— Ora, eu não sabia que o início do expediente tinha mudado de horário. — Jungkook comentou sarcástico quando Yoongi entrou em sua sala no final do dia.

— Você é um homem de muita sorte por ainda poder usufruir da minha presença por aqui hoje. — Yoongi deixou uma pasta na mesa de JK e sentou-se confortavelmente em uma poltrona.

— E ainda veio de bom humor, que maravilha. — apesar da piada, Jungkook não apreciava em nada o desaparecimento de Yoongi. — O que é isto? — pegou a pasta, mas encarou o Min antes de abri-la.

— Agora é oficial. Você se casará em breve. — Yoongi se divertiu com a expressão de surpresa no rosto do Jeon. — Estive fora o dia todo porque levei seu candidato a matrimônio para fazer o check-up dele. Enquanto eu o acompanhava, os advogados fizeram um trabalho minucioso com antecedentes e averiguando todo o passado da sua "vítima". — JK jogou a pasta na mesa e se levantou.

— Não gosto quando você usa esse tipo de palavreado.

— Mas isto é o que ele será. — irritado, JK se virou para ele, pronto para uma retórica, mas Yoongi não lhe deu chance. — O que você está propondo é bom, mas o que pede em troca é, no mínimo, covarde.

— Yoongi!

— Tá, tá, eu já sei toda a lorota que você vai discursar aí. — Yoongi se levantou e seguiu para a porta. — Só vim buscar o contrato formalizado com o advogado e lhe entregar isso, — apontou para a pasta. — caso queira dar uma olhada. Boa noite! — saiu da sala, deixando JK sozinho.

Quão errado toda aquela situação era, para Yoongi não deixar de criticá-lo um dia sequer?

Jungkook se aproximou da mesa, pegou a pasta e abriu. No cabeçalho de um dos exames constava: Park Jimin, 24 anos, ômega. Abaixo tinha a altura, peso e alguns números de cartão de saúde e de seus documentos. Jungkook, curiosamente, averiguou cada uma das folhas, e no final daquela papelada, tinha uma foto de Jimin.

O rosto do ômega estava bem visível, ainda assim, JK acendeu um dos abajures em sua mesa, e conferiu mais de perto a imagem.

Minha nossa... Ele é muito bonito.

Os olhos pequenos, as bochechas redondinhas, os cabelos castanhos escuros, o nariz perfeitamente simétrico e os lábios volumosos. Como alguém poderia ser tão bonito assim em uma foto?

Yoongi chegou da porta e viu Jungkook encarando fixamente a foto. Ele pretendia avisar a JK que no dia seguinte passaria logo cedo na casa dele para levar o contrato para ele também assinar, e no restante do dia não estaria disponível, pois trataria dos preparativos para o casamento. Mas ver aquela cena, era melhor do que qualquer coisa.

Eu sabia que você era curioso o suficiente para olhar tudo até o final. — Yoongi triunfava mentalmente. Ninguém conhecia tão bem JK quanto ele. Saiu no mesmo silêncio no qual havia chegado e foi para casa.

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Jimin tinha colocado Jinhyon para dormir. Aquele foi um bom dia. Seu irmão tomou café da manhã, almoçou, lanchou à tarde e jantou seu prato favorito. Fez devidamente suas refeições do dia, o que deixava Jimin muito aliviado.

O que não o deixou muito contente foi Taehyung ter lhe comprado, além do celular, também um vídeo game. Seu irmão não podia começar a se acostumar com uma vida de facilidades que nunca teve. Isso poderia ser nocivo. E ele pretendia manter a humildade em seu irmão, lembrando-o que as coisas não vêm fáceis desse jeito. Sempre há um preço a pagar.

— Você está bem? — Taehyung se aproximou devagar, apesar de tê-lo chamado pelo nome, mas ele estava distraído demais para ouvir.

— Desculpe, eu não vi você chegar. — Jimin estava na sala de tv. Havia algo na tela, mas ele não sabia dizer o que era, não estava prestando atenção há muito tempo.

— Não se preocupe, não quis te atrapalhar.

— Você não está me atrapalhando, pelo contrário, está me tirando de um pesadelo. — Jimin tentou brincar com as palavras, mas não saiu do jeito que ele queria.

— Posso? — o Kim apontou para um canto do sofá.

— Claro! Afinal de contas, a casa é sua.

— Não precisa ser tão direto.

— Me perdoe, eu só...

— Você tem o hábito de pedir muitas desculpas. — Jimin o encarou em dúvida. Não sabia se aquilo era uma crítica ou um elogio.

— Me des... — o resto da frase morreu nos lábios de Jimin.

Eles ficaram em silêncio por um tempo. Taehyung tentando acompanhar o que se passava na tv. Jimin, encabulado e envergonhado, sem ao menos saber o porquê.

— Espero que o Jinhyon não tenha lhe dado trabalho hoje. — Taehyung olhou para Jimin, com um sorriso sincero no rosto.

— O seu irmão é um garoto inteligente, esperto e lembra de você o tempo todo. — Jimin tentou não sorrir, mas fracassou. — E muito galante, também.

— Galante?

— Eu tenho quase certeza que fui pedido em casamento. — Jimin riu alto.

Taehyung observava o jeito como Jimin se deixava levar por um momento de descontração. Parecia tão genuína sua reação, que chegava a ser incrível.

— Você deveria sorrir mais vezes, a alegria lhe cai muito bem.

— Eu não tenho tido muitos motivos para isso. — soou melancólico.

— Eu imagino.

— Duvido que consiga. — Taehyung olhou tão fixamente para os olhos de Jimin, que ele se sentiu de alma despida. — Desculpe. — ficaram em silêncio outra vez.

— Às vezes, não nos faz bem guardar tanto peso. — Jimin tentou encontrar no rosto dele resquício do que ele queria dizer com aquilo. Do que ele sabia? — Por mais que a gente tente guardar tudo, não conseguimos. Por isso, acho seu irmão tão esperto. — Jimin não disse nada, tinha medo de perguntar e ouvir algo doloroso. — Ele sabe exatamente com quem não falar de certo assunto e como evitar abrir ainda mais as feridas. — Jimin não se conteve.

— Ai meu Deus!

— Não, por favor, não chore.

— Eu não queria que ele soubesse de coisas...assim.

— Eu entendi que você é daqueles irmãos que carregam o mundo todo nas costas, só para que ele não tenha ideia de o quanto isso pesa. Sei que quer protegê-lo. Mas ele também está protegendo você. Por mais que você não consiga ver isso.

— Ele é só um garoto...

— Um garoto que sabe todo o esforço que você faz por ele. Acredite, ele entende isso. Mas não passaria a vida todo alheio aos acontecimentos ao seu redor.

Curvado sobre as pernas, Jimin escondia o rosto e se desmanchava em lágrimas. Taehyung se aproximou mais dele e passou a mão em suas costas, confortando-o.

— Tudo bem, se precisa chorar, então chore.

Taehyung levantou e saiu da sala. Voltou logo em seguida, com um copo d'água.

— Tome, beba um pouco de água, vai se sentir melhor. — Jimin pegou o copo com as mãos trêmulas e bebeu pelo menos a metade. — Procure ver o lado bom disso.

— E qual é o lado bom?

— Apesar de saber tudo o que você passa para mantê-lo bem, ele não desmoronou até aqui. — Jimin encarou os olhos do Kim. — Ele é um garoto forte. Você o fez ser forte. — mais lágrimas brotaram dos olhos do Park. — Certo, me dê isso. — pegou o copo da mão de Jimin e colocou no chão, ao lado do sofá. — Todo mundo tem um porto seguro, e você é o dele. E tenho certeza que ele é o seu.

Jimin chorou ainda mais. Taehyung os conhecia há menos de 24 horas, e já havia desvendado os segredos que ele guardou a vida toda.

Jimin sentiu quando Taehyung o puxou levemente pelos braços e o abraçou firme e gentil.

— Vocês são tudo um para o outro; vocês têm um ao outro. Isso é mais do que motivo para saber o que é confiança, companheirismo e lealdade.

Jimin envolveu os braços no tronco de Taehyung e se aconchegou em seu abraço. Se sentia confortável ali. Era quente, cheirava a sabonete e tinha um toque de compreensão que ele nunca havia recebido antes.

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Yoongi chegou em casa e tudo estava em silêncio. Imaginava que Taehyung lhe esperava no quarto e que Jimin já havia se recolhido com seu irmão.

Ele deixou chaves, carteira e celular no aparador da entrada. Tirou o blazer e jogou no braço do sofá. Folgou a gravata e foi até a cozinha. Na dúvida do que beber (se escolheria uma cerveja, uma taça de vinho ou um conhaque) optou por não beber nada, foi para o quarto.

Na entrada do corredor, a luz turva da sala de tv chamou sua atenção. Ele abriu mais a porta e se deparou com Jimin deitado no colo de Taehyung.

O Kim olhou para ele e fez apenas um gesto: o dedo indicador nos lábios, pedindo que ele não fizesse barulho. Taehyung puxou uma das almofadas e cuidadosamente apoiou a cabeça de Jimin. Assim que o ômega se aninhou no móvel, ambos saíram da sala.

— O que aconteceu? Por que ele estava dormindo no seu colo?

— Espero que isso seja uma pergunta genuína e não ciúme. — Taehyung foi para a cozinha, com Yoongi logo atrás dele.

— Claro que não estou com ciúmes, mas você está empregnado dos feromônios dele.

— Como você mesmo pode sentir, não são o tipo de feromônios para se ter ciúme. — Yoongi suspirou pesado.

— Tudo bem, você vai me dizer o que aconteceu, ou não? — Taehyung parou e olhou fixamente nos olhos de Yoongi.

— Yoon, precisamos ajudá-lo. — o tom usado pelo Kim deixou Yoongi preocupado.

— Estamos fazendo isso. Ou não?

— Estamos? Jogando ele nas mãos do Jungkook? Um homem que só quer tirar proveito do corpo dele?

— De onde está tirando isso, Taehyung?

— Yoongi... — Taehyung parou junto a pia, de frente para o alfa, e cruzou os braços no peito largo. — O pouco tempo que passei com o Jinhyon hoje, foi muito esclarecedor. E conversar com o Jimin agora à noite, só deixou claro as minhas suspeitas. — Yoongi apenas arqueou as sobrancelhas. — Ele recorreu a esse contrato absurdo para fugir da situação em que estava. Precisava ficar longe de um alfa inescrupuloso que, segundo tudo o que eu ouvi e pude concluir, abusou fisicamente dele ontem. — os olhos de Yoongi dobraram de tamanho. Estava absorto com o que acabava de ouvir.

— Tem certeza disso?

— Faz sentido pra você ele ter aparecido aqui daquele jeito noite passada? Carregando o irmão debaixo daquela tempestade?

— Meu Deus! — Yoongi puxou uma cadeira e se sentou.

— Pelo que eu entendi da vida deles, ele não só sofreu esse abuso ontem, como também vinha sofrendo abuso psicológico por muito tempo.

— Eu não tinha ideia disso.

— Como poderia? — Taehyung pegou duas longnecks na geladeira. Abriu as duas e entregou uma a Yoongi. — Não podemos deixá-lo assinar esse contrato. — Yoongi o encarou em dúvida. — Imagina tudo o que ele vai reviver toda vez que o Jungkook procurá-lo apenas para "fazer um herdeiro".

— Eu vou ajudá-lo, e vai ser com esse casamento.

— Yoongi...

— E...não apenas ele. Ajudaremos o Jungkook também.

— Do que está falando?

— O Jungkook precisa de alguém como ele em sua vida. Alguém sensível, altruísta e forte. — Taehyung tentou protestar, mas Yoongi foi mais rápido. — Você conhece alguém que passou por uma monstruosidade dessa em uma noite, e se manteve firme no dia seguinte, como ele fez hoje?

— Não.

— Então, é isso. Depois do que presenciei com o Jungkook hoje, não existe ninguém nesse mundo, que pode mudar completamente a cabeça, e o coração do Jeon, como o Jimin faria.

— Está mesmo convicto disso?

— Estou. — Yoongi pegou sua garrafa e brindou na de Taehyung, dando um gole generoso da bebida.