Capítulo 10 - Lilian e James Potter
Capítulo 10 – Lilian e James Potter
"A atual Lady Potter estava de visita,
mas antes disso, era Lilian Rose Evans, nascida entre trouxas".
PASSADO. Ano de 1980. Fevereiro.
Lilian parou em frente ao enorme prédio que formava a prisão de Nurmengard e respirou fundo esperando que com isso conseguisse a coragem necessária. Ela tinha que fazer aquilo, James podia pensar o que quisesse sobre, mas se existia um homem capaz de saber a fraqueza de um lorde das trevas, seria outro.
Ela veria Gellert Grindelwald.
Calmamente entrou e se apresentou ao primeiro dos guardas que viu. Ela já tinha lhes falado antes então estavam-na esperando, lhe deram várias indicações, tiraram sua varinha até a partida e acompanharam sua trajetória até a única cela ocupada.
Haviam muitos guardas, runas de proteção anti-magia e armadilhas por todos os lados, era escuro, frio, silencioso e muito vigiado.
Tudo por um único homem.
Por alguns instantes ela questionou se aquilo seria mesmo necessário, mas lembrou de ter lido algumas vezes sobre Grindelwald e como ele era um mestre em fugas, até se deixando ser preso uma vez para conseguir algo que queria. Todo cuidado era pouco com aquele homem.
Quando finalmente pararam diante de uma imensa porta de ferro ela sentiu que poderia estar cometendo um erro.
Queria mesmo conhece-lo?
Mas Lilian era uma Grifinória, não seria covarde agora.
Gellert estava velho, mal cuidado e, sem dúvidas, fraco. Os cabelos estavam longos, bagunçados e cheios de nós, a barba imensa, era magro e as roupas eram sujas, rasgadas e velhas. Não havia nada na cela além dele e o que vestia, nem mesmo um colchão ou um pinico, o que a perturbou um pouco.
- Não deixe nada cair, ele pode usar depois – avisou o guarda.
Ela quase respondeu que não tinha mais nada além das próprias roupas para derrubar, eles a haviam tirado até a aliança! Mas ficou quieta e esperou o homem sair, não sem antes um último aviso:
- Sem gracinhas, psicopata! - resmungou fechando a porta.
Gellert continuou quieto, a cabeça abaixada como estava quando chegaram, o corpo encostado a uma parede, mas Lilian pode vê-lo sorrir, um som estranho saindo pelos lábios, parecido com uma risada, mas de alguém que mal tinha voz para tanto.
Ela esperou, o coração acelerado, batendo tão alto que naquela cela vazia devia estar sendo ouvido até pelo homem.
- Qual dos seus motivos te trouxe aqui? – ele perguntou após alguns segundos e isso a assustou.
De repente sua voz estava firme.
- Eu... preciso... – começou muito inserta.
Inferno ela precisava de tanta coisa! E como começar? Ele nem devia saber sobre Voldemort! Como faria aquilo?
- Quantos meses?
- O que? – perguntou muito confusa.
- O bebê. Está grávida de quantos meses?
- Como você sabe?
Ela estava a três meses, mal teve mudanças no corpo e só descobriu quando a profecia vazou e Dumbledore veio confirmar, como uma das pessoas que havia enfrentado o lorde três vezes, se estava ou não grávida. Nem tinha uma barriga ou enjoos, talvez teria demorado ainda mais para descobrir se não fosse por tudo...
- Fazem tantos anos assim? Para as pessoas não saberem nem das minhas habilidades? - perguntou o homem.
- Você não sabe a quanto tempo está aqui?
- Eu não conto – ele apontou para as paredes e Lilian conteve o impulso de se afastar com o movimento brusco. Não que estivesse com medo do homem, ele obviamente não poderia fazer nada, mas estava tão tensa com tudo aquilo. – Eu pensei em riscar cada dia, mas pareceu tão inútil. Outra que... eu faria isso com o que? Acho que se me cortasse para usar o sangue eles ainda brigariam comigo, arranhar pedra está fora de questão também.
- Então nem se você quisesse, poderia contar.
- Não. Mas não deixa de ser ridículo e uma tortura desnecessária.
- Contar quanto tempo você perdeu por ter tomado as decisões erradas? – provocou.
- Isso – concordou, surpreendendo a ruiva. – Perceber que aos poucos eu estava mais aqui do que do lado de fora, lembrar que não poderia fazer mais nada, que... falhei.
- Ainda bem que falhou!
Ele finalmente ajustou a postura torta e levou os cabelos para trás, prendendo-os com os próprios fios, os olhos bicolores enfim encarando-a, o que era ainda mais desconcertante.
Era como se pudessem ver tudo, até sua alma.
- Será?
- Como será?
- Senhorita Potter, você considera que vive num mundo bom?
- Melhor do que se você tivesse ganhado essa guerra!
- Mesmo? Bom, menos de cem anos após minha queda existe um novo lorde das trevas, que mata desenfreadamente e muitas vezes chega a ter objetivos muito parecidos com os meus. Mas eu não matava de graça, eu convencia as pessoas, eu não criava inimigos, mas aliados! Com a força de palavras que formavam frases, não feitiços que derrubam. Você entende, senhorita, que vocês trocaram o sujo pelo mal lavado? Ou pior? Tudo porque o governo se recusa a mudar e ver suas próprias falhas...
- Não seja ridículo! Falhas do governo?! Você tentou...
- Antes de dizer um monte de coisas, que todos sabemos que os guardas devem me dizer com frequência, e que mesmo antes disso várias pessoas cuspiram na minha cara, eu gostaria de perguntar: você sabe exatamente quais eram meus objetivos?
- Claro que sei.
- Quais eram, então?
- Você queria se colocar por cima dos trouxas, erradica-los, escravizá-los, fazer com que se escondessem e os bruxos dominassem o mundo! – resmungou irritada.
- Errado. Isso é o que os jornais falaram, o que o governo espalhou por aí, é mais fácil ter um exército te auxiliando quando você transforma a oposição em monstro, mas não acho que seja burra, senhorita Potter, você sabe como eles mentem. Ou vai me dizer que tudo o que estão dizendo sobre Voldemort é verdade?
Lilian ficou quieta. Não queria entrar em detalhes sobre Gellert. Ela veio aqui por um objetivo. De repente a expressão séria do senhor a sua frente mudou, ele suspirou e encarou o chão:
- Eu lhe ofereceria uma cadeira, ou pediria aos guardas por uma se pudesse, é indelicado deixar uma grávida em pé, mas não gostam nem de me dar um prato nas refeições...
- O quanto você sabe sobre Voldemort?
- Que o idiota presunçoso deu conta de fazer as pessoas temerem dizer o nome, como se fosse um mau agouro. Você deve ser das que dá trabalho para ele – disse sorrindo. – Os guardas falam sobre isso, às vezes. Alguns são gentis, leem o jornal para mim. Ou... só querem me torturar falando sobre o lado de fora, não tenho como ter certeza.
- Eu não vim falar sobre você, vim por causa dele.
- E como posso ajuda-la, Lady Potter? – perguntou com um sorriso que mostrava os dentes e a garota percebeu como ele deveria ter sido bonito antes, ainda havia um brilho disso ali, mesmo as cáries e o amarelado.
Sua forma de falar... também era estranhamente agradável.
Isso lhe dava calafrios.
- Quero que me diga... como posso... fugir de um lorde das trevas.
- Não entendo, por que perguntar a mim e não ao seu velho professor Dumbledore?
- Diretor.
- Entendo, dê meus parabéns a ele.
Lilian fez uma careta e Gellert sorriu ainda mais.
- Ele sabe que você está aqui, senhora Potter?
- Não.
- Interessante... Como conseguiu autorização para uma visita?
- Mandei uma carta ao chefe dos guardas.
- O que disse na carta?
- Não é importante.
- É sim, senhora Potter, nee Evans. Para mim é importante. Em demasia.
- Você sabe meu nome.
- Lilian Rose Evans Potter.
- Eles te contaram?
- Não.
Ela preferiu fugir do rumo que essa conversa estava tomando.
- Certo, então sabe sobre Voldemort. O problema que tenho...
- Sei apenas o básico dele, que fique claro. Talvez tenha que me dar indicações se o assunto for muito delicado.
- Ele vai vir atrás do meu filho.
Isso pareceu mexer com o homem idoso, pois ele arregalou os olhos e cruzou os braços.
- Por que de seu filho? Para se vingar de você e seu marido? – Lilian preferiu ignorar a preocupação que apareceu em sua voz.
- Não. Há uma profecia.
- Inferno! – praguejou Gellert se levantando.
A mulher inspirou fundo, não iria se mexer por causa daquilo, não se assustaria com aquilo, tinha que se acalmar!
- Que merda, uma maldita profecia? – reclamou, aparentemente muito irado. – O que diz? Não! Espere! Não me conte! - pediu rápido e voltou a praguejar: - Inferno!
- Você parece bem incomodado com isso...
- Claro que estou! O destino é uma vadia traiçoeira que anda de mãos dadas com a vida e a morte, enquanto ri dos que se julgam capazes de desafiá-lo.
Lilian não respondeu àquilo. O homem começou a andar pela cela, o som da corrente em seu tornozelo arrastando na pedra era agonizante.
- Ele ouviu a profecia?
- É possível que um comensal tenho escutado, um dos servos dele, mas não temos certeza. Pior é que ele já tem muitos no ministério, não sabemos em quem confiar e...
- O governo de vocês tem a maldita mania de registrar e estudar profecias, não é?
- Sim.
- Certo... A profecia fala sobre seu filho, é isso?
- Não sabemos.
- Como assim?
- Não menciona nomes. Fala sobre... Olhe, não temos como falar disso sem contar a coisa.
Gellert riu e a Potter o encarou irritada e confusa, como se fosse louco e estivesse brava com ele por isso, o que só piorou sua necessidade de rir.
- O que foi? – Lilian perguntou quando já tinha atingido o limite da irritação.
- Só achei muito educado de sua parte, lady Potter, em realmente se preocupar com o que te pedi e não me contar a profecia. Levar meu desejo em consideração, a maioria não faria. Uma coisa muito nobre... Grifinória, eu imagino?
Lilian ficou quieta, não queria dar informações pessoais àquele homem.
- Imagino que sim. Talvez lufa-lufa, mas se está aqui, sem que Dumbledore saiba... eu diria que é Grifinória.
- Como eu impeço um lorde das trevas de entrar em um lugar?
- Faça uma fortaleza como essa.
- Não estou brincando.
- Nem eu. Eu fiz essa coisa. Por que acha que Dumbledore me colocou aqui? Ele sabia que eu era tão meticuloso que jamais prenderia inimigos onde eu mesmo não tivesse problemas em escapar. Eu nunca acredito mais em mim do que em um desafio em potencial. Por isso tentava trazer as pessoas para o meu lado antes de lutar. Quer segurança total? Faça uma fortaleza.
- Eu não posso fazer uma, eu nem teria tempo!
- Eu sei. Nem se usasse essa serviria mais. Eles dedicam toda a sua força em me impedir de sair, agora entrar se tornou brincadeira de criança. Mas há outras maneiras. Armadilhas, é claro, rituais complicados, mas entenda Potter eu sou um Lorde das Trevas, meus conhecimentos são baseados nisso, eu só saberia ajudar usando esse tipo de magia e...
- Eu sei.
Ele se calou e encarou a mulher, dos pés a cabeça, bem lentamente. Parou no seu rosto, como se quisesse absorver o máximo de informações. Lendo ela com aquele olho azul brilhoso, o castanho sumindo na pouca iluminação.
- Você estaria disposta a jogar fora seus princípios? - perguntou lentamente.
- Pelo meu filho? Sem nem pensar duas vezes.
- O quão longe você cairia? – sussurrou.
- O quanto for preciso – respondeu firme.
- Então ache meu filho.
- Como?! – perguntou em choque. Aquela não era a resposta que esperava.
Ele...
- Quando a guerra estava no auge eu tomei várias decisões, entre elas decidi criar uma garantia para minha família, queria ter certeza de que se eu perdesse eles não teriam de arcar com todas as consequências...
- Por isso deu seu filho para a adoção? Para as pessoas não saberem que era seu filho?
Ele nem reagiu ao fato de que ela sabia aquela informação.
- Não. Isso foi decisão da mãe dele.
- Quer mesmo que eu acredite nisso?
- Como assim?
- Que você se preocupava! – bufou. – Você tinha que ter desistido disso tudo! Feito o possível pelo seu filho! Não o deixar no mundo e ir atrás de... de... De vencer uma maldita luta política!
- Mesmo, senhorita? Que tal você então?
- O que tem eu?
- Você continua lutando? Porque se estiver enfrentando Voldemort ainda, deve perceber que me julgar é hipocrisia.
- Eu não tenho escolha.
- Na minha cabeça eu também não tinha.
- Mesmo que eu fugisse agora, ele me perseguiria! Já estou enfiada até o pescoço nisso!
- E de mim não?! - exclamou fazendo o som reverberar pelas paredes.
Ela ficou quieta.
Os dois se encararam alguns instantes, Lilian acabou desviando o olhar e se afastou para outra parede.
- O que Dumbledore sugeriu?
- Feitiço Fidélius.
- É poderoso. Para esconder a casa?
- Não. Nós. Eu, James, Harry.
- Já descobriram o sexo então. O nome que você quer dar é Harry?
- Sim, por quê?
- Nome muito comum para uma criança que já está correndo riscos. Que terá que ser forte.
- O nome não precisa ser forte, nem ele, se fizermos tudo direito.
- E se não fizerem?
- Nós vamos.
Gellert suspirou.
- Teimosia é um defeito que pode ser genético, já ouviu falar?
- Será que da para focar no meu problema?!
- Posso te chamar de Lilian?
- Não.
- Rose, então? Alguém usa seu nome do meio? "Senhorita Potter" está começando a me irritar, é muito grande e eles me dão quantidades limitadas de água.
- Certo. Use Rose – concordou de mal gosto.
- Obrigada, Rose. Você sabe o que dizem sobre videntes?
- Que são todos mentirosos?
Ele riu. Riu alto e com o corpo inteiro, uma gargalhada daquelas que iluminavam seu dia, se não viesse de alguém como ele...
- Isso também, sem dúvidas. Mas aqueles que acreditam, sempre dizem que um vidente está condenado a loucura.
- Você admite que é louco então?
- Com certeza eu enlouqueci. A questão é, por que todo vidente está condenado a isso?
- Não faço ideia.
- Todo vidente tem apenas duas opções, Rose. Ou você fica quieto e sofre com sua loucura até que ela te consuma e te mate, ou você luta para impedir as coisas ruins que vê, então enlouquece tentando vencer os Deuses que ficarão rindo de sua insignificância.
- Que quer dizer com isso?
- Veja bem, digamos que um vidente tenha a capacidade de ver sempre que alguém for se casar. Então ele vê seu casamento, com uma mulher que odeia, pior ainda, sendo ele um homem gay, então vê um filho que sempre o detestará e futuramente o matará, este mesmo filho também terá um péssimo casamento, terá um filho e esse filho será um aborto, eles vão dá-lo para a adoção e no futuro essa criança, que cresceu sem saber as origens, matará o pai e a mãe na fogueira ao descobrir sobre bruxos. O que ele deveria fazer?
- Ser um pai melhor? Não ter filhos? Se matar? São várias opções.
- Não, você só deu uma até agora: tentar impedir. O problema, Rose, é que não se impede o destino. Claro, um vidente pode enxergar uma realidade que nunca se concretize, MAS isso não depende dele. Se vai ou não acontecer depende do Lorde Destino e o vidente, como alguém ligado diretamente a essa entidade, não passa de uma marionete.
- Eu não entendo onde quer chegar.
- Se esse homem que mencionei tentar ser um pai melhor, é exatamente isso que irritará seu filho, se ele abandonar o filho então ele vai descobrir que nunca viu o neto nas visões, mas sim seu filho o matando e tudo estava fora de ordem. Ele que interpretou errado. Se ele se matar então ele perdeu, no fim a morte e o destino ganharam essa rodada. Duas vadias loucas e melhores amigas. Destino e Morte. Se o vidente deixa a coisa toda acontecer, depois viaja no tempo e muda onde está o erro, a viagem no tempo sempre esteve prevista e tudo será muito pior. Não importa o que o vidente faça o mundo sempre vai, ou mostrar exatamente o que ele viu, ou pior. Ele está condenado a loucura de ver tristeza e dor eternas sem nunca poder fazer nada, a menos que os deuses queiram. E quem sabe o que um Deus quer?
- Você se tornou alguém religioso depois que foi preso?
- Eu sempre fui! Eu sou um vidente necromante, Rose. Eu sempre respeitei e venerei a Morte, sempre tirei poder do destino. E eles me mostraram isso: morte. Me mostraram a guerra! Você consegue imaginar isso? Por um minuto consegue imaginar o que é, para uma criança, olhar para frente e se ver no meio da segunda guerra mundial? Com todas aquelas armas? Pessoas sendo desfeitas na sua frente por tiros, bombas e aviões? Consegue imaginar o que é ouvir todos os gritos, ver todos aqueles cadáveres? Eu enlouqueci! É claro! Como qualquer vidente, eu só tinha duas opções: ou eu ficava quieto, deixava acontecer e morria com a culpa de não ter feito nada ou tentava impedir.
- E sua ideia de impedir foi fazer a própria guerra? Destruir os trouxas?
- Eu nunca quis destruir trouxas, eu queria mandar neles.
- Muito melhor! - ironizou.
- É aí que está: eu errei. Eu me vi como melhor que eles, vi os bruxos como melhores. Vivemos mais, então deveríamos ser mais capazes, temos cura, temos magia e eles... eles tinham a evolução. Bruxos parecem depender demais da magia, mas os trouxas evoluem pela falta dela. Eles aprenderiam a voar! Eles teriam armas que derrubam um dragão com um tiro! Havia um potencial gigantesco na mão de um bando de irresponsáveis que se odeiam por muito pouco. Eu queria usá-los, isso que você chamou de "escravidão" é o que eu chamava de regulamentar. Eu queria colocar leis em cima e acompanhar o que eles fizessem para impedir que fosse longe demais, mas para isso me coloquei numa posição de supremacista racial. Todo bruxo era melhor e deveria se colocar como tal. Deixar os trouxas de baixo do sapato e fracos, para que não conseguissem revidar ou ir longe de mais de novo. Um erro, sem dúvida.
- Você via potencial nos trouxas?
- Claro! Rose, você pesquisou mais a fundo sobre minha família?
- Não – respondeu rápido.
- Pois bem, pesquise, você vai descobrir todos os planos que tive para mantê-los bem caso eu perdesse.
- Tipo?
- Se eu perdesse eles teriam que arcar com multas e indenizações, o que não faz sentido, mas acontece. Tudo que fosse lidado aos Grindelwald seria tirado. Pelos bruxos. Então eu fui atrás de propriedades trouxas! Riquezas que o governo bruxo não teria o direito sobre, não poderia encostar por não se encaixar em sua jurisdição. Usei o nome da minha avó materna. Seu sobrenome era mágico, mesmo que tenha "morrido", pode ser reivindicado e retomado por qualquer herdeiro legítimo, desde que vá ao Gringotts e seja aceito por um dos anéis. Uma proteção muito antiga que os nomes atuais não possuem mais.
- Que tipo de propriedades você está se referindo?
- Minha família tem o direito, se tudo estiver como deixei e nas mãos que deixei, há pelo menos três empresas de diferentes países e um território de quilômetros.
- Empresas?
- Sim. Eu avaliei o curso da guerra. Se eu ganhasse minha família não precisaria dessas coisas, mas se eu perdesse... O que valorizaria mais no mercado de ações e na bolça de valores trouxa? Financiei o que se encaixava nisso.
- Você financiou... Você entende da bolça de valores trouxa?! – perguntou incrédula.
- Com certeza, na minha época, eu sabia e muito. Se minhas apostas tiverem dado os lucros que pensei que poderiam, meus herdeiros são ricos, usando a palavra mais simples e gentil. Isso se não me odiarem e aos meus princípios, então desejarem manter seu orgulho e jamais aceitar algo que veio de mim...
Lilian ficou calada em relação aquilo.
- Minha família – continuou ele. – Poderia viver em uma sociedade que não os desprezava pelas minhas escolhas: os trouxas, os únicos que não sabiam meu nome. Entende como isso é a prova de que eu não os odiava como ratos? Eu só... Eu tinha medo deles, Rose. O maior dos medos.
- Medo?
- Você nasceu entre eles, sabe do que estou falando. Eles são uma força a ser temida, que pode varrer o mundo se assim desejarem. E eu fui forçado a ver essas coisas. Ver... uma... – sua voz falhou, seus olhos começaram a lacrimejar, ele precisou de alguns instantes antes de enfim continuar. – Ver o que acontece com os humanos que são atingidos por uma bomba nuclear.
Lilian levou as mãos ao rosto em choque. Ela nunca viu, mas... não é como se não saísse nos jornais.
Pessoas virando pó.
A força dos Estados Unidos.
O medo da guerra fria.
- Você viu isso? – perguntou baixinho.
- Eu vi tudo – disse choroso, esfregando o rosto. – Eu não aguentava aquilo! E se eles viessem atrás de nós? E se eles descobrissem sobre magia e quisessem nos usar de armas? Consegue imaginar isso? Tudo para eles é uma arma! Doenças são! Que força tínhamos contra uma arma biológica? Você já viu uma? O terror que eles criam em laboratório para matar uns aos outros por dentro? Mantendo a cura em troca de dinheiro? Você ouviu falar das experiências que os nazistas faziam? Eles abriam pessoas vivas para ver o que acontecia por dentro! Quanto tempo leva para morrer? O que acontece se cutucar aqui? Sabe o que é ter que assistir isso?! Sem nunca poder desligar essa maldita habilidade?! SABE O QUE É?! – gritou.
Um guarda apareceu assustado, ele encarou Gellert e ia falar algo, mas Lilian o impediu:
- Está tudo bem, só nos empolgamos um pouco, mas eu juro que ele está se comportando.
O guarda a encarou, depois o Grindelwald e após um tempo se deu por satisfeito:
- Não se empolgue de novo – e saiu.
- Eu nunca desejaria o poder de ver o futuro a ninguém, Rose! Nunca! É uma maldição horrível e é preferível a morte, mas... Não sei! Parece que se eu fizer isso ela ganha. Depois de tudo não quero que ela ganhe.
- Você vê essas coisas...
- Desde que era pequeno. Pessoas morrendo das piores formas. Trouxas torturando bruxos e trouxas.
- Então decidiu... cortar o mau pela raiz? Decidiu agir, não ignorar.
- Você acha que conseguiria ignorar? Sem tentar alguma coisa? Qualquer coisa? Por pior que você se tornasse?
- Eu não...
- Você acha que eu me tornaria alguém bom vendo essas coisas?
Lilian abaixou a cabeça em silêncio. Pensando em tudo aquilo.
- Como... como eu posso ter certeza de que isso é verdade?
- Por que eu mentiria? O que eu tenho a ganhar de você, depois de tudo?
Ela não tinha resposta para aquilo. Gellert se jogou no chão, voltando a sentar. Havia uma lágrima saindo do olho castanho.
- Você poderia querer algum perdão? – a ruiva tentou depois de um tempo. - De uma nascida trouxa?
- Perdão? Um vidente, Rose, nunca terá paz. Perdão é algo que as pessoas desejam quando buscam alguma paz interna. Diferente do que muitos dizem, eu nunca tive nada a ver com o começo da guerra trouxa, eu queria impedi-la! Se eu não tivesse feito o que fiz, ficaria para sempre pensando que não tentei impedir os americanos de jogarem aquela bomba ou os alemães de fazerem aqueles experimentos, de terem seus campos de concentração... O meu povo... Eu sou alemão, eu... eu não quis ser associado a pessoas que fazem isso então ao invés de separar os que tinham coragem para aquilo e os que discordavam, mas não tinha força para se levantar, eu joguei todos os trouxas como culpados... Eu quis me separar... Não importa, estou divagando. Enfim, ou eu ficava quieto ou tentava. Eu tentei. Agora eu me culpo por cada decisão, por cada derrota, por cada bruxo que morreu, por tudo que perdi. Perdão? Eu não me perdoo. Eu me culpo, eu enlouqueço. No fim, todo vidente perece para sua habilidade. Seu perdão não me serve.
- As pessoas agem como... se fosse bom, ver o futuro - divagou.
- Não é.
- Você alguma vez conseguiu? Impedir uma visão?
- Não... Era isso o que você queria de mim? Impedir a profecia? Te explicar como fazer? Se for isso, veio ao lugar errado. Sou obviamente péssimo na coisa – reclamou pegando uma pedrinha no chão e jogando na parede ao lado.
Lilian estava se sentindo muito pesada, decidiu sentar no chão também.
- Sabe o que é pior?
- O que? – ela perguntou.
- Parece que os deuses realmente existem e... eles sabem o que os videntes vão fazer, já sabem como vamos agir e esperam por isso... para interferir em outros destinos. Você se sente usado e inútil, além de tudo.
- O destino de outras pessoas?
- Eu vi o destino do meu filho, bem antes de escolher uma mulher. Eu nem queria filhos, eu não queria... ter que... fazer sexo com uma mulher, para começo de conversa.
- O que?
- Ninguém te falou? Eu sou gay.
- A! – foi tudo que saiu da boca de Lilian e Gellert riu de como isso pareceu desconcertá-la.
- Isso te incomoda? Você tem preconceito?
- Não! Claro que não! – acrescentou rapidamente. – Dois dos meus melhores amigos estão saindo, inclusive. Eu só... não esperava – murmurou ainda com uma careta reflexiva.
- Enfim, eu vi meu filho e de repente eu quis tê-lo! Eu não queria desistir daquilo, por pior que fossem as coisas, as que apareciam quando olhava para frente. Eu ainda tinha... esperança de mudar. Então eu fui atrás de uma mulher que daria um bom destino a ele, que saberia o que fazer, mas não contei o que via, achei que só eu tentando bater contra o destino era o bastante. Eu escolhi aquela que jamais faria o que eu vi. Era tudo que eu procurava...
- Mas ela fez.
- Fez – suspirou, parecendo muito derrotado. - E se não tivesse sido ela? Não sei, nunca sabemos, nunca podemos mudar nada. Habilidade inútil para nós, boa para a insanidade!
- Você ajudou a concretizar suas visões.
- Sim.
- E se sentiu... só uma marionete do destino.
- E que nunca poderia conhecer o filho. Que a família nunca... daria importância. Um lixo jogado fora.
- O que você viu de tão ruim no destino do seu filho?
- Não foi necessariamente o que vi para ele, estou sendo vago, Rose. Não gosto de contar. Não mais. Nunca mais. O que acontece na minha cabeça, as visões que tenho, ficam aqui. Aprendi que das duas únicas opções, o silêncio é o menos perturbador.
- E porque acha isso?
- Só um sofre assim, os outros nem sabem o problema antes de vir, então não há uma angustia na espera. Se ninguém sabe o que você viu ninguém pode te culpar. Só você. Quando se conta a alguém que vai morrer, tudo que essa pessoa faz é para impedir, então ela morre em casa com uma bomba que ela não teria tomado se tivesse ido trabalhar normalmente e sem medo. Então te culpam.
"Se você fala, não é que você avisou, é que você provocou. Para as pessoas você deixa de ser vidente, mas alguém que está rogando uma praga. Você é a praga. Eles te odeiam. Minha dica é, mesmo para aqueles que querem se achar mais fortes do que os deuses e tentar enfrenta-los, nunca diga o que viu! Faça você mesmo. Os outros sempre o terão como vilão, sempre que você falhar. E você vai.
- Se eu te disser que seu cabelo irá cair, mesmo que tente, nada vai mudar, isso é genético, mas você me culpa no final como se eu que tivesse soltado um feitiço para acontecer. Você vai enlouquecer, os outros a sua volta, e no fim será nada além do mau agouro em pessoa. Silêncio. Finja que não vê ou ouve nada.
- Ouve?
- Alguns escutam sussurros que dizem o futuro. Igualmente ruim, na minha opinião. Te confundem com um esquizofrênico. Loucos! Somos todos loucos!
- A mulher que fez a profecia... realmente não parecia muito normal.
- Mas aí é diferente - revirou os olhos.
- Como assim?
- Videntes e profetas são opostos. Profetas são abençoados, videntes amaldiçoados.
- Por quê?
- Eles não se lembram do que veem! Se não tiver ninguém por perto nem acontece nada! É como se nem tivessem o "dom". É perfeito! E você sempre pode culpar a interpretação das pessoas, pois profecias não são claras, não são fatos demarcados e fáceis de entender, são frases soltas! Que podem ser mudadas e as pessoas mudam, tudo que você faz para uma profecia pode ser, de alguma forma, encaixado nela.
- Eu não entendi.
O Grindelwald suspirou, fez uma careta, depois bufou.
- Certo. Você quer minha ajuda? Eu ajudo. Odeio mexer com essas coisas e já deixo claro que sou péssimo nisso, mas eu entendo de visões, posso dar um ponto de vista de um estudioso objetivo. É apenas isso, entende? Eu não estou dando concelhos, estou trabalhando no seu caso. Você será totalmente responsável pelo que fizer daqui para frente, não quero mais pesos nas minhas costas, não tenho idade para isso. Estamos entendidos?
- Claro! - respondeu animada e esperançosa que ele estivesse disposto a ajudar.
- Então me conte a profecia.
- Ela é... – Lilian inspirou profundamente e disse tudo em uma respiração – "Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima... nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao terminar o sétimo mês... e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece... e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver... aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar..."
- Que inferno, é uma das grandes, são as piores.
-Por quê?
- Da para interpretar de ainda mais formas. Se eu profetizar: "você vai cair de um prédio", o que acha que significa?
- Que... eu vou cair? Talvez me matar me jogando de um?
- Claro. Podemos interpretar o prédio como isso: uma construção. Então você pode cair, pode morrer, pode estar se suicidando, pode ter sido empurrada. Não há tanto assim para interpretação, certo? Errado. E se não for uma construção? Não necessariamente um prédio, isso é uma metáfora, e cair pode ser ter um problema muito grande, perder alguma coisa, mudar totalmente de ideologia. Sua ideologia sendo um prédio e assim por diante. Milhões de interpretações e no fim vai acontecer, profecias sempre acontecem de um jeito ou de outro, basta forçar a criatividade até conseguir um significado que se encaixe. No seu caso, alguma vez... Você confiou em alguém e sentiu que caiu com a cara no chão? Alguém que sempre confiou?
- Sim... Um amigo meu... Me chamou de sangue ruim.
- Viu? Você caiu do prédio. Fim da profecia, beijos e boa noite. Entende como é fácil?
- Mas...
- O prédio era a construção de relação, forte de você e seu amigo, os andares eram os anos. Você caiu dela. Para os profetas a vida é um mar de rosas, eles têm uma habilidade que sempre será responsabilidade dos outros e sempre dará certo. Eles nem se lembram de ter dito algo, então a culpa é sua em toda a situação se der ruim. Enquanto isso, nós videntes, só queremos que alguém nos mate e que na próxima vida seja diferente. Eu duvido que seja, entretanto, acho que os deuses tem um prazer doentio em nos ver sofrer e isso ficará em nossas almas em todas as nossas existências.
- Você está divagando.
- Desculpe. É a primeira conversa que tenho em... décadas? Já passou de cem anos?
- Não.
- Décadas! Enfim, sua profecia é grande, da a impressão de que é mais fácil de interpretar. É muita informação, não há como confundir, né? Uma frase tem que completar a outra. Mas não é assim! É pior com certeza e com força. Veja bem, cada frase é um novo desafio, uma nova analogia, uma nova possibilidade para se prender em uma teia. Sem contar que profecias geralmente são auto infligidas então saber só piora, pois o que se faz para impedir pode ser usado depois contra você. Vamos lá: "Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima..." já nos encontramos em um problema imenso! Me diz, quando é que disse que essa pessoa está para nascer? E não apenas vindo para a Grã-Bretanha a viagem?
- Mas fala do nascimento...
- Sim, não que ele acontecerá agora. "...nascido ao terminar o sétimo mês...". Entende que pode ser qualquer raio de pessoa no mundo que nasceu em julho e que ainda esteja viva? Estou falando sério, pode ser um viajante. O fato de VOCÊS terem interpretado como um bebê que colocou seu filho na reta.
- Mas e a parte sobre os pais que o desafiaram?
- Diz "nascido dos que o desafiaram três vezes", só. Você conhece toda a história desse homem? Sabe se quando ele era criança algo não aconteceu com ele? Algum colega de escola que o desafiou? Se ele teve, já basta. Ou uma família, um sobrenome que vem indo contra a própria família dele a três gerações. Qual o sobrenome dele?
- Não sei...
- Ok, vou me usar de exemplo. Os Grindelwald foram desafiados pelos Dumbledore uma vez quando eu era adolescente, depois ele mandou um aliado dele para me enfrentar e por fim o próprio Alvo, portanto qualquer Dumbledore a partir daí é um "nascido dos que o desafiaram três vezes". Entende onde quero chegar?
- Possibilidades infinitas...
- Sim! O problema é que essa profecia fala sobre: "e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual" então têm que ser alguém que ele reconheceu como um desafio. Alguém que ele considerou digno como rival ou como aliado. No momento que vocês interpretaram que será uma criança que está nascendo, se ele fizer o mesmo tecnicamente já está marcando.
- Ele já chamou a mim e a James para o seu lado.
- Então se seu filho nascer quando julho termina e ele os escolher, temos uma interpretação completa: ele marcou o seu filho como igual. Mas nem isso! Podemos, desde o começo, estar falando de um comensal da morte que tinha o poder de desafiá-lo sem que ele percebesse! Se três pessoas da família já tenham ido contra ele, fosse um nascido em julho ou mesmo alguém que decidiu mudar de lado em julho, então uma motivação nascida em julho, se ele usar um poder que só a família tem ou que Voldemort desconsiderou até agora, e a rebeldia desse comensal, que foi marcado como igual, afinal tem a marca negra, é o que causará sua queda, então a profecia se concretiza. Lilian, não adianta, uma profecia é um inferno. Tudo é possível e tudo pode ser justamente o que vai servir para que as peças se encaixem no fim.
- Então o melhor é ignorá-la?
- Com certeza. Nada do que diz será útil para vocês. Profecias servem para as pessoas no futuro entenderem onde cada coisa estava. Aqueles que escutam no começo nunca poderão entender. É até idiota tentar. Mas já que Voldemort pode se encaixar na categoria de idiotas, assumindo que ele vá atrás de vocês, nos resta descobrir como impedi-lo de chegar a isso.
- E você tem alguma ideia?
- Você disse que Dumbledore quer usar o Feitiço Fidélius para esconder vocês, certo?
- Sim. Assim... mesmo que de alguma forma ele ache a casa, ou mesmo que nos encontrasse na rua, ele nunca nos veria.
- Com certeza é algo poderoso. Esconder uma casa é fácil, esconder a pessoa... Voldemort não poderia matar o que não vê, escuta ou sente.
- Existe alguma magia das trevas que poderia ir contra isso?
- Entendi onde mais eu poderia ser útil... Realmente faz sentido ter me procurado, você pensa que eu poderia representar Voldemort. Você está me marcando como igual a ele?
- Caramba não use essas palavras!
- Sabia que eu nasci em sete de setembro de 1883? Para o calendário chinês, que naquele ano começou em oito de fevereiro, eu sou um nascido do último dia de um sétimo mês. Se o que eu te disser, vencer Voldemort...
- Entendi! Eu já entendi que profecias são insuperavelmente inúteis! Inferno, se você for um lorde das trevas mais forte e souber uma magia que o pare, esse seria o "poder que ele desconhece", tudo é muito vago.
- Sim.
- Mas ele não te marcou como igual.
- Ainda. Ou já. Não sabemos se ele não fez isso adolescente ou quando tomou um título de Lorde das Trevas. Enfim, estou divagando.
- Estamos... – suspirou.
- Você terá que ir atrás do meu legado, do meu filho, Rose.
- Por quê?! – perguntou muito incomodada.
- Livros, conhecimento, tudo que eu sei foi guardado onde os bruxos não poderiam pegar: com meus territórios trouxas.
- Mas você poderia me falar...
- Como vou saber até onde Voldemort foi nas artes das trevas? Teríamos que conversar por dias até eu ter alguma noção do que pode ou não ser usado contra ele, e vocês teriam que testar se são capazes de usar. Minha família tem um conhecimento raro: de necromantes. É uma das primeiras áreas a ser temida e proibida, além de muito complexa, envolve questões biológicas também, assim como a visão. Acha que você e seu marido seriam capazes de fazer qualquer coisa que eu digo? Assim do nada e sem nunca terem tentado? Sendo bruxos da luz, ainda por cima? Eu disse, Rose, se quiser minha ajuda você terá que cair e muito fundo, até não restar brilho e só escuridão. Querem vencer um lorde das trevas no jogo dele? Terão de ser piores! Em que ano estamos?
- O que?
- Ano, por favor.
- Mil novecentos e oitenta.
- Certo... então ainda não aconteceu. Mas um dia, Rose, uma mulher trouxa dirá "Se eu não posso ser melhor que eles, vou me tornar algo muito pior". Essa é a única forma que sei agir, como fica bem obvio por minhas escolhas. Quando não consigo o que quero da forma correta, eu me torno o pior dos monstros. Você quer mesmo minha ajuda ou vai depender apenas de Dumbledore?
- Você conhece uma forma de acabar com um Fidélius?
- Vocês vão usar para esconder a si mesmos, o que torna impossível para qualquer um dos dois ser o fiel do segredo, pois o objeto ou pessoa a quem recai o feitiço deve ser encantado com ele, não poderão encantar um ao outro, o objeto ou pessoa também esqueceria de si mesmo quando fosse encantado, cria-se um paradoxo muito complexo, onde sua magia poderia até tentar te matar pois não te reconheceria, é perigoso e insano. Dumbledore não é burro, portanto, vocês terão um fiel à parte, correto?
- Sim.
- O fiel será Dumbledore?
- Não.
- Por quê?
Lilian baixou a cabeça e ficou quieta. Gellert pensou por alguns instantes, confuso com aquela reação, até que começou a rir, outra daquelas suas gargalhadas que preenchiam o ambiente, dessa vez tão forte que chegou a dar palmadas no chão e lacrimejar.
- Vocês não confiam nele! – quase gritou, rindo até mal conseguia respirar.
Lilian corou e o homem continuou rindo por quase três minutos inteiros.
- Caramba, pare com isso! – disse a ruiva, se levantando e batendo o pé.
- É que é muito bom! Se eu fosse vocês, também não confiaria, mas que ótimo que são inteligentes o bastante para perceber sozinhos! – disse com o maior dos sorrisos e voltou a rir.
- Não é que não confiamos... É só que ele disse que tem que ser uma confiança quase cega e eu...
- Não, não se desculpe. Eu imaginei que, mesmo com o perigo à criança, vocês continuassem lutando porque ele pediu, mas pelo jeito é por suas próprias convicções. Muito bom, perfeito. O homem é totalmente louco e vocês fazem bem em não ser mais um de seus seguidores cegos. Louco mesmo. Não é a toa que nos dávamos tão bem.
- Bem? Vocês se davam bem como?! Sendo inimigos?
- Ele não contou?
- Contou o que?
- Bem... Mais um motivo para não confiar.
- O que ele não contou?
- Dumbledore é gay.
Lilian pensou alguns instantes:
- E o que tem isso?
- Vamos lá, você é obviamente esperta, some dois mais dois - disse sorrindo e se escorando relaxado na parede.
A ruiva voltou a pensar. Ficou quase um minuto inteiro antes de seu cérebro fazer uma ligação insana. Ela abriu a boca, negou com a cabeça, fechou, pensou mais um pouco e encarou o homem.
Ele estava rindo estranho.
- Não pode ser o que estou pensando, então não consegui...
- O que está pensando?
- Não faz sentido...
- Que eu e Dumbledore tínhamos um caso? – sorriu e a Potter arregalou os olhos dando um passo incrédulo para trás, batendo na porta com isso.
- O que?! Não pode ser!
- Claro que pode. Por que acha que demoramos tanto tempo para partir um para cima do outro? Estávamos tentando evitar a briga, pelos velhos temos e tínhamos um pacto de sangue de não agressão.
- O que?! Um PACTO DE SANGUE?!
O guarda voltou a invadir, Gellert apontou para Lilian e ela se curvou pedindo desculpas.
- Desculpe, fui eu, eu juro que ele não está fazendo nada.
- Lady Potter, este é o último aviso, se algo assim tornar a acontecer teremos que parar sua visita, apesar de tudo...
- Eu entendo, sinto muito.
Então saiu. Lilian ficou encarando o Grindelwald incrédula.
- Não pode ser.
- Pode sim. Ele era muito atraente na época, cabelos ruivos, olhos claros...
- Me poupe disso, por favor - pediu quando imagens estranhas dos dos homens começaram a lhe aparecer.
- Era biruta igual a mim - encerrou o com heterocromia.
- Dumbledore realmente não é a pessoa mais normal...
- Um passo antes da linha do insano, se me permite dizer. Eu só acabei dando esse passo sozinho.
- Vocês namoraram... – murmurou como se precisasse ouvir as palavras saindo de sua boca.
- Namorar é uma palavra forte, nós tínhamos relações...
- Para! – o velho riu. – Como? Como ele poderia namorar alguém como...
- Como eu? Sendo parecido. Rose, éramos semelhantes, pensávamos e tínhamos loucuras que se completavam. Ele mudou seu rumo, mas no começo de tudo éramos uma dupla. Nossa batalha final foi tão "épica" pois eram entre duas pessoas que sabiam seus defeitos e qualidades mais arraigadas da personalidade. Foi igualmente difícil atacar e se defender, tinha emoção e história ali, não era uma simples briga. Era toda a carga de anos sendo despejada pelas nossas magias. Nunca poderíamos ser tão bons quanto fomos naquele dia.
- Ninguém nunca disse nada sobre isso.
- Eu entendo porque ele haveria de esconder. Para os outros pode ser uma prova de falha de caráter tremenda.
- Como eu poderia ter certeza de que está falando a verdade?
- Além de que, de novo, eu não ganho nada mentindo para você? Pergunte ao irmão dele.
- O irmão?
- Sim, Aberforth, sabe? Trabalha e mora em Hogsmeade ainda? Talvez eles já tenham brigado ao ponto de não suportarem estar no mesmo país...
- Dumbledore tem um irmão?
Gellert começou a rir de novo, mas dessa vez fez enquanto tentava falar, apenas para não irritar mais a mulher na sua frente:
- Ele nem fala do irmão! Esconde até isso, o velho! Não acredito! Não é à toa que me atraí por esse homem, não bate bem, com certeza uns parafusos a menos! – ele respirou fundo, para se acalmar, um sorrisinho ficou enquanto murmurava: - Ai, ai, saudades...
- Saudades?!
- Claro, bem que eu apreciaria uma visitinha do velho "Alvo vários nomes". Não guardo rancor, ele só acreditou que haviam outras formas, menos agressivas, de parar os trouxas, interagir com eles. Cada um com seus planos. Sou mais pessimista, veja bem. Ele envelheceu tão mal quanto eu? Isso eu gostaria de saber...
- Ok. Não quero mais ouvir sobre isso! Voltando ao Fidelius!
- Tudo bem, tudo bem – levantou as mãos em rendição. – Vocês terão que encontrar alguém que confiam cegamente e só essa pessoa poderá ter conhecimento de onde vocês estão no mundo, sem que ela mencione seus nomes ninguém poderá vê-los ou mesmo para lembrar terão dificuldades. Forte proteção, se feita com o fiel certo. Sem seu ele no mundo, para mantê-los no conhecimento, vocês não existem. Tem de ser o melhor, afinal falar seus nomes faz com que as pessoas recordem de vocês e dizer onde estão acaba com a magia no ato.
- Temos amigos em que confiamos.
- Eu também tinha. Fiz um pacto de sangue com ele. Olhe onde estou – respondeu venenoso. Lilian teve a sensação de uma faca de gelo lhe cortando.
- É diferente...
- Mesmo? Você transou com...
- Para!
- Outras palavras então, você teria relações...
- Grindelwald!
- É sério! Você teria uma relação carnal com alguém que não confia plenamente? É literalmente o seu momento de maior fragilidade! Física e emocional.
- Mesmo assim existe a prostituição.
- É diferente, existe uma troca de dinheiro envolvido aí, é um trabalho. Além de que não se espera que a pessoa vá te matar, afinal você também teria essa força. De novo, momento frágil. Agora fazer isso porque se quer fazer, exige confiança maior ainda. Entenda, eu acreditava em Dumbledore e ele em mim. Nós dois nos traímos, no fim. Se eu dependesse disso para estar vivo... Não estaríamos conversando. Apesar de que poderia ter sido mais simpático dar cabo de mim, ao menos eu não teria perdido para a morte de propósito e as visões poderiam ter... acabado.
- Você ainda tem muitas?
- Todo o tempo – suspirou, mais uma vez parecendo muito mais velho.
- Mas você não vai falar sobre isso.
- Não.
- Então a maior falha do feitiço...
- É ter que confiar em alguém. Nunca confie plenamente nem em você. Na verdade, você sempre será a pessoa mais estúpida de que tem conhecimento, afinal nenhum erro seu foge de sua consciência. Confiança é a chave para a falha.
- Eu confio...
- Lembra do que eu te disse, Rose? Sobre cair do prédio? A profecia, só porque se realizou uma vez, não quer dizer que não vá voltar a acontecer. Quer mesmo cair de outro?
- O que sugere então?
- Outras mil proteções. Da luz, das trevas, magia é magia: use-a. Use melhor. Use pior. Eu já te disse, guardei todo meu conhecimento, consiga-o. Vá atrás da biblioteca que só o herdeiro Grindelwald pode acessar.
Lilian resmungou levando as mãos ao cabelo e mexendo nele um pouco, por fim bufou:
– E se eu não puder achar seu filho? Se ele não tiver esse conhecimento ou se... ele não estiver mais vivo?
- Ache os livros, pelo menos. Posso te dar acesso, provavelmente. Leia-os, venha com a teoria e eu te ensino como usar. Posso te explicar as línguas, como traduzir as mortas...
- Há de línguas mortas?
- Sabe egípcio, Rose? Antigo prussiano (falada na Prússia Oriental)? Gótico (falada na tribo germânica dos godos)? Maia clássico (falada no México)?
- Claro que não!
- Pois são todas civilizações com conhecimentos das magias necróticas, minha família vem guardando coisas deles a gerações, inclusive dicionários. O primeiro dicionário que fiz de egípcio foi aos dez, uma espécie de rito de passagem da família, para que essas línguas nunca morram de verdade para nós," aqueles que trazem tudo de volta".
- Isso... é muita coisa... você tinha que me dar uma direção...
- Tenho a impressão de já ter dito isso, mas entende que, se minha família é que mantem essas coisas, a maioria já proibida a mais de quatrocentos anos ou além, e só nós parecemos ter dicionários desses idiomas, a chance de o próprio Voldemort não conhecer esses textos é a melhor que temos? Pode ser, literalmente, o único conhecimento de magia negra que ele não possui, mas para isso você vai ter que cavar no mais profundo e insano da biblioteca, aquilo que ninguém faria o suficiente para que a informação tenha se espalhado para outras famílias, teremos que...
- "Ser muito piores" - recitou a frase usada mais cedo.
- Exato.
- Entendo...
- Você vai querer tentar ou vai desistir agora?
Ela não respondeu, ao invés disso perguntou:
- Como sabia que eu estava grávida? Você...
- Eu vi, sim.
- Você teve uma visão sobre mim?
- Sim.
- Vindo aqui?
- Não.
- Então o que?
- Você já fez um teste de sangue?
- Já...
- Por quê?
- Meu marido. Ele é... de uma família nobre e antiga.
- Sangue puro – o homem disse e Lily fez uma careta para aquilo.
- Meu sogro é uma pessoa muito gentil e não liga para isso, mas ele tinha uma teoria sobre todo nascido trouxa ser descendente de algum aborto dado para adoção em algum momento ou que fugiu da sociedade mágica pelo preconceito. Seja o pai, avô ou o que fosse. Ele só queria verificar...
- E você contou a alguém o resultado?
- Você sabe – sussurrou incomodada.
- Como eu disse, a genética é um fator biológico vantajoso para algumas artes das trevas.
- Quando? Quando e por que você teve uma visão sobre mim? Pode me dizer?
- Quer a resposta fácil ou a que incomoda?
- A verdade.
- Eu vi...
- Não! – interrompeu, fechando os olhos com força. – Não... não quero. Não quero tocar nesse assunto! Eu estou indo embora.
- Rose... – chamou se levantando.
- Adeus.
E saiu.
-x-x-x-
Eventualmente lady Potter voltou à Nurmengard. Ela e Gellert não falaram mais sobre as visões dele ou aquelas coisas que pareciam incomodá-la, mas também não falaram apenas de artes das trevas (que ele a estava ensinando).
James começou a acompanhá-la, em algum ponto, e as visitas tornaram-se rotineiras.
Era estranho, mas muito bom.
O Grindelwald tinha com quem conversar e os Potters eram pessoas boas. Até os guardas se apegaram a eles. Receberam presentes, conversaram sobre a família, discutiram a guerra. A segurança deixava com que falassem com o prisioneiro cada dia com mais liberdade. A prisão, sempre tão fria e escura, pareceu ganhar cor, uma tão forte e bonita como os cabelos da mulher Potter.
Lilian era poderosa e James era... interessante.
- Qual seu nome, James? – perguntou Grindelwald certo dia.
Lilian estava fazendo a barba e penteando os cabelos do ex lorde das trevas. Vê-lo daquele jeito maltrapilho a incomodava, por isso quatro guardas estavam com eles, fazendo companhia e tendo certeza que ele não tentaria roubar a lâmina. Ou mesmo o pente.
James ficou muito satisfeito, pois não aceitaram que uma mulher com aquela barriga de gravidez sentasse no chão, conseguindo cadeiras para todos.
Gellert tinha as mãos atadas com correntes, mas se assim permitiram que Lily lhe escovasse os dentes e mantivessem o direito a banhos, estava mais que feliz com aquele arranjo.
- James – respondeu o atual Lorde Potter, ironicamente.
Gellert e Lilian reviraram os olhos exatamente da mesma forma.
- Nome completo, James! – resmungou Lilian.
- É com isso que decidiu ter herdeiros? – murmurou o mais velho.
- Estou sendo atacado pelos dois?
- Você deu uma resposta idiota! – murmuraram juntos.
- Eu estava brincando, nossa! James Fleamont Potter.
- Qual o nome do seu pai?
- Fleamont Henry Potter. Minha mãe era Euphemia Potter, nee Black. Por quê?
- Seu avô? - perguntou ignorando a pergunta.
- Meu avô paterno era Henry Ralston Potter, casado com Angelina Potter, nee... Não lembro...
- Lembra-se dos seus bisavôs?
- Beatrice Potter, nee Fleamont, Henry nomeou meu pai em homenagem a ela. E o pai de Henry Ralston... era Ralston Charlus Potter. Ralston era filho de Charlus Potter e Dorea Potter, nee Black. Só não me pergunte mais que isso, meus conhecimentos da árvore genealógica acabam por aí.
- Tudo bem, já serve. Há uma tradição de dar o seu nome como o segundo de seu herdeiro, certo?
- Sim, isso mesmo. Acho que só consegui decorar quatro gerações de gente por causa desse costume - brincou. - Meu pai nunca exigiu que eu estudasse nossas origens.
[N/A: Árvore genealógica no final do capítulo pra quem ficou confuso].
- O de vocês será Harrison James Potter?
- Harry – corrigiu Lily.
- Esse nome é fraco, me recuso a usá-lo.
A ruiva apenas revirou os olhos enquanto sorria com a birra infantil daquele homem idoso.
- Sim, ele terá James – respondeu seu marino, também sorrindo.
- Tradições assim são antigas e de origens interessantes – murmurou Gellert.
- Como assim?
- Os necromantes antigos achavam que carregar o nome de alguém, também carregava sua forma. Permitia que pudesse manter a memória viva e que a alma não perdesse sua essência quando passasse para o outro lado. Se você morresse e seu filho tivesse James Potter, então quando você fosse renascer manteria sua personalidade, talvez até voltasse como um Potter um dia. Seu filho seria o elo que carrega o que te faz uma pessoa. O que prova que você já existiu. Impediria, em teoria, de ser apagado com a renovação da alma no vida pós mortem.
- Interessante.
- Diziam ainda que o parente, que realmente desejasse carregar essência de quem recebeu a homenagem, poderia até reproduzir seu patrono, a prova definitiva da ligação entre as almas. Um dos costumes necromantes mais bonitos e reproduzidos, mesmo que não intencionalmente. Dar o nome de alguém querido ao filho. Seu pai teve só você de herdeiro?
- Sim. E demorou. Ele já tinha 51 anos.
(N/A: gente, se vocês pesquisarem em sites em inglês a data de nascimento do avô do Harry, o Fleamont, será 1909, por isso bem velho quando teve o James, o que é confirmado nos livros, mas se pesquisar em português vai ser 1920. Eu não sei porque disso, mas peguei a data e as informações em inglês sobre a família, então vamos lá....)
Grindelwald sorriu, um sorriso estranho que fez Lilian se afastar e James ajustou sua postura.
- Lilian já te contou, que existe uma lenda de que todo vidente estará condenado a insanidade por sua habilidade, até que a morte o leve?
- Sim.
- Existe algo parecido sobre os necromantes. Uma falácia de que por, assim como videntes, desafiarem o ciclo natural da vida, seriam odiados. Mas não pela morte, que os abraça, pela própria vida! Eles interferem no que só os deuses poderiam, no que só a mãe de todos deveria.
- Você é os dois, não é? – perguntou James. - Que combinação triste.
- Sim! - riu. - Mais ou menos. Eu não era um praticamente de necromancia ativo, isso era o lado da minha avó e já estava quase sumindo. Eu usava a vertente necromante para despertar com mais clareza a minha habilidade de visualizar o futuro. O foco não era trazer o passado à vida, mas descobrir o posterior. Mesmo assim, pela lógica das lendas, eu não só estaria condenado a insanidade, mas também a uma maldição sanguínea. Como alguém ligado a arte dos mortos, meus herdeiros, a continuação da minha vida, seriam prejudicados até que o ciclo se quebrasse, em favor de Lady Vida.
- Como assim? – perguntou Lilian cautelosamente.
- Um necromante sempre terá um sangue que desafia a vida, então essa entidade não facilitará que se reproduza, isso se estiver praticando, é claro. Eles sempre terão dificuldades para ter seus filhos, vão demorar para conseguir, ou não terão nenhum, terão apenas um, mas doente e fraco, ou ainda, para impedir que ao menos a magia profana se espalhe, só terão abortos. Se todo o resto falhar, morrerão cedo, para que não possam ter mais de um. Mal conheci minha família, sabiam? Fui criado pelo meu pai até uma certa idade, o suficiente para acha-lo um merda, mas ele ainda se foi cedo. A maior parte do tempo, minha mãe e minha tia que ficaram com o papel, na adolescência apenas Batilda. Todo o resto da família Grindelwald e Mitrica já havia partido.
- História interessante essa – murmurou James. – Mas então... basta que não pratique. Isso quebraria o ciclo, certo?
- Claro.
- Falando em histórias! Lakroff nos mostrou um lugar interessante no seu cofre, no fundo da biblioteca da família Mitrica! - lembrou-se Lilian, a animação fazendo com que se levantasse e fosse até uma bolsa ao lado dos guardas.
Nenhum dos dois pareceu se importar muito com o assunto da lenda antiga.
Gellert tinha o costume de contar coisas assim a eles, lendas, Lordes das trevas através dos tempos, civilizações extintas, origens de feitiços, guerras bruxas, evolução das relações entre espécies. Assim como James gostava de brincar e Lilian de cantar, o mais velho conhecia história da magia como quem conhece a própria. Muito melhor que o fantasma do professor Binns.
- Quem é Lakroff? - perguntou um dos guardas enquanto verificava o que a ruiva estava pegando.
- Um familiar distante - responder o Grindelwald, sem querer entrar em detalhes com eles.
- Ele nos mostrou fotos! Você era uma graça mais novo! E vocês dois são tão parecidos...
-x-x-x-
- Não! – disse batendo o pé.
- Gellert... – pediu Lilian.
- NÃO! – repetiu gritando, os guardas já não se importavam mais de entrar correndo toda vez que eles gritavam.
- Pode ser nossa melhor chance de manter Harry seguro! – disse James.
- Nunca! Isso é doentio! Nem eu usaria um ritual desses! Não sejam ridículos!
- Gellert! Você nos disse, você falou sobre ser pior...
- Inferno Lilian! Não tanto! Há rituais que... que são... A! – gritou novamente e começou a andar, as correntes arrastando. – Horríveis! Isso que estão querendo fazer.... é o que necromantes mais loucos fazem quando acham que podem rir ainda mais da cara da vida e da Morte! É punível com os piores destinos!
Ele estava inconformado. Ninguém deveria se sujeitar a algo assim! O próprio Voldemort, tudo indicava, devia ter feito algo parecido com o que estavam pensando. O lunático ou era muito bom em espalhar boatos para parecer mais forte do que era, ou havia feito uma maldita Horcrux. Ninguém em sã consciência deveria fazer aquilo! E aqueles dois estavam pensando seriamente em cair para o mesmo nível de delírio!
- Mesmo, punição? Há um efeito colateral? – perguntou Lilian.
- Mas é claro que há!
- O que? – perguntou James.
- Não sei! Ninguém que foi idiota o bastante para fazer admitiu o erro em registro, mas isso...
- Então você não tem provas de que as entidades vão ficar bravas, só acha que sim.
- Lilian! James! Não sejam tapados! Bruxos das trevas enlouquecem assim! Ultrapassando limites que não deveriam! – ele se sentiu na liberdade de falar aquilo pois sabia que não devia ter guardas no corredor, eles realmente estavam ficando relaxados com os Potters.
O casal fez até um voto perpétuo com o diretor de que nunca tentariam ajuda-lo a fugir. Ficou mais fácil ensinar magia negra para eles depois disso, haviam menos olhos e ouvidos para denunciar a coisa. Não que ali, na Bulgária, se importassem de toda forma, eles eram mais abertos a magia como um todo. A curiosidade de um casal sobre isso não era nada para eles, mas aquele ritual... aí era demais.
- Harry será protegido por nós, só precisamos...
- Acham que ele quer ficar vivo em cima de algo assim?! Do que adiantaria?!
- Sirius vai cuidar dele.
- NÃO! – repetiu. – Eu me recuso a ensinar!
- Que seja, descobrimos sozinhos – disse James.
- E como pretende fazer isso?
- Usando os livros da biblioteca Potter no Gringotts. A biblioteca Peverell.
Gellert arregalou os olhos e deu um passo para trás.
- Peverell?
- Somos descendentes deles. Diretos. Iolanthe Peverell é minha antepassada, casou-se com Hardwin Potter. Descobrimos vasculhando os artigos sombrios do meu pai. Tinha muita coisa interessante por lá, inclusive uma receita de uma poção de fertilidade que vinha aperfeiçoado durante a vida. Aquilo que você contou sobre necromantes terem problemas para se reproduzir...
A família Potter já foi necromante! Ele suspeitou, mas aquilo? Não só tinham ligação com a arte, eles eram praticantes a literalmente apenas uma geração atrás! E haviam Black's na linhagem. Pelo menos duas, mãe e tataravó de James! Eram igualmente sombrios além da conta! Seria possível? A biblioteca dos Potter podia ser pior que a do próprio Grindelwald?! Sua família não era tão antiga, nem para o próprio país de que vinham, ou tinham toda essa importância.
Peverell, por Circe!
Eles eram os malditos necromantes mais famosos e poderosos da história! Tinha feito as porcarias das relíquias que receberam o nome da própria morte! Ele os caçou como louco!
- Inferno, James! Seu pai obviamente não queria que você cometesse o erro de mexer com essas coisas, se nunca te contou!
- Nós dissemos, Gellert! – disse Lilian. – Desde o começo concordamos em ir o mais fundo que conseguíssemos para proteger Harry!
- Não tão fundo Lilian! Nunca tanto! É um ritual de sacrifício, pensem um pouco!
- Você pode nos ajudar ou faremos sozinhos.
- Eu me recuso. E vocês também deveriam! Por favor, me escutem, eu sei como algumas coisas devem ser evitadas! Me prometam! Prometam que não vão nem tentar algo assim!
Os dois se olharam, Gellert tentou mais um pouco e, após um tempo, finalmente inspiraram fundo e concordaram:
- Tudo bem - resmungou James.
- Nós prometemos não mexer mais com isso - reafirmou Lily.
Mas o mais velho viu nos olhos de Grifinórios estupidamente corajosos que ainda não tinham desistido totalmente.
Se fosse pelo filho eles não iriam apenas se tornar das trevas, eles morreriam! Gellert tinha que fazê-los ver com clareza...
- Prometam que vão queimar o livro! O livro desse ritual.
- Não acho que precisava de tanto...
- Mas tudo bem, vamos queimar - interrompeu James.
-x-x-x-
Na noite de 31 de outubro de 1981, noite de Samhain, Gellert sentiu as forças aumentarem, como sempre aconteceria naquela data. Ele respirou fundo, sentindo como aquilo mantinha-o vivo e ciente do mundo a sua volta apesar de tudo.
Mas então ele sentiu uma dor.
E simplesmente soube.
Grindelwald começou a gritar.
Os guardas tiveram de dopá-lo, mas conseguiram em meio ao seu desespero. A voz quase rasgando enquanto repetia: "Não! Não!"
Somente no dia seguinte eles descobriram sobre a morte dos Potter e também entraram em luto.
O prisioneiro precisou ser dopado quando acordou de novo e, mesmo que a maioria ali tivesse raiva dele, nenhum que era velho o bastante para ter vivido a guerra que causou trabalhava mais, por isso conseguiram simpatizar com ele. Talvez também fosse culpa do casal, que sempre foi tão gentil e fazia aparecer alguma humanidade no velho. Uma parte deles entendeu e realmente lamentou toda a tristeza que Grindelwald. Que perdera as ultimas pessoas no mundo que pareciam ter e lhe dar algum valor.
No terceiro dia depois do assassinato em Godric's Hollow, uma das guardas entrou na cela para dar comida à Gellert, que já tinha acordado a algumas horas e tinha permanecido quieto.
Ele estava péssimo, muito pior do que já estivera em todo o tempo que a moça trabalhava com isso.
- Eles morreram, não foi? – perguntou, apenas por desencargo de consciência. Ele sabia que sim.
- O menino está vivo – respondeu, ao invés de apenas confirmar.
- Como? – perguntou se levantando do chão onde estava de debulhando em sofrimento. – Sobreviveu?!
Ela não viu felicidade ali, apenas incredulidade. Ele, é claro, nunca tinha visto o bebe, apenas fotos.
- Estão chamando de "o menino que sobreviveu" - continuou a mulher. - Voldemort morreu, ele é o salvador! – disse animadamente.
Mas o outro pareceu mortalmente assustado com aquela informação. Gellert, com certeza, nunca pensou tanto em suicídio.
A profecia.
Mil vezes inferno!
Voldemort era louco, seu corpo deformado de magia negra, mal parecia humano e obviamente tinha um complexo de Deus, achava que estava acima de tudo, ele deve ter feito uma Horcrux! Ele voltaria!
E Harry agora era o maldito garoto da profecia que tinha um poder que ele desconheceu, que o derrubou. Era culpa de Gellert! Ele ajudou os Potters com aquilo! Ele concretizou aquela merda! De novo! Ele só sabia estragar tudo! Não importava o quanto tentasse o destino sempre ia rir dele!
Voldemort caçaria o menino.
Harry jamais teria vida e sequer tinha os pais para protegê-lo mais!
- E o padrinho? - perguntou esperançoso.
A guarda olhou para o lado triste e Gellert quis gritar como louco de novo. O menino não tinha ninguém então? Só os...
Malditos parentes trouxas...
O ex lorde das trevas encarou a mulher, uma ideia doentia borbulhando na mente.
- Quantos dias hoje que eles morreram?
- Três.
- Eu vou me cortar e vou usar meu sangue para marcar três riscos na parede – avisou.
- O que?! – perguntou incrédula.
- É a única forma que tenho para contar, estou avisando para você não me impedir!
Ela não se incomodou em perguntar o porquê daquilo. Lilian sempre falava a data, mais de um guarda já tinha escutado o assunto sobre os dias que ele passava ali, sem perceber o tempo passar. Justo agora ele queria saber? Estava perdendo toda a racionalidade de vez? Ou faria isso justo para tentar manter alguma? Manter o casal na memória?
Gellert se cortou com uma pedra e fez o que disse que faria.
Depois de uma semana, um guarda apareceu com um giz de cera, marcou por cima dos outros sete traços e fez o oitavo:
- Deixa que nós fazemos isso, vai acabar se matando de tanto se machucar.
- E se eu quiser? – foi tudo que o velho respondeu.
A cada mês que passava os guardas trocavam a cor do giz, a cada ano eles faziam um desenho de uma bola antes de marcar o próximo. Novos guardas apareciam e os velhos ensinavam o costume para que fosse mantido. Era inofensivo e a única coisa que parecia importar para Gellert, que quase não se mexia, comia ou falava. Isso, e a foto que ficava sempre encarando, uma retirada do jornal, onde aparecia o casal Potter e seu filho Harry.
Foi assim por sete anos antes que as coisas mudassem.
Até Lakroff Mitrica aparecer.
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Olá, olá! Esse capítulo era o de segunda, mas eu terminei bem antes do esperado e fiquei ansiosa para saber a reação de vocês sobre ele. Eu gostei muito, gostei de escrever e do resultado, espero que tenha sido bom para vocês também.
Queria que conhecessem Lilian e James antes de começarem a entender o Harry.
Dito isso, eu já perguntei no meu perfil, mas pergunto de novo: Vocês querem todos os capítulos do passado agora seguidos ou querem que eu intercale passado e presente até tudo ficar claro? Preciso da resposta para saber se segunda vocês vão ver o Harry criança ou podemos voltar ao presente por mais um tempo. A ou B para o próximo:
A) Harry criança.
b) Presente.
Obrigada pelos votos, comentários e por estarem lendo e me apoiando (cada um do seu jeito), obrigada mil vezes e até a próxima!
Avore genealógica dos Potters (pelo que James sabe):
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro