Capítulo 4 - Intervenção
Depois do intervalo, Marcela tentou algumas vezes terminar as planilhas dos gastos da escola que estava alimentando desde o início do dia, mas, não conseguiu rememorando o relato de Edgar a todo momento e isso a preocupava, se a aluna estava passando por problemas do tipo em casa não deveria demorar para tentar fazer o que era possível.
A diretora se levantou e seguiu em direção a sala dos professores, mas estava vazia, e, decidiu analisar a frequência escolar e o rendimento da aluna e seguiu para a secretaria da escola.
A sala estava silenciosa, bateu palmas, mas, não encontrou a assistente ou a auxiliar para lhe dar a pasta, impaciente, passou pela portinha que separava com o balcão e começou a procurar o arquivo da moça.
Ao encontrar o armário com os arquivos o puxou e seu celular caiu do bolso, a diretora se abaixou e quando escutou a porta ser aberta e levantou rápido batendo a cabeça.
– Diretora? – A secretaria perguntou confusa em vê-la ali.
– Empurra esses arquivos e me ajuda. – Marcela reclamou se apoiando na segunda gaveta e pondo a mão na barriga.
A senhora se apressou e empurrou a gaveta enquanto Marcela se apoiou na parte de cima do armário para levantar-se.
– Eu não posso ficar me abaixando. Sabe disso, Celeste. – Marcela reclamou e se afastou um pouco do armário.
– Onde estava? E a Áurea para onde foi? – A diretora perguntou sentindo falta da senhora sentada a mesa respondendo as palavras cruzadas.
– Eu fui ao banheiro e a Áurea está ajudando a enfermeira. Alguns alunos entraram numa briga durante o intervalo e Amadeu conseguiu separar, parece que foi uma confusão entre moradores da comunidade dos ilhados e duas alunas da região adjacente. – Celeste explicou a diretora o motivo da ausência de sua auxiliar.
– Estão bem? Digo, precisamos levá-los a unidade de pronto atendimento? – Marcela perguntou preocupada imaginando a dor de cabeça que teria.
– Não. Só houve arranhões e puxões de cabelo, mas, nada muito sério. – Celeste tranquilizou.
– A senhora precisa da ficha de algum aluno? – Celeste perguntou mudando de assunto lembrando da gaveta que fechou.
– Sim. Não posso esquecer isso, um aluno me procurou para relatar algo de uma aluna e por via das dúvidas quero saber um pouco mais dela. – Marcela respondeu.
– E qual seria a aluna? – Celeste perguntou curiosa.
– Bárbara Alencar do segundo ano. – Marcela respondeu.
Celeste abriu a gaveta do meio e começou a procurar no b, para a sua sorte, não havia tantas alunas e essa era a primeira, entregou a ficha para a diretora e ela seguiu caminhando enquanto folheava depois colocou a ficha no balcão de pedra e continuou analisando.
Realmente, ela quase nunca falta, exceto em educação física. E as notas só não são tão boas, mediana. Pensou lendo o histórico escolar e como Edgar lhe contou, sexta-feira esteve apenas no primeiro turno e tinha faltado a todas as aulas dessa semana.
Celeste fechou a gaveta e se aproximou da diretora para tentar entender o que estava acontecendo.
– Esse aluno foi o Edgar? Áurea o viu conversando com a senhora no intervalo. – Celeste perguntou a diretora, a sua auxiliar comentou que o viu na diretoria depois de passar algum tempo olhando se entrava ou não na secretaria.
– Sim. Ele me contou que a Bárbara não voltou para o pré-vestibular sexta-feira e achou estranho porque também não veio essa semana. – Marcela contou a assistente o que Edgar lhe relatou.
– Num parece muito exagero? – Celeste insistiu e ficou observando a ficha, não sabia o que ela ia retirar dali.
– Por isso estou pensando ainda se vou tomar alguma posição. – Marcela respondeu e fechou a ficha depois entregou a funcionária.
– Guarde e mande as alunas que bateram nos três até a minha sala para conversamos. – Pediu.
– Certo. – Celeste assentiu e foi levar a ficha para a gaveta. – O que pensa em fazer? – Indagou.
– Traga esses alunos e depois os que estão na enfermaria. – Marcela respondeu insatisfeita com tanta intromissão.
Essa justificativa não faz sentido. A secretaria pensou e depois que a diretora saiu da secretaria voltou até a gaveta para tirar a ficha de Bárbara.
A senhora começou a folheá-la tentando entender o que a diretora poderia tirar daquele monte de dados, mas, não faziam sentido.
Marcela entrou na sua sala e fechou a porta, foi até sua mesa, pegou o telefone e começou a discar o telefone que havia sido registrado na ficha, mas, estava desligado.
São acusações muito sérias para se fazer. Não acredito que Edgar esteja ciente da profundidade disso. Pensou preocupada com o relato de agressão e começou a bater os dedos na mesa pensando como ajudar.
A porta foi aberta interrompendo a diretora que parou de pensar em como descobrir se é verdade.
As três alunas responsáveis pela agressão estavam entrando e cada uma se sentou em uma cadeira enquanto Amadeu continuou em pé e fechou a porta.
Fabiana, Angélica e Ivonete estavam de braços cruzados, com band-aid neles e os cabelos bagunçados em silêncio.
– Eu não me formei em pedagogia para ter que ser vidente. Digam o que o aconteceu! – Marcela falou para as alunas e Amadeu se aproximou, mas, a diretora negou e ele retornou ao local que estava.
Ivonete levantou a mão e Marcela assentiu.
– Giordânia gritou no início da aula de biologia que as moradoras dos ilhados que estudam aqui tinham ainda ido muito longe, pois, era mais fácil abandonarmos os estudos e resolvemos dar uma surra nela para nunca mais fazer isso. Porém, a Jéssica e o Ricardo se meteram e nós batemos neles também. – Ivonete contou.
Marcela olhou para as outras alunas e elas concordaram com Ivonete.
A diretora massageou a testa sentindo que teria um dia difícil com mais uma situação delicada.
– Amadeu mande todos os alunos do segundo ano irem para o auditório onde teremos uma conversa sobre esse assunto. – Marcela falou para o monitor e ele assentiu.
– Não terminamos. – Marcela avisou as três e elas se sentaram de novo.
– Não vou suspendê-las ou expulsá-las, isso vai servir de lição para as três, vou ter uma conversa com a aluna, contudo, não se justifica punir uma pessoa a agredindo. – Repreendeu as garotas e as três assentiram.
– Quero conversar sobre outro assunto. – Marcela pediu, ia aproveitar a ocasião.
– Me contem sobre a Bárbara Alencar. – Mandou.
– Ela é estranha, prefere fazer os trabalhos escolares só ou fazer prova, mas, a acho muito inteligente e quando estava disposta ajudava, porém era bem rude com todos. – Ivonete contou.
– E o que vocês acham dela? – Marcela perguntou ao restante.
– Metida. – Angélica e Fabiana responderam juntas.
– Mais. – Marcela mandou.
– Bárbara se acha muito e nem é tudo isso. – Fabiana respondeu e Angélica confirmou.
Desse mato não sai nada. Marcela deduziu, as duas tinham ciúmes e não lhe contariam nada de interessante.
– Vão para o auditório e amanhã conversamos sobre o que farão a tarde no colégio. – Marcela disse para as três garotas.
A porta foi aberta por Amadeu e depois que entrou os três alunos entraram enquanto as três garotas se levantavam e encararam Giordânia que manteve o olhar, dos três estava pior, rosto com escoriações, cabelos ondulados bagunçados e nos braços marcas de arranhão enquanto o olho esquerdo estava inchado e colocava gelo nele.
– Essas vagabundas vão ser expulsas. – Giordânia disse para Marcela a encarando. – Elas tentaram contra a minha vida. Contou.
– Você tem sorte que é o último dia ou seria suspensa. – Marcela falou para a aluna que arregalou os olhos enquanto os outros estavam de cabeça baixa.
– Não! Elas que deviam ser, eu fui a vítima! – Giordânia gritou.
Marcela a olhou séria e a garota calou-se.
– Jéssica me conte como foi a aula de biologia. – Marcela pediu a aluna que arregalou os olhos surpresa pela pergunta.
Jéssica olhou para a sua amiga e continuou calada, mas, sentiu a mão de Ricardo na sua perna e olhou para o rapaz que sorriu incentivando a contar.
– As meninas só agrediram a Gio porque antes do professor chegar ela desdenhou dos moradores da comunidade dos ilhados dizendo que tinham chegado muito longe estudando até o segundo ano, pois, já podiam ter abandonado o colégio. – Jéssica contou o que houve na sala de aula no primeiro tempo.
– Nós só apanhamos porque nos metemos quando elas começaram a puxar a Gio para baterem. – Ricardo contou, estava menos machucado que as duas.
– Podem ir ao auditório. – Marcela mandou.
Os dois alunos se levantaram e seguiram para a porta, Giordânia tinha feito tudo isso acontecer e merecia a parte mais severa da punição.
– Mãe! Meu deus! Você vai sempre ser por essas pessoas e não por mim? – Giordânia perguntou para a diretora.
– Sim, quando você está errada. Elas vão ter a punição delas, porém, quem provocou foi você. – Marcela respondeu.
– É muito injusto! Vocês decidiram me por nessa escola, eu estava muito bem no colégio perto de casa. – Giordânia insistiu e Marcela revirou os olhos, sempre usava esse argumento.
– Eu e seu pai achávamos que quando conhecesse a realidade ia entender e respeitar as pessoas. Por isso te mudamos de escola quando eu fui designada para essa escola e ele começou a trabalhar no porto. – Marcela refutou e pegou o seu celular quando começou a tocar.
– Rogério foi bom você ter me ligado. Venha buscar a Gio e aqui conversamos. – Marcela pediu ao ex-companheiro e revirou os olhos com a resposta.
– Imediatamente. – Mandou e desligou.
– Suas férias serão ótimas, garanto a você que o resto do ano serão bem aproveitados. Amanhã vai pedir demissão do trabalho no supermercado. – Marcela mandou, já tinha uma ideia do que fazer.
– Não vou deixar de trabalhar! Eu tenho que juntar dinheiro para a faculdade. – Giordania discordou da mãe.
– Vou eu mesma contigo e seu pai fazer isso amanhã à tarde. – Marcela falou para a filha e antes que falasse mais sinalizou que se calasse.
– Rogério vai concordar, principalmente, depois de mostrar seu histórico esse bimestre. – Marcela avisou e apontou para a porta.
– Vá para o auditório. – Mandou.
A aluna saiu irritada e bateu à porta com força fazendo a sua mãe praguejar e massagear a testa sentindo sua dor de cabeça habitual piorar.
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