A luz do sol invadiu meu quarto, pela cortina entreaberta. Os raios solares atingiram meu rosto, me fazendo relutantemente abrir os olhos, apesar da grande bola amarela no céu, o ar estava gelado. O despertador já havia tocado duas vezes, mas cada átomo do meu corpo implorava para continuar na cama, debaixo das cobertas, confortável e em segurança. Meus músculos estavam tensos só de pensar em encarar o mundo. Cobri meu rosto e pensei; por que eu deveria me levantar? Estava especialmente cansada naquela manhã, naquela semana, naquele mês ou talvez, estivesse cansada por muito mais tempo, anos a fio.
Era cansativo e doloroso sorrir, fingir que uma guerra infernal não estava acontecendo dentro de mim. Às vezes eu sentia, como se uma parte de mim morresse todas as noites.

Tentei fugir de tudo, me isolei, me tranquei dentro de mim mesma e tudo ficou pior muito rápido. O problema de fugir, é que; seu pior inimigo é sempre você mesmo. Infelizmente eu acho que não tem como escapar do seus demônios internos.
A depressão era sorrateira. Começou despercebida, ganhou espaço, deixou tudo cinza. Não era falta de toque, de atenção, de fé... Não era drama, era intenso, profundo, agonizante. Me tirava o ar, murchava meu coração, pesava nos meus ombros. Me tirou primeiramente o sorriso e depois as lágrimas, logo a vontade de viver não existia mais.

Certa noite, eu cruzei a linha tênue entre a vida e a morte, meu coração parou de bater e faltou ar nos meus pulmões, eu estive do lado de lá por alguns segundos e era assustadoramente escuro. Havia ruídos, arranhões nas paredes e choro abafado vindo de todos os lados, inflamando meus ouvidos, uma névoa negra deixava minha visão turva, a sensação era ruim, eu estava caindo e caindo. Acordei em uma cama de hospital, estava diferente, viva e completamente vazia.
Agora, sentada na beira da cama, eu me pergunto; quando foi que tudo desandou dessa forma? Porque eu não consigo me lembrar. Acho que a parte de mim que sabe a resposta, já está morta faz tempo.