░COBRA░
Domingo, 14 de janeiro.
I
Por volta de nove horas da manhã, o sol já começava a ressurgir dentre as nuvens, embora garoasse fraco. Felipe acordou cedo, mas não tomara o desjejum, na intenção de aguardar a companhia de seus hóspedes. Liberou o polivalente Flávio para levar o helicóptero a São Paulo e em seguida desceu ao deck, abrigando-se da leve chuva sob uma pequena cobertura de sapê. Havia ali uma mesa com duas cadeiras. Cinco minutos depois, Ivan sentou-se ao seu lado:
— Bom dia, Felipe.
— Bom dia, seu Ivan. Dormiu bem?
— Para ser sincero, não, mas não é nada com a hospitalidade, é que normalmente estranho a cama.
— Nada como a cama da gente, não é? Eu mesmo sinto falta da minha em São Paulo, quando durmo aqui.
Ivan voltou o rosto para o mar:
— Você está muito bem de vida. Trabalha muito?
Felipe sentiu um toque de ironia naquela pergunta. Contou-lhe mais ou menos o que já havia dito à filha dele.
— E ainda continua com aquelas ideias?
— Que ideias?
— Com relação a Deus e à religião.
Felipe riu:
— Ah, eu já esperava mesmo que perguntasse. Sim, continuo, mas cá entre nós, o senhor acha que o que eu penso ou deixo de pensar tem qualquer relevância?
Ivan arregalou os olhos:
— Se acho? Tenho certeza! Jesus disse que ninguém vai ao Pai, senão por ele. Portanto, tudo que estiver fora das palavras dele, não pode estar certo.
— Isso é bom, pois vejo aí uma preocupação da sua parte para comigo, ao que agradeço, mas sobre o que diz, é sua opinião.
— Calma lá! A minha não. A de Jesus.
Felipe recostou-se melhor na cadeira:
— Em primeiro lugar, o senhor sabe que eu não acredito em Deus, sou materialista, acredito apenas no que é palpável. Em segundo lugar, acreditar em Jesus eu até acredito, mas não da mesma forma que o senhor, como sendo um enviado de Deus. Para mim ele foi apenas um homem, muito embora à frente de seu tempo, mas tão somente um mortal, como todos nós. Pregou a liberdade e o respeito às escolhas, tanto que não condenava ninguém que pensasse diferente dele, pelo contrário, ele acolhia os diferentes e criticava os que supostamente estavam de acordo. Eu até acho que ele tinha ideias socialistas
Ivan deu risada:
— Jesus, socialista, vê se pode. Você não sabe o que diz.
Felipe sorriu. Levantou-se e estendeu a mão para fora do sapê, a fim de verificar se ainda garoava:
— Só não podemos confundir socialismo com ditadura comunista, como sua casa, que fique bem claro.
Ivan claramente se ofendeu.
— Minha casa? Como assim?
— Não se ofenda, é só força de comparação, mas pense comigo: sua casa, um país isolado; sua família, o povo que só tem o essencial.
— Não fale bobagem. Sempre dei liberdade a todos.
— Liberdade? Mas não é o senhor quem escolhe o que cada um vai fazer, onde vai estudar e com quem vai casar?
Ivan estava ficando vermelho:
— Menino... Olha lá onde vai chegar...
Felipe não lhe deu atenção:
— Helena parece que escapou à ditadura, fugindo de seus domínios, não foi? Ocorria nos países comunistas, pessoas que escapavam da repressão.
— Você está me ofendendo, chega! O que é? Ainda tem raiva de mim?
— Raiva? Raiva do quê?
— Você sabe muito bem do que estou falando. Certa vez eu lhe disse que não teria chance com minha filha.
Felipe balançou a cabeça em sinal positivo, com um sorriso abafado:
— Lembro, sim. Foi pouco antes de eu ir para a Europa...
— Sabe, garoto, o considero como a um filho, mas quero que fique bem clara uma coisa: Larissa não quer nada com você.
— Como é que o senhor sabe?
— Você não é a pessoa certa para ela. É uma pessoa que não acredita em Deus e alguém que não sabe o quer da vida, se estuda música, se faz advocacia... Você não serve para ela e nunca vai ter condições de lhe dar uma vida digna.
— É o que vamos ver! Ainda vou vencer na vida. E depois, se sou a pessoa certa ou não, é ela quem tem de resolver, não acha?
— Ela já resolveu, só não teve coragem de dizer. Pode continuar vindo aqui em casa, se quiser, pois sua amizade é importante para ela, mas não alimente esperanças.
Felipe fixou o olhar no mar:
— Sem dúvida que me lembro. — E pensou: "Ah, se esse pequeno ditador soubesse que eu já tive a filha dele..." — Mas ainda acho um absurdo que o senhor tenha dito tudo aquilo, mas raiva? Não, nem um pouco; e cá entre nós, ainda pensa que não sirvo para sua filha? Acredita que eu não sabia o que queria quando larguei a faculdade e fui para a Europa estudar música? Fiz ou não a escolha certa?
Ivan sentiu-se acuado, mas respondeu:
— Tudo indica que fez, pois de dinheiro você parece muito bem. — E Ivan não podia entrar de sola no assunto 'Nilo', sem tirar a poeira de debaixo do tapete, e acabarem descobrindo (ou relembrando) sua antiga relação com o bicheiro, afinal, seu telhado também era de vidro. — Mas quem não tem Deus no coração, não tem nada.
Felipe não deu relevância ao comentário:
— O senhor deve ter feito a cabeça dela para não querer nada comigo. Que genro eu daria, não é? Alguém difícil de controlar e que estaria sempre contra as suas ideias, alguém que poderia modificar a mentalidade de sua filha... Já o Henrique...
As faces de Ivan Mendes ficaram ruborizadas em definitivo:
— Alto lá, rapaz! Não admito que fale mal do Henrique. Ele ainda vai ser um dos militares mais importantes desse país, escreva o que estou dizendo. Não se compare a ele, por favor.
— Não estou me comparando, só quis dizer que ele acata suas ordens como se o senhor fosse seu general, só isso.
Joana surgiu sem que eles tivessem notado sua presença. Percebendo a situação, rapidamente buscou esfriar os ânimos:
— Vamos subir e tomar café? Que tal? Já está pronto.
Os dois aquiesceram e seguiram-na em silêncio.
II
Mais tarde, com sol a pino, Felipe sugeriu a Henrique um passeio pelas pedras abaixo do deck, incursão esta de muito risco — físicos e emocionais. Durante a caminhada, o militar parou um instante para observar o mar, indagando:
— Há uma coisa que eu sempre quis saber, mas nunca tive oportunidade de perguntar...
Felipe sabia do que se tratava, mas se fez de desentendido:
— Essa é a sua grande oportunidade. O que seria?
— Bem, não tive oportunidade porque você foi para o outro lado do mundo e nunca mais o vimos, até anteontem...
— Sem rodeios — sugeriu Felipe.
— Certo, vou direto ao ponto: naquele dia lá no aeroporto... O que foi que você disse para a Larissa?
— Quando pedi para ficar a sós com ela?
Henrique demonstrou-se impaciente:
— É claro! Em que outra hora poderia ter sido?
Felipe coçou o queixo, pensativo:
— Que importância tem isso agora, Henrique? Já faz vinte anos... Não vai me dizer que ficou com isso na cabeça durante todo esse tempo, vai? E nunca perguntou para ela?
— Perguntei, mas ela nunca falou, alegou que não tinha importância.
— Mas você acha o contrário.
— Claro, ninguém pede para ficar a sós sem algo importante a dizer.
Felipe desviou o olhar para as pedras, buscando pisar com segurança:
— Não acho que você vá gostar de saber.
— Mas eu quero saber!
Felipe encarou-o:
— Ora, Henrique, você deve ao menos imaginar o que foi que eu disse. Na verdade, o que eu pedi. É inteligente o suficiente para isso. Quando digo "você não vai gostar de saber", foi o que ela respondeu.
Os olhos de Henrique injetaram-se de sangue:
— Como assim "o que ela respondeu"? Fale!
Aquele tom autoritário condizia bem com a postura de um militar. Felipe deu de ombros:
— Depois não vá dizer que não avisei. Eu pedi a ela que largasse você e ficasse comigo.
— Isso eu já desconfiava.
— Está vendo como você é inteligente? Nem precisava ser um gênio, para saber que foi isso.
— E o que foi que ela respondeu?
Ele fez um pouco de suspense. Assobiou e logo em seguida soltou:
— Que não podia largar você, pois havia muita coisa em jogo; e que teria dado certo entre nós, caso não fosse muito tarde... — Dando mais um passo, e dessa feita sem prévia análise de onde punha o pé, escorregou. Henrique, em ato de puro reflexo, segurou-o pelo braço, impedindo que caísse contra as rochas mais abaixo.
— Nossa! — arfou. — Ia ser um tombo feio, obrigado. — Recompôs-se. — Mas fique tranquilo, nada daquilo tem qualquer importância para mim hoje em dia. Não sei quanto a ela...
Henrique respondeu, convicto:
— Não tem para ela também.
— Imagino, mas você terá que ouvir diretamente da fonte. Bem, agora que já matou sua curiosidade, acho melhor irmos embora antes que aconteça outro acidente. As pedras ainda estão muito molhadas.
O militar teve de concordar:
— Realmente, não foi uma boa ideia ter vindo aqui.
Seguiram na direção da casa com mais alguns escorregões, não tão perigosos quanto as palavras que haviam trocado. No caminho, porém, Felipe avistou Larissa escondida atrás de uma pilastra do pavimento inferior, e ao perceber que ela lhe fazia um sinal, deteve-se no deck. Henrique já subia as escadas e não a viu, também não observando que Felipe não o acompanhara.
— Henrique — chamou Felipe.
Ele se voltou para baixo:
— O que foi?
— Vou ficar mais um pouco aqui.
Henrique bufou:
— Está bem. Enquanto isso vou agrupar meu pessoal para irmos embora.
Assim que o marido entrou na casa, Larissa, que estava ansiosa por uma oportunidade a sós com Felipe, puxou-o para debaixo da cobertura de sapé.
— Você é genro do Nilo Romano?
A pergunta de chofre não fora assim tão inesperada quanto deveria ser, haja vista ter partido primeiro de Cecília, mas para que Larissa não desconfiasse das suspeitas da filha — e ele nem sabia se elas já tinham conversado sobre o assunto, fez-se novamente de desentendido, respondendo o mesmo que dissera à garota:
— De onde você tirou isso?
— Li numa reportagem da Veja. Ela fala do bicheiro Nilo Romano e seu genro, piloto de helicóptero. E como era mesmo o sobrenome da sua esposa? Romano, não é? Quem diria, Nilo Romano, o mais poderoso bicheiro de São Paulo...
Mais uma vez o caminho era não negar:
— Ele é meu sogro sim, mas qual o problema?
— Qual o problema? O problema é que você me enganou, dizendo que tudo isso aqui era seu, fruto de seu trabalho como músico, e no fim nem concertista você deve ser.
— Ei, calma lá! O fato de meu sogro ser o Nilo Romano não significa que tudo não possa ser meu; ou que eu não seja um concertista famoso. Você está misturando as coisas.
— A revista é bem clara, Felipe, quando diz: "O helicóptero de Nilo Romano, pilotado por seu genro".
Felipe fez um gesto de desdém:
— Ora, Larissa, você vai dar bola para esses jornalistas fofoqueiros? É gente igual àquele seu jardineiro, que fala sem saber. Para eles é tudo do Nilo, já que ele é o bicheiro mais rico de São Paulo. Tudo acaba sendo dele, eu sou apenas "o genro".
Larissa não parecia muito convencida. Felipe prosseguiu:
— E depois, que diferença faz? Se isso tudo aqui fosse do Nilo, que mal haveria? Desde que perdeu sua única filha sou como um filho para ele. Muito natural que eu usufrua das coisas que ele tem.
Larissa falou, sem muita convicção:
— Diferença mesmo não faz, a não ser o fato de que você mentiu sem necessidade alguma, sei lá, talvez para mostrar que venceu na vida. Se for isso, chega a ser ridículo.
— Hum... Então eu dei o golpe do baú e me aproveito de um dinheiro de procedência duvidosa?
— Não é nada disso, isso é você quem está dizendo. — Irritou-se ainda mais. — O que me deixa furiosa é você usar coisas que não lhe pertencem para se 'mostrar', para mim e para a minha família, só isso.
— Bom, eu não lembro de ter dito em qualquer momento que tudo isso aqui era meu, disse?
— Mas também não negou e nos fez pensar que sim.
Ele riu:
— Bem, nesse caso ficará na conta da interpretação de vocês. — E sempre havia a intercalação de seus sorrisos irônicos. — Só não se esqueça de uma coisa: conheci Ângela na Europa e quando ela ficou grávida, resolvi assumir nosso filho, sem mesmo saber quem eram os pais dela. Acabei por aceitar a ajuda deles, pois não tinha onde cair morto e só posteriormente vim a saber sobre os negócios do Nilo, pois Ângela tinha vergonha de dizer que o pai era bicheiro, apenas dizia que ele era um empresário.
— E por que não me falou sobre o Nilo antes?
— Não achei que fosse relevante.
Nisso, uma voz clamou por ela:
— Larissa!
Os dois voltaram o olhar e viram o major no topo da escada. Ela perdera a noção do tempo, dando ensejo a Henrique de voltar e vê-los juntos.
— Venha, vamos embora! — gritou.
Larissa então se despediu de Felipe com um profundo olhar, não de "adeus" e sim de "até logo", mas registrando: "com pendências".
Subiram e na companhia de Henrique seguiram pela varanda, até a garagem. Jairo estava dentro do carro conversível, ouvindo música.
— Vamos, Jairo — chamou o pai, enquanto ligava seu próprio carro, deixando-o aquecer.
Todos se reuniram para as despedidas, quando então Jairo saiu do outro veículo e inesperadamente apontou uma arma:
— Mãos ao alto!
Surpreendidos, ficaram imóveis. Alessandra vinha passando com um vaso de flores, deixando-o espatifar-se no chão. Despertando do transe, Henrique correu em direção ao filho e tomou-lhe a arma.
— Onde você arrumou isso?
— Calma pai. Estava no porta-luvas do carro do Felipe, mas não se preocupe, está descarregada. O que há, não confia no que me ensinou?
— Confio, mas parece que você se esqueceu do principal: com armas de fogo nunca se brinca! — Virou-se para Felipe: — Essa arma é sua?
— É.
— Tem registro?
Felipe pegou a arma das mãos de Henrique:
— Claro!
— Pois então tome mais cuidado, seu irresponsável. Guarde-a dentro de casa, está bem? Não sabe que o porte é proibido?
— Pretendia levá-la para São Paulo ainda nessa semana... Desculpem por tudo isso.
Ivan, que assistia a tudo silenciosamente, disse:
— Eu devia apreender essa arma.
Henrique ponderou:
— Se ele tem registro, melhor não, mas tem que guardar a arma em casa, e bem guardada.
Felipe pensou em fazer o sinal de continência e dizer: "Sim, senhor", mas preferiu se abster e limitar-se a mais um pedido de desculpas, muito prudente diante da situação. Depois concluiu:
— Seja como solicita, major. — Pegou a arma, colocando-a numa pequena bolsa e guardando-a no porta-malas. — Em São Paulo eu a coloco no meu apartamento, pode deixar.
III
Henrique já se encontrava sentado na varanda de sua casa, em São Sebastião:
— Como é que pode o sujeito ser tão cara de pau? O que será que ele e Larissa estavam conversando, lá no deck?
Larissa surgiu de repente:
— Deu para falar sozinho?
— Pensava alto...
— Hum... Pode ir comprar pão para o café?
— Posso sim.
Pegou a carteira e saiu. No caminho, encontrou-se com o jardineiro, seu Maurício.
— Oi, seu Henrique.
— Oi, como vai? Tem passado bem?
— Ah, mais ou menos, é essa dorzinha na coluna que não me larga... O senhor sabe, foi muito trabalho pesado a vida inteira... E gostou do meu serviço, lá no jardim?
— Serviço?
— No jardim da sua casa.
— Esteve lá?
— Estive, na sexta-feira.
— Eu nem reparei e Larissa não me falou nada.
Caminharam um pouco mais, em silêncio.
— Aquele moço é conhecido seu, lá de São Paulo?
Henrique estacou:
— Que moço?
— O do carro azul, não sei o nome dele. Sei que ele tem um helicóptero.
— Felipe?
— Acho que é.
— Por que está perguntando?
— É porque dizem que ele é bandido e fiquei pensando: será que seu Henrique é amigo dele? Achei estranho, pois o senhor é um homem muito distinto.
Henrique estava encafifado:
— Diga-me uma coisa: como sabe que o conheço?
Maurício parecia não ver a hora de contar a fofoca:
— Um dia antes de arrumar o jardim ele chegou com dona Larissa lá na sua casa, de tarde. Por isso achei que ele fosse amigo de vocês. Eu estava arrumando a frente da casa de um vizinho e vi quando chegaram de carro.
— Você diz que os viu juntos um dia antes de arrumar o jardim? Na quinta-feira, então?
— É, deve ser. Olha, a conversa tá boa, mas tenho que ficar por aqui. Vou podar uma árvore para aquela dona ali. Boa tarde.
— Boa tarde.
O jardineiro assemelhava-se a uma serpente: aparecia sorrateiro e desferia sua picada, deixando a vítima agonizante, depois deslizando silenciosamente para longe. A única diferença é que as cobras não atacam, só picam quando ameaçadas, mas o jardineiro havia agido de forma ativa, reavivando a desconfiança que Henrique tivera quando chegara em São Sebastião.
Ele ainda se lembrava das palavras dela: "Nós nos encontramos no supermercado e ele me trouxe até aqui". Isso, na sexta-feira, não na quinta, mas se o velho tivesse razão, os dois teriam se encontrado também na quinta?
Quando se deu conta, já estava na varanda da casa. Jairo estava deitado na rede:
— Pai, podia conversar um pouco comigo?
— Conversar? Sobre o quê?
— Sobre umas coisas aí.
— Deixa eu levar o pão para sua mãe. Já volto.
Quando voltou, Jairo o esperava no portão:
— É melhor darmos uma volta.
— Sua mãe já está chamando para o café.
— Mas é coisa rápida.
— Tá certo. Então vamos.
Saíram.
— E aí? Que coisas são essas tão importantes que precisam ser em particular?
— Esse Felipe, já foi namorado da minha mãe?
— Não.
— Mas o senhor não gosta dele...
— Parece que você também não.
— Nem um pouco, mas por que o senhor não gosta dele?
— Eu é que pergunto: e você? Por que não gosta?
O pai nitidamente queria se esquivar da pergunta Jairo respondeu:
— Achei ele muito metido a gostosão.
Henrique decodificou:
— Arrogante, intrometido e pretensioso. — E contou a Jairo sobre algumas atitudes do sujeito, procurando justificar seu conceito sobre ele.
— O pior é que a trouxa da Cecília tá 'ligadona' nele.
— Você acha?
— Pô, pai! O senhor não viu não, o jeitão dela?
Henrique calou-se, preocupado.
IV
Ele estava sem sono e olhando para Larissa, até considerou dizer: "dorme o sono dos justos", mas entendeu que talvez não fosse apropriado. Levantou-se e dirigiu-se à cozinha, atrás de tickets de supermercado. Estivera tão tenso, que só agora raciocinava. Se não havia nenhum mantimento na casa, quando Larissa chegou, é claro que ela teria feito uma compra para alguns dias já na quarta-feira.
Procurando nas gavetas do armário, encontrou o que queria: um ticket de compra do supermercado "São Sebastião". Quarta-feira, como esperado.
"Mas então ela voltou ao supermercado na sexta?"
Em vão procurou outro ticket, que pudesse comprovar uma segunda ida ao mercado.
"Mas e a quinta-feira? Por que o velho disse que os viu juntos na quinta?"
Ele nem queria imaginar. Voltou para a cama sem qualquer perspectiva de conseguir dormir.
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