• nota 34
Sonhei que você tinha voltado da sua viagem para "o lado de lá". Cheguei a sonhar com o barulho do seu tênis molhado encharcando meu tapete, e a voz rouca tossindo antes de anunciar que chegou. Você entrou no quarto, me assistiu pentear o cabelo e tirou as jaquetas. Desamarrou o cadarço e me puxou pra cama, num abraço quente e despreocupado, escondendo sua infelicidade por trás de um olhar destemido.
Tive medo. Meus dedos contornaram os ossos da sua costela que estavam cobertos pelo tecido grosso da camisa vermelha, e eu sentia seu peito subindo e descendo numa velocidade rápida. Passei a unha de leve pelo teu peito e decidi pra mim mesma que você tinha as pintas na clavícula mais bonitas que eu pudesse contar. Percebi que meu corpo tinha sede de você, da sua língua, do sabor perdido de cerveja gelada e essa dormência nos meus lábios ao tocar os seus. Seus cílios encostando na pele do meu rosto e o aperto firme na cintura me fizeram imaginar um nome bonito suficiente pra descrever a saudade que eu tinha de você. Um nome bonito e doloroso.
Não sei quando ou porquê, mas uma onda muito rápida fez meu peito saltar. Eu estava do seu lado da cama quando acordei. Meus dedos seguravam forte o edredom e as cortinas na janela voavam numa dança melancólica. Voltei a ser só uma parede velha descascando a cor, necessitada por reboco. Tenho estado doente.
Te queria aqui.
Mas tudo o que eu tenho é uma testa suando enquanto escrevo com a mão dolorida, trazendo à tona essas palavras que sangram de um jeito bizarro no papel.
Tô aqui, perdida de mim mesma, brincando de ser deus e criando uns mundinhos malditos por aí. Criando universos, sabendo sentar no meu trono e admitir que o ego entope minha garganta mais do que eu gostaria de admitir.
Da forma mais bela, não sei descrever ao certo, mas me desvaneci da minha própria voz e voei. Longe da minha própria pele e das lembranças do seu toque, eu morria belamente em um grito cortante e silencioso.
Há pássaros coloridos cantando na janela do meu quarto. Eles não são bem vindos.
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