Capítulo 13 - FILIPE - Parte III
Vou passando por todas as fotos. Muitas são minhas, quando ainda era um adolescente, em campanhas na escola. Em outras, não consigo reconhecer as pessoas.
No fundo da caixa, debaixo das fotos, estão dois pequenos cadernos de brochura. Um parece ser mais antigo do que o outro. Congelo ao lembrar que um deles era o que minha mãe estava abraçada no dia que faleceu.
Algumas vezes via minha mãe escrevendo algo, mas nunca perguntei o que era. Eu não perguntei muitas coisas e talvez seja por isso que carrego tanta mágoa em meu coração.
Abro o mais envelhecido com as mãos um pouco trêmulas.
Escrito a lápis, na primeira página da frágil folha do caderninho, está o seu nome: Paola Sartori.
Sua letra é inconfundível e, diante de algo tão real, lágrimas invadirem meus olhos.
Passo a mão sobre o escrito e tento controlar a emoção.
O que poderia estar escrito nesses papéis?
Por um segundo, eu sinto que não deveria invadir a sua privacidade.
Alguém bate na porta do meu quarto e fecho o caderno colocando de volta à caixa. Assim que a porta abre, eu vejo o padre Giovanni.
— Eu me esqueci de te dar outro recado.
Coloco a caixa no lugar onde estava e presto atenção nele.
— A filha da Fátima esteve aqui ainda pouco.
— O que ela queria?
— Não sei. Pensei que você soubesse, já que está tão perto dela.
— Ela apenas me levou para conhecer a vinícola onde ela trabalha, padre. Não há mal nisso — enfatizo tanto para ele quanto para mim mesmo.
Ele arqueja uma das sobrancelhas grossas.
— Trabalha? — Ele solta uma risadinha. — Desde que o velho Otto ficou doente é ela quem manda e desmanda naquilo tudo. Sabe sorte, guri? É o que essa menina tem. Onde já se viu a filha de empregado se tornar a única dona de uma fortuna, não é? — Sinto uma pitada de condenação. Aliás, em tudo que tem relação à Aurora.
— A Aurora é uma boa moça.
— Aí é que você se engana, guri. Toda árvore que não produz bons frutos é cortada e lançada ao fogo.
— Você está sendo maldoso com a menina, padre.
— Eu disse a ela, Filipe. Disse que você é um homem bom e que não gostaria de ficar perto de uma pessoa que nega a Deus e que zomba das nossas crenças.
O quê?
— O que você fez?
— Disse a verdade. Você é novo na cidade, guri. Não pode ser ligado a ela. A Fátima está sofrendo porque vê a filha cada vez mais distante do Senhor e numa tentativa desesperada, o jogou para ficar perto dela.
— Padre Giovanni... eu vou falar apenas uma coisa para o senhor. Com todo o respeito do mundo que tenho, mas, por favor, jamais fale algo que eu realmente não disse. Isso é uma mentira. Eu não ficarei preocupado com o que os outros falam. E o que eu puder fazer para ajudar Aurora, eu farei. Afinal, todos somos filhos de Deus. Eu não vi nada que ponderasse negativamente sobre a índole dela. E mesmo que fizesse, não caberia a mim julgá-la. Apenas Deus tem esse poder.
Ele faz um bico, reprovando minha resposta.
— O recado foi dado — diz, jogando uma mão para o alto, saindo do quarto.
Levanto-me e fecho a porta novamente. Fico com raiva.
Então foi por isso que ela mal falou comigo lá fora?
Pego meu celular. Parece que algo me sufoca dentro do peito.
Quero desfazer essa grande mentira.
Abro a mensagem e digito:
Não fique chateada pelo que o padre Giovanni falou.
Ele não sabe o que está fazendo.
Olho para as palavras.
Fecho os meus olhos e tento me acalmar.
Nem eu. Nem eu sabia o que estava fazendo.
Talvez essa seja a resposta que pedi a Deus.
E, sem pestanejar, apago a mensagem e desligo meu celular.
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