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Capítulo XXVIII


Yex avançou com propósito, mas evitava correr para evadir suspeitas. Não podia voltar à pequena pousada. Além de não querer ser reconhecida, isso poria Eris e Nedoy em risco. Ainda tinha amigos na cidade - ou, pelo menos, assim o esperava. A multidão não estava a ser particularmente dissimulada nas suas conversas e, se eles fossem inteligentes, tentariam distanciar-se o mais possível dela, para sua própria segurança. A mente corria-lhe a mil e, por cada solução que conseguia ver, encontrava mais dois problemas. Como é que tinha caído naquela cilada?

Eris virou uma esquina e viu-a. Infelizmente não estava a ser inteligente, vindo na sua direção. Yex direcionou-lhe um olhar de desaprovação, mas isso não dissuadiu a lutadora.

–Ouviste? –disse Eris, andando a seu lado.

–Claro, –respondeu, seca.

–E qual é o plano?

Yex atou a trança o melhor que podia. Não tinha trazido o seu maldito pano castanho consigo, e não tinha maneira melhor de esconder o cabelo branco que a tornaria num alvo.

–Eu desapareço, –respondeu, resoluta. –E vocês os dois, se forem espertos, saem da cidade assim que os portões abrirem. Levem as informações de volta para os rebeldes. –Virou uma esquina, e depois mais outra, afastando-se aos poucos da zona mais movimentada da cidade.

–Desapareces?

–Sim. –Não gostava de ter Eris a segui-la, mas achava não ter tempo para a perder nas curvas e contracurvas da cidade. Só esperava que a velha casa de abrigo ainda estivesse intacta.

Eris hesitou, esperando que ela acabasse a frase. –Ficas bem, –disse, mais em forma de facto que como pergunta. Yex acenou-lhe com a cabeça.

Entrou no velho beco. As ruas ali à volta estavam desertas, iluminadas pelo sol que rapidamente se aproximava do horizonte. Virou-se de volta para Eris.

–Volta para a pousada, Eris. E quando voltarem a abrir a cidade, saiam. O exército rebelde deve demorar menos de um mês a aqui chegar, e vão precisar de todas as informações possíveis, se quiserem ganhar a batalha. –Ela aproximou-se da pequena porta de pedra, dissumulada na parede, e abriu-a com um pequeno feitiço. –Vão ajudá-los a ganhar. Não se arrisquem mais.

–Estás à espera que te deixemos aqui? –Eris tentou impedi-la de entrar na velha casa abandonada.

–Claro, –respondeu Yex. –Eu sei tratar de mim. Não estorvem.

Eris cerrou os dentes, resoluta. Acenou-lhe com a cabeça, examinando o velho beco que parecia deserto. Hesitou por um segundo e, virando-se para trás com uma expressão ilegível, apenas disse –Tem cuidado –antes de se virar para sair dali.

Yex acenou-lhe com a cabeça. Depois empurrou a velha porta de pedra, baixando-se para a poder passar, e mergulhou na escuridão do esconderijo.

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–Mas temos de fazer alguma coisa...

–Não sejas burro, Nedoy. Ela tem razão, –disse Eris. Nedoy avançou para a porta do pequeno quarto que tinham alugado na estalagem, mas ela pôs-se entre ele e a saída. –Tu vais mas é acabar por nos matar aos três! A Yex sabe tratar de si, –disse ela. Depois, mais hesitante, acrescentou –E, se Yex não se conseguir safar desta, não vamos ser nós a ter a capacidade de a ajudar.

Ele andava de um lado para o outro, inquieto. Não gostava de se sentir encurralado e, fosse por ter Eris a prendê-lo no quarto ou por os portões da cidade estarem trancados, era exatamente assim que se sentia. –Eles vão encontrá-la. Nem ela se consegue esconder para sempre!

–Ela sabe no que se meteu.

Nedoy virou-se para ela. Foi algo na secura de como o tinha dito, ou na intensidade da sua expressão, que o fez duvidar de si. Aquela não era a Eris doce com que passava as noites, aquela era a combatente que tinha visto na arena, determinada e rígida. Ele só estava à espera que ela lutasse a seu lado, não contra si.

Ficaram assim por um momento, desafiando-se com o olhar.

–Estás à espera que eu só a deixe morrer, Eris? É isso?

–Não quero que te mates, é isso! –gritou ela. –Se é suposto ela sair viva disto, sairá. Senão...

Nedoy atirou os braços ao ar. –Não me venhas com isso do "é suposto", Eris. Estás a dizer que é destino que ela morra? –gritou ele.

Eris não respondeu, só cerrou os lábios com força.

–E não é que estás mesmo, caramba... –Cruzou os braços. –Pois bem. Se assim é, eu vou mudar isso. Sai-me da frente.

Eris também cruzou os braços, desafiando-o com o olhar. Já não tinha a mesma força de antes, a mesma convicção na sua escolha. Depois do que tinha parecido uma infinidade de tempo, olhou o chão, ainda de lábios feitos numa fina linha branca. –Se fizeres isto, a tua vida também estará na linha. Eles sabem que ela não entrou sozinha na cidade. Hão de nos encontrar aos três.

–Pois, eu também sei no que me meti, –retorquiu.

–No que nos meteste.

Isso fê-lo hesitar. Estava disposto a pôr a sua própria vida em risco, mas nem tinha sequer pensado na possibilidade de Eris acabar magoada também. Mas depois ignorou isso e começou a vasculhar o quarto por aquilo que precisaria para uma batalha. Yex sabia no que se tinha metido? Pois bem, Eris também devia saber o que tinha aceite ao envolver-se com ele e, se estava à espera que abandonasse Yex, não o conhecia tão bem quanto achava. Virou-se para a porta, pronto para sair, e ela olhou-o com preocupação ao dar um passo ao lado para o deixar passar.

Nedoy seguiu para a entrada do alojamento sem nem sequer olhar para trás. O dono tentou pará-lo, dizendo que os guardas não queriam gente na rua, mas ele mostrou-lhe a tatuagem enquanto abria a porta para a saída.

Ainda havia gente lá fora, avançando com pressa de volta às suas casas. Ele só tinha a sua pistola e a sua espada consigo, mas isso era o suficiente para que a maioria lhe passasse ao largo. Avançou pelas ruas cada vez mais desertas, cada vez mais incerto da decisão que tinha tomado. Nem sequer tinha um plano, e talvez Eris tivessem razão. Mas ele era um soldado, e não iria ao chão sem lutar. Via o medo nas faces do povo, o pânico daqueles que fugiam das zonas onde Yex tinha sido vista, apavorados do poder que aquela mulher que parecia jovem trazia dentro dela.

Não demoraria até que os soldados da cidade aparecessem na pousada a fazer perguntas, e quer ele quer Eris acabaria em banho-maria por terem sequer sido vistos com Yex. Além do mais, a bruxa podia achar que o esconderijo fosse seguro, mas ele sabia que não o era tanto assim. Era uma velha casa do tempo das tribos, onde pessoas com deficiências e idosos ficavam quando já não conseguiam acompanhar a família nas suas travessias pelo deserto. Os Cavaleiros sabiam da existência de sítios como aquele e, mesmo se não soubessem da localização daquele em específico, alguém na cidade sabê-lo-ia e acabaria por contar porque os métodos da Torre eram, para usar um eufemismo, bastante persuasivos.

Ou o esconderijo seria encontrado, ou ela teria de lá sair eventualmente para ir buscar mantimentos, ou acabaria morta de outra forma qualquer. Ele não gostava de nenhuma das opções.

Uma multidão avançava em direção a ele. Apenas se ouviam os sons dos pés a bater no chão, enquanto todos tentavam manter o silêncio como se aquilo fosse impedir a bruxa de os descobrir.

–Sejam ordeiros, –disse um par de cavaleiros fardados, parados ao fundo da rua. –Não saiam das vossas casas até novas ordens!

No chão, ajoelhado à sua frente, estava um velho de cabelo enrastado a chorar. O parceiro apontava-lhe uma arma à cabeça, quase que desinteressado. Nedoy aproximou-se com cuidado.

–Eu não sei de nada, juro... –dizia o homem por entre soluços.

–Tens a certeza?

–Sim!

Mesmo ele estando de costas, ele pôde ouvir o Cavaleiro a sorrir. Nedoy começou a carregar a arma para um confronto.

–Então não nos serves de nada, não é, rebelde?

Nedoy disparou. O velho gritou mais alto, assustado, mesmo quando a pistola que lhe estava apontada à cabeça bateu no chão e os Cavaleiros se viraram para Nedoy de surpresa enquanto ele ainda recarregava a arma. Um estava agarrado ao braço ferido e o outro já estava pronto a disparar, mas aquela pequena hesitação foi o suficiente para Nedoy acabar de recarregar a pistola e para o homem se levantar para fugir.

–Nedoy? –perguntou o Cavaleiro de arma em riste, reconhecendo-o.

–Miguel, –respondeu ele, calmo demais para aquela situação. –Como tens passado?

Tinham ambos as armas carregadas, apontadas para o peito um do outro. O antigo colega de escola não mostrava nenhuma emoção, mas Nedoy estava tão calmo quanto ele, controlando a adrenalina a seu favor.

O outro Cavaleiro praguejou, tentando estancar a hemorragia, mas Miguel não desviou o olhar para não lhe dar abertura de disparar. Os malditos treinos que permitiam a Nedoy estar tão focado tinham sido exatamente os mesmos que o outro tinha tido.

–Ouvi o que fizeste, –disse, –mas, até agora, não tinha acreditado. Eras tão bom! Como raio é que alguém como tu acaba do lado errado da História?

Nedou riu-se pouco, evitando mexer a pistola. –Ficaste-me com o lugar, zero-três. Sabes que eu queria o pódio! E se para isso preciso de ir jogar noutro campeonato, que assim seja.

–Eu não acredito em ti nem por um segundo que seja, –disse ele. Miguel semicerrou os olhos, mas deixou os cantos da boca virarem-se num pequeno sorriso. –Como as coisas mudam, não é? O que raio te aconteceu?

Nedoy não respondeu. Os olhos do velho colega esbugalharam-se.

–Foi a bruxa?

Ele trincou a língua, e Miguel tomou-o como confirmação.

–Raios, Nedoy! Onde é que ela está?

–Qual bruxa? –respondeu, fingindo-se de inocente.

Qual bruxa, –gozou ele. –Não me digas que andas com mais de um desses contra-natura. Tu sabes qual bruxa! Aquela que te enfeitiçou ou que te... Sei lá, merda!

O parceiro ferido estava a recarregar a arma, lentamente por causa do crescente rio de sangue que lhe saía do buraco no braço. Atrás de si, Nedoy sentiu a energia de alguém escondido por entre os edifícios, sabendo que tinha o tempo contado. Miguel deu um passo em frente.

–Sim, sei de que bruxa falas, –admitiu, e o velho amigo fez uma careta. –Os rumores estão por todo o lado. Mas não sei onde ela está.

–Se souberes, talvez essa informação possa...

Mas não acabou a frase porque Nedoy disparou. Nem sequer viu onde a bala embateu antes de se atirar para o lado para evitar o tiro que o colega lhe lançou, aproveitando para largar a pistola descarregada e sacar da espada enquanto corria em direção a Miguel, que ainda lutava por encher a arma com pólvora.

Falhou o primeiro golpe; o adversário atirou-se para o chão para evitar a lâmina dirigida ao seu pescoço. Ergueu a espada para acabar o trabalho, mas o parceiro ferido tinha acabado de carregar a pistola e agora apontava-a para a cara dele. Por algum milagre, não foi atingido, mas aquilo deu tempo a Miguel de recarregar a sua e de a apontar ao seu abdómen.

–Sabes que sou mais rápido, –gritou o Cavaleiro, e Nedoy congelou de espada em riste, impedido de continuar o ataque. Miguel sorriu, erguendo-se devagar do chão sem nunca desviar a pistola do alvo, sem nunca lhe dar a mínima abertura. –Vá lá, isto não resolve nada! Porque é que estás a lutar comigo? Sê esperto e pousa a espada

Nedoy hesitou. Mas agora tinha duas pistolas apontadas para ele e, não sabendo se o parceiro ferido tinha tempo de recarregar, não queria testar essa hipótese.

Baixou a espada devagar até a pousar no chão. O sorriso de Miguel ficou mais largo. Pontapeou Nedoy, surpreendendo-o ao mandá-lo ao chão.

–Muito bem. Agora diz-nos onde está a bruxa e talvez saias daqui com vida.

–Não.

Um instante de raiva passou pela face do Cavaleiro. Depois, simplesmente apontou a arma para o joelho de Nedoy.

–Tu é que sab...

–Parem! –gritou Eris atrás de si, saindo do seu esconderijo entre os edifícios, aparentemente desarmada. Miguel não se mexeu, mas o parceiro virou a arma para ela.

Nedoy abriu os olhos, aliviado por ainda ter o joelho intacto.

–Princesinha, volte para a sua casa que isto são negócios oficiais. Este homem é um traidor, –disse Miguel. A sua face parecia ser feita de gelo, do tão fria que era a sua expressão. Voltou a virar todo o seu foco para Nedoy, e ele engoliu em seco, o seu coração a bater com tanta força que mal conseguia ouvir o murmúrio do colega por cima do barulho. –Não tens de sair daqui magoado. Faz a escolha certa.

O parceiro tinha ficado desinteressado em Eris e agora ambos os Cavaleiros estavam a apontar-lhe as armas. O sol do fim de tarde refletia no metal, deixando-o incapaz de ignorar a sua situação.

Mesmo assim, de mãos erguidas para se mostrar desarmado, foi-se levantando aos poucos. O colega não ia disparar sobre ele, pelo menos não enquanto achasse que tinha escolha. Conseguiu voltar a estar de pé e, com toda a confiança que conseguia, respondeu –Já fiz.

O Cavaleiro ficou surpreendido por um momento, antes da sua expressão se encher de raiva.

–Tu é que sabe...

–Não disparem, por favor! –implorou Eris, dando dois passos em frente.

Nedoy fechou os olhos, sentindo-os a começar a ficar húmidos. Ela tinha razão. Ele ia fazer com que acabassem todos mortos.

–Princesa... –Miguel olhou entre Nedoy e Eris, tentando perceber a situação. Depois sorriu. –Conhece-la, zero-quatro?

–Não, –respondeu, dando o seu melhor para soar convincente. O Cavaleiro riu-se.

–Podes não ficar muito chateado com a perda de uma perna, mas talvez... –Devagar, ergueu o braço para apontar a arma para Eris. –Talvez fiques chateado se eu te tirar a namorada, não achas?

Miguel avançou em direção a ela, lento, ameaçador. Ela estava assustada, tremendo, e tentava dar um passo atrás por cada um que o Cavaleiro dava para a frente. Nedoy tê-lo-ia atacado, mas o parceiro ferido ainda o tinha sob a mira e não havia nada que ele pudesse fazer.

Rangeu os dentes.

–Há uma oferta especial para hoje, –disse o Cavaleiro. –Só queremos saber da bruxa! –Riu-se. –Se me disseres onde ela está, deixamo-vos ir. A ti e à princesinha.

Nedoy hesitou. Eris estava parada no lugar, desarmada —devia ter saído da pousada à pressa para o seguir— com os punhos dependurados de cada lado do corpo. Ainda estava demasiado longe para conseguir tirar a arma a Miguel, que se aproximava passo a passo com um sorriso doentio na face.

Infelizmente, o cavaleiro foi inteligente o suficiente para ficar fora do alcance dela.

–Que me dizes, Nedoy? Olha que a oferta tem tempo limitado.

–Eu digo "vai-te foder".

Miguel riu. –Que pena...

–Eu sei onde a bruxa está, –disse Eris, tentando interromper o ataque.

Isso só fez Miguel sorrir mais largo.

–Arranjaste uma mulher inteligente, Nedoy! –Riu-se. –Pode ter acabado de te salvar a vida! Conta lá, princesinha: onde está a Bruxa Branca?

Ela abanou a cabeça. –Baixa a pistola, cabrão, e talvez assim considere levar-te lá.

O Cavaleiro riu, incitado pela resistência. –E se não o fizer?

–Se não o fizeres, eu fico aqui parada até morrermos todos de sede. Sabes, para que a bruxa tenha tempo de escapar.

Miguel hesitou, contando as probabilidades de cabeça. Depois baixou a arma, fazendo sinal ao parceiro para que ele mantivesse Nedoy refém.

–Temos acordo! Leve-nos lá, princesinha.

Os olhos dela cruzaram-se com os de Nedoy, cheios de dor e de raiva. Mas depois ela ignorou-o, virou-se e começou a guiar o grupo pelas curvas e contracurvas da cidade sem se voltar a virar para trás. Nedoy seguia-a, forçado pelo cano da pistola apontado às suas costas, irritado por saber que lhe seria impossível fugir da situação sem que pelo menos um dos dois acabasse morto. Chegaram a um beco, as paredes altas de arenito a servir de mais uma prisão, o cano da pistola a magoar-lhe a coluna.

–Não gozes connosco, princesa.

–Há uma porta escondida na parede da esquerda. A bruxa está lá dentro.

Nedoy sabia que ela estava a dizer a verdade porque sentia a energia de Yex atrás da porta de pedra. Ela já sabia o que se estava a passar; estava demasiado próxima para não ouvir o que Eris dizia. Miguel trocou olhares com o parceiro.

–Espero que tenha razão, menina. –Aproximou-se mais do fim do beco, procurando as bordas de onde a porta encaixava na parede. Sorriu. –E não é que tem mesmo? Vá, saiam daqui se querem viver. Não suponho que a bruxa goste muito de ser traída.

O parceiro espreitou pela rua e fez sinal a um dos guardas que patrulhavam. Depois de informado, o homem saiu a correr, presumivelmente para ir buscar reforços. Os Cavaleiros tinham as armas viradas para a porta, e Nedoy pensou em atacá-los, mas Eris interrompeu-o antes que o pudesse fazer.

–Ele tem razão, –sussurrou-lhe. –Sabes lá de que é que aquela mulher é capaz. Temos de ir embora...

Dirigiu-lhe um olhar fulminante. –Vai para um inferno que te aceite. O que é que foste fazer?

–Salvei-te a vida! –disse, incrédula. –Foi isso que eu fiz. Fizeste uma péssima escolha, e eu vim salvar-te a vida.

Miguel abriu a porta de rompante, disparando para o corredor escuro. Depois gritou, caindo no chão com convulsões, tremendo e movendo-se de formas inaturais com a arma já atirada para um canto qualquer. Yex saiu pela porta, levantando a mão para parar a bala que o outro disparou e, num instante, também ele caiu no chão. Passado poucos momentos, já estavam ambos mortos.

Yex avançou em direção a eles com passos pesados. Estava irada, isso era certo, rodeada de escuridão e com os olhos transparentes mirados numa Eris cada vez mais aterrorizada como se Nedoy nem estivesse ali.

–Tens três segundos para fugir, traidora.

Eris olhou para ele mais uma vez, cheia de mágoa, antes de se virar e correr com toda a força que tinha. Ele vacilou, pensando em ir com ela, mas Yex nem reagiu.

–Estás vivo, –disse ela, casualmente, como se não tivesse acabado de matar duas pessoas mesmo à sua frente.

Isso até fez Nedoy relaxar. Ela sabia que ele estava do seu lado e, por mais que a raiva a controlasse, ele confiava que Yex não o ia magoar.

–Vamos ver quanto é que isso dura, respondeu.

Ela estava fria, como se o sol que descia no céu não fizesse nada para aquecer aquela pele do tom de nuvens. Virou-se para o corpo de um dos soldados e tirou-lhe a pistola e o kit de balas.

–Tu também devias fugir, Nedoy. Ela é estúpida, mas tem razão numa coisa. –Atirou-lhe as coisas que roubara do morto, e ele apanhou-as do meio do ar. –Tu não fazes ideia do que eu sou capaz.

Nedoy tremeu. Ela não esperou por uma resposta, só passou por ele em direção à rua aberta, como se já se tivesse esquecido da sua presença ou apenas como se achasse que ele não importava. Ao longe, o sino de alarme começou a tocar.

–Fujam enquanto podem, –gritou para o ar, –que a Bruxa Branca está aqui!

Não havia nenhum traço de emoção na sua voz. Ela não parecia uma pessoa, parecia um espectro, um monstro de magia pura, tal como as lendas contavam. A luz do sol poente distorcia-se à sua volta e a energia dela brilhava tanto que era quase física, lutando contra as sombras em que estava coberta como miragens monstruosas. O ar estava a ficar nitidamente mais frio, e ele estremeceu.

As lendas eram reais. Oh, Deus, as lendas eram reais, e ele ia acabar por presenciá-las...

Sentia o medo a emanar de cada uma das pessoas que se escondiam nas suas casas. Alguns corajosos começaram a sair, correndo para longe, mas a maioria parecia achar que, se ficassem calados, ela não os veria. Mais sinos começaram a tocar, enchendo a cidade de barulho, e não demorou até que mais e mais gente começasse a evacuar, atemorizadas, aterrorizadas, arrastando crianças e bebés consigo, tentando ocultar os gritos dos mais novos e os seus, também. Não havia vento, só o calor denso do dia e o pânico palpável do povo, só o medo dos que fugiam dela como se fugia de uma tempestade: sabendo que eventualmente ela os ia alcançar.

Nedoy carregou a pistola e focou-se. Já se ouviam os passos treinados dos guardas que vinham tentar atacar a bruxa, e ele sabia que, se o quisesse fazer, não teria muito mais tempo para fugir.

Mas tinha decidido ficar.

Um regimento de soldados aproximava-se, já visíveis no fundo da estreita avenida. O capitão deu ordens para que disparassem, e as balas vieram a voar em direção à bruxa, coordenadas e letais.

O ar estalou, e as bolas de chumbo caíram aos pés de Yex. Ela virou-se para eles e começou a andar, lentamente, inexoravelmente, em direção ao grupo de soldados aterrorizados que estava a hesitar na troca. Mas a segunda linha, já de armas carregadas, andou até à frente e disparou.

O resultado foi o mesmo, mas agora ela já estava perto deles, perto demais para uma terceira tentativa, mesmo se eles fossem loucos a ponto de acreditar que isso faria a diferença. Uns sacaram da espada, outros tentavam recarregar a pistola, e o capitão gritava mais alto para se tentar fazer ouvir sobre o pânico do grupo. Nada disso fez a diferença.

O próprio ar pegou fogo, labaredas enormes que se colavam aos uniformes e à pele dos soldados. O tempo congelou. Nenhum deles piou, chocados demais para reagir à medida que o fogo se alastrava de um para outro como se numa floresta seca. Os gritos só chegaram depois; gritos de dor e de pânico e das armas a serem deitadas ao chão enquanto eles batiam nas roupas e se rebolavam para tentar extinguir aquele fogo mágico que os envolvia e matava aos poucos.

Mas Yex nem ficou a vê-los morrer. Virou-se, sentindo o segundo grupo de soldados que vinha da direção oposta antes de eles sequer virarem a esquina. Os olhos transparentes dela estavam cobertos daquela mesma escuridão que sugava cada raio do sol poente, e um olhar foi o suficiente para fazer aqueles soldados treinados quebrar formação.

–Não recuem! –gritava o oficial, escondido entre dois edifícios como o covarde que era. –Ela tem de ser capturada!

Mas ninguém o ouviu, e com razão, porque a bruxa murmurava uma oração qualquer e os soldados atropelavam-se para fugir. Mas não havia nenhum sítio onde aquela mulher, aquela pura deusa da vingança, não os pudesse apanhar.

O regimento inteiro caiu de uma só vez, drenado, homens agarrados ao peito ou à garganta por não conseguirem respirar. Mesmo Nedoy, que estava mais próximo da bruxa que dos soldados que asfixiavam, conseguia sentir o ar a tornar-se fino e, em resposta, o pânico que o seu corpo o fazia sentir.

Podia estar errado sobre ela? Com aquela energia toda a correr-lhe nas veias, coberta da escuridão que roubava toda a luz do sol, aquela coisa não era mais Yex. Se calhar ele era tão importante para ela quanto uma formiga, era apenas insignificante, e ela não queria saber dele. Ou então aquela coisa era mesmo a amiga? Ele não sabia de qual das respostas tinha mais medo.

E Yex avançava, uma inexorável força da natureza. Aproximou-se dos corpos inconscientes dos homens asfixiados, pegou numa das espadas e, um a um, garantiu que não voltavam a acordar.

Nedoy olhou à volta. A rua estava coberta de corpos, dezenas de almas roubadas em minutos, e ele sabia que iam de haver mais.

O sol tocou o horizonte e, com isso, a sombra que rodeava Yex começou a fraquejar. Ela deu um olhar de relance para o céu cor-de-sangue antes de continuar o trabalho, matando aqueles todos antes que o próximo grupo de guardas chegasse.

Havia quem começasse a sair das casas, assustados pelo súbito silêncio, a correr com crianças ao colo ou pela mão para ir para o mais longe possível daquela bruxa, decidindo que seria mais perigoso ficar ali do que tentar ir embora. Passos pouco silenciosos que Yex de certeza ouviu mas escolheu ignorar. Uma daquelas pessoas estava, em vez de fugir, a aproximar-se da bruxa com uma arma em riste. Ela estava de costas, coberta de sangue e de nojo, dando tempo aos civis para que fugissem.

Nedoy disparou. A multidão gritou, coberta de pânico, correndo pelas ruas e vielas onde a bruxa não os visse para se proteger das balas. Yex olhou para ele, e depois para o civil morto, mas era impossível ler a expressão dela.

–Voltem para as vossas casas! –gritou alguém, fazendo por organizar a multidão. –Não é seguro!

Mas aquela gente sabia tão bem quanto eles que, enquanto Yex ali estivesse, não haveria lugar seguro dentro da cidade.

O último grupo de guardas escondia-se atrás da esquina, discutindo com os superiores. Estes não deviam ser soldados treinados, que nem a Torre tinha tantos colocados ali. Era mais provável que fossem uma mistura de guardas e de voluntários com pouco treino que sabiam não ter qualquer hipótese contra aquele monstro e a quem a vida valia mais que a lealdade.

Nedoy tremeu. Ela parecia só uma jovem inocente, vestida com os trajes tradicionais do deserto. De cabelos brancos e de olhos fechados e, embora não fosse pequena, era franzina. Se ele não a conhecesse, se não tivesse visto o que tinha acontecido, nunca acreditaria que aquela mulher pudesse ser a causa de tamanha destruição; mais parecia a única sobrevivente de um acontecimento apocalíptico do que a causa dele. Mas Nedoy conseguia sentir a energia dela a vibrar, acordada, tão forte e visível que se confundia com o mundo físico e parecia iluminá-la através das sombras que ela própria causava. Ali, parada no meio da rua, fechava os olhos para sentir os homens que seriam a sua próxima presa. Estava coberta de sangue, nenhum dele seu, e até o sol se escondia dela ao descer sob o horizonte, pintando tudo de tons de fogo e esticando as sombras de forma quase inatural.

Já começava a ficar escuro. Três pares de Cavaleiros chegaram, cobertos por armaduras de metal que só deixavam a cara descoberta, e o grupo de soldados ganhou finalmente coragem para avançar. Dispararam desorganizadamente, e ela não teve dificuldade em desviar as balas para que não a atingissem. Desta vez não as parou, mas também não se mexeu para as evitar. Um clarão encheu o ar, imediatamente seguido de um trovão ensurdecedor. Os cavalos corriam para segurança, mas a infantaria não teve tanta sorte. Quando a eletricidade parou, metade dos soldados estavam mortos e a outra metade gritava de dor e de medo, e até os Cavaleiros, que tinham escapado ao pior do ataque, estavam a começar a temê-la. A sombra que rodeava a bruxa tinha desaparecido completamente agora que o sol desaparecia, fazendo-a voltar a parecer humana.

Mais disparos, e Yex abanou a mão para desviar as balas. Estavam a passar cada vez mais próximas dela. Até ela tinha limites, e começava agora a dar sinais do esforço imenso a que se estava a submeter. Revigorados por essa mostra de fraqueza, os soldados dispararam de novo, e de novo, e de novo, fazendo-a ergueu os braços e ergueu um escudo de terra.

–Ela está fraca! –gritou alguém.

Os Cavaleiros avançaram, fazendo por a rodear. Yex encostou-se à parede acabada de criar, focada com o que lhe restava de energia, e atacou-os para os fazer cair dos cavalos.

–Não não está!

Isso foi finalmente o suficiente para fazer os homens mal treinados fugir, ignorando os gritos e objeções dos seus superiores. Mas os Cavaleiros carregaram as pistolas, uns voltando a subir sobre as montadas e outros mais importados em neutralizá-la antes que se pudesse recuperar.

Nedoy disparou contra um, acertando-lhe na cara destapada e fazendo-o cair para o lado, morto. Yex sorriu, exausta, enquanto ele recarregava a arma para atingir outro antes que eles se apercebessem de onde o tiro tinha vindo.

–Rende-te, bruxa! –gritou um, escondendo mal o medo que fazia a sua voz tremer.

Nedoy disparou outra vez, mas a bala prendeu-se no metal da armadura. Um dos outros homens caiu sem causa aparente antes de outros dois conseguirem rodear Yex. O terceiro veio na direção de Nedoy, que não conseguiu recarregar a tempo de voltar a disparar. Sem espada, lutou o melhor que pôde, mas o Cavaleiro estava melhor armado e defendido e não demorou até ele ser capturado.

Yex sorriu, de olhos fechados e pousada no chão. –Quando é que voltarão a ter uma hipótese de me tomar viva? –disse. –Digam a Mosé que eu digo "olá", –conseguiu ainda acrescentar, fraca, antes de desmaiar.

..........

Ui, ui ui ui! Hoje foi dramático pacas, não acham? Vimos um pouco mais do que torna Yex tão perigosa, e testamos os limites deste monstro...

Sei que está um pouco confuso. Tive que reescrever esta cena praticamente do zero porque a versão original estava, se conseguirem acreditar, ainda pior. Se tiverem dicas, digam, que isto vai de certeza voltar a ser reescrito e eu vou tomar atenção a todos os comentários.

(Update do terceiro rascunho: Obrigada a quem comentou! Quem diria que é mais fácil editar uma cena quando se sabe o que se tem de fazer, uh? :)

O que é que acham de Yex, depois de ver do que ela é capaz? O que é que dizem sobre o que Eris fez, acham que teve razão? Digam-me tudo!

Não te esqueçam de deixar uma estrelinha, por favor! Este capítulo é mais longo que os do costume, e isso ajuda-me a manter-me motivada!

Beijinhos^3 :)

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