não era bom em esconder, por mais que tentasse, por mais que não fosse sua mãe, Reggie tinha recuado para um grito.

- Vai se fuder, Potter - sussurrou, mas foi ouvido.

- Desculpe... Desculpe, Regulus, eu sinto muitíssimo, eu não...

- Cala a boca e sai de perto de mim! - ordenou de volta, mas seu grito não chegava aos pés dos que estava acostumado e isso o frustrou.

O problema é que ele não gostava de gritos.

Nem de ser quem grita.

Talvez fosse pior até que Sirius nisso.

Por isso levantou a vassoura a acertou o Potter no braço.

- Regulus, eu só... - tentou, enquanto desviava de um segundo golpe.

- Me deixa em paz! - implorou, segurando a vassoura com tanta força que James a viu tremer no próximo golpe.

- Paz? E você tem isso lá?

- Eu tinha! Eu tinha antes de você! Você... você acabou com tudo! Meu irmão, minha...

- Eu? Acha mesmo que eu sou o culpado disso? Aponte o dedo para os vilões certos, Regulus.

- Vai se fuder, Potter! Está querendo pagar de herói para cima de mim? Pode ir lá ajudar seus sangues ruins nojentos que vai ganhar mais! - reclamou desistindo de acertar o outro, uma vez que podia prejudicar sua vassoura antes do jogo. - Eu não preciso de um maldito grifinório para ser meu herói!

- Não precisa mesmo. Eu sei que você é perfeitamente capaz de ser o herói da própria história - disse cruzando os braços e mantendo os olhos castanhos diretamente focados nos olhos azuis de Regulus.

O mais novo se sentiu desconcertado com aquele olhar. A intensidade nele.

Odiava James Fleamont Potter e tudo que ele representava. Como estava sempre lá nos piores momentos! Representava quando Sirius deixou de ser... seu irmão mais velho de sempre (que o protegia e amava acima de tudo), para se tornar aquele grifinório que gritava de volta para os pais até ser torturado e que, durante a tortura, os encarava com nojo, mas em silencio.

O Potter representava a distância, os problemas aumentando e então...

Sirius indo embora.

Deixando-o sozinho.

Ele odiava James Potter e odiava como o Potter parecia nunca o deixar em paz!

Como sempre procurava chances para encontra-lo sozinho (mesmo que Sonserinos sempre andassem juntos, parecia que ele dava um maldito jeito! Como se o achasse com um mapa mágico ou sei lá!).

Odiava como sempre lhe perguntava se estava bem, se precisava de algo, como sempre o tratava como alguém que precisava de proteção, como lhe sorria sempre que passava no corredor e dava bom dia.

Como sempre o desconcertava com elogios, e como, mesmo acertando um soco na cara de qualquer um que ousasse dizer qualquer maldade sobre nascidos trouxas, mestiços ou "traidores de sangue"... James nunca nem piscava quando era Regulus.

Ele tratava Regulus como uma criança fraca! Isso é tão frustrante!

Como se soubesse exatamente o papel que o Black mais novo estava interpretando e não conseguisse ser convencido nem por um segundo e, pelo contrário, o quisesse resgatar.

Mas ele não estava pedindo por resgate!

Regulus queria orgulhar os pais, ser o filho que eles precisavam e ia ser.

Mesmo assim... era só ver James Potter que ele começava a duvidar de si mesmo e de tudo que pensava. Se acreditava mesmo naquelas coisas ou se era apenas influência, se era sua mente se adaptando a realidade que tinha para sobreviver.

Não tinha nem certeza mais de quem era como pessoa e de verdade.

Sentia-se como... um desenho, ou uma pintura, algo que fez observando um ambiente, mas apenas um reflexo do que achava que poderia ser melhor absorver ou dispensar para ser bonito àqueles que veem. Agradar os críticos. Havia algo real ali? Algo que fosse Regulus e apenas ele?

Nunca tinha esses pensamentos em outras situações, não o suficiente para se tornarem frases completas e se desenvolverem, mas era só olhar para Potter e então... ruía.

É como se tivesse recebido uma ordem que nunca recebera antes, uma que ninguém que tinha poder sob Regulus já deu, mas tudo nele vibrava para obedecer:

- Regulus, por favor, pense sobre isso, pense em si mesmo e no que quer para a sua vida! - pediu James.

- Me deixa... - pediu.

- Não posso.

- Você não é meu herói, eu não preciso da sua ajuda!

- Você não precisa, mas pode aceitá-la.

- Eu não vou ser um maldito traidor de sangue! - tentou provocar, mas como sempre, isso não afetou em nada o grifinório.

- Você pode olhar diretamente nos meus olhos e me dizer que é isso que quer sem estar mentindo?

- Como é?

- Eu estou te pedindo, olhe para mim e diga que quer ser um servo do lorde das trevas, que acredita nele e quer servi-lo. Juro que nunca mais vou incomodá-lo com isso, se o fizer, mas sem mentir.

Regulus tornou a olhar para as írises castanhas totalmente comuns de James. Não havia nada demais naquele garoto, ele só era o motivo da maioria dos problemas que o sonserino já teve e mesmo assim...

Ele tremeu e recuou.

- Eu vou procurar minha equipe. Me deixe em paz - e tentou sair.

- Um dia! - disse James o fazendo parar, mas sem olhá-lo. - Se um dia você perceber que não quer isso, eu juro Regulus, não importa o tempo, eu estarei lá e vou te ajudar, você não precisa nem pedir, não precisa ser corajoso como seu irmão e sair pela porta da frente, mas eu vou...

- SAI! - gritou e dessa vez pessoas notaram os dois.

James se viu forçado a sair, ou poderia levar uma falta por "estar incomodando o rival".

Harry sentiu uma onda de energia passar por ele quando seus olhos voltaram a enxergar o quarto de Regulus Arcturus Black. Aos poucos as pessoas vestidas de verde e vermelho sumiam e eram substituídas por móveis empoeirados em um quarto bem menor do que o espaço em que estivera antes.

Calmamente se levantou do círculo mágico que havia feito no chão e levou o retrato para seu lugar. Pensando o tempo todo se Regulus estaria com aquela expressão séria na imagem, junto com o restante do time de quadribol, exatamente pela conversa que havia tido com James mais cedo.

- Meu pai não podia te falar sobre o sangue Slytherin - sussurrou Harry, passando os dedos pela escrivaninha de forma reverente. - Meu avô sabia que estávamos sendo mortos por alguém, pode até ter descoberto que era o lorde das trevas, vários já haviam desaparecido. James não podia arriscar contar a alguém que podia mesmo ir para o outro lado, mas ele queria te salvar, então ele te procurou o máximo que pôde...

Harrison fechou os olhos e se concentrou nos sons, nos sussurros, nas vozes que falavam sem que ele pudesse entender.

Ele tinha feito rapidamente, mas os encantos que colocara no quarto deviam garantir total imobilidade do ar. Assim estava. Além de estagnado, encontrava-se muito mais frio que o normal e mesmo assim... suas roupas circundavam, esvoaçavam muito levemente, como se alguém o tivesse acabado de tocar.

Os sussurros continuavam, conforme ele sentia uma espécie de véu lhe tocar a pele.

Ele moveu o corpo, como se para atravessar o véu, mas se manteve suficientemente consciente do mundo a sua volta, para não ir longe demais, assim como nos livros necromantes Mitrica e em alguns Peverell que teve contato.

Assim como Gellert também o ensinou.

Para se ver o que queria, era preciso concentração, olhar o mundo por um caminho que os mortais não deveriam alcançar, ser capaz de distinguir os diversos aspectos do passado, presente e futuro, então apagar tudo que sua mente era incapaz de compreender, aceitar ser guiado pelas forças do destino e do tempo, mas se manter preso a Terra e focado no que podia ser visto. Ir até o fim. Então voltar, na hora certa.

"Dezesseis anos..." os sussurros disseram, um ou outro no meio da multidão, mas Harrison o capitou.

"Regulus se reuniu ao Lorde das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz de servir...".

- Como o lorde o matou? - perguntou às vozes e sentiu os sussurros mudando, como se andassem por dentro do véu. Sem mover o corpo, apenas a mente, ele seguiu por onde lhe indicavam.

Quando sentiu sua magia reagir, abriu os olhos.

De repente o quarto estava limpo, Regulus estava de pé e falava com um elfo, que Harry assumiu ser Monstro, o elfo-doméstico dos Black. O garoto não parecia muito mais velho do que na última visão, talvez estivesse com uns dezessete ou dezoito anos?

Havia a marca negra em seu braço.

- O Lorde das Trevas precisa de um elfo, Monstro - disse Regulus. - Eu o ofereci.

- A Monstro? - perguntou a criaturinha.

Harry sentiu uma dor de cabeça profunda e tudo voltou a parecer como no presente, só que sem vida, escuro, visto pelo véu.

- Por que ele precisava de um elfo? - ele questionou em voz alta, apenas porque o ajudava a caminhar pelas visões.

Grindelwalds podiam ver o futuro.

Harrisson era Grindelwald, mas ele não via tão bem o futuro. Seu dom sempre foi mais forte ao ver o passado.

Quando era pequeno, achava que ver os pais pela mansão Mitrica eram apenas lembranças reprimidas, mas com o tempo... ficou claro que era mais que isso.

Ainda mais quando começou a ver coisas das quais não estava presente.

Ou pessoas mortas muito antes dos pais sequer terem nascido. Muito mais que ver as almas, aprendeu que podia ver reflexos do que elas deixaram no mundo. Como se sua essência fosse tão forte que ficava presa às paredes e podiam ser acessadas.

Harry tentou forçar mais, tentou ver mais, mas não conseguiu.

Sentiu um peso forte no corpo e então caiu quando decidiu ir para longe do véu.

Bem no centro do círculo, sentado com as pernas cruzadas e dormentes como se nunca tivesse saído de lá.

- Cadê aquele elfo? - se perguntou levantando e correndo para o corredor e escada a baixo.

Pegou todos conversando no térreo naquele ponto.


Capítulo 30 - Aqueles que conhecemos e os que nos afeiçoamos


"Sirius sentia-se estranho, porém, de um jeito ou de outro, igualmente pronto para o desafio,

Remus não estava muito diferente, mas (ainda mais importante) parecia enfim estar sendo sincero consigo mesmo".


Snape esfregou os olhos quando viu Sirius Black.

Era uma reação exagerada? Talvez, apenas vindo do atual chefe da casa Sonserina, mas considerando que Hagrid tropeçou e engasgou, além de que Severo jurava que ouviu algumas alunas darem gritinhos e que os grifinórios estavam se empurrando para terem uma visão melhor, então sim, sua discreta ação de levar o dedo médio e o polegar para ambos os olhos, pareceu suficientemente adequada. Apenas um descontentamento ou realmente um cisco.

- Sirius! - arfou Rúbeo do corredor onde o animago acabara de entrar.

Os portais de pedra abertos nas paredes davam acesso e visão para os gramados, de onde mais alunos apareciam curiosos, mas não se aproximavam muito, provavelmente por verem a carranca de Severo Snape logo ali.

- Que roupas são essas?! - continuou o meio-gigante para o colega recém chegado.

"Direto como sempre" pensou Severo.

Mas o herdeiro Prince não o julgava tanto naquele momento. Black realmente estava quase irreconhecível andando pelos corredores de Hogwarts. Os cabelos negros já seriam um choque, pois estavam cortados, permitindo uma visão bem mais clara de seu rosto. Não havia mais aqueles longos cachos para te distrair, toda a atenção corria por traços bem desenhados e pelos marcantes olhos azuis. Então haviam as roupas. Roupas de bruxo clássicas que claramente tinham sido feitas sob medida e que ressaltavam cada ponto forte do homem.

O que, por si só, comprovava que Sirius Orion Black estava repleto de pontos fortes.

Severo quase, quase, se pegou achando o outro homem bonito, mas o pensamento sumiu quando seus olhos se encontraram e a expressão neutra de Black foi substituída por um sorriso de dentes brancos perfeitamente alinhados.

Um sorriso que irritada até o fundo do âmago de Severo.

Quando Sirius respondeu à Hagrid, sua voz saiu com uma pompa que ninguém estava acostumado vindo dele, apesar da postura relaxada característica:

- Fui fazer uma breve visita ao banco.

- E você se arruma para ir ao banco?

- Ele se arruma em algum momento? - questionou Severo em voz baixa, mas suficientemente alto para Sirius e alguns alunos em volta ouvirem.

Os adolescentes de verde deram risadinhas.

- Eu não preciso, Severo - comentou Sirius, bem mais alto que o outro. - Diferente de alguns que tem uma napa capaz de diminuir o oxigênio do mundo e bem no meio da cara, eu sou lindo sem esforço.

Snape soube que tinha algo de errado consigo quando quase riu junto dos grifinórios que ouviram aquilo.

Pior foi perceber que teve que se segurar para não retribuir o sorriso que Sirius lhe dava com a provocação.

- Vocês dois... - murmurou Hagrid parecendo preparado para separá-los numa possível briga.

- Black, nem com todo o esforço e dinheiro do mundo você seria minimamente tragável. Uma roupa nova não vai mudar o fato de que a única coisa considerável em você é sua estupidez e ego infundado.

- Na próxima vez que for falar uma frase tão grande, avisa, eu fiquei sem ar por muito tempo e não tinha inspirado antes. Quase desmaiei.

- O meu nariz, de novo? Não é capaz nem de pensar em algo mais criativo? O pouco que você tinha de cérebro estava no cabelo?

Alguns Sonserinos deram risinhos maldoso.

"Provavelmente" murmurou um deles, aumentando o nível de deboche nas risadas.

- Eu poderia pensar em algo - respondeu Sirius. - Mas estou distraído demais calculando como vou desviar do jato quando uma das espinhas, nessa sua cara sebosa, estourar na minha direção.

"Nossa!" arfaram alguns alunos da Grifinória, acompanhados de "Isso aí, professor Black!" de um mais corajoso.

- Menos dez pontos para a Grifinória, senhor Jordan - disse Snape se virando para o grupo de onde sairá o comentário.

- Então eu retiro dez do senhor Bletchley pelo "provavelmente" de antes - retrucou Sirius apontando para o Sonserino.

Severo revirou os olhos:

- Miles Bletchley estava falando com seus colegas, nem estava prestando atenção em nós dois.

- Com certeza e eu nasci ontem, seu falso baba ovo de cobra...

- A mente de um recém nascido está garantida, então porque não...

- Vocês dois! - chamou Rúbeo muito preocupado. - Não podem... no meio do corredor! - sussurrou indicando os alunos que os observavam.

- Não se preocupe, Hagrid, estamos apenas tendo uma provocação amigável entre colegas - disse Snape e Sirius riu.

Porque era verdade e isso era irreal.

Tão irreal que o meio gigante realmente bufou, revirou os olhos e cruzou os braços ao dizer:

- E eu sou pequeno.

Sirius não aguentou aquilo. A risada tornou-se gargalhada, ao ponto de se curvar com as mãos na barriga para aguentar as contrações do abdômen.

- Vamos para a reunião, sim? - sugeriu Rúbeo, já avançando para Sirius, que era mais simpático a si, e praticamente o empurrando na direção das escadas. - Dumbledore já deve estar nos esperando...

Sirius olhou Severo por cima do ombro após um tempo e sorriu, sentindo-se satisfeito quando a expressão fria do outro colega não lhe pareceu tão fria quanto o normal.

Pelo contrário, os olhos pareciam estar sorrindo.

Bem no fundo, ele soube que Snape também tinha se divertido. Não foi ele que estranhava o Black quieto e sem revidar?

Com aquela sensação leve foi que ele entrou na reunião e tomou seu lugar (forçadamente por Hagrid, no canto mais afastado da mesa possível de Snape).

O que lhe garantiu outro pequeno acesso de risos.

- Uma boa noite a todos - cumprimentou Alvos assim que entrou. - Espero que tenham pensado com mais calma sobre o assunto de antes, para que possamos... - e parou de falar.

Todos perceberam o motivo.

Ele estava encarando Sirius.

- Alvos? - perguntou o Black.

- Sirius, meu garoto. Desculpe - sorriu. - Nunca o vi com roupas assim e de cabelo cortado? Algum motivo especial, ou estou sendo intrometido? - brincou, a voz quase saltitante.

- Motivo especial? O senhor também teve um, Alvos? Suas vestes estão brilhando... - comentou ao se lembrar que, concidentemente, Mitrica recebeu uma carta informando sobre uma visita de Dumbledore a Nurmengard.

Mas ele não teria se arrumado apenas para algo assim... Teria?

Não... era absurdo demais.

- Tive que resolver alguns assuntos - respondeu Alvos como se comentasse o clima.

- Bem... eu também. Fui ao banco.

- O vira-lata ficou com medo de ser barrado na entrada pelos Goblins... - murmurou Snape.

Sirius inspirou fundo para não cair na gargalhada uma terceira vez, mas seu gesto foi interpretado incorretamente pelos colegas (aparentemente, pelas reações preocupadas e nervosas). Eles devem ter pensado que Black estava contendo sua raiva. Alvos igualmente, já que logo murmurou com aquele tom de avô:

- Meu caros... vamos tentar manter a compostura nessa noite, sim?

Tanto Sirius quanto Snape se olharam da mesma forma naquele momento e foi como se soubessem que pensaram igual:

"Compostura? Ele?"

Severo, obviamente, foi melhor em segurar a reação àquilo e apenas cruzou as mãos, mantendo os cotovelos na mesa segurando sua boca e fechando os olhos. Como se aceitasse ficar em silencio irreverente a tudo.

Sirius teve seu novo ataque de risos.

- Desculpem - murmurou quando todos o encararam como se fosse louco. - É que estou de bom humor, então estou rindo pelos ventos. Não se incomodem com isso.

- Bom humor? - Perguntou Alastor Moody e, pela forma como as palavras saíram por sua boca, todos perceberam que o seu humor estava pior que o normal. O que era alguma coisa vindo daquele homem. - Depois de ir ao banco? Que merda fez lá, Black? Não conheço ninguém que saia radiante daquele lugar.

- A menos que seja rico - comentou a professora Hooch retirando risinhos de alguns de seus colegas.

- A não, eu já vi muitos lordes saindo com caras de nojo e descontentamento tão grandes quanto qualquer um daquele lugar. É um banco - resmungou Moody, mas dessa vez parecia mais acolhedor a conversa.

- Decididamente nossos amigos Goblins criam um ambiente... interessante lá - comentou Alvos retirando mais risadas pelo tom de voz sugestivo que usou.

Sirius pensou na forma como fora tratado, nos Goblins chamando guardas para leva-los a uma sala de espera chique cheia de comida, livros, armas e poltronas confortáveis.

Lembrou também em todo o resto do seu dia.

Ele estava de bom humor ou tinha acontecido tanta coisa que já tinha ficado entorpecido?

- Bom, até onde sei, mesmo que ainda saia desanimado de um lugar como aquele, ser rico deve ajudar - comentou a professora de estudo dos trouxas, Caridade Burbage. - O que nos diz do outro lado Black?

- Com certeza ter pedigree ajuda - comentou e mais uma onda de risinhos o acompanhou.

Dessa vez um risinho teve que fugir de Severo, disfarçado por uma tosse, mas que foi captado por Sirius, afinal usou aquela palavra apenas pelo "vira-lata" de antes.

- Mas então decidiu mesmo dar uma repaginada no visual só para agradar aos Goblins, Black? - cuspiu Moody.

- Isso e para pedir Remus em cortejo.

Aquilo teve exatamente a reação que queria. A maioria arregalou os olhos, algumas das mulheres arfaram e Minerva realmente bateu palmas, mas Pomona foi a que teve a reação melhor, pois saltou de sua cadeira e correu até Sirius falando:

- Sirius! E Remus, o que disse? É claro que ele aceitou, você não estaria de bom humor se fosse diferente! A! - e se jogou nos seus braços o apertando num confortável abraço: - Deixe-me abraça-lo, isso é uma notícia boa demais!

O animago realmente ficou feliz com a reação da Lufana, por isso se levantou para aceitar melhor o gesto.

- Uma corte? - perguntou Alvos. - Uma corte bruxa formal, Sirius?

A professora de herbologia deu um gritinho e pulinhos no seu lugar ao dizer:

- Seu brinco! Vai me dizer que esse é...

- O presente de corte que dei a Remus? Sim. Ele tem um igual, mas na orelha... - ele não terminou, a lufana já havia pulado em seus ombros com gritinhos animados.

- É tão lindo!

E também um acessório mágico que Mitrica entupiu de enfermarias que impediam leitura de mente assim como um anel de lorde faria, mas essa parte não era tão relevante. Estivera no contrato que Sirius e Remus assinaram na quarta-feira para conversar com Harrison.

- Obrigada.

- Eu concordo com Pomona - comentou Flitwick. - É um acessório deslumbrante. Felicidades a vocês dois.

Sirius ficou satisfeito em constatar que nenhum dos seus colegas pareceu negativo a ideia de dois bruxos homens se unindo.

Bathsheda Babbling, professora de Runas Antigas, não parecia necessariamente feliz como outros dos colegas, mas não devia estar mais do que neutra e a professora de Aritimancia, Septima Vector, o encarava estranho, mas não tinha certeza dos seus motivos. Ele não conversava muito com nenhuma das duas.

Ou talvez, por serem ambas bruxas "sangue-puro" mais tradicionais a união não fosse necessariamente o que incentivariam, mas como não afetava suas vidas, não demonstraram nada realmente além disso.

- Sirius, parabéns pelo arranjo - disse Dumbledore por entre os colegas. - Mas... se me permite perguntar, porque uma corte?

- Como?

- Quer dizer, você e Remus não são do tipo tradicionais. Achei curioso que chame de corte... não um simples namoro.

Sirius conseguiu não sorrir quando percebeu que, talvez (só talvez), ele não fosse tão ruim na arte de manipular uma conversa. Só precisava chegar onde queria agora sem que parecesse suspeito e estava suficientemente próximo. Dois ou três passos e estaria feito.

Então poderia ser útil e ajudar Harrison nos seus planos.

Sejam lá quais fossem.

- Porque não é mesmo um namoro comum - explicou Sirius calmamente. - É uma corte bruxa formal e oficial.

- Sirius, meu garoto... - começou cauteloso o mais velho. - Você sabe que...

- Eu pretendo pedir Remus em casamento ao fim, se está pensando que não sei dessa parte.

- Eu quero um convite! - disse logo Sprount e o animago sorriu para a colega.

- Pode ter certeza que receberá um.

- Espero o mesmo para mim - comentou Minerva radiante pelos seus dois alunos que haviam crescido tanto.

- Darei um a todos, se Remus aceitar ser meu consorte. Podem ter certeza.

- Consorte?

- Claro que nosso casamento, assim como a corte, será uma celebração tradicional bruxa.

Antes que Alvos ou qualquer outro pudesse se pronunciar sobre aquilo, Septima Vector se apressou em falar:

- Desculpe, mas eu venho reparando no brinco e nas runas nele. Sei que é indelicado, mas me permitiria ver um instante de perto?

- Claro, sem problemas - e retirou o objeto dando a colega, que pegou com muito cuidado.

Tanto que Sirius decidiu que a reação da mulher antes realmente não era negativa a união.

- Senhor Black... - comentou a mulher, assim que ele retirou sua mão. - Eu deveria começar a chama-lo de Lorde Black, então? Também reparei no anel...

"Sonserinos..." pensou impressionado e cauteloso. Ela realmente pediu para ver o brinco apenas para ter uma desculpa para o lorde aproximar sua mão do seu campo de visão?

Para confirmar uma suspeita?

Aquilo era o tipo de coisa que Harrison faria... e o garoto era o lorde Slytherin agora.

Para o bem ou para o mal.

O Black decidiu que tomaria cuidado com a professora de Aritmancia. Tinha um nível de astúcia que Walburga o ensinou a tratar com a devida cautela.

- Ainda não estou acostumado com Lorde Black, então não se sinta obrigada. Sou bem indiferente a isso, na verdade.

- Lorde?! - arfaram alguns, bem surpresos.

Entre eles Alvos Dumbledore.

- Você assumiu o título de lorde Black?! - ralhou Severo e sua expressão parecia totalmente de descontentamento e...

Medo?

"Por isso Dumbledore não queria que você fosse lorde, nem incentivou a coisa. Você estaria totalmente condenado a se curvar aos Slytherin, seria muito pior que simplesmente como herdeiro".

Claro... Snape foi um comensal. Espião ou não. Ele devia saber o que aconteceria. Sirius, para todos os efeitos, devia estar jurado agora.

Bem... Isso lhe deu uma ideia. Falaria depois com o morcego, em particular.

- Sim. Assumi - respondeu quase indiferente, olhando bem discretamente para o quadro de Phineas Nigellus Black, decorando bem sua localização na parede para depois.

- Meu garoto... - murmurou Dumbledore. - Isso é... Surpreendente! - e ele realmente parecia surpreso. - Não pensei que desejasse assumir o título...

Todos, no mínimo, se surpreenderam quando ouviram uma voz intensa rindo do alto:

- Sempre foi o título dele. Meus parabéns, lorde Black, enfim conseguiu, não é?

Sirius se virou para o chapéu seletor, estacionado em uma prateleira, as dobras do tecido formando aquela boca mágica única. Nunca vira o objeto falando sozinho, nem sabia que o fazia.

- O-obrigada... - murmurou incerto.

- Eu disse que não precisava da Sonserina para tomar o que queria.

E o animago sorriu, todos os dentes aparecendo quando respondeu, ignorando as expressões confusas dos colegas:

- Você tinha razão. Obrigada por isso.

- Eu sempre tenho razão. De nada.

- Agora você foi arrogante.

- Eu ainda fui enfeitiçado por Salazar, tanto quanto pelos outros, não é?

O animago riu e concordou.

- O que é um casamento tradicional bruxo? - perguntou Hagrid confuso.

- Eles vão ligar suas almas por magia, pedirão a benção da própria Lady Magic e da deidade que quiser presenciar a união e criarão uma amarra mágica que os tornará um conjunto - explicou a professora de Astronomia (Aurora Sinistra). - Lorde Black, se me permite a pergunta... não é arriscado uma união dessas com um lobisomem? Ele já não possui o núcleo mágico dividido e um tanto instável?

- Sim, Aurora. Bem colocado - concordou Alvos. - Sirius, talvez você e Remus devessem pensar com mais calam sobre isso...

- Não se preocupe, Alvos, nós vamos. Temos muito tempo para isso, pretendo ter uma corte longa para paparicar Remus ao máximo, com uma desculpa plausível. Talvez assim, enfim, aceite meus presentes - e revirou os olhos.

As mulheres deram risinhos e começaram a conversar entre si, comentar com o Black como ele estava fazendo muito bem e que queriam um pretendente que também as presenteasse.

Moody, entretanto, acabou com a brincadeira ralhando sobre tempo perdido e casais açucarados demais para seu colesterol.

Bartô estava ainda muito dolorido e foi para a reunião apenas porque seu senhor queria o diadema de qualquer forma. Se essa reunião demorasse muito, quem sofreria seria ele! Talvez nem a notícia que Black agora poderia estar em suas mãos o ajudasse...

Sirius se voltou para Dumbledore sorridente neste momento:

- Alvos, como lorde, também terei de passar a participar das próximas reuniões da câmara dos lordes e da Suprema Corte dos Bruxos, espero que possa me ajudar a me localizar no meio político de novo, assim como vem me ajudando com o restante, se não for pedir demais... Eu sempre confiei no seu posicionamento político, acho que trabalhar com você me ajudará muito no que quero daqui para frente...

Alvos ainda parecia bem chocado com a ideia de que Sirius se tornara lorde...

Ele estava.

E preocupado.

O garoto pode ter se metido em uma enrascada gigantesca da qual Alvos não teria como tirá-lo e então... O que fazer para ajudar? Talvez pudesse usar o garoto Potter, já vinha suspeitando da linhagem deles a alguns anos, poderia ainda testar sua teoria sem precisar arriscar a vida de Harry colocando-o como herdeiro Slytherin e aumentando a dedicação de Voldemort em persegui-lo...

Mas... Sirius Black interessado em política? Isso era estranho... Mesmo assim ele foi sincero. Mesmo com o anel de Lorde, Alvos era bom em ler as pessoas, ele saberia se o homem tivesse mentido.

Coçou a garganta e acenou com a cabeça:

- Claro, meu garoto. Será um prazer.

O novo lorde sorriu satisfeito. Remus tinha razão, foi fácil manipular a verdade naquela frase.

Alvos agora poderia lhe dar informações do lado da luz.

E ele passaria para Mitrica e Harrison. Mais um item da lista riscado.

Até que não estava se saindo tão ruim quanto pensou que seria...

O tempo todo que divagava, o rosto do Black continuou sorrindo e sem demonstrar nada de seus pensamentos. Uma arte quase natural de máscara, que lhe foi ensinado desde a infância e que, mesmo com os anos sem usá-la, ainda estava lá em perfeito estado. Como um dom natural Black.

- Agora, sinto que Alastor tem razão e que tomei muito a atenção de vocês, vamos a reunião? - questionou.

- Seu brinco, lorde Black - chamou Vector e Sirius se aproximou para pegar o objeto das mãos delicadas da bruxa mais velha. - Um artefato muito interessante mesmo, runas raras essas. E poderosas - comentou.

- Eu achei que seriam apropriadas para o título Black. Ainda mais com o novo emprego de Remus. Achei que seria bom mantê-lo protegido quando estivesse tão longe.

- Novo emprego? - perguntou Minerva. - Ele que conseguiu um, que boa notícia.

- Bem... ainda não é nada certo. Ele está fazendo uma entrevista, mas se tudo der certo, voltará a dar aulas. Não aqui na Grã-Bretanha, o que é uma pena. Precisarei de autorização para fazer viagens internacionais para manter a corte e, por nossos trabalhos, só será possível aos fins de semana, mas estou feliz por ele mesmo com essa distância pouco oportuna.

- Eu vejo. Professor, isso é ótimo. Ele foi fenomenal ano passado.

- Sem dúvidas - concordou Alvos. - Fico muito feliz que esteja conseguindo uma oportunidade em outro instituto.

- E onde ele está tentando dar aulas? - perguntou Flitwick.

- Durmstrang.

E conseguiu não sorrir com as reações dos outros àquilo.

"Diga a eles sobre meu novo emprego" aconselhou Lupin, quando estavam se despedindo na saída da mansão Black. "Dumbledore não vai suspeitar de você defendendo as artes das trevas na reunião se achar que é por minha causa. Ele sabe o quão longe você iria por quem ama. Se contar ainda que estamos em cortejo... Ele não vai te ver chegando. Vai assumir que é tudo por amor"

"Mas é amor" respondeu Sirius com a mão na maçaneta.

Remus sorriu negando levemente com a cabeça, então o puxou e o beijou. Um beijo intenso e cheio de carinho, antes de dizer:

"Amor à Harrison, ele não precisa saber desse detalhe".

"Eu não sei se consigo fazer tudo..." comentou incerto.

Talvez fosse a casa. Ele se sentia tão inútil naquele lugar e não tinha mais Harrison gritando com sua mãe para diminuir os sussurros de memórias ruins.

"Você consegue" afirmou Remus cheio de convicção "Aquele menino está brigando com um lorde das trevas, nós temos que ajuda-lo como pudermos. Se ele pode enfrentar uma ameaça dessas, nós podemos conseguir as armas que forem úteis para ele".

"Eu não sou bom como espião, Moony..."

"Eu também não me achava, mas fiz a coisa na guerra com os lobisomens"

Sirius fez uma careta irritada. Detestava pensar naquela época.

Remus ficou tão frio e distante que começou a suspeitar dele, de que estivesse começando a apoiar o outro lado...

Realmente odiava muito pensar em si mesmo naquela época. Em como estivera totalmente errado e, por isso, ferrou com tudo.

Remus deve ter notado (ele sempre notava) as inseguranças de Sirius e o abraçou:

"Vamos fazer certo dessa vez. Nunca vamos duvidar um do outro e vamos lutar por Harrisson. Protegê-lo, sempre. Não deixar que nada mais o pegue. É nosso dever. James lhe confiou e você vai honrar a promessa, eu vou te ajudar. Não importa como seja, ou o que tenhamos que fazer, ele nos terá, certo?"

"E você está disposto a trair Dumbledore por isso?"

"Eu já o traí antes não contando sobre vocês e suas formas animago".

"É diferente. Era omitir um fato. Agora você está me pedindo para conseguir manipulá-lo e enganá-lo para..."

"Tirá-lo do caminho do Harrison. Para não atrapalhar. Eu não vou fazer isso, não estou lá. Você vai. Eu te ajudo, mas você terá que fazer o trabalho pesado. Vai garantir que Alvos e sua mania de controle não tenha qualquer força contra Harrisson. Não pode ter. Eu... Eu fui usado como arma na outra guerra, sei disso, várias vezes jogado no meio de matilhas que podiam me matar, para conseguir informações pequenas mesmo depois de semanas sem dormir direito achando que alguém me atacaria a noite para ter o melhor lugar perto da fogueira. Não vamos deixar que Alvos pense em usar nosso afilhado. Não vamos permitir!"

"Não era você que confiava no julgamento do Alvos?"

"Era. Mas, agora, eu preciso confiar no julgamento de Harrison e Mitrica. A vida do nosso filhote está em risco. Eu não sei ainda o que aqueles dois estão planejando e não vamos saber tão cedo, isso é certeza, mas até lá nós podemos ser úteis e ajudar. Mostrar que podem confiar em nós, que ele é nossa prioridade, até quando estamos caminhando as cegas, se for por ele continuamos. James faria isso por nós, nós temos que retribuir...".

"Eu vou fazer meu máximo. Sempre. Por Harrison eu destruiria o mundo".

Remus o beijou mais uma vez:

"Ótimo. Então somos oficialmente traidores da ordem da fênix".

"Membros da ordem da cobra?"

"Do dragão?"

"Do raio?"

"Da testa rachada, então?"

E ambos riram percebendo como estavam, mais uma vez (e como sempre foi entre os marotos) usando o humor para mascarar a ansiedade.

"Da corte?" questionou Sirius e Remus o encarou confuso, mas algo dizia que... Agora ele tinha acertado.

Membros da corte...

-x-x-x-

Harry entrou na cozinha e viu Monstro preparando a comida.

Ele analisou muito sobre como trataria aquele assunto, mas assim que viu o estado da criatura se sentiu péssimo e antes que pudesse se controlar já estava falando:

- Monstro, eu sou Harrison Black Peverell Potter - e fez uma careta, pois mesmo ignorando nomes que preferia não ignorar a coisa ainda era grande. - Sou o futuro lorde da casa.

Monstro usava os trapos imundos em que conhecia a maioria dos elfos domésticos, e o olhar de desprezo que lançou a Harry demonstrou que sua audição devia ser péssima, afinal não escutara o que estiveram conversando no hall de entrada.

"Mas considerando que viveu sozinho por anos com Walburga Black você não pode culpa-lo" comentou Tom. "Ele também pode ter sido instruído a não dará tenção as conversas da casa que não lhe diziam respeito, para que não tivesse a chance de falar mais do que devia..."

Fazia sentido.

- Monstro sabe do mestiço sujo que o mestre mal trouxe para a linhagem dos Black - coaxou com uma voz de rã-touro, e fez uma profunda reverência, resmungando para os próprios joelhos de cabeça baixa, depois se virou para Harrison com um sorriso forçado. - Como Monstro pode servir o jovem mestre? - seguiu-se uma careta de nojo.

Harry picou surpreso. O elfo... estava achando que estivera apenas pensando a primeira frase, não é?

Elfos não conseguem dizer algo assim em alto som sobre seus mestres sem ter o impulso de se punir, por mais que os odeiem. Monstro não percebia que estava sendo desrespeitoso e aquilo era um sinal péssimo de que não era apenas seu corpo que parecia decrépito, mas sua mente também estava.

- Tenho uma pergunta a lhe fazer - continuou Harry, o coração acelerando ao olhar para o elfo -, e espero que me responda a verdade. Entendeu?

- Espero? O mestiço é um fraco. A casa Black está condenada com esses lordes ridículos e mal feitos, ele ainda tem sangue de lama nas veias, Monstro chora pelo que a casa foi condenada.

"Ordene a ele que pare" pediu Tom com uma voz sombria e irritada que tirou arrepios de Harry.

Tom nunca lhe falou daquela forma. Nunca. Era sempre gentil e calmo, mesmo quando estava irritado (afinal geralmente se irritava com alguma infantilidade de seu companheiro e ele não podia julgar a criança por agir conforme a idade, então tendia a ser paciente). Não era nada como aquilo. Harrison quase temeu aquele som vindo direto do fundo de sua mente. A Horcrux estava muito incomodada com o Elfo.

- Monstro... Você sabe de um medalhão de ouro com uma letra S bem marcada guardado nessa casa?

Houve um momento de silêncio em que Monstro se aprumou para encarar Harry. Em seguida respondeu:

- Talvez...

- Onde está o medalhão agora? - tornou o garoto exultando e sorrindo.

Monstro fechou os olhos como se não pudesse suportar ver aquelas reações à sua resposta.

- Eu não... Não recomendaria que o pequeno mestre vá atrás. É um colar velho e nem um pouco adequado para o herdeiro...

"A elfo desgraçado! Ele ousou mentir para você?!"

Harrison inspirou fundo irritado com a Horcrux.

O elfo estremeceu, talvez pensando que a reação fosse por sua causa, por isso baixou a cabeça, mas sua boca continuava a falar frases que pensava serem apenas em sua cabeça:

- O mestiço nojento, é claro, poderia usar qualquer coisa, jamais poderá se igualar aos padrões adequados, ele se veste como um Black mas não passa de filho de sangue podre que...

Harry sentiu uma pontada na cicatriz, mas ignorou. Suspirou resignado, não tinha tempo para aquela merda:

- Monstro, eu sou o futuro lorde, sou o herdeiro declarado e tenho a lealdade da casa Black comigo, ainda reforçada por sua senhora, Walburga Black, e Phineas Nigellus Black. Eu ordeno - disse ameaçador - que me responda com sinceridade e jamais diga nada além do que eu mandar ou que me for útil. Você viu o medalhão que pertencia ao lorde das trevas?

Cambaleou.

A criatura derrubou todas as coisas que flutuavam no ar para cozinhar, também a faca que estivera segurando, arregalou os olhos e começou a tremer. Tanto que Harry achou que estava tendo um colapso.

"Direto você" brincou Tom, apesar da amargura em sua voz. "Acho que quebrou ele..."

- Monstro, se acalme! - pediu se aproximando, mas o outro se afastou.

- M-monstro não... C-como o mestiço nojento filho do traidor de sangue sabe?! Monstro n-não... - e tremia.

Harrison tentou esticar o braço mais uma vez para a criatura, mas ele tornou a recuar.

"Ele tem nojo de você. Criatura estúpida..." Tom estava realmente em um ponto de raiva que preocupava Harrison. Ele sabia que o outro estava se sentindo ofendido com aquelas frases e com um simples elfo não querer ser tocado por Harry e, sinceramente, já tinha se acostumado com o fato óbvio que a Horcrux também via o menino como "sua criança" assim como Harry a via como "sua vinha".

Nada deixava Tom mais irritado que alguém desprezando sua criança. Exceto, é claro, se alguém ousasse tocá-la ou feri-la. Então sua fúria seria nauseante, se Harrison geralmente não a acompanhasse e deixasse fluir.

Revidar.

Relaxar.

Só que, naquela situação, haviam tantas coisas irônicas, hipócritas e erradas que o menino revirou os olhos e bufou.

- Monstro - e quase acrescentou um "me desculpe aqui, mas viu que com aquele elfo transtornado não funcionaria. - Ordeno que você...

- No armário da sala de visitas - disse e tentava recuperar o fôlego: seu peito cavado subia e descia rapidamente, então seus olhos se arregalaram e ele soltou um grito de congelar o sangue. - ... e o medalhão, o medalhão do meu senhor Regulus, Monstro agiu mal, Monstro desobedeceu às ordens dele!

Harry reagiu instintivamente: quando Monstro mergulhou para apanhar a faca no chão, ele se atirou sobre o elfo e achatou-o no chão.

O grito de Monstro foi alto, um retrato na parede se misturou a ele, mas Harry berrou mais alto que os dois:

- Monstro, ordeno que você fique parado!

Ele sentiu o elfo se imobilizar e soltou-o. Monstro ficou estatelado no piso frio, as lágrimas saltando dos seus olhos empapuçados. Pegou a faca e levou-a a pia enquanto recuperava o ar e fazendo um movimento com a mão todos os objetos que caíram começaram a se levantar e se arrumar pela cozinha. Um estalar de dedos fez um esfregão vir e começar a limpeza de alguns líquidos que caíram.

Aquilo pareceu chamar a atenção de monstro que olhou para Harrison de olhos totalmente arregalados e surpresos. O quadro na parede murmurou algo sobre magia sem varinha e tentou sair, mas parou quando o herdeiro disse sombriamente:

- Você ficará calado sobre o medalhão e meu interesse nele, ou o queimo.

A forma como a pintura tremeu e se curvou mostrava que foi entendido, então saiu, talvez para falar com os outros, mas o menino não ligou para isso desde que aquela parte fosse mantida em silêncio.

- Monstro, eu estou oficialmente te proibindo diretamente a realizar punições físicas a si mesmo de qualquer tipo. Eu, Harrison Black Peverell Potter ordeno que qualquer transgressão a qualquer ordem que lhe foi dada hoje, no passado ou no futuro, deverá ser relatada a mim ou a Sirius primeiro, então nós decidiremos sua punição. Punir a si mesmo será considerada transgressão de nossa vontade e você impondo seus próprios caprichos acima de seu dever para com a antiga e nobre casa Black. Entendeu?

- O jovem mestre mestiço...

- EU ORDENO QUE RESPONDA APENAS COM SIM OU NÃO! - gritou e aquilo pareceu funcionar, a criatura guinchou e concordou.

Merda...

Aquela casa só funcionava na base do grito? Quem começou com aquilo? Que coisa ridícula e indecorosa!

A Horcrux riu, mas não comentou nada.

"Você está muito brincalhão hoje, né?"

"É para combinar com seu papel palhaço".

"Eu vou quebrar o medalhão quando achar, me aguarde".

"Você não conseguiria. Você me ama tanto que não aguentou nem se desfazer da tiara. Não vive sem mim, pirralho".

"Não mesmo".

E a Horcrux não respondeu, mas Harry soube que tinha ficado feliz ao sentir a testa formigar. Harrison, em contra partida, estava frustrado. Nos sonhos, quando tinham momentos como aquele, sempre podia abraçar o companheiro, empurrá-lo quando estava sendo irritante ou, no mínimo, vê-lo junto de si e ali... ele só ouvia. Sem que percebesse, estava segurando o próprio braço e sabia que foi um impulso de tocar a Horcrux de alguma forma.

Ele sentiu outra vibração e soube que Tom pensava o mesmo.

Saudade.

A dias eles não se viam mais em sonhos. Voldemort tomava todo o tempo com pesadelos, que o tornavam uma bagunça soada. Se não fosse pelo fenômeno das Horcrux sobressalentes permitirem a doce voz de Tom na mente de Harry, eles estariam mais distantes do que nunca e aquilo era desconcertante.

Eram os dois sozinhos juntos.

Tinha que continuar assim.

- Monstro - tornou o menino a falar em voz alta. - Agora que estamos acertados sobre as punições, você está livre para se movimentar de novo, se me desobedecer, entretanto... - e deixou que sua magia carregasse sua próxima frase. - Nada que você já viu ou passou superará a dor que lhe causarei por me desobedecer.

Monstro chorou e gritou, tremendo no chão antes de se levantar muito devagar nos bracinhos que pareciam incapazes de suportar o próprio peso, apavorado com como a voz daquele garoto era...

Terrível.

Nem a risada do lorde das trevas chegava perto do pavor que sentira quando o som daquela criança adentrou seus ouvidos.

Foi terrível e ele quis fugir.

- Monstro fará o que jovem mestre ordenou... - murmurou choroso se sentando no chão.

- Ótimo.

- Você disse que o medalhão era do seu senhor Regulus. Por quê? De onde veio o medalhão? Qual era a ligação de Regulus com ele? Conte tudo que sabe sobre aquele medalhão, tudo que o ligava a Regulus.

O elfo enroscou-se como uma bola, apoiou o rosto molhado entre os joelhos e começou a se balançar para a frente e para trás. Quando falou, sua voz saiu abafada, mas bastante clara no silêncio da cozinha vazia.

- Meu senhor Sirius fugiu, ainda bem, porque ele era um garoto ruim e despedaçou o coração da minha senhora com a sua rebeldia. Mas meu senhor Regulus tinha orgulho; sabia reverenciar o nome Black e a dignidade do seu sangue puro. Durante anos ele falou do Lorde das Trevas, que ia tirar os bruxos da clandestinidade e dominar os trouxas e os nascidos trouxas... e quando fez dezesseis anos...
"Dezesseis anos..." os sussurros tinham dito no quarto...

"Regulus se reuniu ao Lorde das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz de servir...".

- Meu senhor Regulus se reuniu ao Lorde das Trevas. Tão orgulhoso, tão orgulhoso, tão feliz de servir... - continuou Monstro - E um dia, um ano depois que se alistou, meu senhor Regulus veio à cozinha ver Monstro. Meu senhor Regulus sempre gostou de Monstro. E meu senhor Regulus disse... disse...

O velho elfo balançou-se mais rápido que nunca.

- ... disse que o Lorde das Trevas precisava de um elfo.

- O Lorde das Trevas precisa de um elfo, Monstro - disse Regulus. - Eu o ofereci.

- A monstro? - perguntou o elfo.

- Por que o lorde precisava de um elfo?

Monstro gemeu mas continuou:

- Meu senhor Regulus tinha oferecido Monstro. Era uma honra, disse meu senhor Regulus, uma honra para ele e para Monstro; que tinha de fazer tudo que o Lorde das Trevas mandasse... e depois v-voltar para casa.

A visão de Harry borrou de repente, o menino começou a escutar os sussurros, mas para manter-se com Monstro entendeu apenas algumas coisas soltas:

"Uma honra para mim e para você, Monstro. Você tem de fazer tudo que o Lorde das Trevas mandar, depois volte para casa" era a voz de Regulus e Harry sentiu em sua pele o toque leve de um véu.

Monstro tremeu de uma forma que fez o menino pensar se o elfo era capaz de sentir alguma coisa parecida, mas descartou a ideia, os elfos da sua casa percebiam sim, mas nunca o suficiente, nunca tanto quanto o próprio Harrison.

O elfo decrépito balançou-se mais rápido, expirando em soluços:

- Então Monstro foi procurar o Lorde das Trevas. O Lorde das Trevas não disse a Monstro o que iam fazer, mas levou Monstro com ele para uma caverna junto ao mar.

Foi instantâneo, a visão de Harry mudou e tornou-se cinza, ele precisou andar, seu corpo pediu e ele obedeceu, caminhando calmamente pela cozinha, decorando a posição dos móveis.

- Continue - pediu.

- Para além da caverna havia outra caverna, e na caverna havia um enorme lago preto... - Os pelinhos da nuca de Harry se eriçaram. - Havia um barco...

A voz rouca de Monstro parecia chegar ao garoto vinda da outra margem da água escura que começava a enxergar no presente. Podia ver o barco como se também estivesse lá.

- Espere um momento - pediu quando sentiu sua magia vibrar.

Satisfeito com sua avaliação do que poderia atrapalhá-lo na cozinha, e focado na necessidade dela, fechou os olhos e soltou sua magia.

Monstro deu outro gritinho e se pôs de pé num salto, muito assustado e... impressionado.

Nunca vira tamanha magia antes.

Foi como ser... emergido na água. Como quando esteve na caverna. Ele até podia sentir... bem ao fundo, saindo do garoto... vinhas, plantas que se esticavam, ainda mais sombrias que o próprio herdeiro se espalhando e que pareciam prestes a puxar qualquer um para o fundo daquele oceano de magia.

Mas o maior foco estava no centro com o bruxo.

Sua magia era a mais incrível e descontrolada que Monstro já presenciara, mas o seu nível de instabilidade era causado por sua excessiva! O garoto sabia exatamente o que estava fazendo, só que ele em si era uma bagunça. Era uma tempestade.

Um furacão de raios.

Uma tormenta dentro da água e que poderia destruir tudo! Tão intensa que além de sentir, o elfo quase podia ouvir o som da magia estalando, girando, cobrindo o mundo em partes, as vinhas puxando para perto, o corpo sendo protegido por eletricidade pronta para fritá-lo se ousasse se aproximar, mas cobrindo o menino como uma armadura perfeita, sem nunca machucar a ele próprio. E trevas. Muita magia sombria no meio daquela luz incandescente.

Um bruxo da luz quebrado e que tornou sua própria luz em magia instável enquanto seu corpo se adaptava as trevas.

Um bruxo poderosíssimo apenas por estar conseguindo se manter com aqueles dois polos opostos interagindo com o corpo de forma tão intensa. Se batendo, criando os trovões e mesmo assim... perfeitamente obedientes a vontade dele e apenas a ele.

Monstro estava errado, ele disse que aquele garoto jamais poderia se igualar aos padrões adequados, mas... É claro que não, pois se igualar seria diminuir-se! Ele criaria um novo padrão muito mais elevado para qualquer casa que ousasse se sentir digna de sua presença!

A criatura se levantou apenas para que pudesse se reverenciar ao falar:

- Monstro pede desculpas ao pequeno lorde por não ter reconhecido a grandeza diante de si antes. Monstro pede perdão por sua falha e jura...

- Eu aceito suas desculpas, Monstro, mas agora eu preciso que você termine a história. Foque-se nisso e não em mim, estamos entendidos?

- Sim, meu senhor.

Harry inspirou fundo, acalmou sua magia o máximo que pôde e então deixou de ouvir os sons dos raios para...

Os sussurros.

Sentiu o ar perder seu calor e o toque suave do véu.

Então a cozinha não estava mais lá. Não totalmente. Havia uma caverna que aparecia e sumia, como flashes, um projetor que falhava vez ou outra. A água, o barquinho, minúsculo e verde espectral, enfeitiçado para transportar um bruxo e uma vítima até a ilha no meio do lago.

E o som do mar ao longe.

Um som inconfundível por se repetir tantas vezes nas memórias de Tom, um dos lugares que dizia ser especial e, por isso, gostava de levar Harry...

Eles estavam na praia deles. A praia que Tom o levara muito antes de conhecer o mar de verdade e aprender qual era o cheiro da maresia.

Aquilo revirou seu estômago, porque sempre foi um lugar quase mágico e agora...

Monstro continuava falando, sua voz sombria e cheia de agonia:

- Havia uma b-bacia cheia de poção na ilha. O Lorde das T-Trevas fez Monstro beber...

As coisas a seguir deixaram o garoto perturbado. A forma como, de repente, Tom apareceu...

Ou Voldemort, mas... naquele ponto eram a mesma pessoa, não é? Tom ainda não tinha sido separado.

Ele forçou Monstro a tomar a poção. Enquanto o pobre elfo bebia, obedecendo seu senhor de forma que era incapaz de sair, seus olhos reviravam... Monstro chorava, dizia que suas entranhas queimavam... gritava para o senhor Regulus ir salvá-lo, gritava pela sua senhora Black, mas o Lorde das Trevas... ria.

Harry chorou em silêncio, incapaz de não se sentir péssimo com aquilo.

Inferno...

Como Tom podia ser capaz daquilo?!

Como podia ser tão cruel com um ser que... era só um escravo de um mundo injusto! Como podia se achar tão superior a tudo?!

O rosto branco e serpentino de Voldemort desaparecia vez ou outra na escuridão, aqueles olhos vermelhos cruelmente fixos no elfo que se debatia e cuja morte ocorreria dentro de minutos, quando ele sucumbisse à sede desesperada que a poção causticante causava na vítima...

Monstro bebeu-a toda em suas visões enquanto o do presente contava aos prantos a experiência obviamente traumática, então Voldemort (uma versão já bem ofídica dele) pôs um medalhão na bacia vazia... tornou a encher com mais poção, então...

Simplesmente foi embora.

Deixou o pobre Monstro na ilha para morrer.

A criaturinha arrastou-se até a orla da ilha e bebeu a água do lago preto, então mãos, mãos mortas saíram da água e arrastaram Monstro para baixo...

As mesmas mãos que arrastaram Regulus na visão de mais cedo.

- Como você está vivo, Monstro?

- Meu senhor Regulus disse a Monstro para voltar.

Foi aí que entendeu.

Voldemort desprezava tanto as criaturas que não haviam proteções na caverna para impedir a sua magia específica. A lei suprema de um elfo sempre seria obedecer.

Harrison sentiu uma vibração na testa, mas Tom continuou totalmente em silêncio.

Era melhor para ele.

O adolescente estava furioso com o companheiro.

Aquilo era Tom. O que Voldemort fazia hoje podia ser separado, mas o passado não. Tom tinha feito aquela merda. Aquelas atitudes horríveis e injustificáveis. Não era guerra, era apenas crueldade!

- Por que você disse que o medalhão era do seu senhor então?

- Meu senhor Regulus ficou muito preocupado quando me encontrou e lhe contei tudo, muito preocupado - crocitou Monstro. - Meu senhor Regulus mandou Monstro ficar escondido e não sair de casa. E então... foi um pouco depois disso... meu senhor Regulus veio procurar Monstro no armário uma noite, e meu senhor Regulus estava esquisito, fora do normal, perturbado, Monstro percebeu... e ele pediu a Monstro para levá-lo até a caverna, a caverna onde Monstro tinha ido como Lorde das Trevas...

Foi o suficiente para Harry. Sentiu um puxão intenso e, quase que sem conseguir se agarrar ao presente, passou a mente para outro plano. Os sussurros eram intensos, as visões igualmente, tudo turvo e confuso até poder visualizá-los mais claramente.

O velho elfo amedrontado e o apanhador magro e moreno que tanto se parecera com Sirius...

Monstro sabia como abrir a entrada oculta para a caverna subterrânea, sabia como erguer o barquinho; desta vez foi o seu amado Regulus quem o acompanhou à ilha coma bacia de veneno...

- Ele fez você beber a poção? - perguntou Harry enojado.

Monstro, porém, sacudiu a cabeça e chorou fazendo o garoto segurar o impulso de levar a mão a boca. Ao invés disso se agarrou as próprias vestes para conter a tremedeira que lhe deu.

A última peça se formara. Regulus Black... traiu lorde Voldemort.

- M-meu senhor Regulus tirou do bolso um medalhão igual ao que o Lorde das Trevas tinha - disse Monstro, as lágrimas escorrendo pelos lados do seu nariz trombudo.

Harry estava vendo claramente isso. O jovem lorde ajoelhado nas pedras da caverna.

- E ele disse a Monstro para pegar e, quando a bacia estivesse vazia, trocar os medalhões...

Os soluços de Monstro agora saíam em grandes guinchos; Harry precisaria se concentrar para entende-lo se não fosse por estar vendo a coisa.

O Monstro do passado, na caverna se sobressaia como um espectro por cima do atual, ele chorou, guinchou e se desesperou, tentando de todas as formas pedir que seu mestre não mandasse fazer algo como aquilo, mas não adiantou. Regulus reafirmou sua ordem, Monstro deveria ir para casa e nunca contar à sua senhora o que Regulus tinha feito. Ordenou para destruir o primeiro medalhão.

Então ele bebeu...

A poção toda...

Monstro trocou os medalhões, depois ficou olhando Regulus ser arrastado para baixo d'água, assim como Harry havia visto antes no quarto, mas agora com muito mais clareza.

Ele inspirou fundo por um tempo e decidiu que bastava. Se concentrou para sair do véu e deixou que sua magia limpasse o ambiente, o afastasse daquilo tudo.

- Eu sinto muito - sussurrou para o ar.

O elfo o encarou com aqueles olhos banhados em lágrimas e Harry não soube dizer se estivera se desculpando com Monstro ou com Regulus Black.

Porque estava se sentindo péssimo agora.

- Monstro... eu sinto muito - repetiu, ainda naquela dúvida, ainda se martirizando conforme sua mente fazia as conexões e o insultava com sua insegurança.

- O colar... Você... destruiu? - Mas sabia que não, ele estava sentindo a coisa, não podia ter sido destruída.

- N-não.

"Demônio" Harry se lembrou de como já fora chamado antes e achou muito adequado, afinal, enquanto assistia o elfo se deitando no chão, fraco e incapaz de se manter firme, ofegando e tremendo, uma secreção verde brilhando em torno do nariz, seus olhos inchados e injetados transbordando lágrimas....

Harrison não sentiu mais pena... do que sentiu em alívio.

Aquilo era o maior sinal do monstro que o garoto realmente era.

Tom se segurou para não dar sinal algum de seu descontentamento ou de sua existência. Ele não ajudaria em nada agora. Hazz estava se sentindo mal exatamente por preferir a vida da Horcrux, ao que parecia certo.

- Nada que Monstro tentou fez funcionava no medalhão- lamentou-se o elfo. - Monstro tentou tudo, tudo que sabia, mas nada, nada adiantou... de tão poderosos os feitiços que estavam nele. Monstro tinha certeza que, para destruir o medalhão, precisava chegar dentro dele, mas ele não abria... Monstro se castigou, tentou outra vez, se castigou, tentou outra vez. Monstro não conseguiu obedecer à ordem, Monstro não conseguiu destruir o medalhão! E sua senhora enlouqueceu de tristeza, porque meu senhor Regulus desapareceu, porque meu senhor Orion disse que o filho tinha morrido, mas eles nunca puderam achar o corpo e nem haveriam, Monstro não pôde contar a eles o que tinha acontecido, não, porque meu senhor Regulus tinha p-proibido Monstro de contar para a f-família o que tinha acontecido na c-caverna...

Harry inspirou fundo, culpado, irritado, fraturado, se odiando, mas jogando tudo isso para o fundo da mente e dizendo:

- Eu fico feliz que não tenha conseguido destruir o medalhão, Monstro... - aquilo surpreendeu a criaturinha que estagnou seus soluços e encarou o herdeiro de olhos arregalados. - Você desobedeceu Regulus, mas não por livre vontade, você só recebeu uma ordem que estava acima de suas capacidades e, por isso, você manteve seguro e protegido uma relíquia da minha família.

- Como?

- O medalhão é uma antiga relíquia dos Slytherin, Monstro. Eu sou o Lorde Slytherin - e mostrou o anel.

Monstro se arrastou no chão para se aproximar, mas apenas um pouco da mão estendida. Quando enfim teve uma boa visão do anel...

Ele deu outro pulo e se jogou aos pés de Harrison aos prantos.

- Meu senhor, Monstro precisa ser punido, Monstro tentou...

- Calado - ordenou enquanto sentia a cabeça doer pelo que faria a seguir: - Você salvou um pertence meu, Monstro. Lhe sou muito grato por isso. Salvou das mãos do indigno do meu primo, o lorde das trevas, um mestiço filho de pai trouxa....

Monstro é um escravo; elfos domésticos estão acostumados a ser maltratados e até brutalizados; o que Voldemort fez a Monstro não foi muito diferente, não foi nada que ele não pudesse ignorar e até perdoar.

Assim como Harry perdoava os tios.

Que significam as guerras bruxas para um elfo como Monstro? Ele é leal àqueles que são bons para ele, e a sra. Black deve ter sido boa, e Regulus certamente o foi, portanto ele os servia de boa vontade e repetia as crenças deles.

Ele jamais julgaria Harry ou o que fizesse. Regulus mudou de ideia na guerra... mas, pelo visto, não explicou isso a Monstro, pelas coisas supremacistas que ainda falava e acreditava ficava claro que o herdeiro achou mais seguro para Monstro assim.

Harry poderia ter o medalhão, nem precisaria destruí-lo para agradar o elfo, a criatura o perdoaria e o respeitaria só de ser tratada bem.

Abaixaria a cabeça pelo mínimo de afeto...

Assim como Harry.

Que mesmo descordando, nunca entrava muito a fundo nas crenças políticas na frente dos Longbottom. Sempre se contendo...

Ele tremeu quando se abaixou para ficar na altura do servo e tocou sua cabeça, próximo a orelha, fazendo-o arregalar ainda mais (se é que era possível) seus olhos negros.

- Você e Regulus tiraram o que era meu por direito, eu, o último e mais puro dos herdeiros Slytherin vivo, daquela caverna e das mãos do lorde indigno que o anel reprovou. Você manteve na casa dos Black, que sempre foram leais aos Slytherin acima de tudo, meu pertence e, por sua falha, o salvou até do erro de julgamento de Regulus. Ele devia ter mandado o medalhão para Sirius, que estava com meu pai, o herdeiro Slytherin legítimo e de sangue puro.

Monstro levou suas mãos a boca e tornou a chorar.

- Monstro foi mal, Monstro precisa ser punido, Monstro chamou de mal o lorde Sirius, seu mestre! Chamou-o de traidor, mas lorde Sirius...

- O Lorde Sirius nunca deixou de ser leal a casa, mas eu não o julgo, Monstro, o lorde Sirius não agia de acordo. Não se preocupe, eu tentarei ajuda-lo para o caminho correto.

- Monstro precisa ser punido - implorou choroso, tremendo a cada toque macio de Harry em sua cabeça. Carinhoso, gentil, algo que nunca teve antes de nenhum bruxo.

Nem aquele olhar.

Parecia impossível, mas aquele bruxo o estava olhando como um igual?

- Eu não vou puni-lo pelas falhas de seus mestres. Eles não lhe explicaram a situação. Você queria o melhor para a casa Black e isso é o mais importante.

- Monstro precisa ser punido, Monstro falhou de mais com todos os seus senhores e... - sua fala morreu, pois naquele instante a coisa mais assustadora da sua vida aconteceu:

Ele foi abraçado.

Monstro e a família de Regulus estariam mais seguros se continuassem fiéis ao velho conceito do sangue puro e a Voldemort, que poderia matá-los por sucessivas traições. Regulus estava tentando proteger a todos quando não explicou nada a Monstro, mas agora... a sua cabecinha devia estar tão confusa. Harry não podia aguentar aquilo. Nunca.

Ele o abraçou e quando sentiu a criatura tentando fugir, se agarrou e usou sua magia para contê-lo. Deixou Monstro chorar, guinchar, dizer que seu mestre estava se sujando com o elfo indigno e seja lá quais coisas terríveis tinha a dizer sobre si mesmo. O adolescente ignorou tudo enquanto acariciava as costas do outro e lhe agradecia pelo bom serviço a casa Black e a casa Slytherin.

Ficou assim pelo que imaginou uma meia hora.

Ouviu leves barulhos pela casa, discretos e provavelmente causados pelos quadros, já que Sirius, Remus e Lakroff ainda demorariam a chegar (provavelmente) e, principalmente, ouviu Monstro. Sentiu como ele perdia as forças, como tremia, como parecia inconsolável, horrorizado, desolado e então... cansado.

- Você pode retribuir o abraço, eu gosto de abraços - disse em algum ponto e, muito hesitante, levando dez minutos para ter coragem, Monstro enfim abraçou de volta.

Depois de mais cinco minutos se agarrou a Harry como se fosse a única coisa que o mantinha na Terra e chorou mais.

- Parabéns, Monstro. Você me serviu bem. Muito. Jamais esquecerei da sua lealdade comigo.

- Monstro jamais será o suficiente para tamanho mestre...

- Você já é. E vai me levar até o medalhão, que enfim se encontrará com seu verdadeiro herdeiro. Então deverá descansar.

- Como é? Monstro precisa...

- Mandarei outros elfos meus cozinharem.

- Mas...

- Você cumpriu uma das mais importantes missões que eu poderia pedir, desde antes de eu nascer. Sempre que faz algo errado, você é punido, mas igualmente, quando for leal e tão bom quanto foi nesse instante, você deve ser recompensado.

Libertar aquele elfo era impossível, estava quebrado demais, velho demais, seria cruel e irresponsável como pegar um animal criado em cativeiro e soltá-lo na natureza. Ele não saberia como viver e sofreria. Não. Para Monstro a recompensa era mostrar o quanto era bom e querer seus serviços, deixar claro na sua visão de mundo distorcida que tinha sido tão bom, que Harry não queria ter a chance de perde-lo como tinha com os outros elfos, isso o tornaria radiante e arrogante, sem dúvidas.

E geraria uma Lala histérica pedindo para ser escrava do seu mestre também, mas isso ele ignoraria, porque Harry amava aquela elfa, mas tinha que admitir que era louquinha.

Monstro seria honrado por tudo que fez sendo o único com a jura antiga dos elfos, os serviços que ainda faria seriam recompensados e acolhidos como presentes. Poderia ir aos poucos tratando melhor e dando uma vida mais digna, mas jamais tiraria o pouco que tinha para se manter firme, as migalhas que conhecia e entendia do mundo.

- Eu espero que continue com os bons serviços, Monstro.

- Monstro fará seu melhor para honrar o mestre Potter Slytherin Black Peverell - disse ainda fungando.

- Mestre Harrison - corrigiu apertando mais o abraço. - Obrigada Monstro.

Continuou ali até que a criaturinha sentisse força nas pernas de novo, para levar seu mais novo, e mais incrível mestre, até a cristaleira na sala de visitas.

-x-x-x-

Remus saiu da sala ainda um tanto estranho.

Ele tinha sido instruído por Dumbledore durante a guerra, para entrar em matilhas de lobisomens e conseguir informações. Quando começou com isso ele chegava cheio de cicatrizes, muito deprimido e Sirius o recebia com todo o carinho e cuidado, mas então... as coisas mudaram.

Remus aprendeu a fingir.

Ele desligava a mente e se tornava exatamente o papel que tinha interpretado para entrar na matilha.

Ele aprendeu a ser exatamente o que precisava ou queria ser.

Aprendeu a perceber as microexpressões faciais dos lobos e como desviar a atenção para algo que queriam ouvir; a notar movimentações corporais e identificar agressividade, calma ou satisfação. Junto ao cheiro que as emoções tinham... Ele sabia ler os lobos. Eles eram bem transparentes, com certeza, e quando Remus se desligava do resto, focando apenas no seu alvo, ficava mais fácil.

Bem depois da guerra, e procurando empregos no mundo trouxa, chegou a achar em algumas bibliotecas livros sobre leitura da linguagem corporal.

Parou de aparecer após suas missões cheio de cicatrizes.

Ou de reclamar quando lhe era dado um papel muito difícil, numa matilha mais arriscada e perigosa. Ele conseguia. Sempre. Era só desligar e ir.

Mas voltava frio e distante.

Era apenas porque levava tempo para voltar a se ligar com quem era de verdade, entender como deveria agir com a ordem e seus amigos, como se ainda estivesse interpretando. Tirar a farsa, parar de analisar cada movimento das pessoas como se pudessem ataca-lo, parar de ver todos como inimigos que estava pronto para atacar de volta não era tão rápido.

Talvez, por isso, começaram a suspeitar dele.

Voltar sempre parecendo que não confiava neles podia causar a impressão de alguém que trocou de lado e não sabia disfarçar o medo de ser pego.

Não era importante, passado apenas.

No presente e em sua vida cotidiana, ignorava essa habilidade. Vivia distraído com outras coisas, tentando acalmar seu lobo, tentando pensar como as pessoas iam gostar dele, se conter e ser como os outros bruxos, mas sempre um pouco menos. Falando mais baixo, baixando a cabeça, parecer dócil, latir quando mandado, dar a pata.

Na guerra, talvez fosse a adrenalina, ele só se importava em sobreviver e passar por aquilo. Ir mais fundo, ser mais útil para Alvos e a Ordem, fazer o que fosse preciso, dar 1005 ou mais de si. Ele se sentia mais forte naquela época, apesar de tudo.

A anos não fazia algo como aquilo.

Mas naquele dia ele fez.

No instante que pisou no castelo da Durmstrang deixou de ser o Remus Lupin da Inglaterra, para se tornar o futuro consorte Black, um habilidoso professor que tinha chamado a atenção em Hogwarts, um sobrevivente de guerra confiante e um lobisomem capaz de mostrar toda sua força.

De certa forma, ele não mentiu em nada, só... se deixou levar pelo orgulho que não tinha, mas podia fingir.

Parou de ter medo de levantar a cabeça. Fez isso com orgulho. Não se curvou nem por um instante. Na Inglaterra ele era um monstro que tinha de ser contido e ali...

Ele sentiu seu lobo respirar ar fresco.

Todos pareciam, pelo menos, três vezes mais perigosos que um simples lobo. Ser ameaçador era padrão. Não se baixava a cabeça, ou seria engolido, a adrenalina da expectativa reativando seus instintos de leitura corporal. Ele sorriu, acenou e conduziu todos como pôde. Avaliando a reação de cada um a tudo que fazia.

Em uma hora ele era oficialmente um professor em treinamento do Instituto de Artes das Trevas Durmstrang.

Futuro professor de feitiços.

Fritz, o atual professor, cumprimentou Lupin ao fim da entrevista junto dos demais que estavam ali (afinal vários estavam em Hogwarts).

Katharina, a professora de Oclumência e que viajava para o Instituto para algumas das suas aulas, cumprimentou Remus falando que havia gostado bastante de Sirius, mesmo que não tivessem conversado tanto, só de ver como ele reagia melhor aos demais "preconceituosos covardes da Inglaterra" às suas aulas. Estava feliz com sua contratação e esperava que pudessem se conhecer com calma.

Todo o processo da entrevista, depois um pequeno teste de habilidade em duelos, apresentações e parabenizações foi feito sob aquela névoa, como se outra pessoa estivesse em seu corpo e pareceu quase natural fazer esse movimento.

Porque era.

Remus só sentia que era ele mesmo em seu corpo quando estava com Sirius. Mas, dessa vez, ele se viu agradavelmente satisfeito com o que ficou controlando sua casca.

Deu certo.

Ele estava na Durmstrang.

Ele tinha um emprego!

Ele nunca se julgou capaz nem de ser professor e agora...

Bom, pelo menos, a Durmstrang iria lhe dar um período de treinamento e estágio. Parando para pensar, mesmo Hogwarts não seria melhor fazer isso? Remus foi só jogado ao cargo com confiança de que faria um bom trabalho e poderia justificar isso com a ideia de que era um amaldiçoado e que ninguém queria, mas então Sirius? Trato das Criaturas mágicas, não havia nada de amaldiçoado e mesmo que ele tivesse tirado um O em seu N.I.E.M isso foi a anos!

- Remus - chamou Lakroff, o fazendo voltar para a realidade.

- Sim?

- Preciso resolver algumas coisas por aqui e talvez eu demore um pouco. Quero apenas apresenta-lo... - e foi para o lado, para dar uma visão melhor. Não que precisasse com o armário ambulante que estava atrás dele. - Esse é Leandro de Souza Abraão Spinosa.

O lobisomem fez uma careta:

- A parte do Abraão podia ter sido esquecida.

Leandro era uma pessoa impressionante, para se dizer o mínimo. Remus já vinha notando o mesmo desde a entrevista, afinal seu lobo sentia sua presença sempre que inspirava mais forte. Ele nunca tinha tido contato com qualquer lobisomem nascido assim, Leandro, além de tudo, era de uma linhagem grande o bastante para ser considerado "sangue puro" para a raça.

E um Alpha.

Ele entendeu a diferença de poder no instante que bateu os olhos e seu lobo quis se ajoelhar.

Não era como Harrison, que as vezes lhe dava medo e fazia querer fugir.

Seu lobo apenas sentia que devia baixar a cabeça porque a fuga não era opção. Seria engolido. Ao mesmo tempo...

Outra parte sentia vontade de atacar.

Como se estivesse irritada em ser menor e quisesse tirar o título do outro ou morrer tentando.

Era estranho e arrepiava cada pelo de seu corpo sempre que cruzava os olhos, por isso evitou a maior parte do tempo. Não era tão difícil. Só ignorar o homem negro de dois metros de altura e tanto músculo que parecia capaz de arrebentar uma árvore com um abraço. Era como ignorar Hagrid numa multidão.

Evite o ponto maior.

- Por que eu haveria de fazer isso? - questionou Mitrica com um sorriso de olhos estreitos para o brasileiro. - Você gosta tanto desse nome...

- E você gosta de apanhar, mas nem por isso estou te batendo - comentou em português revirando os olhos.

- Você nem teria chance - respondeu também em português. - Não daria conta.

O lobisomem abriu a boca e sorriu:

- Quer testar, milorde? - zombou, finalmente voltando para o inglês.

- Remus, um conselho, chame-o de Abraão - Lakroff disse sorrindo. - Vou deixar que se conheçam, Abraão aqui vai te explicar as nuances do trabalho para os lobisomens - se virou para Leandro. - E você, Abraão...

- Se me chamar assim de novo...

- Vai o que? Latir um pouco? Cuide bem do padrinho de sua alteza, sim? - comentou dando um tapinha no ombro do bruxo mais alto. - Se não terá que se ver com Harrison, não comigo.

Remus notou (e isso o deixou curioso) como Leandro pareceu mais sério com a menção ao nome de Harrison e realmente acenou com a cabeça.

- Pode deixar. Vou ajustar o chihuahua aí.

- Vai se surpreender - comentou Lakroff sorrindo, depois se virou para Remus. - Volto já, não deixe que ele te assuste, no pior dos casos ainda é o cara que está com a coleira - e realmente deu um peteleco na armação de metal que circulava o pescoço do outro.

Leandro rosnou, mas seus olhos e seu cheiro mostravam que estava sorrindo, não estava irritado com aquelas provocações.

- Até mais diretor.

- Vice - corrigiu Mitrica.

- Claro, foi o que disse.

O loiro revirou os olhos e se afastou deixando os dois lobos quietos observando suas costas até virar a esquina.

- Bem... É um prazer senhor...

- Para você é Spinosa. Eu respeito muito o Diretor Mitrica, por isso aceitei ser sua babá...

- Ele não é vice?

- Karkaroff é uma brotoeja na testa da Durmstrang. Está ali para todos verem e fazer piada, mas não tiramos ainda porque é trabalhoso de um jeito irritante, então cobrimos com maquiagem como podemos e convivemos com ela. Ignore-o. Regra número um da Durmstrang: Quem manda é Lakroff Mitrica. Se prestássemos atenção em Igor estaríamos ferrados e eu preso.

- Preso?

- Eu já teria matado aquele idiota se Grindelwald não tivesse dito que me daria indigestão e eu acredito.

- Indigestão?

- Nunca ouviu falar que no Brasil acreditamos que comer a carne dos inimigos nos garante sua força? Claro, não funciona se o inimigo é fraco, aí só jogamos fora, mas é feio desperdiçar comida, então Karkaroff continua entre os vivos...

- Eu...

- Isso é mentira. A propósito. Os tupinambás e tupis no litoral brasileiro do século XVI praticavam a antropofagia sim, mas não é como se todo o Brasil fosse uma única tribo, nem que todos mantem ou sequer conheçam os costumes dos primeiros no nosso território. Os bruxos ainda são mais próximos dos costumes indígenas e xamanistas que os trouxas, mas se eu saísse devorando todos que mato por aí, o estado já teria me processado mais vezes e dado um jeito de me prender.

"Mais vezes?" pensou Remus, mas achou que era melhor ficar quieto.

- Eu ainda tenho mais descendência africana, da Angola, que indígena brasileira, então não poderiam passar pano para mim por cultura. Eu tenho que seguir as regras dos "civilizados" ou a merda que inventam. Se for para assumir uma cultura indígena, talvez eu prefira o costume dos yanomami, a propósito. Não devorar por ódio e poder, mas por amor.

- Que?

- Yanomamis comem as cinzas do amigo morto como prova de respeito e afeto.

- Isso também é mentira?

- Não - e sorriu.

[N/A: Os ianomâmis, Yanomâmi, Yanoama, Yanomâni ou Ianomâmi, são um grupo de aproximadamente 35.000 indígenas que vivem em cerca de 200 a 250 aldeias na floresta amazônica, na fronteira entre Venezuela e Brasil. Compõe-se de quatro subgrupos: Yanomae, Yanõmami, Sanima e Ninam].

- Sobre a parte dos Yanomamis - continuou. - Eles realmente fazem a coisa. Mas sobre eu preferir, isso é falso. Deus que me livre comer cinzas. Regra número dois da Durmstrang, todo mundo vai tentar te enganar. Agora me siga - e começou a andar, Remus ficou no lugar pensando que não disseram nada sobre ele já começaria com alguma coisa naquele dia. - Regra número três da Durmstrang - murmurou Leandro com uma voz muito sombria, que fez aquele instinto de Remus apitar - você obedece a seus superiores.

O Lupin começou a andar e quando se aproximou levou uma dedada na testa que o assustou.

- Regra número três verdadeira, nunca obedeça ou vão te comer vivo. Betas - e revirou os olhos. - Você vai ser destruído aqui se não mostrar que é forte. Suas roupas podem até gerar respeito e seus contatos te tornam um igual aqui mesmo sendo inexperiente com artes das trevas, mas é a atitude que te faz vencer aqui. Quer ser um bom professor e respeitado? Vai se colocar como líder aqui. Foda-se que não é seu estilo, beta. Vai ter os momentos para relaxar quando não tiver ninguém perto, nos corredores você ataca. Mostra que manda no seu território - então voltou a andar. - Regra número quatro.

- A falsa ou a verdadeira?

- Ta começando a entender, Poodle - sorriu.

- Eu já evoluí para Poodle ou você esqueceu que era chihuahua?

- A regra quatro - continuou ignorando Remus. - É que eu sou o alpha e você o beta, estamos entendidos? Eu mando aqui, você querendo ou não.

A sensação de vibração no peito voltou. Remus quis se curvar.

Mas quis atacar também.

- Soube que não manda nem na cama, lá você não passa do ômega. Se não a putinha com coleira e que dá a pata.

Leandro parou a caminhada e o olhou por um longo segundo:

- Conheceu Demian?

- Ele me contou que você é a cachorrinha dele.

O de cabelos rastafari sorriu:

- Gostei de você. Achei que com essa cara de sonso ia ser um certinho.

Lupin se lembrou dos tempos em que ele era um maroto. Era o mais quieto, mas ainda assim era um dos maroto. Aquele que ajudava James a planejar o que fariam para não serem pegos.

O que convencia os professores a serem mais brandos os enganando com suas palavras mais dóceis.

O que ria escondido por seus livros das maldades que Sirius fazia.

O verdadeiro braço direito de James.

Sirius era seu irmão de consideração, mas o Lupin que concretizava tudo com James, planejava, pesquisava, aprendia... também era o único que lutava pela liderança. Mesmo que sempre acabasse um passo atrás de Potter de algum jeito. Enganado pelo sorriso travesso e descompromissado, que guardava uma mente brilhante bem disfarçada.

Remus também se lembrou de cada briga que arrumou nas matilhas para nunca ser forçado a obedecer a aqueles idiotas.

Teve que sorrir, mesmo que sua auto preservação dissesse que não, no fim ele era um grifinório:

- E eu achei que você me ensinaria a como dar aulas num instituto de artes das trevas. Se for gastar seu tempo me ensinando a ter atitude ou como zoar com a cara de alguém, saiba que nisso eu sou mestre. Eu sou o futuro consorte Black, e ele, é doutorado no que você está tentando fazer.

- Tentando?

- Não me convenceu. Se esse é seu melhor, eu diria que ser um Alpha não é tudo isso. Talvez você só tenha a incapacidade de ler letras no alfabeto grego e errou a sua - provocou.

- Relaxe Beta, eu sei ler, você ainda é só a segunda letra e ainda não viu nada - respondeu deixando que sua voz transpassasse que não estava para brincadeira, mesmo assim, ficou satisfeito e interessado quando viu que o beta não recuou para seu olhar. - Vamos, vou te mostrar como torturamos as crianças no castigo - sorriu de canto tornando a andar olhando para frente.

- Se for arrancando as unhas, então já estou acostumado.

Leandro riu alto:

- As crianças não te enganarão fácil, isso é ótimo. Já sabe como falar búlgaro?

- Não.

- Aprenda. E não acredite em nada do que alguém que estiver de uniforme diga

- Novidade?

- A propósito, beta...

[N/A: Essa parte do diálogo fará mais sentido se for feita em inglês, que é a língua que estão conversando, então vou colocar a tradução em negrito embaixo].

- Can I call you "abestado"? - perguntou o brasileiro.

(Posso te chamar de abestado?)

- No - respondeu Remus na hora.

(Não)

- Why not?

(Por que não?)

- Because I don't know Portuguese and I don't trust you to translate.

(Porque não sei português e não confio em você para traduzir).

- Don't be so suspicious. It means beast. You know, like an animal?

(Não seja tão desconfiado. Significa besta. Sabe, como animal?)

- I see... I still prefer not

(Eu vejo... Ainda prefiro que não)

- The sound is similar. Beast and "abestado".

(O som é parecido. Besta e abestado).

- Mas se eu procurasse em um dicionário? - questionou Remus com uma sobrancelha levantada.

- Não acharia.

- Pior ainda. Me chame de Remus.

- Certo, beta. Eu me sentiria ofendido se não fosse sábio da sua parte. Você até que é bem arisco, a maioria dos betas não falaria como você fala comigo, eles sentem medo de mim naturalmente.

- Imagino... - murmurou baixinho, mesmo que soubesse que o outro escutava.

- Você já fez parte de uma matilha?

- De lobos?

- Essa pergunta prova que não.

- Eu considero...

- Eu também considero Demian e os Yiakin parte da minha matilha, mas você sabe bem do que eu estava falando. Então ou você é inexperiente demais para se curvar para o Alpha, ou...

- Eu não sou inexperiente, só nunca suportei tempo o bastante numa matilha para ficar.

"Eu também não precisava de outros lobos, tinha meus amigos, minha família/matilha" acrescentou mentalmente.

- Um beta com atitude de Alpha, pelo que vejo. Deve ter sido mordido novo, não é? Seu lobo claramente não se considera um beta como os outros, além de que ele está ligado a você quase tão forte quanto em outros lobos nascidos. Quantos anos você tinha? Uns dezessete? Foi assim que se formou? Decidiu viajar na lua cheia e deu azar de achar um? Não que eu ache um azar, mas sei como sua sociedade é...

- Sete. Quase oito.

- Como?

- Eu tinha sete anos.

- Sete? - sussurrou Leandro, interrompendo sua caminhada na hora, estagnando no lugar.

- Lyall, meu pai, era auror do Ministério da Magia. Ele insultou Fenrir Grayback por sua condição de lobisomem uma vez e Grayback decidiu se vingar...

Remus sentiu os pelos da nuca se arrepiarem com o cheiro de raiva que saiu de Leandro naquele instante.

- Como é? O que seu pai falou?!

Remus não questionou que um lobisomem se importasse mais com o que um bruxo poderia ter feito para irritar outro, do que com Fenrir ferindo uma criança. Ele apenas suspirou:

- Algo sobre sermos criaturas nojentas que deviam ser extintas. Falhas da natureza, más e irracionais. Algumas merdas do tipo, eu realmente não...

- Você acabou de dizer que tinha apenas sete anos, quando a porra de um adulto, por causa de birra com o seu pai, decidiu te atacar?! Te amaldiçoar como vingança pelo que SEU PAI babaca simplesmente falou para provocar o merdinha?! SETE ANOS?!

- Sim... - murmurou cauteloso e deu um passo para trás assustado com como os músculos do outro se tencionaram, como sua ele pareceu ficar maior.

Seus olhos se tornaram fendas vermelhas também.

A forma como ele falou a seguir, foi tão animalesca que parecia uma língua própria.

- Ele teve a coragem de fazer isso com uma criança... te atacar, forçar uma condição sobre você contra sua vontade e que te afetaria pelo resto da vida, sabendo que não havia cura na época. Um trauma eterno e... Como ele teve coragem?! Nossa, eu quero entrar naquela porcaria de paisinho que você tem, só para poder moer aquele cara entre meus dentes, até não sobrar nem o que eu cagar! - gritou.

Das paredes ao teto, mesmo tudo sendo de pedra, o som fez o castelo vibrar e Remus viu a coleira se acender no pescoço de Leandro se ascender.

O alpha inspirou fundo notando que logo seria jogado para longe se continuasse, a coleira estava sentindo seus níveis de estresse e poderia vê-lo em instantes como ameaça, mas... inferno, estava furioso!

Era só uma criança!!!

Algumas pessoas já tinham comparado a licantropia com alguma doença, principalmente uma sexualmente transmissível, na frente de Leandro. Ele odiava a analogia, pois não era o mesmo. Ser lobisomem era, sim, uma maldição sanguínea, mas não uma doença, não precisava de cura, nem tratamento, mesmo que existissem. Pessoas que sofriam com doenças assim tinham que ser tratadas e serem fortes para lutar contra algo que podia matá-las.

Lobisomens não morreriam por ser quem eram. Não tinham que ser fortes para ser um lobo, ma para ser um bruxo. Ser humano.

Pois a sociedade os matava.

Eles não precisavam de tratamento, as pessoas sim.

Necessitavam de uma sociedade menos merda que aceitasse as diferenças.

Lobisomens podiam viver muito bem em um ambiente que não se importasse que algumas pessoas tivessem mais força em troca de menos estabilidade mental, assim como qualquer magia das trevas mais intensas.

Eles eram mestiços, era isso que incomodava, essa era a verdade. Meio Veelas não tinham esse tratamento, mas o lobo feio que se rasga toda lua cheia sim. Bruxos das trevas loucos, por exposição prolongada de linhagens inteiras praticando, de forma desenfreada e ambiciosa, as artes sombrias, também não recebiam o tratamento preconceituoso que os lobos tinham.

"São todos covardes e preconceituosos. Nada pior que um covarde para arruinar todo o desenvolvimento de uma nação, nada pior que alguém que quer se sentir superior e tirar vantagem, para arruinar uma cultura" um bruxo inteligente lhe disse uma vez.

Foi Harrison. Em seu segundo ano.

Mas Leandro nunca foi de ignorar sabedoria, baseado unicamente na sua origem. Era literalmente isso, aceitar as coisas que o mundo tinha a oferecer, ouvir com calma, tentar entender e tirar algo disso.

Se a sociedade não tivesse tanto medo da força que eles representavam e parasse de tratá-los como bichos para diminuí-los, não seria assim. Eram apenas pessoas mais instintivas com um distúrbio mensal controlado.

Infernos, tinha tantas formas de conviver com lobisomens e assumir que eles são um problema por si só era irritante e frustrante.

Eram bruxos amaldiçoados, ponto, mas capazes de viver como qualquer outro. Só tinham que tomar cuidado nas luas cheias para não machucar ninguém e as vezes uma simples matilha para te acompanhar já ajudava.

Lobos atacavam tanto na lua cheia exatamente por terem medo por estarem sozinhos! Mas as pessoas ignoravam essa parte, né? Os desprezavam e isolavam, quando são animais que não podem se isolar. Não é natural. Então qualquer um que veem imediatamente os assusta, porque estão sozinhos, então atacam, que é sua forma de tentar resolver.

Era uma falha gigante da sociedade tentar muda-los, controlá-los e então temê-los, marginalizá-los, quando, no fim, os animais faziam o mesmo e viviam em paz nas florestas. Era só não perturbar, só deixar agirem de acordo com sua natureza, mas não, os lobisomens tinham que ser exterminados.

Exatamente por causa de pessoas como Fenrir que faziam merda de propósito!

Porra! Só iam conseguir mudar a cabeça das pessoas se provassem que não eram tão diferentes e ele vai lá e...

Ataca uma criança?!


[N/A: Aviso rápido de gatilhos (não muito pesados, mas ainda presentes) envolvendo questões sexuais, abuso infantil, abuso físico e psicológico. Podem pular até o próximo aviso se foram sensíveis a qualquer tema do gênero, incluindo debate sobre DST].

Leandro odiava a analogia com HIV que faziam, mas desde que ouviu a coisa sempre que pensava num lobo transformando alguém a palavra... estupro gritava na sua mente.

O que era perturbador.

Ele não era o único. Teve um amigo que chorou por dias e entrou em depressão profunda quando, em uma lua cheia, atacou um homem e o tornou lobisomem. Esse amigo, assim como Leandro, nunca odiou a licantropia. Jamais tiraria essa maldição de si, se tivesse escolha. Era um dom. Mesmo com todo o preconceito.

Mas ele se viu como um monstro que se forçou para cima de outra pessoa e arruinou sua mente para sempre. Não conseguia perdoar.

A avó de Leandro era outro exemplo triste em sua vida.

Uma mulher cristã que se odiou por anos quando foi atacada (por um lobo sem querer que esbarrou no dia errado).

Hoje, ela se aceita melhor, mas foi exatamente as pessoas serem tão cruéis com a condição que a fez se odiar. Se considerar um monstro repulsivo e chorar todas as notas por Deus odiá-la por ser um demônio pecador.

Aquilo o matava. Saber que estava num país majoritariamente cristão e que somava isso ao seu preconceito aos lobos. Matava saber que sua avó sofreu por algo que ninguém tinha culpa e que podia ter sido evitado com aceitação.

Doía saber que lobos bons se odiariam por existir ou por perder o controle e passar a maldição adiante.

O enfurecia ver pessoas que faziam isso de propósito contra a vontade de alguém.

E em uma criança então?

[N/A: Aqui acaba a parte sensível de antes].

Ele tremeu...

- Desculpe, não devia ter tocado no assunto... - a voz do brasileiro continuava saindo daquela forma bestial, Remus viu como a coleira continuava se acendendo, foi de amarelo para um tom alaranjado e parecia que chegaria ao vermelho.

Imaginou se era essa a cor que faria o outro ser aparatado a força para fora do castelo.

- Tudo bem eu... - ele ia dizer que já tinha superado, mas era mentira, ao invés disso se viu admitindo: - Fico feliz de ver alguém tão bravo quanto eu com essa merda. Alguém que entende de verdade e não só... acha que isso é...

- Uma doença que te passaram?

- Sim - suspirou.

- Você era muito novo... não deve saber como é viver sem o lobo, deve ser horrível ouvir das pessoas que seria melhor ter uma cura para te tirar isso.

- Exatamente! - sorriu, um sorriso muito deprimido.

- Eu entendo. De verdade. O Lobo faz parte de você, deve ter sido péssimo envenená-lo por um ano inteiro para ficar em Hogwarts.

- A pior sensação do mundo! - admitiu, muito aliviado que finalmente pode tirar aquilo das suas costas. - Eu sempre gritei muito nas transformações, mas então eu não estava mais gritando, eu estava chorando por horas até amanhecer, me sentindo doente, me sentindo abandonado e traído por mim mesmo! Eu nunca me odiei tanto e olha que sou especialista na arte de me odiar! Eu queria sumir! Queria que só me matassem logo e acordava vomitando até as tripas eu...

- Doente é essa sociedade - resmungou o outro e o colar parou de se avermelhar e tornar para o amarelo. - Fazer isso com você é doentio.

- Eles não sabiam...

- Eles queriam te forçar um remédio de "cura" toda lua cheia para te controlar, mas é muito pior que uma coleira, eles estavam realmente... te incentivando a se alto mutilar! Olha, isso é tão perturbador que me dá vontade de vomitar.

- Eu sei... A mim também... - murmurou enquanto sentia seu coração errar uma batida. Triste, deprimido, desolado de uma cicatriz que ele forçou em seu lobo e que não sabia como poderia curar.

- Credo, agora entendi porque você ficou do lado da luz.

- Como assim?

- Quer dizer, o lado das trevas nunca te forçaria a isso, eu ouvi já o que o lorde das trevas estava oferecendo, você teria direitos, afinal seria como praticar magia sombria naturalmente, não aconteceria essa merda toda, mas... então você daria razão ao merda do Greyback. Que acha certo forçar uma criança a viver com isso. Daria razão a lobisomens que agem como animais inconsequentes. Era o sujo pelo mal lavado, então melhor ficar do lado dos seus amigos e baixar a cabeça para pessoas tentando mantê-lo contido, do que incentivar os babacas que atacariam pessoas de propósito. Nem animais atacam uns aos outros de graça. Os bruxos nos chamam de animais, mas Greyback ta mais para demônio. Isso é maldade intencional. Eu faria questão de ficar do lado da luz se pudesse acabar com a vida desse cara e mantê-lo atrás de uma grade.

- Eu... bem... como você...?

- Você nem sabia direito como funcionava as artes das trevas, pelo que Lakroff me contou, mas não parece ser burro, então não ficaria no lado da guerra que te faz esse tipo de coisa, ouvindo ainda o que o outro lado oferecia, já que você mencionou já ter passado um tempo com matilhas. Você não escolheria o lado que te odeia, se o outro não fosse mais odioso ainda. Não foi a magia, não é? Nunca foi luz ou trevas para você. Se não nem estaria aqui hoje. Foi por causa das pessoas. Estou errado?

"Remus" chamou James uma vez "Se eu te disser para confiar em mim e ficar quieto, você faria?"

"Sim... mas por quê?"

"Eu descobri um jeito de fazer o mapa funcionar. Vamos mantê-lo protegido ainda, só alguém que realmente tem intenção de usá-lo para fazer uma travessura, ou que realmente precise dele, poderá abri-lo. A pessoa teria que ter desejo intenso ou emoção para abrir o mapa, além das palavras do encantamento, não vai ser como as magias que aprendemos aqui... O mapa seria um meio, um artefato, uma espécie de oferenda para a magia se manifestar. Mas acho que só você pode fazer o feitiço necessário..."

"Só eu? Por quê?"

James demorou para responder e quando o fez, foi estendendo um livro de capa preta e prata para Remus, um grande que nunca tinha visto antes.

"Por causa do quarto princípio..."

"Quarto princípio?"

James suspirou e baixou a cabeça.

"Eu tentei fazer" mentiu, mas Remus não se incomodou, queria ver até onde James iria "Eu não consigo fazer" essa parte era verdade "mas acho que você consegue. Por favor, é nossa melhor chance".

"Eu posso tentar" suspirou.

"Ótimo!" se animou "Só... não conte a Sirius, nem mostre esse livro a ele".

"Por quê?"

"Minha mãe que me deu".

"Sua mãe? James isso é..."

"Não é magia das trevas" e mentiu de novo. Remus arregalou os olhos. James bufou "Leia e vai ver que não tem nada demais, minha mãe não me daria se tivesse, você sabe disso, só porque veio de um Black não quer dizer que seja sombrio. O mapa é algo muito complexo, mas isso vai tornar possível, eu li tudo, sei que é nossa melhor chance e sei que quando você ler vai concordar comigo. Tem algumas anotações minhas também. Por favor, só... tente, ok?"

E Remus decidiu confiar no amigo para ler. Eles fizeram o mapa. Remus realizou o último feitiço que faltava.

No presente ele enfim entendeu. Aquele dia...

Sempre pensou que era uma espécie de crime que cometera com o amigo, a prova de que não se importava com magia da luz ou das trevas, como as pessoas queriam que ele se importasse. Se James, que era um Potter, estava dizendo para ler um livro de magia sombria, ele leria e não sentiria um pingo de culpa. Não só isso, ele gostou de fazer o feitiço e gostou de como James podia fazer, mas ele sim.

Mas também foi o dia que deveria ter percebido que James sabia muito mais sobre a coisa do que deixava transparecer. Ele pediu a Remus porque, assim como Lakroff disse, o lobisomem não sofreria com consequências do feitiço.

James sabia dos princípios da magia obscura. Todos os quatro.

O que mais sabia, já naquela época?

Antes mesmo de Gellert Grindelwald...

- Eu falei algo errado? - perguntou Leandro. A coleira já tinha parado de brilhar e estava prateada de novo.

- Não - sacudiu a cabeça. - Você está certo, em tudo. Eu só... Eu nunca admiti essas coisas para ninguém. É bom... poder falar disso. Durante a guerra eu ia nas matilhas para conseguir informações para os aliados da luz e... as vezes eu me pegava pensando se não estava do lado errado. Se estava correto em lutar contra o que ajudaria pessoas como eu, mas então eu lembrava dos meus amigos e... via como os outros lobos eram um bando de babacas estúpidos e desistia.

- Elementar meu caro Herlock Sholmes.

- Herlock Sholmes? - questionou franzindo o cenho. - Você falou tudo errado, sabe disso né? Além de inverter as iniciais, a frase correta é "meu caro Watson".

- Mas você é o Arsène.

- O que?

- Arsène Lupin, o ladrão de casaca. Estrategista da literatura francesa. Eu sei que você é britânico, mas daí a culpa é da sua família ter errado o país. Lupin é francês e ele, um golpista extremamente inteligente, enfrenta um dos maiores desafios, o detetive Herlock Sholmes, no segundo livro da saga. Briga de dois cachorros grandes.

- Eu não acredito - riu o loiro. - Você acabou de fazer uma piada com literatura europeia e da rivalidade da França e da Inglaterra para cima de mim?

- Brasil também entende de cultura, ok? - brincou.

- Cara eu teria que fritar uns bons neurônios para entender essa piada de primeira!

- Não se preocupe, eu não vou fazer outra do tipo, as minhas geralmente envolverão perguntar se você mora numa canoa.

- Uma canoa?

- Sim.

- Por que uma canoa?

- Seu nome, remo.

- Remo?

- Sim. Sem o "s".

- Que quer dizer isso?

- Nada não. Mais importante: eu me decidi e vou te adotar.

- Me adotar? Que merda você quer...

- Você faz parte da minha matilha agora, estou oficialmente te adotando.

- Quem disse que eu quero? - cruzou os braços em desafio.

- Você quer usar coleira durante a lua cheia igual a mim? - perguntou apontando para seu pescoço.

- Eu...

- Você não é obrigado, eles te forçarão só nas luas cheias, para ter certeza de que não vai entrar no castelo, mas sabe qual é a vantagem de uma matilha?

- Não...

- Imaginei - revirou os olhos. - A vantagem é que você obedece ao alpha. Mesmo que não consiga controlar o lobo, eu controlo por você. Eu sou sua babá. No Brasil, ter uma matilha te livra de muita coisa, pois o Alpha era responsabilizado pelas merdas que você fazia. Eu sou totalmente racional na lua cheia, exatamente para poder proteger os meus. Você vai aprender magia sombria e vai ter mais controle sobre impulsos, mas não vai estar consciente nas transformações, isso é impossível para você sem aquele veneno mortífero que estou te proibindo de usar. Não é para mim. Se fizer parte de uma matilha, nem você, nem ninguém aqui precisa ter medo de se descontrolar e fazer algo errado. Eu te ajudo - e pela primeira vez seu sorriso não foi travesso, astuto ou cheio de más intenções, era apenas gentil e amigável. Até seu cheiro mudou.

- E suas cicatrizes? Se é tão controlado, por que tem tantas?

- Brigas de território no Brasil. Sou insuportavelmente orgulhoso como lobo, queria a cidade toda só para mim e me recusava a perder para lobos comuns.

- Você é quase um supremacista de sangue então?

Leandro riu.

- Parece né? Não, eu só estava desafiando qualquer idiota a me vencer. Se vencesse, aí é outra história, aceitaria me submeter a um adversário mais digno. Fazer o que, sobrevivência do mais forte. Mas sem um adversário a altura, eu queria que todos me obedecessem.

- Alguns idiotas te deram uma coça - disse apontando para a imensa cicatriz que havia no pescoço do outro lobisomem.

- Em grupo. Aqueles covardes - cuspiu.

- Quantos? - perguntou sorrindo.

- Vinte.

- Não acredito em você - zombou.

- Posso comprovar, saiu no jornal a briga. Em quase todos da época, na verdade. Eu arranquei o braço de um.

- Você o que?

- E fiz ele engolir - sorriu satisfeito, se aprumando orgulhosamente.

- VOCÊ O QUE?

- Tentei né. Ele começou a vomitar e não deu para enfiar a força. Aí quase fui preso porque "autodefesa não engloba brutalidade" e sei lá mais que merda os advogados deles inventaram. Meu advogado me fez chapar de calmante para me impedir de ir na porrada com o promotor idiota do caso, fui um pandemônio.

- Você disse que era equilibrado na lua cheia?

- Eu sou consciente. Nunca disse que sou uma pessoa calma ou pacífica. Disse que não faria nada que não quero na lua cheia. Eu queria matar aqueles idiotas, mas fui equilibrado e só arranquei um braço. Demian acabaria com a minha raça se eu tivesse quebrado um ou outro pescoço e comido...

- Por que você obedece o Yiakin? Realmente é só...

- Amor? É. Isso é o suficiente para mim. Quero que o Demian seja feliz e goste de mim, se ele está bravo com o meu descontrole, então não vou me descontrolar, é simples. Viu?

- E você quer que eu abaixe a cabeça para você?

Leandro sorriu:

- Sim.

- Eu passo.

- Não é uma escolha sua. É minha. Eu já decidi que vou te adotar.

- Não quero.

- Vamos, remo! Vou te ajudar a evoluir para motor!

- Como é?

- Isso, meu amigo, foi uma piada vinda direto do âmago do tio do pavê que nasci para ser.

- Tio do que?

- É Pavê ou pra comer?

- Como é? - e inclinou a cabeça para o lado muito confuso enquanto Leandro ria de si mesmo.

- Ai, ai, esse ano vai compensar tanto esses últimos agindo feito gente normal...

- Você agia feito "normal"? Eu não estou te entendendo a pelo menos dez frases atrás.

- Sim, eu tentava ser mais europeu para não assustar os outros, só que você não tem escolha, então vai ter que me aturar. A propósito, tem uma coisa aqui na sua blusa.

Remus quase deu um tapa na própria cara por ter realmente olhado. Ele tinha que ter previsto aquilo, mas não foi o caso.

Leandro pareceu radiante com o fato de que tinha conseguido enganá-lo com algo tão infantil quando passou o dedo pela cara de Remus. Gargalhava abertamente.

-x-x-x

Harry entrou no quarto de Regulus pensando no medalhão.

Como foi quando o viu. Igual se todo o mundo simplesmente parasse.

Ele pôde sentir como aquele Marvolo era mais forte. Maior. Mais que o diadema e muito mais que sua própria cicatriz. Uma essência... tão... intensa.

Vibrou quando Harry se aproximou, chiou quando ele gastou um tempo encarando em fascínio. Era um lindo colar e... era Tom.

Por isso, ele seria rápido naquele cômodo e depois teria que decidir como pedir desculpas a Sirius por não poder aceitar as roupas de Regulus, mas ele não se sentia confortável em pegá-las.

Não com o que estava acontecendo.

O medalhão, cerca de dez por cento de Voldemort (talvez um pouco mais), era o provável motivo que o lorde das trevas tinha ficado irritado na noite que Tom ficou sob o comando do corpo. Ele teria ido até a caverna e encontrado a réplica, não é? Descoberto sobre a traição de Regulus. Os Black, uma das famílias sombrias mais importantes e renomadas, tendo o desafiado até em seu mais fiel. Que o apunhalou pelas costas.

Ele teria pensado que estava destruída, não é?

Teria desistido de reaver essa peça.

Se sim ... então o medalhão seria dele. De Harrison! Ele poderia devolver o diadema, seu plano, sua armadilha para Voldemort, se concretizaria mas sem que precisasse abandonar o som da voz de Tom enquanto estivesse acordado. Poderia carregar o tempo todo outra horcrux consigo! Estariam juntos sempre e isso era perfeito!

Mas... também um desrespeito com Regulus. Que morreu para destruir a coisa.

O Potter foi até o centro do assoalho, onde já tinha apagado o círculo mágico, e abraçou o próprio corpo enquanto suspirava:

- Eu sinto muito - sussurrou para o ar.

Ele caminhou até o armário e o abriu. Haviam casacos pretos de fios de prata, coletes verdes musgo detalhados, e blusas exatamente no estilo que Harrison gostava. Tudo, exatamente como gostava, o que o fez bufar. Passou os dedos calmamente pelos tecidos finos e bem conservados. Roupas naquele material tendiam a durar.

- Eu realmente sinto pelo que você teve que fazer, pelos sacrifícios que foi forçado... Você merecia ter tido uma vida livre dessa merda toda.

Quando se deu por satisfeito, fechou o guarda roupa e se virou para ir embora.

Em pé, bem diante dele, no centro do círculo mágico que fizera antes, estava Regulus Black.

A pele branca demais para ser natural, olhos cinza totalmente sem vida, molhado, cabelo escorrido pingando, as roupas rasgadas mostravam marcas na pele, cortes grandes que sangravam e caiam em gotas pretos no chão junto da água nas roupas...

Era tenebroso.

Algo digno de um filme de terror trouxa que Alice fez Harry assistir uma vez.

E o encarava.

Com o coração acelerado, ele enfim sentiu a delicadeza de um véu passar por sua pele. Seus dons chiando em sua cabeça.

- Você alguma vez acreditou em algo que o lorde das trevas te disse? - perguntou baixinho.

O cadáver mexeu a cabeça de forma estranha, não tinha certeza do que aquela resposta queria dizer.

- Eu sinto muito... eu sei como destruir o colar. Sei que você morreu para acabar com ele... Só que eu não... sei se consigo fazer isso. Eu posso, mas... não... - baixou a cabeça e sussurrou. - Não quero.

"Destrua" disse a voz de Tom, o colar vibrou em sua mão de forma doentia. "Nada de bom vai sair de deixar mais partes daquele psicopata vivo! Destrua! Honre a morte dele!"

"São partes suas" pensou irritado apertando mais o colar que começou a queimar.

"Eu não preciso delas! Destrua! Destrua Voldemort antes que ele o faça!"

- Eu não posso prometer terminar o que você começou - continuou Harry olhando diretamente para o reflexo do que já fora Regulus. - Não agora, não sem antes tentar. Eu juro, eu juro por mim e por tudo que acredito que não vou deixar Voldemort machucar o mundo como antes. Eu vou lutar para fazer o certo, mas do meu jeito, o que eu acho certo, não vou deixar Voldemort destruir mais vidas, não enquanto eu tiver forças para impedir, mas eu... Não posso simplesmente matá-lo.

"Por que não?! Você precisa! Ele..."

- Não vou matá-lo sem antes tentar salvá-lo também.

"Eu não preciso de um maldito grifinório para ser herói" os sussurros do passado, dessa vez foram claros, tinham a voz de Regulus, assim como mais cedo, quando conseguiu visualizar uma lembrança.

Ele não estava falando com um morto, apenas com uma essência perdida, uma marca de alguém forte o bastante para se fazer presente no mundo, mas ainda assim...

Então era isso? Regulus pensaria que Harry estava sendo como seu pai? Um grifinório? Pedindo perdão, tentando ser o herói que honraria seu sacrifício?

Só que... Harrisson teve que sorrir ao dizer:

- Eu sou Sonserino.

Regulus abriu a boca em um sorriso que trouxe vida às suas feições novamente, então sumiu.

Harry sentiu um peso no peito, mas foi calmamente até onde estivera o outro e começou a entoar as palavras de um ritual que aprendera na biblioteca Mitrica.

Um que deveria pedir para a própria Morte cuidar de uma alma especial.

Uma despedida de um necromante para alguém que merecia uma boa partida.

Quando enfim não sentiu mais nenhuma energia estranha e o mundo pareceu voltar as cores, sons e temperatura normais, sem nenhum reflexo dos mortos podendo ser sentido no quarto, Harrison suspirou.

"Lá se foi outra pessoa que eu teria gostado de conhecer" pensou.

Tom sentiu-se péssimo, pois mesmo que Harrison não tivesse pensado nisso nem por um único segundo, ainda havia algo implícito naquela frase: Lá se foi outra pessoa... Que Tom matou e tirou de Hazz.

Ele não podia, não deixaria, mais ninguém ser tirado daquele menino por sua causa. Não podia deixar Harrison arriscar tudo por ele, que não merecia tanta gentileza. Ele daria um jeito de matar Voldemort.

E para isso, ele também tinha que ir.

Que assim fosse.


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Votem! Votem!

Mil desculpas que semana passada vocês ficaram sem capítulo, é que o estado me tirou da escola que eu trabalhava (contra a minha vontade explícita) e me colocou em outra cinco vezes o tamanho (e não estou brincando, um andar da nova escola corresponde a minha antiga). Enfim, eu estava tentando me adaptar a mudança e eu sou ruim com mudanças que são forçadas em mim sem tempo para me preparar. Só não tive nenhuma crise de ansiedade por muito exercício de respiração.

Espero que tenham gostado, ESPERO MESMO, por favor me digam o que acharam e até a próxima (tentarei postar antes, escrever o máximo que conseguir, para compensar vocês).

PS: Sintam-se a vontade para imaginar o Leandro como quiserem, até selecionar um ator brasileiro na cabeça de vocês, a escolha é sua e eu juro que se estivesse fazendo um filme dessa fic eu procuraria até no meio da Amazônia o brasileiro perfeito (meu tio já servia porque, exceto na altura, eu descrevi uma pessoa muito parecida), mas por questões de: eu acho o Michael B. Jordan maravilhoso de lindo, decidi selecioná-lo].

PS2: Uma leitora me disse que temos que achar um nome para o grupo formado pelos "adultos da vida do Harry", sendo eles Tom, Lakroff, Sirius e Remus. Acho válido. Quem me segue no tiktok sabe que futuramente teremos interações entre eles e elas são ótimas kkkk

E quem me segue lá e sempre curte e comenta obrigada pela ajuda no engajamento, vocês são incríveis <3

UMA BOA NOITE!

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