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Capítulo 19 - Os dias ruins e o fim de algo


AVISO DE GATILHO (DEPRESSÃO, AUTO DEPRECIAÇÃO, ABUSO INFANTIL, TORTURA E ASSASSINATO)

Como de costume eu faço essa história para ANIMAR as pessoas com uma fanfic gostosa de se ler, esse é o pior momento da vida do nosso menino, já estou avisando para deixá-los preparados e como eu o amo muito e não quero deixar vocês tristes, não detalhei as cenas, espero que entendam isso de novo. 

Não há necessidade de focar em algo se vocês conseguirem se colocar um pouco no lugar dele e deixarem a imaginação correr pensando nos piores cenários, mas EU não vou fazê-los. Para mim os piores cenários me causam ânsia de vômito (no mínimo).

Apesar dos pesares espero que gostem, finalmente vão entender como a personalidade de Hazz terminou de se formar...

Mas tem algo positivo os esperando no final.

Mesmo na noite mais escura...

Ps: Estou com sono (de novo) eu cheguei a revisar mais cedo, MAS tem cenas que fiz agora durante a última revisão, então elas não tem qualquer limpeza, estão no puro, mas é que a ideia veio e eu quis deixar. Me avisem os erros que eu sempre tento concertar <3

(tento porque tem vezes que eu perco a notificação ou o print no meio do meu celular e demoro para recuperar).

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Capítulo 19 – Os dias ruins e o fim de algo


"Harry era o menino que sobreviveu, o estorvo, a aberração, o monstro e o demônio,

Resumidamente, era aquele que teve que aguentar demais, mas o que acontece se quebrasse de vez?".



Harry e Tom estavam na biblioteca de Hogwarts.

Desde que a Horcrux estava forte o suficiente para proteger a mente com barreiras mentais, ele sempre levava o "pirralho" para o castelo ou para a praia onde estava o medalhão da Sonserina. Eram os dois lugares em que sentia alguma... calma. Parecia adequado levar o Potter para conhece-los.

Depois de todo aquele tempo a Horcrux começou a aceitar coisas sobre si mesma.

Uma delas era que gostava de Harry Potter.

Talvez não fosse só o tempo, mas a influência também.

Começava a pensar seriamente na possibilidade que duas almas não deveriam interagir de forma tão direta, se emaranhar e trabalhar juntas como ele e a criança faziam. Quem sabe se isso afetava diretamente suas personalidades?

Por que outro motivo ele sentia tantas coisas novas?

Gostava de uma pessoa. 

Isso era estranho. Não sabia ao certo como e o que isso queria dizer, só que apreciava. Não por ter uma habilidade útil ou uma serventia marcante (claro que Harry tinha essas coisas, o mantinha vivo e dividia magia sempre que precisava, o deixando forte e mais consciente), mas ele apreciava apenas por se sentir agradavelmente feliz em estar junto dele.

Não eram apenas as vantagens que o tinham cativado, mas a pessoa.

Essa era a palavra!

Voldemort, de alguma forma, tinha sido cativado.

Gostava de conversar com o menino, de como ele era inteligente e sempre se mantinha neutro sobre qualquer assunto antes de tomar uma decisão baseada em informações. Como era talentoso, mas humilde, o que o Lorde nunca gostou, só que em Harry... 

Era certo.

O menino era naturalmente uma luz. Não no sentido mágico, estava obviamente tendendo para as trevas, praticava imperdoáveis sem varinha desde os quatro, muitíssimo mais novo e eficiente que o próprio Tom, como poderia ser diferente?

Conseguia até mesmo usar a própria magia da Horcrux as vezes, sem que notasse ou quisesse, mas para Hazz era como se fosse dele próprio.

Marvolo queria dizer que encarar Harry era como olhar diretamente uma estrela.

Um dia, a primeira vez em que se encontraram em uma memória da praia, Tom se sentiu um tanto incomodado com o calor, a simples ideia de suar numa memória era absurda, mas a memória da força do sol era muito forte na mente, o suficiente para fazer uma careta emburrada. Ao menos o cheiro da maresia era reconfortante. Ele inspirou aquele aroma e foi quando ouviu a risada da criança ao seu lado.

"O que foi?" ele perguntou.

"Nada, é que eu nunca fui a praia" respondeu.

"E o que tem? O que nisso te fez rir?"

"É que eu percebi uma coisa interessante da nossa mente".

"Que é?"

"Bem... Eu sei como é a sensação do sol de verão na pele, então eu sinto, mesmo que seja apenas um sonho e seja uma memória sua. Sei qual o som que o mar deveria fazer, então reconheci no instante que pisei aqui, mas... eu não sei qual é o cheiro do mar. Não tem como você me fazer sentir um cheiro que eu nunca senti, minha mente não consegue traduzir essa informação. Então estou achando tudo isso tão esquisito que..."

E tornou a rir.

O sol, uma estrela tão potente, não era nada em comparação com aquilo, que aqueceu a barriga de Tom e seu peito de um jeito que nunca antes tinha feito.

Quando Harry estava feliz e sorrindo era o próprio sol, quando estava pensando parecia uma noite estrelada, calma e cheia de informações ocultas, interessantes e belas, mas quando te encarava...

Era o infinito do espaço.

Tom já tinha aceito que gostava da risada e, agora que já tinha se acostumado a encarar o infinito, fazia com frequência.

Os dois iam longe.

Falavam por horas até que Alice, a garota trouxa, o acordava para algum compromisso que não podia mais enrolar.

Não gostava de Alice.

Tinha medo que ela machucasse seu simpático receptáculo. Estavam cada dia mais próximos, cada dia Hazz parecia mais dependente dela, assim como era de Neville.

Outro que o preocupava.

Um menino totalmente ignorante, que foi criado em cima dos princípios da luz, sem ver seus defeitos. Algo tinha que ser feito em relação a isso, se queria continuar sendo amigo de alguém tão excepcional quanto Harry.

Os Longbottons sequer comemoravam os feriados adequados.

Teve que ensinar a "Hadrian" como fazer o Samhain e engolir sua própria frustração e desgosto (pelo bem de uma das primeiras experiências do menino) sobre o fato de que os trouxas comemoraram com ele.

Não tinha um lugar muito bom para fazer sozinho sem ser interrompido e Alice só concordou em conseguir tudo depois que ela fosse aceita como participante.

Apesar da frustração, riu de como Liu Heris, o mais velho e o único trouxa que admitia aceitar, disse que estavam fazendo um ritual bruxo com um demônio, que no mínimo queria sair dali matando qualquer idiota com o toque.

Também não foi o melhor dos rituais, Hazz não sabia falar direito e as crianças estavam mais preocupadas em se divertir com a coisa toda.

Isso o teria enfurecido, mas ver o de olhos verdes se divertindo sendo um bruxo pura e simplesmente... ele deixou passar.

Outra prova de que conviver com a criança, sem dúvidas, o estava afetando e a seu julgamento.

Perdoava e ria de piadas vindas de trouxas.

Decididamente não era mais o mesmo e preferiu não pensar muito sobre isso.

Mas agora estavam em Hogwarts. Dentro da biblioteca. Um dos seus lugares prediletos, junto de uma pessoa que nunca esperou que se tornaria tão querida. Estava agradável daquela forma. 

- Deixe-me ver se entendi... – murmurou Hazz, sentado em uma das cadeiras. Ele era tão pequeno que parecia engraçado sentado ali, as penas balançando, um enorme livro na sua frente.

- Diga-me – incentivou Tom, colocando ambas as mãos juntas para apoiar o queixo, focando sua atenção.

- Gellert Grindelwald ganhou, honestamente, as eleições para chefe da confederação internacional dos bruxos em 1930?

- Sim.

- Ele tinha um discurso de guerra contra trouxas, em prol de impedir mais guerras entre eles, que afetariam diretamente o mundo da magia e o planeta. Sem contar que eles poderiam se voltar contra os bruxos por uma óbvia aversão ao que era diferente, além do histórico de caça às bruxas. Ele, que era um vidente, deixou claro que os trouxas, se não fossem impedidos, podiam nos descobrir e nos usariam como armas controladas, ou pior, nos transformariam em obscuriais inconsequentes que podiam jogar contra os exércitos inimigos e deixar que queimasse. Correto?

- Sim.

- Não só isso, os bruxos eram impedidos, por lei, de atacar trouxas...

- Ainda são.

- Ainda somos. Portanto, quando temos o conhecimento adequado de uma adulto, só podemos nos defender de forma passiva, mas nenhum feitiço de escudo foi inventado que consiga parar o tiro de uma bala, uma bomba ou mesmo as armas biológicas que estavam ganhando popularidade e matam em questão de minutos, tempo insuficiente para a cura mágica. Ou seja, não há uma defesa. Enquanto isso, as crianças não têm conhecimento, nem poder, para se defender o suficiente em nenhum caso, sofrendo com... tudo.

- Exato.

- Bruxos não podem atacar, mesmo que fossem atacados, por armas que não tinham proteção, ou seja, todos viam trouxas como fracos e que não precisavam de proteções específicas para enfrentar. Já Grindelwald queria mostrar que não eram. Todos achavam que tínhamos, nós pessoas que conviviam com eles, que aceitar qualquer coisa, sem retaliação, porque estaríamos nos aproveitando dos mais fracos.

- Parecido com sua própria ideia de não atacar seus tios, não acha?

Harry ignorou o comentário para se focar no assunto principal:

- Gellert deixou claro que, ou parávamos os trouxas naquele instante, ou a força deles só aumentaria, seus números, suas armas, sua inconsequência para com o mundo e sua ambição desenfreada por poder e supremacia. Até que chegaria ao ponto que não teríamos qualquer defesa além de nos esconder, o mais fundo que pudéssemos, e rezar aos deuses que não nos achassem, ou nos tornaríamos experimentos vivos e recursos para suas próprias brigas, depois que nos dizimassem como sociedade? Um vidente disse isso. Mostrou isso. Com magia de exposição necromante, mostrou as cenas das guerras as pessoas para provar que não estava exagerando.

- Isto.

- Ele também era contra misturar trouxas e bruxos, para evitar o abuso infantil a crianças órfãs, o que o torna o único, que já subiu ao poder, que pensou em leis para nos proteger. Impedir que...

- Que eu ou você estivéssemos exatamente onde estamos. Sim.

- Ele ganhou as eleições – repetiu lentamente. – As pessoas, a maioria, votaram nele. Viram que tinham pontos validos em sua política...

- Sim.

- E as pessoas tiveram coragem de ir contra ele, em uma guerra de resistência antigoverno instituído, então quando o derrotaram, prenderam, praticamente excluíram toda a história de como ele ganhou apoio, baseado em fatos, o tacharam de monstro, e ignoraram todas as leis boas que havia implementado até então? – Harry murmurou e após alguns segundo de silêncio fez uma careta. – Eu devo ter perdido algo.

Marvolo também gostava daquelas caretas.

- Não perdeu nada – disse sorrindo.

- Tom! – reclamou.

- O que é? – o sorriso aumentou.

- Tem alguma coisa que está faltando, me conte! – pediu manhoso.

- Certo – murmurou com um riso, arrumando a coluna e olhando para cima. – Grindelwald queria que os bruxos prendessem os trouxas, dessem a eles um gosto do próprio veneno, que os escravizassem, os controlassem, os fizessem se esconder ao invés de nós. Controlar a natalidade deles, seus estudos, avanços, queria tudo totalmente... nas suas mãos. Que fossem como animais, em que nós podemos até tratar bem, mas nunca seriam iguais, nunca seriam a prioridade. Têm seus direitos, mas nós estaríamos no topo. Fariam parte de fazendas, de casas, mas como bichos. Como seres. Não iam ser diferentes de outras criaturas menos valorizadas, como elfos domésticos.

- Que você nunca valorizou, mesmo possuindo magia própria e única.

- São só...

- Eu não quero entrar no mérito dos seus preconceitos e discriminações – interrompeu. – Vamos focar na história. Gellert, então, queria... bem... ele não seria muito diferente dos próprios ditadores trouxas da época, não é? Colocando pessoas em campos de extermínio e marcando elas com códigos. Ele repetiria, mas em escala global. O que é muito errado. Se tornou o que queria destruir...

- Concordo que seja errado, mas acho que não pelos mesmos motivos.

- Eu acho errado tratar trouxas menos do que como pessoas, humanos, e fazer algo assim... É ridículo! Olho por olho? É imoral. Grindelwald só se tornou outro monstro, mas um com magia ao invés de pólvora e ciência. 

- Eu acho que Grindelwald era muito piedoso.

- Como é? – questionou incrédulo.

- Ele deixaria os trouxas vivos. Era mais fácil erradicar. Dois ou três bons não fariam tanta falta num mar podre. Matamos e fim. 

- Você não pode realmente achar que em algum lugar isso é certo.

 - Também acho - continuou ignorando o outro. - que a ideia de manter seus inimigos bruxos vivos é, além de muito piedoso, idiota.

- Gellert deixava os inimigos vivos?

- Sim. Em Nurmengard, por isso fez a fortaleza. Pelo que vi ele partia do princípio de que podia convencer qualquer um para seu lado, bastava tempo. Isso é basicamente receita para o fracasso, na minha opinião. Juntar todos que podem e querem te ferir em um único lugar, se seu plano da errado todos se viram contra você em uma força avassaladora. Mate todos e não voltaram para te pegar.

- Acho a morte mais piedosa do que manter todos marcados e controlados pela vida. Sofrer por anos ou acabar com tudo no mesmo instante? Piedoso talvez seja você.

- Eu?! A morte é o fim, morrer é perder tudo, quem você é, o que você foi, é desistir de cada coisa que conquistou, deixar tudo escorrer diante de você. Nada é pior que a morte. Manter o inimigo vivo mantém a esperança deles.

- Discordo. Você só teme demais a ideia de morrer.

- Eu não temo. Eu respeito como uma entidade quase inevitável.

Harry não quis focar no "quase" pois sabia que eles dois entrariam numa discussão. Preferiu outra pergunta:

- Por qual desses motivos então você matou minha mãe?

Aquela frase gelou a espinha da Horcrux de tal modo que o sacudiu. Ele arregalou os olhos vermelhos, encarou receoso e rígido a criança.

- Como?

- Você não queria matá-la. Eu lembro que a mandou sair da frente, mas ela insistiu em ficar. Você só perdeu a paciência com alguém que não estava valorizando uma chance única, de manter o bem que você considera mais precioso? Ou percebeu que, se a tirasse do caminho, com um atordoamento por exemplo, ela se tornaria um problema no futuro e era melhor apenas matar? Mantê-la seria burrice e piedade? Qual dos motivos?

Marvolo ficou em silêncio por um longo tempo, sentindo uma dor imensa na barriga, um vazio que crescia conforme olhava aquele menino. O infinito gélido e assustadoramente desconhecido. Não conseguia ler os sentimentos de Harry, o menino tinha barreiras mentais fortes devido ao seu costume de controlar a magia para protege-lo, além de que estava com o rosto totalmente neutro.

Mas aquela dor que sentiu...

Inferno! Aquilo era culpa?

O grande Lorde Voldemort não podia estar mesmo arrependido e se sentindo culpado. Podia?

Mas se viu dizendo:

- Eu sinto por... – a voz falhou.

Não queria que Harry sentisse aversão por ele. A simples ideia...

Não!

Harry não podia odiá-lo.

Ele só tinha o menino agora.

E pensando sobre isso... quando é que Tom teve alguma coisa de verdade? Nem mesmo o sangue, o nome, a vida... tudo sempre pareceu tão vazio, tão distante, as vezes era como se nem existisse, não tivesse uma história então não poderia fazer alguma própria. Agora não era mais assim, ou pelo menos já era melhor. Não podia perder aquele pouco que lhe restara.

- Eu sinto por... - tentou de novo.

- Não sente – interrompeu o mais baixo. – Você não sente, não o suficiente para pedir desculpas, então não peça.

Mas não era assim!

Sentia-se mal que tivesse ido atrás do garoto por uma profecia, ter tirado seus pais, que o amavam e o criariam bem, ter feito viver coisas ruins, sentia...

- Você pode sentir pelo que aconteceu depois, as consequências do ato, mas não por ele em si. Então não se desculpe – repetiu o menino.

Ele tinha razão.

No fim, se Marvolo nunca tivesse ligado para a profecia o Potter ainda viveria numa guerra e talvez nunca fosse... aquele Harry. Aquele astuto que aceitava ouvir, que é talentoso demais, trenado pela sobrevivência, que fala com cobras e se ilumina ao ouvir sobre tradições bruxas (as quais Tom duvidava que os Potters ou a sangue ruim teriam comemorado).

Não... Ele queria um mundo onde existia aquele Harry.

O que conhecia e vivia com.

Por pior que fosse a ideia de vê-lo sofrer, no fim, Tom não mudaria seus atos daquela noite.

- Eu já disse que não te culpo – murmurou Hazz, folheando o livro a sua frente, como se soubesse dos devaneios do outro e o quisesse ajudar. – Não fique se sentindo mal pela pergunta. Você fez o que achava que tinha que fazer, mesmo que eu discorde, mesmo que ache que... Provavelmente também lutaria contra você e essa ideia de matar desenfreadamente... minha mãe fez as escolhas dela. Todos, no fim, só estavam lutando por ideias e um lado. Era guerra, guerras matam. 

- Você ficaria contra mim?

- Eu não... - ele parou, pensou, resmungou, abriu a boca e fechou de novo.

- Você não tem certeza? - ofereceu o mais velho. Harry corou e baixou a cabeça. - Não é de se surpreender. Já fico surpreso que você considere algo diferente do que partir em defesa de cada ideal dos seus pais.

- É que eu vejo que guerras só são necessárias quando as pessoas se sentem irremediavelmente injustiçadas, ao ponto de preferir todas aquelas dores da luta a continuar quieto e no senso comum. Não faz sentido pensar que metade da população bruxa realmente lutou com você, arriscou a própria vida, se não tivesse algo ferindo e afetando o que lhes fosse essencial.

- E tem. Cada um por seus motivos. Sejam os sangues puros e suas tradições negligenciadas, sejam os mestiços, como eu, que queriam impedir mais trouxas de nos machucarem, sejam aqueles que só... Queriam ser eles mesmos, mas nunca puderam devido aos julgamentos de uma sociedade hipócrita que não aceita as diferenças, por menores que sejam. Comigo todos podiam ser aceitos, só precisavam ser fortes que conquistariam um lugar. Independente dos próprios preconceitos dentro do exército, se fosse útil era respeitado, era alguém. Você e suas capacidades, apenas isso tinham valentia no fim. Todos queriam estar lá para presenciar algo assim. Além de serem diretamente responsáveis por queimar essas coisas que incomodavam, então um dia faríamos algo novo. Confiaram em mim para ter o discernimento de forjar essa novidade da maneira correta.

- É um bom sonho, vendo por esse lado - murmurou o mais baixo, percebendo como os olhos vermelhos do outro brilhavam ao falar aquelas coisas. - Vocês só tinham que aprender que os fins não justificam os meios - acrescentou.

- Uma criança recitando Nicolau Maquiavel? - brincou Tom, ignorando o julgamento contido na frase.

- Um bruxo ante trouxa reconhecendo um autor trouxa?

- Ponto para você.

Harry sorriu.

Tom também.

De alguma forma, eles ainda estavam bem.

- Grindelwald então - Harry retomou. - Ele evitava matar?

- Quase sempre, aparentemente. 

- Interessante... Como foi a queda dele?

Tom bufou.

- Essa é a pior parte e envolve alguém que você já sabe o nome...

E o mais velho continuou com sua aula de História. Hazz gostava delas, achava que teria sido um bom professor, se a ideia não parecesse tão estranha. Riddle era ambicioso demais parar querer um cargo tão simples. Mas fazia um certo sentido estranho. Imaginava que em uma sala de aula não haveria uma única pessoa que não lhe daria atenção.

Não considerando como o som de sua voz era agradável. 

Talvez assim Tom tivesse convencido tantas pessoas a estarem do seu lado, só aquele som parecia capaz de atrair multidões. Se ainda fosse tão articulado (como geralmente era) e prometendo o mundo...

Ele decididamente conseguia entender aqueles que, somados a motivações pessoais, se aliaram a isso.


-x-x-x-

Harry estava muito chateado. Alice, Diego e Heris haviam ido todos para a praia, as crianças com onze ou mais do orfanato tinham sido levados em excursão, os dois mais velhos do grupo tinham conseguido folga no trabalho "por algum tipo de milagre", como Diego disse várias vezes.

Christine e Beatrice tinham sido adotadas por um casal que Harry não gostou das almas, mas era forçado a torcer pela segurança e bem estar delas acima disso, pois o orfanato em si não lhes era bom.

Eram férias de Yule, época menos comum para viagem ao mar, mas é por isso que foram. Foi mais barato alugar tudo tão fora de temporada. E não é que as crianças fossem reclamar. Aquele ano também estava sendo especialmente quente, achavam que sequer iria nevar no país, então nada os atrapalharia de ao menos curtir a areia e uma boa vista.

Estava sozinho naquele dia com as crianças mais novas que o encaravam, apontavam e murmuravam, várias delas foram recém recebidas no prédio, ainda não tinham noção do perigo que Hadrian apresentava então estavam sendo especialmente incomodas, novos vizinhos estavam no quarto ao lado, tudo estava horrível.

Pensou seriamente em aparatar, mas nunca fez uma magia tão descaradamente na frente do grupo e ainda não tinha certeza de como reagiriam.

Também não podia dormir e ver Tom, pois a Matrona disse que queria conversar com ele e já imaginava qual era o motivo.

A mulher se tornou...

Um problema.

Helena deve tê-los pego comemorando o Sabbat de Samhain pois não era a mesma desde aquela noite. Quis ler sua mente, mas ela nunca mais o olhou nos olhos, desviava muito rápido então não conseguia informações.

Percebeu que ela estava com medo de si. Pulava quando se aproximava muito rápido, tremia, preferia distância e pouca conversa.

Ficou com um pouco de pena, era uma mulher respeitável, mas não podia fazer muita coisa. Mesmo assim ficou irritado com um fato: Helena também começou a remexer suas coisas.

Suas e de Alice também. Alguns dias tinha achado alguns dos objetos que estavam juntando para o sabbath de Yule. Não que fossem itens muito perigosos, mas para uma mulher religiosa velas vermelhas e incenso já eram o fim do mundo.

Como não aconteceu nada além de receberem uma bronca por guardarem "coisas macabras" que podiam "influenciar os outros" deixou passar. Ela ao menos teve a decência (ou sabedoria) de não tocar em seu baú.

Resmungou.

Teria que ficar acordado e esperando.

Abriu armário de Alice, para ver se tinha algum doce, achou a mochila escolar da menina e decidiu pegar um de seus livros acadêmicos para ler. A capa do de geografia o interessou, guardou o resto como achou e foi para sua própria cama. Folheando as páginas, parou em uma foto do que parecia um castelo muito bonito, mas quando ele leu a legenda arregalou os olhos.

Era uma estação de metrô.

"Komsomolskaya metro station, Moscou".

Aquilo era impressionante. Harry se distraiu com as informações que via. "Conhecidas como "Palácios para o Povo", as estações de metrô abriram em 1935 como um elemento de propaganda comunista. Empregando o slogan 'O país inteiro está construindo o metrô', o líder Joseph Stalin alistou quase 75.000 trabalhadores para construir a rede, como um símbolo do suposto cuidado do governo com seu povo".

Eram tão lindas quanto seus nomes eram complexos. Novoslobodskaya, Mayakovskaya...

Em determinado momento a matrona entrou no quarto, apenas o diretor havia ido na praia, ela ficou para cuidar do restante das crianças. Harry encarou e tentou entender porque a alma dela tremia mais que o normal.

- Hadrian... – a mulher começou, enquanto andavam.

- Sim?

- Existia alguém religioso na sua casa? Seu tio ou seus pais?

- Não exatamente. Por quê?

- Bem... pensei que talvez... as outras crianças chamando-o de de...demo... daquela coisa ruim, poderia ter te afetado de alguma forma.

- Não se preocupe, eu sei que só estão sendo más.

- Poderia me dizer o que eram aquelas velas no quarto, então?

- Eu e Alice achamos. Tem algum problema com velas coloridas?

- Não, claro que não – ela murmurou. – Já ouviu falar de algo chamado... Samhain? Ou Yule?

Harry ficou surpreso com a pergunta, principalmente que a mulher soubesse e estivesse lhe falando sobre.

- Não sei - respondeu neutro.

- São feriados...pagãos. Sabe o que é pagão?

- Não - continuou, igualmente sem emoção.

- Que não é de Deus, Hadrian.

- E o que têm isso, senhora Helena?

- Nada...

Eles ficaram em silêncio.

A matrona o levou a uma sala onde dois homens se encontravam, a mesma onde todos os possíveis pais faziam entrevistas com potenciais filhos.

Mas não esperava encontrar dois padres por lá.

Eles esperam que se sentasse, se apresentaram sorridentes e começaram a conversar com Hadrian normalmente. Nada de mais em suas almas, nem em suas linguagens corporais. Por um bom tempo achou que um deles queria adotá-lo e o outro talvez estivesse ali para ajudar a escolher.

Seria uma decisão estranha da matrona tudo aquilo, a menos que pensasse que dar um "demônio" a um padre resolveria o problema.

Passou quase uma hora com eles, que lhe deram chocolate e um chá para que não ficasse entediado.

Não percebeu que estava ficando sonolento, pois sempre ficava entediado nessas entrevistas.

Não iria com eles, nem morto, não precisava estar ali, então continuou apenas por educação com sua fachada simpática.

Quando percebeu que tinha algo errado já estava apagando encima da mesa.


-x-x-x-

"O período de caça às bruxas na Europa e na América do Norte colonial abrangeu aproximadamente o século 14 ao século 18. Os alvos dessas caçadas podem ou não ter sido realmente mágicos. Os culpados de feitiçaria eram normalmente condenados à morte, muitas vezes sendo queimados vivos na fogueira.

...

À medida que a caça às bruxas se tornava cada vez mais violenta, as famílias bruxas britânicas começaram a viver vidas duplas, usando feitiços de ocultação para proteger a si mesmas e suas famílias. No século XVII, qualquer feiticeiro ou bruxo que escolhesse confraternizar com os trouxas se tornava suspeito, até mesmo um pária em sua própria comunidade. Famílias bruxas tendiam a perder membros mais jovens, cuja dificuldade em controlar sua magia os tornava perceptíveis para trouxas cautelosos.

[...]

O descendente do Scourer Bartholomew Barebone provocou um breve ressurgimento da caça às bruxas em 1700 quando ele enganou a bruxa americana Dorcus Twelvetrees para divulgar muitos segredos do mundo mágico na América, incluindo as localizações da Escola de Magia e Bruxaria Ilvermorny e a sede da MACUSA, e usou essa informação, bem como a varinha que ele roubou dela para tentar expor a existência de bruxos.

[...]

... toda a situação levou à promulgação da Lei de Rappaport, que segregava completamente os povos mágicos e não mágicos da América do Norte. A caça às bruxas aparentemente continuou pelo menos até o século 20 em algumas regiões. Em 1926, Newt Scamander encontrou uma jovem garota no Sudão cujos poderes mágicos foram descobertos por trouxas, levando à sua prisão.

A History of Magic por Bathilda Bagshot. 

Um dos livros da biblioteca Mitrica, escrito pela tia-avó de Gellert Grindelwald, colocado por ele mesmo no ano de lançamento.


-x-x-x-


Quando Alice, Diego e Heris chegaram da praia Alice quis ir direto ver Hadrian, mas não o encontrava em lugar algum. 

Começou a perguntar as crianças.

Só o acharam depois de meia hora, escondido no abrigo ante bombas que o lugar possuía.

Ele estava encolhido em um canto entre várias caixas e cercado de uma mancha negra que se estendia por metros passando por tudo, chão, teto e objetos. A madeira das caixas velhas que ficavam por lá estava toda carcomida, caindo, totalmente enegrecida e rachada. 

As manchas no teto pareciam galhos de arvore negras ou raízes escuras espalhadas e quase...

Vivas.

Era assustador e os três assim que chegaram sentiram o peso que era estar ali, era sufocante.

 Hadrian estava bem no foco de tudo. Chorando.

Alice correu até ele e o abraçou, ignorando todo o resto. Ela nunca tinha tocado no Blake antes, não assim, tão diretamente, ele reagia sempre que alguém parecia querer fazer algo do tipo, mas a Still só queria protege-lo, ele parecia tão pequeno e fraco daquele jeito. 

Não era o Hadrian que conhecia.

Hadrian não deveria ser fraco. 

Ele era forte e assustador. 

A castanha sentiu como o mais baixo tremeu e seu coração errou uma batida no momento que o choro silencioso se tornou um grito de agonia melancólico e desolado.

- Que merda aconteceu aqui? – Diego murmurou encarando as manchas negras.

- Fique quieto um pouco – pediu Heris baixinho, se aproximando da dupla.

Percebendo como os pulsos de Hadrian, assim como suas mãos, estavam vermelhos, como o menino tremia enquanto segurava os ombros de Alice entre os gritos.

- Aquilo é sangue seco? – Heris perguntou, agora correndo até o menino.

Para os três foi muito difícil descobrir alguma coisa do que aconteceu aquele dia, os detalhes pareceram ser para sempre um segredo do menino Blake.

Como conseguiu aquelas marcas quase roxas nos pulsos, como suas unhas estavam quebradas e com os dedos sangrando, como a mão se cortou, como ele achou aquele lugar e para que, o que era aquela coisa escura envolta dele e porque tudo ali parecia quebrado assim como ele.

Mas o grupo descobriu ao menos uma coisa:

A matrona tinha chamado dois padres que fizeram um exorcismo em Hadrian.

Harry não saiu do quarto por dois dias. Só comeu o que Alice conseguiu de fora do orfanato e levou diretamente para sua boca, só bebeu da mesma forma. Não tomou banho, nem escovou os dentes, não falou nada, leu ou reagiu muito.

Também não dormiu.

Parecia bem cansado, mas Alice via que sempre que fechava os olhos os abria correndo e parecia prestes a chorar.

Sentiu que poderia matar a matrona naquele momento. A menina queria isso.

Tom também. E muito.

Ele sabia como um exorcismo era horrível, por mais que pudesse parecer simples, estar amarrado com pessoas lhe dizendo para "sair desse corpo" ou qualquer merda macabra que inventassem enquanto você torcia desesperadamente para que nada acontecesse era desesperador.

Por que era isso, a pior parte da experiência, não saber se ia acabar falhando. Se ia acabar fazendo magia na frente daquelas pessoas e como elas reagiriam com isso.

Iam te matar? Para matar o demônio?

Aquelas coisas te deixavam com medo de si mesmo e Harry...

Ele tinha Tom.

O menino sabia o que era magia e sabia se controlar, mas durante todo o tempo ele temeu que Tom fizesse algo, e isso só piorou tudo. Hazz segurou tanto sua magia, forçou tanto ela para manter a horcrux longe que acabou se machucando no processo.

E se odiando mais.

Não queria dormir, não queria falar com Tom e isso estava deixando Marvolo louco! Harry achava o que? Que ele o julgaria por não ter reagido de novo? Ou que tentaria atacar enquanto estivesse dormindo? Ou estava só com medo de dormir e acordar amarrado de novo? Não conseguia saber qual das opções o menino estava pensando ou se em todas, mas sabia que estava sendo empurrado para longe pela magia da criança.

Sempre que tentava se aproximar ardia e girava. A proteção de Lilian Potter igualmente poderosa.

No fim, ele apenas teria dito que entendia.

Que ia passar.

Nem mesmo iria dizer que era por coisas assim que odiava trouxas, que foi por experiências assim que decidiu que nenhuma vida importava mais que a dele.

Ele só queria...

Dar a companhia que o menino sempre queria.

Apenas depois de uma semana, praticamente vivendo apenas pela força de sua magia, Hazz enfim cedeu a exaustão.


-x-x-x-

Naquela noite não sonhou com Tom, mas sabia que era porque não deixou. No instante que acordou, após apenas duas horas de sono, sentiu a vinha se agitando raivosa tentando chegar nele, mas a impediu com sua própria magia.

De novo e de novo. Sempre que a sentia outra vez.

Dali em diante Alice via que Harry sempre acordava durante a madrugada, as vezes quase gritando, nunca dormindo muito (coisa que antes sempre fazia), nunca se permitia descansar.


-x-x-x-

Quando o episódio do exorcismo estava começando a ficar para trás e o dia de São Valentim se aproximava, Alice chegou da escola e novamente não viu Harry em nenhum lugar.

Imediatamente correu para o abrigo, torcendo para não encontrá-lo por lá, mas infelizmente foi exatamente o que aconteceu.

- Eu vou matá-la - gritou enquanto, mais uma vez, tinha o amigo nos braços. - Temos que contar para o diretor, ela não pode fazer isso!

Hadrian sujava toda a sua blusa com lágrimas e catarro, coisa que ela não se importou nem por um segundo. Estava muito brava, a matrona havia se aproveitado da última viagem que Braun tinha feito, para sabe se lá onde, junto com os meninos que trabalhavam na fábrica. Eles teriam ajudado o Blake.

O menino, por sua vez, não respondeu, ainda tremendo, ainda machucado, ainda pensando no que fez com os tios e que se extrapolasse a linha de novo não teria a mesma sorte, iam descobrir, iam expulsá-lo do mundo mágico então não teria mais para onde fugir. 

Tinha que se segurar.

Tinha que impedir sua magia.

Tinha que impedir Tom...

Harry tinha sido bom, ele aguentou toda a primeira e essa segunda sessão sem fazer magia acidental praticamente alguma. Ele se impediu de aparatar quando sentiu o corpo tremer e tentar fugir dali, impediu a magia de se curar quando cortou sua mão fazendo isso, ele fechou bem os olhos e impediu as vinhas de rasgar a pele dos padres quando eles começaram a sentir dor, ele arranhou a madeira onde eles o amarraram quando sua magia tentou sufoca-los e a sufocou de volta. Ele apenas chorou, lutou e se segurou.

Por pior que fosse, por mais doloroso e difícil que parecesse. Seu corpo não ia arrebentar, mesmo quando a carne estalava parecendo que o faria. Ele aguentaria.

Mas eles ainda o chamaram de demônio e ele ainda estava com medo.

E muita raiva. Uma raiva quase doentia que podia ser sua ou de Tom, nem sabia mais.

Ele queria botar fogo naquele lugar, ver todos menos Alice e os meninos queimarem, enquanto sua magia segurava seus corpos para ninguém conseguir fugir. Podia ver as vinhas agarrando seus pés enquanto fogo verde os levava.

E gostaria disso...

Quase que imediatamente que o pensamento lhe veio ele gritou de novo, sentindo uma onda de dores de cabeça.

As vinhas voltaram a crescer pelo chão e pelo teto, visíveis qualquer um. Alice tossiu, Harry viu como sua alma tremeu, fraca e com medo. Se forçou, de novo, a sufocar o que vinha dele.

Alice o apertou:

- Vamos embora.

- O que?

- Vamos fugir daqui. Eu consigo comida pra gente, achamos um lugar para dormir quando for a noite, vamos nos proteger, vai ser melhor. Eu tenho o dinheiro que venho guardando, fazemos durar.

Talvez fosse melhor para Harry, mas não para ela. Morar na rua? Perder uma cama, teto e comida garantidos?

- Não.

- E por quê?

- Por que eu ainda sou assim, ainda vou atrair esse tipo de coisa, as pessoas vão continuar me vendo como demônio.

- Fodam-se as pessoas.

Alice nunca xingava na frente de Harry, mas ele nem notou daquela vez.

As pessoas eram o problema. Elas sempre o odiariam.

- Não adianta... - murmurou.


-x-x-x-

- Monstro!

- Demônio!

- Bruxo!

- Esse demônio está fazendo outras crianças irem para a bruxaria! - disse Helena aos padres. - Não vou deixar mandar almas inocentes para o inferno!

- Você vai voltar para o inferno de onde saiu!

Harry ouvia muitas vozes. Bem mais que o normal. 

As de antes voltaram, dizendo como ele era dispensável, como ninguém se importava, como era um estorvo e só sabia atrapalhar.

Estava com muita dor no peito e enlouquecendo. 

Para... Por favor... Para...

Por favor...

Pediu. Mesmo sabendo que não adiantava, nunca adiantava...

BUM BUM BUM! um som, como de batidas muito fortes em uma porta de aço, ecoava ao fundo de tempos em tempos.

- Monstro!

- Aberração!

Já nem se preocupava em diferenciar quem era quem ali. Não importava. Todos o odiavam. Todos pensavam o mesmo.

- Monstro!

- Demônio!

- Aberração!

Era sua culpa.

Tudo aquilo... Era o que ele merecia.

Eles tinham razão.

Era um monstro! Olhe o que tinha feito com os tios? Ele torturou a tia, mesmo que fosse a vinha, ela tinha sido torturada por sua causa, a vinha não existiria sem Harry.

O monstro.

A aberração.

O estorvo.

Por isso Petúnia ficou com medo, por isso comprou uma arma e por isso atirou nele, porque era um monstro que estava torturando de novo naquela noite e tinha que ser parado.

Alguém tinha que parar o monstro.

- NÃO FOI VOCÊ! - gritou uma voz bem longe, ao fundo, quase inaudível no meio de tantas outras menos simpáticas.

Que diferença faz que ele não teve a intenção diante da coisa toda no começo? Ele não se importava de verdade, gostou de quando Tom o defendeu.

Era um monstro.

Merecia o tiro.

Merecia todo o tratamento agressivo.

Monstros devem ser eliminados...

- FUI EU QUE MACHUQUEI SEUS TIOS! VOCÊ NUNCA FEZ NADA! - a voz continuava, bem, bem longe.

- Monstro! - gritavam as pessoas, apontando o dedo.

- Demônio! - dizia a matrona.

Os pais tinham morrido por culpa dele. 

A mãe só precisou morrer por que não quis deixá-lo. 

Talvez tivesse sido melhor...

- PARA COM ISSO! ELA FEZ PORQUE QUERIA VOCÊ VIVO! 

A Horcrux deu outro grito em seguida, mas dessa vez de dor e agonia, a proteção de Lilian Potter o repelindo em sua tentativa desesperada de invadir a mente do menino a força.

BUM BUM BUM... tornou a tentar entrar, mas a magia de Harry criara uma barreira como uma porta ridiculamente resistente além de tudo. 

Enquanto isso o de olhos verdes continuava se martirizando.

Devia ter deixado quieto. 

Deixado a tia atirar nele. Ela estava em seu direito. Estava defendendo a família de uma praga monstruosa a qual eles tinham sido forçados.

- VOCÊ NÃO É UMA PRAGA! 

 - Monstro! - gritou a voz de Duda, de Petúnia, de tio Valter, de tantos outros sucessivamente.

- Você matou seus pais... - Sirius acusou.

- Lily só está morta por sua causa - disse o homem de preto que chorava com o corpo dela no colo.

- ISSO É MENTIRA! - tentou Tom de novo.

- Você mereceu não receber comida, você não tinha o direito de viver as custas dos outros. Na morte dos seus pais, nas costas de Petúnia, no meu dinheiro suado - disse Valter.

- VOCÊ TÊM DIREITO A VIVER COMO QUALQUER UM!

- Você me controlou, depois deixou essa coisa me torturar, mereceu ser queimado com ferro! Merecia muito mais! Você é um monstro que carrega outro pior ainda e gosta! É uma aberração do pior tipo! Ninguém nunca vai gostar de você, você merece morrer! - disse tia Petúnia e atirou nele, bem nas costas.

- PARA DE PENSAR NISSO! VOCÊ NUNCA TEVE ESCOLHA SOBRE MIM!

Harry nem chorava mais. Apesar de toda a dor de cabeça, toda a dor física, ficou lá, quieto, ouvindo, cabeça baixa, abraçado aos joelhos.

- Você não tem o direito de trancar a porta do banheiro, aberrações não escolhem sobre si mesmas, aberrações aceitam, você não merece escolha, não merece viver, você é pior do que se fosse nada, você é um problema para qualquer um que te conheça. O mundo é melhor sem você! - Gritava Valter. - Praga! Aberração!

- VOCÊ TÊM DIREITO A TUDO! VOCÊ NUNCA MERECEU NADA DESSAS COISAS RUINS! VOCÊ É BOM DEMAIS PARA TODOS! VOCÊ OS PERDOA POR TE FERIREM, MAS NÃO SE PERDOA POR REAGIR!

- Você torturou seus tios! Você carrega um pedaço de Voldemort com você e conversa com ele? Você pensa? - perguntou Neville, cheio de nojo.

- ELE NUNCA DIRIA UMA COISA ASSIM!

Mas "Neville" continuou:

- Deve ter algo muito errado em você. O assassino dos seus pais é a única coisa que te defende? E nem ele se importa, só quer que continue vivo.

- Isso não é verdade... - murmurou Tom, cheio de dor, sentindo-se igualmente afetado agora pelas vozes e inseguranças na cabeça de Harry.

- Você é ridículo e monstruoso, por aceitar sequer falar com uma coisa dessas, por querer viver sabendo que carrega um monstro com você. Mas um monstro gosta de outro, não é? Seus pais se mataram para impedir o homicida e você o acolhe?  É uma praga mesmo! Aberração, ridículo! Não é a toa que ninguém se importa com você, ninguém te quer! Você merecia morrer!

- Alice gosta de você! Ela está preocupada... Eu estou... - inferno, ele ainda estava falando, mas não tinha a menor ideia se estava sendo ouvido e isso...

Era tão horrível.

- Se um demônio genocida como Voldemort gosta de você, quer dizer que não tem mais chance. Você aceita uma coisa dessas, aceita ouvir, ninguém nunca vai te entender. Nem poderia. Ninguém é tão perturbado de aceitar esse monstro como amigo. Espere... Ele sequer se importa para chamá-lo de amigo. Está te usando e você aceita...

BAM! outro tiro nas costas, vindo de Petúnia.

- Minha irmã ainda era melhor que você! Ao menos ela não acolhia um assassino.

- DESCULPA, HARRY! - gritou, muito, o mais alto que sentia que poderia, usando o máximo de sua magia em sua última tentativa.

Dessa vez o menino ouviu. Assim como o som de algo rasgando. Era Tom? 

Tudo ainda estava tão longe para Harry, mas aquilo era difícil de ignorar. Tom tinha se machucado? De novo? Sentiu aquele calor que vinha quando seu sangue era aquecido e viu o brilho amarelo da magia de Lilian Potter.

- DESCULPA SER QUEM EU SOU! - ele tornou a ouvir a voz do companheiro.

Dessa vez um pouco mais próxima.

- MAS POR FAVOR, ME ESCUTA! 

Tom pedindo desculpas? Pedindo por favor? Harry sentiu ainda outro tiro nas costas, mas impressionantemente o ignorou, tentava focar em de onde vinha Tom, no meio de todos os outros que continuavam o insultando.

Agora devia estar errado com a alma, para estar pedindo desculpas?

- EU ME IMPORTO COM VOCÊ! - Harry virou a cabeça para o lado, além das pessoas que o odiavam só via um mundo branco sem nada. Não sabia onde estava a vinha negra.

Mas ela continuava:

- DESCULPE SE EU NÃO SOU BOM O BASTANTE PARA VOCÊ! SE SOU A MERDA DE UM MONSTRO, MAS VOCÊ NÃO É! VOCÊ NUNCA QUIZ FAZER MAL A NINGUÉM, VOCÊ REAGIU A SEUS TIOS E FEZ O QUE FEZ PORQUE ELES IAM TE MATAR! NÃO É ERRADO QUERER VIVER! POR FAVOR, QUEIRA VIVER! NÃO POR MIM, MAS POR VOCÊ, EU NÃO LIGO PARA A MINHA...

Mas Tom se calou. Seus medos mais antigos e arraigados o vencendo, não podia dizer algo assim.

Eu não ligo para a minha, só para a sua? Seria mentira.

Ele ainda ligava para a própria sobrevivência, não podia dizer o contrario.

Mas isso não queria dizer tanto. Dificilmente algo tiraria aquela vontade de viver de Voldemort. O Potter não ter mudado isso não era grande coisa.

Por que agora ele não estava vivo e mesmo assim sentia-se muito melhor do que já esteve algum dia, mal sentia falta do resto e isso era muita coisa.

Precisava dar um jeito de ajudar o menino, qualquer jeito. 

Não podia deixar...

- Por favor, eu não suporto te ver se odiando! Por favor Harry! VOCÊ NÃO PODE FICAR IGUAL A MIM!

Tudo envolta deles tremeu. Enquanto Harry via branco, Tom continuava vendo apenas preto e uma porta maciça. Tentou delicadamente empurrar de novo, mas a luz amarela que era Lilian Potter o queimou.

Harry fungou, mas a Horcux sentiu que tinha conseguido algo.

Só precisava tentar mais um pouco.

- Eu não consigo aceitar que você fique igual a mim, que depois de tudo eu tenha feito alguém passar pelas mesmas coisas. Por tudo que um dia eu já quis, por favor, não os deixe te destruir! Não acredite que é um monstro, ou seremos dois!

A porta rachou. A horcrux deu um passo para trás, indecisa, não sabia se Harry estava vacilando em sua decisão de afastá-lo, manter Voldemort longe como uma "pessoa boa deveria fazer", ou se Hazz estava forçando tanto sua magia a se encolher e proteger, que chegara ao ponto de machucar mesmo a mente e suas barreiras.

Preferia que fosse a primeira opção.

- Você não pode ficar quebrado igual a mim - continuou, mais baixo, apenas para testar se o menino ouviria. 

Sua legilimencia indicava que sim. 

Não podia entrar muito, não conseguia se fazer presente o bastante, mas a mente do garoto entendeu aquela frase, então sim, estava abrindo algum espaço.

Havia esperança.

- Eu sei como é isso. Eu passei por isso. Dói, é assustador e só queremos sumir. Eu prometo que não julgo você e... Harry eu juro que não vou fazer nada. Eu sei que você não me culpa, você nunca me apontou o dedo, mas você nunca aponta o dedo para ninguém. Nunca culpa ninguém. Você é bom demais para esse mundo horrível. Mas eu sou o culpado. De tudo. Eu matei seus pais, eu torturei seus tios, eu fiz eles te odiarem, eu te influenciei, eu sou a merda que grudou no seu sapato. Eu sinto muito por isso! Eu te juro que sinto! Você não merecia me ter aqui sendo esse problema imenso. 

- Você não é um problema... - ouviu uma vozinha dizer.

E quase explodiu de felicidade.

Em algum outro momento julgaria a sua própria reação, como poderia se sentir tão realizado em ser respondido, como podia depender da aceitação de uma criança.

Mas aquele não era o momento.

Ele só queria, pela primeira vez na vida, ajudar alguém o máximo que pudesse e com todas as suas forças.

E faria isso.

- É claro que eu sou! O maior problema! Se você acha que é um monstro por conversar comigo, como eu não sou o problema?

Harry não respondeu.

E aquilo doeu um pouco mais do que devia. De novo ignorou essas emoções estranhas.

- Você não pode ficar igual a mim - murmurou colocando calmamente a mão na porta, na entrada do subconsciente do menino, esperando para ver se ela se iluminaria ou não. - Não pode deixar te quebrarem, chamando tantas vezes de aberração e monstro que começa a acreditar. - A porta não o queimou dessa vez, aproveitou e colou a testa nela também, sentindo que talvez, depois de tantos anos, iria fazer algo que nunca fez e se abrir de verdade com alguém. 

Ele queria que Harry abrisse espaço para ele de novo, então daria tudo que tinha, estava disposto a isso, só que mais importante, sabia que não se incomodava uma vez que era Harry ali pronto para ouvir aquelas palavras:

-  Eu sei que sou um monstro, um de verdade, um assassino. Eu nunca fui normal, eu nunca seria aceito. As pessoas gostam do que eu me faço parecer, quando quero. Eu sou só o bastardo, mestiço, esquisito e psicótico. Mas você nunca quer ferir as pessoas, você sempre faz de tudo para que eu não fira ninguém, você me escuta e me da o benefício da dúvida mesmo com tudo, você aceita as pessoas como são, você é perfeito e um anjo e eu sou o demônio. Não você. O mundo é cruel demais para você. Desculpe. A culpa é minha.

- Você também foi atacado pelo mundo. Eu vi isso.

- Você consegue me perdoar pelas coisas que fiz? Acha que meu passado é justificativa o bastante?

Harry tornou a ficar quieto.

Tom continuou:

- Harry, eu não ligo para essas coisas. Mas se eu tiver seu perdão, não vai querer dizer que você é mal, mas sim que é bom. Que é tão bom que até os monstros podem ser merecedores de estar do seu lado.

Harry quis dizer que Tom não era um monstro, mas se odiou por isso, lá estava ele defendendo um assassino de novo.

Seus pais devem odiá-lo na vida pós morte.

Ele era uma decepção.

- MONSTRO! - gritaram todas as pessoas ao mesmo tempo, todas com armas, todas atirando. Alguns realmente acertando.

Gritou. Alto, cortado, agonizante. 

O pior som que Voldemort já ouvira, cheio de dor. Tudo voltou a tremer. O chão fez um barulho de rachadura e a horcrux soube que a magia do garoto havia estourado um pouco, havia o cortado outra vez.

Vinha o machucando muito, sendo tão reprimida.

Ele tinha que parar!

Mas o que Voldemort podia fazer?

Nunca se sentiu tão impotente na sua existência e naquela situação parecia ainda pior. Se tinha um dia em sua vida que não podia falhar...

- Por favor! - implorou. Ele nunca implorava, mas sentiu-se abaixar, ficando de joelhos colado a porta. - Por favor, não deixe que te quebrem.

Talvez se o menino fosse um monstro mesmo seria mais fácil. Se fosse ruim e frio como Tom não estaria sofrendo tanto. Mesmo o Riddle tinha mais medo da guerra do que do resto. Ele nunca se odiou, nunca se culpou, sempre direcionou a raiva para o externo e percebeu finalmente o que era ser uma boa pessoa:

Era se sacrificar, pegar todas aquelas mágoas e guardar para si, apenas para si, se destruir por cada uma delas e ainda pegar a dos outros, por sentir que devia. 

Era ser empático demais e aceitar cada sentimento externo. 

Era horrível e torturante assistir, Tom queria que Harry fosse ruim, apenas para não se importar com todas aquelas opiniões.

Sentia que o menino seria capaz mesmo de acreditar que merecia a morte apenas por ter Tom na cabeça e estava muito frustrado que as pessoas fossem capazes de manipular e machucar tanto uma criança, ao ponto de ela sentir que não tinha mais valor viva que morta em prol de...

Inferno.

Inferno!

Um maldito "bem maior"!

Por que teve que pensar nisso?

Agora ficaria paranoico. O menino...

Ninguém seria tão louco de realmente fazer tudo aquilo de propósito apenas para deixá-lo fraco e manipulável mentalmente, não é?

Nem ele faria isso.

Não é?!

Ninguém sabia que o menino carregava um horcrux.

Né?

...

- Harry! - chamou Tom, sentindo seus olhos lacrimejarem, sentindo-se fraco e irritado além do imaginário. - Eu sei que não sou o que você acha certo, mas tão pouco sou sua única opção. Você tem Alice, tem Heris e Diego, tem Neville, tem qualquer um que seja minimamente inteligente para ver como você é incrível. Você é alguém que vale a pena e sei que um elogio meu, agora, só parece ofensa, mas por favor - ele inspirou fundo, tocando a porta com as duas mãos, sem tentar forçá-la, sem tentar entrar, apenas tentando... sentir o menino e fazendo-se sentir. - Sou eu. Tom. Sua vinha de estimação - disse, acima de qualquer orgulho que um dia teve. - Não sou Voldemort, você mesmo disse. Mesmo que fosse, então eu te juro, juro por minha magia, que nunca farei mal a ninguém, jamais, eu nunca vou ferir uma única vida se isso, apenas se justamente isso, te deixar feliz. Eu nunca vou me descontrolar e descontar a raiva nas pessoas, nunca vou te causar problemas, sempre farei apenas o que você me permitir e apenas para te ajudar, eu vou ser sua companhia e só isso. Seu. Harry... Hazz...

A porta deu outra rachada.

- Não se...

Culpe?

Odeie?

Não aceite que te digam ou te façam essas coisas?

Não aceite que vale menos que o mundo ou deixe que as pessoas te convençam do contrário?

Nada disso funcionaria. O menino literalmente foi adestrado, torturado, a se sentir inferior e merecedor de descaso. Não se via como pessoa digna. Ele ia se odiar por cada falha, ia se culpar por cada atitude que considerassem errada e sempre aceitaria que pisassem nele, pois foi ensinado assim.

Se o dissessem para se matar para destruir Voldemort ele faria. Inconscientemente, ou não plano de alguém ou não, os tios do menino o tinham feito o perfeito porco para o abate.

Ele nunca se daria o valor.

E faria o que a primeira pessoa "boa" dissesse que era o certo, apenas para se provar e ser aceito.

Não podia permitir. Aquela criança não merecia isso. 

Ninguém merecia.

Harry tinha que se ver como Tom via. Inteligente, carismático, cheio de personalidade.

Que gostava de aprender, gostava de conversar e o ensinava a jogar cartas, porque queria jogar mesmo quando a Horcrux não. Mas o faria aprender, de um jeito ou de outro.

Um pirralho que o arrastava para diferentes memória para poder apenas aproveitar a vida já que "nenhum dos dois tinha feito isso".

Que ia na praia, mesmo achando muito esquisito não sentir cheiros, porque gostava de como Tom tinha sido o primeiro a lhe levar em uma.

Que o forçava a brincar de esconde esconde por Hogwarts e passava noites inteiras aprendendo história totalmente concentrado em cada palavra que dizia.

Que ficava fazendo barulhos irritantes até estourar com sua paciência para convencê-lo a deixar que visse mais de suas memórias de infância, e depois dizia que gostava apenas por poder conhecê-lo. 

Faziam meses que se viam todas as noites e mesmo que pessoas tivessem levado décadas para conquistar daquela forma Voldemort... Harry talvez só precisasse de um dia, bastava sorrir.

Bastava ser ele mesmo.

- Você é a pessoa mais gentil e incrível que já conheci e já estive na presença de seus pais, então é alguma coisa - disse Tom. - Você é como eles e nem percebe, o problema é que pessoas boas são levadas nesse mundo. Eu sempre fui ruim, nunca fui levado, mas eu me tornei o pior para conseguir um objetivo. Se alguém merceia dor sou eu, que devia colher os frutos que plantei. Não você, que sempre plantou bondade e compreensão e nunca a recebeu de volta. 

- Você me defendeu... - murmurou o menino de repente.

- O que?

- Dos meus tios. Você não feriu eles só por ferir, você estava me defendendo. Você não fez porque odiava trouxas, você faria com...

- Qualquer um! Sempre! Eu sempre vou te defender!

- Porque eu te defendo? Porque te aceito? - perguntou e mesmo que Tom não visse do lado de fora conseguiu bem imaginar a cena do outro se agarrando aos próprios joelhos.

- Tem que ser a merda de uma troca? Eu não sei! Eu sou grato a você pela sobrevivência, mas ela não é nada se comparado ao prazer de ter sua companhia. Eu nunca quis companhia, na vida. Mas quero a sua. Eu nunca tive ninguém, eu nunca fui querido por ninguém se não fosse para ter algo. Você só me queria pelo simples desejo disso, qualquer um, mas eu aceito esse papel com prazer! Eu não vou ser qualquer um, eu quero ser tudo! Você é tudo para mim! - admitiu.

Finalmente admitiu.

Que não via sentido em nada mais em sua existência, mas a aproveitava porque tinha um companheiro e aquilo era novo.

Admitiu para Harry, para si mesmo e percebeu que estava sendo sincero.

Algo nele pareceu... mudar. Ou quebrar.

Assim como a porta.

A porta quebrou em vários pedaços em um som alto e repentino.

Todas as paredes que haviam por lá sumiram. O preto absoluto se chocou com o branco de onde estava Harry e aos poucos...

O mundo foi se colorindo.

Tom se levantou e começou a andar até o garoto.

Conforme seguia lentamente, encarando aquele sentado no chão em posição fetal, grama aparecia sob seus pés e crescia em todas as direções, igualmente calma.

Verde. Um lindo verde. 

- Eu sou sua vinha Harry. Se não me deixar ser seu, se me negar, me rejeitar, então não terei nada. Se não for para ser sua companhia, não passo de um parasita.

- Você não é um parasita - choramingou o menino, a cabeça baixada. 

Um pequeno brotinho surgiu ao seu lado. 

Tom parou um pouco a frente dele.

- Harry Potter, você aceitaria, em toda a bondade de seu coraçãozinho de ouro, a amizade de um verdadeiro monstro?

Harry levantou o rosto, os olhos estavam encharcados de lágrimas e o nariz escorrendo.

Mas ainda era a criança mais linda que Tom já conhecera.

Se ajoelhou a frente dele.

- Você...

- Se for dizer que não sou um monstro nunca poderá dizer o mesmo de você - Hazz se calou e enxugou os olhos na manga. - Eu nunca chamei ninguém de amigo. Só uma cobra, uma vez - e ficou muito satisfeito que o menino sorriu com aquilo. - Nunca senti que queria sinceramente alguém, apenas porque a vida parecia monótona sem essa pessoa ou porque me sentia melhor e agradável em sua presença. Mas eu sinto com você. Pode ser ridículo considerando nossa história e as circunstâncias, mas eu queria ser seu amigo, queria continuar falando de política e ouvindo você me chamar de psicopata com aquele sorriso travesso - mais uma vez Harry sorriu e Tom se aproximou mais um pouco. - Por favor, não me afaste de você. Me deixe te dar o que queria desde o começo, me deixe ser sua companhia. Eu nunca tive algo assim, então as vezes posso falhar, mas juro que serei exatamente o que você precisa. Vou me esforçar para isso. Nunca te soltarei, sempre te apoiarei e vou ser grato apenas por poder viver junto com você. Nós dois. Podemos ser sozinhos juntos. Você mesmo disso. Só precisa me deixar...

Não conseguiu terminar. Harry de repente havia se jogado em seus braços de tal forma que caiu sentado. 

O menino chorou, o abraçou com todas as forças pela cintura, deitou a cabeça em sua barriga e chorou mais.

Aquela foi a primeira vez que eles se tocaram em sonhos e na mente, sem que Tom se machucasse no ato.

Aquilo deveria significar algo, talvez fosse importante considerando aquele feitiço tão único e interessante, mas não poderia ligar menos.

Apenas agradeceu que de alguma forma  a magia de Lilian Potter aceitou sua presença.

Tom levou a mão hesitantemente para a cabeça do menino e a manteve lá, fazendo o possível para oferecer o afeto que nunca teve.

Se lembrou do que Harry disse, sobre a mente não poder assimilar algo que nunca presenciou.

Ele não podia sentir o cheiro do Potter, pois nunca o fez, não podia sentir a macieis de seu cabelo, pois mesmo que já tivesse encostado no seu e no de outras pessoas, não conseguia comparar Hazz a ninguém, então seu cabelo também devia ser único, perfeito como ele. A mente de Voldemort criara essa ideia de que o menino seria especial em tudo então não podia sentir os fios, era como tocar em uma bola. A imaginação não conseguia traduzir aquela informação. 

Ele não estava encostando em Hazz de verdade e aquilo lhe pareceu, por um instante, a pior parte de não ter corpo.

Queria dar carinho a criança.

A cada coisa sincera que havia dito naquele momento, percebeu que um peso de uma mágoa e uma dor antigos e esquecidos lhe foram tirados. Nunca teve ninguém para dizer aquelas coisas, que de alguma forma sempre quis ouvir (mesmo que apenas por sentir que não tinha algo que todos os outros podiam se gabar), mas estranhamente bastou escutar da própria boca, para que aquele buraco em sua mente se fechar de vez. 

Não precisava ter sido a...

Apreciado.

Ele podia fazer isso.

Mesmo que não houvesse exemplos, ele podia oferecer algo bom de volta.

Deixou o menino chorando, o abraçou de baixo de uma árvore que surgiu enquanto o mundo envolta deles se formava, deu tempo e companhia.

Era tudo que podia fazer.

Quanto Hazz se acalmou os dois se recostaram na árvore e Tom se focou na memória de um livro, que o menino parecia gostar, então começou a ler em voz alta:

- "Era uma vez três irmãos que viajavam numa estrada deserta e tortuosa ao anoitecer..."

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 Na terceira vez que Alice não encontrou Hadrian ela bateu a porta do quarto de Liu e Diego com tanta força que ecoou por todo o corredor. Nem precisou dizer nada, eles entenderam no rosto dela e correram ajudar na procura.

Era abril, dia de páscoa. Naquele dia eles estavam de folga. Naquele dia a maioria das crianças havia saído procurar ovos. 

Naquele dia a magia de Harry estourou.

Então, quando finalmente o acharam, o menino não estava no abrigo ante bombas que sempre usava para se esconder, mas no porão, em um pequeno espaço embaixo da escada, tremendo muito, agarrado aos próprios braços.

Ele parecia em pânico e desolado.

Mas o pior não era isso.

E sim os corpos de dois homens mortos no lugar.


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"Nunca, mesmo nos seus piores momentos, baixe a guarda".

 Diário de Harrison James Mitrica Potter. Anotação de 1990.

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- Inferno... - murmurou Liu olhando o porão, vendo que, sim, aqueles dois padres estavam mesmo mortos.

- DEMÔNIO! - gritou Helena, que estava no lugar quando o trio entrou a procura do mais novo, mas que foi ignorada até então.

Uma raiva tão grande cresceu no loiro que ele quis mesmo acertá-la com a maldita arma que tinha guardado no quarto.

Por que não a trouxe afinal?

Esse sentimento só piorou quando viu ela correr na direção do garotinho de olhos verdes que nem reagiu. Apenas continuou se segurando, tão forte que estava deixando marcas.

- DIEGO! - gritou Heris para o amigo, que mesmo muito atordoado com tudo se colocou na frente e agarrou a matrona.

- ELE MATOU ESSES DOIS HOMENS! TEMOS QUE MATÁ-LO ANTES QUE MACHUQUE MAIS ALGUÉM! - a mulher gritou histérica.

Liu viu sangue escorrendo do nariz de Hadrian, Alice estava andando até um dos corpos, Diego parecia em choque, Helena tentava empurrá-lo.

Não sabia nem por onde começar.

- CALA A BOCA! - ele gritou para a matrona, correndo até Alice primeiro, a tirando de perto do cadáver e cobrindo seus olhos.

- Eles... - a menina murmurou, muito baixo, muito trêmula, tentando se desvencilhar.

- Hadrian - chamou Liu e viu o menino, que sempre tinha sido tão confiante, tremer e fechar os olhos, se encolhendo ainda mais, um som engasgado saindo, como se até o choro tivesse secado, mas quisesse sair.

Estava todo ferido, havia sangue por toda a roupa e ele estava muito mais pálido do que era aceitável para alguém vivo.

- TEMOS QUE QUEIMAR ESSE DEMÔNIO! - gritou Helena.

- EU TE MATO, VELHA DESGRAÇADA! - gritou Liu soltando Alice e avançando nela.

Diego soltou a mulher para parar o amigo, a gorducha se assustou e deu um passo para trás horrorizada.

De repente levou a mão a boca e apontou para Heris:

- Você! Você já foi levado! O demônio vendeu sua alma! Aqueles rituais! Você é um deles!

- Você está chamando uma criança de demônio e forçando ela a exorcismos! Você é louca?! - perguntou tentando se acalmar, tentando pensar.

- ELE MATOU DOIS HOMENS! ELE É UM MONTRO DEMONÍACO E VOCÊ É DICÍPLO DELE! TODOS VOCÊS! - gritava Helena se afastando aos poucos, aparentemente com medo demais de estar em um quartinho com tantos demônios.

- Eles estão mortos mesmo... - murmurou Alice e Liu não conseguia se concentrar o bastante para entender o tom em sua voz.

- ESCUTE AQUI! - gritou tentando mais uma vez se aproximar de Helena - SE ENCOSTAR MAIS UM DEDO EM HADRIAN EU...

Mas não terminou, a matrona deu um grito esganiçado e saiu correndo. Liu iria arás dela, mas de repente ouviu a voz de Hadrian, muito baixinha:

- Alice?

Os adolescentes mais velhos olharam para o menino Blake que não parava de tremer, o nariz continuava sangrando, seus olhos estavam vermelhos e inchados, estava molhado de suor e sangue, mas encarava diretamente Alice, seus olhos verdes brilhando. O loiro e o negro então olharam para a Still, ela estava com os olhos arregalados do outro lado da sala, encarando Hadrian, então olhou para os corpos, de novo para o amigo e então a porta do porão e saiu correndo.

Liu definitivamente não estava com cabeça para lidar com todo aquele problema, mas ver Hadrian gemer de dor e começar a chorar o fez se forçar a isso.

Deu um beliscão forte em si mesmo, para tentar relaxar e focar em apenas uma coisa. Então se virou para Diego.

- Eu dou um jeito nos corpos. Você vai atrás da Helena. Não deixe ela falar essa merda para ninguém.

- O que?! - gritou Diego incrédulo.

- Não adianta nada esconder a coisa se ela ficar espalhando por aí, não até eu pensar numa boa história.

- Você quer esconder os corpos?!

Ele pareceu realmente aterrorizado e inconformado com a simples ideia, chegou a se afastar um pouco em choque. O outro nem ligou para isso, queria apenas resolver tudo:

- Diego, inferno, nós não temos tempo! Acha aquela imbecil e traga aqui! Ou da um jeito de calar a boca dela, não me importa!

- Você não pode estar falando sério! - guinchou.

- Por que eu não estaria?

- Você quer encobertar um assassinato? Ele...

E olhou para Hadrian.

Liu quis muito bater no amigo agora, mas por sorte (ou não, nada ali era sorte) o Blake estava chorando tanto e se agarrava tão fortemente ao corpo que não parecia ter ouvido ou percebido.

Na verdade parecia totalmente alheio a eles agora, de tão desesperado.

- Você quer ficar do lado da criança que vem sendo drogada e forçada a uma experiência de exorcismo e que pode, ou não, ter feito alguma coisa em legítima defesa, ou quer ajudar a mulher que causou aquilo?! - e apontou para o menino trêmulo.

Diego encarou o mais velho por apenas alguns segundos antes de baixar a cabeça.

- Desculpe. Você tem razão. Mas eu não sei como poderia...

- Ache Alice então, inferno, eu acho a Helena e dou um jeito nela. Os corpos não vão sair daqui mesmo - e saiu correndo.

Diego ainda deu uma última olhada em Hadrian e tentou se aproximar, mas sentiu um peso tão forte vindo dele que começou a tossir e tremer. 

Temendo por sua própria vida de forma instintiva apenas continuou de longe:

- Nós vamos te ajudar - e saiu.

Mas Harry não ouviu. Desde que Alice correu de medo dele parou de ouvir.

Tom tentava, mais uma vez, alcançar Hazz, mas a rejeição tinha pesado demais.

O menino se achava um monstro e tinha explodido de vez na última sessão de "exorcismo". 

Ele gritou, implorou para que os adultos pararem quando sentiu que não conseguiria mais segurar sua magia e no momento que um dos padres gritou com ele, dizendo para mandar o demônio embora...

Harry estourou.

O menino apenas olhou o homem.

Era um fato impressionante, Tom ficaria irritado se tivesse tempo para isso, com como Harry Potter apenas olhou e um raio verde lhe saiu, acertou o adulto, então de repente estava morto.

Talvez não ficasse irritado, afinal ele mesmo queria fazer a coisa e com certeza deixou sua magia interagir coma  do menino no fato.

Mesmo que não intencionalmente.

Estava sendo obediente a sua promessa e não machucava ou reagia a ninguém. Mas sabia que naturalmente teria baixado a guarda e podia ter sido usado para que uma maldição da morte acontecesse de forma efetiva e certeira.

O outro homem, naquele instante, entrou em choque, depois começou a brandir rezas e insultos, assim como Helena, falou coisas horríveis que afetaram muito a criança.

Harry finalmente se desamarrou da mesa em que o tinham colocado e tentou correr para longe, mas quando foi segurado com força, outro raio verde saiu imediatamente.

Ganhou-se o segundo morto.

O Potter estava se sentindo horrível e culpado, Tom fazia seu máximo para acalmá-lo e tentar impedi-lo de segurar tanto a magia.

Infelizmente aconteceu, Harry Potter estava com medo de sua magia.

Quase horrorizado.

Aquilo não fazia bem, não estava fazendo bem, o corpo não parava de se rasgar em vários pontos, a dor do menino parecia excruciante só de ouvir, podia jurar que um osso de sua costela realmente quebrou apenas por tentar tanto segurar cada gota de suas energias mágicas, que eram tão grandes, fortes e ativas.

Estava colapsando.

Em um ponto crítico onde realmente pensou, e Tom ouviu:

"Eu não quero ser bruxo! Não quero magia! Não quero ser um monstro!"

"A magia sempre te protegeu, você gosta dela!" Tom tentou, mas sabia que quando Harry estava acordado seus pensamentos se fundiam, o menino nunca sabia quando era a vinha falando, e apenas a ideia não ajudaria agora, precisa que Hazz o ouvisse para tentar acalmá-lo.

Mas não podia forçar o menino a inconsciência, ele estava se sentindo muito exposto, ao mesmo tempo que tentava reprimir cada gota de si mesmo. Forçá-lo assim romperia muito nele, que já não se sentia digno de nada.

Tinha que ter alguma solução!

A entrada dos trouxas no lugar só piorou tudo, Alice, a alma dela mostrar que estava com medo, confirmar as inseguranças de que era monstruoso... e então fugir...

Inferno, Tom odiava trouxas.

Todos podiam morrer!

Devia ter matado mais deles antes de chegar ali!

Odiava seu pai, que abandonou sua mãe grávida sem nunca, nem por um segundo, cogitar a ideia de tirar o filho da garras da "bruxa má e estupradora", apenas o viu como lixo, fruto do demônio e o abandonou. Odiava os trouxas do orfanato, que sempre tiveram inveja, depois desprezo e então o fizeram ter que revidar. Odiava cada coisa que aquelas pragas faziam e agora tinham ferrado com Harry.

De um jeito que nem sabia se era remediável.

"A magia não é o problema, são as pessoas!" tentou de novo, mas sem sucesso.

Harry continuava se segurando, sua magia (que sempre reagia a suas emoções) queria atacar, mas ele não deixava, então estava se ferindo.

"Pare de se sacrificar pelos outros!" insistiu.

Nenhum dos dois ouviu alguém entrando no porão e Hadrian apenas percebeu que havia mais uma pessoa lá quando sentiu água sendo despejada encima dele.

Mas não era água.

Não tinha cheiro de água.

Olhou para cima a tempo de ver Helena segurando um isqueiro.

-x-x-x-

"Eu tenho medo de fogo, mas detesto ter medo de qualquer coisa, então no geral ignoro isso"

Diário de Harrisson James Mitrica Potter. Uma das primeiras anotações de 1988.

-x-x-x-


Harry acordou sentindo-se exausto. Cada parte do seu corpo parecia doer e isso incluía a cabeça. 

Levou vários segundos para sua mente começar a funcionar.

Ainda mais tempo para perceber que estava com muito mais dificuldade do que devia para se mexer.

Também para perceber que estava confuso, que já mantinha os olhos abertos, mas não enxergava, e então...

Começou a se lembrar.

Imediatamente quando recordou de tudo (principalmente do momento em que Helena botou fogo nele) se levantou. Quase se arrependeu no ato.

Tudo doeu, girou, então caiu em travesseiros e cobertas muito mais macias do que estava acostumado na vida.

O cheiro era estranho também.

Rosas, baunilha e alguma coisa cítrica, tudo formando uma mistura enjoativa de uma colônia de muito mal gosto, na sua opinião. Apesar de parecer cara.

Tentou enxergar algo, mas notou que ainda estava "cego". Estava vendado, era isso. 

Levantou a mão e sentiu que ela estava enfaixada.

Ele todo estava enfaixado.

- Pode tirar, se quiser - disse alguma voz um tanto distante, baixa e esganiçada, meio hesitante. Isso o assustou, mexeu a cabeça rápido demais, girou outra vez e ficou como estava. - Cuidado. Deve esperar que sua consciência volte adequadamente. Está a muito tempo dormindo, sem comer ou beber direito. O corpo também ficou frágil. Os curativos estão aí apenas para manter a pomada na pele, poderá tirá-los, mas terá que continuar em repouso um tempo. Está muito melhor que no começo da semana, mas as poções não fazem milagres...

Harry se sentia fraco demais para analisar tudo aquilo.

Poções, muito tempo inconsciente, pomada... 

Ele...

Tom!

"TOM!" Se lembrou desesperado.

Procurou a vinha na mente e sentiu mais uma vez a labirintite o atingir quando a adrenalina foi embora substituída por alívio. Lá estava ela. 

Ainda bem. 

Fraca, provavelmente por tê-lo curado de novo, mas estava vivo.

Ambos estavam, de um jeito ou de outro. 

Sentiu-se culpado por outra vez arriscar sua segurança.

"Mas a culpa não é minha" pensou irado e...

Magoado.

Podia se consolar no fato de que Tom estava menos afetado que da última vez.

"Mas como?" Se perguntou.

Como Tom podia estar melhor que quando recebeu um tiro, se agora teve que impedir de morrer queimado?

As memórias ainda estavam confusas, ainda estava com dor, só que aquilo era estranho.

Eram as poções que a  voz comentou? Quem era?

- Trouxe uma poção para dor! - a voz tornou a se pronunciar de repente. Talvez por ouvi-lo gemer. - Meu mestre disse que estaria mal quando acordasse, que no mesmo instante tínhamos que lhe oferecer remédios. Mas meu mestre nos fez prometer que não te daríamos nada que não quisesse ou autorizasse, então tem que autorizar Lala a dar seus remédios, jovem mestre. Lala não quer ver o jovem mestre tão machucado agora que finalmente acordou.

- Jovem mestre?

- O mestre de Lala disse que devíamos tratá-lo como mestre da casa também. Que o jovem mestre passou por muita coisa, que era um bruxo muito forte por ter sobrevivido e que bruxos fortes tinham que ser tratados como tal.

Estava confuso demais para pensar a fundo sobre isso. 

Tom estava vivo, ele estava vivo, mas onde raios estava? Quem era o mestre da voz? 

E que colônia infernal era aquela? 

Enjoativa demais... Estava lhe dando dores de cabeça a cada inspiração, náuseas também. Ou era o estresse.

Ou os dois.

- Lala pode fazer um juramento mágico de que sua poção é segura e fará bem ao jovem mestre, Lala quer que o jovem mestre Harry fique bem... - continuou a voz.

- Como sabe meu nome?

Sequer estava mais acostumado a ouvi-lo. Era Hadrian a tanto tempo que chegava a ser estranho...Mesmo Neville usava Hazz, então sua cabeça deu um nó incomodo em sua situação atual.

- Lala ouviu muito sobre Harry, o pequeno grande mestre. Meu mestre vem procurando o senhor a um bom tempo.

- Me procurando? - perguntou após alguns segundos, tentando arrumar forças para se sentar.

- Jovem mestre, por favor, deve permitir Lala de ajudá-lo! - implorou, mas agora que Harry estava mais acordado conseguiu sentir ao longe uma alma (totalmente diferente das que sentia normalmente, mas ainda um ser vivo) e ela não se mexeu. Não invadiu seu espaço pessoal, mesmo com o desespero que demonstrava nos tremeliques de sua essência. - Lala implora que a deixe! Lala quer ajudar o jovem mestre a sentar e lhe dar seus remédios!

- Lala... Você é um elfo doméstico?

- Sim, eu sou, mestre Harry.

Certo. Ao menos sua cabeça não estava tão confusa ao ponto de não perceber esse tipo de coisa.

Respirou fundo e deu impulso, conseguindo se manter alguns segundos sentado, antes de cair em uma grossa pilha de travesseiros que o mantiveram levemente inclinado.

- Meu senhor, por favor! Lala implora que a deixe...

- Lala, eu quero que seja sincera comigo, mas antes preciso tirar essa faixa, você disse que eu podia?

- Sim. As poções vêm funcionando muito bem no jovem mestre. Já está como novo no rosto.

- No rosto? - perguntou perecendo como ela havia sido específica. 

- Ainda há... cicatrizes, jovem mestre... - murmurou baixinho.

Harry estava satisfeito apenas se não estivesse desfigurado. 

Lembra-se claramente que Helena lhe jogara uma garrafa inteira de álcool na cabeça antes de atear chamas que queimaram muito mais rápido do que podia reagir. 

Calmamente levou as mãos ao topo de onde devia estar seu couro cabeludo e começou a procurar pelas bandagens, achou um bom ponto de partida e começou a desenrolar. 

A primeira coisa que notou era que ainda tinha seu cabelo e quase riu disso. 

Sua magia sempre fazia o cabelo crescer de novo. 

Continuou seu trabalho enquanto falava, com cuidado passando pelo nariz, pelos olhos...

- Lala, a quanto tempo estou aqui?

- Estamos completando o oitavo, jovem mestre.

- Como vocês me acharam?

- O grande mestre o encontrou no metrô.

- Metrô?

- Sim. 

- Como assim?

- Na estação de Komsomolskaya em Moscou, jovem mestre.

Komsomolskaya? Harry demorou para se lembrar de onde ouvira algo parecido.

No livro de geografia de Alice. "Os palácios do povo".

Alice...

Hazz sentiu uma dor imensa, seus olhos começaram a lacrimejar e quando finalmente os abriu, sem as bandagens para atrapalhar, viu o desespero nos olhos da criatura que assumiu ser o elfo doméstico parado a três metros da cama.

Da imensa cama em que estava.

Maior que seu quarto no orfanato e com tantos adereços que poderia sustentar todos lá por meses.

- Jovem mestre está com dor! - guinchou a criatura estranha. Fofa, esquisita e pequena. Eram as palavras que vinham a mente. Assim como agitada e muito emotiva. - Lala implora que aceite a poção de cura! Jovem mestre não pode chorar! Lala jura por sua magia e vida que sua poção é boa!

Mesmo que não fosse...

Estava tão cansado de tudo que apenas acenou com a cabeça aceitando.

Lala correu em sua direção e o ajudou. Ajudou a se arrumar, a tomar a poção e a se ver confortável.

- Lala, olhe para mim e seja sincera - pediu e viu a criatura obedecer, toda atenta, quase tremendo e se aproximando ainda mais do que devia, mas assim pôde lhe dar uma boa visão da alma e da magia, então ficou grato. - Por que seu mestre está me ajudando?

- Oras, porque o senhor é Harry Potter!

- Então vocês sabem quem eu sou... - murmurou muito incomodado.

Por vários motivos, aquilo não era uma boa perspectiva agora.

Não podia lidar com o histórico do "menino que sobreviveu" e amaldiçoara os tios, justo agora.

- Claro que sim! O grande mestre vem procurando o senhor a um bom tempo, já disse! - comentou a elfa, os olhos brilhando quando falava de seu senhor, com tanta expectativa que tremia. - O filho da mestra Lilian finalmente está na presença de Lala!

- Mestra Lilian? - isso o surpreendeu.

- A incrível, bela, inteligente e forte mestra Lilian! Filho dela e do destemido, poderoso, decidido e confiante mestre James! Lala não podia estar mais feliz de servir aos Potter novamente! Mitrica e Potter! Lala está no céu!

- Mitrica? O que? Eu...

Ele estava ficando muito confuso, mas viu como a outra praticamente brilhou enquanto falava. Segurando ambas as mãos juntas ao corpo, tremendo de emoção explicou: 

- Meu mestre é o grande, poderoso, sábio, perfeito em tudo que faz, o Lorde Lakroff Mitrica!

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Soninho, a mimir....

Espero que tenham gostado e vamos lá. Nova votação. Vocês querem:

a) Harry e Lakroff se conhecendo.

b) Voltando ao presente agora que Sirius e Lupin saíram da penseira (lembrando que eles assistiram a essas coisas, menos o que tinha Tom).

Vou tentar escrever nesse fim de semana, pois por algum milagre parece que vou ter tempo, então vocês não vão ter que aturar mais nenhuma cena feita na base do sono (mas EU JURO que a culpa não é minha, eu começo a revisar cedo e fico horas nisso, então tenho novas ideias, mudo as velhas e quando vou ver já estou pingando e chorando porque tenho que trabalhar no dia seguinte).

Enfim. Esse foi o segundo capítulo que fiz da fanfic, como podem ver é por isso que Harry age como age, todos temos nosso traumas, mas como sabem nosso Mixirica fez um bom trabalho em reerguer a confiança do menino.

Uma certa vinha negra também...

Obrigada a todos que comentaram (eu amo comentários, me ajudam a saber onde estou acertando e errando), obrigada aos votos (vocês sabem o quanto ajuda, sempre agradeço por isso) e muito obrigada como sempre por me darem o prazer de ler minha humilde história.

Dito isso quero dormir.

Boa noite! Amo vocês, desculpem os erros!

Deem corações, não hate a essa pobre autora assalariada e universitária <3

PS: Se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited

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