05 | TUDO MUDA
05
TUDO MUDA
TATE
6 MESES ANTES
FINAL DO VERÃO EM BAYFIELD
— Você não vai fazer nada? — reclamo pela enésima vez para o homem de cabelos castanhos curtos, abraçando um saco de pão e carregando uma sacola com outras guloseimas em outra.
Andar pelas ruas de Bayfield me faziam recordar como Boston era movimentada. As ruas pequenas. As casas com cercas brancas e floreiras. Moradores sorridentes e despreocupados. Ritual matinal do meu irmão e pai de comprar pão fresco para um café da manhã em família. Tudo parecia saído de algum seriado dos anos 70.
— Não — Elliot responde com os olhos vidrados na pequena saltitante, dentro de um vestido claro de bolinhas vermelhas e cabelos loiros presos em um rabo, a nossa frente.
— Você não vai falar com ele?
— Não
Suspiro.
— Nem tentar? — insisto, incapaz de aceitar a derrota.
Eu precisava do programa. Necessitava que o ser grosseiro e amigo do meu irmão aceitasse. Queria o apoio de Elliot para conseguir. Tinha até segunda-feira. Me restavam dois dias. Não queria desistir. Não podia entrar na Stay Home pela manhã, encarar minha chefe e dizer que tinha falhado. Ela me mataria. Não. Ela me rebaixaria. Estagnaria minha carreira como assistente de produção, sem qualquer perspectiva de futuro.
— Não irmãzinha — a resposta chega em um tom calmo — Nós conversamos — revela, lançando um breve olhar para mim — Ele não quer. E eu respeito.
Suspiro irritada. Paro. Meu irmão continua a seguir Riley. Reviro os olhos ao ser deixada para trás. Em passadas largas os alcanço.
— E você vai aceitar assim? — disparo indignada.
— Vou — assente com a cabeça.
Riley cantarola alguma música infantil, com os braços dançantes e as pernas animadas.
— Você quer fazer o programa?
Seus ombros dançam duvidosamente.
— Não. Mas, poderia querer o dinheiro — pondera, alimentando um fio de esperança dentro de mim.
— Então — disparo animada — Me ajuda a convence-lo, Elliot — suplico tentando acompanha-lo no meio da calçada a poucos passos de casa — Vocês vão continuar fazendo o que já fazem, só vai ter algumas câmeras lá.
— Não — decreta com um suave balançar de cabeça.
— Chato — resmungo insatisfeita.
Paro diante da casa do Elliot e do meu pai – que morava no que deveria ser a casa de hospede aos fundos. Riley corre em direção da porta branca. Meu irmão a segue.
— Aceita irmãzinha — ele grita sobre o pequeno trajeto de pedras até a entrada — Vamos comer que passa.
Aperto as pálpebras. Bato o pé sobre a calçada de concreto. Furiosa. Inflo minhas bochechas. Caminho em direção a porta aberta à minha espera. Fecho a porta. Sou absorvida por um falatório próximo. Não quero ir até ele.
— Tate, vem aqui — mas a voz do meu pai ecoa da cozinha.
Frustrada caminho em direção a conversa animada, no cômodo ao lado da sala. Me deparo com Riley sentada na pequena cadeira sobre a ilha, Elliot dedicando sua atenção a cafeteira, meu pai em frente a uma cesta de bolinhos com aroma impregnaste e ao seu lado ele. O cara com mesmo sorriso gentil e acolhedor de anos atrás.
Os olhos escuros do homem moreno ao lado do meu pai encontram os meus. Seus lábios se alargam mais ainda. O tempo parece ter parado desde a última vez.
— Tate Evans — sua voz estava mais grossa do que me recordava.
O homem moreno, 1,80, de cabelos negros curtos, bem aparado dos lados e barba por fazer caminha em minha direção. Seus braços abrem-se, antes mesmo de acolher meu corpo.
— Ian Jones — seu nome queima em meus lábios como uma melodia esquecida, antes de abraça-lo.
Ele tinha o mesmo cheiro amadeirado. Seus braços estavam mais fortes. Seu corpo estava mais musculoso. Porém, o aconchego do seu abraço era o mesmo. Algo familiar e reconfortante.
— Quanto tempo — Ian murmura, finalmente me soltando — Desde? — sua testa enruga-se pensativa.
— Desde o baile de formatura — recordo, cutucando meu indicador em seu ombro — Não diz que já esqueceu.
Finjo estar ofendida.
Ele ri.
— Claro — seu indicador balança em minha direção — Você é a garota com vestido rosa que levei, estou me lembrando — brinca fazendo uma careta.
Dou um soco suave em seu ombro.
— Não faz tanto tempo assim — o censuro.
— O Ian trouxe bolinhos frescos que a Nora fez — o homem grisalho, usando uma camisa xadrez e com uma caneca vermelha em mãos comenta.
Ao meu lado, o homem dois anos mais velho do que eu dá de ombros, espalmando as mãos para cima, como se não tivesse culpa ou escolha para estar ali.
Me aproximo da ilha de mármore branco, com armários cinzas escuro e bancos brancos. A cesta de palha, forrada com uma toalha xadrez guarda os bolinhos com gotas de chocolate. Meu estômago se revira. Recordando que ainda não tinha me alimentado.
— Parecem gostosos
— Está uma delícia tia — a pequena revela com a boca cheia, sentada ao meu lado.
Rio. Ian ri. Elliot empurra uma caneta azul com café com leite em minha direção. Agarro um dos bolinhos que me dão água na boca. Parado ao meu lado, o moreno toca meu braço com o seu cotovelo. Dou uma mordida na massa fofinha quente e gotas de chocolate derretidas que dançam em minha língua, quase arrancando um gemido da minha garganta.
Nora Jones era a melhor cozinheira daquela cidade. Amava comer na casa dos Jones. A satisfação era garantida.
— Quem diria — sugestivamente seus olhos dançam em direção ao meu pai — Nossos pais.
Engasgo com um pedaço de bolinho. Tusso. Elliot, Riley e Mark ignoram a minha surpresa. Ian ri suavemente, com os olhos vidrados em mim.
— Nossos pais? — disparo com a garganta arranhada, cobrindo minha boca com a mão.
Ele assente com a cabeça. Ok. Nora Jones e Mark Evans? Não que a ideia fosse absurda. Não seria nada absurdo, os dois combinavam, era duas pessoas pacientes, sabias e animadas. Não seria nada estranho para mim, exceto pelo fato de Ian e eu termos namorado durante quase todo o colegial.
Ian Jones tinha sido meu primeiro namorado. Meu primeiro beijo. Minha primeira vez tinha sido com ele. Ele era perfeito. Tudo era perfeito. Mas o destino aconteceu, Ian foi para Nova York estudar medicina. Eu fiquei. O namoro a distância não deu certo. A amizade e carinho ficaram. As últimas notícias que tinha tido dele era que estava trabalhando como médico itinerante em áreas desamparadas. E que visitava a mãe – que ainda morava em Bayfield – vez ou outra.
— É — meu ex sussurra com os lábios próximo a minha orelha, não querendo que os demais ouvissem — Você não sabia que nossos pais estão saindo? — seus olhos estreitam-se curiosos.
Beberico o café adoçado na temperatura perfeita, limpando qualquer resquício de comida da minha garganta. Nego com a cabeça. Giro minha cabeça em sua direção, nossos narizes quase se roçam. Meu estômago se revira com antigas sensações adormecidas dentro de mim. Encaro seus olhos negros e gentis. Ele não tinha mudado.
— Estou quase deixando de ser uma Evans — finalmente consigo sussurrar — Sou quase uma estranha por aqui — faço careta com aquela lamentável revelação.
Ian ri só para os meus ouvidos.
— Quem sabe seja o destino um Evans e um Jones ficarem juntos — cometa com os olhos presos aos meus — Não demos certo, mas quem sabe eles dão.
Pondero com a cabeça. Torcia pela felicidade do meu pai, desde que minha mãe e ele tinham se separado, a solidão e o trabalho tomaram a sua vida. Odiei quando eles se separaram. Hoje entendia, que ambos passaram a querer coisas diferentes: minha mãe queria viajar, curtir e viver em lugares diferentes, meu pai queria uma vida pacata, continuar trabalhando e ficar no mesmo lugar.
Abocanho mais um pedaço do bolinho, tomando um generoso gole de café junto. Ian senta-se na banqueta ao meu lado, me deixando entre ele e Riley que conta como sua professora ensinou a fazer uma maquete com palitos de sorvete.
— O que você tem feito, Tate? — o homem ao meu lado questiona curioso — Ainda sonhando em fazer documentários, aquelas coisas chatas que só servem para dormir?
Rio. Me recordando do meu sonho em ser documentarista destemida e determinada, entrando em zonas de guerra, captando a realidade e entrevistando pessoas consideradas perigosas. Mas tudo mudou. Após um ano de universidade, e depois de Gus, tinha mudado minha visão sobre o mundo e meus sonhos.
— Não. Agora faço aqueles programas de entretenimento inúteis que você reclamava por sua mãe assistir — recordo humoradamente.
Ian ri. Dou uma cotovelada nele.
— É sério.
Ele para de rir.
— É sério? — pergunta surpreso.
Assinto com a cabeça.
— É sério.
O sorriso some dos seus lábios, com uma tragada demorada de saliva.
— Acho que posso mudar de opinião — seu cenho arqueia-se pensativo — O que acha de um jantar para você me convencer?
Um jantar? Um jantar com Ian Jones?
Não sabia o que aquilo significava. Apenas dois velhos conhecidos jantando ou algo a mais? Tinha amado Ian. Tê-lo ali na cozinha do meu irmão era confuso. O tempo tinha passado, mas a era impossível ignorar a estranha sensação que fazia meu estômago revirar. Não era um amor mal resolvido. Talvez algo adormecido, uma sensação de conforto e segurança que aquele homem transmitia.
— Pelos velhos tempos — o moreno insiste diante do meu silêncio — Você me deve depois de partir o meu coração e terminar comigo por telefone — recorda da última noite que nós falamos — Foi devastador — seus lábios curvam-se para baixo em uma tristeza dissimulada.
Rio.
— Você sobreviveu — brinco — Eu aceito.
Ele sorri. De soslaio não ignoro o par de olhos castanhos do meu irmão cheio de malicia, com suas sobrancelhas dançantes e os lábios escondidos atrás da xicara de café.
♦
Abocanho mais uma batata ondulada com uma porção generosa de queijo grudada, que explode na minha boca. O homem moreno, sentado do outro lado da mesa com tampo de madeira coberto por uma toalha xadrez, processa parte do meu monologo nos últimos dez minutos sobre os meus últimos anos.
Em poucos minutos resumi para Ian minha vida após me transferir para a NYU Tisch. Como conheci Alice Hill, minha melhor amiga, colega de trabalho e de apartamento. Como me mudei para Boston e escolhi trabalhar para Malori Banks na Stay Home. E para o final deixei minha rotinha infernal, corrida que mal deixava espaço para uma vida pessoal.
Ian agarra a garrafa de cerveja. Beberica. Sua cabeça balança processando, como nos velhos tempos. Era estranho porque parecia que os anos não tinham passado. Estar com ele ali, me fazia sentir coisas que a muito não sentia. Fazia-me recordar da Tate Evans que acreditava cegamente no amor e em finais felizes.
Era como estar em casa. Literalmente estava em casa. O restaurante italiano do Papa Domini não tinha mudado quase nada. O mesmo cheiro de comida caseira. As mesas e cadeiras de madeiras eram as mesmas. As toalhas quadriculadas em tons de vermelho e outras em verde eram novidades e alguns itens do cardápio também. O ambiente era rústico, com luz na medida e uma enorme parede de vidro na fachada, uma visão privilegiada para a rua. Uma espiadinha para os moradores curiosos.
Ian finalmente apoia a garrafa sobre a mesa.
— Então agora você trabalha para uma mulher bem sucedida que vai acabar com a sua carreira, porque o seu irmão e o amigo dele recusaram o programa de reformas? — seu cenho arqueia-se a espera de uma confirmação.
Estalo os dedos. Aponto o indicador em sua direção.
— Entendeu direitinho meu dilema — suspiro frustrada, abocanhando duas batatas — Quem recusaria dinheiro e fama? — questiono enquanto mastigo.
Ian ri. Sua risada é familiar e contagiante. Meus lábios querem se curvar quando ele ri, como se o acompanhasse em uma melodia que só seus lábios sabiam cantar.
— Eu — silaba, torcendo seu rosto arrependido por aquela confissão — Eu odiaria trabalhar com uma câmera na minha cara.
— Você não está ajudado — estreito os olhos o criticando.
Recosto meu corpo na cadeira. Agarro a garrafa de vidro verde da cerveja quente ao meu lado. Bebo. O gosto de cevada e fritura é gostoso na boca. Ian esfrega suas mãos – com dedos finos de um cirurgião – limpando qualquer resquício de comida. Seu corpo reclina-se para frente com os olhos negros como a noite fixos em mim. Meu estômago se revira desconfortável com aquela atenção viciante.
— Você não tem culpa deles recusarem — seu lábio inferior projeta-se sobre o superior, como se minhas preocupações fossem exageradas.
— Quer saber, isso é culpa do rabugento do Adam — sustentando a garrafa na minha mão dou nome aos meus problemas.
O cenho do moreno arqueia-se curioso, seus dedos se entrelaçam.
— Adam Baylor?
— Adam Baylor — repito amargamente — O amigo e sócio do meu irmão.
Ian balança a cabeça. Sua língua projeta-se para frente umedecendo os seus lábios. Seus indicadores colados apontam em minha direção.
— Você não conseguiu jogar o seu charme para cima da estrela do hóquei da cidade? — seus olhos arregalam-se horrorizados — O cara por quem você tinha uma quedinha — seus olhos estreitam-se sugestivamente — Que quase fez você não me enxergar.
— Eu não tinha uma quedinha por ele — rebato indignada.
Eu iria negar até o fim.
Jamais diria em voz alta que no começo da adolescência fantasiei com aquele ser. Era praticamente uma criança. Adam Baylor era sorridente, brincalhão e ... E era impossível não nota-lo. Ele era o herói da cidade. Era, até a final do campeonato em que ele não apareceu e o time perdeu. Dias depois ninguém sabia nada dele. Tomás Baylor estava tão irritado que passou meses dizendo que não tinha mais filho.
— Uma quedona — Ian corrige.
— Não — silabo.
— Não a julgo, a maioria das garotas tinham — seus ombros dançam em desdém
Bato a garrafa na mesa. Inclino-me para frente.
—Eu não tinha — insisto — E ele se tornou um babaca desprezível.
O moreno com a barba por fazer a minha frente assente com um meio sorriso deprimido.
— Não deve ter sido fácil passar pelo que ele passou
Estreito os olhos curiosos em sua direção. Finalmente ouvindo algum fragmento sobre o passado daquele homem que tinha se tornado rabugento. Elliot tinha mencionado uma vez que Adam tinha entrado para a marinha. Tornado um Seal. E nada mais. Na última semana nenhuma resposta ou verdade sobre o que tinha feito ele voltar depois de anos.
— O que ele passou? — disparo curiosa.
— Você não soube?
Uma risada humorada resfolega em minhas narinas.
— Meu pai e irmão não dizem nada — revelo.
Ian suspira como se começasse a ponderar se deveria ou não ser a pessoa a relatar aquelas informações. Ele suspira. Bebe um longo e demorado gole de cerveja. Seu tronco inclina-se um pouco mais para frente. Ele pigarreia. Eu me inclino mais para frente, como se estivéssemos preste a compartilhar um segredo.
— Um conhecido me contou que ele e a equipe foram feitos de reféns durantes alguns meses — seu tom é baixo — Não sei o lugar, é confidencial — seus olhos reviram-se — Não sei quantos sobreviveram, mas dizem que a coisa foi feia e traumática — Ian suspira, recostando-se novamente na cadeira — Alguns dizem que Adam teve que sacrificar os companheiros para se salvar. Outros que ele sobreviveu por sorte, que foi encontrado quase sem vida— suas palmas levantadas espalma-se no ar — É difícil saber o que é verdade ou não. Porém isso o ajudou a voltar a ser o herói da cidade e todos o respeitam. E ele foi perdoado por abandonar o jogo na final do campeonato dos Angels.
Bebo em silêncio. Meu acompanhante também fica em silêncio, com os olhos em direção ao vidro que dava visão para a rua. Processo aquela informação. Finalmente consigo entender parte da dor que vi em seus olhos naquela noite. Aquilo devia assombra-lo. Eu entendia de fantasmas. E sabia como era difícil enterra-los da nossa mente. Minha dor não era a de perder alguém, mas sabia como eram dores profundas.
— Você vai ter alguma ideia genial e inovadora para propor a sua chefe — em um tom animado, Ian sorri ao voltar a me olhar.
Sua mão estica-se em direção a minha repousada sobre a mesa. Seu toque é quente. A minha mão recua por puro reflexo. Queria que Ian me toca-se, mas aquela conversa me fez recordar de quando outra pessoa me tocava. Os olhos negros do homem do outro lado da mesa retraem-se surpresos. Sua mão recua.
Quero pedir desculpa. Porém não o faço.
— Ian, você não quer deixar eu fazer um programa sobre a sua vida? — pergunto com um sorriso brincalhão que suaviza todo o seu desconforto. Danço meus cenhos sugestivamente — Vamos diz que sim.
— Não — responde crispando os lábios ao esconder um sorriso.
— Vamos — não desisto em um tom animado — Um médico. Solteiro. Que viaja até os confins do mundo para cuidar dos outros? Seria um arraso.
— Seria desastroso — recusa com a cabeça, enfiando algumas batatas fritas na boca — Um tédio — seus olhos reviram-se em ênfase.
Sorrio aliviada com o sumiço de qualquer desconforto e a ausência de qualquer pergunta.
— Já sei — estalo os dedos animada com a ideia — Podemos fazer um programa procurando uma namorada para você — ele nega com a cabeça — Você é o partido ideal, vai chover de inscrições. Ganharia o coração do país com o seu jeito gentil, solidário e sensual.
Ian lança-me um dos seus sorrisos tortos. Seu corpo inclina-se para frente com um dos cenhos erguidos e os olhos focados em mim. A ponta da sua língua umedece os lábios, ele fazia aquilo quando estava desconfortável.
— Só se você fosse uma das candidatas.
Uol.
Quase engasgo com a saliva.
— Eu aceito.
A voz do intruso atrai meus olhos para a cadeira não mais vazia ao nosso lado. Meus lábios se entreabrem. As palavras ficam entaladas na minha garganta diante da figura do homem de cabelos negros sentado ao meu lado, com um olhar assustador e suplicante.
Meus lábios entreabrem-se novamente. Calados. Passo os olhos pela figura do homem de barba grossa, com o supercilio cortado. O roxo começava a tomar forma em torno do seu olho direito. O lábio inferior cortado em um pequeno risco vermelho era quase imperceptível. Seria imperceptível se não estivéssemos próximos o bastante para conseguir analisar cada detalhe.
— Adam — finalmente consigo ofegar algo, sem expressar o que realmente deveria perguntar.
Pisco. Fecho os olhos. Abro os olhos. Adam ainda está sentado entre mim e Ian, com os olhos fixos em mim e os olhos cheios de expectativas.
— A proposta ainda está em pé? — a pergunta é impaciente.
Assinto. Ainda confusa com aquele homem ali. Confusa com aqueles olhos suplicantes. E curiosa para saber de onde tinham vindo todos aqueles machucados.
— Nós aceitamos — decreta firmemente — Conversei com o Elliot e vamos aceitar. Tenho que assinar algo?
Sua urgência não afasta a minha surpresa.
— É — engulo todas as perguntas junto com a saliva — Eu — pisco, respiro fundo tentando ser objetiva — Vocês terão que ir para Boston na segunda.
— Segunda?
— Segunda — confirmo automaticamente.
— Cara você não parece bem — finalmente Ian consegue expressar o que não consegui.
Adam o ignora, com os olhos fixos ao meu.
— Combine tudo com o Elliot — afirma — Ele me avisa — seu corpo arrasta a cadeira sonoramente.
E entre um piscar e outro Adam desaparece diante dos meus olhos. Encaro a cadeira vazia. Pisco. Olho para Ian com uma expressão de surpresa.
— Ele não parece bem — o homem do outro lado da mesa observa.
Droga
— Ele está ferido — observo mais para mim mesma do que para o meu ex — Ele não está bem, algo aconteceu — decreto, arrastando a cadeira — Já volto.
Tento seguir algum rastro do homem ferido que tinha acabado de sair dali. Agradeço quando passo pela porta e o encontro na metade da quadra.
— Adam — o chamo, o seguindo em passadas largas — Ei — ele para.
Adam se vira em minha direção, com os olhos rudes e inexpressíveis. Me aproximo, diminuindo as passadas com a curta distância entre nós. Seu pomo-de- Adão move-se quando a distância torna-se mínima.
— O que? — dispara irritado.
— Você está bem? — não esperava sinceridade, mas estava curiosa e preocupada.
— Estou — a resposta seca não me abala.
— Você está sangrando — aponto para o corte grosso e vermelho em cima da sua sobrancelha.
Seus dedos tocam o local. Seus olhos encaram o sangue que mancha a ponta dos seus dedos.
— Não quer que eu cuide disso? — ofereço.
Seus olhos estreitam-se irritados.
— Não é nada.
— Adam? — um homem gorducho e cabelos claros o chama dentro do carro da policia parado ao meio fio ao nosso lado, não o tinha ouvido chegar — Estava te procurando — o gorducho uniformizado decreta.
O moreno lança-me um breve olhar. Nada além de um olhar. Um olhar que some quando agarra a maçaneta da porta do carro, entra dentro e some no meio da noite.
Que droga tinha acontecido?
CAPÍTULO POSTADO
Ontem não postei porque fiquei sem internet. Amanhã TEM MAIS!
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