Capítulo 20 - Lakroff Mitrica e os monstros da família Grindelwald
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ENTÃO.....
Um capítulo de 16.316 palavras para vocês!!!!! (rindo de nervoso)
[O leitor que lê o final antes de ler o resto do capítulo NÃO FAÇA ISSO DESSA VEZ, vai estragar a experiência, to avisando e pedindo]
Vocês estão prontas crianças?!
(Vocês: Estamos Lady Mitrica)
Eu não ouvi direito?
(Estamos lady Mitrica!)
OOOOOOOOOO.....
PS: To desde manhã revisando isso e cada vez que leio acho um novo erro, desisto, preciso dormir, me avisem qualquer coisa.
PSS: Lembrem-se sempre que se estiver gostando da fanfic pode conhecer mais do meu trabalho acessando meu livro publicado na Amazon! Chama-se "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está totalmente gratuito para assinantes do kindle unlimited. Seria muito bom para apioar essa autora nacional independente. O prólogo está disponível para leitura aqui no wattpad nesse mesmo perfil.
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No capítulo anterior...
- Lala, olhe para mim e seja sincera. Por que seu mestre está me ajudando?
- Oras, porque o senhor é Harry Potter!
- Então vocês sabem quem eu sou... - murmurou muito incomodado.
...
- Claro que sim! O grande mestre vem procurando o senhor a um bom tempo, já disse! - comentou a elfa, os olhos brilhando quando falava de seu senhor, com tanta expectativa que tremia. - O filho da mestra Lilian finalmente está na presença de Lala!
- Mestra Lilian? - isso o surpreendeu.
- A incrível, bela, inteligente e forte mestra Lilian! Filho dela e do destemido, poderoso, decidido e confiante mestre James! Lala não podia estar mais feliz de servir aos Potter novamente! Mitrica e Potter! Lala está no céu!
- Mitrica? O que? Eu...
Ele estava ficando muito confuso, mas viu como a outra praticamente brilhou enquanto falava. Segurando ambas as mãos juntas ao corpo, tremendo de emoção explicou:
- Meu mestre é o grande, poderoso, sábio, perfeito em tudo que faz, o Lorde Lakroff Mitrica!
Capítulo 20 – Lakroff Mitrica e os monstros da família Grindelwald
"Harry Potter podia até ser um monstro,
Mas agora ao menos conhecia outro"
Harry levou as mãos à cabeça e inspirou fundo. Juntando os pontos.
Um lorde, aparentemente muito rico considerando que a cama e o quarto em que estava agora pareciam vindos direto de um palácio, o tinha achado depois de aparatar em uma crise de magia acidental numa estação de trem em Moscou, mas o elfo doméstico do lorde (possivelmente Russo) sabia inglês e sabia quem era Harry Potter.
Não só isso, sabia quem eram seus pais e aparentemente já os havia servido.
- Lala, como conhece meus pais? – decidiu que era melhor traçar uma linha de raciocínio, começando pelo que se referia a ele próprio.
- Mestra Lilian achou Lala! – disse a elfa muito animada, ainda muito próxima de Hazz, em cima da cama com ele.
Por um instante o menino imaginou que se ele não estivesse reclamando tanto em se mexer, Lala estaria dando pulinhos.
- Minha mãe te achou?
- Mestra Lilian fez o Mestre Lakroff chamar Lala. Lala vinha cuidando dos negócios da família Mitrica a anos, esperando que um herdeiro digno retornasse, reivindicasse o nome e fizesse de Lala e seus amigos, novamente, os fiéis elfos da antiga, nobre e misticamente poderosa casa dos chacais!
- Casa dos chacais?
- O símbolo de nossa casa, jovem mestre – explicou. – São dois, atualmente. Fundidos como devem ser! O chacal Mitrica e a mariposa daqueles que herdaram o nome, aqueles com G – sussurrou o final, como se contasse um segredo.
- Aqueles com G?! – questionou confuso.
- Um instante – pediu Lala e em um pop suave ela sumiu.
Harry nem teve muito tempo para reagir antes da elfa reaparecer segurando um porta-retratos na mão. Ela ofereceu ao menino que pegou atordoado, mas o que viu lhe tirou a atenção de todo o resto do mundo. Sentiu o coração pesar.
Era uma foto dele. De quando era bebê, mas não havia apenas ele. Se fosse assim nem teria se reconhecido. O que o fez perceber foram os outros na sala. Estava acompanhado de duas pessoas que só via em sonhos borrados.
Num tapete no chão e brincando consigo estava seu pai, James Fleamont Potter, mais ao fundo havia um espelho, no reflexo dava para ver sua mãe, Lilian. Ela quem segurava a câmera e dava um tchauzinho sorridente para si. Todos eram vistos e se moviam em um ciclo.
Um momento eternizado.
Era uma foto grande, muito, uns 30x30. Poderia ser colocada na parede, mas o apoio parecia ser para mesa.
- Como?
- É uma bela foto – murmurou Lala, cheia de afeto, se inclinando ao lado. – Lady Lilian Potter deixou-a no cofre Mitrica. Meu mestre a trouxe para a mansão. Jovem Mestre queria saber sobre como Lala conhecia os Potter! Lala achou que gostaria de ver a foto.
Harry notou que a câmera que sua mãe segurava era uma Polaroide, então a imagem original devia ter sido aumentada, ficou encarando seus pais, o sorriso de sua mãe, a risada muda de seu pai, ele mesmo...
- Seu Lorde. Por que ele...
- Poo, outro dos elfos daqui, já avisou o Lorde Mitrica que o pequeno mestre está acordado. Se o senhor desejar, poderá vê-lo. Ele aguarda nos jardins. Lala também pode trazê-lo aqui.
- Eu... – murmurou, mas se calou.
A poção, sem dúvidas, tinha ajudado, já se sentia bem menos dolorido, mas tudo ainda estava tão confuso.
Não parecia capaz de enfrentar alguém ainda.
Sozinho.
Tom também não estava suficientemente acordado para ajudá-lo.
- Eu prefiro não. Pelo menos, não agora - acrescentou cauteloso. - Acha que ele se importa que eu... aguarde um pouco para nos encontramos?
- De forma alguma, jovem mestre! Ele disse que o senhor poderia preferir assim, por isso não veio vê-lo no instante que acordou, apenas Lala. Quando se sentir pronto, basta dizer a Lala, que Lorde Mitrica o encontrará. Até lá serei sua elfa particular e atenderei a todas as suas necessidades sempre precisar e desejar! – disse empolgada.
- O Lorde Mitrica me ofereceu você como minha elfa particular?
- Sim! Mestre Harrison precisa de toda atenção e Lala foi a felizarda escolhida!
- Harrison?
- Desculpe! – guinchou cobrindo a boca com as mãos. – Lorde Mitrica as vezes se refere ao jovem mestre assim, esqueci que é apenas um apelido! Sinto muito por usá-lo, foi muita ousadia de minha parte. Pode punir Lala como desejar.
Aquilo despertou algum tipo de gatilho em si, a ideia de ser ponido por um erro tão pequeno. Não suportou a ideia:
- Eu não vou puni-la! – apressou-se em dizer. – Eu apenas fiquei surpreso, eu...
Realmente tinha ficado surpreso.
Se lembrava bem do nome Harrison, era o "apelido" que o pai lhe dava, sempre se referindo ao "velho louco" que o homenageara assim. Era uma das poucas coisas boas que se lembrava do passado tão nebuloso.
Ouvir aquele nome gerou uma onda de nostalgia, ainda mais com a foto em suas mãos, então de repente conseguiu ouvir vozes, como se estivessem bem ao seu lado:
"Harrison, Harrison, que menino agitado você é!" ofegou o pai, com as mãos no joelho.
Lilian riu atrás:
"Eu disse que era melhor não dar uma vassoura a ele, a culpa é toda sua e de Sirius".
"Tenho que pegar esse pestinha agora ou vamos nos atrasar para ver o velho!"
"Dê seu jeito, Potter" resmungou a mulher.
"Você é uma Potter agora, Lilian! Caso tenha se esquecido"
"Não se preocupe, eu me lembro desse fato desastroso sempre que acordo durante as noites porque um bebê rolou para cima de mim na cama e não me deixa respirar"
"Mas Harry não dorme conosco..."
"Estou me referindo a você, James!"
Harry fungou.
Muito feliz que ainda se lembrava dos pais, ainda podia ter alguma coisa deles mesmo com todos aqueles anos.
Talvez fosse apenas a falta de qualquer contato com suas recordações, nada além dos comentários vagos dos Longbottons ou insultos dos Dursleys. Esse distanciamento teria o feito perder aos poucos a capacidade de senti-los, ouvi-los, vê-los no fundo da mente.
Mas agora, ele tinha de novo.
Era muito bom!
- Eu gosto de Harrison... – sussurrou.
- Harrison é um nome forte, como o jovem mestre. Lorde Mitrica sempre diz. Mas ele havia nos ordenado a respeitar o nome que Lady Lilian lhe escolheu. Meu mestre também pediu para perguntar se queria beber alguma água. Avisou que talvez comida seja ruim para seu estomago agora e que se estiver sem qualquer apetite é normal, mas deveria beber por questões de saúde.
- Agradeça ao Lorde Mitrica por toda a ajuda que está me dando – pediu um tanto culpado que o homem parecesse atencioso e generoso, oferecendo casa e tratamento, mas Harry estava se recusando a vê-lo.
Um homem que até podia ser o tal velho louco do qual seu pai falava.
Ele só não queria...
Se sentir mais fraco diante de um adulto, um lorde importante o bastante para ter mais de um elfo, sem quase conhecimentos e sem Tom.
- Não há o que agradecer, Lorde Mitrica estava em dívida com os Potters, por livrarem-no do estupor e oferecerem sua simpatia.
- O que?
- É o que o grande mestre sempre diz. Que os Potters o tiraram da escuridão, do isolamento, da própria desistência e o deram vida! Que ofereceram amor e que os amaria para sempre. Ele nos contou isso quando perguntamos porque queria tanto encontra-lo, mestre Harris... Como deseja que eu o chame, jovem mestre?
- Chame-me do que lhe convier. Seu Lorde se considera em dívida com minha família? Por que meus pais o salvaram? De que exatamente?
- Tudo que Lala sabe é isso senhor: "escuridão, estupor, desistência, solidão, depressão". Ele amava os Potters, ficou desolado quando... – e se calou, baixando a cabeça muito triste. Harry a ouviu fungar e percebeu a criaturinha enxugando os olhos grandes e negros. – Lala pede desculpas por tocar em assuntos delicados sem autorização, Lala é uma elfa ruim...
- Não é Lala. Não se preocupe com isso – murmurou se recostando mais nos travesseiros ridiculamente macios e inspirando fundo aquele cheiro enjoativo, mas que aos poucos estava se acostumando. – Então meus pais ajudaram seu Lorde e ele quis retribuir o favor comigo?
- Lorde Mitrica queria ter certeza de que "o filho de Lilian e James estava em boas mãos", nos disse certa vez que se não fosse o caso o tomaria para ele, fosse o que fosse e... – seus olhos, já normalmente esbugalhados, ganharam um tamanho ainda maior com a surpresa, Lala levou as mãos a boca de novo e pulou para fora da cama, andando de um lado para o outro de cabeça baixa, resmungando: - Lala é uma péssima elfa, Lala tinha que ser punida, a família Potter e a família Mitrica são muito piedosos com Lala. Lala falou demais, vai assustar o jovem mestre, tinham que queimar à ferro a língua de Lala.
- Não! – praticamente gritou Harry. Uma pontada (psicológica, com certeza, mas ainda uma pontada) na perna que o atiçador havia marcado o fez ajeitar a coluna.
- Jovem mestre? – perguntou Lala surpresa com a reação do outro.
- Seu mestre lhe dá punições pesadas assim?
- Nunca! – afirmou Lala. – Talvez por isso eu seja uma elfa tão ruim... - murchou.
- Nunca diga tal coisa. Ninguém merece ser tão severamente tratado por errar. Não se aprende assim, só é... machucado. Marcado. Não é aprendizagem, é tortura!
Para sua surpresa Harry de repente estava diante de uma elfa aos prantos, gritando e tremendo muito que não parava de repetir coisas como:
- Ele é mesmo tão incrível quanto a família! O jovem mestre será um grande bruxo! Benevolente, guerreiro, com a beleza, a gentiliza, a inteligência, todos os dons da família. Lala não merece estar diante de tamanha presença, todos são os maiores bruxos que já pisaram na Terra, a família Mitrica e a família Potter deviam ser reverenciadas! Merecem o mundo!
Hazz achou melhor deixar que a pequena criatura se acalmasse antes de voltar a falar, não estava acostumado a ser reverenciado daquela forma, quase o deixou desconfortável, mas depois de tudo, também o deixou estranhamente satisfeito.
Se as vibrações seguissem os mesmos padrões das almas trouxas, também podia saber que Lala estava sendo totalmente sincera em tudo que dizia.
-x-x-x-
Lakroff ainda não tinha se acostumado com o próprio nome, essa era a verdade.
Talvez ele tivesse que ter escolhido algo mais parecido com seu nome de batismo, quando decidiu se rebatizar no Gringotts? Entretanto Lakroff Mitrica parecia o nome mais adequado.
O mesmo nome do último chacal. O último Lorde Mitrica.
O Lakroff original teve como filha Alícia Margarete Mitrica, a Lady Grindelwald após o casamento com Arceus Grindelwald, seu tataravô, a séculos atrás. Era um nome que fazia sentido que queria voltar para "as origens" por assim dizer.
Pareceu adequado quando tomou a decisão e Lilian lhe disse que gostava do nome Lakroff, mas inferno, ainda demorava para responder quando era chamado.
Tentava pensar em si mesmo como Lakroff, não como o nome que o pai lhe dera.
Nem gostava do pai, não devia ser tão difícil se desvencilhar disso.
Mas era.
Quase tanto quanto organizar todas as empresas que tinha em seu nome agora, depois de tantos anos "abandonadas". Empresas trouxas que avançaram com o esforço dos elfos para mantê-las levantadas, com simples cartas e os próprios estudos da economia não-bruxa.
Por mais que tentassem, que esse esforço fosse louvado, os elfos eram apenas...
Aceitáveis.
Não que todos os trouxas que comandavam negócios fossem o exemplo de inteligência, alguns eram realmente estúpidos e só viviam porque pagavam contadores que, por sorte, os roubavam pouco ou nada.
Seus elfos estavam se comparando a essas pessoas.
Só que uma empresa precisa de um rosto. Os contadores precisam de alguém para os aterrorizar para não tirarem vantagem sem sentir que morreriam no processo.
A desculpa que o CEO era um senhor doente não funcionaria por mais uma geração.
Talvez ele pudesse vender tudo e pegar o dinheiro, mas...
Era um desafio.
E Lakroff gostava de vencer desafios.
Como se acostumar com o novo nome maldito.
Na próxima ficaria com o dele, só acrescentaria o sobrenome.
Mas não gostava do pai, quis trocar. Precisava ser menos distraído nas ideias. Pensar em si mesmo assim como estava agora, abandonar o passado. Seus estudos em magia estavam avançando e, sua maior conquista até agora:
Harry estava na sua casa.
Tinha passado três dias em claro do outro lado da porta do menino esperando para ouvir ele se mexer, mas sem que estivesse lá para assustá-lo. Conhecia bem o tipo, não podia avançar diretamente ou o afastaria, Harrison estava obviamente machucado além do que era possível imaginar.
Mas o Mitrica imaginava.
Pior: ele tinha visto acontecer. Em dezenas de bruxos.
Maldito dom estúpido.
Mas não focaria no passado.
Nem na merda do futuro.
Apenas o presente importava. Harrison estava na sua casa, ele tinha todo o conhecimento que acumulou com os anos, pôde salvar a vida do menino mesmo que...
Os malditos trouxas o tivessem queimado vivo, como em uma maldita caça às bruxas!
Um copo estourou, um armário rachou, a mesa afundou um pouco no chão. Lakroff respirou fundo.
Tinha que se acostumar com a própria magia também.
Adoção de sangue era horrível por si só e o sobrenome Mitrica exigia uma certa doze para reaver o nome (uma medida de segurança para que os herdeiros sempre mantivessem os dons únicos ou o carregassem no DNA), mas ele estava sendo afetado por todo o resto ao mesmo tempo que teve que usar muito da sua magia para tirar Harry da estação do metrô, impedir que as pessoas vissem demais, apagar uma ou outra mente.
Encobertar algumas coisas...
Precisava relaxar, sair um pouco da contabilidade. Se preocupar um pouco menos com Harry, afinal o menino já havia melhorado.
Ele estava bem, nada tinha acontecido e já fazia dois dias que estava de pé. Lala informou a Bibi, a elfa chefe (elfa da casa Grindelwald e a mais velha entre todos), que o herdeiro Potter até mesmo tinha conseguido se levantar sozinho no dia anterior para um banho.
Mas o destruiu saber que o menino havia chorado um pouco após se olhar no espelho sem as faixas.
Mandou Lala perguntar se preferia tirar os espelhos todos e o garoto concordou.
Estavam no seu escritório agora, todos rachados após o penúltimo (ou antepenúltimo) acidente de Lakroff de magia acidental.
Um deles não passava de pó branco, quase podia ser confundido com sal.
Se não fossem por todos os esforços do exército de Grindelwald para criar uma pomada de queimaduras...
Ao menos isso ele havia feito direito.
Dedicado homens e homens a evolução mágica de cura, em prol de torturas que eram comuns contra bruxos por trouxas. Tratamento para queimaduras de terceiro grau, poções para recuperação e estabilidade mágica, pomadas de cicatrização, etc.
Claro que, para toda coisa boa, sempre há um porém. As pomadas tiravam muito de você e não podiam ser usadas durante um tratamento de vida ou morte. Feitas a base de veneno de um tipo específico de cobra, também não eram fáceis de fazer. Só pôde tratar o começo de Harry antes de acordar e tinha iniciado no rosto, o ponto fraco da raça humana sem dúvida.
Mas mesmo o pescoço do menino ainda estava em forma de carne distorcida.
Depois de tudo que tinha passado, manter as marcas só dificultaria sua auto confiança e processo de recuperação, Lakroff queria que o elixir de cura não tivesse acabado tão rápido.
Só que precisou para muitas coisas de uma vez e, como um Mitrica, não tinha os recursos que Grindelwald um dia teve para fazer mais.
Nem tinha certeza se adiantariam.
Levou as mãos ao rosto, esfregou, depois despenteou um pouco o cabelo, sentindo sua trança lateral cutucar e repuxar quando movimentou os outros fios.
Bufou.
- Tudo vai dar certo – murmurou. – Eu vou acertar dessa vez...
- Lorde Mitrica? – chamou Long, o elfo masculino mais velho da casa, batendo na porta.
Lakroff os ensinou a sempre bater antes de entrar, a menos que fossem chamados.
- Pode entrar, Long.
O elfo apareceu com um "pup" na sua frente, curvando-se muito. Já havia dito que eles não precisavam se curvar, não quando estavam sozinhos, apenas na presença de outros lordes. Mas do que adiantava? Anos passavam e eles ainda o faziam.
- O que foi? – perguntou voltando para sua papelada.
- O jovem mestre deseja vê-lo.
Todas as janelas se quebraram ao mesmo tempo em um estrondo alto (e considerando que eram enormes, cerca de cinco metros cada, cobrindo do chão ao teto com pé direito alto isso gerou centenas de cacos girando por todos os lados.
Por sorte, Long era um ótimo elfo e com um levantar de dedos todos os cacos se tornaram pó, impedindo que cortassem alguém ou qualquer livro, papelada entre outros.
- Desculpe – murmurou o Lorde Mitrica constrangido com sua própria reação.
- Milorde ainda está em uma situação complicada. Long entende totalmente e jura jamais revelar a ninguém tal momento constrangedor de seu mestre. Depois de tudo as pessoas deviam ovacioná-lo, por ser tão poderoso, inteligente, ardiloso, sagaz...
- Por favor, já entendi – pediu sabendo que o elfo não pararia tão cedo.
- Meu senhor – murmurou em mais uma reverência.
- Ele já quer me ver?
- Sim, meu senhor. Foi o que disse a Lala.
O Mitrica inspirou profundamente e pegou sua varinha da prateleira.
A nova.
Sacudiu e todo o escritório voltou ao normal.
Guardou o objeto de madeira vermelha e cristal de volta na caixa e fechou com delicadeza.
- Talvez seja melhor. Temos muito que resolver, preciso de respostas e ele também. Deve estar receoso de habitar a casa de um desconhecido. Talvez eu devesse... Mas não posso – resmungou em seguida negando com a cabeça. – Ele é muito novo. Mas passou por tanta coisa, eu não queria ter que mentir ou omitir nada dele. Só que...
- Talvez, milorde... – começou Long, ainda curvado. – Seja melhor encontra-lo e começar a conversar. Conhecê-lo. Assim poderá saber a melhor forma de agir.
- Você pode ter razão... – inspirou fundo. – Onde ele quer me encontrar?
- O jovem mestre está no seu quarto, Milorde.
- Meu quarto? – perguntou se virando para a criatura.
- Ele pediu para devolver a foto para o lugar onde pertencia e o senhor sabe como Lala é... bem... como ela entende de forma estranha as ordens. Levou o menino, não apenas a foto.
- Entendo – suspirou. – Estou a caminho.
- Posso leva-lo.
- As barreiras ante aparatação estão desligadas, esqueceu?
Na mansão Mitrica não era possível aparatar normalmente, haviam muitas proteções que impediam qualquer um que não fosse elfo de fazer. Mas o lorde quase albino, desligou todas com a chegada de Harry.
Achou melhor que o menino sentisse que podia sair quando quisesse, se sua magia ficasse com medo no momento que acordasse.
- Quero ficar sozinho com ele, também.
- É para mandar que Lala se retire?
- Pergunte a Harrison primeiro.
- Sim senhor – e sumiu.
Não demorou muito para que o elfo voltasse e informasse que Lala já havia se retirado, então aparatou para a porta de seu próprio quarto e bateu.
- Entre... – ele ouviu a resposta muito baixo.
Ouvir aquela voz o fez ter arrepios por todo o corpo.
Harry estava em casa.
Ele conheceria Harry!
Começou a tremer e teve que tomar uma poção de estabilidade mágica, sabia que não aguentaria de outro jeito. Depois de guardar o cantil de volta no paletó entrou. Sua primeira impressão:
O menino era lindo.
Mesmo que estivesse todo enfaixado do pescoço até os pés, mesmo com um blusão que mais parecia uma camisola, ou avental médico, como sua única roupa, e estivesse com uma expressão de olhos dolorosamente vazios, de quem já tinha passado por coisas demais.
Harry James Potter era a criança mais linda que já teve conhecimento.
Parado ali, em pé, as mãos atrás das costas, a luz do sol entrando por mais um conjunto de janelas ridicularmente grandes (gostava de ter vista para todos os jardins), os cabelos refletindo a luz e ganhando um tão avermelhado de ruivo sangue...
Como podiam haver criaturas nesse mundo vis o suficiente para machucá-lo?
Só de imaginar o coração do mais velho pesou ao ponto de se sentir fraco.
- Lorde Mitrica – cumprimentou o menino com um inclinar de cabeça muito incomum.
Modos tradicionais bruxos.
Como o menino os conhecia?
Ele havia abaixado a cabeça na distância ideal para mostrar respeito, mas manteve olho no olho, que indicava cautela, e inclinou levemente para a esquerda, que dizia na tradição que o Lorde da casa podia ditar as regras da conversa, mas que o convidado não se deixaria ser intimidado. Era um desafio respeitoso bruxo.
- Você não havia sido criado por trouxas? – perguntou Lakroff, mas não em tom de acusação, apenas curioso, fazendo um aceno em resposta.
O dele baixava a cabeça e mostrava ambas as mãos enquanto abria os braços, dizia que o Lorde não estava escondendo nada e estava disposto a conversar pacificamente, que respeitava o outro como igual e confiava nele.
- Conheci um ou dois bruxos – respondeu Harry, a postura perfeita, o tom totalmente neutro.
- E nenhum deles teve a decência de tirá-lo daqueles imundos ri.... – Mas parou de falar, percebendo como seu tom de voz estava aumentando com a raiva, assim como seu descontrole mágico. Envergonhado tornou a baixar a cabeça – Sinto por isso, herdeiro Potter.
- Herdeiro Potter?
- Está usando as tradições bruxas antigas comigo, nada mais justo que lhe dê o mesmo tratamento.
- Entendo...
- Sinto que não tenhamos tido o tempo para nos conhecer adequadamente, imagino que tenha sido desconcertante acordar em um local desconhecido depois de tudo. Espero que Lala, entretanto, tenha lhe deixado suficientemente confortável.
- Ela fez um ótimo trabalho, é uma elfa maravilhosa.
- Soube que ela derrubou a bandeja de comida em sua cama noite passada – comentou sereno.
- Foi um acidente sem qualquer motivo para menção – respondeu descartando a informação com um aceno de mão.
Lakroff sorriu afetuoso.
- Seus pais também defendiam Lala. Ela os amava muito por isso. Eu queria que tivessem aceitado leva-la com eles, como elfa Potter, mas uma criatura mágica atrapalharia seus planos para o esconderijo por questões de conflito de feitiços e tantas outras coisas que não sabiam como resolver, sem que gastassem um tempo que não tinham e... – Fechou os olhos e fez uma careta, muito frustrado consigo mesmo. – Desculpe, eu estava divagando. Tenho essa mania irritante. Peço seu perdão.
- Não me incomodei, Lorde Mitrica. Não há necessidade de pedir desculpas – os dois se encararam por alguns segundos, Mitrica percebeu como algo passou pelos olhos do garoto, uma espécie de jogo de luz que os deixaram avermelhados muito rapidamente, ele mesmo sentiu seus pelos se arrepiarem quando o menino continuou. – Posso perguntar, como conheceu meus pais?
- Pode fazer a pergunta, com certeza, mas não sei se poderei ser sincero na resposta.
A criança deixou que uma única sobrancelha levantada indicasse sua surpresa àquela resposta.
- Interessante, e preferiu me informar ao invés de mentir?
- Correto.
- Para que tanta delicadeza?
- Você é meu convidado, Harry James Potter, e filho da pessoa que, provavelmente e quase sem qualquer dúvida deste fato, me foi a mais querida de todas. Eu percebo, olhando para você e os olhos dessa mulher, aos quais me sinto na obrigação de comentar que você herdou em aspectos muito marcantes, jamais poderia mentir diretamente a você.
- Minha mãe lhe foi a mais querida?
- Eu daria minha vida a ela em uma bandeja se tivesse tido a oportunidade. Não tive, mas dei todo o resto que pude enquanto nos víamos.
Harry, Lakroff não sabia do fato, sentiu parte de suas inseguranças irem embora.
Ele via que até agora não havia uma palavra que sairá da boca daquele homem que não fosse verdade, mas principalmente via como sua alma era reverente sempre que falava de Lilian Potter. Não apenas o tom de voz, absurdamente carinhoso e respeitoso.
"Eu tenho a impressão que já o vi" murmurou sua voz sombria, Tom (com certeza) no fundo de sua cabeça.
"Ele é um Lorde de uma casa antiga".
"Mas não foi nas minhas alianças, eu teria reconhecido o nome. Pergunte a ele se é Russo, deve ser isso".
- Lorde Mitrica, em que país estamos? Me disseram que nos encontramos em Moscou...
- Estamos na Sibéria. Rússia Asiática. - Harry olhou para os jardins pelas janelas, muito verdes e floridos. - Uso magia para manter o clima ameno. Mas sim, longe das barreiras da mansão tudo é gelo e quilômetros do mais completo nada.
- Me trouxe para uma mansão isolada do mundo?
- É a única que tenho – disse com um sorriso.
Agora a criança olhou para o teto, com um pé direito de cerca de oito metros, oval, detalhes em mármore, vários adornos, arabescos e molduras de ouro, além de uma pintura detalhada do céu com uma única grande mariposa (daquelas em que as asas pareciam olhos) no canto.
[N/A: Arabescos, substantivo masculino. Ornamento ou desenho pintado ou esculpido, inspirado na arte muçulmana].
Havia também um enorme lustre de cristais que devia ter três metros de cumprimento, no mínimo.
- A única, você diz? – murmurou ainda reparando em todos os detalhes do local.
Pessoas tão ricas geralmente tinham dezenas de propriedades.
- Todas as outras foram perdidas pelo último lorde da família. Retiradas pelo governo como indenização para pagar por crimes e outras coisas. Restou-me essa, que não estava no sobrenome dele, mas sim no meu.
- Eu vejo...
- Não precisaria de mais que essa, de toda forma. Atende a minhas necessidades mais do que precisaria para toda a vida. Por sorte, sobrou. É quase um prédio histórico. A história dos Mitrica. Apesar de terem feito aquela mariposa ali, todo o resto é dos chacais. É uma pena que os trouxas entrem em tantas guerras... o local pode acabar ser bombardeado a qualquer segundo pela estupidez daquelas pes... Me desculpe.
- Pelo que? – questionou Harry confuso.
- Insultei nossos irmãos não mágicos. Uma mania que estou tentando evitar.
- Ah! Isso.
Harry baixou o olhar, percebendo que sempre se incomodava e brigava com Tom quando ele fazia um comentário do tipo, mas tinha passado totalmente despercebido agora.
- Entretanto... – continuou Lakroff encarando a criança com um olhar avaliativo. – Estou evitando tal coisa em prol de respeitar a memória de sua mãe e para me desassociar a figura do último lorde da família. Ninguém o julgará se fizer o mesmo aqui, herdeiro Potter, ninguém dirá uma palavra sobre isso – murmurou sugestivo.
- Lorde Mitrica, o que exatamente o senhor sabe sobre mim?
- Pouco... Muito... Depende do ponto de vista.
- Poderia me explicar?
Lakroff fiou em silêncio e olhou para as janelas. Para as margaridas, rosas, petúnias, violetas e lírios. O arco íris complexo que tinha formado, passando horas do lado de fora sempre que podia.
- Eu tenho uma maldição na família que nos permite ver coisas, das quais nunca queremos, mas estamos fadados – praticamente sussurrou enquanto se dirigia para as portas francesas de vidro que davam para sua sacada e as abrindo, apenas para sentir ao ar fresco climatizado por magia. – Eu vi algumas coisas sobre você, eventualmente. Por isso sei muito sobre o senhor, mas admito que não o conheço como indivíduo – então tornou a se virar para a criança. – Acima de tudo queria lhe pedir perdão, Harry James Potter, por cada coisa que você tenha passado, me sinto imensamente culpado e gostaria que entendesse meus sentimentos acerca disso.
- Culpado?
- Eu vi... – sua voz saiu cortada, engasgada, seus olhos se encheram de lágrimas mais rápido do que Harry podia imaginar ser possível. – Eu tive visões sobre seu estado de saúde e não fiz o bastante para impedir. Eu me arrependo amargamente do fato e imploro por... para que... Eu não consigo nem pedir desculpas – resmungou frustrado levando as mãos ao rosto e bufando.
- Quando você diz que vê coisas... – começou Harry após um tempo, um tanto incerto.
Mitrica levantou o rosto para olhar a criança e no instante que os azuis se encontraram com os verdes...
Ambos souberam.
Ambos sentiram em cada canto da mente, atingindo, tremendo e arrepiando cada fibra da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Sentiram o reconhecimento.
- Não... – murmurou Mitrica, a voz cheia de dor. – Você também não... – e fechou os olhos, vendo-se miserável. – Por favor, ao menos me diga que não são coisas tão ruins – pediu erguendo a cabeça e por um milésimo de segundo vendo a mariposa Grindelwald pintada.
Malditas mariposas.
Maldita fusão de chacal com mariposa.
Malditos dons!
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"A mariposa, na simbologia mística, representa um processo de transformação proporcionado pela morte. Não se refere apenas a uma morte física, mas à morte de uma situação ou ideia.
A mariposa, assim como uma borboleta, passa por um processo de transformação. Lagarta para ser alado. Porém, ela não se tornou totalmente livre. Mesmo estando fisicamente completa, a mariposa ainda precisa da Luz, não está inteiramente perfeita. É comum ver as mariposas voando em círculos em volta de fontes de luz, especialmente de luzes artificiais. Isso acontece porque elas usam uma técnica de navegação conhecida como "orientação transversal", que utiliza a luz da lua, por exemplo, para conseguir voar em linha reta.
O simbolismo da busca pela luz está ligado ao momento em que o espírito desencarnado se encontra mais evoluído, mas ainda não alcançou a perfeição. Ele ainda não vive em um mundo repleto de luz e se encontra em um local sombrio. Desta forma, busca de forma incansável por um ponto luminoso para se orientar em sua caminhada rumo ao lar verdadeiro.
Em diversas lendas e mitos, na Bósnia, por exemplo, a mariposa é chamada de bruxa, pois acredita-se que as bruxas se transformam em mariposas. Devido a isso, ela passou a ser um símbolo de poderes psíquicos e dos sonhos.
Dito isso, é muita responsabilidade carregar a imagem, como família bruxa, da mariposa. Ela representa a comunidade mágica, mesmo que para os trouxas. Mais importante, é um inseto, normalmente odiado, associado ao mal pressagio, quando é negro é visto como a própria morte, quando branco com a visita do antepassado, a marrom é a desgraça e assim por diante. Cada cor um significado.
Somos o mau, somos a desgraça, somos o que nossas cores mostram, somos mudança e dificilmente somos os aceitos. Giramos em torna da luz até acertá-la e morrermos ao queimar as asas. Ou quando as pessoas nos matam, porque não querem nossa presença. Somos a pessoa apaixonada que, iludida pela força da paixão, não enxerga a verdadeira luz e acaba por ser consumida e morta pela ilusão. Asas queimadas. Sempre morreremos por nossos objetivos.
Somos o amor místico, a estupidez e a frivolidade.
Somos tudo.
E raramente algo bom.
Mas temos enormes olhos nas costas.
Não vemos como as outras pessoas.
Não vemos sua luz, vemos a dos Deuses! Circe, Lady Vida, Lady Magic, Time, Destiny, Morte...
Somos os olhos, somos videntes, somos os bruxos, somos a mudança e símbolo do que queremos e lutamos por. Somos a cor que nos guia.
Amarelo, para prosperidade e sorte.
Azul, amizade.
Voltemos ao negro e vemos a morte! Somos aqueles que tomaram os chacais Mitrica e os tornaram mariposas!
Lutaremos até a morte! Lutaremos contra a morte, se assim precisar. Independente do mundo ao nosso redor! Somos aqueles que perseguirão o objetivo até o fim!
Somos Grindelwald!"
Anotação de Albert Grindelwald, pai de Gellert Grindelwald, no grimório da família.
[N/A: Futuramente vou falar mais sobre o significado do chacal para a família Mitrica, tem MUITA COISA nisso, mas por enquanto achei que ia ficar tempo demais nesse simbolismos e ia incomodar, então quando for importante entra. Sobre as mariposas é isso, os Grindelwald aqui são os videntes, ambiciosos que perseguem objetivos até morrerem, que acham que cada um tem uma cor (no caso personalidade) que guiará suas ações e seus dons. Para os atentos vocês vão ver que isso está ligado a muita coisa que eu já disse e ainda vai aparecer também, mas está bem escondido, então tem que ser MUITO atento em alguns casos, em outros como Sirius ou Luna eu já até falei a intepretação do Harry as cores da magia deles. Beijos].
-x-x-x-
- O que você vê? – perguntou Mitrica voltando-se para Harry.
- Magia – o menino respondeu, vago, mas muito empolgado com a ideia de conhecer alguém que podia ter dons parecidos.
Parecidos, não iguais, afinal ficava claro pela forma que Mitrica se referia aquilo que existiam pessoas que viam coisas diferentes.
- Magia? Como assim?
- Se eu te disser me contará o seu?
- Até te mostraria, se não achasse tão perturbador.
- Você, por exemplo. Você tem o corpo todo preto, mas também roxo, tem... veias de energia roxa que brilham em seus braços, principalmente nas mãos, no peito, no pescoço e na cabeça, você nem parece... real. Parece um boneco de porcelana quebrado, segurado pela energia dessas veias. Segurado por magia. Seu peito... está aberto. Cheio dessa cor roxa, brilhando e aberto, como se faltasse um pedaço de você. E tem um olho bem no meio disso me encarando. Mas tudo bem. Ele não incomoda tanto quanto os outros.
- Outros?
- Vários. Na sua cabeça, eles não piscam e estão espalhados por todo o crâneo, todos iguais, mas por todo lado. Tem uns riscos negros estranhos seguindo você também. Parecem que estão derretendo, saem do seu corpo em... ondas, ou fumaça... Não... É uma gosma meio translúcida. Estão girando por aí. Roxo e olhos. Esse é você para mim. E pedaços faltando – murmurou a última parte olhando para o peito do mais velho.
[N/A: Apenas porque várias pessoas gostaram do vídeo do tiktok onde eu mostrava mais ou menos como o Harry vê as coisas (mais ou menos pq é difícil achar alguém que fez uma arte exatamente igual ao que imaginei), aqui está o Lakroff. Vocês só tem que usar a imaginação para fundir tudo. Para quem não viu o vídeo, ele mostra a aparência dos outros que já foram ditos: Dumbledore, Voldemort, Sirius, Lupin e Luna]
"De um jeito estranho, ele me lembra você, Tom" pensou.
"Com licença? Minha presença era muito mais marcante! Ele só é estranho!"
Mas Harry não tinha certeza disso.
Aqueles olhos todos.
Aquela luz roxa tão forte, quase cegante...
No meio do corpo negro de cabelos branco preenchidos por olhos...
Voldemort deixava a marca dele por onde passava, deixava as vinhas, o veneno. Lorde Mitrica parecia que podia passar por um ambiente sem ser notado.
Mas notaria tudo e todos.
Cada aspecto deles.
- Isso é... – Começou o loiro após alguns segundos em silêncio. – Uma notícia animadora...
- Como?
- Apesar de macabro, você vê magia. Eu diria que é algo bom, se comparado a mim ou... o último Lorde - acrescentou baixo.
- O que você vê?
- Morte. Talvez você seja abençoado por lady magic, eu sou amaldiçoado por Destiny e Morte. Sou um boneco de testes deles ou sei lá. Eu vejo... o pior momento da vida de centenas de pessoas e depois... a morte.
- Você consegue ver minha morte?
- Não. Mas isso é bom. Quer dizer que as entidades que regem nosso mundo ainda não decidiram como você vai morrer. Mas se quer saber Harry, mesmo que eu visse eu mentiria. Sobre isso eu sempre minto. Eu não falo nada para as pessoas, nunca, sobre meu dom.
- E por quê?
- Por que eu vejo o futuro, mas o futuro não tem nada a ver comigo. O que eu faço ou deixo de fazer nunca vai mudar uma decisão daqueles que controlam tudo. Nem por isso as pessoas não me culpam por cada coisa ruim. Seja porque eu disse e aconteceu, porque não conseguiram evitar então não dei detalhes o bastante, porque elas, tentando evitar, fizeram a coisa acontecer, então eu que estou errado por ter dito algo... Se não aconteceu você é mentiroso, não é porque elas tiveram sucesso em algo que eu nunca tive. Ver é horrível. Mas principalmente saber coisas sobre si mesmo, nunca queira isso. Por isso uso isso – comentou apontando para a cabeça. – Mas não sei se você enxerga...
- A coisa estranha de metal do lado esquerdo que você enrola com cabelo? Estou vendo sim. Perfurou vários olhos, eles estão sangrando roxo, é meio agonizante – disse com uma careta.
Mitrica fez um som engasgado que Harry percebeu ser sua tentativa de não rir.
- Desculpe. É que a maioria não vê sabe? É como disse, eu uso a trança para esconder. Você nunca viu as pessoas como os outros veem então?
- Só trouxas. Mas mesmo eles têm diferença, pelo que percebi em... TV! Eu vejo como vocês veem em TVs e fotos, coisas assim. Então eu tenho uma vaga noção de como você deveria ser, se essa é sua preocupação. Seu cabelo é branco?
- Loiro, mas bem claro.
- Seus olhos reais?
- Azuis, ambos.
- Ambos? - questionou, afinal poucos acrescentariam aquela palavra a frase.
- Desculpe, é que... Um ou outro da minha família tem heterocromia.
- Sem querer ofender se for o caso, mas suas mãos...?
- O que têm?
- Você possui alguma deformidade?
- Não.
- Certo. O mesmo nas pernas? Você tem pernas?
- Você não me vê com pernas?
- Estou brincando...
Dessa vez Mitrica riu e Harry percebeu uma coisa estranha...
Era um som familiar. Não que já tivesse escutado a voz de Mitrica, mas o tom, o jeito...
Isso sim, com certeza.
- Você conseguiu reconhecer seus pais na foto então? – perguntou apontando para a foto que já estava de volta a seu lugar.
Na mesa de cabeceira ao lado de sua cama.
Harry olhou com carinho para a imagem, sua postura perfeita e firme de bruxo tradicional sumindo um pouco.
- Eles não eram tão diferentes como você. A maioria não é. São só algumas luzes envolta, algo que sai da pessoa e se molda de acordo com ela. Crianças são apenas luzes brancas como uma lanterna, normalmente. Acredito que seja pela personalidade estar se formando. Mas isso é quando são realmente pequenas, três, quatro anos, antes de fazerem magia acidental. Adultos que têm padrões, mas por isso eu disse que você parece de mentira. Minha mãe, por exemplo, era amarelo. Os olhos dela, não as íris, a parte que devia ser branca era laranja, então as íris amarelas e pareciam dois sóis. Consegue imaginar? Olhar para dois sóis? As poucas sardas que ela tinha no rosto brilhavam como estrelas. A pele dela era como a de qualquer um, mas as bochechas eram pintadas de estrelas amarelas como se nem mesmo o céu do dia pudesse apagar a força delas. O cabelo todo parecia luz, não fogo, era realmente... energia, pura e simples. Amarela, mas fundia com o ruivo do cabelo dela e ficava... – a cada palavra o garoto sorria mais, seus olhos verdes pareciam brilhar com forme ele entrava naquela memória em sua mente, sentindo-se muito feliz com algo que não percebeu que sentia falta:
Falar dos pais.
Falar de verdade.
Sobre algo que nunca disse antes.
- Ela tinha no peito uma flor de luz. A alma dela também era uma flor.
- Alma?
- Sim. Como os trouxas não tem magia essa é a única coisa que vejo neles, a alma. Nos bruxos a alma e a magia são quase uma única coisa, mas é como eu falei, minha mãe se fundia com a própria magia no corpo dela, não era algo que saia e expandia, era ela mesma. Tudo junto. Magia, alma, casca. Ela era... Bem... – então ficou em silêncio.
- O que foi?
- Ela era como você... A magia não saia, fazia parte. Mas, ao menos, mamãe tinha pele e forma humana. Você parece algum desenho de monstro que uma criança macabra fez, feito de magia e mal feito, porque está quebrado.
Mitrica riu de novo, agora uma gostosa gargalhada. Levou um tempo para que ele voltasse para a conversa.
[N/A: Ok, essa foi a arte mais parecida que achei de como seria a magia da Lily, apesar de parecer fogo, era algo muito próximo, então...]
- Mas admito que nem sempre vejo sua boca.
- Como sabe que é a alma das pessoas o que você vê? - perguntou Lakroff. - Magia é porque só bruxos tem esses padrões, mas e a alma?
- Eu vi gente morrer. Minha mãe e também passei por um caso , certa vez. Um acidente de carro. Vi a ambulância levando a pessoa, para qualquer um não seria nada de mais, não parecia tão ferido, mas de repente a luz saiu do corpo. Então uma coisa mais estranha aconteceu, eu v...
- O que?
- Nada – respondeu rapidamente, voltando a postura firme de antes.
Lakroff encarou Harry e sorriu.
- Eu, melhor do que ninguém, entendo quando não desejamos falar de nossos dons. Não vou tocar mais nesse assunto. Mas... sua mãe?
- Eu me lembro daquela noite. Muito bem, se quer saber. Posso até descrever como eu via a magia de Voldemort.
O loiro arregalou os olhos e cobriu a mão com a boca em choque.
- Isso... você não devia se lembrar.
- Eu não deveria fazer muitas das coisas que normalmente faço.
- Sinto muito, Harry...
- Tudo bem. Já tive muitos anos para superar o fato.
- É possível?
- Como?
- Superar assistir a morte da mãe?
- Você vê mortes. Nunca superou nenhuma?
- Eu... não tenho certeza. Nem tenho certeza de se ainda sou são de alguma forma – resmungou se dirigindo para uma das poltronas que mantinha no quarto e indicando a outra ao garoto.
Harry se aproximou hesitante mais aceitou uma em certa distância.
- Deve ser perturbador olhar para mim. Desculpe por isso.
- Achei interessante. É algo totalmente novo e curioso.
- Voldemort... - mas parou no meio.
- Ele tinha corpo de cobra, não que tivesse calda, apenas... A pele e...
- Isso todos viam. Era realmente como ele se parecia. Sem nariz, correto?
- Isso mesmo. Não sabia que todos viam assim.
- Rituais de magia negra nem sempre... saem como o esperado. Continue.
Harry preferiu não comentar que o Lorde Mitrica sabia que, seja lá o que tinha acontecido a Tom para ter a aparência da noite em que era Voldemrot, era efeito de um rital. Indicava que conhecia rituais...
"Mais que os comuns, ninguém nunca questionou, ninguém nunca soube que foi uma falha. Achavam que era proposital" acrescentou a vozinha.
- Tentáculos negros saiam dele, tocavam o chão, o teto, as paredes, tudo. Conforme se afastava tornavam-se raízes e então vinhas, ficando mais fracas, mas continuavam por um longo tempo, deixava sua presença, sua essência, por onde passava. Impregnava. Se estendiam e exploravam, mas também procuravam. Era forte...
Da mesma forma que Harry não julgou os conhecimentos de Mitrica, o mais velho não comentou como o garoto não parecia em nada incomodado em detalhar a magia de seu quase assassino. Pelo contrário, parecia interessando no tema.
- Não assustador?
- Bem... isso era um pouco.
- Mas eu não.
- Você é assustador. Disse que não era perturbador olhá-lo. Tem uma diferença.
- Os olhos, o buraco, nem sempre tenho boca, isso não é perturbador? Qual a diferença afinal?
- Não me incomoda olhá-lo, não perturba, mesmo com tudo, mas... é assustador porque mostra que você é muito diferente do normal. Um ponto fora da curva que ainda não aprendi a... Enfim... Você também é obviamente poderoso e interage muito com sua magia.
- Mas não te incomodo...
- Eu estou olhando diretamente para a sua alma, isso não te incomoda?
- Eu olhei para coisas da sua vida enquanto você era um feto na barriga de sua mãe, nada que revele sobre mim vai me afetar.
- O que exatamente você viu sobre mim?
- Seus tios... Várias coisas que eles fizeram. Até procurei as antigas pesquisas... – e parou. – Enfim... pesquisas de um homem que tentou achar uma cura para cicatrizes de queimadura. Queria poder lhe oferecer como pedido de desculpas por... Sei lá! Não amarrar sua mãe e proibi-la de fazer... – e tornou a levar as mãos ao rosto, dessa vez apoiando a mão nos joelhos muito frustrado. – Não ter tentado mais. Impedir essas visões.
- Você disse que não é capaz de impedir.
- Não sou. Nunca fui. – Murmurou desolado.
Harry viu todos os olhos em sua cabeça chorarem uma única lágrima negra cada.
- Está se culpando por que então?
- Não tentar mais. Tentar até bater com a cara e me queimar, que fosse, mas tentar!
- Você podia tentar mais? Na hora, você não fez o máximo que conseguiu pensar?
- Bem... Sim...
- Só porque depois você arrumou alguma solução não quer dizer que não tentou ao máximo. Talvez essa solução nem seria viável na época, mas agora você não se lembra mais todos os detalhes que a fariam inútil.
O mais velho ficou surpreso, na sua interpretação parecia até que Harry estava tentando consolá-lo. Mas Harry mal notou essa reação, ele realmente via muito pouco do Mitrica que os outros viam para notar reações que não se dirigissem a alma.
- Você só viu meus tios? – perguntou o de olhos verdes.
- Vi padres e uma fogueira – sussurrou levantando a cabeça para a criança.
Harry baixou a própria, encarando as faixas pelo corpo.
- Meu rosto...
- O tratamento funcionou bem, é possível que consigamos então sumir com todas, eventualmente. Mas vai ser um processo lento, talvez leve anos, a poção misturada a pomada para que tenham o efeito desejado... Usam sua própria magia para funcionar. Te suga. Se tomar demais, usar demais, ficaria exausto magicamente e não adiantaria de nada. Ela também perde o efeito com o tempo, o organismo se acostuma. Então teremos que ser cuidadosos e dosar bem as medidas.
- Eu nunca ouvi falar de algo assim – comentou após um tempo em silêncio.
- Foi feito pela minha família. O último lorde. Por isso também é experimental. Além de você e aqueles que já tinham passado por testes anos atrás, apenas eu usei.
- Você?
- Queimei minha mão para ter certeza que não havia vencido antes de usar em você.
- Você se queimou? De propósito?
- Vai ver que faço muita coisa no impulso se acho que vou ganhar algo com isso.
- E o que iria ganhar com isso?
- Você. Sua segurança. Seu bem estar, por menor que fosse...
- Por que iria querer tanto isso? Só porque se sente culpado?
- Não! Tem muito mais.
- E o que é?
- Harry, você já foi ao Gringotts alguma vez?
- Não... Por quê? O que isso tem a ver?
- Sabe o que é reivindicar uma posição como herdeiro de uma cabeça ou lorde de uma?
O menino de olhos verdes ficou um tempo em silêncio antes de responder:
- Sim.
- Sabe sobre os anéis então? Que recebemos ao reivindicar um nome ou posição e que se ajustam a nós se nos aceitarem, sendo a prova definitiva de nossa linhagem?
- O que tem?
- A maioria é enfeitiçado de alguma forma com proteções, para impedir coisas como leitura de mente. Quer que eu te dê todas as respostas? Podemos ir até o Gringotts conseguir o seu, ou podemos usar algo que eu tenha, mas não sei se você vai querer confiar em mim para usar algo que deveria proteger a mente. Afinal mal nos conhecemos.
- Eu não confiaria.
- Seria tolice se fizesse e você não parece ser do tipo tolo. Mas antes de irmos ao Gringotts existem muitas coisas que precisamos debater. A começar o fato de que fazem dez dias que você está aqui e não tenho direito a mantê-lo. Tecnicamente podem me acusar de sequestro.
- Isso é ridículo, você...
- A política bruxa é ridícula. Se não fosse não teríamos tantas... - se interrompeu e mudou de foco. - Me acusariam por usar poções e pomadas não registradas em você, mesmo que tenham salvo sua vida, poderiam me acusar até de assédio e pedofilia por ter passado a primeira vez os remédios, mesmo que para ensinar os elfos a fazer a coisa corretamente. Entenda, você é uma figura importante social e politicamente falando, sabia disso?
- Sim. O menino que sobreviveu, estou ciente.
- Eles farão um massacre se descobrirem que justo eu estou com você. A coisa toda é complicada então temos que resolver primeiro o que será de você e a história que contaremos. Você não estava morando com seus tios, não é?
- Não.
- Eu cheguei a achar eles, depois de muito tempo, mas você não estava. Com que então?
Harry guardou aquele fato para depois: Lorde Mitrica achara seus tios. Ele realmente o estava procurando e o que tinha tirado dos parentes?
- Um orfanato – respondeu.
- Fizeram isso com você em um orfanato?
- Sim.
- Por causa de magia acidental?
- Sim.
E nem esboçou reação com a mentira.
- Inferno de trouxas, aqueles... – mas tornou a se calar, inspirando profundamente, tentando mais uma vez evitar que ficasse tão irritado. – Por isso... Por coisas assim... Eles tentaram fazer malditos orfanatos bruxos, mas os desgraçados escutam? Obviamente que não... Vamos continuar deixando mais casos de... Ah!
- Grindelwald e Voldemort você quer dizer?
O adulto tornou a levantar a encarar a criança, dessa vez bem mais cautelosamente:
- Você sabe sobre eles?
- Eu já tinha dito que sabia sobre Voldemort e...
- Não – interrompeu sério. – Estou dizendo sobre seus objetivos, Harry. As pessoas não têm o costume de saber. Você tem que achar os bruxos certos para ouvir qualquer coisa que não seja que eles eram psicopatas monstruosos e supremacistas, que queriam que todos que julgavam inferiores morressem. Você saber que um dos objetivos deles era criação de orfanatos puramente bruxos, saber algo bom que tentaram... Que tipo de bruxos você anda conhecendo?
- Que tipo de bruxo você é, para saber dessas coisas?
- Eu? – Ele se levantou e seguiu calmamente até Harry, abaixou ainda um metro de distância, um joelho no chão, a outra perna dobrada, como um cavaleiro fazendo reverência a um rei, mas estendeu a mão direita, mostrando os anéis em seu dedo.
Haviam dois.
Um era de algum metal prateado, talvez platina, tinha a forma de um lobo ou...
Chacal.
Um chacal de perfil, apenas a cabeça, muito parecido com os desenhos egípcios, na boca da criatura havia uma pedra redonda onde um M era escrito.
O outro, entretanto, foi o que surpreendeu mais. Havia duas letras G formado de linhas retas e num anel de ouro branco, as duas letras criavam a impressão de asas de um inseto e dois olhos eram desenhados na parte de baixo das letras, onde a bola principal eram duas pedras brancas do anel. Pareciam mesmo as asas de uma mariposa geométrica. Tudo numa base redonda bem grande.
Harry reconheceu o símbolo como algo muito parecido ao que tinha visto nos livros de história e no desenho que Tom lhe fez uma vez.
Parecia o símbolo de Gellert Grindelwald, mas sem aquele triangulo com a varinha no centro.
- Eu sou do tipo herdeiro da família Gindelwald.
Harry arregalou os olhos.
- Como é?
- Esses, Harry, são os anéis de família que possuo. Só reconheci um como Lorde: o anel Mitrica. O outro é de herdeiro, herdeiro Grindelwald. Não preciso assumir o sobrenome quando sou apenas herdeiro, mas tenho acesso a algumas coisas com o anel, mesmo assim essa é a verdade, se eu desejasse também podia ser o Lorde Grindelwald.
- E como você conheceu meus pais? – perguntou no mesmo instante, a voz muito mais tensa do que estivera até agora.
- Como assim?
- Eles não apoiavam as causas dos Lordes das Trevas!
- Eu não apoio. Gellert apoiava. Só porque estamos na mesma família...
- Você mentiu – interrompeu. – Eu sei quando as pessoas mentem, as almas reagem.
Lakroff se calou e tornou a se sentar na poltrona de antes.
- Desculpe por isso.
- Não me importo que você apoie Grindelwald. Quero entender o que aconteceu e como meus pais estiveram envolvidos com você.
Mitrica ficou um tempo em silêncio, pensando como falaria sobre aquilo. Enfim, pareceu tomar uma decisão:
- Sua mãe foi atras de Gellert Grindelwald na cadeia.
- Como é?
- Ela queria um conselho. Como fugir de um lorde das trevas. Talvez como fugir de uma profecia também.
- Profecia?
- Você não sabe sobre essa parte?
- Que parte?
"Inferno" pensou Tom, no fundo da mente de Harry. Estava evitando o tema.
- O motivo de Voldemort ter ido atrás de vocês.
- Não foi porque meus pais estavam atrapalhando?
- Você disse que se lembra daquela noite. Se fosse isso, para que ele ia tentar matar também?
- Para evitar que eu crescesse órfão e numa guerra.
- Você pensa muito bem de um assassino – observou em voz alta.
- Eu só não vejo o porque de pensar diferente. Você mesmo disse que os Dark Lords tinham objetivos além do que a maioria pensa.
- Harry... Se importa de falarmos disso depois que você tiver alguma proteção mental?
- E por quê?
- Eu acho que uma pergunta vai gerar outra e assim por diante e o simples fato de eu mentir ou me recusar a responder alguns pontos geraria suspeitas nas pessoas que podem tentar ler sua mente. Vamos focar nas coisas mais urgentes, como o herdeiro Grindelwald mantendo Harry Potter contra sua vontade no fim do mundo?
- Contra a minha vontade?
- É o que dirão. Como você sairia daqui? Depois da barreira mágica é gelo e neve por todos os lados. Carcere privado, sequestro, pedofilia, podem alegar que estou afzendo testes em você, que eu que te queimei...
- Mas é só olhar minhas memórias e ver que é mentira.
- Memórias podem ser modificadas.
- Modificar uma memória deixa marca.
- Parabéns, você realmente está sendo instruído em magia por alguém descente. Mas não importa, entende? Eu sou um Grindelwald, automaticamente todos pensam o pior de mim se sabem, me odeiam, querem que eu seja preso ou morra. Eu sou só um... um...
- Aberração? – ofereceu baixinho.
Lakroff olhou no fundo dos olhos do menino, imaginando se todos os seus outros olhos também o faziam (não era o caso, apenas alguns). Tentou entender até que ponto aquela palavra era importante.
Parecia ser muito.
- Exato – respondeu. – Monstro também.
E o Potter baixou a cabeça outra vez, mas dessa vez chegou a girar o copo para não estar mais de frente ao outro, preso nos próprios pensamentos.
- Harry... – começou o mais velho. – Os trouxas te diziam coisas? – o menino apenas afirmou com a cabeça. – Eles te chamavam de coisas? – mais uma vez Harry concordou silenciosamente. – Dessas coisas?
Hazz não precisou responder. Continuou quieto e parado.
Ele sentiu vários de seus pelos arrepiarem quando a magia do outro homem quase explodiu, viu como aquelas veias roxas que ele tinha cresceram, como os pedaços que faltavam do corpo racharam mais e como gosmas e mais gosmas surgirem envolta dele.
Era assustador, porque você não sabia para onde olhar ou que estava acontecendo.
- Você se lembra do que aconteceu no dia que eu te... encontrei? – perguntou muito lentamente, a voz bem mais grossa que o normal.
E mais fria.
Era tão fria que cortava e queimava.
Harry pensou que se aquela frieza fosse direcionada a ele, não estaria sentindo apenas na pele, tinha a impressão de que pareceria uma faca de gelo entrando no peito.
- Lembro.
- Até o fim?
- Como assim?
- Se lembra do que aconteceu na estação em Moscou? O que você fez lá?
- O que eu fiz?
- Sim.
- Não. Eu só lembro até a matrona me... – Mas não terminou.
- Entendi. Bem... eventualmente você vai lembrar – murmurou e ficou um tempo em silêncio, pensando.
- O que eu fiz?
- Acho melhor esperar que você lembre. Vai ser menos... – bufou.
Hazz também anotou um fato na mente: Mitrica tinha boa desenvoltura, sua dicção era ótima e tudo, mas ele parecia ter sérios problemas para encontrar as palavras as vezes, ou organizar a mente, como se tivesse mil ideias e não soubesse qual desenvolver.
Ou tivesse medo do que as pessoas fossem pensar sobre o que ele disse.
Algo no menino dizia que era a segunda opção.
Lakroff Mitrica tinha medo de ser julgado.
"Monstro também" se lembrou do homem falando, do tom abatido no fundo, da melancolia de quem já tinha escutado e muito algo.
Harry conhecia bem aquilo.
Olhou de novo para o homem. O corpo quebrado, o roxo, os olhos, a gosma.
Pessoas são uns lixos.
Se vissem o mundo como ele via, Lakroff não teria chance. Se já tinha medo de suas ideias, a alma... Ele nunca sairia de casa.
Ele se isolaria e...
Continuaria vivendo no "fim do mundo"....
"Ele já está se isolando".
"E odeia trouxas, só não admite" murmurou a voz sombria.
"Ele não quer ser um Grindelwald, o nome já carrega os insultos, mas o dom em si já o faria diferente dos outros bruxos".
"Você está se vendo nele"
"Só... um pouco. Não se preocupe. Nunca mais vou baixar a guarda".
E Tom ficou com medo de como o simples pensamento de Harry parecia sombrio. Principalmente porque notou que não poderia mais adiar a conversa sobre como ele tinha ido atrás dos pais de Hazz...
Realmente para mata-lo.
O menino já se culpava achando que a mãe se sacrificou apenas para tentar convencer o maníaco a ir embora e poupá-lo, Hazz estava distraído, era um bebê, se distraia fácil, não sabia que desde o começo era um alvo.
Que a mãe e o pai podiam simplesmente tê-lo dado e ido embora. Mas não era bem assim. Voldemort ainda os mataria, Harry não tinha para que se culpar, os pais também nunca o deixariam.
Mas ele ia.
Tom sabia.
E não queria ver isso acontecer, mas agora parecia inevitável e o pior momento possível ao mesmo tempo!
- Enfim – começou o Lorde Mitrica após um tempo. – Quando acontecer... Quando se lembrar e... Enfim, saiba que está tudo bem ter um acidente. Eu mesmo ainda tenho vários, tomo poções para evitar, e não passei por metade do que você passou, eu...
- Acidente? Do que você está falando.
- Magia acidental. Uma explosão mágica. Eu, assim como a maioria da família, faço muitos testes de magia e um deu tremendamente errado, ao mesmo tempo que deu certo. Ainda estou me recuperando disso, juntando os cacos.
Harry olhou para os buracos e rachaduras no corpo de Mitrica e pensou que era uma analogia adequada.
- Então eu vivo quebrando coisas – continuou. – Não precisa se importar com a casa, pode destruir tudo, estamos acostumados a consertar. Eu e os Elfos.
- Quantos você tem, a propósito?
- Quatro.
- Nossa. Você disse que tiraram propriedades de vocês... Agora que eu já sei sobre Grindelwald... Era disse que estava falando sobre indenização, não é?
- Sim.
- E eles não tiraram os elfos?
- Claro que não, são elfos livres – disse sorrindo.
Harry piscou algumas vezes, tentando assimilar aquilo.
- Mesmo?
- Sim. Não notou as roupas?
Harry ficou em silêncio por um tempo e Lakroff enfim percebeu que existia um padrão. Algumas perguntas que fazia calavam o Potter, que (talvez por estar distraído pensando) não percebia como ele fazia caretas, ou gestos bem discretos, como se estivesse falando com alguém em sua cabeça.
- Não tinha notado – admitiu.
Os elfos da casa Mitrica que tinha visto usavam roupas bonitas. Lala tinha um conjunto de saia e blusa geralmente floridos e bem detalhados, com tecidos nobres e um símbolo nas costas. Um chacal virado de frente, com uma mariposa cobrindo os olhos, o desenho nas asas substituindo os dele.
- Gellert Grindelwald libertou todos antes da guerra.
Isso o confundiu ainda mais.
- Mesmo? – repetiu e Mitrica riu um pouco.
- Mesmo. Ele não queria servos que fossem leias por que eram obrigados, queria pessoas totalmente servas, mas porque desejavam isso. Gellert achava que isso tinha muito mais força. Você escolher dar sua vida e magia para alguém, tento a opção de não fazer. Será muito mais útil, mais leal, mais seu. Ele já tinha Long e Bibi, Lala veio da família com quem ele teve seu herdeiro e...
- Gellert teve filhos?
Lakroff ficou em silêncio, encarando a criança por um tempo, esperando que ela tomasse suas conclusões.
- Ata. Entendi. Então você é o filho dele...
- Uma parte dele gerou a vida que usufruo, mas ele não é meu pai. Dito isso, Poo veio de Vinda Rosier, uma de suas mais leais. Os quatro foram libertos, aos prantos, até onde sei, mas foram. Ele então disse que se quisessem poderiam jurar lealdade por si mesmos. Como seres livres, podiam fazer um voto, jurar por suas vidas e magia, ser leais até o fim a ele e sua família. Seriam seus escravos, mas porque quiseram, fariam o que ele mandasse, mas sempre teriam a opção de ir embora. Guardariam seus segredos, cometeriam seus crimes, protegeriam com suas vidas o que viesse dele, mas no instante que sentissem que não podiam mais fazer deviam ir embora. Só que a magia deles, nesse momento, apagaria suas memórias. Jamais se lembrariam de um único dia entre os Grindelwald. Quando Gellert foi preso eles esperaram pacientemente que alguém aparecesse para que pudessem continuar com sua palavra. Cuidaram de tudo até lá.
- Você fala como se tivesse passado muito tempo.
- Passou. Eu só retomei o nome Mitrica por sua mãe. Até então eu...
Ficou quieto.
- Pela minha mãe?
- Aquilo que disse. Ela foi atrás de Gellert, queria o conselho de um lorde das trevas para derrotar outro. Ele a instruiu a abrir o velho cofre Mitrica. Mitrica é um nome da família Grindelwald, um velho, mas é mágico. Sabe o que é um nome mágico?
Mais uma vez Harry ficou em silêncio por um tempo, deixando Lakroff avaliar melhor aquele fenômeno.
- Sei. Você pode reivindicá-lo desde que seja aceito pelo anel.
- Em suma é isso mesmo. Enfim, Gellert guardou várias coisas no cofre Mitrica como transferência, sem nem reivindicar o nome. Se fosse derrotado seus herdeiros poderiam retomar.
- Ele pensava em sua derrota?
- Um vidente sempre pensa em seu fim. Depois de tanta merda, como é que vamos achar que tudo dá certo no final? Ele disse à sua mãe a pesquisar informações na biblioteca Mitrica, mas para isso alguém tinha que assumir o nome para ter autorização, ter o anel de herdeiro.
- Então ela te procurou?
- Não exatamente. Mas eventualmente eu apareci na história.
- Alguém tinha que abrir o cofre. Essa história de que ela o salvou? Ela te encontrou numa situação difícil?
- Eu já tinha visto minha morte – Harry arregalou os olhos e se ajeitou na poltrona que estava. – Eu via sempre que me distraia olhando para uma parede. Um assassinato depois de anos de isolamento e depressão. Eu nunca pude impedir nada e ver aquilo... Me deixou tão frustrado que eu só me negligenciei mais. Vou morrer mesmo, como um saco de bosta, tudo que possivelmente eu faria será em vão. Inferno, mate logo então. Eu pensava nisso. Me jogar da janela e acabar com tudo, mas algo me impedia. Ver a própria morte é uma merda, não recomendo.
Harry riu e Lakroff se sentiu ao mesmo tempo feliz quanto frustrado. O menino tinha o senso de humor de um Grindelwald, isso era horrível, mostrava que tinha tudo para ser outro lunático, torturado pelo mundo.
- E então?
- Eu parei. Harry, eu sei que você pode ter suas dúvidas de estar na minha casa e você não é do tipo tolo que confiaria em um desconhecido com aparência de monstro, mas como alguém que conhece as tradições bruxas eu tenho algo a te oferecer: um acordo mágico.
- Um acordo mágico?
- Eu tenho uma dívida de vida com sua mãe. Seu pai também. Eu te juro, o destino é engraçado, uma única coisa pode mudar tudo, mas os videntes tentam alcançar essas coisas e nunca conseguem. Enlouquecem pensando sobre isso ou desistindo de vez, como eu. Minha morte estava marcada, tudo tinha chego ao fim e assim seria, o mundo seguiria por suas linhas tortas, meu assassino tomaria as decisões que precisava até chegar a mim, me matar e alguns meses depois seria igualmente assassinado. Mas então tudo mudou. Uma atitude fez todo o destino se embaralhar e cada coisa se tornou única e nova. Uma única e simples coisa: sua mãe decidiu ver Gellert Grindelwald. Se ela não tivesse feito isso tudo seria exatamente como eu vi. Cada morte, cada massacre, cada guerra.
- Cada guerra?
- O mundo está cheio delas. Trouxas e bruxas. Tudo ia ser como vi e ia ser bom e ruim ao mesmo tempo, mas essa é a vida. Dito isso sua mãe foi ver Grindelwald. Sua mãe mudou todo o destino. Tudo era novo. Tudo que eu via foi apagado em um passe de mágica, menos uma coisa: você. Eu ainda via você passando por coisas terríveis e vi coisas piores do que antes.
- Piores que antes?
- Eu via você desde que era criança, cada coisa. Você e centenas de outros bruxos torturados até... Não aguentarem mais. Explodirem. Gellert também.
- Você me via desde... quando?
- Antes mesmo do meu pai ser preso, antes de sua mãe nascer. Eu só não sabia quem eram os rostos nas minhas visões. Até conhecer seu pai. Você é parecido com ele, é a fusão perfeita de tudo que era bonito na sua mãe e no seu pai. Tem os traços nobres deles, os cabelos negros dos Black, Potters e todas as outras famílias sombrias que seus avós se misturaram...
- Famílias sombrias?
- Os Potters não devem ter se casado com uma única mulher que não viesse de uma família praticante de magia negra, desde que existem no meio político bruxo.
- Ouvi que eles sempre foram uma família da luz.
- Eles são. Ou querem que todos acreditem nisso. Existe uma diferença crucial. Do que eu vi na sua árvore genealógica... Nem mesmo os Grindelwald tem casamentos tão vantajosos e tão sombrios – sorriu, um sorriso muito sombrio naquela visão de vários olhos.
- Desculpe se não acredito tanto nisso...
- Não precisa acreditar em mim. Você verá. Quando se tornar o Lorde Potter apenas se lembre de ir para os arquivos da família. Ficam em um cofre dentro do cofre principal no Gringotts. Bem aos fundos, pelo que seu pai me contou. Precisa de sangue para abrir...
- Sangue?
- Seus parentes eram cautelosos. Magia de sangue antiga. Se seu sangue for compatível ele abre e você poderá descobrir os registros de todos da sua arvore genealógica. Seu pai me contou que há realmente uma artificial, onde nos galhos ficam caixas com os nomes e nessas caixas estão os arquivos pessoais de cada um. De quem nasceu e o contrato de casamento usado para fazer da mulher a nova Lady Potter, com todas as cláusulas do que a família ganhou com isso. Até sua mãe foi submetida ao processo.
- Mesmo sendo uma nascida trouxa?
O sorriso de Lakroff aumentou.
- Ela teve que fazer um teste de sangue, como todas as outras. Dar seus registros, cópias ou os originais, fazer sua fixa completa e assinar um contrato de casamento reconhecendo que agora era Lady Potter e qualquer herança que tivesse era propriedade Potter no ato. Enfim. Você tem o cabelo que os Potters acumularam com seus casamentos, a pele de sua mãe, os olhos também, claros, grandes e com cílios marcados, o queixo dos Potter, provavelmente se desenvolverá com o tempo, já posso ver sombras disso. Você é tudo que uma família sangue puro procura: que cada traço bom fique e o ruim suma. Dito isso, voltamos ao assunto principal: eu vi minha morte e a de cada Mitrica que ainda existe. Todos íamos morrer e sabe para o que?
- O que?
- Voldemort.
- O que?!
- Ele ia me matar, matar Gellert na cadeia, matar meus parentes.
- Por quê?
- Cada um por um motivo. Mas sempre um estaria no caminho dele ou de algo que ele queria. Os Grindelwalds, mesmo os que não sabiam que fazem parte da linhagem, iam sempre desafiá-lo e morreríamos assim. É uma característica nossa, perseguir um objetivo até a morte. Mas ao menos íamos conseguir. Ele morria conosco.
Harry arregalou os olhos e se ajeitou para trás, quase se martirizando ao perceber que fizera algo que lia sempre nos livros de linguagem corporal: nos afastamos do que não gostamos.
- Só que sua mãe mudou tudo – continuou Lakroff.
- Como?
- Ela visitou Gellert. Ele, eu, todas as visões que tínhamos... Nossos caminhos nunca se encontrariam. Isso era o destino. Tudo estava em uma perfeita linha reta onde cada decisão da nossa família ajudaria de alguma forma na queda de Voldemort. Pequenas coisas que formavam o todo. Mas morreríamos. Então sua mãe simplesmente aparece, algo que não estava programado, indo contra todas as decisões do destino até então, mudando tudo. Reprogramando cada parte do sistema. Eu não me vejo mais morrendo, porque isso é novo agora. Tudo está diferente, agora é a hora de fazer as coisas, pois mais do que nunca, o destino está em branco. É agir antes que ele volte a escrever. Sua mãe me deu isso, jogou no meu colo e fez o que podia para mudar as coisas. Era a bruxa mais forte que conheci, pois cuspiu na cara das entidades se elas quisessem encostar um dedo em você e levou o mundo todo com ela. Eu tenho uma dívida de vida com ela, Harry. A dívida. Eu não consegui o que ela queria, seu pedido era fugir de um lorde das trevas. Eu falhei na minha parte, então a divida permanece. Sabe como funciona uma dívida de vida?
E exatamente como Lakroff esperava, o Potter se calou.
Entrou em sua própria mente e ficou um tempo.
Evitou ao máximo esboçar uma reação diante da sua descoberta.
"É assim que Dumbledore consegue tanto poder" explicou a Horcrux, a própria voz de Harry em sua cabeça, mas os pensamentos do outro.
"Como assim?"
"Newt Scamander, por exemplo. Até onde eu sei, ele foi expulso de Hogwarts e ia perder o direito a varinha e a magia, mas Dumbledore interpôs por ele. Você mesmo viu, magia e a alma dos bruxos está ligada, para um bruxo sua magia é a vida. Perder a magia, para alguns, é tão ruim ou muito pior que a morte. Dumbledore então, ao convencer as pessoas que Newt podia continuar usando magia, desde que com cautela e sob registro constante, salvou sua vida. Newt então foi como um bom guerreiro treinado sempre que Dumbledore mandava. O mesmo com o meio gigante Hagrid. Ia ser expulso, nunca mais usar magia, Dumbledore conseguiu outro fiel. Essas pessoas não sabem, mas ao aceitar a ajuda, ao verem Dumbledore como salvador estão basicamente criando uma dívida mágica de vida com ele, sempre que ele pedir sua magia vai responder a esse chamado, você é um escravo dessa vontade, mesmo que sua consciência lute contra sua magia vai tentar obedecer, se redimir. Pagar a dívida. Um bruxo salvar outro bruxo é muito poderoso. Até que se pague..."
[N/A: Lembrando que no Canon Pedro Pettigrew cria uma dívida mágica de vida com o Harry, por ter sido poupado, então quando Harry é preso nos Malfoy ele acaba hesitando em matar o menino, sua magia luta contra isso, ele paga a dívida. Mas aí descumpre outra lealdade mágica, para com Voldemort, então a mão mágica que Voldemort deu para vigiar o rato o enforca até a morte, pois sente que o Pedro tinha essa lealdade maior para outra coisa se não o próprio Voldemort. Vê ele como traidor. Isso está nos livros. Se você parar para ver Dumbledore é acumulador de dívida mágica, como o Harry e o Lakroff já conversaram a uns capítulos atrás].
- Sei o que é sim – respondeu Harry, interrompendo o companheiro de alma, afinal não podia ficar tanto tempo quieto.
- Certo. Então vê que estou em uma situação complicada. Sua mãe não só me tirou as visões da minha morte, ela acabou com o meu assassino. Ela me salvou. Eu não consegui salvá-la, eu preciso pagar isso.
- Então você me salvou?
- Não. Isso seria muito simples. Entenda, derrotar tão brilhantemente a vontade das entidades é um feito histórico e muito importante. Sua mãe não me deu a dívida de uma vida, mas três. Dela, do seu pai e sua. Já resolvi a sua, não é? Você está vivo, falta só terminar o tratamento. Até lá eu imploro que me permita cuidar de você, ser seu médico particular. Quero ter certeza de que fiz um bom trabalho, que curei cada cicatriz. Faço até um voto perpétuo, hoje e com todos os elfos como testemunhas, até se quiser chamar mais alguém, jurando que darei minha vida para salvar a sua. Cada poção, cada pomada, cada coisa que eu fizer será para garantir que pagarei minha primeira dívida e que você estará em pleno e perfeito estado de saúde quando eu acabar. Então nada do que fiz até agora está nas suas costas, você não me deve nada e poderá confiar em mim, como médico. Farei o voto de que nada do que eu fizer nunca será para te machucar e se eu apenas tentar uma intenção maligna com você, apenas tentar, nada além disso, eu imediatamente morrerei. Mas ainda tenho 2 dívidas a tratar com você, senhor Potter. Então sempre poderá cobrá-las, da maneira que lhe convier. Como alguém que segue tradições bruxas, um acordo com esses termos está favorável ao senhor? Ou melhor... Faremos assim – se apressou em dizer antes que Harry voltasse para o silêncio de sua mente. – Te darei mais dois dias para pensar. Até lá temos que resolver como eu não vou ser preso por te manter aqui. Sou bom com feitiços para esconder presença e tudo o mais, mas quando você decidir sair será complicado vê-lo para fazer o tratamento. Sem contar que duvido que queira retornar ao orfanato. Posso lhe comprar uma casa, mas como menor de idade você ainda teria que ter um responsável legal. Você disse que conhecia bruxos, apesar da minha indignação que eles não o tenham ajudado antes, talvez se eu pagasse...
- Eles não sabiam.
- Como?
- Os bruxos. Eu não deixei que soubessem o que estava acontecendo.
- Por que motivo?
- Bem... – ele demorou para conseguir responder. – Vários. No começo só era pequeno demais e achava que me meteria em mais problemas, depois... – sorriu deprimido. – Resumindo tudo, eu só não queria ter uma dívida com ninguém que não confiasse.
Harry viu como o outro adulto segurou até a respiração, chegou a ficar um pouco vermelho, tudo para engolir a risada.
Isso fez o próprio Potter sorrir um pouco da ironia.
- Pois bem então, posso entender seu ponto – comentou, ainda parecendo que explodiria a qualquer segundo com a risada. – De toda forma acho que o primeiro passo é conseguir seus anéis de Herdeiro. Protegerão a mente, então poderemos ter uma conversa ainda mais sincera e avaliar os próximos passos. Com sua árvore genealógica, por exemplo, conseguimos achar uma família bruxa para lhe cuidar, se você quiser. Iremos quando souber se me deseja ou não como aliado, com a garantia das minhas dívidas e um voto perpétuo, é claro. Dois para essa decisão serão o bastante?
- Imagino que sim.
- Ótimo. Considere. Pode explorar a mansão também, use a casa como preferir, na maior parte do tempo fico apenas no escritório ou nos jardins. Lala foi designada a você, mas os outros responderão da mesma forma se precisar. Vou sair um pouco agora, preciso resolver alguns negócios, se precisar, basta pedir que me chamem. Alguma dúvida?
- Não.
- Certo. Espero que me aceite, senhor Potter. Eu realmente tive apreço por seus pais, vê-lo, sendo tão parecido com eles... Pessoalmente, a dívida que tenho serve apenas para motivá-lo, a mim, eu faria por muito menos. Apenas por ser quem é, filho de quem é. Mas acho que apenas isso jamais abriria espaço para que nos comunicássemos, você e a coisa na sua cabeça não aceitariam algo tão simples como amor e afeto para confiar que lhes desse poções sem registro algum.
Harry se levantou imediatamente, encarando o homem com receio. Estava pronto para aparatar no mesmo instante.
- Se eu fosse você evitava aparatação por enquanto, vai se machucar muito, mas vejo que não foi apenas um acidente essa parte. Sou sensível a magia, senhor Potter – explicou Mitrica diante do olhar do outro. – É uma característica tanto Mitrica quanto Grindelwald. A família da minha mãe também não ficava muito para trás neste aspecto. Se o que alguns bruxos dizem, que sangue serve para algo, então eu sou escolhido com o DNA de muitos, perfeito para me permitir perceber os sinais de alguém ativando uma magia, mesmo no estágio mais instintivo. Essa cicatriz na sua testa, alguém sensível como eu pode sentir a energia negra escorrendo dela. Quando você está consciente faz muito bem escondendo-a, cobre com sua própria magia ao ponto de que se eu não estivesse em sua presença desmaiado, jamais notaria. Mas eu estive. Não se preocupe, sigilo médico. Jamais contaria. Podemos incluir isso no voto perpétuo também, já que você parece bem incomodado com a ideia de que alguém saiba.
- Eu...
- Não me importa o que tenha ou não em sua cabeça, Herdeiro Potter. Me importa que esteja vivo e bem, da forma que sua mãe ficaria feliz e suficientemente grata. Se me disser que essa coisa nunca o feriu, nunca o machucou, nunca o deturbou, prejudicou ou lhe causou mal, então não vejo para que me preocupar. Mas saiba que posso tirá-la de você.
- Como é?! – perguntou claramente assustado.
- Se quiser, eu ainda não sei como tirar uma Horcrux de um objeto e colocar em outro lugar, mas tenho certeza de que é possível e tenho muitos livros sombrios que me garantirão a informação de um jeito ou de outro. Tiramos de você e colocamos em um anel, por exemplo, depois destruímos.
- Horcrux?
"Um pedaço de alma" esclareceu a voz em sua mente. "Nunca te falei o nome, porque não vi um motivo para o termo correto importar".
- Não sabe o que é? – perguntou Mitrica. – Isso em você?
Harry negou com cabeça.
- Sei, eu sei. Mas... como você sabe?
- Vai ver que tenho minha cota de conhecimentos nas artes das trevas. A biblioteca Mitrica não deixa a desejar. Pode usufruí-la também, mas como pretendo jurar pelo seu bem, não posso deixa-lo que leia nada sem minha aprovação ou supervisão antes. Prática de magia negra sem um tutor que saiba as consequências pode levar a atos desastrosos além do imaginário.
Harry olhou novamente para o buraco no peito do adulto:
- E você sabe porquê...
- Sim, eu também fiz algumas coisas além da linha. Dito isso, a Horcrux é um problema?
- Não!
- Já te machucou?
- Nunca – falou mais baixo dessa vez, percebendo que havia se exaltado antes.
- Te atrapalhou?
- Eu não quero que a tire.
- E isso é você falando ou ela? Ela afeta sua mente de alguma forma?
- Não. Parece só um bichinho de estimação.
- Mais um motivo para ir ao Gringotts. Se o anel Potter for tão forte quanto eu penso que seja, no caso de a Horcrux estiver afetando sua mente, será repelida de toda forma, como repeliria um legilimente.
- E se não estiver?
- Imagino que não terá efeito algum.
O coração de Harry estava disparado.
- Senhor Potter – chamou Lakroff.
- Sim?
- Eu sou sensível a magia.
- Entendi essa parte.
- Sobre a magia nos seus tios...
Isso fez o menino querer sumir.
Sumir de vez.
Inferno, o quão mal faria aparatar agora?
Aquele homem sabia demais.
"Podemos mata-lo" sugeriu a voz.
"Cala a boca!" pediu Harry.
- Quero apenas saber se foi o senhor ou a Horcrux fazendo aquilo, pois se foi ela eu preciso retirá-la antes que lhe cause mais mal.
- Não foi a Horcrux, eu juro!
- Então você prendeu seus tios a um juramento mágico?
Harry não respondeu. Aquela era uma armadilha perigosa.
- Não precisa responder. Você tem dois dias para pensar se vai querer minha ajuda. Existem apenas duas coisas que me preocupam agora, sua saúde física e sua saúde mental. A física é fácil de resolver, apenas demorado. Sobre a psicológica, precisarei saber se essa coisa que habita em você, mesmo que muito pequena e mesmo que tenha sentido ela lhe curando junto das poções, pode estar afetando seus julgamentos. Só quero ter certeza de que nada vai feri-lo. E, infelizmente para a quantidade de trabalho que terei, você ser acusado de prender trouxas a uma magia tão complexa e parar em Askaban atrapalharia a parte de mantê-lo bem e seguro.
- E o que pretende fazer em relação a isso?
- Simples. Acobertar o caso. Talvez eliminá-los depois de força-los a assinar os papeis de adoção para a família que você escolher. Se o governo mágico descobrir a culpa será toda minha e o senhor se livra.
- Como é? Você não iria tão longe, não pode estar falando sério!
- Você vê minha alma, não consegue perceber minha sinceridade?
- Mas isso é absurdo. Você está sugerindo que vai encobertar meus crimes?
- Claro.
- Você seria executado no ato! Você mesmo disse, é um Grindelwald, não vão nem querer te prender. É beijo de dementador direto!
- Por isso eu tenho que fazer a coisa direito. Não deixar que você espalhe para absolutamente ninguém, mesmo que sem querer, quem eu sou. Os anéis vão ajudar. Conseguir que você faça o voto perpétuo para confiar em mim e então me dizer tudo que poderia prejudica-lo, para que eu possa limpar cada rastro. Achar uma boa família para você que garantiria o resto. Curar suas feridas. Três coisas. Três dívidas de vida, então estarei livre. Mas apenas assim, você têm que estar livre de tudo que pode te matar. Por fim há Voldemort. Como existe uma Horcrux dele em você o outro pedaço ainda está vivo, a qualquer instante então ele pode voltar apenas porque você o mantém preso ao plano material.
- Eu?! COMO É?!
- Não sabia disso?
- NÃO!
- Pois mantem. Ele pode voltar, basta ter um corpo para isso. Existem boatos de que ele está em uma floresta na Albânia. Podemos destruir essa Horcrux em você e, com sorte, a falta de corpo o levaria. Entretanto, tenho minhas dúvidas. O que há na sua cabeça é pequeno demais para uma Horcrux e Horcruxes precisam de rituais par serem feitas.
- Como assim?
- Você divide a alma ao meio. A alma, a magia, até algumas memórias. Tudo em você se torna dois e uma parte fica no objeto. É útil, mas muito arriscado. Andar por aí com metade de suas capacidades? Inclusive intelectuais, uma vez que desenvolvemos sabedoria das experiências e você perde metade delas? Se te matam, você pode voltar com o que há ali, mas você vai voltar sem parte do que um dia foi. É algo que a maioria não se submeteria a fazer. Outra que exige sacrifício humano, é preciso matar além de todo o restante do ritual.
- Isso é... – Murmurou a criança, atordoada de mais. Tornou a se sentar.
- Mas é impossível pensar que em você tem metade do homem. Imagino que ele já tenha feito uma antes e quando morreu aquela noite, por já estar fragmentado, uma parte se grudou em você. Por mais estranho e absurdo que seja, pouco se sabe sobre Horcruxes então é uma ideia a ser analisada. Dito isso ele pode voltar a qualquer instante pois lhe tem a outro objeto como garantia. Se eu confirmar que essa coisa o prejudica destruo tudo e o mato no ato. Não deixarei que retorne e encoste em um fio seu.
- E como você pode ter essa certeza? De que a Horcrux me faz ou não mal.
- Simples. Tirando o aparelho que Grindelwald desenvolveu para parar minhas visões. Dando uma boa olhada em você e na sua cicatriz. Esperando para ver tudo de ruim que vai lhes acometer. Se essa coisa estiver envolvida em qualquer coisa negativa no seu futuro, Voldemort será um homem morto, como devia ter sido se Gellert fosse um pouco mais macabro e tivesse ido atrás de uma criança para destruí-la no instante que a viu prejudicando essa família, ao invés de ser piedoso e preferir esperar para ver se ela não mudaria suas atitudes.
- É simples assim?
- Como respirar ou beber água.
Após um longo tempo quieto Harry se levantou novamente e começou a andar, parecia irritado consigo mesmo as vezes, deus alguns giros no quarto, tocou a cabeça várias vezes e parecia prestes a gritar com alguém, mas não fazia e então voltou a falar:
- E no caso de a Horcrux não me prejudicar? Se é verdade o que disse, que eu mantenho um lorde das trevas vivo... O que fará em relação a isso?
- Então dependerá de você.
- Como assim?
- O que o senhor vai querer fazer com um pedaço de alma que pode trazer um Lorde das Trevas, que matou seus pais, de volta a vida?
-x-x-x-
Harry pediu a Lala uma poção para dormir aquela noite, uma pesada, mas que o garantisse sonhos. Ela achou estranho (principalmente considerando que o mestre Harry era muito desconfiado), mas fez o que foi mandado e ficou de guarda a noite inteira por ele, depois de jurar que o faria (ideia dela, ele parecia tão estressado que nem havia pensado em algo assim, ainda mais considerando que ela era livre e podia fazer aquilo e ser sincera).
Nos seus sonhos ele e Tom tiveram A BRIGA.
Ou melhor. Hazz gritou como louco com a "horcrux" enquanto o próprio Tom preferiu ficar quieto e apenas responder quando era pedido.
O menino estava irado.
"Como você NÃO ME AVISOU que VOCÊ na MINHA cabeça podia fazer VOLDEMORT voltar a vida e FAZER MERDA POR AÍ! VOCÊ ESTAVA ME USANDO!"
"Não! Eu não estava!"
E a discussão só piorava a cada instante.
Tom tinha quase certeza de que sim, Harry o mataria. Iria deixar o Lorde filho de Grindelwald o retirar e matar.
Era seu fim. Sem que notasse o problema em não dar aqueles detalhes, ele tinha praticamente traído a confiança (já bem baixa a esse ponto) do menino.
Decidiu que, se fosse partir, seria sem que Harry o odiasse para sempre e tornasse a odiar quando descobrisse o restante. Foi sincero e contou da profecia.
Tinha certeza que se não estivessem em sonhos ele teria sido desmontado. Mas nada que a proteção de Lilian não pudesse dar um jeito. Foi queimado até quase (apenas quase) se arrepender de todas as torturas que um dia fez na vida. Se ele podia causar metade da dor que Lilian Potter morta era capaz em sua alma, então nada justificava aquele ato.
Quase.
Se fosse qualquer outra pessoa já teria implorado pela morte, em certo ponto.
Mas não era qualquer um. Não queria morrer.
Nem queria a raiva de Harry.
Então por mais que estivesse nos últimos fios de consciência continuou tentando falar com o outro e aceitando toda vez que era propositalmente queimado com tapas.
Ao menos aprendeu uma coisa sobre sua criança: Harry, quando irritado, era completamente impiedoso.
Não eram só os tios, que tinham sido babacas por anos, não era algo raro. Se você irritasse o Potter ele estaria disposto a colocar as mãos no seu rosto e te ver queimar por elas, de bom grado e sem pensar nisso nem por um segundo.
Que morresse, virasse pó, e que isso fosse dolorido.
Ele não ligava.
A raiva de Harry desligava completamente sua empatia tão característica.
Nunca mais queria irritá-lo.
E tinha pena de quem o fizesse.
-x-x-x-
Lakroff e Harry ainda se viram em outros momentos. Almoçaram, tomaram café e jantaram juntos. Todas as refeições na sala de jantar. Conversavam um pouco, mas o mais velho via que Harrison não estava bem. Estava irritado e sua magia...
Era preocupante.
Então, no décimo segundo dia de Harry Potter na mansão Mitrica, Lakroff chegou na casa para encontra-la destruída.
Sua reação: rir.
Rir muito, com os braços na barriga e tudo.
- Quando eu disse que ele podia destruir tudo – comentou entre risos, começando a procurar pela criança, sabendo que precisaria de ajuda.
Encontrou o menino em meio a escombros de onde deveria ser uma das salas de visitas. Estava abraçado às penas e chorando com a cabeça nos joelhos.
- Bom dia – cumprimentou Lakroff baixinho, não querendo incomodá-lo.
- Desculpa – respondeu, a voz cheia de dor, mágoa e sabe se lá mais o que.
- Tudo bem. Você se recordou, não foi?
Harry concordou com a cabeça e deu um grito em seguida. Chamas verdes e negras saíram dele e arremessaram escombros para todos os lados, o próprio Lakroff quase foi junto se não tivesse levantado barreiras a tempo.
As madeiras começaram a queimar.
- Já cuidei da maior parte das coisas, não se preocupe, ninguém vai vir atrás de você. É normal, você se descontrolou, sua magia estava instável, você estava lutando contra chamas e tinha aparatado para um lugar desconhecido. Havia um trem...
- Eu... eu... – mas não conseguiu terminar, estava sentindo tanta dor que não conseguia falar.
Se odiando tanto.
E odiando Tom.
Odiando tudo, cada parte dele.
- Vai ficar tudo bem. Vou te ajudar, já disse – Harry continuou chorando, as chamas que ainda queimavam aumentaram. – Sei que parece terrível confiar em alguém para te dizer isso, para garantir isso, mas para isso vamos fazer o voto. Para isso nós...
- Eu sou a merda de um monstro! Por isso todo mundo tenta me matar, não é à toa! Eu...
- NUNCA DIGA ISSO!
Harry se assustou. Lakroff nunca aumentou o tom de voz, mesmo quando estava irritado era apenas frio.
Mas agora ele gritou tom alto que o menino realmente levantou o rosto para olhá-lo.
- Desculpe... – pediu o Lorde. – Eu só... – negou com a cabeça, frustrado. – Não deixe que as pessoas te chamem de monstro. Só vai piorar tudo. Você não tem como mudar quem é ou que faz parte de você, ninguém tem que te julgar por algo que lhe é nato e...
- Eu carrego uma Horcrux, eu posso ser o responsável por centenas de mortes se continuar assim e... eu fiz aquilo... eu... – e tornou a levar as mãos ao rosto, apertou tanto que parecia que ia sangrar, as chamas cresceram e explodiram uma segunda vez, ele não parecia nem estar enxergando mais.
Estava em uma crise de pânico.
- Você é uma criança que precisava de ajuda. Quem deveria se culpar é a sociedade mágica que te deixou com trouxas! Ou os trouxas que tentaram te matar! – disse naquele tom frio.
- Eu sou um monstro, eu sou um...
- Os trouxas te disseram isso, mas não é verdade.
- Os bruxos também dirão!
- Então ignore-os também. Sei que é difícil, nem sempre eu consigo, mas...
- Eu...
- Me dê sua mão – pediu interrompendo o outro e se aproximando, sabia que era perigoso, mas também podia ver claramente que o menino precisava de apoio acima de tudo, então tinha uma chance de não ser explodido para longe.
- O que?
- Me de sua mão.
- Mas...
Mitrica não esperou mais, apenas pegou a mão da criança, depois colocou outra em seu queixo e levantou.
- Olhe para os meus olhos. Qualquer um dos vários que tenho – ficou aliviado que o comentário ainda deu um brilho de vida aos olhos do menino. Que estavam pretos. Totalmente. Apenas duas fendas verdes no centro. Calmamente levou a mão à cabeça, retirou os grampos que seguravam sua trança e a deixou cair, então puxou o ferro espinhoso que deixava na cabeça.
- O que está fazendo?
- Tirando isso, para te ver melhor. Ver como eu nasci para ver, não como as pessoas querem que o monstro finja ser.
Então, conforme os espinhos eram tirados e ele sentia o sangue escorrer pelos cabelos, viu como Harry arregalou os olhos que de fendas ganharam bolas verdes no meio da escuridão.
- Os riscos... – o menino sussurrou.
- Riscos?
- Os riscos que te perseguem, que ficam dentro da gosma. Não são riscos. São mais olhos. Gigantes. Dezenas deles! Por todos os lados. Estavam fechados, por isso pareciam riscos, abertos não tem como confundir... São roxos também. Todos. Olhando e derretendo no meio da gosma translúcida.
- Por todos os bruxos das trevas, eu consegui ficar ainda mais assustador! – resmungou. – Estou a dois passos dos anjos da bíblia do velho testamento.
- Como é?
- Os anjos na bíblia são coisas aladas cheias de olhos muito perturbadoras, que precisam avisar os humanos para se acalmarem quando são vistos. Os poderosos, pelo menos.
- E você sabe disso?
- Sei. Li a bíblia toda. Mais de uma vez. Sabe aquela sobre conhecer seus inimigos?
- Inimigos?
- Vamos fingir que isso não saiu da minha boca.
Estava feliz. Tendo sucesso em acalmar Harry, concentrar sua atenção em outra coisa além de seus próprios pensamentos, esse era um bom passo. Sabia como lidar com casos assim. Credence teve sua cota de ataques de raiva e descontrole mágico severos. Se podia lidar com Aurélios Dumbledore, sua fênix e Nagini, com sorte, conseguiria lidar com um ataque de pânico de Harry Potter.
Mais uma experiência que Gellert Grindelwald serviu para lhe oferecer além de todas as coisas ruins que preferia ter evitado.
- Ignorando minha falha de caráter e minha aparência aterradora, você sabe porque os Grindelwalds usam a mariposa como símbolo?
- Sei. Perguntei a Lala, ela me deu um livro... Eu destruí tudo, sua casa, eu...
- Foque em mim – ordenou, puxando o rosto do menino que tentava se esconder de novo. – Nós Grindelwalds temos o "dom" da visão, para mim é maldição, mas nós sempre vimos coisas. Sejam quais fossem. Eu vejo o futuro, vejo as coisas ruins nele, vejo torturas, massacres e mortes, é muito raro que seja qualquer coisa boa. Muito mesmo. Devo ter tido no máximo duas visões boas na vida inteira e sou um homem já bem velho, apesar de muitíssimo bem conservado, obrigada – um sorrisinho tímido apareceu e sumiu em Harry. – Quando eu olho para você, entretanto, vejo apenas duas coisas e nenhuma é ruim.
- O que você vê?
- Um longa vida e um bruxo forte. Alguém poderoso que viverá por anos, feliz. Não gosto de entrar em detalhes, ainda mais agora, que não tenho motivos para querer mudar, mas sim concretizar o que vejo. Só que sua vida será boa Harrison, isso posso garantir. Você vai passar por muita coisa, vai ter que ter uma força absurda, mas vai ser boa. Você vai lutar todo dia, muito mais do que qualquer um, mas vai colher os frutos que plantou, cada um. Um dia, tudo vai acabar e a vida ideal virá, do jeitinho que você quis e construiu para ser. Você também será muito mais forte que essa vinha negra na sua testa, então se ela te incomodar, não ligue, você conseguirá destruí-la. De um jeito ou de outro. Se não acredita em mim pode até perguntar a Gellert Grindelwald, ele viu o mesmo.
- Como você sabe?
- Eu não te vi na estação em Moscou, mas ia todo dia lá te esperar. Gellert me avisou. Gellert teve uma visão sua dentro de Nurmengard.
- Pensei que você nunca encontrasse seu pai.
- Nos "esbarramos" uma vez, a alguns meses, na verdade. Quase um ano atrás. Ele fugiu da fortaleza para me encontrar.
- Como é?!
- Os guardas concordaram em não espalhar isso por aí, o homem que o derrotou e prendeu também. Todos sabiam que se a história se espalhasse ia ser um pandemônio, iam querer que o matassem de vez. Se depois de todos esses anos, com runas mágicas segurando sua magia, impedindo que crescesse e pior, a prejudicando e a seu corpo como nada mais seria capaz de fazer com tanta maestria, ele podia fugir... Iam querê-lo morto. Abafaram o caso. Gellert não fez muita coisa mesmo. Matou uma pessoa no caminho para cá, não sabia com certeza qual propriedade os Mitrica poderiam ter ainda, então demorou umas duas semanas para que aparecesse aqui. Nós duelamos, eu o prendi e chamei os guardas. Mas ele me avisou sobre você.
Harry notou que a alma de Lakroff estava agindo estranho nestas últimas partes da conversa, então supôs que havia algo ali que ele provavelmente estava escondendo. Uma mentira disfarçada entre verdades provavelmente, mas imaginou que toda a situação deve ser complicada, então decidiu respeitar isso dessa vez. Entretanto, tentaria descobrir logo que posspivel.
- Por que ele faria tudo isso?
- Ele amava sua mãe. Ficou muito mal quando ela se foi. Teve ataques que precisaram dopá-lo, pelo que me disseram. E depois ficou quase em estado vegetativo. Não come, não bebe direito, mal faz necessidades. Está assim de novo. Letárgico. Não sei como o velho conseguiu fugir, para começo de conversa.
- Ele amava minha mãe por quê?
- Algo parecido comigo, eu imagino. Lhe deu vida e esperança. É horrível naquela prisão, mas seus pais faziam... ser suportável. Ser viver, não apenas sobreviver.
- Não é porque ela era neta dele?
Lakroff piscou todos os olhos em sua cabeça ao mesmo tempo (menos os que ficavam flutuando, realmente só os da cabeça).
Os que boiavam na gosma continuaram olhando para todas as direções.
Será que eram as visões? Cada um estava observando algo totalmente diferente? Longe daqui? Em outro espaço e tempo?
- Como sabe disso? – o adulto perguntou.
- Eu não sou tolo, você mesmo disse. Você não foi o mais discreto, apesar de nunca ter mentido. Nenhum bruxo que já conheci tem o corpo, a alma e a magia tão fundidos como você e minha mãe. Para mim é fácil fazer minha magia ficar envolta do corpo, apesar de ser mais parecido com os padrões dos outros. Meu cabelo sempre cresce quando corto, mesmo que eu não faça de propósito, é como se ele só se recuperasse, como quando usamos muita magia, ela encolhe, depois volta. Despois disso, notei que meus olhos tem a mesma cor da minha magia. Também notei o padrão dos olhos e da mariposa na família. Minha mãe tinha olhos verdes em fotos, mas amarelos como sua magia para mim. Você tem olhos azuis para os outros, roxos como sua magia para mim. Os de mais ninguém são diferentes desse jeito quando olho, a magia de ninguém vai para as orbes da mesma forma. Nem Voldemort ou Dumbledore.
"Sua reação quando contei que podia ver coisas também foi suspeita. Disse a frase 'você também não'. Quando estava me falando sobre os traços que puxei dos meus pais, disse claramente que eu tinha 'os traços nobres deles', mas não teria como ser traços nobres se minha mãe fosse nascida trouxa. Depois ainda disse, com todas as letras 'Os Potters não devem ter se casado com uma única mulher que não viesse de uma família praticante de magia negra, desde que existem no meio político bruxo' então cadê meu pai aí? Ainda mais se minha mãe fez uma fixa dela para a arvore genealógica e te contou isso, então você a incluiu na lista? Os 'traços da família da minha mãe'. Cílios marcados. Você também tem. Os olhos, claros e com magia. Para piorar você disse agora pouco 'nós Grindelwalds'.
- Queria que eu descobrisse isso sozinho com o teste de sangue? Assim não duvidaria? Veria com meus próprios olhos?
Lakroff suspirou se sentando no chão:
- Algo assim, também.
- Você nunca mentiu, por isso perguntei direto. Achei que...
- Eu não queria mentir para você. Que tipo de relação eu criaria assim? Só queria esperar. Segurança e que tivesse provas.
- Gellert fez as poções que você está usando para me curar, não foi?
- Sim. Quando ele estava na guerra procurou várias coisas que podiam ajudar bruxos machucados por trouxas. Até para marcas de balas, se quiser sumir com essas também.
- As poções para controle mágico? Que impediriam... – e apontou envolta.
- Sim. Ele fez tudo isso e muito mais. Você não tem ideia.
- E ele fugiu da cadeia, sabendo que provavelmente poderia ser executado, apenas para te avisar onde me achar?
- Apenas para te ajudar. Gellert sabia que seria preso em seguida, mas já disse que sua mãe mudou tudo, não temos certeza mais de como vamos morrer. Valeu a pena a tentativa, por ela, por você...
- Ele...
- Podemos não falar dele? Pelo menos agora? Vamos nos concentrar em só dois monstros por metro quadrado?
- Como é? Você acabou de...
- Com licença, agora que você sabe que é um Grindelwald deve ser ensinado que, para todos os efeitos, sempre será odiado. Sempre será um...
- Uma mariposa?
- Perfeito – disse com um sorriso cheio de afeto. – Uma mariposa. Um mau agouro. Bem vindo ao clube dos olhos malditos, dos monstros necromantes olhudos, Harry James Potter. Desculpe por colocarmos você nisso.
- Não é culpa de vocês.
- Talvez seja.
- Como assim?
- Lembra o que eu disse? Sobre sua mãe mudando todo o futuro? Também disse que Gellert instruiu Lily a pesquisar informações na biblioteca Mitrica, mas para isso alguém tinha que assumir o nome para ter autorização, ter o anel de herdeiro. Então você me perguntou...
- Se ela te achou.
- Eu respondi o que?
- Que eventualmente você apareceu.
- Exato. Eventualmente. Se eu tivesse antes lá, em fácil acesso e podendo abrir, ela não precisaria. Ela não teria que assumir o título de herdeira Mitrica e ela não teria que se submeter ao feitiço do anel.
- Minha mãe abriu o cofre?!
- Sim. E o feitiço do anel, Harrison, obriga você a receber uma adoção mágica Mitrica, mesmo se fosse totalmente um lorde da casa, sem tirar nem por. Afinal, se você já tiver o DNA, nada vai acontecer, mas se estiver em falta ou mesmo prejudicado, então ele despertará novamente. Assim o próximo herdeiro será "perfeito" de novo.
- Então se minha mãe nunca tivesse...
- Se sua mãe nunca tivesse ido atrás de Gellert, nunca tivesse tido a certeza de que Garden Evans fora o único filho de Grindelwald...
- O nome do meu avô era Garden?
- Bem... Era o nome que Gellert deu para ele, nem lembro se ainda era esse quando foi adotado ou...
- E Garden deu o nome de Petúnia e Lírio Rosa para suas filhas?
Os dois se olharam por alguns instantes, Harry viu as chamas verdes, os destroços da mansão, os jardins cheios de... Petúnias, Lírios, Rosas e mais algumas flores que não conhecia bem, mas que milagrosamente ainda estavam bem em alguns pontos e, por fim, viu os vários olhos do tio-avô.
Então ambos riram. Riram muito, a mesma risada. Baixando as cabeças da mesma forma, fechando os olhos e tremendo.
- Por favor, tenha mais criatividade se um dia for ter filhos, fica obvio que somos péssimos nisso - disse Lakroff entre risos. - Mas enfim, se Garden... - deu um risinho. - Se Garden não estivesse morto, se Lilian nunca tivesse aceito o título de Mitrica, apenas para abrir o cofre, se nunca tivesse feito isso grávida, ela nunca teria tido DNA Mitrica o bastante para gerar um "dom". Ela não tinha.
- Uma decisão... - murmurou.
- Que mudou tudo. Sim. Você poderia crescer e viver toda sua vida acreditando que era filho de uma nascida trouxa comum, nunca seria afetado por isso e seguiria adiante. Só que não foi assim, foi totalmente diferente do que o destino esperava. De repente você não era um simples Potter. Era um Mitrica. Mesmo que os Mitrica sejam necromantes, não videntes como os Grindelwalds, eu acredito que essa dose foi o suficiente para dar a você o sangue da família. Despertar o que faltasse. Você não vê o futuro, entretanto, como um Grindelwald veria, mas almas. Um chacal, mais que uma mariposa. Apesar de um não estar tão longe do outro. Também é a única pessoa da qual já ouvi falar que viu a morte.
- Eu não...
- Você também diz coisas suspeitas as vezes, Harry. Me disse que quando viu alguém morrer, a alma saiu do corpo e então uma coisa mais estranha aconteceu. Deixa eu adivinhar? Você vê um ceifador vindo busca-la? Viu com sua mãe também?
- Não é um ceifador... - admitiu. - E quando foi com minha mãe, eu quase desmaiei. Ela colocou uma magia de proteção em mim, eu acho...
- Estou ciente. É uma longa história, mas... Vamos dizer, por enquanto, apenas que sei dela porque é a única coisa que me impediu de surtar quando vi a Horcrux. Essa coisa não iria estar viva se estivesse te ferindo – apontou para a cicatriz de raio.
- Eu não vi a alma dela indo embora - admitiu. - Vi entrar em mim e depois senti indo, mas não vi a coisa.
- Então, por hora, é só uma possibilidade. Mas seria adequado. Considerando que seu sangue é necromante. Tanto Mitrica quanto Potter...
- Os Potter são necromantes?
- Você não tem ideia. Um dia vai saber de tudo isso. De toda forma, duvido que seu dom estaria ligado a qualquer outra entidade, você sendo tão marcado pela morte. Ainda pode ver almas... Sua mãe não tinha nenhum dom, talvez, antes de tudo, alguém com sua capacidade não veria os olhos dela da forma como você viu. Naquele ponto ela já era uma de nós.
- Uma decisão...
- Que mudou tudo. Você seria um bruxo como qualquer outro. A culpa é toda da nossa família, sinto muito.
- Mas vocês não fizeram os trouxas me... Os trouxas não sabiam desse dom, eles agiriam da mesma forma.
- Talvez sim, talvez não. As entidades nos odeiam. Lady vida detesta que vamos contra a natureza, como necromantes é nosso padrão, então nossas vidas nem sempre são boas, andamos como Grindelwald nos queimando, vendo o que o destino nos dá para sua própria satisfação macabra. A morte ainda não sei se elas nos detesta ou se nos ama, ou se é bipolar. Somos ferrados, desculpe a palavra – se corrigiu.
- Voldemort morreu quando tentou me matar.
- O que tem?
- Você disse que ele mataria todos da nossa família...
- Ele ia! – avisou com medo de ter assustado a criança. – Antes de sua mãe...
- Talvez a morte nos odeie mesmo. Se vocês o viram matando cada um, Morte fez uma pessoa só para isso, mas e se ficou brava com ele por tentar matar mais de um Grindelwald por vez? Ela não queria tantos por metro quadrado. Nas suas visões morríamos todos juntos ou em ordem?
E de novo, se encararam, depois se aproveitaram de gargalhadas.
- O mesmo humor idiota Grindelwald. Bem-vindo, ao clube dos monstros, Harry. Você vai odiar.
"Eu odiei foi a piada" murmurou a vozinha que provavelmente era Tom, pois Harry ainda estava sorrindo quando corrigiu:
- Harrison.
- O que?
- Pode me chamar de Harrison.
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Sabem o que é pior? Esse capítulo (que é o maior DE TODOS disparado) é só a parte um....
Ainda tinha muito mais coisa que eu queria fazer....
Mas ficou muito grande cara...
Eu resumi coisa, eu tirei coisa, ainda ta gigante....
Espero que pelo menos vocês tenham gostado!
Eu vou perguntar só por curiosidade, porque a continuação vou fazer baseada no meu humor no dia que tiver tempo, mas vocês querem ver:
a) Parte 2 da relação Harry e Mitrica
b) Voltando ao presente.
Que fique CLARO! Vocês ainda vão saber as coisas que aconteceram no passado, só não seria agora, entendem? Seria quando houver necessidade de descobrir.
De toda forma é uma votação de curiosidade mesmo.
Espero que tenham gostado, obrigada pelos votos, pelos comentários (que me ajudam muito) e por todos que ainda me acompanham <3
Nos vemos na semana que vem (considerem esse o capítulo de "segunda feira" ta? É que eu não ia ter tempo amanhã para postar)
PS: Eu acho que precisava arrumar alguém para revisar meus capítulos, mas os filhos de cristo dos meus amigos não gostam de LER! Inferno....
PSS: Como muitos que vão estar lendo esse capítulo não vão ter visto, eu fiz uma árvore genealógica para os Potter de acordo com o que o James disse ao Grindelwald lá atras. Vou colocar aqui a imagem e também no capítulo 10. Tem partes faltando, mas são do que vocês ainda vão descobrir... (sei q ficou meio zoada, mas eu perdi a paciência com o meu computador).
Link para abrir ela online (para dar zoom) aqui nos comentários --->
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