15 - Núpcias
Jimin bateu a porta do banheiro, se ajoelhou diante do sanitário e expeliu tudo o que havia em seu estômago. A sensação era muito ruim. Sua cabeça latejava e seu estômago revirava. Com as mãos trêmulas, Jimin apertou o botão da descarga, sentia-se menos desconfortável depois de vomitar, mas sua cabeça ainda pesava muito. Ele sequer havia se dado conta que estava tremendo. Não sabia o que tinha acontecido, só que o cheiro forte dos feromônios de Jungkook o deixou zonzo de repente.
Jimin sentou ao lado do vaso, ergueu a cabeça e encostou já parede. O piso frio fazia os tremores diminuírem.
— Eu...preciso de um momento. — falou alto, mas sem gritar. Não ouviu resposta alguma do alfa.
Ele levantou devagar, se apoiando na pia, e tirou suas roupas. Abriu o chuveiro no morno — mais frio do que quente — e entrou debaixo d'água. Era reconfortante sentir a água sobre sua cabeça, ainda assim, ele não conseguiu ficar muito tempo de pé. Sentou debaixo do chuveiro e ficou por alguns minutos sentindo a água amenizar seus estranhos sintomas.
O que aconteceu para meu corpo reagir assim? Será que o cheiro dele, associado a tudo o que comi hoje, me deixou enjoado?
Não havia outra explicação. Ele não bebeu, não misturou diversos tipos de comidas diferentes e não se agitou tanto para afetar sua digestão.
Talvez seja alguma reação do corpo pelo nervosismo e ansiedade que passei o dia todo.
Sim, estava explicado, aquilo era consequência de sua instabilidade emocional. Mesmo que estivesse cem por cento bem antes de Jungkook chegar.
Mas na cabeça de Jimin fazia sentido. Mesmo que não tenha percebido, vê-lo tão próximo de si e tocando-o, era lógica suficiente para seu estado atual.
Jimin terminou o banho e pegou um roupão no armário. Com uma toalha, secou o cabelo e passou rapidamente uma escova. Estava pronto para voltar ao quarto e terminar logo com aquele dia exaustivo e sentimentalmente confuso.
Ele abriu a porta, devagar, quase com medo. Não sabia qual seria a reação do alfa o vê-lo de novo. Poderia estar nervoso, irritado por sua saída repentina e ainda fazê-lo esperar. Mas não foi isso que Jimin encontrou.
Jungkook estava deitado na cama, completamente largado sobre o colchão. Uma perna pendendo na lateral e o corpo atravessado no aposento. E por mais surpreendente que fosse, ele roncava de boca aberta. Jimin colocou a mão na boca para abafar o riso divertido.
— Acho que eu não fui o único a ter um dia exaustivo.
Jimin foi até ele, tentou arrumá-lo sobre a cama, mas ele parecia pesar uma tonelada. Poderia jurar que o alfa estava morto de tão inconsciente. Mas nenhum morto roncava daquele jeito.
Por fim, Jimin colocou a perna de Jungkook sobre a cama, pegou uma coberta no armário e o cobriu.
Sem ter o que fazer, Jimin sentou na cama, colocou o braço sobre os joelhos e apoiou o queixo no braço, observando o alfa dorminhoco.
Jungkook, certamente, tinha todas as atribuições de um alfa. Era alto o suficiente, tinha ombros largos e pernas compridas. Bem mais alto e bonito que Jimin, segundo o próprio ômega. Seus feromônios eram incrivelmente fortes e hipnotizantes. Qualquer ômega se renderia ao seu cheiro. No entanto, mesmo roncando feito uma britadeira, quem o visse assim, dormindo profundamente, não diria que ele é mais do que o garoto.
Seu rosto tinha traços muito juvenis. Os cabelos pretos, olhos escuros, o nariz assimétrico e os lábios finos. Uma beleza similar e única ao mesmo tempo. Jimin não tinha ideia como era possível.
Ele deitou ao lado do alfa, não muito perto, apenas o suficiente para olhar cada detalhe. Em sua orelha esquerda tinham três furinhos. Jimin ficou intrigado, jamais viu um empresário usando brincos ou algo do tipo. E naquele dia, não se lembrava de tê-lo visto usando também. Um pouco mais abaixo, Jimin observou ao longo do pescoço, seguindo até sua clavícula, um pouco exposta pela gola larga da camisa. Ele engoliu em seco por estar espiando o alfa daquele jeito. Quando pensou em levantar e deitar do outro lado da cama, Jungkook se moveu, virando-se para Jimin. Os lábios dele estavam na altura do nariz de Jimin. Se quisesse, poderia mover um pouco a cabeça para cima e beijá-lo. Mas Jungkook respirou fundo e soltou o ar pela boca, fazendo Jimin se encolher com o cheiro forte da bebida. Agora ele entendia porque o alfa apagou completamente em poucos minutos. Só que o pior ainda estava por vir.
Quando Jimin arrumou a coberta sobre Jungkook, sentiu os feromônios dele. E outra vez, começou a sentir a cabeça doer e seu estômago contrair. Se afastou rápido. Mas não foi suficiente para ficar bem. Precisou sair da cama e sentar em uma poltrona. Quanto mais longe ele ficava, melhor. Por fim, Jimin pegou outra coberta e passou a noite no móvel desconfortável.
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Jungkook nem havia aberto os olhos e sua cabeça já dava sinais claros que algo estava errado. Quando abriu os olhos, soube que era melhor não ter aberto. A luz que invadia o cômodo quase o cegou, e suas têmporas soltaram como se quisessem deixar seu corpo.
— Ah, droga! — cobriu os olhos com as mãos. Ele se remexeu na cama, mas foi uma péssima ideia. A pontada que surgiu em sua cabeça quase o fez praguejar alto.
— Isso se chama ressaca. Deveria saber que acordaria com uma, depois de ter bebido tanto na última noite.
A voz de Jimin o obrigou a abrir um dos olhos. Ele sentou rápido e encarou o ômega com descrença. Relembrando os últimos acontecimentos, ele conseguiu colocar a cabeça em ordem. Se casaram, foram para casa e passaram a noite juntos. Mas a última lembrança o deixou em alerta.
Como assim, passamos a noite juntos?
— O que está fazendo aqui? — ele puxou a coberta de uma vez, esquecendo que cada movimento seu era um pontada diferente na própria cabeça. — Você não podia ter dormido aqui. Isso está bem claro no contrato. Não podemos dividir o mesmo aposento.
— Então eu deveria ter ido dormir no seu quarto? — uma pergunta genuína, já que o ômega ficou confuso com a reação do alfa.
Quando olhou em volta, Jungkook percebeu que não estava em seu quarto. Apertou os olhos com a visão do cômodo muito claro.
— Merda! — murmurou baixo, saindo da cama. — Me desculpe. — de pé, ao lado da cama, ele olhou para Jimin que já estava vestido. — Isso significa que...nós dormimos juntos? — Jimin abriu a boca para responder, mas mordeu o lábio inferior. Ele deveria dizer que dormiram juntos, mas não exatamente juntos? — Tudo bem. Não precisa responder. Eu já entendi. — Jimin não teve tanta certeza disso. — Espero que possa me desculpar por isso. Eu não deveria ter dormido aqui. Isso não irá se repetir. — cambaleante, ele saiu do quarto.
— Tudo bem. — respondeu para ninguém.
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Yoongi passou pelo corredor sem prestar atenção à mesa vazia da secretaria. Entrou na sala de Jungkook e foi até a mesa dele, se assustando ao ver o chefe sentado em sua cadeira, enquanto sua secretária lhe entregava uma bolsa de gelo.
— Jungkook?
—Shhh, fale mais baixo, ou minha cabeça vai explodir. — grunhiu o outro.
— O que está fazendo aqui? — a voz do alfa era quase um murmúrio.
— O que mais eu poderia estar fazendo aqui?
— Precisa de mais alguma coisa, Sr?
— Não, obrigado. — a secretaria saiu.
Assim que a secretaria fechou a porta, Yoongi sentou e encarou Jungkook com expectativa. Ele esperava não ter que perguntar, mas conhecendo bem o Jeon, teria que fazê-lo.
— Não deveria estar nas suas núpcias?
— Minhas núpcias foram ontem. — Yoongi aguardou que ele continuasse, mas não aconteceu.
— E aí?
— E aí, o quê?
— Como foi?
Encabulado, o Jeon virou a cadeira para o lado mais escuro da sala e evitou ser detalhista.
— Normal. — Yoongi fez cara feia.
— Normal? Como assim, normal?
— Você não esperava que eu fosse te contar os detalhes, não é? — nesse caso, ele nem poderia se quisesse, não se lembrava de nada.
— Claro que eu não esperava por detalhes, mas certamente esperava mais do que "normal". — Jungkook o ignorou. — Certo, eu ainda quero saber.
— Por Deus, Yoongi! — levantou impaciente, mesmo com a cabeça pulsando. — Fomos para casa, apresentei o quarto dele, depois me juntei a ele e...e é isso. Acordamos juntos essa manhã. Isso é o máximo que posso dizer.
— Acordaram juntos? — se virou para ele, analisando sua reação. — Está me dizendo que dormiram juntos? — Jungkook ficou calado. — Que maravilha! — animado, Yoongi levantou e foi até ele. Jungkook apertou os olhos com o eco estridente que a voz animada do outro fez dentro de sua cabeça. — Isso é perfeito! Pelo menos eu acho. — sorriu orgulhoso. — Devo ligar para ele e pedir que permaneça na residência? — o olhar do alfa insinuava algo, e Jungkook não gostou nada daquilo.
— Não há necessidade disso. — apertou o saco de gelo na têmpora.
— Como não? Você teve sua primeira experiência com um ômega, deve estar sentindo...
— Eu estou bem, e normal. — voltou para sua cadeira.
— O que quer dizer com normal? Não sente como se precisasse de algo ou que está faltando alguém?
— Não. — ele dispensou a bolsa de gelo e voltou para o trabalho.
Yoongi achou tudo muito estranho. Para a primeira vez de um alfa, Jungkook estava muito quieto. Geralmente, as descobertas hormonais com esse contato, tendem a deixar o alfa em "alvoroço", ansioso por mais e até com os níveis de feromônios desregulados. E, realmente, Jungkook parecia normal. Excerto...
— O que há com a sua cabeça?
— Nunca mais eu bebo whisky. Nem para relaxar.
— Bebeu whisky ontem?
— Eu sei muito bem agora, não foi uma boa ideia.
— Se está com uma ressaca dessa, eu duvido que tenha bebido apenas uma dose. — Jungkook sequer olhou para ele. — Quanto você bebeu.
— O suficiente para não querer mais beber aquilo.
— Quanto? — o alfa soltou um suspiro irritado.
— Três copos. — Yoongi passou a mão pelo rosto, preocupado.
Agora tudo fazia sentido. Jungkook não tinha o hábito de beber, e com essa quantidade, notando bem que ele falou copos, não doses, Yoongi só podia chegar a duas conclusões: ele apagou ou atacou Jimin deliberadamente. Pelo estado natural do chefe, torcia para que fosse a primeira opção. Precisava ver Jimin com urgência.
— Puta merda! — Yoongi saiu às pressas da sala.
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Yoongi chegou à casa de Jimin e ele estava finalizando o almoço com seu irmão.
— Sr Min! — sorriu ao ver o alfa. — Terminamos de almoçar agora, mas ainda posso fazer um prato pra você. — Jimin foi para o fogão, destampando as panelas. — Sei que não é nada do que está acostumado, mas é bastante saudável.
— Oi, Sr Min! — cumprimentou Junhyun.
— Oi, Jinhyon! Não se preocupe, Jimin, eu estou bem. — Jimin deu de ombros.
Pelo estado do ômega, parecia tudo bem por ali. Ele estava sorridente e, até onde Yoongi pôde ver de seus braços e pescoço, ele não estava marcado.
— Jimin, será que podemos conversar?
— Claro!
— Hyung, eu posso jogar vídeo game agora? — perguntou animado.
— Nada de vídeo game ainda. Você precisa escovar os dentes, tomar um banho e fazer sua lição de casa. Depois eu irei dar uma revisada e só então, você vai poder jogar.
— Ah, poxa. — cabisbaixo, Jinhyon sumiu pelo corredor.
— Aconteceu alguma coisa, Sr Min? — Yoongi acompanhou Jimin até a sala.
— É por isso que estou aqui, para ter certeza que não. — sentou-se ao lado do ômega. — E chega de me chamar de Sr Min. Me sinto desconfortável com você me tratando assim.
— Como quiser, Yoongi. — sorriu simpático.
Yoongi devolveu o sorriso, mas ele não durou muito. Pensando em como iniciar o assunto, Yoongi limpou a garganta algumas vezes e suspirou.
— Bem, eu sei que se trata de um assunto muito particular, mas é inevitável que falemos sobre ele. Espero que entenda. — Jimin assentiu. — Eu preciso que você me conte como foi sua noite de núpcias com o Jeon. — Jimin arregalou os olhos. — Tudo bem, conte como se sentir mais confortável.
— Eu...bem...eu... — Jimin começou a sentir um calor muito estranho subir por sua nuca. — Nós chegamos e ele me apresentou meu quarto, depois me deixou sozinho. Algum tempo mais tarde ele voltou. Bem...ele sentou na cama comigo e... — o rosto de Jimin foi tomado por um vermelho rubro.
— Jimin, me conte só as partes que considerar importante. Não precisa dar todos os detalhes.
— Certo... — pensou um pouco e prosseguiu. — Bom, teve um momento que eu não me senti muito bem e precisei ir ao banheiro. Quando voltei, o Sr Jeon tinha adormecido. — Yoongi se curvou, apoiando os braços nas pernas e coçou a testa. Havia sido como ele imaginou. E esperou. — Pelo cheiro dele, creio que tenha bebido.
— É... — Yoongi levantou e caminhou pela sala. — E bebeu mais do que deveria. Ele não está acostumado a isso.
— A beber muito?
— A beber. Jungkook, nem em eventos da própria vincula, costuma beber.
— Acho que ambos tivemos um dia cansativo.
— Acho que foi mais do que isso.
— O que quer dizer?
— Nada. Apenas esqueça. — Jimin não disse nada. — Sabe o que isso significa, não sabe? — Jimin baixou a cabeça, sentindo o rosto esquentar. — O casamento não foi consumado, e isso é parte essencial do contrato.
— Eu sei. — disse baixinho.
— Eu imagino que seja complicado ter intimidade com alguém que não conhecemos, mas nesse caso, pelo acordo que vocês têm, se faz necessário.
— Tudo bem. Eu estava disposto a isso ontem, e isso não mudou. Farei o que tem que ser feito.
— Ótimo. Sendo formalizada essa parte, você não precisa se preocupar. Só será requisitado quando necessário. Para os fins de manter as outras cláusulas.
— Entendo. Pretendo manter minha parte nesse acordo, Sr Min. — Yoongi lhe deu um olhar de alerta. — Não se preocupe, Yoongi. — o alfa sorriu para ele e suspirou aliviado.
— Bom, eu vou marcar o dia para você comparecer na casa Jeon e finalizarmos essa parte. Tudo bem pra você? — Jimin assentiu.
— Yoongi...? — Jimin o encarou com curiosidade. — Ele poderia ter me dito isso essa manhã. Não precisa ter te mandado aqui para tal. Isso significa que nosso único contato, fora os requisitos do contrato, será apenas através de você.
— Ele não sabe que estou aqui. Não se lembra da última noite. Até onde ele sabe, vocês consumaram o casamento. — Jimin abriu a boca, mas não soube o que dizer. — Pois é, bebida pode ser muito prejudicial para a memória. — brincou o Min.
— Eu não quero beber assim nunca.
— E faz muito bem, Jimin. — os dois riram. — Bom, agora eu preciso voltar ao trabalho. Tenho muita coisa para colocar em ordem até o fim do dia.
— Eu só posso imaginar, porque não faço ideia do que realmente você faz. — Jimin levantou do sofá e acompanhou o Min até a porta.
— Eu cuido da vida do seu marido. É isso que eu faço. Sem mim ele não sabe nem amarrar os próprios sapatos. — zombou.
— A vida dele deve ser um caos sem a sua assistência. Mas espero que possa tirar um tempinho para tomarmos um café ou um chá qualquer dia desses.
— A parte boa desse cargo é que posso tirar mais férias que um trabalhador comum. — abriu a porta e saiu.
— Então podemos marcar, sem problemas, uma saída para um café. — assentiu o alfa.
— Até breve, Jimin.
— Tchau, Yoongi.
Yoongi seguiu pelo corredor e apertou o botão do elevador, aguardando o mesmo, quando as portas abriram e um par de olhos animados fitou os dele. O alfa demorou alguns segundos para voltar a realidade. Aqueles olhos carregavam uma imensidão de mistérios, e o atraiu como mariposa na luz.
Ele observou o sujeito: rosto redondo, cabelos castanhos escuros, olhos pequenos, um nariz perfeito e com lábios de amor. Sim, aqueles lábios tinham um lindo formato de coração.
— Eu posso...? — perguntou a Yoongi, apontando para o corredor.
— Ah, claro! — ele se afastou um pouco, deixando o outro sair. — Me desculpe.
Desconcertado, o alfa entrou no cubículo de metal e apertou o botão do térreo. Mas o rapaz ainda estava no corredor, observando-o.
— Tenha um bom dia, Sr Min!
Franzindo as sobrancelhas, Yoongi estranhou a casualidade com que o rapaz lhe tratou. E como ele sabia seu nome? Quando voltou a si, as portas já tinham fechado.
— Quem é ele?
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