Jimin acordou de repente, sentou na cama e olhou para todos os lados, se certificando de onde estava. Acordou assustado, com medo de que o que estava sonhando fosse realidade. Porém, não deixou de ser.

Apesar de exausto, Jimin não dormiu bem. Reviveu durante seu sono o pesadelo que aconteceu na noite passada. Com os olhos ardendo e as lágrimas prontas para deixá-los, ele levantou a cabeça e engoliu o choro. De nada ia adiantar ele chorar agora. O que passou, passou, e ficar remoendo isso só o deixaria mal e acabaria afetando o Jinhyon.

Ele olhou para o irmão que dormia tranquilamente do seu lado. Estava confortável e sereno. Jimin deitou e o observou por algum tempo.

Após os acontecimentos da última noite, Jimin estava pronto para esquecer de si mesmo e se dedicar ao bem estar de Jinhyon. Ele sabia que não poderia mais esperar nada de bom para si no futuro, então faria tudo para que o do irmão fosse o mais feliz e tranquilo possível.

Suspirou profundamente e decidiu que estava na hora de colocar em ação os novos planos.

Saiu da cama, fez sua higiene e saiu do quarto. No corredor, antes de chegar na sala, se deu conta de que não poderia ficar com a roupa caindo daquele jeito. Como chegou com as roupas encharcadas, o máximo que Yoongi pôde fazer foi oferecer algumas das suas para que ele usasse depois de um banho quente. Ele sorriu ao lembrar como o irmão ficou feliz em tomar um banho tão gostoso em um chuveiro como aquele.

Voltando à realidade, Jimin deu um pequeno nó no elástico do calção que o alfa havia lhe emprestado. Como não havia nada que coubesse no pequeno Jinhyon, ele dormiu apenas de camiseta.

Jimin chegou à sala e a claridade o cegou momentaneamente. Ao se adaptar a toda aquela luz, ele viu um céu azul muito intenso e um horizonte repleto de casinhas minúsculas. A vista ali de cima era maravilhosa. Ele se aproximou das enormes janelas e admirou a cidade em movimento lá em baixo.

— Creio que esteja com fome. — Jimin se virou rápido, assustado. — Desculpe, não foi minha intenção assustá-lo. — Taehyung fez uma leve reverência, demonstrando seu arrependimento.

— Não foi culpa sua, é só que...eu ainda tenho algumas coisas para assimilar. — Taehyung assentiu.

O silêncio reinou por alguns instantes.

— Café da manhã?

— Ah, sim. Claro! — Jimin soltou o ar que estava prendendo com o momento estranho na presença do alfa.

— Bom dia, Sr Park! — Yoongi cumprimentou o ômega. Taehyung estranhou, não era comum ele acordar de tão bom humor.

— Me chame apenas de Jimin, por favor.

— Claro, como quiser, Jimin. — o alfa devolveu a jarra de suco à mesa. — Espero que esteja tudo do seu agrado. Infelizmente não sei o que você costuma comer no café da manhã.

— Parece tudo ótimo, obrigado. — ele sentou na cadeira que Yoongi gentilmente puxou para ele.

Yoongi foi até o balcão pegar um pouco de café. Taehyung se juntou a ele e murmurou em seu ouvido:

— Jungkook vai ter sérios problemas de autocontrole com esse ômega.

— Você acha? — deu um gole no café, franzindo a sombrancelha.

— E você não? Olha só o cheiro desses feromônios logo pela manhã. — Yoongi baixou a caneca e encarou Taehyung.

— Não me diga que está animadinho com os feromônios dele. — encarou Taehyung com olhos semicerrados.

— Claro que não! — Yoongi deu um passo para voltar à mesa, mas Taehyung o segurou pelo braço. — Mas, se ele não parar de exalar feromônios, a situação vai ficar complicada para nós dois.

— Eu resolvo isso.

Os dois voltaram à mesa e sentaram do lado oposto do ômega. Yoongi tentou distrair Jimin, perguntando como estava o garotinho, se havia dormido bem. Como as respostas eram boas, Jimin exalava ainda mais feromônios ao se sentir animado. Os feromônios de um ômega pela manhã eram mais atrativos para um alfa, e isso, em termos sexuais. Por isso, os dois alfas precisavam que Jimin se controlasse.

Jimin não tinha noção do que estava acontecendo com os alfas presentes. Ele estava acostumado a acordar e não encontrar mais seu pai em casa e Jinhyon sempre estava dormindo. Sequer sabia que seus feromônios poderiam ser tão fortes, já que nunca tinha ninguém presente quando ele acordava.

Taehyung estava encostado na cadeira, se tentasse ficar um pouco mais distante, acabaria caído com ela para trás.

Yoongi prestava atenção em tudo o que Jimin dizia. Igualmente encostado na cadeira e com o braço apoiado no braço dela, cobrindo o nariz.

Jimin estava se sentindo confortável falando sobre Jinhyon, mas notou algo estranho no alfa mais alto. Ele estava ficando muito vermelho.

— Você está bem? — ficou curioso. Taehyung apenas assentiu, não conseguia dizer nada, já que estava prendendo a respiração.

— Sr Park...digo, Jimin...como sabe, somos alfas, e você ômega. — Jimin piscou, tentando acompanhar o raciocínio dele. — Então, se puder, por gentileza, conter seus feromônios, ficaríamos muito gratos. — Jimin arregalou os pequenos olhos.

— Oh, e-eu sinto muito! — Jimin se controlou, pegou um pano de prato e começou a abanar no ar, dispersando os feromônios.

Taehyung soltou o ar com sofrimento. Finalmente podia respirar, destravar as pernas e relaxar os músculos do corpo.

— Eu não tive a intenção de...bem...

— Nós entendemos! — Taehyung foi rápido na conclusão.

— Bom, já que está tudo bem, eu vou cuidar dos preparativos do contrato. — emendou Yoongi.

— Não acha que está indo um pouco rápido? — murmurou Taehyung para Yoongi.

— Claro que não! Se Jimin já está decidido...— os alfas olharam para Jimin, que engoliu seco com a situação embaraçosa.

Ele se casaria muito em breve, com um alfa que nunca viu e assinaria um contrato que, diga-se de passagem, era muito constrangedor. Uma situação a qual ele nunca imaginou estar.

Seus objetivos e sonhos eram muito diferentes dessa realidade que se formava à sua frente. Mas, que outras escolhas ele tinha para manter Jinhyon seguro e dar uma vida melhor ao irmão?

No entanto, ele não deixava de se perguntar em alguns momentos, será que era seguro aceitar esse contrato e passar os próximos anos ao lado de alguém que ele não conhece? Será que podia confiar que o tal alfa se manteria restrito às cláusulas daquele contrato? Conseguiria, de fato, a vida que seu irmão merecia?

— Sr Min, antes de qualquer coisa, quão confiável é o alfa por trás dessa proposta? — Jimin estava apreensivo com a resposta, não tinha certeza que o alfa à sua frente seria sincero, mas era o único em que podia confiar agora.

— Eu não tenho autorização para falar da vida particular do Jeon para terceiros, mas...— aquela pequena palavrinha deixou Jimin tenso. — Ele é alguém em que eu confio e que nunca quebra um contrato, por mais bizarro que ele possa parecer. Isso é algo que ele jamais quebraria.

— Ele deve ter muitos contratos minuciosos então, presumo.

— Não estou falando de contratos, Jimin, estou falando da palavra dele. — Yoongi se aproximou mais da mesa, apoiando os braços sobre ela. — Eu não concordo com esse contrato que ele está fazendo, penso que ele deveria conhecer alguém, sair algumas vezes e, se a pessoa realmente for alguém bom para ele, aí sim, deveria se casar. Mas como ele prefere desse jeito, só posso lhe assegurar que você não terá nenhum imprevisto ou contratempo, ele será executado do jeito que está estipulado e for firmado. Você tem a minha palavra de que ele não ultrapassará nenhum limite estabelecido.

— Mas você ainda pode pensar no assunto, se achar que deve. Não se sinta pressionado a fazer algo tão de repente. — Taehyung interveio. — Por mais correto que ele seja, você não é obrigado a aceitar esse contato.

— Então, você também o conhece? — Jimin ficou curioso.

— Mais do que eu costumo assumir.

— Eles são da mesma família. — afirmou Yoongi.

— Não é bem assim. — cortou Taehyung.

— Você ainda está nessa?

— Não comece, Yoongi.

— O tio dele é casado com o seu tio, então são sua família. — protestou.

— Não temos o mesmo sangue. — rebateu Taehyung.

— Namjoon é casado com Seokjin, e ainda assim, são família.

— Você tem ideia do que está falando? São família porque se casaram, você mesmo acabou de citar isso!

— O que quer dizer que, independente de sangue, família é família! — acrescentou o alfa.

Jimin olhava para Yoongi e para Taehyung cada vez que um deles se pronunciava. Estava complicado demais entender tudo aquilo.

— O que você tem contra ele? — questionou Yoongi.

— Não tenho nada, porém, também não tenho a favor!

— Tudo bem! — interrompeu Jimin. — Eu já entendi. Os dois lados da família de vocês se casaram, mas você não é próximo do Sr Jeon.

— Exato! — afirmou Taehyung. — Por mais que eu não o conheça muito bem, nesse ponto, com relação a acordos, sei que ele é extremamente confiável.

— Ok! — Jimin respirou aliviado.

— Hoje mesmo eu falarei com ele sobre você. — Yoongi se levantou, deixou a caneca na pia e voltou para a mesa, empurrando a cadeira sob ela.

— Mas assim, tão rápido? — voltou a ficar tenso o ômega.

— Ele sequer assinou o contrato. Deixe-o pensar sobre isso sem essa pressão sobre sua cabeça, Yoongi.

— Eu não pretendo mudar de ideia!

Yoongi abriu a boca para retrucar Taehyung, mas os dois alfas olharam imediatamente para Jimin com sua afirmação.

— Eu só... Não achei que tudo seria tão rápido assim, mas não pretendo mudar de ideia. Eu vou assinar o contrato.

Jimin sabia que aquela era sua única oportunidade no momento, e esperar só deixaria as coisas mais complicadas para ele e Jinhyon. No entanto, não imaginou que o futuro que estava planejando para o irmão, se iniciaria em poucos dias.

— Se você quiser, podemos esperar um pouco mais-

— Não, tudo bem. Faça as coisas como têm que ser feitas. Eu já estou decidido. — Jimin respondeu com uma confiança que deixou Taehyung desconfiado e Yoongi empolgado.

— Jimin...— Yoongi sentou na cadeira ao lado do ômega e tentou ficar calmo, apesar de estar eufórico por dentro. — Você pode planejar as coisas a seu modo. Desde a cerimônia até a recepção. Assim como a lista de convidados, o que pretende usar durante a cerimônia...

— Eu não tenho convidados pra fazer uma lista. Se o Sr Jeon tiver, isso fica por conta de vocês. Como sei que vou precisar de testemunha, tenho apenas uma pessoa que eu gostaria que estivesse lá.

— Claro, vou me atentar para isso.

— Ótimo, então não há mais o que discutir hoje. — Jimin levantou-se e fez uma leve reverência. — Se me dão licença, eu vou ver como está o Jinhyon.

Jimin saiu da cozinha e os dois alfas se encararam por algum tempo, sem comentar nada sobre a decisão que o ômega havia acabado de dar como definitiva.