O Corpo no Chão
Observei com choque o corpo no chão, inerte. Uma jovem de cabelos longos e encaracolados.
Naquele momento tudo me parecia lúgubre, havia uma voz de fundo, alguém falando baixinho qualquer coisa sem importância, um líquido quente e viscoso escorria dos meus olhos, e logo atrás de mim, estendia-se pela estrada úmida um tapete macabro de destroços, sangue e vidro estilhaçado, conduzindo à forma arruinada de um carro capotado.
O cheiro de fuligem contaminava o ar, uma espessa fumaça negra subia até o céu, levando consigo toda a esperança.
Eu não sei dizer qual era o motivo disso, mas quando um homem se aproximou e começou a fazer uma massagem cardíaca desesperada, dentro de mim crescia a esperança e a ansiedade, de tal forma, que eu podia sentir ambas arranhando-me, para sair para fora e ganhar mais espaço.
De repente, uma lembrança ligeira me veio; minhas mãos no volante, uma leve garoa do lado de fora, ele dormindo no banco ao lado, meus olhos se fechando gradativamente, pesados...
Um estrondo, um grito...
E a garota no chão, parada, fria.
Os minutos se arrastavam, cansados, os poucos veículos na faixa ao lado passavam lentamente. Alguns curiosos esticavam o pescoço para ver melhor.
A chuva caia forte agora. Eu não conseguia desvencilhar o olhar dela. Me parecia então, que compartilhamos algo, eu e a garota morta; uma história, sorrisos e lágrimas, porque algo era familiar. Me virei para o homem que naquele momento já desistira da reanimação, tentei falar, as palavras não saíram. Acenei, ele me ignorou.
De repente, um sentimento ruim ligeiramente me veio; angústia, agonia, murchando-me por dentro, fazendo minha pele gelar.
Um nó na garganta, um aperto no peito... E o corpo no chão. Foi então que percebi, minha própria feição ali, arruinada. Éramos uma só. Eu estava morta.
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