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Capítulo 3 - FILIPE

FILIPE

 "Muitos são os planos

no coração do homem,

mas o que prevalece é o

propósito do Senhor."

Provérbios 19:21

Aos 10 anos de idade

Subo os degraus da pequena paróquia sem pressa, perdido nos meus pensamentos. Eu precisava vir pedir ajuda a Deus.

— Filipe! — A voz do padre Túlio ecoa atrás de mim e viro-me devagar. — O que está havendo?

— Nada, padre.

— Filipe, eu te conheço desde que nasceu. Conte-me, talvez eu possa te ajudar.

Aperto os lábios e penso por alguns segundos. O Padre senta-se na escada, acenando para que eu faça o mesmo. Sento-me ao seu lado e resolvo pedir a sua opinião.

— Diga. O que te aflige?

— Sabe o que é Padre? Eu queria fazer uma pergunta à mamãe.

Ele franze o cenho, observando-me de lado.

— E por que essa pergunta o deixa tão abatido?

— Porque é sobre meu pai.

— Hum.

— Sei que ela fica triste quando se lembra dele, sabe? E não sei como perguntar isso a ela.

— Filipe, você ainda é muito novo para entender os problemas de adultos. Dona Paola deve ter seus motivos.

— Eu sei. Eu só queria mesmo saber o nome dele e por que ele não quis ficar perto de mim.

— Nem sempre as coisas na vida são do jeito que gostaríamos que fossem, menino. Há muitas coisas que vão além da nossa compreensão.

Abaixo a cabeça, tentando entender o que ele quer dizer.

— Você não tem problemas, padre.

Para o meu espanto, ele solta uma risada alta. Eu não tinha dito nada engraçado.

— Tenho. Mais do que gostaria, e menos do que muitos por aí. Deus não nos dá um fardo maior que possamos carregar. Pense nisso, tudo bem?

Faço que sim, finalmente compreendendo alguma coisa.

— Sua bênção, padre.

Sua mão vai à minha testa e fecho meus olhos, sentindo o amor de Deus tocar pela primeira vez em minha alma.

— Deus te abençoe, meu filho. Deus te abençoe.

***

Deixar para trás o velho Túlio, Milena e Bruno foi a parte mais dolorosa. Mais até do que eu havia imaginado.

Por alguns dias Milena ainda tentou me fazer contestar o lugar para onde eu estava sendo transferido, mas eu me mantive firme. Não poderia deixar ninguém me fazer abandonar daquilo que me foi designado. Acho que ela ainda não havia entendido que no dia da minha ordenação, eu me tornei outro homem. Então, assim que percebeu que o dia da viagem se aproximava, ela me fez prometer inúmeras coisas.

Eu também estava ciente de que a minha partida iria estreitar os laços afetivos do casal. Minha mudança seria boa para todos.

Bruno estava feliz por mim, dizendo que assim que tirasse férias iriam me visitar. Bispo Túlio me deu um abraço apertado de despedida. Ele também estava feliz. Aliás, ele sabia o quanto fez parte de toda a minha história.

Não me esquecerei das suas palavras: a pior coisa na vida é começar algo e nunca terminar. Vai em frente, garoto, não olhe para trás e não leve a vida tão a sério. Conclua a etapa da sua vida que escolheu e, que Deus o acompanhe. Depois me fez afirmar que enviaria garrafas de vinho direto da fonte.

Malas prontas, festinha de despedida organizada pelos fiéis e vários presentes recebidos, a maioria casacos e cachecóis confeccionados à mão.

Eu estava mais calmo e menos irritado. A ansiedade tinha ficado de lado e me apeguei aos conselhos do Bispo Túlio.

Até que o grande dia chegou e uma nova fase da minha vida teve início.

Enquanto tento me aquecer, relembro o dia inteiro.

Peguei um voo direto para Porto Alegre e depois um táxi no aeroporto já sentindo a diferença no clima e conforme subia a serra, o friozinho se fazia mais intenso.

Duas horas depois, adentramos no Vale dos Vinhedos e fui recepcionado por uma enorme placa que mostrava de forma turística, as grandes vinícolas da região.

As grandes parreiras de uva contrastavam com a paisagem de céu azul brilhante. As casas modestas e de madeira me faziam quase acreditar que eu estava em outro país. Havia ainda muitos restaurantes e hotéis luxuosos, em meio as vinícolas.

Poucos quilômetros depois avistei as torres da Igreja Matriz que avisa a chegada à minúscula cidade de Monte Belo do Sul, com menos de três mil habitantes, situada dentro do Vale dos Vinhedos. Perdi as contas de quantas vezes naveguei pelo Google Maps antes de chegar aqui.

O taxista, que também não conhecia a cidade, foi dirigindo devagar. A percepção da pequena cidadezinha, à primeira vista, foi de uma tranquilidade plena, rodeada por montes de parreiras de uvas. Poucas pessoas andavam nas largas ruas naquele fim de tarde. Para quem vem de uma cidade grande, onde tudo é apertado e com grande concorrência, lugar com espaço aberto e rural traz uma sensação de paz. É assim que me sinto quando avisto por completo a esplêndida Igreja Matriz de São Francisco de Assis de frente para uma praça arborizada.

Paguei a corrida ao taxista, desci do carro com minhas malas, olhei em volta e voltei a sentir frio na barriga. A praça estava vazia, e fiquei encantado quando ouvi as primeiras badaladas daquela igreja junto com o canto de pássaros. Seria outra vida. Eu conseguia sentir isso.

A porta principal da igreja estava fechada, mas resolvi arriscar. Bati e aguardei por alguns minutos, mas ninguém me recepcionou.

Confirmei pelo celular o último e-mail que recebi do bispo da região. Dia, ok. Horário, ok. Local, ok. Deveria haver alguém para me receber aqui.

Liguei para o contato do padre Giovanni que estava no e-mail, mas ninguém atendeu também. O frio aumentou e peguei um dos meus casacos de dentro da mala. Resolvi deixar as malas em frente à portaria da Igreja e sentei-me em um dos bancos da praça, esperando a chegada de alguém. Pensei em ligar para o Túlio, mas ele não seria de muita ajuda.

Relembro o relatório que me enviaram. Padre Giovanni teria oitenta e poucos anos. Estaria lúcido e ativo, mas precisava de auxílio até que ele partisse e, então, eu assumiria a igreja.

Uma hora depois, fui surpreendido por uma luz. Um carro parou com os faróis ligados, e uma moça desceu e veio em minha direção. Era quase uma luz no fim do túnel. Eu poderia até dizer que uma luz saía, realmente, dela.

De cabelos castanhos ondulados e olhos negros e grandes, a moça passou direto por mim sem me perceber ali. Sua pele branca como as nuvens e as bochechas levemente rosadas chamaram minha atenção.

Ela olhou para a igreja como se a encarasse para algum desafio e falou algo que eu não compreendi.

Foi o suficiente para perceber que ela não estava ali por minha causa.

Desenganado, voltei a sentar.

Então a moça retornou minutos depois com um sorriso perguntando se eu era o Fê. Achei estranho. Não me recordava da última vez que alguém tinha me chamado de Fê. Eu deveria ter perguntado onde estava o padre Giovanni de imediato, mas resolvi esperar a presença da tal Giulia que, pelo o que pude entender, saberia o que fazer comigo.

E agora, cá estou eu. Parado. Depois de recapitular todo o dia. Em um bar. Com uma linda mulher à minha frente me chamando de Fê.

Alguma coisa dentro de mim liga o sinal de alerta quando percebi o brilho que cintilava dos olhos dela de forma majestosa, algo que parece atrair os meus olhos sem uma razão explicável.

Sou apresentado ao seu namorado e vejo que comemoram um dia importante para ela. Talvez esse seja o motivo do seu brilho.

Até me sinto um idiota por não me recordar do nome da profissão de quem faz o vinho. E eu me pego sorrindo.

Por um momento, tenho a sensação de que a adaptação aqui será mais fácil do que imaginei. Eu já estou sendo chamado de Fê; fui recebido por boas pessoas e seria acolhido de forma carinhosa por aquela pequena cidade.

Mas isso dura somente até eu entender que o tal Fê não era eu, Filipe.

— Esse não é o Fê? O seu Fê? — Aurora pergunta a tal Giulia, com as sobrancelhas arqueadas.

Seu Fê?

Giulia, uma loira alta de olhos claros, se mantém ao meu lado. Ela me olha de cima a baixo e sorri.

— Não — nega com a cabeça. — Esse não é o meu Fê, mas, se ele quiser — ela me dá uma piscadela —, pode ser o que quiser.

Aurora revira os olhos e me olha.

Eu não sei se rio ou choro.

— Desculpe, a culpa foi minha, eu pensei que...

— Não — digo. — Foi uma coincidência. Meu nome é Filipe e eu estava esperando uma pessoa e...

— O meu gato se chama Felício. Mas vendo por outros Fês, acho que o meu nem é tão gato assim.

— Pare de brincadeira, Giulia — repreende Aurora, colocando a mão no braço da amiga. — Tem algo que eu ou até mesmo a Giulia possamos fazer para te ajudar? O Pablo conhece....

— O que tem eu? — Pablo reaparece ao nosso lado, colocando taças em cima da mesa.

— Ele não é o meu Fê, Pablo — diz Giulia para o rapaz, fazendo beicinho.

Ele acha engraçado e planta as mãos na cintura.

— Como assim?

— Eu o encontrei na praça e foi um acaso de nomes e... — começa Aurora, ligeiramente envergonhada, ajeitando o cabelo para trás do pescoço.

— Mas então, a pergunta que não quer calar, amigos, é: quem você estava esperando? — Giulia questiona com curiosidade.

— Eu não conheço pessoalmente, mas talvez vocês...

— Ah! Seu danado! Tinder, não é? — Giulia me corta, dando um tapinha em meu ombro. — Esse aplicativo de relacionamentos é uma coisa de louco mesmo. Confesso que saí com alguns caras, mas não deu certo. Alguns eram um horror pessoalmente. Se você aparecesse pra mim, com certeza eu daria um Super Like.

— Não. — Sorrio, sem jeito, negando com a mão. — Não tem nada de aplicativo ou...

— Calma. Não precisa ficar espantado. Eu não mordo. Não até pedirem... — Ela faz uma cara sexy. Poderia apostar que estava com uma dose a mais de álcool no sangue.

— Não é isso. — Deus, que confusão eu me meti! — Eu estou esperando pelo padre da Igreja Matriz. Padre Giovanni. Vocês devem conhecer.

Giulia faz um bico e Aurora levanta um pouco a sobrancelha.

— Ele sabe que eu estava chegando. Bom, deveria saber. Talvez tenha se esquecido...

— Hoje é dia de missa no Caravaggio — conta Aurora. — Sei por que minha mãe está lá. Quanto mais perto da colheita, mas o padre se mexe. Apelam pra tudo.

Franzo o cenho. Seu descaso no jeito de falar me deixa intrigado.

— Será que ele lembra como rezar uma missa? Dizem que a memória dele anda meio... — Giulia torce a boca.

Aurora olha para o celular.

— Ele não deve demorar pra chegar.

— Eu os agradeço pela ajuda — digo. — Mas acho que vou esperar lá na praça e...

— Não foge de mim, Fê — brinca Giulia ao meu lado. Acho que essa menina é doida.

— Que nada — diz Pablo — Estamos em casa, nada melhor do que esperar bebendo o novo vinho! Vai negar, Filipe? — Ele ergue a garrafa em sua mão com entusiasmo.

— Fique com a gente. Será um prazer — fala Aurora, com um jeito angelical.

Analiso de forma sutil aqueles jovens, levando uma vida leve com risadas e alegria. Eles não são tão mais jovens do que eu.

O problema é que eu sempre tenho a péssima mania de colocar distância entre as pessoas.

Respiro fundo e aceito o convite. Estou em uma nova cidade e preciso de novos amigos. Talvez seja uma oportunidade ímpar para mudar as coisas que eu não concordo em mim.

Aurora não para de sorrir. Por um segundo, penso que talvez ela nunca tenha parado.

O estranho nessa noite não era o fato de Giovanni ter me esquecido em uma cidade onde não conheço ninguém, mas sim a forma como fico inquieto quando Aurora me olha.

Em alguns momentos me arrependo de ter aceitado o convite de esperar com eles. Mas provar o novo vinho criado por ela muda minha ideia. Bispo Túlio certamente o aprovaria.

— Posso encontrar o padre com uma ligação! — Tomo um susto quando a ouço ao meu lado. — Minha mãe com certeza está com ele. Posso ligar para ela.

Balanço a cabeça, fingindo normalidade.

Assim, tão próxima a mim, posso ver com mais nitidez seus olhos. Eles são cor de jabuticaba, envolvidos por grandes cílios. O pequeno pingente em seu pescoço em formato de flor de lótus brilha como seus olhos.

— Não se preocupe. Eu aguardo. — Não iria atrapalhar a missa.

— Gostou?

— Do quê? — pergunto, aturdido, atrapalhando-me em pensar que talvez tivesse sido indiscreto.

— Do vinho. Gostou do vinho?

Eu já havia bebido toda a minha taça.

— Ah, sim... É o melhor que já tomei.

Ela abre um sorriso. Não um sorriso de gratidão, mas de incredulidade.

— É sério — enfatizo, achando graça da sua reação.

— Acho que não tomou muitos vinhos na vida, Filipe. — Ela coloca o cotovelo sobre a mesa e escora o rosto, olhando-me com interesse.

Não. Na verdade, beber vinho fora da comunhão não era mais aceitável. Mas eu não me sentia um pecador.

— Poucos, mas tenho um grande amigo que irá adorar receber uma garrafa dessas de presente. Acho que teremos tempo para você me ajudar nisso.

Ela fica séria. Percebo um pequeno vacilo no seu sorriso. Mas então o som da voz do Pablo é ouvido por cada canto do lugar, atraindo a nossa atenção.

— Boa noite, pessoal. O dia hoje é especial. — Ele está em um pequeno palco e mantém a garrafa de vinho na mão. — Esse vinho é a nova criação da Casa Fontenelle, criado pela Aurora. Inclusive, já fiz um pedido grande para ser vendido aqui no bar. — As pessoas comemoram. — Para deixar essa noite ainda mais linda, e já que o nosso cantor não deu as caras hoje, peço a Aurora para nos encantar ainda mais com a sua voz.

Começa uma chuva de pedidos em seu nome. Giulia solta um assovio bem alto. Aurora aperta os lábios e coloca uma mecha do cabelo para trás da orelha, rendendo-se aos pedidos com uma risada graciosa.

Antes que se levante, ela me olha. Um olhar rápido, mas, não sei por qual motivo, me pareceu meio provocante.

Acompanho com os olhos cada passo dado por ela até o palco. Ela se senta na banqueta preta e pega um violão que o Pablo lhe entrega. Em seguida ela ajeita o instrumento e tenta alguns acordes.

Ao meu lado, alguém me cutuca.

— E aí, Fê, o que você faz por essas bandas? — Giulia já havia dado a volta na mesa e sentado onde Aurora estivera.

— Eu sou padre.

Ela solta uma risada alta, jogando a cabeça para trás.

— E eu sou a noviça rebelde! — brinca, alisando meu braço.

Não dá tempo de explicar, pois Aurora dá três batidinhas no microfone retendo a nossa atenção.

— Ah! — Giulia bate palma, largando um copo de cerveja sobre a mesa. — Ela é demais! Viu... — Aponta para amiga. — Ela é demais mesmo!

— Essa música se chama Quando fui chuva, da Maria Gadú e Luis Kiari.

Quando já não tinha espaço pequena fui

Onde a vida me cabia apertada

Em um canto qualquer acomodei

Minha dança os meus traços de chuva

E o que é estar em paz

Pra ser minha e assim ser sua

Puta merda!

Repreendo-me mentalmente. Não falo ou penso com palavrões, mas nesse momento foi inevitável.

Puta merda.

E assim no teu corpo eu fui chuva

Jeito bom de se encontrar

E assim no teu gosto eu fui chuva

Jeito bom de se deixar viver

Não sei por quanto tempo fico sem piscar. Só reparo quando meus olhos começam a arder. A voz de Aurora, tão doce e afinada, me faz sair de órbita. Não só eu, mas talvez todos ali presentes, porque não se ouve mais nada além dela.

No fim, as pessoas aplaudem, e só então consigo me mover, absorto que estava diante de tamanha perfeição.

Aurora agradece com sua voz doce e entrega o violão ao namorado, que já está no palco. Ele a segura pela cintura e beija sua boca.

Viro o rosto, irrequieto, e, pela janela, meus olhos encontram a fachada da igreja.

Eu estava cansado. Era apenas cansaço e nervosismo da viagem.

Levanto-me da mesa sem fazer barulho.

— Obrigado, Aurora. — Pablo agradece no microfone, e volto a olhá-los.

Ele segura a mão dela.

— É agora! — exclama Giu, sem me olhar.

Caminho de lado até a porta principal. Precisava respirar ar puro, organizar os pensamentos.

O que está havendo comigo?

— Rory... — Pablo se vira para a namorada. — Eu sempre quis as melhores coisas para você e hoje eu quero que seu dia seja ainda mais perfeito. — Ele respira fundo, fecha os olhos e então os abre. — Você aceita se casar comigo?

Sem ficar para ouvir a resposta, saio do local, ouvindo ao fundo muitos gritinhos de comemoração.

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