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Parque de Diversões

Faltando três dias para o baile de Rudá, todos no colégio estavam ansiosos por esse momento. As garotas estavam empolgadas com os vestidos e, principalmente, com os acompanhantes.

O salão de festa seria as quadras esportivas do colégio, ambas amplas e com cobertura, como sempre acontecia desde que concluíram que a pracinha não tinha proteção suficiente em dias de chuva. Os responsáveis pela preparação eram alguns adultos do conselho da cidade e alunos voluntários. Naquele ano, Clara ficara responsável pela decoração e pedira para suas amigas lhe ajudarem.

— Adoro fazer parte dessa festa, é tão significativa — a jovem Moraes disse ajustando a tela em que os casais tirariam fotos.

— Você é uma romântica, Clara.

— É quem não é Naty?

— O que essa festa tem de romântica? — Any questionou preparando uma das barracas de lanche, sem entender todo o show em volta de uma festa de meio de ano em que alunos e professores estariam presentes, e qualquer pessoa da cidade, pelo que tinham lhe dito.

— Rudá é o nome da esposa do fundador da cidade — contou Samantha. — Dizem que ela era uma indígena que se apaixonou por um jesuíta, Inácio. Um amor impossível. Perseguiram e torturaram ambos quando descobriram, quase mataram os dois. Então, em uma noite de lua cheia, bem no meio do ano, ajudado por indígenas, Inácio escapou de sua cela e resgatou Rudá. Eles fugiram para bem longe e começaram a sua própria cidade, recebendo todos que buscavam um lar seguro e repleto de amor. Inácio batizou a cidade com o nome da sua amada e, uma vez no ano, fazia uma festa para comemorarem a vitória do amor dele.

Any torceu o nariz com descrença.

— Vocês acreditam mesmo nisso?

Todas assentiram.

— É uma história antiga, talvez seja só um conto romântico para toda cidade se unir, comer a vontade e dançar, mas o fato é que é uma tradição de 255 anos — explicou Clara. — O que ganharíamos contestando-a?

Any balançou a cabeça, resmungou algo sobre fantasias e voltou a sua tarefa.

Enchendo os balões vermelhos que enfeitariam os bancos, junto com os balões brancos que Val enchia, Naty pensou no vestido que comprara para o baile. Um modelo de crepe cor de berinjela, longo com uma faixa drapeada contornando o decote.

— Em que esta pensando, Naty? — Sam perguntou ao perceber que a amiga era a única em completo silêncio desde que chegaram naquela manhã.

— No vestido que comprei ontem.

— Ah, também comprei um vestido lindo para o baile — a moça confidenciou. — Fernando vai babar quando me vê com ele.

— Ele iria babar por você até se a visse vestida de esquimó — Flor declarou risonha.

— Any, você já escolheu seu vestido? — Naty perguntou, percebendo que, fora a curiosidade com a festa, Any ficará quieta a maior parte do tempo, o que era incrível, e com a expressão fechada de mau humor.

Parando de arrumar os enfeites da barraca, que faltava pouco para ser finalizada, Any não se virou para Naty, apenas falou:

— Vou buscar um lanche para nós.

Vendo-a sair em disparada para longe do salão, Naty ficou confusa com o comportamento da amiga.

— O que há com ela? — quis saber Sam, também confusa.

— Chris se declarou. — Clara se sentou no palco que preparavam para os músicos. — Ela saiu correndo lá de casa depois que eu e Davi os surpreendemos se beijando.

— Então agora eles estão namorando de verdade? — perguntou Val, feliz por Christopher.

Mas logo perdeu as esperança quando Clara negou com gesto de cabeça.

— Pelo que Chris me disse, ela o vê somente como amigo.

— Se isso fosse verdade, ela não estaria tão perturbada — Flor comentou.

— Também acho, mas... — Parou de falar ao ouvir passos se aproximando. — É melhor voltarmos ao trabalho.

Continuando a encher os balões, Natasha observou Fabiany entrar cabisbaixa com o lanche para elas. Tinha quase certeza que ela estava se apaixonando por Chris, mas, assim como ela mesma, Naty, fizera por muito tempo com Willi, Any se negava a dar o braço a torcer.

~

Como vai à decoração do baile? — perguntou Willi pelo telefone horas depois que Naty chegara a sua casa.

— Esta linda. Clara tem muita criatividade.

Estou ansioso para que chegue segunda-feira.

— Só faltam dois dias agora — comunicou também ansiosa.

Você está cansada?

— Não, por quê?

Gostaria de leva-la ao parque de diversão que chegou à cidade.

— Eu adoraria.

Então estarei ai em alguns minutos — ele comunicou acrescentando: — Te adoro, Naty.

Ao desligar Naty correu para trocar de roupa. Colocou uma calça jeans, uma camiseta azul turquesa e tênis. Desceu as escadas correndo encontrando a família reunida na sala vendo a novela das sete.

— Vai sair Natasha?— perguntou sua mãe, olhando por cima do sofá.

— Vou.

— Com o namoradinho? — perguntou Paulinho se abraçando e lançando beijinhos.

— É, com ele — respondeu sem perder o bom humor.

— Tome cuidado, filha — alertou Paulo.

— Não se preocupe, Willi é muito bom comigo.

— Eu espero que sim — ele disse baixo, porém não o suficiente para não ser escutado por Natasha. Antigamente a jovem teria revirado os olhos, descrente que o padrasto poderia se importar de fato com ela, mas agora começava a rever tudo o que considerava verdade até então.

Acenando um adeus, saiu e ficou no portão esperando Willi que, assim como as outras vezes que saíram, chegou de moto.

— Boa noite, Willi!

Tirando o capacete, William a puxou para perto e a beijou com avidez.

— Agora a minha noite está boa.

Rindo, Naty se aconchegou a Willi.

— Melhor irmos logo — Will sussurrou em seu ouvido. — Seu pai está nos olhando e não parece nada feliz.

Naty acompanhou o olhar do namorado e acenou para o padrasto. Depois subiu na moto e colocou o capacete que Willi lhe levara.

Em pouco tempo já paravam na frente do parque de diversões e entraram de mãos dadas. A pedido de Naty foram para a roda gigante, onde se beijaram sem se importar com quem estivesse olhando. Depois caminharam pelo parque e, ao ir comprar pipoca, encontraram Sam, Fernando, Any e Chris.

— Também vieram se divertir? — perguntou Naty abraçada a Wili.

— Fernando me convidou hoje de manhã — contou Sam agarrada ao namorado.

— Eu achei uma boa ideia trazer Any ao parque. Como bons amigos que somos — confessou Chris com uma ponta de sarcasmo olhando para Any, que se mantinha afastada dele.

— Que tal pegarmos bebidas para as garotas? — propôs Willi querendo falar a sós com os amigos.

— Por mim, tudo bem — Chris respondeu.

— Já volto, amor — despediu-se Fernando após beijar Sam.

Quando chegaram a uma barraca de bebidas, fizeram seus pedidos, e, enquanto aguardavam, se sentaram para conversar.

— Ontem cancelei a aposta — Willi contou empolgado.

— Isso é muito bom — Chris declarou sem animo. Tinha outros problemas ocupando seus pensamentos, mas estava feliz pelo amigo. — Como Pedro reagiu?

— Bem, surpreendentemente bem — declarou se lembrando de que Pedro até o deixara ficar com sua moto, que tinha oferecido como pagamento. — Ele disse que foi bom eu ter cancelado a aposta, pois ele já a considerava perdida.

— Ele é bem esperto. — Fernando riu, mas logo confessou sério: — Pelo menos essa aposta acabou. A todo o momento eu imaginava que a verdade viria à tona e, conhecendo Sam, eu acabaria sem ela.

— E eu sem a Naty.

— Pelo menos eu não tenho nada a perder — retrucou Chris desanimado.

— O que há com você? — Willi quis saber preocupado.

— Davi não lhes disse?

— Não vejo Davi deste o fim da aula na sexta.

— Bem... eu fiquei sabendo pela Clara o que houve — Fernando falou. — Ela queria que eu o ajudasse, mas não tem como. — Recebendo o olhar frio de Chris se explicou. — O problema é sentimental e nos sentimentos ninguém manda.

— Mas o que houve afinal?

Explicando todo o ocorrido, Fernando demonstrou preocupação pelos sentimentos do amigo.

— Falta pouco para a Any ficar com Ivan, e, quando isso acontecer, meu amigo, você vai ser passado.

— Me deixe em paz. — Chris se levantou e se deu conta de uma aglomeração perto do lugar onde haviam deixado às garotas. — O que está havendo ali?

— Vamos lá ver — disse Willi se voltando para o garoto que lhe entendeu as bebidas. — Guarde para mim por enquanto, por favor.

— Sim.

Dirigiu-se para a roda que se fazia em volta de seis garotas que estavam se agredindo, entre elas. Any, Sam, e Naty.

~

Logo depois de Willi, Chris e Fernando saíram, Naty e Sam observaram Any, que se mantinha calada demais.

— Com o que você está chateada? — Naty quis saber preocupada. Aprendera a gostar da garota nova, já não achava os sorrisos dela forçados e a considerava uma boa amiga.

— Com nada Naty.

— Any, somos suas amigas, sempre estaremos do seu lado, pode se abrir com a gente — garantiu, sendo acompanhada por Samantha.

— É que estou confusa. — Uma lágrima rolou pelo rosto de Any. — Não quero magoar o Chris, mas não sei o que sinto realmente por ele.

— Any, amar alguém é complicado — Naty falou por experiência própria.

— Mas eu não sei se o amo... Às vezes, penso que sim, mas logo depois tenho certeza que não — declarou esfregando as mãos nos braços, que pareciam estranhamente frios.

Naty e Sam a abraçaram querendo transmitir conforto

— Que linda cena, as três pamonhas abraçadas.

Olhando para a direção da voz, Naty avistou Josie acompanhada de Monalisa, Cinthia e Kassandra.

— Se não fosse por Kassy, eu lhe responderia a altura — declarou Any irritada com o apelido.

— Você está errada Josie — advertiu Cinthia a mais alta e loira do grupo. — Elas são bem espertas, pois roubaram nossos namorados — declarou referindo-se ao fato dela ter ficado com Christopher, Mona com Fernando e Josie com William.

— Pelo que saiba eles é que se livraram de vocês para ficar conosco — retrucou Any furiosa.

— Any não ligue para elas — pediu Sam puxando-a.

— Ah , a boneca de porcelana não gosta de brigar — provocou Mona acrescentando cheia de malicia . — Aposta que se deitou com o Fê e nem se quebrou.

Sentindo uma sensação estranha tomar conta de seu corpo, Sam pulou para cima de Mona, seguida por Any que avançou sobre Cinthia após ouvir outro insulto.

— Parem com isso, meninas — pediu Naty aos gritos.

Mas logo desistiu de separar a briga, para entrar em uma, quando Josie lhe deu uma tapa no rosto e a chamou de fera sem bela.

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