9 - Jimin
Yoongi destrancou o carro e parou diante da porta do motorista, esperando por Jimin, que se despedia de Jinhyon ao lado do carro de Taehyung. O Kim conseguia sentir que o ômega estava preocupado em deixar o irmão. Não que ele pensasse que Jimin não confiava nele ou temesse que algo ruim aconteceria com o irmão, mas por não ser algo comum para os dois, estarem em lugares tão diferentes do seu dia a dia e não estarem juntos. A conexão que os dois tinham era algo transcendental. Todos em volta viam isso com muita clareza.
Yoongi entrou no carro e pegou o celular, havia esquecido de avisar que chegaria tarde no trabalho hoje. Não que Jungkook fosse achar ruim, mas o Min gostava de fazer as coisas do jeito mais correto possível.
- ...Tudo bem, está tudo em ordem por aí, mas qualquer dúvida, estarei com o celular da empresa. Até mais tarde. - Yoongi finalizou a chamada quando Jimin entrou no carro. Percebeu quando ele secou, disfarçadamente, uma lágrima no canto do olho. - Não se preocupe, ele ficará bem. - Jimin o encarou cabisbaixo.
- Você confia muito no Sr Kim, não é?
- Sim. Confio nele com a minha vida. - Jimin sentiu um acalento no peito e conseguiu ficar um pouco mais calmo depois dessa declaração de extrema lealdade. - Podemos ir? - Jimin assentiu.
£££
Taehyung dirigia calmamente pela rua, dando uma conferida em Jinhyon, no banco ao seu lado, vez ou outra. Ele parecia bastante animado.
- Onde vamos, Sr Kim? - Taehyung pensou um pouco na pergunta, pois ainda não tinha pensado de fato naquilo.
- Onde gostaria de ir?
- Eu posso escolher o lugar?
- Eu tenho certeza de que um garoto como você tem muitas opções.
- Hm... deixe-me pensar... - não foi preciso nem 1 minuto para o garoto dar as sugestões. - Podemos ir ao parque nacional da cidade, ao shopping, à feira de vídeo games...nossa, isso me deixa muito animado.
- Tudo bem, então vamos por partes. - pensando nas opções de Jinhyon, Taehyung escolheu duas delas. - Que tal se fôssemos ao shopping primeiro, depois na feira de vídeo games?
- Podemos ir aos dois lugares?
- Bom, sabendo que seu irmão ficará ocupado a maior parte do dia, creio que dá sim para ir nos dois.
- Isso é ótimo! - exclamou eufórico. - E iremos com esse carro para todos os lugares?
- Você não gosta da ideia?
- Não, pelo contrário! Sempre que meu irmão e eu saímos, utilizamos o ônibus, ou vamos a pé. Mas não é como se fizéssemos isso com frequência.
- Entendo. Então você gosta desse carro?
- Ele é muito bonito, espaçoso, confortável e tem um cheiro muito bom. - Taehyung sorriu. - Eu fico imaginando como as pessoas ficariam surpresas ao ver um carro assim parando em frente a nossa casa. Nossos vizinhos morreriam de inveja e saberiam que dessa vez não estaríamos encrencados. - o Kim ficou curioso.
- Como assim, encrencados?
- O único carro que tem parado em frente a nossa casa é o do Hit.
Taehyung sabia que não devia fuçar a vida de Jimin, ele tinha o direito de contar as coisas quando quisesse, e se quisesse. Mas não podia negar que queria saber os motivos que o levaram a aceitar o contrato de Jungkook.
- Hit é uma pessoa desagradável?
- Ele não é apenas desagradável, ele é mal e asqueroso, como o Jiminie diz.
- Que tipo de maldades ele faz?
- Ele manda os homens que trabalham para ele baterem no meu appa. E eu tenho muita raiva disso, mas meu pai sabe que não deve pegar dinheiro emprestado com eles. Jiminie já brigou com ele várias vezes por isso, porém, ele não aprende nunca.
- Nossa, isso é muito triste.
- A pior parte é não saber como o appa está hoje, depois do que houve ontem. - ainda disfarçando seu interesse completo em saber os acontecimentos anteriores, Taehyung parou o carro e, sem olhar diretamente para o garoto, perguntou:
- E o que houve ontem?
- Bem, Hit chegou em casa ontem, antes do meu irmão, como sempre faz. Os homens dele bateram no appa antes mesmo de eu entrar no quarto. Não sei quanto tempo se passou, até que Jiminie fosse me ver. Bom, até aí, nenhuma novidade, as coisas sempre aconteceram desse jeito, mas teve alguma coisa a mais.
- Entendo. E o que você acha que foi?
- Quando meu Hyung saiu do quarto, disse que eu deveria ficar lá, como em toda visita daquele homem. Entretanto, ele não disse que eu não poderia ouvir a conversa atrás da porta. - ele parou de repente, ficou envergonhado. - Eu sei que isso não é certo, mas eu tinha que saber o que estava acontecendo. As vozes estavam falando ao mesmo tempo e eu não conseguia entender muita coisa, só ouvi claramente quando aquele alfa disse que adoraria ter uma conversa particular com meu Hyung.
Taehyung finalmente se virou para Jinhyon e analisou calmamente seu rosto. Em seu interior, ele não estava gostando nada do rumo que aqueles relatos estavam tomando.
- E o que eles conversaram?
- Eu não sei, eles foram para o quarto do appa, e eu não consegui ouvir. - Taehyung apoiou os dois braços no volante, cerrou um dos punhos e o pressionou sobre a boca.
- Isso não parece bom.
- Eu tenho certeza que não foi, porque meu Hyung apareceu pela janela do meu quarto e estava muito estranho.
- Estranho como?
- Ele parecia nervoso. Mas não um nervoso de irritado, estava mais para medo. Quando eu perguntei sobre o appa, ele gritou comigo. Jiminie nunca havia gritado comigo. - reticente, o garoto baixou a cabeça.
- Ele deve ter tido uma noite difícil. - Taehyung colocou a mão no ombro de Jinhyon, consolando-o.
- Alguma coisa que aquele alfa fez deixou meu irmão assim. Quando ele me ajudou a sair pela janela, seu corpo todo tremia.
- Meu Deus. - murmurou o Kim.
Taehyung sabia o que Jimin havia enfrentado naquele quarto. Não com todos os detalhes, mas o desespero com que ele chegou à casa de Yoongi ontem, depois de enfrentar uma tempestade acompanhado de uma criança, só a pior das coisas poderia tê-lo alcançado para se submeter a essa situação.
- Seu irmão vai ficar bem, eu garanto isso. Agora ele a mim a ao Yoongi para protegê-lo. - o menino encarou os olhos do Kim com uma esperança florescente.
- O Sr Min se casará com o meu Hyung?
- O quê? - encarou incrédulo o Park mais novo antes de soltar uma gargalhada profunda. - A última coisa que Yoongi faria nessa vida é se casar com um ômega. - o menino não entendeu o significado daquilo.
- Então é você quem será o alfa dele?
- Não, não serei eu. Mas tenho certeza absoluta de que eu seria um alfa de muita sorte se me casasse com ele. - Taehyung sorriu de um jeito reconfortante.
- Isso significa que você ainda ficará solteiro? - o Kim franziu as sobrancelhas.
- O que está realmente perguntando, Jinhyon?
- Bom, eu já sou um ômega crescido, e você é um alfa muito bonito e solteiro... - Taehyung gargalhou outra vez. - Do que está rindo?
- A inocência e imaginação das crianças são cativantes.
- Eu não sou mais uma criança! - afirmou emburrado.
- Tudo bem, desculpe. Mas vamos fazer o seguinte: quando você tiver pelo menos a altura do seu irmão, pensaremos em falar sobre isso outra vez. Que tal? - estendeu a mão para o pequeno, ele a apertou e eles selaram um acordo.
- Fechado!
- Ótimo! - Taehyung retirou a chave do contato e depois o cinto. - Vamos lá?
£££
O dia de Jimin foi exaustivo. Entre algumas clínicas ele fez hemograma completo, tomografia, eletrocardiograma, ecocardiograma, entre outros exames que poderiam ser feitos naquele mesmo dia.
Ele ficou surpreso em ver como foi fácil fazer aqueles exames sem precisar marcar com antecedência ou esperar alguma disponibilidade da clínica. Concluiu que quando se tem dinheiro, sua saúde pode ser a melhor possível.
Assim que saíram da primeira clínica, Yoongi entregou uma sacola para Jimin. Nela continha um aparelho celular, que ele comprou enquanto Jimin estava na sala de exames. Para sua surpresa, em algum lugar da cidade, Taehyung havia feito a mesma coisa e Jimin já tinha o número de contato do seu irmão adicionado aos favoritos.
Ele ficou feliz ao saber que poderia falar com o irmão sempre que necessário, mas ficou assustado com como as coisas estavam indo rápido.
Em menos de um dia ele já tinha feito uma bateria de exames quase completa, ele e o irmão já tinham celulares próprios e agora, almoçava com Yoongi em um restaurante onde o prato mais barato custava mais do que o seu salario do mês. Isso incluindo as horas extras.
- Sr Min, eu não me sinto confortável pagando tudo isso em uma refeição. - Jimin estava envergonhado.
- Não se preocupe com os gastos, Jimin, apenas coma.
- Eu jamais conseguiria devolver um valor como esse. Olha tudo o que o Sr já gastou comigo hoje? - Yoongi recostou na cadeira, completamente relaxado.
- Esse dinheiro foi destinado a ser gasto com o futuro ômega do meu chefe. Ou seja, você não tem que se preocupar com isso. Se não fosse gasto com você, seria gasto com outra pessoa. - ouvir aquilo não deixou Jimin mais aliviado. - Me desculpe por falar assim, Jimin, é só uma questão de realidade.
- Eu entendo. Mas não significa que seja confortável.
- Bom, se ajudar de alguma forma, não pense muito nos valores em si. Falando bem sério, você merece algum tipo de regalia pelo péssimo casamento que terá. - Jimin ficou assustado ao ouvir aquilo.
- O que isso significa?
- Não é nada ruim, fisicamente falando. Só que...sei lá, pelo que já conversamos, casar-se com o Jeon será uma tortura pra você. - inclinou-se na mesa e olhou bem nos olhos de Jimin. - Você não terá um marido que chegará do trabalho e dirá que sentiu sua falta durante o dia; não receberá atenção e carinho que um relacionamento geralmente nos proporciona. Viverão mais separados do que juntos, cada um na sua casa. Só se encontrarão para...fazer herdeiros, pois jamais seria amor e nunca poderia ser chamado de sexo porque não será prazeroso para nenhuma das duas partes, de qualquer maneira.
Jimin ficou calado, com as bochechas vermelhas e rosto baixo. Ele sabia que nada daquilo era o que ele procurava. Porém, isso não seria para a vida toda. Em alguns anos ele estaria livre. Jinhyon estaria com um bom ensino e ele ainda sairia desse casamento podendo pagar uma faculdade para ele, e para si, caso quisesse. Não era 100% ruim esse acordo.
Mas Jimin tinha uma dúvida a respeito, e não conseguiu se calar antes que sua boca formulasse a frase.
- Se ele só precisa de herdeiros, por que casamento? Ele não poderia conseguir uma barriga solidária?
Yoongi não ficou surpreso ao ouvir aquilo, ele mesmo já tinha pensando nisso diversas vezes, e falado com Jungkook sobre diversas outras.
- Alguém na posição dele, optando por uma barriga solidária, não só abriria espaço para especulações e burburinhos, como também mostraria algum tipo de...fraqueza.
- Fraqueza?
- Essa gente da alta sociedade é muito especulativa. Já houve quem não fizesse as coisas do jeito "certo" e viu seus negócios e ações irem pelo ralo por isso.
- Isso é tão...absurdo.
- Absurdo não chega nem perto de como as coisas realmente são. Você acha que o casamento do Sr Jeon será o primeiro realizado sob um contrato? - os pequenos olhos de Jimin se arregalaram. - Isso é mais comum do que se imagina. Inclusive, o casamento do pai dele foi desta forma. É o único meio de relação que ele conhece. Por isso, apesar de não concordar com o que ele propõe, não é algo novo entre os meus conhecimentos.
Jimin pensou a respeito. O pai do Sr Jeon se casou assim, ele quer se casar assim, isso significaria que seus futuros herdeiros também se casariam assim? Isso seria um ciclo sem fim?
- Então a pessoa que se casou com o pai dele, também teve que ir embora com o fim do contrato?
- Na verdade... - Yoongi se aproximou ainda mais e murmurou mais baixo. - O pai do meu chefe se apaixonou pela pessoa com quem se casou, mas não foi recíproco, porque, ao que os funcionários da residência comentaram por um certo tempo, o tipo de amor que ele nutria pelo ômega, não era nada saudável. Então, mesmo o ômega ficando na casa depois do fim do contrato, não era pelo Sr Jeon, e sim porque amava demais o herdeiro desse acordo. - ele se afastou, não precisando mais murmurar as últimas palavras. - No final das contas, o Sr Jeon concluiu que o ômega só queria ficar perto de seu filho por causa da fortuna. Então, quando as coisas ficaram insuportáveis, o ômega fugiu com outra pessoa.
- Nossa, Sr Min, achei que essas coisas só aconteciam em filmes e doramas, não na vida real.
- O que mais tem nesse mundo é casamento por interesse, por contrato, por gravidez indesejada e afins. Manter a posição e o status é mais importante do que a honra, para a maioria desses milionários.
- Parece tudo tão..."errado".
- Me desculpe a sinceridade, Jimin, mas esse não seria o seu caso?
- Acha que estou me casando por interesse no dinheiro do Sr Jeon?
- Não, de fato, pelo dinheiro. Mas sei que há uma razão muito contundente para estar aceitando passar por tudo isso. - Jimin ficou sem jeito. As mãos inquietas, ombros murchos e o rosto ainda mais vermelho. - Não o conheço muito, mas sei que seus motivos são altruístas o suficiente para tal. E algumas pessoas se casam com essa gente por isso, outras por pura ganância.
Jimin entendeu perfeitamente onde ele queria chegar. Não tinha a intenção de rebaixa-lo ou menospreza-lo por sua escolha, era uma afirmativa que muitas pessoas não têm outra escolha.
- Você acha que eu deveria recusar o contrato, Sr Min? - Yoongi o encarou por um longo tempo, mesmo sabendo exatamente o que diria. Jimin não era alguém misterioso ou que guardava muitos segredos. Só de olhar para ele ficava nítido o tipo de pessoa que ele era. Um livro aberto.
- Você pode se dar ao luxo de recusar?
E com aquela pergunta pairando sobre suas cabeças, ambos almoçaram em silêncio.
Não, Jimin não poderia se dar ao luxo dessa recusa.
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