Capítulo 12
Continuando.
- Estêvão? O que quer dizer com isso? - Perguntou Jaqueline um pouco assustada.
- Apenas tomem cuidado! O universo está conspirando a nosso favor... Mas é necessário pisar em ovos quando a morte vem ao nosso encontro. Vou pedir a Santa Sara Kali que nos proteja! - Diz Estêvão entrando na cabine e descendo até o seu quarto.
- E lá vai ele mais uma vez pedir ajuda a essa santa pagã! - Diz Jaqueline revirando os olhos e bebendo, como sempre.
- Jaqueline... Se eu fosse você dobraria a língua para falar de Santa Sara. Ela é piedosa, mas também é filha de Deus como todos nós, para ela pedir aos céus que uma tempestade nos devore não vai precisar fazer muito esforço.
Santa Sara é a padroeira dos ciganos, Pietro não era cigano, mas era muito amigo de Estevão.
- Pietro e Jaqueline, aquietem-se! - Diz José já estressado - Deveriam se casar os dois, já que gostam tanto de briga, vão brigar lá dentro! Não estão vendo que tem um criança aqui? E Jaqueline o que já conversamos sobre você falar mal da religião alheia?
- Ah José, me perdoe, eu apenas sigo os ensinamentos que nossos pais nos passaram! Mamãe surtaria se soubesse que temos um cigano em nosso barco!
- E você ainda me manda casar com isso? - Diz Pietro apontando para Jaqueline - E não têm apenas ciganos aqui! Eu mesmo sou um total descrente, não acredito em nenhum deus ou santo, mas respeito a todos que moram aqui conosco, diferente de você son sale secrète! - Diz Pietro estressando-se.
- Ah, vai começar a cuspir essas palavras em francês? Isso não me deixa mais ofendida!
- Não, nada te ofende! Você ofende os outros!
- Eu vou trocar de roupa! - Diz Skip entrando na cabine e revirando os olhos para a situação que ele já vira tantas vezes que se acostumara.
- Skip, prepare-se para cozinhar muito bem pelos próximos dias amigo! A próxima parada será na França! Como eu havia prometido, nada de peixes até chegarmos em Portugal! - Diz José animado cortando a briguinha do adorável casal.
Skip desceu as escadas sorridente - *Caro Dio, benedetto sia il cibo francese! - Disse Skip no seu mais alegre sotaque italiano. *(Santo Deus, abençoados sejam os alimentos franceses )
- E vocês dois parem de palhaçada! Pietro, continue guiando o navio, e Jaqueline. - José tomou de sua mão a garrafa - Nossos pais também nos ensinaram a não beber, mas parece que isso você não aprendeu!
- Eu vou descer, ainda tenho que ver as feridas do rapaz!
- Não, eu cuido daquele jovem! - Diz Pietro largando o leme - Sabe que eu sou bem melhor em curativos do que você...
- E quem guia o barco? - Pergunta José.
- Ora, Jaqueline, quem mais seria? - Diz Pietro.
Mas logo são interrompidos por um coral feito de marujos barbudos e tatuados que dizia - Não!
- Não chefe, por favor! - Dizia um.
- Vamos bater o navio José! - Dizia outro desesperado.
Entre tantos outros pedidos desesperados a voz de Jaqueline falou mais alto.
- Ora seus imundos! Ainda dizem que são meus amigos, afinal de contas eu vou guiar sim! - Diz Jaqueline ajeitando o seu chapéu e indo de encontro ao leme.
- Ela vai afundar o navio! - Diz José a Pietro.
- Não vai não, a garrafa que ela acabou de beber não tinha nenhuma bebida forte, era apenas suco com um pó de sabor para enganar o paladar.
- Está cada vez mais sagaz Pietro, talvez consigamos deixar ela sóbria por uns dias. - Diz José que ainda segurava na mão da garotinha.
Pietro entra na cabina e desce até o seu quarto, era bem simples, tinha uma rede amarrada em uma parede a na outra para o seu descanso no lado direito, e no lado esquerdo tinha uma pequena escrivaninha de madeira, esta tinha algumas gavetas onde ele guardava algumas ervas que serviam para curar, alguns pergaminhos e caneta tinteiro. E na parede entre a cama e a escrivaninha tinha uma janela circular, como havia em quase todos os quartos.
Pietro abriu a porta e viu o rapaz deitado em sua rede, ainda estava sangrando, mas pouco. O rapaz suava frio e estava com alguns pedaços de panos protegendo suas feridas.
Estes panos estavam sujos e precisavam ser trocados.
Assim que entrou Pietro fechou a porta, tirou todas as faixas de panos e o deixou com suas feridas expostas. Embaixo do rapaz havia uma espécie de lençol, para não sujar a rede feita com algodão egípcio de Pietro.
Pietro abriu uma das gavetas e tirou desta algumas folhas de plantas e as colocou em cima das feridas do rapaz fazendo ele agonizar um pouco, mas logo em seguida se acalmou.
O rapaz suava muito, Pietro enrolou um pedaço de pano e secou sua testa.
Ele se virou para pegar algo em uma gaveta e quando ia pôr em outra ferida do rapaz, este segurou seu braço.
- Está acordado! - Pietro sorriu - Consegue falar?
Pietro levantou e pegou uma vassoura que havia no canto do quarto e bateu no teto.
- Skip! - Ele gritou.
- O que há?
- Traz água para mim? Água para beber!
- Já irei! - Gritou Skip de seu quarto que era acima do de Pietro.
Ele se voltou para o rapaz e viu que ele tentava fazer algo com as mãos.
- O que quer? Não consegue falar?
O rapaz tremia e sentia muita dor, mas tentou se comunicar, pôs sua mão trêmula na garganta e em seguida no ouvido e balançou o indicador dizendo que não.
- Temos um problema!
Logo Skip bate à porta trazendo a água para rapaz.
Pietro dá água para o rapaz o ajudando a beber.
- Skip?
- Fala! - Diz Skip encostado à parede.
Reúna todos os homens e os leve para o convés.
- Sim! E você vem?
- Sim, já irei subir.
Skip se retira e é possível ver os seus gritos por todos os andares do navio.
Pietro queria falar com ele, mas sabia que este não ouviria, então apenas saiu do quarto e subiu as escadas.
Depois do quarto de Pietro vinham os quartos de José e em seguida o de Jaqueline onde estavam as sereias em sua breve discussão.
- Vou ir ver a menina.
- Não se apegue muito Vitória. Sabe muito bem do potencial das sereias do ar, eu não vou contar, mas se elas verem você com essa criança humana sabe muito bem o caminho que ela terá. - Diz Suzana com simplório riso no canto da boca.
Devem achar estranho as atitudes de Vitória, ela cresceu sem nenhum sentimento, por que estava agindo dessa forma?
Bom, Vitória foi sozinha para a escola, mas ninguém nunca soube o por que de ela ter feito isso.
Quando era bem pequena seus irmãos haviam contado para ela a história de sua tia Diana, e de como ela foi cruelmente assassinada. Vitória foi para a escola para a prender a lutar, a ler e aprender tudo sobre as sereias e seus objetivos com essas leis, e lá ela também conheceu a professora.
A professora como vocês sabem teve uma triste história, perdeu a sua filha para os humanos, o que ela não sabia é que sua filha não havia morrido, assim como Diana ela escolheu ficar em terra com um amor que ela conheceu, mas isso é história para um outro capítulo, vamos seguindo com esse.
Vitória saiu e foi andando pelo corredor, até que uma porta aberta chamou a sua atenção.
Seus olhos se arregalaram e sua nova forma de respiração chegou a faltar dentro de seus pulmões que agora existiam em seu peito.
- Ele está vivo! - Pensou ela meio que feliz - Mas não deveria estar aqui!
Vitória entrou no quarto e fechou a porta atrás de si.
O rapaz ouvindo o som da porta abriu os olhos e a viu. Ele levantou a mão ainda trêmula e em sinais falou com a sereia.
- Oi... Deusa!
Vitória sorriu - Não sou Deusa! - Ela respondeu em sinais.
- Salvou a minha vida!
- Ainda não. - Disse Vitória andando até o rapaz.
Ela passou a mão no diamante azul que estava em seu pescoço, fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu os olhos novamente estes estavam azul cristal como dois diamantes perfeitamente lapidados.
Ela colocou a mão no peito do rapaz e fez seu rosto ficar bem perto do rosto do rapaz.
O jovem começou a suar frio, e a sentir muita dor, mas não gritava.
E então, os lábios dos dois estavam colados. Não era um beijo de amor e muito menos de paixão, era o beijo da cura.
Vitória respirou fazendo o ar puro que tinha dentro de si entrar nos pulmões do rapaz.
Ele abriu os olhos, na verdade os arregalou. Sentiu uma dor tão intensa que quase desmaiou.
Mas quando Vitória tirou a mão de seu peito ele estava imóvel, ela apenas ficou em pé olhando-o, esperando alguma reação.
Logo ele respirou. E quando abriu os olhos estes já não eram mais cinzentos e sim azuis.
Ele se levantou, estava curado, de tudo.
- Obrigado! - Ele falou.
Vitória sorriu - Agora sim! E a propósito, eu não fiz nada.
Ela beijou sua testa. E deu a ele uma magia sem que ele percebesse, era como um disfarce, todos o variam como ele é, menos Suzana, ela não poderia reconhecer o rapaz, ou Vitória estaria acabada.
Eles saíram juntos do quarto e subiram as escadas.
- Sério capitão, ele não fala! Como vamos saber o que aconteceu com ele? - Diz Pietro.
- Não é óbvio? Foram as sereias do ar, ele tem furos enormes nos ombros, e ainda tem um buraco de flecha na barriga! - Diz Jaqueline fazendo uma virada brusca seguindo o curso do rio.
- Vai afundar o navio Jaque! Mais devagar! - Grita José - O que quer que façamos?
- Precisamos de alguém que fale sinais!
- Como acharemos? Já é um milagre não o terem matado, sabe que é considerado uma aberração alguém como ele não é? Mas me diga, como acharemos um leitor de sinais?
- Isso não será necessário! - Diz o rapaz saindo de dentro da cabine - Não preciso de leitor algum!
Vitória o olhava sorrindo encostada na porta da cabine com seus longos cabelos ao vento, fugindo do capuz.
Poderia ser morta, mas estava satisfeita.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro