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O SEXTO NÃO TEM SENTIDO - ATO II - É CADA MONSTRO QUE APARECE...

ATO II

Interior. Ainda No Castelo do Drácula, Transilvânia. Mesma Noite.

O divã agora está vazio. A canção de O Fantasma da Ópera ecoa pelo castelo. Uma sombra se aproxima do patamar no alto da escada.

FANTASMA DA ÓPERA: Aquele vampiro ousa raptar minha amada discípula Mina... Por muito tempo eu ensinei a ela todas as árias dos grandes mestres, moldei sua voz pessoalmente para transformá-la um dia na rainha da Ópera de Paris. Muito embora tenha feito tudo isso em Londres... Bem, não importa. Aquele vampiro não arruinará a minha obra prima. Mina será minha!

Ouve-se um ruído exterior.

FANTASMA DA ÓPERA: Quem vem lá? Maldição! Será mais um para disputar o amor da minha talentosa Mina?

O Fantasma ergue a capa à frente do rosto e desaparece por uma porta lateral.

Uma sombra se aproxima da grande janela ao fundo, iluminada por relâmpagos. Ouve-se um grunhido.

VAN HELSING (VOICE-OVER): Shhh!

JONATHAN HARKER (VOICE-OVER): Você pisou no meu pé com o salto dessa bota!

VAN HELSING (VOICE-OVER): Foi mal.

HARKER (VOICE-OVER): Se eu soubesse que atravessar essa floresta causaria tantos problemas, teria me casado com uma das madrinhas, e o Drácula que fosse feliz com a Mina!

A janela se abre. Valentina Van Helsing salta para dentro do salão.

VAN HELSING: Não reclama! Se você não fosse tão mão de vaca, a gente podia ter alugado uma carruagem para nos trazer até aqui, e não precisaríamos ter atravessado o bosque a pé...

HARKER (VOICE-OVER): E que filho de Deus nesse lugar traria dois forasteiros ao castelo de um vampiro?

VAN HELSING: Vai por mim, querido, tem doido para tudo! Principalmente depois de oferecer uns Euros a mais... Agora, dá para parar de chilique e entrar de uma vez?!

Um lobisomem salta para dentro do cômodo.

HARKER: E aí, acha que a Mina vai me achar muito diferente?

VAN HELSING: Se depois de te ver assim, ela ainda quiser casar com você, ela vai ser um prato cheio para o Freud.

Van Helsing começa a avançar pelo cômodo. De repente se detém, abrindo os braços para deter Harker.

HARKER: O que foi?

Van Helsing se abaixa e passa os dedos pelo chão.

VAN HELSING: Sangue!

HARKER: Meu Deus! Mina...

VAN HELSING: Calma, calma que ainda é cedo para o pânico.

HARKER: Já ouvi algo parecido com isso em algum lugar...

VAN HELSING: É, eu tenho um amigo mexicano que gosta de falar isso. Mas não vem ao caso agora...

HARKER: Mina deve estar ferida.

VAN HELSING: É possível. Drácula já deve ter se alimentado dela a essa altura.

HARKER (coçando a testa): Não fala isso nem brincando...

VAN HELSING (revirando os olhos): Não, eu estou falando no sentido gastronômico, ou melhor, vampiresco da coisa.

HARKER: Ainda bem.

Van Helsing avança e espia pela porta lateral aberta.

VAN HELSING: Vamos fazer o seguinte: eu procuro por aqui, e você procura lá em cima.

HARKER: Melhor o contrário.

VAN HELSING: Por quê?

HARKER: Porque, pela lógica, os quartos devem ficar lá em cima. E se eu encontrar a Mina metida num desses quartos com o Drácula, eu não respondo pelos meus atos!

VAN HELSING: Não seja tolo! O Drácula deve dormir lá no porão.

HARKER: E quem falou em dormir?

VAN HELSING: Está bem. Eu procuro lá em cima. Mas abre o olho, porque o Drácula não deve ser o único vampiro nesse castelo, e com certeza não são os únicos monstros.

Van Helsing examina Harker de cima a baixo, sugestivamente.

HARKER: Obrigado pela parte que me toca.

VAN HELSING: Sabe o que eu quis dizer...

HARKER: Ok, mas vamos fazer essa busca depressa. Só espero que não seja tarde demais.

O Lobisomem sai pela porta lateral. Van Helsing sobe as escadas.

VAN HELSING: Já tinha visto rosnando, mas essa é a primeira vez que eu vejo um corno latindo...

O Fantasma da Ópera retorna pela porta aberta ao fundo da cena.

FANTASMA DA ÓPERA: O bom de ser fantasma é que ninguém estranha me ver saindo por uma porta e retornando por outra...

Ele se aproxima da outra porta lateral.

FANTASMA DA ÓPERA: Frank! Meu amigão Frank...

E puxa o monstro de Frankenstein para dentro da cena. Ele ainda tem um tufo de algodão enfiado no nariz.

FANTASMA DA ÓPERA: Onde foi que você se meteu, seu ordinário?

FRANKENSTEIN: Você está querendo me meter em confusão!

FANTASMA DA ÓPERA: Confusão nenhuma, Frank. Você é um sujeito gente boa, bonitão... (O Fantasma vira o rosto e faz uma careta). Não devia ficar assim tão sozinho.

FRANKENSTEIN: Ninguém quer ficar perto de mim. Todos têm medo. Até meu reflexo no espelho tem medo de mim...

FANTASMA DA ÓPERA: Tadinho do Frank... Mas eu já te falei que posso te apresentar uma amiga minha, gente boa, bonitona assim que nem você... Quer dizer, que nem você, não, bonita mesmo! E te garanto que ela não vai ficar com medo.

FRANKENSTEIN: Como é que você sabe?

FANTASMA DA ÓPERA: Ela já namorou até o Monstro da Lagoa Negra, vai ter medo de você, Frank?! Essa garota é tranquila. É só oferecer uma bebidinha, que ela pega gente que até a ressaca teria medo de pegar.

FRANKENSTEIN (com sarcasmo): Obrigado...

FANTASMA DA ÓPERA: É, mas para eu te apresentar essa garota, você vai ter que fazer um favorzinho para mim. Vai ter que distrair o vampirão laqueado para eu tirar aquela moça bonita do castelo.

FRANKENSTEIN (com medo): Ele vai ficar furioso.

FANTASMA DA ÓPERA: Estou contando com isso, Frank...

Ouve-se o ruído de alguma coisa grande caindo.

FANTASMA DA ÓPERA: Droga! Vem vindo alguém.

E empurra o Frankenstein pela porta lateral para se esconder.

Drácula surge no alto da escada.

DRÁCULA (furioso): Que diabo foi isso?

Ele desce depressa as escadas.

DRÁCULA: Invasores em meu castelo?! Vou me banquetear com o sangue dos intrusos!

Ele abre a boca, fazendo um ruído faminto de antecipação, e atravessa a porta lateral.

Um grande baú de madeira se move debaixo da escada e Valentina Van Helsing atravessa o buraco que ele ocultava, retornando ao centro do palco.

VAN HELSING: Quem diria que aquela passagem secreta daria aqui?

O Lobisomem também desce as escadas, e para no meio do caminho olhando para baixo.

HARKER: Que barulho foi aquele?

VAN HELSING: Matei uma armadura metida a besta.

HARKER: Como é que é?

VAN HELSING: Longa história. Como você foi parar aí em cima?

LOBISOMEM (parecendo confuso): Entrei pela porta errada.

VAN HELSING: E então? Encontrou sua Mina?

HARKER: Não. Lá em cima só encontrei um monte de quartos empoeirados e uma coleção de capas coloridas enfeitadas com paetês. Pelo visto esse vampiro morde com os dois lados da presa, se é que me entende...

VAN HELSING: Está na moda vampiro que brilha no escuro.

HARKER: Tem gosto para tudo... Teve sorte?

VAN HELSING: Tive. Não topei com nenhuma assombração ainda. Talvez o Drácula tenha escondido a Mina lá no porão. Quem sabe, no caixão onde ele dorme...?

HARKER: Nesse caso ele vai ver com quantas estacas se prega um vampiro na parede.

VAN HELSING: Vamos. O porão deve ser por ali.

Van Helsing aponta para a porta no fundo do salão, e começa a avançar pelo cômodo.

HARKER: Cuidado! Pode ter armadilhas.

VAN HELSING: É o castelo de um vampiro, não a tumba do Faraó.

A Múmia surge pela porta do fundo, empurrada pela Cruella.

HARKER: Tem certeza disso?

CRUELLA: Ora, ora, ora... Temos visitas!?

A Múmia emite um grunhido.

CRUELLA: Sim, meu bem. São invasores. Que acha? Devemos avisar ao mestre Drácula?

HARKER: A senhora não poderia fazer vista grossa, por obséquio?

CRUELLA: Poderia. Mas por que eu faria? O que você me daria em troca do silêncio? Hein, bonitão?

VAN HELSING: Cuidado, Harker. Não vai querer fazer acordos com esse diabo.

Cruella se aproxima e acaricia o rosto peludo do Lobisomem.

CRUELLA: Nunca tive um casaco de pele de Lobisomem, sabia?

O Lobisomem dá um sorriso desdenhoso e se esquiva, puxando Van Helsing para um canto.

HARKER: Quem é essa mulher?

VAN HELSING: O pior monstro nesse castelo.

HARKER: Sem dúvida, é o mais feio.

CRUELLA: O que disse, rapaz?!

A Múmia emite um ruído que parece uma risada.

CRUELLA: Ah, você deve ser o noivo daquela mocinha bonitinha que o Drácula trouxe para jantar em casa, não é?

HARKER: Não me provoca, que hoje eu tô mordido!

VAN HELSING: Literalmente!

CRUELLA: Bem, só porque eu me sinto muito generosa hoje, vou te dar uma dica para encontrar a sua... bela.

Cruella se aproxima novamente e abraça o Lobisomem pelos ombros.

CRUELLA: Sua noiva dorme no caixão do vampiro, na masmorra mais profunda deste castelo. E é melhor você ser muito rápido, ou acabará por se tornar o jantar da nova noiva de Drácula!

HARKER: Não... Mina!

O Lobisomem corre para a porta aberta ao fundo, seguido por Van Helsing.

CRUELLA: Agora, minha Múmia, vamos dar uma polida nessas faixas, sim? E deixar esses idiotas irem direto para o covil do monstro.

E sai gargalhando assustadoramente, empurrando a cadeira de rodas da Múmia.

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