Capítulo 21 - Sangue e Heranças de família
Então né... 17k de palavras... que bom que esse tem várias cenas, então vocês sempre podem dar pausas a vontade.
ATENÇÃO! ESSE CAPÍTULO MISTURA PASSADO E PRESENTE A FIM DE VOLTARMOS PARA A PROGRAMAÇÃO NORMAL, TOMEM CUIDADO E ATENÇÃO PARA NÃO SE CONFUNDIREM
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Capítulo 21 - Sangue e Herança
"Harrison James Mitrica Potter,
aquele já era seu terceiro nome, mas tornou-se oficialmente o favorito".
Harrison acordou no seu décimo quarto dia na mansão Mitrica em menos de duas horas de sono.
Ele e Tom ainda estavam...
Estranhos.
Para dizer o mínimo.
Mesmo assim, depois de tudo que aconteceu no orfanato, ele já não dormia como antes, não conseguia se sentir bem estando totalmente inconsciente.
Quando tomou um calmante, para ter uma noite inteira com Tom, foi uma situação totalmente diferente, pois a decisão havia sido tomada na base da raiva. Era como se tivesse ficado cego a todo o resto e só pensasse em se vingar do companheiro mentiroso.
Ele até o torturou e de propósito (coisa pela qual já estava se arrependendo), mas independente do que pensasse agora...
Na raiva, ele agarrou o rosto de Tom, o viu se ajoelhar de dor e ficou mantendo assim, assistindo-o tentar resistir contra gritos de dor.
Se sentiu forte vendo alguém que vinha considerando superior... quase implorar.
Harry não sentia nada quando fazia algo com os fracos, na verdade, as vezes lhe passava desconforto. Mas ver alguém forte chorar...
O que isso mostrava sobre a pessoa que estava se tornando?
"Bem-vindo ao clube dos monstros" ele se lembrou de Lakroff.
As frases sobre todos sempre tirarem o pior dos Mitricas, por serem necromantes e "bem babacas" (palavra que ele deu três tapinhas na boca após usar) e dos Grindelwalds, que sempre foram videntes, que tiravam vantagem da capacidade e das pessoas. Não ia mais ficar pensando tanto nisso. Sobre quem estava sendo.
Inferno, ele quase tinha deixado de ser qualquer coisa. Quantas vezes já o tentaram matar até ali?
Ele tinha o direito de ter raiva e de agir como quisesse.
Só precisava ser forte o bastante para garantir que ninguém o impedisse. Que ninguém mais teria força para machucá-lo tanto.
Seja como fosse.
Mesmo que estivesse bravo, de uma coisa ele sabia, podia contar com Tom nisso. A Horcrux não queria ficar viva? Então eles dois garantiriam que ninguém o encostaria mais!
No pior dos casos, colocava a culpa no sangue Grindelwald. Os bruxos não insistiam em dizer que sangue era importante? Pois bem, ele seria sádico por natureza. Uma mariposa. Tinha um lorde das trevas e os Black na família, era uma explicação plausível para o que fosse pego fazendo.
Mesmo que nunca soubesse dessas coisas antes do próprio Lorde Mitrica falar.
Também podia alegar que foi possuído por Voldemort. Só teria que mentir bem para convencer todos que jamais faria nada.
Tentou voltar a dormir.
Deve ter acordado de novo uns vinte minutos depois, não mais que isso. Normalmente poderia fazer uma nova tentativa, sua saúde agora era... Enfim, não era a ideal.
Só que dessa vez ele sentiu um cheiro estranho e cada parte do seu corpo tremeu quando percebeu que era de algo queimando.
Fogo.
Então ouviu um som alto e quando olhou para o lado viu a magia e a alma de Lala.
Desejando por isso, rapidamente um ponto de luz saiu de sua mão e iluminou o quarto:
- Lala? - perguntou ao perceber que a elfa segurava um extintor de incêndio trouxa e estava de frente para um dos armários, repleto de espuma.
- Jovem mestre pode voltar a dormir, Lala pode apagar o fogo de Jovem Mestre sempre que precisar.
Harry percebeu naquele momento que tinha passado muito tempo com as crianças do orfanato, pois riu da frase "apagar seu fogo", mesmo que nenhum deles tenha explicado todos os sentidos dela.
Naquele momento também recebeu uma dor imensa no peito e Lala deve ter notado, pois soltou o extintor e correu para a cama:
- Jovem mestre não está bem, jovem mestre está com dor, Lala deve trazer uma poção?
Mas mesmo que fosse algo físico, as poções não funcionavam tão bem nele. Além das feitas pelo próprio Gellert Grindelwald sua magia lutava e ganhava de todas as outras.
Gellert Grindelwald.
Seu bisavô.
Outra coisa que seria capaz de lhe tirar o sono.
Harrison tinha se sentido terrivelmente culpado em destruir uma estrutura histórica para a família Mitrica, mas então Lakroff lhe contou sobre os Obscuriais na guerra.
Como Gellert praticamente adotou um, como tentou e se esforçou para estudá-los, criar curas, formas de ajudar, poções de controle mágico, magias de contenção que não haveria de os ferir. Como buscou ao máximo descobrir e mostrar para a sociedade a forma correta de interagir com eles, reintegra-los entre os bruxos, até mesmo mudando leis de países como a Alemanha, que até hoje mantinham políticas inclusivas implementadas por ele.
Países onde os Obscuros não eram criaturas, com simples menções no livro de bestas mágicas de algum Magizoologista, mas crianças que precisavam de ajuda, acompanhamento médico e psicológico. Territórios onde ainda podiam estudar magia.
Infelizmente eram poucos os que mantinham isso, Alemanha, Rússia, alguns países da América Latina como Brasil (que tinham altos índices de mestiços com criaturas, então dificilmente alguma era proibida de estudar). O restante... Bem...
Os Obscuriais viveram a infância inteira em tristeza, para não terem nenhum acolhimento depois que enlouqueciam.
Perigosos demais.
Incontroláveis para os padrões normais.
Ameaças.
Aberrações. Monstros.
Igualmente revoltante era que todos fingiam que essas políticas tão raras não começaram com Gellert. Afinal ninguém quer admitir que um monstro não existe, apenas um homem que tomou decisões erradas demais. Ninguém quer parabenizá-lo pelas boas.
Mas a questão toda é que, para conseguir avançar com suas pesquisas sobre o poder dos Obscuros, Grindelwald teve que conviver com um.
E com a destruição que era capaz de causar.
Nurmengard era a fortaleza incrível que era (mesmo com a última fuga) pois foi forjada em cima de crise atrás de crise, de um garoto Obscurial com uma fênix negra, que podia destruir toda a montanha se quisesse, em alguns segundos. Grindelwald não seria capaz de estudar sem ter de resistir a destruição do tipo, então também aprendeu alguns feitiços interessantes que podiam, ao invés de lutar contra e resistir ao ataque, reconstruir a estrutura depois dele.
"Mas se Gellert não usava a mansão Mitrica, por que ele a enfeitiçou para resistir a um obscurial também?" perguntou Harry quando o tio-avô começou a lhe explicar essas coisas, indo em direção ao monumento que ativa a magia de reconstrução da mansão, no dia de seu ataque.
Lakroff demorou para responder, primeiro lhe encarou, com aquelas dezenas de olhos, da cabeça aos pés e deixou que o menino chegasse às próprias conclusões, por fim disse:
"Podia ser útil um dia, não é?"
Muitas emoções o atingiram naquele momento. Tinha uma sensação (e sabendo agora dos dons da família, dificilmente conseguia ignorar uma sensação) de que foi por ele...
Então existe sim amor de família? Um amor como de sua mãe, que foi incondicional e digno de seu próprio sacrifício, como de seu pai, que fez o mesmo...
Agora de seu bisavô?
Alguém que o amaria apenas por ser parte do mesmo sangue e tão intensamente para fazer algo, que nem saberia se teria qualquer resultado, porque uma visão disse de décadas no futuro disse algo?
Não. Era mais provável que fosse apenas para proteger a casa.
"Mas e todas as poções que ele fez e que te servem tão bem? Coincidência?" uma voz no fundo da sua mente disse.
Harry preferiu fingir que era Tom, assim era mais fácil mandar aquilo se calar e ir para longe.
Seu bisavô, que talvez nunca fosse conhecer, vinha cuidando dele a mais tempo do que era aceitável imaginar? Isso era ridículo!
Para alguém que a anos sentia não merecer cuidado algum... Aquilo não era uma possibilidade.
Então se lembrou do tiro nas costas de Petúnia e teve certeza de descartar a ideia.
"Eu pensei que ele só via tristeza e mortes" comentou Harry desconfiado.
"Tem fogo verde por todos os lados, mal sobrou um único tijolo inteiro, ou madeira. Os próprios elfos, que se importam tanto, não estão aqui pois achavam que não conseguiriam fazer nada e se machucariam de um jeito que só o deixaria pior, Harrison. Para você pode ser pouca coisa, mas quem vê de fora sabe a dor e o sofrimento absurdo que tinha de estar passando para causar tudo isso. O suficiente para uma visão. Mas se quer saber mesmo, tem outra explicação mais profunda".
"Que é?"
"Sabe o que é um Videntes do apocalipse, Harrison?"
"Não".
"São muito parecidos com os arautos da morte, tanto que nos confundem se não percebem as diferenças. Um vidente do apocalipse vê, sim, mortes. Mas apenas em eventos, seja um único grande ou uma sucessão deles. Não a morte simplesmente. Na maior parte do tempo não um assassino, teria de ser um massacre. Não veem uma vítima, vêem o todo. Os jornais falando sobre um serial Killer, os corpos achados pela polícia, uns ao lado dos outros no necrotério, os detalhes que se espalharam entre as pessoas, partes cortadas do evento em si, das vítimas perdendo a vida, do assassino em sua casa planejando o próximo passo e se deliciando com tudo. Videntes assim não veem alguém caindo de uma montanha, mas uma avalanche. Não alguém morto por lava, mas toda a erupção vulcânica, os tsunamis causados pelos terremotos e cenas e mais cenas de corpos queimando, se afogando, um carro sendo arrastado até acertar uma pessoa e matá-la na água. Guerras, desastres, massacres, fome..."
"Fome?"
"Apocalipse Harrison. Tudo que poderia se encaixar nessa palavra, é o que eles veem. Como você imagina o fim dos tempos? Pessoas matando pessoas? O planeta morrendo? Tanto faz, vão ver. Às vezes, pode até ser uma única vítima, mas há uma sucessão de eventos que a envolveu até chegar nisso. Ver uma única pessoa indica que outras morrerão envolta ou sofreram muito. De forma resumida, um vidente do apocalipse vê tristeza coletiva. Agora, o que acha que é um arauto da morte?"
"Bem... Ele vê mortes no geral? Sejam como forem? Um idoso morrendo de causas naturais, por exemplo?"
"Algo assim. A maioria relata que apenas sabe, de alguma forma, que alguém morrerá. Alguns escutam nomes e sabem que essa pessoa está condenada, outros veem cores específicas e se você está com essa cor, quer dizer que morrerá. Há aqueles que sabem, apenas por olhar, como será a sua morte, outros quando dormem, aqueles que precisam te tocar mas só saberão a data. Já ouvi falar de um que via números nos pescoços dos outros, mas que viviam mudando, então não valia a pena prestar atenção, a menos que fosse recente. São muito diferentes entre si, mas todos têm isso em comum: saber de alguma intenção da morte. Vem como, quando, onde ou o porquê alguém morreu"
"Você é esse? Você disse que viu sua morte..."
"Eu ia morrer numa guerra. Uma consequência de Voldemort subindo ao poder e gerando um destino de tristeza e massacres. Eu ia ser só mais um Mitrica na lista de vítimas dele. Sabendo disso, qual você acha que sou?"
Hazz preferiu ignorar a parte sobre Voldemort e como ele ia matar toda a família...
Harry também?
"Você é um vidente do apocalipse" murmurou.
"Sou".
"Você disse antes que via o pior momento das pessoas".
"Isso faz parte dos videntes do apocalipse, a angústia de alguém pode gerar muitas consequências".
"Arautos só veem morte, não há qualquer outro sentimento envolvido?".
"Isso".
"Você disse que não podia ver minha morte. Que, se não aparecesse para você é porque não estava planejada. Mas se você é do apocalipse isso não faz sentido..."
"Não me expressei suficientemente bem. Eu disse que poderia ser um tanto enganoso nas minhas respostas, mas sendo sincero Harrison, eu já tinha visto sua morte. Uma vez. Não vejo mais. É isso que quis dizer com ela não estar mais planejada. Não é mais como eu vi, mas um arauto da morte poderia dizer diferente...".
"Voldemort me matava?".
"Sim".
"Eu ia morrer na guerra? Ele ia ganhar?" e colocou a mão na cicatriz, sentiu Tom se agitando e soube que a horcrux estava tentando mostrar que nunca faria isso, que estava triste, com raiva, viu até como Tom queria atacar Mitrica, mas não disse nada. Apenas deixou que o menino sentisse essas emoções, visse alguma verdade nelas.
O sangue de Harry brilhou e a horcrux se afastou para o fundo de sua mente entendendo o recado.
Quieta.
"Sobre ele ganhar não tenho certeza, na verdade tenho convicção de que não. Vi o corpo dele também, caído no chão".
Aquilo surpreendeu Harry.
E a vinha...
"Mesmo?" perguntou o menino.
"Sim. Agora, se for o caso de ainda estar marcado para morrer, Harrison, ao menos não envolve outras dezenas de corpos atrás. Nem você indo direto se sacr... Esquece. O importante é que a guerra bruxa não é mais uma certeza. Vamos focar no lado positivo, é tudo que nos resta como Grindelwalds".
E sorriu, um sorriso acolhedor, mas que fez Harrison dar um passo mais para o lado. Ele quis perguntar sofre a frase interrompida, só que percebeu que o adulto podia ter razão em tudo que tinha dito e saber como se morre era algo que ninguém deveria.
"Gellert é um vidente do apocalipse".
"Sim" respondeu o mais velho, mesmo que não tenha sido uma pergunta.
"Você insinuou que ele me viu aqui..."
"Hoje foi uma consequência de uma sucessão de eventos. Você fez exatamente por toda a tortura que passou e depois pelo desastre no metrô" Harry baixou a cabeça se sentindo novamente mal, mas uma mão muito receosa tocou seu ombro, apenas para mantê-lo ali, no presente, mantinha-se respeitando seu espaço pessoal e isso foi reconfortante de um jeito que não queria admitir. Encarou Mitrica. "Nunca se culpe por erros do mundo. Você é uma criança que precisava se defender. Nunca deixe que te digam o contrário".
Eles não falaram muito mais sobre isso. Lala apareceu um pouco depois abraçando o "jovem mestre poderoso que conseguiu destruir a casa em segundos" e levou bronca dos outros três elfos por parabenizar o menino por isso, ao invés de se preocupar com sua saúde.
Ficaram paparicando Hazz o resto do dia, ao ponto dele se sentir estranho.
Mas agora que tudo estava normal de novo, Lakroff instruiu Harry a descansar e conseguir ao máximo se estabilizar de novo antes que fossem atrás de resolver os demais problemas.
Pena que o menino não sentisse que conseguiria descansar de forma alguma.
- Não quero remédio algum, Lala - disse começando a se levantar da cama. - Por que está com um extintor trouxa?
- São uteis, meu senhor. Fazem uma barulho engraçado também - disse rindo um pouco e o próprio Harry sorriu com aquilo. - Jovem mestre é um bruxo muito forte, sem dúvida, mas Lala promete que não teve problemas em controlar as chamas. Lala entende se jovem mestre não quiser mais dormir, posso trazer alguma coisa para comer ou para entretê-lo. Lala também pode chamar o Lorde.
- Não, não há necessidade alguma de acordar meu tio-avô - dizer tio-avô foi estranho. Era como se as palavras fossem esquisitas saindo de sua boca.
Nunca teve um avô.
E seu tio não era boa coisa.
Mas Lakroff chorou quando Harry o chamou assim na frente dos elfos. Literalmente chorou, dando outra confirmação de que era alguém muitíssimo solitário e emotivo, que se via nas nuvens com qualquer demonstração de afeto dado a ele.
Ao menos foi interessante ver como todos os olhos se fecharam ao mesmo tempo para deixar a emoção passar.
O lorde Mitrica era um livro totalmente aberto como alma. Sua magia praticamente gritava suas emoções, mesmo que ele sempre fosse absurdamente sincero com Harry, era engraçado ver como podia revelar ainda mais de outro jeito.
- O Lorde Mitrica não está dormindo, pequeno Lorde Harrison - contou Lala.
- Não?
Eram duas da madrugada. Lakroff devia estar dormindo.
Ambos ficaram acordados até tarde debatendo sobre suas vidas até perceberem que nenhum se sentia confortável em falar de si mesmo, que fugiam de assuntos e se calavam para a maioria das perguntas e então trocaram para conversar sobre magia e, o que mais surpreendeu Harry uma vez que ficava claro que o herdeiro Grindelwald não gostava do pai, debateram sobre a guerra de Gellert.
Foi quando sentiu a maior conexão com o parente.
Lakroff realmente tinha uma ótima desenvoltura e, quando se distraiu com um tema do qual obviamente gostava, foi longe. Aqueles problemas para achar palavras ou a insegurança se foram. Explicou tudo que Harry vinha tendo de dúvidas e dificuldades para entender do passado e até a própria vinha (que a cada dia gostava menos de Mitrica) estava animada de ouvir aquelas coisas. O loiro mostrava o tempo todo como tinha conhecimento de história bruxa no geral, uma atitude, uma decisão, um passo de Gellert vinha acompanhado de explicações longas e históricas que ele corria pela biblioteca para buscar um livro e mostrar ao menino.
E ele sempre se lembrava do livro.
Do autor, da data, de uma citação e em que página estava.
Tom era um bom professor, sabia do que estava falando, tinha calma e uma desenvoltura que faziam uma aula parecer quase uma dança ou uma sessão de hipnose, onde ele vagava pelos temas com graça e te levava junto.
Lakroff era animado e te fazia sentir empolgado junto dele. Era como assistir uma série narrada. Ele gesticulava, interpretava, declamava, andava e sorria. Não se baseava unicamente na própria fala, nunca. Escritores, teóricos, filósofos, até trouxas, nada que saia de sua boca não vinha acompanhado de embasamento histórico, político, cultural, além de teoria rebatendo teoria. Ele se mostrou neutro, deixava que tirasse suas próprias conclusões, e muito conhecedor. Até mesmo os tipos de magias que já existiam em determinada época e como elas interferiam no desenvolvimento social Lakroff saberia te dizer (mas nessa parte, Tom sempre tinha algo a acrescetar).
História e cultura. Era a especialidade do Lorde Mitrica.
Tom era a magia em si. Potência, força, origens, desenvolvimento.
Ambos eram rivais à altura se tratando de política.
Quase se esquecera que estava irritado com a vinha negra quando decidiu começar a fazer as perguntas que ouvia no fundo da mente e praticamente entrou em um debate sendo o intermediário dos dois.
Eles só foram dormir porque Long veio dar bronca sobre "lordes poderosos, mas que ainda tinham necessidades biológicas".
- Porque ele não foi dormir? - perguntou Harry a Lala.
- Long tentou forçá-lo, mas o Lorde anda muito agitado. Preocupado com o jovem mestre, imagino. Ele está na segunda biblioteca.
Segunda.
A mansão tinha duas e havia uma terceira no subterrâneo, pois mesmo com todos os avanços de Gellert, a magia de restauração da mansão tinha um limite de itens mágicos que conseguia copiar, então o laboratório de magia experimental, vários livros, itens e quadros encantados ficavam bem longe da área que ela abrangia, embaixo da terra, para não machucar ninguém com acidentes também.
"E para nada do que fizermos lá seja rastreado por qualquer Ministério, se quer saber" comentou Lakroff com um sorriso misterioso.
Cada biblioteca tinha um número. A segunda era a maior, pois era a que possuía mais livros. Era nela que muitos objetos não mágicos, mas relíquias históricas em geral, ficavam.
Como uma coroa, que podia ou não, pertencer a um Czar Russo para o qual os Mitrica já trabalharam e, até mesmo, alguns papiros egípcios em redomas de vidro.
- Vou lá - disse o menino após ponderar um pouco.
Também se sentia agitado, então que mal faria? Podiam voltar a conversar. Se levantou, jogou um roupão por cima das faixas no corpo e foi caminhando até o lugar.
"Você parece muito à vontade com ele e muito rápido. Cuidado" uma voz no fundo da cabeça murmurou receosa.
Harrison não se preocupou com isso. Ele sabia.
Mesmo que várias partes dele gritassem e dissessem que estava tudo bem... Ele não baixaria a guarda.
No último corredor para um dos maiores cômodos da casa (só perdia para o salão de bailes), Harry começou a ouvir um som.
Ele não ouvia muito música, mas reconhecia um piano.
Lakroff tocava uma melodia lenta e meio melancólica, estava tão distraído que mesmo os olhos em sua cabeça não pareceram avisar da chegada do garoto de cicatriz de raio, ou ele simplesmente não se importou, continuou dedilhando tecla após tecla e em certo ponto Harry sentiu seus pelos se arrepiarem.
A sua frente viu sua mãe.
Ele sabia que era apenas uma memória, estava se lembrando de algo, mas estava tão nítido que parecia que podia estender a mão e encostá-la, então ele tentou.
Era mesmo uma memória, pois de repente o momento ficou mais claro, sua mãe estava sentada no piano:
"Queria saber tocar..." ela murmurou encostando em algumas teclas.
"Eu sei" disse James, que segurava Harry. Ele estava no colo do pai.
"Como é? Você sabe?!"
"Olha o tom de surpresa aí" murmurou se fingindo ofendido "O que foi? Eu sou um perfeito lorde inglês, obviamente saberia tocar algum instrumento" acrescentou cheio de pompa e levantando o filho na direção do rosto "O que você acha Harrison? Agora sua mãe é uma Lady Potter e Lady mestra da casa Mitrica, temos que ensiná-la a tocar algo. Prendá-la um pouco?".
"Você está sendo um presunçoso" resmungou Lily, apesar do sorriso que dava para o marido e o filho, que ria.
"Mas estou falando a verdade. Quer que eu toque uma música para vocês?"
"Não, temos que ir. Pedro já vai nos encontrar para colocarmos o Fidélius. Só queria me despedir dos elfos antes que se esquecem demais de nós"
Harry começou a chorar, James fez um esforço para tentar acalmá-lo, mas após não conseguir, Lily o retirou do colo do marido.
O bebezinho se distraiu um pouco com a visão dos lindos olhos de sol da mãe. Depois com como o cabelo dela brilhava, então voltou a encarar o pai tentando focar na conversa.
Não conseguiu.
Ficou olhando para a coroa.
Uma espécie de coroa de ossos e galhos enfeitava a cabeça de James.
Futuramente Hazz entenderia que eram galhadas, mas numa forma única. Elas cresciam para cima, e para os lados, eram como raízes de uma árvore branca, ou ossos mesmo, mas da base da cabeça até começarem a se curvar em todas as direções eram totalmente ouro e haviam raízes, folhas e cogumelos de ouro muito detalhadas por todo lado.
De toda forma era uma coroa para Harry.
[N/A: Além da questão do patrono do James, da forma animago dele, existe o fato aqui de que galhadas fazem parte do brasão da Grifinória, para quem nunca viu de perto a capa da edição comemorativa de 20 anos dos livros de Harry Potter, as do primeiro livro de cada casa mostram o brasão completo e com detalhes (eu quase me matei de trabalhar, mas comprei de todas as casas porque amo aqueles brasões). No topo da Grifinória, como a coroa de um leão, está um par de galhadas que terminam em folhas e no centro um sol com um rosto. Tomem suas conclusões da magia do James nisso. Também, um pequeno detalhe: o cervo tem representações para várias culturas coisas diferentes, mas está ligado à superioridade espiritual, ao sagrado, é símbolo de regeneração, graça, intuição e poder, mas também velocidade, força selvagem e temor. Uma dualidade boa para aquele que é um Black, um nobre, alguém que se colocava no topo e esbanjava poder, um Potter selvagem, não obedecia a regras, mas que era gentil e tinha sua própria graça. Vocês ainda podem tirar muitas outras conclusões sozinhos disso, quis apenas dar umas dicas...]
"Por que não pedimos para Pedro escrever sobre nós num papel e damos aos elfos como vamos fazer com o velho e os guardas?" James continuou falando com Lilian.
"É diferente, James. A magia deles é diferente. Sem contar que é muito perigoso ficar espalhando por aí sobre nós. É melhor que Pedro realmente só lembre a ordem, já estamos nos arriscando muito com Nurmengard, mesmo que o chefe tenha sido gentil o bastante para separar apenas alguns deles para ficarem de olho em nossas visitas. Confir em nós, com o risco de fuga, estamos na linha da sorte já".
"Se você diz... É uma pena para vocês, vão perder minhas incríveis habilidades em piano" brincou e Lily o olhou com carinho antes de voltar para o instrumento"Nem uma música? Eu toco alguma que você saiba cantar, Harrison também vai gostar".
Mas eles não tiveram tempo, um patrono apareceu um pouco depois para chamá-los e nunca mais estiveram na mansão Mitrica de novo.
A música que Lakroff tocava parou, ele olhou para trás, para Harry no batente das portas duplas.
- O que foi?
- Minha mãe já veio aqui... Eu já vim aqui...
- Esse lugar se tornou dela depois que aceitou o título de Lady Mitrica, do seu pai também, já que ele se tornou o Lorde, mesmo não usando o anel. Os contratos de casamento Potter são assim, tudo que é seu se tornará Potter depois que casar, você abandona tudo em prol de fortalecer os Potter e tornar-se a Lady da casa.
- Você toca bem.
- Obrigada. Meu pai... - e parou, baixando a cabeça e voltando a sentar em frente ao piano.
- Gellert sabia tocar? - perguntou cauteloso, o tema sempre deixava o outro estranho.
- Cinco.
- O que?
- Cinco instrumentos. Gellert detestava a infância, as vozes, as imagens. Tocava música o máximo que podia, para tentar abafar o que passava na cabeça. Quanto mais barulhento, melhor. Não que naquela época tivessem coisas muito barulhentas. Ele adoraria as guitarras elétricas trouxas, mas ele teve... piano, pois fazia muito eco nos salões, violino, ficava do lado do ouvido, violoncelo, era grave o bastante, gaita de fole, trombeta, podia pegar todo seu fôlego e soltar.
- E você?
- Meu pai me ensinou o piano. O resto eu aprendi sozinho, mas também sei alguns outros. Mas Gellert não é meu...
- Não era isso que eu estava me referindo. Você também toca para abafar os sons? O aparelho na cabeça não funciona o bastante?
- Funciona sim. Eu faço isso agora porque gosto. Também me lembro da sua mãe cantando, às vezes...
Harry sentiu uma pontada onde tinha Petúnia o queimou com a frigideira, se lembrou do dia em que quis perguntar sobre a cantoria dela, de como viu semelhanças entre as duas. Talvez Garden cantasse para as filhas?
Eles ficaram alguns segundos em silêncio, como se para dar aquele tempo em homenagem à falecida, então, antes que percebesse a própria atitude, Harry se viu caminhando até o banquinho do piano e se sentando.
- Gostaria de aprender? - perguntou Lakroff e o menino apenas afirmou com a cabeça - Coloque a mão por cima da minha, para sentir como ela deve se movimentar... - começou cauteloso, mostrando sua palma.
-x-x-x-
PRESENTE. UMA MEMÓRIA NA PENSEIRA.
Sirius Black era uma mistura de emoções tão forte que sentia que poderia simplesmente vomitar. A alguns minutos estava feliz, vendo seu afilhado depois de anos tendo alguma alegria, fazendo amigos, imaginando se Mitrica também seria um parente dos Longbottom, pois ficava óbvio que Harrison pensava em ser adotado por eles. Só estava receoso.
Não quereria atrapalhar, não queria sentir que estava forçando algo e também... Sirius não tinha certeza, Harry parecia desconfiado, sempre acerca de todos. Era impressionante que tivesse aceito se aproximar dos trouxas, mas percebeu, enquanto assistia com toda a cautela (seguindo a dica de Neville para prestar atenção a tudo que Harry queria lhe mostrar), que provavelmente era a forma sincera de se comunicar que aquele grupo tinha.
Harrison se sentia mais confortável quando as pessoas queriam algo dele, ele sabia lidar com negociações.
Não com emoções.
Não era à toa que havia aceito se aproximar de Mitrica só depois que ele disse ter uma dívida que queria pagar.
Mas antes de Lakroff aparecer teve a matrona. Não sabia como Harry não viu aquilo chegando. Parecia que o menino entendia as coisas antes delas começarem, mas aquilo...
- Ele baixou a guarda demais - murmurou em voz alta enquanto via Remus pelo canto dos olhos se abaixar e agarrar os próprios braços na segunda sessão de exorcismo que se viram assistindo.
- Eu não quero ver isso - sussurrou o lobisomem parecendo que iria enlouquecer, apertava tanto os braços que poderiam quebrar.
Sirius se aproximou dele e o abraçou, tentando ajudar de alguma forma, mas sabia que seria inútil. Harry estava sendo rasgado pela própria magia tudo porque não queria machucar ninguém, não queria surtar e atacar como tinha feito com os tios.
Porque queria ser bom e não o monstro que diziam.
Remus se identificava mais do que ninguém com aquilo. Ele ainda passava mal do ano tomando a poção Wolfsbane, mesmo que tivesse sido preparada por um porcionista incrível, Snape estava mais preocupado em deixar o lobo fraco que com a saúde de Lupin. Remus se via como um monstro e se machucava todo dia com culpa, raiva, negação, tudo para tentar ser aceito. Ver aquilo era tortura para o loiro, pois pouco diferenciava da própria situação e imaginar...
Sirius sabia que o "amigo" estava se culpando por nunca ter ido verificar o filhote dos amigos.
O próprio Sirius estava quase se forçando a sair da penseira, pois já tinha passado do ponto da raiva para a completa tristeza e agonia. Sim, vomitar parecia uma opção.
Então após várias memórias a mulher apareceu com um galão de algo que arremessou em Harry.
Entenderam que era gasolina na hora. Sirius tinha uma moto, antes. Mesmo sendo bruxos sabiam o que era aquilo.
Lupin gritou e agarrou sua mão. Sirius nunca foi o lado daquela relação que se mantinha firme, nunca foi a âncora, mas quando simplesmente colocaram fogo no seu afilhado ele se forçou a segurar todas as emoções e apenas abraçar Remus que tremia tanto quanto se estivesse em uma convulsão.
Ele se deixou chorar, mas não fez mais que isso, lágrimas silenciosas enquanto tentava dar algum apoio ao outro.
- Isso é tão errado! - chorou o mais alto, agarrando as vestes de Sírius.
Eles poderiam ter quebrado ali mesmo. A ideia de ver como o afilhado foi tratado e as consequências que teve por ser paciente, por aceitar, por... ser um bruxo.
Era a segunda vez que tentavam matá-lo por ser diferente. Não saberiam dizer quantas ele ja havia sido torturado.
Mas então Harry acordou com uma elfa doméstica muito bem vestida que não parava de falar e eles sentiram toda a dor ir se acalmando. Viram que o menino estava com o rosto praticamente todo curado e isso lhes deu esperança, pois se depois de álcool e fogo ter sido jogados nele, não imaginavam como as coisas melhorariam um dia. Sirius chegou a pensar que Harry usava Glamour sem que ninguém notasse, mas uma poção que podia curá-lo tanto? Aquilo era perfeito.
Só tinha uma coisa: era uma poção feita por Gellert Grindelwald, descobrir isso mexeu com ele. Gerou uma sensação estranha, como se beber algo de um lorde das trevas fosse errado, ou fosse te machucar mais que ajudar, só que se estava fazendo efeito... iria ignorar. O próprio filho do homem não parecia nada mal, então talvez houvessem mais coisas boas vindas dele.
Como os elfos, que tratavam Harrison como um príncipe e o faziam se esquecer das cicatrizes. Elfos livres.
Gellert libertou seus elfos. Mesmo agora, eles sempre poderiam escolher ir embora e nada demais lhes aconteceria. Aquilo impressionou Sirius quando estava assistindo a conversa com Mitrica.
Lakroff, por sua vez, fez tudo que poderia para convencer Harry: deu um motivo egoísta e fácil de se lidar. Preciso pagar uma dívida, pronto, Hazz tinha com o que trabalhar. Nada de emoções, um acordo. Voto perpétuo e tudo.
- Ele mudou essa memória - murmurou o lobisomem, que ainda estava agarrando o parceiro desde as memórias ruins.
Em qualquer outra situação Sirius teria ficado feliz com isso, com a proximidade. Vinha tentando ter avanços com o ex namorado a meses, mas Remus parecia sempre afastá-lo por algum motivo. Parecia quando eram adolescentes, mas naquela época descobriu ser pela Licantropia, a insegurança que gerava, Lupin se achando um monstro que não merecia amor. Não tinha ideia do que era agora, mas se esforçaria para descobrir. Ele tinha que descobrir. Amava Remus, queria que fossem namorados de novo. Mas não estava pensando nisso agora, seu foco estava em Harry.
De toda forma, Moony tinha razão. Toda a memória estava confusa. Algumas coisas das quais falavam se tornavam chiados ou de repente eles pulavam de um lado a outro, Sirius percebeu que aquilo estava ali apenas para mostrar Mitrica, não tanto a conversa. Só com aquilo era possível ver como ele era sincero com Harry, como amava os Potters, principalmente Lilian, de um jeito que os marotos ali entendiam bem...
O Black quase pensou na possibilidade de Lakroff ser apaixonado por Lily em certo ponto.
Então a memória parou quando ele disse que precisava sair, girou e o casal de observadores se viu do lado de fora.
Se a outra memória era confusa, essa era vazia.
Tudo estava borrado, Harry estava sentado no chão, mas eles não sabiam onde, ele chorava e Mitrica se aproximava tropeçando em alguma coisa que Sirius e Remus não viam.
Quase nada dava para ser tirado do que estava acontecendo. Padfoot ficou na dúvida de porquê Harry pegou essa memória se fazia tanta questão de esconder até o lugar, mas entendeu quando Mitrica retirou o aparelho da cabeça (o que deu uma agonia tremenda em Sirius e Remus, pois não parava de sangrar e manchar as perfeitas roupas do homem, mas principalmente as agulhas, elas decididamente eram grandes demais para não pegar no cérebro. Usar uma coisas dessas parecia até automutilação).
Com aquele aparelho na mão, pingando vermelho, começou a consolar Harry.
Mostrou que sempre existem pessoas diferentes, que não serão facilmente aceitas pelos bruxos e que podem passar toda a vida se machucando (assim como ele) ou aceitar sua realidade e se unir. Lakroff contou que o futuro do menino seria bom, Sirius e Remus arfaram, surpresos em saber da fuga de Gellert Grindelwald, pois realmente não sabiam e...
De novo veio aquela sensação incômoda. Um lorde das trevas não fugiu porque queria se ver livre, mas para ajudar alguém? Apenas porque uma mulher conversou com ele algumas vezes? Parecia estranho, e foi quando Harry disse:
"Não é porque ela era neta dele?"
E Sirius e Remus simplesmente travaram.
Ficaram em silêncio, colunas eretas, totalmente estáticos ouvindo Harry contando as dicas que Lakroff deixou passar na última conversa. Ouviram sobre Lily tendo reivindicado o anel de Lady Mitrica e Sirius riu de nervoso quando fizeram a piada sobre Garden, o pai de Lilian, e os nomes de flores que ele deu as filhas.
Garden Evans realmente era o nome do pai de Lilian Evans. Ele sabia bem disso, já tinha escutado e consolou a mulher do melhor amigo quando ela chorou um pouco, pensando que o pai não estava presente no casamento dela.
- Lily... é mestiça? - sussurrou Remus incrédulo. - E ela sabia?! Neta de...
Outras partes da conversa estavam borradas, chiadas, eles não ouviram muita coisa sobre Harry, não descobriram nada sobre os dons do menino, nada sobre as visões de Mitrica, Voldemort matando a família, nem sobre a Horcrux ou o ataque que o menino teve, mas souberam tudo de Gellert Grindelwald.
Monstro que fosse, ele tinha lutado por sua família.
Mesmo que uma parte muito maior deles insistisse para ignorar isso, para acreditar que ele tinha qualquer outro motivo para se arriscar e fugir que não, única e simplesmente, garantir que alguém salvaria o bisneto...
Não houve como evitar, a cada coisa que ouviam... Menos o homem parecia maligno.
Foi praticamente impossível terminar certas memórias sem ter uma imagem melhor do ex lorde das trevas.
Remus e Sirius não tinham ideia das leis boas de Gellert, dos avanços em magia, mas viam os livros que eram mostrados a Harry, viram as provas, escutaram as perguntas da criança (enquanto se impressionaram como o menino aprendeu tanto apenas lendo sozinho), souberam pela primeira vez das poções de cura específicas para casos de maus tratos e sobre o aparelho de Mitrica.
De repente, fazia sentido que Grindelwald conseguiu ser elegido como chefe da confederação internacional. Igualmente passou a ser possível que Dumbledore já tivesse sido próximo dele para ter um relacionamento.
Boas ideias, por trás de atitudes horríveis.
Viram como Hazz parecia, mesmo que negasse a si mesmo, muito feliz em ter uma família e não fazia questão de afastar Mitrica mais que o necessário.
Então, viram o Gringotts.
-x-x-x-
"...Se alguém me pergunta qual é meu bicho papão eu não direi, mas é fogo. Tenho mil motivos para isso e faço questão de aprender com muito cuidado magias desse elemento, mas ele parece cercar toda a minha vida.
Todas as minhas cicatrizes de queimadura servem de aviso.
##Riscado Agradeça aos meus tios por elas ##
##Riscado Agradeça aos trouxas ##
##Riscado A maldita matrona ##
Quer uma lista de como o papão pode materializar esse medo?
Óleo quente.
Ferro em brasa.
Arma de fogo.
Gasolina e um isqueiro de fluido.
Uma fogueira para matar bruxo.
É o elemento da minha casa, Haus Feuer (onde tive que ensinar as pessoas a me respeitarem ou seria engolido vivo), é o elemento regeneração (mas tenho partes inteiras do corpo totalmente marcadas que talvez nunca voltarão ao normal), o elemento da vida (mas quase me matou mais de uma vez), iluminação e purificação (por isso a igreja tentava queimar os bruxos, para limpar a alma).
É o elemento do inferno e da destruição.
Dificilmente há um barulho mais perturbador do que de um tiro, dificilmente algo poderia me desequilibrar mais do que a sensação de uma bala atingindo o corpo e nada parece doer mais que uma queimadura duradoura. Não só física, mas psicologicamente.
Nunca acaba totalmente...
Dumbledore, assim como qualquer bruxo, tem sua representação física da magia. Ele é fogo. Não o temo, entretanto. Tenho apenas receio do que ele pode fazer sem notar ou entender as consequências. Ele não parece olhar para elas.
Não olha envolta de verdade. Não vê o todo e como cada passo seu pode deixar chamas duradouras, que se tornaram cinzas.
Se perguntar ao meu professor de magia elemental qual que tenho mais facilidade em usar, você pensará que é uma ironia ou que tudo faz sentido quando souber a resposta?
Quando ouvir as histórias sobre meus ataques e o rastro de chamas verdes que ficam, qual será sua conclusão de tudo isso?
E... o que acontecerá quando eu disser qual minha magia de proteção predileta?"
Diário de Harrison James Mitrica Potter. Anotação de 04/11/1994.
-x-x-x-
Sirius e Remus viram o mundo girar e de repente estavam na frente do caldeirão furado. Long aparentemente tinha levado a dupla Harry e Lakroff, pois se curvou diante deles e perguntou se precisavam de mais alguma coisa, depois que foi negado sumiu. O lorde Mitrica devia ter usado Glamour em si mesmo e no menino, pois estavam com as cores de cabelo trocados, Hazz loiro, o mais velho moreno, este também tinha colocado óculos e parecia ansioso olhando para todos os lados.
Hazz estava muito fofo. Mesmo que fios negros combinassem muito mais consigo, vê-lo roupas de bruxo formais ao invés das camisolas e sorrindo para si mesmo num reflexo aqueceu os corações dos adultos que viam a memória.
- Acha mesmo que estou suficientemente diferente? - perguntou Lakroff ainda ansioso.
- Você podia estar exatamente igual ao que sempre é, e ninguém o reconheceria. Acredite, se eu não reconheci mesmo com tudo que o bruxo que conheço me disse de seu pai, ninguém vai. Ninguém sabe como Grindelwald era antes da queda.
Mas o homem ainda parecia inseguro, como se pudesse ser atacado a qualquer segundo. Sirius se sentiu mal por isso, ele mesmo tinha pensado muitas coisas de Lakroff quando revelou ser um Grindelwald, devia ser horrível viver na sombra das atitudes do pai e lhe dividir o rosto.
- Vamos? - perguntou Harry.
- Vamos - murmurou o outro após uma inspirada funda.
Eles seguiram para dentro do bar e direto para o muro que dava ao beco diagonal. Sirius estava focado no afilhado, então apenas Remus percebeu como cabeças giraram para acompanhar a dupla, totalmente interessados.
- Me diz de novo porque estamos em Londres? - questionou Harry.
- Existem poucos centros comerciais totalmente bruxos no mundo, e aqui é onde estão as propriedades Potter. Seu chefe de contas deve estar nesta filial e precisamos que achem sua chave.
- Minha chave?
- Todo cofre tem uma chave para ser aberta. Deve estar sempre com você ou em um local seguro, com seus elfos, por exemplo. Ela dá acesso a movimentação de todas as suas contas, como o dinheiro e propriedades, por exemplo.
- Onde está a minha?
- Com seu pai antes de tudo, depois o Gringotts tem a responsabilidade de busca-la. Quando um Lorde morre, entrega-se ao herdeiro. Como você é menor de idade, vai para os seus guardiões.
- Meus tios trouxas?
- Eles não têm direito a mexer no cofre bruxo, terão dado a seu guardião magico.
- Dumbledore... - murmurou Harry.
- Dumbledore? Por que acha que é ele?
- Foi ele que convenceu meus tios a me criar, mandou uma carta, foi visita-los uma vez e deixava um aborto me vigiando.
- Foi visitar uma vez? Isso não faz sentido.
- Como assim?
- Bem, essa sociedade é uma merda, nós dois já notamos isso. Dito isso, quando uma criança bruxa fica órfã dos pais é preciso achar os parentes mais próximos. Os bruxos são prioridade, depois, se não houver, trouxas e por fim um orfanato. Isso em casos como o seu, onde a criança é identificada desde bebê. Muitos cujos os pais não são famosos já vão direto para o orfanato. Ninguém se preocupa em fazer algo simples como um teste de sangue.
- Teste de sangue?
- Você fará quando chegarmos ao banco, mostra as informações sobre você. Com um desses, um bem pago, você saberia quantas gerações quisesse de sua árvore genealógica, então seria praticamente impossível não achar um parente vivo. Mas é como eu disse, tem que ser pago e o governo não quer gastar para ajudar uma criança qualquer.
- Isso...
- Eu sei. Gellert mudou isso também na Alemanha. Lá todo mundo pode solicitar um teste de sangue por um bom motivo e será pago pelo Ministério. A questão é que independente de todo o resto, se você viver com trouxas você recebe um guardião mágico, que deve esperar você completar onze anos para te introduzir corretamente na sociedade mágica.
- Esperar até os ONZE ANOS?
- Ridículo, não? Outra coisa que eu queria mudar. Mas é assim com todos os nascidos trouxas e bruxos que vivem fora do mundo mágico. Dumbledore não teria que fazer nada além de verificar sua saúde se achasse necessário, guardar sua chave, garantir que você saberia como gastar adequadamente seu dinheiro e te explicar como funciona a escola depois que você fosse matriculado. Mas ele teria que estar em fácil acesso depois disso, para te esclarecer toda e qualquer dúvida. Se você fosse um bruxo nobre, um Lorde, o que no seu caso é, a coisa muda muito. Torna-se responsabilidade do guardião te ensinar tudo que é necessário para reger seu legado. Dito isso, o recomendado é que ele te veja antes dos onze. A magia deve ser ensinada com a escola, mas os modos, a cultura dos bailes e todo o resto... Não há leis para te impedir de aprender antes e é o melhor mesmo. Nem que seja contratando alguém para dar cada aula de etiqueta, línguas, dança, instrumento, entre outras. O guardião deve saber os passos para te tornar o adulto que seus pais iriam querer e é alguém que se voluntaria para a função, depois é aprovado pelo ministério. Se for nascido trouxa ele só precisa garantir que saiba se adaptar, se for bruxo ele tem que te fazer um lorde.
- Não é alguém que meus pais selecionam? Tipo um padrinho? Ou alguém escolhido pelo governo? O guardião só diz que quer ser meu tutor e, se for aprovado, assim será?
- Sim. Acredite, existe um golpe comum entre pessoas para se voluntariar para o máximo de crianças e sempre tirar um pouco a mais de dinheiro em seus cofres do que precisaria, para si mesmo. Por isso você tem que fazer relatórios de cada retirada hoje em dia, mas não adianta muito. O golpista pode simplesmente colocar no relatório que comprou um bolo de aniversário para a criança, na nota alega que comprou o mais caro da loja, sendo que havia sido o mais barato. Isso ainda é uma das formas mais difíceis, tem outras mais fáceis que falsificar uma nota. O guardião não pode te impedir de fazer uma retirada, então se ele te mandar dar as moedas depois que retirar e gastar sem que você veja...
- Ainda mais que crianças assim não sabem bem o valor do dinheiro bruxo - murmurou Harry.
- Exato. Mas bruxos nobres como você são menos comuns a cair nesse golpe, afinal existe a cobrança para que seja ensinado a ser lorde. Se o guardião negligencias isso, depois que crescer e tiver que assumir suas responsabilidades, seus anéis e cadeiras de votos, você poderia denunciá-lo e ele perderia o direito de ser guardião de outro lorde. Os nascidos trouxas dificilmente descobrem que foram enganados ou mesmo conseguem provar. A inépcia de um lorde, entretanto, é fácil de notar.
- Mas ele perderia o direito a ser guardião apenas de outro lorde?
- Sim. Afinal ele teria falhado em te ensinar a ser um, apenas isso. Sistema falido, pode ter certeza disso. Se você fosse uma criança "qualquer" seria até meio impressionante receber uma visita, já é mais do que a maioria dos guardiões faria, apesar de ser o certo na minha opinião. Ninguém devia se manter ignorante por tanto tempo. Agora seu caso é diferente. Política, tradições, tudo, seu guardião deveria atualizá-lo. Eu achei primeiramente, quando você mostrou seus modos, que quem havia ensinado era um guardião, mas descartei a ideia porque não era possível ele te ensinar, mas não ver a tortura que seus tios faziam com você. Ele também não podia deixar que te jogassem num orfanato. Seria responsabilidade dele achar outro parente disponível.
- Tipo você?
- Sim. Ele teria de leva-lo ao Gringotts, pedir para você fazer o teste, afinal só o dono tem direito a ver todas as informações nele e liberar depois aos outros, e então selecionar a melhor opção. Apesar de que, se me vissem, tenho certeza de que seria desconsiderado como opção.
- Realmente não foi um guardião que me ensinou as tradições. Eu nem sabia que tinha um.
- Por isso é estranho que seja Dumbledore. Ele é mestiço, mas está totalmente ligado a política britânica, saberia te ensinar. Pelo que sei Dumbledore... Bem... Pelo que Gellert poderia concluir o homem é meio biruta, mas é boa pessoa.
- Os dois se conheciam?
- Não contei essa história? - perguntou parando de repente e então rindo. - Deixe para uma próxima, você com certeza vai gostar. Enfim, Gellert teve sim algumas conversas com Dumbledore, tentou convencer o homem para seu lado, mas não deu certo. Se ele fosse um guardião, Alvo teria se preocupado em verificar sua saúde, imagino. E teria capacidades para ensiná-lo, ao menos o tanto que achava que os Potters precisariam, de política, sem duvida.
- Eu nem o vi. Dumbledore foi apenas falar com meus tios. Não sei se é verdade, mas não vejo o porquê de eles mentirem sobre isso.
- Como você soube?
- Questionei meus tios. Disseram que Dumbledore tentou convencê-los a continuar comigo e disse algumas merdas.
- Merdas?
- Do tipo que magia podia ser reprimida...
- O QUE?! - o grito que o adulto deu foi tão alto que várias pessoas olharam na direção da dupla pela rua. Lakroff puxou Harry para dentro de uma loja rapidamente, uma livraria, e se escondeu entre várias prateleiras antes de se ajoelhar e continuar: - Como assim?
Harry viu como uma espécie de barreira se levantou entorno deles, Sirius e Remus não, afinal era apenas uma memória.
- O que eu disse. Valter disse que Dumbledore deu a entender que magia podia ser reprimida, mas que causaria consequências. Disse também que magia só aparecia depois que eu fosse mais velho, que meus tios não tinham que se importar. Aparentemente mal deu tempo de eles explicarem que, se fosse assim mesmo, eu era totalmente diferente dos outros. Estava com pressa e nem me olhou.
- Magia sendo reprimida?! Depois de Credence e Ariana aquele filho da puta tem coragem de dizer uma coisa dessas? Eu...
Sirius e Remus viram como toda a loja começou a tremer e como o homem de repente retirou um cantil do paletó e deu uma boa golada, antes de sua magia se estabilizar de novo.
- Lorde Mitrica? - chamou Harry.
Lakroff deu três tapas na boca e murmurou "sem palavrões na presença de crianças" antes de enfim continuar:
- Ele não pode ser tão irresponsável, ele sabe o que acontece, ele sabe do perigo dos trouxas e nem tentou verificar você de verdade? Aquele imbecil, só me faltava ele ter enfiado na cabeça aquelas merdas sobre amor fraternal e não sei mais o que. O idiota não tinha esse maldito amor, achava a irmã um estorvo por mais tempo do que seria aceitável para ser visto apenas como raiva por ter perdido uma oportunidade. O irmão quebrou seu maldito nariz torto. Ele sabe sobre o que aconteceu com meus pais e...
- Do que você está falando?
- Nada! - praticamente chorou. - Depois eu explico - se corrigiu. - Eu achei estranho que ele fosse seu guardião porque achei que se ele tivesse ido te visitar teria tido mais preocupação, mas pelo jeito o homem... Eu acreditei demais na mudança dele.
- Mudança?
- Lembra que disse que Gellert tentou trazê-lo para seu lado?
- Sim.
- Ele praticamente conseguiu. Dumbledore trabalhou com ele por anos - Sirius ouviu Remus arfar, ele mesmo ficou em choque com aquilo. - Não para Gellert, com Gellert. Os dois faziam os planos juntos. Mas Dumbledore mudou um dia, não quis mais aquilo e decidiu que haviam formas mais pacíficas de lidar com os trouxas e os problemas que causavam a nós. Achei que tivesse se tornado alguém decente e... Inferno, aquele cara é uma coisa ridícula de se imaginar, eu não entendo o que se passa em sua cabeça nem com muito esforço! - resmungou tão frustrado que bagunçou os cabelos perfeitamente alinhados.
- Então se Dumbledore fosse meu guardião mágico ele teria que ser denunciado por negligência?
- Bem, sim! É obvio! Outra que mesmo para um nascido trouxa o guardião sempre tem que saber onde o pupilo está. Eu já estava achando estranho tudo isso, como ninguém sabia que você estava em um orfanato, como ninguém viu nada? Mas agora a coisa parece ainda mais confusa. Dumbledore pois alguém para te vigiar?
- Uma mulher idosa, um aborto, como disse. Ela cuidava de mim, as vezes é sempre fazia muitas perguntas.
- Mas nunca denunciou seus tios por nada?
- Imagino que ela não soubesse da maior parte...
- Harrison, você tem apenas dois terços do peso que seria adequado para a idade. Qualquer adulto idiota seria capaz de questionar sua saúde. Sem contar as cicatrizes velhas que achei te tratando e os ossos mal formados.
- Ossos mal formados?
- Fiz um diagnóstico completo em você, é claro.
- Como descobrimos quem é meu guardião com certeza? - questionou o menino.
- Gringotts.
- Vamos lá então. Depois tentamos juntar as peças.
- Você vai me contar o que não estou sabendo para conseguir entender?
- Talvez. Se achar que preciso...
Eles seguiram para fora e na direção do banco enquanto Sirius e Remus se encaravam os seguindo.
- Dumbledore era o guardião de Harry, sabemos disso - disse Sirius.
- Ele nos disse que queria que Harry tivesse uma vida normal, que não era para ele ter contato com o mundo da magia e com sua fama.
- Mas Lakroff tem razão, isso é errado! Mesmo que ele fosse como eu ou James e não se importasse em manter qualquer vinculo político, ele tinha que no mínimo ser apresentado! Pior, o desgraçado não viu nada disso?!
- Sirius! Olhe como chamou o professor...
- Remus, por Merlin! Ele não percebeu Harry por quase um ano inteiro num maldito orfanato! Ele foi total e completamente negligente!
- Dumbledore estava preocupado com os comensais e...
- E não percebeu Harry saindo da casa que devia protegê-lo?
- Eu entendo que parece muito estranho, mas...
- Moony! Mesmo sem os abusos, Dumbledore teria deixado tudo mais difícil para Harry o mantendo assim, tão longe de tudo! Você não o viu na escola, Harrison é um perfeito Lorde! Ele gosta de ser assim, foi uma escolha! Mas ele foi deixado no escuro contra sua vontade por anos, sendo que podia ter sido ensinado! Aprender essas coisas desde cedo faz toda a diferença! Teve que se virar com os livros dos Longbottons e os que encomendava por Abgail, quando eles a emprestavam no começo. Entende como teria feito falta sem o Lorde Mitrica? O quanto o deixaria frustrado descobrir tudo aos onze anos apenas? Dumbledore negligenciou tudo!
- James nunca se importou com nada disso, você sofreu com cada aula, talvez ele tenha achado que não importava...
- Dumbledore tinha que ter verificado Harry! Ele podia ter impedido! - interrompeu Sirius irritado. - Que merda justifica isso?!
- Como ele poderia imaginar?
- Ah, não! Não me venha com essa! Você ouviu Lakroff! Nós sabemos o quanto Dumbledore conhecia Gellert, sabemos agora os objetivos do homem, sabemos como Lilian e James quiseram ouvir essas coisas. Você acha que ele não sabia o perigo de deixar crianças bruxas com trouxas? E mesmo assim não se deu ao trabalho de uma mísera olhada?!
- Ele verificou os tios, eles devem ter fingido bem que... - tentou o mais alto.
Sirius entendia seu Moony, entendia mesmo. Para o lobisomem, que não seria nada sem a ajuda do diretor na infância, tudo que lhe restava era defender o homem que o salvou de uma mediocridade sem tamanho.
Mas havia defesa? Ter sido bom para Remus fazia possível perdoar a falha gigante com Harry?
E o pior foi que... lá no fundo ele questionou se Dumbledore tinha sido bom mesmo com Remus. Seu moony, que ainda comia chocolate mesmo sabendo que era tóxico e era deixado para sofrer em uma sala fechada durante noites inteiras, todos os meses, sem qualquer apoio antes dos marotos.
- Remus, por amor de Merlin, Morgana e Circe, pense... Alvos negligenciou os deveres de Guardião, temos que aceitar isso. Sem contar o que Harrison disse: impediu até o ministério de se aproximar demais, dificultou tudo, causou tudo, mesmo que sem querer. Olhe a merda que isso deu! Ele deve desculpas a Harrison tanto quanto nós devíamos!
- Isso eu não nego. Mas talvez ele tivesse seus motivos, assim como nós tivemos.
Mas Sirius estava irritado demais agora para tentar ver o ponto de Dumbledore.
No banco, assim que se aproximaram das portas já haviam dois guardas na entrada. Sirius e Remus ainda estavam tensos, mas então aconteceu algo que os distraiu totalmente. Para a surpresa de todos ali, Harry parou, olhou para os goblins armados e se curvou.
- Bom dia - disse para cada antes de continuar seu caminho.
Os seres arregalaram tanto seus olhos que parecia que podiam sair, Lakroff sorriu para Harrison.
- Acho que nenhum bruxo nunca os cumprimentou assim.
- Por que não? Eles estão trabalhando e eu lhes desejei um bom dia.
- Talvez eu devesse fazer o mesmo - comentou humorado olhando para as expressões dos goblins que os encaravam ainda e dando um aceno cortes de volta.
Seguiram pelo lugar e viram a expressão maravilhada de Harry ao prédio em seu interior, então pararam em frente a um dos caixas. Lakroff tinha uma bengala com ele, a qual usou para bater no balcão chamando a atenção do Goblin em questão.
- Bom dia, senhor - cumprimentou com um sorriso, já recebendo olhares indignados e confusos de todos envolta, sejam seres ou bruxos. - Vim encomendar um teste de sangue para esse garotinho. Queremos alguém discreto e responsável, vamos pagar bem - e colocou a mão no balcão, mostrando seu anel de Lorde.
O goblin arregalou os olhos e se curvou.
- Como desejar, Lorde M. Alguém discreto.
Lakroff acenou com a cabeça satisfeito:
- Você servirá, se estiver disponível. Uma sala privada e o teste, sim?
- Imediatamente, milorde - concordou o pequeno ser, saindo de trás do balcão.
- Seu nome? - perguntou Harry quando este se aproximou e Lakroff conseguiu conter sua surpresa.
O goblin e os dois adultos que assistiam a memória, não.
- Como?
- Sua alcunha, senhor - repetiu Harrison. - Eu poderia saber?
- Ragnar.
- É um prazer, senhor Ragnar. - E fez uma leve reverência. Aquilo tirou até um gritinho de uma bruxa próxima e um arfar de vários goblins. - Gostaria também de solicitar a presença do meu gerente de contas, mas poderá chama-lo apenas depois que terminar o teste e comprovar minha identidade. Se meu tutor, o lorde aqui, aprovar o senhor Ragnar, desejo que transfira as responsabilidades como meu gerente para as suas. Claro que se assim aceitar. Passarei a resolver minhas questões com o senhor.
- Seria uma honra jovem herdeiro. Me acompanhem - e indicou um caminho para a dupla estranha de bruxos que tinham praticamente todos os olhos em si.
Seguiram por um longo corredor cheio de portas, que Sirius nem Remus nunca tinham visto, depois por uma escadaria e então uma sala de reuniões grande, com poltronas, uma mesa e janelas altas que mostravam o beco todo.
- Podem se acomodar, buscarei as coisas necessárias para o teste, milordes.
- Agradecemos - Harry disse enquanto ambos acenavam educadamente com a cabeça antes de entrar. Os guardas naquele corredor chegaram a vacilar e quase derrubaram suas armas.
Remus e Sirius não tiveram que esperar muito, Harrison ficou quieto em uma das poltronas todo o tempo, olhos fechados, parecia pensar e Lakroff respeitou isso, mantendo-se igualmente silencioso.
- Senhores - murmurou o Goblin ao entrar novamente, segurando uma caixa. - Sabem como funciona o processo? - perguntou deixando a caixa em uma mesinha de frente para a poltrona que Harry estava.
- Basta fazer um corte com a adaga que o senhor trouxe, pingar algumas gotas na poção então derramar no pergaminho adequado.
- Correto. Em prol da segurança do cliente apenas o senhor... - olhou para a criança.
- Pode me chamar de Harrison.
- Herdeiro Harrison, apenas o senhor poderá ver o que está no pergaminho. Para liberar o acesso dos outros basta dizer em voz alta "Eu, nome completo, permito que este teste e suas informações sejam visíveis a..." depois os nomes de quem permite. Se desejar também pode encerrar com "a todos que assim o pegarem" então qualquer um teria acesso as informações nele.
- Entendo.
- Se alguma informação específica lhe for muito delicada poderá escondê-la também. Apenas ela. Basta que diga, ao fim de tudo, "em segredo mantenho apenas isto que agora toco" e passar a mão por cima do que ficará apenas para o senhor.
O goblin abriu a caixa e Harry viu em sua tampa uma adaga incrustrada de joias, no baú estavam varias poções e rolos de pergaminho.
- Cada poção tem um valor e poderá lhe mostrar uma quantidade de informações - continuou.
- Preciso que mostre apenas até quatro gerações contanto comigo.
[N/A: Para quem não sabe isso daria ele e seus irmãos (se ele tivesse), que são a primeira geração, seus pais e tios, segunda geração, então avós e tios-avôs, terceira geração, por último os bisavôs e seus respectivos irmãos, quarta geração].
- Pois bem, então é este aqui - e retirou um frasco, entregando ao menino e guardando os demais. Deu a adaga e abriu um pergaminho na mesinha. - Quando desejar.
Harry cortou sem qualquer dificuldade sua mão e apertou, deixando que o sangue escorresse para o frasco aberto. O goblin pegou, sacudiu para misturar e a solução azul se tornou roxa. Por fim, ele despejou três gotas no pergaminho que se iluminou todo, apagando em branco alguns segundos depois e começando a se expandir.
O pequeno rolo foi crescendo, caiu para fora da mesa e continuou pelo chão lentamente.
Lakroff riu da expressão do Goblin.
Uma mistura de surpresa e felicidade. A felicidade da ganância, de quem tinha se dado bem em ser aquele que atendeu a dupla. Ter um pergaminho grande indicava propriedades e dinheiro. Grande como aquele indicava que ele teria uma aposentadoria gorda se fosse aprovado para gerente da conta.
O menino de olhos verdes pegou o papel enquanto ele ainda crescia e começou a ler as primeiras informações. Não demorou muito para que arregalasse os olhos e encarasse Lakroff.
O lorde Mitrica apenas sorriu divertido e se sentou na poltrona ao seu lado.
- Alguma coisa interessante? - perguntou com um sorriso estranho.
A curiosidade de Sirius foi as alturas e ele se aproximou mais, mesmo sabendo que não poderia ver o teste.
Nem em memórias essas coisas apareciam se você não fosse autorizado. Inferno de magia Goblin antiga.
Harrison voltou a encarar o papel por longos minutos, analisando tudo, a surpresa a cada segundo mais óbvia na face. Enfim abriu a boca:
- Eu Harry James Potter, permito que este teste e suas informações sejam visíveis a Ragnar e o Lorde... - então se calou e encarou o tio-avô.
- Tanto faz qual usar - disse Lakroff. - Meu nome de batismo ou o que me identifico no momento servem. Apenas tenha certeza de dizer "O lorde batizado como" ou "também conhecido pela alcunha de" se for usar o antigo. Lakroff Mitrica é como me vejo e reconheço diante da sociedade agora, para todos os efeitos é o oficial, então o outro tem que ser identificado mesmo sendo o primeiro que tive.
- Entendi. Eu Harry James Potter, permito que este teste e suas informações sejam visíveis ao Goblin Ragnar, ao Lorde Lakroff Mitrica e - neste momento um chiado alto foi escutado no lugar de sua voz. Sirius e Remus levaram a mão à orelha, já quase desacostumados ao som de uma memória modificada. Seja lá quem fosse a pessoa, Harry tinha liberado mais um para leitura e eles não tiveram autorização para saber quem. A memória deu uma tremida antes de se estabelecer novamente. - Em segredo mantenho apenas isto que agora toco com meu dedo da palma esquerda.
Calmamente o menino passou a mão por linhas invisíveis do pergaminho, que tornavam a se iluminar e apagar ilegíveis. Ele o fez apenas no começo do papel, a parte da linhagem, com certeza, o restante continuou intocado. Seus fundos, por exemplo. Por fim as palavras devem ter aparecido aos outros presentes, pois o próprio Lakroff arregalou os olhos e abriu a boca.
- Não pode... - murmurou incrédulo. - James Potter, sua peste, como não me contou isso?
- O que... - começou Harrison, mas se calou, ficou encarando o papel depois tornou a parecer surpreso. - Ata - murmurou e Lakroff riu, aquela sua gargalhada alta e acolhedora.
- Esses Potters precisam urgente ser estudados. Não é possível que concidentemente tenham casamentos tão vantajosos. Olhe essas coisas todas, eles... - e parou com a frase no ar, negando com a cabeça divertido.
Harrison deu uma última olhada no pergaminho e o estendeu para o goblin.
- Senhor Ragnar, acredito que agora já poderá ter as informações necessárias para chamar meu gerente de contas.
A criatura deu apenas uma olhada antes de quase cair de surpresa em um passo vacilante para trás. Ele encarou Harry e Lakroff pediu licença segurando sua varinha. Quando o menino acenou com a cabeça, ambos perderam os Glamoures por alguns instantes.
- Discrição, senhor Ragnar. Nada deverá sair daqui.
Ragnar se curvou:
- Imediatamente milorde. Lorde Mitrica Potter, trarei seu gente como deseja - então se retirou apressado.
- Eles vão te chamar de Lorde, pois é seu título por direito, mas você não pode assumir a posição entre os bruxos até atingir a maioridade - explicou Lakroff. - Para todos os outros você será apenas o herdeiro.
- Por que ele me chamou de Mitrica também então?
- Sua mãe reivindicou o título antes de mim. Como disse antes, os contratos de casamento dos Potters são muito detalhados. Tudo que era de sua mãe deveria ser dado ao seu pai e ao nome Potter quando ela se tornasse Lady da casa. Seu pai tinha o título de Lorde Mitrica tanto quanto eu, mesmo que sua mãe tivesse pego o anel, não seu pai. Ela o usou, então quando morreram o título se tornou seu. Uma mulher não pode passar títulos de acordo com as leis e seu pai não podia fundir Mitrica a Potter, já que é nome mágico, então o anel retornou ao banco esperando o próximo herdeiro digno. Mesmo assim, como existe o contrato dos Potters assinado por sua mãe, se você quiser pode me tomar o título de Lorde Mitrica no ato. Ambos temos exatamente o mesmo direito a ele. Sem tirar nem por. Eu nascer primeiro não importa, seu pai foi Lorde antes de mim, então os direitos são iguais.
- Entendi.
- Quer me...
- Depois. Dumbledore realmente é meu guardião mágico então... - comentou indicando uma parte do papel.
- Sim, ele é.
- O que vamos fazer agora?
- Ele é muito influente, dificilmente conseguiríamos denunciá-lo. Se eu aparecer para ele, igualmente... Não sei se ele me deixaria chegar perto de você de novo.
- Ele sequer tem o direito de impedir isso?
- Sim, ele tem. Ninguém pode chegar perto de você, se quer saber. Ele implementou uma espécie de norma temporária no ministério que afasta outros bruxos, em prol de te manter "seguro". Foi quase impossível achar seus tios e eu sabia quem procurar. Sabia de Petúnia, coisa que a acho que nenhum outro bruxo que não seja do círculo íntimo de sua mãe saberia. Dumbledore conhece a sociedade e a tem na palma da mão por ser o salvador que prendeu o cruel lorde das trevas e liderou a resistência contra outro. Tem muitos na sua asa e uma imagem impecável que o protege.
- Pensei que você tinha dito que ele era uma boa pessoa.
- Estou ficando na dúvida. O velho enlouqueceu de vez, não é possível. Como ele nunca... - suspirou. - Sinto muito.
- Pelo que?
- Não sei. Estou frustrado, sinto muito por não tê-lo matado? - Harry riu, primeiro uma risadinha tímida e surpresa, depois uma longa risada que virou gargalhada e foi acompanhada do próprio Lakroff. - Seus tios alguma vez falaram que ele pagava para cuidarem de você?
- O que? - questionou Sirius, mesmo sabendo que não era ouvido. Ele e Remus se aproximaram mais dos dois na memória.
- Pelo contrário. Eles sempre diziam que eu era um gasto a mais, que era um estorvo que os atrapalhava. Sete galeões é muito?
- Não é nada, se quer saber...
[N/A: 1 galeão corresponde à 11,34 libras. 1 sicle corresponde à 0,67. 1 nuque corresponde à 0,02. Em reais 1 galeão é 75,98. Existe uma calculadora em um site que torna moeda bruxa em moeda trouxa, seja o real, dólar, euro ou libra. Se eu não esquecer na hora de postas, coloco nos comentários aqui do lado. Mas imaginem assim: o prêmio do torneio tri-bruxo, em reais, é de quase 76 mil reais. Vale arriscar a vida? Pior é que eu arriscava, sou pobre ferrada].
- Aqui diz que foram retiradas para pagar "custos de criação".
- E todas foram feitas já com a taxa de câmbio para Libras trouxas. Mas não faz sentido...
- O que?
- Se ele pagava seus tios com isso é muito pouco para uma pensão de criança. Eu entendo que ele tivesse medo de tirar mais, exatamente pelo dinheiro não ser dele, só que... por que ele mesmo fazia as retiradas? Em dinheiro? É suspeito, quer dizer, assim não dá para rastrear com certeza para onde foi e, se ele realmente estava sendo sincero, teria que visitar todo mês seus tios para entregar a coisa, sendo que poderia pedir para transferirem direto para a conta trouxa. Mesmo que fosse gastar mais dois galeões para isso.
- Mas se ele já achava sete muito...
- Faria sentido que evitasse a taxa. Só que se ele pagava tão pouco... Não! Isso é muito estranho! Quem vive com oitenta libras afinal? Ele tinha direito de tirar muito mais, para te pagar aulas, vestes bruxas adequadas e livros. Isso - e bufou, levando as mãos as têmporas. - Está me dando dor de cabeça. Qual deles está mentindo?
- Eu não sei, mas até faria sentido meus tios mentirem, tão pouco de dinheiro devia só irritá-los mais. Ainda tinham que ver um bruxo todo mês por essa mixaria, para eles devia ser tortura. Odeiam chamar atenção e as vestes bruxas chamam.
- Isso porque você não viu as do Dumbledore... - resmungou.
- E olhe a data, eu tinha quatro quando ele começou.
- O que tem?
Sirius soube a respostas antes dela vir:
- Meu tio ganhou uma promoção nessa época. Mas também foi a que pareceu começar a ter raiva de mim de vez. Talvez tivessem reclamado a Dumbledore e ele concordou em dar essa pensão. Era pouco, então gastaram com eles e me deram cada dia menos coisas, além de me forçarem a trabalhar em casa, o que diminuiu o peso para Petúnia.
- Isso quase não poderia ser considerado uma promoção, não vejo como faria alguma diferença...
Harry poderia responder que não faria para os padrões de vida que Mitirca estava acostumado, mas que oitenta libras eram um valor considerável para famílias tradicionais britânicas, só que parecia uma discussão desnecessária, ele também não entendia tão bem o dinheiro. Nunca teve acesso a ele de qualquer forma. Ao invés disso comentou:
- Faz se você para de comprar comida, roupas ou qualquer coisa para a criança "extra". Deixe-os com os restos. Eles podiam agir como se eu não estivesse lá, como era antes de chegar, e ganhar esses oitenta para o filho.
- Ainda acho estranho, mas entendo seu ponto. Se importaria de me contar melhor essa história depois?
- Com uma condição.
- Qual?
- Me contar como seu pai fugiu de Nurmengard, já que pelo jeito você sabe - comentou mostrando o pergaminho com um sorriso misterioso.
Lakroff riu.
Sirius e Remus se entreolharam.
- É uma boa história, mas vai ficar entre nós. Junto com todo o resto, sim?
- Também quero reivindicar o anel de herdeiro Mitrica e ser rebatizado.
- Como é?! - questionou se levantando surpreso.
Alguém bateu à porta naquele instante.
- Podem entrar - disse Harry e logo dois goblins estavam entre eles.
- Lordes - começou Ragnar. - Este é Wokar, chefe do cofre do jovem herdeiro.
- Senhor Wokar, é um prazer - disse a criança se levantando, todos viram como de repente ele estava com sua postura e falas dignos de nobre bruxo, a face neutra, o olhar... Que mostrava superioridade completa. O respeito que mostrava a Ragnar ou a simpatia que tinha a MItrica sumiram completamente. Tudo nele esbanjava nobreza e seu olhar penetrante fez o Gobrin se sentir receoso. Ele até parecia maior... - Sou Harry James Potter, o senhor é meu gerente.
O Goblin arregalou os olhos, mais uma vez o feitiço de glamour foi derrubado por alguns instantes, apenas para que pudesse ver os cabelos negros Potter/Black e a cicatriz de raio antes de voltarem.
- Lorde Potter - ele murmurou com uma reverência.
- Quero saber, se me oferecer a resposta franca, como permitiram a retirada mensal das minhas contas, sem qualquer autorização da minha parte, com uma justificativa tão banal quanto "custos de criação" sendo estas retiradas de míseros sete galeões mensais? Onde o senhor estava com a cabeça quando assumiu que sete galeões seriam o bastante para a criação de um futuro lorde, herdeiro das casas a que pertenço? - cada palavra estava naquele tom que Sirius viu pouco, mas já o aterrorizava. Parecia a própria promessa de morte. Remus tremeu. - Onde estava com a cabeça para não exigir as notas fiscais e o registro constante de cada gasto com a minha criação?
Sirius não viu, pois estava distraído observando a mudança abrupta no afilhado, mas Remus percebeu o sorriso em Lakroff com a cena, também notou como os goblins estavam tremendo.
- Eu... Eu... Milorde, seu guardião...
- Que não tinha qualquer autorização prévia da casa Potter para assumir tais responsabilidades? Deste que está falando? Não se preocupe, o ministério terá de se revolver comigo em relação a essa atrocidade, ainda mais diante de um parente próximo disponível - e apontou para Lakroff que agora realmente riu alto. - Mas o senhor.... O senhor falhou ainda mais, uma vez que era sua responsabilidade garantir que minhas heranças estivessem claras!
- Milorde, não ficamos sabendo de nenhum parente e...
- Mesmo assim meu pai era o Lorde Mitrica! O senhor, como gerente do cofre Potter, não verificou a árvore que meu pai "de repente" era o líder?! - questionou fazendo aspas com a mão. - Ou isso se deve a sua incompetência em avaliar o contrato de casamento do lorde a que servia? Afinal teria visto, se desse uma simples passada de olho, o que meu pai estava ganhando ao se casar com a neta de Gelelrt Grindelwald e herdeira legítima de tudo que ainda lhe fosse direito! Com certeza não quer que eu acredite que pensou que o contrato não tinha grande importância, por minha mãe ser "nascida trouxa". Afinal, que ideia ridícula seria dos Potter ter o trabalho de fazer um contrato bruxo formal para casar um lorde a alguém que não tinha posses! Acha que os Potters são ridículos, Wokar?
- Claro que não, milorde, eu...
- Então porque encomendaríamos ao banco Gringotts um contrato de casamento para meus pais? Diga-me? E o senhor, o gerente, não deu a devida importância de lê-lo na integra? Ou leu e não se deu ao trabalho de avaliar a família Mitrica antes de aceitar uma decisão ministerial, uma vez que vocês não respondeu aos bruxos totalmente, de uma guardião qualquer e ousar permitir movimentações financeiras em um cofre de número tão antigo que só possuí três dígitos como o dos Potters? Cofre tão antigo, nobre e importante quanto minhas casas! O senhor está dizendo que foi negligente as suas funções de gerente a que ponto?
O Goblin não soube o que responder.
Na verdade parecia até que ele tinha sido atacado ou que pudesse chorar. Sirius nunca viu um daqueles seres tão abalado.
De repente Harrison se virou de costas e tornou a falar, sempre com a mesma calma, sempre com a mesma frieza recheada de crueldade por trás.
Ele estava fazendo isso aos sete anos... Era assustador.
- Senhor Wokar, o senhor recuperará minha chave de forma a não avisar o meu guardião mágico. Invente a desculpa que conseguir, diga que foi remanejado de cargo e que não cuidará mais do cofre Potter, vai recuperar o que me pertence sem que ele saiba que fui eu a pedir e abandonar suas funções para comigo. Todas deverão ser transferidas a Ragnar e o senhor jamais tocará no assunto da minha linhagem sem minha autorização ou irei processá-lo pela sua falha miserável que vem mostrando e exigir o cumprimento da lei goblin. Senhor Ragnar, eu peço a gentileza que aceite cuidar de meus títulos de agora em diante e que me ajude na discrição em relação a todas essas circunstâncias,. As origens de minha mãe devem permanecer sigilosas, por motivos pessoais.
- Como desejar Milorde - respondeu Ragnar muito feliz, apesar de assustado.
Mesmo naquela época, o ser soube que estava diante de um bruxo que ficaria para a história. Não apenas por sobreviver a um ataque. O Potter seria grande. Ele podia ser, só tinha de querer isso.
- Quero que converse com a filial alemã também. Diga que desejo fazer o teste para herdeiro Grindelwald e Mitrica diante dos anéis das casas.
- Harrison... - chamou Lakroff receoso.
- E quero um processo de rebatizado. Tudo para hoje, se possível. Obviamente pagarei por todos os encargos com dois por cento de juros e uma gorjeta... vejamos... Cem galeões por todo o trabalho que estarei acrescentando as suas funções de agora em diante, serão o bastante?
- Sem dúvidas Milorde! Assim será, milorde - concordou quase radiante demais. O sorriso que lhe dava era tão grande que podia ser assustador se não fosse do tipo que Harry gostava:
Fácil.
Era alguém que queria uma coisa: dinheiro. Só precisava ser pago e seria leal.
Que assim fosse.
Ambos os Goblins se despediram e saíram apressados, cada um por seus próprios motivos.
- Harrison, o anel...
- Se eu tiver o anel de herdeiro ninguém vai poder questionar sua legitimidade como meu guardião. Vamos tirar Dumbledore e fazer meus tios assinarem a adoção, mas você tem razão, as pessoas ainda podem reclamar que o filho de Gellert Grindelwald me tenha. Não podemos deixar que ninguém faça o teste de sangue em nós, a melhor e mais rápida forma de resolver tudo é não deixar que as pessoas descubram antes que seja tarde e que não precisem do teste.
- Antes que seja tarde?
- Vou abrir um processo de negligência contra Dumbledore.
- Você não...
- Tarde demais será quando eu tiver provas o bastante para tudo. Eu sei que será difícil derrubá-lo, mas não quero muita coisa. Apenas que não tenha direito a opinar nunca mais na minha vida e nem tenha o direito para ser guardião de ninguém. Não é preciso indenização ou qualquer coisa, só quero que não... Seja negligente assim de novo.
- Harrison, ninguém? Isso é bem...
- Difícil? Eu sei. Mas eu literalmente fui queimado vivo, ele não vai deixar outra criança passar por essas merdas de novo. Sejam quais seus motivos. Se ele alegar que não teve tempo, então vou alegar que ninguém tão ocupado pode ser guardião, se alegar que achava que eu estava bem, vou mostrar que eu estava miserável. Mas preciso de tempo para isso e da sua ajuda. Considere um favor, uma forma de pagar a segunda dívida de vida com minha família. Até lá vou ficar com você, é quem tem mais direitos em cima da minha vida, o governo terá que concordar e os anéis serão nossa prova. De resto ninguém pode descobrir o que...
- Harrison, os anéis de herdeiro não tem DNA, mas os de lorde sim. Se algo que acontece comigo e eu morrer, seus anéis de herdeiro serão transmutados nos de Lorde imediatamente e você...
- Eu já recebi a adoção de sangue enquanto estava na barriga da minha mãe.
- Só uma parte! Mesmo que estejamos falando de magia sua mãe ainda pegou muito da carga!
- Não acho que funcione assim a biologia - comentou divertido.
Lupin se lembrou dos livros de medicina trouxa que a criança lia e decidiu acreditar nele, neste ponto.
- Harrison, entenda. Você não é vidente. A menos que... - e a memória voltou a chiar para os observadores.
Lakroff continuava falando "a menos que seja um arauto da morte, como eu acho que seja, a menos que você consiga ver a morte, como suspeitei que pudesse, você apenas é... diferente"
- Mas o que vai acontecer quando receber toda a carga se for se tornar lorde? - tornaram a ouvir Sirius e Remus. - Você poderia desenvolver para ter esse dom maldito!
- A vidência é dos Grindelwalds e não tem adoção de sangue no anel deles, sequer é um nome mágico, não é? O DNA Mitrica a mais não fará diferença.
- Sim, mas...
- Vai dar tudo certo. Repito: o dom é Grindelwald. Se fosse para eu ter algo, já teria acontecido. Pulou meu avô, pulou minha mãe e a mim. Me tornar lorde ou herdeiro não afetará em nada. Eu serei no máximo mais chacal do que já sou agora.
Lakroff levou as mãos ao rosto:
- Faria fantasmas te odiarem mais, apenas.
- O que? - perguntou o menino rindo.
- Chacais no Egito antigo eram guardiões dos túmulos, das terras sagradas que eram os cemitérios e guiavam as almas para o além. O chacal era a cabeça do deus Anúbis, que era o juiz responsável por dizer se a alma era justa e merecia ser bem recebida no além túmulo ou se, ao contrário, seria devorado. Fantasmas tem a tendência a evitar os Mitricas, afinal eles não quiseram ser levados para o além, para começo de conversa. Na escola, não tinha nenhum fantasma perto de mim na primeira noite, mas nem eles sabiam o porquê disso, então logo começaram a se acostumar. No outro dia já estava tudo normal, mas eu também não era Lorde Mitrica na época. Um admitiu, depois da primeira semana, que tremeu sempre que eu sorria nos primeiros dias e me ver comer era torturante.
- Ele te admitiu isso?
- Bem, sim. Veio aos risos contar a coisa, eu nem tinha percebido qualquer indício, afinal era novo por lá. Mas quer saber de uma?
- O que?
- Nunca mais vi nenhum fantasma desde que me tornei lorde.
- Mesmo?
- Nenhum. É como se nem existissem no mundo - disse rindo.
- Mas os Mitrica têm algum dom?
- Não. Até onde eu sei. A menos que assustar fantasmas seja considerado um.
E ambos riram da ideia.
- Entre falar com cobras, ser metamorfo, vidente, o nosso seria afastar mortos? - questionou o mais novo. - Qual a utilidade? Como faz no samhain?
- A isso é diferente. Muito interessante, se quer saber. São aqueles que já partiram desse plano quem nos visitam no Samhain e se quer saber, somos ótimos em atraí-los. Ter um Mitrica no seu Samhain é sucesso certo. Se souber como comemorar...
- Não acredito... - murmurou Sirius.
- O que? - perguntou Lupin.
- Não vejo os fantasmas do castelo no salão principal desde que Harry e Mitrica chegaram, nem no Halloween eles estiveram - percebeu rindo e pensando que, assim que pudesse, procuraria Nick-quase-sem-cabeça perguntar sua opinião acerca de Harry.
- Espere! - gritou Lakroff, de repente, assustando todos.
- O que foi?
- Você... as coisas que disse. Você...
- Vai terminar alguma dessas frases? Eu não estou entendendo nada.
- Você disse que quer que seus tios assinem os papeis de adoção para mim.
- Sim. O que tem, por que está voltando nisso?
- Você quer que eu te adote?
- Sim... - respondeu receoso com a expressão do outro.
- Por quê? - e Sirius e Remus não perderam a angústia em sua voz.
A dor, a solidão, a completa descrença de que alguém iria querer algo assim.
Não havia uma única pessoa ali que não tivesse um tom parecido em algum momento.
Foi quando o casal teve certeza de que podiam dar sua confiança a Lakroff, pois era mais um quebrado como eles próprios. Alguém com falhas gigantescas em seu coração. Sirius ainda se lembrou de como Lakroff falava bem de si mesmo e percebeu que o homem tinha criado uma fachada perfeita de auto confiança, quando por dentro... não se dava valor algum.
- Eu não confiaria minha segurança a nenhum adulto, mas você tem o voto perpétuo e... - Harrison pareceu hesitar por um momento, encarou a mesinha onde estava o pergaminho, depois colocou a mão em sua cabeça e ficou um tempo quieto, por fim murmurou: - E você é meu avô. Você... fez... - então a memória começou a chiar.
Durante alguns minutos os dois conversaram e Sirius e Remus não puderam ouvir nada do que se tratava, a memória tremia e girava, mas ainda sim puderam ver como a cada coisa que Harry dizia Lakroff ganhava um tom mais avermelhado no rosto e assistiram quando ele começou a chorar, deixando o menino totalmente desnorteado, sem saber como reagir e preferindo apenas ignorar.
Ragnar apareceu depois de um tempo, ofereceu lenços e tudo e então começaram o processo de reconhecimento dos anéis.
Eles estavam guardados em caixas bonitas e ornamentadas. Negro e revestido com detalhes em prata para os Grindelwalds, o anel tinha mesmo símbolo de mariposa com G que havia no anel de Lakroff, só que ainda menor.
Dos Mitricas a caixa era ouro e com várias joias incrustradas, esmeraldas, safiras, rubis, era bem colorida. O anel de herdeiro tinha a cabeça de um chacal com a boca fechada dessa vez, mas ainda de perfil, era de ouro branco e sem joeias.
Dos Potter, a caixa era igualmente de ouro e haviam rubis grandes nas laterais, além de uma faixa negra circulando toda a extensão, com duas letras "P" uma por cima da outra, grandes e no centro, revestidas do que pareciam pequenos diamantes. Black e Lupin não esperavam que fosse algo tão pomposo. Em contra partida, o anel era apenas um grosso de ouro, com um círculo achatado onde um P com um único rubi ficava na bola.
Tanto o anel Mitrica quanto Grindelwald e Potter não levaram mais que o tempo de inserir na ponta do dedo para reconhecerem o menino e se ajustarem a ele.
O herdeiro de três casas.
- Lorde Potter, o senhor deseja reivindicar o anel de herdeiro Black?
- Não - respondeu seco e ninguém ali ousou tocar mais no assunto.
Sirius se sentiu mal, sabia que aquele tom era sua culpa, mas ao mesmo tempo percebeu que... Ele tinha conseguido. Agora, no presente, avançou até ali, Harrison estava lhe dando uma chance. Ele agarraria.
Depois disso Ragnar entregou um pergaminho para o rebatizado.
- O que quer colocar aí? - perguntou Lakroff.
- É só escrever seu nome novo e deixar mais uma gota de sangue escorrer que terá uma nova alcunha.
- Ninguém será avisado disso? - perguntou Hazz.
- Não senhor. A maioria dos herdeiros é rebatizado depois de assumir um título antigo, não é nem digno de nota mais.
- Harrison... - começou em voz alta, pensando bem. - James, vou manter.
- Que bom, é uma tradição da família.
- Como assim?
- Manter como seu segundo nome o nome de seu pai. Pelo menos com os herdeiros. Seu pai me contou. Repare nisso quando for ver sua árvore genealógica completa. Você tem James, James tinha Fleamont, Fleamont tinha Henry, Henry tinha Ralston e assim por diante.
- Então meu filho terá que ser, não sei, Snake Harrison Potter?
- Ter apenas três nomes também se tornou um padrão, pelo que vi. Pelo contrato de união da família, o nome Potter engole qualquer um que não seja mágico, mas os herdeiros sempre o mantem como símbolo principal. Você é um Peverell, por exemplo, mas nenhum Lorde Potter reivindicou o título Peverell até onde sei.
Sirius arfou, Remus murmurou um "como é?" indignado.
O Goblin pareceu prestes a pular com aquela notícia.
Aquele era o melhor dia da sua vida.
- Eu deveria reconhecer o nome Peverell? - perguntou Harry.
- Apenas se já tiver escutado o conto dos três irmãos.
- Aquele das relíquias da morte?
- Esse mesmo.
- Gosto muito dele.
Lakroff sorriu:
- Deveria. Já viu o símbolo de Gellert Grindelwald, certo?
- Sim.
- Lembra-se do triângulo com uma pedra e uma varinha bem no centro?
- Sim.
- Aquelas são as relíquias da morte. A capa, a pedra, a varinha.
- Por quê está no seu...
- Piano? Eu coloquei lá. Mas não por causa de todo o resto, apenas porque também gostava do conto. A verdade é que Bildo era um bardo que escreveu cantigas tradicionais da época, uma delas era dos três irmãos Peverell, que tinham feito três artefatos mágicos, cada um o seu, tão poderosos que a própria morte teria reconhecido como rivais de seu poder, então os reivindicados como pertences próprios. Mas a história foi repassada tantas vezes que mudou totalmente para a morte lhes dando os artefatos. O que é valido, eles usaram necromancia para criar aquilo. O que importa é que os Peverell estão na sua linhagem, antes dos Potter.
Harry olhou para seu anel de herdeiro de novo, então para a caixa de que saiu:
- Dois P.
- Como?
- Na caixa. Eu achei que era a letra P espelhada, mas será que...
- Você tem razão. É possível. O casamento com os Perevell transformou os Potter em nobres, deu a eles o começo da riqueza. Seu avô só a multiplicou. Faz sentido que seja uma homenagem a origem do que os fez precisar de um anel de lorde, para começo de conversa - Harry tornou a olhar para o seu anel e sorriu. Lakroff continuou, mais uma vez contando suas histórias. - Os Peverell são necromantes muito importantes para o mundo da magia, alguns dos melhores artesãos de itens mágicos já existentes. Alguns os chamam de "os artesões da morte". A capa da invisibilidade de Ignoto Peverell, o seu descendente e o mais novo dos irmãos, aquele que originou a linhagem da mulher que se tornaria Lady Potter, foi simplesmente a primeira e é, até hoje, a melhor capa já feita da história! A mais forte e resistente, além de...
- Até hoje?
- Ela ainda existe, ainda funciona, entende como isso é incrível?!
- Capas não duram apenas alguns anos antes de se desfazer?
- E a de Ignoto existe desde 1200, sim! Vê a importância dos artesões que fizeram sua família? Seu nome devia ter ficado para a história, mais que o conto. Mas não importa, aqueles que procuram sempre acham a verdade e, mesmo que o nome tenha sumido das músicas dos bardos, todo bruxo de linhagem na Grã-Bretanha reconhece a importância dele. O som dele tem poder.
- Onde está essa capa?
- Seu pai não a soltava facilmente, mas... - então Lakroff bufou, alto e muitíssimo frustrado, mexendo na cabeça.
- O que foi?
- Dumbledore pediu emprestada! Não sei se James recuperou!
- Dumbledore?!
- Eu sei, estou começando a ter nojo desse nome oficialmente. Está me dando ojeriza.
- Ele pediu a capa da invisibilidade do meu pai justo no período em que ele estava fugindo e se escondendo de um assassino?! Quem é o débil que faz isso?!
- Eu não sei... - resmungou Lakroff. - Débil é palavrão? É minha função te corrigir se for? - perguntou choroso.
Sirius olhou para Remus.
- Não me olhe assim! Dumbledore... Tem que ter um bom motivo para isso! - mas nem ele estava acreditando tanto nisso.
- Motivo? Inferno, Remus! Como ele pode pedir a capa para James?
- Poderia nem ter ajudado...
- E daí? Poderia ter, poderia não. A questão é que pedir quando o James estava se escondendo é ridículo, sim! E para que afinal?
- Ele poderia precisar para uma missão da ordem.
- Daí tirar dos Potter uma arma útil dessa?!
- Ele não...
Mas a conversa foi interrompida quando o goglin começou a falar:
- Podemos exigir que ele devolva. Se o título de Peverell for mesmo seu, milorde, e a capa estiver nos registros da família podemos exigi-la sem levantar grandes suspeitas. Apenas diremos que pela troca de gerente de contas tudo que pertence aos Potter deve voltar ao cofre para ser retirado por um herdeiro e apenas ele, como medida de segurança.
- Seria o ideal.
- Querem que eu traga o anel de herdeiro Peverell?
- É possível? Não há ninguém em posse do anel de lorde Peverell atualmente? Nenhuma família que tenha os direitos mais que os Potter? - perguntou Lakroff, então se virou para Harry. - Você vem do irmão mais novo e de uma mulher nessa linhagem, aceitar o anel acima de outro herdeiro "mais digno" geraria problemas políticos com a família em questão e acho que...
- Eu realmente não quero isso agora. Quanto menos atenção chamarmos, melhor. Obrigada pelo aviso.
- Na verdade, senhores, o anel de Lorde Peverell está desaparecido a alguns anos, a última família que o detinha está morta, mas o anel é protegido contra nós. Não podemos trazê-lo ao banco para guardar, temos conosco apenas o de herdeiro, que é quem pode reivindicar e atrair o anel de lorde, se desejar. Mas, além disso, o título de lorde Perevell não é reivindicado a trezentos anos, talvez mais - contou Ragnar.
- Que estranho - murmurou Lakroff. - Por quê?
- Até onde eu sei, a família que o detinha quis fundir o nome Perevell ao deles. Queriam que seu nome fosse maior e mais importante que dos artesões. Entretanto sabemos como isso era impossível devido a toda a situação, por se tratar de um título mágico pincipalmente, eles apenas tornaram o próprio anel Peverell o de lorde da família em questão, deixando mais difícil para um herdeiro que não seja de sua linhagem consegui-lo. Teria que passam em dois testes em um único anel, ter ambos os sangues para reivindicar algum direito. A parte Perevell pode aceita-lo, a outra não. Claro, poderíamos tentar tirar essas proteções, mas levando em conta as circunstancias...
- Que família é essa afinal? - perguntou Harry curioso.
A memória começou a desaparecer, Sirius e Remus não ouviram a resposta do goblin:
- Senhor Potter, já ouviu falar nos Gaunt?
-x-x-x-
Estavam em uma nova memória.
Desta vez, no meio da Londres trouxa, apesar de nenhum ir lá a um tempo, dava para reconhecer fácil. Harry e Lakroff estavam com roupas igualmente trouxas, apesar de muito finas.
Sirius achou que o afilhado parecia muito com seu irmão agora, Régulos e isso lhe doeu o peito. Os olhos de Harrison tinham sido mudados, o cabelo um pouco aumentado, mas principalmente as vestes.
Se Harry gostava de vestes assim amaria visitar o armário de Régulos na Black Manor.
Talvez o seu também. Afinal, além do terno alinhado, tinha correntes nas calças, além de fivelas e usava uma bota grande de couro. Uma mistura dos estilos de Regulus e Sirius de forma que combinavam perfeitamente com ele.
- Não acredito que está mesmo usando essas botas - comentou Lakroff.
- Presente do vovô lorde das trevas - brincou o menino, sorrindo. - Que bom que Lala conseguiu enfeitiça-las para o meu tamanho.
- Eu tinha que ter jogado essas coisas fora - bufou.
- Que bom que não fez.
E ambos entraram num dos prédios.
- Como vamos fazer, exatamente? - perguntou Harry.
- Não sei. Precisamos que Valter Dursley assine os papeis de adoção, assim só terei mais uma proteção contra o ministério. Mas temos que resolver a jura mágica que você pôs neles, afinal se virem a coisa vão me culpar.
- Mas você não fez nada...
- Quem disse que importa? Eu sou "o filho de Gellert Grindelwald" sempre serei culpado. Ou eu te manipulei, ou eu forcei, ou eu usei um império, sem contar que tem marcas da magia do controle mental e principalmente da cruciatos nos seus tios, a culpa sempre será minha e eu, com certeza, os forcei assinar os papeis da sua guarda. Essa é a história, a maçã não cai longe da árvore.
- E minha mãe?
- Ponto fora da curva. Foi criada por Garden, que nada sabia sobre magia, é diferente na cabeça deles. Vamos só garantir que ninguém descubra, é nossa melhor chance. Por isso não queria que você pegasse o nome Mitrica, é complicado demais carregar isso.
- E olha que a maioria nem sabe que está ligado aos Grindelwalds.
- Por isso me recuso a pegar o anel de Lorde G. Não acho nem que você deveria ter pego de herdeiro.
- Eu sou diferente de você.
- Fica obvio, eu sou muito mais bonito.
E Harry riu. Sirius e Remus acharam que foi da brincadeira de Mitrica, mas na verdade foi do comentário da Horcrux, que aos poucos estava voltando a ser ativa:
Um resmungo irritado de: "Você sonha, multe olhos ridículo!".
Enquanto a dupla andava, os observadores Black e Lupin percebiam como todos paravam para olhá-los, mesmo com os traços um pouco diferentes, tanto Lakroff quanto Harry mantinham a boa aparência e isso não passava despercebido. No instante que chegaram à recepção uma mulher toda sorridente veio atendê-los.
- Pois não?
- Viemos ver Valter Dursley - disse Lakroff, um sorriso muito bonito estampando a face, um olhar penetrante para a mulher que corou só de observá-lo. - Será que tão bela senhorita poderia nos ajudar com isso? Infelizmente não marcamos horário... - E Harry viu como as pernas da mulher fraquejaram.
- B-bem... sem h-horário é um pouco... - mas ela parecia ter perdido muito a capacidade de falar, pois ficou encarando o homem como que hipnotizada.
Hazz encarou sua alma com cautela antes de decidir ajudar:
- Papai - disse em voz alta. - Essa moça é muito bonita para você, vai incomodá-la se chegar tão perto.
Lakroff conseguiu segurar o riso, mas a mulher não conseguiu se impedir de corar tanto ao ponto que parecia uma maçã. Ela olhou para Harry, que sorriu e segurou a mão de Lakroff:
- Se ela diz que não pode ajudar seria muita falta de educação continuar insistindo, o senhor me ensinou a não ser mal educado com damas.
- Você tem razão, Harrison. Senhorita... - e se virou para a mulher.
Ela parecia tão atordoada que demorou a entender que aquela era sua deixa para se apresentar:
- Kate.
- Senhorita Kate... - e Harry também teve que se segurar agora, com o tom aveludado pelo qual as palavras saíram dos lábios de Lakroff. Sirius por outro lado soltou um riso alto e desinibido, enquanto Remus tremia com bufos abafados. - Se a senhorita diz não pode nos ajudar, eu terei de me despedir. Foi uma honra - e teve ainda a ousadia de estender a mão para a mulher, que quando aceitou (achando que apenas seria cumprimentada), foi beijada nas costas, enquanto o mais velho olhava diretamente para ela.
Kate os deixou na porta do escritório de Valter alguns minutos depois.
- Eles se dão bem juntos - comentou Remus sorridente.
- Quanto tempo será que passou de uma memória para a outra?
- Não muito, imagino. Mas entendo sua dúvida, parece que eles estão próximos muito rápido.
Então Sirius se lembrou de si mesmo. Como ele amou Fleamont Potter no instante que lhe foi estendido o braço, como se apegou facilmente, como fazia de tudo para ser aceito e depois como ficou feliz quando também era, mesmo com os defeitos.
Talvez Harry, mesmo com tudo, preferisse ter alguém e estivesse facilitando a transição.
Não era o verdadeiro motivo, entretanto, havia muito mais. Mas não haveria como ele saber com apenas aquelas memórias, apesar de que sim, para uma criança, ainda era muito bom ser acolhido.
Gostava principalmente das roupas novas. Nunca teve roupas suas (que se lembrasse) e podia se vestir agora como bem entendia e com as coisas mais caras que achava, porque sim! E isso era divertido.
Quando entraram no escritório de Valter o homem quase chorou e tremeu tanto que Lakroff ficou na dúvida se iria vomitar.
Sirius e Remus assistiram como ambos os Mitricas deram sorrisos idênticos de sadismo satisfeito em ver aquele homem tão desestabilizado.
Não foi preciso muita coisa para o antigo tio concordar em assinar uma papelada que dizia, com todas as letras, que em nome da rainha da Inglaterra e das leis vigentes do país, estava dando a total guarda de seu sobrinho, Harry James Potter, agora batizado Harrison James Mitrica Potter, para Lakroff Mitrica.
Nenhum dos bruxos, entretanto, se preocupou em tirar a magia de Harry nele. O herdeiro Grindelwald apenas acrescentou um ponto de rastreio invisível, que jurava que nem Dumbledore notaria, mas que os avisaria no instante que bruxos se aproximassem dos Dursleys mais uma vez.
Assim estariam prontos.
- Por que não tiramos o voto que fiz com eles? - perguntou enquanto saiam do local.
- Por que foi tão bem feito que eu não teria coragem de fazer. Não ver onde vai dar.
- Como assim?
- Você fez uma magia nova, Harrison. Uma jura de alma! Impondo sua magia a eles e nas suas vidas. Isso aos sete anos!
- Mas não é perigoso deixar como está?
- No pior dos casos eu pego a culpa. Você não quer ver quanto tempo uma coisa totalmente sua e única vai durar? Quão forte pode ser?
E aquilo foi o bastante para Harry.
Notou outra característica herdada da família materna neste dia:
Curiosidade mórbida.
Eles tinham apenas mais um passo: o orfanato.
Já Sirius e Remus nem perceberam como chegaram a um ponto onde saber que o afilhado havia prendido pessoas a magia, contra sua vontade, não parecia errado. Sirius também estava curioso com os resultados. Remus sequer pensou nos trouxas morrendo, depois de tudo que fizeram. Ambos sentiram apenas uma pitada estranha de orgulho no fundo da mente.
Harry podia fazer magia...
-x-x-x-
PRESENTE. O LADO DE FORA DA PENSEIRA.
- E então? - perguntou Mitrica.
- Mostrei o orfanato, acrescentei outras coisas, os primeiros dias na mansão...
- Os primeiros? Seu ataque?
- Não tive coragem de mostrar tudo isso, para ser sincero. O que aconteceu no metrô eu pulei e só mostrei o ataque depois de mudar muita coisa na memória.
- Por que não parou quando a matrona tentou te matar, então?
- Por que eles iam enlouquecer e explodir.
- Pensei que você quisesse ver isso acontecer - comentou com um risinho.
- Eu quero. Mas não aqui.
- Já está pensando em utilidades para seus padrinhos e não quer que as pessoas saibam das capacidades deles, só você?
- Nem tudo que faço faz parte de um plano maior - disse revirando os olhos.
- Claro que não - respondeu com um sorriso cheio de sarcasmo.
"Claro que não" comentou Tom, exatamente ao mesmo tempo que o outro.
Harry segurou o impulso de suspirar.
Inferno, ele nunca tinha escutado aquele som tão limpo enquanto estava acordado e não podia ficar se distraindo com isso.
Mas queria. Fazia parecer mais real, como se o mundo não fosse uma ironia sacana e o verdadeiro Tom, o que poderia estar presente e conviver com ele, não fosse um homicida lunático com cara de cobra e que nunca seria...
Bem...
O Tom.
Seu Tom.
Não o merda do Voldemort.
A vinha se remexeu com os pensamentos de Harry e algo raro aconteceu: ele não soube o que estava sentindo. Na maior parte do tempo ambos sempre sabiam o que o outro sentia e pensava, era preciso querer esconder e se proteger com barreiras de oclumência para que fosse o contrário. Que tipo de sentimento a Horcrux estava tendo que achava melhor esconder, Hazz não tinha ideia.
- Sirius me lembrou você, agora pouco... - comentou o menino para o avô.
- Eu?
- Sim.
- Em que sentido?
- Como perdeu a calma em pensar sobre mim, como estava a dois passos de insultar trouxas como se isso fosse uma coisa desprezível por si só, ignorando todos os princípios que tenta manter, quase jogando fora a máscara só porque eu era o foco.
- Máscara?
- Ele é um Black. Dos pés à cabeça, sem tirar ou por. Ele é um metamorfo, ele é um bruxo negro, ele foi selecionado para Grifinória e tinha duas opções: aceitar o fato e se tornar, diga-se de passagem, exatamente como um astuto sonserinos faria, exatamente o tipo de pessoa que a Grifinória gostaria de ver, então subir na hierarquia da casa para se tornar uma força a ser respeitada, ou ele podia lutar contra isso e ser desprezado por dois lados que nunca o aceitariam. No fim, ele já teria problemas em casa só por ter sido selecionado para usar vermelho e passaria só as férias lá, a maior parte do tempo precisava agradar os leões. Achou aliados fortes, construiu sua base e nem por isso teve que abandonar tudo que era, ele ainda mandou um colega, na lua cheia, para encontrar um lobisomem e achou isso engraçado. Sirius é um Black. Você ouviu o que ele falou sobre tia Petúnia, sobre sujar as paredes com os miolos dela. Ele é sádico por natureza, não se importa tanto com as vidas quanto quer que os amigos pensem, queria matar Pedro mais do que provar a inocência, ele parece pronto para ver sangue sempre que tem a oportunidade, mas é um ótimo mentiroso...
- Você disse que ele se parece com qual de nós mesmo?
Harry empurrou o braço do avô e o mais velho riu.
- Quer dizer que ele pode vir para o nosso lado fácil, não é? - perguntou Lakroff.
- Você fala como se houvesse um lado. Estou apenas dizendo que temos coisas em comum. Eu e ele, você e ele, então não custa dar uma chance. Bem... o meu tipo de chance.
- Do tipo que custa a vida dele se ele vacilar?
Harry não respondeu, mas Lakroff viu como seus olhos ficaram vermelhos antes de voltar.
O neto ou a coisa em sua cabeça, nenhum deles era do tipo que confiava sem ter uma faca no seu pescoço primeiro.
- Tem mais uma coisa... - continuou o adolescente.
- O que?
- Queria que eles vissem a parte sobre minha mãe. Mostrei nossa visita ao Gringotts também, como prova.
- OQUE?! - se surpreendeu. - Então eles vão saber que eu menti sobre ser o irmão gêmeo do Garden? Eles vão saber que eu... Espere! Eles vão saber sobre o Garden e sua mãe?! Seus dons?!
- Não vão conseguir ver o teste de sangue, se esqueceu? - explicou calmamente o menino. - E quase todas as nossas conversas comprometedoras estão borradas. Para todos os efeitos, como e quando você nasceu continua a mesma história de sempre, uma réplica ajustada do seu irmão, dois pobres órfãos abandonados, sem memória e com pai homicida. Não mostrei meus dons também.
- Por que queria que eles soubessem sobre sua mãe então?
- Facilita as coisas. Eu sou um Mitrica, sou um Grindelwald, me orgulho disso. Se eles querem ser minha família também, terão de gostar da outra. Também queria que eles vissem você como é, um solteirão solitário que chorou quando eu disse que queria ser adotado por você, como sempre me tratou bem. Sirius parece... bem....
- Te amar?
- Isso - disse quase dispensando a ideia. - Também parecia um pouco com... - Mas não terminou, pois o avô lhe abraçou. - Você é muito emotivo, sabia? - perguntou sem retribuiu o gesto, só que sorrindo um pouco.
- Sabia, sim - disse ainda sem soltar o menino. - E você chamou o Black de Sirius... - comentou com um sorriso sugestivo - Duas vezes.
"Mande essa criatura cheia de olhos aprender o que é espaço pessoal, por favor?" murmurou Tom e Harry riu pois podia sentir que se a Horcrux tivesse olhos agora estaria revirando-os.
O fato de que escutava a voz do companheiro em sua cabeça para aquelas frases tornava a situação ainda mais engraçada do que de costume.
Tom quase sempre "sumia" na presença do Grindelwald mais velho, mal falava, mas quando fazia alguma coisa os sussurros da parte sombria sempre eram insultos para o loiro. Quase como se a Horcrux realmente tentasse influenciar Harry a gostar menos do avô.
Já estava acostumado com o fato de que Tom tinha ciúmes de Mitrica.
"Eu não tenho ciúmes dele!" exclamou o Riddle incrédulo "Pode tirar isso das suas ideias, Harrison! É ridículo!"
Apesar de que nos sonhos podia ver a cara de Tom quando afirmava coisas assim e apreciá-lo tendo um chilique quando o menino insistia, então haviam suas vantagens e desvantagens.
Mas se fechasse os olhos um pouco, podia imaginar os três ali, juntos...
No fim sabia que Tom apenas tinha ganhado antipatia pelo outro pois viviam discordando em questões políticas, como "criar" ou ensinar Harry, mas principalmente por tê-los feito brigar no começo. Ele culpava Mitrica por ter contado tudo antes da hora, não a si mesmo por ter esquecido ou preferido ignorar os problemas óbvios que tinham em sua relação (se é que podiam chamar assim).
Para piorar, Tom não estava presente de verdade. Ele nunca podia discutir com Mitrica se o próprio Harry não levantasse suas questões então ficava frustrado cada dia mais, como se Lakroff estivesse ganhando uma luta sem nem tentar e Tom odiava perder.
O que o próprio Hazz não percebia, entretanto, era a inveja que Tom tinha de Mitrica estar em corpo presente com o menino. Poder sentir seu cheiro, secar qualquer lágrima verdadeira, ensiná-lo a duelar, ajuda-lo a comer seu primeiro sushi ou vê-lo (ao invés de só imaginar) quando sorria olhando para uma paisagem nova em uma de suas viagens pelo mundo.
Ele tinha inveja de simplesmente...
Não ser só o bicho de estimação no fundo da cabeça.
- Posso saber do que estão conversando? - perguntou Mitrica diante do silêncio do neto.
"Não conhece espaço pessoal nem privacidade..." reclamou Tom irritado. "Velho".
"E eu não sei o que é privacidade desde que outra pessoa vive na minha cabeça, mas não reclamei disso ainda" respondeu Harry fazendo Tom bufar.
- Nada de mais, estamos pensando. Tom disse que as famílias negras estão decaindo. Quanto mais sombria for a linhagem, mais melosos são os herdeiros?
Lakroff riu.
- Talvez nós degenerados, as vergonhas do sangue. Os outros ainda são uns babacas - bufou, claramente se lembrando de seu pai.
As exigências malucas, o descaso sempre que errava, o julgamento por não ter visões úteis...
Inferno, detestava o homem.
- Enfim... - começou Lakroff decidido a ignorar o passado, não era mais a mesma pessoa. Agora era Lakroff Mitrica, tinha que esquecer o resto. - Então você deu as memórias exatas para que confiem mais facilmente em mim, por ter protegido o afilhado querido, por ser parente de Lilian Potter e tudo o mais, assim posso conseguir tirar coisas deles para você e ajudá-lo a dar aquele empurrãozinho para o nosso lado?
- Eu não disse nada disso. Você que está criando histórias onde não tem...
- Certo, vou fingir que acredito e você continua fingindo que não pensou em como tirar vantagem de toda a situação. Mas lembre-se Harrison, eu te conheço - e não olhou para o neto, não com os olhos normais, mas todos os outros em sua cabeça o encararam ao mesmo tempo. - Te conheço muito bem. Então não precisa dizer o que você quer, eu farei mesmo assim. Eu saberei.
Hazz pegou seus óculos e devolveu ao rosto.
Mitrica voltou a ser apenas um homem idoso conservado, bonito e com apenas dois olhos da cor azul.
- Eles também vão ver sobre Dumbledore.
- Então é isso! - comentou sorrindo. - Você já quer tirá-los debaixo das asas da fênix! Entendo... Faz muito sentido se não queremos tê-los como inimigos.
- Você está falando de novo como se isso fosse uma guerra e tivessem lados.
- Há lados. Mais de um, você aceitado ou não. As pessoas têm a tendência a se dividirem nessa sociedade de merda, mas o que estou querendo dizer é que essa forma de agir, será que isso te mostrou que talvez o lorde Black tenha uma chance real de te apoiar sem que você precise manipulá-lo aos poucos? Mas sim, apenas esperar que ele virá? Dar as informações certas, eu quero dizer, e deixar que ele as absorva?
- Talvez...
- Você gostaria disso? Saber que ele te escolheu acima do que pensava antes?
- Só quero mostrar a ele que ser sincero consigo mesmo pode não ser tão ruim quanto parece pensar e que, talvez, Sirius tenha confiado em mais de uma pessoa errada...
- O que você viu na magia dele?
- O que você viu no futuro dele? Está sem o arco...
Mitrica encarou Hazz sério e meio irritadiço, o menino com um sorriso travesso.
- Eu controlo a minha curiosidade e você a sua - comentou o mais novo aumentando a expressão sacana.
- É uma troca injusta - comentou o mais velho negando com a cabeça.
- Um dom único por outro.
- Vamos concordar em falar disso depois, pode ser?
- Como quiser.
- Então você diminuirá a confiança dele nos outros, aumentou em mim, falta apenas que eu mostre os fatos e termine de empurrá-lo na nossa direção. Como quiser, sua alteza! - disse com uma reverência. Harry bufou, mas não disse mais nada. - E sobre o outro? O que quer do Lobo?
- Você poderia parar com essa piada?
Mitrica apenas sorriu. Ele pararia, afinal era como tinha dito. No fim ele sempre descobriria o próximo passo.
Sirius e Remus levaram mais dez minutos para retornar, Harry tinha se forçado a lhes dar muitos detalhes.
Principalmente dos exorcismos.
E disso não tirou ou modificou nada.
Ele precisava que os adultos vissem o perigo que era manter crianças bruxas com trouxas, se existiam mesmo lados nesse mundo, o dele era aquele que impediria coisas assim. Por mais que isso o colocasse junto dos lordes das trevas.
Ignorou esse fato.
Focou nos homens, desceu os óculos da face apenas o bastante para ver algum detalhe.
Lupin saiu triste.
Essa era a verdade, por mais que Hazz tivesse sentido Remus se segurando um tempo atrás, agora no fim das memórias, ele parecia apenas muito triste. Talvez uma leve preocupação o tenha atingido e ele olhou para Sirius antes de deixar que todos os sentimentos ruins o abatessem e ele simplesmente sentasse no chão derrotado. O lobo tentava farejar Harry, mas não parecia nada além de preocupado com um "filhote de seu bando".
Muita coisa se passava na cabeça do adulto, mas depois de um longo silêncio tudo que eles ouviram foi Sirius.
Ele andou até Lakroff, parou na sua frente e sem aviso algum lhe deu um abraço.
Harry chegou a dar um passo para trás, se afastando daquilo antes que ele fosse o próximo e isso fez o tio-avô rir.
- Lorde Black? - chamou Mitrica, dando tapinhas divertidos nas costas do outro.
- Obrigada - disse Sirius, dando um fungo longo no ombro do mais velho. - Por tudo.
- Eu já disse algo assim, mas repito se necessário, fiz com prazer e faria milhões de vezes de novo.
- Você... - começou Sirius, mas não soube como explicar.
As coisas que aquele homem tinha feito por Harry, como ele deu, sem um instante de hesitação cada gota de esforço para ver o menino bem e feliz...
Sirius se lembrou de Lilian, até do cheiro dela, Mitrica cheirava um pouco a Rosas também, só que misturado a baunilha e... laranjas, talvez? Era doce e diferente.
- Lorde Black - chamou Mitrica.
- Pode me chamar de Sirius.
- Obrigada, pode me chamar de Lakroff também. Dito isso, será que você e o senhor Lupin poderiam aceitar conversar um pouco a sós comigo?
Sirius se soltou do abraço e deu um passo para trás, afirmando com a cabeça.
- Se tudo bem para o Harrison.
Lakroff também tinha que parabenizar o senhor Black, achava que era um homem muito menos racional do que estava vendo, até mesmo estava se lembrando em chamar Hazz de Harrison ao máximo, por perceber que o menino preferia assim. A maioria teria errado com mais frequencia que ele.
- Ótimo. Harrison, tem algo a acrescentar?
- Eu sou um Mitrica - disse de repente, o que chamou a atenção de todos. - Eu sempre fui, mas também escolhi ser. Sou um Grindelwald, por mais que todos me olhariam estranho por isso, vocês viram que... nem tudo é como parece. Eu vou continuar sendo quem eu sou e se gostarem do que viram, então poderemos estar próximos, se não, sinto em dizer, mas não faço questão de ninguém. Eu tenho minha família, estou feliz com ela e a amo acima de qualquer preconceito idiota a como nós somos. Conseguem entender isso?
- Claro! - disse Sirius.
- Com certeza - murmurou Remus, se levantando, agora que estava mais calmo.
- E sobre a adoção... eu sei que parece estranho eu ter aceito tão rápido confiar em alguém, mas esse é o ponto. Sirius, se você tivesse fugido de Azkaban naquela época e vindo até mim dizendo que era inocente, mesmo com todos os anos presos, mesmo que parecesse louco ou com todas as falhas, eu não pensaria duas vezes em aceitar morar com você. Um completo desconhecido, por assim dizer. Eu só queria alguém que me dissesse que podia ser melhor que tudo que eu tinha passado e Mitrica conhecia e amava meus pais, então eu fui. Não mostrei o Gringotts, ou a mansão ou todo o resto por qualquer outro motivo que não explicar que Lakroff é minha família agora. Ele foi o melhor que tinha a disposição e foi quando mais precisei, então se quiserem ficar próximos de mim, terão de ficar dele. Eu confio no seu julgamento. Ele me disse para lhes dar uma chance, da mesma forma se disser o contrário eu me afasto. Da mesma forma que se o tratarem diferente por ser filho de quem é, ou por pensar um pouco fora da curva normal de vocês, eu não perdoarei.
O mais velho quase riu com aquilo, o manipuladorzinho tinha dito a alguns minutos que não tinha intenções de colocar o avô como o responsável pelo Black e pelo Lupin, mas praticamente jogou os dois adultos na palma de sua mão.
Ainda queria mesmo que acreditasse que não tinha a função de terminar o trabalho de trazê-los consigo? Ensiná-los?
Pois bem, admitindo ou não ele tinha uma missão. Lorde Black seria de Harry e o lobisomem também.
Eles não falaram muito mais antes de Harrison sair do quarto e deixar os adultos sozinhos.
Quando Lakroff terminou de fechar a porta e ter certeza de que todas as barreiras tinham sido levantadas, ele se virou para o casal e foi recebido logo por uma pergunta de Black que o surpreendeu:
- O que aconteceu com as crianças do orfanato?
Aquilo o fez rir.
...
Enquanto isso, Harrison usava um vira-tempo para conseguir uma horcrux.
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Eu ia publicar de manhã, mas quis dar uma última lida no capítulo e não deu tempo antes. Nem agora deu, tive que passar o olho por cima só nas últimas cenas, mas espero que tenham gostado...
Primeiro queria agradecer de novo a todos os votos e comentários. Também por estarem lendo minha humilde historinha que amo escrever <3
Depois quero avisar que semana que vem o capitulo novo não será no começo da semana, mas mais para o meio ou fim.
Vocês não terão mais capítulos no passado, agora é oficial só presente. O que for antigo vão saber só com o Harry contando ou igual aqui, com gente entrando em penseira, mas seria muito rápido e nem vejo uma situação plausível para o Hazz fazer isso tão cedo.
Para aqueles que me seguem no tiktok queria saber: o que acham de um vídeo respondendo perguntas sobre a fanfic? Eu estava pensando em fazer, já que tem leitores que perceberam que sou muito acessível no chat do wattpad e sempre vem me perguntar algo, mas aí só eles descobrem a coisa que imagino que muitos também gostariam de saber. Então, o que acha de ter um vídeo assim? Se concorda é só fazer uma pergunta aqui nos comentários, teorias também, se quiserem que eu comente sobre elas --->
Quem não me segue no tiktok o perfil é misaki.blacklefay (se quiserem seguir).
Obrigada de novo por tudo galera e até a próxima ^.^
UM BEIJO!
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