Antes dos seus olhos encontrarem os meus, nenhum outro olhar já haviam me olhado antes. Não como eu sou de verdade, sem muros ao meu redor.
Sabe aquele tipo de julgamento que você faz inconscientemente quando está caminhando em uma rua escura e alguém aparece? Seu cérebro lhe envia sinais de alerta, seus olhos procuram sinais de fumaça; na forma como a pessoa anda, em como ela está vestida, é uma análise tão rápida e muitas vezes tão traiçoeira que naquele momento você decide se deve continuar em seu caminho ou se precisa sair correndo para fugir do fogo. Você entende o que quero dizer? Era assim que as pessoas olhavam para mim...
Antes de contar como tudo começou e infelizmente terminou, quero que entendam que antes dos olhos dele descobrirem os meus, nenhum outro olhar já havia me olhado antes. Isso é importante.

Enquanto eu caminhava para o trabalho em uma manhã cinza, meus olhos cruzaram com os dele, e um sorriso bobo veio logo em seguida. Mas não era os meus lábios que manifestavam qualquer reação. Por muitos dias tudo o que fazíamos era olhar um para o outro por alguns minutos e então cada um seguir seu caminho.
Eu desejava falar com ele, queria falar que seus olhos castanhos escuros continham um imã, eu me sentia atraída por eles e conseguia enxergar em suas íris uma alma pura e sofrida. Muitas vezes me perguntei, se ele podia ver o mesmo em mim e gostava de imaginar que compartilhávamos a mesma sensação. Seria magico e triste.

Comecei a sonhar com ele, e desejava-o.
Algumas semanas se passaram, e por alguma razão ainda estávamos no mesmo lugar. Nenhum passo havia sido dado. Apenas nossos olhos eram enamorados e se procuravam entre a multidão, mas nossos corpos estavam distantes, e distante.
E da mesma forma como tudo começa, tudo tem um fim. Minhas íris azuladas procuraram as dele, mas já não estavam mais lá e nunca mais estiveram.