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Capítulo 11

Elas entraram no navio sem saber o que acontecereia. Medo? Não! Talvez estivessem sentindo uma certa insegurança.

Quando chegaram em cima do navio, Suzana olhou a sua volta, aqueles marujos já haviam viajado o mundo inteiro e nunca haviam visto mulheres tão belas quanto aquelas duas sereias, ela os encarava e eles a encaravam de volta, e mesmo com as capas, suas curvas eram perfeitamente sublinhadas.

Vitória pôs a menina no chão e segurou a sua mão.

- Levantar âncora! Vamos partir rapazes! - Gritou José olhando para Pietro - Pietro, assume para mim? Vou recepcionar nossas convidadas.

- Sim capitão! - Pietro foi até o timão.

José se dirigiu até às irmãs e atrás dele ia Jaqueline, Suzana entrou na frente de Vitória.

- Poderia saber o nome das damas? - Disse José tirando o chapéu e abaixando a cabeça.

Suzana apenas olhou para ele com nojo, deu a volta em seu corpo e se dirigiu à Jaqueline.

- Capitã? - Perguntou Suzana falando com Jaqueline.

- Está a falar comigo? - Jaqueline dá uma golada em seu rum - Não querida, ele é o capitão!

Jaqueline apontou para José, esse colocava seu chapéu de volta à cabeça.

Suzana se voltou novamente para Jaqueline - Mesmo assim, não falo com homens, na verdade não deveria nem mesmo estar falando com você! - Diz Suzana falando grosseiramente com Jaqueline - Mas é necessário, poderia me arrumar um canto onde eu pudesse conversar com a minha irmã com privacidade?

- Podem ficar no meu quarto! Mas só por hoje... - Diz Jaqueline respondendo com grosseria à Suzana - José, vou levá-las ao meu quarto para que se acomodem... - Diz Jaqueline sem nem esperar resposta - É só me seguir!

- Vitória, vamos! - Diz Suzana à Vitória.

Vitória ia andando de mão dada com Emília.

- E deixe a menina, preciso falar em particular com você!

Vitória olhou à sua volta, ela nunca teve muita proteção, as sereias desde crianças eram treinadas para serem resistentes, mas ela julgava que ali não era um lugar para crianças.

- Deixe que eu fico com ela! - Disse José à Vitória.

Vitória o olhou com tamanha seriedade, se ela fosse a medusa este já estaria petrificado.

A menina sorriu para José, Vitória não confiaria em nenhum humano, talvez nesta singela menininha, mas não em homens malfeitores como ela os julgava.

- Tudo bem, eu fico com ele moça! - Disse Emília com a sua doce voz.

- Uê, ela não é sua mãe? - Perguntou José, envolvendo a garotinha em uma conversa enquanto Vitória ia atrás de Jaqueline e Suzana.

Vitória foi atrás delas, e descendo as escadas até o segundo compartimento do navio - Neste haviam quatro compartimentos, o primeiro de baixo para cima era de mantimentos, baús com tesouros e roupas, o segundo de baixo para cima guardava os quartos dos marujos, incluindo o quarto do capitão, de sua irmã e o de Pietro ao lado do de José, o terceiro de baixo para cima guardava a cozinha, e em especial os quartos de Skip e do cigano Estêvão, e o último era o próprio convés - Chegando à cabine de Jaqueline, esta mesma às deixou sozinhas e voltou para o convés.

O navio era de todo modo limpo, cada um cuidava de sua parte, mantendo o lugar um ambiente agradável para todos. O lugar mais bagunçado era o último compartimento onde ficavam os alimentos encaixotados e também os canhões em posição de ataque, mas quase nunca eram disparados, essa tripulação não roubava outros navios, apenas pegavam das cidades tudo o que precisavam para sobreviver no mar, ninguém nunca entendeu o por que de eles serem assim, mas tudo se resumia ao seu capitão, ele nunca quis ser um ladrão e nem mesmo um pirata, mas sempre teve uma conexão inexplicável com o mar, e a única maneira de sobreviver no mar sem trabalhar era roubando.

Ele e toda a sua tripulação só lutavam para defender quem precisava de ajuda, ou contra as sereias, podia até ser comparada com a quadrilha de Robin Hood, e no topo do mastro havia uma bandeira branca, sem desenho nem nada, apenas uma bandeira branca.

Chegando ao convés Jaqueline foi até José que brincava com Emília no colo.

- Eu não gosto disso!

- O que foi Jaqueline? - Diz José se virando para a irmã que tomou a garrafa das mãos de um marujo que passou ao seu lado.

- Essas intrusas, não me cheiram coisa boa!

- Não são intrusas! São convidadas! Elas são boas Jaque, até salvaram essa garotinha tão adorável!

Neste momento José e Emília caíram no chão, junto a muitos marujos que estavam trabalhando no convés e também por dentro do navio, Jaqueline por pouco não cai também, mas se segurou em umas cordas que estavam saindo das enormes velas da embarcação.

- Mas que diabos foi isso! - Grita Pietro que se segurou no leme para não despencar também.

A embarcação teve uma leve inclinação para o lado direto.

- Vamos meus ratinhos! Vão ver os canhões! - Diz Jaqueline indo até um dos marujos e dando um taoa em sua bunda.

Os marujos aos poucos foram se levantando e descendo até o último "andar" do navio para ver se os canhões estavam devidamente presos.

E esbarrando neles vinha Skip todo molhado.

- Skip? O que aconteceu meu velho? - Perguntou Jaqueline rindo alto ao ver o senhor cozinheiro todo encharcado.

- Cale a boca! Estou todo encharcado! Aquela merda de barril de peixe caiu em cima de mim! Estou enojado, cheio de baba de peixe!

- Acalme-se meu velho amigo, estamos quase chegando ao próximo ponto, pegaremos muitos alimentos e não precisaremos mais estocar peixes em barris! - Diz José se levantando e colocando Emília de pé no chão.

- Sim, mas ainda não sabemos o que foi que causou isso tudo! - Exclamou Pietro com semblante sério, girando o leme para pôr o navio no curso do rio - Este Ródano - rio que corta alguns países europeus e deságua no Mediterrâneo - não tem tantas rochas para que nós tenhamos batido em alguma.

- Ora, deixe de ser chato Pietro, os rapazes já foram organizar os canhões, eles sempre soltam! José precisamos de cordas mais fortes!

- Não foram os canhões, eu os prendi hoje de manhã!

- Com certeza não foram os canhões! - Diz Estevão saindo para o convés - Lembra da sua carta Jose?

José pega a carta que estava no bolso de suas largas calças marrons - A morte!

- Sim! Está aqui! E acredite... - Estevão chega próximo a José e pousa sua mão no rosto de seu amigo - Ela ainda vai beijar você!

José não sabia o que dizer, estava confuso e com um certo medo.

Vamos voltar uns minutos e descer dois alguns andares no navio.

Chegando à cabine de Jaqueline, esta mesma às deixou sozinhas e voltou para o convés.

Assim que viu que a moça já havia sumido Suzana fechou a porta.

- Sua vadia imunda! - Suzana dá um tapa na cara de Vitória - O que pensa que está fazendo? - Ela pega sua irmã que caíra no chão pelo pescoço e a levanta tirando os pés de Vitória do chão - Mate a si mesma, mas não vai pôr a minha vida em risco!

Vitória da um chute no estômago de Suzana que joga na parede do quarto, fazendo a embarcação virar com a força que Vitória usou.

Vitória cai no chão e começa a tossir, Suzana havia apertado seu pescoço com toda a força possível.

- Não devia ter me escolhido para sua missão suicida! - Diz Suzana ao se levantar.

- Não estou te entendendo Suzana! Está contra mim agora?

- Olha onde nós estamos! Você nos trouxe para a toca do inimigo sua irresponsável! Sabe muito bem o quão rígidas são as nossas regras e aí você simplesmente resolve salvar uma humana infeliz? - Suzana gritava.

- Ela é uma criança! - Vitória também gritava muito, não entendia muito bem o por quê, mas sentia que tinha uma certa ligação com aquela garotinha.

- É uma humana! Humanos são monstros! Não vê o que eles têm feito com nossas irmãs ao longo dos anos?

- Ela é diferente Suzana! Ela tem a alma pura... Como nós!

- Não Vitoria! Eles não são como nós, nem mesmo uma criança como ela pode ser pura como nós! Nós somos a alma do mar, temos o espirito da grande deusa Lua em nossa carne! Ela não é como nós!

- Minha irmã, eu achei que você ainda tivesse sentimentos aí dentro...

- Sentimentos? Eles foram banidos e totalmente proibidos Vitória, você acha mesmo que eu iria desobedecer as nossas regras? Vitória, eu não vou! E se você quer ficar aqui é com você, na próxima parada eu vou descer desta embarcação, está por sua conta agora.

Vitória não acreditara no que ouvira, estava ali a apenas quase um mês e já havia entrado em conflito com sua tutora, agora estava indecisa, não podia simplesmente abandonar sua irmã e ficar naquele navio, ela não gostava dos humanos, mas também não podia levar Emília consigo para o seu reino ou as duas seriam mortas.

- Minha Deusa... O que eu vou fazer? - Pensou Vitória.

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