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Capítulo 16 - A família que temos e a que escolhemos

A música, para quem gosta desse tipo de experiência, leiam o capítulo depois escutem de novo, vão ver como ela encaixa de um jeito interessante... 

Espero que gostem! Por favor, comentem e votem, que me ajuda muito <3

E se está gostando do trabalho dessa autora saiba que tenho um livro publicado na amazon e adoraria ter sua opinião e apoio. O nome é "Aquilo que se vê no escuro" por Bárbara Regina Souza e está gratuito para assinantes do Kindle Unlimited, além de que o prólogo está disponível nesse perfil para quem quiser descobrir do que se trata. Vá lá e dê uma olhada para descobrir se te interessa, vai ajudar muito!

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No capítulo anterior....

- Harrison? – chamou Sirius.

- Por quê? – perguntou baixinho.

- Como?

[...]

- Por que você me abandonou?

- O que?

[...]

- Como assim seus pais sabiam que não sairiam vivos?

- Já disse, eles estudaram magia negra, há um ritual que envolve sacrifício de alguém, por livre e espontânea vontade, que permite criar uma proteção sanguínea e duradoura. Minha mãe não pretendia viver se sua morte pudesse ser usada para me proteger. Eles decidiram que se Voldemort invadisse, se ela tivesse a chance de fazer o ritual, se houvesse tempo para isso, ela faria.

[...]

Era difícil ouvir toda a dor por trás daquelas frases e direcionado diretamente para Sirius.

E ele ainda estava tendo que ouvir que seus amigos escolheram a morte.

Não foi apenas uma circunstância, era um plano? Um plano reserva se fossem traídos?

James e Lilian aprendendo magia negra e não lhe contando? Por quê? Pensando agora ele via lógica na coisa, mas...

Não...

Ele não teria concordado. James ainda tinha sangue Black e Sirius sabia o que uma magia como aquela podia fazer com a mente, com a "loucura Black".

Começar tão velho a praticar a arte e, se fossem muito rápido, os prejudicaria demais!

[...]

- Espere Harrison, não é bem assim, Sirius não te abandonou...

- Pelo amor de Circe! ... Não? Ele estava comigo no colo e me deu para um meio gigante, cuja a ideia de animal de estimação é um dragão ou uma Acromântula! Deu a porcaria de uma moto para ele, já que o homem nem tinha o DIREITO de fazer magia, ignorando que então ele nem mesmo SABERIA, mesmo que quisesse, me defender de um possível ATAQUE! Black nem olhou para trás! Quando era função dele me levar para o Ministério, provar sua inocência ou fazer qualquer coisa, mas me manter por perto! Era função DELE e ele deu para o primeiro idiota que estendeu os braços!

- Ele estava de luto...

- LUTO? E você? Estava de luto por QUATORZE ANOS quando decidiu nunca verificar meu estado de saúde? [...] Agora vem com essa de "queria muito te conhecer"? Você NUNCA fez o menor dos esforços para isso!

A voz do garoto parecia entupida de magia de tão forte que a raiva os atingia, os moveis no quarto se mexeram, alguns copos de vidro estouraram e a mesinha de centro, feita de madeira nobre, rachou.

Havia um fogo selvagem em seus olhos, que brilharam exatamente como a maldição da morte prestes a atacar.

E tudo isso sem que Remus (que tinha seu labo) ou mesmo Sirius (que sempre foi um Black sensível a magia) sentissem uma única gota da própria magia de Harry.

[...]

Harrison olhou na direção de Mitrica como o próprio Sirius olhava para Fleamont Potter.

O pior é que ele só pôde notar isso porque antes de encarar Lakroff Harry o olhou, olhou para Sirius, como um dia fez com Orion Black, seu pai.

Com rancor e... decepção.

Essa percepção ao tingiu como uma faca afiada, mil delas, uma dor imensa no peito que mal podia ser comparada a uma tortura vinda direto dos porões da família Black.

....

Para sentir-se acolhido, teve primeiro que se sentir totalmente desprezado, odiado e abandonado.

Era isso que Harry pensava de Sirius? Que ele o abandonou?! Ele tinha toda a raiva que Sirius teve uma vez do pai? Ele não podia suportar essa ideia, pareceu que seus pulmões desaprenderam a funcionar.

[...]

- Remus Lupin, Sirius Black... Esse é meu tutor. Ele também é meu pai adotivo...

- Pai adotivo?

- Sim – respondeu Lakroff. – Consegui a guarda total de Harrison aos oito anos dele.

[...]

- Você pegou a guarda de Harry dos tios dele?

- Eu não peguei dos tios dele. Peguei do orfanato.

[...]

- Meus tios me deram para adoção quando eu tinha sete anos – respondeu Harry, em um suspiro cheio de rancor, aquele tom sombrio que só ele parecia capaz de atingir penetrando cada parte dos três adultos e envenenando sua paz. – Eles fizeram depois que me machucar ou tentar me matar não funcionou.

Capítulo 16 – A família que temos e a que escolhemos


"Remus e Sirius tinham que perceber que não sabiam nada sobre o afilhado,

Também descobrir como queimar um contrato... ou como esconder um assassinato"

- O que?! – gritaram Sirius e Remus ao mesmo tempo.

- Harrison... – começou Mitrica se aproximando novamente do menino.

- Você disse que eu não podia esperar que me entendessem sem dar todo o contexto, mas por onde afinal eu devo começar? Tem tanta merda nessa história que não sei onde inicia a lista – murmurou frustrado, mais uma vez retirando os óculos para coçar os olhos.

Lakroff conhecia Harry a anos, desde que o menino havia passado pelo inferno e voltado como alguém frio e impulsivo, que não se importava (nem por um segundo) com qualquer consequência ou com qualquer pessoa.

O menino assumiu que independente do que fizesse, morreria no final, então viveria livre para tomar as escolhas que viessem à mente! Quem estava em seu caminho... passava por cima com toda a força que tinha.

Não havia uma gota de qualquer sentimento no menino que não fosse egocentrismo puro.

As pessoas envolta eram ferramentas, alvos, insetos incômodos ou alguém que ele devia um favor. Era melhor ser a última opção, ou dificilmente conseguiria sua atenção por muito tempo.

Mitrica salvou sua vida, ele era o que Harry considerava como "devo um favor", então aceitou morar com o adulto até se recuperar, aceitou ser ensinado durante esse período, foi guiado e se abriu em troca de igual sinceridade.

Ambos criaram primeiro uma relação de confiança, depois amizade e enfim, com anos juntos, Lakroff se tornou "avô".

Sirius e Remus teriam que perceber que não conheciam nada sobre Harry Potter, afinal esse garoto nem existia mais.

Diante deles estava Harrison James Mitrica Potter. Herdeiro das antigas e nobres casas Potter, Peverell, Black, Mitrica e Grindelwald.

Herdeiro de um dos maiores lordes das Trevas que já existiu.

Agrura do próprio Lorde Voldemort, desde antes do nascimento.

[N/A: AGRURA. S.F. Aspereza. Desgosto profundo, algo que causa trabalho, aflição. Adversidade].

Prodígio das trevas, príncipe da Durmstrang e uma das pessoas mais cruéis e poderosas que podiam estar diante da presença!

Uma criança machucada além da conta, que provavelmente jamais se recuperaria totalmente, mas acima de tudo uma pessoa longe dos padrões comuns.

Para que estivessem do lado bom de Harrison, teriam que provar que podiam aceitar essa realidade.

Ou cairiam para alguma das sub categorias ruins.

Nos últimos anos as pessoas podiam ser, assim como antes, ferramentas, alvos, insetos incômodos e alguém que Harry devia um favor, mas fora acrescentada uma última e a mais importante categoria: família.

Harrison não nasceu com família, ele escolhe a sua.

Foi o máximo de evolução que Mitrica conseguiu minerar naquela casca triste e raivosa que o menino havia se tornado.

A grande questão era: será que aqueles dois adultos haveriam de ser escolhidos para a família?

Eles aceitariam ser parte dela quando descobrissem as partes mais sombrias?

Sirius abriu a boca, estava muito abalado, o que era bem claro, então Mitrica decidiu ajudá-los. Seria bom para Harrison ter aqueles dois, superar uma dor do passado e tirar aquele peso angustiante do peito. Só que... ele podia fazer as perguntas adequadas, mas os homens teriam que dar as respostas certas sozinhos.

Mortem e Destiny que o ajudassem naquela noite.

Lakroff quase riu desse pensamento. Desde quando eles o ajudavam?

- Certo. Um instante todos – disse o mais velho ali. – Harrison, o que você já falou para eles?

- Que meus pais aprenderam magia negra, que foram atrás da sua família, mas não dei detalhes sobre isso. Disse que os Potters sabiam que podiam morrer e escolheram Sirius sabendo disso. Foi aí que perdi a cabeça, gritei com eles.

- Muito bem... Acho que não podemos continuar com isso sem que sejamos todos sinceros....

- O que você disse sobre tentar te MATAR?! – questionou o Black.

- Lorde Black e senhor Lupin! – chamou Mitrica conseguindo a atenção dos dois homens. - Vamos com calma. Essa conversa será longa e acho que todos devemos nos sentar. Se importam que eu transfigure um sofá?

- Fique à vontade – resmungou Sirius que concordava que seu cérebro estava sobrecarregado demais para continuar ficando de pé, mas queria uma maldita resposta.

Sinceramente suas pernas ainda estavam funcionando? Isso era quase um milagre.

Lakroff apontou a varinha para a mesa de centro e ela se tornou um segundo sofá muito chique, preto e cinza. Ele pegou no ombro de Harry e o guiou até o móvel, Remus guiou Sirius até o outro que já estava por lá e os quatro agora estavam sentados em pares de frente uns para os outros.

- Querem começar pela adoção de Harrison ou vamos em ordem cronológica em todos os fatos que nos trouxeram aqui hoje?

- Seus tios te machucaram e tentaram te matar? Você disse isso mesmo?! – repetiu Sirius incrédulo.

- Sim. Mais de uma vez. Estou vivo, mas não foi por falta de tentativa – Harry respondeu com indiferença, mas seus olhos continuavam encarando o Black com aquela amargura.

- Como assim?! Eles... Mas... – ele parecia incapaz de terminar uma frase, enquanto sacudia as mãos e esfregava o rosto. Estava totalmente ansioso e Remus teve que colocar sua mão no ombro dele para tentar acalmá-lo de alguma forma.

- Ordem cronológica! – exclamou Mitrica interrompendo aquele ataque. – Acho que assim podemos sair daqui com todas as respostas.

- Comece contando sobre minha mãe – comentou Harry encarando o avô. – Acho que é um bom ponto de partida.

- Mas seus tios...! Isso...

- Lorde Black, acredite, vamos chegar nisso. Que parte exatamente de sua mãe você se refere, Harrison?

- Quando ela foi conhecer seu pai.

- Muito bem. Black, imagino que já deve saber sobre minha família, os professores de Hogwarts devem ter comentado...

Sirius fez uma careta antes de interromper:

- Não, ninguém mencionou nada. Por que haveria de saber sobre sua família?

- Achei que Dumbledore já teria contado.

Aquilo pareceu ser um gatilho suficientemente forte para tirar o homem de cabelos compridos do estupor que se encontrava antes. Ele se ajeitou no mesmo instante e seus olhos ganharam foco no assunto que era suficientemente interessante para fazê-lo esquecer (por hora) o que Harry havia dito.

Ele teria respostas finalmente sobre o enigma dos dois diretores?

- Dumbledore? – perguntou Remus.

- O diretor vem agindo estranho desde que os alunos do Instituto Durmstrang chegaram. Ele evita Mitrica, está bem óbvio, não o olha diretamente, conversa pouco ou nem fica muito perto, se consegue evitar. Imagino que seja algo relacionado a suas famílias já que tocou no assunto?

- Com certeza existe uma questão familiar aí – concordou o homem com um sorriso um tanto misterioso e divertido. Mesmo Harry soltou um risinho nasalado. – Mas bem mais complexa do que se poderia imaginar. Vejam bem... Harrison, o que acha?

- Conte do namoro – pediu se sentindo animado com a perspectiva de estar presente numa revelação daquelas.

Lakroff riu da empolgação do garoto, não tinha certeza se aquele assunto apenas o tinha deixado momentaneamente mais leve, para conseguir recuperar a máscara de criança, ou se Harry realmente estava feliz ao ponto de parecer novamente com sua idade.

A ideia da máscara fazia mais sentido.

- Dumbledore e meu pai tinham uma relação – contou Mitrica simples.

Vendo que aquela frase era muito ampla e digna de interpretação, Harry acrescentou:

- Eu diria que como a de vocês, se ajudar a esclarecer a coisa – comentou indicando a mão de Remus, que ainda apertava o ombro de Sírius.

Black e Lupin se encararam. Suas mentes vagando por alguns instantes, ambos perceberam seus olhos ganhando brilho ao mesmo tempo, suas fichas finalmente caindo em um sincronismo que Harry achou muito interessante de assistir.

- Como é? – perguntou Sirius.

- Seu pai? – indagou Remus.

- E Dumbledore? – encerrou Sirius.

- Exato - concordou Mitrica.

- Dumbledore é gay? – ambos indagaram ao mesmo tempo.

- Bem...

- Ou ele pode ser bissexual – murmurou Sirius.

- Eu achei que ele era assexual - resmungou Remus. - Que tinha assumido uma vida de bibliógrafo.

- Ele fez isso, abandonou a própria sexualidade e se dedicou à castidade, aos estudos e filantropia. Mas antes disso ele tinha conhecido meu pai – explicou Mitrica.

Harry e seu tutor deram um tempo para os outros dois homens absorverem aquela informação. O garoto se sentindo muito divertido com suas reações e empolgado para chegar na melhor parte.

Tanto Mitrica, quanto Potter, sabiam como a sociedade bruxa funcionava. Haviam inegavelmente preconceitos antigos para com relações homoafetivas, então mesmo que o casal a frente deles fosse mais aberto (considerando a própria situação), era estranho pensar em um homem respeitado e de altos cargos, que na verdade tivesse um relacionamento gay. A maioria não era aceito na política e na opinião pública geral.

- Então...– começou Sirius após um tempo. – Dumbledore te evita por causa do seu pai?

- Eles brigaram feio quando terminaram, então sim.

- Uma briga digna de livros de história – zombou Harry.

- Mas quantos anos você tinha quando isso aconteceu? Para que ele fique tão... assim? Quer dizer, ele parece querer aparatar quando te vê, com todo o respeito – perguntou Sirius. - Não faz sentido que ele crie aversão ao filho do ex namorado.

- Quando eles estavam juntos eu não tinha nem nascido. O problema é que a briga entre eles durou muitos anos e causou muito rancor dos dois lados, sem contar que sou realmente muito parecido com meu pai. Muito mesmo. Então... Acho que ele só fica incomodado, entende? Talvez ele nem tenha certeza se eu sei desse namoro, é possível que pense que fiquei sabendo só da briga que tiveram e das consequências dela. Eu não fui criado nem pela minha mãe nem pelo meu pai direito, exatamente por causa do que aconteceu nessa época.

- Como assim?

- Eu fui dado para a adoção pela minha mãe.

- Sinto muito... – pediu Remus. – Mas... como as coisas se relacionam?

- É que meu pai foi preso no fim da briga com Dumbledore e minha mãe achou que eu era um aborto, então por segurança ela me obliviatou e me deu a um orfanato trouxa. Assim ninguém que ainda quisesse vingança do meu pai, poderia chegar em mim. Eu teria uma vida normal longe de tudo e todos os inimigos que meu pai acumulou.

- O que?

- Meu pai era Gellert Grindelwald.

Harry teve apenas dois pensamentos naquele momento:

Um! Sirius e Remus Lupin eram tão opostos quanto parecidos.

Perfeitos juntos, sem dúvida.

Suas reações combinavam. Sirius fazendo caretas e sendo quase um livro aberto que passava pelas mais diversas emoções, e Remus piscando com o rosto limpo, além de uma ausência de expressões, lhe faltava cor conforme a compreensão o atingia.

Quando ambos pareceram finalmente entender a coisa toda, procuraram um ao outro para confirmar.

Novamente seus olhares transmitiram mais de mil palavras, um diálogo completo, tudo em questão de segundos de puro entendimento mútuo. Por fim, o lobisomem segurou a mão do animago cachorro e o impediu de se levantar quando gritou:

- COMO É QUE É?!

O segundo pensamento de Harry foi que aquele momento não tinha preço.

A reação das pessoas ao descobrir e entender que Gellert Grindelwald havia tido um caso com Alvos Dumbledore, tinha um filho e esse filho criava Harry Potter...

Nunca perdia a graça.

Maravilhoso, sem dúvidas.

- Eu vou dar mais um tempo para vocês digerirem a informação, as pessoas geralmente demoram – comentou Lakroff fazendo Harry rir.

- Você está brincando com a gente?! – indagou Sirius. – Quer que a gente acredite nisso?! Que... Que...!

- Que Gellert Grindelwald e Alvos Dumbledore tinham um caso que acabou numa briga astronômica, envolvendo a segunda guerra mundial e toda a sociedade mágica? Sim. Que Dumbledore e Grindelwald tiveram, antes de se tornarem os bruxos que foram parar em livros de história, uma infância e uma adolescência comum, como qualquer outra pessoa no mundo, onde em algum ponto se encontraram e se relacionaram? Sim. Que meu pai, que era quem era, um dia se tornou um Lorde das Trevas manipulador, dois passos do homicida, e Dumbledore teve que aceitar a realidade de alguém que ele já gostou sendo uma pessoa totalmente diferente do que pensava? Sim. Que meu pai superou isso e continuou com a vida, tendo até filhos? Sim. Não é tão estranho pensar sobre isso, vamos lá.

- Mas...

- Na última guerra vocês dois chegaram a suspeitar um do outro, nós sabemos, Lilian e James me contaram. E vocês foram traídos por um amigo. Não é tão estranho pensar que no mundo, as pessoas nem sempre são o que parecem, e que nem sempre estamos perto de quem deveríamos estar. Percebem que por mais chocante que seja, não é algo impossível. Vocês mal conhecem o passado do seu diretor, uma vez que seus pais nem eram uma realidade na época, não temos motivos para mentir sobre isso e, apesar de tudo, sequer é algo relevante aqui? Não viemos falar da guerra entre meu pai sociopata e o líder da luz, que coincidentemente já se relacionaram, mas de Harrison. Vou dar um tempo para entenderem essa situação, mas depois, por favor, vamos focar no que importa.

Harry e Lakroff não precisaram esperar muito, Sirius e Remus, mesmo que ainda estivessem surpresos e cheios de dúvidas sobre aquilo, perceberam que o mais velho tinha razão.

Black tinha suspeitado que Remus era o traidor no passado, mesmo que o amasse. Era um dos seus maiores arrependimentos. Lupin, por outro lado, acreditou que o Black tinha traído os Potters quando a notícia saiu e nunca foi visitá-lo, nunca lutou por um julgamento, nunca lhe deu o benefício da dúvida.

Ambos acreditaram em Pedro.

Assim como Dumbledore acreditou.

Era bem possível pensar que anos atrás Dumbledore tivesse acreditado em outra pessoa que não deveria. Seja ela um futuro lorde das trevas ou não.

- Eles eram adolescentes então? – perguntou Sirius, apenas porque queria entender a história para poder superar essa informação.

- Meu pai ainda não tinha se formado, mas foi expulso da Durmstrang então decidiu visitar uma tia. Dumbledore tinha acabado de pegar o diploma e morava na mesma rua. Durou alguns anos e foi bem antes de tudo. Quando se viram novamente, um era professor e outro estava juntando um exército. Há outras coisas no meio, mas não são relevantes. É por isso que Alvos me evita. Como tinha dito, eu sou...

- Muito parecido com seu pai – completou Remus quando a percepção lhe bateu. Era por isso que Mitrica parecia familiar quando saiu da lareira, ele tinha visto imagens de Gellert Grindelwald em livros enquanto estava estudando.

Sozinho na biblioteca, porque o professor Bins nunca nem mencionou a guerra para eles em sala.

Eram realmente uma cópia com apneas pequenas falhas. Como os olhos. Mitrica tinha ambos os olhos muito azuis.

- Sim. Dizem que somos idênticos, mas eu discordo. Meu cabelo tem mais classe, não tenho heterocromia, não mantenho um bigode nem morto, sou muito mais atraente e uso belos ternos, não todo aquele couro. Também evito aquelas botas que o velho tanto gostava.

[N/A: Imaginem que o Gellert é o Johnny Depp e o Lakroff seria o Mads Mikkelsen falando de caracterização do personagem]

- Essas botas ficaram para mim – comentou Harry.

Lakroff não conseguiu evitar rir, o menino parecia realmente feliz com a simples ideia de que tinha herdado as botas de um lorde das trevas e os dois adultos em frente a ele ficaram horrorizados pelo mesmo motivo. Encararam Mitrica como se fosse louco por deixar que o menino chegasse perto dos objetos de um homem como Grindelwald.

Mas, caramba, eram apenas roupas.

- Enfim! – disse antes que começassem um debate desnecessário sobre algo tão pequeno quanto Harry pegando vestes no guarda roupa que estava lacrado na mansão até ele descobrir de quem era e arrombar. – Eu mal tive chance de ser criado por meu pai. Nasci no fim de 1939 e, como podem lembrar, ele foi preso em 45. Então eu, que era uma criança que mal demonstrava magia, junto com meu irmão, tivemos que sofrer com nossa mãe...

- Seu irmão? – perguntou Sirius, que sentia que a cada segundo sua cabeça ia explodir mais.

- Eu tinha um gêmeo.

- Tinha?

- Ele já morreu.

- Sinto muito...

- Tudo bem. Eu... mal o conheci – murmurou meio deprimido. – Quando meu pai foi preso muitas pessoas queriam vingança, é natural, ódio gera mais ódio. Independentemente de a raiva do meu pai ser direcionada à trouxas, isso afetava a vida dos bruxos, tudo que ele fez afetou. Para muitas pessoas não passava de um monstro – Sirius e Remus foram espertos em não demonstrar que concordavam com aquilo– Eu não quero tocar nesse assunto ou na minha opinião sobre tudo, não interessa, não tem nada a ver comigo, mas basicamente os únicos quatro anos que tive com ele, já que lá pelo final nós nem o víamos, bem... Eles foram apagados.

"Eu sei que eles existem, mas não tenho memórias. Eu e meu irmão nunca tivemos um sinal de qualquer magia nas veias e meu pai era um vidente, um muito bom, ele tinha avisado nossa mãe que isso podia acontecer. Que ele podia ter um herdeiro que fosse aborto. Ela se juntou a ele e nos gerou com esse aviso em mente. Eu não era, veja bem, só que ela assumiu que sim. Então nós dois não teríamos como nos proteger. Os filhos do Lorde das Trevas, que a maioria achava que Dumbledore foi piedoso em não matar, doi abortos frágeis. Ela assumiu que estaríamos em risco ou teríamos uma infernal de julgamento.

- Mas isso... não foi muito extremo? Quer dizer, ela apagou suas mentes sobre suas próprias vidas? Como você sabe de tudo isso? – perguntou Remus.

- Não sei, não totalmente. Engraçado né? Foi o que eu assumi pegando história atrás de história dos conhecidos da família. Dos quadros da mansão, de... – ele suspirou. – Eu não tenho como saber tudo. Minha mãe morreu antes de eu descobrir que era bruxo, todos que conviviam com meu pai fingem que nunca o conheceram, estão mortos ou presos. Eu tive que descobrir sozinho quem eu era e me deparei com problema atrás de problema. Nem sabia sobre meu irmão, porque fomos para orfanatos diferentes. No começo da vida sempre achei que fosse só um garotinho com amnésia, que os pais abandonaram, e um nascido entre trouxas. Foi durante a escola que fiz um teste de sangue e depois... Tudo só foi difícil. O que estou contando é o que consegui concluir, mas pode ser tudo falso. Minha mãe poderia só ter nojo da ideia de ter tido abortos, mesmo que fosse avisada disso. E meu pai... Ele está numa cela nojenta no fim do mundo. Mesmo meu gêmeo já estava morto quando podia ir atrás dele.

- Desculpe...

- Está tudo bem. Não é importante.

"Nem é a verdade" pensou Harry.

"Muito bom como ele consegue mentir tanto em tão pouco tempo. E ainda contar um monte de verdades no meio!" murmurou a voz sombria em sua cabeça. "Quer dizer, ele mistura tantos fatos falsos e verdadeiros em uma única frase que dá um nó na cabeça".

"Ele é um ótimo manipulador, sempre foi".

"Isso nem é manipulação. Ele só é falso feito nota de um centavo!"

Harry evitou rir de si mesmo na frente de desconhecidos.

- Eu não importo aqui - continuou Mitrica. - O importante é Harrison. Quando Lilian e James descobriram sobre a profecia que colocaria ele em risco, começaram a pensar em como protegê-lo, Lily então acreditou... ela chegou a maravilhosa conclusão de que ninguém melhor que um Lorde das Trevas para parar outro. Por isso ela foi até meu pai.

Sirius foi mais uma vez impedido de se levantar por Remus, que pressentiu o movimento do outro e o segurou no lugar.

- É isso que você quis dizer? – perguntou encarando Harry. – Quando disse que sua mãe foi atrás do seu tutor para aprender magia das trevas?

- Sim.

- "A família dele é bem ligada a coisa toda" - repetiu a frase de antes. - Um enorme eufemismo, não acha?!

"Parabéns, você sabe usar eufemismo numa frase" murmurou a vozinha.

Harry riu.

[N/A: Eufemismo é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão. Como em "A família dele é bem ligada a coisa toda" ao invés de "Ele é filho de um Lorde das Trevas"].

- Lilian foi até Nurmengard visitar o próprio Gellert Grindelwald? Você está dizendo isso? – perguntou Remus por desencargo de consciência.

- Sim.

- Como ela conseguiu entrar? Dumbledore sabia disso?

- Não. Ela fez tudo sozinha. Agora sobre o como... Pensei que conhecessem sua amiga o suficiente. Quando Lily enfiava uma coisa na cabeça, absolutamente ninguém conseguia impedir – comentou com um sorriso que Remus e Sirius se identificaram no mesmo momento.

Saudade.

Lakroff Mitrica obviamente tinha carinho por Lilian, não era apenas o uso do apelido ou a forma reverente que ele falava sobre ela, seu olhar mostrava uma dor muito semelhante à que eles tinham quando pensavam em James.

Isso gerou uma simpatia da dupla pelo loiro.

- Eles nunca nos contaram... – comentou Sirius.

- Imagino que não queriam que vocês os julgassem por ir atrás de Grindelwald para lutar contra Voldemort. Parece muito uma atitude onde apenas se troca o sujo pelo mal lavado.

- Sim... – murmurou Sirius.

James o conhecia demais, ele saberia que Sirius não aprovaria a ideia, que iria contra com todas as forças e insistiria várias vezes para não mexer com magia negra.

Chamaria o Potter de louco por ver um Lorde das Trevas. Isso ainda o estava incomodando.

E por isso seu irmão de consideração ficou quieto e fez tudo sozinho...

- De toda forma meu pai disse a Lily para procurar seu filho. Ela veio até mim e passamos a vasculhar a biblioteca dos Grindelwald, que estava abandonada há décadas. Ajudei ela a pesquisar tudo que dava, aprofundar cada conceito, enquanto meu pai dava dicas de como lançar os feitiços corretamente.

- Como assim? Ela continuou visitando seu pai mesmo depois de você? Por quê?

- Eu não praticava artes das trevas. O filho de Gellert Grindelwald não tinha absolutamente nada a ver com o pai, essa era a realidade. Nunca o visitei, nunca entrei em qualquer propriedade dele, nunca encostei em nada dessa parte da família ou mesmo da minha mãe. Para todos no mundo eu era um órfão, que foi adotado por trouxas, e era assim que vivia. Nem eu ou meu irmão nunca reivindicamos qualquer coisa, mesmo o nome de nossa parte bruxa. O legado do meu pai iria morrer com ele, mas Lily fez com que fosse recuperado. Para achar uma forma de vencer um Lorde das Trevas, que se dizia melhor que meu pai, os cofres Mitrica foram abertos finalemente.

- Cofres Mitrica?

- Mitrica é um sobrenome por parte do meu pai, mas bem antigo na família. Por isso ninguém o associa a ele. Também não era usado por ninguém há gerações, mas é um nome encantado. Sabem o que isso quer dizer, não é?

- Que é um nome que não morre – disse Sirius. – É como o dos Black. É um nome quase vivo, que reconhece seus herdeiros, os aceita ou rejeita. Ele sempre lutará pela sua continuidade e um herdeiro digno pode reivindicar desde que seja aceito e, assim, tudo que vem com o nome se torna seu. Encantar um nome é uma prática antiga e morta, considerada de magia negra por envolver aspectos de sangue e também de espiritualidade. Os últimos que fizeram algo assim têm, pelo menos, mais de quatrocentos anos, então mesmo algumas famílias nobres dos sagrados vinte e oito podem não ter o sobrenome encantado e, portanto, um mutável. Ele também não pode ser trocado, mesmo com os casamentos, por mais que o Lorde dessa família tenha outro sobrenome, o antigo sempre estará lá para ser reivindicado e trazido de volta por um herdeiro disposto com sangue compatível.

- Exato. Meu pai era a pessoa ruim que todos conhecem, se quiser pensar nele assim, mas não era tolo. Ele colocou muita coisa que estava como Grindelwald para os Mitrica, como uma transferência bancária. Até uma cadeira no conselho do ministério alemão, mas ele o fez sem reivindicar o sobrenome para ele. Quando foi preso e tudo que era dele foi retirado para pagar compensações de guerra, o que estava no cofre Mitrica nem foi tocado.

- Então Lily foi atrás de você, que reconheceu o nome e assumiu o título de Lorde Mitirca?

- Sim.

- Mas você nunca tinha feito isso... Era um nome que você quis antes. Você assumiu algo que nunca desejou - murmurou Sirius incomodado.

Ele mesmo não tinha assumido como Lorde Black por mais que lhe pedissem. Lakroff fez isso apenas porque Lilian, uma mulher que ele não conhecia, pediu? Pior, o fazendo criar contato com um lado de seu passado que ele sempre quis evitar e podia lhe causar problemas?

- Algo assim. Era por uma boa causa. Quando ela apareceu comecei o processo de abandonar quem eu era e o que acreditava, meio que Lakroff Mitrica nasceu, já que esse nem era meu nome antes. Adeus órfão qualquer, olá vice-diretor da Durmstrang, estudioso das magias antigas, professor de história da magia, investidor e político, nas horas vagas.

- Isso é... Como assim abandonar quem você era?

- Eu tinha princípios diferentes. Não tinha envolvimento com minha família e era um ninguém, apenas existindo no automático. Lily me deu um propósito e eu lutei por isso. Ela me acordou do estupor causado por tudo e eu criei uma vida da qual me orgulho, com uma família que luto por.

- Então você ia com os Potter aprender feitiços com seu pai?

- Não. Não foi algo tão drástico, eu e meu pai não ficamos no mesmo cômodo. Lily e James passavam horas na biblioteca comigo, eu aprendia do meu jeito e eles visitavam a prisão para aprender com o mestre.

- Você ensinou o ritual para eles? O ritual de sacrifício? Ou foi seu pai? – perguntou Sirius parecendo... estranho. Ele estava incomodado, mas havia outra coisa em seu tom mais sombria que isso. – Um de vocês disse para eles se sacrificarem?

- Não. Nenhum de nós – Remus sabia que era verdade pelo cheiro, ele acenou com a cabeça, sabendo que Sirius notaria o movimento pelo canto dos olhos. – Eles acharam um livro na biblioteca, eu lutei com todas as minhas forças para soltarem a coisa quando percebi do que se tratava, mas eles não eram burros, sabiam que nem eu, nem Gellert aprovaríamos isso, então esconderam que o estavam estudando.

- Nem Gellert?

- Meu pai se apegou aos Potters. Lilian passava as primeiras horas de visita lhe fazendo a barba, o cabelo, falando sobre a vida apenas por diversão, James brincava com ele, fazia piada sobre tudo e ria das macabras que ele soltava. Os guardas receberam presentes nos feriados, Gellert recebeu alguém com quem conversar. Eles o tratavam como pessoa e coisa que não tinha. Pelo que me contaram, o velho ficou com uma foto deles, uma que tiraram quando Harry nasceu, e pareceu que iria morrer de tão doente quando soube de suas mortes. Eu consigo imaginar o que vocês pensam dele, mas os Potters ignoraram tudo e se tornaram queridos para aquele homem decrépito e abandonado pelos Deuses. É normal que até um louco nojento sofra. Ele nunca concordou que morressem. Nunca mesmo. Seus amigos descobriram sozinhos como fazer a coisa funcionar. Posso jurar pela minha vida e magia que mesmo eu, jamais, quis algo assim.

- Mas... por quê? Por que eles escolheram algo tão extremo?

- Eles não escolheram totalmente, Black. A intenção era tentar várias coisas, fazer de tudo, mas se no fim nada desse certo, ao menos Hazz tinha que sobreviver. Usaram o fidélius, usaram diversas enfermarias e proteções, Voldemort não estava entrando apenas na casa de dois inimigos, mas de dois bruxos totalmente cinza, aquele ponto, que sabiam muito bem magias que matariam um bruxo mais fraco no mesmo instante. Ele ficou condenado no instante que pisou na casa, mas...

- Eles estavam sem varinha naquele dia – comentou Harry cabisbaixo, fechando os olhos. – Não tinham como lutar.

- Eles podiam ir atrás das varinhas, mas sabiam que perderiam tempo com isso e Harry poderia ser pego. Eles podiam lutar, correr da sala e tentar aparatar, mas um dos melhores amigos os havia traído e tudo só iria piorar. Eles fugiriam para sempre? Era guerra. Naquele ponto devem ter chegado a uma conclusão triste, mas real: essa era a vida que Harry teria que sofrer. Uma guerra constante onde ostentava um enorme alvo nas costas. Isso era viver? Eles queriam salvar o filho de toda essa merda então... Eles podiam morrer, mas levar o filho da puta do Voldemort com eles. O ritual de sacrifício e todas as enfermarias negras que usamos fariam o trabalho. Não sobrou nada do corpo de Voldemort aquela noite, não apenas porque um Avada Kedavra refletiu nele, mas porque garantiram que tudo explodisse no idiota no instante que tentasse encostar no menino. Ele era um Lorde das Trevas, talvez fosse o melhor, mas perdeu para os conhecimentos de Grindelwald junto dos Potters. Isso é fato. James e Liliam não o deixariam sair vivo, jogariam cada magia necrótica possível nele. A guerra acabaria de uma vez por todas, para que Harry vivesse em um mundo com paz e feliz.

- Magia necrótica?! - indignou-se Sirius.

- É a especialidade da família. Elemental também, além de um pouco de clarividência para os azarados que nascem com o dom.

- Mas necromancia?! Isso é proibido em qualquer lugar! Sem contar que é perigosa demais! E tem fatores biológicos, ela podia matar um bebê como Harrison! E...

- Tudo isso só é um problema se não souber como usar a coisa, Black. Meu pai sabia. Muito bem. Usou por anos e não teve qualquer consequência por que era um mestre na coisa, não subestime essa capacidade. Nem a própria habilidade dos Potters. Mesmo que no cenário mais triste, eles tiveram total sucesso em acabar com a Guerra e oferecer uma vida para Harry, não apenas sobrevivência.

- Mas para isso você precisava assumir seu papel como meu pai quando chegasse a hora – Harry soltou e Sirius sentiu outra facada no peito que o impediu de continuar questionando Lakroff. – E sabemos que você não fez isso. Você me deu para Hagrid, colocou nas costas de Dumbledore uma responsabilidade sua. O velho foi o filho da puta maldito que escolheu me levar para os trouxas, mas você é tão culpado quanto ele por ter deixado. Vocês dois - e apontou para Lupin - são tão culpados quanto ele por cada coisa que passei... – dessa vez ele não gritou, pelo contrário sua voz saiu bem calma, mas todos perceberam que aquele tom era muito pior.

Era de pura decepção e rasgava cada camada de força psicológica que tinham, não era um ataque, era um massacre, Remus e Sirius se sentiram...

Lixo.

- Para piorar - continuou o menino. – Você se deixou ser preso, ficou na cadeia quando sempre pôde fugir e depois de onze anos inteiros só tomou alguma força e levantou a bunda da cela, não por mim, mas pelo rato. Porque viu o maldito rato no jornal e quis mata-lo.

- Harrison... – começou Sirius, mas se calou baixando a cabeça.

- Sirius! – chamou Remus, sabendo que o outro não estava se defendendo de vergonha, mas ele não podia deixar que Harry realmente acreditasse naquilo. Então se virou para o menino: - Não é bem assim, você não entende o que os dementadores fizeram com a cabeça dele...

- Entendo, sim. Eles já foram meu maior medo. Quando chegavam perto de mim eu desmaiava, mas só depois de ouvir meu pai dizendo que iria atrasar Voldemort, depois de ouvir seu corpo caindo no chão, minha mãe implorando pela minha vida várias vezes e então a morte dela. Enquanto estava praticamente inconsciente, com aquelas coisas me sugando, eu via Sirius, que mesmo comigo aos prantos e tentando agarrá-lo, me entregava para o meio-gigante. Acredite, eu sei o quão perturbadores dementadores são. Eu não os suportava e sentia apenas vontade de me matar com a simples aproximação de um deles.

Sirius fechou os olhos com força, Mitrica viu uma lágrima saindo e escorrendo pelo rosto enquanto seu corpo ficava extremamente tenso e pálido. Remus o abraçou sabendo que não só ouvir aquilo de Harry o machucava, mas pensar nas próprias experiências.

- Eu só queria morrer sempre que havia um por perto - continuou o menino ignorando a dor do outro. - A morte me parecia uma doce e desejada fuga, minha única alternativa. Black passou por isso por mais de uma década e se consegue dar aulas descentes, até para os padrões dos Sonserinos, mostra uma garra impressionante, muita força mesmo. Fico chocado que chegue a esse ponto com apenas alguns meses em um curandeiro da mente. Que pareça tão vivo e bem, mesmo com esse trauma. Mas ele não teve a mesma garra para lutar por mim. Essa força nunca...

- Ele não conseguia! – defendeu Remus. – Não era só um dementador, era toda Askaban, era a culpa, a morte dos seus pais, a traição, tudo! Aquelas coisas o sugaram até ele não conseguir pensar. Ele começou a acreditar que...

- Remus, cale a boca! – pediu Sirius surpreendendo todos.

Ele ainda estava com os olhos fechados, mas seu corpo agora visivelmente fraco e inclinado sob as pernas, apoiando o cotovelo nas coxas. O homem respirou fundo e o som saiu cortado por uma respiração falha, cheia de tristeza e possivelmente catarro.

Sirius Black nunca foi o mais sensato, nem o mais responsável. Ele sabia disso e James sabia. Mesmo assim confiou nele.

Achou que ele seria, entre todos os amigos, o melhor pai para Harry.

Ele falhou. Estrondosamente.

Nem tentou.

Independente de seus motivos pessoais, lá estava seu afilhado cheio de uma dor que Sirius nunca quis que ninguém tivesse: a dor do abandono.

Ele sabia que era isso, Harry achava que Black o abandonou.

Apesar de toda a máscara dele, uma muito boa, digna de um filho de família sangue puro, Sirius cresceu aperfeiçoando a própria e aprendendo a ler por trás das dos outros. Para Harry, havia uma desvantagem clara naquela luta de aparências: Sirius fez uma máscara para esconder exatamente a mesma coisa que os olhos do menino mostravam. Amargura.

Um sentimento de insuficiência.

Sirius lutou para ser algo que honrasse seu nome e posição como futuro Lorde. Ele tinha sido treinado, mas falhou na cabeça de sua família e foi abandonado por ser diferente. Sabia reconhecer um igual diante daquela situação.

Harry estava triste, sozinho e com dor, Sirius tinha se tornado o que sempre detestou em seu próprio pai e nada mudaria isso.

O menino à sua frente não queria que duvidassem dele, que se justificassem, ele queria apenas...

- Me desculpe – que mostrassem que sua dor era válida. – Eu falhei, você tem razão – que ficassem do seu lado e lhe dessem razão para sua raiva. – Eu errei em não ter ido com você até o ministério naquela noite, eu errei em não pensar com calma, em não ser um pai naquele momento e dar visão para qualquer coisa que não você – que mostrassem que não haviam desculpas, apenas arrependimento. – Sim, eu estava com dor, raiva e confuso. Tudo tinha desmoronado, seu pai, que era meu irmão em todos os sentidos importantes, estava morto. Oficialmente, toda a minha família tinha ido embora. Mas eu tinha você. Eu tinha que ter te agarrado com todas as minhas forças – Harry precisava, assim como Sirius um dia precisou, que lhe dessem o direito de odiar a pessoa que o fez mal, mas lhe daria algo que nunca conseguiu: uma confissão. Um pedido de desculpas sincero. – O problema é que eu era... eu sou um homem impulsivo e infantil. Eu sou o pior que um grifinório poderia existir.

"Eu não pensei antes de fazer, não quis pensar, não quis encarar todas as minhas responsabilidades, então no primeiro momento em que alguém mais velho, e em quem eu confiava, me deu um caminho fácil para seguir, eu me agarrei. Eu obedeci. Eu não fiz o que um pai de verdade teria feito, não aceitei que o dever era meu. Eu agi como criança cujo avô, Dumbledore, deu uma solução no momento mais difícil que já tive, então simplesmente aceitei sem questionar. Não era papel dele decidir com quem você ficaria, nunca, eu tinha que o ter mandado ir pastar, dito que você era meu e não de qualquer outro membro da família que seus pais não escolheram. Eu falhei e nunca vou poder me perdoar o suficiente por isso.

Nenhum dos adultos perdeu como a expressão de Harry mudou.

Mitrica viu algo quebrar no menino, Sirius percebeu que, no mínimo, uma das máscaras da criança caiu e Remus sentiu o cheiro dele trocar, de todas aquelas emoções extremamente negativas e explosivas, um monstro faminto que queria engolir os dois, para apenas triste. Harrison de repente era apenas um animal ferido.

Ainda perigoso, mas mais assustado do que agressivo.

Seus olhos brilharam, mas ficou quieto, encarando Sirius. Lakroff quis pegar na mão do neto, lhe dar algum apoio, mas sabia que ele não iria querer. Nessas horas Hazz preferia estar sozinho, ficava perdido nos próprios pensamentos como se estivesse falando consigo mesmo, e superava suas dores na própria força. O importante era apenas continuar ali ao seu lado, para quando ele quisesse estivesse sempre disponível e presente.

Mas o vice-diretor estava feliz. Black merecia parabéns ou mesmo palmas! Aquela foi a melhor resposta que poderia dar! Para alguém que se dizia e mostrava tão impulsivo... ele foi perfeitamente maduro. Admitiu ter se arrependido e... Havia esperança!

Black e Harry podiam chegar em algum lugar de verdade.

Vendo que estava conseguindo alguma coisa Sirius continuou:

- Eu errei. Nunca vou negar isso. Você tem todo o direito de me odiar e vou entender, aceitar e pegar isso para mim. Cada parte dessa culpa. Vou viver com ela, mas vou te dar sua resposta. Por quê eu te abandonei? Eu não percebi, nem por um instante, que era isso que estava fazendo. Sou um idiota que não pensa. Confiei em Pedro e depois confiei em Dumbledore. Alvo era uma figura, um símbolo de tudo que era certo, então eu aceitei o que disse sem questionar, como um bom soldado treinado.

"Não me importei com o que aconteceria depois, pois acreditei que ele teria pensado melhor e estaria certo. Independente disso, eu sou o primeiro culpado a apontar o dedo. Eu não te coloquei como prioridade. Por mais que estivesse confuso, com dor, e cheio de arrependimento, por mais que eu me odiasse naquela hora e, quando olhava para você, só conseguia pensar que eu era o culpado pela dor que sentiria no futuro, que eu era culpado pela morte dos seus pais e era um lixo por isso... James me confiou uma tarefa. Mesmo que eu me sentisse um desprezível abominável naquela hora, eu tinha que provar que em alguma coisa James não errou em confiar. Devia a ele o papel de pai para você. Não perceber todas essas coisas quando era preciso... só mostra que eu seria um péssimo tutor.

- Eu poderia dizer que, infelizmente, não fui criado em um bom lar. Mesmo que os Potters tivessem me ensinado o que é família, eu posso não ter aprendido ou já era muito tarde para conseguir entender, mas não serve! Nada, absolutamente nada, justifica essa falha gigantesca minha! Eu não sabia como agir, não pensei, aceitei o que os outros me disseram, quando era meu papel pensar com calma, deixei que outros cuidassem de te proteger, quando era minha função, e principalmente eu fugi. Eu virei as costas para tudo aquilo e me foquei apenas na raiva que tive de Pedro.

- Sim – concordou Harry, finalmente abrindo a boca, mas ainda na mesma posição e com a mesma expressão vazia de olhos profundamente tristes.

- Quando fui preso eu não tentei lutar. Eu continuei fugindo da realidade e das minhas responsabilidades.

- Sim, você fez.

- Eu continuei lá por doze anos enquanto você poderia estar passando por tudo, sem que eu soubesse. A culpa é minha.

- E você nunca fugiu de lá por mim – murmurou deixando que a mágoa chegasse às palavras.

- Não! Eu fugi por você, sim! - corrigiu na mesma hora. - Mas não na hora certa, agora eu vejo. Eu estava triste e a dor que os dementadores causam... eu não desejo isso a ninguém. Se você quis se matar quando chegou perto de um, ou mesmo alguns, saiba que eu não queria nem morrer porque sentia que merecia aquela dor. Eu quis sofrer. Queria que eles me tirassem a alma, já que era a pior forma que todos diziam para partir! Eu queria ser punido até a morte mais dolorosa possível! Eu aceitei aquilo e ignorei o seu problema. Só que a verdade é que, se eu pensasse bem, agora que estou mais são eu percebo, eu me achava uma pessoa horrível, que não merecia ser seu pai. Eu não merecia a confiança de James, porque foi ela que o matou. Eu tinha que estar preso e sofrer até o fim, pois era lixo. Você quis alivio quando os viu, eu quis a tortura, pois me odiava e eles só pioraram esse lado meu. Eu nunca me amei, eu nunca senti, de verdade, que podia me amar. Ninguém na minha família me amava pelo que eu era, nem por um segundo, e os únicos que o fizeram eu acabei falhando com! Você não podia ficar perto de mim, porque eu era um merda!

- Sirius... – sussurrou Remus incrédulo.

Ele nunca soube que seu amigo pensava assim de si mesmo. O Black sempre foi assim? Ele sempre... se odiou tanto? Toda aquela confiança dele... seria apenas sua armadura? O lobisomem pegou na mão do outro e segurou com força, feliz que ele havia aceito o gesto de carinho.

- Eu nunca gostei de mim, eu sempre ouvia o que meus pais diziam e acabei acreditando em algum ponto. Lá no fundo eu sabia que não merecia nada, não era nada, e ninguém conseguiria gostar de mim de verdade. Se gostasse seria mentira ou um tolo, porque eu não merecia uma segunda olhada.

Harry sentiu outra parte dele doer com aquilo.

Uma que nunca imaginou que Black atingiria logo na primeira conversa: a empatia.

Era exatamente como os trouxas o fizeram sentir.

Harry sabia por eles que, não importa o quão bom fosse, nunca seria amado por ninguém. Não merecia o amor de ninguém. Era uma aberração, um monstro, um demônio...

- Eu era lixo, inútil e incapaz - disse Black, os olhos cheios de lágrimas que escorriam aos poucos. - Como alguém assim poderia te criar? Como você iria gostar de mim sendo essa... coisa? Que tipo de pessoa você seria se justo esse merda te ensinasse? Ainda mais depois do que fiz aos seus pais? – Remus apertou mais a mão dele, incapaz de aceitar quieto aquelas palavras, mas sabendo (pelo cheiro tanto de Sirius quanto Harry) que eles precisavam daquelas palavras. – Eu conseguia aguentar isso na adolescência, eu lutei contra meus pais, encarei de frente meus medos e tentei superar tudo. Tentei acreditar em mim, fiquei raivoso e inconsequente, mas era minha forma de tentar me sentir vivo! Eu me tornei alguém! Eu quase gostei disso! E quando James viu ele gostou! Gostou de mim de verdade, alguém tinha feito isso! Sem me abandonar, aceitando quem eu podia ser com cada defeito ridículo. Eu senti que tudo ficaria bem! James era minha força, então vieram Remus e Pedro... Mas James estava morto naquela noite, Pedro o matou e Remus não tinha como me perdoar por não confiar nele e sim no maldito rato. Eu só era o inútil que minha mãe sempre disse que eu era, então os dementadores podiam levar pro inferno que era meu lugar.

Todos ficaram em silêncio por alguns instantes antes que o Black finalmente encerrasse:

- Mas eu fugi de Askaban por você, Harrison. Os dementadores tiraram cada gota de vida de mim, mas eu saí desse estupor. Não foi por felicidade, o que não tira minha culpa, não foi para assumir meu papel como pai e aceitar toda aquela dor, mas superá-la. Eu não fui forte a esse ponto. Eu acordei depois de ver Pedro, mas foi por perceber que ele estaria em Hogwarts. Eu achei que ele poderia te machucar...

- O que?

- Eu não sabia que você estava em outro país. Eu achei que você estaria em Hogwarts, vi que ele estava com os Weasleys, que sempre estudaram aqui nesse castelo e sempre foram grifinórios, pensei que você também seria um, então aquele desgraçado estaria literalmente dormindo na mesma torre que você! Ele poderia te machucar! E eu não permitiria isso! Eu acordei por raiva, querendo me vingar, querendo matar Pedro, mas era para que você não estivesse num mundo com aquele rato filho da puta infernal! – gritou, a raiva saindo em ondas pelos lábios.

Houve mais silêncio, quebrado apenas pelas respirações cortadas de Black que finalmente parou de chorar e tentava se acalmar. Lakroff observou Harry enquanto o menino continuava pensando, por fim, após alguns segundos ele tornou a se pronunciar:

- Foi isso que você pensou? Você achou que Pedro ia me machucar?

- Sim! Não foi ao meu julgamento? Eu disse a todos, com Veretassirum, que ver que Pedro poderia chegar até você me acendeu! Mas eu admito Harry... não foi só preocupação, isso não me tiraria da depressão, afinal não tirou em doze anos e eu tinha que ter me preocupado. A raiva teve que andar junto do amor para que eu me levantasse e lutasse. Eu me arrependo muito. Os dementadores não me permitiam ter nada de bom no coração, mas a raiva ainda podia estar lá. Quando vi Pedro no jornal eu acordei porque ela era tão ruim quanto a tristeza, tão forte quanto. Eles não podiam tirar aquele sentimento de mim e ele borbulhou até que eu saísse. Eu sinto muito por não ser a pessoa forte que você precisava, na hora que você precisava. Não ser aquele que te protegeu e te deixar fazer isso sozinho, ou com qualquer um que não te valorizasse. Mitrica precisou estar lá por mim e a culpa é dos meus próprios defeitos. Lakroff, de todo coração, obrigada por ajudar e proteger o Harry, seja do que for. Eu sei, dá para ver, que ele tem força em você, então me desculpe por te dar um papel que não precisava lhe alcançar, mas muito obrigada por ter feito isso.

Mitrica demorou para reagir e quando o fez, respondeu com todo o carinho olhando para seu neto, não Sirius:

- Eu fiz com todo o prazer.

Ele observou também como Harry não corrigiu o Black em nenhuma das duas vezes que o chamou exatamente assim.

Não havia apenas esperança ali. Sirius Black era estranhamente perfeito para o menino, pois ele entendia sua dor. Ele era o culpado, mas se arrependia e entendia de verdade aquela situação.

Então poderia entender o resto.

Aceitar a parte escura.

Amá-lo incondicionalmente e, para Hazz, aquela dor antiga e mágoa de abandono, poderia ser superada finalmente.

Era uma perspectiva boa até demais.

- Eu errei – repetiu Sirius. – Tudo que posso fazer é perceber isso e tentar... Me redimir. Eu quero te conhecer, Harry. Quero te mostrar quem sou, por pior que seja às vezes e por mais que nem eu goste de tudo que está aqui. Só que eu te amo. De um jeito que talvez você nunca vá entender até ter um filho ou afilhado. Porque mesmo com todas as minhas falhas você é meu afilhado, eu te amei no instante que você apareceu na barriga da sua mãe e te amei mais do que o mundo. O que James e Lilian fizeram por você eu repetiria sem um segundo de hesitação e algo é assustador. Eu morreria por você, mesmo que nunca tenha te conhecido, porque eu te amo com cada parte de mim. Talvez possamos criar alguma coisa, mas para isso... você vai ter que me dar uma chance, uma que nem eu me daria. Não perdoar tudo que fiz, mas deixar mostrar que nunca errarei de novo. Eu estou tentando ser uma pessoa melhor, estou lutando, indo ao médico, fazendo o que devia ter feito a anos e me aceitando como sou, da melhor forma que posso. Apesar de tudo... eu sou oficialmente a melhor versão de mim agora, pois sei meus defeitos, sei enxergá-los, aceitá-los e tento superá-los. Eu faria qualquer coisa por você, se tivesse uma segunda chance. Só quero que me permita apresentar isso, o que sou agora e o que posso ser para você. Porque eu te amo e nada me faria mais feliz e completo do que poder te dar cada gota desse amor.

Harry se levantou tão rápido que os adultos ali se assustaram, ele saiu de perto deles e foi até a lareira:

- Já volto – foi tudo o que disse antes de simplesmente sumir nas chamas verdes, sem emitir uma única ordem (como deveria ter feito para que a rede de Flú funcionasse adequadamente e o levasse onde queria).

Sirius e Remus encararam Mitrica em choque, mas o outro apenas estendeu sua mão para o Black:

- Foi perfeito – disse com um sorriso calmo e tranquilizador.

- Mas ele fugiu - sussurrou apavorado.

- Ele deve estar muito confuso com tudo. Harrison veio aqui esperando querer te matar até o fim da reunião, ele te odiava, sentia que nunca poderia superar essa dor, mas... O que você disse mudou tudo. Você não é mais o padrinho que não o amava o bastante, você é o homem que não se amava. Alguém que precisava de ajuda e não teve o bastante, mas que reconhece isso. Você foi perfeito, Black.

- Mas...

- Você deu toda a razão para tudo que Harry estava sentindo, mas também mostrou que não falhou apenas por falhar. Você só é alguém quebrado. O mais importante de tudo: você foi sincero e mostrou isso. Harry nunca odiaria alguém quebrado. Ele entende aqueles que sofreram e tomam as decisões erradas por isso. Você se colocou como algo que ele simpatiza, mas não nada disso como desculpa. Você é quem é, por tudo que viveu, mas assume a própria responsabilidade pelos atos. Ele não tem mais como te odiar e isso é perfeito.

- Ele levantou e saiu!

- Ele só precisava se mexer um pouco. Talvez só não queria que vocês vissem a cara dele - disse rindo, imaginando o neto gritando consigo mesmo agora, no quarto, em uma conversa que só ele ouvia as respostas - Black... - chamou o homem que estava prestes a entrar em outro ataque, mas de pânico. - Você deu um porquê para tudo que aconteceu, ele veio conversar com vocês só para isso, mas também deu algo para se agarrar, suportar e perdoar de verdade. Agora resta... que você também veja as falhas dele e aceite cada uma. Da mesma forma que você erra, ele errará. Você está quebrado? Ele também. Se os dois puderem continuar sendo sinceros e seu amor permanecer tão incondicional como disse, tenho certeza que Harrison também vai acabar te amando no fim. Do próprio jeitinho dele. Se você gostar dele, apesar do que se tornou, não terá problemas.

- Apesar do que ele se tornou?

- Os trouxas... – Mitrica inspirou fundo. – Eles fizeram muita coisa. Eu não quero falar sem que ele concorde com isso primeiro, mas vocês têm que entender que Harry tem muita raiva no coração e está cheio de falhas de personalidade, mas ele só precisava de pessoas que olhem para isso e o acolham.

- Mas é claro que nós vamos acolhê-lo! – disse Sirius inconformado com a simples ideia de fazer o contrário.

O sorriso que Lakroff deu, entretanto, diminuiu sua convicção. Era sombrio e tenebroso quanto a face do próprio demônio do medo. Havia uma pitada de sadismo em seu olhar, uma promessa de coisas terríveis:

- Veremos, não é?

A lareira tornou a se acender naquele instante e Harrison saiu das chamas com uma bacia na mão. Não levou mais do que um segundo para os homens reconhecerem o que era.

Uma penseira.

- Hazz? - perguntou Mitrica se levantando.

- Eu quero que ele veja. Os dois. Que vejam o que aconteceu naquela casa e no orfanato. Talvez assim entendam porque é tão difícil para mim perdoar. Mas você, Black... - ele encarou diretamente Sirius. – O que você disse... Você merece ver o que aconteceu. Eu nunca te mostraria se tivesse agido diferente, mas se você é capaz de pedir desculpas e perceber o seu erro sem nem saber a coisa, talvez nós dois tenhamos esperança de verdade, quando ver todo o restante.

- Tudo? - perguntou Lakroff.

- Vô. Eu vou tirar as memórias.

- Harrison...

- Eu aguento – afirmou, pois sabia que o homem não gostaria da ideia dele praticamente revisitando as coisas para poder fazer uma coleta adequada. – Mas não vou entrar. Vocês vão fazer isso sozinhos.

- Claro, meu príncipe - murmurou indo até o garoto e dando outro beijo casto em sua cabeça.

Hazz havia o chamado de avô na frente daqueles dois, mostrando algo sobre si mesmo. Para Mitrica, que o conhecia bem, era o maior sinal de que Harry estava dando uma chance. Mostrar fraqueza, mostrar como ele se importava com algumas coisas em sua vida e como era sem tantas máscaras o escondendo, não era pouca coisa para o menino. Ele deixou aquelas faces caírem de propósito e estava disposta a mostrar seu passado, seria outra.

A reação daqueles homens definiria o resto.

Se Harry abriria espaço para eles em sua vida.

Era tudo ou nada.

Sirius e Remus teriam que fazer certo. Nem sabiam com o que estavam se metendo, o quanto aquilo seria importante, mas era muito.

O mais velho também retirou sua varinha e transfigurou o sofá de antes em uma mesa onde caberia a bacia, retirando das mãos do menino e levitando até lá.

- Harrison? – tentou Sirius.

- O que?

- Tem certeza de que quer isso? Nos mostrar suas memórias, eu quero dizer. Invadir sua privacidade assim...

- Acho melhor do que falar. Vai ser menos irritante.

"Ou doloroso" Mitrica acrescentou mentalmente pelo menino, pois sabia que era uma realidade, mesmo que não admitisse nem para si mesmo.

- Mas eu já aviso – continuou o adolescente. – Eu vou modificar algumas. Vocês vão perceber, se forem espertos, coisas faltando, outras borradas e diferentes, pessoas ficando mudas do nada. Você falou uma verdade aqui, Black, isso é invadir minha privacidade então só deixarei para vocês o que quero mostrar. O resto fica comigo, de acordo?

- Claro!

- Harrisson – dessa vez foi Remus a chamar, ele o encarou. – E você quer que eu veja?

- Sim.

- Mas...Por quê?

- Como assim?

- Eu mereço ver? Ou deveria... Sirius já te pediu desculpas, mas eu nem... Eu não...

- Eu sei o seu motivo, Lupin. Você tinha medo de si mesmo. Você acha que sua condição te faz um monstro insuficiente e perigoso, estou certo?

- Sim - sussurrou cabisbaixo.

- Você achou que se o próprio James não confiou em você, então queria dizer que realmente não devia passar de um monstro, que você não tinha o direito de exigir à Dumbledore uma foto minha ou uma visita, porque meu pai não confiava plenamente em você. Meu pai preferiu Sirius, que até então foi quem o traiu e matou, não você para esse papel de padrinho. Pior, você tinha se apaixonado pelo inimigo... – a palavra apaixonado fez Remus corar muitíssimo para o que um adulto deveria.

- Bem... foi – murmurou resignado.

- Tudo bem. Eu já gritei bastante com você por isso. Realmente não era sua responsabilidade vir até mim e eu me sentiria igual nessa situação. Na verdade ficaria com raiva de James por ter achado, mesmo que por um segundo, eu era culpado. Você foi negligente, eu agradeceria se tivesse se aproximado antes, mas posso aceitar isso como algo a ser superado. Não era uma coisa que tinham colocado à você. Quando Sirius se mostrou inocente ano passado, você também se odiou por não ter ajudado seu... "amigo" quando ele precisava. Não é? Eu só posso supor, pela forma que ambos parecem pensar em sincronia e se entender tão perfeitamente bem, que não estão muito longe em suas próprias conclusões pessoais. Lupin, você também se odeia, não é? Não se achava digno de estar perto de mim?

Remus arregalou os olhos e baixou a cabeça, sentindo uma dor muito grande quando o próprio Sirius o olhou e acariciou as costas.

Então era isso?

Eles se davam tão bem por que eram dois quebrados que se odiavam por dentro?

Se entendiam em sua dor? E ele nunca nem percebeu que Sirius se sentia assim...

Credo, ele era muito merda como companheiro...

- Não fique se odiando – disse Harry surpreendendo a todos. – Não vai te levar a lugar nenhum. Siga o conselho do Sirius, aprenda a aceitar suas falhas e superá-las. Ou faça como algumas pessoas e se orgulhe delas. Se todos querem te ver como monstro, que seja, se querem te ver como ruim, como alguém que nunca poderá ser igual ou melhor que eles, então a resposta é clara: Seja muito, infinitamente, pior.

- Como? – perguntou Remus.

- Você ouviu. Se não pode ser melhor, seja pior. Passe por cima deles, Remus.

[N/A (totalmente aleatório): Para quem viu, basicamente meus últimos vídeos no tik tck haha]

O casal foi poupado de responder aquilo com a risada de Mitrica, uma risada estranha e cruel.

- Até onde está querendo ir, meu pequeno príncipe?

- Já te respondo – disse puxando sua varinha e conjurando uma cadeira em frente a mesa com a penseira e se sentando. – Me deem um momento.

Eles viram o garoto tocando a têmpora várias vezes e, por alguns minutos torturantes, retirando fios prateados que calmamente colocava na água. Eles giravam mostrando pequenos vislumbres de um menino muito lindo e magro, bem menor do que o adolescente à frente deles, mas logo sumiam em apenas um borrão. O casal também podia ver a expressão no rosto dele ficar mais tensa a cada memória retirada, Remus sentia o cheiro da raiva descontrolada voltando e quis pedir para que o garoto parasse, mas não fez.

Se Harry achava que devia fazer aquilo era por um bom motivo.

Quando finalmente se deu por satisfeito, o de olhos verdes se levantou e encarou a dupla no sofá.

- Podem entrar.

O lobisomem encarou seu companheiro e sentiu o coração acelerar com vários sentimentos misturados quando lhe estendeu a mão. Ambos se seguraram um ao outro e entraram na penseira.

Estavam esperando algo ruim.

Mas o que viram foi pior.

-x-x-x-

Enquanto o casal, não totalmente assumido, estavam visitando as memórias de Harry, Mitrica se aproximou do neto e o abraçou.

- Até onde você mostrou?

- Até o tiro.

- Você...

- Eu não mudei nada dos meus ataques de magia acidental.

"Só tirei Tom de todos eles" pensou.

"Um sacrilégio. Eu sou a melhor parte" disse a vozinha em sua mente e Harry teve que rir. Ele se sentia seguro para fazer isso, agir como louco e rir das vozes na sua cabeça quando estava apenas com Lakroff. Ele não o julgava, nem questionava, afinal eram todos loucos entre os Grindelwald.

"Você não disse isso..." pensou.

"É a verdade! Eu sou incrível. Fiz aqueles porcos chorarem".

"Piorou a situação muitas vezes e sabe disso".

"Por favor, eles mereciam ter morrido logo no começo, você que era fraco demais para deixar".

"Fraco?! Que ousadia a sua!" pensou com um sorriso, mas se voltou para Mitrica:

- Eles vão me ver atacando meus tios de volta, vão ver eu os torturando e controlando. Vamos descobrir como reagirão a isso.

- Eles não poderão contar para ninguém depois, não é? – perguntou.

Harry apenas acenou com a cabeça.

- Dependendo de como for que eles saírem de lá... eu vou apenas contar o que aconteceu depois, isso se...

- Se não quiser mentir e dizer que te achei em um dos orfanatos e tudo ficou bem? Nada mais de ruim aconteceu depois do tiro?

- É. Você me ajuda com isso, se for o caso.

- Mas se eles passarem no seu teste?

- Vou mostrar um pouco mais. Como você me encontrou e o que eu... você sabe...

- Entendi – disse acariciando os cabelos do menino. – Só até aí?

- Só. Mesmo que passem em tudo, mesmo que eu acredite que posso ir adiante, eu vou esperar. Ver como vai ser. Um dia, talvez, eles possam saber sobre as coisas que fiz na Durmstrang e o que pretendo alcançar no futuro.

- Talvez transformá-los em mais um de seus servinhos, lorde das...?

- Vovô!

"Se eles ainda lutam tão bem quanto na guerra, seriam úteis do seu lado" sussurrou a voz de Tom.

Harry arregalou os olhos e se afastou de Lakroff.

A. VOZ. DE. TOM.

Realmente a sua voz, não tinha como Harry confundir com seus próprios pensamentos, duvidar se era ele ou a vinha negra, era Tom!

Aquilo era algo muito raro. Geralmente ele só ouvia Tom em sonhos ou quando estava muito bravo, e nesse caso era mais um eco na sua própria voz.

Hazz amava aquele som, mas levou um susto com isso.

- Tudo bem? – perguntou Lakroff preocupado.

- Tudo. Desculpe, me distraí. Pare de ficar me chamando de Lorde das Trevas! - o homem mais velho riu de novo. - Sabe que não é meu estilo.

- O que? Destruir a sociedade para fazer o que acha melhor com ela?

- Você... Olhe aqui! Até onde eu sei, malucos que se autodenominam lordes das trevas, são homicidas que criam guerras e gastam força desnecessária...

"Piralho..." reclamou Tom e Harry fechou os olhos para aproveitar o eco do som em sua mente. 

- Eu não sou - continuou ele, mas Lakroff interrompeu.

- Está usando a inteligência e mudando o sistema por dentro, aos poucos. Eu sei. Você não precisa de guerreiros e soldados, mas de políticos e aliados espertos. Já ouvi isso. Quer apenas consertar as leis e fazer um sistema funcional novo, mas da forma correta, por mais lento que seja. Estou ciente. Mas não venha me dizer que, se você achar que uma guerra é a única alternativa, não armaria a terceira e maior que a sociedade bruxa já viu.

- Eu não faria.

- Sei – murmurou revirando os olhos.

- Não será necessário. Eu sei como acabar com meus inimigos sem este estardalhaço e exibição toda.

- Entendi. Você não precisa de guerreiros, só assassinos silenciosos...

- Eu desisto dessa conversa!

Mitrica gargalhou divertido.

Os dois ficaram em silêncio esperando depois disso. Em dado momento Harry pegou sua varinha, transfigurou uma de suas peças de roupa em um recipiente e começou a coletar mais memórias. O outro ficou com seus próprios pensamentos.

Vários minutos se passaram até finalmente os dois homens emergirem. Harry ainda estava sem seus óculos naquele momento e não podia estar mais feliz com aquilo, pois pôde ver.

Remus estava com os braços em torno de si mesmo, dessa vez ele tremia tanto que parecia que teria um ataque, suas mãos apertavam a pele do braço com tanta força que estava ficando vermelha em uma tonalidade preocupante e, além de tudo, mantinha os olhos fechados, cabeça levantada, respirando muito rapidamente, quase ofegante.

O lobo era lindo.

Harry estava o vendo agora, nunca tinha visto tão claramente em um bruxo que fosse beta, ou seja, transformado. Mas lá estava. A magia azul de Remus se misturava ao corpo de um enorme lobo cinza humanoide, que o engoliu completamente, Harry só via o adulto por de trás do jogo de luzes que formava a criatura.

Lupin não passava de um humano dentro da coisa que estava enfurecida!

Era quase como uma segunda pele que estava se expandindo para fora e gritando!

Harrison estava ouvindo. Era muito raro escutar a magia das pessoas, mas estava acontecendo. O lobo rosnou desesperado querendo engolir seus inimigos!

Era incrível!

Ainda mais impressionante que isso era o homem controlar a coisa. O bicho "falhava", de repente a cabeça que estava na esquerda aparecia à direita, ou uma pata de garras afiadas, que estava se arranhando a pele, aparecia apontando em outra direção desesperadamente, mas nada acontecia além disso.

Mal dava para sentir o lobo, mesmo que a magia natural de Remus, sim. Era uma leve tensão naquela direção onde tinha literalmente um monstro ensandecido.

A magia não se soltava dele e causava caos, Lupin estava segurando completamente aquela coisa, era um controle admirável.

Não se podia dizer o mesmo de Sírius.

Ele era negro.

A frase parece estranha mesmo em pensamento. Um Black não seria exatamente negro? Talvez o certo seria dizer que Sirius Black era negro.

Sombrio.

Se havia alguém para afirmar um fator genético no elemento de uma magia negra, era Sirius Black.

Normalmente as luzes em Sirius formavam um padrão como a pele de um animal, cercavam seu corpo como uma armadura de couro de pelos compridos e nobres, límpidos, mas de cor estranha. Era vermelho cereja, mas parecia que de perto isso mudava. Não havia como identificar para o que exatamente, pois a outra cor era bem mais fraca e sumia, depois aparecia, então sumia de novo. Quase como se fosse apenas uma ilusão. Só que os próprios "pelos" vermelhos pareciam apenas flutuar em volta dele, sem nunca tocá-lo total e verdadeiramente. Aquilo que ficava sim grudado era impossível de entender se visto de longe, mesmo uma distância pequena como a que Harry estava. Por fim, a sensação que emanava, normalmente, era agradável, por mais que causasse uma vertigem estranha ao olhar.

Agora Harry entendeu o porquê daquela vertigem finalmente.

A magia de Sirius era a merda de uma metamorfa!

Ele mudou a própria aparência da sua magia!

Que se dane que Sirius Black não era um metamorfomago, que essa característica só tinha sido herdada por uma Black, Ninfadora Tonks, aquilo era simplesmente irreal!

O homem havia feito, naturalmente e subconscientemente, sua magia tomar a forma de algo que ele queria ser!

Só que agora, com a raiva que estava, a verdadeira estava aparecendo!

A raiva de Sirius Black era uma força gigantesca e deliciosamente assustadora! Não era à toa que aquilo o tirou de Azkaban, era uma emoção muito vigorosa e avassaladora que estava o tomando, tirando seu controle da ilusão que criou de si mesmo e revelando a face verdadeira de um Lorde Black!

Harrison mal podia conter a empolgação dele com aquilo!

"Os pelos" cereja na magia de Sirius estavam se agitando, haviam padrões negros aparecendo por todos os lados, o que lhe tocava a pele finalmente começou a tomar forma e Harry entendue finalmente: era pluma. Uma pluma negra majestosa. Imediatamente ele se lembrou do brasão da família Black, onde haviam três corvos.

Sirius Black era um corvo negro em pele de cachorro vermelho!

E ele estava se descontrolando ali na sua frente! Ao olhar diretamente para as íris azuis do homem, o garoto viu um sadismo tão brutal que finalmente entendeu toda aquela história de "loucura Black".

Estava diante dele e precisava ser alimentada.

Só um empurrãozinho... E veria aquele lado animal se liberar...

- Esses trouxas... – disse Sirius bem lentamente, em um sussurro sombrio. Ninguém perdeu o nojo na sua fala, nem como havia evitado chamar os Dursleys de "seus tios". Mesmo o próprio Gellert Grindelwald teria dificuldade em competir com o tamanho desprezo marcado naquela frase – O que aconteceu com eles?

- Nada – respondeu Harry.

Aquilo pareceu o estopim para explodir os dois homens.

A janela do quarto explodiu em frangalhos tão pequenos que restara apenas um pó branco. O sofá atrás deles foi arremessado pelo lobo de Remus Lupin para outra parede com tanta força que quebrou em mais de três pedaços disformes.

Não havia mais pelos vermelhos na magia de Sirius, era plumagem de corvo negra e brilhosa, pura e simples, algumas penas flutuavam envolta de si com um vento invisível da pressão mágica, junto com seu cabelo comprido.

Quando Remus Lupin abriu os olhos eram negros com fendas amarelas.

Estavam tão próximos de algo realmente grande! Harry ansiava para ver toda aquela sujeira de baixo de suas peles... mas Hogwarts era território de Dumbledore. Não poderia ir tão longe quanto gostaria.

Mitrica levantou a varinha e barreiras apareceram, assim como o que havia sido quebrado retornou.

- Você... - começou Remus para o loiro. - Não denunciou esses... Essas pessoas pelo que fizeram?

Harry se deliciou com o som dos rosnados ao fundo, a garganta de Lupin vibrou a cada palavra.

- Não - respondeu o de olhos verdes.

Ambos os homens latiram.

Deveriam ser bufos, mas o som saiu muito parecido com um latido arrastado e sombrio.

Os dois eram realmente uma dupla natural, pareciam orbitar em volta um do outro e das mesmas coisas.

- Denunciar? Para que denunciar? Você devia tê-los MATADO!

- Vocês... não podem esperar que fiquemos calados sobre isso! Vocês têm que nos permitir falar sobre, apesar do contrato! Temos que prendê-los por tentativa de assassinato! Por Mérlin, eles...

- Que inferno! Eles tinham que ter morrido! Devia ter feito isso bem lentamente! Enfiado a arma na cara daquela mulher e mostrado para ela como aquela sala ridícula ficaria melhor com o sangue dela nas paredes!

Então Harry sorriu.

E a raiva de Sirius e Remus sumiu.

Pois não havia nada mais assustador que aquele sorriso.

Os olhos do menino, Sirius tinha certeza, estavam brilhando de verdade. Não por qualquer reflexo, jogo de luz ou coisa parecida. As íris de Harry Potter estavam emitindo brilho próprio.

Não eram os olhos esmeraldas de Lilian, eram os olhos Avada Kedavra de Harrison. Emoldurados por cabelos negros que, iluminados como estavam, criavam nas pontas um tom de vermelho sangue hipnotizante, rebeldes e livres de quem era forte e jamais se curvava. Tudo em um rosto perfeito como o mais nobre dos anjos.

Anjo caído.

Anjo que saira direto do inferno, se isso fosse possível.

Ele estava com uma expressão tão sádica que o lobo de Remus recuou diante de um predador mais forte. Fez Sirius Black finalmente acalmar a própria magia, além de arrepiar cada célula do corpo.

Um sorriso tão cruel e de promessas implacáveis que parecia prestes a cometer o maior dos crimes enquanto se deliciava com ele.

Bellatrix, prima de Sirius e a maior louca da família, oficialmente precisava treinar mais sua expressão macabra, se não quisesse perder tão ridiculamente para uma criança.

Aquele pensamento fez Sirius dar uma passo vacilante para trás, como se precisasse manter alguma distância de seu afilhado.

Do que ele poderia e queria fazer.

- Não fizemos nada que o ministério pudesse descobrir facilmente – acrescentou o menino, a voz tão sombria quanto ele sempre se mostrou capaz, mas acompanhada daquele sorriso...

Nem um lorde das Trevas com cara de cobra estranha assustava tanto Sirius.

Mitrica também sorriu:

- Já que mencionaram, gostaria de lembrar que nada dito aqui sairá sem consequências severas – comentou com um tom muito melodioso e agradável. – Eu não digo isso apenas pelo contrato. A verdade é que não deixarei que vivam se abrirem a boca demais.

E agora Remus não sabia quem seu lobo deveria temer mais.

Harrisson ou Lakroff...

Nem um dos dois parecia do tipo piedoso ou paciente.

Eram dois monstros assustadoramente controlados.

Apenas um leve cheiro amargo saia deles, mas suficientemente preocupante.

Sirius tomou coragem e deu um passo na direção de seu afilhado. Aquilo que ele estava mostrando parecia ser o mais próximo que chegaria da verdadeira face do menino e já era oficialmente a imagem mais tenebrosa e assustadora que conhecera em todos esses anos. De frente para ela, ele tinha uma certeza:

- Eu nunca abriria a boca. Nunca trairia Harry. Nem precisava nos lembrar.

- Então...- começou o menino, pegando a própria varinha e dando dois tapinhas na penseira. Todas as memórias de antes flutuaram até ele e sumiram. Quando a água estava vazia de novo, ele retirou um frasco das vestes e acrescentou a solução. – Espero que estejam prontos para ver o pior.

- Pior?! - rosnou Sirius e Lakroff jurou que um som ainda mais animalesco saiu pelo boca do outro homem.

-x-x-x-

Harry respirou fundo e encarou o vira-tempo.

Ele havia jurado que não tornaria a usar uma daquelas coisinhas, só serviam para ele se amontoar ainda mais de trabalho, até o ponto em que Tom se irritava e forçava-o ao desmaio, assim finalmente descansando.

Não queria isso. Nem um dos dois gostava, mas...

Só mais essa vez.

"Você nem devia ter uma dessas coisas!" reclamou a voz em sua cabeça, era novamente o som dos próprios pensamentos, não Tom, mas Hazz sabia que era sua consciência falando pela testa que estava um pouco mais quente que o normal. Nada minimamente incômodo.

"Também não deveria andar com meus piores pesadelos num medalhão no pescoço, ou manter veneno guardado debaixo da cama em casa, mas veja só, eu faço".

A voz ficou quieta, mas Harry notou que a vinha se agitou irritada. Sua cicatriz doeu.

Ótimo. Tom estava fazendo birra oficialmente.

Suspirou uma segunda vez e deu três voltas na ampulheta dourada.

Assim que o mundo parou de girar, ele colocou a capa de invisibilidade, saiu da cabine em que estava e foi até o corredor perpendicular onde o quarto de Sirius Black ficava. Encostou na parede com os olhos fechados e esperou.

Tock, tock.

Houve uma batida na porta, então a voz de Sirius:

"Entre!"

Harry soube, então, que sua versão mais jovem estava entrando para a reunião. As barreiras que ele tinha colocado naquele instante, de silenciamento e sigilo, se levantaram.

Ao menos agora que as estava sentindo-as pelo lado de fora podia relaxar com uma certeza, estavam muito bem firmes.  Ele tinha quatro horas para pegar o que precisava, guardar longe em segurança e depois voltar para o banheiro, como se nunca tivesse saído.

Cuidadosamente passou pela porta do quarto de Black e pelo corredor até uma estátua, escondida atrás dela sua versão mais jovem havia deixado uma caixa. Pegou-a e seguiu para o sétimo andar, recitando o enigma de Luna na ordem que mais o ajudava:

"Está no número mágico que muito representa".

Sete.

"Onde o sol se põe".

Oeste. Para aquele que fica de frente para o Norte e abre os braços, à esquerda.

Corredor da esquerda.

"Ao lado daqueles que sabem apreciar música, mesmo em meio a insanidade".

Harry apenas parou de andar quando estava de frente a uma enorme tapeçaria de Barnabas, o Maluco, tentando ensinar balé a um grupo de Trolls.

Houve mais uma coceira e ardência na sua cicatriz, que fez o Potter levar a mão à testa para tentar acalmar.

"Está bravo com o que agora?" perguntou, mesmo sabendo que não teria resposta.

Imaginou, por um instante, que talvez não fosse o seu Tom também. Poderia ser a parede. Mais cedo aconteceu, quando Harry passou por aquele local, mas demorou um pouco para juntar os pontos.

Havia decidido que usaria o vira tempo para estar em dois lugares ao mesmo tempo e assim poderia explorar o lugar sem que ninguém suspeitasse dele. Para todos os sentidos estava na reunião com o padrinho, até Dumbledore deveria estar sabendo disso (talvez ainda estivesse, a este ponto, tentando alguma coisa para derrubar as barreiras mágicas de sigilo de Harry e que o contrato levantava. Não conseguiria).

Ninguém notaria um segundo Hazz tirando alguma coisa do castelo. O foco era outro. Nem mesmo se essa coisa emanasse magia negra da alma de Tom Marvolo Riddle.

"É um lugar que vem e vai, nem sempre está, nem sempre aparece, mas existe toda vez que aqueles que necessitam de verdade cruzam seu caminho. Apenas três voltas e um pedido, você quer, não importa, mas se você precisa, de verdade, ela tornará".

Harry deu três voltas no corredor, seus olhos presos à parede de onde sentia a presença da alma o chamando, enquanto desejava desesperadamente:

"Eu preciso de Tom. Preciso dele, sempre precisei. Me dê o Tom, por favor".

Nada aconteceu de primeira, o que quase o fez desistir e começar a pensar como quebrar as rochas que formavam aquele castelo uma por uma até achar, mas então uma porta negra muito grande tomou forma.

Um alívio tremendo o acertou.

Faltava achar a coisa, seja em qual objeto estivesse, naquela sala gigantesca e cheia de quinquilharias.

Isso se não houvessem armadilhas e maldições por todos os lados para protegê-la.

Não importa o quanto Tom tivesse garantido a segurança do objeto, Harry simplesmente não conseguiu suportar a ideia de o deixar por aí. Ele confiava mais em si mesmo para proteger algo tão valioso, do que deixar debaixo do nariz quebrado de Dumbledore, o louco inconsequente.

Sem contar que Luna disse no almoço: "alguém vai procurar, em breve, o que está por detrás da parede, para juntar aos demais".

Inferno, esse alguém estava juntando as Horcrux para que? Iria destruí-las? Que se lasque o bruxo, ninguém encostaria um dedo em Tom tão fácil!

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Oficialmente o maior capítulo da fanfic e eu tinha escrito mais coisa! Eu tirei um total de quatro mil palavras desse capítulo durante a revisão. Complicado...

Semana que vem teremos só um capítulo por que eu tenho que entregar parte do meu projeto de TCC finalizado, então... Lamento. Provavelmente sai na quarta-feira, mas não tenho certeza.

Enfim, espero que tenham gostado e por favor votem, que sempre ajuda muito <3 

Obrigada a quem comentou e, de todo meu coraçãozinho que ama meus leitores, tenham um bom fim de semana!

Beijos de luz e trevas, com gostosos abraços cinzas (ou multe coloridos! Pois a vida é cheia de opções)!

PS: Pequena votação... Vocês querer no próximo capítulo:

a) Harry surtando sobre o que fazer com o diadema, que está nas mãos dele, sem saber se a coisa vai reagir mal e tentar atacar;

b) Descobrir um pouco sobre o arco do orfanato (esse é um arco importante do passado do Harry e vai ser o que o Sirius e o Remus descobriram, a pior parte da vida do nosso menino, muita coisa acontece, mas eu já escrevi a maior parte antes mesmo de publicar essa fanfic, então está guardadinho);

Independente da escolha as duas coisas vão acontecer, quero só saber o que vocês querer primeiro. A outra vem (pelo menos alguns trechos) logo depois.

.

PS2: Lembrando que, para quem curte a experiência, tentem escutar de novo (agora que terminaram a leitura), a música "Death valley" do fall out boy (vejam a tradução), para sentir como ela se encaixa em tudo que aconteceu aqui.

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