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Capítulo XLI


Apresentar Ekku ao grupo rebelde não foi difícil. Muitos aceitaram imediatamente que ele era quem dizia ser, especialmente com a palavra de Yex a corroborá-lo. Mesmo assim, a maioria das pessoas dava-lhe espaço. Sabiam de que os Originais eram capazes, muitos deles tinham visto Yex a lutar além de ouvirem os relatos de Vitomouro. Yex estava entre eles há anos, desde antes até de Eshafra existir, e eles confiavam que ela não os magoaria, mas o mesmo não podia ser dito quanto ao estranho que tinha acabado de aparecer ali.

Achiq, o pequenino, nem se importou nem mostrou a mais pequena pontada de medo. Passou o resto da viagem a acompanhar o cavalo bege de Ekkun'am e, agora que a noite chegava e que todos se sentavam à volta da fogueira para comer e ouvir histórias, ele até tinha escolhido ficar sobre o colo dele para melhor lhe ouvir as histórias. A irmã estava perto, de olho neles, escondendo mal o facto de estar tão excitada por ouvir aqueles contos quanto o irmão.

Ekku sempre tinha sido um ótimo contador de histórias. Tecia as palavras com leveza e naturalidade, pintando cenas vívidas e coloridas que dançavam nas mentes dos ouvintes, mesmo quando falava das coisas mais mundanas e normais. Mas agora, com a matéria-prima de décadas de lutas e peripécias, era ainda mais imparável. Yex não o corrigia nos detalhes, preferindo ver como o grupo se inclinava para ele para melhor ouvir o que lhes contava, pensando se não teria mesmo sido ele o primeiro a criar tantos dos mitos que hoje em dia se falava sobre os Originais.

Yex tinha estado lá, ao lado dele e dos outros magos, lutando por afastar os invasores e para proteger o deserto, as cidades, os templos... Lembrava-se de tudo com detalhes coloridos e realistas: memórias de dor e violência tendiam a, com o tempo, ficarem ainda mais vívidas para não serem esquecidas. Ainda sentia o sabor a cobre quente depois de uma batalha que destruiu todo um exército de invasores. Eles estavam rodeados de magos poderosos, não sabiam o que magia era e as suas pistolas eram lentas e fracas. Nunca tiveram hipótese.

Claro que Ekku não contava histórias sobre as outras batalhas, aquelas que eles perderam. Não contava como a cidade que agora era a Capital tinha sido capturada pelos invasores três vezes distintas, ou como cada ataque deixava menos e menos sobreviventes porque eles não queriam saber se matavam civis ou se destruíam os edifícios com os seus canhões, só queriam a posição estratégica que aquele lugar lhes dava. Não viam os nativos de Nyin como pessoas, porque lhes importaria se os ferissem?

Na altura, todos os Cavaleiros Originais estavam vivos. Achavam-se imparáveis, depois de vencerem batalha após batalha com pouco mais que um estalar de dedos. Mas não podiam estar em todo o lado ao mesmo tempo, e os invasores eram tantos que podiam. Depois, um dos Originais morreu.

Nsan era uma feiticeira impressionante, que tinha sido instrumental em criar o feitiço que permitia a Yex e a Ekku ainda estarem vivos todo este tempo depois, que deixava que o tempo não lhes destruísse o corpo aos poucos. Na altura, eles desconheciam o poder de balas, e nem ela foi capaz de impedir a chuva de chumbo que a feriu letalmente.

Mesmo depois disso, tinham ganho essa batalha. A que custo?

Já tinham perdido batalhas antes, e os horrores da guerra já lhes estavam espetados na mente há muito. E que horrores eram, com o violar de mulheres, o torturar de homens e o rapto de crianças, e com coisas ainda piores e tão impensáveis que, se não as tivesse visto, acharia que o ser humano era incapaz de tamanha maldade. Mas nunca tinham perdido um dos seus.

Os Irmãos faziam tudo pelas próprias mãos, na altura. Arrancar olhos, atear fogueiras para os que mostravam propensão para magia, mutilar homens que amavam homens e violar mulheres que amavam mulheres, cortar a língua a sábios para que não pudessem continuar as tradições... Por mais de uma vez, ela foi forçada a assistir, incapaz de ajudar enquanto crianças mais novas que Achiq ardiam queimadas por, numa tentativa fútil de salvar pais ou irmãos das piras montadas no centro das cidades, não saberem quando nem como desistir. Quem se recusasse a olhar era punido, levado até à mesma fogueira e obrigado a queimar a mão esquerda até que esta estivesse irrecuperável.

Ekku não contava nada disso. Apenas falava das vitórias, ou de como o deserto era antes do regime da Torre, ou de lendas de que era parte. Yex percebia porque ele o fazia, estava a tentar subir a moral do grupo. Mas ela achava que aquelas atrocidades tinham que ser contadas, tinham que ser recordadas, porque era perigoso esquecê-las. Tinham que se lembrar da razão porque lutavam com tanto afinco.

Por isso, enquanto acabava a refeição, ela lembrava-se.

Os brincos eram quase sagrados para a sua cultura. Todos tinham um significado específico, representando um grande feito da pessoa. Por tradição, tinham que ser oferecidos, era proibido que um indivíduo criasse o seu próprio brinco. Havia o que significava a passagem para a idade adulta, o que simbolizava o que seria traduzido como casamento, as tribos também tinham a tradição de presentear uma criança pela sua primeira caçada. O salvar de uma vida era comummente marcado dessa forma, também. Outros significavam o nascimento de um filho ou neto, ou a criação de uma nova tecnologia, ou um juramento feito aos Deuses.

Mosé adorava colecionar orelhas, com quantos mais brincos melhor. Não sabia o significado que tinham e nem queria saber, só se importava que aqueles símbolos eram importantes para os de Nyin, e, por isso, tinha um prazer doentio em roubá-los.

Ela desviou o cabelo liso para tocar na sua própria orelha. Mesmo depois deste tempo todo, só estava adornada com três brincos. No lóbulo, um círculo liso de metal polido que simbolizava a sua passagem para a idade adulta, do dia em que escolheu o seu novo nome. Mais acima, aquele que simbolizava a sua primeira caçada.

O terceiro era mais antigo ainda. Lembrava-se da sua prima lho ter entregue, disfarçado nas suas mãos cor de cobre. Aquele era o símbolo da primeira vez que conseguiu sair sob o sol do meio dia, protegida apenas pelo feitiço que aperfeiçoou. Não saiu queimada nem danificada, e a sua tribo achou necessário presenteá-la por ter vencido contra a sua própria natureza. A luz magoava-lhe os olhos muito pior do que agora, ou talvez ela simplesmente não estivesse ainda habituada à dor. Mas pelo menos conseguiu avançar pelo deserto sem que a sua pele a torturasse com escaldões dolorosos que lhe retiravam tempo de vida de cada vez que apareciam. Chamaram milagre que ela pudesse ficar sob o sol por mérito próprio, sob o seu próprio feitiço, sem a ajuda de panos nem da magia da sua mãe.

Sorriu por um momento, quase se esquecendo que tudo aquilo se tinha passado há quase dois séculos e que toda a gente envolvida se tinha há muito transformado em pó.

Arrependia-se de ter deixado a tribo tão cedo. Podia tão facilmente ter vivido os seus dias ali, envelhecendo rodeada de família, transportando comida e animais pelas rotas invisíveis que atravessavam as planícies rochosas do norte de Nyin. Aquilo era a sua casa, ou tinha-o sido, desde há muito tempo.

Em vez disso, abandonou-os à procura de um mestre mago sob o qual pudesse aprender. Funcionou, mais ou menos, e, poucos anos depois e sem esse ser o seu objetivo, abandonou também a sua mortalidade.

Se não tivesse deixado a sua tribo, será que os Originais teriam sido criados? Seria um feitiço tão complexo como os que os permitia enganar a morte possível de criar e de manter, se não fosse pelo que ela lhes ensinou sobre o roubar a luz ao sol, da forma como ela fazia para proteger a pele pálida? O Destino tinha uma forma interessante de se mostrar, e ela duvidava que a decisão que fez de sair da tribo tivesse realmente sido uma decisão sua. O feitiço funcionou, claro. Testaram-no em pequenos animais, primeiro, e depois em Lyin, no seu cavalo negro que já a acompanhava na altura. Depois foi a vez deles.

Desde essa altura que ela não aceitava brincos e não entrançava os cabelos da maneira tradicional, enrastando-o e torcendo-o com fios e em tranças decoradas com contas de vidro ou de metal e com penas decorativas. Quando prendia o seu cabelo era com algo fácil de desfazer ou simplesmente atado sob um pano que o segurasse no sítio. Sendo imortal como era, já não se achava a criatura pura que os deuses criaram e, por isso, não se achava merecedora de tais adornos. O seu arco, por exemplo, tinha-se sido dado como agradecimento em vez de um tradicional brinco.

Agora achava que não devia ter parado com a tradição. Já havia tão poucos que a seguiam e era obrigação dela mantê-las vivas pelo máximo de tempo que pudesse.

O jantar já tinha acabado há algum tempo, e as únicas pessoas que ainda comiam eram os guardas que tinham agora voltado do seu turno. Achiq começava a adormecer, lutando contra as pálpebras pesadas para tentar ouvir apenas mais uma das histórias de Ekku, e os adultos estavam a começar a sair e a ir para as tendas.

–Vai dormir, luzinha, –disse o mago, tentando convencer o pequeno. –Eu amanhã conto-te mais, eu prometo. Mas se estiveres a dormir durante o dia, não vais conseguir ouvi-las!

Ele esfregou os olhos e bocejou em forma de resposta. –Prometes? –perguntou, num sussurro.

–Sim prometo!

Eshn'stra, a irmã, tomou-o nos braços, agradecendo ao Original com o olhar por ter convencido o pequeno a finalmente adormecer. O irmão descansava-lhe com a cabeça contra o seu peito. Ekku acenou-lhe com um sorriso, deixando-os voltar para a tenda onde passariam a noite.

Agora sozinhos à volta da fogueira moribunda, ele e Yex olhavam o brilho das brasas cintilantes.

–Ouvi o que aconteceu em Nushnalt, –começou Ekku.

Ela demorou a responder. –Essas coisas acontecem. Chama-lhes ossos do ofício.

Ele riu-se sem humor, procurando as palavras certas para dizer. –Ouvi muita coisa, aliás. Sobre ti. –Hesitou, passando uma mão pelo cabelo entrançado. Quando falou, foi num sussurro leve que, para um ouvido menos atento, passaria por brisa. –Tu nunca deixaste as velhas rotas, pois não?

Yex sorriu levemente, nostálgica. Negou com a cabeça.

–Pois, –suspirou Ekku. –Não sei porque eu não fiz o mesmo. Acho que se me acabou a esperança. Mas agora que temos esta hipótese de vitória... –deixou que a sua voz se desfizesse como o fumo decrescente da fogueira moribunda, caindo em pensamentos.

Yex inclinou-se para ele para lhe poder pousar uma mão reconfortante no joelho.–O que está feito, feito está. Estás aqui, agora. Eu espero que isso faça a diferença.

Ele ergueu os olhos para a Lua, para a face da Deusa. –Tem que fazer. Temos de ganhar, Yex. Os deuses estão a olhar por nós e, mesmo se não estivessem... temos de ganhar, é só isso; não temos escolha. –Depois virou-se para ela. –Quando tudo isto acabar, pomos o resto da conversa em dia.

–Se, –corrigiu ela, mantendo os olhos nas brasas que arrefeciam sob o gelo da noite. Puxou a capa mais para si, desviando-se dele. –Temos o resto da viagem para pôr a conversa em dia, Ekku. Enquanto estamos vivos. Não sabemos nem se nem como isto vai acabar.

Ele riu-se, afastando a possibilidade.

–O que é feito dos outros, afinal? –perguntou Yex. Se ele estava vivo, era possível que mais alguns dos seus amigos também o estivessem.

–Sei lá, já não ouço nada há bastante tempo. Sei que Yinlō se pôs num barco para o velho continente como o covarde que é, e não espero que volte a Nyin tão cedo, mas deve estar vivo ainda. Se não fez uma das suas estupidezes patenteadas, está claro. –Yex riu-se. –Estive com Marln nem de Ish'ish antes de eu ir para as montanhas, mas isso foi há quase... trinta anos, acho? E nunca mais ouvi deles. Disseram que iam ficar pela sua cidade natal, mas acho que o sítio já nem mais existe.

Yex abanou a cabeça. –Não existe por causa deles, Ekku. Sei que foram atacados, depois disso. A cidade ia ser tomada pela Torre, e enquanto o povo fugiu, ficaram para trás para a defender. Não ganharam; Marln ficou lá e Ish foi capturado. Mas não foram em silêncio; destruíram a cidade toda, e, com ela, umas centenas de soldados.

Ela riu-se de tristeza, e Ekku esticou-se para pegar no seu cantil. As brasas estavam quase completamente apagadas agora, e a única luz que os iluminava era a da lua que olhava por eles.

Depois de um longo gole, ele falou. –Vrarm'yin também não se safou. Já foi há bastante tempo, e não sei se sabias, mas... –Yex abanou a cabeça. Ekku suspirou. –Pelo que ouvi, estava a viver bem, com uma namorada viúva de um casamento anterior, com dois filhos que ele amava como se fossem dele. Quando a Torre descobriu, ameaçou queimar as crianças na fogueira em frente dela se Vrarm escapasse. Ele descobriu, e entregou-se, e nunca mais ninguém ouviu dela. –Ekku deu um longo gole do seu cantil, com o olhar desfocado e distante. –Sabes o que foi pior? Depois mataram as crianças à mesma.

Yex tremeu.

–Às vezes pergunto-me se eu nunca me ter interessado nessas coisas não foi uma bênção que os Deuses me deram, –comentou.

Ekku sorriu. –Eu achava que ias mudar de ideas, na altura, sabes? Que era impossível passares a eternidade sem te apaixonares, ou...

Ela riu-se. –E eu disse logo de início que isso era uma das coisas que não ia mudar!

Ele baixou os olhos, um sorriso matreiro a dançar-lhe nos olhos. –Sim, sim, tu avisaste. E sim, eu estou finalmente convencido. –Depois inspirou fundo, e ela seguiu-o, sentindo o cheiro do fumo e a brisa da noite, e, ao longe, o cheiro do rio do qual as dunas os escondiam. –Já não és aquela miudinha que eu conheci, Yex, e eu não sei se alguma vez serei capaz de fazer a minha paz com isso.

–Já não sou essa criança há quase duzentos anos, Ekku, não deixes que a minha carinha laroca te engane. Mas tu não mudaste nada.

Ele hesitou. –Mudou tudo, Yex. Já não há nada desse tempo. Do nosso tempo.

Depois de um longo momento de silêncio, acabou por se levantar. Puxou a capa mais para si, querendo proteger-se do frio cortante da noite.

–Restamos nós, –acabou por dizer.

Ekku acenou com a cabeça, solene. –Restamos nós.

.................

Oi pessoal.

Bem, esta cena foi bem diferente do que o resto da história. Acharam-na interessante? Porque eu estou a pensar cortá-la, mas quero saber opiniões sobre isso antes de o fazer. Não é importante para a progressão da história, é só um momento de calmaria no olho do furacão, dando tempo para pensar, ponderar, e descobrir um pouco mais sobre os Cavaleiros Originais e sobre o passado de Yex.

Acham interessante? Se sim, que parte(s) em específico? Se não, porquê?

Se tiverem perguntas, façam-nas agora; talvez as possa responder no próprio texto, ou nos comentários, ou na nota que eu vou escrever/escrevi no fim do livro.

Deixem a estrelinha, por favor. Espero mesmo que tenham gostado!

E, até lá, beijinhos.

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