CAPÍTULO 4 ou A Britney Spears é a pessoa mais parecida comigo no mundo
"NÃO ERA A BRITNEY SPEARS ERA SÓ UM MENINO FRANCÊS CHAMADO CAILLOU", disse Abóqui.
"Alô... Cê tá me ouvindo? Alô-alô?" A voz de His soava robótica.
"Aham... Eu estava dizendo que na outra escola... Uma vez, pintaram um desenho em preto e branco do Caillou em que ele tá com um guarda-chuva, sabe? E aí pintaram o guarda-chuva de verde e escreveram: Britney Spears. E aí começou um movimento problematizando Caillou depois que a história chegou na reunião de pais..."
"Estranhos... Antes do R.F.B, na minha antiga escola, problematizavam a explosão de banheiros na reunião de pais"
"É sério... Foi, como é a palavra... Como... Comoção! Foi a maior comoção, porque cê sabe, Caillou é sobre um menino de quatro anos com câncer, né? Aí..."
"Quê?"
"Quê o quê?"
"Caillou foi escrito pelo John Green?"
"Quê?"
Ele ri "Caillou tem câncer? Desde quando?"
"Tem... ou tinha, no desenho... Alguém ainda vê?"
"Não sei... Na França talvez" fala ainda rindo, "mas imagine o último episódio, Caillou na UTI..."
"Idiota!"
"É verdade... Pensa só, Caillou na UTI e o episódio termina com o piiii-piiiiiiiiiiii do aparelhinho lá, a linha verde... Pô cê sabe alguma coisa em francês, não sabe? Como é que fala Caillou passou dessa pra melhor?
"Isso é uma expressão idiomática. Não é só traduzir... E você é horrível, sabia?"
"Horrível é meu nome do meio..."
"Idiota... Isso sim"
"Ei, como é horrível em francês?"
"Calaboca!"
Silêncio.
"Ôrribele?"
"Hã?"
"É assim a pronuncia não é?"
"Repete"
"Ôrribele?"
"Bele?"
"Ble?"
"Ble!"
"Ôrrible?"
"Horrible"
"Ôorrible!"
"Parfait"
"Parfã?"
"Preciso desligar..."
"Batemos o record hoje?"
"Não chegamos nem perto"
"Rapidinho..."
"Hum?"
"Tá ouvindo?"
"Aham"
"Pensa comigo, se Caillou é sobre um menino com câncer, que na verdade parece só uma criança comum... Quer dizer, não tão comum porque ela é francesa, então toma menos banho que a gente, mas tudo bem... Ahm, o.k, espera, esqueci o que eu ia falar... Ah, então se o Caillou é... Enfim, o Rupert, sabe o Rupert? Você via Rupert? Acho que via, né? Todo mundo viu Rupert, quem não viu Rupert? Enfim, então Rupert, o urso de cachecol, sabe? Nesse sentido aí, que você tá dizendo... O Rupert seria, na verdade, vítima da hereditariedade."
"Hã?"
"Hipertricose... Pesquisa aí, eu espero..."
"Não, fala logo..."
"O.k. digamos que a Hipertricose é o tipo de pauta para o telesensacionalismo ganhar pontos na audiência? Você já ouviu falar num cara russo chamado Bibrowski?"
"Isso é uma pergunta retórica? Ou você quer que eu diga não?"
"Diz não..."
"Não!"
"Perfeito... O Bibrowski era conhecido como Lionel, o Leão com Cara de Homem. Pois sofria de uma rara condição genética, o corpo dele era coberto de pelos... Tudo bem, tá acompanhando?"
"Só continua..."
"Programas de tevê sensacionalistas que usam o problema dos outros pra promover uma ou outra boa ação não são diferentes dos circos de horrores de antigamente. A diferença é que hoje eles encenam direitinho, oferecem dinheiro e constroem uma narrativa de superação e isso não ameniza o fato de estarem explorando a história triste de pessoas com doenças congênitas."
"E daí?"
"O que? Como assim e daí?"
"Quem é que vê telesensacionalismo?"
"Minha avó!"
"E que diferença vai fazer no mundo se a sua avó vê ou não telesensacionalismo?"
"Você sabia que o telesensacionalismo é a porta de entrada para o televangelismo?"
"Ooh e depois disso as drogas mais pesadas, certo? Os programas de conflitos familiares"
"Tá vendo, você concorda comigo, as grandes emissoras estão investindo no controle do nosso animal interior para depois promover uma guerra contra seus inimigos despertando toda a violência reprimida com entretenimento barato..."
"O.k. me perdi... O que isso tem a ver com um urso que não é urso, mas um menino... adolescente, com uma doença congênita?"
"Hmmm, veja bem, segundo essa linha de que as coisas são o que são porque alguém decidiu acrescentar camadas e mais camadas de significado e o que mais tivesse a mão. Rupert seria a história de um moleque com hipertricose que se aventura em um mundo de glamour circense, embora a coisa do circo não esteja tão evidente. Você sabia que ao criar o personagem a ideia da autora era rivalizar com outros personagens que faziam sucesso na época?"
"Qual época?"
"1920"
"E daí?"
"E daí que em 1920 sabe quem era uma atração popular no Barnum and Bailey Circus?"
"Você quer que eu pergunte quem, não quer?"
"Quero"
"O.k., quem?"
"Quem o que?"
"Agora isso?"
"Vai... Por favor..."
"Quem era uma atração polular no Bar não sei o que lá and Blá blá blá Circus?"
"Ste-phan Bi-brow-ski"
"Que grande coincidência, hein?"
"Você está usando de sarcasmo comigo Abóqui?"
"Nã-ã-ão mesmo, mas posso fazer uma última pergunta?"
"As ordens."
"A autora..."
"Mary Tourtel"
"A autora... Ela, em algum momento, diz ou dá a entender que pretendia que o Rupert fosse um leão?"
"Na verdade não..."
"Então eu ganhei"
"Ganhou nada..."
"Ganhei sim... Fim"
"Humpf, até aí o primeiro 'Mikey' se chamava Oswaldo e era um coelho."
"Mas Mikey não é nem um apelido para Oswaldo"
"Acontece que ele era um coelho preto e branco e usava um shortinho azul..."
"E daí?"
"E daí que a Mary Tourtel pode sim ter criado o Rupert, um urso, se inspirando no Bibrowski, um leão"
"O Bibrowski era uma pessoa"
"Que fingia ser um leão..."
"Em um cir-co!"
"Aí está... Eu ganhei"
"Hein?"
"O que eu queria..."
"Alo-ooou?", fez Abóqui exagerando.
"Eu queria que você percebesse como Caillou ser uma criança com câncer é só uma suposição".
"Sério que você me segurou no telefone por revanchismo?"
"Ha ha ha!"
"Alguma coisa disso tudo é verdade, pelo menos? Porque se você inventou tudo... O que você está fazendo na antecâmara, você tinha que estar ajudando um Practicus ou gritando Estônia pelo pátio..."
"Quem me dera Abóqui... E respondendo a sua pergunta, Mary Tourtel e Bibrowski... Foram reais e Oswaldo o Coelho Sortudo, mas você sabe disso... As datas também, e a Tourtel era inglesa e o Bibrowski viveu até se aposentar, nos Estados Unidos, antes de voltar para a Alemanha, eu acho..."
"Legal..."
"Também acho..."
"O que exatamente?"
"Que eu sou legal"
"Idiota... Agora preciso mesmo ir..."
"Sem problemas... Nos vemos amanhã?"
"Amanhã é sábado!"
"Por isso mesmo..."
"Amanhã preciso resolver algumas... cousas"
"Ah, é... Aquelas cousas?"
"O.k., você é bizzare"
"Ei não use seu francês pomposo comigo burguesia"
"Calaboca, depois conto como foi..."
"No seu tempo Britney..."
"Hã?"
"Eu estava pensando aqui, podíamos ter uma mania só nossa..."
"Uma mania?"
"É... Assim, eu devia ter uns onze anos e meu pai, em casa, quando estava ocupado com alguma coisa e ainda assim tinha que cuidar de mim ou dos meus irmãos ou de qualquer outro assunto que envolvesse responder ao mesmo tempo... Ele chamava a pessoa ou coisa pela primeira palavra relacionada ao que ele estava fazendo/vendo/pensando. E daí surgiam apelidos por temporada, eu e meus irmãos tentamos catalogar, mas era tão repentino e... Segundo ele, orgânico, que ficava difícil... Bons tempos... Ahm, alô? Tudo bem, você entendeu?"
Abóqui ri.
"O.k, eu acho que isso é um não, né? he hahm, Britney... Isso, ahm, eu te chamei de Britney porque foi como começamos essa conversa, mas não exatamente por isso... Meu Deus, eu nunca expliquei isso em palavras ha ha ha É... Ahm, agora, com a gente conversando troquei de canal, a MTV aqui em casa anda colaborando, diferente de quando a gente quer assistir de verdade ha ha, ahm... Aí vi que a Britney vai abrir o VMA no domingo, depois de tudo o que aconteceu e enfim... Minha atenção estava dividida entre você..."
"E a Britney Spears", disse Abóqui.
"Exa-ta-men-te..."
"Eu não acredito em alma gêmea mas sinto que a Britney Spears é a pessoa mais parecida comigo no mundo... Hoje... Sabia?"
"O.k., isso foi profundo, porém confuso, como assim?"
"Esquece... Depois explico, acho que entendo o lance da mania... As Terríveis, agora boa noite!"
"Hã?"
"As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy agora no Cartoon".
"Ah sorry, eu não tenho Cartoon Network... Então tá certo Cogumelo do Sol"
"Você não está vendo... Qual o canal?"
"Nove..."
"Achei... estilista Karl Lagerfeld, o que você acha de me encontrar amanhã depois daquela cousa que eu preciso fazer?"
"Como quiser Paraíso Tropical"
"Então até amanhã High Society"
"Até Sábado em Copacabana da Maria Bethânia"
"Hum?"
"Perguntei pra minha mãe de quem era a música de abertura da novela"
"Ah..."
"Então tchau"
"Tchau Abóbora!"
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro